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INTRODUÇÃO
                                              GÁLATAS
         Autoria
         Com exceção de poucos teólogos do século XIX, desde sua introdução ao cânon, a carta ou livro
       de Gálatas é atribuída à autoria do apóstolo Paulo, como fica claro no versículo que abre a obra
       (1.1).
         Na época em q essa epístola foi escrita, a expressão Galácia era usada normalmente em dois
               p         que       p               ,     p
       sentidos: geográfico e político. No primeiro sentido, referia-se à parte centro-norte da Ásia Menor,
       ao norte das cidades de Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe; no segundo, tinha a ver com
       a organização da província, por volta do ano 25 a.C., e que incluía essas cidades e mais alguns
       distritos ao sul, sob o comando geral e absoluto do Império Romano.

         Propósitos
         O grande propósito de Paulo ao escrever esse tratado foi instruir os cristãos da região da Galácia
       sobre a justificação exclusiva e absoluta em Jesus Cristo, o Messias e Filho de Deus.
         Os mestres cristãos judaizantes tinham procurado convencer os gálatas a se revoltarem contra
       Paulo e seus ensinos e os estavam orientando a praticar todos os principais rituais da lei, pois,
       como eram gentios, tinham que ser circuncidados (5.2 – 6.12-15) e, segundo esses mestres,
       deviam também viver um cristianismo baseado nas ordenanças e na tradição judaica, a fim de
       serem salvos (4.10).
         Os judaizantes eram cristãos judeus que não conseguiam compreender a nova realidade da
       salvação pela graça de crer no sacrifício único, suficiente e vicário do Senhor Jesus. Eles criam
       que Jesus era o Messias prometido, mas também acreditavam no dever de cumprir as ordenanças
       mosaicas e, especialmente, todos os cerimoniais. Logo após a cruzada missionária de Paulo na
       Galácia, os judaizantes recrudesceram quanto ao legalismo teológico, por influência e receio de
       serem perseguidos pelos judeus zelotes. E começaram a obrigar os gentios, novos convertidos ao
       cristianismo, a passar também pelos ritos de circuncisão, acepção de alimentos, guarda do sábado,
       demais dias sagrados etc. (6.12). Os judaizantes iam além e procuravam difamar a pessoa e o
       ministério de Paulo, alegando que o apóstolo não era um genuíno membro do grupo original dos
       primeiros discípulos de Cristo, e que havia suavizado as ordenanças de Deus, a fim de tornar sua
       mensagem e doutrina mais atraentes aos gentios.
         Paulo vindica a sua plena autoridade apostólica e condena os ensinos dos judaizantes como
       legalismo anticristão.
         Os crentes em Jesus Cristo, quer judeus ou gentios (povos de todas as etnias e culturas), conforme
       a doutrina paulina, desfrutam em Cristo da absoluta e eterna salvação, porquanto foram justificados
       (3.6-9), adotados (4.4-7), renovados (4.6; 6.15) e transformados em plenos herdeiros de Deus,
       segundo as próprias promessas da aliança abraâmica (3.15-18). Portanto, a fé no sacrifício e no
       culto do Cristo na Cruz nos liberta para sempre da necessidade de buscar justificação e salvação
       mediante as obras e, especialmente, por meio do cumprimento de rituais e datas cerimoniais. Essa
       busca se torna destituída de poder visto que a Lei não produz salvação, mas morte (3.10-12),
       porquanto não fora criada com propósito salvífico (3.19-24). Confiar apenas nas obras e na Lei,
       com o fim de ser salvo, nos conduz à mesma escravidão sob a qual vive o povo judeu que ainda
       não recebeu a Cristo, como Salvador e Senhor de suas vidas (4.21-24). Por essa razão, os crentes
       não devem procurar voltar às tradições judaicas, ao cumprimento das exigências de leis religiosas
       como base de segurança para sua salvação, porquanto, agindo erroneamente dessa forma, estarão
       perigosamente submetendo suas vidas a uma escravidão da qual já fomos libertos por Jesus Cristo
       (5.1-4). Os cristãos devem, isso sim, depositar plena fé e segurança na liberdade que Cristo nos
       outorgou, servindo a Deus e aos semelhantes mediante o poder do Espírito de Deus, como novos
       seres humanos, livres em Cristo (5.13-18) e, assim, cumprindo com júbilo espiritual a vontade do
       nosso Salvador (6.2).




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Data da primeira publicaçãoç
        Certamente, essa carta de Paulo aos Gálatas começou a circular entre os cristãos por volta dos
      anos 48 e 58 d.C. Contudo, ainda não há evidências mais precisas, pois o estabelecimento exato
      da data depende do p
                   p          primeiro destino da carta. Os p
                                                            primeiros estudiosos afirmavam q Paulo
                                                                                              que
      havia enviado esta epístola de Éfeso, entre os anos de 53 e 57 d.C., endereçando-a p
                            p                ,                              ,       ç        primeiro às
      igrejas localizadas no centro-norte da Ásia Menor (Pessino, Ancira e Távio). Outros historiadores
      acreditam que Gálatas foi escrita preferencialmente às igrejas fundadas pelo apóstolo em sua
      primeira viagem missionária, na região sul da província romana da Galácia (Antioquia da Pisídia,
      Icônio, Listra e Derbe). Alguns, ainda, defendem que essa carta teria sido escrita em Antioquia da
      Síria ou Corinto, por volta do ano 50 d.C, depois dessa primeira viagem, mas antes da reunião do
      Concílio de Jerusalém (At 15).

        Esboço geral de Gálatas
           1. Saudação de Paulo, apóstolo de Cristo, aos Gálatas (1.1-5)
           2. Paulo procura trazer as ovelhas do Senhor de volta ao bom aprisco (1.6-9)
           3. A plena autoridade apostólica de Paulo e sua idoneidade (1.10 – 2.21)
              A. Paulo só pregava o Evangelho que Cristo lhe revelara (1.10-24)
              B. A mensagem de Paulo reconhecida pelos demais apóstolos (2.1-10)
              C. Paulo, sob o poder do Espírito, repreende a Pedro (2.11-21)
           4. Como ser salvo após a vinda e obra de Jesus Cristo, o Messias? (3.1-4.31)
              A. A salvação é só pela fé em Cristo, não por meio de obras (3.1-14)
              B. A salvação em Cristo é pela Promessa, não fruto da Lei (3.15-22)
              C. Todos os crentes são promovidos a filhos de Deus (3.23 – 4.7)
              D. Paulo suplica aos crentes para que tenham bom senso (4.1-7)
              E. Não há inteligência nem fé em voltar à escravização (4.8-11)
              F. Por que se revoltar contra o apóstolo do Senhor? (4.12-20)
              G. Confiar só na Lei é voltar a ser escravo do pecado (4.21-31)
           5. O caminho da verdade e da plena liberdade (5.1 – 6.18)
              A. Não sacrificar a boa liberdade pela algema do legalismo (5.1-12)
              B. Liberdade não é libertinagem ou falta de disciplina (5.13-26)
              C. A verdadeira liberdade é o serviço cristão dedicado (6.1-10)
              D. A vida cristã é feita de sacrifícios voluntários por Jesus (6.11-18)




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GÁLATAS
       Saudação apostólica                                                anjo dos céus vos anuncie um evangelho

       1   Paulo apóstolo, não da parte de ho-
           mens, nem por intermédio de qualquer
       ser humano, mas por Jesus Cristo e por
                                                                          diferente do que já vos pregamos, seja
                                                                          considerado maldito!
                                                                          9 Conforme já vos revelei antes, declaro
       Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos,1                           uma vez mais: qualquer pessoa que vos
       2 e todos os irmãos que estão em minha                             pregar um evangelho diferente daquele
       companhia, às igrejas da Galácia:2                                 que já recebestes, seja amaldiçoado!
       3 A todos vós, graça e paz da parte de                             10 Porventura, procuro eu agora o lou-
       Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo,                           vor dos homens ou aprovação de Deus?
       4 que se entregou voluntariamente pelos                            Ou estou tentando ser apenas agradável
       nossos pecados, a fim de nos resgatar                               às pessoas? Se ainda estivesse buscando
       deste atual e perverso sistema mundial,                            agradar a homens, não seria servo de
       segundo a vontade de nosso Deus e Pai,                             Cristo!4
       5 a quem seja toda a glória pelos séculos
       dos séculos. Amém!3                                                Paulo foi convocado por Cristo
                                                                          11 Caros irmãos, quero que saibais que o
       Só há um Evangelho                                                 Evangelho por mim ensinado não é de
       6 Estou chocado de que estejais vos des-                           origem humana.
       viando tão depressa daquele que vos cha-                           12 Porquanto, não o recebi de pessoa algu-
       mou pela graça de Cristo, para seguirem                            ma nem me foi doutrinado; ao contrário,
       outro evangelho,                                                   eu o recebi diretamente de Jesus Cristo
       7 que na verdade, não é o Evangelho. O                             por revelação;
       que acontece é que algumas pessoas vos                             13 pois já ouvistes como fora o meu proce-
       estão confundindo, com o objetivo de                               dimento no judaísmo, como persegui vio-
       corromper o Evangelho de Cristo.                                   lentamente a Igreja de Deus, procurando
       8 Contudo, ainda que nós ou mesmo um                               destrui-la.5


          1 Paulo defendia sua convocação apostólica, especialmente contra os judaizantes (v.7), que questionavam sua chamada
       ministerial - como missionário e mensageiro de Cristo – devido ao fato de ele não pertencer ao primeiro grupo apostólico que
       caminhou com Jesus pelas terras da Palestina. Por isso, fazia questão de apresentar suas credenciais: chamado por Cristo para
       ser seu embaixador em missões evangelísticas (1Co 1.1; At 9.1; Fp 3.4-14). A ressurreição de Jesus é a afirmação mais importante
       da fé cristã. E, como Paulo havia visto o Cristo ressurreto, e recebido dele a delegação missionária e o poder espiritual para
       ministrar, tinha as qualificações necessárias para exercer o apostolado (At 1.22; 2.32; 17.18; Rm 1.4; 1Co 15. 8,20; 1Pe 1.3).
          2 Essa era uma carta circular dirigida a várias igrejas para instrução e edificação do povo de Deus. Paulo se refere aqui à
       província romana da Galácia, região ao sul da Ásia Menor, incluindo as igrejas de Antioquia, Listra e Derbe, lugares que percorreu
       em sua primeira viagem missionária (At 13.14 – 14.23).
          3 Paulo reafirma o cerne do Evangelho: a morte expiatória de Cristo em nosso lugar, cujo poder nos tira das garras desse
       sistema mundial corrupto e corruptor, e nos posiciona no Reino de Deus (Cl 1.13; 1Pe 2.24). O atual período da história mundial é
       marcado pela iniqüidade, ao contrário da era do porvir (o momento mais importante da era messiânica) que, em breve, chegará
       de forma repentina (2Co 4.4; Ef 2.2; 6.12).
          4 Se simplesmente preferisse agradar a sua família, mestres e amigos, Paulo não teria pago um preço tão alto por abandonar
       as amarras da tradição judaica e rabínica em função da liberdade em Cristo. Nesta vida, sempre seremos servos de um de dois
       senhores (Mt 6.24; 1Ts 2.4). Paulo, no passado, carregava o “jugo da escravidão” (5.1), mas, uma vez tendo sido liberto do
       poder do pecado pela redenção que há em Cristo, passou a ser escravo da justiça, servo (no original grego doulos) de Deus
       (Rm 6.18,22).
          5 O judaísmo é a fé e o modo de vida do povo israelita desenvolvido durante os séculos que separaram AT do NT, chamado
       também de período interbíblico. Até hoje, nacionalidade, língua, religião e política são partes indissociáveis da vida de um judeu
       fiel em qualquer parte do mundo. O termo é derivado de Judá, o reino do Sul que se extinguiu por volta do séc. 6 a.C. com o
       exílio na Babilônia (onde hoje se situa o Iraque). A Igreja de Deus no NT equivale à Assembléia do AT (Nm 16.21), à comunidade
       do Senhor (Nm 20.4).




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GÁLATAS 1, 2                                                   4

      14 E, no judaísmo, eu superava a maioria                           está proclamando a mesma fé que outro-
      dos judeus da minha idade, e agia com                              ra procurava destruir”.
      extremo zelo em relação às tradições dos                           24 E louvavam a Deus por minha causa.
      meus antepassados.
      15 Todavia, Deus me separou desde o ven-                           Tiago, Pedro e João confirmam
      tre de minha mãe e me chamou por sua                               o apostolado de Paulo
      graça. Quando, então, foi do seu agrado,
      16 revelar o seu Filho em mim, para
      que eu o proclamasse entre os não-
                                                                         2  Passados catorze anos, subi uma vez
                                                                            mais a Jerusalém, e, nessa ocasião, em
                                                                         companhia de Barnabé e levando tam-
      judeus, parti imediatamente e não pedi                             bém Tito comigo.1
      orientação a pessoa alguma.6                                       2 Rumei para lá por causa de uma revela-
      17 Nem mesmo subi a Jerusalém para me                              ção, e apresentei diante deles o Evangelho
      aconselhar com os que já eram apóstolos                            que ensino entre os gentios, fazendo-o, no
      antes de mim, mas sem me deter, segui                              entanto, em particular aos que pareciam
      rapidamente para a Arábia e depois re-                             mais influentes, para que de algum modo
      tornei a Damasco.7                                                 não corresse ou não houvesse me esforça-
      18 Passados três anos, subi a Jerusalém a                          do inutilmente.
      fim de conhecer Pedro pessoalmente, e                               3 Mas nem mesmo Tito, que estava em
      estive com ele durante quinze dias.8                               minha companhia, foi obrigado a circun-
      19 Não vi nenhum dos outros apóstolos,                             cidar-se, muito embora fosse grego.
      a não ser Tiago, irmão do Senhor.9                                 4 Essa questão foi suscitada devido ao
      20 Sobre tudo quanto vos escrevo, afirmo                            fato de alguns falsos irmãos judeus te-
      diante de Deus que não há qualquer pa-                             rem se infiltrado em nosso meio, com
      lavra mentirosa de minha parte.                                    o propósito de espionar a liberdade que
      21 Em seguida, fui para as regiões da Síria                        temos em Cristo Jesus e nos reduzir à
      e da Cilícia.10                                                    condição de escravos.2
      22 E, até então, não era conhecido pessoal-                        5 Contudo, nem por um momento cede-
      mente pelas igrejas de Cristo na Judéia.                           mos, ou nos submetemos a eles para que
      23 Eles apenas haviam ouvido a notícia:                            a verdade do Evangelho permanecesse
      “Aquele que antes nos perseguia, agora                             convosco.


         6 O vocábulo original “gentios” significa literalmente “povos” ou “nações”, no entanto, comumente seu sentido designava
      “estrangeiros” e, portanto, “pagãos” (não adeptos da religião judaica) ou “sem fé em Deus”. A expressão “pessoa alguma” pode
      ser traduzida literalmente por “carne e sangue”, que no NT sempre se refere a “fraqueza e ignorância humanas” (Mt 16.17; 1Co
      15.50; Ef 6.12).
         7 Jerusalém sempre foi o centro religioso do judaísmo e o berço cultural do cristianismo. Paulo lembra que assim que recebeu
      a conversão e o chamado missionário, partiu para pregar nas regiões da Arábia, dominada pelo rei Aretas, no reino nabateu da
      Transjordânia, que se estendia de Damasco ao Suez, a sudoeste. Damasco foi a antiga capital da Síria (chamada de Ará no AT).
      Paulo foi convertido por Cristo na estrada que ligava Jerusalém a Damasco (At 9.1-9).
         8 Esta visita corresponde à mencionada por Lucas em At 9.26-30. O nome grego Petros “Pedro” é baseado na tradução do
      nome aramaico Kepha “Cefas”, que significa “pedra” ou “rocha”. Tal nome designa uma das qualidades do seu portador (Mt
      16.18; Jo 1.42).
         9 Tiago foi um dos filhos de Maria e José, e portanto, irmão de Jesus (Tg 1.1). Foi também líder dos presbíteros da Igreja do
      Senhor em Jerusalém (At 21.18; Lc 8.19).
         10 A Cilícia, nessa época, estava anexada à Síria e sob o domínio do império romano. A principal cidade da Cilícia era Tarso,
      onde Paulo nasceu e foi criado, e agora lhes anunciava o Evangelho de Cristo (At 9.30).
         Capítulo 2
         1 Depois de catorze anos de sua conversão, Paulo tem seu segundo encontro com Pedro e os demais líderes do cristianismo
      da época. Dois irmãos e amigos acompanham o apóstolo nessa importante reunião: Barnabé, cujo nome significa “encorajador”
      ou “aquele que incentiva”. Seu primeiro nome era José, e era levita da ilha de Chipre (At 4.36). Foi grande companheiro de Paulo
      na primeira viagem missionária (At 13.1 – 14.28). Tito, por sua vez, era discípulo de Paulo e missionário em Corinto, mais tarde,
      enviado para Creta com o objetivo de liderar espiritualmente a Igreja que se reunia ali (Tt 1.5).
         2 Paulo considerava “falsos” os judeus que haviam passado pelo batismo cristão, mas defendiam crenças judaizantes (At 15.1),
      isto é, eram legalistas militantes e queriam a todo custo implantar na Igreja todos os costumes e tradições rabínicas quanto à




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5                                                GÁLATAS 2

       6 E aqueles que pareciam ser influentes,                              12 Porque antes de chegarem alguns da
       ainda que o tenham sido no passado,                                  parte de Tiago, ele fazia suas refeições
       isso não faz diferença para mim, pois                                na companhia dos gentios; todavia,
       Deus não julga segundo as aparências                                 quando eles chegaram, Pedro foi se
       humanas. Esses, que pareciam ser muito                               afastando até se apartar dos incircun-
       importantes, nada me acrescentaram.                                  cisos, apenas por temor aos que defen-
       7 Ao contrário, reconheceram que a mim                               diam a circuncisão.
       havia sido confiada a proclamação do                                  13 E os outros judeus de igual modo se
       Evangelho aos incircuncisos, assim como                              uniram a ele nessa atitude hipócrita, de
       a Pedro aos circuncisos.3                                            modo que até mesmo Barnabé se deixou
       8 Porquanto Deus, que operou por meio                                influenciar.
       de Pedro como apóstolo aos judeus; da                                14 Contudo, assim que percebi que não
       mesma forma, operou por meu intermé-                                 estavam se portando de acordo com a
       dio para o apostolado aos gentios.                                   verdade do Evangelho, repreendi a Pe-
       9 E quando reconheceram a graça que                                  dro, diante de todos: “Se tu, sendo judeu,
       me havia sido outorgada, Tiago, Pedro                                vives como os gentios, e não conforme a
       e João, respeitados como sustentáculos,                              tradição judaica, por que obrigas os gen-
       estenderam a mão direita a mim e a Bar-                              tios a viver como judeus?
       nabé em sinal de comunhão fraternal. E,                              15 Nós, judeus de nascimento e não ‘pe-
       concordemente, ficou estabelecido que                                 cadores como os gentios’,5
       nós buscaríamos os não judeus, e eles,                               16 estamos plenamente conscientes, en-
       os circuncisos.                                                      tretanto, que o ser humano não pode
       10 E nos recomendaram apenas que não                                 ser justificado pela prática da Lei, mas
       nos esquecêssemos dos pobres, o que                                  somente por meio da fé em Jesus Cris-
       também tenho me esforçado por fazer.                                 to. Sendo assim, nós também viemos
                                                                            a crer em Cristo Jesus a fim de sermos
       Paulo cobra coerência a Pedro                                        justificados pela fé em Cristo, e de forma
       11 Quando, porém, Pedro chegou a An-                                 alguma pela prática da Lei, porquanto é
       tioquia, eu o enfrentei face a face, por                             certo que por praticar a Lei ninguém será
       causa da sua atitude reprovável.4                                    capaz de ser justificado.6


       Lei de Moisés (At 15.5; 2Co 11.26), especialmente à circuncisão e às restrições alimentares. O termo original, aqui traduzido por
       “espionar”, consta da Septuaginta (tradução grega do AT), com o mesmo sentido militar de “observar um território para eventual
       ataque” (2Sm 10.3; 1Cr 19.3). Na carta aos Gálatas, a palavra “liberdade” e suas derivações são expressões fundamentais da
       teologia paulina sobre a vida diária do cristão (3.28; 4.22,23,26,30,31; 5.1,13).
          3 Paulo tinha o hábito de se dirigir à sinagoga local sempre que chegava a uma nova cidade. Como Jesus (Mt 4.23), valia-se da
       tradição rabínica de, como mestre visitante, poder fazer uso da palavra, e pregava o Evangelho (At 13.5-14). Entretanto, sentia em
       seu coração um chamado especial para evangelizar os “gentios”; assim chamados pelos judeus, de sua época, todos quantos
       não haviam nascido ou se convertido ao judaísmo (Rm 11.13).
          4 Pedro havia experimentado a plena liberdade que há na fé em Jesus Cristo, depois da visão que o Senhor lhe proporcionou
       em At 10.10-35. Começou a conviver sem preconceitos com os gentios em Antioquia (principal cidade da Síria e, juntamente com
       Roma e Alexandria, uma das mais importantes cidades do Império Romano, de onde Paulo partiu para suas viagens missionárias
       – At 13.1-3; 14.26) e desenvolveu grande e fraterna comunhão cristã com todos, participando alegremente das refeições em
       grupo e das festas evangélicas. Contudo, quando vieram os judaizantes de Jerusalém, Pedro, hipocritamente, deixou de seguir
       as orientações de convivência e fraternidade cristãs ministradas a ele pelo próprio Senhor. Pedro temeu a crítica dos líderes do
       partido dos legalistas circuncisos e procurou esconder-se para evitar constrangimentos. Paulo é usado por Deus para confrontar
       o pecado de um dos principais líderes da igreja cristã de sua época; seu amigo e irmão em Cristo, mas – como todos nós – um
       ser humano passível de ambigüidades e erros. Pedro jamais disse que era infalível (como pensam alguns teólogos). Ao contrário,
       até seus últimos anos defendeu, humildemente, a erudição e a autoridade espiritual de Paulo (2Pe 3.15-16).
          5 Paulo apenas evoca o tradicional conceito que os judeus tinham em relação aos gentios. Do ponto de vista de um judeu fiel
       e consciente, todos os que não guardavam a Lei eram considerados “pecadores” (Mt 11.19; Mc 2.15-17; 14.41; Lc 15.1,2). Esse
       é o mesmo sentido da expressão no versículo 17.
          6 Esse é um dos versículos-chave da epístola, cujo tema geral: “justificação” é revelado aqui pela primeira vez e comentado
       durante todo o decorrer da carta: ninguém pode ser justificado pela observância da Lei; somente por meio da fé em Cristo é




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GÁLATAS 2, 3                                                     6

      17 Contudo, se buscando ser justificados                              recebestes o Espírito Santo, ou pela fé
      em Cristo, descobrirmos que nós mes-                                 naquilo que ouvistes?
      mos somos pecadores, será Cristo então                               3 Estais tão enlouquecidos assim, a
      ministro do pecado? De forma alguma!                                 ponto de, tendo começado pelo Espí-
      18 Ora, se procuro reconstruir aquilo que                            rito de Deus, estar desejando agora vos
      já destruí, provo que sou transgressor.                              aperfeiçoar por meio do mero esforço
      19 Pois, por intermédio da Lei eu morri                              humano?2
      para a própria Lei, com o propósito de                               4 É possível que vos tenha sido inútil
      viver tão somente para Deus.                                         sofrer tudo o que sofrestes? Se é que isso
      20 Fui crucificado juntamente com                                     foi por nada!
      Cristo. E, desse modo, já não sou eu                                 5 Aquele que vos dá o seu Espírito, e que
      quem vive, mas Cristo vive em mim. E                                 realiza milagres entre vós, será que assim
      essa nova vida que agora vivo no corpo,                              procede pelas obras da Lei, ou por meio
      vivo-a exclusivamente pela fé no Filho                               da fé com a qual recebestes a Palavra?
      de Deus, que me amou e se sacrificou                                  6 Considerai, pois, o exemplo de Abraão:
      por mim.                                                             “Ele creu em Deus, e isso lhe foi credita-
      21 Não torno inútil a Graça de Deus;                                 do como justiça”.
      porquanto, se a justiça pudesse ser estabe-                          7 Estejais certos, portanto, de que os que
      lecida pela Lei, então, Cristo teria morrido                         são da fé, precisamente estes, é que são
      em vão!”7                                                            filhos de Abraão!3
                                                                           8 E a Escritura, prevendo que Deus iria
      A fé em Cristo supera a Lei
        f               p                                                  justificar os não-judeus pela fé, anun-

      3   Ó gálatas insensatos! Quem vos enfei-
          tiçou? Ora, não foi diante dos vossos
      olhos que Jesus Cristo foi exposto como
                                                                           ciou com antecedência as boas novas a
                                                                           Abraão: “Por teu intermédio, todas as
                                                                           nações serão abençoadas”.4
      crucificado?1                                                         9 Desse modo, os que são da fé são aben-
      2 Quero tão-somente que me respondais:                               çoados juntamente com Abraão, homem
      Foi por intermédio da prática da Lei que                             que realmente creu.



      possível receber e viver plenamente o dom da justificação. Paulo não deprecia a Lei do AT, mas argumenta contra usá-la como
      fundamento para nossa aceitação diante de Deus (Rm 7.12; 3.20-28; Fp 3.9).
         7 O legalismo, ainda que amparado pela Lei, não pode ser misturado à teologia da Graça, sob pena de se distorcer o verdadeiro
      significado da Graça e fazer do maior evento da história da humanidade: a crucificação, morte e ressurreição de Jesus, o Cristo,
      apenas um ato incoerente e sem qualquer valor metafísico (5.24; 6.14; Rm 6.7-10; 7.4-6; 1Tm2.6; Tt 2.14).
         Capítulo 3
         1 A expressão grega original, aqui traduzida por “insensatos”, não traz o sentido de qualquer limitação mental, mas a falta de
      juízo e de bom senso (Lc 24.25; Rm 1.14; 1Tm 6.9; Tt 3.3). O termo grego original, aqui traduzido por “enfeitiçou”, tem o sentido de
      “magia ou sedução maléfica”. Paulo também usa o verbo “exposto” da mesma forma que fora usado para comunicar a maneira
      como Moisés “expôs em público” a serpente de bronze (Nm 21.9; 1Co 23; 2.2).
         2 Os gálatas haviam abraçado a fé em Cristo de uma maneira pura e sincera. No entanto, depois de algum tempo, influenciados
      pelos judaizantes, estavam criando e pregando regras e doutrinas baseadas na Lei, como forma de se alcançar maiores bênçãos
      de Deus. Paulo os alerta sobre essa tamanha falta de sabedoria, enfatizando que tanto a salvação quanto a santificação são obras
      do Espírito Santo (ao qual ele se refere 16 vezes em toda essa carta). Paulo usa literalmente a expressão grega “por meio da
      carne” para significar “a natural e inconseqüente fraqueza humana”. Buscar conquistar a justificação por meio do cumprimento
      de leis, rituais e boas obras, incluindo a circuncisão judaica, faz parte do caráter de todos os homens, mas é absolutamente inútil
      em relação à Salvação eterna e à verdadeira comunhão com Deus.
         3 Deus fez de Abraão o pai biológico e espiritual de toda a raça judaica (Gn 15.6; Jo 8.33-53; At 7.2; Rm 4.12). Paulo enfatiza,
      entretanto, que todos os crentes sinceros (judeus e não-judeus) são chamados de filhos espirituais dele, e também são
      apresentados no NT como “descendentes” de Abraão (v.16; Hb 2.16).
         4 Paulo personifica a Bíblia (...a Escritura, prevendo...) com o propósito de ressaltar a origem divina da Palavra de Deus (1Tm
      5.18). Os judaizantes se valiam do texto bíblico de Gn 17 para afirmar que as bênçãos divinas foram prometidas somente a Abraão
      e aos seus filhos (Gn 12.3; 18.18; 22.18). Para ser incluído na linhagem de Abraão, era indispensável ser circuncidado. Paulo nega
      veementemente essa interpretação racista e obtusa da Palavra de Deus, declarando que o mais importante não é ser “filho na
      carne”, mas no Espírito, pela fé em Cristo (Rm 4.9-12; Hb 11.8-19).




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7                                                 GÁLATAS 3

       10 Pois todos os que são das obras da Lei                            mas exclusivamente: “Ao seu descenden-
       estão debaixo de maldição. Porquanto                                 te”, transmitindo a informação de que se
       está escrito: “Maldito todo aquele que não                           trata de uma só pessoa, isto é, Cristo.7
       persiste em praticar todos os mandamen-                              17 Em outras palavras: A Lei, que veio
       tos escritos no Livro da Lei”.5                                      quatrocentos e trinta anos depois, não
       11 É, portanto, evidente que diante de                               anula a aliança previamente estabelecida
       Deus ninguém é capaz de ser justificado                               por Deus, de maneira que venha a invali-
       pela Lei, pois “o justo viverá pela fé”.                             dar a promessa.8
       12 A Lei não é fundamentada na fé; ao                                18 Porquanto, se a herança provém da
       contrário, “quem praticar esses manda-                               Lei já não depende mais da promessa.
       mentos, por eles viverá”.                                            Deus, entretanto, outorgou a herança
       13 Foi Cristo quem nos redimiu da mal-                               gratuitamente a Abraão por intermédio
       dição da Lei quando, a si próprio se tor-                            da promessa.
       nou maldição em nosso lugar, pois como                               19 Qual era, então, o propósito da Lei?
       está escrito: “Maldito todo aquele que for                           Ora, a Lei foi acrescentada por causa das
       pendurado num madeiro”.6                                             transgressões, até que viesse o Descen-
       14 Isso aconteceu para que a bênção de                               dente a quem se referia a Promessa, e foi
       Abraão chegasse também aos gentios em                                promulgada por meio de anjos, pela mão
       Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos a                             de um mediador.
       promessa do Espírito Santo pela fé.                                  20 Entretanto, o mediador não representa
                                                                            somente um, mas Deus é um só.9
       A Lei e a graça da Promessa                                          21 Sendo assim, pode a Lei ser contrária
       15 Caros irmãos, eu vos falarei em termos                            às promessas de Deus? De forma alguma!
       simplesmente humanos. Assim, mesmo                                   Pois, se tivesse sido outorgada uma lei
       considerando que um testamento seja                                  que pudesse conceder vida, com toda a
       feito por mãos humanas, ninguém o po-                                certeza a justiça resultaria da lei.
       derá anular depois de haver sido ratifica-                            22 Contudo, a Escritura colocou tudo
       do, nem ao menos lhe acrescentar algo.                               debaixo do pecado, para que a promessa
       16 Desse mesmo modo, as promessas fo-                                fosse concedida aos que crêem por meio
       ram feitas a Abraão e ao seu descendente.                            da fé em Jesus Cristo.
       A Escritura não declara: “E aos seus des-                            23 Antes que essa fé chegasse, estávamos
       cendentes”, como se referindo a muitos,                              sob a custódia da Lei, nela aprisionados,


          5 Paulo se refere a todos os legalistas, pois recusam a Graça de Deus e insistem em tentar obter a justiça ou merecer os favores
       de Deus por meio da prática metódica de leis, rituais e boas obras. Paulo ensina que não é possível ao ser humano (depois da
       Queda – Gn 3) guardar a Lei com perfeição, e, portanto, todos aqueles que se acham “bons, justos ou cumpridores das leis”,
       desprezam a Graça e estão sob a maldição da Lei que, certamente os condenará, pois ninguém é capaz de cumprir todos os man-
       damentos do Senhor. Além disso, não basta observar a Lei, é preciso não ter qualquer contato com alguém em pecado, sob pena
       de assumir para si a maldição de outrem e suas penalidades (Hb 2.15). A bênção do Senhor não é concedida por merecimento,
       mas pela misericórdia de Deus ao coração humilde e desejoso de salvação (Dt 27.26; Tg 2.10). Não há nada que possamos fazer
       para que Deus nos ame mais, porém, não há nada que façamos que possa diminuir o amor de Deus por nós em Cristo Jesus.
          6 É Cristo quem nos “redimiu” (no original grego exegorasen – com o sentido de “comprou para pôr em liberdade”) da maldição
       a que estávamos condenados pela Lei (Rm 8.3). Paulo usa o grego clássico no sentido de comunicar a morte de Cristo na cruz do
       Calvário, em analogia ao terrível suplício da empalação romana por meio de varas e estacas (At 5.30; 10.39; 1Pe 2.24). Portanto,
       quem viver pela fé pela fé será julgado, quem viver pela Lei, pela Lei já está condenado (Hb 2.4; Lv 18.5; Dt 21.23).
          7 Isaque era em si incapaz de transportar as bênçãos de Deus para todos os povos (v.8). Portanto, Jesus Cristo é a verdadeira
       “semente” (no singular em Gn 12.7; 22.17,18), em que as promessas têm o seu perfeito cumprimento.
          8 O princípio da fé é anterior à própria Lei e mais importante do que as ordenanças mosaicas. O período em que o povo de
       Israel viveu como escravo no Egito (sem contar a peregrinação no deserto) é designado em números redondos pela Septuaginta
       (a tradução do AT em grego – Êx 12.40,41; Gn 15.13; At 7.6).
          9 O “Descendente” refere-se outra vez a Jesus Cristo. A Lei foi interpolada para que os judeus pudessem perceber claramente
       e reconhecer suas transgressões e pecados (Rm 3.20). Em contraste com a Promessa, a Lei foi declarada aos homens por meio
       de anjos (At 7.38,53), mas a pessoa de Deus ficou à parte. Em Cristo, entretanto, o próprio Deus vem diretamente até o crente e
       lhe abençoa com o Seu Espírito Santo (v.14).




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GÁLATAS 3, 4                                                    8

      até que a fé que haveria de vir fosse re-                           3 Da mesma forma nós, quando éramos
      velada.10                                                           menores, estávamos debaixo de um sis-
      24 Desse modo, a Lei se tornou nosso                                tema que nos escravizava aos princípios
      tutor a fim de nos conduzir a Cristo,                                básicos deste mundo.
      para que por intermédio da fé fôssemos                              4 Todavia, quando chegou a plenitude
      justificados.                                                        dos tempos, Deus enviou seu Filho, nas-
      25 Agora, no entanto, havendo chegado a fé,                         cido de mulher, nascido também debaixo
      já não estamos mais sujeitos a esse tutor.11                        da autoridade da Lei,1
                                                                          5 para resgatar os que estavam subjuga-
      Filhos de Deus mediante Cristo                                      dos pela Lei, a fim de que recebêssemos a
      26 Porquanto, todos vós sois filhos de Deus                          adoção de filhos.
      por meio da fé que tendes em Cristo Jesus,                          6 E, porque sois filhos, Deus enviou o Es-
      27 pois todos quantos em Cristo fostes                              pírito de seu Filho para habitar em vos-
      batizados, de Cristo vos revestistes.                               sos corações, e ele clama: “Abba, Pai!”.2
      28 Não há judeu nem grego, escravo ou                               7 Portanto, tu não és mais escravo, mas
      livre, homem ou mulher; porque todos                                filho; e sendo filho, és igualmente pleno
      vós sois um em Cristo Jesus.                                        herdeiro por decreto de Deus.
      29 E, se sois de Cristo, então, sois descen-
      dência de Abraão e plenos herdeiros de                              Zelo por uma doutrina sadia
      acordo com a Promessa.12                                            8 No passado, quando não conhecíeis a
                                                                          Deus, éreis escravos daqueles que, por
      Não mais escravos, mas filhos!                                       natureza, não são deuses.

      4  Afirmo porém que, durante todo o
         tempo em que o herdeiro é menor
      de idade, ele em nada é diferente de um
                                                                          9 Agora, entretanto, que já conheceis a
                                                                          Deus, ou melhor, sendo conhecidos por
                                                                          Ele, como é que podeis pensar em retro-
      escravo, mesmo sendo o dono de tudo.                                ceder a esses princípios insignificantes,
      2 No entanto, está sujeito a tutores e ad-                          fracos e pobres, aos quais de novo desejais
      ministradores até o tempo determinado                               servir?
      por seu pai.                                                        10 Guardais dias, meses, tempos e anos.3




         10 Estar sob custódia (detenção) da Lei, ou prisioneiro do pecado, em termos práticos resulta na mesma falta de liberdade e
      condenação, porquanto a Lei revela e estimula o pecado (4.3; Rm 7.8; Cl 2.20). Paulo se refere à “Escritura” para mostrar seu
      embasamento teológico acerca de que a Lei é secundária; outorgada para provar o quanto somos pecadores e merecedores da
      condenação eterna por nossas afrontas a Deus e aos nossos semelhantes, e a fé é prioritária e vital, pois nos concede a vida.
         11 A expressão original grega paidagõgos (da qual se deriva “pedagogo”) refere-se a um tipo especial de escravo, também
      chamado de “aio”, cuja principal responsabilidade era acompanhar os filhos do seu amo na execução dos seus deveres
      escolares, bem como na sua formação acadêmica e cultural. Fazia parte de suas funções caminhar e seguir seus pupilos por
      todos os lugares, sempre zelando por sua educação e segurança (1Co 4.15). A Lei, portanto, pode conduzir o ser humano a
      Cristo, porém somente Jesus é capaz de tirar o poder do pecado da alma humana e ser seu Advogado (Jo 14.16-21).
         12 Todos os cristãos sinceros são adotados por Deus e se tornam seus filhos, plenamente justificados, adultos e dignos da
      herança eterna com todos os privilégios (e deveres) decorrentes (4.1-7; Rm 8.14-17). A união com Cristo transcende todas as
      diferenças raciais, culturais, políticas e sociais (Rm 10.12; 1Co 12.13; Ef 2.15,16). Portanto, os crentes verdadeiros são os des-
      cendentes espirituais de Abraão.
         Capítulo 4
         1 A “plenitude dos tempos” ou “época determinada” descreve o ponto central da história universal, o momento escolhido por
      Deus para revelação da Sua pessoa em Cristo Jesus, Seu Filho; para resgate eterno de todos os que nele crêem, transformando
      seus “filhos menores” em “herdeiros adultos” (Jo 1.14; 3.16; Rm 1.1-6; 1Jo 4.14). Ao salientar que o Cristo nasceu de mulher,
      Paulo ratifica a plena humanidade do Senhor e, portanto, sujeição à Lei.
         2 Deus concedeu o seu próprio Espírito, como selo real de paternidade e novo guardião, para habitar permanentemente na
      alma dos cristãos sinceros (Rm 8.2-9; Ef 1.13,14). O verbo original grego, aqui traduzido por “clama”, expressa profunda emoção,
      como no brado final de Jesus na cruz (Mt 27.50). O vocábulo aramaico “Abba” corresponde à forma carinhosa e respeitosa da
      nossa expressão “papai”, transmitindo a idéia de um relacionamento especialmente íntimo com Deus (Mc 14.36; Rm 8.15).
         3 Os judeus tinham que guardar vários dias e épocas cerimoniais como parte do cumprimento da Lei. Por exemplo: o Shabbãth
      (todos os preparativos e rituais que envolviam a celebração do sábado). O número de detalhes a serem observados é tão grande,




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9                                                  GÁLATAS 4

       11 Temo que eu talvez tenha ministrado                                sofrendo como que com dores de parto
       inutilmente para convosco.                                            por vossa causa, e isso até que Cristo seja
       12 Caros irmãos, rogo-vos que vos torneis                             formado em vós.
       parecidos a mim, da mesma maneira que                                 20 Eu bem que gostaria de estar pesso-
       eu me tornei semelhante a vós. Em nada                                almente convosco e mudar o tom desse
       me ofendestes;                                                        meu discurso, pois estou atônito em
       13 e sabeis que foi por causa de uma                                  relação ao vosso comportamento.
       enfermidade física que vos preguei o
       Evangelho pela primeira vez.4                                         A Lei e a Promessa: as alianças
       14 E não desprezastes nem rejeitastes                                 21 Dizei-me vós, os que quereis perma-
       aquilo que no meu corpo era uma tribu-                                necer subjugados à Lei: Acaso não tendes
       lação para vós; ao contrário, me recebes-                             ouvido com clareza a Lei?
       tes como se eu fosse um anjo de Deus,                                 22 Porquanto está escrito que Abraão teve
       como o próprio Cristo Jesus.                                          dois filhos, um da mulher escrava e outro
       15 Ora, onde está aquele vosso júbilo?                                da livre.6
       Porquanto, eu mesmo sou testemunha de                                 23 O que era filho da escrava nasceu de
       que, se fosse possível, teríeis arrancado os                          modo natural, porém o filho da mulher
       próprios olhos para oferecê-los a mim.                                livre nasceu mediante uma promessa.
       16 Será possível que me tornei vosso                                  24 Pois bem, uso essa história aqui como
       inimigo apenas por vos declarar a ver-                                uma ilustração; pois essas mulheres pre-
       dade?5                                                                figuram duas alianças. Uma aliança pro-
       17 Aqueles que se mostram fazendo tanto                               cede do monte Sinai e pode gerar apenas
       esforço para vos agradar não agem com                                 filhos para a escravidão; esta é Hagar.7
       boas intenções, mas seu real propósito é                              25 Hagar representa o monte Sinai, na
       vos isolar a fim de que sejais constran-                               Arábia, e corresponde à atual cidade de
       gidos a demonstrar vosso cuidado para                                 Jerusalém, que vive como escrava com os
       com eles.                                                             seus filhos.8
       18 É muito bom que sejais sempre zelo-                                26 Entretanto, a Jerusalém do alto é livre,
       sos do bem, e não apenas quando estou                                 e esta é a nossa mãe!9
       presente.                                                             27 Pois está escrito: “Alegra-te, ó estéril,
       19 Meus amados filhos, novamente estou                                 tu que não davas à luz; irrompe em bra-


       mesmo em nossos dias, especialmente em Israel, que geralmente as crianças são encarregadas, na sexta-feira, de preparar
       pedaços de papel higiênico e disponibilizá-los para uso nos banheiros de suas casas, pois a lei judaica proíbe rasgá-los no
       sábado. E ainda, o Dia da Expiação (dia dez de Tisrei – conforme Lv 16.29-34), Luas Novas (Nm 28.11-15; Is 1.13,14), a Páscoa
       (Êx 12.18), as Primícias (Lv 23.10), o Ano Sabático (Lv 25.4). Os fariseus observavam meticulosamente milhares de ordenanças e
       ritos religiosos com o objetivo de conquistar méritos diante de Deus e, então, se sentirem autorizados a fazer suas reivindicações
       ao Senhor.
          4 Paulo conheceu os gálatas e lhes pregou o Evangelho por ocasião da sua primeira viagem missionária (At 13.14 – 14.23).
       Nessa época, a região de Perge, no litoral da Ásia Menor foi afligida por um surto de malária. Paulo pode ter contraído essa
       doença e foi acolhido e tratado pelos gálatas que presenciaram sua luta contra o que chamou de seu “espinho na carne” (2Co
       12.7), embora não haja registro claro de que mal era esse.
          5 Ao falar a verdade, ainda que com amor e cuidado, corremos o risco de perder alguns amigos. Paulo era muito estimado
       pelos gálatas, mas por causa da influência desastrosa dos judaizantes e sua doutrina legalista e altamente restritiva, a igreja havia
       perdido a espontaneidade, a alegria, a hospitalidade e o grande respeito que já havia demonstrado pelo apóstolo de Cristo.
          6 Abraão teve dois filhos: Ismael, nascido da escrava Hagar (Gn 16.1-16), e Isaque, nascido de Sara, que não era escrava
       (Gn 21.2-5).
          7 A antiga aliança, com a Lei que regulamentava a vida e a religiosidade do povo de Israel foi estabelecida no monte Sinai e
       entregue a Moisés para que a ministrasse aos israelitas e a todos os povos (Êx 19.1; 20.1-17).
          8 Jerusalém, ainda hoje, pode ser equiparada ao próprio monte Sinai por representar o centro do judaísmo em todo o mundo,
       cujo povo ainda vive, onde estiver, como escravo da antiga Lei promulgada no alto de um monte, no meio do deserto do Sinai;
       um lugar ermo e árido, para onde eram banidos os criminosos e indesejados das cidades.
          9 Desde a antigüidade, a doutrina rabínica ensinava que a Jerusalém do alto era o arquétipo da cidade celestial que seria
       baixada e estabelecida na Terra por ocasião do advento messiânico (Ap 21.2). Paulo se refere aqui à cidade espiritual de Deus, na




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GÁLATAS 4, 5                                                   10

      dos de júbilo, tu que não passastes pelas                           2  Eu, Paulo, vos afirmo que Cristo de
      dores de parto; pois os filhos da mulher                             nada vos servirá, se vos deixardes cir-
      abandonada são mais numerosos do que                                cuncidar.
      os daquela que tem marido”.10                                       3 E outra vez declaro solenemente a todo
      28 Assim vós, irmãos, sois filhos da Pro-                            homem que se permite circuncidar, que
      messa, à semelhança de Isaque.                                      ele, desse modo, fica obrigado a cumprir
      29 No entanto, assim como naquele tempo                             toda a Lei.
      o que nasceu de modo natural perseguia                              4 Vós, que vos justificais por meio da
      o que nasceu segundo o Espírito, assim                              Lei, estais separados de Cristo; caístes
      também acontece nos dias de hoje.                                   da graça!2
      30 Contudo, o que nos revela a Escritura?                           5 Entretanto nós, pelo Espírito mediante
      “Mande embora a escrava e o seu filho,                               a fé, aguardamos a justiça que é nossa
      porque o filho da escrava jamais será                                esperança.3
      herdeiro com o filho da livre”.11                                    6 Porquanto em Cristo Jesus, nem a circun-
      31 Portanto, amados irmãos, não somos                               cisão nem a incircuncisão têm qualquer
      filhos da escrava, mas sim filhos da li-                              valor; mas sim a fé que opera pelo amor.4
      berdade!                                                            7 Corríeis bem! Quem vos impediu de
                                                                          obedecer à verdade?
      Nossa liberdade em Cristo                                           8 Quem vos convenceu a agir assim, não


      5  Foi para a liberdade que Cristo nos
         libertou! Portanto, permanecei firmes
      e não vos sujeiteis outra vez a um jugo de
                                                                          procede daquele que vos chama.
                                                                          9 Sabeis que “um pouco de fermento
                                                                          leveda toda a massa”.5
      escravidão.1                                                        10 Quanto a vós, estou convencido no



      qual Jesus Cristo reina e da qual todo cristão já é cidadão (filho), em oposição a Jerusalém da época de Paulo e de hoje em dia.
         10 Paulo interpreta o regozijo profético de Isaías (Is 54.1) em relação à Jerusalém – na época do profeta confinada a um peque-
      no e inexpressivo grupo de escravos no exílio, portanto, “estéril e sem filhos”, mas que ainda produziria “muitos filhos”. Profecia
      cumprida por meio da grande colheita evangélica que o mundo presencia, desde a vinda do Senhor Jesus, e que se encerrará
      com seu iminente e glorioso retorno.
         11 Paulo usa as palavras de Sara como base bíblica para ensinar aos gálatas e a todas as igrejas cristãs que não devem tolerar
      em seu meio doutrinas meramente legalistas ou qualquer ideologia judaizante (Gn 21.10). A Igreja de Cristo é livre, conduzida
      pelo Espírito do próprio Deus e por Sua Palavra; adequada à cultura de cada nação e povo salvo, e não mais guiada pela obedi-
      ência obrigatória e metódica à Lei e às suas ordenanças, rituais, festas e mandamentos rabínicos. O crente em Cristo é filho – com
      plenos direitos, poderes e deveres – da Promessa, que é viver pela fé (3.7,29).
         Capítulo 5
         1 A palavra “liberdade” é enfatizada por sua localização na frase original grega, e revela nossa total independência do jugo
      da Lei. No grego clássico, o verbo “sujeitar” significava “viver imobilizado por uma rede”, ou seja, emaranhado pelos poderosos
      laços das exigências rigorosas das leis judaicas, a fim de conseguir o favor de Deus (At 15.10,11).
         2 A expressão “cair da graça”, nesse contexto, significa que alguns cristãos, entre os gálatas, optaram por (seguindo o pensa-
      mento judaizante) conquistar o favor divino pelo esforço próprio (mérito), ao tentarem cumprir, de forma legalista, as ordenanças
      da Lei; em vez de, humildemente, reconhecerem a pecaminosidade e impotência humanas, e aceitar o dom gratuito de Deus por
      meio de Cristo, que é a Salvação (2Pe 3.17).
         3 Os gálatas haviam sido enredados por um pensamento teológico falso, de que o cristão só obteria completa salvação se
      observasse toda a Lei, as datas e comemorações santas do calendário judaico e praticasse os tradicionais rituais religiosos, como
      a circuncisão. Paulo faz uma afirmação escatológica, ao asseverar que o veredicto final de Deus sobre o cristão (“absolvido!”)
      já nos foi outorgado em Cristo (ele pagou nossa cara fiança), e que essa decisão irrevogável e eterna de Deus está confirmada
      (selada) pela presença do Espírito Santo na vida de cada convertido. Paulo afirma que é o Espírito quem nos apresentará diante
      de Deus, perfeitos na justiça de Cristo (3.3; Ef 1.13).
         4 Paulo não se opunha a que os judeus-cristãos continuassem a guardar a Lei e as tradições judaicas como seus pais. En-
      tretanto, não podia admitir que os gentios fossem obrigados a cumprir os rituais judaicos (At 21.10). Paulo ensina que não é a
      raça, tradição ou qualquer prática religiosa que conduz à salvação e aos favores de Deus, mas a fé no amor operoso de Cristo,
      o Filho de Deus (Rm 5.8; 8.32). O rito em si, tanto da circuncisão como de qualquer tipo de batismo, não tem valor justificador
      diante de Deus (1Co 10.1-12). A fé não é simples assentimento intelectual, mas confiança viva e responsiva na graça do Senhor;
      a verdadeira fé se manifesta em amor prático (1Co 7.19; 1Ts 1.3).
         5 Paulo cita um provérbio muito conhecido, e várias vezes mencionado por Jesus para ilustrar o efeito difusor do judaísmo.
      Quando a palavra “fermento” é usada de forma simbólica nas Escrituras, representa a iniqüidade ou falsidade (Mc 8.15), com
      exceção de Mt 13.33.




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11                                              GÁLATAS 5, 6

       Senhor de que não pensareis de outra                               des, contra as quais vos advirto, como já
       forma. Mas aquele que vos perturba, seja                           vos preveni antes: os que as praticam não
       quem for, sofrerá condenação.                                      herdarão o Reino de Deus!
       11 Eu, no entanto, irmãos, se continuo                             22 Entretanto, o fruto do Espírito é: amor,
       pregando a circuncisão, por qual motivo                            alegria, paz, paciência, benignidade,
       ainda sou perseguido? Nesse caso, o es-                            bondade, fidelidade,
       cândalo da cruz estaria anulado.                                   23 mansidão e domínio próprio. Contra
       12 Quem me dera se castrassem àqueles                              essas virtudes não há Lei.
       que vos estão confundindo!6                                        24 Os que pertencem a Cristo Jesus cru-
       13 Caros irmãos, fostes chamados para a                            cificaram a carne, com as suas paixões e
       liberdade. Todavia, não useis da liberdade                         os seus desejos.
       como desculpa para vos franquear à                                 25 Se vivemos pelo Espírito, andemos de
       carne; antes, sede servos uns dos outros                           igual modo sob a direção do Espírito.
       mediante o amor.                                                   26 Não nos tornemos arrogantes, provo-
       14 Pois toda a Lei se resume num só                                cando-nos uns aos outros e tendo inveja
       mandamento, a saber: “Amarás o teu                                 uns dos outros.
       próximo como a ti mesmo”.7
       15 Porém, se mordeis e devorais uns aos                            A mutualidade cristã
       outros, cuidado para não vos destruirdes
       mutuamente!                                                        6   Irmãos, se alguém for surpreendido
                                                                              em algum pecado, vós que sois espi-
                                                                          rituais, deveis restaurar essa pessoa com
       Viver no Espírito, não na carne                                    espírito de humildade. Todavia, cuida de
       16 Portanto, vos afirmo: Vivei pelo Espí-                           ti mesmo, para que não sejas igualmente
       rito, e de forma alguma satisfareis as                             tentado.
       vontades da carne!                                                 2 Levais as cargas pesadas uns dos outros
       17 Porquanto a carne luta contra o Espí-                           e, assim, estareis cumprindo a Lei de
       rito, e o Espírito, contra a carne. Eles se                        Cristo.1
       opõem um ao outro, de modo que não                                 3 Pois, se alguém se considera importan-
       conseguis fazer o que quereis.                                     te, não sendo nada, engana a si mesmo.
       18 Contudo, se sois guiados pelo Espírito,                         4 Mas cada indivíduo avalie suas próprias
       já não estais subjugados pela Lei.                                 atitudes, e, então, saberá como orgulhar-
       19 Ora, as obras da carne são manifestas:                          se de si mesmo, sem viver se comparando
       imoralidade sexual, impureza e liberti-                            com outras pessoas.
       nagem;                                                             5 Portanto, cada um deve levar seu pró-
       20 idolatrias e feitiçarias; ódio, discórdia,                      prio fardo.2
       ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e
       21 inveja; embriaguez, orgias e tudo                               Colhemos aquilo que semeamos
       quanto se pareça com essas perversida-                             6 O que está sendo orientado na Palavra




          6 A expressão grega usada por Paulo, originalmente, é mais forte, e significa literalmente “cortar fora”. Em Fp 3.2, o apóstolo
       emprega um verbo correspondente em referência a uma pessoa em situação semelhante à “falsa circuncisão”, ou literalmente
       “mutilação”. Fica assim muito clara a ironia usada por Paulo nesse sentido.
          7 Paulo ensina que temos toda a liberdade de fazer o bem, como é próprio do verdadeiro crente que ama a Deus, e demonstra
       essa adoração ao Senhor por meio de atitudes práticas para com todas as pessoas à sua volta (Lv 19.18). Evidentemente, como
       cristãos, não nascemos de novo para sermos licenciosos, ou seja, nos entregarmos à prática do mal (Rm 6.1; 1Pe 2.16).
          Capítulo 6
          1 O verbo grego “restaurar”, em seu sentido original, tem a ver com o ato de consertar as redes de pesca, ou de reunir pessoas
       cujos relacionamentos foram quebrados. Paulo faz referência ao “novo mandamento” de dedicar uns aos outros o amor fraternal
       movido pelo Espírito de Deus, e o denomina “Lei de Cristo” (Jo 13.34; 1Jo 4.21). Essa “nova lei” abrange todo os gomos do fruto
       do Espírito (5.22,23) e cumpre todo o dever do cristão para com Deus e a humanidade (vv. 5,14; Mt 22.37-40).
          2 Não devemos nos comparar com outras pessoas, quer no aspecto físico, psicológico, moral ou espiritual. Nem devemos nos
       gloriar nas fraquezas ou erros cometidos pelos outros. Não somos piores ou melhores que ninguém, temos apenas algumas




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GÁLATAS 6                                                     12

      deve compartilhar tudo o que possui de                             dados conseguem cumprir a Lei; contu-
      bom com aquele que o instrui.3                                     do, desejam que vós sejais circuncidados,
      7 Não vos enganeis: Deus não se permite                            para se orgulharem do ritual que impin-
      zombar. Portanto, tudo o que o ser hu-                             giram ao vosso corpo.
      mano semear, isso também colherá!                                  14 Quanto a mim, no entanto, que eu
      8 Pois quem semeia para a sua carne, da                            jamais venha a me orgulhar, a não ser na
      carne colherá ruína; mas quem semeia                               cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por
      para o Espírito, do Espírito colherá a                             intermédio da qual o mundo já foi cruci-
      vida eterna.                                                       ficado para mim, e eu para o mundo.
      9 E não nos desfaleçamos de fazer o bem,                           15 Não há, de fato, o menor valor em ser
      pois, se não desistirmos, colheremos no                            ou não ser circuncidado. O que realmen-
      tempo certo.                                                       te importa é ser uma nova criação.6
      10 Sendo assim, enquanto temos oportu-                             16 Paz e misericórdia repousem sobre
      nidade, façamos o bem a todos, princi-                             todos aqueles que andarem conforme
      palmente aos da família da fé.4                                    essa ordenança, e também sobre o Israel
                                                                         de Deus.7
      A nova criação supera a Lei                                        17 Quanto ao restante, ninguém tem au-
      11 Vede com que grandes letras vos escre-                          toridade para questionar-me, pois trago
      vo de próprio punho.                                               em meu próprio corpo as marcas de que
      12 Aqueles que aspiram ostentação exte-                            pertenço a Jesus.8
      rior vos obrigando a fazer a circuncisão,
      agem dessa maneira somente para não                                Bênção apostólica final
      serem perseguidos por causa da cruz de                             18 Amados irmãos, que a graça de nosso
      Cristo.5                                                           Senhor Jesus Cristo esteja com vosso es-
      13 Ora, nem mesmo os que são circunci-                             pírito! Amém.




      diferenças e oportunidades diversas. No dia do julgamento final cada pessoa, individualmente, apresentará seu fardo com os
      valores espirituais (boas e más escolhas) que foi angariando ao longo do seu tempo de vida na Terra (2Co 5.10; Rm 14.12). O v.2
      fala das cargas que podemos e devemos ajudar nossos irmãos e amigos a levar (tragédias, tristezas agudas, quedas repentinas
      e momentâneas, etc.), o v.5 usa uma outra palavra no grego original, e se refere ao nosso fardo particular, que não podemos
      compartilhar: a responsabilidade sobre a nossa decisão pessoal de aceitar ou não o Evangelho de Cristo e adorar a Deus. Uma
      resposta íntima e intransferível que todas as pessoas do mundo têm que dar um dia.
         3 Os crentes têm a obrigação espiritual e moral de dividir, com seus pastores e mestres, o resultado de seus progressos
      materiais, e não apenas problemas e necessidades (Fp 4.14-19).
         4 Nossa prioridade em termos de obras de caridade e assistência social é para com os demais cristãos (família da fé). Nossa
      principal responsabilidade para com o mundo em geral é a evangelização, o que não exclui toda a ajuda material e social possível
      (Mt 28.19,20; 1Co 9.16; 1Tm 5.8).
         5 Ao se constrangerem os gálatas a passar pelo ritual religioso da circuncisão, os judaizantes corriam menos risco de sofrer
      oposição por parte dos inimigos judaicos do cristianismo. Paulo os critica por estarem mais preocupados com sua própria repu-
      tação e interesses do que com a verdadeira edificação espiritual dos crentes (5.11).
         6 Ao contrário do dito popular, nem todos são filhos de Deus. Essa é uma posição muito importante e privilegiada, somente
      possível àqueles que aceitaram com fé a graça salvadora de Jesus Cristo; e, portanto, ao nascerem de novo passaram por um
      processo milagroso de nova criação. Esse novo ser, criado à imagem de Cristo, precisa alimentar-se da Palavra e crescer em
      sabedoria divina, amadurecer como cristão e gerar filhos e filhas espirituais (Jo 1.12; 3.3-16; 2Co 5.17).
         7 A Igreja do NT, constituída de cristãos de todos os povos e culturas, judeus e gentios (não-judeus), pode ser compreendida
      como a nova descendência de Abraão, herdeira de todas as bênçãos do Senhor segundo a Promessa (1Co 10.18; Rm 9.6; Fp
      3.3). Paulo se refere à perfeita paz e misericórdia profetizadas ao povo israelita, agora à disposição de todos os crentes; neste
      sentido, o novo Israel de Deus (Sl 125.5; 128.6).
         8 Na época de Paulo, a palavra grega original, aqui traduzida por “marcas”, era usada em referência ao estigma produzido pelo
      ferro em brasa ou pelo ferrete com que se costumava furar as orelhas dos escravos a fim de identificar a que senhor pertenciam.
      Os muitos sofrimentos de Paulo serviam para distinguí-lo como “escravo de Cristo” (At 14.19; 16.22; 2Co 11.25; 2Co 12.7; Gl
      4.13,14). Portanto, os cristãos precisam refletir sobre isso quando se apresentam à sociedade como “servos do Senhor” (1.10;
      2Co 4.10).




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Introdução à Epístola aos Gálatas

  • 1. INTRODUÇÃO GÁLATAS Autoria Com exceção de poucos teólogos do século XIX, desde sua introdução ao cânon, a carta ou livro de Gálatas é atribuída à autoria do apóstolo Paulo, como fica claro no versículo que abre a obra (1.1). Na época em q essa epístola foi escrita, a expressão Galácia era usada normalmente em dois p que p , p sentidos: geográfico e político. No primeiro sentido, referia-se à parte centro-norte da Ásia Menor, ao norte das cidades de Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe; no segundo, tinha a ver com a organização da província, por volta do ano 25 a.C., e que incluía essas cidades e mais alguns distritos ao sul, sob o comando geral e absoluto do Império Romano. Propósitos O grande propósito de Paulo ao escrever esse tratado foi instruir os cristãos da região da Galácia sobre a justificação exclusiva e absoluta em Jesus Cristo, o Messias e Filho de Deus. Os mestres cristãos judaizantes tinham procurado convencer os gálatas a se revoltarem contra Paulo e seus ensinos e os estavam orientando a praticar todos os principais rituais da lei, pois, como eram gentios, tinham que ser circuncidados (5.2 – 6.12-15) e, segundo esses mestres, deviam também viver um cristianismo baseado nas ordenanças e na tradição judaica, a fim de serem salvos (4.10). Os judaizantes eram cristãos judeus que não conseguiam compreender a nova realidade da salvação pela graça de crer no sacrifício único, suficiente e vicário do Senhor Jesus. Eles criam que Jesus era o Messias prometido, mas também acreditavam no dever de cumprir as ordenanças mosaicas e, especialmente, todos os cerimoniais. Logo após a cruzada missionária de Paulo na Galácia, os judaizantes recrudesceram quanto ao legalismo teológico, por influência e receio de serem perseguidos pelos judeus zelotes. E começaram a obrigar os gentios, novos convertidos ao cristianismo, a passar também pelos ritos de circuncisão, acepção de alimentos, guarda do sábado, demais dias sagrados etc. (6.12). Os judaizantes iam além e procuravam difamar a pessoa e o ministério de Paulo, alegando que o apóstolo não era um genuíno membro do grupo original dos primeiros discípulos de Cristo, e que havia suavizado as ordenanças de Deus, a fim de tornar sua mensagem e doutrina mais atraentes aos gentios. Paulo vindica a sua plena autoridade apostólica e condena os ensinos dos judaizantes como legalismo anticristão. Os crentes em Jesus Cristo, quer judeus ou gentios (povos de todas as etnias e culturas), conforme a doutrina paulina, desfrutam em Cristo da absoluta e eterna salvação, porquanto foram justificados (3.6-9), adotados (4.4-7), renovados (4.6; 6.15) e transformados em plenos herdeiros de Deus, segundo as próprias promessas da aliança abraâmica (3.15-18). Portanto, a fé no sacrifício e no culto do Cristo na Cruz nos liberta para sempre da necessidade de buscar justificação e salvação mediante as obras e, especialmente, por meio do cumprimento de rituais e datas cerimoniais. Essa busca se torna destituída de poder visto que a Lei não produz salvação, mas morte (3.10-12), porquanto não fora criada com propósito salvífico (3.19-24). Confiar apenas nas obras e na Lei, com o fim de ser salvo, nos conduz à mesma escravidão sob a qual vive o povo judeu que ainda não recebeu a Cristo, como Salvador e Senhor de suas vidas (4.21-24). Por essa razão, os crentes não devem procurar voltar às tradições judaicas, ao cumprimento das exigências de leis religiosas como base de segurança para sua salvação, porquanto, agindo erroneamente dessa forma, estarão perigosamente submetendo suas vidas a uma escravidão da qual já fomos libertos por Jesus Cristo (5.1-4). Os cristãos devem, isso sim, depositar plena fé e segurança na liberdade que Cristo nos outorgou, servindo a Deus e aos semelhantes mediante o poder do Espírito de Deus, como novos seres humanos, livres em Cristo (5.13-18) e, assim, cumprindo com júbilo espiritual a vontade do nosso Salvador (6.2). GL_B.indd 1 8/8/2007, 16:19:02
  • 2. Data da primeira publicaçãoç Certamente, essa carta de Paulo aos Gálatas começou a circular entre os cristãos por volta dos anos 48 e 58 d.C. Contudo, ainda não há evidências mais precisas, pois o estabelecimento exato da data depende do p p primeiro destino da carta. Os p primeiros estudiosos afirmavam q Paulo que havia enviado esta epístola de Éfeso, entre os anos de 53 e 57 d.C., endereçando-a p p , , ç primeiro às igrejas localizadas no centro-norte da Ásia Menor (Pessino, Ancira e Távio). Outros historiadores acreditam que Gálatas foi escrita preferencialmente às igrejas fundadas pelo apóstolo em sua primeira viagem missionária, na região sul da província romana da Galácia (Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe). Alguns, ainda, defendem que essa carta teria sido escrita em Antioquia da Síria ou Corinto, por volta do ano 50 d.C, depois dessa primeira viagem, mas antes da reunião do Concílio de Jerusalém (At 15). Esboço geral de Gálatas 1. Saudação de Paulo, apóstolo de Cristo, aos Gálatas (1.1-5) 2. Paulo procura trazer as ovelhas do Senhor de volta ao bom aprisco (1.6-9) 3. A plena autoridade apostólica de Paulo e sua idoneidade (1.10 – 2.21) A. Paulo só pregava o Evangelho que Cristo lhe revelara (1.10-24) B. A mensagem de Paulo reconhecida pelos demais apóstolos (2.1-10) C. Paulo, sob o poder do Espírito, repreende a Pedro (2.11-21) 4. Como ser salvo após a vinda e obra de Jesus Cristo, o Messias? (3.1-4.31) A. A salvação é só pela fé em Cristo, não por meio de obras (3.1-14) B. A salvação em Cristo é pela Promessa, não fruto da Lei (3.15-22) C. Todos os crentes são promovidos a filhos de Deus (3.23 – 4.7) D. Paulo suplica aos crentes para que tenham bom senso (4.1-7) E. Não há inteligência nem fé em voltar à escravização (4.8-11) F. Por que se revoltar contra o apóstolo do Senhor? (4.12-20) G. Confiar só na Lei é voltar a ser escravo do pecado (4.21-31) 5. O caminho da verdade e da plena liberdade (5.1 – 6.18) A. Não sacrificar a boa liberdade pela algema do legalismo (5.1-12) B. Liberdade não é libertinagem ou falta de disciplina (5.13-26) C. A verdadeira liberdade é o serviço cristão dedicado (6.1-10) D. A vida cristã é feita de sacrifícios voluntários por Jesus (6.11-18) GL_B.indd 2 8/8/2007, 16:19:03
  • 3. GÁLATAS Saudação apostólica anjo dos céus vos anuncie um evangelho 1 Paulo apóstolo, não da parte de ho- mens, nem por intermédio de qualquer ser humano, mas por Jesus Cristo e por diferente do que já vos pregamos, seja considerado maldito! 9 Conforme já vos revelei antes, declaro Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos,1 uma vez mais: qualquer pessoa que vos 2 e todos os irmãos que estão em minha pregar um evangelho diferente daquele companhia, às igrejas da Galácia:2 que já recebestes, seja amaldiçoado! 3 A todos vós, graça e paz da parte de 10 Porventura, procuro eu agora o lou- Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, vor dos homens ou aprovação de Deus? 4 que se entregou voluntariamente pelos Ou estou tentando ser apenas agradável nossos pecados, a fim de nos resgatar às pessoas? Se ainda estivesse buscando deste atual e perverso sistema mundial, agradar a homens, não seria servo de segundo a vontade de nosso Deus e Pai, Cristo!4 5 a quem seja toda a glória pelos séculos dos séculos. Amém!3 Paulo foi convocado por Cristo 11 Caros irmãos, quero que saibais que o Só há um Evangelho Evangelho por mim ensinado não é de 6 Estou chocado de que estejais vos des- origem humana. viando tão depressa daquele que vos cha- 12 Porquanto, não o recebi de pessoa algu- mou pela graça de Cristo, para seguirem ma nem me foi doutrinado; ao contrário, outro evangelho, eu o recebi diretamente de Jesus Cristo 7 que na verdade, não é o Evangelho. O por revelação; que acontece é que algumas pessoas vos 13 pois já ouvistes como fora o meu proce- estão confundindo, com o objetivo de dimento no judaísmo, como persegui vio- corromper o Evangelho de Cristo. lentamente a Igreja de Deus, procurando 8 Contudo, ainda que nós ou mesmo um destrui-la.5 1 Paulo defendia sua convocação apostólica, especialmente contra os judaizantes (v.7), que questionavam sua chamada ministerial - como missionário e mensageiro de Cristo – devido ao fato de ele não pertencer ao primeiro grupo apostólico que caminhou com Jesus pelas terras da Palestina. Por isso, fazia questão de apresentar suas credenciais: chamado por Cristo para ser seu embaixador em missões evangelísticas (1Co 1.1; At 9.1; Fp 3.4-14). A ressurreição de Jesus é a afirmação mais importante da fé cristã. E, como Paulo havia visto o Cristo ressurreto, e recebido dele a delegação missionária e o poder espiritual para ministrar, tinha as qualificações necessárias para exercer o apostolado (At 1.22; 2.32; 17.18; Rm 1.4; 1Co 15. 8,20; 1Pe 1.3). 2 Essa era uma carta circular dirigida a várias igrejas para instrução e edificação do povo de Deus. Paulo se refere aqui à província romana da Galácia, região ao sul da Ásia Menor, incluindo as igrejas de Antioquia, Listra e Derbe, lugares que percorreu em sua primeira viagem missionária (At 13.14 – 14.23). 3 Paulo reafirma o cerne do Evangelho: a morte expiatória de Cristo em nosso lugar, cujo poder nos tira das garras desse sistema mundial corrupto e corruptor, e nos posiciona no Reino de Deus (Cl 1.13; 1Pe 2.24). O atual período da história mundial é marcado pela iniqüidade, ao contrário da era do porvir (o momento mais importante da era messiânica) que, em breve, chegará de forma repentina (2Co 4.4; Ef 2.2; 6.12). 4 Se simplesmente preferisse agradar a sua família, mestres e amigos, Paulo não teria pago um preço tão alto por abandonar as amarras da tradição judaica e rabínica em função da liberdade em Cristo. Nesta vida, sempre seremos servos de um de dois senhores (Mt 6.24; 1Ts 2.4). Paulo, no passado, carregava o “jugo da escravidão” (5.1), mas, uma vez tendo sido liberto do poder do pecado pela redenção que há em Cristo, passou a ser escravo da justiça, servo (no original grego doulos) de Deus (Rm 6.18,22). 5 O judaísmo é a fé e o modo de vida do povo israelita desenvolvido durante os séculos que separaram AT do NT, chamado também de período interbíblico. Até hoje, nacionalidade, língua, religião e política são partes indissociáveis da vida de um judeu fiel em qualquer parte do mundo. O termo é derivado de Judá, o reino do Sul que se extinguiu por volta do séc. 6 a.C. com o exílio na Babilônia (onde hoje se situa o Iraque). A Igreja de Deus no NT equivale à Assembléia do AT (Nm 16.21), à comunidade do Senhor (Nm 20.4). GL_B.indd 3 8/8/2007, 16:19:04
  • 4. GÁLATAS 1, 2 4 14 E, no judaísmo, eu superava a maioria está proclamando a mesma fé que outro- dos judeus da minha idade, e agia com ra procurava destruir”. extremo zelo em relação às tradições dos 24 E louvavam a Deus por minha causa. meus antepassados. 15 Todavia, Deus me separou desde o ven- Tiago, Pedro e João confirmam tre de minha mãe e me chamou por sua o apostolado de Paulo graça. Quando, então, foi do seu agrado, 16 revelar o seu Filho em mim, para que eu o proclamasse entre os não- 2 Passados catorze anos, subi uma vez mais a Jerusalém, e, nessa ocasião, em companhia de Barnabé e levando tam- judeus, parti imediatamente e não pedi bém Tito comigo.1 orientação a pessoa alguma.6 2 Rumei para lá por causa de uma revela- 17 Nem mesmo subi a Jerusalém para me ção, e apresentei diante deles o Evangelho aconselhar com os que já eram apóstolos que ensino entre os gentios, fazendo-o, no antes de mim, mas sem me deter, segui entanto, em particular aos que pareciam rapidamente para a Arábia e depois re- mais influentes, para que de algum modo tornei a Damasco.7 não corresse ou não houvesse me esforça- 18 Passados três anos, subi a Jerusalém a do inutilmente. fim de conhecer Pedro pessoalmente, e 3 Mas nem mesmo Tito, que estava em estive com ele durante quinze dias.8 minha companhia, foi obrigado a circun- 19 Não vi nenhum dos outros apóstolos, cidar-se, muito embora fosse grego. a não ser Tiago, irmão do Senhor.9 4 Essa questão foi suscitada devido ao 20 Sobre tudo quanto vos escrevo, afirmo fato de alguns falsos irmãos judeus te- diante de Deus que não há qualquer pa- rem se infiltrado em nosso meio, com lavra mentirosa de minha parte. o propósito de espionar a liberdade que 21 Em seguida, fui para as regiões da Síria temos em Cristo Jesus e nos reduzir à e da Cilícia.10 condição de escravos.2 22 E, até então, não era conhecido pessoal- 5 Contudo, nem por um momento cede- mente pelas igrejas de Cristo na Judéia. mos, ou nos submetemos a eles para que 23 Eles apenas haviam ouvido a notícia: a verdade do Evangelho permanecesse “Aquele que antes nos perseguia, agora convosco. 6 O vocábulo original “gentios” significa literalmente “povos” ou “nações”, no entanto, comumente seu sentido designava “estrangeiros” e, portanto, “pagãos” (não adeptos da religião judaica) ou “sem fé em Deus”. A expressão “pessoa alguma” pode ser traduzida literalmente por “carne e sangue”, que no NT sempre se refere a “fraqueza e ignorância humanas” (Mt 16.17; 1Co 15.50; Ef 6.12). 7 Jerusalém sempre foi o centro religioso do judaísmo e o berço cultural do cristianismo. Paulo lembra que assim que recebeu a conversão e o chamado missionário, partiu para pregar nas regiões da Arábia, dominada pelo rei Aretas, no reino nabateu da Transjordânia, que se estendia de Damasco ao Suez, a sudoeste. Damasco foi a antiga capital da Síria (chamada de Ará no AT). Paulo foi convertido por Cristo na estrada que ligava Jerusalém a Damasco (At 9.1-9). 8 Esta visita corresponde à mencionada por Lucas em At 9.26-30. O nome grego Petros “Pedro” é baseado na tradução do nome aramaico Kepha “Cefas”, que significa “pedra” ou “rocha”. Tal nome designa uma das qualidades do seu portador (Mt 16.18; Jo 1.42). 9 Tiago foi um dos filhos de Maria e José, e portanto, irmão de Jesus (Tg 1.1). Foi também líder dos presbíteros da Igreja do Senhor em Jerusalém (At 21.18; Lc 8.19). 10 A Cilícia, nessa época, estava anexada à Síria e sob o domínio do império romano. A principal cidade da Cilícia era Tarso, onde Paulo nasceu e foi criado, e agora lhes anunciava o Evangelho de Cristo (At 9.30). Capítulo 2 1 Depois de catorze anos de sua conversão, Paulo tem seu segundo encontro com Pedro e os demais líderes do cristianismo da época. Dois irmãos e amigos acompanham o apóstolo nessa importante reunião: Barnabé, cujo nome significa “encorajador” ou “aquele que incentiva”. Seu primeiro nome era José, e era levita da ilha de Chipre (At 4.36). Foi grande companheiro de Paulo na primeira viagem missionária (At 13.1 – 14.28). Tito, por sua vez, era discípulo de Paulo e missionário em Corinto, mais tarde, enviado para Creta com o objetivo de liderar espiritualmente a Igreja que se reunia ali (Tt 1.5). 2 Paulo considerava “falsos” os judeus que haviam passado pelo batismo cristão, mas defendiam crenças judaizantes (At 15.1), isto é, eram legalistas militantes e queriam a todo custo implantar na Igreja todos os costumes e tradições rabínicas quanto à GL_B.indd 4 8/8/2007, 16:19:05
  • 5. 5 GÁLATAS 2 6 E aqueles que pareciam ser influentes, 12 Porque antes de chegarem alguns da ainda que o tenham sido no passado, parte de Tiago, ele fazia suas refeições isso não faz diferença para mim, pois na companhia dos gentios; todavia, Deus não julga segundo as aparências quando eles chegaram, Pedro foi se humanas. Esses, que pareciam ser muito afastando até se apartar dos incircun- importantes, nada me acrescentaram. cisos, apenas por temor aos que defen- 7 Ao contrário, reconheceram que a mim diam a circuncisão. havia sido confiada a proclamação do 13 E os outros judeus de igual modo se Evangelho aos incircuncisos, assim como uniram a ele nessa atitude hipócrita, de a Pedro aos circuncisos.3 modo que até mesmo Barnabé se deixou 8 Porquanto Deus, que operou por meio influenciar. de Pedro como apóstolo aos judeus; da 14 Contudo, assim que percebi que não mesma forma, operou por meu intermé- estavam se portando de acordo com a dio para o apostolado aos gentios. verdade do Evangelho, repreendi a Pe- 9 E quando reconheceram a graça que dro, diante de todos: “Se tu, sendo judeu, me havia sido outorgada, Tiago, Pedro vives como os gentios, e não conforme a e João, respeitados como sustentáculos, tradição judaica, por que obrigas os gen- estenderam a mão direita a mim e a Bar- tios a viver como judeus? nabé em sinal de comunhão fraternal. E, 15 Nós, judeus de nascimento e não ‘pe- concordemente, ficou estabelecido que cadores como os gentios’,5 nós buscaríamos os não judeus, e eles, 16 estamos plenamente conscientes, en- os circuncisos. tretanto, que o ser humano não pode 10 E nos recomendaram apenas que não ser justificado pela prática da Lei, mas nos esquecêssemos dos pobres, o que somente por meio da fé em Jesus Cris- também tenho me esforçado por fazer. to. Sendo assim, nós também viemos a crer em Cristo Jesus a fim de sermos Paulo cobra coerência a Pedro justificados pela fé em Cristo, e de forma 11 Quando, porém, Pedro chegou a An- alguma pela prática da Lei, porquanto é tioquia, eu o enfrentei face a face, por certo que por praticar a Lei ninguém será causa da sua atitude reprovável.4 capaz de ser justificado.6 Lei de Moisés (At 15.5; 2Co 11.26), especialmente à circuncisão e às restrições alimentares. O termo original, aqui traduzido por “espionar”, consta da Septuaginta (tradução grega do AT), com o mesmo sentido militar de “observar um território para eventual ataque” (2Sm 10.3; 1Cr 19.3). Na carta aos Gálatas, a palavra “liberdade” e suas derivações são expressões fundamentais da teologia paulina sobre a vida diária do cristão (3.28; 4.22,23,26,30,31; 5.1,13). 3 Paulo tinha o hábito de se dirigir à sinagoga local sempre que chegava a uma nova cidade. Como Jesus (Mt 4.23), valia-se da tradição rabínica de, como mestre visitante, poder fazer uso da palavra, e pregava o Evangelho (At 13.5-14). Entretanto, sentia em seu coração um chamado especial para evangelizar os “gentios”; assim chamados pelos judeus, de sua época, todos quantos não haviam nascido ou se convertido ao judaísmo (Rm 11.13). 4 Pedro havia experimentado a plena liberdade que há na fé em Jesus Cristo, depois da visão que o Senhor lhe proporcionou em At 10.10-35. Começou a conviver sem preconceitos com os gentios em Antioquia (principal cidade da Síria e, juntamente com Roma e Alexandria, uma das mais importantes cidades do Império Romano, de onde Paulo partiu para suas viagens missionárias – At 13.1-3; 14.26) e desenvolveu grande e fraterna comunhão cristã com todos, participando alegremente das refeições em grupo e das festas evangélicas. Contudo, quando vieram os judaizantes de Jerusalém, Pedro, hipocritamente, deixou de seguir as orientações de convivência e fraternidade cristãs ministradas a ele pelo próprio Senhor. Pedro temeu a crítica dos líderes do partido dos legalistas circuncisos e procurou esconder-se para evitar constrangimentos. Paulo é usado por Deus para confrontar o pecado de um dos principais líderes da igreja cristã de sua época; seu amigo e irmão em Cristo, mas – como todos nós – um ser humano passível de ambigüidades e erros. Pedro jamais disse que era infalível (como pensam alguns teólogos). Ao contrário, até seus últimos anos defendeu, humildemente, a erudição e a autoridade espiritual de Paulo (2Pe 3.15-16). 5 Paulo apenas evoca o tradicional conceito que os judeus tinham em relação aos gentios. Do ponto de vista de um judeu fiel e consciente, todos os que não guardavam a Lei eram considerados “pecadores” (Mt 11.19; Mc 2.15-17; 14.41; Lc 15.1,2). Esse é o mesmo sentido da expressão no versículo 17. 6 Esse é um dos versículos-chave da epístola, cujo tema geral: “justificação” é revelado aqui pela primeira vez e comentado durante todo o decorrer da carta: ninguém pode ser justificado pela observância da Lei; somente por meio da fé em Cristo é GL_B.indd 5 8/8/2007, 16:19:06
  • 6. GÁLATAS 2, 3 6 17 Contudo, se buscando ser justificados recebestes o Espírito Santo, ou pela fé em Cristo, descobrirmos que nós mes- naquilo que ouvistes? mos somos pecadores, será Cristo então 3 Estais tão enlouquecidos assim, a ministro do pecado? De forma alguma! ponto de, tendo começado pelo Espí- 18 Ora, se procuro reconstruir aquilo que rito de Deus, estar desejando agora vos já destruí, provo que sou transgressor. aperfeiçoar por meio do mero esforço 19 Pois, por intermédio da Lei eu morri humano?2 para a própria Lei, com o propósito de 4 É possível que vos tenha sido inútil viver tão somente para Deus. sofrer tudo o que sofrestes? Se é que isso 20 Fui crucificado juntamente com foi por nada! Cristo. E, desse modo, já não sou eu 5 Aquele que vos dá o seu Espírito, e que quem vive, mas Cristo vive em mim. E realiza milagres entre vós, será que assim essa nova vida que agora vivo no corpo, procede pelas obras da Lei, ou por meio vivo-a exclusivamente pela fé no Filho da fé com a qual recebestes a Palavra? de Deus, que me amou e se sacrificou 6 Considerai, pois, o exemplo de Abraão: por mim. “Ele creu em Deus, e isso lhe foi credita- 21 Não torno inútil a Graça de Deus; do como justiça”. porquanto, se a justiça pudesse ser estabe- 7 Estejais certos, portanto, de que os que lecida pela Lei, então, Cristo teria morrido são da fé, precisamente estes, é que são em vão!”7 filhos de Abraão!3 8 E a Escritura, prevendo que Deus iria A fé em Cristo supera a Lei f p justificar os não-judeus pela fé, anun- 3 Ó gálatas insensatos! Quem vos enfei- tiçou? Ora, não foi diante dos vossos olhos que Jesus Cristo foi exposto como ciou com antecedência as boas novas a Abraão: “Por teu intermédio, todas as nações serão abençoadas”.4 crucificado?1 9 Desse modo, os que são da fé são aben- 2 Quero tão-somente que me respondais: çoados juntamente com Abraão, homem Foi por intermédio da prática da Lei que que realmente creu. possível receber e viver plenamente o dom da justificação. Paulo não deprecia a Lei do AT, mas argumenta contra usá-la como fundamento para nossa aceitação diante de Deus (Rm 7.12; 3.20-28; Fp 3.9). 7 O legalismo, ainda que amparado pela Lei, não pode ser misturado à teologia da Graça, sob pena de se distorcer o verdadeiro significado da Graça e fazer do maior evento da história da humanidade: a crucificação, morte e ressurreição de Jesus, o Cristo, apenas um ato incoerente e sem qualquer valor metafísico (5.24; 6.14; Rm 6.7-10; 7.4-6; 1Tm2.6; Tt 2.14). Capítulo 3 1 A expressão grega original, aqui traduzida por “insensatos”, não traz o sentido de qualquer limitação mental, mas a falta de juízo e de bom senso (Lc 24.25; Rm 1.14; 1Tm 6.9; Tt 3.3). O termo grego original, aqui traduzido por “enfeitiçou”, tem o sentido de “magia ou sedução maléfica”. Paulo também usa o verbo “exposto” da mesma forma que fora usado para comunicar a maneira como Moisés “expôs em público” a serpente de bronze (Nm 21.9; 1Co 23; 2.2). 2 Os gálatas haviam abraçado a fé em Cristo de uma maneira pura e sincera. No entanto, depois de algum tempo, influenciados pelos judaizantes, estavam criando e pregando regras e doutrinas baseadas na Lei, como forma de se alcançar maiores bênçãos de Deus. Paulo os alerta sobre essa tamanha falta de sabedoria, enfatizando que tanto a salvação quanto a santificação são obras do Espírito Santo (ao qual ele se refere 16 vezes em toda essa carta). Paulo usa literalmente a expressão grega “por meio da carne” para significar “a natural e inconseqüente fraqueza humana”. Buscar conquistar a justificação por meio do cumprimento de leis, rituais e boas obras, incluindo a circuncisão judaica, faz parte do caráter de todos os homens, mas é absolutamente inútil em relação à Salvação eterna e à verdadeira comunhão com Deus. 3 Deus fez de Abraão o pai biológico e espiritual de toda a raça judaica (Gn 15.6; Jo 8.33-53; At 7.2; Rm 4.12). Paulo enfatiza, entretanto, que todos os crentes sinceros (judeus e não-judeus) são chamados de filhos espirituais dele, e também são apresentados no NT como “descendentes” de Abraão (v.16; Hb 2.16). 4 Paulo personifica a Bíblia (...a Escritura, prevendo...) com o propósito de ressaltar a origem divina da Palavra de Deus (1Tm 5.18). Os judaizantes se valiam do texto bíblico de Gn 17 para afirmar que as bênçãos divinas foram prometidas somente a Abraão e aos seus filhos (Gn 12.3; 18.18; 22.18). Para ser incluído na linhagem de Abraão, era indispensável ser circuncidado. Paulo nega veementemente essa interpretação racista e obtusa da Palavra de Deus, declarando que o mais importante não é ser “filho na carne”, mas no Espírito, pela fé em Cristo (Rm 4.9-12; Hb 11.8-19). GL_B.indd 6 8/8/2007, 16:19:06
  • 7. 7 GÁLATAS 3 10 Pois todos os que são das obras da Lei mas exclusivamente: “Ao seu descenden- estão debaixo de maldição. Porquanto te”, transmitindo a informação de que se está escrito: “Maldito todo aquele que não trata de uma só pessoa, isto é, Cristo.7 persiste em praticar todos os mandamen- 17 Em outras palavras: A Lei, que veio tos escritos no Livro da Lei”.5 quatrocentos e trinta anos depois, não 11 É, portanto, evidente que diante de anula a aliança previamente estabelecida Deus ninguém é capaz de ser justificado por Deus, de maneira que venha a invali- pela Lei, pois “o justo viverá pela fé”. dar a promessa.8 12 A Lei não é fundamentada na fé; ao 18 Porquanto, se a herança provém da contrário, “quem praticar esses manda- Lei já não depende mais da promessa. mentos, por eles viverá”. Deus, entretanto, outorgou a herança 13 Foi Cristo quem nos redimiu da mal- gratuitamente a Abraão por intermédio dição da Lei quando, a si próprio se tor- da promessa. nou maldição em nosso lugar, pois como 19 Qual era, então, o propósito da Lei? está escrito: “Maldito todo aquele que for Ora, a Lei foi acrescentada por causa das pendurado num madeiro”.6 transgressões, até que viesse o Descen- 14 Isso aconteceu para que a bênção de dente a quem se referia a Promessa, e foi Abraão chegasse também aos gentios em promulgada por meio de anjos, pela mão Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos a de um mediador. promessa do Espírito Santo pela fé. 20 Entretanto, o mediador não representa somente um, mas Deus é um só.9 A Lei e a graça da Promessa 21 Sendo assim, pode a Lei ser contrária 15 Caros irmãos, eu vos falarei em termos às promessas de Deus? De forma alguma! simplesmente humanos. Assim, mesmo Pois, se tivesse sido outorgada uma lei considerando que um testamento seja que pudesse conceder vida, com toda a feito por mãos humanas, ninguém o po- certeza a justiça resultaria da lei. derá anular depois de haver sido ratifica- 22 Contudo, a Escritura colocou tudo do, nem ao menos lhe acrescentar algo. debaixo do pecado, para que a promessa 16 Desse mesmo modo, as promessas fo- fosse concedida aos que crêem por meio ram feitas a Abraão e ao seu descendente. da fé em Jesus Cristo. A Escritura não declara: “E aos seus des- 23 Antes que essa fé chegasse, estávamos cendentes”, como se referindo a muitos, sob a custódia da Lei, nela aprisionados, 5 Paulo se refere a todos os legalistas, pois recusam a Graça de Deus e insistem em tentar obter a justiça ou merecer os favores de Deus por meio da prática metódica de leis, rituais e boas obras. Paulo ensina que não é possível ao ser humano (depois da Queda – Gn 3) guardar a Lei com perfeição, e, portanto, todos aqueles que se acham “bons, justos ou cumpridores das leis”, desprezam a Graça e estão sob a maldição da Lei que, certamente os condenará, pois ninguém é capaz de cumprir todos os man- damentos do Senhor. Além disso, não basta observar a Lei, é preciso não ter qualquer contato com alguém em pecado, sob pena de assumir para si a maldição de outrem e suas penalidades (Hb 2.15). A bênção do Senhor não é concedida por merecimento, mas pela misericórdia de Deus ao coração humilde e desejoso de salvação (Dt 27.26; Tg 2.10). Não há nada que possamos fazer para que Deus nos ame mais, porém, não há nada que façamos que possa diminuir o amor de Deus por nós em Cristo Jesus. 6 É Cristo quem nos “redimiu” (no original grego exegorasen – com o sentido de “comprou para pôr em liberdade”) da maldição a que estávamos condenados pela Lei (Rm 8.3). Paulo usa o grego clássico no sentido de comunicar a morte de Cristo na cruz do Calvário, em analogia ao terrível suplício da empalação romana por meio de varas e estacas (At 5.30; 10.39; 1Pe 2.24). Portanto, quem viver pela fé pela fé será julgado, quem viver pela Lei, pela Lei já está condenado (Hb 2.4; Lv 18.5; Dt 21.23). 7 Isaque era em si incapaz de transportar as bênçãos de Deus para todos os povos (v.8). Portanto, Jesus Cristo é a verdadeira “semente” (no singular em Gn 12.7; 22.17,18), em que as promessas têm o seu perfeito cumprimento. 8 O princípio da fé é anterior à própria Lei e mais importante do que as ordenanças mosaicas. O período em que o povo de Israel viveu como escravo no Egito (sem contar a peregrinação no deserto) é designado em números redondos pela Septuaginta (a tradução do AT em grego – Êx 12.40,41; Gn 15.13; At 7.6). 9 O “Descendente” refere-se outra vez a Jesus Cristo. A Lei foi interpolada para que os judeus pudessem perceber claramente e reconhecer suas transgressões e pecados (Rm 3.20). Em contraste com a Promessa, a Lei foi declarada aos homens por meio de anjos (At 7.38,53), mas a pessoa de Deus ficou à parte. Em Cristo, entretanto, o próprio Deus vem diretamente até o crente e lhe abençoa com o Seu Espírito Santo (v.14). GL_B.indd 7 8/8/2007, 16:19:07
  • 8. GÁLATAS 3, 4 8 até que a fé que haveria de vir fosse re- 3 Da mesma forma nós, quando éramos velada.10 menores, estávamos debaixo de um sis- 24 Desse modo, a Lei se tornou nosso tema que nos escravizava aos princípios tutor a fim de nos conduzir a Cristo, básicos deste mundo. para que por intermédio da fé fôssemos 4 Todavia, quando chegou a plenitude justificados. dos tempos, Deus enviou seu Filho, nas- 25 Agora, no entanto, havendo chegado a fé, cido de mulher, nascido também debaixo já não estamos mais sujeitos a esse tutor.11 da autoridade da Lei,1 5 para resgatar os que estavam subjuga- Filhos de Deus mediante Cristo dos pela Lei, a fim de que recebêssemos a 26 Porquanto, todos vós sois filhos de Deus adoção de filhos. por meio da fé que tendes em Cristo Jesus, 6 E, porque sois filhos, Deus enviou o Es- 27 pois todos quantos em Cristo fostes pírito de seu Filho para habitar em vos- batizados, de Cristo vos revestistes. sos corações, e ele clama: “Abba, Pai!”.2 28 Não há judeu nem grego, escravo ou 7 Portanto, tu não és mais escravo, mas livre, homem ou mulher; porque todos filho; e sendo filho, és igualmente pleno vós sois um em Cristo Jesus. herdeiro por decreto de Deus. 29 E, se sois de Cristo, então, sois descen- dência de Abraão e plenos herdeiros de Zelo por uma doutrina sadia acordo com a Promessa.12 8 No passado, quando não conhecíeis a Deus, éreis escravos daqueles que, por Não mais escravos, mas filhos! natureza, não são deuses. 4 Afirmo porém que, durante todo o tempo em que o herdeiro é menor de idade, ele em nada é diferente de um 9 Agora, entretanto, que já conheceis a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Ele, como é que podeis pensar em retro- escravo, mesmo sendo o dono de tudo. ceder a esses princípios insignificantes, 2 No entanto, está sujeito a tutores e ad- fracos e pobres, aos quais de novo desejais ministradores até o tempo determinado servir? por seu pai. 10 Guardais dias, meses, tempos e anos.3 10 Estar sob custódia (detenção) da Lei, ou prisioneiro do pecado, em termos práticos resulta na mesma falta de liberdade e condenação, porquanto a Lei revela e estimula o pecado (4.3; Rm 7.8; Cl 2.20). Paulo se refere à “Escritura” para mostrar seu embasamento teológico acerca de que a Lei é secundária; outorgada para provar o quanto somos pecadores e merecedores da condenação eterna por nossas afrontas a Deus e aos nossos semelhantes, e a fé é prioritária e vital, pois nos concede a vida. 11 A expressão original grega paidagõgos (da qual se deriva “pedagogo”) refere-se a um tipo especial de escravo, também chamado de “aio”, cuja principal responsabilidade era acompanhar os filhos do seu amo na execução dos seus deveres escolares, bem como na sua formação acadêmica e cultural. Fazia parte de suas funções caminhar e seguir seus pupilos por todos os lugares, sempre zelando por sua educação e segurança (1Co 4.15). A Lei, portanto, pode conduzir o ser humano a Cristo, porém somente Jesus é capaz de tirar o poder do pecado da alma humana e ser seu Advogado (Jo 14.16-21). 12 Todos os cristãos sinceros são adotados por Deus e se tornam seus filhos, plenamente justificados, adultos e dignos da herança eterna com todos os privilégios (e deveres) decorrentes (4.1-7; Rm 8.14-17). A união com Cristo transcende todas as diferenças raciais, culturais, políticas e sociais (Rm 10.12; 1Co 12.13; Ef 2.15,16). Portanto, os crentes verdadeiros são os des- cendentes espirituais de Abraão. Capítulo 4 1 A “plenitude dos tempos” ou “época determinada” descreve o ponto central da história universal, o momento escolhido por Deus para revelação da Sua pessoa em Cristo Jesus, Seu Filho; para resgate eterno de todos os que nele crêem, transformando seus “filhos menores” em “herdeiros adultos” (Jo 1.14; 3.16; Rm 1.1-6; 1Jo 4.14). Ao salientar que o Cristo nasceu de mulher, Paulo ratifica a plena humanidade do Senhor e, portanto, sujeição à Lei. 2 Deus concedeu o seu próprio Espírito, como selo real de paternidade e novo guardião, para habitar permanentemente na alma dos cristãos sinceros (Rm 8.2-9; Ef 1.13,14). O verbo original grego, aqui traduzido por “clama”, expressa profunda emoção, como no brado final de Jesus na cruz (Mt 27.50). O vocábulo aramaico “Abba” corresponde à forma carinhosa e respeitosa da nossa expressão “papai”, transmitindo a idéia de um relacionamento especialmente íntimo com Deus (Mc 14.36; Rm 8.15). 3 Os judeus tinham que guardar vários dias e épocas cerimoniais como parte do cumprimento da Lei. Por exemplo: o Shabbãth (todos os preparativos e rituais que envolviam a celebração do sábado). O número de detalhes a serem observados é tão grande, GL_B.indd 8 8/8/2007, 16:19:08
  • 9. 9 GÁLATAS 4 11 Temo que eu talvez tenha ministrado sofrendo como que com dores de parto inutilmente para convosco. por vossa causa, e isso até que Cristo seja 12 Caros irmãos, rogo-vos que vos torneis formado em vós. parecidos a mim, da mesma maneira que 20 Eu bem que gostaria de estar pesso- eu me tornei semelhante a vós. Em nada almente convosco e mudar o tom desse me ofendestes; meu discurso, pois estou atônito em 13 e sabeis que foi por causa de uma relação ao vosso comportamento. enfermidade física que vos preguei o Evangelho pela primeira vez.4 A Lei e a Promessa: as alianças 14 E não desprezastes nem rejeitastes 21 Dizei-me vós, os que quereis perma- aquilo que no meu corpo era uma tribu- necer subjugados à Lei: Acaso não tendes lação para vós; ao contrário, me recebes- ouvido com clareza a Lei? tes como se eu fosse um anjo de Deus, 22 Porquanto está escrito que Abraão teve como o próprio Cristo Jesus. dois filhos, um da mulher escrava e outro 15 Ora, onde está aquele vosso júbilo? da livre.6 Porquanto, eu mesmo sou testemunha de 23 O que era filho da escrava nasceu de que, se fosse possível, teríeis arrancado os modo natural, porém o filho da mulher próprios olhos para oferecê-los a mim. livre nasceu mediante uma promessa. 16 Será possível que me tornei vosso 24 Pois bem, uso essa história aqui como inimigo apenas por vos declarar a ver- uma ilustração; pois essas mulheres pre- dade?5 figuram duas alianças. Uma aliança pro- 17 Aqueles que se mostram fazendo tanto cede do monte Sinai e pode gerar apenas esforço para vos agradar não agem com filhos para a escravidão; esta é Hagar.7 boas intenções, mas seu real propósito é 25 Hagar representa o monte Sinai, na vos isolar a fim de que sejais constran- Arábia, e corresponde à atual cidade de gidos a demonstrar vosso cuidado para Jerusalém, que vive como escrava com os com eles. seus filhos.8 18 É muito bom que sejais sempre zelo- 26 Entretanto, a Jerusalém do alto é livre, sos do bem, e não apenas quando estou e esta é a nossa mãe!9 presente. 27 Pois está escrito: “Alegra-te, ó estéril, 19 Meus amados filhos, novamente estou tu que não davas à luz; irrompe em bra- mesmo em nossos dias, especialmente em Israel, que geralmente as crianças são encarregadas, na sexta-feira, de preparar pedaços de papel higiênico e disponibilizá-los para uso nos banheiros de suas casas, pois a lei judaica proíbe rasgá-los no sábado. E ainda, o Dia da Expiação (dia dez de Tisrei – conforme Lv 16.29-34), Luas Novas (Nm 28.11-15; Is 1.13,14), a Páscoa (Êx 12.18), as Primícias (Lv 23.10), o Ano Sabático (Lv 25.4). Os fariseus observavam meticulosamente milhares de ordenanças e ritos religiosos com o objetivo de conquistar méritos diante de Deus e, então, se sentirem autorizados a fazer suas reivindicações ao Senhor. 4 Paulo conheceu os gálatas e lhes pregou o Evangelho por ocasião da sua primeira viagem missionária (At 13.14 – 14.23). Nessa época, a região de Perge, no litoral da Ásia Menor foi afligida por um surto de malária. Paulo pode ter contraído essa doença e foi acolhido e tratado pelos gálatas que presenciaram sua luta contra o que chamou de seu “espinho na carne” (2Co 12.7), embora não haja registro claro de que mal era esse. 5 Ao falar a verdade, ainda que com amor e cuidado, corremos o risco de perder alguns amigos. Paulo era muito estimado pelos gálatas, mas por causa da influência desastrosa dos judaizantes e sua doutrina legalista e altamente restritiva, a igreja havia perdido a espontaneidade, a alegria, a hospitalidade e o grande respeito que já havia demonstrado pelo apóstolo de Cristo. 6 Abraão teve dois filhos: Ismael, nascido da escrava Hagar (Gn 16.1-16), e Isaque, nascido de Sara, que não era escrava (Gn 21.2-5). 7 A antiga aliança, com a Lei que regulamentava a vida e a religiosidade do povo de Israel foi estabelecida no monte Sinai e entregue a Moisés para que a ministrasse aos israelitas e a todos os povos (Êx 19.1; 20.1-17). 8 Jerusalém, ainda hoje, pode ser equiparada ao próprio monte Sinai por representar o centro do judaísmo em todo o mundo, cujo povo ainda vive, onde estiver, como escravo da antiga Lei promulgada no alto de um monte, no meio do deserto do Sinai; um lugar ermo e árido, para onde eram banidos os criminosos e indesejados das cidades. 9 Desde a antigüidade, a doutrina rabínica ensinava que a Jerusalém do alto era o arquétipo da cidade celestial que seria baixada e estabelecida na Terra por ocasião do advento messiânico (Ap 21.2). Paulo se refere aqui à cidade espiritual de Deus, na GL_B.indd 9 8/8/2007, 16:19:09
  • 10. GÁLATAS 4, 5 10 dos de júbilo, tu que não passastes pelas 2 Eu, Paulo, vos afirmo que Cristo de dores de parto; pois os filhos da mulher nada vos servirá, se vos deixardes cir- abandonada são mais numerosos do que cuncidar. os daquela que tem marido”.10 3 E outra vez declaro solenemente a todo 28 Assim vós, irmãos, sois filhos da Pro- homem que se permite circuncidar, que messa, à semelhança de Isaque. ele, desse modo, fica obrigado a cumprir 29 No entanto, assim como naquele tempo toda a Lei. o que nasceu de modo natural perseguia 4 Vós, que vos justificais por meio da o que nasceu segundo o Espírito, assim Lei, estais separados de Cristo; caístes também acontece nos dias de hoje. da graça!2 30 Contudo, o que nos revela a Escritura? 5 Entretanto nós, pelo Espírito mediante “Mande embora a escrava e o seu filho, a fé, aguardamos a justiça que é nossa porque o filho da escrava jamais será esperança.3 herdeiro com o filho da livre”.11 6 Porquanto em Cristo Jesus, nem a circun- 31 Portanto, amados irmãos, não somos cisão nem a incircuncisão têm qualquer filhos da escrava, mas sim filhos da li- valor; mas sim a fé que opera pelo amor.4 berdade! 7 Corríeis bem! Quem vos impediu de obedecer à verdade? Nossa liberdade em Cristo 8 Quem vos convenceu a agir assim, não 5 Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! Portanto, permanecei firmes e não vos sujeiteis outra vez a um jugo de procede daquele que vos chama. 9 Sabeis que “um pouco de fermento leveda toda a massa”.5 escravidão.1 10 Quanto a vós, estou convencido no qual Jesus Cristo reina e da qual todo cristão já é cidadão (filho), em oposição a Jerusalém da época de Paulo e de hoje em dia. 10 Paulo interpreta o regozijo profético de Isaías (Is 54.1) em relação à Jerusalém – na época do profeta confinada a um peque- no e inexpressivo grupo de escravos no exílio, portanto, “estéril e sem filhos”, mas que ainda produziria “muitos filhos”. Profecia cumprida por meio da grande colheita evangélica que o mundo presencia, desde a vinda do Senhor Jesus, e que se encerrará com seu iminente e glorioso retorno. 11 Paulo usa as palavras de Sara como base bíblica para ensinar aos gálatas e a todas as igrejas cristãs que não devem tolerar em seu meio doutrinas meramente legalistas ou qualquer ideologia judaizante (Gn 21.10). A Igreja de Cristo é livre, conduzida pelo Espírito do próprio Deus e por Sua Palavra; adequada à cultura de cada nação e povo salvo, e não mais guiada pela obedi- ência obrigatória e metódica à Lei e às suas ordenanças, rituais, festas e mandamentos rabínicos. O crente em Cristo é filho – com plenos direitos, poderes e deveres – da Promessa, que é viver pela fé (3.7,29). Capítulo 5 1 A palavra “liberdade” é enfatizada por sua localização na frase original grega, e revela nossa total independência do jugo da Lei. No grego clássico, o verbo “sujeitar” significava “viver imobilizado por uma rede”, ou seja, emaranhado pelos poderosos laços das exigências rigorosas das leis judaicas, a fim de conseguir o favor de Deus (At 15.10,11). 2 A expressão “cair da graça”, nesse contexto, significa que alguns cristãos, entre os gálatas, optaram por (seguindo o pensa- mento judaizante) conquistar o favor divino pelo esforço próprio (mérito), ao tentarem cumprir, de forma legalista, as ordenanças da Lei; em vez de, humildemente, reconhecerem a pecaminosidade e impotência humanas, e aceitar o dom gratuito de Deus por meio de Cristo, que é a Salvação (2Pe 3.17). 3 Os gálatas haviam sido enredados por um pensamento teológico falso, de que o cristão só obteria completa salvação se observasse toda a Lei, as datas e comemorações santas do calendário judaico e praticasse os tradicionais rituais religiosos, como a circuncisão. Paulo faz uma afirmação escatológica, ao asseverar que o veredicto final de Deus sobre o cristão (“absolvido!”) já nos foi outorgado em Cristo (ele pagou nossa cara fiança), e que essa decisão irrevogável e eterna de Deus está confirmada (selada) pela presença do Espírito Santo na vida de cada convertido. Paulo afirma que é o Espírito quem nos apresentará diante de Deus, perfeitos na justiça de Cristo (3.3; Ef 1.13). 4 Paulo não se opunha a que os judeus-cristãos continuassem a guardar a Lei e as tradições judaicas como seus pais. En- tretanto, não podia admitir que os gentios fossem obrigados a cumprir os rituais judaicos (At 21.10). Paulo ensina que não é a raça, tradição ou qualquer prática religiosa que conduz à salvação e aos favores de Deus, mas a fé no amor operoso de Cristo, o Filho de Deus (Rm 5.8; 8.32). O rito em si, tanto da circuncisão como de qualquer tipo de batismo, não tem valor justificador diante de Deus (1Co 10.1-12). A fé não é simples assentimento intelectual, mas confiança viva e responsiva na graça do Senhor; a verdadeira fé se manifesta em amor prático (1Co 7.19; 1Ts 1.3). 5 Paulo cita um provérbio muito conhecido, e várias vezes mencionado por Jesus para ilustrar o efeito difusor do judaísmo. Quando a palavra “fermento” é usada de forma simbólica nas Escrituras, representa a iniqüidade ou falsidade (Mc 8.15), com exceção de Mt 13.33. GL_B.indd 10 8/8/2007, 16:19:10
  • 11. 11 GÁLATAS 5, 6 Senhor de que não pensareis de outra des, contra as quais vos advirto, como já forma. Mas aquele que vos perturba, seja vos preveni antes: os que as praticam não quem for, sofrerá condenação. herdarão o Reino de Deus! 11 Eu, no entanto, irmãos, se continuo 22 Entretanto, o fruto do Espírito é: amor, pregando a circuncisão, por qual motivo alegria, paz, paciência, benignidade, ainda sou perseguido? Nesse caso, o es- bondade, fidelidade, cândalo da cruz estaria anulado. 23 mansidão e domínio próprio. Contra 12 Quem me dera se castrassem àqueles essas virtudes não há Lei. que vos estão confundindo!6 24 Os que pertencem a Cristo Jesus cru- 13 Caros irmãos, fostes chamados para a cificaram a carne, com as suas paixões e liberdade. Todavia, não useis da liberdade os seus desejos. como desculpa para vos franquear à 25 Se vivemos pelo Espírito, andemos de carne; antes, sede servos uns dos outros igual modo sob a direção do Espírito. mediante o amor. 26 Não nos tornemos arrogantes, provo- 14 Pois toda a Lei se resume num só cando-nos uns aos outros e tendo inveja mandamento, a saber: “Amarás o teu uns dos outros. próximo como a ti mesmo”.7 15 Porém, se mordeis e devorais uns aos A mutualidade cristã outros, cuidado para não vos destruirdes mutuamente! 6 Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vós que sois espi- rituais, deveis restaurar essa pessoa com Viver no Espírito, não na carne espírito de humildade. Todavia, cuida de 16 Portanto, vos afirmo: Vivei pelo Espí- ti mesmo, para que não sejas igualmente rito, e de forma alguma satisfareis as tentado. vontades da carne! 2 Levais as cargas pesadas uns dos outros 17 Porquanto a carne luta contra o Espí- e, assim, estareis cumprindo a Lei de rito, e o Espírito, contra a carne. Eles se Cristo.1 opõem um ao outro, de modo que não 3 Pois, se alguém se considera importan- conseguis fazer o que quereis. te, não sendo nada, engana a si mesmo. 18 Contudo, se sois guiados pelo Espírito, 4 Mas cada indivíduo avalie suas próprias já não estais subjugados pela Lei. atitudes, e, então, saberá como orgulhar- 19 Ora, as obras da carne são manifestas: se de si mesmo, sem viver se comparando imoralidade sexual, impureza e liberti- com outras pessoas. nagem; 5 Portanto, cada um deve levar seu pró- 20 idolatrias e feitiçarias; ódio, discórdia, prio fardo.2 ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e 21 inveja; embriaguez, orgias e tudo Colhemos aquilo que semeamos quanto se pareça com essas perversida- 6 O que está sendo orientado na Palavra 6 A expressão grega usada por Paulo, originalmente, é mais forte, e significa literalmente “cortar fora”. Em Fp 3.2, o apóstolo emprega um verbo correspondente em referência a uma pessoa em situação semelhante à “falsa circuncisão”, ou literalmente “mutilação”. Fica assim muito clara a ironia usada por Paulo nesse sentido. 7 Paulo ensina que temos toda a liberdade de fazer o bem, como é próprio do verdadeiro crente que ama a Deus, e demonstra essa adoração ao Senhor por meio de atitudes práticas para com todas as pessoas à sua volta (Lv 19.18). Evidentemente, como cristãos, não nascemos de novo para sermos licenciosos, ou seja, nos entregarmos à prática do mal (Rm 6.1; 1Pe 2.16). Capítulo 6 1 O verbo grego “restaurar”, em seu sentido original, tem a ver com o ato de consertar as redes de pesca, ou de reunir pessoas cujos relacionamentos foram quebrados. Paulo faz referência ao “novo mandamento” de dedicar uns aos outros o amor fraternal movido pelo Espírito de Deus, e o denomina “Lei de Cristo” (Jo 13.34; 1Jo 4.21). Essa “nova lei” abrange todo os gomos do fruto do Espírito (5.22,23) e cumpre todo o dever do cristão para com Deus e a humanidade (vv. 5,14; Mt 22.37-40). 2 Não devemos nos comparar com outras pessoas, quer no aspecto físico, psicológico, moral ou espiritual. Nem devemos nos gloriar nas fraquezas ou erros cometidos pelos outros. Não somos piores ou melhores que ninguém, temos apenas algumas GL_B.indd 11 8/8/2007, 16:19:11
  • 12. GÁLATAS 6 12 deve compartilhar tudo o que possui de dados conseguem cumprir a Lei; contu- bom com aquele que o instrui.3 do, desejam que vós sejais circuncidados, 7 Não vos enganeis: Deus não se permite para se orgulharem do ritual que impin- zombar. Portanto, tudo o que o ser hu- giram ao vosso corpo. mano semear, isso também colherá! 14 Quanto a mim, no entanto, que eu 8 Pois quem semeia para a sua carne, da jamais venha a me orgulhar, a não ser na carne colherá ruína; mas quem semeia cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por para o Espírito, do Espírito colherá a intermédio da qual o mundo já foi cruci- vida eterna. ficado para mim, e eu para o mundo. 9 E não nos desfaleçamos de fazer o bem, 15 Não há, de fato, o menor valor em ser pois, se não desistirmos, colheremos no ou não ser circuncidado. O que realmen- tempo certo. te importa é ser uma nova criação.6 10 Sendo assim, enquanto temos oportu- 16 Paz e misericórdia repousem sobre nidade, façamos o bem a todos, princi- todos aqueles que andarem conforme palmente aos da família da fé.4 essa ordenança, e também sobre o Israel de Deus.7 A nova criação supera a Lei 17 Quanto ao restante, ninguém tem au- 11 Vede com que grandes letras vos escre- toridade para questionar-me, pois trago vo de próprio punho. em meu próprio corpo as marcas de que 12 Aqueles que aspiram ostentação exte- pertenço a Jesus.8 rior vos obrigando a fazer a circuncisão, agem dessa maneira somente para não Bênção apostólica final serem perseguidos por causa da cruz de 18 Amados irmãos, que a graça de nosso Cristo.5 Senhor Jesus Cristo esteja com vosso es- 13 Ora, nem mesmo os que são circunci- pírito! Amém. diferenças e oportunidades diversas. No dia do julgamento final cada pessoa, individualmente, apresentará seu fardo com os valores espirituais (boas e más escolhas) que foi angariando ao longo do seu tempo de vida na Terra (2Co 5.10; Rm 14.12). O v.2 fala das cargas que podemos e devemos ajudar nossos irmãos e amigos a levar (tragédias, tristezas agudas, quedas repentinas e momentâneas, etc.), o v.5 usa uma outra palavra no grego original, e se refere ao nosso fardo particular, que não podemos compartilhar: a responsabilidade sobre a nossa decisão pessoal de aceitar ou não o Evangelho de Cristo e adorar a Deus. Uma resposta íntima e intransferível que todas as pessoas do mundo têm que dar um dia. 3 Os crentes têm a obrigação espiritual e moral de dividir, com seus pastores e mestres, o resultado de seus progressos materiais, e não apenas problemas e necessidades (Fp 4.14-19). 4 Nossa prioridade em termos de obras de caridade e assistência social é para com os demais cristãos (família da fé). Nossa principal responsabilidade para com o mundo em geral é a evangelização, o que não exclui toda a ajuda material e social possível (Mt 28.19,20; 1Co 9.16; 1Tm 5.8). 5 Ao se constrangerem os gálatas a passar pelo ritual religioso da circuncisão, os judaizantes corriam menos risco de sofrer oposição por parte dos inimigos judaicos do cristianismo. Paulo os critica por estarem mais preocupados com sua própria repu- tação e interesses do que com a verdadeira edificação espiritual dos crentes (5.11). 6 Ao contrário do dito popular, nem todos são filhos de Deus. Essa é uma posição muito importante e privilegiada, somente possível àqueles que aceitaram com fé a graça salvadora de Jesus Cristo; e, portanto, ao nascerem de novo passaram por um processo milagroso de nova criação. Esse novo ser, criado à imagem de Cristo, precisa alimentar-se da Palavra e crescer em sabedoria divina, amadurecer como cristão e gerar filhos e filhas espirituais (Jo 1.12; 3.3-16; 2Co 5.17). 7 A Igreja do NT, constituída de cristãos de todos os povos e culturas, judeus e gentios (não-judeus), pode ser compreendida como a nova descendência de Abraão, herdeira de todas as bênçãos do Senhor segundo a Promessa (1Co 10.18; Rm 9.6; Fp 3.3). Paulo se refere à perfeita paz e misericórdia profetizadas ao povo israelita, agora à disposição de todos os crentes; neste sentido, o novo Israel de Deus (Sl 125.5; 128.6). 8 Na época de Paulo, a palavra grega original, aqui traduzida por “marcas”, era usada em referência ao estigma produzido pelo ferro em brasa ou pelo ferrete com que se costumava furar as orelhas dos escravos a fim de identificar a que senhor pertenciam. Os muitos sofrimentos de Paulo serviam para distinguí-lo como “escravo de Cristo” (At 14.19; 16.22; 2Co 11.25; 2Co 12.7; Gl 4.13,14). Portanto, os cristãos precisam refletir sobre isso quando se apresentam à sociedade como “servos do Senhor” (1.10; 2Co 4.10). GL_B.indd 12 8/8/2007, 16:19:12