Reportagem apresenta o crescimento de universitários formados em cursos a distância. Depois de o Brasil ter mais de 1 milhão de estudantes matriculados nesse tipo de curso, caiu o preconceito no mercado de trabalho em relação ao profissional graduado sem frequentar as cadeiras de uma faculdade
Ensino a distância cresce e preconceito diminui no mercado de trabalho
1. DOMINGO, 6 DE MAIO DE 2012 -
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FOTOLIA
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Profissionais virtuais
Brasil já tem mais de 1 milhão de
estudantes matriculados em cursos a
distância. Para especialistas, o preconceito
no mercado de trabalho é cada vez menor
Fernando Poffo
fernando.poffo@folhauniversal.com.br
R
econhecidos
pelo
Ministério da Educação (MEC) há
12 anos, os cursos a
distância no Brasil já contam
com mais de 1 milhão de matriculados apenas na gradua-
ção, sendo que há mais de 150
mil profissionais formados para
o mercado, além dos estudantes que aderem à modalidade
para cursos de especialização,
pós-graduação, MBA, formação no ensino básico ou médio.
Com cada vez mais espaço para
o ensino a distância, o governo
de São Paulo já anunciou
2. geral
APROVADO: Ricardo se formou a distância no ensino médio e hoje faz MBA em
Gestão Pública on-line. Na foto, o estudante participa de curso em Harvard, nos EUA
investimento para a criação da
Fundação Universidade Virtual do Estado de São Paulo
(Univesp), que poderá começar
a operar já no ano que vem. O
acesso à informação aumenta,
mas isso significa mais mão de
obra qualificada?
Para a educadora Betina
Von Staa, palestrante da Educar Educador 2012, a resposta
é sim. “Um programa bem feito e organizado pode fazer com
que o ensino a distância seja tão
ou mais eficaz que o presencial.
Não é dar o conteúdo e passar
a prova. Existem ferramentas
em que dá para acompanhar
passo a passo o aluno, verificar
se visitou o espaço, e ainda registrar tudo o que o aluno vê,
lê, escreve e fala. Fica guardado para análises minuciosas.
No presencial, o professor não
conhece os alunos silenciosos”,
destaca a educadora.
O atual presidente da Associação Brasileira dos Estudantes de Educação a Distância
(ABE-EAD), Ricardo Holz,
concorda com Betina. Aluno
de curso a distância desde o 2º
ano do ensino médio, quando
ingressou no Telecurso 2000,
Holz se formou em Gestão
Pública em um curso não presencial e hoje faz MBA na mesma área, também a distância.
“Prefiro pela flexibilidade de
tempo. Posso estudar no ritmo e
condições que preciso, mas tem
que ter mais determinação e organização. Você pode estudar
a qualquer hora, mas tem que
assistir à aula, acessar o conteúdo, ler livros, procurar tutores e
professores para tirar dúvidas”,
avisa Holz, que foi até a Universidade de Harvard, nos Estados
Unidos, participar de curso sobre desafios do ensino.
Apesar do crescimento dessa modalidade, ainda há muito
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a evoluir. Diante dos mais de 2
milhões de cursos disponíveis,
segundo o censo da Associação
Brasileira de Educação a Distância, a qualidade desse tipo
de formação continua sendo
questionada. “Ainda tem muito
aluno e instituição que acham
que o curso é fácil por não ser
presencial. Os alunos e os professores precisam se dedicar”,
afirma a educadora, que acredita no modelo para ampliar as
possibilidades a quem não têm
acesso à educação por questões
ARTE: EDI EDSON
ARQUIVO PESSOAL
- DOMINGO, 6 DE MAIO DE 2012
geográficas ou falta de tempo.
Na hora de procurar emprego também existe um pouco de desconfiança, ainda que
isso esteja se tornando menos
comum. “Há ainda uma discussão entre os profissionais
de recursos humanos do quão
eficientes são esses cursos, apesar de sabermos que, no final,
depende mais da dedicação de
cada um”, diz Ricardo Barcelos, executivo da Havik, consultoria de recrutamento e desenvolvimento de profissionais.
Já para Constantino Cavalheiro, diretor da Catho Educação, outra empresa de recrutamento, o preconceito pode ser
quebrado na entrevista. “Nessa
PARA O MINISTÉRIO
DA EDUCAÇÃO,
OS CURSOS A
DISTÂNCIA TÊM O
MESMO VALOR DOS
100% PRESENCIAIS
hora dá para verificar o conhecimento e nem é avaliado se o curso tem 10%, 30% ou 100% de
aulas presenciais. Se o candidato precisa falar inglês, é isso que
importa. Não interessa como
ele aprendeu. O mesmo vale
para conhecimento em finanças
ou qualquer outra área”, atesta
Cavalheiro, em opinião semelhante à da sócia da Acalântis
RH, Fran Winandy. “Pode haver um receio na graduação,
porque o aluno pode não ter a
maturidade necessária, em uma
pós-graduação é mais comum
a mescla de aulas presenciais e
on-line. Mas, se o profissional é
bom no trabalho e tem experiência no mercado, não é algo
que vá fazer diferença.