Coletânea de textos realizada a partir de um concurso cultural solidário. Ilustrações especiais de David de Angelina (Colômbia) e celebração do Equinócio de Primavera!!!
Setembro 2020
projetooficinativa@hotmail.com
www.oficinativa.org
1. “O tambor,
na mão do outro,
não satisfaz.
Quando o tomamos,
incomodamos”
provérbio etíope
AfroEscola Laboratório Urbano
Avenida Atlântica, 904
Valparaíso, Santo André, SP
CEP 09400 970
projetooficinativa@hotmail.com
www.oficinativa.org set 2020
AfroAfro
PoemasPoemas
Equinócio de Primavera
Ilustrações:
David de Angelina
2. Texto da primeira publicação
AfroPoemas, em novembro de
2011
(ainda / sempre atual):
“É crescente a necessidade de
falar sobre temáticas sociais que
ainda hoje são nós pessoais e
coletivos na constituição
psicológica de nossa nação. E se
conseguimos fazê-lo por
caminhos artísticos / poéticos,
acreditamos que tais debates e
reflexões podem experimentar
processos e resultados
impressionantes. Essa foi
justamente a proposta do
concurso solidário AfroPoemas e
agora apresentamos a publicação
que nos dá muito orgulho. E
certamente vontade de fazer
outras...”
Estamos aqui em formato quase
que totalmente digital por conta
da pandemia que transformou
nossas vidas nesse ano de 2020.
Mas ARTE e CULTURA seguem
sendo nossos alimentos mais
potentes também nesses tempos
de tantas incertezas. Então
trazemos mais uma edição dos
AfroPoemas, desta vez
celebrando a chegada da
Primavera – o Equinócio –
passagem sempre tão especial da
Natureza. Talvez devamos
encarar a situação atual como
uma oportunidade para aquela
tão almejada reconexão com
nossos desejos / necessidades
mais íntimos...
Muita CORAGEM e AfroAbraços
Odé Amorim
Os desenhos dessa edição
foram feitos por David de
Angelina, educador físico,
contador de histórias,
investigador autônomo
afrocolombiano, durante sua
mágica caminhada pelas
africanidades da América do
Sul. Ele – juntamente a Karol
“Danza Mariposa” Ramirez –
esteve pela AfroEscola de
setembro a dezembro de 2017
e estabeleceu relações
preciosas com nossas ideias /
ideais.Toda essa aventura foi
inspirada pelo mestre Manuel
Zapata Olivella, um referencial
negro de nosso continente que
precisamos estudar mais.
3. Hedor 1
Amanece en el barrio Uruguai de Salvador, Bahía, y
los fuertes rayos de sol irradian las
espectrales barcas.
El aire es infestado por un incesante olor
nauseabundo que advierte las desigualdades
constantes en esta ciudad, estado y país tan
inmensamente rico.
Quizás, las respuestas para nuestras angustiosas
inquietudes sociales estén en la
identificación de cada partícula fétida, porque de
pronto éstas, narren la creación incierta de
estos barrios periféricos ganados al mar por medio
de la basura y los sueños.
Quizás, las partículas cuenten el abandono estatal,
o tal vez, esta inhóspita pestilencia, sea
un sofisma de distracción que expele a seres
neófitos que no logran reconocer las
inexplicables riquezas que contienen y crean los
seres de esta enigmática península.
Quizás sea eso, nuestras urgentes respuestas se
encuentran en la inhalación asfixiante.
Un pronto anuncio para preparar nuestros sensores
sociales olfativos.
David de Angelina
Colômbia
10
3
Hedor 3
Es la despedida del barrio Uruguai y el día está espléndido, la
brisa es inigualable, las barcas ya no son espectros. Siento unas
ganas inmensas de sumergirme en la mar.
Este suburbio está oculto para los caóticos turistas, sus invasivas
cámaras, sus poses idiotas y sus prejuiciosos actos.
La belleza esta incrustada acá, eso me advierte la brisa
dominguera, y en ese vaivén afirmativo los señores tocan samba;
los pescadores juegan dominó; se practica capoeira; se danza
funk, forro, samba; los niños nadan; los gatos cazan ratas; la
gastronomía afro, en medio de la desidia estatal, nos es ofrecida
onerosamente; las escuelas comunitarias forman en
AFROpensamiento; las siluetas femeninas menean sus
inexplicables cuerpos girando las angustias en cada calle,
batiendo el álgido calor y deleitando nuestra ingenua mirada; en
el Espacio Cultural de Alagados las niñas, niños y adolescentes
asisten a danza, teatro, circo, cine, etc. y aprenden de la lideresa
vernácula Jamira Muniz que la lucha y resistencia del pueblo afro
es autonomía, es social y es comunitaria, que hay una diferencia
abismal entre la pobreza y la miseria.
Hasta acá llegamos por gentileza de Inajara Diz. Aquí está la
belleza, escondida trás del mórbido hedor, llegamos sofocados en
el ómnibus 0720 Rua Barbosa, escuchando “picole, agua mineral,
pronto motorista, valeu motorista”.
Es nuestra despedida, imaginariamente, intentamos cruzar, sin
caernos en la mar, los 200 metros del puente, hecho con retazos
de madera, que cruzaba la maestra, activista y poetisa Ana Rosa
dos Santos para llegar a su casa.
El hedor casi nos gana, por poco perdemos la oportunidad de leer
y presenciar el acto político de la maestra Ana Rosa diciendo:
- “Vivir es poesía, hasta la muerte es poesía”.
David de Angelina
Colômbia
4. Renascimento
Nove de janeiro de 2020
Dia do meu recolhimento,
Kwe Mina Odan Bocó da Ho
Lugar sagrado aonde
se cultua nossos ancestrais.
A cada ritual uma entrega de mim,
Coração tranquilo,
Paz de espírito
Feliz por ser filha de Sogbo
que tanto me ensina...
Gratidão mãe Sandra de Xadanta
por cuidar de mim.
Maria Dias4 9
Da janela aqui de casa eu começo a me lembrar
Quando o negro era escravo
Trabalhando no engenho, preso no canaviá
Chicote falava alto pondo ordem no lugar
A escravidão não acabou
O novo quilombo é a favela
A escravidão tem outra cara
Uma cara bem moderna
Fernando Mandingueiro
5. A historia de Besouro
Besouro de Mangangá
Homem de corpo fechado
Sua história vou contar
Seu Manuel Henrique, Besouro de Mangangá
Aprendeu com Mestre Alípio, só depois foi ensinar
Sempre andava protegido com seu patuá
Na cidade de Salvador, em Santo Amaro, meu irmão
Seu Manuel Henrique nunca teve profissão
Era valente e encrenqueiro, também era brincalhão
Jurado de morte por Zeca, pai de Meu
Besouro foi pra Maracangalha, foi lá que aconteceu
Com uma faca enfeitiçada
Eusébio de Quibaca lhe venceu
Seu Manuel Henrique, filho de João Grosso e Maria
Aos vinte e sete anos, morreu naquele dia
E nas cantigas e ladainhas
É lembrado até hoje na velha Bahia
Fernando Mandingueiro
8 5
Movimento Negro
O movimento é negro,
Mas trouxe escolas
À periferia
Dos negros, dos brancos, dos indígenas
De todas as etnias
O movimento é negro,
Mas a mulher emancipa
E luta contra a prisão
Do pensamento machista
Traz à tona a autoria
Da sua História,
Suas escolhas
Sua cidadania
O movimento é negro,
Mas luta contra Fascismo, exploração
O Estado autoritário
De todos os governos
O movimento é negro,
Mas marca território dos povos tradicionais:
Indígenas, quilombolas
Caiçaras, caipiras, ribeirinhos
A sua ancestralidade,
Contra elites capitalistas
Que ameaçam do Brasil
A sua liberdade
O movimento é negro
Para vencer o racismo,
Mas suas lutas
Fazem bem à pele
De todas as cores
Do povo Brasileiro.
Fabiana Menassi
6. Hedor 2
Gabriel, de ocho años, dice para mí:
- ¿Usted tiene coraje de entrar en la mar?
Le respondo que no.
Me explica sus andares, manifiesta elocuentemente la felicidad
de nadar, jugar y compartir
en esta península críptica. Dirige mi mirada hacia un carro
corroído y sumergido en la mar.
-Yo moraba al otro lado, estaba solo, sin tener con quien jugar.
Brillan sus ojos
-Aquí es muy bueno, antes era mejor, sin estas casas (casas de
interés social).
En medio de este encuentro perspicaz aparece el hedor olvidado,
surge del caño de aguas
residuales que desembocan serpenteando en la esquina de la
calle del Tiburón.
Las palabras mágicas de Gabriel me transportaron a mi infancia
periférica, logró recordarme
el hedor nauseabundo, que había omitido, de la esquina de mi
casa y de los barrios de
"negros"/olvidados (F. Fanon) de Cali.
Soñé, olí, jugué, salté, nadé y con cierta angustia, volví a patear
con él, el balón lleno de
lodo contaminado.
Sentí vergüenza de mí, gracias a Gabriel y a su honesta
paciencia; en su carismática voz
reencontré la belleza y esperanza enigmática que brotan en las
periferias olvidadas y
olorosas de este continente llamado CONTRASTES, que huele a
lo mismo en las laderas
de la “más innovadora y más educada ” Medellín; en el distrito de
Aguablanca de Cali; en los
palafitos de San Lorenzo al norte de Ecuador; en las chacaritas
de Asunción; en Tijuca y
Madureira en Río Janeiro; en Santo André y Pinheiros en São
Paulo; y en el río Mira en
Sullana, Perú.
David de Angelina, Colômbia
Hoje tem Pitangas na janela
e alguém plantou esse axé
quem regou esse pé?
por que lutou, teve fé?
jardinou com Arruda e Guiné
o abacateiro nosso sempre cafuné
lá fora só barulho de asfalto
e aqui ainda melodias,
tantos pássaros
fruta, flor, árvore, verdura
saber, fervura, poder, ternura
esquina de encruzilhada
partida pra chegada
rua aberta e fechada
festança de alma armada
ekedi vizinha tranquila
alimento comunhão de vila
paraíso de diálogos e temperos
riacho de destroços e cheiros
e ainda brotam aqueles desejos
íntegros e inteiros
hoje tenho de novo
suas Pitangas na janela
Odé
76