1. “AS PRÓPRIAS GESTAS DOS
HERÓIS DAS IDADES CORRIDAS
NOS DIZEM”: HOMERO E SUA
FUNCIONALIDADE PAIDÊUTICA
Renata Cardoso de Sousa
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Instituto de História
Laboratório de História Antiga
Iniciação Científica – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Orientador: Prof. Dr. Fábio de Souza Lessa
2. APRESENTAÇÃO GERAL DA
PESQUISA
Problema: por que Páris é representado desse
modo por Homero?
Fontes:
HOMERO. Ilíada. Tradução, Carlos Alberto
Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009.
HOMERO. Odisséia. Tradução, Carlos Alberto
Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009.
Método:
CARDOSO, Ciro Flamarion. Narrativa,
Sentido, História. Campinas: Papirus, 1997.
3. RECORTE TEMPORAL
“É possível que o período descrito na obra
[de Homero] abarque um milênio completo,
do ano 1600 ao 600 a.C.” (COLOMBANI,
2005, p. 8).
COLOMBANI, María Cecilia. Homero. Ilíada: Una introducción crítica. Buenos
Aires: Santiago Arcos, 2005.
4. APRESENTAÇÃO DESSA
COMUNICAÇÃO
Nossos objetivos são:
Denotar a importância da obra de Homero
e de Páris para se expressar todo um código
de conduta adotado para a formação dos
kaloì kagathoí, da aristocracia;
Perceber de que modo esse aedo constrói
seus heróis e os dispositivos da narrativa
que nos ajudam a analisar esses
personagens.
6. FUNCIONALIDADE PAIDÊUTICA DA
ILÍADA
A poesia como instrumento de
paideía: as epopeias encerram mitos; o
mito “possui o espantoso poder de
engendrar as noções fundamentais da
ciência e as principais formas da cultura”
(DETIENNE, 2008, p. 34) e por isso a sua
difusão constitui uma prática de paideía.
Do mesmo modo, a conduta expressa
pelos heróis também se constitui em
modelo.
DETIENNE, Marcel. Os Gregos e Nós: Uma Antropologia Comparada da
Grécia Antiga. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
7. FUNCIONALIDADE PAIDÊUTICA DA
ILÍADA
O próprio texto mostra um exemplo de
como a “gesta dos heróis” servem de
exemplo:
Ilíada IX, vv. 522-529:
“As próprias gestas dos heróis das idades corridas
nos dizem que, quando, acaso, ficavam possuídos
de cólera grande, eram sensíveis a brindes,
dobrando-se à força suasória.” (grifos nossos).
8. OS HERÓIS
Eles têm uma personalidade singular, se
destacando nas epopeias de maneiras
diversas;
Entretanto, não estão descolados da
sociedade em que vivem: importância da
timḗ (honra) e do aidṓs (“é o medo da
desaprovação ou da condenação pelos
outros que faz um homem ficar e lutar
bravamente”), (SCHEIN, 2010, p. 177).
SCHEIN, Seth L. The Mortal Hero: An Introduction to Homer’s Iliad.
Berkeley/Los Angeles: University of California Press, 2010.
9. COMO PÁRIS É REPRESENTADO NA
ILÍADA: TRÊS PASSOS
Procuramos os adjetivos/epítetos e os comentários acerca de
Páris na Ilíada, a fim de delinear suas singularidades.
Daí, obtivemos o seguinte levantamento:
“divo” (theoeidés), (vários versos);
“marido de Helena cacheada” (vários versos);
“Páris funesto” (Dýsparis), (III, v. 39);
“fautor desta guerra” (III, v. 87; VII, v. 374);
“de belas feições” (III, v. 39);
“sedutor de mulheres” (III, v. 39);
“careces de força e coragem” (III, v. 45);
“Esses cabelos, a cítara, os dons de Afrodite, a beleza” (III, v. 54);
Pudemos concluir que Páris destaca-se por sua beleza, por sua
habilidade musical e pela sua habilidade em seduzir
mulheres.
10. COMO PÁRIS É REPRESENTADO NA
ILÍADA: UMA CONTRADIÇÃO?
Mesmo sendo caracterizado dessa maneira, ele ainda
tem atitudes condizentes com seu estatuto heroico, à
medida que participa de várias batalhas, matando
alguns aqueus por meio do seu principal instrumento
bélico (o arco e a flecha), e seu próprio irmão, Heitor,
reconhece que ele tem coragem (VI, vv. 521-522).
“Muitas vezes o próprio material apresentava
contradições internas (...). [Páris] (...) aparece
simultaneamente como um desprezível covarde e
como um verdadeiro herói” (FINLEY, 1982, p. 43):
isso é um dipositivo paidêutico, não uma contradição.
FINLEY, M. I. O mundo de Ulisses. Lisboa: Presença, 1982.
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As obras de Homero têm um cunho paidêutico
por mostrar todo um código de conduta caro à
sociedade na qual elas foram compostas.
Do mesmo modo, Homero constrói seus heróis de
maneira a passar um modelo ético para os
ouvintes das suas epopeias.
Páris serve a esse fim, à medida que realiza atos
indignos mas procura corrigi-los: a “lição” que se
tira de um personagem assim é a de que, mesmo
que se erre, precisa-se corrigir esse
comportamento a fim de não cair em desgraça,
desonrado, envergonhado pelos seus atos.