SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
Im prim ir () 
18/08/2014 - 05:00 
As provas de uma teoria 
Por Luiz Carlos Mendonça de Barros 
Aos 7 2 anos de idade minha v isão da economia brasileira parte sempre de uma leitura estrutural dos fatores 
principais que comandam sua dinâmica. Neste sentido procuro construir um futuro ainda hipotético a partir 
de mov imentos que entendo dev am influir progressiv amente no comportamento dos mercados. Este é um 
ex ercício quase solitário, pois o número de analistas com esta v isão da economia é muito menor do que o 
dos palpiteiros do dia a dia. 
Por isto, quando uma pesquisa de campo, como a realizada pelo diretor do Instituto Data Popular - e 
publicada pelo Valor na sua edição do último dia 1 3 -, confirma minha leitura do futuro, sinto um conforto 
muito grande. No final são dados reais caminhando na direção do cenário idealizado por mim há alguns anos. 
A entrev ista de Renato Meirelles trata dos efeitos da formalização do emprego, ocorrida principalmente a 
partir de 2005 entre os brasileiros das classes D e E. 
Este mov imento de formalização do trabalho das classes de renda mais baix a no Brasil ocorreu em dois 
momentos distintos: o primeiro, nos anos seguintes ao Plano Real, quando o número de brasileiros que 
v iv iam no espaço do emprego formal passou de 33% do total para 44%. O segundo momento ocorre a partir 
de 2005, quando a formalização v olta a ganhar força e chega a 67 % da população agora no final do mandato 
da presidente Dilma (v eja gráfico). Estudo recente realizado pela equipe do Banco Itaú mostra que este 
processo dev e se estabilizar quando atingir 7 0% da população brasileira, por v olta de 201 6. 
O cidadão que ingressa na econom ia form al passa a ter um futuro relativam ente previsível 
pela frente 
Minha conv ersão à tese de que v iv íamos realmente uma mudança estrutural importante na sociedade 
brasileira ocorreu em fins de 2008. Afinal o gráfico nesta página, construído pela equipe da Quest 
Inv estimentos em 2005, já falav a por si mesmo. A partir de 2008 minha preocupação foi procurar entender 
os efeitos que este nov o desenho da sociedade teria sobre as dinâmicas política e econômica em nosso país. 
Venho fazendo este ex ercício de forma continuada desde então e, por isto, a matéria do Valor tev e um 
impacto muito grande para mim. Afinal, uma pesquisa de campo, com credibilidade, mostrav a que meu 
ex ercício de abstração estav a correto e que poderia dar um passo adiante - mais ambicioso - nas minhas 
prev isões. 
Antes de fazê-lo v ou mostrar ao leitor quais as mudanças importantes que a passagem de um brasileiro 
comum da informalidade para a formalidade econômica traz no seu comportamento como cidadão. Creio ter 
encontrado uma ideia que resume de forma sintética estas mudanças: o cidadão na economia formal passa a 
ter um futuro relativ amente prev isív el pela frente. Entendo como um futuro relativ amente prev isív el o fato 
de ter um contrato formal de trabalho que lhe permite ter acesso, entre outros, a programas sociais como 
FGTS e PIS/Pasep, ao credito bancário e, principalmente, ao direito de ter seu salário corrigido anualmente 
com base na inflação passada e, em certos períodos, com um ganho real no v alor de seu salário. Apenas o 
fantasma do desemprego pode mudar este quadro.
A formalização do trabalho, em uma sociedade em que o nív el de consumo tem um v alor muito forte, 
responde por grande parte do boom de consumo do segundo mandato do presidente Lula. A sincronia destas 
mudanças com o aumento da confiança do sistema bancário na economia acelerou ainda mais seu 
crescimento. Entre 2006 e 2008, as v endas ao v arejo nas regiões Norte e Nordeste chegaram a crescer a 
tax a anuais superiores a 1 5%. Na esteira deste aumento do consumo seguiu-se um aumento significativ o do 
inv estimento na medida em que as empresas mais conserv adoras passaram a perder fatias de mercado. E a 
economia brasileira - e o gov erno do PT - v iv eram anos de ouro. 
Deix o de lado a questão econômica e v olto agora a especular 
sobre os efeitos defasados no tempo que esta formalização do 
emprego terá sobre a sociedade brasileira. Mais uma v ez recorro a 
entrev ista do presidente do Data Popular ao Valor para reforçar 
minha tese de que a formalização do emprego trará mudanças no 
comportamento político destes brasileiros e na sua forma de 
av aliar o Estado. Renato Meirelles cita, por ex emplo, o fato de que 
pela primeira v ez estes brasileiros estão encarando de frente os 
impostos cobrados em seus salários. 
"A fav ela cresceu junto com a economia e esse cara passou a pagar imposto na fonte. Ele não tem noção de 
imposto indireto. Então, ele não sabia o que era pagar imposto. Agora sabe. Com isso, passa a cobrar mais 
dos serv iços públicos. Deix a de entender serv iço público como um fav or do gov erno e passa a entender 
como uma contrapartida pelo que ele paga. Isso é ótimo. Ele não quer mais cesta básica. Quer plano nacional 
de banda larga. Não quer dentadura. Quer ProUni". 
Esta é uma diferença fundamental para que possamos entender o Brasil dos próx imos anos. Quando o 
cidadão não tem futuro somente o gov erno pode garantir a ele alguma segurança em relação ao futuro; 
quando ele passa a ter o emprego formal e começa a pagar impostos ao gov erno esta lógica se inv erte, 
principalmente na situação em que os serv iços públicos prestados pelo gov erno são de péssima qualidade. 
Dentro desta ótica fica mais fácil entender a Constituição brasileira de 1 988, quando o emprego formal 
atingia menos de 30% da população. E certamente poderemos esperar que, talv ez no fim dessa década, haja 
condições políticas para sua rev isão. 
Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e econom ista, é diretor-estrategista da Quest 
Inv estim entos. Foi presidente do BNDES e m inistro das Com unicações. Escrev e 
m ensalm ente às segundas.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A economia política do governo lula
A economia política do governo lulaA economia política do governo lula
A economia política do governo lulaGisele Spinosa
 
Estudo: Governo Dilma - O início discreto
Estudo: Governo Dilma  - O início discretoEstudo: Governo Dilma  - O início discreto
Estudo: Governo Dilma - O início discretoMiti Inteligência
 
Cartilha de realizações no governo Lula
Cartilha de realizações no governo LulaCartilha de realizações no governo Lula
Cartilha de realizações no governo LulaJoao Carlos Passari
 
Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1
Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1
Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1Jamildo Melo
 
Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)
Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)
Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)Pâmela Nogueira da Silva
 
O governo Lula (2003-2010)
O governo Lula (2003-2010)O governo Lula (2003-2010)
O governo Lula (2003-2010)Edenilson Morais
 
Entrevista com andré azevedo
Entrevista com andré azevedoEntrevista com andré azevedo
Entrevista com andré azevedoPolibio Braga
 
Financiamento do gasto público e taxas de juros kaio e franklin 14 03 2016
Financiamento do gasto público e taxas de juros  kaio e franklin 14 03 2016Financiamento do gasto público e taxas de juros  kaio e franklin 14 03 2016
Financiamento do gasto público e taxas de juros kaio e franklin 14 03 2016Grupo de Economia Política IE-UFRJ
 
Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.
Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.
Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.PedroGualberto
 
Em marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasil
Em marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasilEm marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasil
Em marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasilFernando Alcoforado
 
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)Portal Canal Rural
 
Boletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFESeconomiaufes
 
As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...
As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...
As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...Grupo de Economia Política IE-UFRJ
 
Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...
Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...
Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...Grupo de Economia Política IE-UFRJ
 
O inevitável impeachment de dilma rousseff
O inevitável impeachment de dilma rousseffO inevitável impeachment de dilma rousseff
O inevitável impeachment de dilma rousseffFernando Alcoforado
 
Brasil - 1994 até primeiro mandato de Lula
Brasil - 1994 até primeiro mandato de LulaBrasil - 1994 até primeiro mandato de Lula
Brasil - 1994 até primeiro mandato de Lulahistoriando
 

Mais procurados (20)

A economia política do governo lula
A economia política do governo lulaA economia política do governo lula
A economia política do governo lula
 
Estudo: Governo Dilma - O início discreto
Estudo: Governo Dilma  - O início discretoEstudo: Governo Dilma  - O início discreto
Estudo: Governo Dilma - O início discreto
 
Cartilha de realizações no governo Lula
Cartilha de realizações no governo LulaCartilha de realizações no governo Lula
Cartilha de realizações no governo Lula
 
Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1
Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1
Documento critico-ao-primeiro-ano-do-governo-dilma1
 
Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)
Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)
Comércio exterior e transição da economia ( Governo Lula)
 
Jornal digital 25 04-18
Jornal digital 25 04-18Jornal digital 25 04-18
Jornal digital 25 04-18
 
O governo Lula (2003-2010)
O governo Lula (2003-2010)O governo Lula (2003-2010)
O governo Lula (2003-2010)
 
Entrevista com andré azevedo
Entrevista com andré azevedoEntrevista com andré azevedo
Entrevista com andré azevedo
 
Financiamento do gasto público e taxas de juros kaio e franklin 14 03 2016
Financiamento do gasto público e taxas de juros  kaio e franklin 14 03 2016Financiamento do gasto público e taxas de juros  kaio e franklin 14 03 2016
Financiamento do gasto público e taxas de juros kaio e franklin 14 03 2016
 
Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.
Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.
Indicadores econômicos, socioecônomicos e suas características.
 
Em marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasil
Em marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasilEm marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasil
Em marcha o conluio para manter o status quo neoliberal no brasil
 
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
 
Boletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 30 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
 
As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...
As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...
As finanças públicas e o impacto fiscal entre 2003 e 2012: dez anos de govern...
 
Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...
Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...
Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 201...
 
Estudo: A Era Lula
Estudo: A Era LulaEstudo: A Era Lula
Estudo: A Era Lula
 
O inevitável impeachment de dilma rousseff
O inevitável impeachment de dilma rousseffO inevitável impeachment de dilma rousseff
O inevitável impeachment de dilma rousseff
 
Brasil - 1994 até primeiro mandato de Lula
Brasil - 1994 até primeiro mandato de LulaBrasil - 1994 até primeiro mandato de Lula
Brasil - 1994 até primeiro mandato de Lula
 
001(1)
001(1)001(1)
001(1)
 
Governo Lula e a Crise
Governo Lula e a CriseGoverno Lula e a Crise
Governo Lula e a Crise
 

Destaque

A crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticas
A crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticasA crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticas
A crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticasElizeu Nascimento Silva
 
Aula 07 teorias do jornalismo jornalismo de dados
Aula 07   teorias do jornalismo jornalismo de dadosAula 07   teorias do jornalismo jornalismo de dados
Aula 07 teorias do jornalismo jornalismo de dadosElizeu Nascimento Silva
 
Aula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculo
Aula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculoAula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculo
Aula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculoElizeu Nascimento Silva
 
Aula 06 Cultura: concepções e derivações
Aula 06   Cultura: concepções e derivaçõesAula 06   Cultura: concepções e derivações
Aula 06 Cultura: concepções e derivaçõesElizeu Nascimento Silva
 
Aula 10 Escola de Toronto e a Perspectiva Tecnológica
Aula 10   Escola de Toronto e a Perspectiva TecnológicaAula 10   Escola de Toronto e a Perspectiva Tecnológica
Aula 10 Escola de Toronto e a Perspectiva TecnológicaElizeu Nascimento Silva
 
Aula 05 escola de frankfurt e teoria crítica 01
Aula 05   escola de frankfurt e teoria crítica 01Aula 05   escola de frankfurt e teoria crítica 01
Aula 05 escola de frankfurt e teoria crítica 01Elizeu Nascimento Silva
 
Aula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagem
Aula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagemAula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagem
Aula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagemElizeu Nascimento Silva
 
Aula 02 Teoria Hipodérmica da Comunicação
Aula 02   Teoria Hipodérmica da ComunicaçãoAula 02   Teoria Hipodérmica da Comunicação
Aula 02 Teoria Hipodérmica da ComunicaçãoElizeu Nascimento Silva
 
Aula 01 Teorias da Comunicação - Preliminares e Definições
Aula 01   Teorias da Comunicação - Preliminares e DefiniçõesAula 01   Teorias da Comunicação - Preliminares e Definições
Aula 01 Teorias da Comunicação - Preliminares e DefiniçõesElizeu Nascimento Silva
 

Destaque (18)

A crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticas
A crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticasA crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticas
A crítica de gonzaga duque e a reprodução do real nas artes plásticas
 
Aula 07 teorias do jornalismo jornalismo de dados
Aula 07   teorias do jornalismo jornalismo de dadosAula 07   teorias do jornalismo jornalismo de dados
Aula 07 teorias do jornalismo jornalismo de dados
 
Folkcomunicação - Aula 3
Folkcomunicação - Aula 3Folkcomunicação - Aula 3
Folkcomunicação - Aula 3
 
Folkcomunicação - Aula 1
Folkcomunicação - Aula 1Folkcomunicação - Aula 1
Folkcomunicação - Aula 1
 
Folkcomunicação - Aula 2
Folkcomunicação - Aula 2Folkcomunicação - Aula 2
Folkcomunicação - Aula 2
 
Folkcomunicação
FolkcomunicaçãoFolkcomunicação
Folkcomunicação
 
Aula 08 Kitsch e cultura de massa
Aula 08   Kitsch e cultura de massaAula 08   Kitsch e cultura de massa
Aula 08 Kitsch e cultura de massa
 
Aula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculo
Aula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculoAula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculo
Aula 12 Guy Debord - A sociedade do espetáculo
 
Aula 06 Cultura: concepções e derivações
Aula 06   Cultura: concepções e derivaçõesAula 06   Cultura: concepções e derivações
Aula 06 Cultura: concepções e derivações
 
Aula 10 Escola de Toronto e a Perspectiva Tecnológica
Aula 10   Escola de Toronto e a Perspectiva TecnológicaAula 10   Escola de Toronto e a Perspectiva Tecnológica
Aula 10 Escola de Toronto e a Perspectiva Tecnológica
 
Aula 13 - Folkcomunicação
Aula 13 - FolkcomunicaçãoAula 13 - Folkcomunicação
Aula 13 - Folkcomunicação
 
Aula 05 escola de frankfurt e teoria crítica 01
Aula 05   escola de frankfurt e teoria crítica 01Aula 05   escola de frankfurt e teoria crítica 01
Aula 05 escola de frankfurt e teoria crítica 01
 
Aula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagem
Aula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagemAula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagem
Aula 11 Marshall McLuhan - O meio é a mensagem
 
Aula 03 - Modelo de Lasswell
Aula 03 - Modelo de LasswellAula 03 - Modelo de Lasswell
Aula 03 - Modelo de Lasswell
 
Aula 02 Teoria Hipodérmica da Comunicação
Aula 02   Teoria Hipodérmica da ComunicaçãoAula 02   Teoria Hipodérmica da Comunicação
Aula 02 Teoria Hipodérmica da Comunicação
 
Aula 01 Teorias da Comunicação - Preliminares e Definições
Aula 01   Teorias da Comunicação - Preliminares e DefiniçõesAula 01   Teorias da Comunicação - Preliminares e Definições
Aula 01 Teorias da Comunicação - Preliminares e Definições
 
Aula 04 - Teoria Funcionalista
Aula 04 - Teoria FuncionalistaAula 04 - Teoria Funcionalista
Aula 04 - Teoria Funcionalista
 
Aula 03 - Fórmula Editorial
Aula 03 - Fórmula EditorialAula 03 - Fórmula Editorial
Aula 03 - Fórmula Editorial
 

Semelhante a As provas de uma teoria valor econômico

Política, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte I
Política, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte IPolítica, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte I
Política, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte IUFPB
 
Boletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFESeconomiaufes
 
Críticas ao movimento
Críticas ao movimentoCríticas ao movimento
Críticas ao movimentoGuy Valerio
 
Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015
Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015
Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015Enio Economia & Finanças
 
Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014
Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014
Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014FUGRS
 
Resolução politica 4_congresso_versao_final
Resolução politica 4_congresso_versao_finalResolução politica 4_congresso_versao_final
Resolução politica 4_congresso_versao_finalDaniel Guedes
 
Espaço SINDIMETAL 70
Espaço SINDIMETAL 70Espaço SINDIMETAL 70
Espaço SINDIMETAL 70SINDIMETAL RS
 
Choque de Gestão - Aécio Neves - PSDB
Choque de Gestão - Aécio Neves - PSDBChoque de Gestão - Aécio Neves - PSDB
Choque de Gestão - Aécio Neves - PSDBOLAVO_DE_CARVALHO
 
Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Carlos Eduardo
 
Aspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do Brasil
Aspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do BrasilAspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do Brasil
Aspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do BrasilGrupo de Economia Política IE-UFRJ
 
O papel do Estado na sociedade brasileira
O papel do Estado na sociedade brasileiraO papel do Estado na sociedade brasileira
O papel do Estado na sociedade brasileiraRoberto Goldstajn
 

Semelhante a As provas de uma teoria valor econômico (20)

Política, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte I
Política, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte IPolítica, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte I
Política, manifestações e o pensamento conservador no Brasil - Parte I
 
Setemi News
Setemi NewsSetemi News
Setemi News
 
CNI junho 2009
CNI junho 2009CNI junho 2009
CNI junho 2009
 
Setemi News
Setemi NewsSetemi News
Setemi News
 
Boletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFESBoletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Boletim 33 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
 
Críticas ao movimento
Críticas ao movimentoCríticas ao movimento
Críticas ao movimento
 
Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015
Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015
Resumo. o ajuste fiscal do governo dilma rousseff 2015
 
Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014
Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014
Plano de Governo PMDB/RS e Coligação - 2014
 
Resolução politica 4_congresso_versao_final
Resolução politica 4_congresso_versao_finalResolução politica 4_congresso_versao_final
Resolução politica 4_congresso_versao_final
 
Espaço SINDIMETAL 70
Espaço SINDIMETAL 70Espaço SINDIMETAL 70
Espaço SINDIMETAL 70
 
Choque de Gestão - Aécio Neves - PSDB
Choque de Gestão - Aécio Neves - PSDBChoque de Gestão - Aécio Neves - PSDB
Choque de Gestão - Aécio Neves - PSDB
 
Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1
 
A subita guinada neoliberal do brasil
A subita guinada neoliberal do brasilA subita guinada neoliberal do brasil
A subita guinada neoliberal do brasil
 
Envelhecendo em um Brasil mais Velho
Envelhecendo em um Brasil mais VelhoEnvelhecendo em um Brasil mais Velho
Envelhecendo em um Brasil mais Velho
 
Aspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do Brasil
Aspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do BrasilAspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do Brasil
Aspectos Políticos do Desemprego: A Guinada Neoliberal do Brasil
 
O papel do Estado na sociedade brasileira
O papel do Estado na sociedade brasileiraO papel do Estado na sociedade brasileira
O papel do Estado na sociedade brasileira
 
Acontece agora ed386
Acontece agora ed386Acontece agora ed386
Acontece agora ed386
 
Poltícas públicas de_trabalho_e_renda_-_oit
Poltícas públicas de_trabalho_e_renda_-_oitPoltícas públicas de_trabalho_e_renda_-_oit
Poltícas públicas de_trabalho_e_renda_-_oit
 
Nb m06t11 entrevista
Nb m06t11 entrevistaNb m06t11 entrevista
Nb m06t11 entrevista
 
Recortes
RecortesRecortes
Recortes
 

Mais de Elizeu Nascimento Silva

Aula 09_Edgar Morin e a Perspectiva Culturológica
Aula 09_Edgar Morin e a Perspectiva CulturológicaAula 09_Edgar Morin e a Perspectiva Culturológica
Aula 09_Edgar Morin e a Perspectiva CulturológicaElizeu Nascimento Silva
 
Aula 14 Armand Mattelart - Globalização da Comunicação
Aula 14   Armand Mattelart - Globalização da ComunicaçãoAula 14   Armand Mattelart - Globalização da Comunicação
Aula 14 Armand Mattelart - Globalização da ComunicaçãoElizeu Nascimento Silva
 
Aula 06 teorias do jornalismo hipóteses contemporâneas
Aula 06   teorias do jornalismo hipóteses contemporâneasAula 06   teorias do jornalismo hipóteses contemporâneas
Aula 06 teorias do jornalismo hipóteses contemporâneasElizeu Nascimento Silva
 
Aula 02 Edição de Revistas - Público-alvo
Aula 02   Edição de Revistas - Público-alvoAula 02   Edição de Revistas - Público-alvo
Aula 02 Edição de Revistas - Público-alvoElizeu Nascimento Silva
 
Aula 04 ética e legislação Jornalismo
Aula 04   ética e legislação JornalismoAula 04   ética e legislação Jornalismo
Aula 04 ética e legislação JornalismoElizeu Nascimento Silva
 

Mais de Elizeu Nascimento Silva (20)

Unidade 03 Ainda a tal objetividade
Unidade 03 Ainda a tal objetividadeUnidade 03 Ainda a tal objetividade
Unidade 03 Ainda a tal objetividade
 
Unidade02 quem fala no jornalismo
Unidade02 quem fala no jornalismoUnidade02 quem fala no jornalismo
Unidade02 quem fala no jornalismo
 
Aula 15 A Sociedade em Rede
Aula 15   A Sociedade em RedeAula 15   A Sociedade em Rede
Aula 15 A Sociedade em Rede
 
Aula 09_Edgar Morin e a Perspectiva Culturológica
Aula 09_Edgar Morin e a Perspectiva CulturológicaAula 09_Edgar Morin e a Perspectiva Culturológica
Aula 09_Edgar Morin e a Perspectiva Culturológica
 
Aula 14 Armand Mattelart - Globalização da Comunicação
Aula 14   Armand Mattelart - Globalização da ComunicaçãoAula 14   Armand Mattelart - Globalização da Comunicação
Aula 14 Armand Mattelart - Globalização da Comunicação
 
Aula 9c Estudos Culturais - Stuart Hall
Aula 9c Estudos Culturais - Stuart HallAula 9c Estudos Culturais - Stuart Hall
Aula 9c Estudos Culturais - Stuart Hall
 
Aula 9B_Estudos Culturais Ingleses
Aula 9B_Estudos Culturais InglesesAula 9B_Estudos Culturais Ingleses
Aula 9B_Estudos Culturais Ingleses
 
Aula 06 teorias do jornalismo hipóteses contemporâneas
Aula 06   teorias do jornalismo hipóteses contemporâneasAula 06   teorias do jornalismo hipóteses contemporâneas
Aula 06 teorias do jornalismo hipóteses contemporâneas
 
Aula 02 Edição de Revistas - Público-alvo
Aula 02   Edição de Revistas - Público-alvoAula 02   Edição de Revistas - Público-alvo
Aula 02 Edição de Revistas - Público-alvo
 
Aula 01 edição de revistas
Aula 01   edição de revistasAula 01   edição de revistas
Aula 01 edição de revistas
 
Aula 03 ética e legislação jor
Aula 03   ética e legislação jorAula 03   ética e legislação jor
Aula 03 ética e legislação jor
 
Aula 04 ética e legislação Jornalismo
Aula 04   ética e legislação JornalismoAula 04   ética e legislação Jornalismo
Aula 04 ética e legislação Jornalismo
 
Aula 05 Briefing
Aula 05   BriefingAula 05   Briefing
Aula 05 Briefing
 
Aula 04 - Infodesign - Alfabeto-padrão
Aula 04 - Infodesign - Alfabeto-padrãoAula 04 - Infodesign - Alfabeto-padrão
Aula 04 - Infodesign - Alfabeto-padrão
 
Aula 03 - Infodesign - Cor-padrão
Aula 03 - Infodesign - Cor-padrãoAula 03 - Infodesign - Cor-padrão
Aula 03 - Infodesign - Cor-padrão
 
Aula 02 impressão de dados variáveis
Aula 02   impressão de dados variáveisAula 02   impressão de dados variáveis
Aula 02 impressão de dados variáveis
 
Aula 02 infodesign
Aula 02   infodesignAula 02   infodesign
Aula 02 infodesign
 
Aula 01 Infodesign
Aula 01   InfodesignAula 01   Infodesign
Aula 01 Infodesign
 
Aula 06 linguagem visual
Aula 06   linguagem visualAula 06   linguagem visual
Aula 06 linguagem visual
 
Aula 05 linguagem visual
Aula 05   linguagem visualAula 05   linguagem visual
Aula 05 linguagem visual
 

As provas de uma teoria valor econômico

  • 1. Im prim ir () 18/08/2014 - 05:00 As provas de uma teoria Por Luiz Carlos Mendonça de Barros Aos 7 2 anos de idade minha v isão da economia brasileira parte sempre de uma leitura estrutural dos fatores principais que comandam sua dinâmica. Neste sentido procuro construir um futuro ainda hipotético a partir de mov imentos que entendo dev am influir progressiv amente no comportamento dos mercados. Este é um ex ercício quase solitário, pois o número de analistas com esta v isão da economia é muito menor do que o dos palpiteiros do dia a dia. Por isto, quando uma pesquisa de campo, como a realizada pelo diretor do Instituto Data Popular - e publicada pelo Valor na sua edição do último dia 1 3 -, confirma minha leitura do futuro, sinto um conforto muito grande. No final são dados reais caminhando na direção do cenário idealizado por mim há alguns anos. A entrev ista de Renato Meirelles trata dos efeitos da formalização do emprego, ocorrida principalmente a partir de 2005 entre os brasileiros das classes D e E. Este mov imento de formalização do trabalho das classes de renda mais baix a no Brasil ocorreu em dois momentos distintos: o primeiro, nos anos seguintes ao Plano Real, quando o número de brasileiros que v iv iam no espaço do emprego formal passou de 33% do total para 44%. O segundo momento ocorre a partir de 2005, quando a formalização v olta a ganhar força e chega a 67 % da população agora no final do mandato da presidente Dilma (v eja gráfico). Estudo recente realizado pela equipe do Banco Itaú mostra que este processo dev e se estabilizar quando atingir 7 0% da população brasileira, por v olta de 201 6. O cidadão que ingressa na econom ia form al passa a ter um futuro relativam ente previsível pela frente Minha conv ersão à tese de que v iv íamos realmente uma mudança estrutural importante na sociedade brasileira ocorreu em fins de 2008. Afinal o gráfico nesta página, construído pela equipe da Quest Inv estimentos em 2005, já falav a por si mesmo. A partir de 2008 minha preocupação foi procurar entender os efeitos que este nov o desenho da sociedade teria sobre as dinâmicas política e econômica em nosso país. Venho fazendo este ex ercício de forma continuada desde então e, por isto, a matéria do Valor tev e um impacto muito grande para mim. Afinal, uma pesquisa de campo, com credibilidade, mostrav a que meu ex ercício de abstração estav a correto e que poderia dar um passo adiante - mais ambicioso - nas minhas prev isões. Antes de fazê-lo v ou mostrar ao leitor quais as mudanças importantes que a passagem de um brasileiro comum da informalidade para a formalidade econômica traz no seu comportamento como cidadão. Creio ter encontrado uma ideia que resume de forma sintética estas mudanças: o cidadão na economia formal passa a ter um futuro relativ amente prev isív el pela frente. Entendo como um futuro relativ amente prev isív el o fato de ter um contrato formal de trabalho que lhe permite ter acesso, entre outros, a programas sociais como FGTS e PIS/Pasep, ao credito bancário e, principalmente, ao direito de ter seu salário corrigido anualmente com base na inflação passada e, em certos períodos, com um ganho real no v alor de seu salário. Apenas o fantasma do desemprego pode mudar este quadro.
  • 2. A formalização do trabalho, em uma sociedade em que o nív el de consumo tem um v alor muito forte, responde por grande parte do boom de consumo do segundo mandato do presidente Lula. A sincronia destas mudanças com o aumento da confiança do sistema bancário na economia acelerou ainda mais seu crescimento. Entre 2006 e 2008, as v endas ao v arejo nas regiões Norte e Nordeste chegaram a crescer a tax a anuais superiores a 1 5%. Na esteira deste aumento do consumo seguiu-se um aumento significativ o do inv estimento na medida em que as empresas mais conserv adoras passaram a perder fatias de mercado. E a economia brasileira - e o gov erno do PT - v iv eram anos de ouro. Deix o de lado a questão econômica e v olto agora a especular sobre os efeitos defasados no tempo que esta formalização do emprego terá sobre a sociedade brasileira. Mais uma v ez recorro a entrev ista do presidente do Data Popular ao Valor para reforçar minha tese de que a formalização do emprego trará mudanças no comportamento político destes brasileiros e na sua forma de av aliar o Estado. Renato Meirelles cita, por ex emplo, o fato de que pela primeira v ez estes brasileiros estão encarando de frente os impostos cobrados em seus salários. "A fav ela cresceu junto com a economia e esse cara passou a pagar imposto na fonte. Ele não tem noção de imposto indireto. Então, ele não sabia o que era pagar imposto. Agora sabe. Com isso, passa a cobrar mais dos serv iços públicos. Deix a de entender serv iço público como um fav or do gov erno e passa a entender como uma contrapartida pelo que ele paga. Isso é ótimo. Ele não quer mais cesta básica. Quer plano nacional de banda larga. Não quer dentadura. Quer ProUni". Esta é uma diferença fundamental para que possamos entender o Brasil dos próx imos anos. Quando o cidadão não tem futuro somente o gov erno pode garantir a ele alguma segurança em relação ao futuro; quando ele passa a ter o emprego formal e começa a pagar impostos ao gov erno esta lógica se inv erte, principalmente na situação em que os serv iços públicos prestados pelo gov erno são de péssima qualidade. Dentro desta ótica fica mais fácil entender a Constituição brasileira de 1 988, quando o emprego formal atingia menos de 30% da população. E certamente poderemos esperar que, talv ez no fim dessa década, haja condições políticas para sua rev isão. Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e econom ista, é diretor-estrategista da Quest Inv estim entos. Foi presidente do BNDES e m inistro das Com unicações. Escrev e m ensalm ente às segundas.