O documento discute a Antropologia visual como uma forma de expressão que visa enriquecer o discurso antropológico atrelado ao verbal escrito por meio de imagens. A Antropologia visual surgiu na segunda metade do século XIX com a invenção da fotografia e do cinema para auxiliar pesquisas de campo e documentar grupos étnicos. Atualmente, as imagens são usadas pelos próprios grupos estudados para apresentar seus pontos de vista e afirmar suas identidades culturais.
3. “O conceito de “antropologia visual” representa
uma forma bastante recente de expressar a
vontade de enriquecer o discurso antropológico
fundamentalmente atrelado ao verbal escrito.
A expressão “antropologia visual”, todavia, é
redundante e não passa de uma “etiqueta” se
lembrarmos que a antropologia, enquanto
ciência da observação, nasceu com a descoberta
da fotografia na primeira metade do século XIX”.
(Étienne Samain)
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5. PERÍODO:
Segunda metade do século XIX com a Revolução
industrial e a “era da reprodutibilidade técnica” :
invenção da fotografia e do cinema.
Surgimento como ‘auxiliar’ das pesquisas de
campo, como também de registro e
documentação de grupos étnicos e práticas
culturais ameaçadas de desaparecimento pelo
avanço da política neocolonial.
No princípio, garantia a objetividade do olhar do
antropólogo diante de outros povos e costumes.
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6. Captar dados
Possibilitar a comunicação-interação sujeito-
objeto
Promover o desencadeamento de diálogos
Ilustrar um texto argumentativo
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7. Ser instrumento de divulgação didático-
acadêmica e/ou social.
Determinar e analisar as propriedades dos
sistemas visuais e suas estratégias
discursivas, as condições da sua
interpretação, relacionando esses sistemas
particulares com as complexidades dos
processos políticos e sociais dos quais são
parte.
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8. Estudar o uso dos meios visuais na
disseminação do conhecimento antropológico.
Apreender os sentidos ou significação de
determinado fato social, desvendar a sua
complexidade conceitual e entender como os
próprios atores interpretam e problematizam
as suas práticas e valores.
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9. Interpretar o fato social como um passo
intermediário entre a compreensão e a
explicação, e com atitude de um
“tradutor”, posto que as representações
antropológicas geralmente são feitas de
uma cultura para outra.
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11. “As imagens nos fazem pensar, carregam e
veiculam pensamentos. [...] As imagens têm
uma vida própria, elas conversam e dialogam
entre si. (É preciso) desvendar [...] o que elas
pensam, [...] como elas pensam e [...] o que se
recusam a dizer” (Étienne Samain).
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13. O discurso antropológico é um processo
representacional e comunicativo, em sua
dimensão epistemológica ou de produção de
conhecimento, no qual os elementos
imagéticos estáticos (fotografia) e dinâmicos
(filme, vídeo), e/ou a sua combinação nos
suportes multimídia, constituem importantes
recursos descritivos para a reflexão
antropológica (Parés, 2004).
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14. • O estudo do uso dos meios visuais na
disseminação do conhecimento
antropológico.
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17. • Análise das imagens como um meio
privilegiado na compreensão simbólica da vida
em sociedade.
• Estudo das imagens como meio de expressar a
concepção individual e grupal de pessoa
humana.
18. • Análise das manifestações estéticas e
artísticas como parte da história e das
experiências de uma sociedade, da sua
especificidade, autonomia e valor estético.
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19. • A interface com áreas como, as artes, a
tecnologia e a comunicação social gera um
repertório aberto, renovado com novas
perguntas ou formulações, e produz um
movimento espiralado de construção do
pensamento social.
20. • A interface com outras áreas e autores
possibilita a transformação, construção e
reconstrução de novos conceitos para a
produção científica.
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21. Danças circulares sagradas
A dança (1909-1910), tela a óleo
do pintor francês Henri Matisse
exposta no Museu Hermitage de
São Petersburgo, na Rússia.
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22. Coleção de calçados para a marca
Melissa, criada pelo estilista
Alexandre Herchcovitch, inspirada
na tribo africana Ndebele.
Exemplo de pesquisa ‘etnográfica’
(cultura material de um grupo
étnico) para fins de criação e
comércio.
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23. O uso de imagens
conhecidas do público em
contexto distinto do qual foi
concebida, gera um novo
significado da imagem.
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24. A Antropologia visual não é uma disciplina
independente, nem mesmo uma subárea como a
Antropologia política ou uma Antropologia do
Cinema. Trata-se sim, da mesma e velha Antropologia
de sempre, mas apresentada sobre este outro
continente que é a comunicação visual (Rodolpho,
1995, p. 225).
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25. Captar dados (dado bruto para posterior
avaliação)
Possibilitar a comunicação-interação sujeito-
objeto
Servir de instrumento de divulgação didático-
acadêmica e/ou social.
26. A seleção e edição constituem modos de interpretação
prévia, um recorte subjetivo do fato analisado.
As imagens podem funcionar, não como representações
fieis da realidade fenomenológica, mas como uma janela
aberta para aceder à realidade invisível que se oculta por
trás da aparência sensível (Parés, 2004).
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27. Ambos atuam num mesmo processo de
observação científica.
O surgimento ocorre na mesma época, durante
a expansão industrial e diante de uma atitude
mais analítica perante os fatos científicos.
No século XIX, o objeto de observação tanto do
cinema e da antropologia era o “outro”, o tipo
“exótico”, a realidade distante.
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28. Ao longo do século XX, ocorreram diversas
reestruturações a partir das dinâmicas
sociohistóricas que influenciaram o
posicionamento da antropologia visual e do
cinema diante dos modelos globais.
“As tendências visualizantes do discurso
antropológico abririam também o caminho à
representação cinematográfica das culturas”
(José da Silva Ribeiro).
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29. • A modernidade se concretizou no cinema e
através dele, nos primeiros filmes, instituições
cinematográficas, ascensão da linguagem
visual como discurso social e cultural.
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30. “Como antropólogo, penso que se deve dar uma prioridade
às imagens que interpelam e questionam. São essas imagens
que podemos chamar de verdadeiramente artísticas na
medida em que procedem de um duplo pensamento
científico: o primeiro, aproximadamente ajustado ao da
percepção e da imaginação, e o outro mais afastado desta
intuição sensível. É na intersecção desses “dois níveis
estratégicos” do pensamento humano que Claude Lévi-
Strauss situava a arte, epicentro de uma antropologia a ser
redefinida” (Étienne Samain).
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31. • A documentação visual pode constituir-se numa
“meta-realidade”, acessível e permanente, a partir
e em torno da qual se desenvolve o exercício
interpretativo (Parés, 2004).
• A Antropologia utilizou a experiência de fotógrafos
para produção de vários filmes etnográficos com o
objetivo de capturar aspectos da vida do nativo e
compreender melhor a cultura de determinada
comunidade.
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35. Os antropólogos culturalistas, Margareth Mead
e Gregory Bateson, realizaram valiosos registros
sobre o modo de vida balinês e documentaram
diversos aspectos do cotidiano dos seus
habitantes.
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36. Bronislaw Malinowski é considerado o criador
do método do trabalho de campo, seus
registros visuais no Pacífico Sul enriquecem a
sua Etnologia.
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38. Franz Boas pesquisando entre os Inuit,
realizou documentários curtos com os nativos,
registrando suas danças e festas.
Boas utilizou
a fotografia
em todas sua
temporadas de
trabalho de campo.
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39. Redefinição da Antropologia visual para uma
Antropologia da comunicação visual.
Segundo CANEVACCI (2001), “ (...) o visual leva
a multiplicar as tramas da comunicação
dentro de suas respectivas culturas”.
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40. Os nativos negam-se o papel de simples
objetos observados e participam ativamente
da renovação da Antropologia visual
apresentando os seus próprios pontos de vista
a partir de suas dinâmicas sociais.
A Antropologia visual é usada como recurso
de afirmação identitária e reconhecimento
cultural pelos povos nativos.
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41. Desenvolveu pesquisas junto aos Caiapós
(Kayapós) nas quais os recursos visuais são
explorados pelos próprios nativos, dando
outros significados para as suas práticas,
diferentes dos sentidos dados pelo
antropólogo.
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42. Os xavantes do Vale do Xingu desenvolvem
projetos de produção visual e discutem seus
pontos de vista a partir de uma visão que
elaboram de si mesmos e das suas
especificidades culturais.
Documentário sobre a tribo
ETENHIRITIPÁ:
Cada gesto e cada som têm
um significado especial,
para pedir a proteção dos
ancestrais.
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43. Antropologia visual da “era da
reprodutibilidade técnica” e da expansão
industrial à era da globalização e da
transformação digital.
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44. Segundo o antropólogo italiano Massimo Canevacci
(1992):
a antropologia da comunicação visual, se
encarrega de estudar as características da
comunicação visual humana, como a fotografia e
o cinema;
a antropologia visual, por sua vez, se ocupa do
processo de documentação visual das realidades
sociais estudadas.
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45. Grupos urbanos - Antropologia visual urbana
Não restam dúvidas que as roupas e acessórios, utilizados
por um indivíduo, carregam signos que mostram
características sobre sua personalidade e estilo de vida.
Também é interessante refletir sobre a formação dos
grupos urbanos e os seus tipos particulares de se vestir e
se comportar. Compreendendo a história de cada grupo
urbano, pode-se perceber, primeiramente, a diversidade
visual que separa e qualifica cada um deles.
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46. Mas, além da questão visual, é necessário observar que
essa distinção visual se dá por conta das diferentes
visões de mundo encontradas na urbe.
“A roupa torna-se, portanto, uma expressão, apresentação,
comunicação em diversas instâncias ou maneira de
produzir a diferenciação de indivíduos ou grupos, assim
como a interação entre estes.” (Brandini, 2007, p. 26).
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47. A Antropologia visual é um terreno fértil para as
ações afirmativas e a prática do relativismo
cultural.
O processo de emergências étnicas vem
beneficiando-se das tecnologias visuais para
apresentar seus projetos de reforço identitário.
Segundo CANEVACCI (2001), os nativos recusam
serem vistos enquanto objetos museificados e
catalogados, apontando mudanças na visão de si
e dos outros.
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48. • AOKI, Shoichi. Fruits. Londres: Phaidon, 2001.
• COLLIER JR., John. Antropologia visual: a fotografia como método de pesquisa. São Paulo: EDUSP,
1973.
• Encontro dançar em círculo. OVƎRMUNDO: artigos, entrevistas e críticas sobre cultura do Brasil.
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• HERCHOVITCH, Alexandre. Sandália Melissa 1. Fonte: <http://artesvisuaisnaescolaclasse4>
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• MATISSE, Henri. “A dança”. Fonte: http://collecta.blogspot.com. Disponível em:<
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• PARÉS, Luís Nicolau. Algumas considerações em torno da Antropologia visual. Coluna. dez - jan
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• SAMAIN, Étienne. Muito além da ilustração. Jornal da Unicamp. Disponível em:
< http://www.unicamp.br/unicamp/ju/550/muito-alem-da-ilustracao > Acesso em: 17 mar 2013.
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