O poema descreve um personagem que finge estar morto para escapar de agressões, mas acaba se matando acidentalmente ao se libertar. Seu corpo é espalhado pela cidade, mas as pessoas acreditam ter sido obra de um raio.
1. AMEOPOEMAEdição 072 - dezembro de 2020 - Ouro Preto - MG
AMEOPO MAE
editora artesanal
Me finjo de morto como um profissional
Prendo a respiração por horas
Me mantenho imóvel enquanto apanho
Não sangro quando tomo tiro
Não dói quando machuca
O sorriso quebrado é a própria piada
Inércia de dar inveja em boneco de Olinda
Nem se xingar minha mãe eu revido
Espero pacientemente até que
todos pensem que estou morto
Sem apresentar perigo
Aguardo
Aos poucos
Liberam minha língua
Soltam meu coração
Saem de cima do meu pé
Assim que me liberto
Me mato em seguida acidentalmente
Dinamitando as razões de dentro pra fora
Como quem digere um dirigível
Espalhando minhas visceras e devaneios
[por toda parte
Pela manhã no caminho da padaria
verão as vidraças estilhaçadas e
minha carcaça estraçalhada
Cobrindo as paredes
Tingindo as fachadas
Pendurada nas marquises
Entupindo canaletas e
Dirão que foi um raio
ao olhar pro meu azar divino
E estarão errados
Mais uma vez
PENSARAM TER ME MATADO Nas entrelinha saltavam interesses
físico não tinha
era imagem
passada
pouco depurada
mas ficou
a educação, gentileza
e uma conversa
digital
tall
tal
não havia previsto
dito isto:
das entre-linhas
imagens e conversas
que abrem linhas
interesses físicos e uma nova era
até onde era
entrelinhas saltou.
Joel Galvão - RJ
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Edição: Studio b2mr (@studiob2mr)
Coordenação: Editora AMEOPOEMA.
Circulação: Ouro Preto, Mariana (MG).
Conselho Editorial: Flávia Alves Santos
Exemplares na pRAÇA: vários exemplares.
Paticipação: Dione Machado | Joel Galvão | William Lima
Alexandre Durratos | Fábio Fernando | Isabel B. Nunes
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e vontade de circular ideias e fomentar a produção literária em
Ouro Preto e região. PARTICIPE, ENVIE SEU MATERIAL
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AMEOPO MAEE AMEOPO MAEE AMEOPO MAEE AMEOPO MAEE
Acabou mais um ano (e que merda de ano)
provamos do nosso veneno, cuspimos na
parede que teríamos que limpar mais
tarde, nos reencontramos nas lives, nos
telefonemas, nas cartas, produzimos bem, e
nem sempre encontramos o eco que o poeta
acostumado a tirar sua matéria prima
tanto precisa, talvez mais espelho que eco,
ou os dois juntos...
Mas foda-se o ano está acabando, e aquelas
promessas enfim pode ser adiadas sem
culpa ou qualquer outra coisa; estamos
seguindo, rumo a um muro que aos poucos
vai se consolidando, estamos vestindo
nossa melhor roupa para morrer, estamos
aprisionando nossas lembranças para que
enfim possamos ser esquecidos;
Sorte teve o gás que deitou Torquato, o gás
segue sua sina, o poeta já nem sempre é
lembrado, e se tiram-lhe a rua, mais
rápido é o seu processo de decomposição;
Queria ser legal, mandar aquelas
mensagens lindinhas e cafonas de fim de
ano; porém não o sei ser; Mas espero que
esse sufoco passe logo... Viva bem cada
instante de sua vida, ela está acabando;
E muito rápido.
A loucura é um órgão sem localidade.
Massacra o tempo ordenado.
Destampa os ralos da mente,
Vazando a realidade das funções.
Livra-se de todos os amores.
Toma em si um amor em punho
E sai a cavalgar sobre crateras
Nas noites sem cor.
O prazer é abocanhar o que lhe escapa
E dissolver neste possível nada
Todo amor empunhado.
E cozer-se em idas e vindas
Por sensações de vidas e mortes.
E sentir que a arte determina
As linhas de sua sorte.
Quando anoitece
A cidade envolve-se em nevoeiro
E todos se esperam.
As luzes acendem-se
As pessoas seguem em frente
Arcando o seu próprio cansaço.
Alguém se lembrou então
De um amor do passado
Parou um instante
E sentiu-se no lugar errado.
A casa pareceu-lhe
Cada vez mais longe
E o ar cada vez mais fechado.
A lembrança doeu-lhe
Mas dissolveu-se na íngreme
[subida
Da penosa ladeira para chegar à
[pensão
Que solitáriamente habitava.
Com feridas sangrando no corpo e
[na alma
Sentou-se e reflectiu:
Que afinal não passava
De mais uma das sombras da cidade.
ASSOMBRASDACIDADE
O MISTÉRIO DO SONHO
‘Rômulo Ferreira
Fábio Fernando - RJ
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Isabel Bastos Nunes - Port.
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o que aconteceria, se a cada tum,
tum-tum respondesse? e se eu
dissesse um ai, ou o que fosse, caô
meu pai, completasse? e se na
língua do pê me propusessem capá-
Alexandre Durratos - RJ.
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lapá apá bopô-capá epê mepê beipei-japá? e se eu ainda usasse um ás na manga? e
se ainda manjasse dus paranauê que num só teco já nem sobrasse mais baleba? e
se num só bafo virasse a pilha inteira? e se atirasse a marimba certeira na pipa
ao invés da vidraça? e se logo de início caísse em gargalhadas, a que horas viria
a piada? e se na capoeira eu me deitasse? ou se eu soubesse onde dormem as
nuvens? ou se um saci me aparecesse? ou se encontrasse a pepita de ouro que era
pedra que era parte de um brinquedo no terreiro velho vizinho a casa que era do
meu avô? e o que será que me perguntaria se a vida fosse sempre luz e novidades?
o que seriam dos sonhos se eu dormisse no calor? ...são essas perguntas que me
faço quando há tempo de sobra e problemas no transformador....
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