A Alemanha tem captado recursos com taxas cada vez menores para financiar outros países europeus. O BCE e a França também são grandes compradores das dívidas soberanas, sustentando a zona do euro. Apesar do rebaixamento de rating de alguns países pela S&P, as taxas de juros seguem caindo, indicando que os investidores estão dispostos a aceitar menos retorno para ter ativos mais arriscados.
1. 4 Brasil Econômico Quinta-feira, 26 de janeiro, 2012
DESTAQUE ZONA DO EURO
Editora: Maria Luíza Filgueiras mfilgueiras@brasileconomico.com.br
Dívidas mudam de mãos entre
Alemanha capta ¤ 5 bilhões com menor taxa histórica para continuar financiando os vizinhos na Zona do Euro;
“
prado muitos títulos das dívidas pio, me parece que o mercado
dos países em crise. Mas, além aponta para uma certa perda de
de ter condições para isso como credibilidade das agências de ris-
a grande fiadora do euro, ela co, já que alguns governos, espe-
também atua sob a clareza de cialmente a França, têm mostra-
países europeus. O BCE, maior que lhe é mais vantajoso susten- do condições de controlar seus
comprador, é quem tem susten- Para a Alemanha, tar a União Europeia do que vê- déficits”, diz. Patricia Gabaldón,
tado boa parte do volume nego- fiadora do euro, é mais la cair”, diz o economista Vitor do IE, acrescenta ainda que, se
ciado neste ano. vantajoso sustentar Wilher, do Instituto Millenium. crescem as dúvidas sobre o cum-
Mas a Alemanha, especialmen- É também por isso que o re- primento dos objetivos de défi-
te, e a França também fazem a União Europeia cente rebaixamento pela agên- cit, nutre-se também uma ex-
grandes aquisições. No leilão rea- do que vê-la cair cia Standard and Poor’s do ra- pectativa positiva em relação à
Cláudia Bredarioli lizado no dia 9 pelo Fundo Euro- ting de nove países da zona do renegociação grega.
cbredarioli@brasileconomico.com.br peu para captar ¤ 3 bilhões para Vitor Wilher euro parece não ter efeito no “Os investidores em geral es-
Portugal e Irlanda, por exemplo, Economista do mercado, já que os leilões conti- tão cheios de dinheiro e buscan-
A Alemanha captou ontem ¤ 5 bi- a Alemanha adquiriu 70% dos tí- Instituto Millenium nuam e as taxas caem. do formas de aplicar seu dinhei-
lhões em um leilão de títulos pú- tulos. “Se qualquer país da Euro- ro”, diz o estrategista de taxas
blico, pagando a menor taxa de ju- pa quebrar, especialmente Itá- Futuro incerto do DZ Bank Michael Leister. A
ros da história para papéis de lon- lia ou Espanha, muitos bancos De acordo com Wilher, se o mo- dívida de longo prazo dos países
go prazo, de 2,62%. O resultado serão arrastados. Por isso a aju- mento atual é positivo, é preciso da zona do euro que ainda têm
teve ajuda da alta demanda por da do BCE e da Alemanha têm si- esperar um pouco mais para sa- nível máximo de avaliação de
ativos seguros do mercado, já que do imprescindível”, diz Patri- ber se o efeito da injeção de liqui- risco tem encontrado boa de-
a incerteza sobre as negociações cia Gabaldón, professora do IE dez pelo BCE irá ou não se man- manda neste ano, com a Holan-
da dívida grega ainda lembra aos Business School da Espanha. ter pelos próximos meses. “Em da também tendo visto forte
investidores que a crise na zona “Itália e Espanha têm recebido fevereiro começaremos a ver es- procura em seu leilão de dívida
do euro persiste. Na captação an- um apoio maior porque são sa sinalização. Mas, em princí- na terça-feira. ■ Com Reuters
terior, o país conseguiu levantar agentes de grande dimensão pa-
recursos com juros negativos. ra o mercado europeu.”
A emissão alemã não é um mo- Dessa forma, criou-se um ci- CUSTOS MENORES
vimento isolado. Desde o início clo vicioso: os países europeus
do ano, o desempenho dos lei- mais penalizados utilizam suas
lões dos países europeus, até mes-
mo os de prazos mais curtos, tem
reservas para comprar títulos so-
beranos de mercados em me-
Juros caíram a despeito do corte de rating
reforçado a ideia de que o dinhei- lhor forma. Estes, por sua vez, O rebaixamento em série das nus com prazo de três meses, exemplo, que já perdoaram
ro não traz soluções para bem usam recursos para comprar pa- notas das dívidas soberanas de os juros desta emissão foram 60% de sua exposição à dívida
poucas questões. Depois da inje- péis dos demais. O que pode re- nove países europeus pela de 1,285%, contra 1,735% da grega, terão que aumentar o vo-
ção de liquidez do Banco Central duzir o impacto dessa “troca de agência de classificação de ris- captação anterior, em dezem- lume de dívida perdoada.
Europeu (BCE) em dezembro — mãos” das dívidas na região, ain- co Standard and Poor’s, inicial- bro. Já para vencimento em O Fundo Monetária Interna-
quando foram colocados cerca da que de forma pouco sustentá- mente, fez o mercado temer seis meses, a taxa foi de 1,847% cional (FMI) ainda avalia que a
de ¤ 500 bilhões em 520 institui- vel por prazos mais longos, são uma alta dos juros que teriam desta vez, muito abaixo da an- crise de dívida da zona do eu-
ções bancárias da região com ju- novas injeções de liquidez por que ser pagos por estes países terior, de 2,435%. ro está aumentando e pressio-
ro de 1% ao ano —, as emissões parte do BCE. Mas não se pode para emitir dívida — mas o efei- A Grécia, por sua vez, conti- nando a economia global. Foi
soberanas na zona do euro cres- esquecer que o banco central da to foi contrário. França, Espa- nua tentando desesperada- isso que levou o órgão a cortar
ceram em volume e viram seus região é alimentado pelos BCs nha, Alemanha e Portugal têm mente convencer seus credo- fortemente sua previsões para
juros caírem para taxas de pata- de seus componentes, cujos re- pago juros mais baixos. res privados (bancos, fundos o crescimento mundial, pedin-
mares até menores do que os apli- cursos não são ilimitados. No caso da Espanha, o leilão de investimento e bancos cen- do políticas para restaurar a
cados antes da crise. A solução paliativa até agora da última terça-feira, no valor trais) para que lhe perdoem ¤ confiança. O FMI reduziu de
Só em janeiro, cerca de ¤ 65 é sustentar uns aos outros. “A de ¤ 2,5 bilhões, marcou a séti- 100 bilhões da dívida remanes- 4% para 3,3% sua projeção pa-
bilhões já foram negociados em Alemanha, liderada pela chan- ma emissão com um custo de fi- cente de ¤ 350 bilhões. Com is- ra o crescimento econômico
leilões de títulos da dívida de celer Angela Merkel, tem com- nanciamento menor. Para bô- so, os bancos franceses, por global em 2012. ■ C.B.
2. Quinta-feira, 26 de janeiro, 2012 Brasil Econômico 5
LEIA MAIS A Alemanha tem se mantido O rebaixamento de nove Banco Mundial vai
●
➤ como a grande fiadora do
euro, aproveitando sua imagem
●
➤ países europeus pela
S&P não se reflete nas taxas de
●
➤ destinar recursos a países
do Leste europeu para minimizar
de porto seguro na região para juros exigidas por investidores: impacto econômico na relação
levantar recursos que usa para eles estão aceitando menos comercial com as economias
comprar títulos de vizinhos. para ter um título de risco maior. maduras do continente.
os países europeus Emergentes terão
BCE e França também estão entre os principais compradores
US$ 27 bilhões
do Banco Mundial
Países do Leste da Europa
e da Ásia Central serão
os principais beneficiados
O Banco Mundial anunciou on- Intenção é reduzir
tem que vai disponibilizar US$ 27
bilhões em financiamentos para exposição do Leste à
países emergentes na Europa e crise nas economias
na Ásia que estejam sofrendo im- desenvolvidas
Vincenzo Pinto/AFP
pactos da crise mundial. O mon-
tante será disponibilizado nos
Liderada pela chanceler Angela próximos dois anos, focado nos
Merkel, Alemanha vem países mais pobres no sudeste
sustentando a União Europeia da Europa e na Ásia Central. A ses, devido a seus laços mais es-
instituição avalia que esses paí- treitos com as economias desen-
ses estão sendo afetados por me- volvidas da Europa, são justa-
nor fluxo comercial, além da mente os mais afetados.
contração no crédito. A entidade destacou que os
“Enquanto os efeitos da crise financiamentos serão destina-
na zona do euro nas maiores dos a apoiar reformas estrutu-
economias do oeste da Europa rais e investimentos privados,
recebem a maior parte da aten- além de proteger o sistema fi-
ção mundial, a crise também es- nanceiros dessas regiões, e que
tá atingindo pessoas nos países está desenvolvendo parcerias
emergentes do Leste da Euro- para estimular os bancos euro-
pa”, afirmou o presidente do peus a não abandonarem os paí-
Banco Mundial, Robert Zoelli- ses do Leste por meio de redu-
ck. Ele ressaltou que esses paí- ção no crédito. ■ Agências
MERCADOS
Confiança de empresários
dá otimismo ao investidor
Infografia: Alex Silva
EM BUSCA DA SAÍDA
Quanto cada país emitiu em leilões neste O mercado financeiro global tidores se anteciparam esse ano
mostrou ontem uma dose de com essas possibilidades e ago-
ano e o tamanho de suas dívidas*
otimismo sobre a recuperação ra eles operam em compasso de
Fontes: Goldman Sachs e Brasil Econômico europeia. A confiança dos em- esperar para ver o cenário de re-
*Dado mais recente agosto/2011 presários alemães, que regis- cuperação das economias vai se
trou a terceira alta mensal ao confirmar”, diz Freitas.
subir para 108,3 pontos em ja- A Bradesco considera ainda
IRLANDA neiro, foi o principal impulso que a cautela dos investidores
€ 1,5 bilhão
o para o ânimo dos investidores, se sobrepõe aos indicadores eco-
que puxaram alta das bolsas. Se- nômicos, “dado que, mais uma
DÍVIDA/PIB gundo a Bradesco Corretora, o vez o foco de atenção do merca-
índice sugere que a atividade do se volta para o desenrolar
91,1% ALEMANHA econômica alemã pode ter ini- das negociações do governo gre-
€ 14 bilhões ciado uma recuperação mais go e os credores privados, além
forte do que esperada. dos acertos para mais um paco-
ESPANHA DÍVIDA/PIB Rogério Freitas, gestor de fun- te de resgate para o país”. Até a
€ 23 bilhões
es
s dos da Teórica Investimentos, Bolsa de Atenas fechou em alta
74,8% acredita que o mercado acioná- de 4,81% ontem, às vésperas da
DÍVIDA/PIB rio europeu já subiu bem neste reativação das negociações en-
ano, com os agentes colocando tre o governo grego e credores
57,9% FRANÇA no preço um cenário melhor na privados. ■ Déborah Costa,
Europa, China e EUA. “Os inves- com agências
€ 9,5 bilhões
s
DÍVIDA/PIB
81,4%
PORTUGAL ITÁLIA GRÉCIA
€ 2,5 bilhões
ões € 12 bilhões € 1 6 bilhão
1,6
DÍVIDA/PIB DÍVIDA/PIB DÍVIDA/PIB
91,1% 119,6% 138,6%