Este documento discute as bases teórico-metodológicas da avaliação educacional. Apresenta a Teoria Crítica da Educação como referencial e explica três modos de fundamentação do pensamento educativo: a Pedagogia da Essência, a Pedagogia da Existência e a Pedagogia da Essência e da Existência. Também aborda gerações da avaliação, desde a mensuração até a interação, indicando a necessidade de entendimento destes referenciais para adoção de postura consciente na prática avaliativa.
2. Bases teórico-metodológicas
da avaliação
Para que você possa compreender melhor avaliação será feita
uma breve exposição sobre suas bases teóricas que de alguma
forma subsidiam o olhar sobre esse tema bem como a prática
avaliativa.
Deve-se considerar que em relação à avaliação existe um
referencial consciente ou não, que consiste de fundamentos
teórico-metodológicos, e que direciona as nossas ações.
No caso da avaliação educacional toma-se como referência a
Teoria Crítica da Educação, elaborada a partir da contribuição
de pensadores da Escola de Frankfurt.
3. A Teoria Crítica da Educação
explica que:
(...) a educação é um processo
reflexivo e prático, que se situa num
contexto sociopolítico-econômico,
sendo por ele influenciado, mas que
tem a força de influenciá-lo, por meio
de uma ação transformadora. Assim, a
educação é vista como uma prática
social construída historicamente e
move-se pelo processo de contradição,
sendo a realidade educacional, ao
mesmo tempo, reprodutora do sistema
e revolucionária (FERNANDES, 2002,
p.117).
4. Nesse sentido, Fernandes (2002) entende
que a avaliação pode ser considerada “um
processo que visa ao desenvolvimento do
homem na sua pluridimensionalidade e
deve ser centrado nessa ideia”.
5. (...) quando se fala em avaliação na perspectiva humanizadora,
está-se querendo dizer que o homem e seu processo de
formação deverão ser o centro de qualquer prática avaliativa, e
não as normas, os ritos, como acontece numa perspectiva
burocrática.
A perspectiva reflexiva significa entender a avaliação como o
pensar e repensar de uma prática, em função de um processo
constante de autocrítica e de formação de uma cultura avaliativa
das nossas escolas.
A perspectiva construtivista nos mostra que a avaliação, além de
ser reflexiva, tem que indicar caminhos, ajudando o aluno ou a
escola a dar novos passos, e subir patamares na sua formação e
qualificação de forma consciente. Não é, portanto, uma avaliação
que só constata, mas é, principalmente, uma avaliação que indica
novos caminhos (FERNANDES, 2002, p.117 e 118).
6. Diversas linhas pedagógicas influenciaram e influenciam a
avaliação da aprendizagem e institucional, na educação
brasileira. Tardilf e Gauthier (1991) identificaram três
modos de fundamentação do pensamento e da prática
educativa, a saber:
7. a) A Pedagogia da Essência, que fundamenta a prática do saber
ou tendência tradicional. A prática do saber se traduz na figura
do professor como repassador e não como construtor do saber;
e o aluno como receptivo passivo. Nesse sentido, verifica-se a
avaliação autoritária, elitista, unidirecional, quantitativa,
caracterizada como medida do conhecimento.
Tradicionalmente, ainda se vivencia essa prática avaliativa,
traduzida na cultura da prova, da premiação, da punição, de
deveres de casa, do professor juiz, fiscal, reforçada pela
conduta da sociedade, da família e do Estado, ainda que de
forma oculta.
Segundo Belloni (2000) “a avaliação institucional feita de acordo
com esta concepção, é em geral, centrada em prova ou outros
indicadores quantitativos sobre a instituição e tem por objetivo
classificar alunos e instituições”.
8. b) A Pedagogia da Existência, que fundamenta a prática do saber
científico nas suas tendências psicopedagógica, tecnicista e tecnológica.
Na tendência psicopedagógica o aluno deixa de ser o sujeito receptivo
passivo e passa a figurar como “um sujeito ativo que deve desenvolver-se
segundo suas potencialidades” (Fernandes, 2002). Outros valores são
privilegiados na avaliação como o esforço, a participação, o interesse, a
frequência e a pontualidade do aluno. Surge a escala de conceitos em
substituição às notas. Apesar de aparentemente mais aberta, a avaliação
apresenta-se fluida, tendenciosa e elitista.
De acordo com esta concepção de educação, a Avaliação
Institucional também partiria da suposição de que algumas
escolas têm mais potencialidade do que outras, isto é,
poderão ser sempre melhores do que outras. Se aceitarmos
que as crianças mais pobres levam mais tempo para
aprender (quando aprendem) estaríamos aceitando que as
escolas mais pobres (das crianças mais pobres) teriam
menos condições que as outras. E nunca poderão superar
suas dificuldades (BELLONI, 2000).
9. Ao contrário do modelo subjetivista da avaliação na tendência
psicopedagógica, observa-se o modelo objetivista na tendência
tecnicista, permeado pela avaliação através de instrumento
padronizado de respostas objetivas. O avaliador é um banco de
testes elaborado por técnicos em avaliação, professor e aluno
transformam-se em objetos de uma máquina de pensar externa.
Neste momento a avaliação limita o aluno ao conhecimento
padronizado.
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Nesta perspectiva, a avaliação institucional está
centrada na identificação da eficiência e eficácia dos
meios que a instituição adota para alcançar seus
objetivos, a eficiência é a capacidade de fazer o
máximo, usando o mínimo de recursos, portanto, um
critério basicamente econômico. A eficácia é a
capacidade de atingir os objetivos e as metas
traçadas e tem, por sua vez, uma forte ênfase em
critérios operacionais (BELLONI, 2000).
10. Na tendência tecnológica “a sociedade massificada
tecnologicamente exige a formação de homens que giram em
torno do fazer tecnológico e o currículo escolar passa a ser um
instrumento para essa formação” (FERNANDES, 2002).
A tendência tecnológica no campo educacional nada mais é do
que a sofisticação do tecnicismo, resultante da exigência de um
novo padrão concebido de qualidade total, voltado para a
melhoria dos processos gerenciais e para a satisfação do cliente
como a chave para resolver os problemas educacionais.
A avaliação institucional toma formas competitivas alarmantes,
comparando escolas com realidades e ritmos diferentes e
priorizando os rankings entre as instituições. É chamada de
avaliação meritocrática ou para controle (FERNANDES, 2002).
11. c) A Pedagogia da Essência e da Existência, síntese que
fundamenta o saber critico, comunicativo e interativo. Nessa
visão somos sujeitos de um processo de construção pessoal e
social.
O docente não se limita a repassar um saber padronizado, mas
domina uma diversidade de saberes que o habilitam em
situações complexas, a deliberar, analisar, interpretar situações
e tomar decisões.
A avaliação institucional, nesta perspectiva, tem, também, um
caráter formativo. Está voltada para compreender a escola ou o
sistema educacional como sujeitos ativos e participantes de um
processo de transformação de si próprios e da sociedade. Não
busca dar notas ou conceitos, nem fazer hierarquias de
melhores a piores. Seu objetivo é oferecer elementos para que a
escola ou o sistema se aperfeiçoem e cumpram suas funções
de educar e formar a população (BELLONI, 2000).
12. Fernandes (2002) situa a avaliação na seguinte escala de
evolução epistemológica:
1ª Geração – Mensuração (Saber Tradicional);
2ª Geração – Descrição (Saber Psicopedagógico);
3ª Geração – Julgamento (Saber Tecnicista e
Tecnológico);
4ª Geração – Interação (Saber Crítico).
13. Os fundamentos teórico-
metodológicos são os
referenciais que direcionam
as nossas ações e
determinam nossas
posturas de forma
consciente ou não. Da
mesma forma, podemos
dizer que, na prática, estes
referenciais se misturam.
Daí a necessidade de
entendermos um pouco
sobre os mesmos para que
sejamos capazes de adotar
uma postura mais coerente
e consciente na nossa
prática educativa e
avaliativa.
14. REFERÊNCIAS:
BELLONI, I. Quais os principais objetivos e finalidades da avaliação
institucional. In; BELLONI, I. & FERNANDES, M.E.A. Como
desenvolver a Avaliação Institucional da Escola. Programa
Nacional de Capacitação a Distância para Gestores Escolares, módulo
9. Brasília: Consed, 2000.
FERNANDES, M. E. A. Avaliar a escola é preciso. Mas...que
avaliação? In: VIEIRA, S. L. (org.). Gestão da escola: desafios a
enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
GALDINO, Mary N. D. Avaliação: da Organização institucional à
sala de aula. Unigranrio. Rio de Janeiro, 2014.
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas
contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Editora da Unijuí, 1998.