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Professores iniciantes ensinando História:
dilemas de aula e desafios da formação
Beginner teachers teaching History:
class dilemmas and formation challenges
Flávia Eloisa Caimi*
Resumo
A maneira como os professores apren-
dem em contextos de formação e atuação
tem constituído tema central nos debates
sobre qualidade da educação e melhoria
do ensino. Diante disso, este estudo segue
o propósito de investigar os processos de
aprendizagem profissional de acadêmicos
em situação de estágio curricular supervi-
sionado, na licenciatura em História, com
vistas a identificar de que conhecimentos
e estratégias se valem esses sujeitos para
dar conta das demandas e desafios que se
colocam no contexto de iniciação à do-
cência. Nos limites deste artigo são anali-
sados os registros de aula de uma acadê-
mica cujo estágio realizou-se na última
série do ensino fundamental. Além da
análise dos registros (planejamento, ativi-
dades, memórias de aula e memorial fi-
nal), desenvolveu-se observação de aulas
e entrevista não estruturada.
Palavras-chave: História; estágio; apren-
dizagem profissional.
Abstract
The way the teachers learn in formation
and acting contexts has been the core is-
sue in the debates about the education
quality and education improvement.
From this point, this study´s purpose is
to investigate the academic’s profes-
sional learning processes in History
graduation overseen internship situa-
tions, aiming to identify which knowl-
edge and strategies these students use to
deal with the demands and challenges
that appear in the beginning of this
teaching context. Within the limits of
this study, the class records made by a
student whose internship has been done
in the last grade of elementary school
are analyzed. Besides the records analy-
sis (planning, activities, class memories
and final memory), a class observation
and a non-structured interview have
been made.
Keywords: History; supervised training;
professional learning.
Na literatura educacional tem-se dedicado especial atenção aos saberes e
competências necessários à atuação docente. Diversos autores1
vêm procuran-
Revista História Hoje, v. 2, nº 3, p. 87-107 - 2013
* Faculdade de Educação, Universidade de Passo Fundo (UPF). Campus I, São José. 99001-970
Passo Fundo – RS – Brasil. caimi@upf.br
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
88
do demonstrar a importância de prestar atenção aos modos como os profes-
sores transformam os conhecimentos que possuem em saberes ensináveis e
compreensíveis para os seus alunos. Ainda, apontam um conjunto de saberes
necessários à docência, que dizem respeito, grosso modo, aos saberes da expe-
riência, aos conhecimentos/conteúdos da área específica, aos saberes didático-
-pedagógicos, aos saberes curriculares e aos conhecimentos dos contextos
educativos, dentre outros.
Ao nos debruçarmos sobre o contexto formativo da atividade de Prática de
Ensino e Estágios na Licenciatura em História, interessou-nos investigar como
os professorandos2
estão constituindo sua aprendizagem profissional, no intuito
de identificar que elementos cognitivos e contextuais caracterizam seu desempe-
nho competente na sala de aula. O que entendemos por desempenho competente,
neste estudo, não é a capacidade de dar todas as respostas ou de solucionar todos
os problemas da aula, e sim a disposição de identificar quais dificuldades se
apresentam em dada situação; de reconhecer que limitações e potencialidades
têm para enfrentá-la; de perceber o que sabem e o que lhes falta saber para en-
frentar os dilemas que surgem no cotidiano da sala de aula, enfim, um conjunto
de habilidades que Bransford, Brown e Cocking (2007) denominam ‘competên-
cia adaptativa’, conceito associado ao de metacognição, consubstanciado na ta-
refa de avaliar o próprio progresso, identificar e perseguir, de modo contínuo e
sistemático, novos objetivos de aprendizagem.
Frente às inquietações que movem nossa prática de formadores de pro-
fessores de História na licenciatura, temos buscado compreender como as
trajetórias de formação dos sujeitos convergem para práticas qualificadas de
ensinar-aprender em situação de estágio supervisionado. Dentre as principais
indagações, destacamos: a) De que conhecimentos, instrumentos cognitivos,
estratégias, recursos e características pessoais se valem esses sujeitos na medida
em que necessitam mobilizar tais aportes para ensinar outros? b) Quais as
mediações e/ou estratégias de aprendizagem implicadas na apropriação/cons-
trução dos aportes necessários para viabilizar uma prática de ensino que atenda
qualificadamente às demandas da aula, resultando em desempenho competente?
c) Como reagem os sujeitos frente a situações que requerem a organização do
conhecimento, a compreensão e resolução de problemas?
Para desenvolver o estudo, acompanhamos a trajetória de formação aca-
dêmica de um grupo integrado por cinco sujeitos previamente identificados
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 89
como estudantes destacados na licenciatura em História, cujo desempenho
docente sobressai-se em relação à média da turma, em situação de estágio
supervisionado, apesar de não possuírem nenhuma experiência docente até o
momento de realizar tal prática na licenciatura. Do ponto de vista metodoló-
gico, foram adotadas as seguintes estratégias: a) observação de aulas e acom-
panhamento sistemático das suas práticas de estágio; b) coleta e análise de
registros de aula produzidos pelos estagiários, tais como planos, atividades,
memórias; c) entrevistas para a discussão de situações de aula, buscando iden-
tificar como enfrentam os ‘dilemas práticos’3
da sua iniciação à docência.
No recorte definido para este texto, analisamos os registros formalizados
nas memórias de aula4
de uma acadêmica integrante desse grupo-sujeito que
realizou o estágio na disciplina de História no segundo semestre de 2011 com
uma turma de 8ª série em escola da rede pública estadual. Na primeira parte
do texto trazemos alguns pressupostos teóricos que orientam a proposta de
formação que desenvolvemos na Prática de Ensino. Na segunda parte, dialo-
gamos com os registros de aula da acadêmica de História em situação de está-
gio curricular supervisionado, buscando analisar as estratégias metacognitivas
mobilizadas por ela em seu percurso de aprendizagem e atuação inicial na
docência.
Aprendizagem profissional e metacognição: alguns
pressupostos orientadores da formação de professores
A aprendizagem profissional do professor vem sendo entendida, na lite-
ratura educacional,5
como um processo complexo e contínuo, marcado por
descontinuidades e oscilações. Aprender a/na profissão docente vai muito além
de dominar conteúdos e estratégias de ensino, conforme preconizado pelo
modelo da racionalidade técnica. Antes, significa atuar em contextos comple-
xos e singulares, como o cotidiano da sala de aula, que exigem soluções possí-
veis e adequadas (e também originais e criativas) para lidar com imprevistos e
incertezas.
Nesse sentido, tanto a experiência pessoal quanto a prática profissional
são fontes importantes de aprendizagem docente, na medida em que o profes-
sor carrega consigo um conjunto de sistemas conceituais, crenças e juízos que
orientam sua ação cotidiana e tendem a não se modificar tão facilmente frente
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
90
a novos princípios e valores. Da mesma forma, a prática profissional pode
contribuir para gerar, validar ou recusar determinados tipos de saberes, inte-
grando-os ou alijando-os no/do dia a dia profissional.
Com Fernando Hernández compartilhamos a ideia de que a aprendizagem
do professor, realizada em situações diversas de formação, manifesta-se em seus
atos, que são, por sua vez, reveladores das aprendizagens que se converteram em
representações pessoais da docência. Para esse autor, a aprendizagem profissio-
nal está relacionada com a capacidade de transferência e generalização do apren-
dizado, pois “alguém aprende quando está em condições de transferir a uma
nova situação (por exemplo, à prática docente) o que conheceu em uma situação
de formação, seja de maneira institucionalizada, nas trocas com os colegas, em
situações não formais e em experiências da vida diária”.6
Na mesma direção, Bransford, Brown e Cocking consideram que os pro-
fessores aprendem a ensinar de diversas maneiras e em diferentes situações,
tais como: a) aprendem com a própria prática em sala de aula, na reação dos
seus alunos, nos sucessos e insucessos cotidianos; b) aprendem ao interagir com
outros professores, em situações informais na escola ou em situações de forma-
ção continuada no âmbito escolar; c) aprendem com os educadores de profes-
sores em suas escolas, nos programas de estágio, de iniciação à docência, nos
cursos de aperfeiçoamento; d) aprendem em programas de pós-graduação, nos
processos institucionais de educação continuada, em nível lato e/ou stricto
sensu; e) por fim, aprendem sobre ensino fora do seu trabalho profissional for-
mal, nos papéis de pais e nos trabalhos voluntários com crianças e jovens em
suas comunidades, dentre outros.
Em virtude da imprevisibilidade do contexto da sala de aula, é fundamental
que os professores tenham planos de trabalho com objetivos claros e mante-
nham-se vigilantes sobre as ações e reações que os percursos da aula suscitam,
além de exercerem atitude reflexiva na/sobre a docência. Assim, numa pesquisa
que busca investigar em que medida e de que forma os processos formativos
incidem sobre a aprendizagem profissional dos professores e contribuem para a
qualificação da sua atuação em situações de ensino, voltamos nossa atenção tam-
bém para o conceito de metacognição, no intuito de compreender os aspectos
relacionados à autorregulação e à tomada de consciência da ação pedagógica
diante dos dilemas da sala de aula vivenciados pelos estagiários.
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 91
As pesquisas acerca da metacognição, segundo Fávero e Machado,7
estão
diretamente relacionadas aos estudos sobre regulações, tomada de consciência
e abstração refletida desenvolvidos por Jean Piaget, não obstante verificarmos
que, ao longo de sua obra, esse autor não abordou de maneira explícita o con-
ceito de metacognição com essa formulação. Com base nos estudos publicados
por pesquisadores anglo-saxões, Fávero8
esclarece que o termo metacognição
tem sido empregado para referir os conhecimentos que os indivíduos possuem
sobre seus processos de pensamento, bem como para designar o controle que
exercem sobre seus processos cognitivos. Citando Flavell (apud Fávero, 2005,
p.288), a autora apresenta a seguinte definição para o termo:
A metacognição se refere ao conhecimento do sujeito dos seus próprios processos
cognitivos, dos seus produtos e de tudo o que se relaciona a isso ... A metacognição
diz respeito ao controle (monitoramento) ativo, à resultante regulação ou orques-
tração desses processos em função dos objetos cognitivos ou dos dados sobre os
quais eles se referem, habitualmente, para alcançar um objetivo concreto.
Fávero e Machado apontam alguns consensos existentes entre os pesqui-
sadores do campo da metacognição sobre os elementos que caracterizam tal
categoria, assim sumarizados: 1) o termo contempla tanto a dimensão dos
conhecimentos quanto a das regulações, a primeira referindo-se a pessoas,
tarefas e estratégias, que são as representações na memória a longo termo, e a
segunda dizendo respeito à tomada de consciência dos processos cognitivos
em ação; 2) essas duas dimensões se distinguem por seus objetos, estando, no
entanto, em contínua interação numa instância comum de construção; 3) a
par da dificuldade de definir fronteiras entre cognição e metacognição, autores
procuram distingui-las caracterizando a cognição segundo os aspectos concei-
tuais e estruturais do desenvolvimento em geral, ao passo que a metacognição
engloba “as regulações funcionais, ativadas segundo graus variados de cons-
ciência numa situação de aprendizagem”.
De acordo com Figueira, “indivíduos com competências metacognitivas
bem desenvolvidas compreendem os objectivos das tarefas, planificam a sua
execução, são capazes de aplicar e alterar, conscientemente, estratégias execu-
tivas, bem como avaliar o seu próprio processo de execução”.9
Acredita-se que
a prática metacognitiva possa colaborar na qualidade e eficácia da aprendiza-
gem, especialmente nos aspectos de transferência e generalização, na medida
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
92
em que possibilita reconhecer e avaliar dificuldades na execução de tarefas;
produzir inferências sobre os saberes já apropriados e identificar os saberes
ainda não apropriados; utilizar estratégias para organizar e mobilizar seus co-
nhecimentos no sentido de resolver problemas; enfim, favorece a autorregu-
lação, a autonomia e o aprender a aprender.
A prática do estágio supervisionado sob
o suporte de estratégias metacognitivas
Ao chegar aos semestres finais de um curso de licenciatura, na iminência
de entrar em sala de aula no papel de professores, os acadêmicos já vivenciaram
incontáveis experiências na condição de alunos, ao longo de aproximadamente
15 anos frequentando os bancos escolares. Em virtude dessa trajetória, conse-
guem identificar e exprimir a essência do que é ser professor, reconhecer em
que consiste um bom (ou um insuficiente) trabalho docente, indicar as falhas
e os acertos dos professores no exercício da sua função. Essas representações
do trabalho docente incidem, em certa medida, sobre suas escolhas, decisões
e ações, no momento de assumir a tarefa de ensinar, ainda que como orienta-
ções intuitivas, sem os referenciais teóricos e o domínio técnico necessário para
entendê-las e operá-las com autonomia.
Nosso propósito, nesta parte do estudo, é identificar algumas estratégias
metacognitivas mobilizadas em situação de estágio curricular supervisionado,
no sentido de compreender como a estagiária em questão lida com os dilemas,
situações de emergência e incerteza da sala de aula, resultando no que se pode
denominar desempenho competente. Reiteramos que esse desempenho com-
petente não diz respeito, necessariamente, aos resultados quantitativos do en-
sino, mas ao modo como dá encaminhamento às dificuldades que vão se ma-
nifestando no cotidiano da sala de aula.
Posicionamo-nos contrariamente à imagem do professor como técnico,
cujas competências devam ser treinadas, e recusamo-nos a conceber a apren-
dizagem profissional apenas como aquisição de conhecimentos. Assim, defi-
nimos os professores como profissionais cujas tarefas formativas compreen-
dem a investigação e experimentação de novas ideias; a localização de si e dos
alunos em contextos sociais, políticos e históricos mais amplos; a identificação
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 93
e a exploração criativa de problemas; o confronto com discrepâncias e incon-
gruências presentes no seu trabalho pedagógico.
Antes de prosseguir, cumpre-nos tratar brevemente do entendimento que
adotamos neste estudo sobre o significado da escrita de ‘memórias de aula’.
Trata-se de um instrumento de reflexão que possibilita ampliar a capacidade
de ver e de pensar a própria ação docente na interlocução com seus pares, as-
sim caracterizado:
consiste na elaboração escrita que o estagiário realiza após o ato pedagógico
(uma aula, uma reunião, um conselho de classe), buscando, pela escrita, objetivar
a ação e o pensamento sobre a ação. Compõe-se da observação, do registro, da
análise, da teorização e do redimensionamento da situação vivenciada. Distin-
gue-se do mero registro descritivo dos acontecimentos, embora também possa
contemplá-lo, visto que tenciona uma primeira elaboração teorizada da ação rea-
lizada e o levantamento de indicativos de redimensionamento do trabalho para
uma nova intervenção.10
Os fundamentos que orientam a proposta de escrita de memórias de aula
neste trabalho encontram ampla ressonância nos pressupostos apontados por
Holly11
para a escrita de diários biográficos, destacando-se alguns aspectos em
comum, como desconforto, distanciamento, transformação de perspectivas,
atenção focalizada e voz. Escrever sobre si, sobre o seu trabalho, implica certo
grau de exposição, o que, para muitos, gera desconforto. Tal sensação cresce à
medida que o sujeito vai penetrando no seu trabalho, desnudando inconsis-
tências, identificando incoerências, as quais vão se avolumando no papel, à
espera de interpretação, de resposta, de atitude, de mudança.
A escrita de diários também provoca dois tipos de distanciamento da ex-
periência: ao mesmo tempo em que permite explorar o significado da expe-
riência cotidiana de um ponto de vista mais pessoal e biográfico, permite re-
cuar espacial e temporalmente, mirando-a desde pontos de vista mais latos e
menos pessoais. Esses dois tipos de distanciamento, afirma Holly, favorecem
a identificação de outras dimensões de uma dada situação, o reconhecimento
de determinados problemas, a interrogação sobre outras possibilidades de
aceitá-los, compreendê-los ou, até, de resolvê-los. Enfim, contribui para “to-
mar consciência das lentes que usamos e do espírito com que nos movemos”
(Holly, 2000, p.105).
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
94
Outra característica identificada nos processos de escrita de diários bio-
gráficos é a transformação de perspectivas, que ocorre em diferentes graus entre
os autores, mas em geral é provocada por acontecimentos marcantes – os di-
lemas referidos por Zabalza – perante os quais o sujeito já não encontra alter-
nativa de solução, requerendo, assim, outras formas de olhar, compreender e
dar sentido. Produzir outros sentidos implica reexaminar pressupostos acerca
de si, dos outros e das relações pedagógicas, requer tempo e sistematicidade de
reflexão. Daí a quarta característica dos diários biográficos ser a atenção foca-
lizada, posto que contribui para superar a aplicação de ‘estruturas de simpli-
ficação’ sobre os acontecimentos da sala de aula, dirigindo a atenção com mais
intencionalidade, observando aspectos que lhe pareçam mais relevantes, siste-
matizando dados e informações que auxiliem a compreender determinada
situação para além da emergência cotidiana.
Por fim, esclarece a autora, a escrita de diários pode dar visibilidade à voz
do professor, na medida em que ele aprenda a interpretar a sua vida e o seu
trabalho, assim como pode dar visibilidade à voz de outros, uma vez que o pro-
fessor dialogue com a ‘multidão íntima’ que o habita. Ademais, a escrita do diário
documenta a experiência de cada um para posterior análise, constituindo “uma
base de discussão e de colaboração com outras pessoas” (Holly, 2000, p.108).
Durante o estágio, muitas situações exigem do professorando tomada de
decisão, flexibilização de seu planejamento, soluções emergenciais para pro-
blemas imprevistos. Selecionamos, nos registros da acadêmica cujo processo
formativo está sendo aqui acompanhado, três longos trechos de memórias
produzidos em diferentes momentos do estágio, o qual durou cerca de 10 se-
manas, com três períodos semanais de 50 minutos. O primeiro trecho (Mem-1)
é representativo das duas primeiras semanas de estágio; o segundo trecho
(Mem-2) foi escrito pela metade do estágio; o terceiro trecho (Mem-3) é con-
cernente às últimas aulas do estágio.
Em cada trecho selecionamos alguns recortes (identificados por letra e
numeração crescente, R1, R2, R3...) que consideramos mais relevantes para os
propósitos de análise do estudo. Optamos por manter o trecho com o mínimo
de recortes, de modo que o leitor consiga visualizar a reflexão em seu conjunto.
Na sequência de cada trecho, apresentamos a análise dos recortes
selecionados.
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 95
Ao entrar na sala, acompanhada da coordenadora da escola, que lembrou
os alunos de que eu trabalharia com eles num período de pouco mais de um
mês, senti o peso daquela responsabilidade.
(R1) Mesmo sabendo que não seguirei essa profissão, algo que decidi muito antes
de iniciar o estágio, ao olhar para cada uma daquelas pessoas, eu pensei que deve-
ria dar aquela aula como eu esperava que tivesse na idade daquelas meninas e
meninos. Voltei no tempo... Lembro que eu queria mesmo era me divertir, aprender
podia fazer parte disso.
(R2) Então, iniciei com uma dinâmica de apresentação dos colegas, o que não deu
muito certo. Descobri que existem algumas meninas na sala que não se dão com
outras, que os meninos são agitados, e ficam o tempo todo conversando. Definitiva-
mente aquilo não deu certo. Alguns mentiam o nome e idade só pra fazer graça.
Então decido me apresentar, todos silenciaram, estavam curiosos. Vi que meu erro
foi não ter feito isso primeiro para que eles se acalmassem.
(R3) Falei do meu compromisso com eles, que pretendia dar uma aula como eu
mesma não tinha tido, divertida, espontânea, mas que haveria regras, para que ao
final deste caminho, eles soubessem tudo sobre o processo da Independência do
Brasil, assunto que trabalharei com eles.
(R4) Com o mapa no centro da sala, pedi que todos levantassem, isso também não
deu certo. Alguns – os mais interessados – procuraram os países que trabalharía-
mos conforme a atividade solicitada. Outros ficavam nas cadeiras, em seus lugares,
conversando. Aquilo foi me desanimando. Por que eles não queriam participar? O
que eu devia fazer para a aula tornar-se atrativa para eles? Eu comecei a ficar per-
dida, mas, ao mesmo tempo instigada com aqueles alunos. Eles de certa forma, me
preocuparam. E a aula neste dia seguiu, de forma que enquanto eu explicava e
fazia questionamentos a eles, alguns demonstravam interesse, outros nem sabiam
do que eu estava falando, pelos olhares que trocavam, pelos gestos que faziam,
estavam inquietos.
(R5) Ao final da aula, descobri que nem todos os pensamentos positivos e prepara-
ções teóricas eram suficientes. Alguma coisa deveria ser feita, eu queria chamar
toda a turma para gostar de História junto comigo. Fui para meu trabalho anima-
da com o desafio. Apesar de a turma não ter sido muito participativa, eles me de-
ram um novo desafio: juntar aqueles grupinhos separados e fazê-los, em conjunto,
gostar de História, entender a importância do conteúdo. Porém, também fiquei
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
96
frustrada, toda preparação das atividades em grupo que tinha programado tinha
ido por água abaixo, não adianta, eles não gostam de fazer nada em grupo.
(R6) No dia seguinte tinha um período. Pensei em não juntá-los mais para as ati-
vidades. Entreguei umas cópias em colorido de imagens de escravos em duas situa-
ções: sendo transportados em navios negreiros e em atividades de trabalho. Como
não levei para todos, alguns tinham que se emprestarem as figuras, vi que eles se
interessaram, talvez pelo colorido, ou pelo que eu estava explicando, pois ilustra-
va nas imagens. Sei que vi eles conversarem entre si: “nossa, coitados dos negros”.
Alguns debatiam sobre isso: “Eu acho que eles deveriam sofrer bastante”. E assim
consegui seguir este período.
(R7) Notei que a participação se tornou mais geral enquanto eles trabalhavam de
forma individual do que em grupos, ou na forma de círculo, como no primeiro
momento da primeira aula ... Naquele dia, terminei a aula numa pilha de ner-
vos, não tinha dado uma aula boa, os alunos nem sequer sabiam o que tinham
feito e para piorar, na saída da sala duas alunas brigaram. O motivo: uma tinha
falado mal da outra.
(R8) Tentei novamente fazer aquela reflexão de sempre, de tentar voltar no tempo,
imaginar o que eu pensaria naquela situação. Afinal, é claro que tinha vontade de
rir do motivo da briga, mas não podia fazer isso na frente das meninas, que esta-
vam achando tudo aquilo um caso seriíssimo de inimizade. Fechei a porta da
sala e pedi que todos entrassem. Para finalizar, tive uma conversa séria com to-
dos eles. Tentei ao máximo não fazer nenhum discurso moralista. Mas aos olhos
deles, pode ser que tenha parecido isso. Minha intenção era fazê-los compreen-
der que isso era normal, que logo elas já estariam bem novamente, e que isso
poderia acontecer, e vai, em todos os lugares, pois encontraremos pessoas que
criam afinidades, e pessoas que criam antipatia... Os meninos somente concorda-
vam, e diziam que isso era normal entre as duas meninas em questão. Então libe-
rei todos para o recreio, e pedi que aquilo não se repetisse na minha aula.
(R9) Só pensava em como eu sou inexperiente. Fui para o trabalho muito chateada
e assim passei o meu dia. Afinal, isso só mudaria quanto mais e mais aulas eu des-
se, só assim eu poderia adquirir essa experiência, em saber lidar com situações
inesperadas. Aquela teoria que aprendi nos livros, somente me serviu de norte, pois
percebi que cada aluno é diferente, logo, cada turma também deve ser. Assim, com
os livros temos o “como fazer”’, na prática o “faça-o” depende de várias circunstân-
cias. O desafio para mim está lançado, e por sinal será complicado.
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 97
(R10) Para as próximas aulas sei que terei ainda muito que aprender, mas de
certo modo, essas primeiras experiências já foram bem significativas. (Mem-1)
Os primeiros registros de memória dessa professoranda são, em geral,
marcados por uma profusão de sentimentos, que poderiam ser sintetizados em
três expressões utilizadas recorrentemente: ânimo, desânimo e desafio. Ao
verbalizar sentimentos tão contraditórios que se sucedem de uma aula para
outra ou nos diferentes momentos de uma mesma aula, a professoranda está
tentando se apropriar dos acontecimentos intensos que vivencia nas aulas, para
entendê-los em sua dinâmica veloz e fugaz. As pequenas conquistas (que lhe
dão ânimo) e as supostas derrotas (que lhe trazem desânimo) nas aulas acabam
sempre culminando na palavra desafio, o que se pode visualizar em R4, R5 e
R9, especialmente.
No que diz respeito ao uso de estratégias para compreender as situações
de aula, encontramos em R1, R2 e R9 o esforço de se colocar no lugar do aluno,
posição de alteridade que, nos estudos bakhtinianos, significa “assumir o ho-
rizonte concreto desse outro, tal como ele o vive”.12
Ao buscar na memória o
seu tempo de escola, faz o duplo movimento de tentar reconhecer as expecta-
tivas dos seus alunos adolescentes, como também renega determinadas práticas
docentes, ao afirmar: “pretendia dar uma aula como eu mesma não tinha tido,
divertida, espontânea” (R3). Essa prática supostamente divertida e espontânea,
no entanto, não seria concretizada sem o cumprimento de determinadas re-
gras, cuja presença garantiria, possivelmente, a aprendizagem dos alunos. Esse
é um dilema muito próprio da iniciação à docência, consubstanciado no desejo
de estabelecer a relação pedagógica em outras bases, que não aquelas vivencia-
das na condição de aluna; desejo de fazer diferente, sem saber exatamente
como isso pode ser concretizado.
Outra estratégia manifestada nos registros da estagiária se refere à iden-
tificação do que não deu certo na aula – a dinâmica da apresentação, a ativi-
dade em grupo, o trabalho com o mapa no centro da sala – e do que deu bom
resultado – a disposição dos alunos em círculo, as tarefas individuais e a ativi-
dade de análise de imagens. Reconhecer o sentido de tais experiências permite
traçar novas estratégias para as aulas subsequentes, o que lhe dá certo fôlego e
coragem para prosseguir, tal como evidencia em R6 e R7, por exemplo.
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
98
No penúltimo recorte desse trecho (em R9) a estagiária esboça uma ten-
tativa de reportar-se aos referenciais teóricos apropriados na graduação, cote-
jando-os com as situações práticas do estágio. Trata-se de uma inserção ainda
incipiente na tarefa de refletir sobre a “transferência do aprendizado”, definida
por Bransford, Brown e Cocking (2007, p.77) como “a capacidade de estender
o que se aprende em um contexto a novos contextos”, considerada “como um
processo ativo e dinâmico, mais do que um produto final passivo de um con-
junto específico de experiências de aprendizagem” (p.79), que exige dos apren-
dentes que “escolham e avaliem estratégias, considerem recursos e recebam
feedback” (p.94). Lamentando a pouca experiência, a professoranda aparente-
mente atribui a esta a garantia de sucesso para enfrentar as emergências da sala
de aula, ao afirmar: “isso só mudaria quanto mais e mais aulas eu desse, só
assim eu poderia adquirir essa experiência, em saber lidar com situações
inesperadas”.
Na sequência da reflexão, avança no entendimento do papel que o aporte
teórico ocupa na sua formação: “Aquela teoria que aprendi nos livros, somente
me serviu de norte”. E finaliza reconhecendo que são muitas as circunstâncias
implicadas num contexto de aula. Essa é uma inferência muito próxima à que
faz Gómez, quando afirma que “na prática não existem problemas, mas situa-
ções problemáticas, que se apresentam frequentemente como casos únicos,
que não se enquadram nas categorias genéricas identificadas pela técnica e pela
teoria existentes”.13
O trecho que analisaremos na sequência corresponde à memória escrita
ao final da segunda unidade, portanto, neste momento a professoranda já con-
tava com dois terços do tempo de estágio cumpridos, cerca de sete semanas.
Nesta unidade, (R11) mesmo na ausência de experiência necessária para coman-
dar uma turma como a minha, eu tinha obtido uma certeza: quanto mais ativida-
de eu desse aos alunos, mais a aula teria andamento e, dessa forma, eu prenderia
a atenção dos alunos. Esse era o caminho. E me senti começando tudo do zero,
de novo. Encerradas as explicações e atividades sobre a crise no sistema colonial,
fui para a escola, com meus textos xerografados, atividades e conteúdo na ponta
da língua.
(R12) Mas é claro que ao chegar à sala, tudo se encontrava diferente do que plane-
java. Todos estavam bem agitados, chovia e fazia um frio terrível. Não entendi por
que naquele frio eles estavam tão agitados. Disse que tinha uma notícia ruim, e
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 99
que todos deviam prestar bem a atenção. Falei que as notas do trabalho dado na
última aula não tinham sido boas, mas que eu faria um exercício para fixar me-
lhor aquela matéria, já que todos pareciam não ter entendido as revoltas no Bra-
sil durante o período colonial. Levou uns 15 ou 20 minutos, mas enfim, eles se
acalmaram.
(R13) Pode ser eu que eu tenha feito “tempestade em copo d’água” com as notas
deles, que na verdade, nem tinham sido tão ruins. Mas encontrei uma forma de
fazê-los se acalmar: assustando-os um pouquinho.
(R14) A aula se seguiu com as atividades, alguns perguntavam se valeria nota, se
recuperaria o trabalho da aula passada. Eu disse que tudo que eles faziam em aula
contava pontos positivos ou negativos. Percebi que assim a aula teve melhor anda-
mento e aproveitamento.
(R15) Ao ver que estavam preocupados, tentei quebrar o gelo, fiz algumas pergun-
tas, andei por entre as classes conversando com alguns deles, explicando a matéria.
Perguntei por que estavam tão preocupados, eles me confessaram que estavam com
problemas na disciplina de matemática. A professora estava sempre brigando, gri-
tando com todos, e eles não entendiam nada da matéria. Perguntei quem era, e era
justamente a minha antiga professora de matemática. Não resisti e tive que contar-
-lhes, ela também tinha sido minha prô, na idade deles. Reforcei que eu não era
assim tão agitada como eles e que esse era o jeito de ela dar aula. Que eles deveriam
respeitar e tentar entender a matéria, pois seria muito importante para os próximos
anos. Um dos alunos gritou lá do fundão: “Nossa, mas aquela professora é um mu-
seu!”. Todos caíram na risada, até mesmo eu, após ter dado um sermão. Mesmo a
piada sobre a idade da professora tendo causado uma agitaçãozinha, eles continua-
ram em seus lugares, fazendo as atividades. Eu explicando a matéria, um aluno
disse: “queria que a prô de matemática explicasse que nem você, prô XXXX”. Aqui-
lo foi gratificante, confesso que me emocionei um pouco. Neste dia fui ao meu tra-
balho mais contente, parecia enfim ter dado uma aula boa. Apesar de ter que mo-
dificar um pouco minha postura em relação às outras aulas, ter sido um tanto mais
rígida, me senti com o meu papel cumprido nesta aula. (Mem-2)
Note-se que no primeiro trecho da memória, correspondente às aulas
iniciais de estágio, a tônica da reflexão girou em torno das intensas emoções
que o ingresso na prática docente lhe causou, especialmente pelo esforço em
identificar condutas, estratégias, meios de estabelecer uma efetiva interlocução
com os alunos, ou, pelo menos, de se fazer ouvir por eles.
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
100
No trecho subsequente, embora essas preocupações ainda estejam pre-
sentes, a professoranda acrescenta como fortes ingredientes de reflexão os
fatores relativos à metodologia e à avaliação. Parece ter definido duas novas
estratégias para o prosseguimento do estágio relacionadas a esses fatores. Em
R11 esboça uma certeza e identifica um caminho para a continuidade do tra-
balho. Acredita que conseguiria maior envolvimento dos alunos na medida em
que trouxesse muitas (e variadas) atividades, afirmando: “quanto mais ativi-
dade eu desse aos alunos, mais a aula teria andamento e, dessa forma, eu pren-
deria a atenção dos alunos”.
A outra estratégia diz respeito à avaliação, da qual a professoranda se
utiliza para manter os alunos sob certo controle. Essa conduta é verbalizada
em R13, ao afirmar: “Pode ser que eu tenha feito ‘tempestade em copo d’água’
com as notas deles, que na verdade, nem tinham sido tão ruins. Mas encontrei
uma forma de fazê-los se acalmar: assustando-os um pouquinho”. Em R14 se
pode visualizar a intenção de fazer da avaliação também um elemento moti-
vador do envolvimento dos alunos. Ao ser questionada pelos alunos se as ati-
vidades ‘valeriam nota’, afirma: “tudo que eles faziam em aula contava pontos
positivos ou negativos. Percebi que assim a aula teve melhor andamento e
aproveitamento”.
Num primeiro olhar, essa estratégia em relação à avaliação pode parecer
simples recorrência aos modelos de professor que vivenciou na sua escolari-
zação, muitos dos quais tomou como exemplos a não serem seguidos, confor-
me expressou em R3. Em outro estudo (Caimi, 2008) encontramos registros
muito semelhantes, que denotam a inconformidade dos professorandos com
a situação que encontram nas suas salas de aula: alunos desinteressados pelos
conteúdos escolares, resistentes à realização de atividades que lhes demande
algum esforço; turmas heterogêneas no que respeita à relação com o saber e à
sua apropriação, dentre outras. Também fica evidente a expectativa (ou a nos-
talgia?) de encontrar o aluno idealizado, que é naturalmente motivado para
aprender, que tem plena consciência da finalidade da sua presença na escola,
que é curioso, questionador, investigativo, participativo, colaborativo.
Ao lançar mão de estratégias para dar conta dessa realidade não esperada
e não desejada, os professorandos apostam, muitas vezes, em ações e motiva-
ções extrínsecas, tais como a ameaça de uma nota insuficiente; de uma possível
reprovação; de uma sanção ou penalidade por parte da professora, da direção
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 101
e/ou dos pais; da possibilidade de perder a estima do professor e, até mesmo,
da eventualidade de um futuro profissional comprometido. Em certa medida,
são estratégias apreendidas ao longo de sua própria escolarização básica, uma
vez que todos nós, na condição de alunos, já vivenciamos situações disciplina-
doras dessa natureza em algum momento (senão em muitos ou em todos os
momentos) de nossa vida escolar.
O uso frequente de determinadas estratégias acaba por constituí-las como
esquemas familiares,14
que desempenham função de organizadores decisivos
no conhecimento de tipo privado, quer dizer, nos modos como os indivíduos
mobilizam seus conhecimentos em novas situações e contextos. Inhelder e
Caprona demonstram que é característica fundamental do sistema cognitivo
reduzir e traduzir aquilo que o sujeito não conhece e não entende (o desco-
nhecido e a ininteligibilidade) à forma de esquemas muito familiares, “em que
as transformações são imediatamente operáveis, mentalmente ou material-
mente, e em que os estados são imediatamente visualizados ou reconhecidos
sem reconstituições, inferências ou planificações etc., intermediárias”
(Inhelder; Caprona, 1996, p.29).
Um dos aspectos mais instigantes desse trecho de memória diz respeito
ao longo relato apresentado em R15, sobre as dificuldades da turma com a
professora de Matemática. Saber que uma profissional experiente, com longos
anos de carreira, que fora sua professora no ensino fundamental, estava tendo
tão baixa aceitação da turma, acaba por fortalecer sua condição de professora
e legitimar sua estratégia de tentar conduzir uma aula diferente das que teve
como aluna do ensino fundamental. Essa legitimidade se concretiza ainda mais
quando um aluno declara: “queria que a prô de matemática explicasse que nem
você, prô XXXX”.
Ao receber tal feedback dos alunos sobre o seu trabalho, a professoranda
fica mais estimulada para prosseguir, além de ganhar confiança no caminho
que escolheu lá no início do estágio, de estabelecer uma boa relação com a
turma, de fazê-los gostar de História, de tornar a aula ‘atrativa’ para os alunos,
conforme manifesta em R4. Já findando a segunda parte do estágio, verbaliza
o reconhecimento de que os tradicionais ‘mecanismos de arbitragem’15
nas
relações entre professor e alunos não funcionam mais, e o episódio com a
professora de Matemática, relatado pelos alunos, mostra que “muitos
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
102
professores não souberam encontrar novos modelos, mais justos e participa-
dos, de convivência” (Esteve, 1995, p.107).
Vejamos, por fim, um trecho da última memória, escrita imediatamente
após o término das dez semanas de estágio.
(R16) Estávamos, enfim, enturmados. Boa parte dos alunos correspondia às minhas
propostas durante as aulas, e àqueles que uma vez ou outra atrapalhavam a explica-
ção, eu procurava dar a atenção que pareciam buscar. Mas é claro, que até chegar
neste ponto, como toda primeira experiência, eu tive que “sofrer” um pouquinho. Nes-
ta unidade eu já sabia como “prender” a atenção dos alunos devido a todo processo de
aprendizagem que eu mesma enfrentei nas sequências anteriores, e isso me ajudou a
formar um certo roteiro, uma espécie de estratégia para atuar como professora. Na
primeira atividade desenvolvida na programação da sequência didática, a leitura da
análise da pintura de Pedro Américo, O Grito do Ipiranga, houve muitas conversas,
risos, perguntas. Mas percebi, ao andar por entre as classes, que os alunos se refe-
riam à atividade, então, deixei eles se soltarem um pouco.
(R17) Deixei a imaginação sobre aquele fato, a Independência do Brasil, tomar
conta. Aos poucos, alterava meu tom de voz, chamando atenção para a continuida-
de das atividades que se seguiram. Assim, via que a aula tinha um andamento
mais divertido para eles, e o aproveitamento em relação ao conteúdo era bem me-
lhor. Assim seguiram-se as demais leituras, análise de imagens e da charge sobre a
primeira Constituição. Procurei desenvolver um diálogo aberto, com expressões
mais conhecidas durante as explicações. Levei até mesmo um dicionário comigo,
logo, quando nos deparávamos com palavras difíceis, pedia para que eles me cha-
massem, anotassem no caderno, enquanto eu anotava no quadro, para que tro-
cássemos esta palavra por uma mais fácil, e assim, eu iniciava a frase novamente,
por exemplo: “constituição” por “organização”; “confederação” por “união de es-
tados”, conforme o dicionário trazia. Ao fim da aula desta terceira unidade, lem-
brei-os da prova na próxima aula. Todos demonstraram muita preocupação, per-
guntaram o que iria cair, como eu ia perguntar, se podiam usar material, enfim,
usaram até mesmo a desculpa de que, já que eu não ia continuar mais dando
aula para eles, que eu desse a prova com material, como despedida. É claro que
fiquei balançada, mas não dei o braço a torcer, caso contrário, todo meu esforço
teria ido por água abaixo. Então no dia da prova fiz uma breve revisão no início
da aula. Tirei a conclusão de que realmente estavam preocupados, ou deviam
estar todos com sono, mas estavam todos muito quietos, não questionaram mui-
to. Fiz algumas perguntas a alguns alunos, com os quais eu estava mais preocu-
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 103
pada, faziam parte dos “bagunceiros” e, para minha certeza, não tinham estuda-
do mesmo.
(R18) Apesar de me dar a resposta certa, o menino da “turma do fundão” respon-
deu de acordo com as minhas explicações, vi que respondeu sem nenhuma base de
leitura nos textos que eu havia entregado para que eles estudassem. Estava ansiosa
após o final da prova. Havia muitas dúvidas: será que responderam todas? Será que
aprenderam o que eu ensinei? O resultado das provas seria a resposta para as mi-
nhas incertezas ... No final das contas: três alunos atingiram a nota máxima, um
aluno quase atingiu, ficando com 12 pontos. Oito alunos tiraram 10 e treze alu-
nos tiraram 8. Ou seja, alguns realmente entenderam o conteúdo, outros pare-
ciam ter estudado, mas lembravam de algumas coisas, e outros pareciam somen-
te ter estudado, não entendido o que trabalhamos ...
(R19) No último dia fui um pouco triste, afinal esperava um resultado melhor.
Senti-me culpada pelas notas, pois eu era quem lhes tinha passado o conteúdo,
concluí que talvez eu não tivesse feito isso da melhor forma ... Fizemos uma peque-
na festinha, com salgadinhos e refrigerante no último período da aula. Fiquei
feliz, pois cada um me deu uma cartinha no fim da aula, dizendo que sentiriam
saudades, que tinham aprendido muito. Isso me animou um pouco depois do
resultado da prova ter me deixado preocupada.
(R20) Apesar dos pesares, saí da escola com sentimento de missão cumprida. Afi-
nal, aprendi muito, fiz o possível para passar-lhes o que sabia. Com certeza, eles
não fazem ideia do quanto foram importantes para mim, por mais que eu tenha
dito isso a eles no último dia. Todas as minhas experiências, com certeza serão úteis
no próximo estágio. (Mem-3)
Fica claro, neste trecho final de memória, que a estagiária viveu aqui o pe-
ríodo de maior tranquilidade e segurança do estágio. Diversos são os indícios e
vários os recortes em que se podem visualizar referências tanto à aprendizagem
dos alunos como ao seu próprio aprendizado docente. Uma situação exemplar
é encontrada em R16, quando afirma: “Nesta unidade eu já sabia como ‘prender’
a atenção dos alunos devido a todo processo de aprendizagem que eu mesmo
enfrentei nas sequências anteriores, e isso me ajudou a formar um certo roteiro,
uma espécie de estratégia para atuar como professora”. Esse e outros registros
evidenciam que a professora assume uma atitude investigadora, em que revisa
suas suposições, questiona como os alunos compreenderam aquilo que procurou
ensinar, descobre e traz à consciência as melhores estratégias para o trabalho
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
104
neste contexto, mostrando sua própria disponibilidade para a aprendizagem.
Concretiza, assim, diversas estratégias metacognitivas, na medida em que exerce
uma importante capacidade apontada por Bransford, Brown e Cocking, a de
“identificar os limites do conhecimento que se tem no momento, e então tomar
providências para remediar a situação” (2007, p.71).
Uma vez superados os problemas interacionais mais emergentes que di-
zem respeito à organização da classe, ao estabelecimento de determinadas ro-
tinas, à antecipação de ações frente a algumas situações-problema, a professo-
randa consegue voltar-se para questões mais centrais do trabalho docente. Por
questões centrais entenda-se especificamente a atenção com os modos de en-
sinar história e com a aprendizagem dos alunos que, afinal, é o propósito fun-
damental de qualquer disciplina escolar.
Considerações finais
Recuperando um pouco as análises anteriores, no intuito de concluir o
texto, localizamos no primeiro trecho uma escrita permeada por muitos sen-
timentos contraditórios, expressos em palavras como frustrada, instigada,
animada, desafiada, desanimada e chateada. Trata-se de um período inicial do
estágio em que todo o esforço está voltado para garantir a ‘sobrevivência’16
naquele complexo e desconhecido universo, em que o professor se vê diante
de um grupo de alunos, com todas as responsabilidades que essa tarefa impõe,
e precisa encontrar estratégias diante de concretas e/ou possíveis resistências
para desempenhar seu papel e nele obter êxito. Nas palavras de Michael
Humerman, essa lógica da sobrevivência se expressa em ações como
O tactear constante, a preocupação consigo próprio (‘Estou-me a aguentar?’), a
distância entre os ideais e as realidades quotidianas da sala de aula, a fragmenta-
ção do trabalho, a dificuldade em fazer face, simultaneamente, à relação pedagó-
gica e à transmissão de conhecimentos, a oscilação entre relações demasiado ín-
timas e demasiado distantes, dificuldades com alunos que criam problemas, com
material didáctico inadequado etc. (Huberman, 2000, p.39)
No segundo trecho o foco volta-se para aspectos metodológicos e avalia-
tivos, com o intuito de exercer adequadamente a ‘gestão da classe’, entendida
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 105
como um “conjunto de regras e de disposições necessárias para criar e manter
um ambiente favorável tanto ao ensino quanto à aprendizagem” (Gauthier et
al., 1998, p.240). Trata-se de uma atividade fundamentalmente cognitiva (mas
permeada por muitas emoções), que requer dos professores a antecipação dos
possíveis rumos da aula e a definição e consecução de regras e procedimentos,
por exemplo.
Ao escrever o terceiro trecho, bem mais ambientada na dinâmica da sala
de aula, a professoranda revela condições de refletir sobre a aprendizagem dos
alunos, sobre as reações e os resultados que manifestam diante das suas inter-
venções. Nesse momento do estágio, já consegue revelar a preocupação com a
‘gestão da matéria’, definida por Gauthier et al. (1998, p.196) como “o conjunto
de operações de que o mestre lança mão para levar os alunos a aprenderem o
conteúdo”. Tal definição remete-nos particularmente aos dados de planeja-
mento, objetivos, conteúdos, estratégias de ensino, organização do trabalho
pedagógico, avaliação etc.
O que se procurou demonstrar, fundamentalmente, é que o desempenho
competente de professorandos inexperientes, em situação de estágio curricular
supervisionado, está muito mais relacionado à ‘competência adaptativa’, no
sentido de exercer uma prática deliberada e um monitoramento ativo das suas
experiências de aprendizagem (Bransford; Brown; Cocking, 2007, p.85), do
que ao resultado em si da sua intervenção docente sobre os estudantes. O re-
curso de escrever memórias de aula, tal como vem sendo adotado nos proces-
sos formativos em situação de estágio que acompanhamos, tem se mostrado
bastante promissor para evidenciar as estratégias metacognitivas dos profes-
sorandos em sua aprendizagem profissional. Esse registro escrito da aula, en-
tendido também como um empreendimento cognitivo, cumpre a função de
objetivar suas impressões, sentimentos e percepções, de informar o próprio
sujeito sobre o ponto em que se encontra na atividade, de auxiliar na identifi-
cação das suas dificuldades e dos progressos que já fez, potencializando sobre-
maneira suas estratégias metacognitivas e competências adaptativas.
Essa externalização do trabalho mental, como estratégia de apropriação
do fazer docente, segundo contribuição de Jerome Bruner, “produz um registro
de nossos esforços mentais, um registro que fica fora de nós e não vagamente
na memória”,17
e, na mesma medida, “resgata a atividade cognitiva do
Flávia Eloisa Caimi
Revista História Hoje, vol. 2, nº 3
106
implícito, tornando-o mais público, negociável e solidário” (Bruner, 2001,
p.32), criando condições de possibilidade para a reflexão e metacognição.
Os processos de formação profissional docente precisam oportunizar não
só a prática em situação real de trabalho como se faz nos estágios supervisio-
nados, mas especialmente garantir estratégias de reflexão, de produção de co-
nhecimentos de natureza pedagógica e de tomada de consciência sobre as
condições da docência. A prática, desacompanhada de uma criteriosa obser-
vação e análise de si mesma à luz de quadros teóricos e de valores educativos
internalizados, possui um efeito formativo bastante limitado.
Nesse sentido, podemos dizer que 10 anos de carreira docente, por exem-
plo, não são o mesmo que 10 anos de experiência. Isso porque o professor pode
exercer seus 10 anos de carreira replicando uma mesma experiência, sem to-
mar seu trabalho como objeto de investigação e reflexão contínua. Dez anos
de experiência significam refazer cotidianamente sua prática, debruçar-se so-
bre os dados da sua experiência para organizá-los, refletir sobre eles e coorde-
ná-los, transformando-os em conhecimentos profissionais que possibilitem o
redimensionamento da ação e a implementação de novas ações, qualitativa-
mente superiores.
NOTAS
1
Dentre muitos autores que se dedicam a estudos dessa natureza, podem-se destacar
BRANSFORD, John D.; BROWN, Ann L.; COCKING, Rodney R. (Org.). Como as pessoas
aprendem: cérebro, mente, experiência. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2007; GAU-
THIER, Clermont et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o
fazer docente. Ijuí (RS): Unijuí, 1998; POZO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres: a nova
cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002; TARDIF, Maurice. Saberes docentes
e formação profissional. 2.ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2002.
2
A literatura educacional apresenta diferentes expressões para denominar a condição dos
sujeitos que se encontram na transição entre ser aluno e tornar-se professor, tais como
practicum (SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA,
António (Coord.). Os professores e a sua formação. 2.ed. Lisboa: Nova Enciclopédia, 1995.
p.77-90), aluno-mestre (ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores:
ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993), estagiário (PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio
e docência. São Paulo: Cortez, 2004), professorando (MENDES, T. M. S. Os espaços pedagó-
gicos de construção de possibilidades na sala de aula: um olhar sobre as microinterações.
Tese [Doutorado em Educação] – UFRGS. Porto Alegre, 2000). Seguiremos, neste estudo,
com as denominações predominantes na literatura brasileira – estagiário e professorando
Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação
Junho de 2013 107
– pendendo mais para esta última por entendê-la como portadora de uma expressão sono-
ra (e de um efeito de sentido) que indica passagem, movimento.
3
ZABALZA, M. Diários de aula. Contributo para o estudo dos dilemas práticos dos pro-
fessores. Porto: Porto Ed., 1994.
4
A memória é aqui entendida como um registro sistemático e reflexivo sobre a ação do-
cente. Na sequência do texto, será devidamente tematizada.
5
Pode-se referir, a título de exemplo, Tardif, 2002; NÓVOA (Coord.), 1995.
6
HERNÁNDEZ, F. A importância de saber como as pessoas aprendem. Pátio, Porto Ale-
gre, n.4, p.8-13, fev.-abr. 1998.
7
FÁVERO, M. H.; MACHADO, C. M. C. A tomada de consciência e a prática de ensino:
uma questão para a psicologia escolar. Psicologia: reflexão e crítica, v.16, n.1, p.15-28, 2003.
8
FÁVERO, M. H. Psicologia e conhecimento: subsídios da psicologia do desenvolvimento
para a análise de ensinar e aprender. Brasília: Ed. UnB, 2005.
9
FIGUEIRA, Ana Paula C. Metacognição e seus contornos. Revista Iberoamericana de
Educación, Universidade de Coimbra, Portugal, 2011, p.14. Disponível em: www.campus-
-oei.org/revista/deloslectores/446Couceiro.pdf; Acesso em: 26 abr. 2011.
10
CAIMI, Flávia Eloisa. Aprendendo a ser professor de História. Passo Fundo (RS): Ed.
UPF, 2008. p.61.
11
HOLLY, M. L. Investigando a vida profissional dos professores: diários biográficos. In:
NÓVOA, A. (Org.). Vidas de professores. 2.ed. Porto: Porto Ed., 2000. p.79-110.
12
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
p.45.
13
GÓMEZ, A. P. O pensamento prático do professor. In: NÓVOA, António (Coord.),
1995. p.100.
14
INHELDER, B.; CAPRONA, D. Rumo ao construtivismo psicológico. Estruturas? Proce-
dimentos? Os dois ‘indissociáveis’. In: _______. et al. O desenrolar das descobertas da crian-
ça: um estudo sobre as microgêneses cognitivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p.7-37;
BODER, A. ‘Esquema familiar’: a unidade cognitiva procedural preferida. In: INHELDER;
CAPRONA, 1996. p.186-205.
15
ESTEVE, J. M. Mudanças sociais e função docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Profissão
professor. 2.ed. Porto: Porto Ed., 1995. p.107.
16
HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA (Org.),
2000.
17
BRUNER, Jerome. A cultura da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. p.31.
Artigo recebido em 20 de dezembro de 2012. Aprovado em 14 de abril de 2013.

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  • 1. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Beginner teachers teaching History: class dilemmas and formation challenges Flávia Eloisa Caimi* Resumo A maneira como os professores apren- dem em contextos de formação e atuação tem constituído tema central nos debates sobre qualidade da educação e melhoria do ensino. Diante disso, este estudo segue o propósito de investigar os processos de aprendizagem profissional de acadêmicos em situação de estágio curricular supervi- sionado, na licenciatura em História, com vistas a identificar de que conhecimentos e estratégias se valem esses sujeitos para dar conta das demandas e desafios que se colocam no contexto de iniciação à do- cência. Nos limites deste artigo são anali- sados os registros de aula de uma acadê- mica cujo estágio realizou-se na última série do ensino fundamental. Além da análise dos registros (planejamento, ativi- dades, memórias de aula e memorial fi- nal), desenvolveu-se observação de aulas e entrevista não estruturada. Palavras-chave: História; estágio; apren- dizagem profissional. Abstract The way the teachers learn in formation and acting contexts has been the core is- sue in the debates about the education quality and education improvement. From this point, this study´s purpose is to investigate the academic’s profes- sional learning processes in History graduation overseen internship situa- tions, aiming to identify which knowl- edge and strategies these students use to deal with the demands and challenges that appear in the beginning of this teaching context. Within the limits of this study, the class records made by a student whose internship has been done in the last grade of elementary school are analyzed. Besides the records analy- sis (planning, activities, class memories and final memory), a class observation and a non-structured interview have been made. Keywords: History; supervised training; professional learning. Na literatura educacional tem-se dedicado especial atenção aos saberes e competências necessários à atuação docente. Diversos autores1 vêm procuran- Revista História Hoje, v. 2, nº 3, p. 87-107 - 2013 * Faculdade de Educação, Universidade de Passo Fundo (UPF). Campus I, São José. 99001-970 Passo Fundo – RS – Brasil. caimi@upf.br
  • 2. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 88 do demonstrar a importância de prestar atenção aos modos como os profes- sores transformam os conhecimentos que possuem em saberes ensináveis e compreensíveis para os seus alunos. Ainda, apontam um conjunto de saberes necessários à docência, que dizem respeito, grosso modo, aos saberes da expe- riência, aos conhecimentos/conteúdos da área específica, aos saberes didático- -pedagógicos, aos saberes curriculares e aos conhecimentos dos contextos educativos, dentre outros. Ao nos debruçarmos sobre o contexto formativo da atividade de Prática de Ensino e Estágios na Licenciatura em História, interessou-nos investigar como os professorandos2 estão constituindo sua aprendizagem profissional, no intuito de identificar que elementos cognitivos e contextuais caracterizam seu desempe- nho competente na sala de aula. O que entendemos por desempenho competente, neste estudo, não é a capacidade de dar todas as respostas ou de solucionar todos os problemas da aula, e sim a disposição de identificar quais dificuldades se apresentam em dada situação; de reconhecer que limitações e potencialidades têm para enfrentá-la; de perceber o que sabem e o que lhes falta saber para en- frentar os dilemas que surgem no cotidiano da sala de aula, enfim, um conjunto de habilidades que Bransford, Brown e Cocking (2007) denominam ‘competên- cia adaptativa’, conceito associado ao de metacognição, consubstanciado na ta- refa de avaliar o próprio progresso, identificar e perseguir, de modo contínuo e sistemático, novos objetivos de aprendizagem. Frente às inquietações que movem nossa prática de formadores de pro- fessores de História na licenciatura, temos buscado compreender como as trajetórias de formação dos sujeitos convergem para práticas qualificadas de ensinar-aprender em situação de estágio supervisionado. Dentre as principais indagações, destacamos: a) De que conhecimentos, instrumentos cognitivos, estratégias, recursos e características pessoais se valem esses sujeitos na medida em que necessitam mobilizar tais aportes para ensinar outros? b) Quais as mediações e/ou estratégias de aprendizagem implicadas na apropriação/cons- trução dos aportes necessários para viabilizar uma prática de ensino que atenda qualificadamente às demandas da aula, resultando em desempenho competente? c) Como reagem os sujeitos frente a situações que requerem a organização do conhecimento, a compreensão e resolução de problemas? Para desenvolver o estudo, acompanhamos a trajetória de formação aca- dêmica de um grupo integrado por cinco sujeitos previamente identificados
  • 3. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 89 como estudantes destacados na licenciatura em História, cujo desempenho docente sobressai-se em relação à média da turma, em situação de estágio supervisionado, apesar de não possuírem nenhuma experiência docente até o momento de realizar tal prática na licenciatura. Do ponto de vista metodoló- gico, foram adotadas as seguintes estratégias: a) observação de aulas e acom- panhamento sistemático das suas práticas de estágio; b) coleta e análise de registros de aula produzidos pelos estagiários, tais como planos, atividades, memórias; c) entrevistas para a discussão de situações de aula, buscando iden- tificar como enfrentam os ‘dilemas práticos’3 da sua iniciação à docência. No recorte definido para este texto, analisamos os registros formalizados nas memórias de aula4 de uma acadêmica integrante desse grupo-sujeito que realizou o estágio na disciplina de História no segundo semestre de 2011 com uma turma de 8ª série em escola da rede pública estadual. Na primeira parte do texto trazemos alguns pressupostos teóricos que orientam a proposta de formação que desenvolvemos na Prática de Ensino. Na segunda parte, dialo- gamos com os registros de aula da acadêmica de História em situação de está- gio curricular supervisionado, buscando analisar as estratégias metacognitivas mobilizadas por ela em seu percurso de aprendizagem e atuação inicial na docência. Aprendizagem profissional e metacognição: alguns pressupostos orientadores da formação de professores A aprendizagem profissional do professor vem sendo entendida, na lite- ratura educacional,5 como um processo complexo e contínuo, marcado por descontinuidades e oscilações. Aprender a/na profissão docente vai muito além de dominar conteúdos e estratégias de ensino, conforme preconizado pelo modelo da racionalidade técnica. Antes, significa atuar em contextos comple- xos e singulares, como o cotidiano da sala de aula, que exigem soluções possí- veis e adequadas (e também originais e criativas) para lidar com imprevistos e incertezas. Nesse sentido, tanto a experiência pessoal quanto a prática profissional são fontes importantes de aprendizagem docente, na medida em que o profes- sor carrega consigo um conjunto de sistemas conceituais, crenças e juízos que orientam sua ação cotidiana e tendem a não se modificar tão facilmente frente
  • 4. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 90 a novos princípios e valores. Da mesma forma, a prática profissional pode contribuir para gerar, validar ou recusar determinados tipos de saberes, inte- grando-os ou alijando-os no/do dia a dia profissional. Com Fernando Hernández compartilhamos a ideia de que a aprendizagem do professor, realizada em situações diversas de formação, manifesta-se em seus atos, que são, por sua vez, reveladores das aprendizagens que se converteram em representações pessoais da docência. Para esse autor, a aprendizagem profissio- nal está relacionada com a capacidade de transferência e generalização do apren- dizado, pois “alguém aprende quando está em condições de transferir a uma nova situação (por exemplo, à prática docente) o que conheceu em uma situação de formação, seja de maneira institucionalizada, nas trocas com os colegas, em situações não formais e em experiências da vida diária”.6 Na mesma direção, Bransford, Brown e Cocking consideram que os pro- fessores aprendem a ensinar de diversas maneiras e em diferentes situações, tais como: a) aprendem com a própria prática em sala de aula, na reação dos seus alunos, nos sucessos e insucessos cotidianos; b) aprendem ao interagir com outros professores, em situações informais na escola ou em situações de forma- ção continuada no âmbito escolar; c) aprendem com os educadores de profes- sores em suas escolas, nos programas de estágio, de iniciação à docência, nos cursos de aperfeiçoamento; d) aprendem em programas de pós-graduação, nos processos institucionais de educação continuada, em nível lato e/ou stricto sensu; e) por fim, aprendem sobre ensino fora do seu trabalho profissional for- mal, nos papéis de pais e nos trabalhos voluntários com crianças e jovens em suas comunidades, dentre outros. Em virtude da imprevisibilidade do contexto da sala de aula, é fundamental que os professores tenham planos de trabalho com objetivos claros e mante- nham-se vigilantes sobre as ações e reações que os percursos da aula suscitam, além de exercerem atitude reflexiva na/sobre a docência. Assim, numa pesquisa que busca investigar em que medida e de que forma os processos formativos incidem sobre a aprendizagem profissional dos professores e contribuem para a qualificação da sua atuação em situações de ensino, voltamos nossa atenção tam- bém para o conceito de metacognição, no intuito de compreender os aspectos relacionados à autorregulação e à tomada de consciência da ação pedagógica diante dos dilemas da sala de aula vivenciados pelos estagiários.
  • 5. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 91 As pesquisas acerca da metacognição, segundo Fávero e Machado,7 estão diretamente relacionadas aos estudos sobre regulações, tomada de consciência e abstração refletida desenvolvidos por Jean Piaget, não obstante verificarmos que, ao longo de sua obra, esse autor não abordou de maneira explícita o con- ceito de metacognição com essa formulação. Com base nos estudos publicados por pesquisadores anglo-saxões, Fávero8 esclarece que o termo metacognição tem sido empregado para referir os conhecimentos que os indivíduos possuem sobre seus processos de pensamento, bem como para designar o controle que exercem sobre seus processos cognitivos. Citando Flavell (apud Fávero, 2005, p.288), a autora apresenta a seguinte definição para o termo: A metacognição se refere ao conhecimento do sujeito dos seus próprios processos cognitivos, dos seus produtos e de tudo o que se relaciona a isso ... A metacognição diz respeito ao controle (monitoramento) ativo, à resultante regulação ou orques- tração desses processos em função dos objetos cognitivos ou dos dados sobre os quais eles se referem, habitualmente, para alcançar um objetivo concreto. Fávero e Machado apontam alguns consensos existentes entre os pesqui- sadores do campo da metacognição sobre os elementos que caracterizam tal categoria, assim sumarizados: 1) o termo contempla tanto a dimensão dos conhecimentos quanto a das regulações, a primeira referindo-se a pessoas, tarefas e estratégias, que são as representações na memória a longo termo, e a segunda dizendo respeito à tomada de consciência dos processos cognitivos em ação; 2) essas duas dimensões se distinguem por seus objetos, estando, no entanto, em contínua interação numa instância comum de construção; 3) a par da dificuldade de definir fronteiras entre cognição e metacognição, autores procuram distingui-las caracterizando a cognição segundo os aspectos concei- tuais e estruturais do desenvolvimento em geral, ao passo que a metacognição engloba “as regulações funcionais, ativadas segundo graus variados de cons- ciência numa situação de aprendizagem”. De acordo com Figueira, “indivíduos com competências metacognitivas bem desenvolvidas compreendem os objectivos das tarefas, planificam a sua execução, são capazes de aplicar e alterar, conscientemente, estratégias execu- tivas, bem como avaliar o seu próprio processo de execução”.9 Acredita-se que a prática metacognitiva possa colaborar na qualidade e eficácia da aprendiza- gem, especialmente nos aspectos de transferência e generalização, na medida
  • 6. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 92 em que possibilita reconhecer e avaliar dificuldades na execução de tarefas; produzir inferências sobre os saberes já apropriados e identificar os saberes ainda não apropriados; utilizar estratégias para organizar e mobilizar seus co- nhecimentos no sentido de resolver problemas; enfim, favorece a autorregu- lação, a autonomia e o aprender a aprender. A prática do estágio supervisionado sob o suporte de estratégias metacognitivas Ao chegar aos semestres finais de um curso de licenciatura, na iminência de entrar em sala de aula no papel de professores, os acadêmicos já vivenciaram incontáveis experiências na condição de alunos, ao longo de aproximadamente 15 anos frequentando os bancos escolares. Em virtude dessa trajetória, conse- guem identificar e exprimir a essência do que é ser professor, reconhecer em que consiste um bom (ou um insuficiente) trabalho docente, indicar as falhas e os acertos dos professores no exercício da sua função. Essas representações do trabalho docente incidem, em certa medida, sobre suas escolhas, decisões e ações, no momento de assumir a tarefa de ensinar, ainda que como orienta- ções intuitivas, sem os referenciais teóricos e o domínio técnico necessário para entendê-las e operá-las com autonomia. Nosso propósito, nesta parte do estudo, é identificar algumas estratégias metacognitivas mobilizadas em situação de estágio curricular supervisionado, no sentido de compreender como a estagiária em questão lida com os dilemas, situações de emergência e incerteza da sala de aula, resultando no que se pode denominar desempenho competente. Reiteramos que esse desempenho com- petente não diz respeito, necessariamente, aos resultados quantitativos do en- sino, mas ao modo como dá encaminhamento às dificuldades que vão se ma- nifestando no cotidiano da sala de aula. Posicionamo-nos contrariamente à imagem do professor como técnico, cujas competências devam ser treinadas, e recusamo-nos a conceber a apren- dizagem profissional apenas como aquisição de conhecimentos. Assim, defi- nimos os professores como profissionais cujas tarefas formativas compreen- dem a investigação e experimentação de novas ideias; a localização de si e dos alunos em contextos sociais, políticos e históricos mais amplos; a identificação
  • 7. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 93 e a exploração criativa de problemas; o confronto com discrepâncias e incon- gruências presentes no seu trabalho pedagógico. Antes de prosseguir, cumpre-nos tratar brevemente do entendimento que adotamos neste estudo sobre o significado da escrita de ‘memórias de aula’. Trata-se de um instrumento de reflexão que possibilita ampliar a capacidade de ver e de pensar a própria ação docente na interlocução com seus pares, as- sim caracterizado: consiste na elaboração escrita que o estagiário realiza após o ato pedagógico (uma aula, uma reunião, um conselho de classe), buscando, pela escrita, objetivar a ação e o pensamento sobre a ação. Compõe-se da observação, do registro, da análise, da teorização e do redimensionamento da situação vivenciada. Distin- gue-se do mero registro descritivo dos acontecimentos, embora também possa contemplá-lo, visto que tenciona uma primeira elaboração teorizada da ação rea- lizada e o levantamento de indicativos de redimensionamento do trabalho para uma nova intervenção.10 Os fundamentos que orientam a proposta de escrita de memórias de aula neste trabalho encontram ampla ressonância nos pressupostos apontados por Holly11 para a escrita de diários biográficos, destacando-se alguns aspectos em comum, como desconforto, distanciamento, transformação de perspectivas, atenção focalizada e voz. Escrever sobre si, sobre o seu trabalho, implica certo grau de exposição, o que, para muitos, gera desconforto. Tal sensação cresce à medida que o sujeito vai penetrando no seu trabalho, desnudando inconsis- tências, identificando incoerências, as quais vão se avolumando no papel, à espera de interpretação, de resposta, de atitude, de mudança. A escrita de diários também provoca dois tipos de distanciamento da ex- periência: ao mesmo tempo em que permite explorar o significado da expe- riência cotidiana de um ponto de vista mais pessoal e biográfico, permite re- cuar espacial e temporalmente, mirando-a desde pontos de vista mais latos e menos pessoais. Esses dois tipos de distanciamento, afirma Holly, favorecem a identificação de outras dimensões de uma dada situação, o reconhecimento de determinados problemas, a interrogação sobre outras possibilidades de aceitá-los, compreendê-los ou, até, de resolvê-los. Enfim, contribui para “to- mar consciência das lentes que usamos e do espírito com que nos movemos” (Holly, 2000, p.105).
  • 8. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 94 Outra característica identificada nos processos de escrita de diários bio- gráficos é a transformação de perspectivas, que ocorre em diferentes graus entre os autores, mas em geral é provocada por acontecimentos marcantes – os di- lemas referidos por Zabalza – perante os quais o sujeito já não encontra alter- nativa de solução, requerendo, assim, outras formas de olhar, compreender e dar sentido. Produzir outros sentidos implica reexaminar pressupostos acerca de si, dos outros e das relações pedagógicas, requer tempo e sistematicidade de reflexão. Daí a quarta característica dos diários biográficos ser a atenção foca- lizada, posto que contribui para superar a aplicação de ‘estruturas de simpli- ficação’ sobre os acontecimentos da sala de aula, dirigindo a atenção com mais intencionalidade, observando aspectos que lhe pareçam mais relevantes, siste- matizando dados e informações que auxiliem a compreender determinada situação para além da emergência cotidiana. Por fim, esclarece a autora, a escrita de diários pode dar visibilidade à voz do professor, na medida em que ele aprenda a interpretar a sua vida e o seu trabalho, assim como pode dar visibilidade à voz de outros, uma vez que o pro- fessor dialogue com a ‘multidão íntima’ que o habita. Ademais, a escrita do diário documenta a experiência de cada um para posterior análise, constituindo “uma base de discussão e de colaboração com outras pessoas” (Holly, 2000, p.108). Durante o estágio, muitas situações exigem do professorando tomada de decisão, flexibilização de seu planejamento, soluções emergenciais para pro- blemas imprevistos. Selecionamos, nos registros da acadêmica cujo processo formativo está sendo aqui acompanhado, três longos trechos de memórias produzidos em diferentes momentos do estágio, o qual durou cerca de 10 se- manas, com três períodos semanais de 50 minutos. O primeiro trecho (Mem-1) é representativo das duas primeiras semanas de estágio; o segundo trecho (Mem-2) foi escrito pela metade do estágio; o terceiro trecho (Mem-3) é con- cernente às últimas aulas do estágio. Em cada trecho selecionamos alguns recortes (identificados por letra e numeração crescente, R1, R2, R3...) que consideramos mais relevantes para os propósitos de análise do estudo. Optamos por manter o trecho com o mínimo de recortes, de modo que o leitor consiga visualizar a reflexão em seu conjunto. Na sequência de cada trecho, apresentamos a análise dos recortes selecionados.
  • 9. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 95 Ao entrar na sala, acompanhada da coordenadora da escola, que lembrou os alunos de que eu trabalharia com eles num período de pouco mais de um mês, senti o peso daquela responsabilidade. (R1) Mesmo sabendo que não seguirei essa profissão, algo que decidi muito antes de iniciar o estágio, ao olhar para cada uma daquelas pessoas, eu pensei que deve- ria dar aquela aula como eu esperava que tivesse na idade daquelas meninas e meninos. Voltei no tempo... Lembro que eu queria mesmo era me divertir, aprender podia fazer parte disso. (R2) Então, iniciei com uma dinâmica de apresentação dos colegas, o que não deu muito certo. Descobri que existem algumas meninas na sala que não se dão com outras, que os meninos são agitados, e ficam o tempo todo conversando. Definitiva- mente aquilo não deu certo. Alguns mentiam o nome e idade só pra fazer graça. Então decido me apresentar, todos silenciaram, estavam curiosos. Vi que meu erro foi não ter feito isso primeiro para que eles se acalmassem. (R3) Falei do meu compromisso com eles, que pretendia dar uma aula como eu mesma não tinha tido, divertida, espontânea, mas que haveria regras, para que ao final deste caminho, eles soubessem tudo sobre o processo da Independência do Brasil, assunto que trabalharei com eles. (R4) Com o mapa no centro da sala, pedi que todos levantassem, isso também não deu certo. Alguns – os mais interessados – procuraram os países que trabalharía- mos conforme a atividade solicitada. Outros ficavam nas cadeiras, em seus lugares, conversando. Aquilo foi me desanimando. Por que eles não queriam participar? O que eu devia fazer para a aula tornar-se atrativa para eles? Eu comecei a ficar per- dida, mas, ao mesmo tempo instigada com aqueles alunos. Eles de certa forma, me preocuparam. E a aula neste dia seguiu, de forma que enquanto eu explicava e fazia questionamentos a eles, alguns demonstravam interesse, outros nem sabiam do que eu estava falando, pelos olhares que trocavam, pelos gestos que faziam, estavam inquietos. (R5) Ao final da aula, descobri que nem todos os pensamentos positivos e prepara- ções teóricas eram suficientes. Alguma coisa deveria ser feita, eu queria chamar toda a turma para gostar de História junto comigo. Fui para meu trabalho anima- da com o desafio. Apesar de a turma não ter sido muito participativa, eles me de- ram um novo desafio: juntar aqueles grupinhos separados e fazê-los, em conjunto, gostar de História, entender a importância do conteúdo. Porém, também fiquei
  • 10. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 96 frustrada, toda preparação das atividades em grupo que tinha programado tinha ido por água abaixo, não adianta, eles não gostam de fazer nada em grupo. (R6) No dia seguinte tinha um período. Pensei em não juntá-los mais para as ati- vidades. Entreguei umas cópias em colorido de imagens de escravos em duas situa- ções: sendo transportados em navios negreiros e em atividades de trabalho. Como não levei para todos, alguns tinham que se emprestarem as figuras, vi que eles se interessaram, talvez pelo colorido, ou pelo que eu estava explicando, pois ilustra- va nas imagens. Sei que vi eles conversarem entre si: “nossa, coitados dos negros”. Alguns debatiam sobre isso: “Eu acho que eles deveriam sofrer bastante”. E assim consegui seguir este período. (R7) Notei que a participação se tornou mais geral enquanto eles trabalhavam de forma individual do que em grupos, ou na forma de círculo, como no primeiro momento da primeira aula ... Naquele dia, terminei a aula numa pilha de ner- vos, não tinha dado uma aula boa, os alunos nem sequer sabiam o que tinham feito e para piorar, na saída da sala duas alunas brigaram. O motivo: uma tinha falado mal da outra. (R8) Tentei novamente fazer aquela reflexão de sempre, de tentar voltar no tempo, imaginar o que eu pensaria naquela situação. Afinal, é claro que tinha vontade de rir do motivo da briga, mas não podia fazer isso na frente das meninas, que esta- vam achando tudo aquilo um caso seriíssimo de inimizade. Fechei a porta da sala e pedi que todos entrassem. Para finalizar, tive uma conversa séria com to- dos eles. Tentei ao máximo não fazer nenhum discurso moralista. Mas aos olhos deles, pode ser que tenha parecido isso. Minha intenção era fazê-los compreen- der que isso era normal, que logo elas já estariam bem novamente, e que isso poderia acontecer, e vai, em todos os lugares, pois encontraremos pessoas que criam afinidades, e pessoas que criam antipatia... Os meninos somente concorda- vam, e diziam que isso era normal entre as duas meninas em questão. Então libe- rei todos para o recreio, e pedi que aquilo não se repetisse na minha aula. (R9) Só pensava em como eu sou inexperiente. Fui para o trabalho muito chateada e assim passei o meu dia. Afinal, isso só mudaria quanto mais e mais aulas eu des- se, só assim eu poderia adquirir essa experiência, em saber lidar com situações inesperadas. Aquela teoria que aprendi nos livros, somente me serviu de norte, pois percebi que cada aluno é diferente, logo, cada turma também deve ser. Assim, com os livros temos o “como fazer”’, na prática o “faça-o” depende de várias circunstân- cias. O desafio para mim está lançado, e por sinal será complicado.
  • 11. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 97 (R10) Para as próximas aulas sei que terei ainda muito que aprender, mas de certo modo, essas primeiras experiências já foram bem significativas. (Mem-1) Os primeiros registros de memória dessa professoranda são, em geral, marcados por uma profusão de sentimentos, que poderiam ser sintetizados em três expressões utilizadas recorrentemente: ânimo, desânimo e desafio. Ao verbalizar sentimentos tão contraditórios que se sucedem de uma aula para outra ou nos diferentes momentos de uma mesma aula, a professoranda está tentando se apropriar dos acontecimentos intensos que vivencia nas aulas, para entendê-los em sua dinâmica veloz e fugaz. As pequenas conquistas (que lhe dão ânimo) e as supostas derrotas (que lhe trazem desânimo) nas aulas acabam sempre culminando na palavra desafio, o que se pode visualizar em R4, R5 e R9, especialmente. No que diz respeito ao uso de estratégias para compreender as situações de aula, encontramos em R1, R2 e R9 o esforço de se colocar no lugar do aluno, posição de alteridade que, nos estudos bakhtinianos, significa “assumir o ho- rizonte concreto desse outro, tal como ele o vive”.12 Ao buscar na memória o seu tempo de escola, faz o duplo movimento de tentar reconhecer as expecta- tivas dos seus alunos adolescentes, como também renega determinadas práticas docentes, ao afirmar: “pretendia dar uma aula como eu mesma não tinha tido, divertida, espontânea” (R3). Essa prática supostamente divertida e espontânea, no entanto, não seria concretizada sem o cumprimento de determinadas re- gras, cuja presença garantiria, possivelmente, a aprendizagem dos alunos. Esse é um dilema muito próprio da iniciação à docência, consubstanciado no desejo de estabelecer a relação pedagógica em outras bases, que não aquelas vivencia- das na condição de aluna; desejo de fazer diferente, sem saber exatamente como isso pode ser concretizado. Outra estratégia manifestada nos registros da estagiária se refere à iden- tificação do que não deu certo na aula – a dinâmica da apresentação, a ativi- dade em grupo, o trabalho com o mapa no centro da sala – e do que deu bom resultado – a disposição dos alunos em círculo, as tarefas individuais e a ativi- dade de análise de imagens. Reconhecer o sentido de tais experiências permite traçar novas estratégias para as aulas subsequentes, o que lhe dá certo fôlego e coragem para prosseguir, tal como evidencia em R6 e R7, por exemplo.
  • 12. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 98 No penúltimo recorte desse trecho (em R9) a estagiária esboça uma ten- tativa de reportar-se aos referenciais teóricos apropriados na graduação, cote- jando-os com as situações práticas do estágio. Trata-se de uma inserção ainda incipiente na tarefa de refletir sobre a “transferência do aprendizado”, definida por Bransford, Brown e Cocking (2007, p.77) como “a capacidade de estender o que se aprende em um contexto a novos contextos”, considerada “como um processo ativo e dinâmico, mais do que um produto final passivo de um con- junto específico de experiências de aprendizagem” (p.79), que exige dos apren- dentes que “escolham e avaliem estratégias, considerem recursos e recebam feedback” (p.94). Lamentando a pouca experiência, a professoranda aparente- mente atribui a esta a garantia de sucesso para enfrentar as emergências da sala de aula, ao afirmar: “isso só mudaria quanto mais e mais aulas eu desse, só assim eu poderia adquirir essa experiência, em saber lidar com situações inesperadas”. Na sequência da reflexão, avança no entendimento do papel que o aporte teórico ocupa na sua formação: “Aquela teoria que aprendi nos livros, somente me serviu de norte”. E finaliza reconhecendo que são muitas as circunstâncias implicadas num contexto de aula. Essa é uma inferência muito próxima à que faz Gómez, quando afirma que “na prática não existem problemas, mas situa- ções problemáticas, que se apresentam frequentemente como casos únicos, que não se enquadram nas categorias genéricas identificadas pela técnica e pela teoria existentes”.13 O trecho que analisaremos na sequência corresponde à memória escrita ao final da segunda unidade, portanto, neste momento a professoranda já con- tava com dois terços do tempo de estágio cumpridos, cerca de sete semanas. Nesta unidade, (R11) mesmo na ausência de experiência necessária para coman- dar uma turma como a minha, eu tinha obtido uma certeza: quanto mais ativida- de eu desse aos alunos, mais a aula teria andamento e, dessa forma, eu prenderia a atenção dos alunos. Esse era o caminho. E me senti começando tudo do zero, de novo. Encerradas as explicações e atividades sobre a crise no sistema colonial, fui para a escola, com meus textos xerografados, atividades e conteúdo na ponta da língua. (R12) Mas é claro que ao chegar à sala, tudo se encontrava diferente do que plane- java. Todos estavam bem agitados, chovia e fazia um frio terrível. Não entendi por que naquele frio eles estavam tão agitados. Disse que tinha uma notícia ruim, e
  • 13. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 99 que todos deviam prestar bem a atenção. Falei que as notas do trabalho dado na última aula não tinham sido boas, mas que eu faria um exercício para fixar me- lhor aquela matéria, já que todos pareciam não ter entendido as revoltas no Bra- sil durante o período colonial. Levou uns 15 ou 20 minutos, mas enfim, eles se acalmaram. (R13) Pode ser eu que eu tenha feito “tempestade em copo d’água” com as notas deles, que na verdade, nem tinham sido tão ruins. Mas encontrei uma forma de fazê-los se acalmar: assustando-os um pouquinho. (R14) A aula se seguiu com as atividades, alguns perguntavam se valeria nota, se recuperaria o trabalho da aula passada. Eu disse que tudo que eles faziam em aula contava pontos positivos ou negativos. Percebi que assim a aula teve melhor anda- mento e aproveitamento. (R15) Ao ver que estavam preocupados, tentei quebrar o gelo, fiz algumas pergun- tas, andei por entre as classes conversando com alguns deles, explicando a matéria. Perguntei por que estavam tão preocupados, eles me confessaram que estavam com problemas na disciplina de matemática. A professora estava sempre brigando, gri- tando com todos, e eles não entendiam nada da matéria. Perguntei quem era, e era justamente a minha antiga professora de matemática. Não resisti e tive que contar- -lhes, ela também tinha sido minha prô, na idade deles. Reforcei que eu não era assim tão agitada como eles e que esse era o jeito de ela dar aula. Que eles deveriam respeitar e tentar entender a matéria, pois seria muito importante para os próximos anos. Um dos alunos gritou lá do fundão: “Nossa, mas aquela professora é um mu- seu!”. Todos caíram na risada, até mesmo eu, após ter dado um sermão. Mesmo a piada sobre a idade da professora tendo causado uma agitaçãozinha, eles continua- ram em seus lugares, fazendo as atividades. Eu explicando a matéria, um aluno disse: “queria que a prô de matemática explicasse que nem você, prô XXXX”. Aqui- lo foi gratificante, confesso que me emocionei um pouco. Neste dia fui ao meu tra- balho mais contente, parecia enfim ter dado uma aula boa. Apesar de ter que mo- dificar um pouco minha postura em relação às outras aulas, ter sido um tanto mais rígida, me senti com o meu papel cumprido nesta aula. (Mem-2) Note-se que no primeiro trecho da memória, correspondente às aulas iniciais de estágio, a tônica da reflexão girou em torno das intensas emoções que o ingresso na prática docente lhe causou, especialmente pelo esforço em identificar condutas, estratégias, meios de estabelecer uma efetiva interlocução com os alunos, ou, pelo menos, de se fazer ouvir por eles.
  • 14. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 100 No trecho subsequente, embora essas preocupações ainda estejam pre- sentes, a professoranda acrescenta como fortes ingredientes de reflexão os fatores relativos à metodologia e à avaliação. Parece ter definido duas novas estratégias para o prosseguimento do estágio relacionadas a esses fatores. Em R11 esboça uma certeza e identifica um caminho para a continuidade do tra- balho. Acredita que conseguiria maior envolvimento dos alunos na medida em que trouxesse muitas (e variadas) atividades, afirmando: “quanto mais ativi- dade eu desse aos alunos, mais a aula teria andamento e, dessa forma, eu pren- deria a atenção dos alunos”. A outra estratégia diz respeito à avaliação, da qual a professoranda se utiliza para manter os alunos sob certo controle. Essa conduta é verbalizada em R13, ao afirmar: “Pode ser que eu tenha feito ‘tempestade em copo d’água’ com as notas deles, que na verdade, nem tinham sido tão ruins. Mas encontrei uma forma de fazê-los se acalmar: assustando-os um pouquinho”. Em R14 se pode visualizar a intenção de fazer da avaliação também um elemento moti- vador do envolvimento dos alunos. Ao ser questionada pelos alunos se as ati- vidades ‘valeriam nota’, afirma: “tudo que eles faziam em aula contava pontos positivos ou negativos. Percebi que assim a aula teve melhor andamento e aproveitamento”. Num primeiro olhar, essa estratégia em relação à avaliação pode parecer simples recorrência aos modelos de professor que vivenciou na sua escolari- zação, muitos dos quais tomou como exemplos a não serem seguidos, confor- me expressou em R3. Em outro estudo (Caimi, 2008) encontramos registros muito semelhantes, que denotam a inconformidade dos professorandos com a situação que encontram nas suas salas de aula: alunos desinteressados pelos conteúdos escolares, resistentes à realização de atividades que lhes demande algum esforço; turmas heterogêneas no que respeita à relação com o saber e à sua apropriação, dentre outras. Também fica evidente a expectativa (ou a nos- talgia?) de encontrar o aluno idealizado, que é naturalmente motivado para aprender, que tem plena consciência da finalidade da sua presença na escola, que é curioso, questionador, investigativo, participativo, colaborativo. Ao lançar mão de estratégias para dar conta dessa realidade não esperada e não desejada, os professorandos apostam, muitas vezes, em ações e motiva- ções extrínsecas, tais como a ameaça de uma nota insuficiente; de uma possível reprovação; de uma sanção ou penalidade por parte da professora, da direção
  • 15. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 101 e/ou dos pais; da possibilidade de perder a estima do professor e, até mesmo, da eventualidade de um futuro profissional comprometido. Em certa medida, são estratégias apreendidas ao longo de sua própria escolarização básica, uma vez que todos nós, na condição de alunos, já vivenciamos situações disciplina- doras dessa natureza em algum momento (senão em muitos ou em todos os momentos) de nossa vida escolar. O uso frequente de determinadas estratégias acaba por constituí-las como esquemas familiares,14 que desempenham função de organizadores decisivos no conhecimento de tipo privado, quer dizer, nos modos como os indivíduos mobilizam seus conhecimentos em novas situações e contextos. Inhelder e Caprona demonstram que é característica fundamental do sistema cognitivo reduzir e traduzir aquilo que o sujeito não conhece e não entende (o desco- nhecido e a ininteligibilidade) à forma de esquemas muito familiares, “em que as transformações são imediatamente operáveis, mentalmente ou material- mente, e em que os estados são imediatamente visualizados ou reconhecidos sem reconstituições, inferências ou planificações etc., intermediárias” (Inhelder; Caprona, 1996, p.29). Um dos aspectos mais instigantes desse trecho de memória diz respeito ao longo relato apresentado em R15, sobre as dificuldades da turma com a professora de Matemática. Saber que uma profissional experiente, com longos anos de carreira, que fora sua professora no ensino fundamental, estava tendo tão baixa aceitação da turma, acaba por fortalecer sua condição de professora e legitimar sua estratégia de tentar conduzir uma aula diferente das que teve como aluna do ensino fundamental. Essa legitimidade se concretiza ainda mais quando um aluno declara: “queria que a prô de matemática explicasse que nem você, prô XXXX”. Ao receber tal feedback dos alunos sobre o seu trabalho, a professoranda fica mais estimulada para prosseguir, além de ganhar confiança no caminho que escolheu lá no início do estágio, de estabelecer uma boa relação com a turma, de fazê-los gostar de História, de tornar a aula ‘atrativa’ para os alunos, conforme manifesta em R4. Já findando a segunda parte do estágio, verbaliza o reconhecimento de que os tradicionais ‘mecanismos de arbitragem’15 nas relações entre professor e alunos não funcionam mais, e o episódio com a professora de Matemática, relatado pelos alunos, mostra que “muitos
  • 16. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 102 professores não souberam encontrar novos modelos, mais justos e participa- dos, de convivência” (Esteve, 1995, p.107). Vejamos, por fim, um trecho da última memória, escrita imediatamente após o término das dez semanas de estágio. (R16) Estávamos, enfim, enturmados. Boa parte dos alunos correspondia às minhas propostas durante as aulas, e àqueles que uma vez ou outra atrapalhavam a explica- ção, eu procurava dar a atenção que pareciam buscar. Mas é claro, que até chegar neste ponto, como toda primeira experiência, eu tive que “sofrer” um pouquinho. Nes- ta unidade eu já sabia como “prender” a atenção dos alunos devido a todo processo de aprendizagem que eu mesma enfrentei nas sequências anteriores, e isso me ajudou a formar um certo roteiro, uma espécie de estratégia para atuar como professora. Na primeira atividade desenvolvida na programação da sequência didática, a leitura da análise da pintura de Pedro Américo, O Grito do Ipiranga, houve muitas conversas, risos, perguntas. Mas percebi, ao andar por entre as classes, que os alunos se refe- riam à atividade, então, deixei eles se soltarem um pouco. (R17) Deixei a imaginação sobre aquele fato, a Independência do Brasil, tomar conta. Aos poucos, alterava meu tom de voz, chamando atenção para a continuida- de das atividades que se seguiram. Assim, via que a aula tinha um andamento mais divertido para eles, e o aproveitamento em relação ao conteúdo era bem me- lhor. Assim seguiram-se as demais leituras, análise de imagens e da charge sobre a primeira Constituição. Procurei desenvolver um diálogo aberto, com expressões mais conhecidas durante as explicações. Levei até mesmo um dicionário comigo, logo, quando nos deparávamos com palavras difíceis, pedia para que eles me cha- massem, anotassem no caderno, enquanto eu anotava no quadro, para que tro- cássemos esta palavra por uma mais fácil, e assim, eu iniciava a frase novamente, por exemplo: “constituição” por “organização”; “confederação” por “união de es- tados”, conforme o dicionário trazia. Ao fim da aula desta terceira unidade, lem- brei-os da prova na próxima aula. Todos demonstraram muita preocupação, per- guntaram o que iria cair, como eu ia perguntar, se podiam usar material, enfim, usaram até mesmo a desculpa de que, já que eu não ia continuar mais dando aula para eles, que eu desse a prova com material, como despedida. É claro que fiquei balançada, mas não dei o braço a torcer, caso contrário, todo meu esforço teria ido por água abaixo. Então no dia da prova fiz uma breve revisão no início da aula. Tirei a conclusão de que realmente estavam preocupados, ou deviam estar todos com sono, mas estavam todos muito quietos, não questionaram mui- to. Fiz algumas perguntas a alguns alunos, com os quais eu estava mais preocu-
  • 17. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 103 pada, faziam parte dos “bagunceiros” e, para minha certeza, não tinham estuda- do mesmo. (R18) Apesar de me dar a resposta certa, o menino da “turma do fundão” respon- deu de acordo com as minhas explicações, vi que respondeu sem nenhuma base de leitura nos textos que eu havia entregado para que eles estudassem. Estava ansiosa após o final da prova. Havia muitas dúvidas: será que responderam todas? Será que aprenderam o que eu ensinei? O resultado das provas seria a resposta para as mi- nhas incertezas ... No final das contas: três alunos atingiram a nota máxima, um aluno quase atingiu, ficando com 12 pontos. Oito alunos tiraram 10 e treze alu- nos tiraram 8. Ou seja, alguns realmente entenderam o conteúdo, outros pare- ciam ter estudado, mas lembravam de algumas coisas, e outros pareciam somen- te ter estudado, não entendido o que trabalhamos ... (R19) No último dia fui um pouco triste, afinal esperava um resultado melhor. Senti-me culpada pelas notas, pois eu era quem lhes tinha passado o conteúdo, concluí que talvez eu não tivesse feito isso da melhor forma ... Fizemos uma peque- na festinha, com salgadinhos e refrigerante no último período da aula. Fiquei feliz, pois cada um me deu uma cartinha no fim da aula, dizendo que sentiriam saudades, que tinham aprendido muito. Isso me animou um pouco depois do resultado da prova ter me deixado preocupada. (R20) Apesar dos pesares, saí da escola com sentimento de missão cumprida. Afi- nal, aprendi muito, fiz o possível para passar-lhes o que sabia. Com certeza, eles não fazem ideia do quanto foram importantes para mim, por mais que eu tenha dito isso a eles no último dia. Todas as minhas experiências, com certeza serão úteis no próximo estágio. (Mem-3) Fica claro, neste trecho final de memória, que a estagiária viveu aqui o pe- ríodo de maior tranquilidade e segurança do estágio. Diversos são os indícios e vários os recortes em que se podem visualizar referências tanto à aprendizagem dos alunos como ao seu próprio aprendizado docente. Uma situação exemplar é encontrada em R16, quando afirma: “Nesta unidade eu já sabia como ‘prender’ a atenção dos alunos devido a todo processo de aprendizagem que eu mesmo enfrentei nas sequências anteriores, e isso me ajudou a formar um certo roteiro, uma espécie de estratégia para atuar como professora”. Esse e outros registros evidenciam que a professora assume uma atitude investigadora, em que revisa suas suposições, questiona como os alunos compreenderam aquilo que procurou ensinar, descobre e traz à consciência as melhores estratégias para o trabalho
  • 18. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 104 neste contexto, mostrando sua própria disponibilidade para a aprendizagem. Concretiza, assim, diversas estratégias metacognitivas, na medida em que exerce uma importante capacidade apontada por Bransford, Brown e Cocking, a de “identificar os limites do conhecimento que se tem no momento, e então tomar providências para remediar a situação” (2007, p.71). Uma vez superados os problemas interacionais mais emergentes que di- zem respeito à organização da classe, ao estabelecimento de determinadas ro- tinas, à antecipação de ações frente a algumas situações-problema, a professo- randa consegue voltar-se para questões mais centrais do trabalho docente. Por questões centrais entenda-se especificamente a atenção com os modos de en- sinar história e com a aprendizagem dos alunos que, afinal, é o propósito fun- damental de qualquer disciplina escolar. Considerações finais Recuperando um pouco as análises anteriores, no intuito de concluir o texto, localizamos no primeiro trecho uma escrita permeada por muitos sen- timentos contraditórios, expressos em palavras como frustrada, instigada, animada, desafiada, desanimada e chateada. Trata-se de um período inicial do estágio em que todo o esforço está voltado para garantir a ‘sobrevivência’16 naquele complexo e desconhecido universo, em que o professor se vê diante de um grupo de alunos, com todas as responsabilidades que essa tarefa impõe, e precisa encontrar estratégias diante de concretas e/ou possíveis resistências para desempenhar seu papel e nele obter êxito. Nas palavras de Michael Humerman, essa lógica da sobrevivência se expressa em ações como O tactear constante, a preocupação consigo próprio (‘Estou-me a aguentar?’), a distância entre os ideais e as realidades quotidianas da sala de aula, a fragmenta- ção do trabalho, a dificuldade em fazer face, simultaneamente, à relação pedagó- gica e à transmissão de conhecimentos, a oscilação entre relações demasiado ín- timas e demasiado distantes, dificuldades com alunos que criam problemas, com material didáctico inadequado etc. (Huberman, 2000, p.39) No segundo trecho o foco volta-se para aspectos metodológicos e avalia- tivos, com o intuito de exercer adequadamente a ‘gestão da classe’, entendida
  • 19. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 105 como um “conjunto de regras e de disposições necessárias para criar e manter um ambiente favorável tanto ao ensino quanto à aprendizagem” (Gauthier et al., 1998, p.240). Trata-se de uma atividade fundamentalmente cognitiva (mas permeada por muitas emoções), que requer dos professores a antecipação dos possíveis rumos da aula e a definição e consecução de regras e procedimentos, por exemplo. Ao escrever o terceiro trecho, bem mais ambientada na dinâmica da sala de aula, a professoranda revela condições de refletir sobre a aprendizagem dos alunos, sobre as reações e os resultados que manifestam diante das suas inter- venções. Nesse momento do estágio, já consegue revelar a preocupação com a ‘gestão da matéria’, definida por Gauthier et al. (1998, p.196) como “o conjunto de operações de que o mestre lança mão para levar os alunos a aprenderem o conteúdo”. Tal definição remete-nos particularmente aos dados de planeja- mento, objetivos, conteúdos, estratégias de ensino, organização do trabalho pedagógico, avaliação etc. O que se procurou demonstrar, fundamentalmente, é que o desempenho competente de professorandos inexperientes, em situação de estágio curricular supervisionado, está muito mais relacionado à ‘competência adaptativa’, no sentido de exercer uma prática deliberada e um monitoramento ativo das suas experiências de aprendizagem (Bransford; Brown; Cocking, 2007, p.85), do que ao resultado em si da sua intervenção docente sobre os estudantes. O re- curso de escrever memórias de aula, tal como vem sendo adotado nos proces- sos formativos em situação de estágio que acompanhamos, tem se mostrado bastante promissor para evidenciar as estratégias metacognitivas dos profes- sorandos em sua aprendizagem profissional. Esse registro escrito da aula, en- tendido também como um empreendimento cognitivo, cumpre a função de objetivar suas impressões, sentimentos e percepções, de informar o próprio sujeito sobre o ponto em que se encontra na atividade, de auxiliar na identifi- cação das suas dificuldades e dos progressos que já fez, potencializando sobre- maneira suas estratégias metacognitivas e competências adaptativas. Essa externalização do trabalho mental, como estratégia de apropriação do fazer docente, segundo contribuição de Jerome Bruner, “produz um registro de nossos esforços mentais, um registro que fica fora de nós e não vagamente na memória”,17 e, na mesma medida, “resgata a atividade cognitiva do
  • 20. Flávia Eloisa Caimi Revista História Hoje, vol. 2, nº 3 106 implícito, tornando-o mais público, negociável e solidário” (Bruner, 2001, p.32), criando condições de possibilidade para a reflexão e metacognição. Os processos de formação profissional docente precisam oportunizar não só a prática em situação real de trabalho como se faz nos estágios supervisio- nados, mas especialmente garantir estratégias de reflexão, de produção de co- nhecimentos de natureza pedagógica e de tomada de consciência sobre as condições da docência. A prática, desacompanhada de uma criteriosa obser- vação e análise de si mesma à luz de quadros teóricos e de valores educativos internalizados, possui um efeito formativo bastante limitado. Nesse sentido, podemos dizer que 10 anos de carreira docente, por exem- plo, não são o mesmo que 10 anos de experiência. Isso porque o professor pode exercer seus 10 anos de carreira replicando uma mesma experiência, sem to- mar seu trabalho como objeto de investigação e reflexão contínua. Dez anos de experiência significam refazer cotidianamente sua prática, debruçar-se so- bre os dados da sua experiência para organizá-los, refletir sobre eles e coorde- ná-los, transformando-os em conhecimentos profissionais que possibilitem o redimensionamento da ação e a implementação de novas ações, qualitativa- mente superiores. NOTAS 1 Dentre muitos autores que se dedicam a estudos dessa natureza, podem-se destacar BRANSFORD, John D.; BROWN, Ann L.; COCKING, Rodney R. (Org.). Como as pessoas aprendem: cérebro, mente, experiência. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2007; GAU- THIER, Clermont et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o fazer docente. Ijuí (RS): Unijuí, 1998; POZO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002; TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 2.ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2002. 2 A literatura educacional apresenta diferentes expressões para denominar a condição dos sujeitos que se encontram na transição entre ser aluno e tornar-se professor, tais como practicum (SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, António (Coord.). Os professores e a sua formação. 2.ed. Lisboa: Nova Enciclopédia, 1995. p.77-90), aluno-mestre (ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993), estagiário (PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004), professorando (MENDES, T. M. S. Os espaços pedagó- gicos de construção de possibilidades na sala de aula: um olhar sobre as microinterações. Tese [Doutorado em Educação] – UFRGS. Porto Alegre, 2000). Seguiremos, neste estudo, com as denominações predominantes na literatura brasileira – estagiário e professorando
  • 21. Professores iniciantes ensinando História: dilemas de aula e desafios da formação Junho de 2013 107 – pendendo mais para esta última por entendê-la como portadora de uma expressão sono- ra (e de um efeito de sentido) que indica passagem, movimento. 3 ZABALZA, M. Diários de aula. Contributo para o estudo dos dilemas práticos dos pro- fessores. Porto: Porto Ed., 1994. 4 A memória é aqui entendida como um registro sistemático e reflexivo sobre a ação do- cente. Na sequência do texto, será devidamente tematizada. 5 Pode-se referir, a título de exemplo, Tardif, 2002; NÓVOA (Coord.), 1995. 6 HERNÁNDEZ, F. A importância de saber como as pessoas aprendem. Pátio, Porto Ale- gre, n.4, p.8-13, fev.-abr. 1998. 7 FÁVERO, M. H.; MACHADO, C. M. C. A tomada de consciência e a prática de ensino: uma questão para a psicologia escolar. Psicologia: reflexão e crítica, v.16, n.1, p.15-28, 2003. 8 FÁVERO, M. H. Psicologia e conhecimento: subsídios da psicologia do desenvolvimento para a análise de ensinar e aprender. Brasília: Ed. UnB, 2005. 9 FIGUEIRA, Ana Paula C. Metacognição e seus contornos. Revista Iberoamericana de Educación, Universidade de Coimbra, Portugal, 2011, p.14. Disponível em: www.campus- -oei.org/revista/deloslectores/446Couceiro.pdf; Acesso em: 26 abr. 2011. 10 CAIMI, Flávia Eloisa. Aprendendo a ser professor de História. Passo Fundo (RS): Ed. UPF, 2008. p.61. 11 HOLLY, M. L. Investigando a vida profissional dos professores: diários biográficos. In: NÓVOA, A. (Org.). Vidas de professores. 2.ed. Porto: Porto Ed., 2000. p.79-110. 12 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p.45. 13 GÓMEZ, A. P. O pensamento prático do professor. In: NÓVOA, António (Coord.), 1995. p.100. 14 INHELDER, B.; CAPRONA, D. Rumo ao construtivismo psicológico. Estruturas? Proce- dimentos? Os dois ‘indissociáveis’. In: _______. et al. O desenrolar das descobertas da crian- ça: um estudo sobre as microgêneses cognitivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p.7-37; BODER, A. ‘Esquema familiar’: a unidade cognitiva procedural preferida. In: INHELDER; CAPRONA, 1996. p.186-205. 15 ESTEVE, J. M. Mudanças sociais e função docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Profissão professor. 2.ed. Porto: Porto Ed., 1995. p.107. 16 HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA (Org.), 2000. 17 BRUNER, Jerome. A cultura da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. p.31. Artigo recebido em 20 de dezembro de 2012. Aprovado em 14 de abril de 2013.