1) O Papa Urbano II convocou em 1095 uma cruzada para retomar Jerusalém dos muçulmanos, incitando os cristãos com promessas de redenção e terras férteis.
2) Milhares de cristãos de diferentes classes sociais partiram entre 1096-1099 em busca de salvação, conquista e fama na Primeira Cruzada, que culminou na tomada de Jerusalém em 1099.
3) Além de motivos religiosos, a cruzada atendeu interesses políticos e econômicos de
1. As Cruzadas
“Não há, entre as guerras travadas pelos homens, nenhuma que seja mais
zelosamente empreendida do que aquelas que se combate pela fé. E entre as “guerras
santas” nenhuma foi mais sangrenta e dilatada do que as Cruzadas cristãs, durante a
Idade Média”. In. Anne Fremantale
saram para a história como o primeiro grande con-
E
m 1095, na cidade de Clermont na
França, o Papa Urbano II reuniu um fronto entre o Ocidente e Oriente e apelidada por al-
grande número de nobres, religiosos, guns historiadores como a primeira "efetiva" guerra
fanáticos e gente de toda natureza. mundial da história.
Depois de muito "choro" encorajou os cristãos a orga-
nizar uma expedição, com o objetivo de atacar Jerusa-
lém resgatando-a dos infiéis árabes, que ocupavam a
cidade desde a Alta Idade Média. Ao final do
comovente discurso o papa foi delirantemente aplau-
dido pelos presentes, que prontamente saíram empe-
nhados em organizar a empreitada de retomada de Je-
rusalém.
Por trás dos aplausos existiam, porém, muitos
problemas e motivos que iam além da simples retoma- Cavaleiros
cristãos que
da da Terra Santa. Para começar, poucas pessoas sabi- participaram das
am efetivamente onde ficava e qual a importância de Cruzadas em
Jerusalém. Aplaudiram movidos pela fé e pelo desejo quadro do século
de agradar a Igreja, e por extensão agradar a Deus. XVII
Poucas pessoas sabiam o que representava a emprei-
tada religiosa e o que estava por trás do choro do papa.
O fato é que a expedição convocada pelo papa partiria
em 1096, quase um ano depois do Concílio de
Clermont. No todo, seriam oito expedições, que pas-
O Tempo da História
1054 1095 1189 - 1192
Convocação 1096 - 1099 Cruzada
Cisma da dos Reis
do Primeira Cruzada
Oriente Cruzada dos 1270
Nobres
Divisão 1096
da Oitava e
Cruzada última
Igreja
dos Cruzada
Mendigos
2. A Pregação da Cruzada
"No mês de novembro (1095), o papa reuniu todos os bispo da Gália e da Espanha e
realizou um grande concílio em Clermont...
"Dos confins de Jerusalém e da cidade de Constantinopla graves notícias, repetidas ve-
zes tem chegado aos nossos ouvidos. Uma raça oriunda do Reino dos Persas, uma raça maldita
e totalmente alheia a Deus...invadiu com violência a terra dos cristãos e as despovoou pela
pilhagem e pelo fogo. Levaram para sua própria terra parte dos cativos e a outra parte deles
mataram em torturas cruéis. Das Igrejas de Deus destruíram umas e ocuparam outras para a
As Cruzadas
prática da sua religião.
Que os ódios desapareçam entre vós, que terminem vossas brigas, que cessem as guer-
ras e adormeçam as desavenças e controvérsias. Entrai no caminho do Santo Sepulcro; arrancai
aquela terra da raça malvada para que fique em vosso poder. É a terra na qual, disse a escritura,
escorre leite e mel... Jerusalém é o centro do mundo; sua terra é mais fértil do que todas as
outras.
Quando um ataque for lançado sobre o inimigo, que um grito seja dado pelos soldados de
Deus: Deus o quer! Deus o quer!
Em seguida... fez uma comovente descrição da desolação da Cristandade no Oriente e
expôs os sofrimentos e a opressão atrozes que os sarracenos infligiam aos cristãos. Na sua
piedosa alocução, o orador, comovido até às lágrimas, falou igualmente, com insistência, sobre
a maneira como eram espezinhados Jerusalém e os Lugares Santos...
... Foi, nos ricos e nos pobres, nas mulheres, nos monges e nos clérigos, nos citadinos e
nos camponeses, uma prodigiosa vontade de ir a Jerusalém ou de ajudar os que aí fossem...
Ladrões, piratas e outros celerados surgiam das profundezas da iniquidade e, tocados pelo
Espírito de Deus, confessavam seus crimes e, arrependendo-se deles, partiam para a Cruzada
a fim de satisfazer Deus por causa dos seus pecados".
POR QUE ACONTECERAM AS
CRUZADAS? “ESTAMOS RESOLVIDOS E
COMETIDOS À LUTA ... PARA EXPUL-
Lendo o discurso do SAR OS PAGÃOS DA TERRA SANTA.
papa pode-se inferir alguns mo- AQUELE CHÃO PISADO PELOS
tivos da expedição. Com efeito, SAGRADOS PÉS...QUE HÁ QUATORZE
SÉCULOS ATRÁS FORAM CRAVADOS -
desde que haviam dominado Je-
POR AMOR DE NÓS, À DURA CRUZ”.
rusalém, os árabes conseguiram
HENRIQUE IV
manter uma relação amistosa
com os cristãos, que tinham o
hábito de visitar a cidade em
grupos de peregrinos integrados
por dezenas de pessoas. Entre-
tanto a partir do século XI os A promessa de conquista das "terras que jorra-
árabes fecharam a porta de Je- vam leite e mel" despertaram a cobiça e ambição de
rusalém aos cristãos fornecen- centenas de nobres que possuíam títulos de nobreza,
do o grande artifício das Cruza- mas não tinham acesso às melhores terras.
das. Do ponto de vista religioso O problema acontecia na herança deixada por
não era muito difícil convencer nobres feudais, que normalmente beneficiava os filhos
cristãos ávidos por uma vaga no mais velhos e prejudicava os mais novos. Em caso de
Quadro do céu, que a participação na expedição contra os infiéis, morte do senhor feudal as terras eram entregues ao
século XV herdeiro mais velho.
representando assegurava de antemão um lugar garantido ao lado de
a partida dos Deus. Insatisfeitos com o prejuízo, muitos nobres re-
cruzados para jeitados recorreram à guerra enfrentando os próprios
a Terra Santa irmãos.
3. Daí o papa ter se referido "aos ódios que desa- feudal. Concretamente, não havia trabalho para to-
pareçam entre vós, que terminem vossas brigas, que dos e perigosamente centenas de camponeses vaga-
cessem as guerras e adormeçam as desavenças e con- vam pelos campos e estradas.
trovérsias As Cruzadas colocaram os nobres"sem-ter- Essa situação perturbadora explica outro mo-
ra" do lado da Igreja Ca- tivo das Cruzadas. No
tólica facilitando a for- que partiam milhares
mação dos batalhões cru- de homens para o ou-
zados. tro lado do mundo di-
No aspecto mate- minuía também o pro-
rial, o contexto era extre- blema de alimentar
mamente favorável à mais bocas e encontrar
convocação das Cruza- trabalho para a popu-
das. Desde o início do lação que não parava
de crescer. Como pro-
As Cruzadas
século XI, ocorreram
mudanças na agricultura metia o papa Urbano
que multiplicaram a pro- II, "no Oriente en-
dução. O uso do arado contrariam terras
com ponta de ferro pos- que jorravam leite e
sibilitou a utilização mais mel". As Cruzadas ti-
coerente do solo. A veram o suporte da
construção de pontes di- população excedente,
namizou as comunicações que atendeu de imedi-
e permitiu melhor circulação da produção. Com a uti- ato o apelo do papa acreditando que além das rique-
lização de ferraduras os cavalos suportaram viagens zas teria o lote assegurado no céu.
mais longas, apesar das estradas não prestarem. No que se refere ao aspecto econômico, deve Na gravura,
O manso senhorial foi dividido racionalmente se destacar o empenho das cidades de Veneza e Gê- cavaleiros
em três partes, e se fez o rodízio das áreas cultivadas. nova que participaram ativamente da empreitada, cristãos
atacam
O plantio de leguminosas intercaladas nas culturas re- principalmente após a Segunda Cruzada, quando
fortaleza na
cuperou os nutrientes dos solos desgastados e o hábi- então financiaram expedições com o objetivo de au- Ásia Menor
to de colocar o gado pastando na área em pousio, fa- mentar os negócios com o mundo oriental. Na Alta
cilitou a adubação do solo. Idade Média, Veneza e Gênova mantiveram um ra-
Com o aumento da produção agrícola e a mai- zoável padrão comercial, apesar do marasmo eco-
or oferta de alimentos, diminuiu a fome que era o nômico do ocidente. Com a venda do sal consegui-
flagelo da sociedade feudal. A população melhor ali- ram acumular grande fortuna que foi então empre-
mentada ficou menos susceptível às terríveis epidemi- gada nas expedições das Cruzadas. O interesse pu-
as que matavam milhares de pessoas. Em resumo após ramente econômico das cidades italianas foi enco-
o século X a população europeia não parou de cres- berto pela motivação religiosa. Antes do fim das
cer. Em contrapartida, era impossível absorver toda a Cruzadas já eram as cidades mais ricas do mundo
mão-de-obra excedente na precária estrutura agrária ocidental.
Jerusalém - A cidade sagrada
Jerusalém é ponto de referência
fundamental às três grandes
religiões monoteístas. Dentro
das muralhas da cidade velha
estão locais sagrados para
cristãos, judeus e muçulmanos.
Muçulmanos
Jerusalém é a
terceira cidade
mais importante
para a fé Islâmica,
depois de Meca e
Medina (ambas na
Arábia Saudita)
4. "Fora dos combates os cruzados não se poderiam apre-
sentar como modelos de compostura. Os cidadãos de Cons-
tantinopla lhes detestavam as maneiras rústicas. Até mesmo aos
mais civilizados ocidentais aquela cidade deixava boquiabertos de
espanto. Nessa época Paris, Londres e Roma eram pouco mais que
vilas, com a sua feira. Constantinopla tinha ruas pavimentadas,
iluminadas à noite, lojas abrigadas em colunatas, parques, teatros,
um hipódromo, mansões para os ricos, blocos de resi-dências
operárias, a incomparável igreja de Santa Sophia, e o palácio
imperial, repleto de mármores, mosaicos, pedras raras e
suntuosas tapeçarias. A riqueza da cidade era tentadora, e os
cruzados não reprimiram o ímpeto de saquear. Ana Comnena, filha
do imperador, talvez a mulher mais azeda que já lançou palavras em papel - invectivou os
cruzados como epíteto de "bestas louras" sempre "ávidos por dinheiro". (In.Anne Fremantale. A
As Cruzadas
Conquista pelas Cruzadas. Coleção Time-Life. Livraria José Olympio . Pág 56/57
Na empreitada de reconquista de Jerusalém os guida, o deserto, que serviu de sepultura para os últi-
cristãos esperavam receber ajuda de Constantinopla. mos sobreviventes.
Na prática os árabes se mostra- Em 1097, nobres, cavaleiros e centenas de pes-
ram um grande ameaça aos soas humildes partiram em direção à Jerusalém inte-
bizantinos e uma união com os grando a Primeira Cruzada. A expedição reuniu gente
cristãos, em tese, seria bem vin- de todos os cantos e de todas as classes sociais. Com
da. Lembre que em 1054, católi- diferentes motivos, homens foram em busca da salva-
cos e bizantinos chegaram ao ção eterna, da conquista, pilhagem e da fama pessoal.
ápice das divergências religiosas Já em fins de 1097, conseguiram um triunfo parcial
quando então, houve o Cisma do retomando uma parte da Ásia Menor, anteriormente
Oriente. Daí em dominada pelos muçulmanos. Em 1099, derrotaram
diante, a cristan- os árabes reconquistando Jerusalém.
dade desmem- A conquista da cidade santa foi ce-
brada passou a lebrada em todo o Ocidente, dando a im-
ter duas igrejas: DEUS O pressão que era uma vitória definitiva dos
Católica Apostó- cristãos. Entretanto a derrota árabe se deu
QUER!!!! num momento de extrema divisão e des-
lica no mundo
ocidental e Cris- gaste interno do mundo islâmico como um
tã Ortodoxa, no todo.
mundo oriental. Atacados por uma coalizão cristã
Resumindo; as extremamente numerosa e animada pelo
Cruzadas poderiam favorecer a fervor religioso, os árabes não conseguiram en-
união das duas igre- carar a briga de igual para
jas. igual. Com a derrota dos mu-
Pedro, o Eremita, çulmanos estruturou-se um
entrega a Urbano reino cristão que se manteve
II uma súplica do AS EXPEDIÇÕES PARA A
por meio século, quando en-
Patriarca de TERRA SANTA tão, os árabes foram aos pou-
Jerusalém
cos recuperando o que havi-
O interessante é que antes do em-
am perdido. Após a vitória os
barque da expedição oficial, saiu uma ex-
cristãos foram se espalhando
pedição que a Igreja não reconheceu como
por várias regiões entre Jeru-
primeira Cruzada. O grupo de 5.000 pes-
salém e Constantinopla. Com
soas foi comandado por um líder religioso
isso não criaram raízes num
chamado Pedro, o Eremita que organizou
meio, por natureza, hostil ao
um exército de indigentes. Como era de se
dominador.
esperar, o grupo comandado pelo Eremita
No que se refere ao co-
enfrentou inúmeros problemas ao longo do
mércio, as regiões dominadas
percurso, sendo que poucos chegaram no
eram litorâneas, facilitando a
Oriente. A "Cruzada dos Mendigos" como
construção de fortificações que
foi então chamada, já chegou esfacelada
asseguravam o desembarque de navios
em Constantinopla para enfrentar em se-
que chegavam com interesse comercial.
5. Essa importante mudança encerrou séculos de A quarta Cruzada que foi patrocinada pelos
hostilidade comercial entre árabes e cristãos, e no caso mercadores de Veneza, concentrou-se basicamente no
os dois tiveram a ganhar. Foi aí que cidades como aspecto comercial. Quando a expedição chegou a
Veneza, Gênova e Pisa despertaram para as Cruza- Constantinopla atacou a capital do Império Bizantino,
das. A porta aberta pelas cruzadas intensificou o co- destruindo e saqueando 1/3 da cidade. Ficou então pa-
mércio de especiarias estimulando o interesse pelo Ori- tente o interesse mercantil. Com o domínio de
ente. Com o tempo o interesse comercial extrapolou a Constantinopla, os mercadores de Veneza asseguravam
motivação religiosa inicial. o controle da melhor rota de comércio do mundo.
No Oriente, os cristãos ficaram fascinados com Os sucessivos fracassos mexeram com o Oci-
as riquezas e os padrões culturais diferentes. Até en- dente. Foi nesse contexto que se organizou a inusitada
tão a sociedade feudal vivera enclausurada nos feudos Cruzada de jovens e crianças. Seus integrantes marcha-
e castelos, condicionada a seguir os valores ram para o Oriente acreditando que Deus abriria o ca-
teocentricos. Entorpecidos pelo preconceito e desco- minho nas águas do Mediterrâneo para a passagem dos
As Cruzadas
nhecimento, os cristãos não poderiam imaginar que guerreiros infantis. Sem muita opção os garotos foram
encontrariam um mundo mais dinâmico e desenvolvi- capturados por mercadores de escravos. Conivente com
do que o mundo ocidental. Independente do desfecho o absurdo, a Igreja incentivava a ida dos garotos pro-
militar, o contato com o mundo oriental se mostrava metendo indulgências e o lugar garantido no céu.
extremamente enriquecedor para os cristãos. As últimas Cruzadas ratificaram os interesses
anteriores. A sexta Cruzada, em 1228, foi liderada por
REFLUXO CRISTÃO NAS um nobre excomungado pela própria Igreja! No Orien-
CRUZADAS. te o excomungado Frederico II da Alemanha casou-se
com a filha do rei de Jerusalém. O casamento garantiu-
Depois de meio século os árabes se recupera- lhe uma patética e efêmera presença na cidade santa,
ram e começaram a fustigar os reinos cristãos. A que- até quando saiu escorraçado pelos árabes.
da do reino de Odessa em 1144 motivou a segunda
Cruzada liderada pelos reis Luís VII da França e
Conrado III da Alemanha. Logo após os árabes recu-
perarem Jerusalém, em 1187, organizou-se da terceira
Cruzada liderada pelos reis Frederico Barba-Ruiva da
Alemanha, Felipe II da França e Ricardo Coração de
Leão da Inglaterra. Fortalecidos, os árabes derrota-
ram os cristãos nas duas cruzadas.
A presença de monarcas liderando as duas cru-
zadas se deu num contexto de interesse pelo reforço
da autoridade pessoal. Na Europa, as monarquias
engatinhavam o processo de centralização política des-
pertando a cobiça dos monarcas e suseranos. Entre-
tanto a participação dos monarcas teve efeito
desagregador, pois raramente conseguiram se enten-
der.
Na última cruzada o rei francês Luís IX
condicionara o regresso à conquista de Jerusalém. Con-
Mapa das
seguiu no máximo combater os árabes em circunstânci- Cruzadas. Fonte:
as completamente desfavoráveis. Depois da última ten- Brasil 500 Anos.
tativa, em 1270, morreu vítima de uma peste no norte Editora Abril
da África. Reconhecendo o desprendimento e zelo cris- Cultural. pág 7
tão, a Igreja resolveu canonizar o rei que havia lutado
em vão. Daí em diante não houve mais quem se aventu-
rasse, por melhor que fossem as promessas. Embora
tenha amargado uma derrota militar, restava ao mundo
ocidental a perspectiva de acentuar as trocas comerci-
ais que muito contribuíram para o renascimento econô-
mico do continente europeu.
Na gravura da esquerda, cavaleiros devotos
chefiados pelo rei Luís IX (de coroa na cabeça), velejam
para a África, tencionando invadir a Terra Santa através do
Egito.
6. PARA VOCÊ
SABER
MAIS.
As Cruzadas
As Cruzadas
O Castelo de Belvoir
De alta competência nas artes da guerra, mas relativamente poucos em
número, os cruzados do século XII contruíram castelos na Terra Santa para
guardar suas posses e a fim de servir como centros para o início de novas
conquistas. A maioria estava situada em locais estratégicos; o castelo de Belvoir,
aqui ilustrado, ficava na borda de uma escarpa elevada no sul da Galiléia, domi-
nando a vista para o rio Jordão e seus lados vitais. Os muçulmanos que captura-
ram Belvoir intato em 1189, conheciam-no como a “Estrela dos Ventos”, e o
historiador árabe Abu Shama disse que ele “estava colocado entre as estrelas
como um ninho de falcão”.
Construído para os
Hospitalários, uma ordem fechada
de monges guerreiros, Belvoir
ficou pronto em 1168. Foi um dos
primeiros castelos concêntricos
da história da arquitetura ociden-
tal, consistindo em uma fortaleza
quadrada interna, cercada por
outra faixa de fortificações
externas. É provável que os
Hospitalários ocupassem a
fortaleza interna, enquanto seus
auxiliares mercenários ficavam
nas estruturas de fora.
Como sistema defensivo,
um castelo como esse tinha um
ponto fraco: se o inimigo rompes-
se o círculo externo de defesa,
poderia usá-lo para repelir uma
força de auxílio, ao mesmo tempo
em que assediava a guarnição
interna. De qualquer forma,
Belvoir suportou um sítio de
dezoito meses entre 1187 e 1189,
antes de se render. In Geoffrey
Parker.op cit. pág 77.
Fundada para proteger os peregrinos da Terra Santa, a Ordem dos
Templários usava o motivo de dois cavaleiros sobre um único cavalo como
símbolo do voto de pobreza que os prendia. Ele aparece em sinetes do século
XII e na ilustração ao lado, da Chronica Majora, do historiador inglês Mateus
Paris, de cerca de 1245. Os escudos trazem o desenho preto-e-branco,
emblema distintivo dos templários. Com certeza, os guerreiros monges não
dividiam um cavalo para viajar ou lutar, embora a tática de fazer um cavaleiro
levar outro soldado na garupa para aumentar a velocidade de um exército
fosse comum entre os muçulmanos. In. Geoffrey Parker.A Luta pela
TerraSanta. Coleção Time-Life. pág 91
7. As Cruzadas vistas
As Cruzadas vistas
pelos Árabes.
pelos Árabes.
população da Cidade Santa foi morta pela espada, e os franj
(cristãos) massacraram os muçulmanos durante uma semana. Na mesquita
al-Aqsa, eles mataram mais de 70 mil pessoas. E Ibn al-Qalanissi, que evita
As Cruzadas
manipular números que não se podem verificar, pre-cisa: “Muitas pessoas
foram mortas. Os judeus foram reunidos na sinagoga e os franj os queima-
ram vivos. Eles destruíram também os munumentos dos santos e o túmulo
de Abraão − que a paz esteja com ele!”
Entre os monumentos saqueados pelos invasores está a mesquita de Omar, erigida em memó-
ria do segundo sucessor do Profeta, o califa Ibn al-Khattab, que tomara Jerusalém em 638. Os árabes
não deixaram de evocar com freqüência este acontecimento, com a intenção de ressaltar a diferença
entre seu comportamento e o dos franj. Neste dia, Omar fizera sua entrada no seu famoso camelo
branco, enquanto o patriarca grego da Cidade Santa avançava ao seu encontro. Antes de pedir-lhe
para visitar os locais sagrados do Cristianismo, o califa começou assegurando-lhe que a vida e os
bens de todos os habitantes seriam respeitados. Enquanto eles estavam na igreja de Qyama, diante do
Santo Sepulcro, tendo chegado a hora da reza, Omar perguntou ao seu hóspede onde poderia esten-
der seu tapete para se prosternar. O patriarca o convidou a fazê-lo onde estava, mas o califa respon-
deu: “Se eu fizer isso, amanhã os muçulmanos vão querer apropriar-se desse local, dizendo: “Omar
orou aqui.” E, levando o seu tapete, foi ajoelhar-se no exterior. Ele pensara corretamente, pois foi
nesse preciso lugar que se construiria a mesquita que traz seu nome. Os
chefes francos, infelizmente, não tiveram essa magnitude. Festejaram seu
triunfo com uma matança indescritível, depois saquearam selvagemente a
cidade que pretendiam venerar.
Seus próprios correligionários não foram poupados: uma das
primeiras medidas tomadas pelos franj é expulsar da Igreja do Santo
Sepulcro todos os sacerdotes dos ritos orientais − gregos, georgianos,
armênios, coptas e sírios − que oficiavam juntos, segundo uma antiga
tradição que todos os conquistadores haviam respeitado até então. Pasmos
com tanto fanatismo, os dignatários das comunidades cristãs orientais deci-
dem resistir. Eles se recusam a revelar aos invasores o local onde está
escondida a cruz verdadeira a qual o Cristo morreu. Para esses homens a
devoção religiosa para com a relíquia é acrescida de orgulho patriótico. Não
são eles, com efeito os concidãos do Nazareno? Mas os invasores não se
deixam de forma alguma impressionar. Prendendo os sacerdotes que têm a
guarda da cruz e submetendo-os à tortura para arrancar-lhes em segredo,
eles conseguem tirar dos cristãos da Cidade Santa, pela força, a mais
preciosa de suas relíquias.
Maalouf, Amin. As Cruzadas vistas pelos Árabes. Editora
Brasiliense. Pág. 57.
A gravura mostra
os cristãos na
Os Cristãos porta de
Jerusalém.
Terra Santa querida de todos os corações cristãos foi profanada.
Os reis cristãos devem empunhar suas armas contra os inimigos de Deus. A
guerra à qual são chamados é uma guerra e Deus o quer! deve ser seu grito.
Quem perder a vida nessa empresa ganhará o paraíso e a remissão de seus
pecados”. Com tais palavras o papa Urbano II pregou a Primeira Cruzada.