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A individualidade do herói na
Ilíada de Homero
Renata Cardoso de Sousa
XII Jornada de Estudos da Antiguidade do C.E.I.A. (UFF)
Resumo
Embora os heróis homéricos tenham um
código de conduta estabelecido, eles estão
longe de representar uma categoria uniforme:
cada herói tem a sua peculiaridade; a
sociedade heroica homérica é composta por
indivíduos, sobretudo, tendo cada um sua
personalidade. Esse trabalho propõe analisar
de que modo a individualidade dos heróis se
manifesta na Ilíada, destacando Páris em
relação a outras personagens do épico em
questão, já que se configura em um herói
controverso, sendo qualificado como fujão,
covarde, frouxo, afeminado por parte da
historiografia contemporânea.
O que entendemos por
individualidade
• Individualidade é a qualidade particular de uma
pessoa ou coisa, sua personalidade.
• “‘Individualidade’ é uma expressão que se refere à
maneira e à medida especiais em que a qualidade
estrutural do controle psíquico de uma pessoa difere
do de outra. (...) Somente através de um processo
social de moldagem, no contexto de características
sociais específicas, é que a pessoa desenvolve as
características e estilos comportamentais que a
distinguem de todos os demais membros da
sociedade. A sociedade não apenas produz o
semelhante e o típico, mas também o individual.”
(ELIAS, 1994, p. 54-56 – grifos do autor).
Desse modo, ao estudar um
indivíduo, não podemos perder de
vista o seu contexto social.
E na sociedade heroica homérica, há
algumas exigências a serem cumpridas
pelos kaloì kaì agathoí (belos e bons).
Características gerais do herói
homérico
• Kalós: o herói é de aparência bela;
• Belo morto: na guerra, ele matará o inimigo;
mas, numa situação em que não há
escapatória, ele preferirá morrer a fugir;
• Honrado: busca da honra, através da
realização, em batalha, de atos dignos de
serem contados (e cantados) através do
tempo;
• Intrépido: ser corajoso em batalha e enfrentar
os oponentes, evitando a fuga e/ou a
desistência.
“Modelo” comum de herói na
Ilíada
AQUILES
• Mata em batalha e acaba morrendo por
uma flechada disparada por Páris,
auxiliado por Apolo;
• É um exímio guerreiro;
• Não recua nas batalhas.
Entretanto, nem todos os heróis
são exatamente assim...
• Nem o “modelo” que apresentamos pode
representar um herói perfeito: Aquiles
também tem as suas falhas, também comete
erros.
• Mesmo que Aquiles fosse perfeito, nenhum
herói pode ser igual a ele, porque ele é único;
na verdade, todos os heróis são únicos, cada
um tem a sua peculiaridade.
• Mesmo quando um herói tem atitudes
covardes, desonradas, não se pode
desqualificá-lo nem afirmar que ele não
segue o modelo geral de modo algum.
Individualidade dos heróis
• Como se manifestam essas peculiaridades
dos heróis através do texto da Ilíada?
Sobretudo através
a) dos comentários acerca deles;
b) das qualificações que eles recebem
(adjetivos);
c) de seus epítetos: cada personagem (seja
divindade ou herói) tem essa qualificação
característica.
Epítetos comuns e seus heróis
• Aquiles: “de rápidos pés”;
• Heitor: “de penacho ondulante”,
“domador de cavalos”;
• Menelau: “de Ares forte discípulo”;
• Agamêmnon: “rei poderoso”;
• Odisseu: “astucioso”;
• Páris: “divo”.
Epítetos comuns e seus heróis
• Aquiles: “de rápidos pés”;
• Heitor: “de penacho ondulante”,
“domador de cavalos”;
• Menelau: “de Ares forte discípulo”;
• Agamêmnon: “rei poderoso”;
• Odisseu: “astucioso”;
• Páris: “divo”.
O caso de Páris
• Páris não possui nem epítetos nem
qualificações bélicos.
• Isso não quer dizer que ele é não é um herói,
pois possui qualidades de um:
- Mata vários guerreiros em batalha (Menéstio
– canto VII –, Euquénor – canto XII – e
Aquiles – canto XXII*) e morre em batalha
(por uma flecha disparada por Filoctetes**);
- Procura reaver a sua honra através de atos
dignos, como a volta ao campo de batalha;
- É intrépido no combate, embora tenha que ser
estimulado constantemente por Heitor e, até
mesmo, Helena (VI, vv. 521-523).
* A morte de Aquiles é anunciada por Heitor nesse canto.
** A menção à morte de Páris encontra-se na tragédia Filoctetes, de Sófocles.
• “divo” (theoeidés), (vários versos);
• “Páris funesto” (Dýsparis), (III, v. 39);
• “de belas feições” (III, v. 39);
• “sedutor de mulheres” (III, v. 39);
• “careces de força e coragem” (III, v. 45);
• “Esses cabelos, a cítara, os dons de Afrodite, a
beleza” (III, v. 54);
• “fautor desta guerra” (III, v. 87; VII, v. 374);
• “fautor de desgraças” (VI, v. 282);
• “Este, porém, nunca teve firmeza, nem nunca há de
tê-la” (VI, v. 352);
• “Mas, voluntário, te escusas; não queres lutar” (VI,
v. 523);
• “marido de Helena cacheada” (vários versos).
Qualificações e epítetos de Páris
• Através dessas qualificações que Páris
recebe e de seus epítetos, percebemos
que se dá primazia à sua beleza, às suas
habilidades artísticas ou ao seu erro
(ter levado Helena a Troia).
• Assim como Páris (que se destaca por
sua beleza), cada herói se destaca por
alguma característica peculiar.
• Exemplos:
- Aquiles: velocidade;
- Heitor: habilidade com cavalos;
- Menelau: habilidade na guerra;
- Agamêmnon: habilidade no governo;
- Odisseu: astúcia (métis).
Conclusão
• Cada herói possui a sua peculiaridade, sua
característica particular, sua individualidade.
• Páris, mesmo desqualificado pela
historiografia contemporânea – que o
denomina “vaidoso”, “frívolo”
(RUTHERFORD, 1996, p. 33), “afeminado”,
“frouxo” (LORAUX, 1989, p. 93),
“playboy”, “patético” (HUGHES, 2009, p.
219), “fujão”, “covarde” (AUBRETON,
1956, p. 168) –, não deixa de ser um herói
nem de seguir o modelo de conduta de um;
apenas se destaca mais pelo atributo da
beleza do que por um atributo bélico, como a
maioria dos heróis da Ilíada.
Documentação escrita
• HOMERO. Ilíada. Tradução, Carlos
Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro,
2009.
• HOMERO. Ilíada – 2 volumes.
Tradução, Haroldo de Campos. São
Paulo: Arx, 2002, 2003.
• SÓFOCLES. Filoctetes. Tradução,
Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34,
2009.
Imagens utilizadas no slide
• Imagem inicial: detalhe de O julgamento de Páris
Localização: Antikensammlung, Berlin, Alemanha – inv. Berlim F2291.
Temática: disputa entre Athená, Hera e Afrodite pelo pomo dourado
deixado por Éris no casamento de Peleu e Tétis, na qual a Páris é
cabida a escolha da deusa mais bela.
Proveniência: Etrúria, Vulci.
Forma: kýlix.
Estilo: figuras vermelhas.
Pintor/Ceramista: Makron.
Data: 500-490 a.C.
Inscrições: HIERON.
Nomes: HIPPODAMAS, ALECHSANDROS, TIMADARA, EUOPIS.
Assinatura: HIERONEPOISEN.
Indicação bibliográfica:
Robertson, C.M. The art of vase-painting in classical Athens
(Cambridge, 1992): 103, FIG.99 (A).
Sparkes, B.A. The Red and the Black (Londres, 1996): 127, FIG.V.8
(A).
Descrição: Páris (à esquerda), recebe Hermes, Athená, Hera e Afrodite,
respectivamente, a qual está rodeada de erotes.
• Imagem da margem: detalhe de Helena e Páris
Localização: Departamento de Antiguidades Gregas, Etruscas e Romanas
do Museu do Louvre, Paris – inv. K 6.
Temática: encontro entre Páris e Helena.
Proveniência: não informada.
Forma: cratera.
Estilo: figuras vermelhas.
Pintor/Ceramista: Pintor de Estocolmo.
Data: 380-370 a.C.
Indicação bibliográfica: Disponível em:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Helene_Paris_Louvre_K6.jpg
Acesso em: 18/05/2010.
Descrição: Helena (à esquerda, sentada) mexe em uma caixa, enquanto
Páris (de pé, segurando uma lança) a observa.
Bibliografia
• AUBRETON, Robert. Introdução a Homero. São
Paulo: DIFEL, 1956.
• ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos.
Tradução, Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 1994.
• HUGHES, Bettany. Helena de Tróia: deusa,
princesa e prostituta. Tradução, S. Duarte. Rio de
Janeiro: Record, 2009.
• LORAUX, Nicole. Crainte et tremblement du
guerrier. In: Les experiences de Tirèsias: le
fémenin et l’homme grec. Paris: Gallimard, 1989.
• RUTHERFORD, Richard B. Homer (Greece and
Rome New Surveys in the Classics). Oxford:
Oxford University Press, 1996.

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A individualidade do herói na "Ilíada" de Homero - SOUSA, Renata Cardoso de.

  • 1. A individualidade do herói na Ilíada de Homero Renata Cardoso de Sousa XII Jornada de Estudos da Antiguidade do C.E.I.A. (UFF)
  • 2. Resumo Embora os heróis homéricos tenham um código de conduta estabelecido, eles estão longe de representar uma categoria uniforme: cada herói tem a sua peculiaridade; a sociedade heroica homérica é composta por indivíduos, sobretudo, tendo cada um sua personalidade. Esse trabalho propõe analisar de que modo a individualidade dos heróis se manifesta na Ilíada, destacando Páris em relação a outras personagens do épico em questão, já que se configura em um herói controverso, sendo qualificado como fujão, covarde, frouxo, afeminado por parte da historiografia contemporânea.
  • 3. O que entendemos por individualidade • Individualidade é a qualidade particular de uma pessoa ou coisa, sua personalidade. • “‘Individualidade’ é uma expressão que se refere à maneira e à medida especiais em que a qualidade estrutural do controle psíquico de uma pessoa difere do de outra. (...) Somente através de um processo social de moldagem, no contexto de características sociais específicas, é que a pessoa desenvolve as características e estilos comportamentais que a distinguem de todos os demais membros da sociedade. A sociedade não apenas produz o semelhante e o típico, mas também o individual.” (ELIAS, 1994, p. 54-56 – grifos do autor).
  • 4. Desse modo, ao estudar um indivíduo, não podemos perder de vista o seu contexto social.
  • 5. E na sociedade heroica homérica, há algumas exigências a serem cumpridas pelos kaloì kaì agathoí (belos e bons).
  • 6. Características gerais do herói homérico • Kalós: o herói é de aparência bela; • Belo morto: na guerra, ele matará o inimigo; mas, numa situação em que não há escapatória, ele preferirá morrer a fugir; • Honrado: busca da honra, através da realização, em batalha, de atos dignos de serem contados (e cantados) através do tempo; • Intrépido: ser corajoso em batalha e enfrentar os oponentes, evitando a fuga e/ou a desistência.
  • 7. “Modelo” comum de herói na Ilíada AQUILES • Mata em batalha e acaba morrendo por uma flechada disparada por Páris, auxiliado por Apolo; • É um exímio guerreiro; • Não recua nas batalhas.
  • 8. Entretanto, nem todos os heróis são exatamente assim...
  • 9. • Nem o “modelo” que apresentamos pode representar um herói perfeito: Aquiles também tem as suas falhas, também comete erros. • Mesmo que Aquiles fosse perfeito, nenhum herói pode ser igual a ele, porque ele é único; na verdade, todos os heróis são únicos, cada um tem a sua peculiaridade. • Mesmo quando um herói tem atitudes covardes, desonradas, não se pode desqualificá-lo nem afirmar que ele não segue o modelo geral de modo algum.
  • 10. Individualidade dos heróis • Como se manifestam essas peculiaridades dos heróis através do texto da Ilíada? Sobretudo através a) dos comentários acerca deles; b) das qualificações que eles recebem (adjetivos); c) de seus epítetos: cada personagem (seja divindade ou herói) tem essa qualificação característica.
  • 11. Epítetos comuns e seus heróis • Aquiles: “de rápidos pés”; • Heitor: “de penacho ondulante”, “domador de cavalos”; • Menelau: “de Ares forte discípulo”; • Agamêmnon: “rei poderoso”; • Odisseu: “astucioso”; • Páris: “divo”.
  • 12. Epítetos comuns e seus heróis • Aquiles: “de rápidos pés”; • Heitor: “de penacho ondulante”, “domador de cavalos”; • Menelau: “de Ares forte discípulo”; • Agamêmnon: “rei poderoso”; • Odisseu: “astucioso”; • Páris: “divo”.
  • 13. O caso de Páris • Páris não possui nem epítetos nem qualificações bélicos.
  • 14. • Isso não quer dizer que ele é não é um herói, pois possui qualidades de um: - Mata vários guerreiros em batalha (Menéstio – canto VII –, Euquénor – canto XII – e Aquiles – canto XXII*) e morre em batalha (por uma flecha disparada por Filoctetes**); - Procura reaver a sua honra através de atos dignos, como a volta ao campo de batalha; - É intrépido no combate, embora tenha que ser estimulado constantemente por Heitor e, até mesmo, Helena (VI, vv. 521-523). * A morte de Aquiles é anunciada por Heitor nesse canto. ** A menção à morte de Páris encontra-se na tragédia Filoctetes, de Sófocles.
  • 15. • “divo” (theoeidés), (vários versos); • “Páris funesto” (Dýsparis), (III, v. 39); • “de belas feições” (III, v. 39); • “sedutor de mulheres” (III, v. 39); • “careces de força e coragem” (III, v. 45); • “Esses cabelos, a cítara, os dons de Afrodite, a beleza” (III, v. 54); • “fautor desta guerra” (III, v. 87; VII, v. 374); • “fautor de desgraças” (VI, v. 282); • “Este, porém, nunca teve firmeza, nem nunca há de tê-la” (VI, v. 352); • “Mas, voluntário, te escusas; não queres lutar” (VI, v. 523); • “marido de Helena cacheada” (vários versos). Qualificações e epítetos de Páris
  • 16. • Através dessas qualificações que Páris recebe e de seus epítetos, percebemos que se dá primazia à sua beleza, às suas habilidades artísticas ou ao seu erro (ter levado Helena a Troia).
  • 17. • Assim como Páris (que se destaca por sua beleza), cada herói se destaca por alguma característica peculiar.
  • 18. • Exemplos: - Aquiles: velocidade; - Heitor: habilidade com cavalos; - Menelau: habilidade na guerra; - Agamêmnon: habilidade no governo; - Odisseu: astúcia (métis).
  • 19. Conclusão • Cada herói possui a sua peculiaridade, sua característica particular, sua individualidade. • Páris, mesmo desqualificado pela historiografia contemporânea – que o denomina “vaidoso”, “frívolo” (RUTHERFORD, 1996, p. 33), “afeminado”, “frouxo” (LORAUX, 1989, p. 93), “playboy”, “patético” (HUGHES, 2009, p. 219), “fujão”, “covarde” (AUBRETON, 1956, p. 168) –, não deixa de ser um herói nem de seguir o modelo de conduta de um; apenas se destaca mais pelo atributo da beleza do que por um atributo bélico, como a maioria dos heróis da Ilíada.
  • 20. Documentação escrita • HOMERO. Ilíada. Tradução, Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009. • HOMERO. Ilíada – 2 volumes. Tradução, Haroldo de Campos. São Paulo: Arx, 2002, 2003. • SÓFOCLES. Filoctetes. Tradução, Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2009.
  • 21. Imagens utilizadas no slide • Imagem inicial: detalhe de O julgamento de Páris Localização: Antikensammlung, Berlin, Alemanha – inv. Berlim F2291. Temática: disputa entre Athená, Hera e Afrodite pelo pomo dourado deixado por Éris no casamento de Peleu e Tétis, na qual a Páris é cabida a escolha da deusa mais bela. Proveniência: Etrúria, Vulci. Forma: kýlix. Estilo: figuras vermelhas. Pintor/Ceramista: Makron. Data: 500-490 a.C. Inscrições: HIERON. Nomes: HIPPODAMAS, ALECHSANDROS, TIMADARA, EUOPIS. Assinatura: HIERONEPOISEN. Indicação bibliográfica: Robertson, C.M. The art of vase-painting in classical Athens (Cambridge, 1992): 103, FIG.99 (A). Sparkes, B.A. The Red and the Black (Londres, 1996): 127, FIG.V.8 (A). Descrição: Páris (à esquerda), recebe Hermes, Athená, Hera e Afrodite, respectivamente, a qual está rodeada de erotes.
  • 22. • Imagem da margem: detalhe de Helena e Páris Localização: Departamento de Antiguidades Gregas, Etruscas e Romanas do Museu do Louvre, Paris – inv. K 6. Temática: encontro entre Páris e Helena. Proveniência: não informada. Forma: cratera. Estilo: figuras vermelhas. Pintor/Ceramista: Pintor de Estocolmo. Data: 380-370 a.C. Indicação bibliográfica: Disponível em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Helene_Paris_Louvre_K6.jpg Acesso em: 18/05/2010. Descrição: Helena (à esquerda, sentada) mexe em uma caixa, enquanto Páris (de pé, segurando uma lança) a observa.
  • 23. Bibliografia • AUBRETON, Robert. Introdução a Homero. São Paulo: DIFEL, 1956. • ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Tradução, Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994. • HUGHES, Bettany. Helena de Tróia: deusa, princesa e prostituta. Tradução, S. Duarte. Rio de Janeiro: Record, 2009. • LORAUX, Nicole. Crainte et tremblement du guerrier. In: Les experiences de Tirèsias: le fémenin et l’homme grec. Paris: Gallimard, 1989. • RUTHERFORD, Richard B. Homer (Greece and Rome New Surveys in the Classics). Oxford: Oxford University Press, 1996.