1. Apresentação
• 1- Os derivativos: conceitos e mercados
• 2- Os derivativos na crise financeira
internacional
• 3- Os impactos dos derivativos no Brasil:
um dos principais canais de transmissão da
crise
3. Mercados à vista e mercados p/
vencimentos futuros
• Transações de bens e serviços podem ser
realizadas à vista ou p/a entrega e
pagamento futuros (por encomenda).
• Mercados financeiros contemporâneos
adotam estrutura similar. Mercados de
ativos específicos considerados
“completos” e “profundos” qdo. contam c/
liquidez elevada e mecanismos distintos nas
negociações p/a diferentes temporalidades.
4. Mercados à vista e mercados p/
vencimentos futuros
• Existência concomitante de mercados à
vista e mercados p/a vencimentos futuros c/
diversos mecanismos tornam possível
operações de cobertura de riscos (hedge) e
ampliam possibilidades de especulação.
Razões básicas:
• 1- p/a operar nos mercados p/a vencimentos
futuros só se efetua pequeno pagamento no
presente ou, em alguns casos, nenhum
paga/o (alavancagem).
5. Definição dos derivativos
• Derivativos financeiros são instrumentos
construídos sobre valores de referência (os
ativos subjacentes), dos quais seus preços
“derivam”. Constituem compromissos de
compra e de venda assumidos no presente
para liquidação num futuro predeterminado
e a um preço combinado, no presente, entre
os agentes.
6. Aspectos comuns
• 1- temporalidade mais longa que a de seu subjacente, já
que representam a atual projeção de seu preço futuro. Cada
tipo de derivativo exprime esta projeção à sua maneira
devido aos diversos mecanismos de negociação (futuros,
opções, swaps).
• Tal projeção pode ser bastante distinta do preço presente
atualizado pela taxa de juros prevalecente para o período a
decorrer.
7. Características comuns
2- Nascem do encontro de um comprador e de
um vendedor- não existe emitente nem
estoque predeterminado de títulos.
A liquidez dos mercados de derivativos
financeiros depende exclusivamente da
divergência de opiniões entre os
participantes e/ou da busca por cobertura de
riscos opostos.
8. Características comuns
• 3- jogo de soma zero: - as somas perdidas
por uns correspondem exatamente às
ganhas por outros, se excetuarmos os custos
de transação. Não há criação de riqueza
nesses mercados( com exceção dos
intermediários que recebem comissão por
operação executada), mas apenas
transferência entre agentes ganhadores e
agentes perdedores.
9. Características comuns
• 4 - registro contábil “fora de balanço”:
balanço dá no ativo imagem do que é
possuído e no passivo do que é devido.
Reflete assim operações em curso com
incidência no patrimônio. Mas operações
em curso não resumem toda atividade da
empresa que tb é constituída de promessas e
compromissos futuros, sem incidência no
patrimônio atual. Esses não têm registro
contábil no balanço .
10. Mercados organizados e de
balcão
• Derivativos financeiros negociados em:
• a- mercados organizados: contratos padronizados
definem ativo, vencimento, liquidação, etc.., só
resta a comprador e vendedor concordarem sobre
preço. Risco de crédito limitado ao “risco Bolsa”
• b- mercados de balcão: produtos “sob medida” p/a
atender necessidades específicas. No plano
internacional predominam largamente sobre
derivativos em mercados organizados.
11. As liquidações
No mercado à vista, negociam-se mercadorias disponíveis
ou suscetíveis de estarem disponíveis num determinado
período. Nos mercados organizados de derivativos,
negociam-se contratos sem a intenção de entregar o ativo
subjacente ou recebê-lo. É possível vender a descoberto
um ativo subjacente que não se possui ou comprar ativos
que não se pretende vir a possuir. Para liquidar as
posições, basta realizar, em qualquer momento durante vida
útil do contrato, a operação inversa à posição inicial. Esta
forma de liquidação é a + comum, representa mais de 99%
de todas liquidações nos mercados organizados. Só é
possível por causa da padronização dos contratos e da
existência de uma câmara de compensação.
12. Liquidações antes do vencimento
• Existência de Câmara de compensação
permite que se liquide posição antes do
vencimento, simplesmente realizando a
operação contrária no mercado, pouco
importando quem seja a contraparte. As
posições divulgadas pela compensação são
sempre posições líquidas (não liquidadas) e
em curso
13. Liquidação nos mercados de
balcão
• Difícil realizar liquidação antecipada em
mercados de balcão: a- pq contratos não são
padronizados, b-contraparte sem câmara de
compensação.
• A única possibilidade é realizar posição
inversa c/qq contraparte e manter as duas
em aberto até vencimento.
14. Estoques derivativos no mercado de balcão, em
US$ bilhões
Fonte: Bis
Valores nocionais Valores brutos a preço de mercado
Dez.2007 Dez.2008 Dez. 2007 Dez.2008
Totais 595.341 591.963 15.813 33.899
Contratos de
taxa de câmbio 56.238 62943 1.807 3.917
Contratos de
taxa de juros 393.138 418.678 6.063 18.420
Contratos
ligados a ações 8.649 10.177 1.142 1.113
Contratos de
commodities 8.455 4.427 1.899 965
Credit Default
Swaps 57.894 41.898 2.002 5.682
Outros 71.146 70.742 1.704 3.831
15.
16. Derivativos e a crise
• No desenrolar da crise, atenções se
voltaram aos derivativos de crédito
(transferência do risco de crédito).
• Nesses, o comprador de proteção aceita
pagar uma soma fixa anual ao vendedor de
proteção que, por sua vez, se compromete a
ressarcí-lo em caso de um evento de crédito
(= adquirir o ativo por 100% do valor de
face).
• Numa crise de crédito, esses vendedores são
diretamente atingidos.
17. Derivs de crédito
• A crise oriunda do aumento da inadimplência no
crédito hipotecário americano e seus
desdobramentos provocaram um forte aumento
nos prêmios dos CDS: para uma queda do volume
nocional de 27,63% entre dezembro de 2007 e
dezembro de 2008, registrou-se uma alta de
183,82% no seu valor bruto de substituição a
preço de mercado.
• As instituições que tinham assumido posições
vendidas nos CDS amargaram altíssimos prejuízos
em função desta alta dos prêmios, muitas delas
tiveram de ser socorridas pelas autoridades
monetárias em função desses prejuízos.
18. A percepção de riscos
• A percepção de riscos foi ainda agravada pelos volumes
extremamente elevados de contratos nesses derivativos de
balcão.
• Não havendo uma câmara de compensação,qualquer
liquidação antes do vencimento das operações é contada
duas vezes, uma referente à posição original e outra à sua
liquidação antecipada, até o vencimento.
• Quanto maior o giro num determinado derivativo de
balcão, maior será o dimensionamento desse mercado. Os
dados do BIS sobre derivativos de balcão incluem essas
múltiplas contagens.
19. Início de compensação nos
derivativos de crédito
• O reconhecimento do papel crucial dos derivativos de
crédito levou a uma rara convergência entre os
reguladores e os representantes das instituições
financeiras para a criação de uma câmara de
compensação que exija margens de garantia dos
participantes, para minimizar os riscos de contraparte,
e traga alguma transparência às posições em aberto e
à distribuição de riscos.
• Algumas empresas privadas estão se "candidatando"
para assumir esta função de câmara de compensação.
No processo de concorrência entre elas, em novembro
de 2008, novos dados começaram a emergir.
20. Resultados da compensação
• Esses dados parciais só começaram a ser
divulgados no final de novembro de 2008. Eles
apontam que as posições liquidas (não liquidadas
por meio de uma operação inversa) equivaliam,
em maio de 2009, a 9% das posições brutas.
• Embora sejam ainda muito recentes, pouco
conhecidos e entendidos, é possível que esses
dados tenham contribuído para a acentuada
redução da percepção de riscos constatada nos
últimos meses.
21. Os benefícios da compensação
BIS 06/08
Nocional bruto
BIS 12/08
Nocional bruto
DTCC 06/09
Nocional bruto(a)
DTCC 06/09
Nocional
líquido(b)
(a)/(b)%
CDS Total
57.325 41.868 28.131 2566 9%
Único nome
33.334 25.730 15.543 1.415. 9%
Multinomes 23.991 16.138 12.588. 1.151 9%
23. Papel dos derivativos financeiros no
Brasil
• Os mercados de derivativos financeiros no Brasil
tiveram importante papel no processo de
estabilização monetária e na nova inserção
financeira internacional do país, bem como no
decorrer dos episódios de ataques especulativos e
de fugas de capitais em 1999, 2001 e 2002.
• Sua importância se afirmou igualmente no
processo de apreciação do real e constituiu um
importante canal de transmissão da crise
financeira internacional para a economia
brasileira.
24. Particularidades dos derivativos
de câmbio no Brasil
• Em todas essas ocasiões, foram, sobretudo, os derivativos
de câmbio que tiveram papel relevante.
• Importante sublinhar especificidade desses derivativos no
Brasil:Em função de particularidades da legislação
brasileira, a liquidação desses contratos não envolve a
entrega física de divisas. Tal liquidação é sempre feita em
reais pela taxa de câmbio de reais por dólar dos Estados
Unidos, para entrega pronta, contratada nos termos da
Resolução 1690/90 do CMN, definida como a taxa média
de venda apurada pelo BCB.
25. Derivativos no Brasil e
participação estrangeira
• A ampliação da participação estrangeira no
sistema financeiro nacional contribuiu
muito para o crescimento e aprofundamento
dos mercados de derivativos brasileiros.
Sua atuação e o desenvolvimento no
exterior de derivativos tendo ativos
brasileiros como subjacente levou a
aumentos substanciais do total dos contratos
26. Derivativos e bancos estrangeiros
• A maior participação estrangeira no sistema
financeiro nacional instaurou nova dinâmica
na gestão das operações de tesouraria no
Brasil, e nos mercados de derivativos que
passaram a estar estreitamente vinculados
aos mercados internacionais e às suas
avaliações sobre os ativos brasileiros. A
maior parte dos bancos estrangeiros que
vieram se instalar no Brasil adotou um
estilo operacional muito mais agressivo do
que o anteriormente utilizado pelas
instituições financeiras domésticas
27. Ataques especulativos e câmbio flutuante
• Movimento taxa de câmbio do real em 2001/2002:
parecido c/ dinâmica bolhas especulativas, alta dos preços
acarreta > no. compradores dispostos a pagar preços cada
vez + altos porque presumem que tendência persistirá.
• Nesse período, derivativos acentuaram a instabilidade ao
se tornar um instrumento privilegiado dos ataques
especulativos contra a taxa de câmbio do real.
• Elevação de volume no mercado de derivativos. No
mercado organizado, volume de contratos na BM&F +
25% entre janeiro e novembro de 2001. Tb. se elevou
consideravelmente volume de derivativos de balcão.
28. Derivativos e investidores
estrangeiros
• Antes fortemente restrito, o acesso dos
investidores estrangeiros aos mercados de
derivativos brasileiros tornou-se livre e
irrestrito a partir de 2000, com a Resolução
nº 2.689 do Conselho Monetário Nacional
(CMN) que também flexibilizou as
aplicações desses investidores estrangeiros
nos mercados de ações e títulos de renda
fixa.
29. Derivativos e apreciação do real
• A partir de 2003, reversão ataque especulativo
• 2o semestre 2004 a meados de 2008, nova
apreciação do real
• Importante papel dos investidores estrangeiros nos
mercados de derivativos
30. Fim de 2004 a 2006: Chamando
a atenção
• Juros altos e risco país em queda constituíram
poderoso atrativo para posições especulativas
combinando compra de real contra o dólar e
aplicações a taxas de juros próximas da Selic,
tanto nos mercados à vista quanto nos
mercados de derivativos. Flagrante anomalia
dessa divergência entre taxa de juros e risco
país condicionaram os movimentos
verificados nos mercados de ativos
brasileiros, notadamente nos que negociam
taxa de juros e de câmbio
31. • Essa combinação despertou o interesse
de um elevado número de players
internacionais que passaram a tomar
posições em reais, apostando,
particularmente nos derivativos, que
uma eventual desvalorização da moeda
brasileira seria muito inferior ao
rendimento da aplicação em taxa de
juros.
32. • A análise do perfil dos participantes
nesses derivativos negociados na BM&F
mostra o forte aumento da presença dos
“investidores institucionais
estrangeiros”. As operações dos
investidores estrangeiros, em particular
os hedge funds, foram muito agressivas
nos mercados de derivativos de taxa de
juros (aposta de uma queda, no longo
prazo, dessa taxa) e de câmbio do real
(aposta numa valorização), tanto nos
negociados no Brasil quanto nos
offshore.
33. Estrangeiros e apreciação do real
• Compras maciças da taxa de câmbio
futura do real contra o dólar
contribuem para a valorização da taxa
de câmbio no mercado à vista devido à
arbitragem entre eles que se tornou
prática cotidiana das finanças
contemporâneas.
34. • A importância dos derivativos na
apreciação do real não pode ser
inteiramente dimensionada, já que
operações tb são realizadas em
mercados de balcão, inclusive os
localizados offshore. Embora não haja
números confiáveis sobre o volume dos
derivativos de câmbio do real offshore,
um survey realizado pelo Federal
Reserve de Nova Iorque indica que, em
abril de 2004, o giro desses derivativos
nos EUA alcançou US$ 34, 883bi. Sabe-
se tb que volume se elevou muito a
partir do último trimestre de 2004.
35. Estrangeiros e juros futuros
• Operações dos estrangeiros nos derivativos de
juros provocaram queda das taxas futuras +
longas, contrariando a política monetária restritiva
do período. Contribuíram na formação de uma
curva de juros de mais longo prazo e com o
incomum formato de ser decrescente que perdurou
até meados de 2007, quando o estresse do
mercado internacional levou a curva de juros para
uma inclinação positiva.
39. Derivativos e transmissão da crise
• Após a falência do Lehman Brothers, as desvalorizações
cambiais obrigaram algumas grandes empresas de
economias emergentes como o Brasil, a China, a
Colômbia, a Coreia do Sul e o México a divulgar enormes
perdas financeiras em operações com os bancos,
envolvendo contratos de derivativos de câmbio.
• Numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo (2009),
Henrique Meirelles declara que ”Grandes empresas
brasileiras tinham assinado contratos de derivativos
vendendo dólares equivalentes, em alguns casos, a anos de
exportação. Elas ficaram insolventes. Eram empresas
grandes, não se sabia quantas nem quais. Elas tinham
contrato majoritariamente com bancos internacionais. Só
que mantinham linhas de crédito com grandes bancos
nacionais. Aqui de novo, não se sabia quantos ou quais”.
40. Instrumentos e mercados
• Através de complexos contratos, empresas
tinham assumido posição vendida em dólar
americano contra suas moedas nacionais.
No Brasil, em 2007 e 2008, mecanismo
mais usado denominado target forward.
• Essas operações foram sobretudo realizadas
nos mercados de balcão offshore (NDFs
volumes e posições totalmente opacos) e
onshore (no caso brasileiro, registro não
compensado na Cetip).
41. Derivativos de câmbio no Brasil
• No Brasil, derivativos de câmbio non deliverable
atenuaram a pressão de uma procura suplementar elevada,
em período de crise, no mercado de câmbio à vista.
• Já nos países em que a liquidação de derivativos de câmbio
tem de ser feita por entrega efetiva das divisas, os
momentos de crise são acompanhados por procura
desmesurada de moeda estrangeira no mercado à vista para
honrar ou para liquidar antecipadamente posições vendidas
no mercado de derivativos, obrigando os agentes a recorrer
ao mercado internacional para obtê-las, a qualquer custo, o
que torna a crise ainda mais aguda.
42. Agentes: a- bancos
• As operações foram aparentemente realizadas no primeiro semestre de 2008.
Naquele período, a primeira fase da crise financeira internacional tinha levado
à expressiva desvalorização da moeda americana e a fortes altas dos preços
das commodities. Segundo as expectativas dos grandes bancos, internacionais,
a crise financeira acabaria tendo impacto na demanda das empresas e dos
consumidores, levando à queda dos preços das matérias primas e a uma
deterioração das contas externas das economias emergentes que acarretaria
fortes quedas dos preços de seus ativos e de suas moedas, a exemplo do que
tinha se verificado nas crises dos anos 90.
• Em função disso, esses bancos lançavam olhares cobiçosos às moedas e ativos
dessas economias, já que antecipavam que essa valorização era excessiva e
não poderia se manter numa conjuntura de crise. Seu objetivo era conseguir
vender grandes volumes de ativos e moeda das economias emergentes. Para
isso, os bancos precisavam conseguir contrapartes dispostas a assumir a
posição oposta.
43. Cetip: Contrato a termo de moeda sem entrega física
Estoque - Dólar dos Estados Unidos
Mercado- Cliente
44. Agentes: b- empresas
• Os argumentos utilizados para arrebanhar interessados se dirigiram,
inicialmente, aos agentes que mais vinham sofrendo os impactos da
valorização cambial: as grandes empresas exportadoras. As operações
propostas a essas empresas pareciam, à primeira vista, ser clássicas operações
de cobertura de riscos. Como essas empresas tinham fluxos de renda em
divisas, elas teriam de vender essas divisas para liquidação diferida, de modo a
se defender de uma apreciação cambial adicional. Mas, um detalhe
significativo mudou o caráter dessas operações transformando-as em
operações especulativas: o volume negociado constituía um múltiplo elevado
dos fluxos de renda em divisas.
• Num segundo momento, alguns bancos passaram a oferecer crédito nas
moedas locais vinculados às operações com derivativos de dólar em condições
mais favoráveis para empresas médias e pequenas, com pouca ou nenhuma
participação no comércio internacional. No caso do Brasil, os bancos
estrangeiros, rapidamente seguidos pelos bancos privados nacionais,
ofereceram recursos às empresas com dupla indexação: taxas entre 50% a 75%
dos juros do Depósito Interfinanceiro (CDI) e variação cambial a partir de uma
cotação predeterminada.
45. Agentes: b- empresas
• Segundo o BIS (2009), enquanto no México, as perdas das empresas
são avaliadas em U$ 4 bilhões, no Brasil, em que não há números
oficiais, os prejuízos são estimados em U$ 25 bilhões.
• No final de outubro de 2008, Jorge Sant’Anna, diretor da Cetip,
informava que havia mais de quinhentas empresas envolvidas nos
derivativos de câmbio. No mesmo período, a Agência Estado
apontava que 37 de 50 empresas não-financeiras do Ibovespa
mantinham posições abertas com derivativos de câmbio.
• Mas, a maioria das empresas envolvidas não é de capital aberto. Seus
prejuízos apenas foram revelados quando ingressaram com processos
judiciais (quase totalidade desses processos acabou resultando em
acordo), contestando a legitimidade dos contratos de derivativos. Dois
exemplos são o grupo Arantes e a Tok & Stok, cujos casos foram
divulgados após recorrerem ao Judiciário.
46. • H. Meirelles afirma que “o prejuízo poderia chegar a proporções
monumentais. O mercado estava de tal maneira alavancado que, se o
Banco Central não interviesse, geraria perdas extravagantes para
bancos brasileiros que tinham crédito com essas companhias”.
• É importante sublinhar que a falta de transparência dessas operações
também envolve as identidades dos bancos implicados bem como os
montantes de sua respectiva exposição. Os nomes que surgiram foram
principalmente os dos bancos que tiveram sua higidez abalada pelas
operações e foram obrigados a uma reestruturação societária (Itau,
Unibanco, Votorantim).
• Um levantamento da Agência Estado (out. 2008) menciona o
Santander (com 60 empresas envolvidas nessas operações). Outros
nomes de bancos aparecem em disputas judiciais movidos por
empresas contra os bancos, c/o o Merrill Lynch e o banco Safra. Sabe-
se que a Sadia realizou uma operação de US$ 1,4 bilhão com o
Barclays em 10 de setembro, poucos dias antes da quebra do Lehman.
Em entrevista o HSBC reconheceu que “tinha exposição com a Aracruz”.
47. Conclusão 1
• O fato dessas operações terem sido realizadas no mercado de balcão
potencializou seu impacto negativo. A impossibilidade de identificar
as empresas e os bancos envolvidos provocou imediato empoçamento
da liquidez, fortes quedas nos preços das ações e uma desvalorização
suplementar da moeda.
• Da mesma forma, o efeito dos prejuízos causados pelas operações de
derivativos de câmbio das empresas ainda está longe de ser totalmente
apreendido. Passada a fase de exacerbação da aversão aos riscos, as
acentuadas desvalorizações das moedas de economias emergentes
cederam lugar a novo processo de valorização. Caso as posições em
derivativos das empresas tivessem se mantido estáticas, os prejuízos
anteriores teriam sido meramente contábeis e teriam sido, pelo menos
em boa parte, revertidos com a nova onda de apreciação cambial.
48. Conclusão 1
• Mas, essas posições modificaram-se fortemente no período Alguns
contratos de derivativos venceram entre o quarto trimestre de 2008 e o
segundo trimestre de 2009. Muitos outros devem ter sido liquidados
antes do vencimento pelo receio de prolongamento e/ou intensificação
da tendência de depreciação cambial.
• Essa liquidação antecipada pode ter ocorrido seja pela realização de
outro contrato com posições inversas às inicialmente assumidas, seja
por via de acordo com os bancos e pela transformação do contrato de
derivativo em empréstimo “clássico”em moeda nacional.
• Nesse caso, os prejuízos foram definitivamente realizados e
incorporados aos balanços e devem pesar na vida futura das empresas,
reduzindo sua capacidade de investimentos em função da elevação da
relação dívida/patrimônio.
49. Conclusão 2
• Apesar da obrigatoriedade dos registros das operações de
derivativos de balcão, o recente episódio dos prejuízos das
empresas com derivativos mostrou que a regulamentação
era insuficiente e que deve ser reforçada, tanto para evitar
sua repetição e para atenuar sua opacidade quanto para
adaptar-se às novas normas em discussão no plano
internacional.
• 1- Mudanças na contabilização dos derivativos:
obrigatoriedade de reconhecer posições nos balanços. Mas
só parte dessas mudanças devem ser implantadas pelo CPC
em 2009.
50. Conclusão 2
• 2- Circular 3.474 do Banco Central de 11/11/09
determina o registro obrigatório de derivativos
vinculados a recursos captados no exterior. Essa
medida vale para qualquer empresa ou banco com
derivativos vinculados a captações no exterior.
• Estimativas feitas pelo próprio BC apontam que
cerca de 5% das captações realizadas no exterior
tenham essa característica.
51. Conclusão 2
• 3- normas em discussão no plano
internacional: ainda mto longe do consenso
entre países desenvolvidos. Sentido geral
das propostas: tentar levar maior parte dos
derivativos de balcão para negociação em
mercados organizados, criação de
organismos de compensação para os que
continuarem sendo negociados no balcão e
elevação do custo das operações.
52. Outras medidas possíveis no BR.
• No contexto de apreciação cambial, restrições à
participação dos investidores estrangeiros em
derivativos, c/ objetivo de trazer limites às
operações de arbitragem internacional de juros e
reduzir a pressão vendedora de real nos
derivativos que, como visto, são rapidamente
transmitidas para as cotações à vista.
• elevar o valor dos depósitos de garantia na
BMF exigir que tais depósitos sejam feitos em
dinheiro que ficará sem remuneração durante a
vigência da posição.
53. Outras medidas possíveis no BR
• Introdução de IOF sobre operações de curto prazo de investidores
estrangeiros em derivativos
• Esta medida atinge diretamente as posições que os
investidores estrangeiros mantêm nos derivativos de
câmbio, já que elas são concentradas no curto prazo e é
quase inócua nas posições de derivativos de juros com
prazos mais longos. Essa tributação incidiria sobre o valor
nocional das operações. Ela constituiria mais um custo de
transação e seria cobrada no início da operação junto com
as taxas de intermediação e os emolumentos da Bolsa de
Mercadorias & Futuros (BM&F).
54. Outras medidas possíveis no BR
• A intervenção da autoridade monetária no mercado futuro de
câmbio atenuaria ou aliviaria tais pressões e a relação “anormal” entre
câmbio à vista e futuro. Esse tipo de atuação apresentaria a vantagem
suplementar de só passar a ter um custo equivalente à taxa básica de
juros se a intervenção for bem-sucedida. Enquanto o prêmio do futuro
sobre o câmbio à vista se mantiver inferior à Selic para o período, o
custo da intervenção também o será. Ao fazer com que a taxa de
câmbio do mercado futuro reflita um prêmio normal, a intervenção do
BCB reduziria significativamente o cupom cambial, diminuindo a
pressão vendedora no mercado à vista.