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Carlos Aguiar
BBoottâânniiccaa
para Ciências Agrárias e do Ambiente
VVoolluummee IIIIII Sistemática
Instituto Politécnico de Bragança
2013
 
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
Publicado	
  pelo	
  Instituto	
  Politécnico	
  de	
  Bragança	
  
Imagem	
  da	
  capa.	
  Butomus	
  umbellatus	
  (Butomaceae)	
  
Versão	
  de	
  13-­‐V-­‐2013	
  
©	
  Carlos	
  Aguiar	
   	
  
ISBN	
  978-­‐972-­‐745-­‐125-­‐8	
  
1	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
Índice	
  
1.	
   Introdução	
  à	
  sistemática	
  de	
  plantas-­‐vasculares	
  ...............................................................	
  7	
  
1.1.	
   O	
  porquê	
  de	
  classificar	
  ..............................................................................................	
  7	
  
1.2.	
   Conceitos	
  e	
  objetivos	
  da	
  taxonomia	
  ..........................................................................	
  8	
  
1.3.	
   Evolução	
  dos	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  botânica	
  ......................................................	
  9	
  
Sistemas	
  artificiais	
  ...............................................................................................	
  10	
  
Sistemas	
  naturais	
  e	
  sistemas	
  fenéticos	
  ...............................................................	
  11	
  
Sistemas	
  evolutivos	
  .............................................................................................	
  12	
  
Sistemas	
  cladísticos	
  .............................................................................................	
  15	
  
Sistemática	
  molecular	
  .........................................................................................	
  17	
  
1.4.	
   Nomenclatura	
  ..........................................................................................................	
  18	
  
Nomenclatura	
  biológica	
  clássica	
  .........................................................................	
  18	
  
Nomenclatura	
  de	
  plantas	
  cultivadas	
  ...................................................................	
  22	
  
Nomenclatura	
  filogenética	
  ..................................................................................	
  23	
  
2.	
   Sistemática	
  de	
  plantas-­‐com-­‐semente	
  .............................................................................	
  24	
  
2.1.	
   Introdução	
  ...............................................................................................................	
  24	
  
Taxa	
  supra-­‐ordinais	
  das	
  plantas-­‐terrestres	
  .........................................................	
  24	
  
‘Pteridófitas’	
  e	
  gimnospérmicas	
  ..........................................................................	
  25	
  
Angiospérmicas	
  ...................................................................................................	
  25	
  
2.2.	
   Famílias	
  de	
  plantas-­‐com-­‐semente	
  de	
  maior	
  interesse	
  ecológico	
  ou	
  económico	
  ....	
  27	
  
2.2.1.	
   Gimnospérmicas	
  ..............................................................................................	
  27	
  
2.2.1.1.	
   Cycadidae	
  .................................................................................................	
  28	
  
I.	
   Cycadaceae	
  s.str.	
  ...................................................................................	
  29	
  
2.2.1.2.	
   Ginkgoidae	
  ................................................................................................	
  30	
  
II.	
   Ginkgoaceae	
  ........................................................................................	
  30	
  
2.2.1.3.	
   Pinidae	
  ......................................................................................................	
  30	
  
III.	
   Pinaceae	
  .............................................................................................	
  31	
  
IV.	
   Cupressaceae	
  (inc.	
  Taxodiaceae)	
  ........................................................	
  31	
  
V.	
   Araucariaceae	
  ......................................................................................	
  32	
  
VI.	
   Taxaceae	
  .............................................................................................	
  32	
  
2.2.1.4.	
   Gnetidae	
  ...................................................................................................	
  33	
  
VII.	
   Ephedraceae	
  ......................................................................................	
  33	
  
2	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
2.2.2.	
   Magnoliidae	
  (angiospérmicas)	
  .........................................................................	
  33	
  
2.2.2.1.	
   ‘Angiospérmicas	
  basais’	
  ............................................................................	
  34	
  
Nymphaeales	
  ...................................................................................................	
  34	
  
VIII.	
   Nymphaeaceae	
  ................................................................................	
  34	
  
Austrobaileyales	
  ..............................................................................................	
  34	
  
IX.	
   Illiciaceae	
  ............................................................................................	
  34	
  
2.2.2.2.	
   Magnoliidas	
  ..............................................................................................	
  35	
  
Magnoliales	
  .....................................................................................................	
  35	
  
X.	
   Magnoliaceae	
  .......................................................................................	
  35	
  
XI.	
   Annonaceae	
  ........................................................................................	
  36	
  
Laurales	
  ...........................................................................................................	
  36	
  
XII.	
   Lauraceae	
  ..........................................................................................	
  36	
  
Piperales	
  ..........................................................................................................	
  37	
  
XIII.	
   Aristolochiaceae	
  ...............................................................................	
  37	
  
XIV.	
   Piperaceae	
  ........................................................................................	
  37	
  
2.2.2.3.	
   Monocotiledóneas	
  (Lilianae)	
  ....................................................................	
  37	
  
2.2.2.3.1.	
   ‘Monocotiledóneas	
  basais’	
  ..................................................................	
  38	
  
Alismatales	
  ......................................................................................................	
  38	
  
XV.	
   Cymodoceaceae	
  ................................................................................	
  38	
  
XVI.	
   Araceae	
  ............................................................................................	
  38	
  
2.2.2.3.2.	
   ‘Monocotiledóneas	
  petaloideas’	
  .........................................................	
  39	
  
Dioscoreales	
  ....................................................................................................	
  40	
  
XVII.	
   Dioscoreaceae	
  .................................................................................	
  40	
  
Liliales	
  ..............................................................................................................	
  40	
  
XVIII.	
   Smilacaceae	
  ...................................................................................	
  40	
  
XIX.	
   Liliaceae	
  ............................................................................................	
  40	
  
Asparagales	
  .....................................................................................................	
  41	
  
XX.	
   Orchidaceae	
  .......................................................................................	
  41	
  
XXI.	
   Xanthorrhoeaceae	
  ............................................................................	
  42	
  
XXII.	
   Amaryllidaceae	
  ................................................................................	
  43	
  
XXIII.	
   Agavaceae	
  ......................................................................................	
  44	
  
XXIV.	
   Asparagaceae	
  .................................................................................	
  44	
  
XXV.	
   Ruscaceae	
  ........................................................................................	
  45	
  
2.2.2.3.3.	
   Monocotiledóneas	
  commelinídeas	
  ......................................................	
  45	
  
3	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
Arecales	
  ...........................................................................................................	
  46	
  
XXVI.	
   Arecaceae	
  (=	
  Palmae)	
  ....................................................................	
  46	
  
Poales	
  ..............................................................................................................	
  47	
  
XXVII.	
   Bromeliaceae	
  ................................................................................	
  47	
  
XXVIII.	
   Juncaceae	
  ....................................................................................	
  47	
  
XXIX.	
   Cyperaceae	
  .....................................................................................	
  49	
  
XXX.	
   Poaceae	
  (=	
  Gramineae)	
  ...................................................................	
  49	
  
Zingiberales	
  .....................................................................................................	
  53	
  
XXXI.	
   Musaceae	
  .......................................................................................	
  53	
  
XXXII.	
   Cannaceae	
  .....................................................................................	
  53	
  
XXXIII.	
   Zingiberaceae	
  ..............................................................................	
  53	
  
2.2.2.4.	
   Eudicotiledóneas	
  ......................................................................................	
  53	
  
2.2.2.4.1.	
   ‘Eudicotiledóneas	
  basais’	
  .....................................................................	
  53	
  
Ranunculales	
  ...................................................................................................	
  53	
  
XXXIV.	
   Papaveraceae	
  ...............................................................................	
  53	
  
XXXV.	
   Ranunculaceae	
  ..............................................................................	
  54	
  
Proteales	
  .........................................................................................................	
  54	
  
XXXVI.	
   Proteaceae	
  ...................................................................................	
  54	
  
XXXVII.	
   Platanaceae	
  ................................................................................	
  55	
  
Buxales	
  ............................................................................................................	
  55	
  
XXXVIII.	
   Buxaceae	
  ...................................................................................	
  55	
  
2.2.2.4.2.	
   Eudicotiledóneas	
  superiores	
  (core	
  eudicots)	
  .......................................	
  55	
  
Famílias	
  basais	
  de	
  eudicotiledóneas	
  superiores	
  .................................................	
  55	
  
Saxifragales	
  ......................................................................................................	
  55	
  
XXXIX.	
   Altingiaceae	
  .................................................................................	
  55	
  
Vitales	
  ..............................................................................................................	
  56	
  
XL.	
   Vitaceae	
  .............................................................................................	
  56	
  
Clado	
  das	
  rosidas	
  .................................................................................................	
  56	
  
Malpighiales	
  ....................................................................................................	
  57	
  
XLI.	
   Linaceae	
  ............................................................................................	
  57	
  
XLII.	
   Euphorbiaceae	
  ................................................................................	
  57	
  
XLIII.	
   Violaceae	
  ........................................................................................	
  57	
  
XLIV.	
   Salicaceae	
  .......................................................................................	
  58	
  
XLV.	
   Passifloraceae	
  ..................................................................................	
  58	
  
4	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
XLVI.	
   Hypericaceae	
  ..................................................................................	
  58	
  
Cucurbitales	
  .....................................................................................................	
  59	
  
XLVII.	
   Cucurbitaceae	
  ...............................................................................	
  59	
  
Fabales	
  ............................................................................................................	
  59	
  
XLVIII.	
   Fabaceae	
  ......................................................................................	
  59	
  
Fagales	
  .............................................................................................................	
  61	
  
XLIX.	
   Fagaceae	
  .........................................................................................	
  61	
  
L.	
   Myricaceae	
  ...........................................................................................	
  62	
  
LI.	
   Juglandaceae	
  ......................................................................................	
  62	
  
LII.	
   Betulaceae	
  .........................................................................................	
  62	
  
LIII.	
   Casuarinaceae	
  ..................................................................................	
  63	
  
Myrtales	
  ..........................................................................................................	
  63	
  
LIV.	
   Lythraceae	
  ........................................................................................	
  63	
  
LV.	
   Myrtaceae	
  ..........................................................................................	
  64	
  
Celastrales	
  .......................................................................................................	
  64	
  
LVI.	
   Celastraceae	
  .....................................................................................	
  64	
  
Rosales	
  ............................................................................................................	
  64	
  
LVII.	
   Rosaceae	
  .........................................................................................	
  64	
  
LVIII.	
   Rhamnaceae	
  ..................................................................................	
  66	
  
LIX.	
   Ulmaceae	
  ..........................................................................................	
  66	
  
LX.	
   Cannabaceae	
  .....................................................................................	
  66	
  
LXI.	
   Moraceae	
  ..........................................................................................	
  67	
  
Sapindales	
  .......................................................................................................	
  67	
  
LXII.	
   Anacardiaceae	
  .................................................................................	
  67	
  
LXIII.	
   Sapindaceae	
  (inc.	
  Aceraceae	
  e	
  Hippocastanaceae)	
  .......................	
  68	
  
LXIV.	
   Simaroubaceae	
  ...............................................................................	
  68	
  
LXV.	
   Meliaceae	
  ........................................................................................	
  68	
  
LXVI.	
   Rutaceae	
  ........................................................................................	
  69	
  
Brassicales	
  .......................................................................................................	
  69	
  
LXVII.	
   Brassicaceae	
  ..................................................................................	
  69	
  
LXVIII.	
   Capparaceae	
  ................................................................................	
  70	
  
Malvales	
  ..........................................................................................................	
  70	
  
LXIX.	
   Thymelaeaceae	
  ..............................................................................	
  70	
  
LXX.	
   Cistaceae	
  .........................................................................................	
  71	
  
5	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
LXXI.	
   Malvaceae	
  (inc.	
  Tiliaceae,	
  Bombacaceae	
  e	
  Sterculiaceae)	
  .............	
  71	
  
Santalales	
  ........................................................................................................	
  72	
  
LXXII.	
   Santalaceae	
  ...................................................................................	
  72	
  
Caryophyllanae	
  ....................................................................................................	
  73	
  
Caryophyllales	
  .................................................................................................	
  73	
  
LXXIII.	
   Tamaricaceae	
  ...............................................................................	
  73	
  
LXXIV.	
   Plumbaginaceae	
  ...........................................................................	
  73	
  
LXXV.	
   Polygonaceae	
  ................................................................................	
  74	
  
LXXVI.	
   Caryophyllaceae	
  ...........................................................................	
  74	
  
LXXVII.	
   Amaranthaceae	
  (inc.	
  Chenopodiaceae)	
  ......................................	
  75	
  
LXXVIII.	
   Cactaceae	
  ..................................................................................	
  75	
  
Clado	
  das	
  asteridas	
  (Asteranae)	
  ..........................................................................	
  76	
  
Cornales	
  ...........................................................................................................	
  76	
  
LXXIX.	
   Cornaceae	
  ....................................................................................	
  76	
  
LXXX.	
   Hydrangeaceae	
  ..............................................................................	
  76	
  
Ericales	
  ............................................................................................................	
  76	
  
LXXXI.	
   Sapotaceae	
  ...................................................................................	
  76	
  
LXXXII.	
   Ebenaceae	
  ..................................................................................	
  77	
  
LXXXIII.	
   Theaceae	
  ...................................................................................	
  77	
  
LXXXIV.	
   Actinidiaceae	
  .............................................................................	
  77	
  
LXXXV.	
   Ericaceae	
  (inc.	
  Empetraceae)	
  ......................................................	
  77	
  
Incertae	
  sedis	
  ..................................................................................................	
  78	
  
LXXXVI.	
   Boraginaceae	
  .............................................................................	
  78	
  
Gentianales	
  .....................................................................................................	
  78	
  
LXXXVII.	
   Rubiaceae	
  .................................................................................	
  78	
  
LXXXVIII.	
   Apocynaceae	
  (inc.	
  Asclepiadaceae)	
  ........................................	
  79	
  
Lamiales	
  ...........................................................................................................	
  79	
  
LXXXIX.	
   Oleaceae	
  ....................................................................................	
  79	
  
XC.	
   Bignoniaceae	
  .....................................................................................	
  80	
  
XCI.	
   Lamiaceae	
  .........................................................................................	
  81	
  
XCII.	
   Orobanchaceae	
  ...............................................................................	
  81	
  
XCIII.	
   Scrophulariaceae	
  (inc.	
  Buddlejaceae	
  e	
  Myoporaceae)	
  ..................	
  81	
  
XCIV.	
   Verbenaceae	
  ..................................................................................	
  82	
  
Solanales	
  .........................................................................................................	
  82	
  
6	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
XCV.	
   Convolvulaceae	
  ...............................................................................	
  82	
  
XCVI.	
   Solanaceae	
  .....................................................................................	
  83	
  
Apiales	
  .............................................................................................................	
  83	
  
XCVII.	
   Araliaceae	
  .....................................................................................	
  83	
  
XCVIII.	
   Pittosporaceae	
  .............................................................................	
  84	
  
XCIX.	
   Apiaceae	
  .........................................................................................	
  84	
  
Aquifoliales	
  ......................................................................................................	
  85	
  
C.	
   Aquifoliaceae	
  .......................................................................................	
  85	
  
Asterales	
  ..........................................................................................................	
  85	
  
CI.	
   Asteraceae	
  ..........................................................................................	
  85	
  
Dipsacales	
  ........................................................................................................	
  87	
  
CII.	
   Adoxaceae	
  .........................................................................................	
  87	
  
CIII.	
   Caprifoliaceae	
  s.str.	
  (excluídas	
  Dipsacaceae	
  e	
  Valerianaceae)	
  ........	
  87	
  
3.	
   Referências	
  ......................................................................................................................	
  88	
  
	
  
7	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
1. Introdução	
  à	
  sistemática	
  de	
  plantas-­‐vasculares	
  
1.1. O	
  porquê	
  de	
  classificar	
  
	
  “Classificar	
   objetos	
   é	
   uma	
   prerrogativa	
   humana	
   baseada	
   na	
   capacidade	
   da	
   mente	
   de	
   conceptualizar	
   e	
  
reconhecer	
  a	
  presença	
  de	
  propriedades	
  similares	
  em	
  objetos	
  individuais.	
  Propriedades	
  e	
  classes	
  são	
  abstrações
1
	
  
relacionadas	
  entre	
  si:	
  quando	
  uma	
  propriedade	
  é	
  atribuída	
  a	
  um	
  objeto,	
  então	
  o	
  objeto	
  torna-­‐se	
  membro	
  de	
  uma	
  
classe	
   particular	
   definida	
   por	
   aquela	
   propriedade”,	
   explica	
   W.	
   V.	
   Quine	
  (Quine, 1987).	
   Classificar	
   organismos,	
  
ecossistemas,	
  sinais,	
  formas,	
  estruturas,	
  comportamentos	
  é,	
  então,	
  uma	
  capacidade	
  inata
2
	
  que	
  a	
  mente	
  humana	
  
realiza,	
  geralmente,	
  de	
  forma	
  involuntária	
  e	
  sem	
  esforço.	
  As	
  classes	
  caracterizam-­‐se	
  por	
  um	
  dado	
  conjunto	
  de	
  
propriedades;	
   a	
   presença	
   dessas	
   propriedades	
   agrega	
   objetos	
   a	
   classes.	
   Cada	
   classe	
   tem	
   a	
   si	
   associado	
   um	
  
conceito
3
	
  formalizado	
  pelas	
  suas	
  propriedades.	
  
Atribuir	
  um	
  nome	
  científico,	
  de	
  qualquer	
  categoria	
  (e.g.	
  espécie	
  e	
  família),	
  a	
  uma	
  planta,	
  i.e.	
  outorgar	
  uma	
  
planta	
   a	
   uma	
   dada	
   classe	
   –	
   a	
   um	
   dado	
   taxon	
   (vd.	
   Conceitos	
   e	
   objetivos	
   da	
   taxonomia)	
   –	
   envolve	
   o	
  
reconhecimento	
  da	
  presença	
  de	
  um	
  conjunto	
  de	
  propriedades.	
  O	
  mesmo	
  acontece	
  quando	
  se	
  aplicam	
  nomes	
  
vulgares.	
  Identificar	
  uma	
  planta	
  com	
  o	
  nome	
  Prunus	
  avium,	
  ou	
  «cerejeira»,	
  pressupõe	
  que	
  se	
  trata	
  de	
  uma	
  de	
  
árvore	
   de	
   tronco	
   acinzentado	
   que	
   se	
   destaca	
   por	
   tiras	
   horizontais,	
   com	
   folhas	
   serradas,	
   flores	
   completas	
   de	
  
pétalas	
  brancas	
  e	
  estames	
  indefinidos,	
  polinizada	
  por	
  insectos,	
  que	
  produz	
  frutos	
  comestíveis,	
  e	
  por	
  aí	
  adiante.	
  
Uma	
  planta	
  cabe	
  no	
  conceito	
  de	
  P.	
  avium	
  –	
  uma	
  classe	
  de	
  organismos	
  vegetais	
  com	
  a	
  categoria	
  de	
  espécie	
  –	
  
quando	
  nela	
  se	
  reconhecem	
  as	
  propriedades	
  de	
  ser	
   Prunus	
  avium.	
  Os	
  nomes	
  científicos	
  ou	
  vulgares	
  são	
  uma	
  
expressão	
  sintética	
  de	
  um	
  conjunto	
  de	
  propriedades	
  que	
  se	
  consubstanciam	
  num	
  conceito;	
  um	
  nome	
  por	
  si	
  só	
  de	
  
pouco	
  vale.	
  
A	
   mente	
   humana	
   organiza	
   com	
   mais	
   facilidade	
   objetos	
   complexos	
   em	
   grupos	
   homogéneos,	
   sejam	
   eles	
  
plantas,	
   paisagens	
   ou	
   instrumentos	
   de	
   trabalho,	
   do	
   que	
   soluciona,	
   por	
   exemplo,	
   equações	
   matemáticas	
  
elementares.	
  Pelo	
  contrário,	
  os	
  programas	
  informáticos	
  de	
  resolução	
  de	
  equações	
  matemáticas	
  complexas	
  são	
  
substancialmente	
   mais	
   simples,	
   e	
   eficientes,	
   do	
   que	
   os	
   programas	
   de	
   “reconhecimento	
   visual”	
   de	
   objetos.	
   A	
  
classificação	
   visual	
   assistida	
   por	
   computador	
   envolve	
   algoritmos	
   intrincados	
   de	
   inteligência	
   artificial,	
   que	
  
permitem	
  que	
  as	
  máquinas	
  aprendam	
  com	
  a	
  experiência.	
  O	
  hardware	
  da	
  mente	
  humana	
  foi	
  “desenhado”	
  pela	
  
evolução	
   para	
   desempenhar	
   tarefas	
   tão	
   complexas	
   como	
   a	
   envolvidas	
   a	
   identificação	
   e	
   a	
   classificação	
   de	
  
entidades
4
	
  biológicas,	
  porque	
  estas	
  tarefas	
  têm	
  um	
  enorme	
  valor	
  adaptativo:	
  aumentam	
  a	
  fitness	
  (vd.	
  volume	
  II)	
  
dos	
   seus	
   portadores.	
   Classificar	
   é	
   uma	
   atividade	
   indispensável	
   para	
   percepcionar	
   e	
   agir	
   sobre	
   de	
   realidade	
  
complexas,	
  como	
  é	
  a	
  diversidade	
  biológica.	
  Por	
  outras	
  palavras,	
  a	
  diversidade	
  seres	
  vivos	
  que	
  connosco	
  convivem	
  
é	
   incognoscível	
   sem	
   uma	
   taxonomia.	
  O	
   sucesso	
   reprodutivo	
   dos	
   indivíduos	
   da	
   nossa	
   espécies,	
   num	
   passado	
  
recente,	
  dependeu,	
  certamente,	
  mais	
  de	
  uma	
  correta	
  identificação	
  dos	
  hábitos	
  e	
  das	
  formas	
  dos	
  seres	
  vivos	
  do	
  
que	
  da	
  abstração	
  matemática.	
  A	
  componente	
  inata	
  do	
  ato	
  de	
  identificar	
  ou	
  classificar	
  plantas	
  também	
  explica	
  a	
  
precocidade	
  da	
  taxonomia	
  na	
  história	
  da	
  biologia.	
  
1
	
   Resultam	
   de	
   um	
   processo	
   de	
   abstração,	
   i.e.	
   de	
   redução	
   de	
   uma	
   realidade	
   complexa	
   a	
   um	
   conjunto	
   de	
   propriedades	
  
consideradas	
  mais	
  importantes	
  do	
  que	
  as	
  propriedades	
  rejeitadas.	
  
2
	
  Inata	
  porque	
  nasce	
  connosco,	
  não	
  é	
  aprendida.	
  
3
	
  A	
  definição	
  de	
  “conceito”	
  é	
  muito	
  disputada	
  no	
  meio	
  filosófico.	
  Para	
  abreviar	
  o	
  tema	
  talvez	
  seja	
  melhor	
  definir	
  o	
  que	
  é	
  “ter	
  
um	
  conceito	
  de”.	
  Ter	
  um	
  conceito	
  de	
  um	
  objeto,	
  por	
  exemplo,	
  é	
  ser	
  capaz	
  de	
  reconhecer	
  e	
  de	
  pensar	
  sobre	
  esse	
  objeto,	
  de	
  
perceber	
   as	
   consequências	
   de	
   identificar	
   esse	
   objeto,	
   e	
   de	
   o	
   poder	
   agrupar	
   (classificar)	
   com	
   outros	
   objetos	
   similares	
  
(Blackburn, 1997).	
  
4
	
  Uma	
  entidade	
  é	
  algo	
  de	
  real,	
  que	
  existe	
  por	
  si	
  próprio	
  (Blackburn, 1997).	
  
8	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
1.2. Conceitos	
  e	
  objetivos	
  da	
  taxonomia	
  
Num	
   sentido	
   lato,	
   a	
   taxonomia	
   biológica
5
	
   é	
   o	
   ramo	
   da	
   biologia	
   que	
   se	
   dedica	
   ao	
   estudo	
   e	
   descrição	
   da	
  
variação	
  [e.g.	
  variação	
  da	
  forma]	
  dos	
  organismos
6
;	
  à	
  investigação	
  das	
  causas	
  e	
  consequências	
  dessa	
  variação;	
  e	
  
ao	
  uso	
  da	
  informação	
  obtida	
  sobre	
  a	
  variação	
  dos	
  organismos	
  no	
  desenho	
  de	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  (Stace,
1992).	
  Num	
  sentido	
  estrito,	
  a	
  taxonomia	
  envolve	
  a	
  descoberta,	
  a	
  descrição,	
  a	
  designação	
  e	
  a	
  classificação	
  de	
  taxa	
  
(vd.	
   definição	
   mais	
   adiante).	
   A	
   taxonomia	
   inclui	
   três	
   importantes	
   atividades	
   subsidiárias:	
   a	
   classificação,	
   a	
  
atribuição	
  de	
  nomes	
  e	
  a	
  identificação,	
  definíveis	
  do	
  seguinte	
  modo	
  (Stace, 1992):	
  
Classificação	
  –	
  estruturação	
  de	
  sistemas	
  lógicos	
  de	
  categorias	
  (sistemas	
  de	
  classificação)	
  que	
  agrupem	
  e	
  
categorizem,	
  geralmente	
  de	
  forma	
  hierárquica,	
  os	
  organismos	
  (vd.	
  Evolução	
  dos	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  
de	
  plantas-­‐vasculares;	
  
Nomenclatura	
  –	
  abrange	
  o	
  estudo	
  dos	
  sistemas	
  e	
  métodos	
  de	
  designação	
  dos	
  grupos	
  de	
  organismos,	
  e	
  a	
  
construção,	
   interpretação	
   e	
   aplicação	
   dos	
   regulamentos	
   que	
   governam	
   estes	
   sistemas	
   (vd.	
  
Nomenclatura);	
  
Identificação	
   (=	
   determinação)	
   –	
   denominação	
   de	
   um	
   organismo	
   tendo	
   como	
   referência	
   uma	
  
classificação	
  já	
  existente.	
  	
  
Um	
   sistemata	
   (o	
   especialista	
   em	
   sistemática)	
  
classifica	
  quando	
  descreve	
  uma	
  espécie	
  nova	
  para	
  a	
  
ciência.	
   Nesse	
   ato	
   atribui	
   um	
   nome	
   científico	
   de	
  
acordo	
  com	
  as	
  regras	
  de	
  nomenclatura	
  em	
  vigor.	
  Um	
  
praticante	
   de	
   botânica	
   ao	
   reconhecer	
   essa	
   mesma	
  
espécie	
  no	
  campo	
  ou	
  no	
  herbário,	
  identifica.	
  
Um	
  taxon	
  (táxone;	
  no	
  plural	
  taxa	
  ou	
  táxones)	
  ou	
  
grupo	
  taxonómico	
  é	
  um	
  grupo	
  concreto	
  –	
  uma	
  classe	
  
–	
   de	
  organismos	
  ao	
  qual	
  é	
  atribuído	
  um	
  nome,	
  em	
  
botânica	
   de	
   acordo	
   com	
   o	
   Código	
   Internacional	
   de	
  
Nomenclatura	
   para	
   Algas,	
   Fungos	
   e	
   Plantas	
  
(International	
  Code	
  of	
  Nomenclature	
  for	
  Algae,	
  Fungi	
  
and	
   Plants,	
   ICN;	
   (McNeill, et al., 2012)	
   (vd.	
  
Nomenclatura).	
   O	
   conceito	
   de	
   taxon	
   refere-­‐se	
   a	
  
grupos	
   de	
   indivíduos,	
   não	
   devendo	
   ser	
   confundido	
  
com	
   o	
   conceito	
   de	
   categoria	
   taxonómica.	
   Os	
   taxa	
  
naturais
7
	
  ou	
  monofiléticos,	
  reúnem	
  os	
  indivíduos	
  de	
  
uma	
   espécie	
   ancestral,	
   atual	
   ou	
   extinta,	
   e	
   todos	
   os	
  
indivíduos	
  de	
  todas	
  as	
  espécies	
  dela	
  descendentes.	
  A	
  
sua	
  existência	
  é	
  independente	
  dos	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  criados	
  pelo	
  homem:	
  são	
  entidades	
  objetivas
8
.	
  Os	
  
taxa	
   não	
   monofiléticos	
   dizem-­‐se	
   artificiais.	
   Não	
   sendo	
   monofiléticos	
   os	
   grupos	
   taxonómicos	
   podem	
   ser	
   (i)	
  
parafiléticos	
  quando	
  excluem	
  alguns	
  descendentes	
  de	
  um	
  ancestral	
  comum,	
  ou	
  (ii)	
  polifiléticos	
  se	
  reúnem	
  taxa	
  
de	
  dois	
  ou	
  mais	
  grupos	
  monofiléticos	
  sem	
  uma	
  ancestralidade	
  comum	
  (figura	
  1).	
  
5
	
  Propõe-­‐se	
  uma	
  definição	
  lata	
  de	
  taxonomia	
  e	
  a	
  sua	
  sinonimização	
  com	
  a	
  sistemática.	
  Muitos	
  autores,	
  sobretudo	
  zoólogos,	
  
preferem	
   distinguir	
   sistemática	
   e	
   taxonomia.	
   A	
   primeira	
   teria	
   um	
   significado	
   alargado,	
   restringindo-­‐se	
   a	
   segunda	
   à	
  
descoberta,	
  descrição,	
  designação	
  e	
  classificação	
  de	
  taxa.	
  
6
	
  Um	
  organismo	
  é	
  um	
  ser	
  vivo	
  individual,	
  cujas	
  partes	
  (organelos,	
  órgãos)	
  são	
  mutuamente	
  dependentes	
  e	
  desempenham	
  
funções	
   indispensáveis	
   para	
   a	
   sobrevivência	
   e/ou	
   reprodução	
   do	
   indivíduo.	
   Uma	
   bactéria,	
   uma	
   planta	
   ou	
   um	
   animal	
   são	
  
organismos.	
  
7
	
  Muitos	
  autores,	
  atuais	
  e	
  pretéritos,	
  criticam	
  esta	
  definição	
  e	
  preferem	
  designar	
  por	
  taxon	
  natural	
  um	
  grupo	
  de	
  indivíduos	
  
mais	
  similares	
  entre	
  si	
  do	
  que	
  com	
  os	
  indivíduos	
  de	
  outros	
  grupos.	
  Outros	
  exigem	
  uma	
  ancestralidade	
  comum	
  mas	
  aceitam	
  
como	
  naturais	
  os	
  grupos	
  parafiléticos.	
  
8
	
  Objetivas	
  porque	
  a	
  sua	
  existência	
  é	
  independente	
  da	
  mente	
  que	
  afirma	
  a	
  sua	
  existência.	
  Embora	
  de	
  uso	
  corrente,	
  o	
  conceito	
  
de	
  “entidade	
  objetiva”	
  é	
  redundante	
  porque	
  uma	
  entidade	
  é	
  necessariamente	
  objetiva.	
  
Figura	
  1. Monofilia,	
  parafilia	
  e	
  polifilia.	
  Neste	
  exemplo	
  os	
  
vertebrados	
  e	
  os	
  répteis	
  s.l.	
  (=	
  saurópsidos,	
  inc.	
  aves,	
  assinalado	
  a	
  
amarelo)	
   são	
   monofiléticos,	
   os	
   répteis	
   s.str.	
   (excl.	
   Aves)	
   são	
  
parafiléticos	
   e	
   os	
   animais	
   de	
   sangue-­‐quente	
   (a	
   vermelho,	
  
mamíferos	
  +	
  aves)	
  são	
  polifiléticos	
  (Wikipedia)	
  
9	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
Os	
  taxonomistas	
  servem-­‐se	
  de	
  características	
  morfológicas,	
  fisiológicas	
  ou	
  moleculares	
  para	
  classificar	
  e/ou	
  
identificar	
   taxa.	
   Estas	
   características	
   são	
   genericamente	
   designadas	
   por	
   caracteres	
   taxonómicos.	
   Um	
   carácter	
  
pode	
  ter	
  vários	
  estados.	
  Por	
  exemplo,	
  o	
  carácter	
  posição	
  do	
  ovário	
  tem	
  três	
  estados-­‐de-­‐carácter:	
  ovário	
  ínfero,	
  
semi-­‐ínfero	
  e	
  súpero.	
  Frequentemente,	
  o	
  termo	
  “carácter	
  taxonómico”	
  é	
  utilizado	
  com	
  o	
  significado	
  de	
  “estado-­‐
de-­‐carácter”.	
  Os	
  caracteres	
  diagnóstico	
  são	
  utilizados	
  para	
  distinguir	
  os	
  taxa	
  de	
  outros	
  que	
  se	
  lhes	
  assemelhem.	
  
Os	
  caracteres	
  diagnóstico	
  determinam	
  a	
  circunscrição	
  dos	
  taxa,	
  i.e.	
  quais	
  os	
  indivíduos	
  que	
  a	
  eles	
  podem	
  ser	
  
atribuídos	
  (Singh, 2010),	
  e,	
  implicitamente,	
  objetivam	
  o	
  seu	
  conceito.	
  
Os	
   termos	
   “primitivo”	
   e	
   “evoluído	
   ou	
   avançado”,	
   embora	
   de	
   uso	
   corrente,	
   exprimem	
   juízos	
   de	
   valor	
  
injustificáveis	
   à	
   luz	
   da	
   moderna	
   interpretação	
   dos	
   processos	
   evolutivos.	
   Os	
   carateres	
   ditos	
   primitivos	
   –	
   e.g.	
  
estames	
  semelhantes	
  às	
  pétalas	
  –	
  não	
  são,	
  necessariamente,	
  menos	
  vantajosos	
  para	
  os	
  seus	
  portadores	
  do	
  que	
  
os	
  caracteres	
  evoluídos	
  (=	
  avançados)	
  –	
  e.g.	
  estames	
  e	
  pétalas	
  bem	
  distintos.	
  Pela	
  mesma	
  razão	
  o	
  mesmo	
  se	
  
pode	
  dizer	
  de	
  um	
  taxon	
  primitivo	
  frente	
  a	
  um	
  taxon	
  evoluído.	
  Por	
  outro	
  lado,	
  um	
  carácter	
  considerado	
  primitivo	
  
num	
   determinado	
   grupo	
   pode	
   ser	
   evoluído	
   num	
   outro	
   porque,	
   sendo	
   as	
   plantas	
   evolutivamente	
   flexíveis,	
   as	
  
inversões	
  de	
  caracteres	
  e	
  os	
  fenómenos	
  de	
  convergência	
  evolutiva	
  são	
  sistemáticos	
  (vd.	
  Sistemas	
  evolutivos).	
  
Como	
  se	
  referiu	
  no	
  Volume	
  I,	
  muitas	
  das	
  Theaceae	
  atuais	
  têm	
  flores	
  acíclicas,	
  um	
  estado-­‐de-­‐carácter	
  associado	
  a	
  
plantas	
  primitivas.	
  Hoje	
  é	
  claro	
  que	
  num	
  antepassado	
  das	
  Theaceae	
  de	
  perianto	
  verticilado	
  terá	
  ocorrido	
  uma	
  
inversão	
  do	
  carácter	
  filotaxia	
  da	
  flor:	
  as	
  Theaceae	
  são	
  secundariamente	
  acíclicas	
  (Ronse De Craene, 2010).	
  Para	
  
evitar	
   equívocos,	
   pode-­‐se	
   substituir	
   o	
   adjetivo	
   “primitivo”	
   por	
   “ancestral”	
   ou	
   “basal”.	
   “Derivado”	
   é	
   uma	
  
alternativa	
  a	
  “evoluído”	
  ou	
  “avançado”
	
  9
.	
  	
  
Um	
  dado	
  estado-­‐de-­‐carácter	
  diz-­‐se	
  primitivo,	
  ancestral	
  ou	
  basal	
  quando	
  corresponde	
  à	
  condição	
  original	
  do	
  
carácter,	
   i.e.	
   ao	
   estado-­‐de-­‐carácter	
   presente	
   nas	
   formas	
   ancestrais	
   de	
   um	
   determinado	
   grupo.	
   Os	
   caracteres	
  
ancestrais	
   são	
   mais	
   antigos	
   e	
   os	
   caracteres	
   derivados	
   de	
   génese	
   mais	
   recente.	
   Geralmente,	
   os	
   taxa	
   basais	
  
distinguem-­‐se	
  dos	
  taxa	
  derivados	
  por	
  reterem	
  um	
  maior	
  número	
  de	
  caracteres	
  basais	
  e,	
  em	
  consequência	
  disso	
  
mesmo,	
   serem	
   mais	
   semelhantes	
   às	
   formas	
   originais	
   a	
   partir	
   das	
   quais	
   evoluíram.	
   A	
   retenção	
   de	
   caracteres	
  
basais	
   aproxima	
   os	
   organismos,	
   e	
   os	
   seus	
   grupos,	
   da	
   base	
   das	
   árvores	
   filogenéticas.	
   Aos	
   taxa	
   derivados	
  
correspondem	
  a	
  ramificações	
  chegadas	
  à	
  extremidade	
  das	
  árvores	
  filogenéticas	
  (vd.	
  Sistemas	
  cladísticos).	
  	
  
A	
   botânica	
   sistemática,	
   ou	
   taxonomia	
   botânica,	
   é	
   uma	
   ciência	
   antiga.	
   O	
   seu	
   desenvolvimento	
   precedeu	
   a	
  
genética,	
  a	
  fisiologia	
  ou	
  a	
  ecologia	
  vegetal.	
  Nos	
  seus	
  primórdios,	
  os	
  objetivos	
  da	
  botânica	
  sistemática	
  acabavam	
  
no	
   reconhecimento	
   de	
   taxa	
   e	
   na	
   sua	
   designação.	
   Na	
   sequência	
   da	
   definição	
   de	
   taxonomia	
   biológica	
  
anteriormente	
  formulada,	
  os	
  objetivos	
  da	
  botânica	
  sistemática	
  são	
  hoje	
  francamente	
  mais	
  vastos	
  (Jones Jr. &
Luchsinger, 1987):	
  (i)	
  inventariar	
  a	
  flora	
  mundial;	
  (ii)	
  produzir	
  métodos	
  de	
  identificação	
  das	
  plantas;	
  (iii)	
  facilitar	
  a	
  
comunicação	
  nos	
  domínios	
  do	
  conhecimento	
  relacionados	
  com	
  as	
  plantas;	
  (iv)	
  produzir	
  um	
  sistema	
  coerente	
  e	
  
universal	
   de	
   classificação;	
   (v)	
   explorar	
   as	
   implicações	
   evolucionárias	
   da	
   diversidade	
   vegetal;	
   (vi)	
   explorar	
   as	
  
relações	
  filogenéticas	
  entre	
  taxa;	
  (vii)	
  fornecer	
  um	
  único	
  nome	
  latino	
  para	
  cada	
  taxa	
  de	
  plantas	
  atual	
  ou	
  extinto.	
  
1.3. Evolução	
  dos	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  botânica	
  
Os	
   sistemas	
   de	
   classificação	
   biológica	
   são	
   sistemas	
   hierárquicos	
   de	
   categorias,	
   geralmente	
   construídos	
   de	
  
modo	
  a	
  permitirem	
  uma	
  fácil	
  referenciação	
  dos	
  seus	
  membros.	
  Dizem-­‐se	
  hierárquicos	
  porque	
  os	
  indivíduos	
  de	
  
qualquer	
  categoria	
  são	
  organizados	
  em	
  grupos	
  cada	
  vez	
  mais	
  inclusivos,	
  até	
  restar	
  apenas	
  um.	
  Reconhecem-­‐se	
  
cinco	
  grandes	
  tipos	
  de	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  biológica:	
  artificiais,	
  naturais,	
  fenéticos,	
  evolutivos	
  e	
  cladísticos.	
  
As	
   ideias	
   dominantes	
   (=	
   paradigmas)	
   na	
   biologia	
   condicionaram	
   a	
   natureza	
   e	
   o	
   sucesso	
   dos	
   sistemas	
   de	
  
classificação	
  biológica.	
  Os	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  artificiais	
  (e.g.	
  sistema	
  sexual	
  de	
  Carl	
  Linnaeus)	
  e	
  naturais	
  (e.g.	
  
sistema	
   de	
   de	
   Candolle)	
   são	
   essencialistas	
   porque	
   pressupõem	
   um	
   mundo	
   biológico	
   constituído	
   por	
   espécies	
  
9
	
  Na	
  bibliografia	
  encontram-­‐se,	
  recorrentemente,	
  as	
  combinações	
  “estado-­‐de-­‐carácter	
  ancestral,	
  “estado-­‐de-­‐carácter	
  basal”,	
  
“estado-­‐de-­‐carácter	
  derivado”,	
  “taxon	
  basal”,	
  “taxon	
  ancestral”	
  e	
  “taxon	
  derivado”.	
  
10	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
imutáveis	
  (volume	
  II).	
  Os	
  sistemas	
  fenéticos	
  são	
  uma	
  versão	
  tecnicamente	
  refinada	
  dos	
  sistemas	
  naturais.	
  Os	
  
sistemas	
  de	
  classificação	
  evolutivos	
  e	
  cladísticos	
  integram	
  a	
  ideia	
  de	
  evolução.	
  
	
  
Sistemas	
  artificiais	
  
Carl	
   Linnaeus	
   [1707-­‐1778],	
   Carlos	
   Lineu	
   em	
   português,	
   foi	
   um	
   médico,	
   botânico,	
   zoólogo	
   e	
   mineralogista	
  
sueco
10
.	
  É	
  considerado	
  uma	
  das	
  personagens	
  mais	
  determinantes	
  da	
  história	
  da	
  biologia	
  pelos	
  historiadores	
  de	
  
ciência	
   (Mayr, 1989).	
   A	
   sistemática	
   botânica	
   e	
   zoológica	
   moderna	
   nasceu	
   em	
   duas	
   das	
   suas	
   publicações.	
   A	
  
primeira	
   edição	
   do	
   Species	
   Plantarum,	
   de	
   1773,	
   e	
   a	
   décima	
   edição	
   do	
   Systema	
   Naturae,	
   uma	
   obra	
   em	
   dois	
  
volumes	
  publicada	
  entre	
  1758	
  e	
  1759,	
  são	
  consideradas,	
  respectivamente,	
  o	
  ponto	
  de	
  partida	
  da	
  nomenclatura	
  
sistemática	
   botânica	
   (vd.	
   Nomenclatura	
   biológica	
   clássica)	
   e	
   zoológica.	
   O	
   uso	
   da	
   nomenclatura	
   binomial	
   na	
  
taxonomia	
  biológica	
  generalizou-­‐se	
  após	
  a	
  publicação	
  da	
  primeira	
  edição	
  do	
  Species	
  Plantarum,	
  embora	
  Lineu,	
  
numa	
  fase	
  inicial	
  do	
  seu	
  trabalho	
  científico,	
  não	
  a	
  tenha	
  valorizado	
  e	
  aplicado	
  de	
  forma	
  sistemática	
  (Blunt, 2001).	
  
A	
  invenção	
  da	
  nomenclatura	
  binomial	
  é	
  anterior	
  a	
  Lineu,	
  deve-­‐se	
  a	
  Caspard	
  Bauhin	
  [1560-­‐1624),	
  um	
  médico	
  e	
  
botânico	
   suíço	
   de	
   origem	
   francesa.	
   Os	
   binomes	
   específicos	
   substituíram	
   a	
   nomenclatura	
   polinomial	
   que	
   se	
  
caracterizava	
   pelo	
   uso	
   de	
   um	
   nome	
   genérico,	
   sucedido	
   por	
   um	
   número	
   variável	
   de	
   palavras	
   a	
   descrever	
   a	
  
morfologia,	
  corologia	
  e/ou	
  a	
  autoria	
  da	
  descrição	
  original	
  das	
  espécies.	
  A	
  nomenclatura	
  binomial	
  tem	
  a	
  vantagem	
  
de	
  ser	
  mais	
  fácil	
  de	
  memorizar,	
  de	
  acelerar	
  as	
  trocas	
  de	
  informação,	
  e	
  de	
  ser	
  mais	
  estável	
  e	
  menos	
  sujeita	
  a	
  erros	
  
do	
   que	
   a	
   nomenclatura	
   polinomial.	
   Através	
   do	
   nome	
   genérico	
   expressa	
   e	
   resume	
   relações	
   evolutivas	
   e	
   de	
  
similaridade	
  morfológica	
  de	
  enorme	
  utilidade	
  prática.	
  
Lineu	
  estabeleceu	
  três	
  reinos	
  –	
  Regnum	
  Animale	
  (reino	
  animal),	
  Regnum	
  Vegetabile	
  (reino	
  vegetal)	
  e	
  Regnum	
  
Lapideum	
  (reino	
  mineral)	
  –	
  que	
  até	
  há	
  bem	
  pouco	
  tempo	
  eram	
  ensinados	
  nos	
  curricula	
  escolares	
  portugueses.	
  
Considerou	
   cinco	
   categorias	
   taxonómicas	
   fundamentais	
   que	
   permanecem	
   em	
   uso	
   na	
   nomenclatura	
   biológica	
  
moderna:	
   o	
   reino,	
   a	
   classe,	
   a	
   ordem,	
   a	
   família	
   e	
   o	
   género.	
   Lineu	
   defendeu	
   que	
   a	
   categoria	
   taxonómica	
  
fundamental	
   dos	
   sistemas	
   de	
   classificação	
   é	
   a	
   espécie	
   e,	
   muito	
   antes	
   emergência	
   da	
   moderna	
   biologia	
   da	
  
evolução,	
  que	
  a	
  coesão	
  morfológica	
  dos	
  indivíduos	
  coespecíficos	
  se	
  devia	
  ao	
  sexo.	
  A	
  importância	
  de	
  Lineu	
  na	
  
história	
  da	
  biologia	
  deve-­‐se	
  quer	
  às	
  suas	
  contribuições	
  científicas,	
  quer	
  à	
  doutrinação	
  de	
  um	
  núcleo	
  coeso	
  de	
  
discípulos	
  que	
  disseminaram	
  as	
  suas	
  ideias,	
  métodos	
  e	
  publicações.	
  Não	
  deixa	
  de	
  ser	
  significativo	
  que	
  o	
  Systema	
  
Naturae	
  esteja	
  exposto	
  numa	
  das	
  estantes	
  da	
  casa	
  que	
  Charles	
  Darwin	
  habitou	
  durante	
  grande	
  parte	
  da	
  sua	
  vida.	
  
O	
   sistema	
   de	
   classificação	
   sexual	
   lineano	
   está	
   descrito	
   logo	
   na	
   primeira	
   edição	
   do	
   Species	
   Plantarum	
   (vd.	
  
Figura	
   1A).	
   Lineu	
   reconheceu	
   24	
   classes	
   no	
   reino	
   das	
   plantas	
   com	
   base	
   na	
   presença	
   ou	
   ausência,	
   número,	
  
comprimento	
  e	
  concrescência	
  dos	
  estames,	
  e	
  ainda	
  na	
  sua	
  adnação	
  ao	
  pistilo.	
  O	
  sistema	
  lineano,	
  embora	
  tenha	
  
uma	
  inegável	
  utilidade	
  prática,	
  produz	
  grupos	
  de	
  plantas	
  dissimilares	
  de	
  baixo	
  valor	
  extrapolativo:	
  a	
  partir	
  das	
  
10
	
  A	
  vida	
  e	
  obra	
  de	
  Carl	
  Linnaeus	
  pode	
  ser	
  explorada	
  em	
  http://www.linnaeus.uu.se/online/index-­‐en.html.	
  	
  
A	
   B	
   C	
  
Figura	
  2. Três	
  personagens	
  chave	
  da	
  história	
  da	
  sistemática:	
  A)	
  Carl	
  Linnaeus	
  [1707-­‐1778];	
  B)	
  Charles	
  Darwin	
  
[1809–1882];	
  C)	
  Willi	
  Hennig	
  [1913-­‐1976]	
  
A	
   B	
   C	
  
11	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
características	
  de	
  um	
  elemento	
  do	
  grupo,	
  não	
  é	
  possível,	
  a	
  priori,	
  antever	
  as	
  características	
  mais	
  marcantes	
  na	
  
forma	
  de	
  cada	
  um	
  dos	
  restantes	
  elementos	
  que	
  o	
  compõem.	
  Diz-­‐se	
  que	
  é	
  um	
  sistema	
  de	
  classificação	
  artificial	
  
porque	
  se	
  baseia	
  num	
  número	
  reduzido	
  e	
  arbitrário	
  de	
  características	
  de	
  fácil	
  observação	
  (vd.	
  Quadro	
  1).	
  
Sistemas	
  naturais	
  e	
  sistemas	
  fenéticos	
  
Os	
  sistemas	
  naturais	
  de	
  classificação	
  foram	
  uma	
  reação	
  à	
  incapacidade	
  do	
  sistema	
  sexual	
  lineano	
  revelar	
  a	
  
scala	
  naturae	
  aristotélica	
  (vd.	
  Volume	
  II).	
  Fundam-­‐se	
  no	
  princípio,	
  confirmado,	
  de	
  que	
  a	
  utilização	
  de	
  um	
  grande	
  
número	
  de	
  caracteres	
  origina	
  classificações	
  mais	
  intuitivas,	
  e	
  de	
  maior	
  valor	
  extrapolativo,	
  do	
  que	
  os	
  sistemas	
  
artificiais	
  (vd.	
  justificação	
  em	
  Sistemas	
  evolutivos).	
  Muitos	
  dos	
  defensores	
  destes	
  sistemas	
  consideravam	
  ainda	
  
que	
  os	
  caracteres	
  taxonómicos	
  não	
  devem	
  ser	
  pesados	
  (a	
  todos	
  deve	
  ser	
  dada	
  a	
  mesma	
  importância)	
  e	
  que	
  as	
  
plantas	
   devem	
   ser	
   organizadas	
   nas	
   Floras
11
	
   de	
   forma	
   natural,	
   conceito	
   que	
   na	
   altura	
   expressava	
   a	
   sua	
  
semelhança.	
  
Os	
   fundamentos	
   teóricos	
   dos	
   sistemas	
   naturais	
   de	
   classificação	
   foram	
   originalmente	
   estabelecidos	
   pelo	
  
botânico	
   francês	
   Michel	
   Adanson	
   [1727-­‐1806].	
   No	
   Genera	
   Plantarum,	
   A.-­‐L.	
   de	
   Jussieu	
   [1748-­‐1836]	
   fez	
   uma	
  
síntese	
   das	
   ideias	
   de	
   Adanson	
   com	
   o	
   sistema	
   de	
   nomenclatura	
   binomial	
   lineano.	
   Os	
   sistemas	
   naturais	
   de	
  
Augustin	
   de	
   Candolle	
   [1778-­‐1841]	
   e	
   de	
   G.	
   Bentham	
   [1800-­‐1884]	
   e	
   J.	
   D.	
   Hooker	
   [1817-­‐1911]	
   são	
   os	
   mais	
  
relevantes	
   para	
   a	
   história	
   da	
   botânica.	
   As	
   principais	
   características	
   dos	
   sistemas	
   artificiais	
   e	
   naturais	
   estão	
  
explicitados	
  no	
  quadro	
  1.	
  
Os	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  fenéticos,	
  em	
  voga	
  nos	
  anos	
  60	
  e	
  70	
  do	
  séc.	
  XX,	
  são	
  um	
  refinamento	
  dos	
  sistemas	
  
de	
  classificação	
  naturais.	
  Caracterizam-­‐se	
  por	
  reunir	
  um	
  grande	
  número	
  de	
  caracteres,	
  geralmente	
  tratados	
  com	
  
o	
  mesmo	
  peso,	
  em	
  matrizes	
  de	
  grande	
  dimensão	
  que	
  posteriormente	
  são	
  corridas	
  em	
  programas	
  informáticos	
  de	
  
classificação.	
  Os	
  programas	
  de	
  classificação	
  fenética	
  geram	
  classificações	
  de	
  elevado	
  valor	
  extrapolativo,	
  muitas	
  
vezes	
  próximas	
  das	
  produzidas	
  pelos	
  programas	
  de	
  classificação	
  cladística	
  (vd.	
  Sistemas	
  cladísticos).	
  A	
  escolha	
  
dos	
  algoritmos	
  de	
  classificação	
  determina	
  os	
  resultados	
  das	
  classificações	
  fenéticas.	
  Por	
  conseguinte,	
  os	
  sistemas	
  
fenéticos	
  não	
  envolvem	
  ganhos	
  significativos	
  de	
  objetividade	
  frente	
  aos	
  sistemas	
  naturais	
  e	
  evolutivos.	
  Por	
  outro	
  
lado	
   correm	
   o	
   risco	
   de	
   produzir	
   classificações	
   artificiais,	
   agregando	
   indivíduos	
   semelhantes	
   por	
   convergência	
  
evolutiva.	
  Os	
  métodos	
  automáticos	
  de	
  classificação	
  fenética	
  continuam	
  em	
  uso	
  nos	
  trabalhos	
  de	
  taxonomia	
  à	
  
11
	
  O	
  termo	
  “Flora”,	
  em	
  maiúsculas,	
  refere-­‐se	
  aos	
  livros	
  de	
  botânica	
  que	
  descrevem	
  em	
  pormenor,	
  com	
  recurso	
  frequente	
  a	
  
chaves	
  dicotómicas,	
  as	
  plantas	
  de	
  um	
  dado	
  território;	
  e.g.	
  foram	
  publicadas	
  quatro	
  Floras	
  de	
  Portugal,	
  sendo	
  a	
  primeira	
  a	
  
Flora	
  Lusitanica,	
  datada	
  de	
  1804,	
  da	
  autoria	
  de	
  Félix	
  de	
  Avelar	
  Brotero	
  [1744-­‐1828].	
  Em	
  minúsculas	
  –	
  flora	
  –	
  designa	
  um	
  
conjunto	
  de	
  espécies,	
  e	
  de	
  categorias	
  subespecíficas,	
  de	
  um	
  território;	
  e.g.	
  a	
  flora	
  das	
  ilhas	
  Berlengas	
  compreende	
  com	
  4	
  taxa	
  
endémicos:	
   Armeria	
   berlengensis	
   (Plumbaginaceae),	
   Echium	
   rosulatum	
   subsp.	
   davaei	
   (Boraginaceae),	
   Herniaria	
   lusitanica	
  
subsp.	
  berlengiana	
  (Caryophyllaceae)	
  e	
  Pulicaria	
  microcephala	
  (Asteraceae).	
  
Figura	
  3. Capas	
  da	
  primeira	
  edição	
  do	
  Species	
  Plantarum	
  e	
  da	
  décima	
  edição	
  do	
  Sistema	
  Naturae	
  de	
  
Carl	
  Linnaeus	
  [1707-­‐1778].	
  Resumo	
  do	
  método	
  sexual	
  de	
  lineano	
  (desenho	
  de	
  G.D.	
  Ehret,	
  1736)	
  
12	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
escala	
  da	
  espécie	
  ou	
  de	
  categorias	
  infra-­‐específicas.	
  A	
  classificação	
  fenética	
  de	
  grupos	
  de	
  categoria	
  superior	
  caiu	
  
em	
  desuso.	
  
Sistemas	
  evolutivos	
  
A	
   incorporação	
   da	
   teoria	
   Darwiniana	
   da	
   evolução	
   alterou	
   radicalmente	
   o	
   propósito	
   dos	
   sistemas	
   de	
  
classificação.	
   Os	
   autores	
   dos	
   sistemas	
   naturais	
   procuravam	
   obter	
   grupos	
   morfologicamente	
   consistentes;	
   nos	
  
sistemas	
  de	
  classificação	
  evolutivos	
  (=	
  sistemas	
  filogenéticos
12
)	
  passou	
  a	
  ser	
  prioritário	
  que	
  os	
  taxa	
  refletissem	
  
relações	
  de	
  parentesco	
  (=	
  relações	
  filogenéticas),	
  i.e.	
  proximidade	
  evolutiva.	
  
O	
   fenótipo	
   dos	
   indivíduos	
   é	
   um	
   resíduo	
   histórico	
   de	
   um	
   processo	
   evolutivo.	
   Os	
   taxa	
   (e.g.	
   espécies)	
  
evolutivamente	
  próximos,	
  i.e.	
  de	
  divergência	
  recente,	
  têm	
  tendência	
  a	
  partilhar	
  mais	
  caracteres,	
  e	
  a	
  serem	
  mais	
  
semelhantes	
  entre	
  si,	
  do	
  que	
  os	
  taxa	
  pouco	
  aparentados.	
  “On	
  my	
  theory,	
  the	
  unity	
  of	
  type	
  is	
  explained	
  by	
  unity	
  of	
  
descent”,	
  escreveu	
  Darwin	
  na	
  Origem	
  das	
  Espécies	
  (Darwin, 1859).	
  A	
  similaridade	
  morfológica	
  reflete	
  ainda,	
  com	
  
frequência,	
   proximidade	
   genética.	
   Os	
   exemplos	
   de	
   correlação	
   positiva	
   da	
   similaridade	
   morfológica	
   com	
   o	
  
parentesco	
  e	
  a	
  proximidade	
  genética	
  abundam	
  na	
  natureza	
  porque	
  a	
  forma	
  tem	
  uma	
  elevada	
  inércia	
  evolutiva:	
  
as	
  mudanças	
  morfológicas	
  radicais,	
  ocorridas	
  em	
  espaços	
  de	
  tempo	
  muito	
  curtos,	
  são,	
  por	
  regra,	
  negativamente	
  
selecionadas.	
   Não	
   surpreende,	
   por	
   isso,	
   que	
   as	
   classificações	
   evolutivas,	
   sobretudo	
   a	
   nível	
   familiar	
   ou	
  
infrafamiliar,	
   não	
   difiram	
   significativamente	
   das	
   classificações	
   naturais.	
   Pela	
   mesma	
   razão,	
   convém	
   desde	
   já	
  
referir	
  que	
  os	
  taxonomistas	
  naturais	
  do	
  século	
  XIX,	
  secundados	
  pelos	
  taxonomistas	
  evolucionários	
  do	
  séc.	
  XX,	
  
sem	
   ou	
   com	
   conhecimentos	
   elementares	
   de	
   embriologia,	
   de	
   fitoquímica	
   e	
   de	
   taxonomia	
   molecular	
   foram	
  
capazes	
  de	
  antecipar	
  uma	
  parte	
  muito	
  significativa	
  dos	
  taxa	
  propostos	
  pela	
  sistemática	
  botânica	
  cladística	
  do	
  
final	
   do	
   séc.	
   XX,	
   início	
   do	
   séc.	
   XXI.	
   Com	
   Darwin	
   o	
   conceito	
   de	
   grupo	
   natural	
   sofre	
   uma	
   profunda	
   mudança,	
  
acabando	
  por	
  ser	
  sinonimizado	
  com	
  grupo	
  monofilético	
  pelos	
  cladistas.	
  	
  
Os	
   sistemas	
   naturais	
   e	
   evolutivos	
   são	
   herdeiros	
   diretos	
   de	
   uma	
   tradição	
   botânica	
   europeia,	
   por	
   razões	
  
geográficas	
  de	
  início	
  pouco	
  consolidada	
  nos	
  territórios	
  tropicais	
  de	
  maior	
  diversidade	
  taxonómica.	
  Enquanto	
  a	
  
flora	
  holártica
13
	
  foi	
  segmentada	
  num	
  elevado	
  número	
  de	
  géneros	
  e	
  famílias,	
  a	
  flora	
  tropical	
  foi	
  tratada	
  de	
  uma	
  
12
	
  Esta	
  designação	
  é	
  dúbia	
  porque	
  alguns	
  autores	
  aplicam-­‐na	
  aos	
  sistemas	
  cladísticos.	
  
13
	
  Regiões	
  de	
  clima	
  polar,	
  boreal,	
  temperado	
  e	
  mediterrânico	
  do	
  hemisfério	
  norte.	
  
Quadro	
  1.	
  Principais	
  características	
  dos	
  grandes	
  tipos	
  de	
  sistemas	
  de	
  artificiais	
  e	
  naturais	
  
Sistemas	
  de	
  classificação	
   Principais	
  características	
  
Sistemas	
  de	
  classificação	
  
artificiais	
  
Reduzido	
  número	
  de	
  caracteres	
  de	
  fácil	
  observação;	
  
Geralmente	
  agrupam	
  plantas	
  filogeneticamente	
  não	
  relacionadas,	
  
morfologicamente	
  dissemelhantes;	
  
Baixo	
  valor	
  extrapolativo;	
  
Grande	
  estabilidade;	
  
Fácil	
  identificação	
  dos	
  grupos.	
  
Sistemas	
  de	
  classificação	
  
natural	
  (inc.	
  sistemas	
  
fenéticos)	
  
Elevado	
  número	
  de	
  caracteres,	
  consequentemente	
  exigem	
  grandes	
  quantidades	
  
de	
  informação	
  morosa	
  de	
  obter;	
  
Organização	
  das	
  plantas	
  em	
  grupos	
  morfologicamente	
  consistentes;	
  
Frequentemente	
  agrupam	
  plantas	
  filogeneticamente	
  próximas;	
  
Pelo	
  facto	
  de	
  valorizarem	
  de	
  igual	
  modo	
  homologias	
  e	
  analogias	
  podem	
  produzir	
  
grupos	
  artificiais	
  (de	
  taxa	
  não	
  aparentados);	
  
Elevado	
  valor	
  preditivo;	
  
O	
  aumento	
  do	
  conhecimento	
  botânico	
  repercute-­‐se	
  na	
  organização	
  dos	
  grupos	
  
–	
  maior	
  instabilidade;	
  
A	
  identificação	
  dos	
  grupos	
  pode	
  ser	
  difícil	
  na	
  prática	
  taxonómica.	
  
13	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
forma	
   francamente	
   mais	
   conservadora	
   por	
   estes	
   sistemas	
   de	
   classificação.	
   O	
   grande	
   número	
   de	
   géneros	
  
descritos,	
  e	
  ainda	
  aceites,	
  nas	
  Apiaceae	
  está	
  relacionado	
  com	
  a	
  sua	
  elevada	
  diversidade	
  no	
  hemisfério	
  norte.	
  Por	
  
outro	
   lado,	
   muitas	
   das	
   famílias	
   morfologicamente	
   bem	
   caracterizadas	
   e	
   fáceis	
   de	
   reconhecer	
   nos	
   territórios	
  
holárticos,	
   admitidas	
   pelos	
   sistemas	
   naturais	
   e	
   evolutivos,	
   entravam	
   em	
   conflito	
   nos	
   espaços	
   tropicais.	
   Assim	
  
aconteceu,	
  por	
  exemplo,	
  com	
  os	
  conceitos	
  tradicionais	
  de	
  Verbenaceae	
  e	
  de	
  Lamiaceae	
  ou	
  de	
  Apiaceae	
  e	
  de	
  
Araliaceae.	
  
Para	
  que	
  os	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  evolutivos	
  e	
  cladísticos	
  (vd.	
  Sistemas	
  cladísticos)	
  resumam,	
  de	
  forma	
  
fidedigna,	
   relações	
   de	
   parentesco	
   entre	
   taxa	
   é	
   necessário	
   usar	
   caracteres	
   submetidos	
   a	
   um	
   estrito	
   controlo	
  
genético	
  e	
  avaliar	
  corretamente	
  a	
  sua	
  polaridade.	
  Ao	
  invés	
  dos	
  sistemas	
  naturais,	
  nestes	
  sistemas	
  classificação	
  a	
  
importância	
   dos	
   caracteres	
   taxonómicos	
   é	
   diferenciada:	
   valorizam-­‐se	
   os	
   caracteres	
   que	
   a	
   priori	
   se	
   supõe	
  
veicularem	
  informação	
  útil	
  para	
  estabelecer	
  relações	
  de	
  parentesco.	
  A	
  estimativa	
  da	
  polaridade	
  dos	
  caracteres,	
  
um	
  termo	
  introduzido	
  pela	
  cladística	
  moderna,	
  consiste	
  na	
  discriminação	
  dos	
  estados-­‐de-­‐carácter	
  ancestrais	
  dos	
  
estados-­‐de-­‐carácter	
  derivados.	
  Esta	
  etapa	
  é	
  essencial	
  para	
  identificar	
  eventuais	
  inversões	
  de	
  caracteres	
  (retornos	
  
a	
  estados-­‐de-­‐carácter	
  ancestrais)	
  e	
  fenómenos	
  de	
  convergência	
  evolutiva,	
  tão	
  frequentes	
  nas	
  plantas	
  terrestres.	
  
Neste	
   processo	
   ganhou	
   uma	
   particular	
   importância	
   a	
   investigação	
   do	
   registo	
   fóssil	
   e	
   o	
   estudo	
   morfológico	
  
comparado	
  das	
  plantas	
  atuais,	
  sobretudo	
  nas	
  regiões	
  de	
  clima	
  tropicais,	
  onde,	
  corretamente,	
  se	
  supunha	
  estar	
  
refugiada	
  uma	
  parte	
  significativa	
  das	
  plantas	
  atuais	
  mais	
  primitivas.	
  
Os	
  sistemas	
  de	
  classificação	
  evolutivos	
  baseiam-­‐se	
  em	
  caracteres	
  morfológicos	
  sopesados	
  e	
  polarizados	
  de	
  
forma	
  intuitiva.	
  Os	
  caracteres	
  moleculares	
  não	
  eram	
  conhecidos	
  ou	
  foram	
  desvalorizados.	
  Como	
  mais	
  adiante	
  se	
  
refere,	
   a	
   informação	
   molecular	
   transporta,	
   em	
   si,	
   imensa	
   informação	
   essencial	
   para	
   estabelecer	
   relações	
   de	
  
parentesco,	
   complementar	
   da	
   informação	
   morfológica.	
   Consequentemente,	
   a	
   distinção	
   entre	
   similaridades	
  
morfológicas	
  devidas	
  à	
  partilha	
  de	
  ancestrais	
  comuns	
  (homologias)	
  ou	
  à	
  convergência	
  evolutiva	
  (analogias)	
  nem	
  
sempre	
  foi	
  resolvida	
  de	
  forma	
  adequada.	
  Sendo	
  a	
  convergência	
  evolutiva	
  recorrente	
  nas	
  plantas	
  terrestre,	
  os	
  
sistemas	
  evolutivos	
  não	
  evitaram	
  a	
  definição	
  de	
  um	
  significativo	
  número	
  de	
  taxa	
  artificiais.	
  Embora	
  rejeitem	
  os	
  
grupos	
   polifiléticos,	
   a	
   monofilia	
   não	
   é	
   obrigatória	
   nos	
   sistemas	
   de	
   classificação	
   evolutivos,	
   sendo	
   tolerados	
  
grupos	
  parafiléticos	
  (vd.	
  Figura	
  1).	
  
Os	
  botânicos,	
  desde	
  Jussieu	
  até	
  à	
  emergência	
  dos	
  sistemas	
  cladísticos,	
  no	
  final	
  do	
  século	
  XX,	
  foram	
  incapazes	
  
de	
  alcançar	
  uma	
  classificação	
  natural	
  nas	
  categorias	
  suprafamiliares.	
  As	
  categorias	
  superiores	
  então	
  propostas	
  
não	
  eram	
  homogéneas	
  do	
  ponto	
  de	
  vista	
  morfológico	
  e/ou	
  envolviam	
  hipóteses	
  especulativas.	
  Por	
  exemplo,	
  no	
  
sistema	
   de	
   Adolf	
   Engler	
   [1844-­‐1930]	
   e	
   Karl	
   Prantl	
   [1849-­‐1893],	
   o	
   mais	
   completo	
   dos	
   primeiros	
   sistemas	
   de	
  
classificação	
  evolutiva	
  das	
  plantas,	
  foi	
  assumido,	
  no	
  âmbito	
  das	
  dicotiledóneas	
  (classe	
  Dicotyledoneae),	
  que	
  as	
  
plantas	
  de	
  flores	
  apétalas	
  eram	
  as	
  mais	
  antigas,	
  e	
  que	
  os	
  grupos	
  de	
  plantas	
  de	
  corola	
  livre	
  (dialipétalas)	
  eram	
  
anteriores	
  aos	
  de	
  pétalas	
  concrescentes.	
  Esta	
  interpretação	
  das	
  tendências	
  evolutivas	
  do	
  perianto	
  foi	
  formalizada	
  
ao	
  nível	
  da	
  subclasse	
  e	
  da	
  ordem.	
  Como	
  a	
  evolução	
  do	
  perianto	
  está	
  permeada	
  de	
  inversões	
  de	
  caracteres	
  e	
  de	
  
convergências	
   evolutivas,	
   muitos	
   dos	
   taxa	
   suprafamiliares	
   reconhecidos	
   por	
   Engler	
   &	
   Prantl	
   eram	
   artificiais.	
  
Como	
  se	
  veio	
  a	
  verificar	
  a	
  partir	
  dos	
  anos	
  1990,	
  a	
  morfologia	
  externa	
  é	
  insuficiente	
  para	
  resolver	
  a	
  filogenia	
  das	
  
plantas-­‐terrestres	
  e	
  a	
  similaridade	
  morfológica	
  falha	
  clamorosamente	
  este	
  objetivo	
  a	
  níveis	
  suprafamiliares.	
  
Os	
  sistemas	
  evolutivos	
  continuam	
  a	
  ser	
  usados	
  quando	
  se	
  pretende,	
  mais	
  do	
  expor	
  relações	
  filogenéticas,	
  
organizar	
   e	
   expressar	
   a	
   diversidade	
   biológica	
   de	
   uma	
   forma	
   estável,	
   fácil	
   de	
   memorizar.	
   Recorde-­‐se	
   que	
   a	
  
consistência	
  morfológica	
  dos	
  grupos	
  propostos	
  pelos	
  sistemas	
  evolutivos	
  é,	
  geralmente,	
  elevada.	
  A	
  maior	
  das	
  
Floras	
   manuseadas	
   pelos	
   botânicos	
   e	
   floristas	
   da	
   atualidade	
   arranjam	
   as	
   espécies	
   de	
   acordo	
   com	
   algum	
   dos	
  
seguintes	
   sistemas	
   de	
   classificação	
   evolutivos:	
   diferentes	
   versões	
   do	
   Sistema	
   de	
   Engler	
   e	
   Prantl,	
   e.g.	
   Flora	
  
Europaea	
  (Tutin, 1964-1980)	
  e	
  Nova	
  Flora	
  de	
  Portugal	
  (Franco, Nova Flora de Portugal (Continente e Açores),
1971 e 1984) (Franco & Rocha Afonso, Nova Flora de Portugal (Continente e Açores), 1994 e 1998);	
  sistema	
  de	
  
G.L.	
   Stebbins,	
  e.g.	
  Flora	
  Iberica	
  (Castroviejo, 1986+);	
  ou	
  Sistema	
  de	
  A.	
  Cronquist,	
  e.g.	
  Flora	
  of	
  North	
  America	
  
(Flora of North America Editorial Committee, 1993+).	
  A	
  opção	
  pelos	
  sistemas	
  evolutivos	
  dependeu	
  sempre	
  mais	
  
14	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
do	
   reconhecimento	
   científico	
   dos	
   seus	
   autores,	
   i.e.	
   de	
   um	
   argumento	
   de	
   autoridade
14
,	
   do	
   que	
   de	
   razões	
  
objetivas.	
  
Subclasse	
   Características	
   Nº	
  de	
  
famílias	
  
Nº	
  aprox.	
  de	
  
espécies	
  
Magnoliidae	
  	
  
Plantas	
  arcaicas;	
  flores	
  frequentemente	
  acíclicas	
  
ou	
  hemicíclicas.	
  
39	
   >	
  12.000	
  
Hamameliidae
15
	
  
Plantas	
  arcaicas;	
  flores	
  muito	
  reduzidas	
  de	
  
geralmente	
  polinização	
  anemófila.	
  
25	
   >	
  3.400	
  
Caryophyllidae	
  
Herbáceas	
  com	
  betalaínas	
  (classe	
  de	
  pigmentos	
  
vermelhos	
  ou	
  amarelos	
  derivados	
  do	
  indol);	
  
placentação	
  central	
  livre	
  ou	
  tipos	
  derivados.	
  
14	
   >	
  11.000	
  
Dilleniidae	
  
Alguma	
  simpetalia;	
  apocarpia	
  rara;	
  placentação	
  
normalmente	
  parietal.	
  
77	
   >	
  25.000	
  
Rosidae	
  
Folhas	
  frequentemente	
  compostas	
  com	
  estípulas;	
  
polipetalia	
  frequente;	
  estames	
  numerosos.	
  
117	
   >	
  60.000	
  
Asteridae	
  
Geralmente	
  simpétalas,	
  com	
  estames	
  em	
  número	
  
igual	
  ou	
  inferior	
  ao	
  número	
  de	
  lóbulos	
  da	
  corola.	
  
49	
   >	
  60.000	
  
	
  
O	
  sistema	
  proposto	
  pelo	
  botânico	
  norte-­‐americano	
  Arthur	
  Cronquist	
  [1919-­‐1992]	
  foi,	
  talvez,	
  o	
  mais	
  influente	
  
sistema	
  de	
  classificação	
  evolutivo	
  das	
  plantas-­‐com-­‐flor	
  na	
  segunda	
  metade	
  do	
  século	
  XX.	
  O	
  não	
  menos	
  conhecido	
  
sistema	
   de	
   Armen	
   Takhtajan	
   [1910-­‐2009],	
   um	
   botânico	
   soviético/arménio,	
   é	
   muito	
   próximo	
   do	
   sistema	
   de	
  
Cronquist.	
   Cronquist	
   dividiu	
   a	
   plantas-­‐com-­‐flor	
   –	
   Divisão	
   Magnoliophyta	
   –	
   em	
   duas	
   classes:	
   Magnoliopsida	
   e	
  
Liliopsida
16
.	
   As	
   Magnoliopsida	
   foram	
   repartidas	
   por	
   seis	
   classes	
   (vd.	
   quadro	
   2)	
   e	
   as	
   Liliopsida	
   por	
   cinco	
   (vd.	
  
quadro	
  3).	
  	
  
A	
  subclasse	
  Hamameliidae,	
  um	
  grande	
  grupo	
  sistemático	
  de	
  plantas	
  com	
  flores	
  muito	
  modificadas,	
  adaptadas	
  
à	
  anemofilia,	
  é	
  uma	
  das	
  debilidades	
  mais	
  evidentes	
  do	
  sistema.	
  Para	
  a	
  polinização	
  pelo	
  vento	
  ser	
  eficiente	
  os	
  
grãos	
  de	
  pólen	
  têm	
  que	
  flutuar	
  no	
  ar,	
  e	
  o	
  movimento	
  dos	
  estigmas	
  e	
  dos	
  filetes	
  de	
  ar	
  em	
  torno	
  do	
  gineceu	
  deve	
  
facilitar	
  a	
  captura	
  do	
  pólen.	
  Por	
  exemplo,	
  a	
  produção	
  de	
  folhas	
  antes	
  da	
  polinização,	
  a	
  rigidez	
  dos	
  pedicelos	
  das	
  
flores	
   ou	
   dos	
   pedúnculos	
   das	
   inflorescências,	
   e	
   um	
   perianto	
   que	
   se	
   sobreponha	
   aos	
   estigmas	
   estorvam	
   este	
  
modo	
   de	
   polinização.	
   O	
   cardápio	
   de	
   soluções	
   adaptativas	
   à	
   anemofilia	
   é	
   escasso,	
   consequentemente	
   a	
  
convergência	
   evolutiva	
   dos	
   caracteres	
   das	
   inflorescências	
   e	
   flores	
   polinizadas	
   pelo	
   vento	
   é	
   muito	
   frequente.	
  
Cronquist	
  defendeu	
  a	
  proximidade	
  filogenética	
  de	
  grande	
  parte	
  das	
  espécies	
  anemófilas.	
  Só	
  recentemente	
  as	
  
técnicas	
  moleculares	
  demonstraram	
  a	
  extensão	
  dos	
  equívocos	
  taxonómicos	
  gerados	
  pela	
  convergência	
  evolutiva	
  
entre	
   as	
   diferentes	
   linhagens	
   que	
   compõem	
   as	
   Hamameliidae.	
   De	
   facto	
   estudos	
   de	
   filogenia	
   molecular	
  
demonstraram	
  que	
  2/3	
  das	
  ordens	
  e	
  1/3	
  das	
  famílias	
  definidas	
  por	
  A.	
  Cronquist	
  não	
  são	
  monofiléticas	
  (Stevens,
2001+).	
  
	
  
14
	
  Ou	
  argumento	
  de	
  apelo	
  à	
  autoridade	
  (lat.	
  argumentum	
  ad	
  verecundiam).	
  Sustentação	
  da	
  verdade	
  de	
  um	
  argumento	
  através	
  
do	
  apelo	
  a	
  uma	
  autoridade.	
  
15
	
   As	
   grafias	
   Hamamelidae	
   ou	
   Hamamedidae,	
   tão	
   frequentes	
   na	
   bibliografia,	
   são	
   incorretas.	
   O	
   mesmo	
   acontece	
   com	
  
Dillenidae.	
  
16
	
   Os	
   sistemas	
   mais	
   antigos	
   de	
   classificação	
   (e.g.	
   sistema	
   de	
   Engler	
   e	
   Prantl)	
   designam	
   as	
   monocotiledóneas	
   por	
  
Monocotyledones	
   ou	
   Monocotyledoneae	
   e	
   as	
   dicotiledóneas	
   por	
   Dicotyledones	
   ou	
   Dicotyledoneae.	
   Estes	
   termos	
   são	
  
correntemente	
  utilizados	
  sem	
  uma	
  referência	
  concreta	
  da	
  categoria	
  taxonómica.	
  
Quadro	
  2.	
  Resumo	
  das	
  características	
  das	
  subclasses	
  de	
  dicotiledóneas	
  (Magnoliopsida)	
  	
  
do	
  Sistema	
  de	
  Cronquist	
  (Cronquist, 1981)	
  
15	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
Subclasse	
   Características	
   Nº	
  de	
  
famílias	
  
Nº	
  aprox.	
  de	
  
espécies	
  
Alismatidae	
   Plantas	
  herbáceas	
  aquáticas;	
  gineceu	
  apocárpico	
   16	
   >	
  500	
  
Arecidae	
  
Inflorescências	
  frequentemente	
  do	
  tipo	
  espádice	
  e	
  
envolvidas	
  por	
  uma	
  espata;	
  flores	
  geralmente	
  
pequenas	
  
5	
   >	
  5.600	
  
Commelinidae	
  
Flores	
  geralmente	
  sem	
  néctar;	
  flores	
  pequenas;	
  
famílias	
  basais	
  diploclamídeas	
  e	
  trímeras,	
  as	
  mais	
  
evoluídas	
  de	
  flores	
  nuas	
  e	
  adaptadas	
  à	
  polinização	
  
anemófila	
  
16	
   >	
  16.200	
  
Zingiberidae	
  
Flores	
  geralmente	
  com	
  néctar	
  e	
  polinizadas	
  por	
  
insectos	
  ou	
  outros	
  animais;	
  flores	
  por	
  regra	
  
epigínicas	
  e	
  diploclamídeas	
  
9	
   >	
  3.800	
  
Liliidae	
  
Flores	
  geralmente	
  com	
  néctar,	
  vistosas	
  e	
  
polinizadas	
  por	
  insectos	
  ou	
  outros	
  animais;	
  flores	
  
por	
  regra	
  monoclamídeas	
  
19	
   >	
  25.000	
  
Sistemas	
  cladísticos	
  
A	
   cladística	
   foi	
   originalmente	
   proposta	
   pelo	
   entomólogo	
   alemão	
   Willi	
   Hennig,	
   em	
   1950.	
   Trata-­‐se	
   de	
   um	
  
método	
  de	
  inferência	
  filogenética,	
  i.e.,	
  é	
  um	
  método	
  desenvolvido	
  para	
  gerar	
  hipóteses	
  sobre	
  as	
  relações	
  de	
  
parentesco	
  entre	
  organismos	
  ou	
  grupos	
  de	
  organismos.	
  Baseia-­‐se	
  num	
  pressuposto	
  fundamental:	
  os	
  grupos	
  de	
  
organismos	
  têm	
  de	
  reunir	
  todos,	
  e	
  apenas,	
  os	
  descendentes	
  de	
  um	
  ancestral	
  comum	
  (monofilia	
  obrigatória).	
  Em	
  
cladística	
   os	
   grupos	
   monofiléticos	
   e	
   parafiléticos	
   são,	
   respectivamente,	
   designados	
   por	
   clados	
   (ing.	
   clade)	
   e	
  
grados	
  (ing.	
  grade).	
  Os	
  clados	
  podem	
  ter,	
  ou	
  não,	
  uma	
  categorização	
  formal	
  (e.g.	
  ordem,	
  família	
  e	
  espécie),	
  i.e.	
  
serem	
   convertidos	
   em	
   taxa.	
   Embora	
   os	
   grupos	
   polifiléticos	
   sejam	
   rejeitados	
   dos	
   sistemas	
   de	
   classificação	
  
cladísticos,	
   os	
   grupos	
   parafiléticos	
   são	
   por	
   vezes	
   tolerados	
   por	
   razões	
   práticas,	
   ou	
   enquanto	
   as	
   relações	
   de	
  
parentesco	
   não	
   são	
   totalmente	
   esclarecidas).	
   Os	
   grados	
   geralmente	
   representam-­‐se	
   com	
   aspas	
   simples;	
   e.g.	
  
‘angiospérmicas	
  basais’.	
  
As	
  análises	
  cladísticas	
  produzem	
  cladogramas
17
,	
  diagramas	
  que	
  expressam	
  graficamente	
  uma	
  hipótese	
  sobre	
  
as	
  relações	
  de	
  parentesco	
  de	
  um	
  dado	
  conjunto	
  de	
  organismos	
  ou	
  grupos	
  de	
  organismos.	
  Os	
  cladograma	
  são,	
  
portanto,	
  um	
  resumo	
  da	
  sua	
  história	
  evolutiva	
  (vd.	
  Quadro	
  4).	
  Nos	
  cladogramas	
  cada	
  ramo	
  apenas	
  se	
  pode	
  cindir	
  
noutros	
  dois	
  ramos	
  (ramificação	
  dicotómicas);	
  os	
  nós	
  (pontos	
  onde	
  ocorrem	
  ramificações)	
  e	
  as	
  extremidades	
  dos	
  
ramos	
  representam,	
  respectivamente,	
  eventos	
  de	
  divergência	
  evolutiva	
  e	
  um	
  grupo	
  monofilético	
  de	
  organismos.	
  
Dois	
   clados	
   situados	
   lado	
   a	
   lado	
   num	
   cladograma	
   dizem-­‐se	
   irmãos	
   (grupos	
   irmãos,	
   ing.	
   sister	
   groups).	
   Um	
  
cladograma	
  pode	
  ser	
  cortado	
  em	
  qualquer	
  ponto,	
  o	
  ramo	
  resultante	
  –	
  o	
  clado	
  –	
  inclui	
  necessariamente	
  todos	
  os	
  
descendentes	
  de	
  um	
  dado	
  ancestral.	
  	
  
	
  	
  
	
  
17
	
  Os	
  cladogramas	
  e	
  as	
  árvores	
  fitogenéticas	
  não	
  devem	
  ser	
  confundidos.	
  As	
  árvores	
  filogenéticas	
  incluem	
  mais	
  informação	
  do	
  
que	
  a	
  contida	
  numa	
  simples	
  matriz	
  de	
  caracteres,	
  como	
  acontece	
  nos	
  cadogramas.	
  Os	
  nós	
  representam	
  ancestrais	
  comuns	
  
(nos	
  cladogramas	
  divergências	
  evolutivas)	
  e	
  as	
  extremidades	
  dos	
  ramos	
  taxa.	
  
Quadro	
  3.	
  Resumo	
  das	
  características	
  das	
  subclasses	
  de	
  monocotiledóneas	
  (Liliopsida)	
  
do	
  Sistema	
  de	
  Cronquist	
  (Cronquist, 1981)	
  
16	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
Conceito	
   Descrição	
  
Apomorfia	
   Estado-­‐de-­‐carácter	
  derivado	
  (vd.	
  Conceitos	
  e	
  objetivos	
  da	
  taxonomia);	
  e.g.	
  a	
  dupla	
  fecundação	
  é	
  
uma	
  apomorfia	
  das	
  angiospérmicas.	
  	
  
Autapomorfia	
   Apomorfia	
  exclusiva	
  de	
  um	
  grupo	
  de	
  organismos.	
  
Clado	
  	
   Grupo	
  monofilético	
  de	
  organismos:	
  inclui	
  o	
  ancestral	
  comum	
  e	
  todos	
  (e	
  apenas)	
  os	
  seus	
  
descendentes	
  	
  
Cladograma	
   Representação	
  diagramática	
  de	
  uma	
  hipótese	
  sobre	
  as	
  relações	
  evolutivas	
  (=	
  filogenéticas)	
  de	
  
um	
  dado	
  conjunto	
  de	
  organismos	
  vivos,	
  com	
  base	
  na	
  partilha	
  de	
  caracteres	
  de	
  evolução	
  recente	
  
(apomorfias)	
  
Espécie	
  ancestral	
   Espécie	
  que	
  deu	
  origem	
  a	
  pelo	
  menos	
  uma	
  espécie	
  filha	
  (ing.	
  daughter	
  species).	
  
Grado	
   Grupo	
  parafilético	
  
Grupo	
  irmão	
   Grupo	
  evolutivamente	
  próximo;	
  e.g.	
  uma	
  mesma	
  população	
  ancestral	
  especiou	
  e	
  deu	
  origem	
  à	
  
espécie	
  ancestral	
  de	
  todas	
  as	
  Ceratophyllaceae	
  e	
  à	
  espécie	
  ancestral	
  de	
  todas	
  as	
  
eudicotiledóneas	
  atuais,	
  por	
  conseguinte,	
  as	
  Ceratophyllaceae	
  são	
  o	
  grupo	
  irmão	
  de	
  todas	
  as	
  
eudicotiledóneas	
  atuais	
  (e	
  vice-­‐versa).	
  
Plesiomorfia	
   Estado-­‐de-­‐carácter	
  ancestral	
  (primitivo);	
  e.g.	
  a	
  semente	
  é	
  uma	
  autapomorfia	
  nas	
  espermatófitas	
  
mas	
  uma	
  plesiomorfia	
  ao	
  nível	
  das	
  angiospérmicas.	
  
Simplesiomorfia	
   Plesiomorfia	
  partilhada	
  por	
  mais	
  de	
  um	
  grupo	
  de	
  organismos.	
  
Sinapomorfia	
   Apomorfia	
  partilhada	
  por	
  dois	
  ou	
  mais	
  grupos	
  que	
  indica	
  uma	
  ascendência	
  comum.	
  
	
  
À	
  semelhança	
  da	
  fenética,	
  a	
  cladística	
  serve-­‐se	
  de	
  programas	
  computacionais	
  e	
  de	
  matrizes	
  de	
  caracteres	
  
morfológicos,	
   anatómicos	
   (e.g.	
   presença	
   ou	
   ausência	
   de	
   vasos	
   xilémicos),	
   fisiológicos	
   (e.g.	
   fotossíntese	
   C4),	
  
citogenéticos	
   (e.g.	
   inversões	
   cromossómicas)	
   e/ou	
   moleculares	
   (e.g.	
   presença	
   de	
   um	
   determinado	
   gene	
   ou	
  
rearranjo	
  genético).	
  No	
  entanto,	
  admite-­‐se	
  que	
  os	
  algoritmos	
  cladísticos	
  modelam	
  mais	
  corretamente	
  a	
  forma	
  
como	
   a	
   evolução	
   realmente	
   funciona.	
   Os	
   cladogramas	
   são	
   obtidos	
   a	
   partir	
   da	
   distribuição	
   de	
   caracteres	
  
derivados	
   partilhados,	
   i.e.	
   de	
   sinapomorfias	
   (vd.	
   Quadro	
   4).	
   Os	
   caracteres	
   ancestrais	
   (plesiomorfias)	
   são	
  
descartados	
  porque	
  não	
  contêm	
  informação	
  útil	
  para	
  estabelecer	
  relações	
  de	
  parentesco:	
  o	
  seu	
  uso	
  poderia	
  dar	
  
origem	
  a	
  grupos	
  parafiléticos	
  ou	
  polifiléticos.	
  Por	
  exemplo,	
  a	
  presença	
  de	
  gametófitos	
  femininos	
  ou	
  monoicos	
  
livres	
  é	
  uma	
  plesiomorfia	
  das	
  pteridófitas	
  e	
  briófitas;	
  um	
  grupo	
  assim	
  definido,	
  irmão	
  das	
  plantas-­‐com-­‐semente,	
  
seria	
   parafilético.	
   A	
   determinação	
   dos	
   estados-­‐de-­‐carácter	
   ancestrais	
   (plesiomorfias)	
   e	
   derivados	
   (apomorfias)	
  
envolve,	
   frequentemente,	
   decisões	
   subjetivas	
   sobre	
   a	
   polaridade	
   dos	
   caracteres.	
   Ainda	
   assim,	
   os	
   cladistas	
  
servem-­‐se	
  de	
  técnicas,	
  cujo	
  estudo	
  pormenorizado	
  excede	
  os	
  objetivos	
  deste	
  livro,	
  que	
  tornam	
  esta	
  etapa	
  mais	
  
objetiva	
  do	
  que	
  nos	
  sistemas	
  evolutivos.	
  
Como	
  se	
  referiu	
  anteriormente,	
  os	
  cladogramas	
  são	
  o	
  produto	
  final	
  de	
  uma	
  análise	
  cladística.	
  Quanto	
  maior	
  o	
  
número	
  de	
  caracteres	
  e	
  de	
  estados-­‐de-­‐carácter	
  envolvidos	
  numa	
  análise,	
  maior	
  o	
  número	
  de	
  soluções	
  possíveis.	
  
Por	
   outro	
   lado,	
   diferentes	
   algoritmos	
   produzem	
   diferentes	
   resultados,	
   o	
   mesmo	
   acontecendo	
   quando	
   se	
  
eliminam	
   ou	
   adicionam	
   caracteres	
   na	
   matriz	
   original.	
   Determinar	
   qual	
   o	
   melhor	
   cladograma,	
   i.e.	
   qual	
   o	
  
cladograma	
   que	
   melhor	
   retrata	
   a	
   história	
   evolutiva	
   de	
   um	
   dado	
   grupo	
   de	
   plantas,	
   é	
   uma	
   questão	
   chave	
   em	
  
cladística.	
  Dois	
  princípios	
  são	
  usados	
  para	
  a	
  resolver:	
  o	
  princípio	
  da	
  congruência	
  e	
  o	
  princípio	
  da	
  parcimónia.	
  O	
  
princípio	
  da	
  congruência	
  baseia-­‐se	
  numa	
  ideia	
  simples:	
  se	
  o	
  mesmo	
  resultado	
  –	
  o	
  mesmo	
  cladograma	
  –	
  é	
  obtido	
  
com	
  dois	
  ou	
  mais	
  conjuntos	
  de	
  caracteres,	
  então	
  a	
  probabilidade	
  da	
  filogenia	
  obtida	
  ser	
  verdadeira	
  cresce.	
  O	
  
cladograma	
  que	
  minimiza	
  o	
  número	
  de	
  transições	
  entre	
  estados-­‐de-­‐carácter	
  é	
  o	
  mais	
  parcimonioso.	
  O	
  princípio	
  
da	
  parcimónia	
  é	
  crítico	
  porque	
  sendo	
  um	
  princípio	
  filosófico	
  (epistemológico),	
  produzido	
  pela	
  mente	
  humana,	
  
nada	
   obriga	
   que	
   seja	
   seguido	
   nos	
   processos	
   evolucionários.	
   Por	
   outras	
   palavras,	
   a	
   natureza	
   não	
   é	
  
Quadro	
  4.	
  Conceitos	
  fundamentais	
  de	
  cladística	
  	
  
17	
   Escola	
  Superior	
  Agrária	
  de	
  Bragança	
  -­‐	
  Botânica	
  para	
  Ciências	
  Agrárias	
  e	
  do	
  Ambiente	
  
necessariamente	
  parcimoniosa,	
  embora	
  tendencialmente	
  o	
  seja.	
  As	
  homologias	
  e,	
  implicitamente,	
  as	
  analogias,	
  
são	
  determinadas	
  a	
  posteriori	
  pela	
  análise	
  da	
  partilha	
  de	
  caracteres	
  ao	
  longo	
  do	
  “melhor”	
  cladograma.	
  
Os	
  princípios	
  da	
  congruência	
  e	
  da	
  parcimónia	
  conjugam-­‐se	
  na	
  chamada	
  reamostragem	
  por	
  bootstrap	
  (ou	
  em	
  
métodos	
  similares,	
  e.g.	
  jackknife).	
  Este	
  processo	
  inicia-­‐se	
  com	
  a	
  construção	
  de	
  pseudoreplicações	
  (cladogramas	
  
parciais)	
  a	
  partir	
  de	
  uma	
  amostra	
  (parcial)	
  aleatória	
  de	
  caracteres	
  da	
  matriz	
  original	
  de	
  caracteres	
  (mantendo	
  a	
  
dimensão	
  da	
  matriz	
  original).	
  Em	
  cada	
  pseudoreplicação	
  é	
  selecionado	
  o	
  cladograma	
  mais	
  parcimonioso.	
  Depois	
  
de	
   repetir	
   o	
   processo	
   um	
   determinado	
   número	
   de	
   vezes	
   (e.g.	
   mil	
   repetições)	
   o	
   resultado	
   é	
   sumarizado	
   num	
  
cladograma	
   de	
   consenso	
   (árvore	
   de	
   consenso)	
   sendo	
   possível	
   aferir	
   a	
   incerteza	
   associada	
   a	
   cada	
   clado.	
   Uma	
  
percentagem	
   de	
   bootstrap	
   de	
   95%	
   significa	
   que	
   o	
   clado	
   em	
   causa	
   surgiu	
   em	
   95	
   de	
   100	
   pseudoreplicações	
  
(Kitching	
  et	
  al.,	
  1998).	
  
Embora	
   a	
   importância	
   dos	
   dados	
   moleculares	
   em	
   cladística	
   seja	
   inquestionável,	
   a	
   morfologia	
   externa,	
  
sobretudo	
   ao	
   nível	
   da	
   flor,	
   permanece	
   essencial,	
   talvez	
   ainda	
   mais	
   importante	
   do	
   que	
   no	
   passado,	
   no	
  
esclarecimento	
  das	
  afinidades	
  evolutivas	
  das	
  plantas (Ronse De Craene, 2010).	
  Por	
  duas	
  razões.	
  A	
  escassez	
  de	
  
caracteres	
   morfológicos	
   e	
   a	
   abundância	
   de	
   convergências	
   evolutivas	
   que	
   os	
   caracteriza	
   é	
   mais	
   do	
   que	
  
compensada	
   pela	
   informação	
   filogenética	
   útil	
   que	
   transportam.	
   Ao	
   contrário	
   do	
   que	
   ocorre	
   com	
   muitos	
  
caracteres	
  moleculares,	
  os	
  caracteres	
  morfológicos	
  são	
  funcionalmente	
  relevantes	
  tendo,	
  por	
  essa	
  razão,	
  sido	
  
moldados	
   pela	
   seleção	
   natural.	
   Como	
   se	
   referiu	
   no	
   volume	
   II	
   a	
   seleção	
   foi,	
   e	
   é,	
   o	
   principal	
   mecanismo	
   da	
  
evolução.	
  A	
  conjunção	
  da	
  informação	
  molecular	
  com	
  a	
  informação	
  morfológica	
  no	
  estabelecimento	
  de	
  filogenias	
  
choca,	
   porém,	
   com	
   a	
   falta	
   de	
   uma	
   terminologia	
   estandardizada	
   de	
   uso	
   comum,	
   de	
   um	
   método	
   comum	
  
estandardizado	
  de	
  descrição	
  morfológica,	
  e	
  de	
  um	
  conjunto	
  de	
  princípios	
  a	
  aplicar	
  na	
  delimitação	
  de	
  caracteres	
  
morfológicos	
  (Voght, Bartolomaeus, & Giribet, 2009).	
  
Os	
   sistemas	
   de	
   classificação	
   cladísticos	
   apresentam	
   três	
   grandes	
   vantagens	
   frente	
   aos	
   sistemas	
   de	
  
classificação	
   evolutivos	
   tradicionais:	
   (i)	
   robustez	
   –	
   à	
   medida	
   que	
   as	
   relações	
   filogenéticas	
   são	
   clarificadas	
   a	
  
circunscrição	
   e	
   a	
   nomenclatura	
   dos	
   taxa	
   tende	
   a	
   estabilizar;	
   (ii)	
   reprodutibilidade	
   –	
   diferentes	
   investigadores	
  
obtêm	
   os	
   mesmos	
   resultados	
   se	
   utilizarem	
   os	
   mesmos	
   dados	
   iniciais;	
   (iii)	
   objetividade	
   –	
   envolvem	
   menos	
  
assunções	
   intuitivas.	
   Os	
   sistemas	
   cladísticos	
   oferecem	
   ainda	
   hipóteses	
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   e	
   testáveis,	
   por	
   exemplo,	
   de	
  
relações	
  evolutivas,	
  biogeografia	
  e	
  ecologia.	
  A	
  escolha	
  dos	
  algoritmos	
  tem	
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  impacto	
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em	
  cladística	
  do	
  que	
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  sistemas	
  fenéticos.	
  
A	
   cladística	
   é	
   o	
   método	
   standard	
   de	
   inferência	
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Botânicasistemática plantas-semente

  • 1. Carlos Aguiar BBoottâânniiccaa para Ciências Agrárias e do Ambiente VVoolluummee IIIIII Sistemática Instituto Politécnico de Bragança 2013
  • 2.                                                               Publicado  pelo  Instituto  Politécnico  de  Bragança   Imagem  da  capa.  Butomus  umbellatus  (Butomaceae)   Versão  de  13-­‐V-­‐2013   ©  Carlos  Aguiar     ISBN  978-­‐972-­‐745-­‐125-­‐8  
  • 3. 1   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   Índice   1.   Introdução  à  sistemática  de  plantas-­‐vasculares  ...............................................................  7   1.1.   O  porquê  de  classificar  ..............................................................................................  7   1.2.   Conceitos  e  objetivos  da  taxonomia  ..........................................................................  8   1.3.   Evolução  dos  sistemas  de  classificação  botânica  ......................................................  9   Sistemas  artificiais  ...............................................................................................  10   Sistemas  naturais  e  sistemas  fenéticos  ...............................................................  11   Sistemas  evolutivos  .............................................................................................  12   Sistemas  cladísticos  .............................................................................................  15   Sistemática  molecular  .........................................................................................  17   1.4.   Nomenclatura  ..........................................................................................................  18   Nomenclatura  biológica  clássica  .........................................................................  18   Nomenclatura  de  plantas  cultivadas  ...................................................................  22   Nomenclatura  filogenética  ..................................................................................  23   2.   Sistemática  de  plantas-­‐com-­‐semente  .............................................................................  24   2.1.   Introdução  ...............................................................................................................  24   Taxa  supra-­‐ordinais  das  plantas-­‐terrestres  .........................................................  24   ‘Pteridófitas’  e  gimnospérmicas  ..........................................................................  25   Angiospérmicas  ...................................................................................................  25   2.2.   Famílias  de  plantas-­‐com-­‐semente  de  maior  interesse  ecológico  ou  económico  ....  27   2.2.1.   Gimnospérmicas  ..............................................................................................  27   2.2.1.1.   Cycadidae  .................................................................................................  28   I.   Cycadaceae  s.str.  ...................................................................................  29   2.2.1.2.   Ginkgoidae  ................................................................................................  30   II.   Ginkgoaceae  ........................................................................................  30   2.2.1.3.   Pinidae  ......................................................................................................  30   III.   Pinaceae  .............................................................................................  31   IV.   Cupressaceae  (inc.  Taxodiaceae)  ........................................................  31   V.   Araucariaceae  ......................................................................................  32   VI.   Taxaceae  .............................................................................................  32   2.2.1.4.   Gnetidae  ...................................................................................................  33   VII.   Ephedraceae  ......................................................................................  33  
  • 4. 2   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   2.2.2.   Magnoliidae  (angiospérmicas)  .........................................................................  33   2.2.2.1.   ‘Angiospérmicas  basais’  ............................................................................  34   Nymphaeales  ...................................................................................................  34   VIII.   Nymphaeaceae  ................................................................................  34   Austrobaileyales  ..............................................................................................  34   IX.   Illiciaceae  ............................................................................................  34   2.2.2.2.   Magnoliidas  ..............................................................................................  35   Magnoliales  .....................................................................................................  35   X.   Magnoliaceae  .......................................................................................  35   XI.   Annonaceae  ........................................................................................  36   Laurales  ...........................................................................................................  36   XII.   Lauraceae  ..........................................................................................  36   Piperales  ..........................................................................................................  37   XIII.   Aristolochiaceae  ...............................................................................  37   XIV.   Piperaceae  ........................................................................................  37   2.2.2.3.   Monocotiledóneas  (Lilianae)  ....................................................................  37   2.2.2.3.1.   ‘Monocotiledóneas  basais’  ..................................................................  38   Alismatales  ......................................................................................................  38   XV.   Cymodoceaceae  ................................................................................  38   XVI.   Araceae  ............................................................................................  38   2.2.2.3.2.   ‘Monocotiledóneas  petaloideas’  .........................................................  39   Dioscoreales  ....................................................................................................  40   XVII.   Dioscoreaceae  .................................................................................  40   Liliales  ..............................................................................................................  40   XVIII.   Smilacaceae  ...................................................................................  40   XIX.   Liliaceae  ............................................................................................  40   Asparagales  .....................................................................................................  41   XX.   Orchidaceae  .......................................................................................  41   XXI.   Xanthorrhoeaceae  ............................................................................  42   XXII.   Amaryllidaceae  ................................................................................  43   XXIII.   Agavaceae  ......................................................................................  44   XXIV.   Asparagaceae  .................................................................................  44   XXV.   Ruscaceae  ........................................................................................  45   2.2.2.3.3.   Monocotiledóneas  commelinídeas  ......................................................  45  
  • 5. 3   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   Arecales  ...........................................................................................................  46   XXVI.   Arecaceae  (=  Palmae)  ....................................................................  46   Poales  ..............................................................................................................  47   XXVII.   Bromeliaceae  ................................................................................  47   XXVIII.   Juncaceae  ....................................................................................  47   XXIX.   Cyperaceae  .....................................................................................  49   XXX.   Poaceae  (=  Gramineae)  ...................................................................  49   Zingiberales  .....................................................................................................  53   XXXI.   Musaceae  .......................................................................................  53   XXXII.   Cannaceae  .....................................................................................  53   XXXIII.   Zingiberaceae  ..............................................................................  53   2.2.2.4.   Eudicotiledóneas  ......................................................................................  53   2.2.2.4.1.   ‘Eudicotiledóneas  basais’  .....................................................................  53   Ranunculales  ...................................................................................................  53   XXXIV.   Papaveraceae  ...............................................................................  53   XXXV.   Ranunculaceae  ..............................................................................  54   Proteales  .........................................................................................................  54   XXXVI.   Proteaceae  ...................................................................................  54   XXXVII.   Platanaceae  ................................................................................  55   Buxales  ............................................................................................................  55   XXXVIII.   Buxaceae  ...................................................................................  55   2.2.2.4.2.   Eudicotiledóneas  superiores  (core  eudicots)  .......................................  55   Famílias  basais  de  eudicotiledóneas  superiores  .................................................  55   Saxifragales  ......................................................................................................  55   XXXIX.   Altingiaceae  .................................................................................  55   Vitales  ..............................................................................................................  56   XL.   Vitaceae  .............................................................................................  56   Clado  das  rosidas  .................................................................................................  56   Malpighiales  ....................................................................................................  57   XLI.   Linaceae  ............................................................................................  57   XLII.   Euphorbiaceae  ................................................................................  57   XLIII.   Violaceae  ........................................................................................  57   XLIV.   Salicaceae  .......................................................................................  58   XLV.   Passifloraceae  ..................................................................................  58  
  • 6. 4   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   XLVI.   Hypericaceae  ..................................................................................  58   Cucurbitales  .....................................................................................................  59   XLVII.   Cucurbitaceae  ...............................................................................  59   Fabales  ............................................................................................................  59   XLVIII.   Fabaceae  ......................................................................................  59   Fagales  .............................................................................................................  61   XLIX.   Fagaceae  .........................................................................................  61   L.   Myricaceae  ...........................................................................................  62   LI.   Juglandaceae  ......................................................................................  62   LII.   Betulaceae  .........................................................................................  62   LIII.   Casuarinaceae  ..................................................................................  63   Myrtales  ..........................................................................................................  63   LIV.   Lythraceae  ........................................................................................  63   LV.   Myrtaceae  ..........................................................................................  64   Celastrales  .......................................................................................................  64   LVI.   Celastraceae  .....................................................................................  64   Rosales  ............................................................................................................  64   LVII.   Rosaceae  .........................................................................................  64   LVIII.   Rhamnaceae  ..................................................................................  66   LIX.   Ulmaceae  ..........................................................................................  66   LX.   Cannabaceae  .....................................................................................  66   LXI.   Moraceae  ..........................................................................................  67   Sapindales  .......................................................................................................  67   LXII.   Anacardiaceae  .................................................................................  67   LXIII.   Sapindaceae  (inc.  Aceraceae  e  Hippocastanaceae)  .......................  68   LXIV.   Simaroubaceae  ...............................................................................  68   LXV.   Meliaceae  ........................................................................................  68   LXVI.   Rutaceae  ........................................................................................  69   Brassicales  .......................................................................................................  69   LXVII.   Brassicaceae  ..................................................................................  69   LXVIII.   Capparaceae  ................................................................................  70   Malvales  ..........................................................................................................  70   LXIX.   Thymelaeaceae  ..............................................................................  70   LXX.   Cistaceae  .........................................................................................  71  
  • 7. 5   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   LXXI.   Malvaceae  (inc.  Tiliaceae,  Bombacaceae  e  Sterculiaceae)  .............  71   Santalales  ........................................................................................................  72   LXXII.   Santalaceae  ...................................................................................  72   Caryophyllanae  ....................................................................................................  73   Caryophyllales  .................................................................................................  73   LXXIII.   Tamaricaceae  ...............................................................................  73   LXXIV.   Plumbaginaceae  ...........................................................................  73   LXXV.   Polygonaceae  ................................................................................  74   LXXVI.   Caryophyllaceae  ...........................................................................  74   LXXVII.   Amaranthaceae  (inc.  Chenopodiaceae)  ......................................  75   LXXVIII.   Cactaceae  ..................................................................................  75   Clado  das  asteridas  (Asteranae)  ..........................................................................  76   Cornales  ...........................................................................................................  76   LXXIX.   Cornaceae  ....................................................................................  76   LXXX.   Hydrangeaceae  ..............................................................................  76   Ericales  ............................................................................................................  76   LXXXI.   Sapotaceae  ...................................................................................  76   LXXXII.   Ebenaceae  ..................................................................................  77   LXXXIII.   Theaceae  ...................................................................................  77   LXXXIV.   Actinidiaceae  .............................................................................  77   LXXXV.   Ericaceae  (inc.  Empetraceae)  ......................................................  77   Incertae  sedis  ..................................................................................................  78   LXXXVI.   Boraginaceae  .............................................................................  78   Gentianales  .....................................................................................................  78   LXXXVII.   Rubiaceae  .................................................................................  78   LXXXVIII.   Apocynaceae  (inc.  Asclepiadaceae)  ........................................  79   Lamiales  ...........................................................................................................  79   LXXXIX.   Oleaceae  ....................................................................................  79   XC.   Bignoniaceae  .....................................................................................  80   XCI.   Lamiaceae  .........................................................................................  81   XCII.   Orobanchaceae  ...............................................................................  81   XCIII.   Scrophulariaceae  (inc.  Buddlejaceae  e  Myoporaceae)  ..................  81   XCIV.   Verbenaceae  ..................................................................................  82   Solanales  .........................................................................................................  82  
  • 8. 6   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   XCV.   Convolvulaceae  ...............................................................................  82   XCVI.   Solanaceae  .....................................................................................  83   Apiales  .............................................................................................................  83   XCVII.   Araliaceae  .....................................................................................  83   XCVIII.   Pittosporaceae  .............................................................................  84   XCIX.   Apiaceae  .........................................................................................  84   Aquifoliales  ......................................................................................................  85   C.   Aquifoliaceae  .......................................................................................  85   Asterales  ..........................................................................................................  85   CI.   Asteraceae  ..........................................................................................  85   Dipsacales  ........................................................................................................  87   CII.   Adoxaceae  .........................................................................................  87   CIII.   Caprifoliaceae  s.str.  (excluídas  Dipsacaceae  e  Valerianaceae)  ........  87   3.   Referências  ......................................................................................................................  88    
  • 9. 7   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   1. Introdução  à  sistemática  de  plantas-­‐vasculares   1.1. O  porquê  de  classificar    “Classificar   objetos   é   uma   prerrogativa   humana   baseada   na   capacidade   da   mente   de   conceptualizar   e   reconhecer  a  presença  de  propriedades  similares  em  objetos  individuais.  Propriedades  e  classes  são  abstrações 1   relacionadas  entre  si:  quando  uma  propriedade  é  atribuída  a  um  objeto,  então  o  objeto  torna-­‐se  membro  de  uma   classe   particular   definida   por   aquela   propriedade”,   explica   W.   V.   Quine  (Quine, 1987).   Classificar   organismos,   ecossistemas,  sinais,  formas,  estruturas,  comportamentos  é,  então,  uma  capacidade  inata 2  que  a  mente  humana   realiza,  geralmente,  de  forma  involuntária  e  sem  esforço.  As  classes  caracterizam-­‐se  por  um  dado  conjunto  de   propriedades;   a   presença   dessas   propriedades   agrega   objetos   a   classes.   Cada   classe   tem   a   si   associado   um   conceito 3  formalizado  pelas  suas  propriedades.   Atribuir  um  nome  científico,  de  qualquer  categoria  (e.g.  espécie  e  família),  a  uma  planta,  i.e.  outorgar  uma   planta   a   uma   dada   classe   –   a   um   dado   taxon   (vd.   Conceitos   e   objetivos   da   taxonomia)   –   envolve   o   reconhecimento  da  presença  de  um  conjunto  de  propriedades.  O  mesmo  acontece  quando  se  aplicam  nomes   vulgares.  Identificar  uma  planta  com  o  nome  Prunus  avium,  ou  «cerejeira»,  pressupõe  que  se  trata  de  uma  de   árvore   de   tronco   acinzentado   que   se   destaca   por   tiras   horizontais,   com   folhas   serradas,   flores   completas   de   pétalas  brancas  e  estames  indefinidos,  polinizada  por  insectos,  que  produz  frutos  comestíveis,  e  por  aí  adiante.   Uma  planta  cabe  no  conceito  de  P.  avium  –  uma  classe  de  organismos  vegetais  com  a  categoria  de  espécie  –   quando  nela  se  reconhecem  as  propriedades  de  ser   Prunus  avium.  Os  nomes  científicos  ou  vulgares  são  uma   expressão  sintética  de  um  conjunto  de  propriedades  que  se  consubstanciam  num  conceito;  um  nome  por  si  só  de   pouco  vale.   A   mente   humana   organiza   com   mais   facilidade   objetos   complexos   em   grupos   homogéneos,   sejam   eles   plantas,   paisagens   ou   instrumentos   de   trabalho,   do   que   soluciona,   por   exemplo,   equações   matemáticas   elementares.  Pelo  contrário,  os  programas  informáticos  de  resolução  de  equações  matemáticas  complexas  são   substancialmente   mais   simples,   e   eficientes,   do   que   os   programas   de   “reconhecimento   visual”   de   objetos.   A   classificação   visual   assistida   por   computador   envolve   algoritmos   intrincados   de   inteligência   artificial,   que   permitem  que  as  máquinas  aprendam  com  a  experiência.  O  hardware  da  mente  humana  foi  “desenhado”  pela   evolução   para   desempenhar   tarefas   tão   complexas   como   a   envolvidas   a   identificação   e   a   classificação   de   entidades 4  biológicas,  porque  estas  tarefas  têm  um  enorme  valor  adaptativo:  aumentam  a  fitness  (vd.  volume  II)   dos   seus   portadores.   Classificar   é   uma   atividade   indispensável   para   percepcionar   e   agir   sobre   de   realidade   complexas,  como  é  a  diversidade  biológica.  Por  outras  palavras,  a  diversidade  seres  vivos  que  connosco  convivem   é   incognoscível   sem   uma   taxonomia.  O   sucesso   reprodutivo   dos   indivíduos   da   nossa   espécies,   num   passado   recente,  dependeu,  certamente,  mais  de  uma  correta  identificação  dos  hábitos  e  das  formas  dos  seres  vivos  do   que  da  abstração  matemática.  A  componente  inata  do  ato  de  identificar  ou  classificar  plantas  também  explica  a   precocidade  da  taxonomia  na  história  da  biologia.   1   Resultam   de   um   processo   de   abstração,   i.e.   de   redução   de   uma   realidade   complexa   a   um   conjunto   de   propriedades   consideradas  mais  importantes  do  que  as  propriedades  rejeitadas.   2  Inata  porque  nasce  connosco,  não  é  aprendida.   3  A  definição  de  “conceito”  é  muito  disputada  no  meio  filosófico.  Para  abreviar  o  tema  talvez  seja  melhor  definir  o  que  é  “ter   um  conceito  de”.  Ter  um  conceito  de  um  objeto,  por  exemplo,  é  ser  capaz  de  reconhecer  e  de  pensar  sobre  esse  objeto,  de   perceber   as   consequências   de   identificar   esse   objeto,   e   de   o   poder   agrupar   (classificar)   com   outros   objetos   similares   (Blackburn, 1997).   4  Uma  entidade  é  algo  de  real,  que  existe  por  si  próprio  (Blackburn, 1997).  
  • 10. 8   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   1.2. Conceitos  e  objetivos  da  taxonomia   Num   sentido   lato,   a   taxonomia   biológica 5   é   o   ramo   da   biologia   que   se   dedica   ao   estudo   e   descrição   da   variação  [e.g.  variação  da  forma]  dos  organismos 6 ;  à  investigação  das  causas  e  consequências  dessa  variação;  e   ao  uso  da  informação  obtida  sobre  a  variação  dos  organismos  no  desenho  de  sistemas  de  classificação  (Stace, 1992).  Num  sentido  estrito,  a  taxonomia  envolve  a  descoberta,  a  descrição,  a  designação  e  a  classificação  de  taxa   (vd.   definição   mais   adiante).   A   taxonomia   inclui   três   importantes   atividades   subsidiárias:   a   classificação,   a   atribuição  de  nomes  e  a  identificação,  definíveis  do  seguinte  modo  (Stace, 1992):   Classificação  –  estruturação  de  sistemas  lógicos  de  categorias  (sistemas  de  classificação)  que  agrupem  e   categorizem,  geralmente  de  forma  hierárquica,  os  organismos  (vd.  Evolução  dos  sistemas  de  classificação   de  plantas-­‐vasculares;   Nomenclatura  –  abrange  o  estudo  dos  sistemas  e  métodos  de  designação  dos  grupos  de  organismos,  e  a   construção,   interpretação   e   aplicação   dos   regulamentos   que   governam   estes   sistemas   (vd.   Nomenclatura);   Identificação   (=   determinação)   –   denominação   de   um   organismo   tendo   como   referência   uma   classificação  já  existente.     Um   sistemata   (o   especialista   em   sistemática)   classifica  quando  descreve  uma  espécie  nova  para  a   ciência.   Nesse   ato   atribui   um   nome   científico   de   acordo  com  as  regras  de  nomenclatura  em  vigor.  Um   praticante   de   botânica   ao   reconhecer   essa   mesma   espécie  no  campo  ou  no  herbário,  identifica.   Um  taxon  (táxone;  no  plural  taxa  ou  táxones)  ou   grupo  taxonómico  é  um  grupo  concreto  –  uma  classe   –   de  organismos  ao  qual  é  atribuído  um  nome,  em   botânica   de   acordo   com   o   Código   Internacional   de   Nomenclatura   para   Algas,   Fungos   e   Plantas   (International  Code  of  Nomenclature  for  Algae,  Fungi   and   Plants,   ICN;   (McNeill, et al., 2012)   (vd.   Nomenclatura).   O   conceito   de   taxon   refere-­‐se   a   grupos   de   indivíduos,   não   devendo   ser   confundido   com   o   conceito   de   categoria   taxonómica.   Os   taxa   naturais 7  ou  monofiléticos,  reúnem  os  indivíduos  de   uma   espécie   ancestral,   atual   ou   extinta,   e   todos   os   indivíduos  de  todas  as  espécies  dela  descendentes.  A   sua  existência  é  independente  dos  sistemas  de  classificação  criados  pelo  homem:  são  entidades  objetivas 8 .  Os   taxa   não   monofiléticos   dizem-­‐se   artificiais.   Não   sendo   monofiléticos   os   grupos   taxonómicos   podem   ser   (i)   parafiléticos  quando  excluem  alguns  descendentes  de  um  ancestral  comum,  ou  (ii)  polifiléticos  se  reúnem  taxa   de  dois  ou  mais  grupos  monofiléticos  sem  uma  ancestralidade  comum  (figura  1).   5  Propõe-­‐se  uma  definição  lata  de  taxonomia  e  a  sua  sinonimização  com  a  sistemática.  Muitos  autores,  sobretudo  zoólogos,   preferem   distinguir   sistemática   e   taxonomia.   A   primeira   teria   um   significado   alargado,   restringindo-­‐se   a   segunda   à   descoberta,  descrição,  designação  e  classificação  de  taxa.   6  Um  organismo  é  um  ser  vivo  individual,  cujas  partes  (organelos,  órgãos)  são  mutuamente  dependentes  e  desempenham   funções   indispensáveis   para   a   sobrevivência   e/ou   reprodução   do   indivíduo.   Uma   bactéria,   uma   planta   ou   um   animal   são   organismos.   7  Muitos  autores,  atuais  e  pretéritos,  criticam  esta  definição  e  preferem  designar  por  taxon  natural  um  grupo  de  indivíduos   mais  similares  entre  si  do  que  com  os  indivíduos  de  outros  grupos.  Outros  exigem  uma  ancestralidade  comum  mas  aceitam   como  naturais  os  grupos  parafiléticos.   8  Objetivas  porque  a  sua  existência  é  independente  da  mente  que  afirma  a  sua  existência.  Embora  de  uso  corrente,  o  conceito   de  “entidade  objetiva”  é  redundante  porque  uma  entidade  é  necessariamente  objetiva.   Figura  1. Monofilia,  parafilia  e  polifilia.  Neste  exemplo  os   vertebrados  e  os  répteis  s.l.  (=  saurópsidos,  inc.  aves,  assinalado  a   amarelo)   são   monofiléticos,   os   répteis   s.str.   (excl.   Aves)   são   parafiléticos   e   os   animais   de   sangue-­‐quente   (a   vermelho,   mamíferos  +  aves)  são  polifiléticos  (Wikipedia)  
  • 11. 9   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   Os  taxonomistas  servem-­‐se  de  características  morfológicas,  fisiológicas  ou  moleculares  para  classificar  e/ou   identificar   taxa.   Estas   características   são   genericamente   designadas   por   caracteres   taxonómicos.   Um   carácter   pode  ter  vários  estados.  Por  exemplo,  o  carácter  posição  do  ovário  tem  três  estados-­‐de-­‐carácter:  ovário  ínfero,   semi-­‐ínfero  e  súpero.  Frequentemente,  o  termo  “carácter  taxonómico”  é  utilizado  com  o  significado  de  “estado-­‐ de-­‐carácter”.  Os  caracteres  diagnóstico  são  utilizados  para  distinguir  os  taxa  de  outros  que  se  lhes  assemelhem.   Os  caracteres  diagnóstico  determinam  a  circunscrição  dos  taxa,  i.e.  quais  os  indivíduos  que  a  eles  podem  ser   atribuídos  (Singh, 2010),  e,  implicitamente,  objetivam  o  seu  conceito.   Os   termos   “primitivo”   e   “evoluído   ou   avançado”,   embora   de   uso   corrente,   exprimem   juízos   de   valor   injustificáveis   à   luz   da   moderna   interpretação   dos   processos   evolutivos.   Os   carateres   ditos   primitivos   –   e.g.   estames  semelhantes  às  pétalas  –  não  são,  necessariamente,  menos  vantajosos  para  os  seus  portadores  do  que   os  caracteres  evoluídos  (=  avançados)  –  e.g.  estames  e  pétalas  bem  distintos.  Pela  mesma  razão  o  mesmo  se   pode  dizer  de  um  taxon  primitivo  frente  a  um  taxon  evoluído.  Por  outro  lado,  um  carácter  considerado  primitivo   num   determinado   grupo   pode   ser   evoluído   num   outro   porque,   sendo   as   plantas   evolutivamente   flexíveis,   as   inversões  de  caracteres  e  os  fenómenos  de  convergência  evolutiva  são  sistemáticos  (vd.  Sistemas  evolutivos).   Como  se  referiu  no  Volume  I,  muitas  das  Theaceae  atuais  têm  flores  acíclicas,  um  estado-­‐de-­‐carácter  associado  a   plantas  primitivas.  Hoje  é  claro  que  num  antepassado  das  Theaceae  de  perianto  verticilado  terá  ocorrido  uma   inversão  do  carácter  filotaxia  da  flor:  as  Theaceae  são  secundariamente  acíclicas  (Ronse De Craene, 2010).  Para   evitar   equívocos,   pode-­‐se   substituir   o   adjetivo   “primitivo”   por   “ancestral”   ou   “basal”.   “Derivado”   é   uma   alternativa  a  “evoluído”  ou  “avançado”  9 .     Um  dado  estado-­‐de-­‐carácter  diz-­‐se  primitivo,  ancestral  ou  basal  quando  corresponde  à  condição  original  do   carácter,   i.e.   ao   estado-­‐de-­‐carácter   presente   nas   formas   ancestrais   de   um   determinado   grupo.   Os   caracteres   ancestrais   são   mais   antigos   e   os   caracteres   derivados   de   génese   mais   recente.   Geralmente,   os   taxa   basais   distinguem-­‐se  dos  taxa  derivados  por  reterem  um  maior  número  de  caracteres  basais  e,  em  consequência  disso   mesmo,   serem   mais   semelhantes   às   formas   originais   a   partir   das   quais   evoluíram.   A   retenção   de   caracteres   basais   aproxima   os   organismos,   e   os   seus   grupos,   da   base   das   árvores   filogenéticas.   Aos   taxa   derivados   correspondem  a  ramificações  chegadas  à  extremidade  das  árvores  filogenéticas  (vd.  Sistemas  cladísticos).     A   botânica   sistemática,   ou   taxonomia   botânica,   é   uma   ciência   antiga.   O   seu   desenvolvimento   precedeu   a   genética,  a  fisiologia  ou  a  ecologia  vegetal.  Nos  seus  primórdios,  os  objetivos  da  botânica  sistemática  acabavam   no   reconhecimento   de   taxa   e   na   sua   designação.   Na   sequência   da   definição   de   taxonomia   biológica   anteriormente  formulada,  os  objetivos  da  botânica  sistemática  são  hoje  francamente  mais  vastos  (Jones Jr. & Luchsinger, 1987):  (i)  inventariar  a  flora  mundial;  (ii)  produzir  métodos  de  identificação  das  plantas;  (iii)  facilitar  a   comunicação  nos  domínios  do  conhecimento  relacionados  com  as  plantas;  (iv)  produzir  um  sistema  coerente  e   universal   de   classificação;   (v)   explorar   as   implicações   evolucionárias   da   diversidade   vegetal;   (vi)   explorar   as   relações  filogenéticas  entre  taxa;  (vii)  fornecer  um  único  nome  latino  para  cada  taxa  de  plantas  atual  ou  extinto.   1.3. Evolução  dos  sistemas  de  classificação  botânica   Os   sistemas   de   classificação   biológica   são   sistemas   hierárquicos   de   categorias,   geralmente   construídos   de   modo  a  permitirem  uma  fácil  referenciação  dos  seus  membros.  Dizem-­‐se  hierárquicos  porque  os  indivíduos  de   qualquer  categoria  são  organizados  em  grupos  cada  vez  mais  inclusivos,  até  restar  apenas  um.  Reconhecem-­‐se   cinco  grandes  tipos  de  sistemas  de  classificação  biológica:  artificiais,  naturais,  fenéticos,  evolutivos  e  cladísticos.   As   ideias   dominantes   (=   paradigmas)   na   biologia   condicionaram   a   natureza   e   o   sucesso   dos   sistemas   de   classificação  biológica.  Os  sistemas  de  classificação  artificiais  (e.g.  sistema  sexual  de  Carl  Linnaeus)  e  naturais  (e.g.   sistema   de   de   Candolle)   são   essencialistas   porque   pressupõem   um   mundo   biológico   constituído   por   espécies   9  Na  bibliografia  encontram-­‐se,  recorrentemente,  as  combinações  “estado-­‐de-­‐carácter  ancestral,  “estado-­‐de-­‐carácter  basal”,   “estado-­‐de-­‐carácter  derivado”,  “taxon  basal”,  “taxon  ancestral”  e  “taxon  derivado”.  
  • 12. 10   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   imutáveis  (volume  II).  Os  sistemas  fenéticos  são  uma  versão  tecnicamente  refinada  dos  sistemas  naturais.  Os   sistemas  de  classificação  evolutivos  e  cladísticos  integram  a  ideia  de  evolução.     Sistemas  artificiais   Carl   Linnaeus   [1707-­‐1778],   Carlos   Lineu   em   português,   foi   um   médico,   botânico,   zoólogo   e   mineralogista   sueco 10 .  É  considerado  uma  das  personagens  mais  determinantes  da  história  da  biologia  pelos  historiadores  de   ciência   (Mayr, 1989).   A   sistemática   botânica   e   zoológica   moderna   nasceu   em   duas   das   suas   publicações.   A   primeira   edição   do   Species   Plantarum,   de   1773,   e   a   décima   edição   do   Systema   Naturae,   uma   obra   em   dois   volumes  publicada  entre  1758  e  1759,  são  consideradas,  respectivamente,  o  ponto  de  partida  da  nomenclatura   sistemática   botânica   (vd.   Nomenclatura   biológica   clássica)   e   zoológica.   O   uso   da   nomenclatura   binomial   na   taxonomia  biológica  generalizou-­‐se  após  a  publicação  da  primeira  edição  do  Species  Plantarum,  embora  Lineu,   numa  fase  inicial  do  seu  trabalho  científico,  não  a  tenha  valorizado  e  aplicado  de  forma  sistemática  (Blunt, 2001).   A  invenção  da  nomenclatura  binomial  é  anterior  a  Lineu,  deve-­‐se  a  Caspard  Bauhin  [1560-­‐1624),  um  médico  e   botânico   suíço   de   origem   francesa.   Os   binomes   específicos   substituíram   a   nomenclatura   polinomial   que   se   caracterizava   pelo   uso   de   um   nome   genérico,   sucedido   por   um   número   variável   de   palavras   a   descrever   a   morfologia,  corologia  e/ou  a  autoria  da  descrição  original  das  espécies.  A  nomenclatura  binomial  tem  a  vantagem   de  ser  mais  fácil  de  memorizar,  de  acelerar  as  trocas  de  informação,  e  de  ser  mais  estável  e  menos  sujeita  a  erros   do   que   a   nomenclatura   polinomial.   Através   do   nome   genérico   expressa   e   resume   relações   evolutivas   e   de   similaridade  morfológica  de  enorme  utilidade  prática.   Lineu  estabeleceu  três  reinos  –  Regnum  Animale  (reino  animal),  Regnum  Vegetabile  (reino  vegetal)  e  Regnum   Lapideum  (reino  mineral)  –  que  até  há  bem  pouco  tempo  eram  ensinados  nos  curricula  escolares  portugueses.   Considerou   cinco   categorias   taxonómicas   fundamentais   que   permanecem   em   uso   na   nomenclatura   biológica   moderna:   o   reino,   a   classe,   a   ordem,   a   família   e   o   género.   Lineu   defendeu   que   a   categoria   taxonómica   fundamental   dos   sistemas   de   classificação   é   a   espécie   e,   muito   antes   emergência   da   moderna   biologia   da   evolução,  que  a  coesão  morfológica  dos  indivíduos  coespecíficos  se  devia  ao  sexo.  A  importância  de  Lineu  na   história  da  biologia  deve-­‐se  quer  às  suas  contribuições  científicas,  quer  à  doutrinação  de  um  núcleo  coeso  de   discípulos  que  disseminaram  as  suas  ideias,  métodos  e  publicações.  Não  deixa  de  ser  significativo  que  o  Systema   Naturae  esteja  exposto  numa  das  estantes  da  casa  que  Charles  Darwin  habitou  durante  grande  parte  da  sua  vida.   O   sistema   de   classificação   sexual   lineano   está   descrito   logo   na   primeira   edição   do   Species   Plantarum   (vd.   Figura   1A).   Lineu   reconheceu   24   classes   no   reino   das   plantas   com   base   na   presença   ou   ausência,   número,   comprimento  e  concrescência  dos  estames,  e  ainda  na  sua  adnação  ao  pistilo.  O  sistema  lineano,  embora  tenha   uma  inegável  utilidade  prática,  produz  grupos  de  plantas  dissimilares  de  baixo  valor  extrapolativo:  a  partir  das   10  A  vida  e  obra  de  Carl  Linnaeus  pode  ser  explorada  em  http://www.linnaeus.uu.se/online/index-­‐en.html.     A   B   C   Figura  2. Três  personagens  chave  da  história  da  sistemática:  A)  Carl  Linnaeus  [1707-­‐1778];  B)  Charles  Darwin   [1809–1882];  C)  Willi  Hennig  [1913-­‐1976]   A   B   C  
  • 13. 11   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   características  de  um  elemento  do  grupo,  não  é  possível,  a  priori,  antever  as  características  mais  marcantes  na   forma  de  cada  um  dos  restantes  elementos  que  o  compõem.  Diz-­‐se  que  é  um  sistema  de  classificação  artificial   porque  se  baseia  num  número  reduzido  e  arbitrário  de  características  de  fácil  observação  (vd.  Quadro  1).   Sistemas  naturais  e  sistemas  fenéticos   Os  sistemas  naturais  de  classificação  foram  uma  reação  à  incapacidade  do  sistema  sexual  lineano  revelar  a   scala  naturae  aristotélica  (vd.  Volume  II).  Fundam-­‐se  no  princípio,  confirmado,  de  que  a  utilização  de  um  grande   número  de  caracteres  origina  classificações  mais  intuitivas,  e  de  maior  valor  extrapolativo,  do  que  os  sistemas   artificiais  (vd.  justificação  em  Sistemas  evolutivos).  Muitos  dos  defensores  destes  sistemas  consideravam  ainda   que  os  caracteres  taxonómicos  não  devem  ser  pesados  (a  todos  deve  ser  dada  a  mesma  importância)  e  que  as   plantas   devem   ser   organizadas   nas   Floras 11   de   forma   natural,   conceito   que   na   altura   expressava   a   sua   semelhança.   Os   fundamentos   teóricos   dos   sistemas   naturais   de   classificação   foram   originalmente   estabelecidos   pelo   botânico   francês   Michel   Adanson   [1727-­‐1806].   No   Genera   Plantarum,   A.-­‐L.   de   Jussieu   [1748-­‐1836]   fez   uma   síntese   das   ideias   de   Adanson   com   o   sistema   de   nomenclatura   binomial   lineano.   Os   sistemas   naturais   de   Augustin   de   Candolle   [1778-­‐1841]   e   de   G.   Bentham   [1800-­‐1884]   e   J.   D.   Hooker   [1817-­‐1911]   são   os   mais   relevantes   para   a   história   da   botânica.   As   principais   características   dos   sistemas   artificiais   e   naturais   estão   explicitados  no  quadro  1.   Os  sistemas  de  classificação  fenéticos,  em  voga  nos  anos  60  e  70  do  séc.  XX,  são  um  refinamento  dos  sistemas   de  classificação  naturais.  Caracterizam-­‐se  por  reunir  um  grande  número  de  caracteres,  geralmente  tratados  com   o  mesmo  peso,  em  matrizes  de  grande  dimensão  que  posteriormente  são  corridas  em  programas  informáticos  de   classificação.  Os  programas  de  classificação  fenética  geram  classificações  de  elevado  valor  extrapolativo,  muitas   vezes  próximas  das  produzidas  pelos  programas  de  classificação  cladística  (vd.  Sistemas  cladísticos).  A  escolha   dos  algoritmos  de  classificação  determina  os  resultados  das  classificações  fenéticas.  Por  conseguinte,  os  sistemas   fenéticos  não  envolvem  ganhos  significativos  de  objetividade  frente  aos  sistemas  naturais  e  evolutivos.  Por  outro   lado   correm   o   risco   de   produzir   classificações   artificiais,   agregando   indivíduos   semelhantes   por   convergência   evolutiva.  Os  métodos  automáticos  de  classificação  fenética  continuam  em  uso  nos  trabalhos  de  taxonomia  à   11  O  termo  “Flora”,  em  maiúsculas,  refere-­‐se  aos  livros  de  botânica  que  descrevem  em  pormenor,  com  recurso  frequente  a   chaves  dicotómicas,  as  plantas  de  um  dado  território;  e.g.  foram  publicadas  quatro  Floras  de  Portugal,  sendo  a  primeira  a   Flora  Lusitanica,  datada  de  1804,  da  autoria  de  Félix  de  Avelar  Brotero  [1744-­‐1828].  Em  minúsculas  –  flora  –  designa  um   conjunto  de  espécies,  e  de  categorias  subespecíficas,  de  um  território;  e.g.  a  flora  das  ilhas  Berlengas  compreende  com  4  taxa   endémicos:   Armeria   berlengensis   (Plumbaginaceae),   Echium   rosulatum   subsp.   davaei   (Boraginaceae),   Herniaria   lusitanica   subsp.  berlengiana  (Caryophyllaceae)  e  Pulicaria  microcephala  (Asteraceae).   Figura  3. Capas  da  primeira  edição  do  Species  Plantarum  e  da  décima  edição  do  Sistema  Naturae  de   Carl  Linnaeus  [1707-­‐1778].  Resumo  do  método  sexual  de  lineano  (desenho  de  G.D.  Ehret,  1736)  
  • 14. 12   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   escala  da  espécie  ou  de  categorias  infra-­‐específicas.  A  classificação  fenética  de  grupos  de  categoria  superior  caiu   em  desuso.   Sistemas  evolutivos   A   incorporação   da   teoria   Darwiniana   da   evolução   alterou   radicalmente   o   propósito   dos   sistemas   de   classificação.   Os   autores   dos   sistemas   naturais   procuravam   obter   grupos   morfologicamente   consistentes;   nos   sistemas  de  classificação  evolutivos  (=  sistemas  filogenéticos 12 )  passou  a  ser  prioritário  que  os  taxa  refletissem   relações  de  parentesco  (=  relações  filogenéticas),  i.e.  proximidade  evolutiva.   O   fenótipo   dos   indivíduos   é   um   resíduo   histórico   de   um   processo   evolutivo.   Os   taxa   (e.g.   espécies)   evolutivamente  próximos,  i.e.  de  divergência  recente,  têm  tendência  a  partilhar  mais  caracteres,  e  a  serem  mais   semelhantes  entre  si,  do  que  os  taxa  pouco  aparentados.  “On  my  theory,  the  unity  of  type  is  explained  by  unity  of   descent”,  escreveu  Darwin  na  Origem  das  Espécies  (Darwin, 1859).  A  similaridade  morfológica  reflete  ainda,  com   frequência,   proximidade   genética.   Os   exemplos   de   correlação   positiva   da   similaridade   morfológica   com   o   parentesco  e  a  proximidade  genética  abundam  na  natureza  porque  a  forma  tem  uma  elevada  inércia  evolutiva:   as  mudanças  morfológicas  radicais,  ocorridas  em  espaços  de  tempo  muito  curtos,  são,  por  regra,  negativamente   selecionadas.   Não   surpreende,   por   isso,   que   as   classificações   evolutivas,   sobretudo   a   nível   familiar   ou   infrafamiliar,   não   difiram   significativamente   das   classificações   naturais.   Pela   mesma   razão,   convém   desde   já   referir  que  os  taxonomistas  naturais  do  século  XIX,  secundados  pelos  taxonomistas  evolucionários  do  séc.  XX,   sem   ou   com   conhecimentos   elementares   de   embriologia,   de   fitoquímica   e   de   taxonomia   molecular   foram   capazes  de  antecipar  uma  parte  muito  significativa  dos  taxa  propostos  pela  sistemática  botânica  cladística  do   final   do   séc.   XX,   início   do   séc.   XXI.   Com   Darwin   o   conceito   de   grupo   natural   sofre   uma   profunda   mudança,   acabando  por  ser  sinonimizado  com  grupo  monofilético  pelos  cladistas.     Os   sistemas   naturais   e   evolutivos   são   herdeiros   diretos   de   uma   tradição   botânica   europeia,   por   razões   geográficas  de  início  pouco  consolidada  nos  territórios  tropicais  de  maior  diversidade  taxonómica.  Enquanto  a   flora  holártica 13  foi  segmentada  num  elevado  número  de  géneros  e  famílias,  a  flora  tropical  foi  tratada  de  uma   12  Esta  designação  é  dúbia  porque  alguns  autores  aplicam-­‐na  aos  sistemas  cladísticos.   13  Regiões  de  clima  polar,  boreal,  temperado  e  mediterrânico  do  hemisfério  norte.   Quadro  1.  Principais  características  dos  grandes  tipos  de  sistemas  de  artificiais  e  naturais   Sistemas  de  classificação   Principais  características   Sistemas  de  classificação   artificiais   Reduzido  número  de  caracteres  de  fácil  observação;   Geralmente  agrupam  plantas  filogeneticamente  não  relacionadas,   morfologicamente  dissemelhantes;   Baixo  valor  extrapolativo;   Grande  estabilidade;   Fácil  identificação  dos  grupos.   Sistemas  de  classificação   natural  (inc.  sistemas   fenéticos)   Elevado  número  de  caracteres,  consequentemente  exigem  grandes  quantidades   de  informação  morosa  de  obter;   Organização  das  plantas  em  grupos  morfologicamente  consistentes;   Frequentemente  agrupam  plantas  filogeneticamente  próximas;   Pelo  facto  de  valorizarem  de  igual  modo  homologias  e  analogias  podem  produzir   grupos  artificiais  (de  taxa  não  aparentados);   Elevado  valor  preditivo;   O  aumento  do  conhecimento  botânico  repercute-­‐se  na  organização  dos  grupos   –  maior  instabilidade;   A  identificação  dos  grupos  pode  ser  difícil  na  prática  taxonómica.  
  • 15. 13   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   forma   francamente   mais   conservadora   por   estes   sistemas   de   classificação.   O   grande   número   de   géneros   descritos,  e  ainda  aceites,  nas  Apiaceae  está  relacionado  com  a  sua  elevada  diversidade  no  hemisfério  norte.  Por   outro   lado,   muitas   das   famílias   morfologicamente   bem   caracterizadas   e   fáceis   de   reconhecer   nos   territórios   holárticos,   admitidas   pelos   sistemas   naturais   e   evolutivos,   entravam   em   conflito   nos   espaços   tropicais.   Assim   aconteceu,  por  exemplo,  com  os  conceitos  tradicionais  de  Verbenaceae  e  de  Lamiaceae  ou  de  Apiaceae  e  de   Araliaceae.   Para  que  os  sistemas  de  classificação  evolutivos  e  cladísticos  (vd.  Sistemas  cladísticos)  resumam,  de  forma   fidedigna,   relações   de   parentesco   entre   taxa   é   necessário   usar   caracteres   submetidos   a   um   estrito   controlo   genético  e  avaliar  corretamente  a  sua  polaridade.  Ao  invés  dos  sistemas  naturais,  nestes  sistemas  classificação  a   importância   dos   caracteres   taxonómicos   é   diferenciada:   valorizam-­‐se   os   caracteres   que   a   priori   se   supõe   veicularem  informação  útil  para  estabelecer  relações  de  parentesco.  A  estimativa  da  polaridade  dos  caracteres,   um  termo  introduzido  pela  cladística  moderna,  consiste  na  discriminação  dos  estados-­‐de-­‐carácter  ancestrais  dos   estados-­‐de-­‐carácter  derivados.  Esta  etapa  é  essencial  para  identificar  eventuais  inversões  de  caracteres  (retornos   a  estados-­‐de-­‐carácter  ancestrais)  e  fenómenos  de  convergência  evolutiva,  tão  frequentes  nas  plantas  terrestres.   Neste   processo   ganhou   uma   particular   importância   a   investigação   do   registo   fóssil   e   o   estudo   morfológico   comparado  das  plantas  atuais,  sobretudo  nas  regiões  de  clima  tropicais,  onde,  corretamente,  se  supunha  estar   refugiada  uma  parte  significativa  das  plantas  atuais  mais  primitivas.   Os  sistemas  de  classificação  evolutivos  baseiam-­‐se  em  caracteres  morfológicos  sopesados  e  polarizados  de   forma  intuitiva.  Os  caracteres  moleculares  não  eram  conhecidos  ou  foram  desvalorizados.  Como  mais  adiante  se   refere,   a   informação   molecular   transporta,   em   si,   imensa   informação   essencial   para   estabelecer   relações   de   parentesco,   complementar   da   informação   morfológica.   Consequentemente,   a   distinção   entre   similaridades   morfológicas  devidas  à  partilha  de  ancestrais  comuns  (homologias)  ou  à  convergência  evolutiva  (analogias)  nem   sempre  foi  resolvida  de  forma  adequada.  Sendo  a  convergência  evolutiva  recorrente  nas  plantas  terrestre,  os   sistemas  evolutivos  não  evitaram  a  definição  de  um  significativo  número  de  taxa  artificiais.  Embora  rejeitem  os   grupos   polifiléticos,   a   monofilia   não   é   obrigatória   nos   sistemas   de   classificação   evolutivos,   sendo   tolerados   grupos  parafiléticos  (vd.  Figura  1).   Os  botânicos,  desde  Jussieu  até  à  emergência  dos  sistemas  cladísticos,  no  final  do  século  XX,  foram  incapazes   de  alcançar  uma  classificação  natural  nas  categorias  suprafamiliares.  As  categorias  superiores  então  propostas   não  eram  homogéneas  do  ponto  de  vista  morfológico  e/ou  envolviam  hipóteses  especulativas.  Por  exemplo,  no   sistema   de   Adolf   Engler   [1844-­‐1930]   e   Karl   Prantl   [1849-­‐1893],   o   mais   completo   dos   primeiros   sistemas   de   classificação  evolutiva  das  plantas,  foi  assumido,  no  âmbito  das  dicotiledóneas  (classe  Dicotyledoneae),  que  as   plantas  de  flores  apétalas  eram  as  mais  antigas,  e  que  os  grupos  de  plantas  de  corola  livre  (dialipétalas)  eram   anteriores  aos  de  pétalas  concrescentes.  Esta  interpretação  das  tendências  evolutivas  do  perianto  foi  formalizada   ao  nível  da  subclasse  e  da  ordem.  Como  a  evolução  do  perianto  está  permeada  de  inversões  de  caracteres  e  de   convergências   evolutivas,   muitos   dos   taxa   suprafamiliares   reconhecidos   por   Engler   &   Prantl   eram   artificiais.   Como  se  veio  a  verificar  a  partir  dos  anos  1990,  a  morfologia  externa  é  insuficiente  para  resolver  a  filogenia  das   plantas-­‐terrestres  e  a  similaridade  morfológica  falha  clamorosamente  este  objetivo  a  níveis  suprafamiliares.   Os  sistemas  evolutivos  continuam  a  ser  usados  quando  se  pretende,  mais  do  expor  relações  filogenéticas,   organizar   e   expressar   a   diversidade   biológica   de   uma   forma   estável,   fácil   de   memorizar.   Recorde-­‐se   que   a   consistência  morfológica  dos  grupos  propostos  pelos  sistemas  evolutivos  é,  geralmente,  elevada.  A  maior  das   Floras   manuseadas   pelos   botânicos   e   floristas   da   atualidade   arranjam   as   espécies   de   acordo   com   algum   dos   seguintes   sistemas   de   classificação   evolutivos:   diferentes   versões   do   Sistema   de   Engler   e   Prantl,   e.g.   Flora   Europaea  (Tutin, 1964-1980)  e  Nova  Flora  de  Portugal  (Franco, Nova Flora de Portugal (Continente e Açores), 1971 e 1984) (Franco & Rocha Afonso, Nova Flora de Portugal (Continente e Açores), 1994 e 1998);  sistema  de   G.L.   Stebbins,  e.g.  Flora  Iberica  (Castroviejo, 1986+);  ou  Sistema  de  A.  Cronquist,  e.g.  Flora  of  North  America   (Flora of North America Editorial Committee, 1993+).  A  opção  pelos  sistemas  evolutivos  dependeu  sempre  mais  
  • 16. 14   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   do   reconhecimento   científico   dos   seus   autores,   i.e.   de   um   argumento   de   autoridade 14 ,   do   que   de   razões   objetivas.   Subclasse   Características   Nº  de   famílias   Nº  aprox.  de   espécies   Magnoliidae     Plantas  arcaicas;  flores  frequentemente  acíclicas   ou  hemicíclicas.   39   >  12.000   Hamameliidae 15   Plantas  arcaicas;  flores  muito  reduzidas  de   geralmente  polinização  anemófila.   25   >  3.400   Caryophyllidae   Herbáceas  com  betalaínas  (classe  de  pigmentos   vermelhos  ou  amarelos  derivados  do  indol);   placentação  central  livre  ou  tipos  derivados.   14   >  11.000   Dilleniidae   Alguma  simpetalia;  apocarpia  rara;  placentação   normalmente  parietal.   77   >  25.000   Rosidae   Folhas  frequentemente  compostas  com  estípulas;   polipetalia  frequente;  estames  numerosos.   117   >  60.000   Asteridae   Geralmente  simpétalas,  com  estames  em  número   igual  ou  inferior  ao  número  de  lóbulos  da  corola.   49   >  60.000     O  sistema  proposto  pelo  botânico  norte-­‐americano  Arthur  Cronquist  [1919-­‐1992]  foi,  talvez,  o  mais  influente   sistema  de  classificação  evolutivo  das  plantas-­‐com-­‐flor  na  segunda  metade  do  século  XX.  O  não  menos  conhecido   sistema   de   Armen   Takhtajan   [1910-­‐2009],   um   botânico   soviético/arménio,   é   muito   próximo   do   sistema   de   Cronquist.   Cronquist   dividiu   a   plantas-­‐com-­‐flor   –   Divisão   Magnoliophyta   –   em   duas   classes:   Magnoliopsida   e   Liliopsida 16 .   As   Magnoliopsida   foram   repartidas   por   seis   classes   (vd.   quadro   2)   e   as   Liliopsida   por   cinco   (vd.   quadro  3).     A  subclasse  Hamameliidae,  um  grande  grupo  sistemático  de  plantas  com  flores  muito  modificadas,  adaptadas   à  anemofilia,  é  uma  das  debilidades  mais  evidentes  do  sistema.  Para  a  polinização  pelo  vento  ser  eficiente  os   grãos  de  pólen  têm  que  flutuar  no  ar,  e  o  movimento  dos  estigmas  e  dos  filetes  de  ar  em  torno  do  gineceu  deve   facilitar  a  captura  do  pólen.  Por  exemplo,  a  produção  de  folhas  antes  da  polinização,  a  rigidez  dos  pedicelos  das   flores   ou   dos   pedúnculos   das   inflorescências,   e   um   perianto   que   se   sobreponha   aos   estigmas   estorvam   este   modo   de   polinização.   O   cardápio   de   soluções   adaptativas   à   anemofilia   é   escasso,   consequentemente   a   convergência   evolutiva   dos   caracteres   das   inflorescências   e   flores   polinizadas   pelo   vento   é   muito   frequente.   Cronquist  defendeu  a  proximidade  filogenética  de  grande  parte  das  espécies  anemófilas.  Só  recentemente  as   técnicas  moleculares  demonstraram  a  extensão  dos  equívocos  taxonómicos  gerados  pela  convergência  evolutiva   entre   as   diferentes   linhagens   que   compõem   as   Hamameliidae.   De   facto   estudos   de   filogenia   molecular   demonstraram  que  2/3  das  ordens  e  1/3  das  famílias  definidas  por  A.  Cronquist  não  são  monofiléticas  (Stevens, 2001+).     14  Ou  argumento  de  apelo  à  autoridade  (lat.  argumentum  ad  verecundiam).  Sustentação  da  verdade  de  um  argumento  através   do  apelo  a  uma  autoridade.   15   As   grafias   Hamamelidae   ou   Hamamedidae,   tão   frequentes   na   bibliografia,   são   incorretas.   O   mesmo   acontece   com   Dillenidae.   16   Os   sistemas   mais   antigos   de   classificação   (e.g.   sistema   de   Engler   e   Prantl)   designam   as   monocotiledóneas   por   Monocotyledones   ou   Monocotyledoneae   e   as   dicotiledóneas   por   Dicotyledones   ou   Dicotyledoneae.   Estes   termos   são   correntemente  utilizados  sem  uma  referência  concreta  da  categoria  taxonómica.   Quadro  2.  Resumo  das  características  das  subclasses  de  dicotiledóneas  (Magnoliopsida)     do  Sistema  de  Cronquist  (Cronquist, 1981)  
  • 17. 15   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   Subclasse   Características   Nº  de   famílias   Nº  aprox.  de   espécies   Alismatidae   Plantas  herbáceas  aquáticas;  gineceu  apocárpico   16   >  500   Arecidae   Inflorescências  frequentemente  do  tipo  espádice  e   envolvidas  por  uma  espata;  flores  geralmente   pequenas   5   >  5.600   Commelinidae   Flores  geralmente  sem  néctar;  flores  pequenas;   famílias  basais  diploclamídeas  e  trímeras,  as  mais   evoluídas  de  flores  nuas  e  adaptadas  à  polinização   anemófila   16   >  16.200   Zingiberidae   Flores  geralmente  com  néctar  e  polinizadas  por   insectos  ou  outros  animais;  flores  por  regra   epigínicas  e  diploclamídeas   9   >  3.800   Liliidae   Flores  geralmente  com  néctar,  vistosas  e   polinizadas  por  insectos  ou  outros  animais;  flores   por  regra  monoclamídeas   19   >  25.000   Sistemas  cladísticos   A   cladística   foi   originalmente   proposta   pelo   entomólogo   alemão   Willi   Hennig,   em   1950.   Trata-­‐se   de   um   método  de  inferência  filogenética,  i.e.,  é  um  método  desenvolvido  para  gerar  hipóteses  sobre  as  relações  de   parentesco  entre  organismos  ou  grupos  de  organismos.  Baseia-­‐se  num  pressuposto  fundamental:  os  grupos  de   organismos  têm  de  reunir  todos,  e  apenas,  os  descendentes  de  um  ancestral  comum  (monofilia  obrigatória).  Em   cladística   os   grupos   monofiléticos   e   parafiléticos   são,   respectivamente,   designados   por   clados   (ing.   clade)   e   grados  (ing.  grade).  Os  clados  podem  ter,  ou  não,  uma  categorização  formal  (e.g.  ordem,  família  e  espécie),  i.e.   serem   convertidos   em   taxa.   Embora   os   grupos   polifiléticos   sejam   rejeitados   dos   sistemas   de   classificação   cladísticos,   os   grupos   parafiléticos   são   por   vezes   tolerados   por   razões   práticas,   ou   enquanto   as   relações   de   parentesco   não   são   totalmente   esclarecidas).   Os   grados   geralmente   representam-­‐se   com   aspas   simples;   e.g.   ‘angiospérmicas  basais’.   As  análises  cladísticas  produzem  cladogramas 17 ,  diagramas  que  expressam  graficamente  uma  hipótese  sobre   as  relações  de  parentesco  de  um  dado  conjunto  de  organismos  ou  grupos  de  organismos.  Os  cladograma  são,   portanto,  um  resumo  da  sua  história  evolutiva  (vd.  Quadro  4).  Nos  cladogramas  cada  ramo  apenas  se  pode  cindir   noutros  dois  ramos  (ramificação  dicotómicas);  os  nós  (pontos  onde  ocorrem  ramificações)  e  as  extremidades  dos   ramos  representam,  respectivamente,  eventos  de  divergência  evolutiva  e  um  grupo  monofilético  de  organismos.   Dois   clados   situados   lado   a   lado   num   cladograma   dizem-­‐se   irmãos   (grupos   irmãos,   ing.   sister   groups).   Um   cladograma  pode  ser  cortado  em  qualquer  ponto,  o  ramo  resultante  –  o  clado  –  inclui  necessariamente  todos  os   descendentes  de  um  dado  ancestral.           17  Os  cladogramas  e  as  árvores  fitogenéticas  não  devem  ser  confundidos.  As  árvores  filogenéticas  incluem  mais  informação  do   que  a  contida  numa  simples  matriz  de  caracteres,  como  acontece  nos  cadogramas.  Os  nós  representam  ancestrais  comuns   (nos  cladogramas  divergências  evolutivas)  e  as  extremidades  dos  ramos  taxa.   Quadro  3.  Resumo  das  características  das  subclasses  de  monocotiledóneas  (Liliopsida)   do  Sistema  de  Cronquist  (Cronquist, 1981)  
  • 18. 16   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   Conceito   Descrição   Apomorfia   Estado-­‐de-­‐carácter  derivado  (vd.  Conceitos  e  objetivos  da  taxonomia);  e.g.  a  dupla  fecundação  é   uma  apomorfia  das  angiospérmicas.     Autapomorfia   Apomorfia  exclusiva  de  um  grupo  de  organismos.   Clado     Grupo  monofilético  de  organismos:  inclui  o  ancestral  comum  e  todos  (e  apenas)  os  seus   descendentes     Cladograma   Representação  diagramática  de  uma  hipótese  sobre  as  relações  evolutivas  (=  filogenéticas)  de   um  dado  conjunto  de  organismos  vivos,  com  base  na  partilha  de  caracteres  de  evolução  recente   (apomorfias)   Espécie  ancestral   Espécie  que  deu  origem  a  pelo  menos  uma  espécie  filha  (ing.  daughter  species).   Grado   Grupo  parafilético   Grupo  irmão   Grupo  evolutivamente  próximo;  e.g.  uma  mesma  população  ancestral  especiou  e  deu  origem  à   espécie  ancestral  de  todas  as  Ceratophyllaceae  e  à  espécie  ancestral  de  todas  as   eudicotiledóneas  atuais,  por  conseguinte,  as  Ceratophyllaceae  são  o  grupo  irmão  de  todas  as   eudicotiledóneas  atuais  (e  vice-­‐versa).   Plesiomorfia   Estado-­‐de-­‐carácter  ancestral  (primitivo);  e.g.  a  semente  é  uma  autapomorfia  nas  espermatófitas   mas  uma  plesiomorfia  ao  nível  das  angiospérmicas.   Simplesiomorfia   Plesiomorfia  partilhada  por  mais  de  um  grupo  de  organismos.   Sinapomorfia   Apomorfia  partilhada  por  dois  ou  mais  grupos  que  indica  uma  ascendência  comum.     À  semelhança  da  fenética,  a  cladística  serve-­‐se  de  programas  computacionais  e  de  matrizes  de  caracteres   morfológicos,   anatómicos   (e.g.   presença   ou   ausência   de   vasos   xilémicos),   fisiológicos   (e.g.   fotossíntese   C4),   citogenéticos   (e.g.   inversões   cromossómicas)   e/ou   moleculares   (e.g.   presença   de   um   determinado   gene   ou   rearranjo  genético).  No  entanto,  admite-­‐se  que  os  algoritmos  cladísticos  modelam  mais  corretamente  a  forma   como   a   evolução   realmente   funciona.   Os   cladogramas   são   obtidos   a   partir   da   distribuição   de   caracteres   derivados   partilhados,   i.e.   de   sinapomorfias   (vd.   Quadro   4).   Os   caracteres   ancestrais   (plesiomorfias)   são   descartados  porque  não  contêm  informação  útil  para  estabelecer  relações  de  parentesco:  o  seu  uso  poderia  dar   origem  a  grupos  parafiléticos  ou  polifiléticos.  Por  exemplo,  a  presença  de  gametófitos  femininos  ou  monoicos   livres  é  uma  plesiomorfia  das  pteridófitas  e  briófitas;  um  grupo  assim  definido,  irmão  das  plantas-­‐com-­‐semente,   seria   parafilético.   A   determinação   dos   estados-­‐de-­‐carácter   ancestrais   (plesiomorfias)   e   derivados   (apomorfias)   envolve,   frequentemente,   decisões   subjetivas   sobre   a   polaridade   dos   caracteres.   Ainda   assim,   os   cladistas   servem-­‐se  de  técnicas,  cujo  estudo  pormenorizado  excede  os  objetivos  deste  livro,  que  tornam  esta  etapa  mais   objetiva  do  que  nos  sistemas  evolutivos.   Como  se  referiu  anteriormente,  os  cladogramas  são  o  produto  final  de  uma  análise  cladística.  Quanto  maior  o   número  de  caracteres  e  de  estados-­‐de-­‐carácter  envolvidos  numa  análise,  maior  o  número  de  soluções  possíveis.   Por   outro   lado,   diferentes   algoritmos   produzem   diferentes   resultados,   o   mesmo   acontecendo   quando   se   eliminam   ou   adicionam   caracteres   na   matriz   original.   Determinar   qual   o   melhor   cladograma,   i.e.   qual   o   cladograma   que   melhor   retrata   a   história   evolutiva   de   um   dado   grupo   de   plantas,   é   uma   questão   chave   em   cladística.  Dois  princípios  são  usados  para  a  resolver:  o  princípio  da  congruência  e  o  princípio  da  parcimónia.  O   princípio  da  congruência  baseia-­‐se  numa  ideia  simples:  se  o  mesmo  resultado  –  o  mesmo  cladograma  –  é  obtido   com  dois  ou  mais  conjuntos  de  caracteres,  então  a  probabilidade  da  filogenia  obtida  ser  verdadeira  cresce.  O   cladograma  que  minimiza  o  número  de  transições  entre  estados-­‐de-­‐carácter  é  o  mais  parcimonioso.  O  princípio   da  parcimónia  é  crítico  porque  sendo  um  princípio  filosófico  (epistemológico),  produzido  pela  mente  humana,   nada   obriga   que   seja   seguido   nos   processos   evolucionários.   Por   outras   palavras,   a   natureza   não   é   Quadro  4.  Conceitos  fundamentais  de  cladística    
  • 19. 17   Escola  Superior  Agrária  de  Bragança  -­‐  Botânica  para  Ciências  Agrárias  e  do  Ambiente   necessariamente  parcimoniosa,  embora  tendencialmente  o  seja.  As  homologias  e,  implicitamente,  as  analogias,   são  determinadas  a  posteriori  pela  análise  da  partilha  de  caracteres  ao  longo  do  “melhor”  cladograma.   Os  princípios  da  congruência  e  da  parcimónia  conjugam-­‐se  na  chamada  reamostragem  por  bootstrap  (ou  em   métodos  similares,  e.g.  jackknife).  Este  processo  inicia-­‐se  com  a  construção  de  pseudoreplicações  (cladogramas   parciais)  a  partir  de  uma  amostra  (parcial)  aleatória  de  caracteres  da  matriz  original  de  caracteres  (mantendo  a   dimensão  da  matriz  original).  Em  cada  pseudoreplicação  é  selecionado  o  cladograma  mais  parcimonioso.  Depois   de   repetir   o   processo   um   determinado   número   de   vezes   (e.g.   mil   repetições)   o   resultado   é   sumarizado   num   cladograma   de   consenso   (árvore   de   consenso)   sendo   possível   aferir   a   incerteza   associada   a   cada   clado.   Uma   percentagem   de   bootstrap   de   95%   significa   que   o   clado   em   causa   surgiu   em   95   de   100   pseudoreplicações   (Kitching  et  al.,  1998).   Embora   a   importância   dos   dados   moleculares   em   cladística   seja   inquestionável,   a   morfologia   externa,   sobretudo   ao   nível   da   flor,   permanece   essencial,   talvez   ainda   mais   importante   do   que   no   passado,   no   esclarecimento  das  afinidades  evolutivas  das  plantas (Ronse De Craene, 2010).  Por  duas  razões.  A  escassez  de   caracteres   morfológicos   e   a   abundância   de   convergências   evolutivas   que   os   caracteriza   é   mais   do   que   compensada   pela   informação   filogenética   útil   que   transportam.   Ao   contrário   do   que   ocorre   com   muitos   caracteres  moleculares,  os  caracteres  morfológicos  são  funcionalmente  relevantes  tendo,  por  essa  razão,  sido   moldados   pela   seleção   natural.   Como   se   referiu   no   volume   II   a   seleção   foi,   e   é,   o   principal   mecanismo   da   evolução.  A  conjunção  da  informação  molecular  com  a  informação  morfológica  no  estabelecimento  de  filogenias   choca,   porém,   com   a   falta   de   uma   terminologia   estandardizada   de   uso   comum,   de   um   método   comum   estandardizado  de  descrição  morfológica,  e  de  um  conjunto  de  princípios  a  aplicar  na  delimitação  de  caracteres   morfológicos  (Voght, Bartolomaeus, & Giribet, 2009).   Os   sistemas   de   classificação   cladísticos   apresentam   três   grandes   vantagens   frente   aos   sistemas   de   classificação   evolutivos   tradicionais:   (i)   robustez   –   à   medida   que   as   relações   filogenéticas   são   clarificadas   a   circunscrição   e   a   nomenclatura   dos   taxa   tende   a   estabilizar;   (ii)   reprodutibilidade   –   diferentes   investigadores   obtêm   os   mesmos   resultados   se   utilizarem   os   mesmos   dados   iniciais;   (iii)   objetividade   –   envolvem   menos   assunções   intuitivas.   Os   sistemas   cladísticos   oferecem   ainda   hipóteses   explícitas   e   testáveis,   por   exemplo,   de   relações  evolutivas,  biogeografia  e  ecologia.  A  escolha  dos  algoritmos  tem  menos  impacto  nos  resultados  finais   em  cladística  do  que  nos  sistemas  fenéticos.   A   cladística   é   o   método   standard   de   inferência   filogenética   em   biologia   evolutiva.   Consequentemente,   a   substituição  dos  sistemas  classificação  evolutivos  pelos  sistemas  de  classificação  que  emergem  destas  a  análises   é  inevitável.  As  classificações  cladísticas  têm,  porém,  uma  enorme  desvantagem  prática.  Ao  produzirem  a  melhor   estimativa   das   relações   evolutivas   podem   dar   origem   a   grupos   morfologicamente   inconsistentes,   pouco   intuitivos,  que  dificultam  a  sua  apreensão  pelos  não  especialistas.   Um   cladograma   pode,   ou   não,   ser   vertido   numa   classificação   hierárquica   formal   (vd.   Nomenclatura   filogenética).   Desde   que   se   obedeça   ao   princípio   da   monofilia,   é   indiferente   arrumar   as   angiospérmicas   ou   qualquer  outro  taxa  superior  numa  divisão,  numa  classe  ou  numa  subclasse.  O  mesmo  se  pode  dizer  a  respeito,   por   exemplo,   da   subfamília,   família   e   superfamília.   A   cladística   trouxe   objetividade   à   taxonomia,   porém   a   categorização  dos  taxa  supra-­‐específicos  continua  a  residir  num  argumento  de  autoridade.   Sistemática  molecular   A  sistemática  molecular  é  uma  extensão  da  cladística  porque  pressupõe  uma  monofilia  absoluta  dos  taxa.   Envolve,   porém,   técnicas,  algoritmos  e  estatísticas  que  vão  muito  mais  além  das  descritas  no  ponto  anterior.   Toma  como  informação  base  sequências  homólogas  (com  uma  ancestralidade  comum)  de  DNA.  Estas  sequências   são  alinhadas  e  a  sucessão  de  nucleótidos  comparada  com  algoritmos  apropriados.  A  sistemática  molecular  é  um   corolário   da   filogenia   molecular,   i.e.   do   estudo   das   relações   de   parentesco   com   base   em   informação   a   nível   molecular.   A  sistemática  molecular  sofre  dos  mesmos  constrangimentos  da  cladística  clássica.  Por  exemplo,  a  polarização   dos  caracteres,  particularmente  difícil  com  dados  moleculares,  determina  a  estrutura  dos  cladogramas.  A  estes