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Elisabeth Ferroni Schwartz
Laboratório de Toxinologia
Departamento de Ciências Fisiológicas
Instituto de Ciências Biológicas - UnB
ANIMAIS PEÇONHENTOS NO BRASILANIMAIS PEÇONHENTOS NO BRASIL
Considerações iniciais
• Toxinologia toxinas
• Veneno: combinado de toxinas
• Veneno x peçonha
Instituto Butantan - SP
Fundação Ezequiel Dias - MG
Instituto Vital Brazil - RJ
Centro de Produção e Pesquisa em Imunobiológicos - PR
Ministério da Saúde
Secretarias Estaduais de Saúde
Pontos estratégicos
Regionais de saúde
Secretarias Municipais de Saúde
ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOSACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS
Brasil, 2001 a 2004Brasil, 2001 a 2004
Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05)
Dados sujeitos a revisão
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
nºcasos
2001 19442 17922 11175 437 3692 2666
2002 24975 21781 12894 275 4814 2535
2003 28130 24653 17477 323 6083 2314
2004 23137 23096 14437 364 6195 2176
Serpente Escorpião Aranha Lonomia Outros Ign/branco
Acidentes ofAcidentes ofíídicosdicos
Características dos gêneros de serpentes peçonhentas no Brasil
As serpentes do gênero Micrurus não apresentam fosseta loreal e
possuem dentes inoculadores pouco desenvolvidos e fixos na
região anterior da boca
Bothrops atrox
Bothrops erythromelas
Bothrops neuwiedi
Bothrops jararacussu
Bothrops alternatus
Bothrops moojeni
Bothrops jararaca
Acidente Botrópico
Acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país
cerca de 90% dos envenenamentos
Ações da peçonha
Proteolítica Lesões locais, edema, bolhas e necrose
patogênese complexa: proteases, hialuronidases e PLA2
,
liberação de mediadores da resposta inflamatória, ação das
hemorraginas sobre o endotélio vascular e ação pró-coagulante.
Ação coagulante Ativa fator X e protrombina e tem ação
semelhante à trombina incoagulabilidade sangüínea.
Ação hemorrágica Hemorraginas que provocam lesões na
membrana basal dos capilares, associadas à plaquetopenia e
alterações da coagulação.
Acidente Botrópico
Quadro clínico
Manifestações locais dor e edema no local da picada, de
intensidade variável e, em geral, de instalação precoce e caráter
progressivo. Equimoses e sangramentos no ponto da picada são
freqüentes. Infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na
evolução, acompanhados ou não de necrose.
Manifestações sistêmicas Além de sangramentos em
ferimentos cutâneos pré-existentes, podem ser observadas
hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes,
hematêmese e s acidentes
Acidente Botrópico
Leve dor e edema local pouco intenso ou ausente,
manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem
alteração do Tempo de Coagulação.
Moderado dor e edema evidente ultrapassando a região da
picada, acompanhados ou não de alterações hemorrágicas locais
ou sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hermatúria.
Grave edema local intenso e extenso, podendo atingir todo o
membro picado, acompanhado de dor intensa e, eventualmente
com presença de bolhas. O edema pode levar à isquemia local
devido à compressão de vasos e nervos. Hipotensão arterial,
choque, oligoanúria ou hemorragias intensas.
Acidente Botrópico
Complicações Locais
Síndrome Compartimental isquemia de extremidades
provocada pelo edema. Manifestações mais importantes: dor
intensa, parestesia, queda na temperatura do segmento distal,
cianose e déficit motor.
Abscesso Ação “proteolítica” favorece o aparecimento de
infecções locais.
Necrose é devida principalmente à ação “proteolítica” do
veneno, associada à isquemia local decorrente de lesão vascular
e de outros fatores como infecção, trombose arterial, síndrome de
compartimento ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior
nas picadas em extremidades (dedos) podendo evoluir para
gangrena
Acidente Botrópico
Complicações Sistêmicas
Choque casos graves. Sua patogênese é multifatorial,
podendo decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do
seqüestro de líquido na área do edema e de perdas por
hemorragias.
Insuficiência Renal Aguda (IRA) também de patogênese
multifatorial, pode decorrer da ação direta da peçonha sobre os
rins, isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos
capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque.
Acidente Botrópico
Exames complementares
Tempo de Coagulação (TC) fácil execução e importante na
elucidação diagnóstica
Hemograma leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda,
hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e
plaquetopenia de intensidade variável.
Exame sumário de urina pode haver proteinúria, hemafúria e
leucocitúria.
Outros exames laboratoriais eletrólitos, uréia e creatinina,
visando à detecção da insuficiência renal aguda.
Métodos de imunodiagnóstico técnica de ELISA
Acidente Botrópico
Tratamento
Específico soro antibotrópico (SAB) i.v. Na falta deste, soro
antibotrópico-crotálico (SABC) ou antibotrópicolaquética (SABL).
Geral Manter elevado e estendido o segmento picado;
Analgésicos; Hidratação; Antibioticoterapia.
Tratamento das complicações locais diagnóstico + de
síndrome de compartimento: fasciotomia, debridamento de áreas
necrosadas e drenagem de abscessos
Prognóstico Geralmente é bom. A letalidade nos casos tratados
é baixa (0,3%). Há possibilidade de ocorrer seqüelas locais
anatômicas ou funcionais.
Classificação do Acidente Botrópico
Crotalus durissus
Acidente Crotálico
7,7% dos acidentes ofídicos no Brasil. 30% em algumas regiões.
Maior coeficiente de letalidade devido à freqüência com que
evolui para insuficiência renal aguda (IRA).
Ações da peçonha
Ação neurotóxica Crotoxina, neurotoxina de ação pré-
sináptica que inibe a liberação de Ach: paralisias motoras.
Ação miotóxica Lesões de fibras musculares esqueléticas
(rabdomiólise) com liberação de enzimas e mioglobina para o
soro e que são posteriormente excretadas pela urina.
Ação coagulante Atividade do tipo trombina. Incoagulabilidade
sangüínea. Geralmente não há redução do número de plaquetas.
As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são
discretas.
Acidente Crotálico
Quadro clínico
Manifestações locais Pouco importantes. Não há dor. Há
parestesia local ou regional, podendo ser acompanhada de
edema discreto ou eritema no ponto da picada.
Manifestações sistêmicas
Gerais mal-estar, prostração, sudorese, náusea, vômito,
sonolência ou inquietação e secura da boca.
Neurológicas Ação neurotóxica da peçonha: fácies miastênica
(fácies neurotóxica de Rosenfeld) evidenciadas por ptose
palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face,
alteração do diâmetro pupilar, incapacidade de movimentação do
globo ocular (oftalmoplegia), podendo existir dificuldade de
acomodação (visão turva) e/ou visão dupla (diplopia). Pode
ocorrer paralisia velopalatina, com dificuldade à deglutição,
diminuição do reflexo do vômito, alterações do paladar e olfato.
Acidente Crotálico
Acidente grave em criança
de seis anos, atendida três
horas após a picada:
ptose palpebral bilateral
(Foto: F. Bucaretchi).
Acidente Crotálico
Manifestações sistêmicas
Musculares dor muscular
generalizada (mialgias). Fibra
muscular esquelética lesada:
liberação de mioglobina que é
excretada pela urina
(mioglobinúria), conferindo-lhe
uma cor avermelhada ou de
tonalidade mais escura, até o
marrom. A mioglobinúria constitui
a manifestação clínica mais
evidente da necrose da
musculatura esquelética
(rabdomiólise).
Coleta de urina seqüencial
entre a admissão e 48 h após
acidente: urina escura com
mioglobinúria
Acidente Crotálico
Manifestações sistêmicas
Distúrbios da Coagulação incoagulabilidade sangüínea ou
aumento do Tempo de Coagulação, em 40% dos pacientes,
observando-se raramente sangramentos restritos às gengivas
(gengivorragia).
Manifestações clínicas pouco freqüentes
Insuficiência respiratória aguda, fasciculações e paralisia de
grupos musculares têm sido relatadas. Tais fenômenos são
interpretados como decorrentes da atividade neurotóxica e/ou da
ação miotóxica do veneno.
Acidente Crotálico
Complicações
Locais parestesias locais duradouras, reversíveis após algumas
semanas.
Sistêmicas insuficiência renal aguda, com necrose tubular
geralmente de instalação nas primeiras 48 horas.
Exames complementares
Sangue creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH),
aspartase-amino-transferase (AST), aspartase-alanino-transferase
(ALT), aldolase, uréia, creatinina, ác úrico, fósforo, potássio e
calcemia. Tempo de Coagulação >.
Leucocitose, com neutrofilia e desvio à esquerda.
Urina sedimento urinário normal quando não há IRA e
proteinúria discreta. Com IRA, hematúria. Presença de mioglobina.
Acidente Crotálico
Tratamento
Específico Soro anticrotálico, i.v. Pode ser utilizado soro
antibotrópico-crotálico (SABC).
Geral Hidratação adequada é fundamental na prevenção da
IRA. A diurese osmótica pode ser induzida com manitol a 20%.
Caso persista oligúria: uso de diuréticos de alça tipo furosemida.
O pH urinário deve ser > de 6,5 (urina ácida potencia a
precipitação intratubular de mioglobina), portanto, alcalinação da
urina pela administração parenteral de bicarbonato de sódio.
Prognóstico
Bom nos acidentes leves e moderados e nos pacientes atendidos
até 6 horas após a picada. Nos acidentes graves, depende da
existência de IRA. A evolução do quadro depende de diálise
eficiente, em tempo hábil.
Lachesis muta
Acidente Laquético
Informações disponíveis sobre acidentes são raras: distribuição
geográfica. Os acidentes por Lachesis são raros, mesmo na região
Amazônica.
Ações da peçonha
Ação proteolítica Lesão tecidual (~ botrópico)
Ação coagulante atividade tipo trombina
Ação hemorrágica intensa atividade hemorrágica
(hemorraginas)
Ação neurotóxica É descrita uma ação do tipo estimulação
vagal, porém ainda não caracterizada.
Acidente Laquético
Quadro clínico
Manifestações locais ~ botrópico: dor e edema, que podem
progredir para todo o membro. Podem surgir vesículas e bolhas
de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico logo após o acidente.
Hemorragia local.
Manifestações sistêmicas Hipotensão arterial, tonturas,
escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais e
diarréia (síndrome vagal).
Acidentes laquéticos são classificados como moderados e
graves. Grande porte do animal e qtidade de peçonha injetada.
Complicações ~ botrópico (síndrome compartimental,
necrose, infecção secundária, abscesso, déficit funcional)
Acidente Laquético
Exames complementares Tempo de Coagulação (TC),
hemograma, dosagens de uréia, creatinina e eletrólitos. ELISA
vem sendo utilizado em caráter experimental.
Diagnóstico diferencial Acidentes botrópico x laquético:
manifestações da “síndrome vagal”. Maioria dos acidentes
referidos pelos pacientes como causados por Lachesis é do
gênero botrópico (ELISA).
Tratamento
Tratamento específico Soro antilaquético (SAL), ou
antibotrópico-laquético (SABL), na ausência dos 2, soro
antibotrópico (não neutraliza de maneira eficaz a ação
coagulante do veneno laquético).
Tratamento geral Mesmas medidas indicadas para o acidente
botrópico.
Micrurus corallinus
Micrurus lemniscatus
Micrurus frontalis
Acidente Elapídico
0,4% dos acidentes por serpentes peçonhentas no Brasil. Pode
evoluir para insuficiência respiratória aguda, causa de óbito neste
tipo de envenenamento.
Ações da peçonha (neurotóxica)
NTX de ação pós-sináptica presente em todas sps estudadas.
Proteínas de baixo MW, rapidamente distribuídas para os tecidos:
precocidade dos sintomas de envenenamento. As NTXs competem
com Ach pelos receptores colinérgicos da junção neuromuscular,
atuando de modo semelhante ao curare. Nos envenenamentos
onde predomina essa ação (M. frontalis), o uso de substâncias
anticolinesterásticas (edrofônio e neostigmina) pode prolongar a
vida média do neurotransmissor (Ach), levando a uma rápida
melhora da sintomatologia.
Acidente Elapídico
Ações da peçonha (neurotóxica)
NTX de ação pré-sináptica Presentes em algumas corais (M.
coralliunus) e também em alguns viperídeos, como a cascavel
sulamericana. Atuam na junção neuromuscular, bloqueando a
liberação de Ach pelos impulsos nervosos, impedindo a deflagração
do potencial de ação. Esse mecanismo não é antagonizado pelas
substâncias anticolinesterásicas.
Acidente Elapídico
Quadro clínico
Manifestações locais Discreta dor local, parestesia
Manifestações sistêmicas Inicialmente, vômitos.
Posteriormente, fraqueza muscular progressiva, ocorrendo
ptose palpebral, oftalmoplegia e a presença de fácies miastênica
ou “neurotóxica”. Dificuldade para manutenção da posição ereta,
mialgia localizada ou generalizada e dificuldade para deglutir em
virtude da paralisia do véu palatino. A paralisia flácida da
musculatura respiratória compromete a ventilação, podendo
haver evolução para insuficiência respiratória aguda e apnéia.
Acidente Elapídico
fácies miastênica
Acidente Elapídico
Exames complementares Não há exames específicos para o
diagnóstico.
Tratamento
Tratamento específico Soro antielapídico (SAE), i.v.
Todos os casos de acidente por coral com manifestações
clínicas devem ser considerados como potencialmente
graves.
Tratamento geral Nos casos de insuficiência respiratória:
ventilação artificial. Anticolinesterásicos (neostigmina) em
acidentes por M. frontalis, M. lemniscatus).
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MT MS GO DF
númeroacidentes
MÉDIA ANUAL DE ACIDENTES OFÍDICOSMÉDIA ANUAL DE ACIDENTES OFÍDICOS
por Unidade Federada, 2001 a 2004por Unidade Federada, 2001 a 2004
Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05)
tipo de acidente n % n %
botrópico 59.619 73,1 65.697 68,7
crotálico 5.072 6,2 6.959 7,3
laquético 939 1,2 2.170 2,3
elapídico 281 0,3 486 0,5
não-peçonhento 2.361 2,9 2.160 2,3
ignorado 13.339 16,3 18.212 19,0
total 81.611 100,0 95.684 100,0
1990-3 2001-4
TIPO DE ACIDENTETIPO DE ACIDENTE
BRASILBRASIL -- 19901990--3 e 20013 e 2001--44
Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05)
a cide nte óbito tota l le ta lida de óbito tota l le ta lida de
botrópic o 185 59.619 0,31 243 65.697 0,37
c rotálic o 95 5.072 1,87 70 6.959 1,01
laquétic o 9 939 0,96 22 2.170 1,01
elapídic o 1 281 0,36 1 486 0,21
não peç . 0 2.361 0,00 0 2.160 0,00
ign 69 13.339 0,52 75 18.212 0,41
Tota l 359 81.611 0,45 411 95.684 0,43
2001-41990-3
NÚMERO DE ÓBITOS E LETALIDADENÚMERO DE ÓBITOS E LETALIDADE
por tipo de acidente, 1990por tipo de acidente, 1990--3 e 20013 e 2001--44
Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05)
Escorpionismo
Importantes em virtude da grande freqüência e da potencial
gravidade, principalmente em crianças picadas pelo Tityus
serrulatus.
Epidemiologia
Cerca de 8.000 acidentes/ano
Minas Gerais e São Paulo responsáveis por 50% do total, com
aumento significativo de casos na Bahia, Rio Grande do Norte,
Alagoas e Ceará.
Importância médica: T. serrulatus, T. bahiensis e T. stigmurus.
Letalidade em 0,58%, principalmente por T. serrulatus, mais
comumente em crianças menores de 14 anos.
Escorpionismo
Escorpionismo
São carnívoros: insetos, como
grilos ou baratas. Hábitos
noturnos.
Podem sobreviver vários meses
sem alimento e sem água, o
que torna seu combate muito
difícil.
Tityus serrulatus
Serrilha dorsal nos dois
últimos segmentos (daí o
nome Tityus serrulatus)
Mede de 6 cm a 7 cm.
Distribuição geográfica:
Bahia, Espírito Santo,
Goiás, Minas Gerais,
Paraná, Rio de Janeiro e
São Paulo.
Tityus bahiensis
marrom-escuro, patas e
pedipalpos com manchas
escuras.
Mede de 6 cm a 7 cm
Distribuição geográfica:
Goiás, São Paulo, Mato
Grosso do Sul, Minas
Gerais, Paraná, Rio Grande
do Sul e Santa Catarina.
Tityus stigmurus
amarelo-escuro, triângulo
negro no cefalotórax, uma
faixa escura longitudinal
mediana e manchas
laterais escuras nos
tergitos.
Mede de 6 cm a 7 cm
Distribuição geográfica:
Nordeste do Brasil.
Tityus cambridgei
Tronco e pernas
escuros, quase negros
Mede cerca de 8,5 cm
Distribuição
geográfica: região
Amazônica.
Tityus metuendus
Vermelho-escuro, quase negro
com manchas confluentes
alaranjadas; patas com
manchas amareladas; cauda
da mesma cor do tronco
apresentando um
espessamento dos últimos dois
artículos.
Mede de 6 cm a 7 cm
Distribuição geográfica:
Amazonas, Acre e Pará.
Tityus fasciolatus
Listrado amarelo e preto.
Mede de 4 cm a 8,5 cm
Distribuição geográfica:
Goiás e DF.
Escorpionismo
Preocupante o aumento da dispersão do Tityus serrulatus.
Reprodução por partenogênese.
No estado de Pernambuco (Recife), há relatos de óbitos
provocados por T. stigmurus, espécie que também tem sido
capturada em Alagoas.
Ações da peçonha
Dor local e efeitos resultantes da ação em canais iônicos (Na+),
levando à liberação de catecolaminas e acetilcolina.
Manifestações sistêmicas são decorrentes dos efeitos simpáticos
ou parassimpáticos.
Escorpionismo
Quadro clínico→ Dor local, parestesias. Nos acidentes
moderados e graves, principalmente em crianças, após intervalo
de minutos até poucas horas (duas, três horas), podem surgir
manifestações sistêmicas:
Gerais → Hipo ou hipertermia e sudorese profusa.
Digestivas → Náuseas, vômitos, sialorréia, dor abdominal e
diarréia.
Cardiovasculares → Arritmias cardíacas, hipertensão ou
hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e choque.
Respiratórias → Taquipnéia, dispnéia e edema pulmonar agudo.
Neurológicas → agitação, sonolência, confusão mental,
hipertonia e tremores.
Escorpionismo
Os acidentes podem ser classificados como:
Leves → apenas dor local e parestesias.
Moderados → dor intensa no local e manifestações sistêmicas:
sudorese discreta, náuseas, vômitos ocasionais, taquicardia,
taquipnéia e hipertensão leve.
Graves → sudorese profusa, vômitos incoercíveis, salivação
excessiva, alternância de agitação com prostração, bradicardia,
insuficiência cardíaca, edema pulmonar, choque, convulsões e
coma.
Os óbitos estão relacionados a complicações como edema
pulmonar agudo e choque.
Escorpionismo
Exames complementares
→→→→ECG pode mostrar as disfuncões cardíacas.
→→→→Glicose, amilase elevados. Leucocitose com neutrofilia.
Hipopotassemia e hiponatremia.
→→→→ ELISA para detecção Tityus serrulatus
→→→→ Nos raros casos de pacientes com hemiplegia, a tomografia
cerebral computadorizada pode mostrar alterações compatíveis
com infarto cerebral.
Escorpionismo
Exames complementares
→→→→ Radiografia de tórax:
aumento da área cardíaca e
edema pulmonar agudo.
Escorpionismo
Tratamento
Sintomático →→→→ Consiste no alívio da dor
Específico →→→→ Consiste na administração i.v. de soro
antiescorpiônico (SAEEs) ou antiaracnídico (SAAr) nos casos
moderados e graves.
Manutenção das funções vitais → Controle da função cardíaca
e uso de respiração artificial em casos de edema pulmonar
agudo.
Araneísmo
3 gêneros de aranhas de
importância médica:
Phoneutria, Loxosceles e
Latrodectus.
Animais carnívoros:
insetos, como grilos e
baratas. Muitas têm hábitos
domiciliares e
peridomiciliares.
Araneísmo
Araneísmo
Epidemiologia
Incremento da notificação de casos no país, notadamente nos
estados do Sul.
Coeficiente de incidência dos acidentes araneídicos situa-se em
torno de 1,5 casos por 100.000 habitantes, com registro de 18
óbitos no período de 1990-1993. A maioria das notificações
provem das regiões Sul e Sudeste.
Phoneutria
Aranhas armadeiras
Medem de 3 a 4 cm de
corpo e até 15 cm de
envergadura de pernas.
Não constroem teia
geométrica, caçam à
noite.
Phoneutria
Distribuição geográfica
P. fera e P. reidyi - região Amazônica;
P. nigriventer - Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa
Catarina;
P. keyserfingi - Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina.
Foneutrismo
42,2% dos casos no Brasil, predominantemente no Sul e
Sudeste. Raramente levam a um quadro grave. Acidentes
ocorrem em áreas urbanas, no intra e peridomicílio.
Ações da peçonha
Neurotóxica (PhTx2) ativa canais de Na+
, levando à
despolarização e liberação de neurotransmissores, Ach e
catecolaminas. Peptídeos atuam na musc lisa vascular e na
permeabilidade vascular, por ativação do sistema calicreína-
cininas e de NO.
Quadro clínico
Predominam manifestações locais: dor imediata, edema, eritema,
parestesia e sudorese no local da picada.
Acidente por Phoneutria sp: edema em indivíduo picado
há 2 h
Foneutrismo
Os acidentes são classificados em:
Leves 91% dos casos. Sintomatologia local. Taquicardia e
agitação, secundárias à dor.
Moderados 7,5% do total de acidentes. Manifestações locais
e sistêmicas, como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese
discreta, agitação psicomotora, visão “turva” e vômitos
ocasionais.
Graves raros, 0,5% do total, restritos às crianças. Sudorese
profusa, sialorréia, vômitos freqüentes, diarréia, priapismo,
hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e edema
pulmonar agudo.
Exames complementares
Acidentes graves (crianças) leucocitose com neutrofilia,
hiperglicemia, acidose metabólica e taquicardia sinusal.
Foneutrismo
Tratamento
Sintomático Analgésico, imersão do local em água morna ou
o uso de compressas quentes.
Específico a soroterapia tem sido formalmente indicada
nos casos com manifestações sistêmicas em crianças e em
todos os acidentes graves.
Prognóstico
Bom. Lactentes, pré-escolares e idosos devem sempre ser
mantidos em observação pelo menos por seis horas. Os óbitos
são muito raros, havendo relatos de 14 mortes na literatura
nacional de 1926 a 1996.
Loxosceles
Aranhas-marrons
Teias irregulares
Podem ter 1 cm de corpo e
até 3 cm de envergadura
de pernas.
Não são agressivas,
picando quando são
comprimidas contra o
corpo.
Loxosceles
Distribuição geográfica
L. intermedia - predomina nos estados do sul do país;
L. laeta - ocorre em focos isolados em várias regiões do país,
principalmente no estado de Santa Catarina;
L. gaucho - predomina no estado de São Paulo.
Loxoscelismo
Forma mais grave de araneísmo no Brasil.
A maioria dos acidentes no Sul, particularmente no Paraná e
Santa Catarina. O acidente atinge mais comumente adultos, com
discreto predomínio em mulheres, no intradomicílio.
Ações da peçonha
Enzima esfingomielinase D membrana das células,
principalmente do endotélio vascular e hemácias. Cascatas do
sist complemento, da coagulação e das plaquetas,
desencadeando intenso processo inflamatório no local da picada,
acompanhado de obstrução de pequenos vasos, edema,
hemorragia e necrose focal. Hemólise intravascular nas formas
mais graves de envenenamento.
Loxoscelismo
Quadro clínico
A picada quase sempre é imperceptível
Forma cutânea 87-98% dos casos. Lenta e progressiva,
caracterizada por dor, edema e eritema no local da picada, pouco
valorizados pelo paciente.
Os sintomas locais se acentuam nas primeiras 24-72 h após o
acidente, podendo variar sua apresentação desde:
Lesão incaracterística bolha de conteúdo seroso, edema,
calor e rubor, com ou sem dor em queimação;
Lesão sugestiva enduração, bolha, equimoses e dor em
queimação;
Lesão característica dor em queimação, lesões hemorrágicas
focais, mescladas com áreas pálidas de isquemia (placa
marmórea) e necrose. Geralmente o diagnóstico é feito nesta
oportunidade.
Loxoscelismo
Paciente masculino, 25 anos,
apresentando lesão com 5 dias
de evolução, tratamento com
corticóide, cura total
A lesão cutânea pode evoluir para necrose seca (escara), em
cerca de 7-12 dias, que, ao se destacar em 3 a 4 semanas,
deixa uma úlcera de difícil cicatrização.
Paciente feminino, 22 anos,
apresentando lesão com 12 dias de
evolução, tratada de forma incorreta,
encaminhada para o desbridamento
cirúrgico
Loxoscelismo
Forma cutâneo-visceral (hemolítica)
Além do comprometimento cutâneo, manifestações clínicas
decorrentes de hemólise intravascular anemia, icterícia e
hemoglobinúria (primeiras 24 horas). Petéquias e equimoses,
relacionadas à coagulação intravascular disseminada (1-13% dos
casos, mais comum nos acidentes por L. laeta).
Casos graves insuficiência renal aguda, de etiologia
multifatorial (diminuição da perfusão renal, hemoglobinúria e
CIVD), principal causa de óbito no loxoscelismo.
Loxoscelismo
Acidente loxoscélico pode ser classificado em:
Leve lesão incaracterística sem alterações clínicas ou
laboratoriais e com a identificação da aranha causadora do
acidente.
Moderado lesão sugestiva ou característica, mesmo sem a
identificação do agente causal, podendo ou não haver alterações
sistêmicas do tipo rash cutâneo, cefaléia e mal-estar;
Grave lesão característica e alterações clínico-laboratoriais de
hemólise intravascular.
Loxoscelismo
Complicações
Locais infecção secundária, perda tecidual, cicatrizes
desfigurantes.
Sistêmicas insuficiência renal aguda.
Exames complementares
Forma cutânea hemograma com leucocitose e neutrofilia
Forma cutâneo-visceral anemia aguda, plaquetopenia,
reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, K+
, creatinina e uréia
e coagulograma alterado.
Tratamento
A indicação do antiveneno é controvertida na literatura. Eficácia
da soroterapia é reduzida após 36 h do acidente.
Loxoscelismo
Loxoscelismo
Tratamento Corticoterapia e dapsone (modulador da resposta
inflamatória), analgésicos, compressas frias, antisséptico local e
limpeza periódica da ferida são fundamentais para que haja uma
rápida cicatrização.
Antibiótico sistêmico, remoção da escara e tratamento cirúrgico
na correção de cicatrizes.
Manifestações sistêmicas transfusão de sangue ou
concentrado de hemácias nos casos de anemia intensa e manejo
da insuficiência renal aguda.
Prognóstico Na maioria dos casos, bom.
Nos casos de ulceração cutânea, de difícil cicatrização:
complicações no retorno do paciente às atividades rotineiras. A
hemólise intravascular pode levar a quadros graves e neste
grupo estão incluídos os raros óbitos.
Loxoscelismo
Latrodectus
Viúvas-negras
Teias irregulares.
Podem apresentar hábitos
domiciliares.
Fêmeas: 1cm (3cm de
envergadura de pernas).
Machos menores (3 mm)
Os acidentes ocorrem
normalmente quando são
comprimidas contra o corpo.
Latrodectus
Distribuição geográfica
L. curacaviensis - Ceará, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte e São Paulo;
L. geometricus - encontrada praticamente em todo o país.
Latrodectismo
Nordeste (Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe),
principalmente por L. curacaviensis.
Ações da peçonha
Alpha-latrotoxina atua sobre terminações nervosas sensitivas
provocando quadro doloroso no local da picada. Ação no SNA
liberação neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos. Na
junção neuromuscular pré-sináptica, altera a permeabilidade aos
íons sódio e potássio.
Quadro clínico
Manifestações locais dor local (60% dos casos) e sensação
de queimadura 15-60min após a picada. Pápula eritematosa e
sudorese localizada (20% dos casos). Lesões puntiformes,
distando de 1 mm a 2 mm entre si. Na área da picada há
referência de hiperestesia e pode ser observada a presença de
placa urticariforme acompanhada de infartamento ganglionar
regional.
Latrodectismo
Manifestações sistêmicas
Gerais tremores (26%), ansiedade (12%), excitabilidade
(11%), insônia, cefaléia, prurido, eritema de face e pescoço.
Distúrbios de comportamento e choque nos casos graves.
Motoras dor irradiada para os membros inferiores (32%),
contraturas musculares periódicas (26%), movimentação
incessante, atitude de flexão no leito; hiperreflexia ósteo-
músculo-tendinosa constante. Dor abdominal intensa (18%),
acompanhada de rigidez e desaparecimento do reflexo cutâneo-
abdominal.
Contratura facial, trismo dos masseteres caracteriza o fácies
latrodectísmica observado em 5% dos casos.
Latrodectismo
Cardiovasculares opressão precordial, com sensação de
morte iminente, taquicardia inicial e hipertensão seguidas de
bradicardia.
Exames complementares Leucocitose, linfopenia,
eosinopenia. Hiperglicemia, hiperfosfatemia. Albuminúria,
hematúria, leucocitúria e cilindrúria. Arritmias cardíacas. Essas
alterações podem persistir até por dez dias.
Latrodectismo
Tratamento
Específico soro antilatrodectus (SALatr) é indicado nos casos
graves, i.m. A melhora do paciente ocorre de 30 min a 3 h após
soroterapia. Soro antilatrodectus atualmente disponível no Brasil
é importado.
Sintomático Analgésicos e:
Suporte cardiorespiratório e hospitalização por, no mínimo, 24
horas.
Prognóstico Não há registro de óbitos.
Latrodectismo
Lycosidae
Aranha-de-grama ou aranha-de-
jardim.
Acidentes são freqüentes, mas não
constituem problema de saúde
pública.
Não constroem teia
As maiores atingem 3cm de corpo e
5 cm de envergadura de pernas.
Há um grande número de espécies
descritas para todo o Brasil.
Aranhas caranguejeiras
Aranhas caranguejeiras
Grande variedade de cores e
tamanhos (mm a até 20 cm de
envergadura de pernas).
Algumas são muito pilosas.
Não são de importância
médica, exceto pela irritação
ocasionada na pele e mucosas
por causa dos pêlos urticantes.
Himenópteros
Únicos insetos com ferrões verdadeiros. Três famílias de
importância médica: Apidae (abelhas e mamangavas), Vespidae
(vespa amarela, vespão e marimbondo ou caba) e Formicidae
(formigas).
Epidemiologia
Incidência de acidentes desconhecida. A hipersensibilidade
provocada por picada de insetos tem sido estimada em 0,4-10%.
As reações alérgicas tendem a ocorrer em adultos e nos
indivíduos profissionalmente expostos. Os relatos de acidentes
graves e de mortes pela picada de abelhas africanizadas são
conseqüência da maior agressividade dessa espécie (ataques
maciços) e não das diferenças de composição da sua peçonha.
Abelhas
Ferrão dividido em uma
estrutura muscular e quitinosa,
responsável pela introdução do
ferrão e da peçonha e outra
glandular, que secreta e
armazena a peçonha.
Padrão de utilização do ferrão:
com autotomia e sem
autotomia.
Com autotomia injetam mais
peçonha e morrem.
Sem autotomia o ferrão pode
ser utilizado várias vezes.
Abelhas
Distribuição geográfica
As abelhas de origem alemã (Apis mellifera mellifera) foram
introduzidas no Brasil em 1839.
Em 1870, foram trazidas as abelhas italianas (Apis mellifera
ligustica), principalmente ao sul do Brasil.
Em 1956, foram introduzidas as abelhas africanas (Apis mellifera
scutellata).
As abelhas africanas e seus híbridos com as abelhas européias
são responsáveis pela formação das chamadas abelhas
africanizadas que, hoje, dominam toda a América do Sul, a
América Central e parte da América do Norte.
O deslocamento destas abelhas foi mais rápido no Nordeste do
Brasil, onde o clima é tropical seco.
Abelhas
Ações da peçonha
Hialuronidases e PLAs, peptídeos ativos como melitina e a
apamina, aminas como histamina e serotonina entre outras. PLA2
e melitina (75% peçonha) Bloqueio neuromuscular, paralisia
respiratória, lisam membranas. Apamina (2%) neurotoxina de
ação motora. Cardiopeptídeo propriedades antiarrítmicas.
Peptídeo MCD (fator degranulador de mastócitos) liberação de
histamina e 5HT.
Quadro clínico
Manifestações clínicas: alérgicas (mesmo com uma só picada) e
tóxicas (múltiplas picadas).
Abelhas
Manifestações
Locais dor aguda local, que tende a desaparecer
espontaneamente em poucos minutos, deixando vermelhidão,
prurido e edema por várias horas ou dias. A intensidade desta
reação inicial causada por uma ou múltiplas picadas deve alertar
para um possível estado de sensibilidade e exacerbação de
resposta às picadas subseqüentes.
Abelhas
Regionais Eritema, prurido e
edema, este pode ser tão
exuberante a ponto de limitar a
mobilidade do membro.
Abelhas
Sistêmicas Anafilaxia, cefaléia, vertigens e calafrios, agitação
psicomotora, sensação de opressão torácica, prurido
generalizado, eritema, urticária e angioedema. Rinite, edema de
laringe e pulmonar. Náuseas, cólicas abdominais ou pélvicas,
vômitos e diarréia. Hipotensão. Palpitações e arritmias cardíacas
e, quando há lesões preexistentes (arteriosclerose), infartos
isquêmicos no coração ou cérebro.
Reações alérgicas tardias ocorrem vários dias após a(s)
picada(s).
Abelhas
Manifestações tóxicas
Ataque múltiplo de abelhas (+ 500
picadas) desenvolve-se um quadro
tóxico generalizado: síndrome de
envenenamento. Hemólise
intravascular e rabdomiólise.
Alterações neurológicas como
torpor e coma, hipotensão arterial,
oligúria/anúria e insuficiência renal
aguda podem ocorrer.
Abelhas
Complicações As reações de hipersensibilidade podem ser
desencadeadas por uma única picada e levar o acidentado à
morte, em virtude de edema de glote ou choque anafilático.
Síndrome de envenenamento distúrbios graves
hidroeletrolíticos e do equilíbrio ácido-básico, anemia aguda pela
hemólise, depressão respiratória e insuficiência renal aguda são
as complicações mais freqüentemente relatadas.
Exames complementares
Não há exames específicos para o diagnóstico. Exame de urina e
hemograma completo.
Abelhas
Tratamento
Remoção dos ferrões raspagem com lâmina e não pelo
pinçamento de cada um deles, pois a compressão poderá
espremer a glândula ligada ao ferrão e inocular no paciente a
peçonha ainda existente.
Analgésicos e tratamento para reações alérgicas.
Abelhas
Complicações
Não há antiveneno de abelha.
Choque anafilático, insuficiência respiratória e insuficiência renal
aguda devem ser tratados de maneira rápida e vigorosa.
Pacientes vítimas de enxames devem ser mantidos em Unidades
de Terapia Intensiva, em razão da alta mortalidade observada.
Vespa
Synoeca cyanea (marimbondo-tatu) e Pepsis fabricius
(marimbondo-cavalo) em todo o território nacional.
Peçonha pouco conhecida. Produzem hipersensibilidade. Não
deixam o ferrão no local da picada.
Efeitos locais e sistêmicos semelhantes aos das abelhas, porém
menos intensos.
Formigas
Hymenoptera, Formicoidea. Algumas sp são portadoras de um
aguilhão abdominal ligado a glândulas de peçonha. A picada
pode ser muito dolorosa e pode provocar anafilaxia, necrose e
infecção secundária.
Formiga tocandira, cabo-verde vinte-e-quatrohoras (3 cm),
negra, Norte e Centro-Oeste. Picada muito dolorosa e pode
provocar edema e eritema local, e ocasionalmente fenômenos
sistêmicos (calafrios, sudorese, taquicardia).
Formigas de correição, ocorrem na selva amazônica. Picada é
pouco dolorosa.
De interesse médico formigas-de-fogo ou lava-pés (gênero
Solenopsis) e as formigas saúvas (gênero Atta).
Formiga lava-pés
Peçonha produzida em uma
glândula conectada ao ferrão e
cerca de 90% constituída de
alcalóides oleosos, onde a
fração mais importante é a
Solenopsin A, de efeito
citotóxico.
A morte celular provocada pela
peçonha promove diapedese
de neutrófilos no ponto de
ferroada.
Formiga lava-pés
Eritema, vesículas e pústulas
em paciente picado por formiga
Solenopsis (lava-pés)
(Foto: Acervo HVB/IB)
Formiga lava-pés
Complicações Processos alérgicos podem ocorrer, sendo
inclusive causa de óbito.
Diagnóstico O diagnóstico é basicamente clínico.
Tratamento Uso imediato de compressas frias locais, seguido
da aplicação de corticóides tópicos. Analgesia e uso de anti-
histamínicos por via oral.
Anafilaxia ou reações respiratórias do tipo asmático são
emergências que devem ser tratadas prontamente.
Lepidópteros
Forma larvária e adulta:
Dermatite urticante
a) contato com lagartas urticantes de vários gêneros;
b) contato com cerdas da mariposa Hylesia sp.
Periartrite falangeana por pararama
Síndrome hemorrágica por Lonomia sp
Epidemiologia
Os acidentes por lepidópteros têm sido, de modo geral,
subnotificados.
Lepidópteros
Formas larvárias
Quase 100% acidentes: contato com lagartas, recebendo esse
tipo de acidente a denominação de erucismo (erucae = larva),
onde a lagarta é também conhecida por taturana ou tatarana,
denominação tupi que significa semelhante a fogo (tata = fogo,
rana = semelhante).
As principais famílias de lepidópteros causadoras de erucismo
são Megalopygidae, Saturniidae e Arctiidae.
Megalopygidae
Sauí, lagarta-de-fogo,
chapéu-armado,
taturanagatinho,
taturana-de-flanela.
Cerdas verdadeiras,
pontiagudas contendo as
glândulas basais de
peçonha.
Cerdas mais longas,
coloridas e inofensivas.Megalopygidae - Podalia sp
(Foto: R. Moraes).
Saturniidae
“Espinhos” ramificados e
pontiagudos de aspecto
arbóreo, com glândulas de
peçonha nos ápices.
Apresentam tonalidades
esverdeadas, exibindo no dorso
e laterais, manchas e listras,
características de gêneros e
espécies. Muitas vezes
mimetizam as plantas que
habitam.
Saturnídeo - Automeris sp.
(Foto: R. Moraes)
Saturnídeo - Lonomia
Orugas ou rugas (Sul do Brasil), beijus-de-tapuru-de-
seringueira (norte do Brasil).
Causadoras de síndrome hemorrágica.
Colônia de Lonomia sp
(Foto: V. Haddad Jr.)Lonomia obliqua. (R. Moraes)
Arctiidae
Lagartas Premolis semirufa, causadoras da pararamose.
Premolis semirufa. (R. Moraes)
Formas adultas (mariposas-da-coceira)
Somente fêmeas adultas do
gênero Hylesia sp
(Saturniidae) apresentam
cerdas no abdome que, em
contato com a pele, causam
dermatite
papulopruriginosa.
Hylesia paulex. (Foto: R. Moraes)
Dermatite urticante
Lagartas de vários gêneros
Acidente muito comum em todo o Brasil, em geral, de curso
agudo e evolução benigna. Fazem exceção os acidentes com
Lonomia sp.
Ações da peçonha
Não se conhece exatamente como agem as peçonhas das
lagartas. Atribui-se ação aos líquidos da hemolinfa e da secreção
das espículas, tendo a histamina o principal componente
estudado até o momento.
Dermatite urticante
Quadro clínico
Manifestações do tipo dermatológico,
dependendo da intensidade e extensão
do contato.
Dor local intensa, edema, eritema e,
eventualmente, prurido local. Existe
infartamento ganglionar regional
característico e doloroso. Nas primeiras
24 h, a lesão pode evoluir com
vesiculação e, mais raramente, com
formação de bolhas e necrose na área
do contato.
Acidente com lagarta na mão
e tronco: edema, eritema nas
áreas
de contato. (Acervo HVB/IB)
Dermatite urticante
Complicações
O quadro local de boa evolução, regredindo no máximo em 2-3
dias sem maiores complicações ou seqüelas.
Tratamento→→→→ compressas frias; anestésico local; elevação do
membro acometido; corticosteróides tópicos; anti-histamínico
oral.
Por causa da possibilidade de se tratar de acidente hemorrágico
por Lonomia sp, todo o paciente que não trouxer a lagarta para
identificação deve ser orientado para retorno, no caso de
apresentar sangramentos até 48 h após o contato.
Dermatite urticante - mariposa Hylesia sp
Fêmeas de mariposas de Hylesia sp têm causado surtos de
dermatite papulopruriginosa. As mariposas, atraídas pela luz,
invadem os domicílios e, ao se debaterem, liberam no ambiente
as espículas que, atingindo a superfície cutânea, podem causar
quadros de dermatite aguda.
Ações da peçonha
Além do trauma mecânico provocado pela introdução das
espículas, postula-se a presença de fatores tóxicos que, até
agora, praticamente não foram estudados.
Mariposa Hylesia sp
Quadro clínico
Lesões papulopruriginosas logo
após contato com as cerdas.
Intenso prurido e cura após 7-14.
Tratamento
Anti-histamínicos, via oral,
compressas frias, banhos de amido
e, eventualmente, cremes à base de
corticosteróides.
Acidente por Hylesia sp: lesões
pápulo-pruriginosas extensas por
contato há sete dias. (Foto: Acervo
HVB/IB)
Periartrite falangeana - pararama
Pararamose ou reumatismo dos seringueiros →larva da
mariposa Premolis semirufa, “pararama”.
Restritos à Amazônia (seringais)
> 90% acidentes comprometem as mãos, originando lesões
crônicas que comprometem as articulações falangeanas, levando
a deformidades com incapacidade funcional.
Ações da peçonha
A reação granulomatosa e fibrose do tecido cartilaginoso e
bainhas do periósteo → ação mecânica das cerdas e/ou à
existência de secreções protéicas no interior dessas cerdas.
Periartrite falangeana - pararama
Tratamento
Não há conduta terapêutica
específica.
Tratamento imediato, ~ ao
descrito para dermatite por
contato.
Formas crônicas, com
artropatia, deverão ter
acompanhamento
especializado.Quadro crônico de pararamose:
tumefação de articulação
interfalangeana distal do dedo
médio. (Foto: R. M. Costa)
Síndrome hemorrágica - Lonomia
Principalmente na região Sul, atingindo principalmente
trabalhadores rurais. Há registros em SP e GO.
Ações da peçonha
Mecanismo síndrome hemorrágica não está esclarecido.
PLA2, substância caseinolítica e ativadora de complemento. Ação
pró-coagulante moderada. Diminuição dos níveis de fator XIII,
responsável pela estabilização da fibrina e controle da fibrinólise.
Não se observa alteração nas plaquetas.
Síndrome hemorrágica - Lonomia
Quadro clínico
Constitui a forma mais grave do erucismo.
Local→ Dermatite urticante
Gerais → cefaléia holocraniana, mal-estar geral, náuseas e
vômitos, ansiedade, mialgias, dores abdominais, hipotermia,
hipotensão.
Equimoses, hematomas espontâneos ou provocados por trauma
ou em lesões cicatrizadas, hemorragias de mucosas, hematúria
macroscópica, sangramentos em feridas recentes, hemorragias
intra-articulares, abdominais, pulmonares, glandulares (tireóide,
glândulas salivares) e hemorragia intraparenquimatosa cerebral.
Síndrome hemorrágica - Lonomia
Equimoses espontâneas à distância
pós contato com Lonomia sp. (Foto:
A. Duarte)
Hematúria macroscópica
(Foto: A. Duarte)
Síndrome hemorrágica - Lonomia
Síndrome hemorrágica - Lonomia
Complicações→→→→ insuficiência renal aguda (5% dos casos).
Exames complementares →→→→ coagulograma, diminuição
acentuada do fibrinogênio plasmático, elevação de produtos de
degradação do fibrinogênio e fibrina, no. plaquetas normal.
Diagnóstico
Não existem métodos diagnósticos específicos. O diagnóstico
diferencial com as dermatites urticantes provocadas por outros
lepidópteros deve ser feito pela história clínica, identificação do
agente e presença de distúrbios hemostáticos.
Síndrome hemorrágica - Lonomia
Tratamento
Local→ ~ a dermatite urticante
Manifestações hemorrágicas → repouso, evitando-se traumas
mecânicos. Agentes antifibrinolíticos. Correção da anemia por
meio da administração de concentrado de hemácias. Sangue
total ou plasma fresco são contra-indicados pois podem
acentuar o quadro de coagulação intravascular.
Soro antilonômico (SALon) começa a ser produzido em pequena
escala, estando em fase de ensaios clínicos, de utilização
restrita.
Coleópteros
Coleópteros de importância médica
No Brasil, acidentes por besouros do gênero Paederus
(Coleoptera, Staphylinidae) nas regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste e pelo gênero Epicauta (Coleoptera, Meloidae) no
estado de São Paulo.
O gênero Paederus (potó, trepa-moleque, péla-égua, fogo-
selvagem) compõe-se de pequenos besouros de corpo
alongado, medindo de 7-13 mm; possuem élitros curtos, que
deixam descoberta mais da metade do abdome. Vivem em
lugares úmidos, arrozais, culturas de milho e algodão.
Coleópteros
Paederus amazonicus, P.
brasiliensis, P. columbinus,
P. fuscipes e P. goeldi.
Predam outros insetos,
nematódeos e girinos.
Defendem-se com as
mandíbulas, ao mesmo
tempo em que encurvam o
abdome, provavelmente
também para acionar a
secreção das glândulas
pigidiais.
Paederus sp (Potó). (R. Moraes)
Coleópteros
Potó-grande, potó-pimenta,
papa-pimenta, caga-fogo e
caga-pimenta correspondem
ao gênero Epicauta, as
cantáridas do Novo Mundo,
também dotadas de
propriedades vesicantes
(atribuídas à cantaridina) sendo
causadoras de lesões menos
evidentes, que regridem em
cerca de 3 dias.
Epicauta sp.
Coleópteros
Ações do veneno
Hemolinfa e secreção glandular do potó→ potente toxina de
contato, pederina, de ação cáustica e vesicante. Trata-se de uma
amida cristalina, de ação inibidora do DNA, bloqueando a mitose.
Adultos, ovos e larvas contêm a toxina.
Quadro clínico
Sensação de ardor contínuo
Os dedos que friccionaram o inseto podem levar a toxina a outras
áreas, inclusive à mucosa conjuntival, provocando dano ocular
(conjuntivite, blefarite, ceratite esfoliativa, irite).
ColeópterosLeve → discreto eritema.
Moderado → marcado eritema,
ardor e prurido, vesículas que
se alargam gradualmente (48h).
Estádio escamoso, vesículas
secam (8 dias), deixando
manchas pigmentadas (1 mês
ou +).
Grave → contato com vários
espécimes. Febre, dor local,
artralgia e vômitos. O eritema
pode persistir por meses.
Infecção secundária
Acidente por Epicauta sp.
(Foto: N. Dillon)
Coleópteros
Tratamento
Lavar imediatamente as áreas atingidas, com abundante água
corrente e sabão. Nas lesões instaladas, utilizar banhos anti-
sépticos com permanganato e antimicrobianos tópicos. A tintura
de iodo destrói a pederina, mas deve ser empregada
precocemente.
Em caso de contato com os olhos, deve-se lavar o local com
água limpa e abundante.
Ictismo
Peixes marinhos ou fluviais.
Acidentes acantotóxicos (arraias, p.e.)→ caráter necrosante e a
dor é o sintoma proeminente.
Peçonha das arraias: 5-HT e peptídeos de alta MW, como
fosfodiesterase e 5-nucleotidase. Termolábil.
Acidentes sarcotóxicos → ingestão de peixes e frutos do mar.
Os baiacus possuem TTX, podendo provocar paralisia
consciente e óbito por falência respiratória. Peixes que se
alimentam do dinoflagelado Gambierdiscus toxicus podem ter
acúmulo progressivo de ciguatoxina nos tecidos, provocando o
quadro denominado ciguatera.
Ictismo
Acidentes escombróticos → acontecem quando bactérias
provocam descarboxilação da histidina na carne de peixes
malconservados, produzindo a toxina saurina, capaz de liberar
histamina em seres humanos.
Acúmulo de metil-mercúrio em peixes pescados em águas
contaminadas podem produzir quadros neurológicos em
humanos, quando houver ingestão crônica. Doença de
Minamata.
Ictismo
Ictismo - peixes acantotóxicos
Os peixes acantotóxicos possuem espinhos ou ferrões
pontiagudos e retrosserrilhados, envolvidos por bainha de
tegumento sob a qual estão as glândulas de peçonha existentes
nas nadadeiras dorsais, peitorais ou na cauda, com exceção do
niquim, cujas glândulas estão na base dos ferrões.
Bagres (Bagre bagre, B. marinus, etc), mandi (Genidens
genidens, Pimelodella brasiliensis), peixe escorpião, beatinha
ou mangangá (Scorpaena brasiliensis, S. plumeri), niquim ou
peixe sapo (Thalassophryne natterreri, T. amazonica) e arraias.
Ictismo - peixes acantotóxicos
Arraias marinhas (Dasyatis guttatus, D. americana, Gymnura
micrura, etc) e fluviais (Potamotrygon hystrix, P. motoro)
Potamotrygon sp: arraia fluvial. (Foto:
P. Pardal)
Duplo ferrão de arraia.
(Foto: P. Pardal)
Ictismo- peixes sarcotóxicos
Contém toxinas termoestáveis na pele, músculos, vísceras e
gônadas.
Acidente tetrodontóxico→→→→ baiacus (Tetraodontidae):
Colomesus psittacus, Lagocephalus laevigatus, Diodon hystrix,
etc.).
Acidentes ciguatóxicos →→→→ ciguatera, principalmente no
Oceano Pacífico e são causados por peixes comestíveis como:
garoupa (Cephalopholis argus), barracuda (Sphyraena
barracuda), bicuda (Sphyraena picudilla), etc., contaminados pela
ciguatoxina.
Ictismo - acidentes traumáticos
Acidentes traumáticos→→→→ causados por dentes, rostros e
acúleos sem ligação com glândulas de peçonha. Exemplos:
espadarte (Xiphias gladius), piranhas (fam. Serrasalmidae) e
tubarões.
Os candirus (Vandellia cirrhosa) são peixes pequenos e que
podem penetrar em qualquer orifício natural de banhistas nos rios
da Amazônia.
Acidentes por descarga elétrica são provocados por contato
com peixes que possuem órgãos capazes de produzir
eletricidade. Exemplos: poraquê (Electrophorus electricus) e
arraia treme-treme (Narcine brasiliensis).
Colomesus psitacus
Cephalopholis argus
Xiphias gladius
Electrophorus
electricus
Ictismo - Acantotóxico
Quadro clínico
Ferimento, dor imediata e intensa.
Eritema e edema regionais. Casos
graves: linfangite, reação
ganglionar, abscedação e necrose
tecidual no local.
Lesões não tratadas: infeção
bacteriana.
Manifestações gerais: fraqueza,
sudorese, náuseas, vômitos,
vertigens, hipotensão, choque e
até óbito.
Acidente por arraia fluvial com
cinco dias de evolução. (Foto: P.
Pardal)
Ictismo - Sarcotóxico
Manifestações→→→→ neurológicas e gastrintestinais.
Neurológicas: Sensação de formigamento da face, lábios, dedos
das mãos e pés, fraqueza muscular, mialgias, vertigens, insônia,
dificuldade de marcha e distúrbios visuais. Agravamento:
convulsões, dispnéia, parada respiratória e morte, que pode
ocorrer nas primeiras 24 horas.
Gastrintestinal:náuseas, vômitos, dores abdominais e diarréia.
A recuperação clínica do envenenamento por peixes pode se
estender de semanas a meses.
Ictismo
Escombróticos→→→→ Sintomatologia semelhante à intoxicação
causada pela histamina: cefaléia, náuseas, vômitos, urticária,
rubor facial, prurido e edema de lábios.
Intoxicação mercurial →→→→ Doença de Minamata, de alterações
principalmente neurotóxicas, com distúrbios sensoriais das
extremidades e periorais, incoordenação motora, disartrias,
tremores, diminuição do campo visual e auditivo, salivação, etc.
Ictismo
Tratamento
Acidente traumatogênico ou acantotóxico: objetiva o alívio da
dor, o combate dos efeitos da peçonha e a prevenção de
infecção secundária.
Acidente por ingestão de peixes tóxicos: Tratamento de
suporte. Lavagem gástrica e laxante. Insuficiência respiratória e o
choque devem ser tratados com medidas convencionais. Nos
acidentes escombróticos está indicado o uso de anti-histamínico.
Ictismo
Prognóstico
Acidentes acantotóxicos e traumatogênicos→ favorável,
mesmo nos casos com demora da cicatrização, com exceção dos
acidentes provocados por arraias e peixes escorpião, cujo
prognóstico pode ser desfavorável.
Acidentes tetrodontóxico e ciguatóxico → prognóstico é
reservado e a taxa de letalidade pode ultrapassar 50% e 12%,
respectivamente.
Acidentes escombróticos → bom.
Celenterados
Tentáculos com nematocistos→ injeta peçonha
Anthozoa: anêmonas e corais. Acidentes pouco freqüentes e de
pouca gravidade
Acidentes mais importantes:
Hydrozoa: são as hidras (pólipos fixos) e colônias de pólipos de
diferenciação maior (caravelas ou Physalias).
Scyphozoa: medusas ou águas-vivas.
Celenterados
Chiropsalmus
quadrumanus Physalia physalis
A caravela (Physalia) é sem dúvida a responsável pelo
maior número e pela maior gravidade dos acidentes
desse gênero no Brasil
Celenterados
• Nematocisto
Celenterados
Ações da peçonha
Ações enzimáticas, neurotóxicas (arritmias sérias, altera o tônus
vascular e pode levar à insuficiência respiratória por congestão
pulmonar) e hemolítica (Physalia).
Quadro clínico
Manifestações locais→→→→ ardência e dor intensa no local.
Manifestações sistêmicas →→→→ casos mais graves: cefaléia, mal-
estar, náuseas, vômitos, espasmos musculares, febre, arritmias
cardíacas.
Celenterados
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico.
Padrão linear edematoso é
muito sugestivo, se
acompanhado de dor
aguda e intensa.
Lesões eritematosas lineares
dois dias após contato com
“água-viva”.
(Foto: Acervo HVB/IB)
Celenterados
Tratamento
Fase 1→→→→ repouso do segmento afetado.
Fase 2 →→→→ retirada de tentáculos aderidos: a descarga de
nematocistos é contínua e a manipulação errônea aumenta o
grau de envenenamento. Não usar água doce para lavar o local
(descarrega nematocistos por osmose) ou esfregar panos secos
(rompe os nematocistos). Os tentáculos devem ser retirados
suavemente levantando-os com a mão enluvada, pinça ou bordo
de faca. O local deve ser lavado com água do mar.
Celenterados
Tratamento
Fase 3 →→→→- inativação da peçonha: ácido acético a 5% (vinagre
comum), aplicado no local, por no mínimo 30 min.
Fase 4 →→→→ retirada de nematocistos remanescentes: deve-se
aplicar uma pasta de bicarbonato de sódio, talco e água do mar
no local, esperar secar e retirar com o bordo de uma faca.
Fase 5 →→→→ bolsa de gelo ou compressas de água do mar fria por 5
a 10 minutos e corticóides tópicos duas vezes ao dia aliviam os
sintomas locais. A dor deve ser tratada com analgésicos.

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Toxinologia

  • 1. Elisabeth Ferroni Schwartz Laboratório de Toxinologia Departamento de Ciências Fisiológicas Instituto de Ciências Biológicas - UnB ANIMAIS PEÇONHENTOS NO BRASILANIMAIS PEÇONHENTOS NO BRASIL
  • 2. Considerações iniciais • Toxinologia toxinas • Veneno: combinado de toxinas • Veneno x peçonha
  • 3. Instituto Butantan - SP Fundação Ezequiel Dias - MG Instituto Vital Brazil - RJ Centro de Produção e Pesquisa em Imunobiológicos - PR Ministério da Saúde Secretarias Estaduais de Saúde Pontos estratégicos Regionais de saúde Secretarias Municipais de Saúde
  • 4. ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOSACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS Brasil, 2001 a 2004Brasil, 2001 a 2004 Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05) Dados sujeitos a revisão 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 nºcasos 2001 19442 17922 11175 437 3692 2666 2002 24975 21781 12894 275 4814 2535 2003 28130 24653 17477 323 6083 2314 2004 23137 23096 14437 364 6195 2176 Serpente Escorpião Aranha Lonomia Outros Ign/branco
  • 6. Características dos gêneros de serpentes peçonhentas no Brasil
  • 7. As serpentes do gênero Micrurus não apresentam fosseta loreal e possuem dentes inoculadores pouco desenvolvidos e fixos na região anterior da boca
  • 8.
  • 16. Acidente Botrópico Acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país cerca de 90% dos envenenamentos Ações da peçonha Proteolítica Lesões locais, edema, bolhas e necrose patogênese complexa: proteases, hialuronidases e PLA2 , liberação de mediadores da resposta inflamatória, ação das hemorraginas sobre o endotélio vascular e ação pró-coagulante. Ação coagulante Ativa fator X e protrombina e tem ação semelhante à trombina incoagulabilidade sangüínea. Ação hemorrágica Hemorraginas que provocam lesões na membrana basal dos capilares, associadas à plaquetopenia e alterações da coagulação.
  • 17. Acidente Botrópico Quadro clínico Manifestações locais dor e edema no local da picada, de intensidade variável e, em geral, de instalação precoce e caráter progressivo. Equimoses e sangramentos no ponto da picada são freqüentes. Infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução, acompanhados ou não de necrose. Manifestações sistêmicas Além de sangramentos em ferimentos cutâneos pré-existentes, podem ser observadas hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e s acidentes
  • 18. Acidente Botrópico Leve dor e edema local pouco intenso ou ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do Tempo de Coagulação. Moderado dor e edema evidente ultrapassando a região da picada, acompanhados ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hermatúria. Grave edema local intenso e extenso, podendo atingir todo o membro picado, acompanhado de dor intensa e, eventualmente com presença de bolhas. O edema pode levar à isquemia local devido à compressão de vasos e nervos. Hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas.
  • 19. Acidente Botrópico Complicações Locais Síndrome Compartimental isquemia de extremidades provocada pelo edema. Manifestações mais importantes: dor intensa, parestesia, queda na temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor. Abscesso Ação “proteolítica” favorece o aparecimento de infecções locais. Necrose é devida principalmente à ação “proteolítica” do veneno, associada à isquemia local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial, síndrome de compartimento ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior nas picadas em extremidades (dedos) podendo evoluir para gangrena
  • 20. Acidente Botrópico Complicações Sistêmicas Choque casos graves. Sua patogênese é multifatorial, podendo decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do seqüestro de líquido na área do edema e de perdas por hemorragias. Insuficiência Renal Aguda (IRA) também de patogênese multifatorial, pode decorrer da ação direta da peçonha sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque.
  • 21. Acidente Botrópico Exames complementares Tempo de Coagulação (TC) fácil execução e importante na elucidação diagnóstica Hemograma leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e plaquetopenia de intensidade variável. Exame sumário de urina pode haver proteinúria, hemafúria e leucocitúria. Outros exames laboratoriais eletrólitos, uréia e creatinina, visando à detecção da insuficiência renal aguda. Métodos de imunodiagnóstico técnica de ELISA
  • 22. Acidente Botrópico Tratamento Específico soro antibotrópico (SAB) i.v. Na falta deste, soro antibotrópico-crotálico (SABC) ou antibotrópicolaquética (SABL). Geral Manter elevado e estendido o segmento picado; Analgésicos; Hidratação; Antibioticoterapia. Tratamento das complicações locais diagnóstico + de síndrome de compartimento: fasciotomia, debridamento de áreas necrosadas e drenagem de abscessos Prognóstico Geralmente é bom. A letalidade nos casos tratados é baixa (0,3%). Há possibilidade de ocorrer seqüelas locais anatômicas ou funcionais.
  • 25. Acidente Crotálico 7,7% dos acidentes ofídicos no Brasil. 30% em algumas regiões. Maior coeficiente de letalidade devido à freqüência com que evolui para insuficiência renal aguda (IRA). Ações da peçonha Ação neurotóxica Crotoxina, neurotoxina de ação pré- sináptica que inibe a liberação de Ach: paralisias motoras. Ação miotóxica Lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise) com liberação de enzimas e mioglobina para o soro e que são posteriormente excretadas pela urina. Ação coagulante Atividade do tipo trombina. Incoagulabilidade sangüínea. Geralmente não há redução do número de plaquetas. As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas.
  • 26. Acidente Crotálico Quadro clínico Manifestações locais Pouco importantes. Não há dor. Há parestesia local ou regional, podendo ser acompanhada de edema discreto ou eritema no ponto da picada. Manifestações sistêmicas Gerais mal-estar, prostração, sudorese, náusea, vômito, sonolência ou inquietação e secura da boca. Neurológicas Ação neurotóxica da peçonha: fácies miastênica (fácies neurotóxica de Rosenfeld) evidenciadas por ptose palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face, alteração do diâmetro pupilar, incapacidade de movimentação do globo ocular (oftalmoplegia), podendo existir dificuldade de acomodação (visão turva) e/ou visão dupla (diplopia). Pode ocorrer paralisia velopalatina, com dificuldade à deglutição, diminuição do reflexo do vômito, alterações do paladar e olfato.
  • 27. Acidente Crotálico Acidente grave em criança de seis anos, atendida três horas após a picada: ptose palpebral bilateral (Foto: F. Bucaretchi).
  • 28. Acidente Crotálico Manifestações sistêmicas Musculares dor muscular generalizada (mialgias). Fibra muscular esquelética lesada: liberação de mioglobina que é excretada pela urina (mioglobinúria), conferindo-lhe uma cor avermelhada ou de tonalidade mais escura, até o marrom. A mioglobinúria constitui a manifestação clínica mais evidente da necrose da musculatura esquelética (rabdomiólise). Coleta de urina seqüencial entre a admissão e 48 h após acidente: urina escura com mioglobinúria
  • 29. Acidente Crotálico Manifestações sistêmicas Distúrbios da Coagulação incoagulabilidade sangüínea ou aumento do Tempo de Coagulação, em 40% dos pacientes, observando-se raramente sangramentos restritos às gengivas (gengivorragia). Manifestações clínicas pouco freqüentes Insuficiência respiratória aguda, fasciculações e paralisia de grupos musculares têm sido relatadas. Tais fenômenos são interpretados como decorrentes da atividade neurotóxica e/ou da ação miotóxica do veneno.
  • 30. Acidente Crotálico Complicações Locais parestesias locais duradouras, reversíveis após algumas semanas. Sistêmicas insuficiência renal aguda, com necrose tubular geralmente de instalação nas primeiras 48 horas. Exames complementares Sangue creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH), aspartase-amino-transferase (AST), aspartase-alanino-transferase (ALT), aldolase, uréia, creatinina, ác úrico, fósforo, potássio e calcemia. Tempo de Coagulação >. Leucocitose, com neutrofilia e desvio à esquerda. Urina sedimento urinário normal quando não há IRA e proteinúria discreta. Com IRA, hematúria. Presença de mioglobina.
  • 31. Acidente Crotálico Tratamento Específico Soro anticrotálico, i.v. Pode ser utilizado soro antibotrópico-crotálico (SABC). Geral Hidratação adequada é fundamental na prevenção da IRA. A diurese osmótica pode ser induzida com manitol a 20%. Caso persista oligúria: uso de diuréticos de alça tipo furosemida. O pH urinário deve ser > de 6,5 (urina ácida potencia a precipitação intratubular de mioglobina), portanto, alcalinação da urina pela administração parenteral de bicarbonato de sódio. Prognóstico Bom nos acidentes leves e moderados e nos pacientes atendidos até 6 horas após a picada. Nos acidentes graves, depende da existência de IRA. A evolução do quadro depende de diálise eficiente, em tempo hábil.
  • 32.
  • 34. Acidente Laquético Informações disponíveis sobre acidentes são raras: distribuição geográfica. Os acidentes por Lachesis são raros, mesmo na região Amazônica. Ações da peçonha Ação proteolítica Lesão tecidual (~ botrópico) Ação coagulante atividade tipo trombina Ação hemorrágica intensa atividade hemorrágica (hemorraginas) Ação neurotóxica É descrita uma ação do tipo estimulação vagal, porém ainda não caracterizada.
  • 35. Acidente Laquético Quadro clínico Manifestações locais ~ botrópico: dor e edema, que podem progredir para todo o membro. Podem surgir vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico logo após o acidente. Hemorragia local. Manifestações sistêmicas Hipotensão arterial, tonturas, escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais e diarréia (síndrome vagal). Acidentes laquéticos são classificados como moderados e graves. Grande porte do animal e qtidade de peçonha injetada. Complicações ~ botrópico (síndrome compartimental, necrose, infecção secundária, abscesso, déficit funcional)
  • 36. Acidente Laquético Exames complementares Tempo de Coagulação (TC), hemograma, dosagens de uréia, creatinina e eletrólitos. ELISA vem sendo utilizado em caráter experimental. Diagnóstico diferencial Acidentes botrópico x laquético: manifestações da “síndrome vagal”. Maioria dos acidentes referidos pelos pacientes como causados por Lachesis é do gênero botrópico (ELISA). Tratamento Tratamento específico Soro antilaquético (SAL), ou antibotrópico-laquético (SABL), na ausência dos 2, soro antibotrópico (não neutraliza de maneira eficaz a ação coagulante do veneno laquético). Tratamento geral Mesmas medidas indicadas para o acidente botrópico.
  • 37.
  • 41. Acidente Elapídico 0,4% dos acidentes por serpentes peçonhentas no Brasil. Pode evoluir para insuficiência respiratória aguda, causa de óbito neste tipo de envenenamento. Ações da peçonha (neurotóxica) NTX de ação pós-sináptica presente em todas sps estudadas. Proteínas de baixo MW, rapidamente distribuídas para os tecidos: precocidade dos sintomas de envenenamento. As NTXs competem com Ach pelos receptores colinérgicos da junção neuromuscular, atuando de modo semelhante ao curare. Nos envenenamentos onde predomina essa ação (M. frontalis), o uso de substâncias anticolinesterásticas (edrofônio e neostigmina) pode prolongar a vida média do neurotransmissor (Ach), levando a uma rápida melhora da sintomatologia.
  • 42. Acidente Elapídico Ações da peçonha (neurotóxica) NTX de ação pré-sináptica Presentes em algumas corais (M. coralliunus) e também em alguns viperídeos, como a cascavel sulamericana. Atuam na junção neuromuscular, bloqueando a liberação de Ach pelos impulsos nervosos, impedindo a deflagração do potencial de ação. Esse mecanismo não é antagonizado pelas substâncias anticolinesterásicas.
  • 43. Acidente Elapídico Quadro clínico Manifestações locais Discreta dor local, parestesia Manifestações sistêmicas Inicialmente, vômitos. Posteriormente, fraqueza muscular progressiva, ocorrendo ptose palpebral, oftalmoplegia e a presença de fácies miastênica ou “neurotóxica”. Dificuldade para manutenção da posição ereta, mialgia localizada ou generalizada e dificuldade para deglutir em virtude da paralisia do véu palatino. A paralisia flácida da musculatura respiratória compromete a ventilação, podendo haver evolução para insuficiência respiratória aguda e apnéia.
  • 45. Acidente Elapídico Exames complementares Não há exames específicos para o diagnóstico. Tratamento Tratamento específico Soro antielapídico (SAE), i.v. Todos os casos de acidente por coral com manifestações clínicas devem ser considerados como potencialmente graves. Tratamento geral Nos casos de insuficiência respiratória: ventilação artificial. Anticolinesterásicos (neostigmina) em acidentes por M. frontalis, M. lemniscatus).
  • 46.
  • 47. 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MT MS GO DF númeroacidentes MÉDIA ANUAL DE ACIDENTES OFÍDICOSMÉDIA ANUAL DE ACIDENTES OFÍDICOS por Unidade Federada, 2001 a 2004por Unidade Federada, 2001 a 2004 Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05)
  • 48. tipo de acidente n % n % botrópico 59.619 73,1 65.697 68,7 crotálico 5.072 6,2 6.959 7,3 laquético 939 1,2 2.170 2,3 elapídico 281 0,3 486 0,5 não-peçonhento 2.361 2,9 2.160 2,3 ignorado 13.339 16,3 18.212 19,0 total 81.611 100,0 95.684 100,0 1990-3 2001-4 TIPO DE ACIDENTETIPO DE ACIDENTE BRASILBRASIL -- 19901990--3 e 20013 e 2001--44 Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05)
  • 49. a cide nte óbito tota l le ta lida de óbito tota l le ta lida de botrópic o 185 59.619 0,31 243 65.697 0,37 c rotálic o 95 5.072 1,87 70 6.959 1,01 laquétic o 9 939 0,96 22 2.170 1,01 elapídic o 1 281 0,36 1 486 0,21 não peç . 0 2.361 0,00 0 2.160 0,00 ign 69 13.339 0,52 75 18.212 0,41 Tota l 359 81.611 0,45 411 95.684 0,43 2001-41990-3 NÚMERO DE ÓBITOS E LETALIDADENÚMERO DE ÓBITOS E LETALIDADE por tipo de acidente, 1990por tipo de acidente, 1990--3 e 20013 e 2001--44 Fonte:SINAN-Animais Peçonhentos (02/03/05)
  • 50. Escorpionismo Importantes em virtude da grande freqüência e da potencial gravidade, principalmente em crianças picadas pelo Tityus serrulatus. Epidemiologia Cerca de 8.000 acidentes/ano Minas Gerais e São Paulo responsáveis por 50% do total, com aumento significativo de casos na Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas e Ceará. Importância médica: T. serrulatus, T. bahiensis e T. stigmurus. Letalidade em 0,58%, principalmente por T. serrulatus, mais comumente em crianças menores de 14 anos.
  • 52. Escorpionismo São carnívoros: insetos, como grilos ou baratas. Hábitos noturnos. Podem sobreviver vários meses sem alimento e sem água, o que torna seu combate muito difícil.
  • 53. Tityus serrulatus Serrilha dorsal nos dois últimos segmentos (daí o nome Tityus serrulatus) Mede de 6 cm a 7 cm. Distribuição geográfica: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.
  • 54. Tityus bahiensis marrom-escuro, patas e pedipalpos com manchas escuras. Mede de 6 cm a 7 cm Distribuição geográfica: Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
  • 55. Tityus stigmurus amarelo-escuro, triângulo negro no cefalotórax, uma faixa escura longitudinal mediana e manchas laterais escuras nos tergitos. Mede de 6 cm a 7 cm Distribuição geográfica: Nordeste do Brasil.
  • 56. Tityus cambridgei Tronco e pernas escuros, quase negros Mede cerca de 8,5 cm Distribuição geográfica: região Amazônica.
  • 57. Tityus metuendus Vermelho-escuro, quase negro com manchas confluentes alaranjadas; patas com manchas amareladas; cauda da mesma cor do tronco apresentando um espessamento dos últimos dois artículos. Mede de 6 cm a 7 cm Distribuição geográfica: Amazonas, Acre e Pará.
  • 58. Tityus fasciolatus Listrado amarelo e preto. Mede de 4 cm a 8,5 cm Distribuição geográfica: Goiás e DF.
  • 59. Escorpionismo Preocupante o aumento da dispersão do Tityus serrulatus. Reprodução por partenogênese. No estado de Pernambuco (Recife), há relatos de óbitos provocados por T. stigmurus, espécie que também tem sido capturada em Alagoas. Ações da peçonha Dor local e efeitos resultantes da ação em canais iônicos (Na+), levando à liberação de catecolaminas e acetilcolina. Manifestações sistêmicas são decorrentes dos efeitos simpáticos ou parassimpáticos.
  • 60. Escorpionismo Quadro clínico→ Dor local, parestesias. Nos acidentes moderados e graves, principalmente em crianças, após intervalo de minutos até poucas horas (duas, três horas), podem surgir manifestações sistêmicas: Gerais → Hipo ou hipertermia e sudorese profusa. Digestivas → Náuseas, vômitos, sialorréia, dor abdominal e diarréia. Cardiovasculares → Arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e choque. Respiratórias → Taquipnéia, dispnéia e edema pulmonar agudo. Neurológicas → agitação, sonolência, confusão mental, hipertonia e tremores.
  • 61. Escorpionismo Os acidentes podem ser classificados como: Leves → apenas dor local e parestesias. Moderados → dor intensa no local e manifestações sistêmicas: sudorese discreta, náuseas, vômitos ocasionais, taquicardia, taquipnéia e hipertensão leve. Graves → sudorese profusa, vômitos incoercíveis, salivação excessiva, alternância de agitação com prostração, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar, choque, convulsões e coma. Os óbitos estão relacionados a complicações como edema pulmonar agudo e choque.
  • 62. Escorpionismo Exames complementares →→→→ECG pode mostrar as disfuncões cardíacas. →→→→Glicose, amilase elevados. Leucocitose com neutrofilia. Hipopotassemia e hiponatremia. →→→→ ELISA para detecção Tityus serrulatus →→→→ Nos raros casos de pacientes com hemiplegia, a tomografia cerebral computadorizada pode mostrar alterações compatíveis com infarto cerebral.
  • 63. Escorpionismo Exames complementares →→→→ Radiografia de tórax: aumento da área cardíaca e edema pulmonar agudo.
  • 64. Escorpionismo Tratamento Sintomático →→→→ Consiste no alívio da dor Específico →→→→ Consiste na administração i.v. de soro antiescorpiônico (SAEEs) ou antiaracnídico (SAAr) nos casos moderados e graves. Manutenção das funções vitais → Controle da função cardíaca e uso de respiração artificial em casos de edema pulmonar agudo.
  • 65.
  • 66. Araneísmo 3 gêneros de aranhas de importância médica: Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus. Animais carnívoros: insetos, como grilos e baratas. Muitas têm hábitos domiciliares e peridomiciliares.
  • 68. Araneísmo Epidemiologia Incremento da notificação de casos no país, notadamente nos estados do Sul. Coeficiente de incidência dos acidentes araneídicos situa-se em torno de 1,5 casos por 100.000 habitantes, com registro de 18 óbitos no período de 1990-1993. A maioria das notificações provem das regiões Sul e Sudeste.
  • 69. Phoneutria Aranhas armadeiras Medem de 3 a 4 cm de corpo e até 15 cm de envergadura de pernas. Não constroem teia geométrica, caçam à noite.
  • 70. Phoneutria Distribuição geográfica P. fera e P. reidyi - região Amazônica; P. nigriventer - Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina; P. keyserfingi - Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina.
  • 71. Foneutrismo 42,2% dos casos no Brasil, predominantemente no Sul e Sudeste. Raramente levam a um quadro grave. Acidentes ocorrem em áreas urbanas, no intra e peridomicílio. Ações da peçonha Neurotóxica (PhTx2) ativa canais de Na+ , levando à despolarização e liberação de neurotransmissores, Ach e catecolaminas. Peptídeos atuam na musc lisa vascular e na permeabilidade vascular, por ativação do sistema calicreína- cininas e de NO. Quadro clínico Predominam manifestações locais: dor imediata, edema, eritema, parestesia e sudorese no local da picada.
  • 72. Acidente por Phoneutria sp: edema em indivíduo picado há 2 h
  • 73. Foneutrismo Os acidentes são classificados em: Leves 91% dos casos. Sintomatologia local. Taquicardia e agitação, secundárias à dor. Moderados 7,5% do total de acidentes. Manifestações locais e sistêmicas, como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese discreta, agitação psicomotora, visão “turva” e vômitos ocasionais. Graves raros, 0,5% do total, restritos às crianças. Sudorese profusa, sialorréia, vômitos freqüentes, diarréia, priapismo, hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e edema pulmonar agudo. Exames complementares Acidentes graves (crianças) leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia, acidose metabólica e taquicardia sinusal.
  • 74. Foneutrismo Tratamento Sintomático Analgésico, imersão do local em água morna ou o uso de compressas quentes. Específico a soroterapia tem sido formalmente indicada nos casos com manifestações sistêmicas em crianças e em todos os acidentes graves. Prognóstico Bom. Lactentes, pré-escolares e idosos devem sempre ser mantidos em observação pelo menos por seis horas. Os óbitos são muito raros, havendo relatos de 14 mortes na literatura nacional de 1926 a 1996.
  • 75. Loxosceles Aranhas-marrons Teias irregulares Podem ter 1 cm de corpo e até 3 cm de envergadura de pernas. Não são agressivas, picando quando são comprimidas contra o corpo.
  • 76. Loxosceles Distribuição geográfica L. intermedia - predomina nos estados do sul do país; L. laeta - ocorre em focos isolados em várias regiões do país, principalmente no estado de Santa Catarina; L. gaucho - predomina no estado de São Paulo.
  • 77. Loxoscelismo Forma mais grave de araneísmo no Brasil. A maioria dos acidentes no Sul, particularmente no Paraná e Santa Catarina. O acidente atinge mais comumente adultos, com discreto predomínio em mulheres, no intradomicílio. Ações da peçonha Enzima esfingomielinase D membrana das células, principalmente do endotélio vascular e hemácias. Cascatas do sist complemento, da coagulação e das plaquetas, desencadeando intenso processo inflamatório no local da picada, acompanhado de obstrução de pequenos vasos, edema, hemorragia e necrose focal. Hemólise intravascular nas formas mais graves de envenenamento.
  • 78. Loxoscelismo Quadro clínico A picada quase sempre é imperceptível Forma cutânea 87-98% dos casos. Lenta e progressiva, caracterizada por dor, edema e eritema no local da picada, pouco valorizados pelo paciente. Os sintomas locais se acentuam nas primeiras 24-72 h após o acidente, podendo variar sua apresentação desde: Lesão incaracterística bolha de conteúdo seroso, edema, calor e rubor, com ou sem dor em queimação; Lesão sugestiva enduração, bolha, equimoses e dor em queimação; Lesão característica dor em queimação, lesões hemorrágicas focais, mescladas com áreas pálidas de isquemia (placa marmórea) e necrose. Geralmente o diagnóstico é feito nesta oportunidade.
  • 79. Loxoscelismo Paciente masculino, 25 anos, apresentando lesão com 5 dias de evolução, tratamento com corticóide, cura total A lesão cutânea pode evoluir para necrose seca (escara), em cerca de 7-12 dias, que, ao se destacar em 3 a 4 semanas, deixa uma úlcera de difícil cicatrização. Paciente feminino, 22 anos, apresentando lesão com 12 dias de evolução, tratada de forma incorreta, encaminhada para o desbridamento cirúrgico
  • 80. Loxoscelismo Forma cutâneo-visceral (hemolítica) Além do comprometimento cutâneo, manifestações clínicas decorrentes de hemólise intravascular anemia, icterícia e hemoglobinúria (primeiras 24 horas). Petéquias e equimoses, relacionadas à coagulação intravascular disseminada (1-13% dos casos, mais comum nos acidentes por L. laeta). Casos graves insuficiência renal aguda, de etiologia multifatorial (diminuição da perfusão renal, hemoglobinúria e CIVD), principal causa de óbito no loxoscelismo.
  • 81. Loxoscelismo Acidente loxoscélico pode ser classificado em: Leve lesão incaracterística sem alterações clínicas ou laboratoriais e com a identificação da aranha causadora do acidente. Moderado lesão sugestiva ou característica, mesmo sem a identificação do agente causal, podendo ou não haver alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo, cefaléia e mal-estar; Grave lesão característica e alterações clínico-laboratoriais de hemólise intravascular.
  • 82. Loxoscelismo Complicações Locais infecção secundária, perda tecidual, cicatrizes desfigurantes. Sistêmicas insuficiência renal aguda. Exames complementares Forma cutânea hemograma com leucocitose e neutrofilia Forma cutâneo-visceral anemia aguda, plaquetopenia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, K+ , creatinina e uréia e coagulograma alterado. Tratamento A indicação do antiveneno é controvertida na literatura. Eficácia da soroterapia é reduzida após 36 h do acidente.
  • 84. Loxoscelismo Tratamento Corticoterapia e dapsone (modulador da resposta inflamatória), analgésicos, compressas frias, antisséptico local e limpeza periódica da ferida são fundamentais para que haja uma rápida cicatrização. Antibiótico sistêmico, remoção da escara e tratamento cirúrgico na correção de cicatrizes. Manifestações sistêmicas transfusão de sangue ou concentrado de hemácias nos casos de anemia intensa e manejo da insuficiência renal aguda. Prognóstico Na maioria dos casos, bom. Nos casos de ulceração cutânea, de difícil cicatrização: complicações no retorno do paciente às atividades rotineiras. A hemólise intravascular pode levar a quadros graves e neste grupo estão incluídos os raros óbitos.
  • 86. Latrodectus Viúvas-negras Teias irregulares. Podem apresentar hábitos domiciliares. Fêmeas: 1cm (3cm de envergadura de pernas). Machos menores (3 mm) Os acidentes ocorrem normalmente quando são comprimidas contra o corpo.
  • 87. Latrodectus Distribuição geográfica L. curacaviensis - Ceará, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo; L. geometricus - encontrada praticamente em todo o país.
  • 88. Latrodectismo Nordeste (Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe), principalmente por L. curacaviensis. Ações da peçonha Alpha-latrotoxina atua sobre terminações nervosas sensitivas provocando quadro doloroso no local da picada. Ação no SNA liberação neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos. Na junção neuromuscular pré-sináptica, altera a permeabilidade aos íons sódio e potássio. Quadro clínico Manifestações locais dor local (60% dos casos) e sensação de queimadura 15-60min após a picada. Pápula eritematosa e sudorese localizada (20% dos casos). Lesões puntiformes, distando de 1 mm a 2 mm entre si. Na área da picada há referência de hiperestesia e pode ser observada a presença de placa urticariforme acompanhada de infartamento ganglionar regional.
  • 89. Latrodectismo Manifestações sistêmicas Gerais tremores (26%), ansiedade (12%), excitabilidade (11%), insônia, cefaléia, prurido, eritema de face e pescoço. Distúrbios de comportamento e choque nos casos graves. Motoras dor irradiada para os membros inferiores (32%), contraturas musculares periódicas (26%), movimentação incessante, atitude de flexão no leito; hiperreflexia ósteo- músculo-tendinosa constante. Dor abdominal intensa (18%), acompanhada de rigidez e desaparecimento do reflexo cutâneo- abdominal. Contratura facial, trismo dos masseteres caracteriza o fácies latrodectísmica observado em 5% dos casos.
  • 90.
  • 91. Latrodectismo Cardiovasculares opressão precordial, com sensação de morte iminente, taquicardia inicial e hipertensão seguidas de bradicardia. Exames complementares Leucocitose, linfopenia, eosinopenia. Hiperglicemia, hiperfosfatemia. Albuminúria, hematúria, leucocitúria e cilindrúria. Arritmias cardíacas. Essas alterações podem persistir até por dez dias.
  • 92. Latrodectismo Tratamento Específico soro antilatrodectus (SALatr) é indicado nos casos graves, i.m. A melhora do paciente ocorre de 30 min a 3 h após soroterapia. Soro antilatrodectus atualmente disponível no Brasil é importado. Sintomático Analgésicos e: Suporte cardiorespiratório e hospitalização por, no mínimo, 24 horas. Prognóstico Não há registro de óbitos.
  • 94. Lycosidae Aranha-de-grama ou aranha-de- jardim. Acidentes são freqüentes, mas não constituem problema de saúde pública. Não constroem teia As maiores atingem 3cm de corpo e 5 cm de envergadura de pernas. Há um grande número de espécies descritas para todo o Brasil.
  • 95. Aranhas caranguejeiras Aranhas caranguejeiras Grande variedade de cores e tamanhos (mm a até 20 cm de envergadura de pernas). Algumas são muito pilosas. Não são de importância médica, exceto pela irritação ocasionada na pele e mucosas por causa dos pêlos urticantes.
  • 96. Himenópteros Únicos insetos com ferrões verdadeiros. Três famílias de importância médica: Apidae (abelhas e mamangavas), Vespidae (vespa amarela, vespão e marimbondo ou caba) e Formicidae (formigas). Epidemiologia Incidência de acidentes desconhecida. A hipersensibilidade provocada por picada de insetos tem sido estimada em 0,4-10%. As reações alérgicas tendem a ocorrer em adultos e nos indivíduos profissionalmente expostos. Os relatos de acidentes graves e de mortes pela picada de abelhas africanizadas são conseqüência da maior agressividade dessa espécie (ataques maciços) e não das diferenças de composição da sua peçonha.
  • 97. Abelhas Ferrão dividido em uma estrutura muscular e quitinosa, responsável pela introdução do ferrão e da peçonha e outra glandular, que secreta e armazena a peçonha. Padrão de utilização do ferrão: com autotomia e sem autotomia. Com autotomia injetam mais peçonha e morrem. Sem autotomia o ferrão pode ser utilizado várias vezes.
  • 98. Abelhas Distribuição geográfica As abelhas de origem alemã (Apis mellifera mellifera) foram introduzidas no Brasil em 1839. Em 1870, foram trazidas as abelhas italianas (Apis mellifera ligustica), principalmente ao sul do Brasil. Em 1956, foram introduzidas as abelhas africanas (Apis mellifera scutellata). As abelhas africanas e seus híbridos com as abelhas européias são responsáveis pela formação das chamadas abelhas africanizadas que, hoje, dominam toda a América do Sul, a América Central e parte da América do Norte. O deslocamento destas abelhas foi mais rápido no Nordeste do Brasil, onde o clima é tropical seco.
  • 99.
  • 100. Abelhas Ações da peçonha Hialuronidases e PLAs, peptídeos ativos como melitina e a apamina, aminas como histamina e serotonina entre outras. PLA2 e melitina (75% peçonha) Bloqueio neuromuscular, paralisia respiratória, lisam membranas. Apamina (2%) neurotoxina de ação motora. Cardiopeptídeo propriedades antiarrítmicas. Peptídeo MCD (fator degranulador de mastócitos) liberação de histamina e 5HT. Quadro clínico Manifestações clínicas: alérgicas (mesmo com uma só picada) e tóxicas (múltiplas picadas).
  • 101. Abelhas Manifestações Locais dor aguda local, que tende a desaparecer espontaneamente em poucos minutos, deixando vermelhidão, prurido e edema por várias horas ou dias. A intensidade desta reação inicial causada por uma ou múltiplas picadas deve alertar para um possível estado de sensibilidade e exacerbação de resposta às picadas subseqüentes.
  • 102. Abelhas Regionais Eritema, prurido e edema, este pode ser tão exuberante a ponto de limitar a mobilidade do membro.
  • 103. Abelhas Sistêmicas Anafilaxia, cefaléia, vertigens e calafrios, agitação psicomotora, sensação de opressão torácica, prurido generalizado, eritema, urticária e angioedema. Rinite, edema de laringe e pulmonar. Náuseas, cólicas abdominais ou pélvicas, vômitos e diarréia. Hipotensão. Palpitações e arritmias cardíacas e, quando há lesões preexistentes (arteriosclerose), infartos isquêmicos no coração ou cérebro. Reações alérgicas tardias ocorrem vários dias após a(s) picada(s).
  • 104. Abelhas Manifestações tóxicas Ataque múltiplo de abelhas (+ 500 picadas) desenvolve-se um quadro tóxico generalizado: síndrome de envenenamento. Hemólise intravascular e rabdomiólise. Alterações neurológicas como torpor e coma, hipotensão arterial, oligúria/anúria e insuficiência renal aguda podem ocorrer.
  • 105. Abelhas Complicações As reações de hipersensibilidade podem ser desencadeadas por uma única picada e levar o acidentado à morte, em virtude de edema de glote ou choque anafilático. Síndrome de envenenamento distúrbios graves hidroeletrolíticos e do equilíbrio ácido-básico, anemia aguda pela hemólise, depressão respiratória e insuficiência renal aguda são as complicações mais freqüentemente relatadas. Exames complementares Não há exames específicos para o diagnóstico. Exame de urina e hemograma completo.
  • 106. Abelhas Tratamento Remoção dos ferrões raspagem com lâmina e não pelo pinçamento de cada um deles, pois a compressão poderá espremer a glândula ligada ao ferrão e inocular no paciente a peçonha ainda existente. Analgésicos e tratamento para reações alérgicas.
  • 107. Abelhas Complicações Não há antiveneno de abelha. Choque anafilático, insuficiência respiratória e insuficiência renal aguda devem ser tratados de maneira rápida e vigorosa. Pacientes vítimas de enxames devem ser mantidos em Unidades de Terapia Intensiva, em razão da alta mortalidade observada.
  • 108. Vespa Synoeca cyanea (marimbondo-tatu) e Pepsis fabricius (marimbondo-cavalo) em todo o território nacional. Peçonha pouco conhecida. Produzem hipersensibilidade. Não deixam o ferrão no local da picada. Efeitos locais e sistêmicos semelhantes aos das abelhas, porém menos intensos.
  • 109. Formigas Hymenoptera, Formicoidea. Algumas sp são portadoras de um aguilhão abdominal ligado a glândulas de peçonha. A picada pode ser muito dolorosa e pode provocar anafilaxia, necrose e infecção secundária. Formiga tocandira, cabo-verde vinte-e-quatrohoras (3 cm), negra, Norte e Centro-Oeste. Picada muito dolorosa e pode provocar edema e eritema local, e ocasionalmente fenômenos sistêmicos (calafrios, sudorese, taquicardia). Formigas de correição, ocorrem na selva amazônica. Picada é pouco dolorosa. De interesse médico formigas-de-fogo ou lava-pés (gênero Solenopsis) e as formigas saúvas (gênero Atta).
  • 110. Formiga lava-pés Peçonha produzida em uma glândula conectada ao ferrão e cerca de 90% constituída de alcalóides oleosos, onde a fração mais importante é a Solenopsin A, de efeito citotóxico. A morte celular provocada pela peçonha promove diapedese de neutrófilos no ponto de ferroada.
  • 111. Formiga lava-pés Eritema, vesículas e pústulas em paciente picado por formiga Solenopsis (lava-pés) (Foto: Acervo HVB/IB)
  • 112. Formiga lava-pés Complicações Processos alérgicos podem ocorrer, sendo inclusive causa de óbito. Diagnóstico O diagnóstico é basicamente clínico. Tratamento Uso imediato de compressas frias locais, seguido da aplicação de corticóides tópicos. Analgesia e uso de anti- histamínicos por via oral. Anafilaxia ou reações respiratórias do tipo asmático são emergências que devem ser tratadas prontamente.
  • 113. Lepidópteros Forma larvária e adulta: Dermatite urticante a) contato com lagartas urticantes de vários gêneros; b) contato com cerdas da mariposa Hylesia sp. Periartrite falangeana por pararama Síndrome hemorrágica por Lonomia sp Epidemiologia Os acidentes por lepidópteros têm sido, de modo geral, subnotificados.
  • 114. Lepidópteros Formas larvárias Quase 100% acidentes: contato com lagartas, recebendo esse tipo de acidente a denominação de erucismo (erucae = larva), onde a lagarta é também conhecida por taturana ou tatarana, denominação tupi que significa semelhante a fogo (tata = fogo, rana = semelhante). As principais famílias de lepidópteros causadoras de erucismo são Megalopygidae, Saturniidae e Arctiidae.
  • 115. Megalopygidae Sauí, lagarta-de-fogo, chapéu-armado, taturanagatinho, taturana-de-flanela. Cerdas verdadeiras, pontiagudas contendo as glândulas basais de peçonha. Cerdas mais longas, coloridas e inofensivas.Megalopygidae - Podalia sp (Foto: R. Moraes).
  • 116. Saturniidae “Espinhos” ramificados e pontiagudos de aspecto arbóreo, com glândulas de peçonha nos ápices. Apresentam tonalidades esverdeadas, exibindo no dorso e laterais, manchas e listras, características de gêneros e espécies. Muitas vezes mimetizam as plantas que habitam. Saturnídeo - Automeris sp. (Foto: R. Moraes)
  • 117. Saturnídeo - Lonomia Orugas ou rugas (Sul do Brasil), beijus-de-tapuru-de- seringueira (norte do Brasil). Causadoras de síndrome hemorrágica. Colônia de Lonomia sp (Foto: V. Haddad Jr.)Lonomia obliqua. (R. Moraes)
  • 118. Arctiidae Lagartas Premolis semirufa, causadoras da pararamose. Premolis semirufa. (R. Moraes)
  • 119. Formas adultas (mariposas-da-coceira) Somente fêmeas adultas do gênero Hylesia sp (Saturniidae) apresentam cerdas no abdome que, em contato com a pele, causam dermatite papulopruriginosa. Hylesia paulex. (Foto: R. Moraes)
  • 120. Dermatite urticante Lagartas de vários gêneros Acidente muito comum em todo o Brasil, em geral, de curso agudo e evolução benigna. Fazem exceção os acidentes com Lonomia sp. Ações da peçonha Não se conhece exatamente como agem as peçonhas das lagartas. Atribui-se ação aos líquidos da hemolinfa e da secreção das espículas, tendo a histamina o principal componente estudado até o momento.
  • 121. Dermatite urticante Quadro clínico Manifestações do tipo dermatológico, dependendo da intensidade e extensão do contato. Dor local intensa, edema, eritema e, eventualmente, prurido local. Existe infartamento ganglionar regional característico e doloroso. Nas primeiras 24 h, a lesão pode evoluir com vesiculação e, mais raramente, com formação de bolhas e necrose na área do contato. Acidente com lagarta na mão e tronco: edema, eritema nas áreas de contato. (Acervo HVB/IB)
  • 122. Dermatite urticante Complicações O quadro local de boa evolução, regredindo no máximo em 2-3 dias sem maiores complicações ou seqüelas. Tratamento→→→→ compressas frias; anestésico local; elevação do membro acometido; corticosteróides tópicos; anti-histamínico oral. Por causa da possibilidade de se tratar de acidente hemorrágico por Lonomia sp, todo o paciente que não trouxer a lagarta para identificação deve ser orientado para retorno, no caso de apresentar sangramentos até 48 h após o contato.
  • 123. Dermatite urticante - mariposa Hylesia sp Fêmeas de mariposas de Hylesia sp têm causado surtos de dermatite papulopruriginosa. As mariposas, atraídas pela luz, invadem os domicílios e, ao se debaterem, liberam no ambiente as espículas que, atingindo a superfície cutânea, podem causar quadros de dermatite aguda. Ações da peçonha Além do trauma mecânico provocado pela introdução das espículas, postula-se a presença de fatores tóxicos que, até agora, praticamente não foram estudados.
  • 124. Mariposa Hylesia sp Quadro clínico Lesões papulopruriginosas logo após contato com as cerdas. Intenso prurido e cura após 7-14. Tratamento Anti-histamínicos, via oral, compressas frias, banhos de amido e, eventualmente, cremes à base de corticosteróides. Acidente por Hylesia sp: lesões pápulo-pruriginosas extensas por contato há sete dias. (Foto: Acervo HVB/IB)
  • 125. Periartrite falangeana - pararama Pararamose ou reumatismo dos seringueiros →larva da mariposa Premolis semirufa, “pararama”. Restritos à Amazônia (seringais) > 90% acidentes comprometem as mãos, originando lesões crônicas que comprometem as articulações falangeanas, levando a deformidades com incapacidade funcional. Ações da peçonha A reação granulomatosa e fibrose do tecido cartilaginoso e bainhas do periósteo → ação mecânica das cerdas e/ou à existência de secreções protéicas no interior dessas cerdas.
  • 126. Periartrite falangeana - pararama Tratamento Não há conduta terapêutica específica. Tratamento imediato, ~ ao descrito para dermatite por contato. Formas crônicas, com artropatia, deverão ter acompanhamento especializado.Quadro crônico de pararamose: tumefação de articulação interfalangeana distal do dedo médio. (Foto: R. M. Costa)
  • 127. Síndrome hemorrágica - Lonomia Principalmente na região Sul, atingindo principalmente trabalhadores rurais. Há registros em SP e GO. Ações da peçonha Mecanismo síndrome hemorrágica não está esclarecido. PLA2, substância caseinolítica e ativadora de complemento. Ação pró-coagulante moderada. Diminuição dos níveis de fator XIII, responsável pela estabilização da fibrina e controle da fibrinólise. Não se observa alteração nas plaquetas.
  • 128. Síndrome hemorrágica - Lonomia Quadro clínico Constitui a forma mais grave do erucismo. Local→ Dermatite urticante Gerais → cefaléia holocraniana, mal-estar geral, náuseas e vômitos, ansiedade, mialgias, dores abdominais, hipotermia, hipotensão. Equimoses, hematomas espontâneos ou provocados por trauma ou em lesões cicatrizadas, hemorragias de mucosas, hematúria macroscópica, sangramentos em feridas recentes, hemorragias intra-articulares, abdominais, pulmonares, glandulares (tireóide, glândulas salivares) e hemorragia intraparenquimatosa cerebral.
  • 129. Síndrome hemorrágica - Lonomia Equimoses espontâneas à distância pós contato com Lonomia sp. (Foto: A. Duarte) Hematúria macroscópica (Foto: A. Duarte)
  • 131. Síndrome hemorrágica - Lonomia Complicações→→→→ insuficiência renal aguda (5% dos casos). Exames complementares →→→→ coagulograma, diminuição acentuada do fibrinogênio plasmático, elevação de produtos de degradação do fibrinogênio e fibrina, no. plaquetas normal. Diagnóstico Não existem métodos diagnósticos específicos. O diagnóstico diferencial com as dermatites urticantes provocadas por outros lepidópteros deve ser feito pela história clínica, identificação do agente e presença de distúrbios hemostáticos.
  • 132. Síndrome hemorrágica - Lonomia Tratamento Local→ ~ a dermatite urticante Manifestações hemorrágicas → repouso, evitando-se traumas mecânicos. Agentes antifibrinolíticos. Correção da anemia por meio da administração de concentrado de hemácias. Sangue total ou plasma fresco são contra-indicados pois podem acentuar o quadro de coagulação intravascular. Soro antilonômico (SALon) começa a ser produzido em pequena escala, estando em fase de ensaios clínicos, de utilização restrita.
  • 133. Coleópteros Coleópteros de importância médica No Brasil, acidentes por besouros do gênero Paederus (Coleoptera, Staphylinidae) nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e pelo gênero Epicauta (Coleoptera, Meloidae) no estado de São Paulo. O gênero Paederus (potó, trepa-moleque, péla-égua, fogo- selvagem) compõe-se de pequenos besouros de corpo alongado, medindo de 7-13 mm; possuem élitros curtos, que deixam descoberta mais da metade do abdome. Vivem em lugares úmidos, arrozais, culturas de milho e algodão.
  • 134. Coleópteros Paederus amazonicus, P. brasiliensis, P. columbinus, P. fuscipes e P. goeldi. Predam outros insetos, nematódeos e girinos. Defendem-se com as mandíbulas, ao mesmo tempo em que encurvam o abdome, provavelmente também para acionar a secreção das glândulas pigidiais. Paederus sp (Potó). (R. Moraes)
  • 135. Coleópteros Potó-grande, potó-pimenta, papa-pimenta, caga-fogo e caga-pimenta correspondem ao gênero Epicauta, as cantáridas do Novo Mundo, também dotadas de propriedades vesicantes (atribuídas à cantaridina) sendo causadoras de lesões menos evidentes, que regridem em cerca de 3 dias. Epicauta sp.
  • 136. Coleópteros Ações do veneno Hemolinfa e secreção glandular do potó→ potente toxina de contato, pederina, de ação cáustica e vesicante. Trata-se de uma amida cristalina, de ação inibidora do DNA, bloqueando a mitose. Adultos, ovos e larvas contêm a toxina. Quadro clínico Sensação de ardor contínuo Os dedos que friccionaram o inseto podem levar a toxina a outras áreas, inclusive à mucosa conjuntival, provocando dano ocular (conjuntivite, blefarite, ceratite esfoliativa, irite).
  • 137. ColeópterosLeve → discreto eritema. Moderado → marcado eritema, ardor e prurido, vesículas que se alargam gradualmente (48h). Estádio escamoso, vesículas secam (8 dias), deixando manchas pigmentadas (1 mês ou +). Grave → contato com vários espécimes. Febre, dor local, artralgia e vômitos. O eritema pode persistir por meses. Infecção secundária Acidente por Epicauta sp. (Foto: N. Dillon)
  • 138. Coleópteros Tratamento Lavar imediatamente as áreas atingidas, com abundante água corrente e sabão. Nas lesões instaladas, utilizar banhos anti- sépticos com permanganato e antimicrobianos tópicos. A tintura de iodo destrói a pederina, mas deve ser empregada precocemente. Em caso de contato com os olhos, deve-se lavar o local com água limpa e abundante.
  • 139. Ictismo Peixes marinhos ou fluviais. Acidentes acantotóxicos (arraias, p.e.)→ caráter necrosante e a dor é o sintoma proeminente. Peçonha das arraias: 5-HT e peptídeos de alta MW, como fosfodiesterase e 5-nucleotidase. Termolábil. Acidentes sarcotóxicos → ingestão de peixes e frutos do mar. Os baiacus possuem TTX, podendo provocar paralisia consciente e óbito por falência respiratória. Peixes que se alimentam do dinoflagelado Gambierdiscus toxicus podem ter acúmulo progressivo de ciguatoxina nos tecidos, provocando o quadro denominado ciguatera.
  • 140. Ictismo Acidentes escombróticos → acontecem quando bactérias provocam descarboxilação da histidina na carne de peixes malconservados, produzindo a toxina saurina, capaz de liberar histamina em seres humanos. Acúmulo de metil-mercúrio em peixes pescados em águas contaminadas podem produzir quadros neurológicos em humanos, quando houver ingestão crônica. Doença de Minamata.
  • 142. Ictismo - peixes acantotóxicos Os peixes acantotóxicos possuem espinhos ou ferrões pontiagudos e retrosserrilhados, envolvidos por bainha de tegumento sob a qual estão as glândulas de peçonha existentes nas nadadeiras dorsais, peitorais ou na cauda, com exceção do niquim, cujas glândulas estão na base dos ferrões. Bagres (Bagre bagre, B. marinus, etc), mandi (Genidens genidens, Pimelodella brasiliensis), peixe escorpião, beatinha ou mangangá (Scorpaena brasiliensis, S. plumeri), niquim ou peixe sapo (Thalassophryne natterreri, T. amazonica) e arraias.
  • 143. Ictismo - peixes acantotóxicos Arraias marinhas (Dasyatis guttatus, D. americana, Gymnura micrura, etc) e fluviais (Potamotrygon hystrix, P. motoro) Potamotrygon sp: arraia fluvial. (Foto: P. Pardal) Duplo ferrão de arraia. (Foto: P. Pardal)
  • 144. Ictismo- peixes sarcotóxicos Contém toxinas termoestáveis na pele, músculos, vísceras e gônadas. Acidente tetrodontóxico→→→→ baiacus (Tetraodontidae): Colomesus psittacus, Lagocephalus laevigatus, Diodon hystrix, etc.). Acidentes ciguatóxicos →→→→ ciguatera, principalmente no Oceano Pacífico e são causados por peixes comestíveis como: garoupa (Cephalopholis argus), barracuda (Sphyraena barracuda), bicuda (Sphyraena picudilla), etc., contaminados pela ciguatoxina.
  • 145. Ictismo - acidentes traumáticos Acidentes traumáticos→→→→ causados por dentes, rostros e acúleos sem ligação com glândulas de peçonha. Exemplos: espadarte (Xiphias gladius), piranhas (fam. Serrasalmidae) e tubarões. Os candirus (Vandellia cirrhosa) são peixes pequenos e que podem penetrar em qualquer orifício natural de banhistas nos rios da Amazônia. Acidentes por descarga elétrica são provocados por contato com peixes que possuem órgãos capazes de produzir eletricidade. Exemplos: poraquê (Electrophorus electricus) e arraia treme-treme (Narcine brasiliensis).
  • 146. Colomesus psitacus Cephalopholis argus Xiphias gladius Electrophorus electricus
  • 147. Ictismo - Acantotóxico Quadro clínico Ferimento, dor imediata e intensa. Eritema e edema regionais. Casos graves: linfangite, reação ganglionar, abscedação e necrose tecidual no local. Lesões não tratadas: infeção bacteriana. Manifestações gerais: fraqueza, sudorese, náuseas, vômitos, vertigens, hipotensão, choque e até óbito. Acidente por arraia fluvial com cinco dias de evolução. (Foto: P. Pardal)
  • 148. Ictismo - Sarcotóxico Manifestações→→→→ neurológicas e gastrintestinais. Neurológicas: Sensação de formigamento da face, lábios, dedos das mãos e pés, fraqueza muscular, mialgias, vertigens, insônia, dificuldade de marcha e distúrbios visuais. Agravamento: convulsões, dispnéia, parada respiratória e morte, que pode ocorrer nas primeiras 24 horas. Gastrintestinal:náuseas, vômitos, dores abdominais e diarréia. A recuperação clínica do envenenamento por peixes pode se estender de semanas a meses.
  • 149. Ictismo Escombróticos→→→→ Sintomatologia semelhante à intoxicação causada pela histamina: cefaléia, náuseas, vômitos, urticária, rubor facial, prurido e edema de lábios. Intoxicação mercurial →→→→ Doença de Minamata, de alterações principalmente neurotóxicas, com distúrbios sensoriais das extremidades e periorais, incoordenação motora, disartrias, tremores, diminuição do campo visual e auditivo, salivação, etc.
  • 150. Ictismo Tratamento Acidente traumatogênico ou acantotóxico: objetiva o alívio da dor, o combate dos efeitos da peçonha e a prevenção de infecção secundária. Acidente por ingestão de peixes tóxicos: Tratamento de suporte. Lavagem gástrica e laxante. Insuficiência respiratória e o choque devem ser tratados com medidas convencionais. Nos acidentes escombróticos está indicado o uso de anti-histamínico.
  • 151. Ictismo Prognóstico Acidentes acantotóxicos e traumatogênicos→ favorável, mesmo nos casos com demora da cicatrização, com exceção dos acidentes provocados por arraias e peixes escorpião, cujo prognóstico pode ser desfavorável. Acidentes tetrodontóxico e ciguatóxico → prognóstico é reservado e a taxa de letalidade pode ultrapassar 50% e 12%, respectivamente. Acidentes escombróticos → bom.
  • 152. Celenterados Tentáculos com nematocistos→ injeta peçonha Anthozoa: anêmonas e corais. Acidentes pouco freqüentes e de pouca gravidade Acidentes mais importantes: Hydrozoa: são as hidras (pólipos fixos) e colônias de pólipos de diferenciação maior (caravelas ou Physalias). Scyphozoa: medusas ou águas-vivas.
  • 153. Celenterados Chiropsalmus quadrumanus Physalia physalis A caravela (Physalia) é sem dúvida a responsável pelo maior número e pela maior gravidade dos acidentes desse gênero no Brasil
  • 155. Celenterados Ações da peçonha Ações enzimáticas, neurotóxicas (arritmias sérias, altera o tônus vascular e pode levar à insuficiência respiratória por congestão pulmonar) e hemolítica (Physalia). Quadro clínico Manifestações locais→→→→ ardência e dor intensa no local. Manifestações sistêmicas →→→→ casos mais graves: cefaléia, mal- estar, náuseas, vômitos, espasmos musculares, febre, arritmias cardíacas.
  • 156. Celenterados Diagnóstico O diagnóstico é clínico. Padrão linear edematoso é muito sugestivo, se acompanhado de dor aguda e intensa. Lesões eritematosas lineares dois dias após contato com “água-viva”. (Foto: Acervo HVB/IB)
  • 157. Celenterados Tratamento Fase 1→→→→ repouso do segmento afetado. Fase 2 →→→→ retirada de tentáculos aderidos: a descarga de nematocistos é contínua e a manipulação errônea aumenta o grau de envenenamento. Não usar água doce para lavar o local (descarrega nematocistos por osmose) ou esfregar panos secos (rompe os nematocistos). Os tentáculos devem ser retirados suavemente levantando-os com a mão enluvada, pinça ou bordo de faca. O local deve ser lavado com água do mar.
  • 158. Celenterados Tratamento Fase 3 →→→→- inativação da peçonha: ácido acético a 5% (vinagre comum), aplicado no local, por no mínimo 30 min. Fase 4 →→→→ retirada de nematocistos remanescentes: deve-se aplicar uma pasta de bicarbonato de sódio, talco e água do mar no local, esperar secar e retirar com o bordo de uma faca. Fase 5 →→→→ bolsa de gelo ou compressas de água do mar fria por 5 a 10 minutos e corticóides tópicos duas vezes ao dia aliviam os sintomas locais. A dor deve ser tratada com analgésicos.