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FAMÍLIA DE DEUS E OS DISCÍPULOS DO MESTRE
BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulus, 2007
TEMAS E COMENTÁRIOS AOS TEXTOS DO LECIONÁRIO DOMINICAL:
ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 30° DOM. COMUM - COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. A comunidade cristã se reúne para celebrar a vida e a fé
em Cristo, único mediador entre Deus e as pessoas (cf. 2ª
leitura, Hb 5,1-6). Celebrar a Eucaristia é fazer memória do
sacerdócio de Cristo que, mediante o sofrimento e a morte,
trouxe o perdão e a salvação para todos. Da celebração fazem
parte todos os que têm fé. Porém Deus privilegia os cegos,
aleijados e indefesos como seus filhos primogênitos, organi-
zando-os, reunindo-os e reconduzindo-os à vida (cf. 1ª leitu-
ra, Jr 31,7-9). Celebrar a Eucaristia, pois, é professar a pró-
pria fé, abrir os olhos, romper com a sociedade que margina-
liza, para seguir Jesus, formando com ele uma só coisa, cons-
truindo com ele a sociedade justa e fraterna (cf. evangelho,
Mc 10,46-52).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Jr 31,7-9): Javé, pai dos sofredores e indefesos
2. Os capítulos 30-31 de Jeremias formam uma seção cha-
mada “livro da consolação”. Seu tema é o da esperança e
restauração do povo. Nesse período, Judá caminha rapida-
mente para a ruína, e Israel está exilado na Assíria há um
século, desde 722 a.C. Não é fácil descobrir quais tenham
sido os motivos que levaram Jeremias a pronunciar essas
mensagens de esperança. Talvez tenha sido a reforma políti-
co-religiosa empreendida pelo rei Josias (622 a.C.), ou a
queda de Nínive, em 612 a.C. Certo é que o profeta, com os
oráculos dos capítulos 30-31, quis reerguer as esperanças do
povo sofrido, mostrando-lhe a proximidade e predileção que
Deus tem para com ele: cegos e aleijados, mulheres grávidas
e as que dão à luz formam a família de Javé.
3. Jeremias desenvolveu sua atividade profética em Judá a
partir do ano 627 a.C. Há quase um século, os habitantes do
Reino do Norte (Israel) viviam como escravos na Assíria,
sem que Judá levasse a sério o sofrimento de seus irmãos. Por
isso o profeta, aproveitando um acontecimento promissor,
proclama que chegou o tempo de libertação para Israel. E
Judá é convidado a fazer festa por causa dos irmãos prestes a
serem libertados: “Gritem de alegria por Jacó, exultem pela
nação-líder! Proclamem-no exultantes e digam: O Senhor
salvou seu povo, o resto de Israel” (v. 7).
4. O próprio Deus se encarrega de reunir e organizar o povo
sofrido, trazendo-o de volta à sua pátria. Quem ele reúne,
organiza e reconduz? Aqueles que estão na miséria, sofredo-
res e fracos, marginalizados e indefesos, porque estes é que
são o povo de Deus, os que ele privilegia e liberta: “Entre
eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e que dão à luz”
(v. 8b). No meio de toda a multidão que retorna, esses são os
únicos lembrados. Eles sintetizam os sofredores e marginali-
zados do povo (cegos e aleijados), os indefesos e que preci-
sam de amparo (mulheres grávidas e que dão à luz); mas são
as sementes de esperança no meio da dor: apesar do sofri-
mento, há claros sinais de vida nas mulheres grávidas e nas
que já estão amamentando seus filhos. Do sofrimento nasce a
alegria; da dor brota a fecundidade.
5. O carinho de Deus para com os sofredores e indefesos se
manifesta no modo como ele os conduz: “eu os levo aos
cursos de água, por estrada plana, onde não tropeçam” (v.
9b). O retorno dos exilados supera a antiga vitória sobre a
opressão no Egito, pois Deus é como o pastor que conduz
com cuidado seu rebanho (cf. Sl 23). Mas ele não somente é
pastor que conduz: é pai dos sofredores e indefesos, e estes
formam sua família: “Eu sou um pai para Israel, e Efraim é
meu primogênito” (v. 9c).
6. Aí está a opção de Deus. Aos ouvidos dos rebeldes habi-
tantes de Judá, o fato de Deus escolher Efraim (o Reino do
Norte) como seu primogênito devia ser um alerta à conversão.
De fato, o Senhor transtorna os esquemas fixos de Judá, que se
julga primogênito e protegido, como outrora o patriarca Jacó,
ao pôr Efraim à frente de Manassés (cf. Gn 48,8-20), confundi-
ra os planos de José. Isso porque Javé é o Deus dos sofredores e
indefesos. Seu compromisso é com eles, e os deserdados são
seu filho primogênito, com o qual ele se comprometeu e a
quem está reservada a herança: “Assim dirás ao Faraó: ‘Israel é
o meu filho primogênito' “ (Ex 4,22).
Evangelho (Mc 10,46-52): O verdadeiro discípulo
7. A cura do cego Bartimeu é, no Evangelho de Marcos, o
último milagre de Jesus, encerrando também a caminhada do
Mestre para Jerusalém, onde será morto e ressuscitará.
8. O episódio é de grande importância do ponto de discipula-
dor, pois todas as pessoas que se encontraram com Jesus até o
presente momento não foram capazes de gesto que traduzisse o
tema do discipulado radical no Evangelho de Marcos. Portanto,
para os que se preparavam ao Batismo (catecúmenos), esse
episódio era como um espelho no qual se viam: aos poucos,
foram descobrindo quem é Jesus, mas essa descoberta não está
isenta do compromisso de ir com ele até a morte.
9. Para encerrar a primeira parte do evangelho (8,30), Marcos
havia registrado a cura do cego de Betsaida (8,22-26). Na se-
gunda parte, quando Jesus chega ao fim da caminhada e se
aproxima de Jerusalém, o evangelista inseriu a cura de outro
cego, Bartimeu. Comparando os dois episódios, percebemos
que o segundo completa o primeiro. De fato, ao cego de Bet-
saida Jesus ordenara que não entrasse no povoado (8,26), ou
seja, que não tivesse nada em comum com a sociedade que
marginalizava pessoas. Para Bartimeu, contudo, Jesus não dá
ordens. O próprio cego curado toma a iniciativa de seguir o
Mestre (10,52), sintetizando assim tudo o que deve fazer quem
deseja tornar-se discípulo.
a. O verdadeiro discípulo sabe quem é Jesus (vv. 46-50)
10. Jesus está deixando a cidade de Jericó, última etapa antes
de ingressar em Jerusalém (Jericó fica cerca de 24 km de Jeru-
salém). Jesus sai dessa cidade com seus discípulos e grande
multidão (v. 46a). Marcos gosta de apresentar Jesus no meio do
povo. O fato de estar acompanhado de seus discípulos prepara
o desfecho final, ou seja, no fim do que vai acontecer é que se
dirá quem de fato assume o discipulado radical.
11. Sentado à beira do caminho estava Bartimeu, que era cego
e mendigava (v. 46b). Sua situação lembra a dos que vivem à
margem da sociedade (cf. 1ª leitura), cuja sobrevivência depen-
de da compaixão das pessoas. Ele está à margem e, depois de
enxergar, não voltará mais à sociedade que o marginalizou, mas
seguirá Jesus.
12. Ao ouvir que Jesus de Nazaré está passando, Bartimeu
confessa, por duas vezes, que Jesus é o Messias, o Cristo, cha-
mando-o de “filho de Davi” (vv. 47.48). Sua confissão está
muito próxima da de Pedro (cf. 8,29) e do oficial romano (cf.
15,39). Ele sabe quem é Jesus, e por isso grita com coragem:
“tem piedade de mim”. O verdadeiro discípulo sabe quem é
Jesus mesmo sem tê-lo visto (Bartimeu é cego, e os que se
preparam ao Batismo certamente não caminharam com o Mes-
tre pelas estradas da Galiléia e Judéia).
13. O discípulo, contudo, encontra obstáculos: “Muitos o
repreendiam para que se calasse” (v. 48a). A sociedade que
manda o cego calar é a mesma que tenta “calar” o Mestre,
eliminando-o. Isso porque quem “vê” perturba, agita e deses-
trutura tudo o que está “estabelecido”, denunciando a ceguei-
ra de quem afirma estar enxergando (cf. Jo 9). E hoje, quem é
que tenta abafar o clamor do povo? O que é que aliena o
povo, fazendo-o “esquecer” a miséria em que vive?
14. Jesus é aquele que aproxima os marginalizados: “Cha-
mem o cego” (v. 49a; cf. 1ª leitura), detendo-se diante deles.
E com eles estabelecerá comunhão.
b. “Ver” para seguir o Mestre (vv. 51-52)
15. Ao perceber que Jesus o chamava, Bartimeu joga fora o
manto e se aproxima de Jesus. O gesto de se desfazer do
manto pode ser lido simbolicamente: ao sentir o chamado de
Jesus, o discípulo está disposto a romper com a sociedade na
qual vivia marginalizado. De fato, o manto servia para que
nele se jogassem as esmolas. Com o chamado de Jesus, ele
não necessita mais da sociedade estabelecida, porque inicia
vida nova para ele. Isso é confirmado também pelo pedido
que Bartimeu faz a Jesus: não pede esmolas, mas a capacida-
de de ver “Mestre, que eu veja!” (v. 51b). Quando é que o
nosso povo vai tomar consciência de que viver de esmolas
não é vida?
16. Ao contrário do que aconteceu com o cego de Betsaida
(cf. 8,23), Jesus não faz nenhum gesto de cura. Isso porque a
fé do cego é de excelente qualidade. É fé que faz ver e seguir
Jesus pelo caminho: “No mesmo instante, ele recuperou a
vista e seguia Jesus pelo caminho” (v. 52b).
17. Marcos apresentou, como último milagre de Jesus, a cura
de um cego. O fato tem escopo discipulador, pois na pessoa
de Bartimeu temos a figura do discipulado radical: verdadeiro
discípulo é aquele que, pela fé, enxerga e segue a Jesus rumo
a Jerusalém. Ser discípulo do Mestre é desejar enxergar e
comprometer-se. Bartimeu supera Simão Pedro que, após
confessar Jesus como o Messias, quer impedi-lo de sofrer
(8,32); supera os doze porque, no caminho, discutem entre si
quem seria o maior (9,34); supera os filhos de Zebedeu por-
que buscam privilégios (10,37). Por isso, Bartimeu é modelo
de toda pessoa que precisa abrir os olhos, tomar consciência,
comprometer-se e seguir o Mestre até o fim. O cego curado
apresenta um belo itinerário para o discipulado: consciência
do que se é, acompanhada de inconformismo (sentado à beira
do caminho e tendo que viver de esmolas; como muitos pe-
dintes de hoje, também os daquele tempo eram explorados);
consciência de que Jesus pode transformar essa situação
(clamor); resistência no clamor, não se intimidando diante de
quem manda calar; ruptura definitiva com o passado que não
gera a vida (salto, manto jogado fora); consciência de que
deseja algo novo (Jesus o provoca a dizer o que pretende que
seja feito) e, finalmente, seguimento livre de Jesus (notar que
Jesus está chegando a Jerusalém).
2ª leitura (Hb 5,1-6): Jesus, sumo sacerdote misericordioso
18. Os versículos escolhidos como segunda leitura deste do-
mingo são a mensagem central de Hebreus: Jesus Cristo é o
único sacerdote, ou seja, só ele é mediador entre Deus e as
pessoas. O texto de hoje situa-se dentro da segunda parte de
Hebreus (3,5-5,10), cujo tema é Cristo sumo sacerdote digno de
fé e misericordioso. Dentro dessa segunda parte, temos uma
seção que abrange 4,15-5,10, onde se insiste na originalidade e
unicidade do sacerdócio de Cristo. É aqui que se insere o texto
de hoje (para maiores detalhes sobre Hebreus, cf. 2ª leitura do
27º domingo comum).
19. Os primeiros quatro versículos apresentam, de forma gené-
rica, o retrato do sacerdócio do Antigo Testamento: 1. Os sa-
cerdotes eram pessoas do povo, tiradas do meio do povo e
instituídas em favor do povo (v. 1a); 2. sua função era a de
oferecer sacrifícios pelos pecados (v. 1b); 3. sendo pecadores
como todos os mortais, deviam oferecer sacrifícios pelos pró-
prios pecados e pelos do povo, aprendendo assim a ter compai-
xão daqueles que representam diante de Deus (vv. 2-3); 4. cabia
a Deus escolhê-los, como chamou e escolheu a Aarão (v. 4).
Esses versículos, portanto, mostram a identidade e função dos
sacerdotes do Antigo Testamento. Isso serve para que a comu-
nidade à qual se dirige o texto de Hebreus faça a comparação
desse sacerdócio com o de Cristo, infinitamente superior ao
primeiro, abolindo-o. De fato, o texto de Hebreus quer mostrar
à comunidade cristã a excelência, originalidade e unicidade do
sacerdócio de Cristo, constituindo-se único mediador entre
Deus e seu povo.
20. Os vv. 5-10 contrapõem o sacerdócio de Cristo ao do Anti-
go Testamento (vv. 5-6): Jesus não usurpou o sacerdócio; pelo
contrário, o próprio Deus o declara seu Filho (“Tu és meu Fi-
lho, eu hoje te gerei...”, cf. Sl 2,7), sendo que seu sacerdócio é
superior ao da antiga aliança: “Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec” (cf. Sl 110,4). Os outros
versículos (que não fazem parte da leitura deste domingo) mos-
tram que Jesus é sumo sacerdote porque se apresentou a si
próprio como oferta e, mediante o sofrimento (vv. 7-8), obteve
a salvação de todos (vv. 9-10).
21. O autor de Hebreus buscou confirmações bíblicas para
provar a originalidade e unicidade do sacerdócio de Cristo. Ele
supera e suprime o sacerdócio da antiga aliança por sua relação
única e estreita com Deus: é Filho. Seu sacerdócio não se pren-
de à instituição, mas assemelha-se ao de Melquisedec, sacerdo-
te de origem desconhecida, do qual o patriarca Abraão reco-
nhece a legitimidade, oferecendo-lhe seus dons (Gn 14,17-20).
22. O texto de Hebreus escolhido para a liturgia deste domingo
enfatiza que Cristo, solidário em tudo com as pessoas (veja 2ª
leitura do domingo passado), é o único mediador entre Deus e a
humanidade, pois sua morte é o sacrifício que apaga nossos
pecados e nos aproxima, de modo extraordinário e único, de
Deus.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
23. Deus é Pai dos sofredores e indefesos (1ª leitura, Jr 31,7-9). Mais ainda: os marginalizados e
oprimidos são a família de Deus, seus filhos primogênitos, aos quais está reservada dupla porção
da herança do Senhor. As comunidades cristãs já tomaram consciência disso? O que têm feito para
devolver vida aos que dela foram privados?
24. O cego curado é tipo de toda pessoa que deseja seguir Jesus até o fim (evangelho, Mc 10,46-
52). O que significa, dentro da realidade brasileira, não se calar, jogar fora o manto, “enxergar” e
comprometer-se com Jesus que está a caminho da morte e ressurreição?
25. O sacerdócio de Jesus (2ª leitura, Hb 5,1-6) feito de sofrimento, morte e ressurreição, nos a-
proximou, de modo extraordinário e único, de Deus. Quais as conseqüências disso para a cami-
nhada da comunidade?

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Comentário: 30° Domingo do Tempo Comum - Ano B

  • 1. FAMÍLIA DE DEUS E OS DISCÍPULOS DO MESTRE BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulus, 2007 TEMAS E COMENTÁRIOS AOS TEXTOS DO LECIONÁRIO DOMINICAL: ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 30° DOM. COMUM - COR: VERDE I. INTRODUÇÃO GERAL 1. A comunidade cristã se reúne para celebrar a vida e a fé em Cristo, único mediador entre Deus e as pessoas (cf. 2ª leitura, Hb 5,1-6). Celebrar a Eucaristia é fazer memória do sacerdócio de Cristo que, mediante o sofrimento e a morte, trouxe o perdão e a salvação para todos. Da celebração fazem parte todos os que têm fé. Porém Deus privilegia os cegos, aleijados e indefesos como seus filhos primogênitos, organi- zando-os, reunindo-os e reconduzindo-os à vida (cf. 1ª leitu- ra, Jr 31,7-9). Celebrar a Eucaristia, pois, é professar a pró- pria fé, abrir os olhos, romper com a sociedade que margina- liza, para seguir Jesus, formando com ele uma só coisa, cons- truindo com ele a sociedade justa e fraterna (cf. evangelho, Mc 10,46-52). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Jr 31,7-9): Javé, pai dos sofredores e indefesos 2. Os capítulos 30-31 de Jeremias formam uma seção cha- mada “livro da consolação”. Seu tema é o da esperança e restauração do povo. Nesse período, Judá caminha rapida- mente para a ruína, e Israel está exilado na Assíria há um século, desde 722 a.C. Não é fácil descobrir quais tenham sido os motivos que levaram Jeremias a pronunciar essas mensagens de esperança. Talvez tenha sido a reforma políti- co-religiosa empreendida pelo rei Josias (622 a.C.), ou a queda de Nínive, em 612 a.C. Certo é que o profeta, com os oráculos dos capítulos 30-31, quis reerguer as esperanças do povo sofrido, mostrando-lhe a proximidade e predileção que Deus tem para com ele: cegos e aleijados, mulheres grávidas e as que dão à luz formam a família de Javé. 3. Jeremias desenvolveu sua atividade profética em Judá a partir do ano 627 a.C. Há quase um século, os habitantes do Reino do Norte (Israel) viviam como escravos na Assíria, sem que Judá levasse a sério o sofrimento de seus irmãos. Por isso o profeta, aproveitando um acontecimento promissor, proclama que chegou o tempo de libertação para Israel. E Judá é convidado a fazer festa por causa dos irmãos prestes a serem libertados: “Gritem de alegria por Jacó, exultem pela nação-líder! Proclamem-no exultantes e digam: O Senhor salvou seu povo, o resto de Israel” (v. 7). 4. O próprio Deus se encarrega de reunir e organizar o povo sofrido, trazendo-o de volta à sua pátria. Quem ele reúne, organiza e reconduz? Aqueles que estão na miséria, sofredo- res e fracos, marginalizados e indefesos, porque estes é que são o povo de Deus, os que ele privilegia e liberta: “Entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e que dão à luz” (v. 8b). No meio de toda a multidão que retorna, esses são os únicos lembrados. Eles sintetizam os sofredores e marginali- zados do povo (cegos e aleijados), os indefesos e que preci- sam de amparo (mulheres grávidas e que dão à luz); mas são as sementes de esperança no meio da dor: apesar do sofri- mento, há claros sinais de vida nas mulheres grávidas e nas que já estão amamentando seus filhos. Do sofrimento nasce a alegria; da dor brota a fecundidade. 5. O carinho de Deus para com os sofredores e indefesos se manifesta no modo como ele os conduz: “eu os levo aos cursos de água, por estrada plana, onde não tropeçam” (v. 9b). O retorno dos exilados supera a antiga vitória sobre a opressão no Egito, pois Deus é como o pastor que conduz com cuidado seu rebanho (cf. Sl 23). Mas ele não somente é pastor que conduz: é pai dos sofredores e indefesos, e estes formam sua família: “Eu sou um pai para Israel, e Efraim é meu primogênito” (v. 9c). 6. Aí está a opção de Deus. Aos ouvidos dos rebeldes habi- tantes de Judá, o fato de Deus escolher Efraim (o Reino do Norte) como seu primogênito devia ser um alerta à conversão. De fato, o Senhor transtorna os esquemas fixos de Judá, que se julga primogênito e protegido, como outrora o patriarca Jacó, ao pôr Efraim à frente de Manassés (cf. Gn 48,8-20), confundi- ra os planos de José. Isso porque Javé é o Deus dos sofredores e indefesos. Seu compromisso é com eles, e os deserdados são seu filho primogênito, com o qual ele se comprometeu e a quem está reservada a herança: “Assim dirás ao Faraó: ‘Israel é o meu filho primogênito' “ (Ex 4,22). Evangelho (Mc 10,46-52): O verdadeiro discípulo 7. A cura do cego Bartimeu é, no Evangelho de Marcos, o último milagre de Jesus, encerrando também a caminhada do Mestre para Jerusalém, onde será morto e ressuscitará. 8. O episódio é de grande importância do ponto de discipula- dor, pois todas as pessoas que se encontraram com Jesus até o presente momento não foram capazes de gesto que traduzisse o tema do discipulado radical no Evangelho de Marcos. Portanto, para os que se preparavam ao Batismo (catecúmenos), esse episódio era como um espelho no qual se viam: aos poucos, foram descobrindo quem é Jesus, mas essa descoberta não está isenta do compromisso de ir com ele até a morte. 9. Para encerrar a primeira parte do evangelho (8,30), Marcos havia registrado a cura do cego de Betsaida (8,22-26). Na se- gunda parte, quando Jesus chega ao fim da caminhada e se aproxima de Jerusalém, o evangelista inseriu a cura de outro cego, Bartimeu. Comparando os dois episódios, percebemos que o segundo completa o primeiro. De fato, ao cego de Bet- saida Jesus ordenara que não entrasse no povoado (8,26), ou seja, que não tivesse nada em comum com a sociedade que marginalizava pessoas. Para Bartimeu, contudo, Jesus não dá ordens. O próprio cego curado toma a iniciativa de seguir o Mestre (10,52), sintetizando assim tudo o que deve fazer quem deseja tornar-se discípulo. a. O verdadeiro discípulo sabe quem é Jesus (vv. 46-50) 10. Jesus está deixando a cidade de Jericó, última etapa antes de ingressar em Jerusalém (Jericó fica cerca de 24 km de Jeru- salém). Jesus sai dessa cidade com seus discípulos e grande multidão (v. 46a). Marcos gosta de apresentar Jesus no meio do povo. O fato de estar acompanhado de seus discípulos prepara o desfecho final, ou seja, no fim do que vai acontecer é que se dirá quem de fato assume o discipulado radical. 11. Sentado à beira do caminho estava Bartimeu, que era cego e mendigava (v. 46b). Sua situação lembra a dos que vivem à margem da sociedade (cf. 1ª leitura), cuja sobrevivência depen- de da compaixão das pessoas. Ele está à margem e, depois de enxergar, não voltará mais à sociedade que o marginalizou, mas seguirá Jesus. 12. Ao ouvir que Jesus de Nazaré está passando, Bartimeu confessa, por duas vezes, que Jesus é o Messias, o Cristo, cha- mando-o de “filho de Davi” (vv. 47.48). Sua confissão está muito próxima da de Pedro (cf. 8,29) e do oficial romano (cf. 15,39). Ele sabe quem é Jesus, e por isso grita com coragem: “tem piedade de mim”. O verdadeiro discípulo sabe quem é Jesus mesmo sem tê-lo visto (Bartimeu é cego, e os que se preparam ao Batismo certamente não caminharam com o Mes- tre pelas estradas da Galiléia e Judéia).
  • 2. 13. O discípulo, contudo, encontra obstáculos: “Muitos o repreendiam para que se calasse” (v. 48a). A sociedade que manda o cego calar é a mesma que tenta “calar” o Mestre, eliminando-o. Isso porque quem “vê” perturba, agita e deses- trutura tudo o que está “estabelecido”, denunciando a ceguei- ra de quem afirma estar enxergando (cf. Jo 9). E hoje, quem é que tenta abafar o clamor do povo? O que é que aliena o povo, fazendo-o “esquecer” a miséria em que vive? 14. Jesus é aquele que aproxima os marginalizados: “Cha- mem o cego” (v. 49a; cf. 1ª leitura), detendo-se diante deles. E com eles estabelecerá comunhão. b. “Ver” para seguir o Mestre (vv. 51-52) 15. Ao perceber que Jesus o chamava, Bartimeu joga fora o manto e se aproxima de Jesus. O gesto de se desfazer do manto pode ser lido simbolicamente: ao sentir o chamado de Jesus, o discípulo está disposto a romper com a sociedade na qual vivia marginalizado. De fato, o manto servia para que nele se jogassem as esmolas. Com o chamado de Jesus, ele não necessita mais da sociedade estabelecida, porque inicia vida nova para ele. Isso é confirmado também pelo pedido que Bartimeu faz a Jesus: não pede esmolas, mas a capacida- de de ver “Mestre, que eu veja!” (v. 51b). Quando é que o nosso povo vai tomar consciência de que viver de esmolas não é vida? 16. Ao contrário do que aconteceu com o cego de Betsaida (cf. 8,23), Jesus não faz nenhum gesto de cura. Isso porque a fé do cego é de excelente qualidade. É fé que faz ver e seguir Jesus pelo caminho: “No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” (v. 52b). 17. Marcos apresentou, como último milagre de Jesus, a cura de um cego. O fato tem escopo discipulador, pois na pessoa de Bartimeu temos a figura do discipulado radical: verdadeiro discípulo é aquele que, pela fé, enxerga e segue a Jesus rumo a Jerusalém. Ser discípulo do Mestre é desejar enxergar e comprometer-se. Bartimeu supera Simão Pedro que, após confessar Jesus como o Messias, quer impedi-lo de sofrer (8,32); supera os doze porque, no caminho, discutem entre si quem seria o maior (9,34); supera os filhos de Zebedeu por- que buscam privilégios (10,37). Por isso, Bartimeu é modelo de toda pessoa que precisa abrir os olhos, tomar consciência, comprometer-se e seguir o Mestre até o fim. O cego curado apresenta um belo itinerário para o discipulado: consciência do que se é, acompanhada de inconformismo (sentado à beira do caminho e tendo que viver de esmolas; como muitos pe- dintes de hoje, também os daquele tempo eram explorados); consciência de que Jesus pode transformar essa situação (clamor); resistência no clamor, não se intimidando diante de quem manda calar; ruptura definitiva com o passado que não gera a vida (salto, manto jogado fora); consciência de que deseja algo novo (Jesus o provoca a dizer o que pretende que seja feito) e, finalmente, seguimento livre de Jesus (notar que Jesus está chegando a Jerusalém). 2ª leitura (Hb 5,1-6): Jesus, sumo sacerdote misericordioso 18. Os versículos escolhidos como segunda leitura deste do- mingo são a mensagem central de Hebreus: Jesus Cristo é o único sacerdote, ou seja, só ele é mediador entre Deus e as pessoas. O texto de hoje situa-se dentro da segunda parte de Hebreus (3,5-5,10), cujo tema é Cristo sumo sacerdote digno de fé e misericordioso. Dentro dessa segunda parte, temos uma seção que abrange 4,15-5,10, onde se insiste na originalidade e unicidade do sacerdócio de Cristo. É aqui que se insere o texto de hoje (para maiores detalhes sobre Hebreus, cf. 2ª leitura do 27º domingo comum). 19. Os primeiros quatro versículos apresentam, de forma gené- rica, o retrato do sacerdócio do Antigo Testamento: 1. Os sa- cerdotes eram pessoas do povo, tiradas do meio do povo e instituídas em favor do povo (v. 1a); 2. sua função era a de oferecer sacrifícios pelos pecados (v. 1b); 3. sendo pecadores como todos os mortais, deviam oferecer sacrifícios pelos pró- prios pecados e pelos do povo, aprendendo assim a ter compai- xão daqueles que representam diante de Deus (vv. 2-3); 4. cabia a Deus escolhê-los, como chamou e escolheu a Aarão (v. 4). Esses versículos, portanto, mostram a identidade e função dos sacerdotes do Antigo Testamento. Isso serve para que a comu- nidade à qual se dirige o texto de Hebreus faça a comparação desse sacerdócio com o de Cristo, infinitamente superior ao primeiro, abolindo-o. De fato, o texto de Hebreus quer mostrar à comunidade cristã a excelência, originalidade e unicidade do sacerdócio de Cristo, constituindo-se único mediador entre Deus e seu povo. 20. Os vv. 5-10 contrapõem o sacerdócio de Cristo ao do Anti- go Testamento (vv. 5-6): Jesus não usurpou o sacerdócio; pelo contrário, o próprio Deus o declara seu Filho (“Tu és meu Fi- lho, eu hoje te gerei...”, cf. Sl 2,7), sendo que seu sacerdócio é superior ao da antiga aliança: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec” (cf. Sl 110,4). Os outros versículos (que não fazem parte da leitura deste domingo) mos- tram que Jesus é sumo sacerdote porque se apresentou a si próprio como oferta e, mediante o sofrimento (vv. 7-8), obteve a salvação de todos (vv. 9-10). 21. O autor de Hebreus buscou confirmações bíblicas para provar a originalidade e unicidade do sacerdócio de Cristo. Ele supera e suprime o sacerdócio da antiga aliança por sua relação única e estreita com Deus: é Filho. Seu sacerdócio não se pren- de à instituição, mas assemelha-se ao de Melquisedec, sacerdo- te de origem desconhecida, do qual o patriarca Abraão reco- nhece a legitimidade, oferecendo-lhe seus dons (Gn 14,17-20). 22. O texto de Hebreus escolhido para a liturgia deste domingo enfatiza que Cristo, solidário em tudo com as pessoas (veja 2ª leitura do domingo passado), é o único mediador entre Deus e a humanidade, pois sua morte é o sacrifício que apaga nossos pecados e nos aproxima, de modo extraordinário e único, de Deus. III. PISTAS PARA REFLEXÃO 23. Deus é Pai dos sofredores e indefesos (1ª leitura, Jr 31,7-9). Mais ainda: os marginalizados e oprimidos são a família de Deus, seus filhos primogênitos, aos quais está reservada dupla porção da herança do Senhor. As comunidades cristãs já tomaram consciência disso? O que têm feito para devolver vida aos que dela foram privados? 24. O cego curado é tipo de toda pessoa que deseja seguir Jesus até o fim (evangelho, Mc 10,46- 52). O que significa, dentro da realidade brasileira, não se calar, jogar fora o manto, “enxergar” e comprometer-se com Jesus que está a caminho da morte e ressurreição? 25. O sacerdócio de Jesus (2ª leitura, Hb 5,1-6) feito de sofrimento, morte e ressurreição, nos a- proximou, de modo extraordinário e único, de Deus. Quais as conseqüências disso para a cami- nhada da comunidade?