Este documento discute o perfil do profissional de gerenciamento de projetos, definindo-o como especialista ou generalista e destacando as habilidades técnicas e comportamentais essenciais. Essas habilidades incluem negociação, antecipação, comunicação, liderança e ética, sendo esta última a mais influente. O autor argumenta que é necessário um consenso sobre o perfil do gerente de projetos, equilibrando habilidades técnicas e comportamentais.
1. O profissional de Gerenciamento de Projetos
por Giovanni Giazzon
http://giazzon.net | giazzon@yahoo.com.br | @giazzon
Por se tratar, hoje, de uma função mais que uma profissão, o Gerente de Projeto é interpretado de
diversas formas. E esta diversidade de conceitos sobre o profissional também é refletido nos diferentes
perfis em atuação no mercado. Apesar das habilidades técnicas estarem em processo de senso comum
por organizações como o Project Management Institute – PMI, não há um foco ou tampouco um
consenso sobre as habilidades comportamentais.
O objetivo deste artigo é delinear o Gerente de Projeto como profissional, marcando um ponto comum
sobre as definições Especialista e Generalista e consolidar as habilidades comportamentais que mais o
influencia. É um trabalho inicial e sem cunho científico, uma motivação por constatar a falta de uma
visão comum sobre o assunto.
Nota do autor: Durante a construção deste artigo, o profissional Ricardo Vargas publicou um videocast
sobre o mesmo tema, intitulado “O perfil profissional do Gerente de Projeto”. É uma visão sucinta mas
bastante próxima do que é discutido aqui. O video está disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=Pa4pFoMadrE.
1. Quem é o Gerente de Projeto?
No início de um treinamento em Gerenciamento de Projetos eu costumo dizer: É algo que você já faz
há muito tempo; somos todos Gerentes de Projeto por natureza. Não é uma ciência nova, mas comum
e do dia-a-dia. É planejar, executar e controlar algo que será encerrado. Fazer acontecer o que quer
que seja.
E o profissional em Gerenciamento de Projetos é um especialista em fazer acontecer. Ele otimiza o que
é de conhecimento comum e aplica, de forma coerente, o que há de melhor em técnicas e ferramentas
para a condução de um empreendimento. A sua função é viabilizar a transformação de um plano em
realidade.
A organização delega ao Gerente de Projeto a responsabilidade de fazer acontecer. Cabe a ele garantir
que o empreendimento será concluído. Independentemente da estrutura organizacional, da autonomia
que lhe é concedida, enfim, de qualquer aspecto do ambiente onde o projeto será executado, a
responsabilidade é do Gerente de Projeto.
É sobre esta responsabilidade que serão aplicadas as técnicas corretas, os conhecimentos corretos. Não
há receita de bolo. Da mesma forma que todo projeto é único, assim é a sua execução.
2. Generalista ou Especialista?
Há um debate constante na comunidade de Gerenciamento de Projetos sobre o Gerente de Projeto ser
especialista ou generalista. Especialista é o profissional que tem, em sua maioria, formação,
conhecimento e experiência técnica na área de atuação do projeto. Gerir o mesmo é uma designação.
O generalista detém um vasto conhecimento em Gerenciamento de Projetos e é multi-disciplinar: atua
em qualquer área. Seu foco é fazer acontecer, o que quer que seja.
O conhecimento em Gerenciamento de Projetos é universal. As práticas, técnicas e ferramentas que
visam garantir o sucesso da sua conclusão podem ser empregadas independentemente da área de
atuação do projeto. O mesmo se aplica às habilidades essenciais de um Gerente de Projeto (ver ítem 3).
A decisão de designar um Gerente de Projeto especialista ou generalista deve levar em consideração
não o projeto em si, mas a estrutura colaborativa onde este será executado. Se a empresa dispõe de
um corpo funcional onde os aspectos técnicos podem ser definidos por profissionais dedicados, e se
2. esta mesma estrutura estiver disponível ao Gerente de Projeto, a designação de um generalista é um
trunfo para que o seu foco seja a realização do projeto.
Por exemplo, uma empresa de telecomunicações possui áreas específicas para definição das
necessidades de comunicação de dados, marketing e comunicação, financeiro e controladoria,
tecnologia da informação, relacionamento com o cliente, jurídico, etc. O desenvolvimento de um novo
produto irá envolver todas as áreas da organização. A designação de um Gerente de Projeto generalista
contribui para que haja um gerenciamento intra-departamental, ou seja, promovendo e consolidando a
participação de todas as áreas.
O mesmo pode ser aplicado em uma Fábrica de Software onde existem perfis colaborativos específicos
e dedicados a cada etapa de um projeto de software: Análise de Requisitos, Prototipação, Projeto,
Arquitetura, UI, Codificação, etc.
Nestas condições, um Gerente de Projeto generalista pode executar tanto um projeto de
telecomunicações quanto de software. Seu foco é fazer acontecer o empreendimento. A definição do
produto ou serviço que será gerado é uma etapa do projeto, assim como a sua construção e
lançamento.
O Gerente de Projeto especialista é designado em ambientes onde decisões técnicas fazem parte da
sua competência. Não há ao seu dispor uma equipe ou estrutura que permita o seu foco somente no
projeto, e este deve, também, participar efetivamente em questões relacionadas ao produto ou serviço
que será entregue. O seu conhecimento em Gerenciamento de Projetos não é, necessariamente,
limitado ou reduzido, mas a condução do projeto é naturalmente tendenciada/direcionada segundo a
sua experiência exclusiva na área de atuação.
O aspecto importante deste debate é garantir que ambos sejam profissionais em Gerenciamento de
Projetos. É deter os conhecimentos e habilidades que promovam o sucesso do projeto.
3. Habilidades técnicas e comportamentais
Conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, hábil é "quem tem a mestria de uma ou várias
artes ou um conhecimento profundo, técnico e prático de uma ou várias disciplinas". O profissional de
Gerenciamento de Projetos deve ser hábil em aspectos críticos que envolvem a condução de um
empreendimento. As habilidades que compõe o seu perfil são a sua formação e definirão o leque de
ações que o Gerente de Projeto aplicará ao longo da execução do projeto.
O Gerente de Projeto possui habilidades técnicas e comportamentais. As primeiras são aplicadas de
acordo com a complexidade do projeto e a metodologia da organização. Não existe um conjunto básico
nem tampouco uma obrigatoriedade. Cabe ao Gerente de Projeto decidir qual utilizar.
As habilidades comportamentais, por sua vez, são exigidas em qualquer tipo de projeto. A variação da
intensidade também depende de fatores como complexidade, tamanho e tipo de organização, mas
sempre serão necessárias. São características inerentes a qualquer empreendimento.
O objetivo aqui é listá-las em ordem crescente de influência e descrevê-las de forma sucinta. Há uma
literatura vasta na Internet para um maior aprofundamento.
3. Figura 1- Representação da influência das habilidades comportamentais do Gerente de Projeto
Negociação, Resolução de Conflito & Tomada de Decisão (N, RC & TD)
Seja para influenciar um direcionamento ou consensualizar uma divergência, negociações estão
presentes durante todo o ciclo de vida do projeto, envolvendo uma resolução de conflito (o motivo) e
finalizando com uma tomada de decisão.
De modo geral, rodadas de comunicação com equipe, stakeholders e fornecedores envolvem algum
tipo de negociação, resolução de conflito e tomada de decisão. Um profissional sem estas habilidades
pode não resolver situações que precedem algum desvio ou problema, impactando no sucesso do
projeto.
Antecipação
Em uma corrida de Fórmula 1, os carros são constantemente monitorados e as informações analisadas
à procura de algum indício de mal funcionamento, o que poderia ser um risco para a principal entrega
naquela etapa: terminar a prova na primeira colocação.
Gerenciar riscos é tratar questões não concretas antes que estas se transformem em problemas. Evitar
que algo desconhecido cause algum desvio é essencial para garantir o sucesso do projeto. Antecipação
é uma habilidade chave em Gerenciamento de Projetos. Procurar antecipar é se preocupar em não ser
surpreendido.
Comunicação
Garantir que a informação correta chegue ao receptor correto. Muitos problemas em projetos ocorrem
por interpretações equivocadas ou por informações repassadas de forma incompleta. Cabe ao Gerente
de Projeto garantir a fluidez e transparência das comunicações. Este deve ser, ao mesmo tempo, o
porta voz, mestre de cerimônia e o principal interlocutor.
Pró-atividade
Uma postura fortemente reativa inviabiliza qualquer gestão de risco. A prioridade do Gerente de
Projeto não deve ser resolver problemas, mas evitá-los primeiramente. A postura pró-ativa é um
combustível para a antecipação. É um perfil admirado em qualquer profissional e que demonstra
4. responsabilidade e comprometimento.
Liderança
Ter para si a responsabilidade em fazer acontecer, motivando os envolvidos através da sua empatia
mais do que sua autoridade. Liderança não é hierárquico e ser líder não é ser chefe, é ser um ponto de
referência para resolução de conflitos, tomadas de decisão, negociação, reporte de problemas e busca
de soluções. Liderança está sempre relacionado a pessoas, é um aspecto humano extremamente
positivo.
Ética
Não exatamente uma habilidade, mas uma característica e pré-disposição profissional, Ética é o
atributo mais influente de um Gerente de Projeto. Grande parte das suas ações e reações são baseadas
e tendenciadas conforme o que ele acredita ser aplicável à situação, organização, mercado ou mesmo
país. Postura, comunicação, capacidade de enfrentar situações críticas, tomadas de decisão e liderança
serão diferenciadas conforme os valores profissionais do Gerente de Projeto.
No artigo “A Ética, o Gerenciamento de Projetos e a Corrupção”, defendi que Ética seja considerada
uma área de conhecimento do PMBOK. É um assunto complexo, polêmico, mas essencial.
4. Próximos passos
Cabe à comunidade e ao mercado construir o consenso do perfil do Gerente de Projeto. É a visão do
profissional sobressaindo a visão da função, uma profissionalização evolutiva de algo que sempre
existiu e que talvez não tenha tomado forma até então.
Existe, hoje, um foco maior em habilidades técnicas em detrimento das habilidades comportamentais,
sendo que esta última tem uma abrangência maior na condução de um empreendimento. Não se trata,
portanto, de importância, mas da necessidade de equilíbrio.
No longo prazo, a dicussão tende a fortalecer o papel-chave do Gerente de Projeto, promovendo e
exigindo habilidades comportamentais, com foco naquilo que ele se dipõe primariamente: fazer
acontecer.