1. 1 Terapia Nutricional na Doença de Crohn
EFEITOS DA TERAPIA NUTRICIONAL NO
TRATAMENTO DA DOENÇA DE CROHN: UM
ESTUDO DE REVISÃO
ANTONIO FERNANDO DE SOUSA RIPARDO
CAMILA PINHEIRO PEREIRA
MAYARA LOPES ESTEVÃO
Resumo
A Doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal de etiologia desconhecida
que acomete todo o trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus. Dentre as
manifestações clínicas mais comuns são: dor abdominal e diarréia. Os dados
epidemiológicos com maiores índices encontram-se em países desenvolvidos,
situados na Europa Ocidental e na América do Norte, os Estados Unidos. A terapia
nutricional da Doença de Crohn consiste em utilizar nutrientes com ação favorável
ao tratamento da patologia, visando manter e recuperar o estado nutricional do
paciente.
Introdução
A doença de Crohn (DC) é uma
doença inflamatória intestinal (DII)
crônica de causa desconhecida que
acomete qualquer parte do trato
alimentar, desde a boca até o ânus,
mas principalmente o íleo e o cólon,
onde as manifestações dominantes
são diarréia, dor abdominal, podendo
também ocasionar estenose.
(CARUSO, 2005).
Outras manifestações clínicas
relacionadas à DC, chamadas de
2. 2 Terapia Nutricional na Doença de Crohn
extra-intestinais, também podem
preceder a doença intestinal ou se
manifestar durante ou após a doença,
tais manifestações podem ser
articulares, oculares, hepatobiliares e
etc. (LANNA et al., 2006).
Apesar de sua etiologia ser
desconhecida, existe hipóteses. “A
etiologia das DII esta relacionada a
aspectos genéticos, imunológicos e
ambientais”. (DIESTEL et al., 2012).
A Doença de Crohn é mais
comum em países desenvolvidos, na
qual, as maiores taxas são
encontradas na Europa ocidental e
norte, como também nos Estados
Unidos, enquanto que na África,
América do Sul e Ásia, as taxas são
menores. Diante disso a urbanização
pode ser apontada como fator de risco.
(RIBEIRO, 2009).
Os indivíduos com essa
patologia necessitam de apoio
profissional para prevenir, controlar e
corrigir o seu estado nutricional.
Segundo Beyer et al., (2004), o
objetivo fundamental é recuperar e
manter o estado nutricional do
paciente.
Objetivo
Realizar uma revisão bibliográfica
sobre os efeitos benéficos da terapia
nutricional no tratamento da Doença
de Crohn.
Metodologia
Este artigo consiste de uma
pesquisa bibliográfica, baseada em
uma revisão da literatura. Inicialmente
realizou-se pesquisa, por meio da
busca do tema a ser abordado em
livros, revistas, artigos e na base de
dados eletrônicos (Scielo, MedLine,
PubMed). Para tanto, utilizou-se
palavras–chave (doença de crohn;
doenças inflamatórias intestinais,
terapia nutricional; epidemiologia da
doença de crohn;). O período de
correspondência a essa busca
restringiu-se aos últimos dez anos,
dando-se preferência ao idioma
português. Esta pesquisa discorre
sobre um dos aspectos que norteia a
Doença de Crohn, a terapia nutricional.
Revisão
As doenças inflamatórias
intestinais mais comuns são: Doença
de Crohn (DC) e a Retocolite
Ulcerativa Inespecífica (RCUI)
(DECHER et al., 2012).
A DC e a RCUI compartilham
características clínicas em comum,
como por exemplo, diarréia, febre,
perda de peso, anemias, desnutrição,
3. 3 Terapia Nutricional na Doença de Crohn
etc (BEYER et al., 2004; DECHER et
al., 2012).
Para Diestel et al., (2012), os
fatores de risco relacionados ao
aparecimento da doença, são: dieta
com alto teor de açúcar, carnes,
gorduras animal, gorduras gerais e o
ácido graxo ômega-6. O leite materno
é indicado durante o período de
lactação, pois pode prevenir a doença.
A DC apresenta-se de duas formas: a
fase ativa e a fase de remissão. Na
fase ativa da doença, recomenda-se
dieta hipercalórica, hiperprotéica,
hipolipídica, normoglicídica com
restrição de carboidratos simples,
fibras insolúveis e lactose. Em 2012,
Ribeiro relatou em seu estudo que as
fibras desempenham papel importante
no tratamento da DC, devido ao seu
efeito antiinflamatório. De acordo com
Caruso (2005) a dieta deve ser rica em
fibras solúveis e pobre em insolúveis.
Além disso, a autora cita vários
alimentos a serem evitados, justo
porque, possuem ação fermentativa e
agravam o quadro, são eles: couve-
flor, cebola crua, batata-doce, feijão,
frutos do mar, melão, melancia,
refrigerantes, etc.
Nessa fase ativa da DC, Diestel
et al., (2012) recomenda a
suplementação com multivitamínicos e
minerais. Já no período de remissão
podem ser incluídos carboidratos
simples e a lactose de forma
progressiva, observando a tolerância.
Se necessário suplementar com
enzima lactase em cápsulas. Deve-se
aumentar gradativamente as fibras e
manter o teor de gorduras moderado,
principalmente o ácido graxo ômega–
6, de ação pró–inflamatória. Quando
não houver possibilidade do paciente
alcançar suas necessidades
energéticas por via oral, sendo esta a
principal, o uso de nutrição enteral é
recomendado. Em casos mais graves
e de insucesso do suporte nutricional,
a via parenteral é indicada. Alguns
pacientes com Doença de Crohn
apresentam estenose. Estes devem
seguir a dieta semelhante ao da fase
ativa. Entretanto, outra parcela dos
pacientes apresenta fístulas que são
tratadas com dieta oral ou dieta
enteral. Devido às complicações
causadas pela doença de Crohn, os
indivíduos podem desenvolver anemia,
deficiência de vitamina D, B12 e ácido
fólico. Os minerais, como magnésio,
zinco, cobre, fósforo e cálcio também
estão em deficiência. Esses
micronutrientes desempenham papel
importante no tratamento.
O autor ainda afirma que os
pacientes com DC apresentam baixa
ingestão de produtos lácteos, em
4. 4 Terapia Nutricional na Doença de Crohn
conseqüência possuem baixos níveis
de cálcio, portanto, isso favorece a
essa população o risco aumentado de
osteopenia e osteoporose. A
suplementação de cálcio faz-se
necessária. É recomendado
suplementação de zinco por causa de
sua ação cicatrizante. O ácido graxo
essencial ômega – 3 pode ser benéfico
para os portadores de DII, inclusive no
período de remissão da DC, mas os
estudos ainda são controversos.
Segundo Caruso (2005), o
ácido-graxo ômega 3 ajuda na
resposta inflamatória. Enquanto que
Ribeiro (2009), atestou que existem
vários estudos salientando o efeito
imunomodulador e anti-inflamatório
dos ácidos agraxos ômega – 3.
Para Diestel et al., (2012), o uso
dos probióticos e seus efeitos
benéficos necessitam de mais
pesquisas que demonstrem maior
evidência.
Considerações finais
Pacientes diagnosticados com
DC desenvolvem alterações
nutricionais e que merecem atenção
especializada para tratar, através de
condutas especificas para cada fase
da doença, ativa e remissão.
Entretanto, os estudos apontam os
efeitos terapêuticos de alguns
nutrientes sobre a doença intestinal
inflamatória, e em contrapartida,
alguns dos citados, ainda possuem
contradições e necessitam de mais
estudos para comprovação dos reais
benefícios aos pacientes portadores
de Doença de Crohn.
Referências bibliográficas
LANNA, C. C. D, et al. Manifestações
articulares em pacientes com Doença de
Crohn e Retocolite Ulcerativa. Revista
Brasileira Reumatol, Minas Gerais, v. 46,
p. 45-51, supl.1, jan. 2006.
CARUSO, L. Distúrbios do trato digestório.
In: CUPPARI, L. Guia de nutrição:
nutrição clínica no adulto. 2º ed. São
Paulo: Manole, 2005. p. 201-219.
DIESTEL, C. F.; SANTOS, M. C.; ROMI,
M. D. Tratamento nutricional nas doenças
inflamatórias intestinais. Revista do
Hospital Universitário Pedro Ernesto,
UERJ, Rio de Janeiro, p. 52-58, dez.
2012.
DECHER, N, et al. Tratamento nutricional
nos distúrbios do trato gastrointestinal
inferior. In: In: MAHAN, L. K.; ESCOTT-
STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause:
alimentos, nutrição e dietoterapia.
13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
p. 610-644.
RIBEIRO, I. C. T. Doença de Crohn:
etiologia, patogênese e suas
implicações na terapêutica.
Dissertação – Universidade da Beira
Interior, 2009.