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PALAVRAS-CHAVE
− Portfólio
− Formação médica
− Ensino-aprendizagem
− Avaliação
KEY WORDS
− Portfolio
− Education, medical
− Teaching-learning
− Assessment
Recebido em: 08/03/2009
Aprovado em: 24/04/2009
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco562 – 570 Portfólio reflexivoPortfólio reflexivo: uma estratégia para a
formação em medicina
Reflective portfolio: a strategy for medical
education
Roseli Ferreira SilvaI
Marcos Antonio FranciscoI
R E S U M O
Estainvestigaçãodiscuteaestratégiadoportfólioreflexivonaformaçãomédicanocontextode
um currículo inovador. O objetivo do estudo foi identificar a percepção dos estudantes quanto ao
uso do portfólio reflexivo na Unidade Educacional de Prática Profissional. Caracteriza-se como
um estudo de caso, no qual a análise dos dados foi realizada, na perspectiva qualitativa, por meio
da técnica de análise de conteúdo; na perspectiva da análise quantitativa, foi utilizada medida de
frequência simples. Acoleta de dados foi feita mediante aplicação de um questionário com ques-
tõesabertas.Ossujeitosdoestudoforam33estudantesdasegundasérie.Osresultadosapontama
contribuição do portfólio para a formação profissional, na medida em que permitiu ao estudante
o acompanhamento e a organização do cuidado à saúde das pessoas sob sua responsabilidade e
proporcionou um processo de autoavaliação. Por outro lado, a compreensão de portfólio aponta-
da pelos estudantes se distancia em grande parte da concepção de portfólio reflexivo, pois pouca
ou nenhuma contribuição para o desenvolvimento da capacidade reflexiva foi considerada pelos
estudantes.
A B S T R A C T
This study addresses the reflective portfolio (RP) strategy in medical education in the context
of an innovative curriculum. The study aimed to identify students’ perceptions concerning the
use of RP in the Educational Unit on Professional Practice. This was a case study of qualitative
data using the content analysis technique; the quantitative analysis was based on simple frequen-
cies. Data were collected with a questionnaire using open-ended questions. The sample included
33second-yearmedicalstudents.Theresultsindicatedtheportfolio’scontributiontoprofessional
training, to the extent that it allowed students to monitor and organize the care of patients under
their responsibility, while fostering a self-assessment process. Meanwhile, the students’ unders-
tanding of the portfolio largely diverged from the reflective portfolio concept, in which the stu-
dents identified little or no contribution to the development of reflective capacity.
562
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 ; 2009 I Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil.
O CONTEXTO DA ELABORAÇÃO DO
PORTFÓLIO
Esta investigação se inscreve no contexto de um currículo
inovador para a formação médica no curso de Medicina da Uni-
versidade Federal de São Carlos, no qual o plano curricular é in-
tegrado e interdisciplinar, inclui processos metodológicos e pe-
dagógicos inovadores e é orientado pelo desenvolvimento da
competência profissional esperada para o médico no contexto
brasileiro.
Esta proposta de formação é de natureza crítico-reflexiva,
sustentada numa perspectiva de construção do conhecimento a
partir da problematização da realidade, ou seja, na articulação
da teoria com a prática e na participação ativa do estudante no
processo de aprendizagem. Cada série deste currículo é organi-
zada por duas grandes Unidades Educacionais, a de Simulação
da Prática Profissional e a de Prática Profissional1.
A Unidade Educacional de Prática Profissional (UEPP) é
construída a partir da vivência dos estudantes em contextos rea-
is da prática médica. Para as duas primeiras séries, o cenário pri-
vilegiado do processo de ensino-aprendizagem são as Unidades
de Saúde da Família (USF) do município.
Neste cenário, dois dias por semana, os estudantes, em gru-
pos de oito, junto com a equipe de saúde e sob supervisão do
preceptor – médico da USF –, se responsabilizam pelo cuidado à
saúde de um grupo de pessoas. O cuidado realizado pelos estu-
dantes ocorre de acordo com o grau de autonomia destes, espe-
rado para a série em que o aluno se encontra.
Numterceiro períodosemanal,cada gruporealiza encontros
de reflexão sobre as práticas desenvolvidas, com a participação
de um professor, que exerce o papel de facilitador da aprendiza-
gem, e do preceptor no papel de cofacilitador. Estes encontros
constituem ciclos de aprendizagem.
Na primeira etapa do ciclo de aprendizagem, denominada
síntese provisória, a partir de um “disparador”, como as históri-
as clínicas realizadas pelos estudantes em visitas domiciliares,
ocorrem discussões considerando as capacidades prévias dos
estudantes – nas dimensões cognitiva, psicológica e atitudinal –,
as quais permitem identificar lacunas no conhecimento e
levantar questões de aprendizagem.
Na segunda etapa do ciclo de aprendizagem, a partir dessas
questões de aprendizagem, numprocesso individual, cada estu-
dante se responsabiliza pela identificação de fontes e busca de
informaçõesquepermitamaanálise eelaboraçãode umasíntese
individual coerente com as questões de aprendizagem.
Numa terceira etapa, num novo encontro do grupo, os estu-
dantes discutem os achados e elaboram uma nova síntese com
aprofundamentos conceptuais, científicos e metodológicos a
partir das pesquisas individuais e estruturação das questões de
aprendizagem. Desta forma, novos ciclos vão se constituindo
sucessivamente a partir das situações reais vividas na prática
profissional.
Nesta perspectiva, várias estratégias pedagógicas e metodo-
lógicas foram necessárias ao desenvolvimento curricular em
contexto real, e uma delas foi a adoção do portfólio reflexivo.
Assim, em geral, o portfólio dos estudantes é organizado a
partir desses ciclos de aprendizagem e a partir da realização das
atividades da prática, tal como o cuidadoprestado aos indivídu-
os. Assim, pode ser organizado por família, contendo a história
de vida da família, história clínica, exame clínico, levantamento
de necessidades de saúde e do plano de cuidados do paciente,
entre outros.
Nesta Unidade, o portfólio é utilizado como uma estratégia
quepotencializaareflexãosobreaspráticasdesenvolvidas pelos
estudantes, apoiando o processo de construção de conhecimen-
to contextualizado e o desenvolvimento pessoal e profissional
dos envolvidos, favorecendo a compreensão dos significados
possíveis e a atribuição de sentido(s) às situações e aos conceitos
que constituem o cerne da aprendizagem, estimulando o
desenvolvimento crítico e reflexivo do formando.
Todo o processo de construção do conhecimento é sempre
mediado e enriquecido pelos professores e preceptores, seja no
contato individual com o estudante, no acompanhamento de
suas práticas, nos pequenos grupos de reflexão ou naconstrução
do portfólio reflexivo.
A ESTRATÉGIA PORTFÓLIO REFLEXIVO
O portfólio tem sido utilizado em diferentes áreas de forma-
ção profissional, cumprindo um papel importante em vários
contextos educativos como estratégia que potencializa a cons-
trução do conhecimento de forma reflexiva, com vista a uma
progressiva emancipação dos sujeitos em formação. Na forma-
ção em saúde, o portfólio tem sido utilizado principalmente em
currículos inovadores.
Na educação médica, o portfólio aparece em diferentes âm-
bitos da formação, ou seja, na graduação, no internato e nos pro-
gramas de residência. Nestes, o portfólio tem sido empregado
como instrumento de registro, memória, planejamento, autoa-
valiação, avaliação e principalmente para o desenvolvimento da
capacidade reflexiva. Ainda quando utilizado em atividades de
prática, em contextos reais, o portfólio permite ao estudante re-
fletirsobre aspectos de comunicaçãoe os relacionados aos domí-
nios afetivo e emocional2.
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
563
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 ; 2009
ParaVilasBoas3,oportfóliotemsidoconsideradoumdossabe-
res a seremincorporadospelo estudante,pois permitequeeste seja
o sujeito construtor de seu saber e prática, numa dimensão que ul-
trapassaareproduçãodasteoriasnomundoreal.Oportfóliopossi-
bilita ao estudante ser agente interventor sobre sua realidade, pro-
duzindosabereseavaliandosuaslimitações,oquepermiteabusca
de novos conhecimentos e a transformação da prática.
Nesta mesma direção, Sá-Chaves (p. 15)4 salienta que:
esta estratégia permite ao estudante uma ampliação e
diversificação do seu olhar, estimulando a tomada de
decisões, a necessidade de fazer opções, de julgar, de
definir critérios,desedeixarinvadirpor dúvidase por
conflitos, para deles poder emergir mais consciente,
mais informado, mais seguro de si e mais tolerante
quanto às hipóteses dos outros.
Desta forma nasce o portfólio reflexivo.
Sá-Chaves4 aponta algumas contribuições do portfólio refle-
xivo quando este é desenvolvido pelo estudante durante certo
tempo sob a supervisão de um professor: ele promove o desen-
volvimento reflexivo nos níveis cognitivo e metacognitivo; esti-
mula o processo de enriquecimento conceitual; promove a fun-
damentação dos processos de reflexão para, na e sobre a ação;
garantemecanismosdeaprofundamentoconceitualpormeiode
feedback entre os sujeitos da aprendizagem; estimula a originali-
dade e a criatividade individual; contribui para a construção
personalizada do conhecimento para, em e sobre a ação; permite
a regulação, em tempo útil, de conflitos; facilita os processos de
auto e heteroavaliação.
Também para Driessen et al.2, a introdução do portfólio des-
de o início da formação médica é o caminho para uma aprendi-
zagem reflexiva. Isto porque, por meio dele, o estudante pode
olhar para as suas ações de forma sistemática e analisá-las com
cuidado, tomando conta da construção de seu próprio processo
de conhecimento teórico e de métodos alternativos de ação. Ou
seja, refletir sobre o contexto em que se vive e ter um aprendiza-
do por meio de vivências e observação da realidade tornam a
aprendizagem mais significativa e não meramente um acúmulo
de conhecimentos5.
Desta forma, na perspectiva da avaliação, o portfólio tem
sido utilizado para avaliar o processo de aprendizagem do estu-
dante, rompendo com a lógica certificativa e de memorização de
conteúdos, cujo objetivo é quantificar o saber do aluno.
Outra questão suscitada sobre o portfólio, de acordo com Vi-
las Boas3, é o reconhecimento deste como eixo organizador do
trabalho pedagógico, em virtude da importância que o portfólio
passa a ter durante todo o processo de aprendizagem. Para tan-
to, segundo Driessen et al.2, o portfólio deve ter uma estrutura
apropriada previamente definida; um método de avaliação ade-
quado; suficiente número e relevantes experiências para refle-
xão; e suficiente capacidade dos professores para acompanhá-lo
e avaliá-lo.
Segundo Hernández6, a construção do portfólio pode seguir
alguns passos, tais como: o estabelecimento do objetivo do port-
fólio por parte do docente; o estabelecimento das finalidades de
aprendizagempor partede cada estudante; a integraçãodas evi-
dências e experiências de aprendizagem; a seleção das fontes
quecomporãooportfólio;eareflexãodoestudanteacercadeseu
próprio desenvolvimento.
Para que o portfólio propicie de fato os processos reflexivos,
e não apenas ocupe o lugar de um instrumento ou recurso de in-
formação para avaliação, solicita-se aos estudantes a elaboração
de discursos narrativos, de natureza crítico-reflexiva, acerca das
vivências destes nas atividades de prática, nos processos de for-
mação7
.
Desta forma, segundo Sá-Chaves (p. 15)8, em ciclos sucessi-
voseinterativosdereflexãoproativa,oportfóliopodefornecer
evidências não apenas sobre os descritores das ações
vividas e refletidas, sobre os seus constrangimentos e
coerência, sobre o seu grau de sucesso ou insucesso
face ao esperado, mas, sobretudo, permite fazer a cap-
tura do fluir do pensamento do mesmo formando à
medida que vai – ou não – sendo capaz de analisar cri-
ticamente as suas práticas desde o nível técnico, ao ní-
vel éticoe de nesse exercíciose autoavaliar comosujei-
to responsável na transformação das situações e no
sentido dos valores que fundamentam e dignificam a
condição humana.
De acordo com Rees e Sheard9, na visão dos estudantes, o de-
senvolvimento da capacidade reflexiva é considerado importante,
bemcomoaavaliaçãodoportfólioéoportunaevantajosaparaeles.
Entretanto,apontamqueo conceito de reflexãoé de difícil compre-
ensão, que fazê-la é muito trabalhoso e que somente será realizada
pelos estudantes se for uma atividade compulsória.
Nesta mesma direção, Driessen et al.10 alertam que o portfólio é
um valioso instrumento de avaliação e de desenvolvimento da ha-
bilidade reflexiva, porém o método é vulnerável em condições ad-
versas e pode facilmente desapontar (estudantes e professores).
Assim, sugerem que aqueles que têm intenção de implementar o
portfólio devem considerar cuidadosamente a disponibilidade
para criar um ambiente favorável de aprendizagem, necessário ao
sucesso do uso do portfólio.
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
564
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 : 2009
A INVESTIGAÇÃO DA ESTRATÉGIA PORTFÓLIO
REFLEXIVO
Considerando a importância da estratégia portfólio reflexivo
para estudantes e professores no curso de Medicina da UFSCar, foi
realizadaumainvestigaçãocomopropósitodeevidenciartalestra-
tégia como contributo para a formação médica, na perspectiva da
profissionalização reflexiva. Esta investigação também passa a ser
uminstrumentodecomunicaçãoedivulgaçãoacercadaspotencia-
lidades do portfólio para a formação de profissionais da saúde.
Pela natureza do objeto de estudo, esta investigação utilizou
uma metodologia caracterizada como estudo de caso, de análise
qualitativa e quantitativa. Seu objetivo foi identificar a percep-
ção dos estudantes quanto ao uso do portfólio reflexivo na Uni-
dade Educacional de Prática Profissional na segunda série do
curso de Medicina da UFSCar em 2007. Os sujeitos do estudo fo-
ram 33 estudantes da segunda série de 2007 entre os 37 matricu-
lados(quatroestudantesnãoresponderamoquestionário).Aes-
colha desta série para a investigação se deu pelo fato de o curso
médico em 2007 estar no segundo ano de implantação.
A coleta de dados foi realizada mediante aplicação de um
questionário, com questões abertas. Aelaboração do questioná-
rio foi fundamentada na exploração de questões definidas pelos
pesquisadores, por meio dos enquadramentos teóricos que fun-
damentamoestudo. Foirealizado umpré-testecomquatroestu-
dantes de Medicina de outra faculdade no Estado de São Paulo
que utiliza o portfólio reflexivo. Este pré-teste possibilitou ade-
quações nas questões que compuseram o questionário. Na reali-
zação da pesquisa foram seguidos todos os procedimentos de
autorizaçãoinstitucionaleparecerdoComitêdeÉticaePesquisa
em Seres Humanos da UFSCar. Foi observada a resolução no
196/1996 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envol-
vendo seres humanos no que se refere ao termo de responsabili-
dade do pesquisador e de consentimento livre e esclarecido dos
sujeitos que manifestarem anuência à participação na pesquisa.
A análise dos dados foi realizada, na perspectiva qualitativa,
com uso da técnica de análise de conteúdo proposta por Bar-
din11; na perspectiva da análise quantitativa foram utilizadas
medidas de frequência simples.
ANÁLISE DOS DADOS ACERCA DO USO DO
PORTFÓLIO REFLEXIVO
Pela similaridade e complementaridade das respostas, a aná-
lise será apresentada articulando as duas primeiras questões do
questionário:“Oqueéoportfólioparavocê?”e“Nasuaopinião,
qual a contribuição do portfólio para a aprendizagem do estu-
dante na Unidade de Prática Profissional?” E separadamente:
“Como é o processo de construção do seu portfólio na Unidade
de Prática Profissional?” “Como é a participação do professor e
preceptor no seu portfólio?” Para cada uma das questões foram
identificadas unidades de registro que se agruparam e
permitiramaconstruçãodascategoriasempíricasdestaanálise.
A compreensão e a contribuição do portfólio
Apartirdaquestão“Oqueéoportfólioparavocê?”,foipossí-
vel identificar três categorias da compreensão dos sujeitos a res-
peito do que seja portfólio para eles na UEPP: 39,39% se referi-
ramaoportfóliocomoobjeto;para39,39%,oportfólioéumafon-
te de informação; para 21,21%, é uma ferramenta de avaliação
(Tabela 1).
Apesar de uma parcela significativa dos estudantes compre-
ender o portfólio numa dimensão bastante instrumental (como
objeto), ao serem perguntados sobre a contribuição do portfólio
paraa aprendizagem naUEPP, os estudantes apresentaram idei-
as positivas e significativas desta contribuiçãoparao seu proces-
so de formação. Assim, 45,45% relataram que o portfólio ajudou
no acompanhamento das famílias; 39,39% reforçaram que o
portfólio ajudanaorganizaçãodas informaçõessobreasfamílias
e de seus estudos; e 15,15% voltaram a reconhecer o portfólio
como instrumento de avaliação, aqui mais especificamente de
autoavaliação (Tabela 2). A seguir será apresentada a análise de
cada uma destas categorias.
Dos 39,39% dos estudantes que se referiram ao portfólio
como objeto, 30,76% o denominaram como arquivo; 46,15%
como fichário; 7,69% como pasta; e 15,38% não denominaram.
Desta forma, o portfólio foi visto como o lugar onde se guarda e
armazena“tudo”oqueacontecenaUEPP,quepassaaserumar-
quivo do conjunto de documentos ou de dados escritos sobre as
atividadesdaUnidade.Poucaounenhumaimportânciaouutili-
dade foi atribuída ao portfólio nesta categoria para além do “lu-
gar”. Esta representação de portfólio se assemelha à ideia do uso
doportfóliocomoumdiáriodecampo,lugarondeapenasseregis-
tram as tarefas e atividades realizadas. Desta forma, o portfólio
não foi reconhecido pelos sujeitos como ferramenta que contri-
buiuparaaaprendizagem.Afraseaseguirrepresentaestaideia:
O portfólio é o local onde eu arquivo minhas visitas.
Na prática profissional armazeno uma espécie de
prontuário dos meus pacientes e as sínteses dos estu-
dos dos casos dos pacientes. (E27)
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
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REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 ; 2009
Tabela 1
Distribuição das categorias empíricas segundo freqüência absoluta e percentual
Tabela 2
Distribuição da representação dos sujeitos da pesquisa acerca da contribuição do portfólio para a aprendizagem
Dos 39,39% dos estudantes que se referiram ao portfólio
como fonte de informação, 23,07% o apontaram como o lugar de
acesso à informação; 15,38% como local onde se organizam o co-
nhecimento e a informação; 61,53% como local de registro que
permite acompanhar a evolução da aprendizagem. Apesar de as
três ideias parecerem muito próximas, há uma progressão quan-
to ao uso do portfólio. Este foi referido como o lugar onde se ar-
quivam todos os documentos das atividades da UEPP, de forma
organizada, segundo seu uso e sua natureza, de maneira a facili-
tar a busca de informações quando necessário. Desta forma, o
portfólio passa a ser uma fonte de informação contínua para os
estudantes em diferentes situações.
Portfólio é o local onde estão armazenadas minhas
sínteses e reflexões. Maisdo que um fichário que guar-
da resumos, o portfólio garante meu acesso a informa-
ções, raciocínios, abordagem e como eu penso no cui-
dadodopacientedeformaindividualecoletiva.(E31)
Nesta categoria, a contribuição do portfólio para os estudan-
tes foi somente na dimensão organizadora de informações di-
versas com praticidade, que foram importantes para a aprendi-
zagem. O portfólio estimulou a organização dos estudos realiza-
dos. Com isso, o estudante pode ter fácil acesso a estes, que pas-
sam a ser um instrumento de trabalho do dia a dia. Desta forma,
para estes estudantes, pouca ou nenhuma contribuição foi dada
ao portfólio numa dimensão reflexiva da aprendizagem.
Sua contribuição seria pelo estímulo dado a uma mai-
or organização dos estudos realizados e maior facili-
dade na retomada destes. (E17)
Dos21,21%deestudantesqueapontaramoportfóliocomofer-
ramentadeavaliação,57,14%sereferiramàavaliaçãododesenvol-
vimento da aprendizagem do estudante e do curso; 28,57% se refe-
riramaoportfóliocomoferramentaquetambémpossibilitouavali-
ar o cuidado prestado pelos estudantes às famílias e aos pacientes
acompanhados; e 14,28% não especificaram o foco da avaliação.
Segundo os estudantes, o portfólio permitiu uma reflexão
sobre o seu próprio processo de aprendizagem e a própria práti-
ca, ou seja, sobre o cuidado à saúde das famílias e das pessoas
sob sua responsabilidade. Este processo também possibilitou
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
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Categoria
Frequência
Número de ocorrências Porcentagem
Portfólio como objeto 13 39,39
Portfólio como fonte de informação 13 39,39
Portfólio como ferramenta de avaliação 7 21,21
Total 33 100,00
Contribuição do portfólio
Frequência
Número de ocorrências Porcentagem
Acompanhamento das famílias 15 45,45
Organização das informações 13 39,39
Instrumento de autoavaliação 5 15,15
Total 33 100,00
identificar fortalezas e fragilidades, reconhecer as lacunas de co-
nhecimentoe planejarações parasuperá-las, levando ao aperfei-
çoamento do estudante e, consequentemente, à melhora do pla-
no de cuidados. O portfólio, além de ser considerado um instru-
mento que permitiu a autoavaliação do processo de aprendiza-
gem, também possibilitou avaliar o cuidado à saúde prestado às
pessoas e às suas famílias.
É um instrumento que tem como um dos objetivos re-
fletir a atuação do estudante na sua realidade de práti-
ca. Logo, está como o estudante, em constante trans-
formação e alteração no modo como o estudante en-
xerga os seus objetivos, a sua capacidade cognitiva,
nas interpretações crítico-reflexivas e também a sua
indução no olhar atento ao paciente. (E15)
A contribuição do portfólio como instrumento que permitiu
o acompanhamento das famílias significou ter acesso ao conjun-
to de informações sobre a pessoa cuidada, já que o portfólio re-
gistra cronologicamente as histórias, os planos de cuidados e a
evolução do cuidado. Neste sentido, permitiu acompanhar o
processo saúde-doença, a evolução e a avaliação dos planos cui-
dados. Assim, este conjunto de ações pode se tornar importante
para o processo de gestão do cuidado, visto que os estudantes
acompanharão estas pessoas e suas famílias ao longo de toda a
sua formação.
O portfólio contribuiu para a construção e o acompa-
nhamento feito com os pacientes e famílias e para ava-
liação dos fatores positivos, negativos e levantamento
das coisas que ainda devem ser feitas. (E7)
Outracontribuição do portfólio relatada pelos estudantes foi
tê-lo como instrumento de autoavaliação, pois os estudantes re-
gistram as avaliações formativas realizadas na UEPP ao longo
do curso. Esse registro permitiu aos estudantes perceber sua
evolução e planejar ações para melhorar seu aprendizado.
Algunsestudantesreferiramqueoportfóliopossibilitouumare-
flexão acerca da própria prática e uma análise crítica dos proces-
sos de aprendizagem, aparecendo aqui o princípio reflexivo da
formação.
Com ele (portfólio) eu posso analisar melhor minha
evolução, através de dados concretos e precisos de mi-
nha atuação na unidade de prática profissional com os
dados, passo planejar melhor meu estudo. (E14)
Por meio destas duas categorias podemos inferir que o port-
fólio é uma estratégia na qual a avaliação, como processo conti-
nuado e personalizado, garante o refazer das aprendizagens e
potencializa sua qualidade. O estudante, de um modo inacaba-
do,vaipercebendonãosóosconteúdospresentesnesteprocesso
de aprendizagem, como também os significados e sentidos que
ele atribui à informação com a qual interage. Outro princípio
contido nesta categoria é o da autoimplicação do estudante em
sua aprendizagem.
O processo de construção do portfólio
A partir da questão “Como é o processo de construção do
portfólio?” somente 36,36% dos estudantes apontaram a quali-
dade do processo, e os outros 63,63% não mencionaram esta
qualidade. Para aqueles que fizeram referência à qualidade do
processo, esta foi definida como não formal, um tanto tumultua-
da por problemas de organização da própria atividade da práti-
caprofissional, tantodopontodevistaacadêmicocomodaorga-
nização da USF. Este processo foi referenciado pelos estudantes
como um ato mecânico de arquivamento e desorganizado, pela
falta de motivação em sua construção. Alguns estudantes relata-
ram dificuldade de estabelecer uma organização; outros referi-
ram que esse processo de construção evoluiu com o tempo, aju-
dado por todos os envolvidos no processo de aprendizagem, in-
clusive pelo professor.
Mesmo com todas as dificuldades apontadas, os estudantes
relataram que o portfólio foi construído num processo, de forma
contínua e diária. Este processo foi concomitante à construção
do conhecimento seguindo o ciclo de aprendizagem dos peque-
nos grupos de reflexão da prática e em cada momento de traba-
lho junto às famílias e às atividades na USF. Neste processo de
construção,foipossívelidentificarcomooportfóliofoiconstituí-
do, ou seja, as partes que compõem o portfólio na UEPP: 48,48%
dos estudantes por ciclo de aprendizagem e cuidado às pessoas;
39,39% não têm critérios predefinidos;12,12% dos estudantes
não fizeram referência à forma de construção do portfólio
(Tabela 3).
Para 48,48% dos estudantes o portfólio foi construído em duas
partes. A primeira se refere ao trabalho no pequeno grupo de
aprendizagem,emqueincluemasnarrativasdaprática, assínteses
elaboradas a partir das questões de aprendizagem e as avaliações
do processo. A outra parte se refere ao trabalho com as famílias e
pessoas cuidadas por eles, incluindo histórias clínicas, registro das
visitas domiciliares, planos de cuidados e outros.
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
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REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 ; 2009
Tabela 3
Distribuição da representação dos sujeitos acerca das partes que compõem o portfólio
O processo se dá só no momento de construção de
aprendizado, nas reuniões de discussão de narrativas
e histórias de família. (E20).
Dos estudantes que constroem o portfólio sem critérios pre-
definidos, 39,39%, referem que apenas vão arquivando partes e
registro das atividades desenvolvidas por eles. Podemos com-
preender em parte, a partir desta forma de construção do portfó-
lio, as razões pelas quais os estudantes se referem ao portfólio
como um instrumento mecânico de arquivo e não como um ins-
trumento que permite a construção do conhecimento de forma
reflexiva, com vistas aos processos de conscientização das con-
quistas e das lacunas de conhecimento.
A Participação do Facilitador no Portfólio
Quando solicitado aos estudantes que relatassem como foi a
participação do professor – facilitador e/ou preceptor – na cons-
trução de seu portfólio, 60,60% deles relataram que houve parti-
cipação dos professores, 33,33% que não houve nenhuma parti-
cipação, e 6,06% não responderam (Tabela 4).
A participação do professor no portfólio foi referida como
uma contribuição que levou o estudante a melhorar a organiza-
ção do portfólio, no sentido de ampliar o potencial deste para a
aprendizagem. Ainda afirmaram que o portfólio possibilitou ao
professor verificar a evolução do estudante ao longo da UEPP.
Outros relataram que houve uma contribuição do professor quan-
do este analisava as histórias clínicas e os planos de cuidados reali-
zados pelos estudantes das pessoas acompanhadas, ajudando-os
na reflexão sobre o cuidado prestado. Desta forma, o portfólio se
apresenta como uma estratégia de formação continuada e de ver-
dadeiro suporte profissional e pessoal, potencializando a qualida-
de da intervenção realizada pelos estudantes na prática.
O professor me deu orientações muito boas a respeito
de uma melhor organização e sistematização do port-
fólio, o que me ajudou a otimizar o trabalho na prática.
(E29)
Apenas como avaliador de determinadas anotações e con-
dutas, questionando-as e estimulando a fundamentação das
mesmas. (E22)
O portfólio conta uma história de aprendizagem pessoal e
sempre única, que pode ser lida, relida, avaliada e autoavaliada
por ambos, professor e estudante. E assim o professor, em tempo
útil, ao tomar conhecimento do “momento” do estudante, pode-
riacontribuircomorientaçõese informaçõesapropriadas,umfe-
edback oportuno que reencaminhasse os processos de desenvol-
vimento do estudante. Esta ausência de 33,33% dos professores
no acompanhamento do portfólio do estudante nos revela que
tais professores não têm considerado o portfólio como um ins-
trumento que contribui para evidenciar a aprendizagem dos es-
tudantes, sobretudo do que ainda falta, do que ainda se mantém
em aberto em termos de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora os dados desta investigação apontem que a maioria
dos estudantes compreende o portfólio como umobjeto ou fonte
de informação e que apenas uma pequena parcela o visualiza
como ferramenta de aprendizagem, quase a totalidade reconhe-
ce a contribuição do portfólio como estratégia educacional para
a sua formação profissional. O reconhecimento desta contribui-
çãosedeunamedidaemqueoportfóliopermitiuaosestudantes
o acompanhamentoe a organização do cuidado à saúde das pes-
soas sob sua responsabilidade e proporcionou um processo de
autoavaliação quando os estudantes o utilizaram para analisar
sua evolução no processo de cuidado à saúde.
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
568
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 : 2009
Partes do portfólio
Frequência
Número de ocorrências Porcentagem
Ciclo de aprendizagem e cuidado às pessoas 16 48,48
Sem critérios definidos de organização 13 39,39
Não mencionou 4 12,12
Total 33 100,00
Tabela 4
Distribuição da representação dos sujeitos acerca da participação do professor na construção do portfólio
Os dados deste estudo mostraram que a compreensão de
portfólio apontada pelos estudantes se distancia em grande me-
dida da concepção de portfólio reflexivo, pois pouca ou nenhu-
ma contribuição para o desenvolvimento da capacidade reflexi-
va foi considerada pelos estudantes.
As razões para o sucesso do uso do portfólio como estratégia
de desenvolvimentoda habilidade reflexiva, sugeridasnalitera-
tura, repousam no suporte efetivo do professor, num sistema de
orientação e avaliação formativa a partir do portfólio; numa cla-
ra proposta de estruturação do portfólio; e na introdução do
portfólio logo no início da formação.
De acordo com os achados desta investigação, podemos su-
gerir que houve fragilidade em dois dos pontos acima citados:
na participação do professor, principalmente no que se refere ao
desenvolvimento da capacidade reflexiva, atuando o professor
somentenaorientaçãodosplanosdecuidadodesenvolvidos pe-
los estudantes; e na falta de orientação sobre a proposta do
portfólio na UEPP logo no início do curso.
Este trabalho também procurou oferecer contribuições me-
todológicas para a formação de profissionais de saúde que en-
volva processos reflexivos em contextos reais da prática
profissional.
REFERÊNCIAS
1. Curso de Medicina. Caderno do curso de medicina. São
Carlos: Universidade Federal de São Carlos; 2007.
2. Driessen E, Van Tartwik J, Vermuntjd JD, Van der Vleuten
CP. Use of portfolios in early undergraduate medical trai-
ning. Med Teacher. 2003 Jan; 25(1):18-23.
3. Vilas Boas BMF. O portfólio no curso de pedagogia: ampli-
ando o diálogo entre professor e aluno. Educ. Soc. 2005
Jan-Abrl; 26(90):291-306.
4. Sá-Chaves I. Portfólios reflexivos: estratégia de formação e
de supervisão. Aveiro: Universidade de Aveiro; 2000. (Ca-
dernos didácticos. Série Sup.; 1). 57p.
5. Rangel JNM, Nunes LC, Garfinkel M. O portfólio no ensi-
no superior: práticas avaliativas em diferentes ambientes
de aprendizagem. Pro-Posições. 2006;17(3):167-180p.
6. Hernández F. Cultura visual. mudança educativa e projeto
de trabalho. Porto Alegre: Artmed; 2000. 262p.
7. Silva RF, Sá-Chaves I. Formação reflexiva: representações
dos professores acerca do uso de portfólio reflexivo na for-
mação de médicos e enfermeiros. Interface Comun Saúde
Educ. 2008 Dez; 12(27): 721-734.
8. Sá-Chaves I. Formação, Conhecimento e Supervisão: con-
tributos nas áreas da formação de professores e de outros
profissionais. Aveiro: Universidade de Aveiro; 2000.
(Estudos temáticos 1). 198p.
9 Ress C, Sheard C. Undergraduate medical students’ views
about a reflective portfolio assessment of their communi-
cation skills learning. Med Educ. 2004;38(2):125-8.
10. Driessen E, Van Tartwik J, Overeem K, Vermuntjd JD, Van
der Vleuten CP. Conditions for sucessful reflective use of
portfolios in undergraduate medical education. Med
Educ. 2005; 39 (12):1230-5.
11. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977.
226p.
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
569
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 ; 2009
Participação do professor no portfólio
Frequência
Número de ocorrências Porcentagem
Professor participou 20 60,60
Professor não participou 11 33,33
Não respondeu 2 6,06
Total 33 100,00
CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES
RoseliF.daSilva, autoraresponsável,eMarcosAntônioFran-
cisco, co-autor, contribuíram na coleta, análise interpretação dos
dados assim como da redação do texto.
CONFLITO DE INTERESSES
Declarou não haver.
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Rua Vitor Manoel de Souza Lima, 410 - apto 31
São Carlos
CEP.13561-020 SP
E-mail:roselifs@ufscar.br
Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo
570
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
33 (4) : 562 – 570 : 2009

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Portfólio reflexivo na formação médica

  • 1. PALAVRAS-CHAVE − Portfólio − Formação médica − Ensino-aprendizagem − Avaliação KEY WORDS − Portfolio − Education, medical − Teaching-learning − Assessment Recebido em: 08/03/2009 Aprovado em: 24/04/2009 Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco562 – 570 Portfólio reflexivoPortfólio reflexivo: uma estratégia para a formação em medicina Reflective portfolio: a strategy for medical education Roseli Ferreira SilvaI Marcos Antonio FranciscoI R E S U M O Estainvestigaçãodiscuteaestratégiadoportfólioreflexivonaformaçãomédicanocontextode um currículo inovador. O objetivo do estudo foi identificar a percepção dos estudantes quanto ao uso do portfólio reflexivo na Unidade Educacional de Prática Profissional. Caracteriza-se como um estudo de caso, no qual a análise dos dados foi realizada, na perspectiva qualitativa, por meio da técnica de análise de conteúdo; na perspectiva da análise quantitativa, foi utilizada medida de frequência simples. Acoleta de dados foi feita mediante aplicação de um questionário com ques- tõesabertas.Ossujeitosdoestudoforam33estudantesdasegundasérie.Osresultadosapontama contribuição do portfólio para a formação profissional, na medida em que permitiu ao estudante o acompanhamento e a organização do cuidado à saúde das pessoas sob sua responsabilidade e proporcionou um processo de autoavaliação. Por outro lado, a compreensão de portfólio aponta- da pelos estudantes se distancia em grande parte da concepção de portfólio reflexivo, pois pouca ou nenhuma contribuição para o desenvolvimento da capacidade reflexiva foi considerada pelos estudantes. A B S T R A C T This study addresses the reflective portfolio (RP) strategy in medical education in the context of an innovative curriculum. The study aimed to identify students’ perceptions concerning the use of RP in the Educational Unit on Professional Practice. This was a case study of qualitative data using the content analysis technique; the quantitative analysis was based on simple frequen- cies. Data were collected with a questionnaire using open-ended questions. The sample included 33second-yearmedicalstudents.Theresultsindicatedtheportfolio’scontributiontoprofessional training, to the extent that it allowed students to monitor and organize the care of patients under their responsibility, while fostering a self-assessment process. Meanwhile, the students’ unders- tanding of the portfolio largely diverged from the reflective portfolio concept, in which the stu- dents identified little or no contribution to the development of reflective capacity. 562 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 ; 2009 I Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil.
  • 2. O CONTEXTO DA ELABORAÇÃO DO PORTFÓLIO Esta investigação se inscreve no contexto de um currículo inovador para a formação médica no curso de Medicina da Uni- versidade Federal de São Carlos, no qual o plano curricular é in- tegrado e interdisciplinar, inclui processos metodológicos e pe- dagógicos inovadores e é orientado pelo desenvolvimento da competência profissional esperada para o médico no contexto brasileiro. Esta proposta de formação é de natureza crítico-reflexiva, sustentada numa perspectiva de construção do conhecimento a partir da problematização da realidade, ou seja, na articulação da teoria com a prática e na participação ativa do estudante no processo de aprendizagem. Cada série deste currículo é organi- zada por duas grandes Unidades Educacionais, a de Simulação da Prática Profissional e a de Prática Profissional1. A Unidade Educacional de Prática Profissional (UEPP) é construída a partir da vivência dos estudantes em contextos rea- is da prática médica. Para as duas primeiras séries, o cenário pri- vilegiado do processo de ensino-aprendizagem são as Unidades de Saúde da Família (USF) do município. Neste cenário, dois dias por semana, os estudantes, em gru- pos de oito, junto com a equipe de saúde e sob supervisão do preceptor – médico da USF –, se responsabilizam pelo cuidado à saúde de um grupo de pessoas. O cuidado realizado pelos estu- dantes ocorre de acordo com o grau de autonomia destes, espe- rado para a série em que o aluno se encontra. Numterceiro períodosemanal,cada gruporealiza encontros de reflexão sobre as práticas desenvolvidas, com a participação de um professor, que exerce o papel de facilitador da aprendiza- gem, e do preceptor no papel de cofacilitador. Estes encontros constituem ciclos de aprendizagem. Na primeira etapa do ciclo de aprendizagem, denominada síntese provisória, a partir de um “disparador”, como as históri- as clínicas realizadas pelos estudantes em visitas domiciliares, ocorrem discussões considerando as capacidades prévias dos estudantes – nas dimensões cognitiva, psicológica e atitudinal –, as quais permitem identificar lacunas no conhecimento e levantar questões de aprendizagem. Na segunda etapa do ciclo de aprendizagem, a partir dessas questões de aprendizagem, numprocesso individual, cada estu- dante se responsabiliza pela identificação de fontes e busca de informaçõesquepermitamaanálise eelaboraçãode umasíntese individual coerente com as questões de aprendizagem. Numa terceira etapa, num novo encontro do grupo, os estu- dantes discutem os achados e elaboram uma nova síntese com aprofundamentos conceptuais, científicos e metodológicos a partir das pesquisas individuais e estruturação das questões de aprendizagem. Desta forma, novos ciclos vão se constituindo sucessivamente a partir das situações reais vividas na prática profissional. Nesta perspectiva, várias estratégias pedagógicas e metodo- lógicas foram necessárias ao desenvolvimento curricular em contexto real, e uma delas foi a adoção do portfólio reflexivo. Assim, em geral, o portfólio dos estudantes é organizado a partir desses ciclos de aprendizagem e a partir da realização das atividades da prática, tal como o cuidadoprestado aos indivídu- os. Assim, pode ser organizado por família, contendo a história de vida da família, história clínica, exame clínico, levantamento de necessidades de saúde e do plano de cuidados do paciente, entre outros. Nesta Unidade, o portfólio é utilizado como uma estratégia quepotencializaareflexãosobreaspráticasdesenvolvidas pelos estudantes, apoiando o processo de construção de conhecimen- to contextualizado e o desenvolvimento pessoal e profissional dos envolvidos, favorecendo a compreensão dos significados possíveis e a atribuição de sentido(s) às situações e aos conceitos que constituem o cerne da aprendizagem, estimulando o desenvolvimento crítico e reflexivo do formando. Todo o processo de construção do conhecimento é sempre mediado e enriquecido pelos professores e preceptores, seja no contato individual com o estudante, no acompanhamento de suas práticas, nos pequenos grupos de reflexão ou naconstrução do portfólio reflexivo. A ESTRATÉGIA PORTFÓLIO REFLEXIVO O portfólio tem sido utilizado em diferentes áreas de forma- ção profissional, cumprindo um papel importante em vários contextos educativos como estratégia que potencializa a cons- trução do conhecimento de forma reflexiva, com vista a uma progressiva emancipação dos sujeitos em formação. Na forma- ção em saúde, o portfólio tem sido utilizado principalmente em currículos inovadores. Na educação médica, o portfólio aparece em diferentes âm- bitos da formação, ou seja, na graduação, no internato e nos pro- gramas de residência. Nestes, o portfólio tem sido empregado como instrumento de registro, memória, planejamento, autoa- valiação, avaliação e principalmente para o desenvolvimento da capacidade reflexiva. Ainda quando utilizado em atividades de prática, em contextos reais, o portfólio permite ao estudante re- fletirsobre aspectos de comunicaçãoe os relacionados aos domí- nios afetivo e emocional2. Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 563 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 ; 2009
  • 3. ParaVilasBoas3,oportfóliotemsidoconsideradoumdossabe- res a seremincorporadospelo estudante,pois permitequeeste seja o sujeito construtor de seu saber e prática, numa dimensão que ul- trapassaareproduçãodasteoriasnomundoreal.Oportfóliopossi- bilita ao estudante ser agente interventor sobre sua realidade, pro- duzindosabereseavaliandosuaslimitações,oquepermiteabusca de novos conhecimentos e a transformação da prática. Nesta mesma direção, Sá-Chaves (p. 15)4 salienta que: esta estratégia permite ao estudante uma ampliação e diversificação do seu olhar, estimulando a tomada de decisões, a necessidade de fazer opções, de julgar, de definir critérios,desedeixarinvadirpor dúvidase por conflitos, para deles poder emergir mais consciente, mais informado, mais seguro de si e mais tolerante quanto às hipóteses dos outros. Desta forma nasce o portfólio reflexivo. Sá-Chaves4 aponta algumas contribuições do portfólio refle- xivo quando este é desenvolvido pelo estudante durante certo tempo sob a supervisão de um professor: ele promove o desen- volvimento reflexivo nos níveis cognitivo e metacognitivo; esti- mula o processo de enriquecimento conceitual; promove a fun- damentação dos processos de reflexão para, na e sobre a ação; garantemecanismosdeaprofundamentoconceitualpormeiode feedback entre os sujeitos da aprendizagem; estimula a originali- dade e a criatividade individual; contribui para a construção personalizada do conhecimento para, em e sobre a ação; permite a regulação, em tempo útil, de conflitos; facilita os processos de auto e heteroavaliação. Também para Driessen et al.2, a introdução do portfólio des- de o início da formação médica é o caminho para uma aprendi- zagem reflexiva. Isto porque, por meio dele, o estudante pode olhar para as suas ações de forma sistemática e analisá-las com cuidado, tomando conta da construção de seu próprio processo de conhecimento teórico e de métodos alternativos de ação. Ou seja, refletir sobre o contexto em que se vive e ter um aprendiza- do por meio de vivências e observação da realidade tornam a aprendizagem mais significativa e não meramente um acúmulo de conhecimentos5. Desta forma, na perspectiva da avaliação, o portfólio tem sido utilizado para avaliar o processo de aprendizagem do estu- dante, rompendo com a lógica certificativa e de memorização de conteúdos, cujo objetivo é quantificar o saber do aluno. Outra questão suscitada sobre o portfólio, de acordo com Vi- las Boas3, é o reconhecimento deste como eixo organizador do trabalho pedagógico, em virtude da importância que o portfólio passa a ter durante todo o processo de aprendizagem. Para tan- to, segundo Driessen et al.2, o portfólio deve ter uma estrutura apropriada previamente definida; um método de avaliação ade- quado; suficiente número e relevantes experiências para refle- xão; e suficiente capacidade dos professores para acompanhá-lo e avaliá-lo. Segundo Hernández6, a construção do portfólio pode seguir alguns passos, tais como: o estabelecimento do objetivo do port- fólio por parte do docente; o estabelecimento das finalidades de aprendizagempor partede cada estudante; a integraçãodas evi- dências e experiências de aprendizagem; a seleção das fontes quecomporãooportfólio;eareflexãodoestudanteacercadeseu próprio desenvolvimento. Para que o portfólio propicie de fato os processos reflexivos, e não apenas ocupe o lugar de um instrumento ou recurso de in- formação para avaliação, solicita-se aos estudantes a elaboração de discursos narrativos, de natureza crítico-reflexiva, acerca das vivências destes nas atividades de prática, nos processos de for- mação7 . Desta forma, segundo Sá-Chaves (p. 15)8, em ciclos sucessi- voseinterativosdereflexãoproativa,oportfóliopodefornecer evidências não apenas sobre os descritores das ações vividas e refletidas, sobre os seus constrangimentos e coerência, sobre o seu grau de sucesso ou insucesso face ao esperado, mas, sobretudo, permite fazer a cap- tura do fluir do pensamento do mesmo formando à medida que vai – ou não – sendo capaz de analisar cri- ticamente as suas práticas desde o nível técnico, ao ní- vel éticoe de nesse exercíciose autoavaliar comosujei- to responsável na transformação das situações e no sentido dos valores que fundamentam e dignificam a condição humana. De acordo com Rees e Sheard9, na visão dos estudantes, o de- senvolvimento da capacidade reflexiva é considerado importante, bemcomoaavaliaçãodoportfólioéoportunaevantajosaparaeles. Entretanto,apontamqueo conceito de reflexãoé de difícil compre- ensão, que fazê-la é muito trabalhoso e que somente será realizada pelos estudantes se for uma atividade compulsória. Nesta mesma direção, Driessen et al.10 alertam que o portfólio é um valioso instrumento de avaliação e de desenvolvimento da ha- bilidade reflexiva, porém o método é vulnerável em condições ad- versas e pode facilmente desapontar (estudantes e professores). Assim, sugerem que aqueles que têm intenção de implementar o portfólio devem considerar cuidadosamente a disponibilidade para criar um ambiente favorável de aprendizagem, necessário ao sucesso do uso do portfólio. Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 564 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 : 2009
  • 4. A INVESTIGAÇÃO DA ESTRATÉGIA PORTFÓLIO REFLEXIVO Considerando a importância da estratégia portfólio reflexivo para estudantes e professores no curso de Medicina da UFSCar, foi realizadaumainvestigaçãocomopropósitodeevidenciartalestra- tégia como contributo para a formação médica, na perspectiva da profissionalização reflexiva. Esta investigação também passa a ser uminstrumentodecomunicaçãoedivulgaçãoacercadaspotencia- lidades do portfólio para a formação de profissionais da saúde. Pela natureza do objeto de estudo, esta investigação utilizou uma metodologia caracterizada como estudo de caso, de análise qualitativa e quantitativa. Seu objetivo foi identificar a percep- ção dos estudantes quanto ao uso do portfólio reflexivo na Uni- dade Educacional de Prática Profissional na segunda série do curso de Medicina da UFSCar em 2007. Os sujeitos do estudo fo- ram 33 estudantes da segunda série de 2007 entre os 37 matricu- lados(quatroestudantesnãoresponderamoquestionário).Aes- colha desta série para a investigação se deu pelo fato de o curso médico em 2007 estar no segundo ano de implantação. A coleta de dados foi realizada mediante aplicação de um questionário, com questões abertas. Aelaboração do questioná- rio foi fundamentada na exploração de questões definidas pelos pesquisadores, por meio dos enquadramentos teóricos que fun- damentamoestudo. Foirealizado umpré-testecomquatroestu- dantes de Medicina de outra faculdade no Estado de São Paulo que utiliza o portfólio reflexivo. Este pré-teste possibilitou ade- quações nas questões que compuseram o questionário. Na reali- zação da pesquisa foram seguidos todos os procedimentos de autorizaçãoinstitucionaleparecerdoComitêdeÉticaePesquisa em Seres Humanos da UFSCar. Foi observada a resolução no 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envol- vendo seres humanos no que se refere ao termo de responsabili- dade do pesquisador e de consentimento livre e esclarecido dos sujeitos que manifestarem anuência à participação na pesquisa. A análise dos dados foi realizada, na perspectiva qualitativa, com uso da técnica de análise de conteúdo proposta por Bar- din11; na perspectiva da análise quantitativa foram utilizadas medidas de frequência simples. ANÁLISE DOS DADOS ACERCA DO USO DO PORTFÓLIO REFLEXIVO Pela similaridade e complementaridade das respostas, a aná- lise será apresentada articulando as duas primeiras questões do questionário:“Oqueéoportfólioparavocê?”e“Nasuaopinião, qual a contribuição do portfólio para a aprendizagem do estu- dante na Unidade de Prática Profissional?” E separadamente: “Como é o processo de construção do seu portfólio na Unidade de Prática Profissional?” “Como é a participação do professor e preceptor no seu portfólio?” Para cada uma das questões foram identificadas unidades de registro que se agruparam e permitiramaconstruçãodascategoriasempíricasdestaanálise. A compreensão e a contribuição do portfólio Apartirdaquestão“Oqueéoportfólioparavocê?”,foipossí- vel identificar três categorias da compreensão dos sujeitos a res- peito do que seja portfólio para eles na UEPP: 39,39% se referi- ramaoportfóliocomoobjeto;para39,39%,oportfólioéumafon- te de informação; para 21,21%, é uma ferramenta de avaliação (Tabela 1). Apesar de uma parcela significativa dos estudantes compre- ender o portfólio numa dimensão bastante instrumental (como objeto), ao serem perguntados sobre a contribuição do portfólio paraa aprendizagem naUEPP, os estudantes apresentaram idei- as positivas e significativas desta contribuiçãoparao seu proces- so de formação. Assim, 45,45% relataram que o portfólio ajudou no acompanhamento das famílias; 39,39% reforçaram que o portfólio ajudanaorganizaçãodas informaçõessobreasfamílias e de seus estudos; e 15,15% voltaram a reconhecer o portfólio como instrumento de avaliação, aqui mais especificamente de autoavaliação (Tabela 2). A seguir será apresentada a análise de cada uma destas categorias. Dos 39,39% dos estudantes que se referiram ao portfólio como objeto, 30,76% o denominaram como arquivo; 46,15% como fichário; 7,69% como pasta; e 15,38% não denominaram. Desta forma, o portfólio foi visto como o lugar onde se guarda e armazena“tudo”oqueacontecenaUEPP,quepassaaserumar- quivo do conjunto de documentos ou de dados escritos sobre as atividadesdaUnidade.Poucaounenhumaimportânciaouutili- dade foi atribuída ao portfólio nesta categoria para além do “lu- gar”. Esta representação de portfólio se assemelha à ideia do uso doportfóliocomoumdiáriodecampo,lugarondeapenasseregis- tram as tarefas e atividades realizadas. Desta forma, o portfólio não foi reconhecido pelos sujeitos como ferramenta que contri- buiuparaaaprendizagem.Afraseaseguirrepresentaestaideia: O portfólio é o local onde eu arquivo minhas visitas. Na prática profissional armazeno uma espécie de prontuário dos meus pacientes e as sínteses dos estu- dos dos casos dos pacientes. (E27) Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 565 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 ; 2009
  • 5. Tabela 1 Distribuição das categorias empíricas segundo freqüência absoluta e percentual Tabela 2 Distribuição da representação dos sujeitos da pesquisa acerca da contribuição do portfólio para a aprendizagem Dos 39,39% dos estudantes que se referiram ao portfólio como fonte de informação, 23,07% o apontaram como o lugar de acesso à informação; 15,38% como local onde se organizam o co- nhecimento e a informação; 61,53% como local de registro que permite acompanhar a evolução da aprendizagem. Apesar de as três ideias parecerem muito próximas, há uma progressão quan- to ao uso do portfólio. Este foi referido como o lugar onde se ar- quivam todos os documentos das atividades da UEPP, de forma organizada, segundo seu uso e sua natureza, de maneira a facili- tar a busca de informações quando necessário. Desta forma, o portfólio passa a ser uma fonte de informação contínua para os estudantes em diferentes situações. Portfólio é o local onde estão armazenadas minhas sínteses e reflexões. Maisdo que um fichário que guar- da resumos, o portfólio garante meu acesso a informa- ções, raciocínios, abordagem e como eu penso no cui- dadodopacientedeformaindividualecoletiva.(E31) Nesta categoria, a contribuição do portfólio para os estudan- tes foi somente na dimensão organizadora de informações di- versas com praticidade, que foram importantes para a aprendi- zagem. O portfólio estimulou a organização dos estudos realiza- dos. Com isso, o estudante pode ter fácil acesso a estes, que pas- sam a ser um instrumento de trabalho do dia a dia. Desta forma, para estes estudantes, pouca ou nenhuma contribuição foi dada ao portfólio numa dimensão reflexiva da aprendizagem. Sua contribuição seria pelo estímulo dado a uma mai- or organização dos estudos realizados e maior facili- dade na retomada destes. (E17) Dos21,21%deestudantesqueapontaramoportfóliocomofer- ramentadeavaliação,57,14%sereferiramàavaliaçãododesenvol- vimento da aprendizagem do estudante e do curso; 28,57% se refe- riramaoportfóliocomoferramentaquetambémpossibilitouavali- ar o cuidado prestado pelos estudantes às famílias e aos pacientes acompanhados; e 14,28% não especificaram o foco da avaliação. Segundo os estudantes, o portfólio permitiu uma reflexão sobre o seu próprio processo de aprendizagem e a própria práti- ca, ou seja, sobre o cuidado à saúde das famílias e das pessoas sob sua responsabilidade. Este processo também possibilitou Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 566 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 : 2009 Categoria Frequência Número de ocorrências Porcentagem Portfólio como objeto 13 39,39 Portfólio como fonte de informação 13 39,39 Portfólio como ferramenta de avaliação 7 21,21 Total 33 100,00 Contribuição do portfólio Frequência Número de ocorrências Porcentagem Acompanhamento das famílias 15 45,45 Organização das informações 13 39,39 Instrumento de autoavaliação 5 15,15 Total 33 100,00
  • 6. identificar fortalezas e fragilidades, reconhecer as lacunas de co- nhecimentoe planejarações parasuperá-las, levando ao aperfei- çoamento do estudante e, consequentemente, à melhora do pla- no de cuidados. O portfólio, além de ser considerado um instru- mento que permitiu a autoavaliação do processo de aprendiza- gem, também possibilitou avaliar o cuidado à saúde prestado às pessoas e às suas famílias. É um instrumento que tem como um dos objetivos re- fletir a atuação do estudante na sua realidade de práti- ca. Logo, está como o estudante, em constante trans- formação e alteração no modo como o estudante en- xerga os seus objetivos, a sua capacidade cognitiva, nas interpretações crítico-reflexivas e também a sua indução no olhar atento ao paciente. (E15) A contribuição do portfólio como instrumento que permitiu o acompanhamento das famílias significou ter acesso ao conjun- to de informações sobre a pessoa cuidada, já que o portfólio re- gistra cronologicamente as histórias, os planos de cuidados e a evolução do cuidado. Neste sentido, permitiu acompanhar o processo saúde-doença, a evolução e a avaliação dos planos cui- dados. Assim, este conjunto de ações pode se tornar importante para o processo de gestão do cuidado, visto que os estudantes acompanharão estas pessoas e suas famílias ao longo de toda a sua formação. O portfólio contribuiu para a construção e o acompa- nhamento feito com os pacientes e famílias e para ava- liação dos fatores positivos, negativos e levantamento das coisas que ainda devem ser feitas. (E7) Outracontribuição do portfólio relatada pelos estudantes foi tê-lo como instrumento de autoavaliação, pois os estudantes re- gistram as avaliações formativas realizadas na UEPP ao longo do curso. Esse registro permitiu aos estudantes perceber sua evolução e planejar ações para melhorar seu aprendizado. Algunsestudantesreferiramqueoportfóliopossibilitouumare- flexão acerca da própria prática e uma análise crítica dos proces- sos de aprendizagem, aparecendo aqui o princípio reflexivo da formação. Com ele (portfólio) eu posso analisar melhor minha evolução, através de dados concretos e precisos de mi- nha atuação na unidade de prática profissional com os dados, passo planejar melhor meu estudo. (E14) Por meio destas duas categorias podemos inferir que o port- fólio é uma estratégia na qual a avaliação, como processo conti- nuado e personalizado, garante o refazer das aprendizagens e potencializa sua qualidade. O estudante, de um modo inacaba- do,vaipercebendonãosóosconteúdospresentesnesteprocesso de aprendizagem, como também os significados e sentidos que ele atribui à informação com a qual interage. Outro princípio contido nesta categoria é o da autoimplicação do estudante em sua aprendizagem. O processo de construção do portfólio A partir da questão “Como é o processo de construção do portfólio?” somente 36,36% dos estudantes apontaram a quali- dade do processo, e os outros 63,63% não mencionaram esta qualidade. Para aqueles que fizeram referência à qualidade do processo, esta foi definida como não formal, um tanto tumultua- da por problemas de organização da própria atividade da práti- caprofissional, tantodopontodevistaacadêmicocomodaorga- nização da USF. Este processo foi referenciado pelos estudantes como um ato mecânico de arquivamento e desorganizado, pela falta de motivação em sua construção. Alguns estudantes relata- ram dificuldade de estabelecer uma organização; outros referi- ram que esse processo de construção evoluiu com o tempo, aju- dado por todos os envolvidos no processo de aprendizagem, in- clusive pelo professor. Mesmo com todas as dificuldades apontadas, os estudantes relataram que o portfólio foi construído num processo, de forma contínua e diária. Este processo foi concomitante à construção do conhecimento seguindo o ciclo de aprendizagem dos peque- nos grupos de reflexão da prática e em cada momento de traba- lho junto às famílias e às atividades na USF. Neste processo de construção,foipossívelidentificarcomooportfóliofoiconstituí- do, ou seja, as partes que compõem o portfólio na UEPP: 48,48% dos estudantes por ciclo de aprendizagem e cuidado às pessoas; 39,39% não têm critérios predefinidos;12,12% dos estudantes não fizeram referência à forma de construção do portfólio (Tabela 3). Para 48,48% dos estudantes o portfólio foi construído em duas partes. A primeira se refere ao trabalho no pequeno grupo de aprendizagem,emqueincluemasnarrativasdaprática, assínteses elaboradas a partir das questões de aprendizagem e as avaliações do processo. A outra parte se refere ao trabalho com as famílias e pessoas cuidadas por eles, incluindo histórias clínicas, registro das visitas domiciliares, planos de cuidados e outros. Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 567 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 ; 2009
  • 7. Tabela 3 Distribuição da representação dos sujeitos acerca das partes que compõem o portfólio O processo se dá só no momento de construção de aprendizado, nas reuniões de discussão de narrativas e histórias de família. (E20). Dos estudantes que constroem o portfólio sem critérios pre- definidos, 39,39%, referem que apenas vão arquivando partes e registro das atividades desenvolvidas por eles. Podemos com- preender em parte, a partir desta forma de construção do portfó- lio, as razões pelas quais os estudantes se referem ao portfólio como um instrumento mecânico de arquivo e não como um ins- trumento que permite a construção do conhecimento de forma reflexiva, com vistas aos processos de conscientização das con- quistas e das lacunas de conhecimento. A Participação do Facilitador no Portfólio Quando solicitado aos estudantes que relatassem como foi a participação do professor – facilitador e/ou preceptor – na cons- trução de seu portfólio, 60,60% deles relataram que houve parti- cipação dos professores, 33,33% que não houve nenhuma parti- cipação, e 6,06% não responderam (Tabela 4). A participação do professor no portfólio foi referida como uma contribuição que levou o estudante a melhorar a organiza- ção do portfólio, no sentido de ampliar o potencial deste para a aprendizagem. Ainda afirmaram que o portfólio possibilitou ao professor verificar a evolução do estudante ao longo da UEPP. Outros relataram que houve uma contribuição do professor quan- do este analisava as histórias clínicas e os planos de cuidados reali- zados pelos estudantes das pessoas acompanhadas, ajudando-os na reflexão sobre o cuidado prestado. Desta forma, o portfólio se apresenta como uma estratégia de formação continuada e de ver- dadeiro suporte profissional e pessoal, potencializando a qualida- de da intervenção realizada pelos estudantes na prática. O professor me deu orientações muito boas a respeito de uma melhor organização e sistematização do port- fólio, o que me ajudou a otimizar o trabalho na prática. (E29) Apenas como avaliador de determinadas anotações e con- dutas, questionando-as e estimulando a fundamentação das mesmas. (E22) O portfólio conta uma história de aprendizagem pessoal e sempre única, que pode ser lida, relida, avaliada e autoavaliada por ambos, professor e estudante. E assim o professor, em tempo útil, ao tomar conhecimento do “momento” do estudante, pode- riacontribuircomorientaçõese informaçõesapropriadas,umfe- edback oportuno que reencaminhasse os processos de desenvol- vimento do estudante. Esta ausência de 33,33% dos professores no acompanhamento do portfólio do estudante nos revela que tais professores não têm considerado o portfólio como um ins- trumento que contribui para evidenciar a aprendizagem dos es- tudantes, sobretudo do que ainda falta, do que ainda se mantém em aberto em termos de aprendizagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora os dados desta investigação apontem que a maioria dos estudantes compreende o portfólio como umobjeto ou fonte de informação e que apenas uma pequena parcela o visualiza como ferramenta de aprendizagem, quase a totalidade reconhe- ce a contribuição do portfólio como estratégia educacional para a sua formação profissional. O reconhecimento desta contribui- çãosedeunamedidaemqueoportfóliopermitiuaosestudantes o acompanhamentoe a organização do cuidado à saúde das pes- soas sob sua responsabilidade e proporcionou um processo de autoavaliação quando os estudantes o utilizaram para analisar sua evolução no processo de cuidado à saúde. Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 568 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 : 2009 Partes do portfólio Frequência Número de ocorrências Porcentagem Ciclo de aprendizagem e cuidado às pessoas 16 48,48 Sem critérios definidos de organização 13 39,39 Não mencionou 4 12,12 Total 33 100,00
  • 8. Tabela 4 Distribuição da representação dos sujeitos acerca da participação do professor na construção do portfólio Os dados deste estudo mostraram que a compreensão de portfólio apontada pelos estudantes se distancia em grande me- dida da concepção de portfólio reflexivo, pois pouca ou nenhu- ma contribuição para o desenvolvimento da capacidade reflexi- va foi considerada pelos estudantes. As razões para o sucesso do uso do portfólio como estratégia de desenvolvimentoda habilidade reflexiva, sugeridasnalitera- tura, repousam no suporte efetivo do professor, num sistema de orientação e avaliação formativa a partir do portfólio; numa cla- ra proposta de estruturação do portfólio; e na introdução do portfólio logo no início da formação. De acordo com os achados desta investigação, podemos su- gerir que houve fragilidade em dois dos pontos acima citados: na participação do professor, principalmente no que se refere ao desenvolvimento da capacidade reflexiva, atuando o professor somentenaorientaçãodosplanosdecuidadodesenvolvidos pe- los estudantes; e na falta de orientação sobre a proposta do portfólio na UEPP logo no início do curso. Este trabalho também procurou oferecer contribuições me- todológicas para a formação de profissionais de saúde que en- volva processos reflexivos em contextos reais da prática profissional. REFERÊNCIAS 1. Curso de Medicina. Caderno do curso de medicina. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos; 2007. 2. Driessen E, Van Tartwik J, Vermuntjd JD, Van der Vleuten CP. Use of portfolios in early undergraduate medical trai- ning. Med Teacher. 2003 Jan; 25(1):18-23. 3. Vilas Boas BMF. O portfólio no curso de pedagogia: ampli- ando o diálogo entre professor e aluno. Educ. Soc. 2005 Jan-Abrl; 26(90):291-306. 4. Sá-Chaves I. Portfólios reflexivos: estratégia de formação e de supervisão. Aveiro: Universidade de Aveiro; 2000. (Ca- dernos didácticos. Série Sup.; 1). 57p. 5. Rangel JNM, Nunes LC, Garfinkel M. O portfólio no ensi- no superior: práticas avaliativas em diferentes ambientes de aprendizagem. Pro-Posições. 2006;17(3):167-180p. 6. Hernández F. Cultura visual. mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed; 2000. 262p. 7. Silva RF, Sá-Chaves I. Formação reflexiva: representações dos professores acerca do uso de portfólio reflexivo na for- mação de médicos e enfermeiros. Interface Comun Saúde Educ. 2008 Dez; 12(27): 721-734. 8. Sá-Chaves I. Formação, Conhecimento e Supervisão: con- tributos nas áreas da formação de professores e de outros profissionais. Aveiro: Universidade de Aveiro; 2000. (Estudos temáticos 1). 198p. 9 Ress C, Sheard C. Undergraduate medical students’ views about a reflective portfolio assessment of their communi- cation skills learning. Med Educ. 2004;38(2):125-8. 10. Driessen E, Van Tartwik J, Overeem K, Vermuntjd JD, Van der Vleuten CP. Conditions for sucessful reflective use of portfolios in undergraduate medical education. Med Educ. 2005; 39 (12):1230-5. 11. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977. 226p. Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 569 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 ; 2009 Participação do professor no portfólio Frequência Número de ocorrências Porcentagem Professor participou 20 60,60 Professor não participou 11 33,33 Não respondeu 2 6,06 Total 33 100,00
  • 9. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES RoseliF.daSilva, autoraresponsável,eMarcosAntônioFran- cisco, co-autor, contribuíram na coleta, análise interpretação dos dados assim como da redação do texto. CONFLITO DE INTERESSES Declarou não haver. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Rua Vitor Manoel de Souza Lima, 410 - apto 31 São Carlos CEP.13561-020 SP E-mail:roselifs@ufscar.br Roseli Ferreira Silva & Marcos Antonio Francisco Portfólio reflexivo 570 REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 33 (4) : 562 – 570 : 2009