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1Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
___________________________________________________________________________
Rua Dona Leopoldina 907 - 60110-001 FORTALEZA - CE – Telefone: (85) 3454 1299 Fax: (85) 3454 1829
Curso de Pós-Graduação
LÍNGUA PORTUGUESA COM ÊNFASE EM
GRAMÁTICA E LITERATURA
Prof. José Arnaldo da Silva
Bom Jardim
2016
2Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Período Disciplina
Língua Portuguesa com ênfase em Gramática e Literatura
Código
Ementa
Prática de leitura de textos de diversos gêneros literários e noções
fundamentais sobre a língua e sobre a gramática de uso.
Competências
e
Habilidades
Oportunizar situações para que o aluno possa rever e refletir sobre o
conhecimento sobre a língua e sobre a norma padrão. E desenvolver
competências de leitura a partir do estudo de aspectos fundamentais que
constituem os diferentes gêneros literários.
Objetivos
Gramática:
 1Identificar e reconhecer as classes gramaticais;
 Compreender os conceitos gramaticais por meio dos textos;
 Analisar as palavras isoladamente e no texto com a finalidade de
compreender a estrutura da Língua Portuguesa;
 Reconhecer os processos de elaboração e articulação do discurso oral e
escrito.
Literatura:
 Reconhecer a relevância da Literatura de Língua Portuguesa para a
construção do imaginário social e dos valores pessoais;
 Elucidar questões sobre as relações Brasil e Portugal no campo da
Literatura;
 Conhecer os maiores autores de cada época e o contexto histórico;
 Conhecer as diferenças entre conto, novela e romance; Discutir e
interpretar obras literárias famosas a partir da crítica literária.
Programa
Unidade I – GRAMÁTICA
Unidade II – LITERATURA
Unidade III – LITERATURA PORTUGUESA
Unidade IV – LITERATURA BRASILEIRA
Procedimentos
Metodológicos
– Análise e interpretação de textos;
– Comparação de textos de escolas literárias diferentes;
– Exercícios sobre o uso da norma culta/padrão;
– Atividades individuais e em grupos.
Recursos
– Aulas expositivas com uso de power point.
– Atividades em laboratório.
Avaliação
Progressão continuada do desenvolvimento de atividades práticas, orais ou
por escrito como:
– Leitura e interpretação de textos diversos;
– Pontualidade e assiduidade;
– Apresentação de seminário.
– Prova escrita.
3Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
AULA DE PORTUGUÊS
1) A linguagem
2) na ponta da língua,
3) tão fácil de falar
4) e de entender.
5) A linguagem
6) na superfície estrelada de letras,
7) sabe lá o que ela quer dizer?
8) Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
9) e vai desmatando
10) o amazonas de minha ignorância.
11) Figuras de gramática, esquipáticas,
12) atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
13) Já esqueci a língua em que comia,
14) em que pedia para ir lá fora,
15) em que levava e dava pontapé,
16) a língua, breve língua entrecortada
17) do namoro com a prima.
18) O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade
4Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
“Quem não lê tem pouca vantagem sobre quem não sabe ler.”
Mark Twain, escritor e humorista norte-americano.
“Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.”
Monteiro Lobato
5Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
SUMÁRIO
UNIDADE I – NOÇÕES SOBRE GRAMÁTICA ............................................................ 07
1 GRAMÁTICA DE USO .......................................................................................................... 07
2 ACENTUAÇÃO GRÁFICA..................................................................................................... 07
3 A CRASE ................................................................................................................................. 09
4 O USO DA VÍRGULA ............................................................................................................ 12
5 O USO DO PONTO-E-VÍRGULA .......................................................................................... 14
6 O USO DOS PRONOMES ...................................................................................................... 14
UNIDADE II – LITERATURA ....................................................................................... 17
1 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .................................................................................... 17
2 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ................................................................................................ 18
3 DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO ............................................................................................ 19
4 FIGURAS DE LINGUAGEM ................................................................................................. 19
5 O QUE É LITERATURA ........................................................................................................ 23
7 ESTILOS DE ÉPOCA: ADEQUAÇÃO E SUPERAÇÃO ...................................................... 23
6 A NATUREZA DA LINGUAGEM LITERÁRIA ................................................................... 26
8 AS GRANDES ESCOLAS LITERÁRIAS .............................................................................. 27
UNIDADE III – LITERATURA PORTUGUESA ............................................................. 29
1 O TROVADORISMO (1189 – 1418) ...................................................................................... 29
2 O HUMANISMO (1434 – 1527) ............................................................................................. 32
3 O RENASCIMENTO (1527-1580) .......................................................................................... 36
4 BARROCO EM PORTUGAL (1580 – 1756) .......................................................................... 37
5 O NEOCLASSICISMO PORTUGUÊS (1756 – 1825) ........................................................... 39
6 O ROMANTISMO EM PORTUGAL (1825 – 1865) .............................................................. 41
7 O REALISMO E O NATURALISMO EM PORTUGAL (1865 – 1890) ............................... 43
8 PARNASIANISMO EM PORTUGAL (1882-1893) ............................................................... 45
9 O SIMBOLISMO EM PORTUGAL (1890 – 1915) ................................................................ 47
10 O MODERNISMO EM PORTUGA (1915 AOS DIAS ATUAIS) ....................................... 47
UNIDADE IV – LITERATURA BRASILEIRA ................................................................ 52
1 O QUINHENTISMO BRASILEIRO (1500 – 1601) ............................................................... 52
2 O BARROCO BRASILEIRO (1601 – 1768) ........................................................................... 53
6Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
3 O NEOCLASSICISMO BRASILEIRO (1678 – 1836) ........................................................... 54
4 O ROMANTISMO NO BRASIL (1836–1881) ....................................................................... 56
5 O REALISMO E O NATURALISMO NO BRASIL (1881/1902) ......................................... 61
6 O PARNASIANISMO NO BRASIL (1882 – 1893) ................................................................ 64
7 O SIMBOLISMO NO BRASIL 1893 – 1902) ......................................................................... 65
8 O PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL (1892 – 1922) ............................................................ 66
9 O MODERNISMO NO BRASIL 1922 – 1980) ...................................................................... 71
10 TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS NA LITERATURA BRASILEIRA ...................... 74
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 77
7Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Unidade I – NOÇÕES SOBRE GRAMÁTICA
1 GRAMÁTICA DE USO
Durante o processo de produção de textos, surgem sempre dúvidas gramaticais; nesta
unidade trataremos dos casos em que alguns exercícios podem ajudar a solucionar certos
problemas; no entanto há outros casos que gramáticas e livros do tipo tira-dúvidas resolvem
tranquilamente; a consulta a esses materiais torna-se obrigatória por parte de quem se propõe
a escrever na escola, no trabalho ou mesmo por motivos particulares.
Vale lembrar que a eliminação de alguns erros será efetuada a partir do treinamento
linguístico e a prática constante da escrita. Cabe ao produtor o trabalho constante da revisão e
escrituração dos textos para que a assimilação das técnicas redacionais e normas gramaticais
sejam efetivadas.
2 ACENTUAÇÃO GRÁFICA
O português, assim como outras línguas neolatinas, utiliza o acento gráfico. Embora
toda palavra da língua portuguesa, de duas ou mais sílabas, possua uma sílaba tônica, nem
sempre recebe tal acento. Observe as palavras
arte, gentil, táxi e mocotó. Você constatou que a tonicidade recai sobre a sílaba inicial em arte
e táxi e sobre a final em gentil e mocotó. Portanto, é importante frisar, todas as palavras com
duas ou mais sílabas terão acento tônico, mas nem sempre terão acento gráfico. A tonicidade
está para a oralidade (fala) assim como o acento gráfico está para a escrita (grafia).
Oxítonas
1. São acentuadas as palavras oxítonas que terminam em -a, -e ou -o abertos, e com
acento circunflexo as que terminam em -e e -o fechados, seguidos ou não de s:
a : já, cajá, vatapá
as : ás, ananás, mafuás
e : fé, café, jacaré
es : pés, pajés, pontapés
o : pó, cipó, mocotó
os : nós, sós, retrós
e : crê, dendê, vê
es : freguês, inglês, lês
o : avô, bordô, metrô
os : bisavôs, borderôs, propôs
* Incluem-se nesta regra os infinitivos seguidos dos pronomes oblíquos -lo(s) ou -la(s): dá-lo,
matá-los, vendê-la, fê-las, compô-lo, pô-los etc.
2. Não se acentuam as oxítonas terminadas em i e u, e em consoantes, além daquelas
seguidas dos pronomes oblíquos -lo(s), -la(s):
ali, caqui, rubi, bambu, rebu, urubu, sutil, clamor, fi-lo, puni-la, reduzi-los, feri-las etc.
3. Acentuam-se as oxítonas com mais de uma sílaba terminadas em -em e ens:
alguém, armazém, também, conténs, parabéns, vinténs.
4. Acentuam-se as palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, -éu ou -ói,
podendo estes dois últimos serem seguidos ou não de -s:
anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói (de corroer),
herói(s), remói (de remoer), sóis.
8Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
5. Acentua-se as vogais tônicas -i e -u precedidas de ditongo, nas palavras oxítonas, em
posição final ou seguidas de s:
Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.
Paroxítonas
1. Assinalam-se com acento agudo ou circunflexo as paroxítonas terminadas em:
i: dândi, júri, táxi
is: lápis, tênis, Clóvis
ã/ãs: ímã, órfã, ímãs
ão/ãos: bênção, órfão, órgãos
us: bônus, ônus, vírus
l: amável, fácil, cônsul, imóvel
um/uns: álbum, médium, álbuns
n: albúmen, plâncton, hífen, Nílton
ps: bíceps, fórceps, tríceps
r: César, mártir, revólver
x: fênix, látex, tórax
2. Não se acentuam graficamente os ditongos representados por -ei ou -oi da sílaba
tônica das palavras paroxítonas: assembleia, boleia, ideia, coreico, epopeico,
onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (verbo), apoio (subst.), boina, comboio
(subst.), tal como comboio, heroico, jiboia, paranoico etc.
3. Não se acentuam as formas do plural dos verbos crê, dê, lê, vê: creem, deem, leem,
veem - e de seus compostos - descreem, desdeem, releem, reveem etc.
4. Não mais se utiliza o acento agudo nas paroxítonas, com -i e -u tônicos precedidos de
ditongo: baiuca, feiura, bocaiuva etc.
5. Não se acentuam, com acento circunflexo, o primeiro o do hiato oo, seguido ou não de
-s: abençoo, enjoo, coroo, perdoo, voo(de voar) etc.
6. Não mais se utiliza o acento diferencial para distinguir uma palavra de outra que tem a
mesma grafia: para, flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), subst. e flexão de
pelar, e pela(s), per+la(s); polo(s) (ó), subst, e polo(s), combinação antiga e popular de
por e lo(s); etc.
Atenção!
Permanece o acento diferencial em pôde/pode: pôde (pretérito perfeito do
indicativo), pode é a forma do presente do indicativo;
Permanece o acento diferencial em pôr/por: pôr é verbo. por é preposição.
Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir,
assim como de seus derivados: Ele tem duas motos. / Eles têm duas motos; Ele vem
de Guaxupé. / Eles vêm de Guaxupé.; Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a
palavra.
9Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Notas
a) O substantivo éden faz o plural edens, sem o acento gráfico.
b) Os prefixos anti-, inter-, semi- e super-, embora paroxítonos, não são acentuados
graficamente: antirrábico, antisséptico, inter-humano, inter-racial, semiárido,
semisselvagem, super-homem, super-requintado.
c) Não se acentuam graficamente as paroxítonas apenas porque apresentam vogais
tônicas abertas ou fechadas: espelho, famosa, medo, ontem, socorro, pires, tela etc.
Proparoxítonas
Todas as proparoxítonas são acentuadas graficamente: abóbora, bússola, cântaro,
dúvida, líquido, mérito, nórdico, política, relâmpago, têmpora etc.
Observações:
1. Não se acentua, com acento agudo, o -u tônico precedido de g ou q e seguido de e ou i,
com ou sem s: argui, arguis, averigue, averigues, oblique, obliques etc.
2. Acentuam-se sempre o i e o u tônicos dos hiatos, quando formam sílabas sozinhas ou
são seguidos de s: aí, balaústre, baú, egoísta, faísca, heroína, saída, saúde, viúvo, etc.
3. Acentuam-se graficamente as palavras terminadas em ditongo oral átono, seguido ou
não de s: área, ágeis, importância, jóquei, lírios, mágoa, extemporâneo, régua, tênue,
túneis etc.
4. Emprega-se o til para indicar a nasalização de vogais: afã, coração, devoções, maçã,
relação etc.
3 A CRASE
Usa-se o acento indicativo de crase quando houver a contração da preposição a e do
artigo feminino a ou com os pronomes demonstrativos aquela e suas variações.
Eu vou a + a feira = Eu vou à feira.
Note como houve o encontro da preposição a e do artigo a. Caso trocássemos feira por
mercado, veríamos que ocorreria o encontro da preposição a com o artigo o.
Eu vou a + o mercado = Eu vou ao mercado.
Regra prática
a) Trocar a palavra feminina por uma masculina semelhante. Se ocorrer com a palavra
masculina o encontro ao, com a feminina ocorrerá a fusão à.
O professor se referiu ao aluno = O professor se referiu à aluna.
b) Trocar a preposição a pela preposição para.
A secretária foi para a reunião = A secretária foi à reunião.
10Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Regras específicas
Nem sempre será possível, aplicar as regras práticas. Haverá casos que solicitarão o uso
de algumas regras específicas.
1. Horas: ocorrerá a crase. Irei ao clube hoje às 14 horas. A reunião será das 15 às 20
horas.
2. Dias da semana: ocorrerá crase somente no plural.
Das segundas às sextas-feiras, haverá reuniões.
3. Nome de lugares: A ocorrência da crase será constatada com o auxílio do verbo vir ou
voltar.
Irei à Argentina = Venho da Argentina.
Vou à Roma Antiga = Voltei da Roma Antiga.
Irei a Marília = Venho de Marília.
Vou a Roma = Voltei de Roma.
Ao usar o verbo vir ou voltar, deve-se observar a incidência do artigo na preposição
de:
da = à de = a
4. À moda ou à maneira: ocorrerá crase com estas expressões mesmo que subentendidas:
Comi um bife à moda milanesa ou Comi um bife à milanesa.
Escrevo à maneira de Nelson Rodrigues, ou Escrevo à Nelson Rodrigues.
Observação: A palavra desde elimina a ocorrência da crase:
Estou esperando você desde as 2 horas.
Veja que se usarmos meio-dia, não haverá o encontro a + o:
Estou esperando você desde o meio-dia.
Observação:
a) No singular não ocorrerá a crase:
Haverá reunião de segunda a sexta- feira.
b) Não ocorrerá crase antes dos meses do ano:
De janeiro a março, teremos dias quentes.
11Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
5. Distância: ocorrerá crase quando é determinada a distância:
Vi sua chegada a distância.
Vi sua chegada à distância de dez metros.
6. Casa: ocorrerá crase quando não existir o sentido de lar ou quando estiver modificada.
Volte a casa. (sentido de lar)
Vou à casa de meus irmãos. (modificada = de meus irmãos)
7. Terra: ocorrerá crase quando não estiver no sentido de solo:
Cheguei a terra. (solo)
O lavrador trabalha a terra. (solo)
Cheguei à terra natal.
Os astronautas regressaram à Terra tranquilos.
8. Pronomes: ocorrerá crase somente nestes casos:
a) pronomes relativos a qual e as quais:
Esta é a garota à qual me referi.
b) pronomes demonstrativos aquela, aquela, aquilo:
Referi-me àquele livro.
Note que se usássemos outro pronome apareceria a preposição a:
Referi-me a este livro = Referi- me a + aquele livro.
Observação: Esta regra ocorrerá com qualquer palavra subentendida:
Fui à Marechal Deodoro. = Fui à rua Marechal Deodoro.
Esta caneta é igual à que comprei. = Esta caneta é igual à caneta que comprei.
Observação: Com os pronomes demonstrativos a e as, só ocorrerá crase com verbos
que exigirem a preposição a:
Assisti a todas aulas do dia, menos às de física.
Note que o verbo assistir neste caso pede a preposição a:
Assisti a todas e assisti a + as de física.
12Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
b) Pronomes possessivos femininos (minha, tua, sua, nossa...): a ocorrência de crase é
facultativa:
Assisti a tua peça musical, ou Assisti à tua peça musical.
9. Locuções Adverbiais, Prepositivas e Conjuntivas Femininas. Normalmente respondem
às perguntas onde? como? por quê?
Veja:
Comerei à luz de vela. – Comerei como? à luz de vela.
Caso não usasse o acento indicativo de crase a frase teria outro sentido. Comerei a luz
de vela – Significa que a luz de vela será comida, o que é incoerente.
Adiou à noite. – Adiou quando? à noite.
Adiou a noite. – Significa que a noite foi adiada.
Observe algumas locuções: à risca, às cegas, à direita, à força, à revelia, à escuta, à
procura de, à espera de, às claras, às vezes, às pressas, à paisana, à tarde, à noite, à toa,
à medida que, à proporção que, etc.
4 O USO DA VÍRGULA
Regra Geral: a ordem direta de uma oração é sujeito, verbo e complemento. Qualquer
alteração nessa ordem pede o uso da vírgula para que a leitura não seja prejudicada.
Eliana escreve cartas todo dia. – ordem direta.
Todo dia, Eliana escreve cartas.
Como pôde ser visto, o complemento “todo dia” estava antes do sujeito “Eliana”,
modificando, assim, a ordem direta da oração.
Regras específicas
1. Separar vários sujeitos, vários complementos ou várias orações.
PROIBIÇÃO DO USO DA VÍRGULA
Não se separa por vírgulas o sujeito do verbo e, também, o verbo de seus
complementos:
Eliana, escreve cartas todo dia. (emprego errado)
Eliana escreve, cartas todo dia. (emprego errado)
Eliana, todo dia, escreve carta. (emprego certo, pois houve alteração na ordem da
oração)
Eliana escreve, todo dia, cartas. (emprego correto, pois houve alteração na ordem
direta)
13Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Os professores, alunos e funcionários foram homenageados pelo diretor.
Gosto muito de redação, literatura, gramática e história.
Fui ao clube, nadei bastante, joguei futebol e almocei.
2. Separar aposto, termo explicativo.
O técnico da seleção brasileira, Zagalo, convocou vinte e dois jogadores para o
amistoso.
Jorge Amado, grande escritor brasileiro, é autor de inúmeros romances adaptados para
televisão.
O presidente da empresa, Sr. Ferret, deu uma enorme gratificação a seus funcionários.
3. Separar vocativo.
A inflação, meu amigo, faz parte da cultura nacional.
“Isso mesmo, caro leitor, abane a cabeça” (Machado de Assis)
4. Separar termos que se deseja enfatizar.
Eliana chegou à festa, maravilhosa como uma Deusa, iluminando todo o caminho por
que passava.
5. Separar expressões explicativas e termos intercalados.
A vida é como boxe, ou seja, vivemos sempre batendo em alguém.
O professor, conforme prometera, adiou a prova bimestral.
6. Separar orações:
coordenadas (mas, porém, contudo, pois, porque, logo, portanto)
Participamos do congresso, porém não fomos remunerados.
Trabalhe, pois a vida não está fácil.
Antônio não estudou; não conseguiu, portanto, passar o ano letivo.
7. Separar orações adjetivas:
O fumo, que é prejudicial à saúde, terá sua venda proibida para menores.
8. Separar orações adverbiais, principalmente quando vieram antes da principal.
Para que os alunos aprendessem mais, o professor trabalhava com música.
Assim que puder, mandar-te-ei um lindo presente.
14Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
9. Orações reduzidas de particípio e gerúndio.
Chegando atrasado, o aluno conturbou a aula.
Terminada a palestra, o médico foi ovacionado pelo público.
10. Para indicar omissão de palavras:
Eu leio romances clássicos; você, policiais. (Foi omitido o verbo ler.)
O uso da vírgula com o conectivo E
a) Separar as orações com sujeitos diferentes.
O policial prendeu o ladrão, e sua esposa ficou muito orgulhosa.
b) Usa-se vírgula antes do e quando precedido de intercalações.
Eliana foi promovida, devido a sua capacidade, e todos do departamento a
cumprimentaram.
c) Usa- se vírgula depois do e quando seguido de intercalações.
Eliana foi promovida e, por ser muito querida, todos do departamento a
cumprimentaram.
5 O USO DO PONTO-E-VÍRGULA
Usa-se, basicamente, o ponto-e-vírgula para obter mais clareza em períodos longos, em
que há muitas vírgulas.
Compramos, em 15 de abril, da empresa Lether Informática, 10 mesas para
computadores; da Decortex, 15 cortinas bege; em 20 de abril, da Pen, 5 caixas de canetas
azuis e vermelhas.
Fomos, ontem pela manhã, ao clube; faltamos, portanto, à aula.
6 O USO DOS PRONOMES
1. Pronomes demonstrativos: esse, este e aquele.
a) Este: usamos para indicar objetos que estão próximos do falante e para indicar
tempo presente ou futuro:
Esta minha blusa está me incomodando, vou tirá-la.
Este dia está insuportável, preciso fazer algo diferente.
Esta noite pretendo dormir cedo.
b) Esse: usamos para indicar objetos que estão com a pessoa com que se fala e com a
pessoa que nos ouve ou lê, e também em tempo passado.
15Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Peço a essa empresa compreensão quanto à demora da entrega do pedido.
Essa noite não consegui dormir bem.
c) Aquele: usamos para indicar objetos que estão com a pessoa de quem se fala e
também para indicar algo muito distante.
Aquela blusa da sua amiga é muito bonita.
Lembra quando estudávamos no primário? Aquela escola era o máximo.
2. Pronomes oblíquos:
a) Pronomes: o e a usam-se com verbos transitivos diretos.
Comprei o carro. / Comprei- o.
Antes de verbos terminados em: R, S e Z, usa- se LO ou LA:
Comprar a casa. / Comprá-la.
Fez o exercício. / Fê-lo.
Comemos o bolo. / Comemo-lo.
Antes de sons nasais, usa-se NO ou NA:
Dão presentes. / Dão-no.
Levam fama. / Levam-na.
b) Pronome lhe: usa-se com verbos transitivos indiretos.
Fiz a ele uma proposta = Fiz-lhe uma proposta.
Informei ao diretor o assunto = Informei-lhe o assunto.
c) Pronomes: eu e mim.
Antecedido de preposição para e sucedido de verbo no infinitivo, usa-se eu.
Isto é para eu fazer. / Pediram para eu comprar o livro.
Antecedido por preposição, usa-se mim.
Observação: Este e aquele:
Usamos aquele na indicação de elementos que foram mencionados em primeiro lugar e
este para os que foram por último.
João e Jonas são amigos, porém este é extrovertido; aquele, muito tímido.
16Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Entre mim e ti está tudo acabado.
Isto é para mim?
Observe: sem mim, de mim, por mim
d) Consigo e contigo:
Consigo = ele mesmo
João trouxe consigo o livro de redação.
Contigo = com você
João, preciso falar contigo ainda hoje.
e) Conosco e com nós:
Quando acompanhado de um agente modificador (mesmos, todos, próprios ou
numerais) usa-se com nós.
Eliana virá conosco.
Eliana virá com nós mesmos.
3. Colocação pronominal:
Próclise, colocação antes do verbo.
a) Com palavras negativas:
Nunca me diga isso.
Não te quero mais.
b) Nas frases exclamativas, interrogativas e optativas:
Como se fala aqui!
Quem te disse?
Deus lhe pague, moço.
c) Com pronomes interrogativos, indefinidos e demonstrativos:
Esta é a bela moça de quem lhe falei.
Alguém me ajude, por favor.
Aquilo a irritava profundamente.
17Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
d) Com advérbios.
Aqui se trabalha muito.
Sempre me convidam para padrinho.
e) Com infinitivo, regido de preposição.
Ela veio (para) nos ajudar.
O professor chegou para me passar a matéria da prova.
f) Com gerúndio, regido de preposição em.
Em se tratando de redação, Pedro é o melhor.
Em me ajudando, reparará o seu estúpido erro.
Mesóclise, colocação do pronome no meio do verbo.
a) Usa-se apenas com verbos no futuro do presente e no futuro do pretérito do
indicativo, desde de que não ocorram casos que pedem próclise.
Dir-te-ei toda a verdade. (Te direi a verdade – errado)
Ajudá-lo-ei sempre que possível. (Ajudarei-o sempre – errado)
A festa realizar-se-á em 23/12. (A festa se realizará – errado)
Ênclise, colocação do pronome depois do verbo.
a) Usa-se em orações que se iniciam com verbos, desde que não peçam mesóclise.
Revelaram-me a verdade sobre você.
b) Usa-se ênclise sempre que não ocorrer incidência de próclise ou mesóclise.
Ela disse-me palavras bonitas.
Quero beijar-te agora.
Unidade II – LITERATURA
1 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
1. Emissor ou remetente: é aquele que codifica e envia a mensagem. Ocupa um dos polos do
circuito da comunicação.
2. Receptor ou destinatário: é aquele que recebe e decodifica a mensagem.
3. Mensagem: é o conteúdo que se pretende transmitir.
18Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
4. Canal: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida do emissor para o receptor.
5. Código: é um sistema de signos convencionais que permite dar à informação emitida (pelo
emissor) uma interpretação adequada (pelo receptor).
6. Contexto ou referente: ambientação, situação em que se dá o processo de comunicação.
2 FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Em todo ato de comunicação existe uma intenção por parte do emissor da mensagem.
Dependendo do objetivo que o emissor deseja atingir com sua mensagem, nela vai
predominar uma determinada função da linguagem. A função, portanto, está intimamente
relacionada ao objetivo do emissor da mensagem, seja ela verbal ou não verbal. As funções
de linguagem são as seguintes:
Função Referencial: Ocorre toda vez que a mensagem faz referência a acontecimentos, fatos,
pessoas, animais ou coisas, com o objetivo de transmitir informações.
Ex.: O tempo amanhã será nublado, com melhoria no fim do período.
Ela abriu a porta, entrou, sentou-se na poltrona e sorriu.
Função emotiva: Está centrada no emissor, na 1º pessoa (eu). Expressa os sentimentos de
quem fala em relação àquilo de que está falando.
Ex.: Estou muito feliz.
Este jantar está excelente!
Função apelativa: Está centrada na 2º pessoa (tu). Conhecida também como função conativa,
é dirigida ao receptor com o objetivo de influenciá-lo a fazer ou deixar de fazer alguma coisa.
Exprime-se através do vocativo e do imperativo. É sempre uma ordem ou um pedido que se
faz.
Ex.: Não deixe de ver aquele filme amanhã.
Cale a boca agora mesmo.
Função fática: Ocorre quando o emissor deseja verificar o canal de comunicação está
funcionando, ou se ele, emissor, está sendo compreendido.
Ex.: Entenderam?
Hein? Ok?
Função metalinguística: Esclarece o próprio código, ensina alguém, esclarece algo.
Ex: estética: 1. Parte da filosofia que trata das leis e dos princípios do belo. 2. Caráter
estético; beleza. 3. (fig.) Plás-tica, beleza física. (Minidicionário Luft)
Função poética: É a criatividade da mensagem. Percebe-se um cuidado especial na
organização da mensagem através de rimas e ritmos
Ex.:
Mar Azul
mar azul
mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul
Ferreira Gullar
19Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
3 DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO
Dependendo do contexto em que se encontra, uma palavra pode ter uma significação
objetiva, comum a todos. É o valor denotativo da palavra:
Ex: Raiz s.f. (Bot.) Órgão da planta geralmente fixo no solo donde retira água e
substância minerais.
A mesma palavra, em outro contexto, pode sugerir outras interpretações. É o valor
conotativo da palavra:
Ex: Raiz s.f. (fig.) Princípio, origem.
Denotação – Linguagem informativa, comum a todos; objetiva um conhecimento
prático, científico; a palavra empregada no seu sentido real.
Exemplo: Minha geladeira quebrou.
Conotação – Linguagem afetiva, individual, subjetiva; objetiva uma apreciação estética
(bela e criativa); a palavra é empregada no seu sentido figurado, poético.
Exemplo: Minha namorada é uma geladeira.
4 FIGURAS DE LINGUAGEM
São os registros da linguagem afetiva relacionadas gramaticalmente. Diz-se que
linguagem é afetiva, quando as palavras são usadas com sentido figurado.
As principais figuras de linguagem costumam ser classificadas em figuras de som,
figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras.
Figuras de palavras
Antonomásia – Consiste na substituição de um nome por outro que com ele seja afim
semanticamente ou por uma ação notória.
Exemplos: “O poeta dos escravos” (Castro Alves) / “O rei do cangaço” (Lampião) / “O rei
do pop” (Michael Jackson) / “O rei do futebol” (Pelé) / Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro)
etc.
Catacrese – Costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um
conceito, toma-se outro "emprestado“, empregando algumas palavras fora de seu sentido
original.
Exemplos: “Embarcar num trem.” / Segunda-feira haverá sabatina. / Enterrar uma agulha
no dedo. / cavalgar um burro; / braço da cadeira, / pé da mesa, / cabeça de cebola, / dente de
alho, / asa do bule ,/ aterrissar no mar, / barriga da perna, etc.
Metáfora – É uma comparação implícita, pois o elemento comparativo fica subentendido.
Exemplo: “As mãos que dizem adeus são pássaros”.
Metonímia - A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre
ambos estreita afinidade ou relação de sentido.
Exemplos:
a) parte pelo todo
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
b) o lugar pela coisa
Fumei um saboroso havana. (= Fumei um saboroso charuto.)
20Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
c) O instrumento pela pessoa que o utiliza
 A melhor tesoura da região.
 O gatilho mais rápido do oeste.
d) O autor pela obra
Eu leio Clarice Lispector.
e) A marca pelo produto
Ela bebeu Coca-cola, comprou Bombril e deu ao filho mingau de Maizena.
f) O continente pelo conteúdo
João comeu dois pratos de feijoada e bebeu dois copos de suco.
Prosopopeia ou personificação – Consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que
são próprios de seres animados.
Exemplos:
 “O jardim olhava as crianças sem dizer nada.”
 “As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres.”
Comparação ou símile – É a figura de linguagem que consiste na aproximação entre dois
seres em função de uma semelhança entre eles, ou seja, é possível atribuir características de
um elemento ao outro, sempre usando os termos comparativos explícitos citados acima.
Exs.: “De tão branca, a moça parecia um fantasma”.
“Ele dirigia como um louco”.
“Trabalhava tal qual um profissional”.
“Ele era tão bom quanto um santo”.
“Seus olhos brilhavam que nem esmeraldas”.
Sinestesia – Trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos
do sentido.
Exs.: “A luz crua da madrugada invadia meu quarto”.
“O sol de outono caía com uma luz pálida e macia”.
“Dirigiu-lhe uma palavra branca e fria como agradecimento”.
Figuras de construção
Aliteração – Consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais.
Exemplos:
“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”
“O rato roeu a roupa do rei de Roma”.
“Quem com ferro fere com ferro será ferido”.
Anacoluto – Consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se
inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra. Palavra ou palavras
jogadas no início de um período sem desempenhar função sintática.
Exemplos:
“A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa”.
“Poesia. Ora, ninguém gosta de choradeiras poéticas.”
“Eu, toda vez que chego, você me chama pra conversar”.
Anáfora – Consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
Exemplos:
“Noite – montanha. Noite vazia. Noite indecisa. Confusa noite. Noite à procura,
mesmo sem alvo.” (Carlos Drummond de Andrade)
21Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
“Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!”
(M. Bandeira)
Assíndeto – é a omissão das conjunções ou conectivos aditivas.
Exemplos:
 “... há de morrer como viveu: sozinho! Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem
pão! sem lar!” (Olavo Bilac)
 “É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias” (Vinícius de Moraes)
Elipse – Consiste na omissão de um termo que é facilmente identificado.
Exemplos:
“Na estante, livros e mais livros”. (há)
“Chegamos tarde ontem”. (Nós)
“Não fosse sua carona, eu ainda estaria no meio do caminho”. (Se)
Hipérbato – Se refere a uma inversão brusca da ordem dos termos de uma oração.
Exemplos.:
 Brincavam antigamente na rua as crianças.
 Dança, à noite, o casal de apaixonados no clube.
 Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante.
Pleonasmo – consiste na repetição de um termo da oração ou do significado de uma
expressão, isto é, alguma informação que é repetida desnecessariamente. Podem ser literários
e vicioso.
 Literários
Exs.:
 Chovia uma triste chuva de resignação. (Manuel Bandeira)
 Me sorrir um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. (Chico Buarque)
 Viciosos
Exs.:“Todos subiram em cima do palco”. / “Menino, entre já para dentro”. / “Vi com meus
próprios olhos”.
Polissíndeto – É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos
(geralmente a conjunção e).
Exemplos:
 "Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e
tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)
"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da
natureza.
22Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Silepse – É uma figura de linguagem que faz concordância não através de regras gramaticais,
mas sim pela ideia associada em nossa mente. Conhecida também como concordância
ideológica. Pode ser de gênero, de número ou de pessoa.
Exemplos:
de gênero:
 “Bom Jardim é encantadora!” (a concordância é feita com a palavra cidade, feminina,
que está subentendida)
 “Alguém andava bem saudosa.” (concorda com a ideia de feminino.)
de número:
 O pessoal pôs-se a gritar e choravam.
 O casal de pássaros nada fez, apenas voaram, foram embora.
de pessoa:
 “Aliás todos os sertanejos somos assim.”
 “Os amigos nos revezávamos à sua cabeceira.”
Figuras de pensamento
Antítese – É a oposição entre dois pensamentos, duas ou mais ideias. “É a oposição de duas
verdades, uma dando vida à outra.” La Bruyère).Figura fundamental, básica do pensamento e
do sentir: nascimento x morte; ódio x amor; dia x noite; alegria x dor etc.
Exemplo:
 E Carlos, jovem de idade e velho de espírito, aproximou-se.
 O que sempre foi simples tornou-se complexo.
 "O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa)
Apóstrofe – Consiste no chamamento a uma pessoa ou coisa que pode ser real ou imaginária,
pode estar presente ou ausente; usada para dar ênfase.
Exemplo:
 Ó mar salgado, / quanto do teu sal / são lágrimas de Portugal!
(Fernando Pessoa)
 Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus!
(Castro Alves)
Eufemismo – Busca suavizar uma expressão através do uso de termos mais agradáveis.
Exemplos:
 Ele é desprovido de beleza. (= feio)
 O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
 Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
 Osvaldo partiu dessa pra melhor. (= morreu)
Hipérbole – Consiste em engrandecer ou diminuir exageradamente a verdade.
Exemplo:
 Eu já disse um milhão de vezes que não fui eu quem fez isso!
 Hoje está um frio de rachar!
 Aquela mãe derramou rios de lágrimas quando seu filho foi preso.
 Não convide o João para sua festa, porque ele come até explodir!
Ironia – Figura pela qual se diz o contrário do que se quer dizer.
Exemplo: Que pessoa educada! Entrou sem cumprimentar ninguém.
Paradoxo – Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias
contraditórias.
23Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Exemplos.:
 É só um pobre rapaz rico que não sabe nada da vida.
 Quanto mais vivemos, mais nos aproximamos da morte.
 Essa menina parece que dorme acordada.
 “Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer”. (Camões)
5 O QUE É LITERATURA?
A palavra serve para comunicar e interagir. E também para criar literatura, isto é, criar
arte, provocar emoções, produzir efeitos estéticos.
Estudar literatura implica apropriar-se de alguns dos conceitos básicos dessa arte, mas
também deixar o espírito leve e solto, pronto para saltos, voos e decolagens.
A literatura é uma das formas de expressão artística do ser humano, juntamente com a
música, a pintura, a dança, a escultura, o teatro, etc. Assim como o material da escultura são
as formas e os volumes e o da pintura são as formas e as cores, o material básico da literatura
é a palavra. Literatura é a arte da palavra.
Como parte integrante da cultura, a literatura já passou por diferentes formas de
expressão, de acordo com o momento histórico e com a situação da produção. Na Grécia
antiga e na Idade Média, por exemplo, sua transmissão ocorria basicamente de forma oral, já
que pouquíssimas pessoas eram alfabetizadas. Nos dias de hoje, em que predomina a cultura
escrita, os textos literários são escritos para serem lidos silenciosamente pelos leitores.
Contudo, juntamente com o registro escrito da literatura, publicada em livros e revistas, há
outros suportes que levam o texto literário até o público, como o CD, o audiolivro, a Internet e
inúmeras adaptações feitas para cinema e TV.
O que é literatura? Não existe uma definição única e unânime para literatura. Há quem
prefira dizer o que ela não é. De qualquer modo, para efeito de reflexão, é possível destacar
alguns aspectos que envolvem o texto literário do ponto de vista da linguagem e do seu papel
social e cultural.
6 A NATUREZA DA LINGUAGEM LITERÁRIA
Você já deve ter tido contato com muitos tipos de texto literário: contos, poemas,
romances, peças de teatro, novelas, crônicas, etc. E também com textos não literários, como
notícias, cartas comerciais, receitas culinárias, manuais de instrução. Mas, afinal, o que é um
texto literário? O que distingue um texto literário de um texto não literário?
A seguir, você vai ler dois textos: o primeiro é parte de uma notícia de jornal; o segundo
é uma crônica do escritor Moacyr Scliar, criada a partir dessa notícia:
LEITURA:
TEXTO I
Duas mulheres e três crianças que moram debaixo de um viaduto na zona
sudoeste de SP vão conhecer o Iguatemi.
(Folha de S. Paulo, 25/12/2008. Cotidiano)
24Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
TEXTO II
ROTEIRO TURÍSTICO
Apresentamos a seguir o roteiro de nossa excursão “Viagem a um mundo encantado”,
um excitante mergulho no maravilhoso universo do consumo.
9h – Início da excursão. Saída dos participantes do viaduto em que residem. O
embarque será feito em ônibus comum, de linha. Não usaremos helicóptero e nem mesmo
ônibus espacial. Não se trata de economia; queremos evidenciar o contraste entre um velho e
barulhento veículo e a moderna e elegante construção que é objeto de nossa visita.
10h – chegada ao shopping. Depois do deslumbramento inicial, o grupo adentrará o
recinto, o que deverá ser feito de forma organizada, sem tumulto, de maneira a não chamar a
atenção. Isto poderia resultar em incidentes desagradáveis.
10-12h – Visita às lojas. Este é o ponto alto de nosso tour, e para ele chamamos a
atenção de todos os participantes. Poderão observar os últimos lançamentos da moda
primavera-verão, os computadores mais avançados, os eletrodomésticos mais modernos.
Numa das vitrines será visualizado um relógio de pulso Bulgari custando aproximadamente
US$ 10 mil. Os nossos guias, sempre bem-informados, farão uma análise desta quantia.
Mostrarão que ela equivale a cem salários mínimos e que, portanto seriam necessários quase
dez anos para adquirir tal relógio. Tais condições oportunizarão uma reflexão sobre a
dimensão filosófica do tempo, muito necessária, a nosso ver – já que é objetivo da agência
não apenas o turismo banal, mas sim um alargamento do horizonte cultural de nossos clientes.
12-14h – Normalmente, este horário será reservado ao almoço. Considerando, contudo,
que o tempo é breve e custa caro (ver acima), propomos aos participantes um passeio pela
área de alimentação, onde teremos uma visão abrangente do mundo fast-food. Lembramos
que é proibido consumir os restos porventura deixados sobre a mesa ou mesmo caídos no
chão.
14-16h – Continuação de nossa visita. Serão mostrados agora os locais de diversão. Os
participantes poderão ver todos – repetimos todos – os cartazes dos filmes em exibição.
16h – Embarque em ônibus de linha com destino ao ponto de partida, isto é, o viaduto.
17h – Nenhum acidente acontecendo, chegada ao viaduto e fim de nossos serviços.
(O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001, p. 41-2.)
A literatura e suas funções
Você viu, pelos estudos anteriores, que a literatura é uma linguagem especial, carregada
de sentidos e capaz de provocar emoções e reflexão no leitor.
Conheça agora o que dizem os teóricos e especialistas em literatura sobre outras funções
que ela desempenha no mundo em que vivemos.
Literatura: comunicação, interlocução, recriação
Literatura é linguagem e, como tal, cumpre, juntamente com outras artes, um papel
comunicativo na sociedade, podendo tanto influenciar o público quanto ser influenciada por
ele.
O leitor de um texto literário ou o contemplador da obra de arte não é um ser passivo, que
apenas recebe a comunicação, conforme lembra o pensador russo Mikhail Bakhtin. Mesmo
situado em um tempo histórico diferente do tempo de produção da obra, ele também a recria e
atualiza os seus sentidos com base em suas vivências pessoais e nas referências artísticas e
culturais do seu tempo. Por outro lado, no momento em que está criando a obra, o artista já é
25Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
influenciado pelo perfil do público que tem em mente. Isso se reflete nos temas, nos valores e
no tipo de linguagem que escolhe.
Literatura: a humanização do homem
Conheça agora o que teóricos e especialistas em literatura dizem sobre o papel que ela
desempenha no mundo em que vivemos.
LEITURA:
TEXTO I
Um certo tipo de função psicológica é talvez a primeira coisa que nos ocorre
quando pensamos no papel da literatura. A produção e a fruição desta se baseiam
numa espécie de necessidade universal de ficção e de fantasia, que de certa forma é
coextensiva ao homem, por aparecer invariavelmente em sua vida, como indivíduo e
como grupo, ao lado da satisfação das necessidades mais elementares. E isto ocorre no
primitivo e no civilizado, na criança e no adulto, no instruído e no analfabeto. A
literatura propriamente dita é uma das modalidades que funcionam como resposta a
essa necessidade universal, cuja formas mais humildes e espontâneas de satisfação
talvez sejam coisas como a anedota, a adivinha, o trocadilho, o rifão. Em nível
complexo surgem as narrativas populares, os cantos folclóricos, as lendas, os mitos. No
nosso ciclo de civilização, tudo isto culminou de certo modo nas formas impressas,
divulgadas pelo livro, o folheto, o jornal, a revista: poema, conto, romance, narrativa
romanceada. Mais recentemente, ocorreu o boom (crescimento rápido, ação intensa)
das modalidades ligadas à comunicação oral, propiciada pela técnica: fita de cinema,
[...] história em quadrinhos, telenovelas. Isto, sem falar no bombardeio incessante da
publicidade, que nos assalta de manhã à noite, apoiada em elementos de ficção e de
poesia e em geral da linguagem literária.
Portanto, por via oral ou visual, sob formas curtas e elementares, ou sob
complexas formas extensas, a necessidade de ficção se manifesta a cada instante; aliás,
ninguém pode passar um dia sem consumi-la, ainda que sob a forma de palpite na
loteria, devaneio, construção ideal ou anedota. E assim se justifica o interesse pela
função dessas formas de sistematizar a fantasia, de que a literatura é uma das
modalidades mais ricas.
(Antonio Candido. “A literatura e a formação do homem”)
TEXTO II
Hoje já chegamos a uma época em que os romancistas e os poetas são olhados
como criaturas obsoletas, de priscas eras. No entanto, só eles, só a boa literatura
poderá evitar o tráfico final desta mecanização: o homem criando mil milhões, virando
máquina azeitada que age corretamente ao apertar do botão – estímulo adequado. A
Arte, e dentro dela a Literatura, é talvez a mais poderosa arma para evitar o
esclerosamento, para manter o homem vivo, sangue, carne, nervos, sensibilidade; para
fazê-lo sofrer, angustiar-se, sorrir e chorar. E ele terá então a certeza de que ainda está
vivo, de que continua escapando.
A Literatura é o retrato vivo da alma humana; é a presença do espírito na carne.
Para quem, às vezes, se desespera, ela oferece consolo, mostrando que todo ser
humano é igual, e que toda dor parece ser a única; é ela que ensina aos homens os
múltiplos caminhos do amor, enlaçando-os em risos e lágrimas, no seu sofrer
26Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
semelhante; ela que vivifica a cada instante o fato de realmente sermos irmãos do
mesmo barro.
A moléstia é real, os sintomas são claros, a síndrome está completa: o homem
continua cada vez mais incomunicável (porque deturpou o termo Comunicação),
incompreendido e/ ou incompreensível, porque se voltou para dentro e se autoanalisa
continuadamente, mas não troca com os outros estas experiências individuais; está
“desaprendendo” a falar, usando somente o linguajar básico, essencial, e os gestos.
Não lê, não se enriquece, não se transmite. Quem não lê, não se enriquece, não se
transmite. Quem não lê, não escreve. Assim, o homem do século XX, bicho de concha,
criatura intransitiva, se enfurna dentro de si próprio, ilhando-se cada vez mais,
minando, pelas duas doenças do nosso tempo: individualismo e solidão.
(Ely Vieitez Lanes. Laboratório de literatura. São Paulo)
Literatura: o encontro do individual com o social
Segundo o escritor Guimarães Rosa, literatura é feitiçaria que se faz com o sangue do
coração humano. Isso quer dizer que a literatura, entre outras coisas, é também a expressão
das emoções e reflexões do ser humano.
Leia, a seguir, um poema do escritor africano José Craveirinha:
Grito negro
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.
Eu serei o teu carvão, patrão!
7 ESTILOS DE ÉPOCA: ADEQUAÇÃO E SUPERAÇÃO
O ser humano se modifica através dos tempos: muda sua forma de pensar, de sentir e de
ver o mundo. Consequentemente, promove mudanças nos valores, nas ideologias, nas
religiões, na moral, nos sentimentos. Por isso, é natural que as obras literárias apresentem
características próprias do momento histórico em que são produzidas. Em certas épocas, por
exemplo, determinados temas podem ser mais explorados do que outros; já em outras épocas,
27Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
os escritores podem estar mais interessados no trabalho formal com os textos do que nas
ideias, e assim por diante.
Ao conjunto de textos que apresentam certas características comuns em determinado
momento histórico, chamamos estilo de época ou movimento literário. Ao escrever, o
escritor recebe influências e sofre coerções do grupo de escritores do seu tempo, mas isso não
quer dizer que ele sempre se limite aos procedimentos comuns àquele grupo. Como a
literatura é um organismo vivo e dinâmico, o escritor está em constante diálogo não só com a
produção do grupo local, mas também com a produção literária de outros países, com a
literatura do passado e, mesmo sem saber, com a do futuro. Por isso, não é difícil os escritores
surpreenderem e levarem a literatura a uma situação completamente inusitada. Assim foi com
Camões em Portugal, com Cervantes na Espanha e com Machado de Assis e Guimarães Rosa
no Brasil.
Diálogos na tradição literária:
As relações entre o escritor e o público ou as relações entre o escritor e o seu contexto
não podem ser vistas de forma mecânica. Classificar um escritor como participante deste ou
daquele estilo de época geralmente é uma preocupação de natureza didática ou científica. Os
escritores nem sempre estão preocupados em escrever de acordo com este ou aquele estilo.
Além disso, entre uma época literária e outra, é comum haver uma fase de transição, um
período em que o velho e o novo se misturam. Machado de Assis, por exemplo, durante certo
tempo foi um escritor com traços românticos; depois os abandonou, dando origem ao
Realismo em nossa literatura.
Há escritores que não se ligam à tendência literária vigente em sua época, mas
produzem obras cuja originalidade chega a despertar, em autores de outras épocas, interesse
pelo mesmo projeto. Esses escritores, de épocas diferentes, mas com projetos artísticos
comuns, não pertencem ao mesmo movimento, mas perseguem a mesma tradição literária. Por
exemplo, há escritores filiados à tradição gótica no Romantismo, no Simbolismo e na
atualidade.
Há ainda a situação de um autor estar muito à frente de seu tempo, o que lhe traz
problemas de reconhecimento. É o caso, por exemplo, do poeta Joaquim de Sousa Andrade,
mais conhecido por Sousândrade, que, apesar de ter vivido na época do Romantismo, foi
precursor daquilo que aconteceria cinquenta anos depois na literatura, ou seja, o modernismo.
Só a partir da década de 70 do século XX, o escritor teve sua importância reconhecida
definitivamente.
A literatura na escola
A literatura, bem como outras artes e ciências, independe da escola para sobreviver.
Apesar disso, dada sua importância para a língua e a cultura de um país, bem como para a
formação de jovens leitores, transformou-se em disciplina escolar em várias partes do mundo.
Na escola, há diferentes possibilidades de abordar e sistematizar o estudo da literatura:
Poe épocas, por temas, por gêneros, por comparações, etc. No Brasil, no último século, a
abordagem histórica da literatura, isto é, o estudo da produção literária dos principais
escritores e suas obras no transcorrer do tempo, tem sido a mais comum.
8 AS GRANDES ESCOLAS LITERÁRIAS
A história da Literatura Portuguesa e Brasileira caminham quase que lado a lado.
Literatura Portuguesa: Era Medieval, Clássica e Romântica.
Literatura Brasileira: Era Colonial e Nacional.
28Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
OS GÊNEROS LITERÁRIOS
Gênero é o modo como se vincula a mensagem literária. Podem diferenciar-se pelo
conteúdo e pela forma.
FORMA- Poesia e Prosa
CONTEÚDO – Épico (narrativo), lírico e dramático.
GÊNERO ÉPICO:
Conteúdo: Narração de feitos heroicos, com ênfase nos atos de bravuras. Fatos ocorridos
numa determinada sequência e temporal.
Forma: Longos poemas – Epopeias.
Exemplo:
Vasco da Gama o forte Capitão,
Que tamanhas empresas se oferece
De soberba e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece
Pera se aqui deter não vê razão,
Que inabitada a terra lhe parece.
Por diante passar determinava.
Mas não lhe sucedeu como cuidava.
(Camões)
GÊNERO LÍRICO:
Conteúdo: Expressão de aspectos pessoais, subjetivos, sentimentais, sempre envolvendo
emoção. Eu- poético: expressa emoções.
Forma: Poemas – sonetos, odes, baladas, elegias, canções.
Exemplo:
Maior amor nem mais estranho existe
que o meu, que não sossega a coisa amada
e quando a sente alegre fica triste
e se vê descontente, dá risada.
(Vinícius de Moraes)
GÊNERO DRAMÁTICO:
Conteúdo: representação de ações. Ênfase no diálogo.
As ações presentes (no palco), a representação de ações nas quais se chocam forças
oponentes, o conflito dos homens e seu mundo, o drama humano.
O tom dramático pode estar presente em textos em prosa, quando retratam esses conflitos, a
miséria ou o drama das personagens.
29Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Forma: Peças de teatro, novelas de TV, circo-teatro, shows, etc.
Exemplo:
(Pausa. Rudi está estranho)
STELLA – Cala a boca, Rudi.
RUDI – Stella, eu te amei muito, até demais. Mas era um sentimento primitivo, animal,
sem nenhuma lógica... Agora eu mudei.
STELLA – (Cada vez mais desesperada) Não! Você não mudou nada!
RUDI – Você me fez mudar.
STELLA – Tenta me ouvir, eu sou louca por você, sempre fui!
RUDI – Os minutos, as horas, a poeira que cai. O maldito tempo... Você tem que ir
embora.
STELLA – Não. Claro que não...
(Marcelo Paiva)
Unidade III – LITERATURA PORTUGUESA
Os períodos literários - mudanças históricas
As mudanças pelas quais as sociedades sofrem, de alguma forma, ficam registradas
entre os povos: sejam por tradições orais, escritas, por desenhos, objetos, costumes e outras
formas. Portanto, graças a esses registros conhece-se a trajetória dos homens no seu processo
histórico. Influenciados pelo contexto histórico, pela mudança da própria sociedade, esses
registros tomam, periodicamente, feições diferentes e recebem denominações específicas tais
como estilos de época, movimentos literários ou estéticas literárias. Registramos, aqui, de
forma sucinta, um pouco das raízes portuguesas na história brasileira.
As origens da literatura brasileira – era medieval em Portugal
Para conhecer o início da literatura brasileira é preciso conhecer, pelo menos de forma
sucinta, as origens da literatura portuguesa, pois enquanto colônia portuguesa, a fonte de
cultura brasileira era Portugal. A independência cultural foi sendo construída ao longo do
tempo. Os primeiros registros pertencem à Era Medieval.
1 O TROVADORISMO (1189 – 1418)
As primeiras manifestações literárias datam do século XII. A linguagem desses textos
era galego-português, pois na época havia uma integração linguística e cultural entre Portugal
e Galícia (hoje, Espanha). Historicamente, essa época coincide com a expulsão dos árabes da
Península Ibérica e com a formação do Estado português.
As produções que marcam esse período são predominantemente poesias, embora, o
registro de manifestações literárias compreendidas entre 1189 a 1418, caracterizam-se por
cantigas e novelas de cavalaria. Esse período corresponde à Idade Média. Essas poesias
eram cantadas e acompanhadas de instrumento e danças para entretenimento popular e nas
cortes, por isso denominadas cantigas. Os trovadores, pertencentes à nobreza, eram os
profissionais que criavam a letra e a música desses poemas. As cantigas dividiam-se em
líricas e satíricas.
30Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
As líricas, com raízes na Península Ibérica e com traços da cultura árabe, compunham-
se em cantigas de amigo e cantigas de amor, representando, respectivamente o eu-lírico
feminino e masculino. As cantigas satíricas dividiam-se em cantigas de escárnio e maldizer.
Essas produções foram coletadas e passaram a compor os cancioneiros. Os principais
cancioneiros: Cancioneiro da Vaticana, Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Biblioteca
Nacional.
Cantigas de Amigo – características
As Cantigas de Amigo têm suas origens na própria Península Ibérica, surgindo do sentimento
popular. Cronologicamente, são as mais antigas. Suas principais características são: autoria
masculina; sentimento feminino (voz lírica); origem: galego-português; ambiente rural
(popular); a mulher sofre pelo amigo (namorado, amante) ausente; a mulher é um ser mais
real e concreto e paralelismo (repetição do ultimo verso da estrofe anterior).
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo?
E ai Deus, se verra cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!
Se vistes meu amado,
por que ei gran coitado?
E ai Deus, se verra cedo!
Martim Codax
Cantigas de Amor – características
As Cantigas de Amor tiveram raízes na poesia provençal (Provença, sul da França) com
uma linguagem própria dos ambientes das cortes francesas, onde eram cantadas. Menos
musicalizadas, nessas cantigas o ‘eu-lírico’ é homem. Apresenta submissão à dama,
vassalagem humilde e paciente; sempre a amada é a mais bela e há promessa de servir;
idealização (elevação) à mulher.
Quer'eu em maneira de proençal
fazer agora un cantar d'amor,
e querrei muit'i loar mia senhor
a que prez nen fremusura non fal,
nen bondade; e mais vos direi en:
tanto a fez Deus comprida de ben
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedor
de todo ben e de mui gran valor,
e con todo est'é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bon sen,
e des i non lhi fez pouco de ben,
quando non quis que lh'outra foss'igual.
Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad'e loor
e falar mui ben, e riir melhor
que outra molher; des i é leal
muit', e por esto non sei oj'eu quen
possa compridamente no seu ben
falar, ca non á, tra-lo seu ben, al.
Dom Dinis
31Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Cantigas de escárnio e maldizer
Compondo a literatura satírica, os poemas de escárnio e maldizer grande valor histórico
por registrar valores culturais, históricos e linguísticos da sociedade medieval portuguesa.
Essas produções expressavam um valor poético diferenciado: criticavam os costumes e
tinham como alvo cavaleiros, clérigos devassos, nobres covardes na guerra, prostitutas, as
soldadeiras e os próprios trovadores e jograis.
Cantiga de escárnio – características
Os trovadores não só expressam seu lirismo amoroso como também se preocupam em
ridicularizar os costumes da época, outros trovadores e até as mulheres. Sátiras indiretas;
críticas de forma indireta e velada, através de trocadilhos, da ambiguidade e xpressões
irônicas (sem revelar o nome da pessoa satirizada).
Ai, dona fea! Foste-vos queixar
que vos nunca louv'en meu trobar;
mas ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Ai, dona fea! Se Deus me pardon!
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
João Garcia de Guilhade
Cantiga de Maldizer – características
A Cantiga de Maldizer caracteriza-se por ser uma crítica direta e mais grosseira que a de
escárnio. Suas principais características são: sátira direta com citação nominal do destinatário,
ofendendo-o explicitamente; tema predileto: adultério; palavras obscenas; erotismo e
maldade.
Maria Pérez se maenfestou
noutro dia, ca por [mui] pecador
se sentiu, e log'a Nostro Senhor
pormeteu, polo mal em que andou,
que tevess'um clérig'a seu poder,
polos pecados que lhi faz fazer
o Demo, com que x'ela sempr'andou.
Maenfestou-se ca diz que s'achou
pecador muit', e por en rogador
foi log'a Deus, ca teve por melhor
de guardar a El ca o que a guardou;
e mentre viva, diz que quer teer
um clérigo com que se defender
possa do Demo, que sempre guardou.
32Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
E pois que bem seus pecados catou,
de sa mort'houv'ela gram pavor
e d'esmolnar houv'ela gram sabor;
e log'entom um clérigo filhou
e deu-lh'a cama em que sol jazer,
e diz que o terrá, mentre viver;
e est'afã todo por Deus filhou.
E pois que s'este preito começou
antr'eles ambos houve grand'amor
antr'ela sempr'[e] o Demo maior,
atá que se Balteira confessou;
mais, pois que vio o clérigo caer
antr'eles ambos, houv'i a perder
o Demo, des que s'ela confessou.
Fernão Velho
2 O HUMANISMO (1434 – 1527)
O Humanismo (do latim humanus, que significa “humano”) é o nome dado a uma
corrente filosófica e artística que, na literatura representou um período de transição (escola
literária) entre o Trovadorismo e o Classicismo, bem como da Idade Média para a Idade
Moderna.
O Humanismo Renascentista (XIV e XVI), nascido em Florença na Itália, foi um
movimento intelectual de valorização do homem, donde o antropocentrismo (homem como o
centro do mundo) era sua principal característica, em detrimento do teocentrismo da Idade
Média.
Note que o termo “Humanismo” possui uma grande dimensão na medida em que abriga
diversos concepções. No geral, corresponde ao conjunto de valores filosóficos, morais e
estéticos que focam no ser humano, daí surge seu nome. Em outras palavras, é uma ciência
que permitiu ao homem compreender melhor o mundo e o próprio ser, fato que durante o
período do Renascimento Cultural, resultou na crise do pensamento medieval.
Contexto histórico
Historicamente, o Humanismo corresponde a uma fase de profundas transformações
sociais: o desenvolvimento do comércio, o surgimento da burguesia e das cidades, a aliança
entre o rei e a burguesia (fermento das monarquias nacionais), o aparecimento da imprensa, a
divulgação da cultura clássica e as Grandes Navegações. O homem como centro e medida de
todas as coisas – posição já sustentada por Protágoras (séc. V, a.C.) e reforçada por Sócrates
ao considerar o homem como agente do conhecimento. Movimento intelectual: volta aos
valores da Antiguidade Clássica.
Durante o Humanismo, surgiu uma nova classe social, a burguesia, que era composta
por comerciantes oriundos do povo. Sua importância em fins do século XV foi tão grande que
o próprio Cristóvão Colombo só conseguiu as caravelas para descobrir as Américas porque foi
financiado pela burguesia.
Manifestações literárias do humanismo em Portugal
A literatura do Humanismo português produziu manifestações literárias nos diversos
gêneros: em prosa, desenvolveu-se principalmente a historiografia, cuja maior expressão foi
Fernão Lopes; na poesia, floresceu uma intensa atividade palaciana, documentada no
Cancioneiro geral, compilado pelo poeta Garcia Resende. Foi também nessa época que o
gênero dramático teve suas primeiras manifestações de vulto representadas pela obra de Gil
Vicente.
33Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Poesia Palaciana
Foi chamada palaciana por ser feita por nobres e para a nobreza, retratando usos e
costumes da Corte. A principal modificação apresentada por essa poesia é a separação entre a
musica e o texto, o que resultou em um maior apuro formal: apresentava ritmo e melodia
próprios, obtidos a partir da métrica, da rima, das sílabas tônicas e átonas. Desenvolveram-se
as redondilhas, tanto a maior (verso de sete sílabas poéticas) quanto a menor (verso de cinco
sílabas poéticas).
Suas principais características são Compilada no Cancioneiro Geral, por Garcia de
Resende, 1516; Realizada na corte, destinava-se ao entretenimento da nobreza; Poesia frívola,
afetada e circunstancial; Poesia para ler (separada da música); O trovador é substituído pelo
poeta. A espontaneidade das cantigas medievais é substituída pelo uso dos versos
redondilhos: 5 sílabas (redondilha menor) e 7 sílabas poéticas (redondilha maior).
Composições de mote glosado: o poeta compõe o poema com base em um mote (tema),
sobre o qual desenvolve a sua glosa, constituída de voltas (estrofes) que retomam o tema um
ou mais versos do mote. Tema principal: o lirismo amoroso. O amor na poesia palaciana:
cortês, idealizado e sofrido (coyta) como nas cantigas de amor; repleto de paradoxos e
conflitos espirituais (influência da poesia de Petrarca).
A métrica da poesia palaciana
Uma característica marcante na poesia palaciana é a utilização de versos curtos de 5
sílabas e de 7 sílabas, chamados versos redondilhas.
Redondilha menor- 5 sílabas.
Ri/bei/ras/ do /mar,/
que/ tem/des/ mu/dan/ças,
as/ min/has/ lem/bran/ças
dei/xai/-as/ pas/sar./
Francisco de Sousa
Redondilha maior-7 sílabas
Se/ nho/ra,/ par/tem/ tão/ tris/tes
meus/ o/lhos / por /vós,/ meu /bem,/
que /nun/ca /tão/ tris/tes /vis/tes
ou/tros /ne/nhuns /por /nin/guém/
João Ruiz de Castelo Branco
Principais autores: Garcia de Resende, Bernardim Ribeiro, João Ruiz de Castelo Branco,
Luiz Vaz de Camões.
Cantiga sua partindo-se
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
João Ruiz de Castelo Branco
34Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Prosa do período humanista
Fernão Lopes, primeiro grande prosador da Língua Portuguesa: nomeado por D. João I
de Avis a Guarda-Mor da Torre do Tombo (1418 – início do Humanismo em Portugal).
Encarregado de contar a história dos reis de Portugal. Autor de 3 crônicas: Crônica de El-Rei
D. Pedro, Crônica de El-Rei D. Fernando e Crônica de El-Rei D. João.
Características das crônicas de Fernão Lopes: imparcialidade, pesquisa, investigação,
espírito crítico; visão de conjunto da sociedade portuguesa da época, ao invés de exaltar a
figura individual dos monarcas; critica a corrupção e as intrigas palacianas; nacionalismo;
linguagem sóbria, cuidada; apresentação vibrante dos fatos, plasticidade cinematográfica das
descrições; densidade dos retratos psicológicos dos vultos do passado; escrita caudalosa.
Crônica de El-Rei D. Pedro (fragmento)
A Portugal foram trazidos Álvaro Gonçalves e Pero Coelho. Chegaram a Santarém
onde estava el-rei D. Pedro, e este com prazer de sua vinda, embora irritado porque Diego
Lopes fugira, saiu fora a recebê-los. E sa-nha cruel sem piedade lhes fez pela sua mão meter
a tormento, querendo que lhe confessassem quem e que participara na morte de D. Inês, e
que é que o seu pai tratava contra ele quando andavam desavindos por causa da morte dela.
Nenhum deles respondeu a tais perguntas cousa que agradasse a el-rei, e dizem que ele
ressentido deu um açoite no rosto a Pero Coelho. Este soltou-se então em desonestas e feias
palavras contra el-rei, chaman-do-lhe traidor, perjuro, algoz e carniceiro dos homens. El-rei,
dizendo que lhe trouxessem cebola e vinagre para o coelho, enfadou-se deles e mandou-os
matar.
A maneira da morte deles dita pelo miúdo seria muito estranha e crua de contar,
porque a Pero Coelho mandou arrancar o coração pelo peito, e a Álvaro Gonçalves, pelas
espáduas. E tudo o que se passou seria cousa dolorosa de ouvir. Finalmente el-rei mandou-os
queimar. E tudo feito diante dos paços em que ele estava, de maneira que, enquanto comia,
olhava o que mandava fazer.
Muito perdeu el-rei de sua boa fama por tal troca como esta, a qual foi tida em
Portugal e em Castela por muito grande mal, dizendo todos os bons que a ouviam, que os reis
erraram muito, faltando à sua verdade, visto que estes cavaleiros estavam açoitados em seus
reinos com garantia.
(As Crônicas de Fernão Lopes, selecionadas e transpostas em português moderno. Antônio José Saraiva, Lisboa,
Gradiva, 3- edição, 1993, p. 52)
O teatro de Gil Vicente
Gil Vicente foi um poeta e dramaturgo português. É considerado, por muitos estudiosos,
como o pioneiro do teatro português. Sua obra mais conhecida é " A farsa de Inês Pereira".
Suas obras marcam a fase histórica da passagem da Idade Média para o Renascimento (século
XVI).
O teatro na Idade Média era dividido em encenações litúrgicas (voltadas para a
catequese) e profanas (realizadas na corte ou nas grandes festas populares).
35Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
O teatro litúrgico era chamado com o nome genérico de auto, podendo apresentar a
dramatização de passagens da Bíblia (mistérios), da vida dos santos (milagres) ou a denúncia
de comportamentos pecaminosos (moralidades).
O teatro profano era representado, sobretudo, pela farsa, espécie de comédia repleta
de personagens caricaturescas, exageradas, envolvidas e situações ridículas e desastrosas.
O teatro profano era representado, sobretudo, pela farsa, espécie de comédia repleta
de personagens caricaturescas, exageradas, envolvidas e situações ridículas e desastrosas.
Sobre o teatro de Gil Vicente
Gil Vicente serviu-se dos dois principais gêneros teatrais de seu tempo: o auto
(litúrgico) e a farsa (profana, cômica).
 Dois tipos de peças:
– peças de ação fragmentária: sem ligação entre as cenas (Auto da barca do
inferno);
– peças de enredo: desenvolvem uma trama (Farsa de Inês Pereira).
• Dois tipos de personagens:
– Personagens-tipo: representam toda uma classe social (o Fidalgo, o Frade, o Juiz, o
Cavaleiro,... do (Auto da barca do inferno);
– Personagens alegóricas: personificam ideias ou instituições (Todo-o-Mundo,
Ninguém, do Auto da Lusitânia).
Características do teatro vicentino
 Suas peças revelam o bifrontismo humanista: fortes resíduos medievais somados a
antecipações renascentistas;
 Uma visão teocêntrica e conservadora da sociedade aliada a uma aguçado espírito
crítico, que não poupa os excessos do clero da época;
 As críticas de seu teatro não se dirigem às instituições (Monarquia, Nobreza, Igreja,
Clero), mas contra os indivíduos que as corrompiam;
 Convivência de figuras bíblicas com divindades mitológicas greco-romanas;
 Toda a sociedade portuguesa do século XV encontra-se retratada nas peças
gilvicentinas: reis, bispos, mendigos, beberrões, nobres orgulhosos, judeus, ciganos,
mouros, negros, soldados, comerciantes, artesãos, agiotas, camponesas ingênuas,
damas da corte, esposas infiéis, etc.
Gil Vicente é considerado, por muitos estudiosos, como o pioneiro do teatro português.
Suas obras mais conhecidas são Auto da Lusitânia, Auto da Barca do Inferno, A farsa de Inês
Pereira, entre outras. Suas obras marcam a fase histórica da passagem da Idade Média para o
Renascimento.
36Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Auto da Lusitânia (fragmento)
Cortesão Vosso pai é cá senhora?
Lediça Que lhe quereis vós dizê?
Cortesão Pregunto a vossa mercê.
Lediça Per i saiu ele fora
arrecadar nam sei quê.
Quereis-lhe algũa coisa?
Havei-lo mester senhor?
Cortesão Tem ele muito lavor?
Lediça De ventura nam repoisa
nem sossega o pecador.
Cortesão Vossa mãe é também fora?
Lediça Mas em cima está cosendo
e eu ando isto fazendo.
Cortesão Nam devia tal senhora
como vós d’andar varrendo
senam infiar aljofre
e perlas orientais
nam sei como isto se sofre.
Lediça Minha mãe tem no seu cofre
duas voltas de corais.
Cortesão Senhora sam cortesão
e da linagem de Eneas
e por vossa inclinação
folgara de ser de Abraão
sangue de minhas veas.
Mas vosso e nam de ninguém
é tudo o que está comigo
e quero-vos grande bem.
Lediça Bem vos queira Deos amém
quereis oitra coisa amigo?
Cortesão Temo muito que me leixe
vosso amor pobre coitado
de favor com que me queixe.
Lediça Lançai na sisa do peixe
e logo sões remediado.
[...]
3 O RENASCIMENTO (1527-1580)
Teve seu início no século XV e estendeu-se até meados do século XVI e é marcado pela
supervalorização do homem e pelo antropocentrismo, em oposição ao teocentrismo e
misticismo.
Há uma retomada das ideias greco-romanas; o artista não se contenta em apenas
observar a natureza, mas procura estudá-la e imitá-la; valoriza-se a individualidade do artista,
em contraposição à coletividade das obras clássicas.
É nesse período que a identidade nacional lusitana começou a ser definida nos séculos
em meio à ambiência da expansão marítima, que implicou a formação de um imenso império
ultramarino.
Os autores da Antiguidade Clássica só começaram a ser reconhecidos em Portugal no
fim da Idade Média e só se pode falar de um estilo renascentista a partir de 1527, ano em que
o poeta Sá de Miranda regressou da Itália com a Literatura Renascença italiana. Porém, foi
Luís de Camões que aprimora essas novas técnicas poéticas.
Este período ficou conhecido como Classicismo e os escritores introduziram em suas
obras temas pagãos, além do ideal do amor platônico, a exaltação do antropocentrismo, a
imitação de autores clássicos, a predominância da ciência e da razão, o uso da mitologia,
clareza e objetividade, uso de linguagem simples e precisa, o culto da beleza e da perfeição.
Essa ambiência passou a suscitar uma organização narrativa dos grande feitos portugueses.
Essas narrativas passaram a ser feitas por grandes poetas, como Luís de Camões, que, em seu poema
épico Os Lusíadas, conta toda a história de Portugal desde as origens até meados do século XVI,
como bem se explicita logo nas duas primeiras estrofes do poema:
Os Lusíadas (fragmento)
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
37Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Luís Camões
Luís Vaz de Camões (1524 – 1580) publicou em 1572 Os Lusíadas, poema épico organizado
em: Proposição, Invocação, Dedicação, Narração e Epílogo. Além do poema épico, Camões
ficou conhecido por seus poemas líricos, em que buscava o amor espiritual e expunha as
contradições do coração. Sua poesia lírica toma dois sentidos: popular (redondilhas) e erudita
(sonetos).
Soneto
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Luís de Camões
Além da obra de Camões, há outro grande poeta português da época do Renascimento,
Francisco Sá de Miranda, que foi o responsável pela introdução da estrutura do soneto (dois
quartetos – estrofes de quatro versos – e dois tercetos – estrofes de três versos) na língua
portuguesa a partir de uma matriz renascentista italiana chamada Dolce Stil Nuovo, que teve
na figura de Petrarca o seu principal representante.
4 BARROCO EM PORTUGAL (1580 – 1756)
Barroco em Portugal Em Portugal, o Barroco ou também chamado Seiscentismo (por ter
sido estilo que teve início no final do século XVI), tem como marco inicial a Unificação da
Península Ibérica sob o domínio espanhol em 1580 e se estenderá até por volta da primeira
metade do século XVIII, quando ocorre a Fundação da Arcádia Lusitana, em 1756 e tem
início o Arcadismo.
O Barroco corresponde a um período de grande turbulência político-econômica, social,
e principalmente religiosa. A incerteza e a crise tomam conta da vida portuguesa. Fatos
importantes como: o término do Ciclo das Grandes Navegações, a Reforma Protestante,
liderada por Lutero (na Alemanha) e Calvino (na França) e o Movimento Católico de Contra-
38Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Reforma, marcam o contexto histórico do período e colaboram com a criação do “Mito do
Sebastianismo”, crença segundo a qual D.Sebastião, rei de Portugal (aquele a quem Camões
dedicou Os Lusíadas), não havia morrido, em 1578, na Batalha de Alcácer Quibir, mas que
estava apenas “encoberto” e que voltaria para transformar Portugal no Quinto Império de que
falam as Escrituras Sagradas). D. João é visto como o novo messias, o novo salvador.
Mas o que vem a ser a palavra Barroco? Não há um consenso quanto à sua origem. A
mais aceita diz que o termo deriva da palavra Barróquia, nome de uma região da Índia, grande
produtora de uma pérola de superfície irregular e áspera com manchas escuras, conhecida
pelos portugueses como barroco. Aproximando-se assim do estilo, que segundo os clássicos
era um estilo “irregular”, “defeituoso”, de “mau gosto”. Lembre-se de que a tradição clássica
era marcada pela busca da perfeição e do equilíbrio.
Vejamos quais são as principais características barrocas:
Dualismo = O Barroco é a arte do conflito, do contraste. Reflete a intensificação do
bifrontismo (o homem dividido entre a herança religiosa e mística medieval e o espírito
humanista, racionalista do Renascimento). É a expressão do contraste entre as grandes forças
reguladoras da existência humana: fé x razão; corpo x alma; Deus x Diabo; vida x morte, etc.
Esse contraste será visível em toda a produção barroca, é frequente o jogo, o contraste de
imagens, de palavras e de conceitos. Mas o artista barroco não deseja apenas expor os
contrários, ele quer conciliá-los, integrá-los. Daí ser frequente o uso de figuras de linguagem
que buscam essa unidade, essa fusão.
Fugacidade = De acordo com a concepção barroca, no mundo tudo é passageiro e
instável, as pessoas, as coisas mudam, o mundo muda. O autor barroco tem a consciência do
caráter efêmero da existência. Pessimismo = Essa consciência da transitoriedade da vida
conduz frequentemente à ideia de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da
vida. A incerteza da vida e o medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista,
marcada por um desencantamento com o próprio homem e com o mundo.
Feísmo = No Barroco encontramos uma atração por cenas trágicas, por aspectos cruéis,
dolorosos e grotescos. As imagens freqüentemente são deformadas pelo exagero de detalhes.
Há nesse momento uma ruptura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica. O
barroco é a arte dos contrastes, do exagero.
Tensão religiosa = Intensifica-se no Barroco, aspectos que já vinham sendo percebidos
no Humanismo e no Classicismo:
Antropocentrismo X Teocentrismo
A igreja católica, através da Contra-Reforma, tenta recuperar o teocentrismo medieval
(Deus como centro de todas as coisas) e o homem barroco não deseja perder a visão
antropocêntrica renascentista (O homem como o centro de todas as coisas), assim o Barroco
tenta atingir a síntese desses valores, ou seja, tenta conciliar razão e fé, corpo e alma,
espiritualismo e materialismo. Poderíamos dizer que seria, em outras palavras, a
racionalização da fé, a busca da salvação através da lógica. O Barroco apresenta duas faces:
Cultismo E Conceptismo.
Cultismo: Corresponde ao jogo de palavras e imagens visando ao rebuscamento da
forma do texto, à ornamentação e à erudição vocabular. Nessa vertente barroca é comum o
uso exagerado das figuras de linguagem, como metáforas, antíteses, hipérboles, hipérbatos,
entre outras. O cultismo também é chamado de Gongorismo, por ter sido muito influenciado
pelo poeta espanhol Luís de Gôngora.
39Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Conceptismo: Corresponde ao jogo de ideias e de conceitos, pautado no raciocínio
lógico, visando ao convencimento à argumentação. O conceptismo também é chamado de
Quevedismo, por ter sido muito influenciado pelo também espanhol, Francisco Quevedo.
O jogo não só de ideias, mas também de palavras pode ser compreendido sob dois
aspectos: um primeiro e mais visível relaciona-se ao próprio espírito de contradição do
Barroco e um segundo e mais sutil, relaciona-se à necessidade que os poetas tinham de
escapar da rígida censura da Inquisição, daí o uso exagerado das metáforas (figura de
linguagem usada para sugerir ideias de maneira sutil).
Padre Antônio Vieira é sem dúvida o grande nome do Barroco em Portugal. Por ter
passado boa parte de sua vida no Brasil, alguns estudiosos costumam dizer que ele,
juntamente com Gregório de Matos, é representante do Barroco brasileiro. Entretanto, como
mostram outros autores, não podemos esquecer que mesmo escrevendo no e sobre o Brasil, o
seu ponto de vista era sempre o do defensor dos interesses do intelectual europeu.
O Sermão da Sexagésima é uma de suas principais obras. Nela, Padre Antônio Vieira
faz uma série de reflexões a respeito da arte de pregar, constituindo-se assim uma obra
metalinguística ou seja, utilizasse do próprio sermão para ensinar como fazê-lo, sempre
condenando os exageros do cultismo. Vieira era contrário aos que se preocupavam apenas
com as palavras, esquecendo-se da Palavra de Deus, com letra maiúscula.
O Sermão da Sexagésima (fragmento)
Padre Antônio Vieira
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três
princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para
uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de
concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o
entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um
homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem
espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite,
não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos.
Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si
mesmo? Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho. O
pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a
graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a
conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do
pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte,
ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?
Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de
fé, definida no Concílio Tridentino, e no nosso Evangelho a temos. [...]
5 O NEOCLASSICISMO PORTUGUÊS (1756 – 1825)
Arcadismo vem da palavra Arcádia – região do Peloponeso na Grécia – considerada
região de morada dos deuses. Lá habitavam pastores que, além do pastoreio, se dedicavam à
poesia.
As arcádias portuguesas foram grupos de poetas que queriam redescobrir o equilíbrio e
a sabedoria da antiguidade greco-latina, também chamada de clássica. Daí, então, o nome
Neoclassicismo.
40Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Entendendo o Contexto
A luz da razão volta a brilhar forte sobre a Europa do século XVIII. O cientista olha
para o céu e se pergunta sobre a configuração das estrelas, o filósofo questiona o direito da
nobreza a uma vida privilegiada. Assim, razão e ciência iluminam a trajetória humana,
explicando fenômenos e propondo novas formas de organizar a sociedade.
O Iluminismo (O século das luzes)
Conjunto de tendências ideológicas, filosóficas e científicas desenvolvidas no século
XVIII, como consequência da recuperação de um espírito experimental, racional, que buscava
o saber enciclopédico.
O Neoclassicismo, também conhecido como Arcadismo, foi um movimento literário
formado por artistas e intelectuais que se concentraram no combate à mentalidade religiosa e
à arte barroca através do resgate do racionalismo e do equilíbrio do Classicismo do século
XVI.
Principais características
1. Equilíbrio – Os árcades propunham o retorno ao modelo clássico porque neles
encontravam o equilíbrio dos sentimentos por meio da razão. Essa razão é a força
controladora dos excessos.
No Neoclassicismo, a linguagem simples, sem muitas figuras de linguagem, combatia,
então, os exageros do Barroco.
2. Bucolismo – Inspirados pelo preceito do poeta latino Horácio, (fugere urbem) fugir da
cidade, os árcades acreditavam que somente em contato com a natureza o homem poderia
alcançar o equilíbrio, a sabedoria e a espiritualidade. Em seus poemas, os árcades
apresentavam temas ligados a cenários de vida no campo. No entanto, os poetas continuavam
na cidade e usavam a natureza como moldura para seus poemas.
3. Convencionalismo – Frases feitas, clichês, lugar comum. Combate ao rebuscamento do
Barroco. Os árcades usam expressões como: Campos verdes, árvores frondosas, ovelhas e
gado, dias ensolarados, regatos de água cristalina, aves que cantam.
Carpe diem (aproveite o dia)
Diferentemente do Barroco que via o carpe diem como referência à fugacidade da vida,
no Arcadismo o pastor chama a amada para que juntos aproveitem o dia e os momentos.
O século XVIII representou para Portugal o início de um processo de modernização
econômica, política, administrativa, educacional e cultural. A produção cultural foi ampla e
variada, incentivada pelas academias literárias árcades.
Manuel Maria du Bocage foi a principal expressão literária desse período. Com uma
vida marcada por conflitos e desilusões, sua trajetória literária começou em 1793, com seu
primeiro volume das “Rimas”.
Poesia lírica – presa aos valores do Arcadismo (pastores, cenas naturais);
Poesia satírica – voltada principalmente contra o absolutismo político e religioso;
41Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
Poesia erótica – muito censurada, marcada por uma linguagem direta, maliciosa, trazendo,
muitas vezes, cenas de atos obscenos.
Poesia ecomiástica – destinada à bajulação.
Soneto de todas as putas
Bocage
Não lamentes, ó Nize, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putissimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas te em reinado:
Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleopatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrecia, com toda a tua proa,
O teu conno não passa por honrado:
Essa da Russia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, ó Nize, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.
6 O ROMANTISMO EM PORTUGAL (1825 – 1865)
O Romantismo floresceu em todos os países ocidentais. Em Portugal, a tendência se
desenvolveu a partir de 1836, nessa época o país passava por uma profunda crise econômica,
política e social. A situação do país se agravava com a invasão napoleônica e a independência
econômica do Brasil, em 1820, iniciou-se uma revolução liberal para a modernização do país.
O advento do Romantismo em Portugal vem apenas confirmar a diluição do Arcadismo.
Portugal é reflexo dos dois acontecimentos que marcaram e mudaram a face da Europa na
segunda metade do século XVIII: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial,
responsáveis pela abolição das monarquias aristocratas e pela introdução da burguesia que
então, dominara a vida política, econômica e social da época. A luta pelo trono em Portugal se
dá com veemência, gerando conturbação e desordem interna na nação.
Com isso, Almeida Garrett acaba por exilar-se na Inglaterra, onde entra em contato com
a Obra de Lord Byron e Scott. Ao mesmo tempo, por estar presenciando o Romantismo
inglês, envolve-se com o teatro de William Shakespeare.
Em 1825, Garrett publica a narrativa Camões, inspirando-se na epopeia Os Lusíadas. A
narrativa deste autor é uma biografia sentimental de Luís de Camões.
Este poema é considerado introdutor do Romantismo em Portugal, por apresentar
características que viriam se firmar no espírito romântico: versos decassílabos brancos,
vocabulário, subjetivismo, nostalgia, melancolia, e a grande combinação dos gêneros
literários.
Características: O Romantismo foi encarado como uma nova maneira de se expressar,
enfrentar os problemas da vida e do pensamento. Esta escola repudiava os clássicos, opondo-
se às regras e modelos, procurando a total liberdade de criação, além de defender a
“impureza” dos gêneros literários. Com o domínio burguês, ocorre a profissionalização do
42Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
escritor, que recebe uma remuneração para produzir a obra, enquanto o público paga para
consumi-la.
Em 1836, as ideias românticas começaram a fluir, foram levadas da França e da
Inglaterra pelos emigrados durante a revolução. Em Portugal, podemos considerar a existência
de duas gerações românticas:
Primeira Geração: marcada por preocupações históricas e políticas; nela se destacam
Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Antônio Feliciano de Castilho.
Trecho de "Eurico, o presbítero" – Alexandre Herculano
E Hermengarda sentia ao contacto daquela mão fria e trémula apertando a sua,
no acento dessas frases, tempestuosas como o oceano, tristes como céu proceloso, que
lá, no peito do vulto que tinha ante si, havia um coração de homem vivo, onde chaga
antiga e cancerosa vertia ainda sangue.
A espécie de pesadelo em que se debatia desaparecera com a realidade. O
repentino impulso da sua alma foi lançar-se nos braços de Eurico. Fora ele o objecto
do seu quase infantil e único amor, amor condenado ao silêncio antes do primeiro
suspiro, antes do primeiro volver de olhos; era ele o cavaleiro negro, cujo nome se
tornara conhecido e glorioso por todos os ângulos da Espanha; era ele, finalmente, o
homem que duas vezes acabava de salvá-la. Reteve-a, todavia, o pudor e, talvez, aquela
misteriosa tristeza que escurecia as ideias desordenadas vindas de tropel aos lábios do
guerreiro. Procurando asserenar a violência dos afectos que a agitavam, Hermengarda
respondeu com uma voz fraca e trémula:
— Bendita a mão do Senhor, que te salvou, Eurico, leal e nobre entre os mais
nobres e leais filhos dos Godos! Graças à piedade do céu, que por meio de tantas
desventuras e perigos nos uniu nos paços que restam ao filho do duque de Cantábria!
No devanear do terror revelei-te, sem querer, o segredo do meu coração: a sua
história, ouviste-a. Perdoa à memória de meu pai, e, se de mim depende a tua
felicidade, as palavras que me saíram involuntariamente da boca te asseguram que
serás feliz. O orgulho que a ambos nos fez desgraçados não o herdou Pelágio. Que o
herdasse, mal caberia nestas brenhas, na caverna dos fugitivos. E depois, que nome há
hoje na Espanha mais ilustre que o do cavaleiro negro, o nome de Eurico?
Morreres?!... Oh, não! Salvaste Hermengarda do opróbrio: se nunca te houvera
amado, ela te diria como te diz hoje: sou tua, Eurico!
Segunda Geração: as características românticas estão definidas e amadurecidas; nela se
destacam Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Soares dos Passos e João de Deus.
Trecho de "Amor de Perdição" – Camilo Castelo Branco.
As onze horas em ponto estava Simão encostado á porta do quintal, e a distância
convencionada o arreeiro com o cavalo à rédea. A toada da música, que vinha das
salas remotas, alvoroçava-o, porque a festa em casa de Tadeu de Albuquerque o
surpreendera. No longo termo de três anos nunca ele ouvira música naquela casa. Se
ele soubesse o dia natalício de Teresa, espantara-se menos da estranha alegria
daquelas salas, sempre fechadas como em dias de mortório. Simão imaginou
desvairadamente as quimeras que voejam, ora negras, ora translúcidas, em redor da
fantasia apaixonada. Não há baliza racional para as belas, nem para as horrorosas
43Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva
ilusões, quando o amor as inventa. Simão Botelho, com o ouvido colado à fechadura,
ouvia apenas o som das flautas, e as pancadas do coração sobressaltado.
[...]
7 O REALISMO E O NATURALISMO EM PORTUGAL (1865 – 1890)
Já sabemos que a segunda metade do século XIX é marcada por uma grave crise em
Portugal. Imerso em situação de grande atraso, o país contempla uma Europa renovada no
plano político, social, econômico e cultural. Não apenas contempla, mas se vê invadido pelas
novas conquistas do velho mundo, já que uma juventude operosa e inteligente está atenta
àquilo que lhes chega - em 1864, Coimbra se ligava à rede europeia de caminho-de-ferro -
principalmente de França. O surgimento de uma evolução tecnológica e, por decorrência,
cultural tende a esvaziar os ideais românticos que prevaleceram por quase 40 anos.
É nesse ambiente que floresce a "Geração de 70", influenciada pelos modelos franceses
buscados em Balzac, Stendhal, Flaubert e Zola.
Os jovens acadêmicos portugueses absorvem as novas teorias, tais como o Determinismo de
Taine, o Socialismo "utópico" de Proudhon, o Positivismo de Auguste Comte, além do
Evolucionismo de Darwin, entre outras novidades no campo das Ciências e da Filosofia:
 O Determinismo de Taine, segundo o qual o Homem - e seu comportamento e,
portanto, a Arte - está condicionado a três fatores: a herança (determinismo biológico
ou hereditário); o meio (determinismo social ou mesológico) e o momento
(determinismo histórico);
 O Positivismo de Auguste Comte, que defendia a existência da razão e da ciência
como fundamentais para a vida humana, pregando uma atitude voltada para o
conhecimento positivo, concreto e objetivo da realidade;
 O Criticismo e o Anticlericalismo de Renan, que pregava uma revisão do papel
histórico da igreja católica, apontando-a como "mistificadora da verdadeira fé";
 O Socialismo "utópico" de Proudhon, que propunha a organização de pequenos
produtores em associações de auxílio mútuo, calcado em ideias antiburguesas e
antirreligiosas;
 O Evolucionismo de Darwin, entre outras novidades no campo das Ciências e da
Filosofia.
Características do Realismo-Naturalismo em Portugal
O Realismo-Naturalismo implica o distanciamento da subjetividade para o escritor.
Aprofunda a narração de costumes contemporâneos da primeira metade do século XIX e de
todo o século XVIII. Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrastes da vida íntima;
e buscam-se para ambas causas naturais ou culturais. O escritor se sente no dever de descobrir
a verdade de suas personagens, no sentido positivista dissecar os motivos de seu
comportamento.
Estreitando o horizonte das personagens e de seu comportamento nos limites de um
acontecimento, o romancista acaba recorrendo, com frequência, ao tipo e à situação típica. A
procura do típico leva, muitas vezes, o escritor ao caso, e, daí, ao patológico. Em termos de
construção, ocorre uma "limpeza" do processo expressivo, com a eliminação dos exageros
românticos.
Assim, do Romantismo ao Realismo, há uma passagem do idealizante ao factual, que
pode ser esquematizada nas seguintes características:
 Objetividade: exame da realidade exterior ao indivíduo, realidade sem o intermédio da
imaginação e do sentimentalismo;
 Racionalismo: a inteligência como único meio para a compreensão da realidade
objetiva;
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Gramática e Literatura

  • 1. 1Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva ___________________________________________________________________________ Rua Dona Leopoldina 907 - 60110-001 FORTALEZA - CE – Telefone: (85) 3454 1299 Fax: (85) 3454 1829 Curso de Pós-Graduação LÍNGUA PORTUGUESA COM ÊNFASE EM GRAMÁTICA E LITERATURA Prof. José Arnaldo da Silva Bom Jardim 2016
  • 2. 2Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Período Disciplina Língua Portuguesa com ênfase em Gramática e Literatura Código Ementa Prática de leitura de textos de diversos gêneros literários e noções fundamentais sobre a língua e sobre a gramática de uso. Competências e Habilidades Oportunizar situações para que o aluno possa rever e refletir sobre o conhecimento sobre a língua e sobre a norma padrão. E desenvolver competências de leitura a partir do estudo de aspectos fundamentais que constituem os diferentes gêneros literários. Objetivos Gramática:  1Identificar e reconhecer as classes gramaticais;  Compreender os conceitos gramaticais por meio dos textos;  Analisar as palavras isoladamente e no texto com a finalidade de compreender a estrutura da Língua Portuguesa;  Reconhecer os processos de elaboração e articulação do discurso oral e escrito. Literatura:  Reconhecer a relevância da Literatura de Língua Portuguesa para a construção do imaginário social e dos valores pessoais;  Elucidar questões sobre as relações Brasil e Portugal no campo da Literatura;  Conhecer os maiores autores de cada época e o contexto histórico;  Conhecer as diferenças entre conto, novela e romance; Discutir e interpretar obras literárias famosas a partir da crítica literária. Programa Unidade I – GRAMÁTICA Unidade II – LITERATURA Unidade III – LITERATURA PORTUGUESA Unidade IV – LITERATURA BRASILEIRA Procedimentos Metodológicos – Análise e interpretação de textos; – Comparação de textos de escolas literárias diferentes; – Exercícios sobre o uso da norma culta/padrão; – Atividades individuais e em grupos. Recursos – Aulas expositivas com uso de power point. – Atividades em laboratório. Avaliação Progressão continuada do desenvolvimento de atividades práticas, orais ou por escrito como: – Leitura e interpretação de textos diversos; – Pontualidade e assiduidade; – Apresentação de seminário. – Prova escrita.
  • 3. 3Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva AULA DE PORTUGUÊS 1) A linguagem 2) na ponta da língua, 3) tão fácil de falar 4) e de entender. 5) A linguagem 6) na superfície estrelada de letras, 7) sabe lá o que ela quer dizer? 8) Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, 9) e vai desmatando 10) o amazonas de minha ignorância. 11) Figuras de gramática, esquipáticas, 12) atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. 13) Já esqueci a língua em que comia, 14) em que pedia para ir lá fora, 15) em que levava e dava pontapé, 16) a língua, breve língua entrecortada 17) do namoro com a prima. 18) O português são dois; o outro, mistério. Carlos Drummond de Andrade
  • 4. 4Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva “Quem não lê tem pouca vantagem sobre quem não sabe ler.” Mark Twain, escritor e humorista norte-americano. “Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.” Monteiro Lobato
  • 5. 5Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva SUMÁRIO UNIDADE I – NOÇÕES SOBRE GRAMÁTICA ............................................................ 07 1 GRAMÁTICA DE USO .......................................................................................................... 07 2 ACENTUAÇÃO GRÁFICA..................................................................................................... 07 3 A CRASE ................................................................................................................................. 09 4 O USO DA VÍRGULA ............................................................................................................ 12 5 O USO DO PONTO-E-VÍRGULA .......................................................................................... 14 6 O USO DOS PRONOMES ...................................................................................................... 14 UNIDADE II – LITERATURA ....................................................................................... 17 1 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .................................................................................... 17 2 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ................................................................................................ 18 3 DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO ............................................................................................ 19 4 FIGURAS DE LINGUAGEM ................................................................................................. 19 5 O QUE É LITERATURA ........................................................................................................ 23 7 ESTILOS DE ÉPOCA: ADEQUAÇÃO E SUPERAÇÃO ...................................................... 23 6 A NATUREZA DA LINGUAGEM LITERÁRIA ................................................................... 26 8 AS GRANDES ESCOLAS LITERÁRIAS .............................................................................. 27 UNIDADE III – LITERATURA PORTUGUESA ............................................................. 29 1 O TROVADORISMO (1189 – 1418) ...................................................................................... 29 2 O HUMANISMO (1434 – 1527) ............................................................................................. 32 3 O RENASCIMENTO (1527-1580) .......................................................................................... 36 4 BARROCO EM PORTUGAL (1580 – 1756) .......................................................................... 37 5 O NEOCLASSICISMO PORTUGUÊS (1756 – 1825) ........................................................... 39 6 O ROMANTISMO EM PORTUGAL (1825 – 1865) .............................................................. 41 7 O REALISMO E O NATURALISMO EM PORTUGAL (1865 – 1890) ............................... 43 8 PARNASIANISMO EM PORTUGAL (1882-1893) ............................................................... 45 9 O SIMBOLISMO EM PORTUGAL (1890 – 1915) ................................................................ 47 10 O MODERNISMO EM PORTUGA (1915 AOS DIAS ATUAIS) ....................................... 47 UNIDADE IV – LITERATURA BRASILEIRA ................................................................ 52 1 O QUINHENTISMO BRASILEIRO (1500 – 1601) ............................................................... 52 2 O BARROCO BRASILEIRO (1601 – 1768) ........................................................................... 53
  • 6. 6Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva 3 O NEOCLASSICISMO BRASILEIRO (1678 – 1836) ........................................................... 54 4 O ROMANTISMO NO BRASIL (1836–1881) ....................................................................... 56 5 O REALISMO E O NATURALISMO NO BRASIL (1881/1902) ......................................... 61 6 O PARNASIANISMO NO BRASIL (1882 – 1893) ................................................................ 64 7 O SIMBOLISMO NO BRASIL 1893 – 1902) ......................................................................... 65 8 O PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL (1892 – 1922) ............................................................ 66 9 O MODERNISMO NO BRASIL 1922 – 1980) ...................................................................... 71 10 TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS NA LITERATURA BRASILEIRA ...................... 74 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 77
  • 7. 7Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Unidade I – NOÇÕES SOBRE GRAMÁTICA 1 GRAMÁTICA DE USO Durante o processo de produção de textos, surgem sempre dúvidas gramaticais; nesta unidade trataremos dos casos em que alguns exercícios podem ajudar a solucionar certos problemas; no entanto há outros casos que gramáticas e livros do tipo tira-dúvidas resolvem tranquilamente; a consulta a esses materiais torna-se obrigatória por parte de quem se propõe a escrever na escola, no trabalho ou mesmo por motivos particulares. Vale lembrar que a eliminação de alguns erros será efetuada a partir do treinamento linguístico e a prática constante da escrita. Cabe ao produtor o trabalho constante da revisão e escrituração dos textos para que a assimilação das técnicas redacionais e normas gramaticais sejam efetivadas. 2 ACENTUAÇÃO GRÁFICA O português, assim como outras línguas neolatinas, utiliza o acento gráfico. Embora toda palavra da língua portuguesa, de duas ou mais sílabas, possua uma sílaba tônica, nem sempre recebe tal acento. Observe as palavras arte, gentil, táxi e mocotó. Você constatou que a tonicidade recai sobre a sílaba inicial em arte e táxi e sobre a final em gentil e mocotó. Portanto, é importante frisar, todas as palavras com duas ou mais sílabas terão acento tônico, mas nem sempre terão acento gráfico. A tonicidade está para a oralidade (fala) assim como o acento gráfico está para a escrita (grafia). Oxítonas 1. São acentuadas as palavras oxítonas que terminam em -a, -e ou -o abertos, e com acento circunflexo as que terminam em -e e -o fechados, seguidos ou não de s: a : já, cajá, vatapá as : ás, ananás, mafuás e : fé, café, jacaré es : pés, pajés, pontapés o : pó, cipó, mocotó os : nós, sós, retrós e : crê, dendê, vê es : freguês, inglês, lês o : avô, bordô, metrô os : bisavôs, borderôs, propôs * Incluem-se nesta regra os infinitivos seguidos dos pronomes oblíquos -lo(s) ou -la(s): dá-lo, matá-los, vendê-la, fê-las, compô-lo, pô-los etc. 2. Não se acentuam as oxítonas terminadas em i e u, e em consoantes, além daquelas seguidas dos pronomes oblíquos -lo(s), -la(s): ali, caqui, rubi, bambu, rebu, urubu, sutil, clamor, fi-lo, puni-la, reduzi-los, feri-las etc. 3. Acentuam-se as oxítonas com mais de uma sílaba terminadas em -em e ens: alguém, armazém, também, conténs, parabéns, vinténs. 4. Acentuam-se as palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, -éu ou -ói, podendo estes dois últimos serem seguidos ou não de -s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói (de corroer), herói(s), remói (de remoer), sóis.
  • 8. 8Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva 5. Acentua-se as vogais tônicas -i e -u precedidas de ditongo, nas palavras oxítonas, em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús. Paroxítonas 1. Assinalam-se com acento agudo ou circunflexo as paroxítonas terminadas em: i: dândi, júri, táxi is: lápis, tênis, Clóvis ã/ãs: ímã, órfã, ímãs ão/ãos: bênção, órfão, órgãos us: bônus, ônus, vírus l: amável, fácil, cônsul, imóvel um/uns: álbum, médium, álbuns n: albúmen, plâncton, hífen, Nílton ps: bíceps, fórceps, tríceps r: César, mártir, revólver x: fênix, látex, tórax 2. Não se acentuam graficamente os ditongos representados por -ei ou -oi da sílaba tônica das palavras paroxítonas: assembleia, boleia, ideia, coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (verbo), apoio (subst.), boina, comboio (subst.), tal como comboio, heroico, jiboia, paranoico etc. 3. Não se acentuam as formas do plural dos verbos crê, dê, lê, vê: creem, deem, leem, veem - e de seus compostos - descreem, desdeem, releem, reveem etc. 4. Não mais se utiliza o acento agudo nas paroxítonas, com -i e -u tônicos precedidos de ditongo: baiuca, feiura, bocaiuva etc. 5. Não se acentuam, com acento circunflexo, o primeiro o do hiato oo, seguido ou não de -s: abençoo, enjoo, coroo, perdoo, voo(de voar) etc. 6. Não mais se utiliza o acento diferencial para distinguir uma palavra de outra que tem a mesma grafia: para, flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), subst. e flexão de pelar, e pela(s), per+la(s); polo(s) (ó), subst, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc. Atenção! Permanece o acento diferencial em pôde/pode: pôde (pretérito perfeito do indicativo), pode é a forma do presente do indicativo; Permanece o acento diferencial em pôr/por: pôr é verbo. por é preposição. Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados: Ele tem duas motos. / Eles têm duas motos; Ele vem de Guaxupé. / Eles vêm de Guaxupé.; Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.
  • 9. 9Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Notas a) O substantivo éden faz o plural edens, sem o acento gráfico. b) Os prefixos anti-, inter-, semi- e super-, embora paroxítonos, não são acentuados graficamente: antirrábico, antisséptico, inter-humano, inter-racial, semiárido, semisselvagem, super-homem, super-requintado. c) Não se acentuam graficamente as paroxítonas apenas porque apresentam vogais tônicas abertas ou fechadas: espelho, famosa, medo, ontem, socorro, pires, tela etc. Proparoxítonas Todas as proparoxítonas são acentuadas graficamente: abóbora, bússola, cântaro, dúvida, líquido, mérito, nórdico, política, relâmpago, têmpora etc. Observações: 1. Não se acentua, com acento agudo, o -u tônico precedido de g ou q e seguido de e ou i, com ou sem s: argui, arguis, averigue, averigues, oblique, obliques etc. 2. Acentuam-se sempre o i e o u tônicos dos hiatos, quando formam sílabas sozinhas ou são seguidos de s: aí, balaústre, baú, egoísta, faísca, heroína, saída, saúde, viúvo, etc. 3. Acentuam-se graficamente as palavras terminadas em ditongo oral átono, seguido ou não de s: área, ágeis, importância, jóquei, lírios, mágoa, extemporâneo, régua, tênue, túneis etc. 4. Emprega-se o til para indicar a nasalização de vogais: afã, coração, devoções, maçã, relação etc. 3 A CRASE Usa-se o acento indicativo de crase quando houver a contração da preposição a e do artigo feminino a ou com os pronomes demonstrativos aquela e suas variações. Eu vou a + a feira = Eu vou à feira. Note como houve o encontro da preposição a e do artigo a. Caso trocássemos feira por mercado, veríamos que ocorreria o encontro da preposição a com o artigo o. Eu vou a + o mercado = Eu vou ao mercado. Regra prática a) Trocar a palavra feminina por uma masculina semelhante. Se ocorrer com a palavra masculina o encontro ao, com a feminina ocorrerá a fusão à. O professor se referiu ao aluno = O professor se referiu à aluna. b) Trocar a preposição a pela preposição para. A secretária foi para a reunião = A secretária foi à reunião.
  • 10. 10Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Regras específicas Nem sempre será possível, aplicar as regras práticas. Haverá casos que solicitarão o uso de algumas regras específicas. 1. Horas: ocorrerá a crase. Irei ao clube hoje às 14 horas. A reunião será das 15 às 20 horas. 2. Dias da semana: ocorrerá crase somente no plural. Das segundas às sextas-feiras, haverá reuniões. 3. Nome de lugares: A ocorrência da crase será constatada com o auxílio do verbo vir ou voltar. Irei à Argentina = Venho da Argentina. Vou à Roma Antiga = Voltei da Roma Antiga. Irei a Marília = Venho de Marília. Vou a Roma = Voltei de Roma. Ao usar o verbo vir ou voltar, deve-se observar a incidência do artigo na preposição de: da = à de = a 4. À moda ou à maneira: ocorrerá crase com estas expressões mesmo que subentendidas: Comi um bife à moda milanesa ou Comi um bife à milanesa. Escrevo à maneira de Nelson Rodrigues, ou Escrevo à Nelson Rodrigues. Observação: A palavra desde elimina a ocorrência da crase: Estou esperando você desde as 2 horas. Veja que se usarmos meio-dia, não haverá o encontro a + o: Estou esperando você desde o meio-dia. Observação: a) No singular não ocorrerá a crase: Haverá reunião de segunda a sexta- feira. b) Não ocorrerá crase antes dos meses do ano: De janeiro a março, teremos dias quentes.
  • 11. 11Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva 5. Distância: ocorrerá crase quando é determinada a distância: Vi sua chegada a distância. Vi sua chegada à distância de dez metros. 6. Casa: ocorrerá crase quando não existir o sentido de lar ou quando estiver modificada. Volte a casa. (sentido de lar) Vou à casa de meus irmãos. (modificada = de meus irmãos) 7. Terra: ocorrerá crase quando não estiver no sentido de solo: Cheguei a terra. (solo) O lavrador trabalha a terra. (solo) Cheguei à terra natal. Os astronautas regressaram à Terra tranquilos. 8. Pronomes: ocorrerá crase somente nestes casos: a) pronomes relativos a qual e as quais: Esta é a garota à qual me referi. b) pronomes demonstrativos aquela, aquela, aquilo: Referi-me àquele livro. Note que se usássemos outro pronome apareceria a preposição a: Referi-me a este livro = Referi- me a + aquele livro. Observação: Esta regra ocorrerá com qualquer palavra subentendida: Fui à Marechal Deodoro. = Fui à rua Marechal Deodoro. Esta caneta é igual à que comprei. = Esta caneta é igual à caneta que comprei. Observação: Com os pronomes demonstrativos a e as, só ocorrerá crase com verbos que exigirem a preposição a: Assisti a todas aulas do dia, menos às de física. Note que o verbo assistir neste caso pede a preposição a: Assisti a todas e assisti a + as de física.
  • 12. 12Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva b) Pronomes possessivos femininos (minha, tua, sua, nossa...): a ocorrência de crase é facultativa: Assisti a tua peça musical, ou Assisti à tua peça musical. 9. Locuções Adverbiais, Prepositivas e Conjuntivas Femininas. Normalmente respondem às perguntas onde? como? por quê? Veja: Comerei à luz de vela. – Comerei como? à luz de vela. Caso não usasse o acento indicativo de crase a frase teria outro sentido. Comerei a luz de vela – Significa que a luz de vela será comida, o que é incoerente. Adiou à noite. – Adiou quando? à noite. Adiou a noite. – Significa que a noite foi adiada. Observe algumas locuções: à risca, às cegas, à direita, à força, à revelia, à escuta, à procura de, à espera de, às claras, às vezes, às pressas, à paisana, à tarde, à noite, à toa, à medida que, à proporção que, etc. 4 O USO DA VÍRGULA Regra Geral: a ordem direta de uma oração é sujeito, verbo e complemento. Qualquer alteração nessa ordem pede o uso da vírgula para que a leitura não seja prejudicada. Eliana escreve cartas todo dia. – ordem direta. Todo dia, Eliana escreve cartas. Como pôde ser visto, o complemento “todo dia” estava antes do sujeito “Eliana”, modificando, assim, a ordem direta da oração. Regras específicas 1. Separar vários sujeitos, vários complementos ou várias orações. PROIBIÇÃO DO USO DA VÍRGULA Não se separa por vírgulas o sujeito do verbo e, também, o verbo de seus complementos: Eliana, escreve cartas todo dia. (emprego errado) Eliana escreve, cartas todo dia. (emprego errado) Eliana, todo dia, escreve carta. (emprego certo, pois houve alteração na ordem da oração) Eliana escreve, todo dia, cartas. (emprego correto, pois houve alteração na ordem direta)
  • 13. 13Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Os professores, alunos e funcionários foram homenageados pelo diretor. Gosto muito de redação, literatura, gramática e história. Fui ao clube, nadei bastante, joguei futebol e almocei. 2. Separar aposto, termo explicativo. O técnico da seleção brasileira, Zagalo, convocou vinte e dois jogadores para o amistoso. Jorge Amado, grande escritor brasileiro, é autor de inúmeros romances adaptados para televisão. O presidente da empresa, Sr. Ferret, deu uma enorme gratificação a seus funcionários. 3. Separar vocativo. A inflação, meu amigo, faz parte da cultura nacional. “Isso mesmo, caro leitor, abane a cabeça” (Machado de Assis) 4. Separar termos que se deseja enfatizar. Eliana chegou à festa, maravilhosa como uma Deusa, iluminando todo o caminho por que passava. 5. Separar expressões explicativas e termos intercalados. A vida é como boxe, ou seja, vivemos sempre batendo em alguém. O professor, conforme prometera, adiou a prova bimestral. 6. Separar orações: coordenadas (mas, porém, contudo, pois, porque, logo, portanto) Participamos do congresso, porém não fomos remunerados. Trabalhe, pois a vida não está fácil. Antônio não estudou; não conseguiu, portanto, passar o ano letivo. 7. Separar orações adjetivas: O fumo, que é prejudicial à saúde, terá sua venda proibida para menores. 8. Separar orações adverbiais, principalmente quando vieram antes da principal. Para que os alunos aprendessem mais, o professor trabalhava com música. Assim que puder, mandar-te-ei um lindo presente.
  • 14. 14Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva 9. Orações reduzidas de particípio e gerúndio. Chegando atrasado, o aluno conturbou a aula. Terminada a palestra, o médico foi ovacionado pelo público. 10. Para indicar omissão de palavras: Eu leio romances clássicos; você, policiais. (Foi omitido o verbo ler.) O uso da vírgula com o conectivo E a) Separar as orações com sujeitos diferentes. O policial prendeu o ladrão, e sua esposa ficou muito orgulhosa. b) Usa-se vírgula antes do e quando precedido de intercalações. Eliana foi promovida, devido a sua capacidade, e todos do departamento a cumprimentaram. c) Usa- se vírgula depois do e quando seguido de intercalações. Eliana foi promovida e, por ser muito querida, todos do departamento a cumprimentaram. 5 O USO DO PONTO-E-VÍRGULA Usa-se, basicamente, o ponto-e-vírgula para obter mais clareza em períodos longos, em que há muitas vírgulas. Compramos, em 15 de abril, da empresa Lether Informática, 10 mesas para computadores; da Decortex, 15 cortinas bege; em 20 de abril, da Pen, 5 caixas de canetas azuis e vermelhas. Fomos, ontem pela manhã, ao clube; faltamos, portanto, à aula. 6 O USO DOS PRONOMES 1. Pronomes demonstrativos: esse, este e aquele. a) Este: usamos para indicar objetos que estão próximos do falante e para indicar tempo presente ou futuro: Esta minha blusa está me incomodando, vou tirá-la. Este dia está insuportável, preciso fazer algo diferente. Esta noite pretendo dormir cedo. b) Esse: usamos para indicar objetos que estão com a pessoa com que se fala e com a pessoa que nos ouve ou lê, e também em tempo passado.
  • 15. 15Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Peço a essa empresa compreensão quanto à demora da entrega do pedido. Essa noite não consegui dormir bem. c) Aquele: usamos para indicar objetos que estão com a pessoa de quem se fala e também para indicar algo muito distante. Aquela blusa da sua amiga é muito bonita. Lembra quando estudávamos no primário? Aquela escola era o máximo. 2. Pronomes oblíquos: a) Pronomes: o e a usam-se com verbos transitivos diretos. Comprei o carro. / Comprei- o. Antes de verbos terminados em: R, S e Z, usa- se LO ou LA: Comprar a casa. / Comprá-la. Fez o exercício. / Fê-lo. Comemos o bolo. / Comemo-lo. Antes de sons nasais, usa-se NO ou NA: Dão presentes. / Dão-no. Levam fama. / Levam-na. b) Pronome lhe: usa-se com verbos transitivos indiretos. Fiz a ele uma proposta = Fiz-lhe uma proposta. Informei ao diretor o assunto = Informei-lhe o assunto. c) Pronomes: eu e mim. Antecedido de preposição para e sucedido de verbo no infinitivo, usa-se eu. Isto é para eu fazer. / Pediram para eu comprar o livro. Antecedido por preposição, usa-se mim. Observação: Este e aquele: Usamos aquele na indicação de elementos que foram mencionados em primeiro lugar e este para os que foram por último. João e Jonas são amigos, porém este é extrovertido; aquele, muito tímido.
  • 16. 16Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Entre mim e ti está tudo acabado. Isto é para mim? Observe: sem mim, de mim, por mim d) Consigo e contigo: Consigo = ele mesmo João trouxe consigo o livro de redação. Contigo = com você João, preciso falar contigo ainda hoje. e) Conosco e com nós: Quando acompanhado de um agente modificador (mesmos, todos, próprios ou numerais) usa-se com nós. Eliana virá conosco. Eliana virá com nós mesmos. 3. Colocação pronominal: Próclise, colocação antes do verbo. a) Com palavras negativas: Nunca me diga isso. Não te quero mais. b) Nas frases exclamativas, interrogativas e optativas: Como se fala aqui! Quem te disse? Deus lhe pague, moço. c) Com pronomes interrogativos, indefinidos e demonstrativos: Esta é a bela moça de quem lhe falei. Alguém me ajude, por favor. Aquilo a irritava profundamente.
  • 17. 17Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva d) Com advérbios. Aqui se trabalha muito. Sempre me convidam para padrinho. e) Com infinitivo, regido de preposição. Ela veio (para) nos ajudar. O professor chegou para me passar a matéria da prova. f) Com gerúndio, regido de preposição em. Em se tratando de redação, Pedro é o melhor. Em me ajudando, reparará o seu estúpido erro. Mesóclise, colocação do pronome no meio do verbo. a) Usa-se apenas com verbos no futuro do presente e no futuro do pretérito do indicativo, desde de que não ocorram casos que pedem próclise. Dir-te-ei toda a verdade. (Te direi a verdade – errado) Ajudá-lo-ei sempre que possível. (Ajudarei-o sempre – errado) A festa realizar-se-á em 23/12. (A festa se realizará – errado) Ênclise, colocação do pronome depois do verbo. a) Usa-se em orações que se iniciam com verbos, desde que não peçam mesóclise. Revelaram-me a verdade sobre você. b) Usa-se ênclise sempre que não ocorrer incidência de próclise ou mesóclise. Ela disse-me palavras bonitas. Quero beijar-te agora. Unidade II – LITERATURA 1 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 1. Emissor ou remetente: é aquele que codifica e envia a mensagem. Ocupa um dos polos do circuito da comunicação. 2. Receptor ou destinatário: é aquele que recebe e decodifica a mensagem. 3. Mensagem: é o conteúdo que se pretende transmitir.
  • 18. 18Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva 4. Canal: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida do emissor para o receptor. 5. Código: é um sistema de signos convencionais que permite dar à informação emitida (pelo emissor) uma interpretação adequada (pelo receptor). 6. Contexto ou referente: ambientação, situação em que se dá o processo de comunicação. 2 FUNÇÕES DA LINGUAGEM Em todo ato de comunicação existe uma intenção por parte do emissor da mensagem. Dependendo do objetivo que o emissor deseja atingir com sua mensagem, nela vai predominar uma determinada função da linguagem. A função, portanto, está intimamente relacionada ao objetivo do emissor da mensagem, seja ela verbal ou não verbal. As funções de linguagem são as seguintes: Função Referencial: Ocorre toda vez que a mensagem faz referência a acontecimentos, fatos, pessoas, animais ou coisas, com o objetivo de transmitir informações. Ex.: O tempo amanhã será nublado, com melhoria no fim do período. Ela abriu a porta, entrou, sentou-se na poltrona e sorriu. Função emotiva: Está centrada no emissor, na 1º pessoa (eu). Expressa os sentimentos de quem fala em relação àquilo de que está falando. Ex.: Estou muito feliz. Este jantar está excelente! Função apelativa: Está centrada na 2º pessoa (tu). Conhecida também como função conativa, é dirigida ao receptor com o objetivo de influenciá-lo a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Exprime-se através do vocativo e do imperativo. É sempre uma ordem ou um pedido que se faz. Ex.: Não deixe de ver aquele filme amanhã. Cale a boca agora mesmo. Função fática: Ocorre quando o emissor deseja verificar o canal de comunicação está funcionando, ou se ele, emissor, está sendo compreendido. Ex.: Entenderam? Hein? Ok? Função metalinguística: Esclarece o próprio código, ensina alguém, esclarece algo. Ex: estética: 1. Parte da filosofia que trata das leis e dos princípios do belo. 2. Caráter estético; beleza. 3. (fig.) Plás-tica, beleza física. (Minidicionário Luft) Função poética: É a criatividade da mensagem. Percebe-se um cuidado especial na organização da mensagem através de rimas e ritmos Ex.: Mar Azul mar azul mar azul mar azul marco azul mar azul marco azul barco azul mar azul marco azul barco azul arco azul mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul Ferreira Gullar
  • 19. 19Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva 3 DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Dependendo do contexto em que se encontra, uma palavra pode ter uma significação objetiva, comum a todos. É o valor denotativo da palavra: Ex: Raiz s.f. (Bot.) Órgão da planta geralmente fixo no solo donde retira água e substância minerais. A mesma palavra, em outro contexto, pode sugerir outras interpretações. É o valor conotativo da palavra: Ex: Raiz s.f. (fig.) Princípio, origem. Denotação – Linguagem informativa, comum a todos; objetiva um conhecimento prático, científico; a palavra empregada no seu sentido real. Exemplo: Minha geladeira quebrou. Conotação – Linguagem afetiva, individual, subjetiva; objetiva uma apreciação estética (bela e criativa); a palavra é empregada no seu sentido figurado, poético. Exemplo: Minha namorada é uma geladeira. 4 FIGURAS DE LINGUAGEM São os registros da linguagem afetiva relacionadas gramaticalmente. Diz-se que linguagem é afetiva, quando as palavras são usadas com sentido figurado. As principais figuras de linguagem costumam ser classificadas em figuras de som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras. Figuras de palavras Antonomásia – Consiste na substituição de um nome por outro que com ele seja afim semanticamente ou por uma ação notória. Exemplos: “O poeta dos escravos” (Castro Alves) / “O rei do cangaço” (Lampião) / “O rei do pop” (Michael Jackson) / “O rei do futebol” (Pelé) / Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro) etc. Catacrese – Costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro "emprestado“, empregando algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos: “Embarcar num trem.” / Segunda-feira haverá sabatina. / Enterrar uma agulha no dedo. / cavalgar um burro; / braço da cadeira, / pé da mesa, / cabeça de cebola, / dente de alho, / asa do bule ,/ aterrissar no mar, / barriga da perna, etc. Metáfora – É uma comparação implícita, pois o elemento comparativo fica subentendido. Exemplo: “As mãos que dizem adeus são pássaros”. Metonímia - A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido. Exemplos: a) parte pelo todo O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. b) o lugar pela coisa Fumei um saboroso havana. (= Fumei um saboroso charuto.)
  • 20. 20Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva c) O instrumento pela pessoa que o utiliza  A melhor tesoura da região.  O gatilho mais rápido do oeste. d) O autor pela obra Eu leio Clarice Lispector. e) A marca pelo produto Ela bebeu Coca-cola, comprou Bombril e deu ao filho mingau de Maizena. f) O continente pelo conteúdo João comeu dois pratos de feijoada e bebeu dois copos de suco. Prosopopeia ou personificação – Consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados. Exemplos:  “O jardim olhava as crianças sem dizer nada.”  “As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres.” Comparação ou símile – É a figura de linguagem que consiste na aproximação entre dois seres em função de uma semelhança entre eles, ou seja, é possível atribuir características de um elemento ao outro, sempre usando os termos comparativos explícitos citados acima. Exs.: “De tão branca, a moça parecia um fantasma”. “Ele dirigia como um louco”. “Trabalhava tal qual um profissional”. “Ele era tão bom quanto um santo”. “Seus olhos brilhavam que nem esmeraldas”. Sinestesia – Trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. Exs.: “A luz crua da madrugada invadia meu quarto”. “O sol de outono caía com uma luz pálida e macia”. “Dirigiu-lhe uma palavra branca e fria como agradecimento”. Figuras de construção Aliteração – Consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais. Exemplos: “Esperando, parada, pregada na pedra do porto.” “O rato roeu a roupa do rei de Roma”. “Quem com ferro fere com ferro será ferido”. Anacoluto – Consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra. Palavra ou palavras jogadas no início de um período sem desempenhar função sintática. Exemplos: “A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa”. “Poesia. Ora, ninguém gosta de choradeiras poéticas.” “Eu, toda vez que chego, você me chama pra conversar”. Anáfora – Consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases. Exemplos: “Noite – montanha. Noite vazia. Noite indecisa. Confusa noite. Noite à procura, mesmo sem alvo.” (Carlos Drummond de Andrade)
  • 21. 21Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva “Oô... Foge, bicho Foge, povo Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho Da ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar!” (M. Bandeira) Assíndeto – é a omissão das conjunções ou conectivos aditivas. Exemplos:  “... há de morrer como viveu: sozinho! Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!” (Olavo Bilac)  “É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias” (Vinícius de Moraes) Elipse – Consiste na omissão de um termo que é facilmente identificado. Exemplos: “Na estante, livros e mais livros”. (há) “Chegamos tarde ontem”. (Nós) “Não fosse sua carona, eu ainda estaria no meio do caminho”. (Se) Hipérbato – Se refere a uma inversão brusca da ordem dos termos de uma oração. Exemplos.:  Brincavam antigamente na rua as crianças.  Dança, à noite, o casal de apaixonados no clube.  Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante. Pleonasmo – consiste na repetição de um termo da oração ou do significado de uma expressão, isto é, alguma informação que é repetida desnecessariamente. Podem ser literários e vicioso.  Literários Exs.:  Chovia uma triste chuva de resignação. (Manuel Bandeira)  Me sorrir um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. (Chico Buarque)  Viciosos Exs.:“Todos subiram em cima do palco”. / “Menino, entre já para dentro”. / “Vi com meus próprios olhos”. Polissíndeto – É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos (geralmente a conjunção e). Exemplos:  "Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba, e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac) "Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da natureza.
  • 22. 22Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Silepse – É uma figura de linguagem que faz concordância não através de regras gramaticais, mas sim pela ideia associada em nossa mente. Conhecida também como concordância ideológica. Pode ser de gênero, de número ou de pessoa. Exemplos: de gênero:  “Bom Jardim é encantadora!” (a concordância é feita com a palavra cidade, feminina, que está subentendida)  “Alguém andava bem saudosa.” (concorda com a ideia de feminino.) de número:  O pessoal pôs-se a gritar e choravam.  O casal de pássaros nada fez, apenas voaram, foram embora. de pessoa:  “Aliás todos os sertanejos somos assim.”  “Os amigos nos revezávamos à sua cabeceira.” Figuras de pensamento Antítese – É a oposição entre dois pensamentos, duas ou mais ideias. “É a oposição de duas verdades, uma dando vida à outra.” La Bruyère).Figura fundamental, básica do pensamento e do sentir: nascimento x morte; ódio x amor; dia x noite; alegria x dor etc. Exemplo:  E Carlos, jovem de idade e velho de espírito, aproximou-se.  O que sempre foi simples tornou-se complexo.  "O mito é o nada que é tudo." (Fernando Pessoa) Apóstrofe – Consiste no chamamento a uma pessoa ou coisa que pode ser real ou imaginária, pode estar presente ou ausente; usada para dar ênfase. Exemplo:  Ó mar salgado, / quanto do teu sal / são lágrimas de Portugal! (Fernando Pessoa)  Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus! (Castro Alves) Eufemismo – Busca suavizar uma expressão através do uso de termos mais agradáveis. Exemplos:  Ele é desprovido de beleza. (= feio)  O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)  Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)  Osvaldo partiu dessa pra melhor. (= morreu) Hipérbole – Consiste em engrandecer ou diminuir exageradamente a verdade. Exemplo:  Eu já disse um milhão de vezes que não fui eu quem fez isso!  Hoje está um frio de rachar!  Aquela mãe derramou rios de lágrimas quando seu filho foi preso.  Não convide o João para sua festa, porque ele come até explodir! Ironia – Figura pela qual se diz o contrário do que se quer dizer. Exemplo: Que pessoa educada! Entrou sem cumprimentar ninguém. Paradoxo – Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias.
  • 23. 23Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Exemplos.:  É só um pobre rapaz rico que não sabe nada da vida.  Quanto mais vivemos, mais nos aproximamos da morte.  Essa menina parece que dorme acordada.  “Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer”. (Camões) 5 O QUE É LITERATURA? A palavra serve para comunicar e interagir. E também para criar literatura, isto é, criar arte, provocar emoções, produzir efeitos estéticos. Estudar literatura implica apropriar-se de alguns dos conceitos básicos dessa arte, mas também deixar o espírito leve e solto, pronto para saltos, voos e decolagens. A literatura é uma das formas de expressão artística do ser humano, juntamente com a música, a pintura, a dança, a escultura, o teatro, etc. Assim como o material da escultura são as formas e os volumes e o da pintura são as formas e as cores, o material básico da literatura é a palavra. Literatura é a arte da palavra. Como parte integrante da cultura, a literatura já passou por diferentes formas de expressão, de acordo com o momento histórico e com a situação da produção. Na Grécia antiga e na Idade Média, por exemplo, sua transmissão ocorria basicamente de forma oral, já que pouquíssimas pessoas eram alfabetizadas. Nos dias de hoje, em que predomina a cultura escrita, os textos literários são escritos para serem lidos silenciosamente pelos leitores. Contudo, juntamente com o registro escrito da literatura, publicada em livros e revistas, há outros suportes que levam o texto literário até o público, como o CD, o audiolivro, a Internet e inúmeras adaptações feitas para cinema e TV. O que é literatura? Não existe uma definição única e unânime para literatura. Há quem prefira dizer o que ela não é. De qualquer modo, para efeito de reflexão, é possível destacar alguns aspectos que envolvem o texto literário do ponto de vista da linguagem e do seu papel social e cultural. 6 A NATUREZA DA LINGUAGEM LITERÁRIA Você já deve ter tido contato com muitos tipos de texto literário: contos, poemas, romances, peças de teatro, novelas, crônicas, etc. E também com textos não literários, como notícias, cartas comerciais, receitas culinárias, manuais de instrução. Mas, afinal, o que é um texto literário? O que distingue um texto literário de um texto não literário? A seguir, você vai ler dois textos: o primeiro é parte de uma notícia de jornal; o segundo é uma crônica do escritor Moacyr Scliar, criada a partir dessa notícia: LEITURA: TEXTO I Duas mulheres e três crianças que moram debaixo de um viaduto na zona sudoeste de SP vão conhecer o Iguatemi. (Folha de S. Paulo, 25/12/2008. Cotidiano)
  • 24. 24Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva TEXTO II ROTEIRO TURÍSTICO Apresentamos a seguir o roteiro de nossa excursão “Viagem a um mundo encantado”, um excitante mergulho no maravilhoso universo do consumo. 9h – Início da excursão. Saída dos participantes do viaduto em que residem. O embarque será feito em ônibus comum, de linha. Não usaremos helicóptero e nem mesmo ônibus espacial. Não se trata de economia; queremos evidenciar o contraste entre um velho e barulhento veículo e a moderna e elegante construção que é objeto de nossa visita. 10h – chegada ao shopping. Depois do deslumbramento inicial, o grupo adentrará o recinto, o que deverá ser feito de forma organizada, sem tumulto, de maneira a não chamar a atenção. Isto poderia resultar em incidentes desagradáveis. 10-12h – Visita às lojas. Este é o ponto alto de nosso tour, e para ele chamamos a atenção de todos os participantes. Poderão observar os últimos lançamentos da moda primavera-verão, os computadores mais avançados, os eletrodomésticos mais modernos. Numa das vitrines será visualizado um relógio de pulso Bulgari custando aproximadamente US$ 10 mil. Os nossos guias, sempre bem-informados, farão uma análise desta quantia. Mostrarão que ela equivale a cem salários mínimos e que, portanto seriam necessários quase dez anos para adquirir tal relógio. Tais condições oportunizarão uma reflexão sobre a dimensão filosófica do tempo, muito necessária, a nosso ver – já que é objetivo da agência não apenas o turismo banal, mas sim um alargamento do horizonte cultural de nossos clientes. 12-14h – Normalmente, este horário será reservado ao almoço. Considerando, contudo, que o tempo é breve e custa caro (ver acima), propomos aos participantes um passeio pela área de alimentação, onde teremos uma visão abrangente do mundo fast-food. Lembramos que é proibido consumir os restos porventura deixados sobre a mesa ou mesmo caídos no chão. 14-16h – Continuação de nossa visita. Serão mostrados agora os locais de diversão. Os participantes poderão ver todos – repetimos todos – os cartazes dos filmes em exibição. 16h – Embarque em ônibus de linha com destino ao ponto de partida, isto é, o viaduto. 17h – Nenhum acidente acontecendo, chegada ao viaduto e fim de nossos serviços. (O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001, p. 41-2.) A literatura e suas funções Você viu, pelos estudos anteriores, que a literatura é uma linguagem especial, carregada de sentidos e capaz de provocar emoções e reflexão no leitor. Conheça agora o que dizem os teóricos e especialistas em literatura sobre outras funções que ela desempenha no mundo em que vivemos. Literatura: comunicação, interlocução, recriação Literatura é linguagem e, como tal, cumpre, juntamente com outras artes, um papel comunicativo na sociedade, podendo tanto influenciar o público quanto ser influenciada por ele. O leitor de um texto literário ou o contemplador da obra de arte não é um ser passivo, que apenas recebe a comunicação, conforme lembra o pensador russo Mikhail Bakhtin. Mesmo situado em um tempo histórico diferente do tempo de produção da obra, ele também a recria e atualiza os seus sentidos com base em suas vivências pessoais e nas referências artísticas e culturais do seu tempo. Por outro lado, no momento em que está criando a obra, o artista já é
  • 25. 25Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva influenciado pelo perfil do público que tem em mente. Isso se reflete nos temas, nos valores e no tipo de linguagem que escolhe. Literatura: a humanização do homem Conheça agora o que teóricos e especialistas em literatura dizem sobre o papel que ela desempenha no mundo em que vivemos. LEITURA: TEXTO I Um certo tipo de função psicológica é talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura. A produção e a fruição desta se baseiam numa espécie de necessidade universal de ficção e de fantasia, que de certa forma é coextensiva ao homem, por aparecer invariavelmente em sua vida, como indivíduo e como grupo, ao lado da satisfação das necessidades mais elementares. E isto ocorre no primitivo e no civilizado, na criança e no adulto, no instruído e no analfabeto. A literatura propriamente dita é uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal, cuja formas mais humildes e espontâneas de satisfação talvez sejam coisas como a anedota, a adivinha, o trocadilho, o rifão. Em nível complexo surgem as narrativas populares, os cantos folclóricos, as lendas, os mitos. No nosso ciclo de civilização, tudo isto culminou de certo modo nas formas impressas, divulgadas pelo livro, o folheto, o jornal, a revista: poema, conto, romance, narrativa romanceada. Mais recentemente, ocorreu o boom (crescimento rápido, ação intensa) das modalidades ligadas à comunicação oral, propiciada pela técnica: fita de cinema, [...] história em quadrinhos, telenovelas. Isto, sem falar no bombardeio incessante da publicidade, que nos assalta de manhã à noite, apoiada em elementos de ficção e de poesia e em geral da linguagem literária. Portanto, por via oral ou visual, sob formas curtas e elementares, ou sob complexas formas extensas, a necessidade de ficção se manifesta a cada instante; aliás, ninguém pode passar um dia sem consumi-la, ainda que sob a forma de palpite na loteria, devaneio, construção ideal ou anedota. E assim se justifica o interesse pela função dessas formas de sistematizar a fantasia, de que a literatura é uma das modalidades mais ricas. (Antonio Candido. “A literatura e a formação do homem”) TEXTO II Hoje já chegamos a uma época em que os romancistas e os poetas são olhados como criaturas obsoletas, de priscas eras. No entanto, só eles, só a boa literatura poderá evitar o tráfico final desta mecanização: o homem criando mil milhões, virando máquina azeitada que age corretamente ao apertar do botão – estímulo adequado. A Arte, e dentro dela a Literatura, é talvez a mais poderosa arma para evitar o esclerosamento, para manter o homem vivo, sangue, carne, nervos, sensibilidade; para fazê-lo sofrer, angustiar-se, sorrir e chorar. E ele terá então a certeza de que ainda está vivo, de que continua escapando. A Literatura é o retrato vivo da alma humana; é a presença do espírito na carne. Para quem, às vezes, se desespera, ela oferece consolo, mostrando que todo ser humano é igual, e que toda dor parece ser a única; é ela que ensina aos homens os múltiplos caminhos do amor, enlaçando-os em risos e lágrimas, no seu sofrer
  • 26. 26Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva semelhante; ela que vivifica a cada instante o fato de realmente sermos irmãos do mesmo barro. A moléstia é real, os sintomas são claros, a síndrome está completa: o homem continua cada vez mais incomunicável (porque deturpou o termo Comunicação), incompreendido e/ ou incompreensível, porque se voltou para dentro e se autoanalisa continuadamente, mas não troca com os outros estas experiências individuais; está “desaprendendo” a falar, usando somente o linguajar básico, essencial, e os gestos. Não lê, não se enriquece, não se transmite. Quem não lê, não se enriquece, não se transmite. Quem não lê, não escreve. Assim, o homem do século XX, bicho de concha, criatura intransitiva, se enfurna dentro de si próprio, ilhando-se cada vez mais, minando, pelas duas doenças do nosso tempo: individualismo e solidão. (Ely Vieitez Lanes. Laboratório de literatura. São Paulo) Literatura: o encontro do individual com o social Segundo o escritor Guimarães Rosa, literatura é feitiçaria que se faz com o sangue do coração humano. Isso quer dizer que a literatura, entre outras coisas, é também a expressão das emoções e reflexões do ser humano. Leia, a seguir, um poema do escritor africano José Craveirinha: Grito negro Eu sou carvão! E tu arrancas-me brutalmente do chão e fazes-me tua mina, patrão. Eu sou carvão! E tu acendes-me, patrão, para te servir eternamente como força motriz mas eternamente não, patrão. Eu sou carvão e tenho que arder sim; queimar tudo com a força da minha combustão. Eu sou carvão; tenho que arder na exploração arder até às cinzas da maldição arder vivo como alcatrão, meu irmão, até não ser mais a tua mina, patrão. Eu sou carvão. Tenho que arder queimar tudo com o fogo da minha combustão. Sim! Eu sou o teu carvão, patrão. Eu serei o teu carvão, patrão! 7 ESTILOS DE ÉPOCA: ADEQUAÇÃO E SUPERAÇÃO O ser humano se modifica através dos tempos: muda sua forma de pensar, de sentir e de ver o mundo. Consequentemente, promove mudanças nos valores, nas ideologias, nas religiões, na moral, nos sentimentos. Por isso, é natural que as obras literárias apresentem características próprias do momento histórico em que são produzidas. Em certas épocas, por exemplo, determinados temas podem ser mais explorados do que outros; já em outras épocas,
  • 27. 27Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva os escritores podem estar mais interessados no trabalho formal com os textos do que nas ideias, e assim por diante. Ao conjunto de textos que apresentam certas características comuns em determinado momento histórico, chamamos estilo de época ou movimento literário. Ao escrever, o escritor recebe influências e sofre coerções do grupo de escritores do seu tempo, mas isso não quer dizer que ele sempre se limite aos procedimentos comuns àquele grupo. Como a literatura é um organismo vivo e dinâmico, o escritor está em constante diálogo não só com a produção do grupo local, mas também com a produção literária de outros países, com a literatura do passado e, mesmo sem saber, com a do futuro. Por isso, não é difícil os escritores surpreenderem e levarem a literatura a uma situação completamente inusitada. Assim foi com Camões em Portugal, com Cervantes na Espanha e com Machado de Assis e Guimarães Rosa no Brasil. Diálogos na tradição literária: As relações entre o escritor e o público ou as relações entre o escritor e o seu contexto não podem ser vistas de forma mecânica. Classificar um escritor como participante deste ou daquele estilo de época geralmente é uma preocupação de natureza didática ou científica. Os escritores nem sempre estão preocupados em escrever de acordo com este ou aquele estilo. Além disso, entre uma época literária e outra, é comum haver uma fase de transição, um período em que o velho e o novo se misturam. Machado de Assis, por exemplo, durante certo tempo foi um escritor com traços românticos; depois os abandonou, dando origem ao Realismo em nossa literatura. Há escritores que não se ligam à tendência literária vigente em sua época, mas produzem obras cuja originalidade chega a despertar, em autores de outras épocas, interesse pelo mesmo projeto. Esses escritores, de épocas diferentes, mas com projetos artísticos comuns, não pertencem ao mesmo movimento, mas perseguem a mesma tradição literária. Por exemplo, há escritores filiados à tradição gótica no Romantismo, no Simbolismo e na atualidade. Há ainda a situação de um autor estar muito à frente de seu tempo, o que lhe traz problemas de reconhecimento. É o caso, por exemplo, do poeta Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido por Sousândrade, que, apesar de ter vivido na época do Romantismo, foi precursor daquilo que aconteceria cinquenta anos depois na literatura, ou seja, o modernismo. Só a partir da década de 70 do século XX, o escritor teve sua importância reconhecida definitivamente. A literatura na escola A literatura, bem como outras artes e ciências, independe da escola para sobreviver. Apesar disso, dada sua importância para a língua e a cultura de um país, bem como para a formação de jovens leitores, transformou-se em disciplina escolar em várias partes do mundo. Na escola, há diferentes possibilidades de abordar e sistematizar o estudo da literatura: Poe épocas, por temas, por gêneros, por comparações, etc. No Brasil, no último século, a abordagem histórica da literatura, isto é, o estudo da produção literária dos principais escritores e suas obras no transcorrer do tempo, tem sido a mais comum. 8 AS GRANDES ESCOLAS LITERÁRIAS A história da Literatura Portuguesa e Brasileira caminham quase que lado a lado. Literatura Portuguesa: Era Medieval, Clássica e Romântica. Literatura Brasileira: Era Colonial e Nacional.
  • 28. 28Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva OS GÊNEROS LITERÁRIOS Gênero é o modo como se vincula a mensagem literária. Podem diferenciar-se pelo conteúdo e pela forma. FORMA- Poesia e Prosa CONTEÚDO – Épico (narrativo), lírico e dramático. GÊNERO ÉPICO: Conteúdo: Narração de feitos heroicos, com ênfase nos atos de bravuras. Fatos ocorridos numa determinada sequência e temporal. Forma: Longos poemas – Epopeias. Exemplo: Vasco da Gama o forte Capitão, Que tamanhas empresas se oferece De soberba e de altivo coração, A quem Fortuna sempre favorece Pera se aqui deter não vê razão, Que inabitada a terra lhe parece. Por diante passar determinava. Mas não lhe sucedeu como cuidava. (Camões) GÊNERO LÍRICO: Conteúdo: Expressão de aspectos pessoais, subjetivos, sentimentais, sempre envolvendo emoção. Eu- poético: expressa emoções. Forma: Poemas – sonetos, odes, baladas, elegias, canções. Exemplo: Maior amor nem mais estranho existe que o meu, que não sossega a coisa amada e quando a sente alegre fica triste e se vê descontente, dá risada. (Vinícius de Moraes) GÊNERO DRAMÁTICO: Conteúdo: representação de ações. Ênfase no diálogo. As ações presentes (no palco), a representação de ações nas quais se chocam forças oponentes, o conflito dos homens e seu mundo, o drama humano. O tom dramático pode estar presente em textos em prosa, quando retratam esses conflitos, a miséria ou o drama das personagens.
  • 29. 29Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Forma: Peças de teatro, novelas de TV, circo-teatro, shows, etc. Exemplo: (Pausa. Rudi está estranho) STELLA – Cala a boca, Rudi. RUDI – Stella, eu te amei muito, até demais. Mas era um sentimento primitivo, animal, sem nenhuma lógica... Agora eu mudei. STELLA – (Cada vez mais desesperada) Não! Você não mudou nada! RUDI – Você me fez mudar. STELLA – Tenta me ouvir, eu sou louca por você, sempre fui! RUDI – Os minutos, as horas, a poeira que cai. O maldito tempo... Você tem que ir embora. STELLA – Não. Claro que não... (Marcelo Paiva) Unidade III – LITERATURA PORTUGUESA Os períodos literários - mudanças históricas As mudanças pelas quais as sociedades sofrem, de alguma forma, ficam registradas entre os povos: sejam por tradições orais, escritas, por desenhos, objetos, costumes e outras formas. Portanto, graças a esses registros conhece-se a trajetória dos homens no seu processo histórico. Influenciados pelo contexto histórico, pela mudança da própria sociedade, esses registros tomam, periodicamente, feições diferentes e recebem denominações específicas tais como estilos de época, movimentos literários ou estéticas literárias. Registramos, aqui, de forma sucinta, um pouco das raízes portuguesas na história brasileira. As origens da literatura brasileira – era medieval em Portugal Para conhecer o início da literatura brasileira é preciso conhecer, pelo menos de forma sucinta, as origens da literatura portuguesa, pois enquanto colônia portuguesa, a fonte de cultura brasileira era Portugal. A independência cultural foi sendo construída ao longo do tempo. Os primeiros registros pertencem à Era Medieval. 1 O TROVADORISMO (1189 – 1418) As primeiras manifestações literárias datam do século XII. A linguagem desses textos era galego-português, pois na época havia uma integração linguística e cultural entre Portugal e Galícia (hoje, Espanha). Historicamente, essa época coincide com a expulsão dos árabes da Península Ibérica e com a formação do Estado português. As produções que marcam esse período são predominantemente poesias, embora, o registro de manifestações literárias compreendidas entre 1189 a 1418, caracterizam-se por cantigas e novelas de cavalaria. Esse período corresponde à Idade Média. Essas poesias eram cantadas e acompanhadas de instrumento e danças para entretenimento popular e nas cortes, por isso denominadas cantigas. Os trovadores, pertencentes à nobreza, eram os profissionais que criavam a letra e a música desses poemas. As cantigas dividiam-se em líricas e satíricas.
  • 30. 30Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva As líricas, com raízes na Península Ibérica e com traços da cultura árabe, compunham- se em cantigas de amigo e cantigas de amor, representando, respectivamente o eu-lírico feminino e masculino. As cantigas satíricas dividiam-se em cantigas de escárnio e maldizer. Essas produções foram coletadas e passaram a compor os cancioneiros. Os principais cancioneiros: Cancioneiro da Vaticana, Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Biblioteca Nacional. Cantigas de Amigo – características As Cantigas de Amigo têm suas origens na própria Península Ibérica, surgindo do sentimento popular. Cronologicamente, são as mais antigas. Suas principais características são: autoria masculina; sentimento feminino (voz lírica); origem: galego-português; ambiente rural (popular); a mulher sofre pelo amigo (namorado, amante) ausente; a mulher é um ser mais real e concreto e paralelismo (repetição do ultimo verso da estrofe anterior). Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo? E ai Deus, se verra cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado? E ai Deus, se verra cedo! Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro? E ai Deus, se verra cedo! Se vistes meu amado, por que ei gran coitado? E ai Deus, se verra cedo! Martim Codax Cantigas de Amor – características As Cantigas de Amor tiveram raízes na poesia provençal (Provença, sul da França) com uma linguagem própria dos ambientes das cortes francesas, onde eram cantadas. Menos musicalizadas, nessas cantigas o ‘eu-lírico’ é homem. Apresenta submissão à dama, vassalagem humilde e paciente; sempre a amada é a mais bela e há promessa de servir; idealização (elevação) à mulher. Quer'eu em maneira de proençal fazer agora un cantar d'amor, e querrei muit'i loar mia senhor a que prez nen fremusura non fal, nen bondade; e mais vos direi en: tanto a fez Deus comprida de ben que mais que todas las do mundo val. Ca mia senhor quiso Deus fazer tal, quando a faz, que a fez sabedor de todo ben e de mui gran valor, e con todo est'é mui comunal ali u deve; er deu-lhi bon sen, e des i non lhi fez pouco de ben, quando non quis que lh'outra foss'igual. Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal, mais pôs i prez e beldad'e loor e falar mui ben, e riir melhor que outra molher; des i é leal muit', e por esto non sei oj'eu quen possa compridamente no seu ben falar, ca non á, tra-lo seu ben, al. Dom Dinis
  • 31. 31Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Cantigas de escárnio e maldizer Compondo a literatura satírica, os poemas de escárnio e maldizer grande valor histórico por registrar valores culturais, históricos e linguísticos da sociedade medieval portuguesa. Essas produções expressavam um valor poético diferenciado: criticavam os costumes e tinham como alvo cavaleiros, clérigos devassos, nobres covardes na guerra, prostitutas, as soldadeiras e os próprios trovadores e jograis. Cantiga de escárnio – características Os trovadores não só expressam seu lirismo amoroso como também se preocupam em ridicularizar os costumes da época, outros trovadores e até as mulheres. Sátiras indiretas; críticas de forma indireta e velada, através de trocadilhos, da ambiguidade e xpressões irônicas (sem revelar o nome da pessoa satirizada). Ai, dona fea! Foste-vos queixar que vos nunca louv'en meu trobar; mas ora quero fazer um cantar en que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Ai, dona fea! Se Deus me pardon! pois avedes [a] tan gran coraçon que vos eu loe, en esta razon vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bon cantar farei, en que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! João Garcia de Guilhade Cantiga de Maldizer – características A Cantiga de Maldizer caracteriza-se por ser uma crítica direta e mais grosseira que a de escárnio. Suas principais características são: sátira direta com citação nominal do destinatário, ofendendo-o explicitamente; tema predileto: adultério; palavras obscenas; erotismo e maldade. Maria Pérez se maenfestou noutro dia, ca por [mui] pecador se sentiu, e log'a Nostro Senhor pormeteu, polo mal em que andou, que tevess'um clérig'a seu poder, polos pecados que lhi faz fazer o Demo, com que x'ela sempr'andou. Maenfestou-se ca diz que s'achou pecador muit', e por en rogador foi log'a Deus, ca teve por melhor de guardar a El ca o que a guardou; e mentre viva, diz que quer teer um clérigo com que se defender possa do Demo, que sempre guardou.
  • 32. 32Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva E pois que bem seus pecados catou, de sa mort'houv'ela gram pavor e d'esmolnar houv'ela gram sabor; e log'entom um clérigo filhou e deu-lh'a cama em que sol jazer, e diz que o terrá, mentre viver; e est'afã todo por Deus filhou. E pois que s'este preito começou antr'eles ambos houve grand'amor antr'ela sempr'[e] o Demo maior, atá que se Balteira confessou; mais, pois que vio o clérigo caer antr'eles ambos, houv'i a perder o Demo, des que s'ela confessou. Fernão Velho 2 O HUMANISMO (1434 – 1527) O Humanismo (do latim humanus, que significa “humano”) é o nome dado a uma corrente filosófica e artística que, na literatura representou um período de transição (escola literária) entre o Trovadorismo e o Classicismo, bem como da Idade Média para a Idade Moderna. O Humanismo Renascentista (XIV e XVI), nascido em Florença na Itália, foi um movimento intelectual de valorização do homem, donde o antropocentrismo (homem como o centro do mundo) era sua principal característica, em detrimento do teocentrismo da Idade Média. Note que o termo “Humanismo” possui uma grande dimensão na medida em que abriga diversos concepções. No geral, corresponde ao conjunto de valores filosóficos, morais e estéticos que focam no ser humano, daí surge seu nome. Em outras palavras, é uma ciência que permitiu ao homem compreender melhor o mundo e o próprio ser, fato que durante o período do Renascimento Cultural, resultou na crise do pensamento medieval. Contexto histórico Historicamente, o Humanismo corresponde a uma fase de profundas transformações sociais: o desenvolvimento do comércio, o surgimento da burguesia e das cidades, a aliança entre o rei e a burguesia (fermento das monarquias nacionais), o aparecimento da imprensa, a divulgação da cultura clássica e as Grandes Navegações. O homem como centro e medida de todas as coisas – posição já sustentada por Protágoras (séc. V, a.C.) e reforçada por Sócrates ao considerar o homem como agente do conhecimento. Movimento intelectual: volta aos valores da Antiguidade Clássica. Durante o Humanismo, surgiu uma nova classe social, a burguesia, que era composta por comerciantes oriundos do povo. Sua importância em fins do século XV foi tão grande que o próprio Cristóvão Colombo só conseguiu as caravelas para descobrir as Américas porque foi financiado pela burguesia. Manifestações literárias do humanismo em Portugal A literatura do Humanismo português produziu manifestações literárias nos diversos gêneros: em prosa, desenvolveu-se principalmente a historiografia, cuja maior expressão foi Fernão Lopes; na poesia, floresceu uma intensa atividade palaciana, documentada no Cancioneiro geral, compilado pelo poeta Garcia Resende. Foi também nessa época que o gênero dramático teve suas primeiras manifestações de vulto representadas pela obra de Gil Vicente.
  • 33. 33Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Poesia Palaciana Foi chamada palaciana por ser feita por nobres e para a nobreza, retratando usos e costumes da Corte. A principal modificação apresentada por essa poesia é a separação entre a musica e o texto, o que resultou em um maior apuro formal: apresentava ritmo e melodia próprios, obtidos a partir da métrica, da rima, das sílabas tônicas e átonas. Desenvolveram-se as redondilhas, tanto a maior (verso de sete sílabas poéticas) quanto a menor (verso de cinco sílabas poéticas). Suas principais características são Compilada no Cancioneiro Geral, por Garcia de Resende, 1516; Realizada na corte, destinava-se ao entretenimento da nobreza; Poesia frívola, afetada e circunstancial; Poesia para ler (separada da música); O trovador é substituído pelo poeta. A espontaneidade das cantigas medievais é substituída pelo uso dos versos redondilhos: 5 sílabas (redondilha menor) e 7 sílabas poéticas (redondilha maior). Composições de mote glosado: o poeta compõe o poema com base em um mote (tema), sobre o qual desenvolve a sua glosa, constituída de voltas (estrofes) que retomam o tema um ou mais versos do mote. Tema principal: o lirismo amoroso. O amor na poesia palaciana: cortês, idealizado e sofrido (coyta) como nas cantigas de amor; repleto de paradoxos e conflitos espirituais (influência da poesia de Petrarca). A métrica da poesia palaciana Uma característica marcante na poesia palaciana é a utilização de versos curtos de 5 sílabas e de 7 sílabas, chamados versos redondilhas. Redondilha menor- 5 sílabas. Ri/bei/ras/ do /mar,/ que/ tem/des/ mu/dan/ças, as/ min/has/ lem/bran/ças dei/xai/-as/ pas/sar./ Francisco de Sousa Redondilha maior-7 sílabas Se/ nho/ra,/ par/tem/ tão/ tris/tes meus/ o/lhos / por /vós,/ meu /bem,/ que /nun/ca /tão/ tris/tes /vis/tes ou/tros /ne/nhuns /por /nin/guém/ João Ruiz de Castelo Branco Principais autores: Garcia de Resende, Bernardim Ribeiro, João Ruiz de Castelo Branco, Luiz Vaz de Camões. Cantiga sua partindo-se Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém. Tão tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tão chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tão tristes, os tristes, tão fora de esperar bem que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém. João Ruiz de Castelo Branco
  • 34. 34Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Prosa do período humanista Fernão Lopes, primeiro grande prosador da Língua Portuguesa: nomeado por D. João I de Avis a Guarda-Mor da Torre do Tombo (1418 – início do Humanismo em Portugal). Encarregado de contar a história dos reis de Portugal. Autor de 3 crônicas: Crônica de El-Rei D. Pedro, Crônica de El-Rei D. Fernando e Crônica de El-Rei D. João. Características das crônicas de Fernão Lopes: imparcialidade, pesquisa, investigação, espírito crítico; visão de conjunto da sociedade portuguesa da época, ao invés de exaltar a figura individual dos monarcas; critica a corrupção e as intrigas palacianas; nacionalismo; linguagem sóbria, cuidada; apresentação vibrante dos fatos, plasticidade cinematográfica das descrições; densidade dos retratos psicológicos dos vultos do passado; escrita caudalosa. Crônica de El-Rei D. Pedro (fragmento) A Portugal foram trazidos Álvaro Gonçalves e Pero Coelho. Chegaram a Santarém onde estava el-rei D. Pedro, e este com prazer de sua vinda, embora irritado porque Diego Lopes fugira, saiu fora a recebê-los. E sa-nha cruel sem piedade lhes fez pela sua mão meter a tormento, querendo que lhe confessassem quem e que participara na morte de D. Inês, e que é que o seu pai tratava contra ele quando andavam desavindos por causa da morte dela. Nenhum deles respondeu a tais perguntas cousa que agradasse a el-rei, e dizem que ele ressentido deu um açoite no rosto a Pero Coelho. Este soltou-se então em desonestas e feias palavras contra el-rei, chaman-do-lhe traidor, perjuro, algoz e carniceiro dos homens. El-rei, dizendo que lhe trouxessem cebola e vinagre para o coelho, enfadou-se deles e mandou-os matar. A maneira da morte deles dita pelo miúdo seria muito estranha e crua de contar, porque a Pero Coelho mandou arrancar o coração pelo peito, e a Álvaro Gonçalves, pelas espáduas. E tudo o que se passou seria cousa dolorosa de ouvir. Finalmente el-rei mandou-os queimar. E tudo feito diante dos paços em que ele estava, de maneira que, enquanto comia, olhava o que mandava fazer. Muito perdeu el-rei de sua boa fama por tal troca como esta, a qual foi tida em Portugal e em Castela por muito grande mal, dizendo todos os bons que a ouviam, que os reis erraram muito, faltando à sua verdade, visto que estes cavaleiros estavam açoitados em seus reinos com garantia. (As Crônicas de Fernão Lopes, selecionadas e transpostas em português moderno. Antônio José Saraiva, Lisboa, Gradiva, 3- edição, 1993, p. 52) O teatro de Gil Vicente Gil Vicente foi um poeta e dramaturgo português. É considerado, por muitos estudiosos, como o pioneiro do teatro português. Sua obra mais conhecida é " A farsa de Inês Pereira". Suas obras marcam a fase histórica da passagem da Idade Média para o Renascimento (século XVI). O teatro na Idade Média era dividido em encenações litúrgicas (voltadas para a catequese) e profanas (realizadas na corte ou nas grandes festas populares).
  • 35. 35Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva O teatro litúrgico era chamado com o nome genérico de auto, podendo apresentar a dramatização de passagens da Bíblia (mistérios), da vida dos santos (milagres) ou a denúncia de comportamentos pecaminosos (moralidades). O teatro profano era representado, sobretudo, pela farsa, espécie de comédia repleta de personagens caricaturescas, exageradas, envolvidas e situações ridículas e desastrosas. O teatro profano era representado, sobretudo, pela farsa, espécie de comédia repleta de personagens caricaturescas, exageradas, envolvidas e situações ridículas e desastrosas. Sobre o teatro de Gil Vicente Gil Vicente serviu-se dos dois principais gêneros teatrais de seu tempo: o auto (litúrgico) e a farsa (profana, cômica).  Dois tipos de peças: – peças de ação fragmentária: sem ligação entre as cenas (Auto da barca do inferno); – peças de enredo: desenvolvem uma trama (Farsa de Inês Pereira). • Dois tipos de personagens: – Personagens-tipo: representam toda uma classe social (o Fidalgo, o Frade, o Juiz, o Cavaleiro,... do (Auto da barca do inferno); – Personagens alegóricas: personificam ideias ou instituições (Todo-o-Mundo, Ninguém, do Auto da Lusitânia). Características do teatro vicentino  Suas peças revelam o bifrontismo humanista: fortes resíduos medievais somados a antecipações renascentistas;  Uma visão teocêntrica e conservadora da sociedade aliada a uma aguçado espírito crítico, que não poupa os excessos do clero da época;  As críticas de seu teatro não se dirigem às instituições (Monarquia, Nobreza, Igreja, Clero), mas contra os indivíduos que as corrompiam;  Convivência de figuras bíblicas com divindades mitológicas greco-romanas;  Toda a sociedade portuguesa do século XV encontra-se retratada nas peças gilvicentinas: reis, bispos, mendigos, beberrões, nobres orgulhosos, judeus, ciganos, mouros, negros, soldados, comerciantes, artesãos, agiotas, camponesas ingênuas, damas da corte, esposas infiéis, etc. Gil Vicente é considerado, por muitos estudiosos, como o pioneiro do teatro português. Suas obras mais conhecidas são Auto da Lusitânia, Auto da Barca do Inferno, A farsa de Inês Pereira, entre outras. Suas obras marcam a fase histórica da passagem da Idade Média para o Renascimento.
  • 36. 36Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Auto da Lusitânia (fragmento) Cortesão Vosso pai é cá senhora? Lediça Que lhe quereis vós dizê? Cortesão Pregunto a vossa mercê. Lediça Per i saiu ele fora arrecadar nam sei quê. Quereis-lhe algũa coisa? Havei-lo mester senhor? Cortesão Tem ele muito lavor? Lediça De ventura nam repoisa nem sossega o pecador. Cortesão Vossa mãe é também fora? Lediça Mas em cima está cosendo e eu ando isto fazendo. Cortesão Nam devia tal senhora como vós d’andar varrendo senam infiar aljofre e perlas orientais nam sei como isto se sofre. Lediça Minha mãe tem no seu cofre duas voltas de corais. Cortesão Senhora sam cortesão e da linagem de Eneas e por vossa inclinação folgara de ser de Abraão sangue de minhas veas. Mas vosso e nam de ninguém é tudo o que está comigo e quero-vos grande bem. Lediça Bem vos queira Deos amém quereis oitra coisa amigo? Cortesão Temo muito que me leixe vosso amor pobre coitado de favor com que me queixe. Lediça Lançai na sisa do peixe e logo sões remediado. [...] 3 O RENASCIMENTO (1527-1580) Teve seu início no século XV e estendeu-se até meados do século XVI e é marcado pela supervalorização do homem e pelo antropocentrismo, em oposição ao teocentrismo e misticismo. Há uma retomada das ideias greco-romanas; o artista não se contenta em apenas observar a natureza, mas procura estudá-la e imitá-la; valoriza-se a individualidade do artista, em contraposição à coletividade das obras clássicas. É nesse período que a identidade nacional lusitana começou a ser definida nos séculos em meio à ambiência da expansão marítima, que implicou a formação de um imenso império ultramarino. Os autores da Antiguidade Clássica só começaram a ser reconhecidos em Portugal no fim da Idade Média e só se pode falar de um estilo renascentista a partir de 1527, ano em que o poeta Sá de Miranda regressou da Itália com a Literatura Renascença italiana. Porém, foi Luís de Camões que aprimora essas novas técnicas poéticas. Este período ficou conhecido como Classicismo e os escritores introduziram em suas obras temas pagãos, além do ideal do amor platônico, a exaltação do antropocentrismo, a imitação de autores clássicos, a predominância da ciência e da razão, o uso da mitologia, clareza e objetividade, uso de linguagem simples e precisa, o culto da beleza e da perfeição. Essa ambiência passou a suscitar uma organização narrativa dos grande feitos portugueses. Essas narrativas passaram a ser feitas por grandes poetas, como Luís de Camões, que, em seu poema épico Os Lusíadas, conta toda a história de Portugal desde as origens até meados do século XVI, como bem se explicita logo nas duas primeiras estrofes do poema: Os Lusíadas (fragmento) As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados
  • 37. 37Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando, Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. Luís Camões Luís Vaz de Camões (1524 – 1580) publicou em 1572 Os Lusíadas, poema épico organizado em: Proposição, Invocação, Dedicação, Narração e Epílogo. Além do poema épico, Camões ficou conhecido por seus poemas líricos, em que buscava o amor espiritual e expunha as contradições do coração. Sua poesia lírica toma dois sentidos: popular (redondilhas) e erudita (sonetos). Soneto Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo amor? Luís de Camões Além da obra de Camões, há outro grande poeta português da época do Renascimento, Francisco Sá de Miranda, que foi o responsável pela introdução da estrutura do soneto (dois quartetos – estrofes de quatro versos – e dois tercetos – estrofes de três versos) na língua portuguesa a partir de uma matriz renascentista italiana chamada Dolce Stil Nuovo, que teve na figura de Petrarca o seu principal representante. 4 BARROCO EM PORTUGAL (1580 – 1756) Barroco em Portugal Em Portugal, o Barroco ou também chamado Seiscentismo (por ter sido estilo que teve início no final do século XVI), tem como marco inicial a Unificação da Península Ibérica sob o domínio espanhol em 1580 e se estenderá até por volta da primeira metade do século XVIII, quando ocorre a Fundação da Arcádia Lusitana, em 1756 e tem início o Arcadismo. O Barroco corresponde a um período de grande turbulência político-econômica, social, e principalmente religiosa. A incerteza e a crise tomam conta da vida portuguesa. Fatos importantes como: o término do Ciclo das Grandes Navegações, a Reforma Protestante, liderada por Lutero (na Alemanha) e Calvino (na França) e o Movimento Católico de Contra-
  • 38. 38Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Reforma, marcam o contexto histórico do período e colaboram com a criação do “Mito do Sebastianismo”, crença segundo a qual D.Sebastião, rei de Portugal (aquele a quem Camões dedicou Os Lusíadas), não havia morrido, em 1578, na Batalha de Alcácer Quibir, mas que estava apenas “encoberto” e que voltaria para transformar Portugal no Quinto Império de que falam as Escrituras Sagradas). D. João é visto como o novo messias, o novo salvador. Mas o que vem a ser a palavra Barroco? Não há um consenso quanto à sua origem. A mais aceita diz que o termo deriva da palavra Barróquia, nome de uma região da Índia, grande produtora de uma pérola de superfície irregular e áspera com manchas escuras, conhecida pelos portugueses como barroco. Aproximando-se assim do estilo, que segundo os clássicos era um estilo “irregular”, “defeituoso”, de “mau gosto”. Lembre-se de que a tradição clássica era marcada pela busca da perfeição e do equilíbrio. Vejamos quais são as principais características barrocas: Dualismo = O Barroco é a arte do conflito, do contraste. Reflete a intensificação do bifrontismo (o homem dividido entre a herança religiosa e mística medieval e o espírito humanista, racionalista do Renascimento). É a expressão do contraste entre as grandes forças reguladoras da existência humana: fé x razão; corpo x alma; Deus x Diabo; vida x morte, etc. Esse contraste será visível em toda a produção barroca, é frequente o jogo, o contraste de imagens, de palavras e de conceitos. Mas o artista barroco não deseja apenas expor os contrários, ele quer conciliá-los, integrá-los. Daí ser frequente o uso de figuras de linguagem que buscam essa unidade, essa fusão. Fugacidade = De acordo com a concepção barroca, no mundo tudo é passageiro e instável, as pessoas, as coisas mudam, o mundo muda. O autor barroco tem a consciência do caráter efêmero da existência. Pessimismo = Essa consciência da transitoriedade da vida conduz frequentemente à ideia de morte, tida como a expressão máxima da fugacidade da vida. A incerteza da vida e o medo da morte fazem da arte barroca uma arte pessimista, marcada por um desencantamento com o próprio homem e com o mundo. Feísmo = No Barroco encontramos uma atração por cenas trágicas, por aspectos cruéis, dolorosos e grotescos. As imagens freqüentemente são deformadas pelo exagero de detalhes. Há nesse momento uma ruptura com a harmonia, com o equilíbrio e a sobriedade clássica. O barroco é a arte dos contrastes, do exagero. Tensão religiosa = Intensifica-se no Barroco, aspectos que já vinham sendo percebidos no Humanismo e no Classicismo: Antropocentrismo X Teocentrismo A igreja católica, através da Contra-Reforma, tenta recuperar o teocentrismo medieval (Deus como centro de todas as coisas) e o homem barroco não deseja perder a visão antropocêntrica renascentista (O homem como o centro de todas as coisas), assim o Barroco tenta atingir a síntese desses valores, ou seja, tenta conciliar razão e fé, corpo e alma, espiritualismo e materialismo. Poderíamos dizer que seria, em outras palavras, a racionalização da fé, a busca da salvação através da lógica. O Barroco apresenta duas faces: Cultismo E Conceptismo. Cultismo: Corresponde ao jogo de palavras e imagens visando ao rebuscamento da forma do texto, à ornamentação e à erudição vocabular. Nessa vertente barroca é comum o uso exagerado das figuras de linguagem, como metáforas, antíteses, hipérboles, hipérbatos, entre outras. O cultismo também é chamado de Gongorismo, por ter sido muito influenciado pelo poeta espanhol Luís de Gôngora.
  • 39. 39Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Conceptismo: Corresponde ao jogo de ideias e de conceitos, pautado no raciocínio lógico, visando ao convencimento à argumentação. O conceptismo também é chamado de Quevedismo, por ter sido muito influenciado pelo também espanhol, Francisco Quevedo. O jogo não só de ideias, mas também de palavras pode ser compreendido sob dois aspectos: um primeiro e mais visível relaciona-se ao próprio espírito de contradição do Barroco e um segundo e mais sutil, relaciona-se à necessidade que os poetas tinham de escapar da rígida censura da Inquisição, daí o uso exagerado das metáforas (figura de linguagem usada para sugerir ideias de maneira sutil). Padre Antônio Vieira é sem dúvida o grande nome do Barroco em Portugal. Por ter passado boa parte de sua vida no Brasil, alguns estudiosos costumam dizer que ele, juntamente com Gregório de Matos, é representante do Barroco brasileiro. Entretanto, como mostram outros autores, não podemos esquecer que mesmo escrevendo no e sobre o Brasil, o seu ponto de vista era sempre o do defensor dos interesses do intelectual europeu. O Sermão da Sexagésima é uma de suas principais obras. Nela, Padre Antônio Vieira faz uma série de reflexões a respeito da arte de pregar, constituindo-se assim uma obra metalinguística ou seja, utilizasse do próprio sermão para ensinar como fazê-lo, sempre condenando os exageros do cultismo. Vieira era contrário aos que se preocupavam apenas com as palavras, esquecendo-se da Palavra de Deus, com letra maiúscula. O Sermão da Sexagésima (fragmento) Padre Antônio Vieira Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus? Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de fé, definida no Concílio Tridentino, e no nosso Evangelho a temos. [...] 5 O NEOCLASSICISMO PORTUGUÊS (1756 – 1825) Arcadismo vem da palavra Arcádia – região do Peloponeso na Grécia – considerada região de morada dos deuses. Lá habitavam pastores que, além do pastoreio, se dedicavam à poesia. As arcádias portuguesas foram grupos de poetas que queriam redescobrir o equilíbrio e a sabedoria da antiguidade greco-latina, também chamada de clássica. Daí, então, o nome Neoclassicismo.
  • 40. 40Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Entendendo o Contexto A luz da razão volta a brilhar forte sobre a Europa do século XVIII. O cientista olha para o céu e se pergunta sobre a configuração das estrelas, o filósofo questiona o direito da nobreza a uma vida privilegiada. Assim, razão e ciência iluminam a trajetória humana, explicando fenômenos e propondo novas formas de organizar a sociedade. O Iluminismo (O século das luzes) Conjunto de tendências ideológicas, filosóficas e científicas desenvolvidas no século XVIII, como consequência da recuperação de um espírito experimental, racional, que buscava o saber enciclopédico. O Neoclassicismo, também conhecido como Arcadismo, foi um movimento literário formado por artistas e intelectuais que se concentraram no combate à mentalidade religiosa e à arte barroca através do resgate do racionalismo e do equilíbrio do Classicismo do século XVI. Principais características 1. Equilíbrio – Os árcades propunham o retorno ao modelo clássico porque neles encontravam o equilíbrio dos sentimentos por meio da razão. Essa razão é a força controladora dos excessos. No Neoclassicismo, a linguagem simples, sem muitas figuras de linguagem, combatia, então, os exageros do Barroco. 2. Bucolismo – Inspirados pelo preceito do poeta latino Horácio, (fugere urbem) fugir da cidade, os árcades acreditavam que somente em contato com a natureza o homem poderia alcançar o equilíbrio, a sabedoria e a espiritualidade. Em seus poemas, os árcades apresentavam temas ligados a cenários de vida no campo. No entanto, os poetas continuavam na cidade e usavam a natureza como moldura para seus poemas. 3. Convencionalismo – Frases feitas, clichês, lugar comum. Combate ao rebuscamento do Barroco. Os árcades usam expressões como: Campos verdes, árvores frondosas, ovelhas e gado, dias ensolarados, regatos de água cristalina, aves que cantam. Carpe diem (aproveite o dia) Diferentemente do Barroco que via o carpe diem como referência à fugacidade da vida, no Arcadismo o pastor chama a amada para que juntos aproveitem o dia e os momentos. O século XVIII representou para Portugal o início de um processo de modernização econômica, política, administrativa, educacional e cultural. A produção cultural foi ampla e variada, incentivada pelas academias literárias árcades. Manuel Maria du Bocage foi a principal expressão literária desse período. Com uma vida marcada por conflitos e desilusões, sua trajetória literária começou em 1793, com seu primeiro volume das “Rimas”. Poesia lírica – presa aos valores do Arcadismo (pastores, cenas naturais); Poesia satírica – voltada principalmente contra o absolutismo político e religioso;
  • 41. 41Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva Poesia erótica – muito censurada, marcada por uma linguagem direta, maliciosa, trazendo, muitas vezes, cenas de atos obscenos. Poesia ecomiástica – destinada à bajulação. Soneto de todas as putas Bocage Não lamentes, ó Nize, o teu estado; Puta tem sido muita gente boa; Putissimas fidalgas tem Lisboa, Milhões de vezes putas te em reinado: Dido foi puta, e puta d'um soldado; Cleopatra por puta alcança a c'roa; Tu, Lucrecia, com toda a tua proa, O teu conno não passa por honrado: Essa da Russia imperatriz famosa, Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta) Entre mil porras expirou vaidosa: Todas no mundo dão a sua greta: Não fiques, pois, ó Nize, duvidosa Que isso de virgo e honra é tudo peta. 6 O ROMANTISMO EM PORTUGAL (1825 – 1865) O Romantismo floresceu em todos os países ocidentais. Em Portugal, a tendência se desenvolveu a partir de 1836, nessa época o país passava por uma profunda crise econômica, política e social. A situação do país se agravava com a invasão napoleônica e a independência econômica do Brasil, em 1820, iniciou-se uma revolução liberal para a modernização do país. O advento do Romantismo em Portugal vem apenas confirmar a diluição do Arcadismo. Portugal é reflexo dos dois acontecimentos que marcaram e mudaram a face da Europa na segunda metade do século XVIII: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, responsáveis pela abolição das monarquias aristocratas e pela introdução da burguesia que então, dominara a vida política, econômica e social da época. A luta pelo trono em Portugal se dá com veemência, gerando conturbação e desordem interna na nação. Com isso, Almeida Garrett acaba por exilar-se na Inglaterra, onde entra em contato com a Obra de Lord Byron e Scott. Ao mesmo tempo, por estar presenciando o Romantismo inglês, envolve-se com o teatro de William Shakespeare. Em 1825, Garrett publica a narrativa Camões, inspirando-se na epopeia Os Lusíadas. A narrativa deste autor é uma biografia sentimental de Luís de Camões. Este poema é considerado introdutor do Romantismo em Portugal, por apresentar características que viriam se firmar no espírito romântico: versos decassílabos brancos, vocabulário, subjetivismo, nostalgia, melancolia, e a grande combinação dos gêneros literários. Características: O Romantismo foi encarado como uma nova maneira de se expressar, enfrentar os problemas da vida e do pensamento. Esta escola repudiava os clássicos, opondo- se às regras e modelos, procurando a total liberdade de criação, além de defender a “impureza” dos gêneros literários. Com o domínio burguês, ocorre a profissionalização do
  • 42. 42Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva escritor, que recebe uma remuneração para produzir a obra, enquanto o público paga para consumi-la. Em 1836, as ideias românticas começaram a fluir, foram levadas da França e da Inglaterra pelos emigrados durante a revolução. Em Portugal, podemos considerar a existência de duas gerações românticas: Primeira Geração: marcada por preocupações históricas e políticas; nela se destacam Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Antônio Feliciano de Castilho. Trecho de "Eurico, o presbítero" – Alexandre Herculano E Hermengarda sentia ao contacto daquela mão fria e trémula apertando a sua, no acento dessas frases, tempestuosas como o oceano, tristes como céu proceloso, que lá, no peito do vulto que tinha ante si, havia um coração de homem vivo, onde chaga antiga e cancerosa vertia ainda sangue. A espécie de pesadelo em que se debatia desaparecera com a realidade. O repentino impulso da sua alma foi lançar-se nos braços de Eurico. Fora ele o objecto do seu quase infantil e único amor, amor condenado ao silêncio antes do primeiro suspiro, antes do primeiro volver de olhos; era ele o cavaleiro negro, cujo nome se tornara conhecido e glorioso por todos os ângulos da Espanha; era ele, finalmente, o homem que duas vezes acabava de salvá-la. Reteve-a, todavia, o pudor e, talvez, aquela misteriosa tristeza que escurecia as ideias desordenadas vindas de tropel aos lábios do guerreiro. Procurando asserenar a violência dos afectos que a agitavam, Hermengarda respondeu com uma voz fraca e trémula: — Bendita a mão do Senhor, que te salvou, Eurico, leal e nobre entre os mais nobres e leais filhos dos Godos! Graças à piedade do céu, que por meio de tantas desventuras e perigos nos uniu nos paços que restam ao filho do duque de Cantábria! No devanear do terror revelei-te, sem querer, o segredo do meu coração: a sua história, ouviste-a. Perdoa à memória de meu pai, e, se de mim depende a tua felicidade, as palavras que me saíram involuntariamente da boca te asseguram que serás feliz. O orgulho que a ambos nos fez desgraçados não o herdou Pelágio. Que o herdasse, mal caberia nestas brenhas, na caverna dos fugitivos. E depois, que nome há hoje na Espanha mais ilustre que o do cavaleiro negro, o nome de Eurico? Morreres?!... Oh, não! Salvaste Hermengarda do opróbrio: se nunca te houvera amado, ela te diria como te diz hoje: sou tua, Eurico! Segunda Geração: as características românticas estão definidas e amadurecidas; nela se destacam Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Soares dos Passos e João de Deus. Trecho de "Amor de Perdição" – Camilo Castelo Branco. As onze horas em ponto estava Simão encostado á porta do quintal, e a distância convencionada o arreeiro com o cavalo à rédea. A toada da música, que vinha das salas remotas, alvoroçava-o, porque a festa em casa de Tadeu de Albuquerque o surpreendera. No longo termo de três anos nunca ele ouvira música naquela casa. Se ele soubesse o dia natalício de Teresa, espantara-se menos da estranha alegria daquelas salas, sempre fechadas como em dias de mortório. Simão imaginou desvairadamente as quimeras que voejam, ora negras, ora translúcidas, em redor da fantasia apaixonada. Não há baliza racional para as belas, nem para as horrorosas
  • 43. 43Organizada por: Prof. José Arnaldo da Silva ilusões, quando o amor as inventa. Simão Botelho, com o ouvido colado à fechadura, ouvia apenas o som das flautas, e as pancadas do coração sobressaltado. [...] 7 O REALISMO E O NATURALISMO EM PORTUGAL (1865 – 1890) Já sabemos que a segunda metade do século XIX é marcada por uma grave crise em Portugal. Imerso em situação de grande atraso, o país contempla uma Europa renovada no plano político, social, econômico e cultural. Não apenas contempla, mas se vê invadido pelas novas conquistas do velho mundo, já que uma juventude operosa e inteligente está atenta àquilo que lhes chega - em 1864, Coimbra se ligava à rede europeia de caminho-de-ferro - principalmente de França. O surgimento de uma evolução tecnológica e, por decorrência, cultural tende a esvaziar os ideais românticos que prevaleceram por quase 40 anos. É nesse ambiente que floresce a "Geração de 70", influenciada pelos modelos franceses buscados em Balzac, Stendhal, Flaubert e Zola. Os jovens acadêmicos portugueses absorvem as novas teorias, tais como o Determinismo de Taine, o Socialismo "utópico" de Proudhon, o Positivismo de Auguste Comte, além do Evolucionismo de Darwin, entre outras novidades no campo das Ciências e da Filosofia:  O Determinismo de Taine, segundo o qual o Homem - e seu comportamento e, portanto, a Arte - está condicionado a três fatores: a herança (determinismo biológico ou hereditário); o meio (determinismo social ou mesológico) e o momento (determinismo histórico);  O Positivismo de Auguste Comte, que defendia a existência da razão e da ciência como fundamentais para a vida humana, pregando uma atitude voltada para o conhecimento positivo, concreto e objetivo da realidade;  O Criticismo e o Anticlericalismo de Renan, que pregava uma revisão do papel histórico da igreja católica, apontando-a como "mistificadora da verdadeira fé";  O Socialismo "utópico" de Proudhon, que propunha a organização de pequenos produtores em associações de auxílio mútuo, calcado em ideias antiburguesas e antirreligiosas;  O Evolucionismo de Darwin, entre outras novidades no campo das Ciências e da Filosofia. Características do Realismo-Naturalismo em Portugal O Realismo-Naturalismo implica o distanciamento da subjetividade para o escritor. Aprofunda a narração de costumes contemporâneos da primeira metade do século XIX e de todo o século XVIII. Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrastes da vida íntima; e buscam-se para ambas causas naturais ou culturais. O escritor se sente no dever de descobrir a verdade de suas personagens, no sentido positivista dissecar os motivos de seu comportamento. Estreitando o horizonte das personagens e de seu comportamento nos limites de um acontecimento, o romancista acaba recorrendo, com frequência, ao tipo e à situação típica. A procura do típico leva, muitas vezes, o escritor ao caso, e, daí, ao patológico. Em termos de construção, ocorre uma "limpeza" do processo expressivo, com a eliminação dos exageros românticos. Assim, do Romantismo ao Realismo, há uma passagem do idealizante ao factual, que pode ser esquematizada nas seguintes características:  Objetividade: exame da realidade exterior ao indivíduo, realidade sem o intermédio da imaginação e do sentimentalismo;  Racionalismo: a inteligência como único meio para a compreensão da realidade objetiva;