10. O que entrou no jogo?
• Movimento
• Proporção
• Fluência gestual
• Coordenação mão/olhar/intenção
• Execução de uma etapa adequada a uma meta
• Harmonia
tesoura/pente/cabelo/mãos/olhar/tato
11. Os detalhes observados sugerem
Riqueza e diversidade de saberes
necessários para domínio da técnica.
Necessidade de longo percurso de
aprendizagem.
13. O fazer é um saber...
• Integral não aplicação de um outro saber, não é parte de,
• Intencional quem faz tem querer, quem olha ou examina o fazer ‘de fora’ costuma ignorar intencionalidade e se convence de que esta é um atributo
‘teórico’, cujo desenvolvimento dependerá de algum processo de ‘conscientização’
• Independente não há pensar prévio e necessário para o fazer, o fazer é um tipo especial de pensar
• Fluente gestos e andamento não são passos sequenciais e independentes, fazer bem dominado reduz consideravelmente número de passos, resultando numa
tensão entre entendimento do analista e entendimento do especialista (profissional), numa análise que fiz, banho no leito em enfermaria foi de 42 para sete passos
• Sintético dispensa discurso, dispensa explicação, [não o confunda com automação], discursos internos e externos desaparecem, resurgindo apenas em
momentos críticos (que podem exigir atenção consciente ou mudança no padrão de execução)
14. TESE GERAL
O saber do trabalho não é nem aplicação
de conhecimento tecno-científico, nem
resultado de articulação teoria/prática
15. Tese Específica
O saber no trabalho é..
Integral, compartilhado, artístico,
grávido de significados, socialmente
distribuído
16. Alguns enganos
• Primeiro a mente, depois a mão mito da concepção intelectual precedendo a ação na
história, na evolução da espécie, na aprendizagem
• Sem teoria não há compreensão e espírito
crítico ignorância de que aspectos axiológicos do trabalho estão profundamente enraizados em domínio da execução, provável preconceito de intelectuais contra os
trabalhadores manuais
• A teoria facilita a aprendizagem da execuçãoexecução – knowing how – é um saber completamente distinto do saber declarativo – knowing that ; ambos os saberes ser articulam logicamente, não psicologicamente ou
historicamente
18. Proposta de método
Olhar com atenção e partir do saber
dos trabalhadores para tomar
decisões em educação.
19.
20. O que quero ressaltar?
Ou, quais são minhas intenções?
21. Intenções
• Instalar dúvidas sobre a necessidade de uso
do par teoria/prática
• Sugerir que o fazer tem status epistemológico
próprio
• Insistir na tese de que a manipulação é uma
necessidade para apreender a essência das
coisas
22. Intenções
• Mostrar que a técnica – processo, execução,
fazer – é conhecimento que exige muito da
nossa inteligência
• Sugerir que, no trabalho, a estrela que orienta
o saber é a obra
• Alertar que o pensamento hegemônico sobre
formação profissional ignora a obra
23. Intenções
• Desafiar educadores de formação profissional
e tecnológica a desliteralizar o ensino de
técnicas
• Introduzir dúvidas sobre necessidades de
fundamentos teóricos para o fazer
• Apoiar reflexões sobre a práxis docente na
formação de trabalhadores
24. Johnson (em Filosofia do Corpo)
• Observação sobre dificuldade vocabular para
superar pares dicotômicos fixados em nossa
cultura pelo poderosos cartesianismo.
• Corpo e mente, conhecimento e habilidade,
teoria e prática criaram certo conforto para
descrever a vida, mas perpetuam preconceitos
contra o ser biológico, a capacidade de
realizar, o trabalho.
25.
26. Um educador no salão de beleza
Olha severamente aquela falta de
organização e propõe método,
planejamento, sequência
30. O que eu não sabia?
Profissões se aprendem em
comunidades de prática.
Anos mais tarde, escrevi anotações de que nosso curso de cabeleireiro tinha ainda fortes traços de aprendizagem corporativa. Essas, anotações,
porém ainda tinham manchas de preconceito com raízes na academia
31. Segundo impacto no salão de beleza
• Conversa sobre conteúdos
• Proposta: enriquecer o curso com
fundamentos teóricos
• Demanda de empresas: trabalhadores
flexíveis, capazes de aprender
32. Segundo impacto... Donos de rede de
rede de salões
• propõem redução de ensino de técnicas
• sugerem mais conteúdos de “educação” para
cabeleireiros
• afirmam que o SENAC está distante das
demandas efetivas dos salões
• dizem que técnicas são conteúdos que os
profissionais aprenderão, no trabalho,
conforme necessidades das empresas
33. Definição de perfis trabalhador:
• Flexível
• Com bons fundamentos teóricos
• Com espírito de iniciativa
• Responsável
• Atento para necessidades dos clientes
Qualquer semelhança com fala de certos educadores
não é mera coincidência
37. Sabia que a empresa
• Utilizava uma ideia de ‘especialização’ que
podia condenar um auxiliar de cabeleireiro a
realizar apenas um repertório muito limitado
técnicas
• Não tinha uma política transparente de
promoção e desenvolvimento de seus quadros
• Não primava pelo cumprimento da CLT
38. Não podemos cair na armadilha dessa
visão mercadista, pois:
• Ao definir curso de acordo com eventuais
demandas do mercado de trabalho, ignora-se
educação como fator de mudança. Trabalhador
com repertório pobre de técnicas não tem
ferramentas suficientes para executar mudanças
etc.
• Nesse caso estamos no nível de uma macrovisão
das relações educação/trabalho. Bom observar
que nossas concepções de educação podem
significar trabalhadores alienados. Alienados do
saber do trabalho...
39. Bom lembrar aqui Barbiana
Dom Milani argumentava que a
educação dos trabalhadores devia ser
muito mais exigente que a educação
dos ‘filhos de papai’.
42. Onde está a ética?
Análise de uma situação que pode
clarear as coisas
43. Situação
• Sou supervisora pedagógica no
Centro X desde 2007. Foi minha
primeira e única experiência com
Educação Profissional e tenho
aprendido muitas coisas ao longo
desses três anos. A unidade em que
estou locada trabalha mais com os
cursos de Idiomas, Comunicação e
Informática. Neste último eixo, em
alguns cursos de capacitação
contamos com um componente (o
qual sempre foi apresentado como
teórico) de Trabalho e Cidadania.
• Alunos saem do
laboratório
• Ensino passa para sala
de aula
• O professor não
pertence à comunidade
dos profissionais de
informática
• O professor tem sólida
formação na área
humanística
44. A proposta tem como orientação as
seguinte ‘competências’:
• Estabelecer relações entre os
conceitos de sociedade, moral,
ética, trabalho e cidadania e as
questões ambientais.
• Aplicar conceitos /vivência da
excelência da qualidade na
prestação de serviços e do
atendimento ao cliente interno e
externo.
• Conscientizar e Reconhecer os
problemas ambientais que
afligem e põem em risco a
humanidade.
• Desenvolver características e
habilidades de comportamento
empreendedor.
• Empregar a política do diálogo com
uma postura participativa, flexível
e criativa que favoreça o trabalho
em equipe e a solução de
possíveis conflitos.
• Entender a evolução e as
tendências do mercado,
identificando oportunidades.
• Conhecer e identificar o novo perfil
dos clientes.
• Conhecer e aplicar o Código de
Defesa do Consumidor e suas
implicações.
47. Que dizem os alunos?
• Ensino de blá-blá-blá
• Conteúdos sem significado
• Tempo perdido
• Teorias sem ligação com a formação
pretendida
Resumo da ópera: insatisfação, muita insatisfação
48.
49. Tentativa de Correção
• Professor da área, com formação humanística
• Tentativa de vincular conteúdo com o trabalho
concreto
Resultado:
INSATISFAÇÃO CONTINUOU
50. Tipo de Ensino
• Oral/Literário
• Discursivo: aprende-se a falar sobre
• Individualista: cada aluno adquire “sua”
competência
• Nenhuma vinculação com o fazer concreto da
profissão
53. Algumas constatações
• Compromisso com a obra
• Orgulho de fazer bem feito
• Compromisso com uma comunidade de
prática
• Afirmação de identidade por meio da ação
• A ética não se descola da ação
• Ética se aprende fazendo e participando de
uma comunidade de prática (prática social)
54. Para amar o que faz é preciso fazer, não ser
doutrinado sobre importância, significado do
trabalho. Valor do trabalho é intrínseco, não é
atribuído de fora por valores abstratos. Há um
jogo interessante do ponto de vista ontológico.
Os objetos tem sua propriedades que resistem
àquilo que queremos fazer. Por isso nos
ensinam. Nos dizem o que são. Que virtudes
tem. Aprendemos propriedades dos seres em
nossas relações com os objetos de nossa ação.
Um bom carpinteiro “respeita” a madeira, pois
a conhece. Esse entendimento, desenvolvido
por um dos filósofos (Heidegger) que escreveu
textos teóricos muito difíceis, afasta do
horizonte teorias que não são “práticas”, pois
tais teorias desconhecem a essência das coisas
que fazem parte de cada ofício.
55. Fala de Alexander Kojeve
• O homem que trabalha reconhece seu próprio
produto no mundo que realmente foi
transformado por seu trabalho: ele se
reconhece na sua obra, vê nela sua própria
realidade humana, nela descobre e revela
para os outros a realidade objetiva de sua
humanidade, da ideia que tem de si mesmo
originariamente abstrata e puramente
subjetiva. (Crawford, p.14-15)
56. Exemplos
• Respeito pelas ferramentas de um ofício:
relato de Cláudio Moura Castro
• Assinatura de obras na construção civil: relato
de Mike Rose
• Descompromisso de profissionais cujo
trabalho foi esvaziado de significado: relato de
Matthew Crawford
57. Não quero, ao destacar a ética dos
ofícios
• Dar lição de moral
• Propor como trabalhar com ética em cursos
de educação profissional
58. Quero destacar que
• Um conteúdo supostamente teórico está
entranhado na execução do trabalho
• Identificação com a obra e com a comunidade
de prática são essenciais na construção de
valores para os trabalhadores
• Não se distingue, no caso, saber, fazer, ser *
59. *
• Trabalhadores sabem porque fazem
• Trabalhadores são o que fazem
• Cidadania, ética ou valores não são um plus a
mais para enriquecer a formação de
trabalhadores
• FAÇO, por isso SEI, por isso SOU
60. Moral de História
Nosso desafio é o de desenhar uma
metodologia que parta do trabalho, em
sua dinâmica de saber , em seus jogos
de aprender
61. Meu nome para o que deve ser
ponto de partida e de chegada em
educação profissional
A OBRA
Instalar dúvidas: uma necessidade, isso é fundamental em ciência, isso é ponto de partida para novas descobertas, isso define o descontente criativo.
Status epistemológico do fazer/saber: é conhecimento, tem forma que o define, não é dependente
Manipulação é necessidade ontológica:as coisas são manifestação de ser, desvelam-se, nos ensinam o que são, nos ensinam o que é o mundo. Mas, para tanto, precisam ser manipuladas.
O fazer é inteligente. Desnecessário comentar.
No trabalho o que orienta o saber é a obra. Não é a ciência. Não é a teoria. Não é a boa consciência. Não é o dever. O que importa é uma arte produtiva
Hoje, nos planos educacionais, a obra desapareceu do horizonte. Essa, talvez, seja a crítica mais fundamental à ideia de competências.
O ensino escolar tem tendências literárias. A aprendizagem do trabalho tem raízes na oficina. Educadores tendem a a literalizar a formação profissional. Com isso, ela perde sua alma.
Será que preciso de teoria para cozinhar? Fazer penteados? Escrever um texto? Produzir um software? Levantar uma parede?
Como ensinam os mestres, de cozinha, de alfaiataria, prótese dentária etc. quando esquecem os pedagogismos?