O documento apresenta vários poemas curtos sobre temas como apagar o passado, leveza, casa, infância, poesia e atrito. Um dos poemas reflete sobre como a poesia nunca perde o sentido, mesmo em momentos de crise ou mudança.
1. AMEOPOEMAEdição 073 - janeiro de 2021 - Ouro Preto - MG
AMEOPO MAE
editora artesanal
Eu apago as coisas
Deleto o que não me convém
Excluo todos os resquícios
Do que me retém
Não há espaço pra carregar
Bagagens velhas
Antigas ocasiões
Desgastantes situações
Já estou suficientemente cheio
Das minhas próprias questões
Se o peso for leve
O caminho é leve
O peso de ser
A leveza de estar
Aonde a rede me balança
E eu gosto
De balançar
Tricotada no manto
Cósmico da mão
Sagrada das galáxias
Essa rede é a balança
O movimento certo
Nossa esperança
E o espaço que sobrou
Depois de tudo o que apaguei
É enorme e cabe tudo
O que me faz bem
r4tex
Tinha aquele céu azulejado do banheiro
Tinha aquele verde de horta na mesa
[da cozinha
Aquele cheiro de mar no olho
do peixe morto sobre o mármore da pia
Tinha a eternidade de um deus
no pêndulo do velho relógio da sala
Tinha todo um destino de ocidente
nos terços e rezas na varanda
E do quintal eu via um avião apagar-se
lá longe enquanto meu pai me rodopiava
Essa coisa de casa era uma imensidão
Luiz Melo
facebook.com/souoluiz
Edmilson Borret
facebook.com/edborret
INFÂNCIA
Entre os barulhos do trabalho, o
barulho da chuva vem vindo; vem
despercebido e nem desperta a
desconfiança dos que distraídos com os
deveres diários descascam as horas em
calos e dores de cabeça. Cai fina, revoa
na brisa, enevoa os prédios, as casas e
as ruas, se aninha em gotas nos carros,
nas folhas e encharca aos poucos,
pedestres, ciclistas. Escurece aos
poucos, o asfalto, as calçadas, que se vê
por detrás das vidraças molhadas das
fachadas sisudas dos escritórios, das
c a lad as s a las d e e sp era d o s
consultórios; densa e úmida então, se
tornando vai a cidade, e um quê de
moroso entorna sobre os movimentos
urbanos, enquanto o cheiro terroso e
morno conforta o cansaço das almas.
Outono
Juliano Batista
facebook.com/juliano.alvarenga1
LEIA FANZINES
LAVE AS MÃOS
&
SEMPRE QUE PUDER
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BY ND
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NC
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Edição: Studio b2mr (@studiob2mr)
Coordenação: Editora AMEOPOEMA.
Circulação: Ouro Preto, Mariana (MG).
Conselho Editorial: Flávia Alves Santos
Exemplares na pRAÇA: vários exemplares.
Paticipação: Dan Dejacque | Sérgio Bernardo | Luiz Melo
Alexandre Durratos | Juliano Batista | Edmilson Borret
Publicação sem fins lucrativos, feita artesanalmente, com amor
e vontade de circular ideias e fomentar a produção literária em
Ouro Preto e região. PARTICIPE, ENVIE SEU MATERIAL
ameopoemaeditora@gmail.com || fb.com/ameopoema
AMEOPO MAEE AMEOPO MAEE AMEOPO MAEE AMEOPO MAEE
A casa cai
e a mesa dentro dela
perde o sentido
As árvores queimam
e a paisagem de cinzas
já não faz sentido
O mundo estremece
e de repente a vida
parece não ter sentido
Mas a poesia, não:
porque nos fala do sentido
da queda e da casa
do fogo e das árvores
do abalo e do mundo
a poesia nunca perde o sentido
Dan Dejacque
facebook.com/Devjacque
Sérgio Bernardo
facebook.com/sergio.bernardo.7921
Alexandre Durratos
facebook.com/poetaxandu
A POESIA NUNCA PERDE O SENTIDO
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Se acontece é pois
as circunstâncias propícias
para o acontecimento acontecer
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Ponto de quase não ser,
mas tanto é, que já foi
precedendo o próximo surgimento
(ou não)
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O poema nasce órfão
como efeito da possibilidade
de nunca ter nascido
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Está só, em atrito
atravessado pela insuficiência
de poder nunca ter sido
ATRITO
Tique-toque _ as turbinas explodem, foguetes enviam mensagens, energia de um
lado pro outro, por dentro do cerebelo, tique-toque _ nos nervos, nos músculos,
como aperta forte, na glote, nos pulsos, as veias estufam, a caneta craqueia, e
quase se quebra, tique-Tóquio _ a invenção do computador, um certo caos no inbox,
escrever no canhoto de compras, nas sedas dos maços, nas paredes, fazer
tatuagens, textos na própria pele, tique-bole _ roça, coça, a cuca, arranha,
russa, arrasta, borra, cospe, graft-vupt, tá pronto, o impresso, vuco-vuco,
viciante, custa quinhentos bilhões de bosta, um livro feito na live, escrito na
esquina, isso significa: leia ou livre-se, mas antes pague com a vida.