As desigualdades e o empobrecimento em 1995/2018 são evidentes e mostram-se de modo diferente entre os países da orla mediterrânica mais ou menos escrutinados e intervencionados pelas instituições do capitalismo europeu/global; mormente BCE, Eurogrupo, Comissão Europeia e FMI
Sumário
1 - Como se gere um aviário
2 - Importantes indicadores da regressão social
3 - Comparação entre as vítimas da Troika
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempo
1. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 10/2/2020 1
Como se consolidam as desigualdades através do tempo
As desigualdades e o empobrecimento em 1995/2018 são evidentes
e mostram-se de modo diferente entre os países da orla
mediterrânica mais ou menos escrutinados e intervencionados pelas
instituições do capitalismo europeu/global; mormente BCE,
Eurogrupo, Comissão Europeia e FMI
Sumário
1 - Como se gere um aviário
2 - Importantes indicadores da regressão social
3 - Comparação entre as vítimas da Troika
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1 - Como se gere um aviário
O monopólio do controlo do Estado pela classe política é um instrumento para a reprodução
da própria classe política, de continuado apoio às empresas - mormente as maiores - e
também, um factor de segmentação e estratificação social. A fragmentação da punção fiscal –
apontada, por regra, como justa - mesmo quando regressiva – onera, sobretudo, os mais
baixos rendimentos; por vezes, os custos de cobrança e controlo de fuga fiscal superam os da
potencial cobrança, o que a classe política classifica como política de …justiça fiscal. Enquanto
os rendimentos do trabalho são escrutinados detalhadamente pelo Estado, no âmbito da sua
osmose com o sistema financeiro, os rendimentos do capital são objeto de vários e criativos
instrumentos de redução de impostos, de não declaração de matéria potencialmente
coletável, de utilização de offshores, de contabilização como custos empresariais de elementos
de usufruto particular – viaturas, viagens…
A segmentação social e a utilização de políticas regressivas para a concretização do saque fiscal
são portas abertas para o alargamento das desigualdades. Note-se, por exemplo, a utilização
da taxa máxima de IVA (23%) no consumo de energia elétrica, por imposição da Troika e que
continua serenamente a onerar todos os lares, mesmo que tenham passado cerca de seis anos
sobre a ostensiva presença dos zelotas da UE/FMI. Por outro lado, a Lei 12/2008 de 26/2
aboliu as taxas de aluguer de contador; mas, pouco depois as Câmaras e os fornecedores de
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água e eletricidade inventaram outros nomes para manterem uma suculenta receita que, no
caso da eletricidade, se chama “taxa de potência”. Quanto custa os hospitais públicos estarem
subfinanciados e mal geridos para que os privados, no âmbito das célebres parcerias, tenham
cada vez mais utentes?
Assim, a punção fiscal é mascarada sob a forma de impostos aparentemente despidos de
preconceitos classistas, neutros, apresentados como enformados por aspetos técnicos que
mascaram toda a maquinaria vocacionada para garantir e ampliar a acumulação de capital em
detrimento da população comum, mormente de quantos vivem do trabalho. Para o efeito, é
preciso precarizar, instabilizar, reduzir o poder de compra de quem trabalha e tornar essa
massa de gente competitiva, tal como acontece com os galináceos, que se engalfinham,
sempre que é chegado o momento da distribuição da ração. A ração é medida criteriosamente
para que os galináceos produzam um volume de carne, crescente por unidade de tempo ou,
produzam um máximo de rendimento (carne) por unidade de ração; tal como num aviário, os
trabalhadores não têm nome, e, menos ainda, direitos.
Essa crua realidade é definida pelos think-tanks contratados pelas transnacionais e pelo
sistema financeiro e, apresentada para publicitação e comercialização pelas classes políticas,
pelos gestores dos aparelhos de Estado, com maior ou menor espetáculo par(a)lamentar, após
decorridas as formais rotinas das concertações sociais.
2 - Importantes indicadores da regressão social
Em capitalismo, pretende-se, com caráter de naturalidade, que a função do trabalho, dos
possuidores da capacidade de gerar riqueza, deve incluir a assistência ao encaminhamento
desse adicional de riqueza para os donos dos meios de produção (os capitalistas) e para o
Estado que, por seu turno, se encarregará de utilizar esse adicional de modo adequado à
perpetuação do sistema capitalista; ora, beneficiando a acumulação de riqueza nos detentores
dos meios de produção, ora satisfazendo a multidão dos não capitalistas, de modo a manter
ou comprar a sua passividade, essencial para a perenidade do sistema. Claro que se deve
pensar que na partição desse adicional em termos mais gerais, é preciso prestar a devida vénia
às exigências dos capitalistas não nacionais, do sistema financeiro global, da classe política
indígena, etc; uma partição que depende do grau de subserviência da governação, da moleza
da oposição e, que é mais funda no caso de espaços geográficos que são meros corredores
atravessados pelas redes logísticas das multinacionais e onde existem eficientes serviços de
lavandaria de dinheiro.
Tomando elementos estatísticos (Eurostat) para o período 1995/2018, relativos aos vários
países europeus, mostra-se interessante a comparação da evolução observada naquele
período, para quatro grandes fluxos financeiros: a despesa da administração central, a receita
de IVA, a receita de impostos sobre o rendimento e a propriedade e a remuneração dos
assalariados.
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Os governos e as classes políticas colaboram na recolha da massa fiscal junto da população em
geral, tendo em consideração a não penalização das empresas e dos chamados empresários,
porque são eles que criam o emprego e a riqueza… bla, bla, bla; e contemplarão… as enormes
e conhecidas preocupações humanitárias, sempre atentos à viragem para o “verde” desde que
isso não afete a acumulação de capital. Obviamente...
Assim, a despesa pública – aqui, restrita à da administração central dos estados-nação - tem de
crescer, forçosamente, como aliás é apanágio do economicismo, focado e dependente do
crescimento; ou melhor, de um entrançado difuso de variáveis que se alimentam mutuamente
(PIB, lucros, impostos, investimentos, consumo, rendimentos, vendas…) o que é,
consequentemente, também válido para administrações autárquicas ou, de aparelhos
específicos, como o da segurança social.
A despesa pública contempla a necessidade de apoiar e incentivar o investimento, de manter
uma carga fiscal amena ou tolerável para as empresas, subsídios e legislação benevolente para
que os capitais sejam atraídos ou, não se desloquem para onde o risco e a carga fiscal seja
menor ou mesmo, nula. Inversamente, para que a competitividade se mantenha e os
investimentos estrangeiros entrem num país é preciso legislação laboral penalizadora de quem
trabalha, salários baixos (competitivos, como se costuma dizer) e qualificações adequadas. Em
suma, todas as vantagens para o capital, todos os ónus para o trabalho, tendo como objetivo
expresso, formal e sintético, o crescimento do enigmático PIB.
A despesa estatal é alimentada, essencialmente pelos impostos e pelo recurso ao
endividamento. Sabe-se que os primeiros são extraídos da população sem qualquer
contrapartida definida – é uma exação – e o recurso a dívida gera, de imediato a obrigação de
pagamento de juros e, a prazo, um reembolso. Não é difícil perceber que a exação é muito
mais favorável para os governos do que o recurso à dívida. Sobre os obrigados a pagar
impostos impende toda a maquinaria estatal ou, melhor, uma verdadeira artilharia – aparelho
fiscal, execuções, penhoras, multas, retenções e imensos cruzamentos de dados que
vasculham a vida da população menos favorecida. No entanto, os governos são tolerantes
quanto a movimentações de capitais com o exterior ou através de benefícios fiscais
intramuros, quer construindo fórmulas de não impedimento de transferências de capitais para
offshores ou, fórmulas criativas de dissipação dos rastos de fraudes e da perpretação de crimes
financeiros ou do branqueamento da atividades mafiosas e dos seus intérpretes.
À partida, não é fácil um estado-nação anular uma dívida que contraiu, sem o consentimento
do credor. De modo idêntico os estados-nação contraem dívidas, interagem com o sistema
financeiro global para esse efeito, sem darem qualquer informação aos contribuintes sobre a
aplicação dos capitais mutuados; mas, dando como adquirido que a população irá arcar com o
custo dessa nova dívida, sem questionar e, sobretudo, sem ter sequer a noção do que
acontece.
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O produto dos empréstimos é colocado num poço sem fundo ou dilui-se na imensa maquinaria
que consubstancia os aparelhos de Estado. Os governos agem para com o grosso da
população, como déspotas, sem obrigações para com os súbditos.
O gráfico que se segue evidencia a evolução (1995=100) das remunerações dos assalariados
em comparação com a receita do IVA, dos impostos sobre o rendimento e a propriedade e
ainda, a despesa da administração central. Para avaliação dos responsáveis políticos pela
situação, acrescentamos abaixo, um quadro com a datação dos governos durante o referido
período de 25 anos.
A repartição das responsabilidades pelos vários gangs governamentais
1995/Abr 2002 PS Guterres Jun 2011/ Out 2015 PSD/CDS Passos
Abr 2002/Mar 2005 PSD/CDS Durão/Santana Out 2015/2018… PS Costa
Mar 2005/Jun 2011 PS Sócrates
Mais detalhadamente, pode observar-se que:
Em Portugal, a política antissocial de todos os governos no período 1995/2018 é
perfeitamente clara: a receita do IVA duplica em 1995/2004-05, regista-se idêntica
duplicação para o total dos impostos sobre o rendimento e a propriedade (1995/2006-07)
e da despesa do Estado (1995/2007-08). Porém, o conjunto dos assalariados só duplicou
os seus rendimentos passados mais de vinte anos (1995/2017);
O total das remunerações dos assalariados evolui num crescimento regular até 2008, em
meados do consulado de Sócrates, estagna até 2010, caindo no ano seguinte, quando o
famoso “engenheiro”, saiu (temporariamente) de cena;
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Passos acolheu com alegria a Troika pretendendo ir além da própria Troika; e
protagonizou cortes salariais, congelamentos, despedimentos, carga fiscal acrescida e
outras patifarias, aplanando o terreno em 2015 para a entrada em cena de Costa, à frente
da fabulosa geringonça;
Note-se que o volume das remunerações dos assalariados só em 2017 alcançou o nível de
2010; e que em 2012 se encontrava no mesmo patamar de 2005;
A receita do IVA constitui a ossatura da receita fiscal, porque é quase neutra para as
empresas e onera brutalmente a população trabalhadora, com elevada parcela do
rendimento aplicada no consumo, sendo este extensiva e duramente onerado pelo IVA; o
que revela o papel do aparelho de Estado na espoliação do produto do trabalho. O IVA
cresce regularmente durante os governos de Durão/Santana com a subida de 17% para
19% em junho de 2002; tem um incremento de 19% para 21% quatro meses após o início
do consulado de Sócrates, em março/2005; e, finalmente, fixa-se em 23% no primeiro dia
de 2011, ainda sob a batuta de Sócrates e do seu ministro Teixeira dos Santos; o que
Passos e Costa, convenientemente mantiveram com contentamento, tergiversando
miseravelmente a propósito da redução de umas migalhas na taxa que incide sobre o
consumo de eletricidade – e que afinal nem isso se concretizou;
Porém, ainda no tempo de Sócrates a receita de IVA estagna em 2008 e sofre grandes
variações, apresentando em 2011 valores pouco distanciados da cobrança de 2007/8. Em
2011, a elevação da taxa para 23% não evita uma quebra visível da receita estatal com o
imposto, tendo em conta o período de quebra dos rendimentos e do consumo, na
sequência da aplicação dos ditames da Troika;
A partir de 2014, a receita do IVA evolui muito significativamente, permitindo o brilharete
financeiro de Costa e Centeno, triplicando em 2019, o seu valor face a 1995. E, como
facilmente se observa, alargando como nunca a diferenciação da evolução da receita do
IVA e dos rendimentos do trabalho;
Na sequência do ponto anterior, é revelador do caráter antissocial do regime que a
receita de IVA triplique num período quase igual àquele em que as receitas do trabalho
apenas duplicaram. O caráter antissocial do regime pos-fascista, em todo o seu esplendor,
coaduna-se com o reacionarismo da parcela dominante da classe política e o
conservadorismo e a inoperância das instituições sindicais ou dos partidos ditos de
esquerda, cúmplices objetivos do caráter punitivo da política laboral estabelecida há
décadas.
No capítulo dos impostos sobre o rendimento e a propriedade mantém-se um
crescimento mais marcado do que o das remunerações dos assalariados com excepção
dos anos 2003/2005, um período que cabe todo, praticamente, dentro dos governos
Durão/Santana;
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A partir de 2006, a evolução deste conjunto de impostos apresenta um forte crescimento,
com algum paralelismo face à registada para o IVA e, numa dinâmica mais distanciada do
que o verificado com os rendimentos do trabalho;
A Troika e a sua dupla de mainatos Passos/Portas promovem, em 2013, um enorme
aumento relativamente ao ano anterior (cerca de € 4100 M, 29.3% acima face a 2012). A
receita de 2013 manteve o mesmo nível até 2017 e, já na era Costa, registou-se um
razoável aumento em 2018 e que foi replicado de modo mais comedido em 2019/20;
Tal como observado para o IVA, os impostos sobre o rendimento e a propriedade
consolidam no pos-Troika crescimentos marcadamente superiores à evolução dos
rendimentos do trabalho assalariado. Claramente, na sequência da crise financeira de
2008 e da intervenção da Troika – com a subserviente obediência da classe política
portuguesa bem como das estagnadas estruturas sindicais – foi criado um ambiente social
conducente a uma maior precariedade na vida de quantos não pertencem às oligarquias
política e económica – trabalhadores, desempregados, reformados, jovens…
A despesa da administração central acompanha a marcha das remunerações do trabalho
até 2002, suplantando o conjunto das últimas a partir de então, nomeadamente depois
de 2009. Segue-se, durante o resto do período considerado, um ciclo de evidentes subidas
na parte final do consulado de Sócrates (2009/2010), a que se seguiu um outro expressivo
aumento com a monitorização da Troika à atuação de Passos (2012-2014), com a quebra
intermédia que colocou a despesa de 2012 ao nível da registada quatro anos antes.
Segue-se, na gestão Costa, um período tendente a uma redução dos solavancos que
caraterizaram fortemente o período anterior; porém, apesar da “excelência” do mago
Centeno, o gasto estatal em 2018 situa-se ao nível do registado nove anos antes.
Como é evidente, tanta contenção, nada teve de virtuosa. Refletiu a imposição da
estagnação salarial na função pública; a degradação do SNS – a par da crescente
delegação no sector privado, mormente das conhecidas parcerias público-privadas; a
bagunça das colocações de professores ensino; ao contrário do que se passa com as
forças armadas, ao serviço da NATO embora, sem capacidade para defender o território,
se este viesse a ser atacado; uma presidência da república perfeitamente inútil, onde
brilhou um ignorante grunho, até 2015, ao qual sucedeu um emissor de amiudadas
vacuidades, um tal Marcelo Rodrigues Tomás ou Américo Rebelo de Sousa, para quem
perceber as escassas diferenças entre o regime fascista e o pós-fascista; uma segurança
social mais vocacionada em perdoar dívidas empresariais, financiando um patronato tão
cúpido quanto ignorante, do que em melhorar a vida dos reformados; um aparelho
judicial onde tudo fica empastelado, à espera de prescrição, sobretudo quando tropeça
com figuras gradas do regime cleptocrático.
3 - Comparação entre as vítimas da Troika
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Incluímos na designação “vítimas da Troika” países como Grécia e Portugal onde, de facto, a
intervenção formal aconteceu e com rigor; países, como a Espanha e a Itália onde essa
intervenção foi menos formal ou invasiva, tendo em conta a dimensão política, demográfica e
económica desses países; e, excluindo a Irlanda, onde as suas dificuldades financeiras
resultaram apenas do resgate do Anglo-Irish Bank, cujas perdas foram rapidamente
incorporadas pelo Estado irlandês.
Atrás, incorporámos um gráfico que, para o período posterior a 1995, apresenta a evolução de
elementos globais para a economia portuguesa – despesa estatal, receita do IVA, receita dos
impostos sobre o rendimento e a propriedade e ainda, para o volume global das remunerações
do trabalho. Em seguida, observaremos, para os cinco países atrás referidos, a evolução
comparativa para cada uma das referidas grandezas económicas.
No que se refere às despesas do Estado, destaca-se Chipre, desde o princípio, com um
crescimento ímpar e descontrolado, no contexto de um país depositário de vultuosos capitais
mafiosos ou, se preferirem, de uma lavandaria.
Para os restantes, destaca-se a regularidade da evolução da despesa pública italiana (cresceu
apenas 56% em 1995/2018), em contraste com a dos outros países; a Itália esteve longe de
refletir na gestão pública os descalabros do sistema financeiro, bem visíveis nos restantes –
Grécia, Portugal e Espanha. Nestes últimos, sublinha-se o grande crescimento da despesa
pública até ao surgimento da crise financeira mas de modo menos explosivo no caso de
Espanha a que se segue um período de forte desaceleração que, no último ano considerado,
mostra não apenas a irregularidade do nível da despesa pública, como o facto de ela se situar
aquém dos patamares atingidos antes do auge da crise. Os custos sociais e financeiros,
resultantes do crescimento da dívida, são conhecidos e, sobretudo, sentidos.
No caso da Grécia, a despesa do Estado situa-se, em 2018, ao nível do registado em 2003 o
que evidencia todo o enorme caudal de cortes, bem como a quebra no nível de vida dos
gregos. Em Portugal, o nível de 2018 aproxima-se do registado em 2009, o que ainda se não
observa no caso de Espanha.
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Em termos gerais a despesa estatal cipriota, cresceu 3.7 vezes desde 1995, seguindo-se
Portugal 2.2 vezes, Espanha 1.9 vezes, Grécia com um aumento de 70% e a Itália, pouco mais
de 50%.
Prosseguimos com uma abordagem semelhante para o caso do IVA e para os mesmos países.
De novo Chipre surge com valores que se destacam progressivamente dos restantes países
contemplados no gráfico, a partir do início do século. Assim, as receitas de IVA, no caso
cipriota, em 2018, eram 6.4 vezes superiores ao verificado no ano inicial padrão (1995), contra
3.3 vezes no caso da Espanha, 2.9 vezes para Portugal e 2.5 ou 2.4 vezes, respetivamente para
a Grécia e Itália.
Depois de um crescimento regular e equiparado até ao princípio do século, com a receita a
crescer, particularmente nos casos espanhol e grego, a receita de IVA é colocada (2007) em
valores próximos de 2.7 vezes do registado em 1995. Nesse período, Portugal apresenta um
menor dinamismo e a Itália demonstra a sua relativa regularidade também no crescimento da
receita de IVA.
É bem patente no gráfico, em 2007/09, o impacto negativo na receita do IVA, em todos os
países, com destaques particulares para Espanha e Portugal sendo, neste último caso, evidente
a contração induzida pela Troika; a partir de 2012/13 a receita de IVA sobe claramente, com
um pendor mais acentuado e paralelo para os países ibéricos. A Grécia, em 2013 situa a receita
de IVA ao nível de 2004 e, mesmo em 2018, o montante é, ainda, aproximado ao de 2006.
Espanha e Portugal conseguem sucessivamente os maiores volumes de sempre, a partir de
2014 e 2015, respetivamente.
9. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 10/2/2020 9
No capítulo dos impostos sobre o rendimento e a propriedade sublinha-se a relativa
regularidade da sua evolução em Itália, somente alterada entre 2006/2008 e em 2017 através
de acréscimos mais notórios; tudo isso num plano de duplicação da receita em 2018, face a
1995.
Todos os restantes países considerados apresentam bruscas e violentas mudanças nos níveis
da receita dos impostos sobre o rendimento e a propriedade.
Chipre mostra um enorme aumento, uma quase duplicação da receita entre 2004 e 2008, no
seguimento de uma quebra assinalável entre 2002 e 2004; ainda que com variações bruscas e
significativas, Chipre apresenta o maior nível de progressão destes impostos, entre os países
considerados.
A progressão da receita evidenciada pela Grécia é muito acentuada, triplicando o seu valor em
2009 ou 2012 relativamente a 1995; e a que certamente a atuação da Troika não será
estranha. A partir de 2015 o nível destas receitas fiscais estabiliza em torno de 2.5/2.75 vezes o
nível de 1995, tendo como companhia Portugal que atingiu esse patamar em 2013, durante a
supervisão da Troika, com aumentos nos dois últimos anos.
Finalmente, a Espanha apresenta um dos mais baixos índices de progressão até atingir, em
2007, o valor de 2.5 vezes face a 1995, a que se segue uma quebra acentuada até 2009. No
final do período, Espanha mostra-se como o país, deste conjunto, com mais baixo índice de
crescimento do conjunto dos impostos sobre o rendimento e a propriedade (mais 75% do que
em 1995); note-se que Espanha retoma em 2009 o nível atingido em 2004 depois de atingir um
pico de crescimento intermédio.
10. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 10/2/2020 10
As remunerações do trabalho evoluem em paralelo até 2001, diferenciando-se, a partir daí, a
grande subida em Chipre, durante uma década e outras subidas, menos acentuadas nos casos
da Grécia e de Espanha, situações que involuem, respetivamente, em 2010 e 2009.
As quebras que se seguiram são muito desiguais. Em Chipre, o volume das remunerações do
trabalho passam de 3.1 vezes o nível de 1995, em 2011 para 2.6 vezes três anos depois, no
rescaldo da crise financeira; a partir daí o volume das remunerações volta a subir bastante,
atingindo em 2018, um nível pouco inferior ao de 2012.
A Grécia apresenta a maior quebra no total das remunerações do trabalho; estas,
correspondiam, em 2009, a 2.75 vezes o valor de 1995 e, apenas 1.9 vezes em 2016, voltando
o indicador a crescer, a partir de então, o que não acontecia desde 2009.
11. GRAZIA.TANTA@GMAIL.COM 10/2/2020 11
Em Portugal e Espanha, os momentos do início do decrescimento da globalidade das
remunerações do trabalho verificaram-se, respetivamente, em 2011 e 2009; o período de
decrescimento da massa de remunerações em Espanha foi de quatro anos (2009/2013), contra
apenas dois para Portugal (2011 e 2012). Note-se que há perfeito paralelismo na evolução das
massas salariais dos dois países ibéricos, a partir de 2010 como vinha acontecendo até 2002.
A Itália, com uma evolução regular até 2011, estabiliza nesse patamar até 2016, a partir do
qual se verifica crescimento da massa salarial, colocando-se com uma dinâmica idêntica à
observada para a Grécia e, um pouco aquém da registada para Portugal.
(continua)
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