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INTRODUÇÃO
                                           APOCALIPSE
          Autoria
          Como já vimos no Evangelho segundo João e em suas cartas às igrejas da Ásia, o profeta e
       autor do Apocalipse (22.9), o mais enigmático e curioso livro da Bíblia é do apóstolo João, filho de
       Zebedeu e Salomé, uma família abastada da Galiléia (Mc 15.40,41), conhecido como “o discípulo a
       quem Jesus amava” (Jo 21.20-24). Talvez isso tenha deixado uma ponta de inveja em muitos falsos
       seguidores do cristianismo, a ponto de séculos mais tarde brotar maldosamente, da parte de alguns
       críticos, certas calúnias questionando a sexualidade de João. Entretanto, em sua época e por todas
       as igrejas da Ásia Menor, ele notabilizou-se por sua bravura e masculinidade, vindo a ser conhecido
       como “filho do trovão” (Mc 3.17). João teve um importante papel na obra da igreja primitiva em
       Jerusalém (At 3.1; 8.14; Gl 2.9). Em quatro ocasiões, o autor do Apocalipse tem o cuidado de se
       apresentar como João (1.1,4,9; 22.8). Judeu e versado nas Escrituras, alimentava viva e contagiante
       a esperança de que a verdade e a fé cristã não demorariam a ver a glória do triunfo eterno sobre as
       momentâneas e poderosas forças de Satanás em plena atuação no mundo.
          Por volta do ano 135 d.C., Justino Mártir, e logo depois Irineu (180 d.C.), citam o livro do Apocalipse
       em seus estudos, em alguns trechos, palavra por palavra e, indiscutivelmente, atribuem a autoria do
       livro sagrado a João, o apóstolo de Jesus Cristo.
          No século II, entretanto, um bispo africano denominado Dionísio fez um longo estudo comparativo
       entre a linguagem, o estilo e a teologia aplicada ao livro do Apocalipse, e as demais obras do
       apóstolo João, concluindo que outro João, provavelmente, João conhecido como “o Presbítero”,
       seria o autor desse livro profético. Embora alguns estudiosos ainda hoje sigam o pensamento de
       Dionísio, a grande maioria dos eruditos e biblistas da atualidade confirmam a autoria do apóstolo
       João para o livro das “últimas coisas”: o Apocalipse.

         Propósitos
         A palavra-chave para o início de uma correta compreensão desta obra encontra-se na abertura da
       carta: revelação (1.1). Essa é a melhor tradução da expressão grega Apokavluyi" (Apokálypsis) que
       abre o livro do “Apocalipse” e freqüentemente aparece nos textos proféticos do AT da Septuaginta
       (a primeira e mais importante tradução do AT em grego). Tanto que a edição da Bíblia King James
       de 1611, e todas as demais em língua inglesa, usam a expressão “revelation” (revelação) como título
       desse livro de João. A palavra “apocalipse” tornou-se um termo técnico para a igreja primitiva e
       passou a designar a manifestação gloriosa de Jesus Cristo, o Messias, no final dos tempos (Rm 2.5;
       8.19; 1Co 1.7; 2Ts 1.7; 1Pe 1.7,13). Portanto, o “apocalipse” é a “revelação” da pessoa do Senhor
       Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador único e absoluto do Mal em todas as suas
       formas e expressões.
         Como na época de João, as autoridades políticas e militares dominantes estavam começando a im-
       por o chamado “culto de adoração ao imperador”, o apóstolo sente a necessidade vital de encorajar
       os cristãos a se manterem fiéis e leais a Jesus Cristo, nosso único e supremo Senhor.
         Por vários motivos, incluindo o cultural (o estilo literário peculiar), o místico (a obra é fruto de uma
       experiência de êxtase espiritual), e o da segurança (era fundamental que a mensagem chegasse às
       igrejas sem a censura ou o bloqueio do exército romano). Todo o processo pelo qual o Senhor dará
       prosseguimento à sua obra redentiva e salvadora de todas as pessoas que nele crerem, está aqui
       delineado sob símbolos, metáforas e ilustrações diversas.
         A estrutura dessa obra maravilhosa e fundamental de João está baseada em quatro grandes
       visões, cada uma delas estrategicamente começando com a expressão “no espírito”, e comunicando
       ao leitor algum aspecto da pessoa do Messias, Jesus Cristo, e da sua supremacia como Juiz do
       Universo. Cada visão proporciona uma cena diferente e nos conduz para um degrau superior no
       processo de revelação total e final da História da humanidade.
         O livro tem seu início marcado pela visão de cartas endereçadas pelo Senhor a sete igrejas exis-
       tentes no período apostólico, e que servem como exemplos de igrejas de todas as épocas. Nessas




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cartas, Deus expressa seus elogios e críticas, concluindo sempre com uma advertência ou conselho
      e uma promessa.
        No quarto capítulo, João se sente transferido para as dimensões celestiais, e lhe é concedido o
      dom de contemplar os grandes eventos mundiais que acontecerão depois de certos sinais (4.1).
      Por meio de uma série de julgamentos seguidos, porém imprecisos quanto a épocas e duração (os
      selos, as trombetas e as taças), o planeta Terra e todos os seres vivos serão castigados por causa do
      pecado humano com sua insaciável perversão e maldade. Então, o grande Dia da ira de Deus, retido
      por séculos e séculos, será finalmente inaugurado.
        Embora não possamos calcular quando nem quanto tempo levará todo esse processo de juízo,
      o próprio Senhor - por sua misericórdia - se encarregará de abreviar a dor e o sofrimento da raça
      humana, especialmente dos seus filhos. Nos capítulos dezessete e vinte, somos informados
      dos detalhes finais dessa dispensação ou tempo histórico. O glorioso retorno de Jesus Cristo
      acompanhado por seus exércitos celestiais (19.11-20), o estabelecimento efetivo e definitivo do
      Reino de Deus, logo após o processo de julgamento final do Trono Branco (20.1-15) e o início de um
      novo mundo (21.1-8; 21.9 – 22.5).
        Contudo, no encerramento deste livro há uma palavra poderosa e alentadora de chamamento à
      devoção. O alerta é geral: considerando a iminente, triunfal e definitiva volta do Senhor, a santidade
      e o testemunho são imperiosos na vida de todos aqueles que receberam o maravilhoso dom de crer
      em Deus Yahweh. O livro termina com uma oração que deveria expressar o santo desejo de todos
      os crentes: Maranata! (uma transliteração do aramaico) que significa “Amém! Vem Senhor Jesus!”
      (22.20; 1Co 16.22).

        Data da primeira publicação
        João escreveu o Apocalipse por volta do ano 93 d.C., quando os cristãos estavam começando a
      viver um dos mais intensos períodos de perseguição religiosa da história; depois do terrível reinado
      de Nero (54-68 d.C.), e ao final da era de Domiciano (81-96 d.C.). Tito Flávio Domiciano foi filho de
      Vespasiano. Nascido no ano 51 d.C., na dinastia dos Flávios, começou seu império com sabedoria
      e elevado carisma popular, mostrou-se hábil administrador. Conquistou diversos povos e terras,
      inclusive toda a Bretanha. Entretanto, seu autoritarismo sempre crescente fez surgir um regime
      de extremo terror e repressão que atingiu o povo, a aristocracia, os filósofos, e, principalmente, os
      pensadores e pregadores judeus e cristãos. Sucumbiu assassinado numa conjuração promovida
      por seus senadores com a cumplicidade de sua esposa. O apóstolo João, sem citar nomes, faz uma
      profunda analogia entre a maligna estratégia política de Domiciano e os líderes mundiais despóticos
      e maquiavélicos de todas as épocas, especialmente com o último anticristo.

        Esboço de Apocalipse
           1. Prefácio e saudações apostólicas aos crentes em Cristo (1.1-8)
           2. Primeira Visão: Cristo e a Igreja (1.9 – 3.22)
              A. Representação da presença do Sumo Sacerdote (1.9-20)
              B. Mensagens às sete igrejas (2.1 – 3.22)
           3. Segunda Visão: Cristo e o mundo (4.1 – 16.21)
              A. Adoração universal ao Cordeiro e Rei (4.1 – 5.14)
              B. Os sete selos são rompidos (6.1-17; 8.1-5)
              C. Os 144.000 selados de Israel (7.1-8)
              D. A multidão incontável dos demais salvos (7.9-17)
              E. O mistério das sete trombetas (8.6 – 9.21; 11.19)
              F. O mistério da medição do Templo (11.1,2)
              G. O mistério das duas testemunhas (11.3-14)
           4. Os assustadores sinais mundiais (12.1 – 14.20)
              A. O sinal da mulher com a coroa de doze estrelas (12.1-16)
              B. O sinal do enorme dragão vermelho (12.3-17)
              C. Israel gerou um filho que regerá o mundo (12.5,6)
              D. A batalha de Miguel, o arcanjo (12.7)
              E. A Besta que se levanta do mar (13.1-10)
              F. A Besta que se levanta da terra (13.11-18)
           5. Cristo, o Cordeiro de Deus, no monte Sião (14.1-5)




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6. Anúncios especiais dos anjos do Senhor (14.6-20)
               7. Os sete anjos derramam as sete taças do juízo (15.1 – 16.21)
                  A. Os santos entoam hinos de louvor a Deus (15.1-4)
                  B. Os anjos executam os sete flagelos do juízo (15.5-16.21)
               8. Terceira Visão: Cristo e a Vitória absoluta (17.1 – 21.8)
                  A. A destruição da Babilônia (17.1 – 18.24)
                  B. A resposta que vem do céu (19.1-10)
                  C. A prisão de Satanás por mil anos (20.1-6)
                  D. Grandes conflitos e o juízo final (20.7-15)
                  E. Nasce o novo céu e a nova terra (21.1-8)
               9. Quarta Visão: Cristo e a eternidade (21.9 – 22.5)
                  A. Nasce uma Nova Jerusalém (21.9-21)
                  B. A nova vida com o Cordeiro (21.22 – 22.5)
              10. Conclusão do Apocalipse (22.6-21)
                  A. Convocação à obediência imediata (22.6-11)
                  B. Convocação ao serviço cristão (22.12-15)
                  C. Convocação ao Amém de Cristo (22.16-20)
                  D. Bênção apostólica a todos os crentes (22.21)




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APOCALIPSE
      Introdução e tema do livro                                         Saudação às sete igrejas da Ásia

      1   Revelação de Jesus Cristo, que Deus
          lhe concedeu para mostrar a seus
      servos os acontecimentos que em breve
                                                                         4 João, às sete igrejas que estão na provín-
                                                                         cia da Ásia: graça e paz a vós outros, da
                                                                         parte daquele que é, que era e que há de
      devem se realizar, e que Ele, por intermé-                         vir, e da parte do sétuplo Espírito que o
      dio do seu anjo, expressou ao seu servo                            assiste diante do seu trono,3
      João,1                                                             5 e de Jesus Cristo, que é a Testemunha
      2 o qual comprovou tudo quanto viu da                              fiel, o Primogênito dentre os mortos e o
      Palavra de Deus e o testemunho de Jesus                            Soberano dos reis da terra. Ele, que nos
      Cristo.                                                            ama e, mediante seu sangue, nos libertou
      3 Bem-aventurados os que lêem, bem                                 de todos os nossos pecados,4
      como os que ouvem, as palavras desta                               6 e nos constituiu reino e sacerdotes para
      profecia e obedecem às orientações que                             servir a Deus, seu Pai; a Ele, portanto,
      nela estão escritas, porquanto o tempo                             sejam glória e domínio pelos séculos dos
      desses eventos está às portas.2                                    séculos. Amém!5



         1 A expressão grega apokalipsis “revelação”, significa literalmente “tirar o manto”, isto é, “descobrir”, “tornar claro algo
      obscuro”, “trazer um mistério à luz da compreensão”. Aqui a mensagem (revelação) vem de Cristo, por meio de um “anjo
      intermediário” (a palavra “anjo” ocorre mais de 70 vezes neste livro), e é ministrada a João através de símbolos, que é o sentido
      do termo grego semainõ “significar”, “expressar” (ensinar por simbologia). Essa compreensão nos leva à chave da interpretação
      geral deste livro: ensinamento simbólico. João, apóstolo, e conhecido como “o discípulo amado” de Cristo, irmão mais novo do
      apóstolo Tiago, primo de Jesus e autor do evangelho e das epístolas que levam seu nome, foi escolhido por Deus para receber
      essa advertência divina e transmiti-la a todos os demais “servos” (em grego “escravos”) de Jesus em todo mundo. Sabendo que
      tais “eventos” estão em processo desde a assunção de Cristo aos céus e, portanto, seu glorioso retorno é certo e iminente (Jo
      19.25; 21.2,20,24; Mt 27.56; Mc 3.17; 15.40; Lc 9.52-56; Ap 22.6-20).
         2 Os leitores ocidentais, especialmente, devem estar atentos ao estilo apocalíptico (simbólico) desta obra, muito comum no
      Oriente ainda hoje. Mais de 50 vezes o número 7 aparece em todo livro, significando “inteireza”, “perfeição”. Aqui temos, por
      exemplo, a primeira das sete “bem-aventuranças” que aparecem em todo o livro (14.13; 16.15; 19.9; 20.6; 22.7,14). O termo
      grego makarios tem um sentido muito mais amplo e profundo do que a expressão “feliz” poderia comunicar. Portanto, “bem-
      aventurados” transmite melhor o poder e a maravilha da bênção que está reservada para todos aqueles que humildemente
      lerem ou ouvirem as palavras deste livro (Mt 5.3; Sl 1.1). O vocábulo “profecias” refere-se tanto à previsão de eventos futuros,
      quanto à proclamação da Palavra de Deus. O Senhor retarda o grande Dia do Juízo para que fique, a cada dia, mais notória a
      sua longanimidade (Mt 10.39; 18.11; Lc 19.10; Jo 17.12) e a incapacidade do ser humano caído (Gn 3) proporcionar à própria
      humanidade um mundo justo, sadio e solidário. Contudo, seu glorioso retorno pode ocorrer a qualquer momento (Tg 5.9).
         3 A mensagem foi dirigida às sete igrejas, ou seja, àquelas enumeradas no v.11 e a todas as demais igrejas cristãs em todas as
      épocas. O termo grego ekklesia “assembléia” era usado para “convocar” as pessoas para as “reuniões” dos crentes primitivos.
      As igrejas localizadas na província romana da Ásia, na época de João, hoje uma região da Turquia ocidental, formavam um círculo
      geográfico na Ásia, com uma distância de cerca de 80 km entre uma e outra. Curiosamente, seus nomes são citados no sentido
      horário, partindo de Éfeso em direção ao norte até Laodicéia, a leste de Éfeso. Todas as sete igrejas receberam cópias completas
      do livro com a recomendação de não apenas lerem, estudarem e praticarem a Palavra de Deus, mas igualmente, de proclamarem
      a Salvação e o Dia do Senhor a todo o mundo. O vocábulo grego “Graça” é usado apenas duas vezes neste livro, aqui e no
      último versículo (22.21). No entanto, Paulo o usa mais de 100 vezes, evidenciando que vivemos a era da Graça, quando Deus
      está caminhando pela terra, com seu Espírito e sua Igreja, oferecendo liberalmente sua Salvação (Jn 4.2; Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3;
      Ef 1.2). João parafraseia um dos títulos de Cristo para ressaltar seu poder e eternidade (Êx 3.14,15; Hb 13.8; Ap 4.5). Algumas
      versões trazem a expressão “os sete espíritos”, todavia, o sentido mais apropriado é compreendido ao aplicarmos a simbologia
      do número 7 à autoridade absoluta e perene do Espírito Santo (Is 11.2; Zc 4.2,10).
         4 Jesus, por sua morte e ressurreição, recebeu o primeiro corpo celestial, “sendo Ele o primeiro dos frutos dentre aqueles que
      dormiram” (Sl 89.27; Dn 7.13; Mt 24.30; Mc 13.26; Lc 21.27; Zc 12.10; Jo 19.34,37; 1Co 15.20,48; Cl 1.18) e nos resgatou (libertou)
      pagando com o seu próprio sangue imaculado a nossa fiança (Hb 9.12).
         5 Deus designou Israel como seu povo, reino e sacerdotes (Êx 19.6; Zc 3; At 1.6). Essa mesma honra foi concedida aos
      membros da Igreja de Cristo (1Pe 2.5,9). O Nome de Deus revela sua própria pessoa (Yahweh – Ex 3.14).




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5                                            APOCALIPSE 1

       7 Eis que Ele vem com as nuvens, e todo                            14 Sua cabeça e seus cabelos eram bran-
       olho o verá, até mesmo aqueles que o                               cos como a lã, tão brancos quanto a neve,
       traspassaram, e todas as tribos da terra se                        e seus olhos, como uma chama de fogo.8
       lamentarão por causa dele. Certamente,                             15 Seus pés reluziam como o metal,
       assim será. Amém!                                                  quando é refinado em fornalha ardente,
       8 “Eu Sou o Alfa e o Ômega”, declara o                             e sua voz como o som de muitas águas.9
       Senhor Deus, “Aquele que é, que era e                              16 Tinha em sua mão direita sete estre-
       que há de vir, o Todo-Poderoso”.                                   las, e de sua boca saía uma espada com
                                                                          dois gumes afiados. Seu rosto era como
       Jesus aparece e revela a João                                      o próprio sol quando brilha em todo o
       9 Eu, João, irmão e vosso companheiro                              seu esplendor.10
       de sofrimento, no Reino e na perseve-                              17 Assim que o admirei, cai a seus pés
       rança na fé em Jesus, estava na ilha de                            como se estivesse morto. Então, Ele co-
       Patmos, por causa da Palavra de Deus e                             locou sua mão direita sobre mim, e disse:
       do testemunho de Jesus.                                            “Não tenhas medo, Eu Sou o primeiro e
       10 E, no dia do Senhor, achei-me exaltado                          o último.
       no Espírito, quando ouvi atrás de mim                              18 Eu Sou o que vive; estive morto, mas
       uma voz forte, como o som de trombeta,6                            eis que estou vivo por toda a eternida-
       11 que dizia: “Escreve em um livro o que                           de! E possuo as chaves da morte e do
       vês e envia-o a estas sete igrejas: Éfeso,                         inferno.11
       Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Fila-                           19 Portanto, escreve sobre tudo o que tens
       délfia e Laodicéia”.                                                visto, tanto os eventos que se referem ao
       12 Voltei-me para observar quem falava                             presente como aqueles que sucederão
       comigo e, voltando-me, vi sete candela-                            depois destes.
       bros de ouro                                                       20 Este é o mistério das sete estrelas, que
       13 e, entre os candelabros, alguém seme-                           viste na minha mão direita, e dos sete
       lhante a um ser humano, vestindo uma                               candelabros de ouro: as estrelas são os
       longa túnica que chegava aos seus pés, e                           anjos das sete igrejas, e os sete candela-
       um cinturão de ouro ao redor do peito.7                            bros são as sete igrejas”.12



          6 Patmos era uma pequena ilha rochosa no mar Egeu, próxima ao litoral onde hoje se situa a Turquia, cerca de 80 km de
       Éfeso. Era conhecida como colônia penal romana, e Eusébio, um dos “pais da Igreja”, relata que João foi liberto de Patmos pelo
       imperador Nerva, entre os anos 95 e 98 d.C. O Espírito do Senhor conduziu João a uma experiência de êxtase espiritual (assim
       como ocorreu a Pedro – At 10.10), durante a qual lhe concedeu uma visão da realidade normalmente inacessível ao ser humano.
       Nesta época, o domingo já era considerado pela igreja cristã primitiva como “o dia do Senhor”. Era, portanto, o dia em que os
       cristãos se reuniam como igreja (assembléia) e recolhiam suas ofertas para a obra (At 20.7; 1Co 16.2).
          7 Referência clara a Cristo como nosso sumo sacerdote (Êx 28.4; 29.5).
          8 Os cabelos brancos (cãs) representam santidade, sabedoria e a eterna deidade de Cristo, conforme a descrição do profeta
       Daniel do Ancião de Dias (Dn 7.9,13; 10.6; Is 1.18). Os olhos em chamas denotam o olhar penetrante e discernidor de Cristo (4.6;
       Lv 19.32; Pv 16.31).
          9 Outros profetas, como Ezequiel, descrevem a voz de Deus como a rebentação das ondas (Ez 1.24; 43.2). Em Patmos esse
       som do mar seria ainda mais aterrador ao quebrar-se contra as paredes rochosas da ilha. Mais um símbolo de autoridade e
       soberania de Deus (Jo 12.29).
          10 Deus sustenta os anjos das igrejas (as estrelas – v.20) em sua mão direita, o que significa, posição de grande honra e res-
       ponsabilidade. A espada, longa e afiada dos dois lados, representa o poder e o direito que Cristo tem para julgar e executar as
       devidas sentenças aos impenitentes (Is 11.4; 44.6; 48.12; Hb 4.12,13).
          11 No AT, há uma profusão de referências ao “Deus Vivo” (Js 3.10; Sl 42.2; 84.2), que se aplicam a Jesus Cristo, em contraste
       aos “deuses mortos” do paganismo. Cristo tem vida em si mesmo e possui absoluto domínio sobre todos os seres vivos e mortos.
       Hades, palavra grega que pode ser traduzida por “inferno”, “sepulcro”, “morte” ou “lugar dos mortos” (Mt 16.18).
          12 Esse é o primeiro texto no livro que procura interpretar alguns dos símbolos usados na comunicação da profecia entregue
       a João (17.15,18). O termo grego angelos significa “mensageiro” e, na maioria das vezes, tem a ver com um ser celestial (anjo).
       Aqui, entretanto, pode ser também aplicado ao pastor ou líder espiritual da igreja, personificando a atmosfera celeste (espírito)
       que deve prevalecer em cada comunidade cristã.




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APOCALIPSE 2                                                      6

      Carta à igreja em Éfeso                                               7 Quem tem ouvidos, compreenda o que


      2   “Ao anjo da igreja em Éfeso escreve:
          ‘Assim declara Aquele que tem as sete
      estrelas na mão direita e anda no meio
                                                                            o Espírito declara às igrejas: ‘Ao vencedor
                                                                            darei o direito de comer da árvore da
                                                                            vida, que está no paraíso de Deus’”.6
      dos sete candelabros de ouro:1
      2 Conheço as tuas obras, tanto o teu tra-                             Carta à igreja em Esmirna
      balho árduo como a tua perseverança, e                                8 “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve:
      que não podes tolerar pessoas más, e que                              ‘Aquele que é o primeiro e o último, que
      puseste à prova aqueles que a si mesmos                               foi morto e ressuscitado, faz as seguintes
      se declaram apóstolos mas não são, e                                  afirmações:
      descobriu que eram impostores.2                                       9 Conheço as tuas aflições e a tua pobreza;
      3 Tens perseverado e suportado sofri-                                 contudo, tu és rico! Conheço a blasfêmia
      mentos de toda espécie por causa do                                   dos que se dizem judeus mas não são, pelo
      meu Nome, e não te deixaste desfalecer.                               contrário, são sinagoga de Satanás.
      4 Entretanto, tenho contra ti o fato de                               10 Não temas nada do que estais prestes
      que abandonaste o teu primeiro amor.3                                 a sofrer! Eis que o Diabo está para lançar
      5 Recorda-te, pois, de onde caíste, arre-                             alguns de vós na prisão; a fim de que
      pende-te e volta à prática das primeiras                              sejais provados, e sofrereis perseguição
      obras. Porquanto, se não te arrependeres,                             durante dez dias. Sê fiel até a morte, e Eu
      em breve virei contra ti e tirarei o teu                              te darei a coroa da vida!’7
      candelabro do seu lugar.4                                             11 Aquele que tem ouvidos, compreen-
      6 Tens, contudo, a teu favor que odeias                               da o que o Espírito revela às igrejas: ‘O
      as práticas dos nicolaítas, as quais Eu                               vencedor de maneira alguma sofrerá a
      também odeio’.5                                                       punição da segunda morte’”.8


         1 Essas sete igrejas realmente existiram na Ásia Menor. Apesar disso, observa-se o retrato de uma certa seqüência de degra-
      dação espiritual e moral da igreja, ao longo da história, que chega até a completa apatia exemplificada pela igreja de Laodicéia.
      Jesus revela um padrão de advertência que se aplica aos vários perfis da igreja em todas as épocas até sua volta: elogio pelas
      boas atitudes; admoestação contra os erros e faltas; disciplina e correção. Éfeso era um dos principais centros urbanos do
      Império e jactava-se de sua cultura e religiosidade pagã, ostentando o templo de Ártemis (Diana), uma das sete maravilhas do
      mundo antigo.
         2 A igreja primitiva cultivava o hábito de pôr à prova os mestres e suas doutrinas, a fim de verificar sua correção e fidedignidade
      bíblica. Haja vista a grande quantidade de místicos, judaizantes e falsos mestres que surgiram nos primeiros séculos após a
      ressurreição de Cristo (1Co 14.29; 1Ts 5.21; 1Jo 4.1).
         3 Todas as igrejas da província da Ásia haviam experimentado grande amor por Jesus Cristo (pelo Evangelho) e cooperavam
      fraternalmente uns com os outros, demonstrando a plenitude e a alegria do amor cristão nos primeiros anos de suas conversões.
      Com o passar do tempo, a chegada das muitas provações e tentações, esse amor foi se esfriando. Um alerta para a igreja dos
      nossos dias.
         4 O termo grego, aqui traduzido por “arrepende-te”, significa: “transforma o teu pensamento e tuas ações”. Assim também, a
      expressão grega: “em breve virei contra ti” prenuncia uma visitação divina, especial e urgente, para julgamento imediato.
         5 A tradição indica a seita herética dos nicolaítas com Nicolau, um prosélito de Antioquia e um dos sete primeiros diáconos da igre-
      ja em Jerusalém (At 6.5). Na época de João, contudo, o sincretismo religioso e filosófico já era tão avassalador nas regiões da Ásia
      Menor, que um grupo em Pérgamo, que defendia as idéias de Balaão (vv.14,15), e alguns outros heréticos em Tiatira, que seguiam a
      Jezabel (v.20), aderiram ao movimento dos nicolaítas, pois que estes também estimulavam o paganismo e a libertinagem.
         6 Neste livro, a expressão “vencer” se refere aos “cristãos que permanecem fiéis ao Senhor apesar das muitas provações e
      tentações” (15.2). Alimentar-se da “árvore da vida” (Gn 2.9; Ap 22.2) simboliza o participar da plenitude da vida eterna. O termo
      persa “paraíso”, incorporado ao vocabulário hebraico, significa “jardim particular” e tem a ver com a promessa de Jesus (Lc 23.43;
      2Co 12.2) e a Jerusalém celestial que, em breve, nos será plenamente revelada (Ap 21.10; 22.2).
         7 A “coroa” aqui não se refere à coroa de rei, mas a uma espécie de grinalda de folhas, presenteada aos “vencedores” nas
      batalhas e jogos olímpicos (1Co 9.25). No contexto deste livro simboliza a vida eterna (4.4; 12.3; 13.1; 14.14; 19.2; Tg 1.12; 1Pe
      5.4). O vocábulo grego diabolos significa “acusador” (em hebraico: “Satanás” – Zc 3.1; Jó 1.6-12; 2.1-7), e representa a principal
      artimanha do Diabo contra os filhos de Deus (Jo 15.20; 2Tm 3.12).
         8 Esmirna (hoje na região da Turquia) era uma colônia do Império romano. Econômica e culturalmente desenvolvida,
      absolutamente submissa a Roma e ao culto ao imperador. Além disso, a grande comunidade judaica que vivia na cidade era
      muito hostil aos cristãos. Policarpo, um dos mais famosos “pais da Igreja”, foi bispo cristão em Esmirna e martirizado por sua fé,
      sincera e corajosa no Senhor. A expressão “segunda morte” simboliza a condenação eterna (20.6,14; 21.8).




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7                                            APOCALIPSE 2

       Carta à igreja em Pérgamo                                           novo nome, o qual ninguém conhece, a
       12 “Ao anjo da igreja em Pérgamo es-                                não ser aquele que o recebe’”.12
       creve: ‘Assim declara Aquele que tem a
       espada de dois gumes afiados:9                                       Carta à igreja em Tiatira
       13 Conheço o lugar em que vives, onde                               18 “Ao anjo da igreja em Tiatira escreve:
       se encontra o trono de Satanás. Apesar                              ‘Assim declara o Filho de Deus, cujos
       disso, permaneces fiel ao meu Nome e                                 olhos são como chama de fogo e os pés
       não renunciaste à tua fé em mim, nem                                como bronze reluzente:13
       mesmo quando Antipas, minha leal tes-                               19 Conheço as tuas obras, o teu amor,
       temunha, foi morto nessa cidade, onde                               a tua fé, o teu ministério, a tua perseve-
       Satanás habita.10                                                   rança, bem como sei que estais servindo
       14 Tenho, contudo, contra ti algumas                                muito mais agora do que no princípio.
       admoestações, porquanto tens contigo                                20 No entanto, tenho contra ti o fato de
       os que seguem a doutrina de Balaão, que                             que toleras Jezabel, aquela mulher que se
       ensinou a Balaque a armar ciladas contra                            diz profetisa; porém, com seus ensinos
       os filhos de Israel, induzindo-os a comer                            ela induz os meus servos à imoralidade
       alimentos sacrificados a ídolos e a se en-                           sexual e a comerem alimentos sacrifica-
       tregarem à prática da prostituição.11                               dos aos ídolos.14
       15 Além disso, tens também alguns que,                              21 Concedi-lhe tempo para que se ar-
       semelhantemente, seguem a doutrina                                  rependesse da sua prostituição, mas ela
       dos nicolaítas.                                                     não quer arrepender-se.
       16 Diante do exposto, arrepende-te! Caso                            22 Portanto, eis que a farei adoecer e
       contrário, logo virei contra ti e contra                            enviarei grande aflição sobre aqueles que
       eles pelejarei com a espada da minha                                com ela comentem adultério, a não ser
       boca’.                                                              que se arrependam das suas más ações.
       17 Quem tem ouvidos, compreenda o que                               23 Matarei os seguidores dessa mulher,
       o Espírito revela às igrejas: ‘Ao vencedor                          e todas as igrejas saberão que Eu Sou
       proporcionarei do maná escondido, bem                               aquele que sonda mentes e corações, e
       como lhe darei uma pedra branca, e so-                              portanto, retribuirei a cada um de vós de
       bre essa pedra branca estará grafado um                             acordo com as vossas obras.15


          9 Pérgamo (atual Bergama), antiga capital da Ásia Menor, seu nome significa “centro defensivo ou fortaleza”. Foram os primei-
       ros a trabalhar o couro de cabras e ovelhas como material de base para escrita (pergaminho), dando origem ao formato (códice)
       que o livro tem hoje. Os dois gumes da espada simbolizam a julgamento de Deus: justo e inexorável (1.16).
          10 Pérgamo acabou sendo uma espécie de centro oficial da religiosidade pagã e de adoração ao imperador de Roma. Segundo
       a tradição cristã, Antipas foi o primeiro mártir na Ásia, tendo sido cozido em azeite, num caldeirão de bronze, lentamente até
       morrer, por causa de professar publicamente sua fé em Jesus Cristo, durante o reinado de Domiciano.
          11 Balaão era mestre em confundir os assuntos espirituais e morais com seus interesses materiais. Chegou a ensinar às mu-
       lheres midianitas a seduzir os israelitas (Nm 22 – 24; 25.1,2; 31.16; Jd 8,11). Em Apocalipse, representa perfeitamente os falsos
       mestres espirituais (como os gnósticos na época de João), cada vez mais abundantes pela terra; cuja ganância, corrupção e
       arrogância levam seus seguidores ao engano religioso, mundanismo e à perdição (At 15.20,29).
          12 O “maná escondido” simboliza (Êx 16.14-15), aqui, o privilégio incomparável que todos os cristãos sinceros têm de participar
       da grande festa celestial e messiânica chamada “a ceia das bodas do Cordeiro” (19.9). Um alimento divino somente disponível
       aos crentes no Senhor, em contraposição ao que é oferecido aos seguidores de líderes da estirpe de Balaão (Sl 78.24). Os juízes
       da época costumavam usar uma pedra branca para votar em benefício do réu. Na antigüidade, os escravos que conseguiam a
       alforria, ganhavam uma pedrinha branca como “atestado” de sua liberdade. Aqui, o simbolismo sugere um “ingresso”, patrocina-
       do por Cristo, para a grandiosa solenidade das suas bodas com a Igreja. A salvação é uma convicção pessoal, verdadeiramente
       conhecida apenas entre o crente e o Senhor (19.12).
          13 Tiatira (atual Akhisar) foi fundada por Seleuco (311 – 280 a.C) com o objetivo de ser um posto militar avançado. Lídia,
       vendedora de púrpura, era de Tiatira (At 16.14).
          14 O nome de Jezabel é lembrado aqui como símbolo de uma mulher de destaque na sociedade, mas que subvertia a fidelidade
       a Deus, manipulando pessoas mediante a permissividade moral e a incorporação de práticas pagãs. A idolatria e o materialismo
       eram as mais expressivas tentações em Tiatira, um importante centro comercial da Ásia (1Rs 16.31; 2Rs 9.22-37).
          15 A palavra grega original “seguidores” pode ser facilmente confundida com a expressão literal “filhos”, cujo sentido aqui tem
       a ver com “discípulos”. Jezabel é a mãe simbólica de todos os que seguem doutrinas espúrias e libertinas. O Senhor sonda,




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APOCALIPSE 2, 3                                                   8

      24 Todavia, aos demais que estão em Tia-                              tenho encontrado integridade em tuas
      tira e que não seguem a doutrina dessa                                obras diante do meu Deus.
      mulher, e não aprenderam, como eles                                   3 Portanto, lembra-te daquilo que tens
      costumam falar, os profundos segredos                                 recebido e ouvido; obedece e arrepende-
      de Satanás, afirmo: ‘Não colocarei outra                               te. Porquanto se não estiveres vigilante,
      carga sobre vós!16                                                    virei como um ladrão, e tu não saberás a
      25 Tão-somente apegai-vos com firmeza                                  que hora virei contra ti.
      ao que tendes, até que Eu venha.                                      4 Contudo, tens em Sardes algumas pes-
      26 Ao vencedor, aquele que permanecer                                 soas que não contaminaram suas vestes;
      nas minhas obras até o fim, Eu lhe darei                               elas caminharão comigo, vestidas de
      autoridade sobre as nações.                                           branco, pois são dignas.
      27 Ele as pastoreará com cetro de ferro                               5 Deste modo, o vencedor andará trajado
      e as reduzirá a pedaços como se fossem                                com vestes brancas, e de modo algum
      vasos de barro.                                                       apagarei o seu nome do Livro da Vida;
      28 Eu lhe concederei autoridade seme-                                 pelo contrário, reconhecerei o seu nome
      lhante a que recebi de meu Pai. Também                                na presença do meu Pai e dos seus an-
      lhe darei a estrela da manhã’.                                        jos.2
      29 Aquele que tem ouvidos, compreenda                                 6 Aquele que tem ouvidos, compreenda o
      o que o Espírito revela às igrejas!”17                                que o Espírito revela às igrejas.’”

      Carta à igreja em Sardes                                              Carta à igreja em Filadélfia

      3   “Ao anjo da igreja em Sardes escreve:
          ‘Assim declara Aquele que tem os sete
      espíritos de Deus e as estrelas: Conheço
                                                                            7 “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve:
                                                                            ‘Assim declara Aquele que é santo e ver-
                                                                            dadeiro, que possui a chave de Davi. O
      as tuas obras, que tens fama de estar vivo,                           que Ele abre ninguém consegue fechar, e
      mas de fato, estás morto.1                                            o que Ele fecha ninguém pode abrir:3
      2 Sê alerta! E fortalece o que ainda resta                            8 Conheço as tuas obras. Eis que tenho
      e estava prestes a morrer; porque não                                 colocado diante de ti uma porta aberta



      literalmente no original grego “os rins”, “as entranhas”. Isso significa que Deus conhece as nossas vontades (fomes) mais
      íntimas, e o centro das nossas decisões. Atualmente, costuma-se fazer referência ao “coração” para explicar os sentimentos,
      e à “mente” para a razão (Sl 7.9; 62.12; Pv 24.12; Jr 11.20; 17.10). As obras são conseqüências da fé (Mt 16.27; Rm 2.6; Ap
      18.6; 20.12,13; 22.12).
          16 O gnosticismo ensinava que, para derrotar Satanás e suas hostes, se fazia necessário entrar na fortaleza do Inimigo e ter
      profunda experiência com o mal. Esse princípio é observado até hoje por diversas seitas heréticas em todo mundo, especialmente
      por meio de iniciações e ensinos secretos e esotéricos.
          17 O uso literal do verbo grego “pastoreará” comunica o sentido de “governar”; e a expressão “com cetro de ferro”, longe
      de uma alusão despótica, enfatiza o “governo poderoso” de Cristo (12.5; 19.15). A expressão “estrela da manhã” refere-se
      simbolicamente também à presença da pessoa do próprio Senhor Jesus entre os crentes, especialmente durante as grandes
      tribulações mundiais, prenunciando o glorioso retorno de Cristo e todas as bênçãos que aguardam os cristãos sinceros, justos
      e vencedores (Dn 12.3).
          Capítulo 3
          1 Sardes (atual Sart) foi capital do antigo reino da Lídia. Cidade próspera e orgulhosa de suas indústrias de lã e tinturaria, era
      o centro de culto à deusa Cibele, que atraía seguidores para uma religião mística, adornada por rituais sensuais e libertinos. O
      ministério da igreja cristã local tinha um conceito muito favorável por causa do seu início notável. Entretanto, Deus percebe o vírus
      da apatia espiritual (descrença) corroendo o íntimo da fé e da prática cristã naqueles crentes (Mt 24.43,44; Lc 12.39-40).
          2 Tanto os judeus (Êx 32.32,33; Sl 69.28; Dn 12.1; Mt 10.32; Lc 12.8; Ap 20.12) quanto os romanos conservavam um livro de
      registro de todos os cidadãos que formavam seus reinos e, portanto, tinham direitos e deveres a zelar. Se, por infringir a lei,
      um cidadão tivesse seu nome apagado do livro, significaria a total perda de cidadania. Para os judeus e cristãos, o registro no
      Livro da Vida é divino, e quem possui a vida eterna tem a graça da perseverança durante sua caminhada terrestre (Mt 24.13;
      Fp 4.3; Hb 2.3).
          3 Filadélfia (atual Alashehir), cujo nome significa “amor fraternal”, era uma cidade de grande importância comercial e, estrategi-
      camente localizada, como porta de entrada do elevado planalto central da província romana na Ásia Menor. O Senhor afirma que
      Cristo é quem tem todo o poder de admitir ou excluir pessoas do Reino. Os judeus acreditavam que apenas Israel tinha o privilégio




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9                                             APOCALIPSE 3

       que ninguém consegue fechar; tens pou-                              declara o Amém, a testemunha fiel e ver-
       ca força, mas obedeceste a minha Palavra                            dadeira, o Soberano da criação de Deus.7
       e não negaste o meu Nome.4                                          15 Conheço as tuas obras, sei que não
       9 Farei aos da sinagoga de Satanás, aos                             és frio nem quente. Antes fosses frio ou
       que se dizem judeus e não são, mas                                  quente!
       mentem; sim, farei que venham adorar                                16 E, por este motivo, porque és morto,
       prostrados aos teus pés e saibam que Eu                             não és frio nem quente, estou a ponto de
       te amo!                                                             vomitar-te da minha boca.8
       10 Porque deste atenção à minha exortação                           17 E ainda dizes: ‘Estou rico, conquistei
       quanto a suportar os sofrimentos com                                muitas riquezas e não preciso de mais
       paciência, Eu, igualmente, te livrarei da                           nada’. Contudo, não reconheces que és
       hora da tribulação que virá sobre o mun-                            miserável, digno de compaixão, pobre,
       do todo, para pôr à prova os que habitam                            cego e que está nu!
       sobre a terra.5                                                     18 Portanto, ofereço-te este conselho: Ad-
       11 Eis que venho sem demora! Conserva                               quire de mim ouro refinado no fogo, a fim
       o que tens, para que ninguém tome a tua                             de que te enriqueças; roupas brancas, para
       coroa.                                                              que possas cobrir sua vergonhosa nudez;
       12 Farei do vencedor uma coluna no tem-                             e compra o melhor colírio para que, ao
       plo do meu Deus, o nome da cidade do                                ungir os teus olhos, possas enxergar cla-
       meu Deus, a nova Jerusalém que desce do                             ramente.9
       céu da parte do meu Deus; e igualmente                              19 Eu repreendo e corrijo a todos quantos
       escreverei nele o meu novo Nome.6                                   amo: sê pois diligente e arrepende-te.
       13 Aquele que tem ouvidos, compreenda                               20 Eis que estou à porta e bato: se alguém
       o que o Espírito revela às igrejas’”.                               ouvir a minha voz e abrir a porta, en-
                                                                           trarei em sua casa e cearei com ele, e ele
       Carta à igreja em Laodicéia                                         comigo.10
       14 “Ao anjo em Laodicéia escreve: ‘Assim                            21 Ao vencedor, Eu lhe concederei que




       de ingressar no Reino de Deus. O poder das chaves é a autoridade exclusiva outorgada a Jesus Cristo, o Messias davídico (v.9;
       5.5; 22.16; Is 22.22; 60.14; Mt 16.18-19).
          4 O contexto desta carta indica que Cristo estabeleceu uma porta de entrada para todos os que nele crêem, com acesso abso-
       luto aos privilégios do Reino de Deus e do serviço cristão. Uma entrada que ninguém pode bloquear (1Co 16.9).
          5 Uma alusão às “dores messiânicas”, a seqüência de sofrimentos e perseguições que sobrevirão ao povo de Deus antes do
       glorioso retorno do Senhor Jesus (Is 60.14; Dn 12.1-13; Mc 13.14; 2Ts 2.1-12). Grandes provações atingirão os crentes persegui-
       dos pelo anticristo, enquanto os não-cristãos (pagãos), definidos neste livro como “os que habitam sobre a terra”, sofrerão os
       julgamentos divinos por sua incredulidade (13.7-8; 8.1 – 9.19; 16.1-20).
          6 Os judeus estabeleciam estreito paralelo entre o nome e o caráter de uma pessoa. O novo nome de Cristo simboliza tudo
       o que é por causa da sua obra salvadora e remidora a favor da humanidade. Evento que se dará na segunda vinda do Senhor
       (2.7; 7.15; 14.1; 21.2; 22.4).
          7 Laodicéia foi a cidade mais rica da região da Frígia na época do Império Romano, e ficava próxima à atual Denizli. Era
       conhecida em todo o mundo antigo por seus estabelecimentos bancários, escola de medicina e indústria têxtil. Contudo, a cidade
       sofria com sérios problemas de abastecimento de água potável. A expressão “Soberano” significa literalmente no original grego
       “o primeiro no tempo”: origem ou princípio de tudo (Jo 1.14; Pv 8.22; 2Co 5.17; Cl 1.15-18). O “Deus do Amém” se refere ao “Deus
       da Verdade”, como designação pessoal; refere-se a quem é perfeitamente crível, leal e fidedigno (1.5; 19.11; Is 65.16).
          8 Em Hierápolis, cidade de repouso, adjacente a Laodicéia, havia muitas fontes de água térmicas e medicinais, porém impró-
       prias para saciar a sede dos viajantes. A igreja cristã local não estava proporcionando água da vida para os peregrinos sedentos,
       nem cura e conforto para os espiritualmente enfermos.
          9 O texto se refere aos três grandes orgulhos de Laodicéia: riquezas financeiras, a ponto de rejeitar a ajuda de Roma quando foi
       praticamente destruída por um terremoto em 60 d.C., próspera indústria têxtil e grande avanço na medicina, tanto que lá desen-
       volveram a fórmula de um colírio muito apreciado na época. Contudo, nem todo o progresso econômico, cultural ou científico do
       mundo podem ser comparados com a riqueza do verdadeiro relacionamento com Deus (Os 12.8; Mt 6.19-20; Lc 1.53; 12.21).
          10 Embora tradicionalmente aplicado aos incrédulos, o contexto dessa passagem revela uma admoestação explícita e direta
       aos crentes que se iludem com suas próprias conquistas ou com uma religiosidade formal, e abandonam o sincero relacionamen-
       to com Cristo e o dedicado amor ao próximo. O Senhor sempre disciplina seus filhos com amor (Jó 5.17; Sl 94.12; Pv 3.11,12;




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APOCALIPSE 3, 4                                                 10

      se assente comigo no meu trono, assim                                e quatro outros tronos; vi assentados so-
      como Eu venci e me assentei com meu Pai                              bre eles vinte e quatro anciãos, vestidos
      no seu trono.                                                        de branco e com coroas de ouro sobre a
      22 Aquele que tem ouvidos, compreenda                                cabeça.4
      o que o Espírito revela às igrejas!’”                                5 Do trono emanavam relâmpagos, vozes
                                                                           e trovões. Perante Ele estavam acesas
      A visão da majestade de Deus                                         sete lâmpadas de fogo, que são os sete
                                                                           espíritos de Deus.5
      4   Depois destes acontecimentos, ob-
          servei uma porta no céu, e a primeira
      voz que eu ouvira, voz como de trombe-
                                                                           6 E diante do trono, ainda, havia algo se-
                                                                           melhante a um mar de vidro, trans-lúcido
      ta, falando comigo, chamou-me: “Sobe                                 como o cristal. No centro, circundando o
      até aqui, e Eu te revelarei os eventos que                           trono, havia quatro seres viventes cobertos
      devem ocorrer depois destes”.1                                       de olhos, tanto na frente como nas costas.6
      2 Imediatamente, me vi absolutamente                                 7 O primeiro aparentava um leão, o segun-
      tomado pelo Espírito, e diante de mim                                do era semelhante a um touro, o terceiro
      estava um trono no céu e nele estava                                 tinha um semblante como o de homem, o
      assentado alguém.2                                                   quarto parecia uma águia em pleno vôo.7
      3 Aquele, pois, que estava assentado ti-                             8 Cada um desses seres tinha seis asas e
      nha a aparência que se assemelhava às                                eram repletos de olhos, tanto ao redor
      pedras lapidadas de diamante e sardônio.                             como por baixo das asas. Dia e noite
      Ao redor do trono, reluzia um arco-íris                              proclamam sem cessar: “Santo, santo,
      parecendo uma esmeralda.3                                            santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
      4 Também ao redor do trono havia vinte                               Aquele que era, que é e que há de vir!”8


      1Co 11.32; Hb 12.5-11). Todos quantos perseveram na fé, estes são os vencedores e participarão do majestoso trono de Cristo
      (2.7; 20.4-6; Mt 19.28; 2Tm 2.12).
         1 As passagens de 4.1 a 5.14 proporcionam ao leitor uma introdução para o longo trecho de 6 a 20. Na sala do trono celestial,
      o Cordeiro inicia a derradeira batalha contra as forças diabólicas, em cujo final lançará definitivamente o Diabo e seus seguidores
      no lago do fogo eterno. O Senhor usa com João o mesmo tipo de convocação que usou com Moisés no monte Sinai, a fim de
      receber as orientações de Deus (Êx 19.20.24).
         2 João foi elevado a um estado raro de consciência espiritual alterada, em que seus sentidos foram totalmente arrebatados pela
      plenitude do Espírito, a fim de que pudesse ver, ouvir e sentir vívidamente tudo o quanto lhe seria comunicado por Deus (1.10; 17.3;
      21.10). O estilo literário, retratar Deus governando em seu trono celestial é uma forma clássica e tradicional do AT (Sl 47.8).
         3 Deus é plena luz, verdade e santidade, e não pode ser contemplado diretamente por nenhum ser humano (1Tm 6.16); por
      isso, se apresenta como o brilho intenso das pedras preciosas (os tons multicoloridos refletidos pelo diamante puro ou averme-
      lhados do jaspe, e castanhos dos cristais de calcedônia) combinando com todas as matizes de verde, como que produzidos pelo
      prisma da luz através dos mais puros cristais de esmeralda (Ez 1.26-28; Ap 10.1).
         4 Os vinte e quatro anciãos representam os doze patriarcas de Israel (as doze tribos) e os doze apóstolos, simbolizando desse
      modo a cifra completa e a unidade de todos os salvos de todas as eras (Ef 2.11-22). Há outros estudiosos cristãos que entendem
      que essa é uma representação dos anjos que servem a Deus no governo do Universo (Sl 89.7; Is 24.23; Êx 24.11; Ap 4.9-11;
      5.5-14; 7.11-17; 11.16-18; 14.3; 19.4).
         5 Os relâmpagos, trovões, grandes sinais no céu e as lâmpadas simbolizam o magnífico poder e a majestade eterna do Senhor,
      assim como vem se revelando à humanidade, desde a própria Criação, o Dilúvio e as grandes manifestações do amor de Deus
      para com seu povo no deserto do Sinai (Êx 19.16-19; Sl 18.12-15; 77.18; Ez 1.13). Na visão do Apocalipse, esses fenômenos estão
      sempre associados a algum acontecimento relevante para a humanidade e que se passa nas amplas e maravilhosas dependências
      do templo celestial (8.5; 11.19; 16.18). A expressão “os sete espíritos” é apenas uma maneira simbólica de mostrar o poder e a
      majestade perfeita do Espírito de Deus, uma vez que o sete é sempre o número da perfeição e da completeza (1.4).
         6 A origem dessas expressões figuradas, como “mar de vidro”, está no AT (Gn 1.7; Êx 24.10; Ez 1.22), que também indicava a
      bacia do templo celestial (11.19; 14.15-17; 15.5-8; 16.1,17), cujo equivalente no templo terreno era chamado de mar (1Rs 7.23-25;
      2Rs 16.17; 2Cr 4.2,4,15,39; Jr 27.19). Os quatro seres pertencem a uma ordem elevada de criaturas angelicais, cuja missão é zelar
      pelo trono celestial enquanto coordenam uma sistemática e interminável proclamação de louvor e adoração a Deus. Com seus
      muitos olhos, nada escapa à atenção e ao cuidado deles.
         7 O profeta Ezequiel teve uma visão semelhante (Ez 1.6-10; 10.14).
         8 Aqui vemos uma expansão do próprio nome de Deus (Êx 3.14,15), com o objetivo de enfatizar que os atributos de Deus
      (próprios de seu nome), como seu poder e santidade, se estendem da eternidade passada à eternidade futura, sem oscilação ou
      qualquer possibilidade de cessar (1.4; Is 6.2,3; 41.4; Ez 1.18; 10.12).




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11                                           APOCALIPSE 4, 5

       9 Toda vez que os seres viventes excla-                              encontrou ninguém que fosse digno de
       mam glória, honra e graças Àquele que                                abrir o livro e de olhar para ele.
       está assentado no trono e que vive para                              5 Então, um dos anciãos consolou-me,
       todo sempre,                                                         afirmando: “Não chores, pois o Leão da
       10 os vinte e quatro anciãos se prostram                             tribo de Judá, a raíz de Davi, venceu para
       diante daquele que está assentado no                                 abrir o livro e romper os sete selos”.3
       trono e adoram Àquele que vive para                                  6 Nisso, aconteceu que reparei, no meio
       todo o sempre. Eles lançam suas coroas                               do trono e dos quatro seres viventes e en-
       diante do trono e declaram:                                          tre os anciãos, em pé, um Cordeiro que
       11 “Nosso Senhor e nosso Deus, tu és dig-                            parecia estar morto, e tinha sete chifres
       no de receber a glória, a honra e o poder,                           e sete olhos, que são os sete espíritos de
       porquanto tu és o Criador de tudo e, por                             Deus enviados a toda a terra.4
       tua soberana vontade, tudo o que há, foi                             7 Ele veio e pegou o livro da mão direita
       criado e veio a existir”.                                            de quem estava assentado no trono.
                                                                            8 E assim que o recebeu, os quatro seres
       A visão do livro do Cordeiro                                         viventes e os vinte e quatro anciãos pros-

       5   Então, observei na mão direita da-
           quele que está assentado no trono um
       livro em forma de rolo, escrito de ambos
                                                                            traram-se diante do Cordeiro. Cada um
                                                                            deles tinha uma harpa e taças de ouro
                                                                            cheias de incenso, que são as orações
       os lados e selado com sete selos.1                                   dos santos;
       2 Vi, também, um anjo forte, que procla-                             9 e eles cantavam um cântico novo: “Tu
       mava em grande voz: “Quem é digno de                                 és digno de tomar o livro e de abrir seus
       abrir o livro e de lhe romper os selos?”.                            selos, porque foste morto, e com o teu
       3 No entanto, não havia ninguém, nem                                 sangue compraste para Deus homens de
       no céu, nem na terra nem debaixo da                                  toda tribo, língua, povo e nação.5
       terra, que pudesse abrir o livro, ou ao                              10 Tu os constituíste reino e sacerdotes
       menos olhar para ele.2                                               para o nosso Deus; e assim reinarão sobre
       4 E eu chorava muito, porque não se                                  a terra”.6



          1 O livro estava na forma de um pergaminho enrolado, escrito de ambos os lados (1.11; 10.2-10). Assim como as tábuas de
       pedra da Lei no AT (Êx 32.15; Ez 2.9,10), os setes selos revelam a inviolabilidade de um testamento de grande importância e valor
       (Is 29.11; Dn 12.4). Os nobres da época costumavam escrever suas últimas vontades e heranças em um documento que era
       lacrado na presença de sete testemunhas. Após a morte do testador, suas determinações eram lidas em público e executadas
       à risca (1Pe 1.4).
          2 A expressão original grega (céu, terra e debaixo da terra) não objetiva dividir o Universo nessas três partes. Era uma forma
       convencional de referir-se à universalidade da proclamação (Êx 20.4; Fp 2.10).
          3 Vários títulos messiânicos são mencionados nessa passagem, vinculando a obra de Cristo às profecias do AT (Gn 49.8-10).
       O Leão da tribo de Judá simboliza o poder e a majestade do Messias. No AT, Judá é chamado de “leãozinho” e lhe é prometido
       o governo até o glorioso retorno do Messias (Ez 21.27). Raíz de Davi é outro título profetizado para o Messias e Rei ideal (Is
       11.1,10; Rm 15.12).
          4 João emprega uma palavra especial para “Cordeiro” (29 vezes neste livro, e uma vez em Jo 21.15), revelando o sacrifício
       vicário de Cristo (Is 53.7; Zc 4.10; Jo 1.29) e seu pleno poder (17.14). Na milenar tradição judaica, o “chifre” é símbolo do poder e
       da “luz da glória” (Dt 33.17). O quarto grande animal que aparece na profecia de Daniel tem dez chifres. Entretanto, são os “sete
       chifres” que representam o pleno poder e glória absoluta do Messias (Dn 7.7,20; 8.3,5; Ap 4.5).
          5 No NT, o Cordeiro representa o único e grande líder da nova humanidade (Hb 2.9-11). Os Salmos conclamam todo povo de
       Deus a cantar novos louvores a Cristo, o Messias (Sl 33.3; 98.1; 141.2; 144.9; 149.1). Enquanto o capítulo 4 termina com a canção
       da Criação, o quinto se encerra com os cânticos da Nova Criação, que reúne os salvos de todas as nações e culturas. A morte e
       ressurreição de Jesus Cristo é a base da redenção, restauração, criação e exaltação eterna do Filho de Deus: o Vencedor e seu
       povo (Mt 20.28; 1Co 6.20; 7.23; 1Pe 1.18-19; Ap 14.3-4). É para a glória de Deus-Pai que Cristo redime homens e mulheres ao
       longo da história (Ef 1.1-14).
          6 Hoje em dia, a Igreja de Cristo passa por uma fase de lutas e descrédito por parte do mundo. Entretanto, na Nova Ordem ou
       Nova Jerusalém, os crentes serão constituídos “reino e sacerdotes” e reinarão sobre toda a terra (Êx 19.6; Dn 7.10; 1.6; 2.26,27;
       20.4,6; 22.5).




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APOCALIPSE 5, 6                                               12

      11 Então reparei e também ouvi a voz de                            O segundo selo
      grande multidão de anjos ao redor do                               3 Quando Ele abriu o segundo selo, ouvi
      trono e dos seres viventes e dos anciãos,                          o segundo ser vivente bradar: “Vem!”.
      cujo número era de milhares de milhares                            4 Então, partiu outra cavalgadura, um
      e de milhões de milhões.                                           cavalo vermelho; e ao seu cavaleiro, foi
      12 Eles proclamavam em alta voz: “Digno                            concedido o poder de tirar a paz da terra,
      é o Cordeiro, que foi morto, de receber                            de modo que os homens matassem uns
      a plenitude do poder, riqueza, sabedoria,                          aos outros. E lhes foi entregue também
      força, honra, glória e louvor!”.                                   uma grande espada.3
      13 Em seguida, ouvi todas as criaturas
      existentes no céu, na terra, debaixo da                            O terceiro selo
      terra e no mar, e tudo o que neles há,                             5 Quando o Cordeiro abriu o terceiro
      que exclamavam: “Ao que está assentado                             selo, ouvi o terceiro ser vivente convocar:
      no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a                           “Vem!”. Então, reparei e eis um cavalo
      honra, a glória e o domínio pelos séculos                          preto e o seu cavaleiro ostentava na mão
      dos séculos!”.                                                     uma balança.
      14 E os quatro seres viventes bradavam:                            6 Então, ouvi o que parecia uma voz
      “Amém!”, e os anciãos igualmente pros-                             grave, vinda dentre os quatro seres
      traram-se e o adoraram.7                                           viventes, exclamando: “Um quilo de
                                                                         trigo por um dinheiro, e três quilos de
      O Cordeiro abre o Primeiro Selo                                    cevada também por um dinheiro, mas
                                                                         não destruas o azeite e o vinho!”.4
      6  Observei quando o Cordeiro abriu o
         primeiro dos sete selos. Em seguida,
      ouvi um dos seres viventes exclamar com                            O quarto selo
      voz de trovão: “Vem!”.1                                            7 Quando Ele abriu o quarto selo, ouvi
      2 Olhei, e diante de mim estava um cava-                           a voz do quarto ser vivente clamar:
      lo branco e o seu cavaleiro empunhava                              “Vem!”.
      um arco, e foi-lhe outorgada uma coroa;                            8 Olhei, e diante de mim estava um
      e ele cavalgava altaneiramente, como                               cavalo amarelo pálido. Seu cavaleiro
      vencedor, determinado a vencer.2                                   chamava-se Morte e o lugar dos mortos



         7 Deus Pai entronizado na glória eterna, e o Deus-Cordeiro-Filho, que é o Messias (Cristo em grego), são de igual modo
      adorados (Fp 2.9-11) e seus “sete atributos” (sua perfeição) evidenciados (5.12; 7.12), o que demonstra uma vez mais a absoluta
      unidade do Pai com o Filho.
         Capítulo 6
         1 Há três séries bem definidas de julgamentos que se sucederão em grupos de sete elementos: os sete selos (6.1-16; 8.1-5), as
      sete trombetas (8.1 – 9.21) e as sete taças (cap. 16).
         2 Os quatro cavaleiros do apocalipse fazem parte de um contexto simbólico que tem suas raízes no AT (Zc 1.8-17; 6.1-8). Há vá-
      rias interpretações possíveis quanto ao significado das cores, missões e personalidades dos cavaleiros (assim como para o livro
      todo), mas o comitê internacional de tradução da KJA considera que o cavalo branco representa o Espírito de Cristo, que através
      da sua Igreja conquistará milhões de almas (vitórias) para o Reino. A cor branca no NT, e especialmente no Apocalipse, sempre
      indica ou está relacionada com a pessoa ou a obra de Jesus Cristo, cuja vitória – no final – será plena e perene (19.11-16).
         3 O cavalo e o cavaleiro vermelhos simbolizam os grandes e horríveis derramamentos de sangue provocados principalmente
      pelas guerras. A espada grande (em grego hromfaia) é uma metáfora de todo tipo de arma ou poder que visa o extermínio
      humano (Zc 1.8; 6.2; Mt 10.34).
         4 O cavalo preto representa os períodos trágicos de extrema necessidade de alimentos que, normalmente, se seguem aos
      tempos de guerra e graves conflitos políticos (Zc 6.2,6). Os processos econômicos mundiais não são solidários aos pobres e,
      portanto, quanto maior a escassez maiores os preços. Um dinheiro (em grego denarion) era uma moeda de prata, que, na época
      de João, era capaz de comprar até quinze vezes a alimentação diária de um homem e, normalmente, era o salário que um soldado
      ou operário braçal ganhava por dia a serviço ao Império romano. Todavia, nos dias de “fome”, aqui previstos, o equivalente
      monetário a um denário não será suficiente para alimentar uma família pequena todos os dias, mesmo considerando uma balança
      com alimentos (cevada) menos nutritivos do que o trigo. Entretanto, o Senhor coloca limites à destruição promovida pelo cavaleiro
      negro: as raízes da oliveira e da videira são fortes e profundas, e resistem aos períodos de seca e privações.




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13                                           APOCALIPSE 6, 7

       o seguia de perto. Foi-lhes dado o poder                             ficou escurecido como coberto com roupa
       sobre um quarto de toda a terra, a fim                                de luto, e toda a lua se tornou vermelha
       de que matassem à espada, pela fome,                                 como se estivesse ensangüentada;8
       por meio da pestilência e pelos animais                              13 e as estrelas do firmamento caíram so-
       selvagens da terra.5                                                 bre a terra, como figos verdes derrubados
                                                                            da figueira por um terrível vendaval.
       O quinto selo                                                        14 E, assim, o céu foi recolhido como
       9 Quando Ele abriu o quinto selo, con-                               um pergaminho quando se enrola. En-
       templei debaixo do altar as almas daque-                             tão, todas as montanhas e ilhas foram
       les que haviam sido mortos por causa da                              removidas de seus lugares.9
       Palavra de Deus e do testemunho que                                  15 E aconteceu que os reis da terra, os
       proclamaram.6                                                        príncipes, os generais, os ricos, os pode-
       10 Eles exclamavam com grande voz: “Até                              rosos; todos enfim, escravos e livres, bus-
       quando, ó Soberano, santo e verdadeiro,                              caram refugiar-se em cavernas e entre as
       esperarás para julgar os que habitam em                              rochas das montanhas.
       toda a terra e vingar o nosso sangue?”.                              16 Então, passaram a berrar para as mon-
       11 Então, para cada um deles foi entregue                            tanhas e rochedos: “Caiam sobre nós e
       uma vestidura branca, e foi-lhes orien-                              ocultem-nos da face daquele que se as-
       tado que aguardassem ainda um pouco                                  senta no trono e da ira do Cordeiro,10
       mais, até que se completasse o número                                17 porquanto, eis que é chegado o grande
       dos seus irmãos que, como eles, foram                                Dia da ira deles; e quem poderá sobre-
       servos e que, da mesma forma, também                                 viver?”.
       deveriam ser mortos.7
                                                                            Os 144.000 israelitas selados...
       O sexto selo
       12 Vi, quando Ele abriu o sexto selo. Então,
       aconteceu um enorme terremoto. O sol
                                                                            7   Depois desses eventos, observei quatro
                                                                                anjos em pé nos quatro cantos da ter-
                                                                            ra, com a missão de reter os quatro ventos



          5 A expressão grega original chlõros descreve um tom de cor “amarelo esverdeado” (pálido), próprio da aparência de pessoas
       portadoras de graves doenças, o que simboliza a pestilência, epidemias e a morte. Aqui a “Morte” é personificada (1Co 15.26;
       Rm 5.14,17; 6.9), e o Hades, expressão grega, derivada do termo hebraico Sheol (v.1.18; 20.13,14; Mt 16.18), que pode significar
       “sepulcro” ou “inferno”, em alguns casos. Tem aqui melhor tradução como “lugar dos mortos”, pois no NT é companheiro da morte
       (1Co 15.55; Ap 6.8; 20.13-14). Os soldados romanos lançaram milhares de cristãos e pessoas consideradas criminosas às feras na
       arena, em espetáculo público. Estes são alguns dos sinais previstos por Cristo como indicação do seu breve retorno (Mt 24.6-28).
          6 No ritual do sacrifício do AT, o sangue do animal oferecido ao Senhor era derramado na base do altar (Êx 29.12; Lv 4.7).
          7 O símbolo da justiça e pureza de Cristo é atribuído também aos cristãos martirizados, como se o sangue e a dor desses
       homens e mulheres fossem um sacrifício aos pés do altar de Deus (Fp 2.17; 2Tm 4.6, em paralelo a Lv 4.7). É o sangue dos servos
       do Senhor que reivindicam o julgamento de Deus sobre os ímpios e toda a forma de injustiça sobre a terra. Há um número dos
       eleitos (justificados) que se completará naturalmente por conversão a Cristo antes de seu glorioso retorno (Rm 11.12). Embora
       não seja possível determinar com exatidão que número é esse, o que João nos profetiza é que haverá muitos outros mártires
       até a volta do Senhor.
          8 Terremotos sempre fizeram parte da expressão do castigo divino sobre a humanidade (Êx 19.18; Is 2.19; 13.10; Ez 32.7; Ag
       2.6). Os terremotos que sinalizarão as colossais alterações físicas da terra e prenunciarão o glorioso retorno de Cristo, o final dos
       tempos e a transformação total da criação, terão magnitudes inimagináveis. Toda a descrição do sexto selo está relacionada aos
       fenômenos cósmicos profetizados pelo próprio Senhor Jesus (Mt 24.29; Mc 13.24-25; Lc 21.25). O apóstolo Pedro, igualmente,
       cita o profeta Joel em seu sermão no Pentecostes, como uma indicação da iminência histórica desses eventos (At 2.20; Jl 2.31).
          9 Um dos últimos sinais que antecederão ao glorioso retorno do Senhor ocorrerá no firmamento. As pessoas olharão para o céu
       escuro e verão algo como uma intensa e prolongada chuva de estrelas cadentes. Os figos que surgem no inverno são soprados
       facilmente das árvores sem folhas pelos fortes ventos desta estação (Mc 13.25,26). Um outro fenômeno (em geral, relatados
       nas Escrituras sob o ponto de vista do observador leigo e não de cientistas especializados) será o desaparecimento do céu (a
       abóbada atmosférica azul que observamos hoje em torno da terra), desmantelamento das cordilheiras e montanhas em todo o
       mundo, assim como o desaparecimento ou anexação ao continente de todas as ilhas (16.20; 20.11; Is 34.4; Jr 4.24; Na 1.5).
          10 No Dia do Senhor, até mesmo os generais experientes e destemidos (na época de João um general romano comandava uma
       coorte, cerca de mil soldados guerreiros) se acuarão desesperados nas cavernas (comuns na região da Palestina), reconhecerão




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APOCALIPSE 7                                                   14

      da terra e evitar que qualquer massa de ar                          Naftali; doze mil, da tribo de Manassés;
      fosse soprada sobre a terra, o mar ou em                            doze mil,
      qualquer árvore.1                                                   7 da tribo de Simeão; doze mil, da tribo
      2 Então, vi um outro anjo subindo do                                de Levi; doze mil, da tribo de Issacar;
      Oriente, tendo o selo do Deus vivo. Ele                             doze mil,
      bradou com voz grave aos quatro an-                                 8 da tribo de Zebulom; doze mil, da tribo
      jos a quem havia sido concedido poder                               de José; doze mil, da tribo de Benjamim;
      para produzir destruição na terra e no                              doze mil”.5
      mar:
      3 “Não danifiqueis a terra, nem o mar,                               ...e a enorme multidão de cristãos
      nem as árvores, até que selemos a testa                             9 Em seguida, olhei, e diante de mim
      dos servos do nosso Deus!”.                                         descortinava-se uma grande multidão
      4 Então me foi revelado número dos que                              tão vasta que ninguém podia contar,
      foram selados: “cento e quarenta e qua-                             formada por pessoas de todas as nações,
      tro mil, de todas as tribos de Israel.3                             tribos, povos e línguas. Estavam em pé,
      5 Da tribo de Judá, foram selados doze                              diante do trono do Cordeiro, vestidos
      mil, da tribo de Rúben; doze mil, da tribo                          com túnicas brancas, empunhando fo-
      de Gade; doze mil,4                                                 lhas de palmeira.6
      6 da tribo de Aser; doze mil, da tribo de                           10 E proclamavam com grande voz: “A




      que o Cordeiro (o Jesus sacrificado) e Deus são a mesma pessoa, e temerão a ira do julgamento divino (5.6; 19.15; Is 2.10; Sf
      1.14-18; Os 10.8; Jl 2.11; Na 1.6; Ml 3.2; Rm 1.18).
         Capítulo 7
         1 Este capítulo é uma espécie de parênteses entre a narrativa dos seis primeiros selos e a visão do selo final. Essa mesma
      característica ocorre na seqüência descritiva da visão das trombetas (10.1 – 11.13). O capítulo sete nos revela duas visões espe-
      cíficas: o selo dos 144.000 fiéis de Israel (v. 1-8) e a vasta multidão dos crentes comemorando a salvação e a vitória do Cordeiro
      (v. 9-17). Os quatro cantos da terra simbolizam os quatro pontos cardeais da bússola (Zc 6.5). Deus controla a história, assim
      como todos os fenômenos físicos e meteorológicos em função do seu plano em Cristo para a plena e eterna redenção do seu
      povo (judeus e cristãos).
         2 Na antigüidade, os documentos importantes e os que circulavam entre os nobres eram enrolados ou dobrados, amarrados,
      e uma massa especial de argila era aplicada sobre o nó. Assim, o remetente carimbava a massa que se endurecia, com seu anel
      ou sinete (com a marca da família), que autenticava e protegia aquele conteúdo. O capítulo 7 deixa claro que o Nome de Jesus
      Cristo é o lacre (selo) de propriedade de Deus, registrado na fronte de todos os que nele crêem sinceramente. O objetivo desta
      marca espiritual é proteger o povo de Deus dos terríveis juízos que acometerão toda a terra. Assim como aconteceu no Egito, para
      a libertação do povo de Deus da escravatura (Êx 12.29-36), o profeta Ezequiel adverte Israel quanto à destruição de Jerusalém e
      de todos os não selados por Deus (o que de fato ocorreu, por meio da invasão babilônica, seis anos após a proclamação dessa
      profecia). Na época de Ezequiel, o Senhor marcou os crentes sinceros com a última letra do antigo alfabeto hebraico (tav), que
      era escrita de modo fenício, semelhante a um “X” ou sinal de “cruz” (Ez 9.4).
         3 Algumas das seitas heréticas, que pregam que 144.000 é o número exato dos salvos, já contam com um número maior
      do que este de adeptos. Os livros proféticos e apocalípticos da Bíblia são alvos de várias interpretações, e é necessário muito
      discernimento espiritual, visão integral e histórica das Escrituras, conhecimento das línguas originais e a indispensável graça
      divina para uma interpretação adequada e saudável. Contudo, as mensagens vitais de cada livro podem ser compreendidas sem
      dificuldade, restando à investigação acurada os aspectos menos fundamentais e detalhes instigantes. Quanto a essa passagem,
      por exemplo, duas posições teológicas são defendidas por estudiosos cristãos sérios: 1) Alguns vêem aqui uma referência aos
      membros das tribos judaicas, o remanescente israelita fiel da “grande tribulação” (v.14). 2) Um outro grupo defende o simbolismo
      deste trecho, e o interpretam como sendo a expressão alegórica do número que indica completeza (144.000 é o equivalente a
      mil dúzias de doze, o que seria uma espécie de hipérbole numerológica). Simboliza todos os cristãos que permanecem fiéis ao
      Senhor mesmo vivendo num mundo secularizado, hedonista e materialista, e também inclui os judeus que ainda serão salvos por
      Cristo e que não se dobrarão aos ditames do anticristo durante a “grande tribulação”.
         4 A tribo de Judá é listada antes de Rúben, seu irmão mais velho, devido ao fato do Cristo (o Messias, em hebraico) pertencer
      à linhagem da tribo de Judá (Gn 37.21).
         5 Manassés era a mais pobre e frágil das tribos de José (Efraim e Manassés). Entretanto, aqui é mencionada para completar
      as doze tribos (Jz 6), considerando que Dã fora excluída (assim como Judas Iscariotes que foi infiel e teve de ser substituído no
      grupo dos Doze), por causa de sua avareza e idolatria (Jz 18.30). Uma antiga tradição judaica prevê que o último anticristo virá
      da tribo de Dã.
         6 As pessoas que fazem parte do povo de Deus na terra se reunirão no grande palácio celestial, diante do trono do Cordeiro.
      Essa multidão incontável é composta de todos os salvos de todas as partes da terra. Essa visão pode referir-se aos mesmos




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15                                           APOCALIPSE 7, 8

       Salvação pertence ao nosso Deus, que se                              seu santuário; e Aquele que está assenta-
       assenta no trono e ao Cordeiro!”.7                                   do no trono estenderá sobre eles o seu
       11 Todos os anjos que se encontravam                                 tabernáculo.10
       em pé ao redor do trono dos anciãos e                                16 Nunca mais passarão fome, jamais
       dos quatro seres viventes prostraram-se                              terão sede. Não os afligirá o sol, nem
       diante do trono com o rosto em terra e                               tampouco qualquer mormaço,11
       adoraram a Deus,                                                     17 pois o Cordeiro que está no centro do
       12 exclamando: “Amém! Louvor e glória,                               trono será o seu Pastor; Ele os conduzirá
       sabedoria, ação de graças, sejam ao nosso                            às fontes das águas da vida, e Deus lhes
       Deus para todo o sempre. Amém!”.8                                    enxugará dos olhos toda lágrima”.12
       13 Então um dos anciãos me indagou:
       “Quem são e de onde vieram todos                                     O sétimo selo e o incensário
       estes que estão vestidos com túnicas
       brancas?”.
       14 E eu lhe respondi: “Ó meu Senhor, tu
                                                                            8  Quando o Cordeiro abriu o sétimo
                                                                               selo houve absoluto silêncio nos céus
                                                                            por aproximadamente meia hora.1
       o sabes”. Então ele afirmou: “Estes são                               2 Então, observei os sete anjos que se
       os que vieram da grande tribulação e                                 encontram em pé perante Deus, e lhes
       lavaram as suas vestes e as alvejaram no                             foram entregues sete trombetas.2
       sangue do Cordeiro.9                                                 3 Aproximou-se um outro anjo e se
       15 Por este motivo, eles estão perante o                             colocou em pé junto ao altar, portando
       trono de Deus e o servem dia e noite em                              um incensário de ouro. A ele foi entregue



       144.000 (se considerarmos esse número como um símbolo da vasta multidão dos eleitos), que, após a “grande tribulação” dos
       últimos tempos (v.14), celebram e louvam ao Senhor por tão grande salvação e pela magnífica vitória sobre as perseguições,
       provações (tentações) e a própria morte (vv. 16,17). A Igreja de Cristo é apresentada em Apocalipse e ao longo de todo o NT,
       como o verdadeiro “Israel de Deus” (o povo do Senhor), judeus e não-judeus (Gl 6.16). Sendo assim, é possível compreender que
       as duas multidões que aparecem neste capítulo se referem a uma só “inumerável multidão”, vista em dois momentos diferentes:
       antes (1.3-8) e depois da “última tribulação” (Lc 21.16,18). As folhas de palmeira sendo agitadas e as vestiduras brancas são
       fortes símbolos da vitória perpétua (Lv 23.40; Jo 12.13).
          7 A salvação (no original hebraico tem o duplo sentido de cura e livramento) é propriedade exclusiva de Deus, que ele, graciosa
       e soberanamente, oferece a todos que a recebem (Gn 49.18; Jn 2.9; Jo 1.12).
          8 A seqüência de sete atributos enfatiza o louvor completo e perfeito (5.12).
          9 A expressão “grande tribulação” (Dn 12.1; Mt 24.21; Mc 13.19) aponta para os terríveis constrangimentos éticos, morais e toda
       espécie de hostilidades que o anticristo e seus comandados deflagrarão contra os judeus e cristãos fiéis, pouco antes do glorioso
       retorno de Cristo. Todavia, é importante observar que uma crescente perseguição aos crentes vem ocorrendo, em alternância de
       intensidade e método, desde os tempos de João.
          10 Outro detalhe significativo a ser considerado está ligado ao termo original grego “templo”, que, nas dezesseis vezes em que
       aparece neste livro, significa o “santuário interior” e não o recinto maior. Ou seja, “o lugar santo onde habita o Espírito de Deus”,
       o qual simboliza o antigo “tabernáculo”, onde resplandecia a “presença do Senhor” no deserto (Lv 26.11-13).
          11 Aqui estão em foco aqueles que sofreram os graves momentos de provação e tribulação provocados pelo anticristo (Is
       49.10), mas não abdicaram de sua fé sincera no Senhor. Purificaram-se diariamente no sangue do Cordeiro e souberam honrar
       seus corpos como a própria habitação do Espírito Santo. Agora chegaram às suas moradas no Reino de Deus, conforme a
       promessa de Cristo, e estão perante seu trono para adorá-lo eternamente (Jo 14.1-6). O vocábulo original grego latreuõ comunica
       um tipo de serviço espiritual (trabalho) que realmente agrada a Deus (v.14; Rm 1.9; At 26.7; Hb 12.28).
          12 Sl 23.1,2; Ez 34.23; Is 25.8.
          Capítulo 8
          1 João observa que em todo o céu há uma pausa marcante e atônita antes da série final de punições que sobrevirão ao planeta.
       Os julgamentos de Deus serão tão severos e terríveis que os próprios habitantes do céu ficam pasmos e comovidos com o castigo
       dos ímpios. O tempo no céu não é cronometrado como na terra, contudo João procura nos comunicar a sensação que sente ao
       presenciar esse momentum de absoluta apreensão no Universo.
          2 Na época de João e especialmente no AT, usava-se o som forte e marcante das trombetas para anunciar acontecimentos
       de grande importância nacional. A reverberação dos variados toques podia alcançar quilômetros de distância e servia para
       orientar as estratégias bélicas dos generais e seus exércitos nas batalhas. As sete trombetas (caps. 8, 9 e 11.15-19) proclamam
       uma série ainda mais severa de açoites contra a incredulidade, porém não mais terrível e devastadora como as reservadas nas
       “taças” (cap. 16).




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APOCALIPSE 8                                                 16

      grande quantidade de incenso para ofe-                            9 e morreu a terça parte das criaturas que
      recer com as orações de todos os santos                           vivem no mar, e um terço de todas as
      sobre o altar de ouro diante do trono.3                           embarcações foram destruídas.
      4 E da mão do anjo elevou-se na presença
      de Deus a fumaça do incenso juntamente                            A terceira trombeta
      com as orações dos santos.                                        10 O terceiro anjo tocou a sua trombeta,
      5 Então, o anjo tomou o incensário, en-                           e precipitou do céu uma grande estrela,
      cheu-o com o fogo do altar e lançou-o                             ardendo em chamas como tocha, sobre
      sobre a terra; e aconteceram trovões,                             um terço dos rios e das fontes de águas
      vozes, relâmpagos e um terremoto.                                 da terra.
                                                                        11 E o nome dessa estrela é Absinto; por-
      A visão das sete trombetas                                        tanto, um terço de toda a água potável
      6 E aconteceu que os sete anjos que                               da terra se tornou amarga, e multidões
      estavam com as sete trombetas prepara-                            morreram pela ação nefasta das águas
      ram-se para tocá-las.                                             que foram envenenadas.6

      A primeira trombeta                                               A quarta trombeta
      7 O primeiro anjo tocou a sua trombeta,                           12 O quarto anjo tocou a sua trombeta e
      e ocorreu grande precipitação de granizo                          um terço do sol foi ferido, bem como a
      e fogo misturado com sangue, os quais                             terça parte da lua e das estrelas, de ma-
      foram lançados sobre a terra. E, assim,                           neira que um terço deles se escureceu
      um terço de toda a terra foi queimado,                            completamente. Assim, um terço do
      e também um terço das árvores e toda a                            dia ficou sem luz e também um terço
      relva verde existente.4                                           da noite.7
                                                                        13 Enquanto eu admirava esses aconteci-
      A segunda trombeta                                                mentos, ouvi uma águia que planava
      8 O segundo anjo tocou a sua trombeta,                            pelo meio do céu grasnindo em alta voz:
      e algo como uma enorme montanha ar-                               “Ai! Ai! Ai dos que habitam sobre a terra,
      dendo em chamas foi arremessada sobre                             por causa dos toques das trombetas que
      o mar. Por esse motivo, um terço do mar                           estão prestes a serem entoados pelos três
      transformou-se em sangue,5                                        próximos anjos!”.8




        3 O incensário, no AT, era uma espécie de panela repleta de carvão vegetal em brasa, usada para queimar o incenso na presen-
      ça do Senhor, como um símbolo da fragrância e certeza de que todas as nossas orações sobem até o Pai, que sempre nos ouve
      atentamente e nos educa em seu amor (Êx 27.3; 30.1; 1Rs 7.50; Mt 7.9; Rm 8.26-27). A expressão grega original, usada aqui por
      João, nos permite apreender que o “incenso”, verdadeiro e espiritual, não é a fumaça perfumada que sobe quando queimada,
      mas sim as próprias “orações”, quando evaporam dos nossos corações em brasa (Lv 16.12; Ez 10.2; Ap 5.8; 11.19; 16.18).
        4 Há uma analogia simbólica entre a primeira trombeta e a quarta praga do Egito (Êx 9.13-25; Ez 38.22). As frações empregadas
      por João não devem ser tomadas literalmente, pois indicam apenas que a punição anunciada pelas trombetas ainda não está
      completa nem conclusiva (vs. 8,9,10,11,12).
        5 Outra similaridade com as pragas do Egito (Êx 7.20,21): João observa um juízo escatológico, não derivado da poluição
      natural, mas de grandes erupções vulcânicas em vários pontos do planeta em um mesmo “momentum”.
        6 Absinto é uma planta de sabor desagradável e intensamente amargo, embora não letal. Aqui serve de metáfora para
      comunicar a degradação da humanidade, bem como uma possível contaminação radioativa de grande parte da água potável do
      planeta (6.13; 9.1; Êx 15.25; Pv 5.3,4; Jr 9.15; 23.15; Is 14.12; Lm 3.19).
        7 Na nona praga do Egito, densas trevas cobriram a terra durante três dias (Êx 10.21-23; Is 13.10; Ez 32.7; Jl 2.10).
        8 A expressão original grega e apocalíptica “os que habitam sobre a terra” refere-se aos “ímpios e incrédulos” que resistem à
      convocação do Senhor para a salvação (6.10; 9.4). Até este ponto da narrativa de João, os julgamentos divinos haviam tocado
      somente a natureza inanimada do planeta; agora, contudo, os três “Ais” proclamados pela águia anunciam os três castigos finais,
      e cada pessoa incrédula sobre a face da terra experimentará a ira de Deus contra o pecado. Os sete juízos referentes às “taças”
      dos capítulos 15 e 16 podem ser compreendidos como uma expressão do terceiro “Ai”.




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  • 1. INTRODUÇÃO APOCALIPSE Autoria Como já vimos no Evangelho segundo João e em suas cartas às igrejas da Ásia, o profeta e autor do Apocalipse (22.9), o mais enigmático e curioso livro da Bíblia é do apóstolo João, filho de Zebedeu e Salomé, uma família abastada da Galiléia (Mc 15.40,41), conhecido como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 21.20-24). Talvez isso tenha deixado uma ponta de inveja em muitos falsos seguidores do cristianismo, a ponto de séculos mais tarde brotar maldosamente, da parte de alguns críticos, certas calúnias questionando a sexualidade de João. Entretanto, em sua época e por todas as igrejas da Ásia Menor, ele notabilizou-se por sua bravura e masculinidade, vindo a ser conhecido como “filho do trovão” (Mc 3.17). João teve um importante papel na obra da igreja primitiva em Jerusalém (At 3.1; 8.14; Gl 2.9). Em quatro ocasiões, o autor do Apocalipse tem o cuidado de se apresentar como João (1.1,4,9; 22.8). Judeu e versado nas Escrituras, alimentava viva e contagiante a esperança de que a verdade e a fé cristã não demorariam a ver a glória do triunfo eterno sobre as momentâneas e poderosas forças de Satanás em plena atuação no mundo. Por volta do ano 135 d.C., Justino Mártir, e logo depois Irineu (180 d.C.), citam o livro do Apocalipse em seus estudos, em alguns trechos, palavra por palavra e, indiscutivelmente, atribuem a autoria do livro sagrado a João, o apóstolo de Jesus Cristo. No século II, entretanto, um bispo africano denominado Dionísio fez um longo estudo comparativo entre a linguagem, o estilo e a teologia aplicada ao livro do Apocalipse, e as demais obras do apóstolo João, concluindo que outro João, provavelmente, João conhecido como “o Presbítero”, seria o autor desse livro profético. Embora alguns estudiosos ainda hoje sigam o pensamento de Dionísio, a grande maioria dos eruditos e biblistas da atualidade confirmam a autoria do apóstolo João para o livro das “últimas coisas”: o Apocalipse. Propósitos A palavra-chave para o início de uma correta compreensão desta obra encontra-se na abertura da carta: revelação (1.1). Essa é a melhor tradução da expressão grega Apokavluyi" (Apokálypsis) que abre o livro do “Apocalipse” e freqüentemente aparece nos textos proféticos do AT da Septuaginta (a primeira e mais importante tradução do AT em grego). Tanto que a edição da Bíblia King James de 1611, e todas as demais em língua inglesa, usam a expressão “revelation” (revelação) como título desse livro de João. A palavra “apocalipse” tornou-se um termo técnico para a igreja primitiva e passou a designar a manifestação gloriosa de Jesus Cristo, o Messias, no final dos tempos (Rm 2.5; 8.19; 1Co 1.7; 2Ts 1.7; 1Pe 1.7,13). Portanto, o “apocalipse” é a “revelação” da pessoa do Senhor Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador único e absoluto do Mal em todas as suas formas e expressões. Como na época de João, as autoridades políticas e militares dominantes estavam começando a im- por o chamado “culto de adoração ao imperador”, o apóstolo sente a necessidade vital de encorajar os cristãos a se manterem fiéis e leais a Jesus Cristo, nosso único e supremo Senhor. Por vários motivos, incluindo o cultural (o estilo literário peculiar), o místico (a obra é fruto de uma experiência de êxtase espiritual), e o da segurança (era fundamental que a mensagem chegasse às igrejas sem a censura ou o bloqueio do exército romano). Todo o processo pelo qual o Senhor dará prosseguimento à sua obra redentiva e salvadora de todas as pessoas que nele crerem, está aqui delineado sob símbolos, metáforas e ilustrações diversas. A estrutura dessa obra maravilhosa e fundamental de João está baseada em quatro grandes visões, cada uma delas estrategicamente começando com a expressão “no espírito”, e comunicando ao leitor algum aspecto da pessoa do Messias, Jesus Cristo, e da sua supremacia como Juiz do Universo. Cada visão proporciona uma cena diferente e nos conduz para um degrau superior no processo de revelação total e final da História da humanidade. O livro tem seu início marcado pela visão de cartas endereçadas pelo Senhor a sete igrejas exis- tentes no período apostólico, e que servem como exemplos de igrejas de todas as épocas. Nessas AP_B.indd 1 15/8/2007, 23:42:07
  • 2. cartas, Deus expressa seus elogios e críticas, concluindo sempre com uma advertência ou conselho e uma promessa. No quarto capítulo, João se sente transferido para as dimensões celestiais, e lhe é concedido o dom de contemplar os grandes eventos mundiais que acontecerão depois de certos sinais (4.1). Por meio de uma série de julgamentos seguidos, porém imprecisos quanto a épocas e duração (os selos, as trombetas e as taças), o planeta Terra e todos os seres vivos serão castigados por causa do pecado humano com sua insaciável perversão e maldade. Então, o grande Dia da ira de Deus, retido por séculos e séculos, será finalmente inaugurado. Embora não possamos calcular quando nem quanto tempo levará todo esse processo de juízo, o próprio Senhor - por sua misericórdia - se encarregará de abreviar a dor e o sofrimento da raça humana, especialmente dos seus filhos. Nos capítulos dezessete e vinte, somos informados dos detalhes finais dessa dispensação ou tempo histórico. O glorioso retorno de Jesus Cristo acompanhado por seus exércitos celestiais (19.11-20), o estabelecimento efetivo e definitivo do Reino de Deus, logo após o processo de julgamento final do Trono Branco (20.1-15) e o início de um novo mundo (21.1-8; 21.9 – 22.5). Contudo, no encerramento deste livro há uma palavra poderosa e alentadora de chamamento à devoção. O alerta é geral: considerando a iminente, triunfal e definitiva volta do Senhor, a santidade e o testemunho são imperiosos na vida de todos aqueles que receberam o maravilhoso dom de crer em Deus Yahweh. O livro termina com uma oração que deveria expressar o santo desejo de todos os crentes: Maranata! (uma transliteração do aramaico) que significa “Amém! Vem Senhor Jesus!” (22.20; 1Co 16.22). Data da primeira publicação João escreveu o Apocalipse por volta do ano 93 d.C., quando os cristãos estavam começando a viver um dos mais intensos períodos de perseguição religiosa da história; depois do terrível reinado de Nero (54-68 d.C.), e ao final da era de Domiciano (81-96 d.C.). Tito Flávio Domiciano foi filho de Vespasiano. Nascido no ano 51 d.C., na dinastia dos Flávios, começou seu império com sabedoria e elevado carisma popular, mostrou-se hábil administrador. Conquistou diversos povos e terras, inclusive toda a Bretanha. Entretanto, seu autoritarismo sempre crescente fez surgir um regime de extremo terror e repressão que atingiu o povo, a aristocracia, os filósofos, e, principalmente, os pensadores e pregadores judeus e cristãos. Sucumbiu assassinado numa conjuração promovida por seus senadores com a cumplicidade de sua esposa. O apóstolo João, sem citar nomes, faz uma profunda analogia entre a maligna estratégia política de Domiciano e os líderes mundiais despóticos e maquiavélicos de todas as épocas, especialmente com o último anticristo. Esboço de Apocalipse 1. Prefácio e saudações apostólicas aos crentes em Cristo (1.1-8) 2. Primeira Visão: Cristo e a Igreja (1.9 – 3.22) A. Representação da presença do Sumo Sacerdote (1.9-20) B. Mensagens às sete igrejas (2.1 – 3.22) 3. Segunda Visão: Cristo e o mundo (4.1 – 16.21) A. Adoração universal ao Cordeiro e Rei (4.1 – 5.14) B. Os sete selos são rompidos (6.1-17; 8.1-5) C. Os 144.000 selados de Israel (7.1-8) D. A multidão incontável dos demais salvos (7.9-17) E. O mistério das sete trombetas (8.6 – 9.21; 11.19) F. O mistério da medição do Templo (11.1,2) G. O mistério das duas testemunhas (11.3-14) 4. Os assustadores sinais mundiais (12.1 – 14.20) A. O sinal da mulher com a coroa de doze estrelas (12.1-16) B. O sinal do enorme dragão vermelho (12.3-17) C. Israel gerou um filho que regerá o mundo (12.5,6) D. A batalha de Miguel, o arcanjo (12.7) E. A Besta que se levanta do mar (13.1-10) F. A Besta que se levanta da terra (13.11-18) 5. Cristo, o Cordeiro de Deus, no monte Sião (14.1-5) AP_B.indd 2 15/8/2007, 23:42:10
  • 3. 6. Anúncios especiais dos anjos do Senhor (14.6-20) 7. Os sete anjos derramam as sete taças do juízo (15.1 – 16.21) A. Os santos entoam hinos de louvor a Deus (15.1-4) B. Os anjos executam os sete flagelos do juízo (15.5-16.21) 8. Terceira Visão: Cristo e a Vitória absoluta (17.1 – 21.8) A. A destruição da Babilônia (17.1 – 18.24) B. A resposta que vem do céu (19.1-10) C. A prisão de Satanás por mil anos (20.1-6) D. Grandes conflitos e o juízo final (20.7-15) E. Nasce o novo céu e a nova terra (21.1-8) 9. Quarta Visão: Cristo e a eternidade (21.9 – 22.5) A. Nasce uma Nova Jerusalém (21.9-21) B. A nova vida com o Cordeiro (21.22 – 22.5) 10. Conclusão do Apocalipse (22.6-21) A. Convocação à obediência imediata (22.6-11) B. Convocação ao serviço cristão (22.12-15) C. Convocação ao Amém de Cristo (22.16-20) D. Bênção apostólica a todos os crentes (22.21) AP_B.indd 3 15/8/2007, 23:42:11
  • 4. APOCALIPSE Introdução e tema do livro Saudação às sete igrejas da Ásia 1 Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe concedeu para mostrar a seus servos os acontecimentos que em breve 4 João, às sete igrejas que estão na provín- cia da Ásia: graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de devem se realizar, e que Ele, por intermé- vir, e da parte do sétuplo Espírito que o dio do seu anjo, expressou ao seu servo assiste diante do seu trono,3 João,1 5 e de Jesus Cristo, que é a Testemunha 2 o qual comprovou tudo quanto viu da fiel, o Primogênito dentre os mortos e o Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Soberano dos reis da terra. Ele, que nos Cristo. ama e, mediante seu sangue, nos libertou 3 Bem-aventurados os que lêem, bem de todos os nossos pecados,4 como os que ouvem, as palavras desta 6 e nos constituiu reino e sacerdotes para profecia e obedecem às orientações que servir a Deus, seu Pai; a Ele, portanto, nela estão escritas, porquanto o tempo sejam glória e domínio pelos séculos dos desses eventos está às portas.2 séculos. Amém!5 1 A expressão grega apokalipsis “revelação”, significa literalmente “tirar o manto”, isto é, “descobrir”, “tornar claro algo obscuro”, “trazer um mistério à luz da compreensão”. Aqui a mensagem (revelação) vem de Cristo, por meio de um “anjo intermediário” (a palavra “anjo” ocorre mais de 70 vezes neste livro), e é ministrada a João através de símbolos, que é o sentido do termo grego semainõ “significar”, “expressar” (ensinar por simbologia). Essa compreensão nos leva à chave da interpretação geral deste livro: ensinamento simbólico. João, apóstolo, e conhecido como “o discípulo amado” de Cristo, irmão mais novo do apóstolo Tiago, primo de Jesus e autor do evangelho e das epístolas que levam seu nome, foi escolhido por Deus para receber essa advertência divina e transmiti-la a todos os demais “servos” (em grego “escravos”) de Jesus em todo mundo. Sabendo que tais “eventos” estão em processo desde a assunção de Cristo aos céus e, portanto, seu glorioso retorno é certo e iminente (Jo 19.25; 21.2,20,24; Mt 27.56; Mc 3.17; 15.40; Lc 9.52-56; Ap 22.6-20). 2 Os leitores ocidentais, especialmente, devem estar atentos ao estilo apocalíptico (simbólico) desta obra, muito comum no Oriente ainda hoje. Mais de 50 vezes o número 7 aparece em todo livro, significando “inteireza”, “perfeição”. Aqui temos, por exemplo, a primeira das sete “bem-aventuranças” que aparecem em todo o livro (14.13; 16.15; 19.9; 20.6; 22.7,14). O termo grego makarios tem um sentido muito mais amplo e profundo do que a expressão “feliz” poderia comunicar. Portanto, “bem- aventurados” transmite melhor o poder e a maravilha da bênção que está reservada para todos aqueles que humildemente lerem ou ouvirem as palavras deste livro (Mt 5.3; Sl 1.1). O vocábulo “profecias” refere-se tanto à previsão de eventos futuros, quanto à proclamação da Palavra de Deus. O Senhor retarda o grande Dia do Juízo para que fique, a cada dia, mais notória a sua longanimidade (Mt 10.39; 18.11; Lc 19.10; Jo 17.12) e a incapacidade do ser humano caído (Gn 3) proporcionar à própria humanidade um mundo justo, sadio e solidário. Contudo, seu glorioso retorno pode ocorrer a qualquer momento (Tg 5.9). 3 A mensagem foi dirigida às sete igrejas, ou seja, àquelas enumeradas no v.11 e a todas as demais igrejas cristãs em todas as épocas. O termo grego ekklesia “assembléia” era usado para “convocar” as pessoas para as “reuniões” dos crentes primitivos. As igrejas localizadas na província romana da Ásia, na época de João, hoje uma região da Turquia ocidental, formavam um círculo geográfico na Ásia, com uma distância de cerca de 80 km entre uma e outra. Curiosamente, seus nomes são citados no sentido horário, partindo de Éfeso em direção ao norte até Laodicéia, a leste de Éfeso. Todas as sete igrejas receberam cópias completas do livro com a recomendação de não apenas lerem, estudarem e praticarem a Palavra de Deus, mas igualmente, de proclamarem a Salvação e o Dia do Senhor a todo o mundo. O vocábulo grego “Graça” é usado apenas duas vezes neste livro, aqui e no último versículo (22.21). No entanto, Paulo o usa mais de 100 vezes, evidenciando que vivemos a era da Graça, quando Deus está caminhando pela terra, com seu Espírito e sua Igreja, oferecendo liberalmente sua Salvação (Jn 4.2; Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2). João parafraseia um dos títulos de Cristo para ressaltar seu poder e eternidade (Êx 3.14,15; Hb 13.8; Ap 4.5). Algumas versões trazem a expressão “os sete espíritos”, todavia, o sentido mais apropriado é compreendido ao aplicarmos a simbologia do número 7 à autoridade absoluta e perene do Espírito Santo (Is 11.2; Zc 4.2,10). 4 Jesus, por sua morte e ressurreição, recebeu o primeiro corpo celestial, “sendo Ele o primeiro dos frutos dentre aqueles que dormiram” (Sl 89.27; Dn 7.13; Mt 24.30; Mc 13.26; Lc 21.27; Zc 12.10; Jo 19.34,37; 1Co 15.20,48; Cl 1.18) e nos resgatou (libertou) pagando com o seu próprio sangue imaculado a nossa fiança (Hb 9.12). 5 Deus designou Israel como seu povo, reino e sacerdotes (Êx 19.6; Zc 3; At 1.6). Essa mesma honra foi concedida aos membros da Igreja de Cristo (1Pe 2.5,9). O Nome de Deus revela sua própria pessoa (Yahweh – Ex 3.14). AP_B.indd 4 15/8/2007, 23:42:12
  • 5. 5 APOCALIPSE 1 7 Eis que Ele vem com as nuvens, e todo 14 Sua cabeça e seus cabelos eram bran- olho o verá, até mesmo aqueles que o cos como a lã, tão brancos quanto a neve, traspassaram, e todas as tribos da terra se e seus olhos, como uma chama de fogo.8 lamentarão por causa dele. Certamente, 15 Seus pés reluziam como o metal, assim será. Amém! quando é refinado em fornalha ardente, 8 “Eu Sou o Alfa e o Ômega”, declara o e sua voz como o som de muitas águas.9 Senhor Deus, “Aquele que é, que era e 16 Tinha em sua mão direita sete estre- que há de vir, o Todo-Poderoso”. las, e de sua boca saía uma espada com dois gumes afiados. Seu rosto era como Jesus aparece e revela a João o próprio sol quando brilha em todo o 9 Eu, João, irmão e vosso companheiro seu esplendor.10 de sofrimento, no Reino e na perseve- 17 Assim que o admirei, cai a seus pés rança na fé em Jesus, estava na ilha de como se estivesse morto. Então, Ele co- Patmos, por causa da Palavra de Deus e locou sua mão direita sobre mim, e disse: do testemunho de Jesus. “Não tenhas medo, Eu Sou o primeiro e 10 E, no dia do Senhor, achei-me exaltado o último. no Espírito, quando ouvi atrás de mim 18 Eu Sou o que vive; estive morto, mas uma voz forte, como o som de trombeta,6 eis que estou vivo por toda a eternida- 11 que dizia: “Escreve em um livro o que de! E possuo as chaves da morte e do vês e envia-o a estas sete igrejas: Éfeso, inferno.11 Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Fila- 19 Portanto, escreve sobre tudo o que tens délfia e Laodicéia”. visto, tanto os eventos que se referem ao 12 Voltei-me para observar quem falava presente como aqueles que sucederão comigo e, voltando-me, vi sete candela- depois destes. bros de ouro 20 Este é o mistério das sete estrelas, que 13 e, entre os candelabros, alguém seme- viste na minha mão direita, e dos sete lhante a um ser humano, vestindo uma candelabros de ouro: as estrelas são os longa túnica que chegava aos seus pés, e anjos das sete igrejas, e os sete candela- um cinturão de ouro ao redor do peito.7 bros são as sete igrejas”.12 6 Patmos era uma pequena ilha rochosa no mar Egeu, próxima ao litoral onde hoje se situa a Turquia, cerca de 80 km de Éfeso. Era conhecida como colônia penal romana, e Eusébio, um dos “pais da Igreja”, relata que João foi liberto de Patmos pelo imperador Nerva, entre os anos 95 e 98 d.C. O Espírito do Senhor conduziu João a uma experiência de êxtase espiritual (assim como ocorreu a Pedro – At 10.10), durante a qual lhe concedeu uma visão da realidade normalmente inacessível ao ser humano. Nesta época, o domingo já era considerado pela igreja cristã primitiva como “o dia do Senhor”. Era, portanto, o dia em que os cristãos se reuniam como igreja (assembléia) e recolhiam suas ofertas para a obra (At 20.7; 1Co 16.2). 7 Referência clara a Cristo como nosso sumo sacerdote (Êx 28.4; 29.5). 8 Os cabelos brancos (cãs) representam santidade, sabedoria e a eterna deidade de Cristo, conforme a descrição do profeta Daniel do Ancião de Dias (Dn 7.9,13; 10.6; Is 1.18). Os olhos em chamas denotam o olhar penetrante e discernidor de Cristo (4.6; Lv 19.32; Pv 16.31). 9 Outros profetas, como Ezequiel, descrevem a voz de Deus como a rebentação das ondas (Ez 1.24; 43.2). Em Patmos esse som do mar seria ainda mais aterrador ao quebrar-se contra as paredes rochosas da ilha. Mais um símbolo de autoridade e soberania de Deus (Jo 12.29). 10 Deus sustenta os anjos das igrejas (as estrelas – v.20) em sua mão direita, o que significa, posição de grande honra e res- ponsabilidade. A espada, longa e afiada dos dois lados, representa o poder e o direito que Cristo tem para julgar e executar as devidas sentenças aos impenitentes (Is 11.4; 44.6; 48.12; Hb 4.12,13). 11 No AT, há uma profusão de referências ao “Deus Vivo” (Js 3.10; Sl 42.2; 84.2), que se aplicam a Jesus Cristo, em contraste aos “deuses mortos” do paganismo. Cristo tem vida em si mesmo e possui absoluto domínio sobre todos os seres vivos e mortos. Hades, palavra grega que pode ser traduzida por “inferno”, “sepulcro”, “morte” ou “lugar dos mortos” (Mt 16.18). 12 Esse é o primeiro texto no livro que procura interpretar alguns dos símbolos usados na comunicação da profecia entregue a João (17.15,18). O termo grego angelos significa “mensageiro” e, na maioria das vezes, tem a ver com um ser celestial (anjo). Aqui, entretanto, pode ser também aplicado ao pastor ou líder espiritual da igreja, personificando a atmosfera celeste (espírito) que deve prevalecer em cada comunidade cristã. AP_B.indd 5 15/8/2007, 23:42:14
  • 6. APOCALIPSE 2 6 Carta à igreja em Éfeso 7 Quem tem ouvidos, compreenda o que 2 “Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: ‘Assim declara Aquele que tem as sete estrelas na mão direita e anda no meio o Espírito declara às igrejas: ‘Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus’”.6 dos sete candelabros de ouro:1 2 Conheço as tuas obras, tanto o teu tra- Carta à igreja em Esmirna balho árduo como a tua perseverança, e 8 “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: que não podes tolerar pessoas más, e que ‘Aquele que é o primeiro e o último, que puseste à prova aqueles que a si mesmos foi morto e ressuscitado, faz as seguintes se declaram apóstolos mas não são, e afirmações: descobriu que eram impostores.2 9 Conheço as tuas aflições e a tua pobreza; 3 Tens perseverado e suportado sofri- contudo, tu és rico! Conheço a blasfêmia mentos de toda espécie por causa do dos que se dizem judeus mas não são, pelo meu Nome, e não te deixaste desfalecer. contrário, são sinagoga de Satanás. 4 Entretanto, tenho contra ti o fato de 10 Não temas nada do que estais prestes que abandonaste o teu primeiro amor.3 a sofrer! Eis que o Diabo está para lançar 5 Recorda-te, pois, de onde caíste, arre- alguns de vós na prisão; a fim de que pende-te e volta à prática das primeiras sejais provados, e sofrereis perseguição obras. Porquanto, se não te arrependeres, durante dez dias. Sê fiel até a morte, e Eu em breve virei contra ti e tirarei o teu te darei a coroa da vida!’7 candelabro do seu lugar.4 11 Aquele que tem ouvidos, compreen- 6 Tens, contudo, a teu favor que odeias da o que o Espírito revela às igrejas: ‘O as práticas dos nicolaítas, as quais Eu vencedor de maneira alguma sofrerá a também odeio’.5 punição da segunda morte’”.8 1 Essas sete igrejas realmente existiram na Ásia Menor. Apesar disso, observa-se o retrato de uma certa seqüência de degra- dação espiritual e moral da igreja, ao longo da história, que chega até a completa apatia exemplificada pela igreja de Laodicéia. Jesus revela um padrão de advertência que se aplica aos vários perfis da igreja em todas as épocas até sua volta: elogio pelas boas atitudes; admoestação contra os erros e faltas; disciplina e correção. Éfeso era um dos principais centros urbanos do Império e jactava-se de sua cultura e religiosidade pagã, ostentando o templo de Ártemis (Diana), uma das sete maravilhas do mundo antigo. 2 A igreja primitiva cultivava o hábito de pôr à prova os mestres e suas doutrinas, a fim de verificar sua correção e fidedignidade bíblica. Haja vista a grande quantidade de místicos, judaizantes e falsos mestres que surgiram nos primeiros séculos após a ressurreição de Cristo (1Co 14.29; 1Ts 5.21; 1Jo 4.1). 3 Todas as igrejas da província da Ásia haviam experimentado grande amor por Jesus Cristo (pelo Evangelho) e cooperavam fraternalmente uns com os outros, demonstrando a plenitude e a alegria do amor cristão nos primeiros anos de suas conversões. Com o passar do tempo, a chegada das muitas provações e tentações, esse amor foi se esfriando. Um alerta para a igreja dos nossos dias. 4 O termo grego, aqui traduzido por “arrepende-te”, significa: “transforma o teu pensamento e tuas ações”. Assim também, a expressão grega: “em breve virei contra ti” prenuncia uma visitação divina, especial e urgente, para julgamento imediato. 5 A tradição indica a seita herética dos nicolaítas com Nicolau, um prosélito de Antioquia e um dos sete primeiros diáconos da igre- ja em Jerusalém (At 6.5). Na época de João, contudo, o sincretismo religioso e filosófico já era tão avassalador nas regiões da Ásia Menor, que um grupo em Pérgamo, que defendia as idéias de Balaão (vv.14,15), e alguns outros heréticos em Tiatira, que seguiam a Jezabel (v.20), aderiram ao movimento dos nicolaítas, pois que estes também estimulavam o paganismo e a libertinagem. 6 Neste livro, a expressão “vencer” se refere aos “cristãos que permanecem fiéis ao Senhor apesar das muitas provações e tentações” (15.2). Alimentar-se da “árvore da vida” (Gn 2.9; Ap 22.2) simboliza o participar da plenitude da vida eterna. O termo persa “paraíso”, incorporado ao vocabulário hebraico, significa “jardim particular” e tem a ver com a promessa de Jesus (Lc 23.43; 2Co 12.2) e a Jerusalém celestial que, em breve, nos será plenamente revelada (Ap 21.10; 22.2). 7 A “coroa” aqui não se refere à coroa de rei, mas a uma espécie de grinalda de folhas, presenteada aos “vencedores” nas batalhas e jogos olímpicos (1Co 9.25). No contexto deste livro simboliza a vida eterna (4.4; 12.3; 13.1; 14.14; 19.2; Tg 1.12; 1Pe 5.4). O vocábulo grego diabolos significa “acusador” (em hebraico: “Satanás” – Zc 3.1; Jó 1.6-12; 2.1-7), e representa a principal artimanha do Diabo contra os filhos de Deus (Jo 15.20; 2Tm 3.12). 8 Esmirna (hoje na região da Turquia) era uma colônia do Império romano. Econômica e culturalmente desenvolvida, absolutamente submissa a Roma e ao culto ao imperador. Além disso, a grande comunidade judaica que vivia na cidade era muito hostil aos cristãos. Policarpo, um dos mais famosos “pais da Igreja”, foi bispo cristão em Esmirna e martirizado por sua fé, sincera e corajosa no Senhor. A expressão “segunda morte” simboliza a condenação eterna (20.6,14; 21.8). AP_B.indd 6 15/8/2007, 23:42:17
  • 7. 7 APOCALIPSE 2 Carta à igreja em Pérgamo novo nome, o qual ninguém conhece, a 12 “Ao anjo da igreja em Pérgamo es- não ser aquele que o recebe’”.12 creve: ‘Assim declara Aquele que tem a espada de dois gumes afiados:9 Carta à igreja em Tiatira 13 Conheço o lugar em que vives, onde 18 “Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: se encontra o trono de Satanás. Apesar ‘Assim declara o Filho de Deus, cujos disso, permaneces fiel ao meu Nome e olhos são como chama de fogo e os pés não renunciaste à tua fé em mim, nem como bronze reluzente:13 mesmo quando Antipas, minha leal tes- 19 Conheço as tuas obras, o teu amor, temunha, foi morto nessa cidade, onde a tua fé, o teu ministério, a tua perseve- Satanás habita.10 rança, bem como sei que estais servindo 14 Tenho, contudo, contra ti algumas muito mais agora do que no princípio. admoestações, porquanto tens contigo 20 No entanto, tenho contra ti o fato de os que seguem a doutrina de Balaão, que que toleras Jezabel, aquela mulher que se ensinou a Balaque a armar ciladas contra diz profetisa; porém, com seus ensinos os filhos de Israel, induzindo-os a comer ela induz os meus servos à imoralidade alimentos sacrificados a ídolos e a se en- sexual e a comerem alimentos sacrifica- tregarem à prática da prostituição.11 dos aos ídolos.14 15 Além disso, tens também alguns que, 21 Concedi-lhe tempo para que se ar- semelhantemente, seguem a doutrina rependesse da sua prostituição, mas ela dos nicolaítas. não quer arrepender-se. 16 Diante do exposto, arrepende-te! Caso 22 Portanto, eis que a farei adoecer e contrário, logo virei contra ti e contra enviarei grande aflição sobre aqueles que eles pelejarei com a espada da minha com ela comentem adultério, a não ser boca’. que se arrependam das suas más ações. 17 Quem tem ouvidos, compreenda o que 23 Matarei os seguidores dessa mulher, o Espírito revela às igrejas: ‘Ao vencedor e todas as igrejas saberão que Eu Sou proporcionarei do maná escondido, bem aquele que sonda mentes e corações, e como lhe darei uma pedra branca, e so- portanto, retribuirei a cada um de vós de bre essa pedra branca estará grafado um acordo com as vossas obras.15 9 Pérgamo (atual Bergama), antiga capital da Ásia Menor, seu nome significa “centro defensivo ou fortaleza”. Foram os primei- ros a trabalhar o couro de cabras e ovelhas como material de base para escrita (pergaminho), dando origem ao formato (códice) que o livro tem hoje. Os dois gumes da espada simbolizam a julgamento de Deus: justo e inexorável (1.16). 10 Pérgamo acabou sendo uma espécie de centro oficial da religiosidade pagã e de adoração ao imperador de Roma. Segundo a tradição cristã, Antipas foi o primeiro mártir na Ásia, tendo sido cozido em azeite, num caldeirão de bronze, lentamente até morrer, por causa de professar publicamente sua fé em Jesus Cristo, durante o reinado de Domiciano. 11 Balaão era mestre em confundir os assuntos espirituais e morais com seus interesses materiais. Chegou a ensinar às mu- lheres midianitas a seduzir os israelitas (Nm 22 – 24; 25.1,2; 31.16; Jd 8,11). Em Apocalipse, representa perfeitamente os falsos mestres espirituais (como os gnósticos na época de João), cada vez mais abundantes pela terra; cuja ganância, corrupção e arrogância levam seus seguidores ao engano religioso, mundanismo e à perdição (At 15.20,29). 12 O “maná escondido” simboliza (Êx 16.14-15), aqui, o privilégio incomparável que todos os cristãos sinceros têm de participar da grande festa celestial e messiânica chamada “a ceia das bodas do Cordeiro” (19.9). Um alimento divino somente disponível aos crentes no Senhor, em contraposição ao que é oferecido aos seguidores de líderes da estirpe de Balaão (Sl 78.24). Os juízes da época costumavam usar uma pedra branca para votar em benefício do réu. Na antigüidade, os escravos que conseguiam a alforria, ganhavam uma pedrinha branca como “atestado” de sua liberdade. Aqui, o simbolismo sugere um “ingresso”, patrocina- do por Cristo, para a grandiosa solenidade das suas bodas com a Igreja. A salvação é uma convicção pessoal, verdadeiramente conhecida apenas entre o crente e o Senhor (19.12). 13 Tiatira (atual Akhisar) foi fundada por Seleuco (311 – 280 a.C) com o objetivo de ser um posto militar avançado. Lídia, vendedora de púrpura, era de Tiatira (At 16.14). 14 O nome de Jezabel é lembrado aqui como símbolo de uma mulher de destaque na sociedade, mas que subvertia a fidelidade a Deus, manipulando pessoas mediante a permissividade moral e a incorporação de práticas pagãs. A idolatria e o materialismo eram as mais expressivas tentações em Tiatira, um importante centro comercial da Ásia (1Rs 16.31; 2Rs 9.22-37). 15 A palavra grega original “seguidores” pode ser facilmente confundida com a expressão literal “filhos”, cujo sentido aqui tem a ver com “discípulos”. Jezabel é a mãe simbólica de todos os que seguem doutrinas espúrias e libertinas. O Senhor sonda, AP_B.indd 7 15/8/2007, 23:42:20
  • 8. APOCALIPSE 2, 3 8 24 Todavia, aos demais que estão em Tia- tenho encontrado integridade em tuas tira e que não seguem a doutrina dessa obras diante do meu Deus. mulher, e não aprenderam, como eles 3 Portanto, lembra-te daquilo que tens costumam falar, os profundos segredos recebido e ouvido; obedece e arrepende- de Satanás, afirmo: ‘Não colocarei outra te. Porquanto se não estiveres vigilante, carga sobre vós!16 virei como um ladrão, e tu não saberás a 25 Tão-somente apegai-vos com firmeza que hora virei contra ti. ao que tendes, até que Eu venha. 4 Contudo, tens em Sardes algumas pes- 26 Ao vencedor, aquele que permanecer soas que não contaminaram suas vestes; nas minhas obras até o fim, Eu lhe darei elas caminharão comigo, vestidas de autoridade sobre as nações. branco, pois são dignas. 27 Ele as pastoreará com cetro de ferro 5 Deste modo, o vencedor andará trajado e as reduzirá a pedaços como se fossem com vestes brancas, e de modo algum vasos de barro. apagarei o seu nome do Livro da Vida; 28 Eu lhe concederei autoridade seme- pelo contrário, reconhecerei o seu nome lhante a que recebi de meu Pai. Também na presença do meu Pai e dos seus an- lhe darei a estrela da manhã’. jos.2 29 Aquele que tem ouvidos, compreenda 6 Aquele que tem ouvidos, compreenda o o que o Espírito revela às igrejas!”17 que o Espírito revela às igrejas.’” Carta à igreja em Sardes Carta à igreja em Filadélfia 3 “Ao anjo da igreja em Sardes escreve: ‘Assim declara Aquele que tem os sete espíritos de Deus e as estrelas: Conheço 7 “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: ‘Assim declara Aquele que é santo e ver- dadeiro, que possui a chave de Davi. O as tuas obras, que tens fama de estar vivo, que Ele abre ninguém consegue fechar, e mas de fato, estás morto.1 o que Ele fecha ninguém pode abrir:3 2 Sê alerta! E fortalece o que ainda resta 8 Conheço as tuas obras. Eis que tenho e estava prestes a morrer; porque não colocado diante de ti uma porta aberta literalmente no original grego “os rins”, “as entranhas”. Isso significa que Deus conhece as nossas vontades (fomes) mais íntimas, e o centro das nossas decisões. Atualmente, costuma-se fazer referência ao “coração” para explicar os sentimentos, e à “mente” para a razão (Sl 7.9; 62.12; Pv 24.12; Jr 11.20; 17.10). As obras são conseqüências da fé (Mt 16.27; Rm 2.6; Ap 18.6; 20.12,13; 22.12). 16 O gnosticismo ensinava que, para derrotar Satanás e suas hostes, se fazia necessário entrar na fortaleza do Inimigo e ter profunda experiência com o mal. Esse princípio é observado até hoje por diversas seitas heréticas em todo mundo, especialmente por meio de iniciações e ensinos secretos e esotéricos. 17 O uso literal do verbo grego “pastoreará” comunica o sentido de “governar”; e a expressão “com cetro de ferro”, longe de uma alusão despótica, enfatiza o “governo poderoso” de Cristo (12.5; 19.15). A expressão “estrela da manhã” refere-se simbolicamente também à presença da pessoa do próprio Senhor Jesus entre os crentes, especialmente durante as grandes tribulações mundiais, prenunciando o glorioso retorno de Cristo e todas as bênçãos que aguardam os cristãos sinceros, justos e vencedores (Dn 12.3). Capítulo 3 1 Sardes (atual Sart) foi capital do antigo reino da Lídia. Cidade próspera e orgulhosa de suas indústrias de lã e tinturaria, era o centro de culto à deusa Cibele, que atraía seguidores para uma religião mística, adornada por rituais sensuais e libertinos. O ministério da igreja cristã local tinha um conceito muito favorável por causa do seu início notável. Entretanto, Deus percebe o vírus da apatia espiritual (descrença) corroendo o íntimo da fé e da prática cristã naqueles crentes (Mt 24.43,44; Lc 12.39-40). 2 Tanto os judeus (Êx 32.32,33; Sl 69.28; Dn 12.1; Mt 10.32; Lc 12.8; Ap 20.12) quanto os romanos conservavam um livro de registro de todos os cidadãos que formavam seus reinos e, portanto, tinham direitos e deveres a zelar. Se, por infringir a lei, um cidadão tivesse seu nome apagado do livro, significaria a total perda de cidadania. Para os judeus e cristãos, o registro no Livro da Vida é divino, e quem possui a vida eterna tem a graça da perseverança durante sua caminhada terrestre (Mt 24.13; Fp 4.3; Hb 2.3). 3 Filadélfia (atual Alashehir), cujo nome significa “amor fraternal”, era uma cidade de grande importância comercial e, estrategi- camente localizada, como porta de entrada do elevado planalto central da província romana na Ásia Menor. O Senhor afirma que Cristo é quem tem todo o poder de admitir ou excluir pessoas do Reino. Os judeus acreditavam que apenas Israel tinha o privilégio AP_B.indd 8 15/8/2007, 23:42:24
  • 9. 9 APOCALIPSE 3 que ninguém consegue fechar; tens pou- declara o Amém, a testemunha fiel e ver- ca força, mas obedeceste a minha Palavra dadeira, o Soberano da criação de Deus.7 e não negaste o meu Nome.4 15 Conheço as tuas obras, sei que não 9 Farei aos da sinagoga de Satanás, aos és frio nem quente. Antes fosses frio ou que se dizem judeus e não são, mas quente! mentem; sim, farei que venham adorar 16 E, por este motivo, porque és morto, prostrados aos teus pés e saibam que Eu não és frio nem quente, estou a ponto de te amo! vomitar-te da minha boca.8 10 Porque deste atenção à minha exortação 17 E ainda dizes: ‘Estou rico, conquistei quanto a suportar os sofrimentos com muitas riquezas e não preciso de mais paciência, Eu, igualmente, te livrarei da nada’. Contudo, não reconheces que és hora da tribulação que virá sobre o mun- miserável, digno de compaixão, pobre, do todo, para pôr à prova os que habitam cego e que está nu! sobre a terra.5 18 Portanto, ofereço-te este conselho: Ad- 11 Eis que venho sem demora! Conserva quire de mim ouro refinado no fogo, a fim o que tens, para que ninguém tome a tua de que te enriqueças; roupas brancas, para coroa. que possas cobrir sua vergonhosa nudez; 12 Farei do vencedor uma coluna no tem- e compra o melhor colírio para que, ao plo do meu Deus, o nome da cidade do ungir os teus olhos, possas enxergar cla- meu Deus, a nova Jerusalém que desce do ramente.9 céu da parte do meu Deus; e igualmente 19 Eu repreendo e corrijo a todos quantos escreverei nele o meu novo Nome.6 amo: sê pois diligente e arrepende-te. 13 Aquele que tem ouvidos, compreenda 20 Eis que estou à porta e bato: se alguém o que o Espírito revela às igrejas’”. ouvir a minha voz e abrir a porta, en- trarei em sua casa e cearei com ele, e ele Carta à igreja em Laodicéia comigo.10 14 “Ao anjo em Laodicéia escreve: ‘Assim 21 Ao vencedor, Eu lhe concederei que de ingressar no Reino de Deus. O poder das chaves é a autoridade exclusiva outorgada a Jesus Cristo, o Messias davídico (v.9; 5.5; 22.16; Is 22.22; 60.14; Mt 16.18-19). 4 O contexto desta carta indica que Cristo estabeleceu uma porta de entrada para todos os que nele crêem, com acesso abso- luto aos privilégios do Reino de Deus e do serviço cristão. Uma entrada que ninguém pode bloquear (1Co 16.9). 5 Uma alusão às “dores messiânicas”, a seqüência de sofrimentos e perseguições que sobrevirão ao povo de Deus antes do glorioso retorno do Senhor Jesus (Is 60.14; Dn 12.1-13; Mc 13.14; 2Ts 2.1-12). Grandes provações atingirão os crentes persegui- dos pelo anticristo, enquanto os não-cristãos (pagãos), definidos neste livro como “os que habitam sobre a terra”, sofrerão os julgamentos divinos por sua incredulidade (13.7-8; 8.1 – 9.19; 16.1-20). 6 Os judeus estabeleciam estreito paralelo entre o nome e o caráter de uma pessoa. O novo nome de Cristo simboliza tudo o que é por causa da sua obra salvadora e remidora a favor da humanidade. Evento que se dará na segunda vinda do Senhor (2.7; 7.15; 14.1; 21.2; 22.4). 7 Laodicéia foi a cidade mais rica da região da Frígia na época do Império Romano, e ficava próxima à atual Denizli. Era conhecida em todo o mundo antigo por seus estabelecimentos bancários, escola de medicina e indústria têxtil. Contudo, a cidade sofria com sérios problemas de abastecimento de água potável. A expressão “Soberano” significa literalmente no original grego “o primeiro no tempo”: origem ou princípio de tudo (Jo 1.14; Pv 8.22; 2Co 5.17; Cl 1.15-18). O “Deus do Amém” se refere ao “Deus da Verdade”, como designação pessoal; refere-se a quem é perfeitamente crível, leal e fidedigno (1.5; 19.11; Is 65.16). 8 Em Hierápolis, cidade de repouso, adjacente a Laodicéia, havia muitas fontes de água térmicas e medicinais, porém impró- prias para saciar a sede dos viajantes. A igreja cristã local não estava proporcionando água da vida para os peregrinos sedentos, nem cura e conforto para os espiritualmente enfermos. 9 O texto se refere aos três grandes orgulhos de Laodicéia: riquezas financeiras, a ponto de rejeitar a ajuda de Roma quando foi praticamente destruída por um terremoto em 60 d.C., próspera indústria têxtil e grande avanço na medicina, tanto que lá desen- volveram a fórmula de um colírio muito apreciado na época. Contudo, nem todo o progresso econômico, cultural ou científico do mundo podem ser comparados com a riqueza do verdadeiro relacionamento com Deus (Os 12.8; Mt 6.19-20; Lc 1.53; 12.21). 10 Embora tradicionalmente aplicado aos incrédulos, o contexto dessa passagem revela uma admoestação explícita e direta aos crentes que se iludem com suas próprias conquistas ou com uma religiosidade formal, e abandonam o sincero relacionamen- to com Cristo e o dedicado amor ao próximo. O Senhor sempre disciplina seus filhos com amor (Jó 5.17; Sl 94.12; Pv 3.11,12; AP_B.indd 9 15/8/2007, 23:42:26
  • 10. APOCALIPSE 3, 4 10 se assente comigo no meu trono, assim e quatro outros tronos; vi assentados so- como Eu venci e me assentei com meu Pai bre eles vinte e quatro anciãos, vestidos no seu trono. de branco e com coroas de ouro sobre a 22 Aquele que tem ouvidos, compreenda cabeça.4 o que o Espírito revela às igrejas!’” 5 Do trono emanavam relâmpagos, vozes e trovões. Perante Ele estavam acesas A visão da majestade de Deus sete lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus.5 4 Depois destes acontecimentos, ob- servei uma porta no céu, e a primeira voz que eu ouvira, voz como de trombe- 6 E diante do trono, ainda, havia algo se- melhante a um mar de vidro, trans-lúcido ta, falando comigo, chamou-me: “Sobe como o cristal. No centro, circundando o até aqui, e Eu te revelarei os eventos que trono, havia quatro seres viventes cobertos devem ocorrer depois destes”.1 de olhos, tanto na frente como nas costas.6 2 Imediatamente, me vi absolutamente 7 O primeiro aparentava um leão, o segun- tomado pelo Espírito, e diante de mim do era semelhante a um touro, o terceiro estava um trono no céu e nele estava tinha um semblante como o de homem, o assentado alguém.2 quarto parecia uma águia em pleno vôo.7 3 Aquele, pois, que estava assentado ti- 8 Cada um desses seres tinha seis asas e nha a aparência que se assemelhava às eram repletos de olhos, tanto ao redor pedras lapidadas de diamante e sardônio. como por baixo das asas. Dia e noite Ao redor do trono, reluzia um arco-íris proclamam sem cessar: “Santo, santo, parecendo uma esmeralda.3 santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, 4 Também ao redor do trono havia vinte Aquele que era, que é e que há de vir!”8 1Co 11.32; Hb 12.5-11). Todos quantos perseveram na fé, estes são os vencedores e participarão do majestoso trono de Cristo (2.7; 20.4-6; Mt 19.28; 2Tm 2.12). 1 As passagens de 4.1 a 5.14 proporcionam ao leitor uma introdução para o longo trecho de 6 a 20. Na sala do trono celestial, o Cordeiro inicia a derradeira batalha contra as forças diabólicas, em cujo final lançará definitivamente o Diabo e seus seguidores no lago do fogo eterno. O Senhor usa com João o mesmo tipo de convocação que usou com Moisés no monte Sinai, a fim de receber as orientações de Deus (Êx 19.20.24). 2 João foi elevado a um estado raro de consciência espiritual alterada, em que seus sentidos foram totalmente arrebatados pela plenitude do Espírito, a fim de que pudesse ver, ouvir e sentir vívidamente tudo o quanto lhe seria comunicado por Deus (1.10; 17.3; 21.10). O estilo literário, retratar Deus governando em seu trono celestial é uma forma clássica e tradicional do AT (Sl 47.8). 3 Deus é plena luz, verdade e santidade, e não pode ser contemplado diretamente por nenhum ser humano (1Tm 6.16); por isso, se apresenta como o brilho intenso das pedras preciosas (os tons multicoloridos refletidos pelo diamante puro ou averme- lhados do jaspe, e castanhos dos cristais de calcedônia) combinando com todas as matizes de verde, como que produzidos pelo prisma da luz através dos mais puros cristais de esmeralda (Ez 1.26-28; Ap 10.1). 4 Os vinte e quatro anciãos representam os doze patriarcas de Israel (as doze tribos) e os doze apóstolos, simbolizando desse modo a cifra completa e a unidade de todos os salvos de todas as eras (Ef 2.11-22). Há outros estudiosos cristãos que entendem que essa é uma representação dos anjos que servem a Deus no governo do Universo (Sl 89.7; Is 24.23; Êx 24.11; Ap 4.9-11; 5.5-14; 7.11-17; 11.16-18; 14.3; 19.4). 5 Os relâmpagos, trovões, grandes sinais no céu e as lâmpadas simbolizam o magnífico poder e a majestade eterna do Senhor, assim como vem se revelando à humanidade, desde a própria Criação, o Dilúvio e as grandes manifestações do amor de Deus para com seu povo no deserto do Sinai (Êx 19.16-19; Sl 18.12-15; 77.18; Ez 1.13). Na visão do Apocalipse, esses fenômenos estão sempre associados a algum acontecimento relevante para a humanidade e que se passa nas amplas e maravilhosas dependências do templo celestial (8.5; 11.19; 16.18). A expressão “os sete espíritos” é apenas uma maneira simbólica de mostrar o poder e a majestade perfeita do Espírito de Deus, uma vez que o sete é sempre o número da perfeição e da completeza (1.4). 6 A origem dessas expressões figuradas, como “mar de vidro”, está no AT (Gn 1.7; Êx 24.10; Ez 1.22), que também indicava a bacia do templo celestial (11.19; 14.15-17; 15.5-8; 16.1,17), cujo equivalente no templo terreno era chamado de mar (1Rs 7.23-25; 2Rs 16.17; 2Cr 4.2,4,15,39; Jr 27.19). Os quatro seres pertencem a uma ordem elevada de criaturas angelicais, cuja missão é zelar pelo trono celestial enquanto coordenam uma sistemática e interminável proclamação de louvor e adoração a Deus. Com seus muitos olhos, nada escapa à atenção e ao cuidado deles. 7 O profeta Ezequiel teve uma visão semelhante (Ez 1.6-10; 10.14). 8 Aqui vemos uma expansão do próprio nome de Deus (Êx 3.14,15), com o objetivo de enfatizar que os atributos de Deus (próprios de seu nome), como seu poder e santidade, se estendem da eternidade passada à eternidade futura, sem oscilação ou qualquer possibilidade de cessar (1.4; Is 6.2,3; 41.4; Ez 1.18; 10.12). AP_B.indd 10 15/8/2007, 23:42:29
  • 11. 11 APOCALIPSE 4, 5 9 Toda vez que os seres viventes excla- encontrou ninguém que fosse digno de mam glória, honra e graças Àquele que abrir o livro e de olhar para ele. está assentado no trono e que vive para 5 Então, um dos anciãos consolou-me, todo sempre, afirmando: “Não chores, pois o Leão da 10 os vinte e quatro anciãos se prostram tribo de Judá, a raíz de Davi, venceu para diante daquele que está assentado no abrir o livro e romper os sete selos”.3 trono e adoram Àquele que vive para 6 Nisso, aconteceu que reparei, no meio todo o sempre. Eles lançam suas coroas do trono e dos quatro seres viventes e en- diante do trono e declaram: tre os anciãos, em pé, um Cordeiro que 11 “Nosso Senhor e nosso Deus, tu és dig- parecia estar morto, e tinha sete chifres no de receber a glória, a honra e o poder, e sete olhos, que são os sete espíritos de porquanto tu és o Criador de tudo e, por Deus enviados a toda a terra.4 tua soberana vontade, tudo o que há, foi 7 Ele veio e pegou o livro da mão direita criado e veio a existir”. de quem estava assentado no trono. 8 E assim que o recebeu, os quatro seres A visão do livro do Cordeiro viventes e os vinte e quatro anciãos pros- 5 Então, observei na mão direita da- quele que está assentado no trono um livro em forma de rolo, escrito de ambos traram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações os lados e selado com sete selos.1 dos santos; 2 Vi, também, um anjo forte, que procla- 9 e eles cantavam um cântico novo: “Tu mava em grande voz: “Quem é digno de és digno de tomar o livro e de abrir seus abrir o livro e de lhe romper os selos?”. selos, porque foste morto, e com o teu 3 No entanto, não havia ninguém, nem sangue compraste para Deus homens de no céu, nem na terra nem debaixo da toda tribo, língua, povo e nação.5 terra, que pudesse abrir o livro, ou ao 10 Tu os constituíste reino e sacerdotes menos olhar para ele.2 para o nosso Deus; e assim reinarão sobre 4 E eu chorava muito, porque não se a terra”.6 1 O livro estava na forma de um pergaminho enrolado, escrito de ambos os lados (1.11; 10.2-10). Assim como as tábuas de pedra da Lei no AT (Êx 32.15; Ez 2.9,10), os setes selos revelam a inviolabilidade de um testamento de grande importância e valor (Is 29.11; Dn 12.4). Os nobres da época costumavam escrever suas últimas vontades e heranças em um documento que era lacrado na presença de sete testemunhas. Após a morte do testador, suas determinações eram lidas em público e executadas à risca (1Pe 1.4). 2 A expressão original grega (céu, terra e debaixo da terra) não objetiva dividir o Universo nessas três partes. Era uma forma convencional de referir-se à universalidade da proclamação (Êx 20.4; Fp 2.10). 3 Vários títulos messiânicos são mencionados nessa passagem, vinculando a obra de Cristo às profecias do AT (Gn 49.8-10). O Leão da tribo de Judá simboliza o poder e a majestade do Messias. No AT, Judá é chamado de “leãozinho” e lhe é prometido o governo até o glorioso retorno do Messias (Ez 21.27). Raíz de Davi é outro título profetizado para o Messias e Rei ideal (Is 11.1,10; Rm 15.12). 4 João emprega uma palavra especial para “Cordeiro” (29 vezes neste livro, e uma vez em Jo 21.15), revelando o sacrifício vicário de Cristo (Is 53.7; Zc 4.10; Jo 1.29) e seu pleno poder (17.14). Na milenar tradição judaica, o “chifre” é símbolo do poder e da “luz da glória” (Dt 33.17). O quarto grande animal que aparece na profecia de Daniel tem dez chifres. Entretanto, são os “sete chifres” que representam o pleno poder e glória absoluta do Messias (Dn 7.7,20; 8.3,5; Ap 4.5). 5 No NT, o Cordeiro representa o único e grande líder da nova humanidade (Hb 2.9-11). Os Salmos conclamam todo povo de Deus a cantar novos louvores a Cristo, o Messias (Sl 33.3; 98.1; 141.2; 144.9; 149.1). Enquanto o capítulo 4 termina com a canção da Criação, o quinto se encerra com os cânticos da Nova Criação, que reúne os salvos de todas as nações e culturas. A morte e ressurreição de Jesus Cristo é a base da redenção, restauração, criação e exaltação eterna do Filho de Deus: o Vencedor e seu povo (Mt 20.28; 1Co 6.20; 7.23; 1Pe 1.18-19; Ap 14.3-4). É para a glória de Deus-Pai que Cristo redime homens e mulheres ao longo da história (Ef 1.1-14). 6 Hoje em dia, a Igreja de Cristo passa por uma fase de lutas e descrédito por parte do mundo. Entretanto, na Nova Ordem ou Nova Jerusalém, os crentes serão constituídos “reino e sacerdotes” e reinarão sobre toda a terra (Êx 19.6; Dn 7.10; 1.6; 2.26,27; 20.4,6; 22.5). AP_B.indd 11 15/8/2007, 23:42:32
  • 12. APOCALIPSE 5, 6 12 11 Então reparei e também ouvi a voz de O segundo selo grande multidão de anjos ao redor do 3 Quando Ele abriu o segundo selo, ouvi trono e dos seres viventes e dos anciãos, o segundo ser vivente bradar: “Vem!”. cujo número era de milhares de milhares 4 Então, partiu outra cavalgadura, um e de milhões de milhões. cavalo vermelho; e ao seu cavaleiro, foi 12 Eles proclamavam em alta voz: “Digno concedido o poder de tirar a paz da terra, é o Cordeiro, que foi morto, de receber de modo que os homens matassem uns a plenitude do poder, riqueza, sabedoria, aos outros. E lhes foi entregue também força, honra, glória e louvor!”. uma grande espada.3 13 Em seguida, ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da O terceiro selo terra e no mar, e tudo o que neles há, 5 Quando o Cordeiro abriu o terceiro que exclamavam: “Ao que está assentado selo, ouvi o terceiro ser vivente convocar: no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a “Vem!”. Então, reparei e eis um cavalo honra, a glória e o domínio pelos séculos preto e o seu cavaleiro ostentava na mão dos séculos!”. uma balança. 14 E os quatro seres viventes bradavam: 6 Então, ouvi o que parecia uma voz “Amém!”, e os anciãos igualmente pros- grave, vinda dentre os quatro seres traram-se e o adoraram.7 viventes, exclamando: “Um quilo de trigo por um dinheiro, e três quilos de O Cordeiro abre o Primeiro Selo cevada também por um dinheiro, mas não destruas o azeite e o vinho!”.4 6 Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. Em seguida, ouvi um dos seres viventes exclamar com O quarto selo voz de trovão: “Vem!”.1 7 Quando Ele abriu o quarto selo, ouvi 2 Olhei, e diante de mim estava um cava- a voz do quarto ser vivente clamar: lo branco e o seu cavaleiro empunhava “Vem!”. um arco, e foi-lhe outorgada uma coroa; 8 Olhei, e diante de mim estava um e ele cavalgava altaneiramente, como cavalo amarelo pálido. Seu cavaleiro vencedor, determinado a vencer.2 chamava-se Morte e o lugar dos mortos 7 Deus Pai entronizado na glória eterna, e o Deus-Cordeiro-Filho, que é o Messias (Cristo em grego), são de igual modo adorados (Fp 2.9-11) e seus “sete atributos” (sua perfeição) evidenciados (5.12; 7.12), o que demonstra uma vez mais a absoluta unidade do Pai com o Filho. Capítulo 6 1 Há três séries bem definidas de julgamentos que se sucederão em grupos de sete elementos: os sete selos (6.1-16; 8.1-5), as sete trombetas (8.1 – 9.21) e as sete taças (cap. 16). 2 Os quatro cavaleiros do apocalipse fazem parte de um contexto simbólico que tem suas raízes no AT (Zc 1.8-17; 6.1-8). Há vá- rias interpretações possíveis quanto ao significado das cores, missões e personalidades dos cavaleiros (assim como para o livro todo), mas o comitê internacional de tradução da KJA considera que o cavalo branco representa o Espírito de Cristo, que através da sua Igreja conquistará milhões de almas (vitórias) para o Reino. A cor branca no NT, e especialmente no Apocalipse, sempre indica ou está relacionada com a pessoa ou a obra de Jesus Cristo, cuja vitória – no final – será plena e perene (19.11-16). 3 O cavalo e o cavaleiro vermelhos simbolizam os grandes e horríveis derramamentos de sangue provocados principalmente pelas guerras. A espada grande (em grego hromfaia) é uma metáfora de todo tipo de arma ou poder que visa o extermínio humano (Zc 1.8; 6.2; Mt 10.34). 4 O cavalo preto representa os períodos trágicos de extrema necessidade de alimentos que, normalmente, se seguem aos tempos de guerra e graves conflitos políticos (Zc 6.2,6). Os processos econômicos mundiais não são solidários aos pobres e, portanto, quanto maior a escassez maiores os preços. Um dinheiro (em grego denarion) era uma moeda de prata, que, na época de João, era capaz de comprar até quinze vezes a alimentação diária de um homem e, normalmente, era o salário que um soldado ou operário braçal ganhava por dia a serviço ao Império romano. Todavia, nos dias de “fome”, aqui previstos, o equivalente monetário a um denário não será suficiente para alimentar uma família pequena todos os dias, mesmo considerando uma balança com alimentos (cevada) menos nutritivos do que o trigo. Entretanto, o Senhor coloca limites à destruição promovida pelo cavaleiro negro: as raízes da oliveira e da videira são fortes e profundas, e resistem aos períodos de seca e privações. AP_B.indd 12 15/8/2007, 23:42:34
  • 13. 13 APOCALIPSE 6, 7 o seguia de perto. Foi-lhes dado o poder ficou escurecido como coberto com roupa sobre um quarto de toda a terra, a fim de luto, e toda a lua se tornou vermelha de que matassem à espada, pela fome, como se estivesse ensangüentada;8 por meio da pestilência e pelos animais 13 e as estrelas do firmamento caíram so- selvagens da terra.5 bre a terra, como figos verdes derrubados da figueira por um terrível vendaval. O quinto selo 14 E, assim, o céu foi recolhido como 9 Quando Ele abriu o quinto selo, con- um pergaminho quando se enrola. En- templei debaixo do altar as almas daque- tão, todas as montanhas e ilhas foram les que haviam sido mortos por causa da removidas de seus lugares.9 Palavra de Deus e do testemunho que 15 E aconteceu que os reis da terra, os proclamaram.6 príncipes, os generais, os ricos, os pode- 10 Eles exclamavam com grande voz: “Até rosos; todos enfim, escravos e livres, bus- quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, caram refugiar-se em cavernas e entre as esperarás para julgar os que habitam em rochas das montanhas. toda a terra e vingar o nosso sangue?”. 16 Então, passaram a berrar para as mon- 11 Então, para cada um deles foi entregue tanhas e rochedos: “Caiam sobre nós e uma vestidura branca, e foi-lhes orien- ocultem-nos da face daquele que se as- tado que aguardassem ainda um pouco senta no trono e da ira do Cordeiro,10 mais, até que se completasse o número 17 porquanto, eis que é chegado o grande dos seus irmãos que, como eles, foram Dia da ira deles; e quem poderá sobre- servos e que, da mesma forma, também viver?”. deveriam ser mortos.7 Os 144.000 israelitas selados... O sexto selo 12 Vi, quando Ele abriu o sexto selo. Então, aconteceu um enorme terremoto. O sol 7 Depois desses eventos, observei quatro anjos em pé nos quatro cantos da ter- ra, com a missão de reter os quatro ventos 5 A expressão grega original chlõros descreve um tom de cor “amarelo esverdeado” (pálido), próprio da aparência de pessoas portadoras de graves doenças, o que simboliza a pestilência, epidemias e a morte. Aqui a “Morte” é personificada (1Co 15.26; Rm 5.14,17; 6.9), e o Hades, expressão grega, derivada do termo hebraico Sheol (v.1.18; 20.13,14; Mt 16.18), que pode significar “sepulcro” ou “inferno”, em alguns casos. Tem aqui melhor tradução como “lugar dos mortos”, pois no NT é companheiro da morte (1Co 15.55; Ap 6.8; 20.13-14). Os soldados romanos lançaram milhares de cristãos e pessoas consideradas criminosas às feras na arena, em espetáculo público. Estes são alguns dos sinais previstos por Cristo como indicação do seu breve retorno (Mt 24.6-28). 6 No ritual do sacrifício do AT, o sangue do animal oferecido ao Senhor era derramado na base do altar (Êx 29.12; Lv 4.7). 7 O símbolo da justiça e pureza de Cristo é atribuído também aos cristãos martirizados, como se o sangue e a dor desses homens e mulheres fossem um sacrifício aos pés do altar de Deus (Fp 2.17; 2Tm 4.6, em paralelo a Lv 4.7). É o sangue dos servos do Senhor que reivindicam o julgamento de Deus sobre os ímpios e toda a forma de injustiça sobre a terra. Há um número dos eleitos (justificados) que se completará naturalmente por conversão a Cristo antes de seu glorioso retorno (Rm 11.12). Embora não seja possível determinar com exatidão que número é esse, o que João nos profetiza é que haverá muitos outros mártires até a volta do Senhor. 8 Terremotos sempre fizeram parte da expressão do castigo divino sobre a humanidade (Êx 19.18; Is 2.19; 13.10; Ez 32.7; Ag 2.6). Os terremotos que sinalizarão as colossais alterações físicas da terra e prenunciarão o glorioso retorno de Cristo, o final dos tempos e a transformação total da criação, terão magnitudes inimagináveis. Toda a descrição do sexto selo está relacionada aos fenômenos cósmicos profetizados pelo próprio Senhor Jesus (Mt 24.29; Mc 13.24-25; Lc 21.25). O apóstolo Pedro, igualmente, cita o profeta Joel em seu sermão no Pentecostes, como uma indicação da iminência histórica desses eventos (At 2.20; Jl 2.31). 9 Um dos últimos sinais que antecederão ao glorioso retorno do Senhor ocorrerá no firmamento. As pessoas olharão para o céu escuro e verão algo como uma intensa e prolongada chuva de estrelas cadentes. Os figos que surgem no inverno são soprados facilmente das árvores sem folhas pelos fortes ventos desta estação (Mc 13.25,26). Um outro fenômeno (em geral, relatados nas Escrituras sob o ponto de vista do observador leigo e não de cientistas especializados) será o desaparecimento do céu (a abóbada atmosférica azul que observamos hoje em torno da terra), desmantelamento das cordilheiras e montanhas em todo o mundo, assim como o desaparecimento ou anexação ao continente de todas as ilhas (16.20; 20.11; Is 34.4; Jr 4.24; Na 1.5). 10 No Dia do Senhor, até mesmo os generais experientes e destemidos (na época de João um general romano comandava uma coorte, cerca de mil soldados guerreiros) se acuarão desesperados nas cavernas (comuns na região da Palestina), reconhecerão AP_B.indd 13 15/8/2007, 23:42:37
  • 14. APOCALIPSE 7 14 da terra e evitar que qualquer massa de ar Naftali; doze mil, da tribo de Manassés; fosse soprada sobre a terra, o mar ou em doze mil, qualquer árvore.1 7 da tribo de Simeão; doze mil, da tribo 2 Então, vi um outro anjo subindo do de Levi; doze mil, da tribo de Issacar; Oriente, tendo o selo do Deus vivo. Ele doze mil, bradou com voz grave aos quatro an- 8 da tribo de Zebulom; doze mil, da tribo jos a quem havia sido concedido poder de José; doze mil, da tribo de Benjamim; para produzir destruição na terra e no doze mil”.5 mar: 3 “Não danifiqueis a terra, nem o mar, ...e a enorme multidão de cristãos nem as árvores, até que selemos a testa 9 Em seguida, olhei, e diante de mim dos servos do nosso Deus!”. descortinava-se uma grande multidão 4 Então me foi revelado número dos que tão vasta que ninguém podia contar, foram selados: “cento e quarenta e qua- formada por pessoas de todas as nações, tro mil, de todas as tribos de Israel.3 tribos, povos e línguas. Estavam em pé, 5 Da tribo de Judá, foram selados doze diante do trono do Cordeiro, vestidos mil, da tribo de Rúben; doze mil, da tribo com túnicas brancas, empunhando fo- de Gade; doze mil,4 lhas de palmeira.6 6 da tribo de Aser; doze mil, da tribo de 10 E proclamavam com grande voz: “A que o Cordeiro (o Jesus sacrificado) e Deus são a mesma pessoa, e temerão a ira do julgamento divino (5.6; 19.15; Is 2.10; Sf 1.14-18; Os 10.8; Jl 2.11; Na 1.6; Ml 3.2; Rm 1.18). Capítulo 7 1 Este capítulo é uma espécie de parênteses entre a narrativa dos seis primeiros selos e a visão do selo final. Essa mesma característica ocorre na seqüência descritiva da visão das trombetas (10.1 – 11.13). O capítulo sete nos revela duas visões espe- cíficas: o selo dos 144.000 fiéis de Israel (v. 1-8) e a vasta multidão dos crentes comemorando a salvação e a vitória do Cordeiro (v. 9-17). Os quatro cantos da terra simbolizam os quatro pontos cardeais da bússola (Zc 6.5). Deus controla a história, assim como todos os fenômenos físicos e meteorológicos em função do seu plano em Cristo para a plena e eterna redenção do seu povo (judeus e cristãos). 2 Na antigüidade, os documentos importantes e os que circulavam entre os nobres eram enrolados ou dobrados, amarrados, e uma massa especial de argila era aplicada sobre o nó. Assim, o remetente carimbava a massa que se endurecia, com seu anel ou sinete (com a marca da família), que autenticava e protegia aquele conteúdo. O capítulo 7 deixa claro que o Nome de Jesus Cristo é o lacre (selo) de propriedade de Deus, registrado na fronte de todos os que nele crêem sinceramente. O objetivo desta marca espiritual é proteger o povo de Deus dos terríveis juízos que acometerão toda a terra. Assim como aconteceu no Egito, para a libertação do povo de Deus da escravatura (Êx 12.29-36), o profeta Ezequiel adverte Israel quanto à destruição de Jerusalém e de todos os não selados por Deus (o que de fato ocorreu, por meio da invasão babilônica, seis anos após a proclamação dessa profecia). Na época de Ezequiel, o Senhor marcou os crentes sinceros com a última letra do antigo alfabeto hebraico (tav), que era escrita de modo fenício, semelhante a um “X” ou sinal de “cruz” (Ez 9.4). 3 Algumas das seitas heréticas, que pregam que 144.000 é o número exato dos salvos, já contam com um número maior do que este de adeptos. Os livros proféticos e apocalípticos da Bíblia são alvos de várias interpretações, e é necessário muito discernimento espiritual, visão integral e histórica das Escrituras, conhecimento das línguas originais e a indispensável graça divina para uma interpretação adequada e saudável. Contudo, as mensagens vitais de cada livro podem ser compreendidas sem dificuldade, restando à investigação acurada os aspectos menos fundamentais e detalhes instigantes. Quanto a essa passagem, por exemplo, duas posições teológicas são defendidas por estudiosos cristãos sérios: 1) Alguns vêem aqui uma referência aos membros das tribos judaicas, o remanescente israelita fiel da “grande tribulação” (v.14). 2) Um outro grupo defende o simbolismo deste trecho, e o interpretam como sendo a expressão alegórica do número que indica completeza (144.000 é o equivalente a mil dúzias de doze, o que seria uma espécie de hipérbole numerológica). Simboliza todos os cristãos que permanecem fiéis ao Senhor mesmo vivendo num mundo secularizado, hedonista e materialista, e também inclui os judeus que ainda serão salvos por Cristo e que não se dobrarão aos ditames do anticristo durante a “grande tribulação”. 4 A tribo de Judá é listada antes de Rúben, seu irmão mais velho, devido ao fato do Cristo (o Messias, em hebraico) pertencer à linhagem da tribo de Judá (Gn 37.21). 5 Manassés era a mais pobre e frágil das tribos de José (Efraim e Manassés). Entretanto, aqui é mencionada para completar as doze tribos (Jz 6), considerando que Dã fora excluída (assim como Judas Iscariotes que foi infiel e teve de ser substituído no grupo dos Doze), por causa de sua avareza e idolatria (Jz 18.30). Uma antiga tradição judaica prevê que o último anticristo virá da tribo de Dã. 6 As pessoas que fazem parte do povo de Deus na terra se reunirão no grande palácio celestial, diante do trono do Cordeiro. Essa multidão incontável é composta de todos os salvos de todas as partes da terra. Essa visão pode referir-se aos mesmos AP_B.indd 14 15/8/2007, 23:42:39
  • 15. 15 APOCALIPSE 7, 8 Salvação pertence ao nosso Deus, que se seu santuário; e Aquele que está assenta- assenta no trono e ao Cordeiro!”.7 do no trono estenderá sobre eles o seu 11 Todos os anjos que se encontravam tabernáculo.10 em pé ao redor do trono dos anciãos e 16 Nunca mais passarão fome, jamais dos quatro seres viventes prostraram-se terão sede. Não os afligirá o sol, nem diante do trono com o rosto em terra e tampouco qualquer mormaço,11 adoraram a Deus, 17 pois o Cordeiro que está no centro do 12 exclamando: “Amém! Louvor e glória, trono será o seu Pastor; Ele os conduzirá sabedoria, ação de graças, sejam ao nosso às fontes das águas da vida, e Deus lhes Deus para todo o sempre. Amém!”.8 enxugará dos olhos toda lágrima”.12 13 Então um dos anciãos me indagou: “Quem são e de onde vieram todos O sétimo selo e o incensário estes que estão vestidos com túnicas brancas?”. 14 E eu lhe respondi: “Ó meu Senhor, tu 8 Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo houve absoluto silêncio nos céus por aproximadamente meia hora.1 o sabes”. Então ele afirmou: “Estes são 2 Então, observei os sete anjos que se os que vieram da grande tribulação e encontram em pé perante Deus, e lhes lavaram as suas vestes e as alvejaram no foram entregues sete trombetas.2 sangue do Cordeiro.9 3 Aproximou-se um outro anjo e se 15 Por este motivo, eles estão perante o colocou em pé junto ao altar, portando trono de Deus e o servem dia e noite em um incensário de ouro. A ele foi entregue 144.000 (se considerarmos esse número como um símbolo da vasta multidão dos eleitos), que, após a “grande tribulação” dos últimos tempos (v.14), celebram e louvam ao Senhor por tão grande salvação e pela magnífica vitória sobre as perseguições, provações (tentações) e a própria morte (vv. 16,17). A Igreja de Cristo é apresentada em Apocalipse e ao longo de todo o NT, como o verdadeiro “Israel de Deus” (o povo do Senhor), judeus e não-judeus (Gl 6.16). Sendo assim, é possível compreender que as duas multidões que aparecem neste capítulo se referem a uma só “inumerável multidão”, vista em dois momentos diferentes: antes (1.3-8) e depois da “última tribulação” (Lc 21.16,18). As folhas de palmeira sendo agitadas e as vestiduras brancas são fortes símbolos da vitória perpétua (Lv 23.40; Jo 12.13). 7 A salvação (no original hebraico tem o duplo sentido de cura e livramento) é propriedade exclusiva de Deus, que ele, graciosa e soberanamente, oferece a todos que a recebem (Gn 49.18; Jn 2.9; Jo 1.12). 8 A seqüência de sete atributos enfatiza o louvor completo e perfeito (5.12). 9 A expressão “grande tribulação” (Dn 12.1; Mt 24.21; Mc 13.19) aponta para os terríveis constrangimentos éticos, morais e toda espécie de hostilidades que o anticristo e seus comandados deflagrarão contra os judeus e cristãos fiéis, pouco antes do glorioso retorno de Cristo. Todavia, é importante observar que uma crescente perseguição aos crentes vem ocorrendo, em alternância de intensidade e método, desde os tempos de João. 10 Outro detalhe significativo a ser considerado está ligado ao termo original grego “templo”, que, nas dezesseis vezes em que aparece neste livro, significa o “santuário interior” e não o recinto maior. Ou seja, “o lugar santo onde habita o Espírito de Deus”, o qual simboliza o antigo “tabernáculo”, onde resplandecia a “presença do Senhor” no deserto (Lv 26.11-13). 11 Aqui estão em foco aqueles que sofreram os graves momentos de provação e tribulação provocados pelo anticristo (Is 49.10), mas não abdicaram de sua fé sincera no Senhor. Purificaram-se diariamente no sangue do Cordeiro e souberam honrar seus corpos como a própria habitação do Espírito Santo. Agora chegaram às suas moradas no Reino de Deus, conforme a promessa de Cristo, e estão perante seu trono para adorá-lo eternamente (Jo 14.1-6). O vocábulo original grego latreuõ comunica um tipo de serviço espiritual (trabalho) que realmente agrada a Deus (v.14; Rm 1.9; At 26.7; Hb 12.28). 12 Sl 23.1,2; Ez 34.23; Is 25.8. Capítulo 8 1 João observa que em todo o céu há uma pausa marcante e atônita antes da série final de punições que sobrevirão ao planeta. Os julgamentos de Deus serão tão severos e terríveis que os próprios habitantes do céu ficam pasmos e comovidos com o castigo dos ímpios. O tempo no céu não é cronometrado como na terra, contudo João procura nos comunicar a sensação que sente ao presenciar esse momentum de absoluta apreensão no Universo. 2 Na época de João e especialmente no AT, usava-se o som forte e marcante das trombetas para anunciar acontecimentos de grande importância nacional. A reverberação dos variados toques podia alcançar quilômetros de distância e servia para orientar as estratégias bélicas dos generais e seus exércitos nas batalhas. As sete trombetas (caps. 8, 9 e 11.15-19) proclamam uma série ainda mais severa de açoites contra a incredulidade, porém não mais terrível e devastadora como as reservadas nas “taças” (cap. 16). AP_B.indd 15 15/8/2007, 23:42:42
  • 16. APOCALIPSE 8 16 grande quantidade de incenso para ofe- 9 e morreu a terça parte das criaturas que recer com as orações de todos os santos vivem no mar, e um terço de todas as sobre o altar de ouro diante do trono.3 embarcações foram destruídas. 4 E da mão do anjo elevou-se na presença de Deus a fumaça do incenso juntamente A terceira trombeta com as orações dos santos. 10 O terceiro anjo tocou a sua trombeta, 5 Então, o anjo tomou o incensário, en- e precipitou do céu uma grande estrela, cheu-o com o fogo do altar e lançou-o ardendo em chamas como tocha, sobre sobre a terra; e aconteceram trovões, um terço dos rios e das fontes de águas vozes, relâmpagos e um terremoto. da terra. 11 E o nome dessa estrela é Absinto; por- A visão das sete trombetas tanto, um terço de toda a água potável 6 E aconteceu que os sete anjos que da terra se tornou amarga, e multidões estavam com as sete trombetas prepara- morreram pela ação nefasta das águas ram-se para tocá-las. que foram envenenadas.6 A primeira trombeta A quarta trombeta 7 O primeiro anjo tocou a sua trombeta, 12 O quarto anjo tocou a sua trombeta e e ocorreu grande precipitação de granizo um terço do sol foi ferido, bem como a e fogo misturado com sangue, os quais terça parte da lua e das estrelas, de ma- foram lançados sobre a terra. E, assim, neira que um terço deles se escureceu um terço de toda a terra foi queimado, completamente. Assim, um terço do e também um terço das árvores e toda a dia ficou sem luz e também um terço relva verde existente.4 da noite.7 13 Enquanto eu admirava esses aconteci- A segunda trombeta mentos, ouvi uma águia que planava 8 O segundo anjo tocou a sua trombeta, pelo meio do céu grasnindo em alta voz: e algo como uma enorme montanha ar- “Ai! Ai! Ai dos que habitam sobre a terra, dendo em chamas foi arremessada sobre por causa dos toques das trombetas que o mar. Por esse motivo, um terço do mar estão prestes a serem entoados pelos três transformou-se em sangue,5 próximos anjos!”.8 3 O incensário, no AT, era uma espécie de panela repleta de carvão vegetal em brasa, usada para queimar o incenso na presen- ça do Senhor, como um símbolo da fragrância e certeza de que todas as nossas orações sobem até o Pai, que sempre nos ouve atentamente e nos educa em seu amor (Êx 27.3; 30.1; 1Rs 7.50; Mt 7.9; Rm 8.26-27). A expressão grega original, usada aqui por João, nos permite apreender que o “incenso”, verdadeiro e espiritual, não é a fumaça perfumada que sobe quando queimada, mas sim as próprias “orações”, quando evaporam dos nossos corações em brasa (Lv 16.12; Ez 10.2; Ap 5.8; 11.19; 16.18). 4 Há uma analogia simbólica entre a primeira trombeta e a quarta praga do Egito (Êx 9.13-25; Ez 38.22). As frações empregadas por João não devem ser tomadas literalmente, pois indicam apenas que a punição anunciada pelas trombetas ainda não está completa nem conclusiva (vs. 8,9,10,11,12). 5 Outra similaridade com as pragas do Egito (Êx 7.20,21): João observa um juízo escatológico, não derivado da poluição natural, mas de grandes erupções vulcânicas em vários pontos do planeta em um mesmo “momentum”. 6 Absinto é uma planta de sabor desagradável e intensamente amargo, embora não letal. Aqui serve de metáfora para comunicar a degradação da humanidade, bem como uma possível contaminação radioativa de grande parte da água potável do planeta (6.13; 9.1; Êx 15.25; Pv 5.3,4; Jr 9.15; 23.15; Is 14.12; Lm 3.19). 7 Na nona praga do Egito, densas trevas cobriram a terra durante três dias (Êx 10.21-23; Is 13.10; Ez 32.7; Jl 2.10). 8 A expressão original grega e apocalíptica “os que habitam sobre a terra” refere-se aos “ímpios e incrédulos” que resistem à convocação do Senhor para a salvação (6.10; 9.4). Até este ponto da narrativa de João, os julgamentos divinos haviam tocado somente a natureza inanimada do planeta; agora, contudo, os três “Ais” proclamados pela águia anunciam os três castigos finais, e cada pessoa incrédula sobre a face da terra experimentará a ira de Deus contra o pecado. Os sete juízos referentes às “taças” dos capítulos 15 e 16 podem ser compreendidos como uma expressão do terceiro “Ai”. AP_B.indd 16 15/8/2007, 23:42:45