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INTRODUÇÃO
                                  PROVÉRBIOS
  Autoria
  O próprio livro de Provérbios apresenta Salomão (971-931 a.C.), filho do grande rei Davi com
Bate-Seba (2Sm 12.24), como o principal autor e compilador dos ditados e instruções sapienciais
que formam esta obra canônica (1.1). Os escritos que se encontram registrados entre 10.1 e 22.6
são de sua direta e pessoal autoria. Contudo, Salomão selecionou – com sabedoria divina – os mais
apropriados pensamentos e ditados entre as centenas de sábios que vinham anualmente ao reino
unificado de Israel para conhecer, aprender e trocar experiências com o maior líder nacional, pacifi-
cador, administrador, conselheiro e sábio hebreu de todos os tempos. A passagem de 22.17 revela
as conclusões poéticas de alguns “Sábios”, e 24.23 cita ainda a contribuição de “outros sábios”. A
introdução de 22.17-21 é uma comprovação de que as diversas sessões da obra são fruto de um
colegiado de homens de Deus e sábios, e não apenas do próprio Salomão. O capítulo 30 tem como
mentor o sábio Agur, filho de Jaque e o rei Lemuel com sua mãe são considerados os autores do
trecho bíblico que encerra o livro de Provérbios.
  A extraordinária capacidade intelectual de Salomão é evidenciada no Primeiro Livro dos Reis (4.29-
32), que afirma ser Salomão autor de 3.000 provérbios. O destaque conferido ao “temor do Senhor”
como a chave para uma vida feliz aqui, agora e na eternidade (1.7), é o elo indelével de todas as
sessões e conclusões da obra.

   Propósitos
   No livro de Provérbios, a sabedoria tem sua origem em Deus, Yahweh. Os ditados e instruções
da obra têm um principal objetivo: revelar prudência aos incautos; conhecimento e bom senso aos
jovens (1.4); assim como aumentar a inteligência dos sábios (1.5). O uso freqüente da expressão
“filho meu” ressalta a idéia de um monarca que ama a Deus, sábio e muito experiente na arte de
viver, que, amorosa e pacientemente, procura conduzir seus súditos mais jovens e inexperientes pelo
caminho da paz, da saúde e da prosperidade eterna (1.8,10; 2.1; 3.1; 4.1; 5.1). Embora esta obra seja
eminentemente prática e menos teológica, o alicerce de toda a sua praxe repousa sobre o princípio
filosófico de que o “temor do Senhor” é o segredo de uma vida feliz (1.7).
   Nos primeiros capítulos (de 1 a 9), a obra revela que o caminho da sabedoria é absolutamente
oposto a qualquer atitude arrogante, violenta e imoral (1.11-18; 2.16-18).
   Ao mesmo tempo, Provérbios critica severamente a esposa implicante e briguenta (19.13; 21.9,19),
e os maridos insensíveis, preguiçosos e rabugentos (14.29; 26.21). O lar deve ser um lugar de amor,
respeito, descanso e encorajamento para a alma (15.17; 17.1).
   A intriga e a difamação são expressamente condenadas (10.19; 17.27). O tempo e a comunica-
ção devem servir para a edificação saudável e integral dos filhos e dos alunos ou discípulos (1.8;
22.6; 31.26). O sistema disciplinar formado por ministração, ensino, acompanhamento, correção e
repreensão e indispensável à boa educação e formação de filhos, empregados e alunos em geral
(13.24). Por isso, Provérbios incentiva o trabalho honesto e dedicado (10.4; 31.17-19), repudiando
o preguiçoso e aproveitador (6.6; 20.13). A boa e verdadeira riqueza está associada a retidão, jus-
tiça e esforço competente (3.16); enquanto a miséria é, quase sempre, fruto de iniqüidade e falta
do “temor do Senhor” (22.16). Há riquezas perversas e sobre elas Provérbios faz severos alertas
(15.16; 28.6). Os reis e governantes têm obrigação de agir com honestidade e justiça (31.5). Os
que tratam os mais fracos e pobres com misericórdia e cooperação serão grandemente abenço-
ados por Deus (14.21). Os ímpios e arrogantes serão exterminados subitamente (11.2; 16.18), es-
pecialmente aquele soberbo que vive questionando e zombando da fé e do comportamento limpo
e justo dos crentes no Senhor (1.22; 21.24). Os que se entregam ao álcool e a quaisquer outras
drogas vivem sob depressão e muita tristeza e precisam desistir de seus vícios o quanto antes e
apegar-se a Deus (20.1; 23.29-35).
Mesmo não tendo a preocupação de ser uma obra teológica, Provérbios faz questão de apresentar
Deus como o Criador do Universo, Aquele que detém o tempo, a matéria e a História em suas mãos,
controlando cada mínimo detalhe na Terra e no Universo (16.4,9,33; 20.24; 14.31; 5.21; 15.3). A
“Sabedoria”, como atributo do caráter de Deus é personificada (8.22-31). Não há situação impossível
para Deus, pois é Ele quem dirige e muda o próprio coração dos reis, segundo seus propósitos
santos e justos (21.1).

  Data da primeira publicação
  A escrita e o estilo poético-sapiencial dos provérbios já eram áreas bastante apreciadas pelos
povos do Oriente Próximo (cananitas, hititas), especialmente na Mesopotâmia e no Egito, desde o
segundo milênio a.C. A técnica literária de personificar uma grande virtude a ser exaltada e ensinada
é visível em muitas passagens do livro bíblico de Provérbios (1.20; 3.15-18; 8.1-36). Os “30 ditados
dos Sábios”, que fazem parte do cânon das Escrituras Sagradas (22.17 a 24.22), apresentam grande
semelhança com as 30 sessões da conhecida obra egípcia “Sabedoria de Amenemope”, publicada
por volta da mesma época de Salomão. Nesse sentido, considerando o papel fundamental do rei Sa-
lomão na autoria e coletânea dos melhores pensamentos disponíveis em sua época, sobre o relacio-
namento do homem com Deus, Yahweh (o nome sagrado e impronunciável de Jeová ou Iavé: YHWH,
o Eu Sou dos judeus e de todos os crentes, o Senhor – Êx 3,14, 15; Mt 16.15-17), podemos inferir que
o livro de Provérbios, como o conhecemos, foi publicado por volta do século 10 a.C. Um período em
que Israel e os povos vizinhos experimentaram grande paz, prosperidade e desenvolvimento cultural.
Tudo isso, fruto do amor sincero e dedicado do rei Davi e de seu filho Salomão, por Deus, por seu
povo e pela humanidade em geral. A vida do rei Salomão mostra o que um líder nacional pode fazer
por sua nação e pelo mundo, quando verdadeiramente comprometido em servir a Deus.
  O próprio livro de Provérbios nos revela que um grupo especial de sábios, conhecido como “os
servos de Ezequias, rei de Judá” (25.1), foi encarregado de selecionar, organizar, editar e publicar
seções completas dos pensamentos e escritos de Salomão, por volta dos anos 715 e 686 a.C. Época
de grande reavivamento espiritual em Israel, motivado pelo próprio Ezequias rei, que amava a exten-
sa obra poética e literária de Davi e de Asafe (2Cr 29.30). Foi nesse tempo que as palavras proféticas
(no sentido de “oráculo”, de instrução e transmissão da Palavra de Deus ao povo) do sábio Agur
(cap.30) e do rei Lemuel (cap.31.1-9), assim como os demais ditados dos “Sábios” foram incorpora-
dos à coletânea que deu origem ao cânon do livro de Provérbios, como o temos hoje, na edição da
Bíblia King James Atualizada - KJA (22.17 a 24.22; 24.23-34).

 Esboço geral de Provérbios
       I.	 Prefácio: autor, propósito e tema (1.1-7)

       II.	 Dois conjuntos de sete princípios de sabedoria (1.8 – 9.18)
         	 A)  Primeiro conjunto dos princípios do saber:
            1.  O poder e as riquezas conquistados por meios imorais e violentos (1.8-33)
            2.  A graça e a riqueza da sabedoria e do discernimento que vêm de Deus (2.1-22)
            3.  Deus sempre abençoará o esforço daqueles que nele confiam (3.1-10)
            4.  Descobrir o valor da disciplina é encontrar valioso tesouro (3.11-20)
            5.  Um único Caminho é certo, e o amor ao próximo passa por ele (3.21-35)
            6.  A sabedoria bíblica é o maior tesouro de uma família (4.1-9)
            7.  A sabedoria do Senhor nos ajuda a tomar o Caminho certo (4.10-19)

         	 B)  Segundo conjunto dos princípios do saber:
           1.  O filho de Deus precisa demonstrar justiça e bom senso ao mundo (4.20-27)
           2.  O cuidado para não se deixar levar pelos ardis da carne e do maligno (5.1-6)
           3.  O amor verdadeiro é absolutamente oposto à concupiscência (5.7-23)
           4.  Cuidados com a fiança, a preguiça e os enganos malignos (6.1-19)
           5.  A imoralidade e o adultério são loucuras: fuja dessas ciladas (6.20-35)
           6.  Quem busca viver em santidade contará com as bênçãos de Deus (7.1-27)
           7.  A personificação da Sabedoria em busca do coração humano (8.1-9.18)
      III.	 Provérbios escritos por Salomão e as palavras dos sábios (10.1-29.27)
            1.  A extraordinária sabedoria divina e inteligência de Salomão (10.1-22.16)
            2.  A primeira parte dos ditados dos Sábios (22.17 – 24.22)
            3.  A segunda parte dos ditados dos Sábios (24.23-34)
            4.  Os pensamentos de Salomão pelos sábios do rei Ezequias (25.1-29.27)

      IV.	 Os oráculos do sábio Agur (30.1-33)
           1.  A verdade e a mentira – o meio termo ou a difamação (30.1-10)
           2.  Caluniadores e enganadores – os desobedientes (30.11-17)
           3.  Os quatro caminhos misteriosos, e a queda no adultério (30.18-20)
           4.  Os quatro eventos que surpreendem o mundo (30.21-33)

      V.	 Oráculos do rei Lemuel e da rainha-mãe (31.1-9)

      VI.	 Acróstico da mulher virtuosa (31.10-31).
PROVÉRBIOS
O princípio da sabedoria1                                              Advertências contra as seduções

1   Provérbios de Salomão, filho de Davi,
    rei de Israel.
2 Para aprender a viver de maneira inte-
                                                                       8 Filho meu, ouve a instrução de teu
                                                                       pai e não menosprezes o ensino de tua
                                                                       mãe.5
ligente e disciplinada; para entender os                               9 Pois eles formarão uma coroa de bên-
ensinos que produzem sabedoria;2                                       çãos para a tua cabeça e colar de honra
3 para desenvolver um caráter correto e                                para o teu pescoço.
perspicaz, vivendo de maneira justa, com                               10 Filho meu, se pessoas perversas tenta-
eqüidade e bom senso;                                                  rem seduzir-te, não o permitas!
4 para dar prudência aos simples, assim                                11 Se te convidarem: “Vem conosco, em-
como conhecimento e juízo aos jovens.3                                 bosquemo-nos para assaltar e matar al-
5 Mesmo o sábio que lhes der ouvidos                                   guém; espreitemos o incauto, ainda que
aumentará em muito seu entendimento,                                   apenas por diversão!
e quem tem discernimento obterá clara                                  12 Traguemo-los vivos, como a sepultura
orientação                                                             engole os mortos; vamos destruí-los por
6 para compreender o significado das pa-                               completo, como são aniquilados os que
lavras e parábolas, ditados e enigmas dos                              descem à cova;
sábios.                                                                13 encontraremos todo tipo de objetos
7 O temor do SENHOR é o princípio do co-                               valiosos e encheremos as nossas casas
nhecimento, mas os insensatos despre-                                  com tudo o que roubarmos;6
zam a sabedoria e a disciplina.4                                       14 junta-te ao nosso bando; dividiremos




   1 Jafar Sadeq, considerado pela tradição muçulmana xiita como um de seus santos mais destacados, encontrou-se com um
religioso ocidental e lhe perguntou: “Quem pode ser considerado sábio?” Depois de pensar um pouco, o religioso lhe disse:
“Aquele que pode distinguir entre o bem e o mal”. Ao que replicou o mestre xiita: “Então, até mesmo um macaco pode ser con-
siderado sábio, pois que é capaz de discernir entre o que é bom e ruim para ele”. Entretanto, a Palavra de Deus nos garante que
a amorosa, sincera e reverente devoção a Deus (expressão aqui traduzida por “temor”) é a lei magna e princípio fundamental de
todo o saber (v.7). A sabedoria divina de Salomão, sua profícua produção literária de provérbios e cânticos em louvor ao Senhor
Deus são citados em 1Rs 4.32; Ec 1.1; Ct 1.1; Pv 10.1; 25.1.
   2 “Sabedoria” é palavra-chave nesta obra canônica e ocorre mais de 40 vezes em todo o livro. Seu significado inclui a idéia de
aplicar a inteligência divina nas idéias e práticas humanas cotidianas. O livro dos provérbios é uma convocação para um viver
sadio e bem sucedido, em harmonia com os justos e imutáveis desígnios de Deus (3.13,14; 4.5). Jesus Cristo, o Messias, é a
expressão exata da sabedoria de Deus (1Co 1.30; Cl 2.3).
   3 A palavra, aqui traduzida por “prudência”, no original hebraico é uma expressão tão forte que, na literatura hebraica, fora do
cânon bíblico, é normalmente usada com conotação negativa de “ardil” ou “astúcia” (Gn 3.1; Jó 5.13). Os “simples” ou “inexpe-
rientes” são expressões (e seus sinônimos) que aparecem no texto bíblico mais de 15 vezes, sempre com o propósito de se referir
às pessoas que se deixam influenciar facilmente; os incautos, ingênuos, inseguros ou de personalidade fraca, alguns devido à
pouca experiência com a vida e nos relacionamentos humanos e à dificuldade em dominar suas vontades (9.4,16; Sl 19.7). A KJ
de 1611 traduz este versículo assim: To giue subtiltie to the simple, to the yong man knowledge and discretion.
   4 O v.7 resume o tema da obra:  “o temor” do Senhor, que é a maneira bíblica hebraica original de se referir à plena, alegre e amo-
                                     
rosa submissão do ser humano ao seu Criador e Pai – Deus Yahweh – a quem, como súditos celestes, devemos honra e a cuja Palavra
devemos obediência (9.10; 31.30; Jó 28.28; Sl 2.11; 111.10; Is 12.6; Ec 12.13; Ml 1.14). Em contraposição, temos a figura do “insen-
sato”, expressão cujo sentido mais amplo e dramático refere-se ao “louco”, não exatamente ao doente mental, mas especialmente ao
“tolo”, aquele que diante da verdade e da vida prefere a mentira e a morte (v.22; Jo 1.9-12; Pv 5.12; 12.1; 20.3; 28.26; 29.11; Sl 14.1).
   5 Na prática diária da vida hebraica, especialmente nos tempos antigos, o pai e a mãe são os primeiros e melhores mestres
que um ser humano pode ter: é um privilégio, particularmente nos primeiros anos de vida. Por isso, é comum no Oriente, os
mestres tratarem seus alunos como filhos (6.20). A KJ de 1611 traduz: My sonne, heare the instruction of thy father, and forsake
not the law of thy mother.
   6 O poder e o prazer são tentáculos do deus Dinheiro (Mâmon), que desde a mais tenra idade procuram seduzir e manipular
os “tolos” e “volúveis”. Pessoas cujo egoísmo não lhes permite resistir aos encantos e prazeres do poder, seja qual for o preço a
PROVÉRBIOS 1                                                     148

em partes iguais o resultado de tudo o                                 ção: eis que derramarei copiosamente
que tomarmos!”                                                         sobre vós o meu espírito e vos revelarei
15 Filho meu, não sigas pelo caminho                                   as minhas palavras.10
desse tipo de gente! Afasta os teus pés                                24 Contudo, visto que vos convoquei ao
para longe das veredas que eles seguem,7                               arrependimento e vós recusastes; porque
16 pois os pés deles se precipitam para o                              estendi a mão e não houve quem aten-
mal e correm para derramar sangue.                                     desse;
17 Assim como é inútil estender a rede de                              25 em vez disso, rejeitastes todo o meu
caça, se as aves te observam,8                                         conselho e não aceitastes a minha repre-
18 da mesma maneira essas pessoas não                                  ensão,
percebem que armam cilada contra a                                     26 eu, de minha parte, zombarei da vos-
própria vida; constroem emboscadas                                     sa desgraça; me rirei quando o terror se
para sua própria destruição!                                           abater sobre vós,11
19 Tal é a vereda de todo ganancioso; e a                              27 em vindo o flagelo como a tempesta-
ambição pelo lucro ilícito conduz o in-                                de sobre vós; em vindo a vossa completa
sensato à ruína.                                                       perdição como o furacão, quando a afli-
                                                                       ção e a dor vos desesperarem.
Exortação à sabedoria                                                  28 Então, suplicarão minha atenção, en-
20 A Sabedoria clama em alta voz pelas                                 tretanto, não vos responderei; buscar-
ruas, proclama nas praças públicas;9                                   me-ão, porém, não me hão de encontrar.
21 brada do alto dos muros; à entrada das                              29 Porquanto desprezaram o conheci-
portas da cidade profere em alta voz o                                 mento e rejeitaram o temor do Eterno,
seu discurso:                                                          o SENHOR,
22 “Até quando, ó insensatos, amareis a                                30 não desejaram receber o meu conselho
insensatez? E vós, zombadores, até quan-                               e foram indiferentes à minha advertên-
do tereis prazer na zombaria? E, vós, des-                             cia!
controlados, até quando desprezareis o                                 31 Portanto, comerão do fruto de suas
conhecimento?                                                          decisões e atitudes, e se fartarão de suas
23 Convertei-vos, pois, à minha exorta-                                próprias elucubrações inúteis.12


pagar; que estão prontas a derramar sangue inocente para obter seus intentos sórdidos (v. 13,19; 3.14-16; 5.1-6; 6.24; 7.5; 16.16;
Jó 28.12-19; Mt 6.24).
   7 O caminho do adultério (não apenas sexual, mas toda alteração da verdade e justiça) é ilusório (aparentemente interessante,
sedutor e prazeroso), mas conduz, invariavelmente, a dois resultados: produz muito mal às outras pessoas (v.16) e aos próprios
incautos (vv.17-19).
   8 Uma alusão a um antigo adágio oriental: “Ave experiente (e suculenta) não cai em laço simples”. Os caçadores (corruptores
e mal-intencionados) freqüentemente caem em suas próprias armadilhas (emboscadas – v.11): é só uma questão de tempo (Sl
7.15; Pv 26.27; Ec 10.8).
   9 Salomão é dirigido por Deus para personificar a “Sabedoria”, fazendo referência à própria pessoa de Jesus Cristo, que prome-
te conceder o seu Espírito (v.23), mediante oração invocatória (de aceitação da Graça – v.28), adverte todos aqueles que zombam
e desdenham da sua Palavra, mas promete a paz e a felicidade aos que o aceitam de coração sincero (vv.32,33; Mt 5.6).
   10 Ainda é tempo de o arrogante, presunçoso, insensível, avarento, hedonista e egoísta se render humildemente aos pés de
Cristo e receber a graça salvadora de Deus. Há uma fonte de refrigério de alma e sabedoria jorrando, ininterruptamente, à disposi-
ção de todas as pessoas da terra (18.4). Contudo, chegará o momento em que essa fonte cessará de jorrar na terra e o derradeiro
juízo terá início, sem clemência (v.24; Is 1.4; 5.24; Mt 23.37).
   11 Este verso não deve ser compreendido como uma atitude simplesmente vingativa ou possivelmente descontrolada de Deus,
mas como uma reprodução da exultação humana, frente ao glorioso momento de sua redenção, depois de tanto tempo passado
sob as tentações, a exploração e zombaria daqueles que se achavam imbatíveis, auto-suficientes e rebeldes contra Deus, seus ser-
vos e seus princípios. O sábio poeta retrata a alegria do justo que, finalmente, vê com satisfação o mal ser definitivamente destruído.
Deus dará sua resposta aos reis da terra que usurparam seus poderes e imaginaram ser iguais à divindade (6.12-15; Sl 2.4).
   12 É comum às pessoas clamarem diante de um perigo, grave acidente ou catástrofe: “Ó, meu Deus!” Todavia, no instante
preciso em que o Dia do Senhor chegar, e com ele o grande e derradeiro Juízo, não adiantarão expressões de arrependimento
e súplicas por perdão e misericórdia (vv.20,27; 18.20; 31.31; Is 3.10). “Portanto, tudo o que o ser humano semear, isso também
colherá!” (Gl 6.7).
149                                        PROVÉRBIOS 1, 2

32 Pois a imprudência dos néscios os ma-                           8 pois guarda os passos do justo e protege
tará; e o falso bem-estar dos insensatos                           o caminho de seus santos.4
os levará à destruição.                                            9 Desse modo, compreenderás bem o que
33 Mas aquele que me der ouvidos vive-                             significa ser justo, ter juízo, agir com reti-
rá em plena paz, seguro e sem temer mal                            dão, e aprenderás os caminhos do bem.
algum!”13                                                          10 Pois a sabedoria habitará em teu co-
                                                                   ração, e o conhecimento será agradável
Lucros de uma vida sábia                                           à tua alma.5

2    Meu filho, se aceitares os meus con-
     selhos e abrigares contigo os meus
mandamentos,1
                                                                   11 O bom senso te guardará, e a plena in-
                                                                   teligência te protegerá.
                                                                   12 A sabedoria te livrará das veredas dos
2 com o objetivo de considerar atenta-                             maus, das pessoas de palavras ardilosas;
mente a sabedoria e inclinar o coração                             13 dos que abandonam o caminho da
para o discernimento,2                                             verdade e trilham os atalhos da mentira
3 e, se clamares por entendimento, e por                           e das trevas;
inteligência suplicares, aos brados;                               14 que se alegram em praticar o mal e co-
4 se buscares a sabedoria como quem                                memoram a crueldade dos perversos,
procura a prata, e como tesouros escon-                            15 seguem por atalhos tortuosos e se ex-
didos a procurares,                                                traviam em suas próprias trilhas.
5 então, compreenderás o que significa                             16 A sabedoria também te livrará da mu-
o temor do SENHOR e acharás o conheci-                             lher imoral, da pervertida que visa sedu-
mento de Deus.3                                                    zir com palavras e sensualidade,6
6 Porquanto é o SENHOR quem concede                                17 que abandona aquele que desde a ju-
sabedoria, e da sua boca procedem a in-                            ventude foi seu companheiro dedicado,
teligência e o discernimento.                                      ignorando a aliança que pactuou diante
7 Ele reserva a plena sabedoria para os                            de Deus.7
justos; como um escudo protege quem                                18 A mulher imoral caminha a passos
procura viver com integridade,                                     largos em direção à morte, que é a sua


   13 Os “tolos” seguirão suas próprias e mais obscuras vontades rumo à destruição. O “sábio” andará na companhia do Espírito
de Deus e jamais se arrependerá; ainda que passe por crises e momentos de aflição, reinará em triunfo, paz e felicidade sobre a
terra (Is 32.9,18; Ez 34.27; Am 6.1; Sf 1.12).
   Capítulo 2
   1 O sábio conclama os jovens ou inexperientes (tanto na vida quanto na comunhão com Deus) a depositarem a sabedoria em
seus corações com todo o carinho e segurança, assim como o salmista exorta que guardemos a Palavra de Deus (Sl 119.11; Is
55.11). A expressão original hebraica  “meus mandamentos” não deixa dúvida sobre as ordens expressas do Senhor.
   2 A expressão hebraica traduzida nas edições de KJ, desde 1611, como “coração”, corresponde, na antiga cultura hebraica,
a “entranhas” ou a “intestinos”, por causa da sensação (frio na barriga) normalmente experimentada quando se sente uma forte
emoção, e significa o “centro das decisões humanas”; sendo assim traduzida também, em algumas passagens, por “mente” ou
“razão” (4.21; 1Rs 3.9). A KJ de 1611 publica assim este versículo: So that thou incline thine eare vnto wisedome, and apply thine
heart to vnderstanding.
   3 A expressão hebraica aqui traduzida por Deus é Elohim (v.17; Gn 2.4; Pv 3.4; 25.2; 30.9). O sábio nos exorta a conhecer a
Deus como pessoa (Pai), como única maneira de alcançar vida sábia e eterna (v.6; Fl 3.10-11).
   4 A expressão hebraica original “santos” significa aqueles que foram “santificados”; escolhidos e separados pelo Espírito de
Deus para sua honra e glória (Rm 1.7; 8.14).
   5 Os que aceitam a Palavra de Deus e recebem com sinceridade a sua Graça, aprenderão, com o Espírito do Senhor, a agir com
sabedoria em todas as circunstâncias (Hb 5.11-14).
   6 A expressão hebraica original e literal “forasteira” ou “estrangeira” carregava o sentido de que as mulheres judias eram
tementes ao Senhor e, portanto, somente as gentias ou pagãs eram “imorais”. Contudo, o significado mais amplo diz respeito
ao afastamento da Lei e, especialmente, do amor sincero e dedicado ao Senhor, a fim de se entregar aos ilusórios prazeres mun-
danos (5.3,10,20; 6.24; 7.5,21; 23.27; 1Rs 11.1).
   7 O crente sincero é leal e, por seu amor e fé em Deus, não quebra pactos assumidos diante do Senhor, como o caso da
“aliança” matrimonial, normalmente celebrada na juventude, com a pessoa a quem se prometeu amar e cooperar na construção
de uma família temente a Deus por toda a vida (Is 54.6; Ez 16.8; Ml 2.14; Êx 20.14).
PROVÉRBIOS 2, 3                                                150

derradeira habitação, e cujas trilhas to-                            5 Confia no SENHOR de todo o teu coração
das conduzem ao lugar dos espíritos                                  e não te apóies no teu próprio entendi-
mortos.8                                                             mento.3
19 Os que a procuram jamais retornarão,                              6 Reconhece o SENHOR em todos os teus
tampouco voltarão a encontrar o cami-                                caminhos, e Ele endireitará as tuas vere-
nho da vida!                                                         das.
20 Entretanto, a sabedoria te fará an-                               7 Não sejas sábio aos teus próprios olhos;
dar pelo caminho dos homens de bem e                                 teme ao SENHOR e aparta-te do mal.
aprenderás a guardar a vereda dos justos.                            8 Isso se constituirá em saúde para o teu
21 Porquanto os justos herdarão a terra, e                           corpo e vigor para os teus ossos.
os íntegros nela habitarão;9                                         9 Honra ao SENHOR com teus bens e com
22 porém os ímpios serão exterminados                                as primícias de todos os teus rendimen-
da face da terra, assim como dela serão                              tos;
desarraigados os insinceros e desleais.                              10 e se encherão com fartura os teus celei-
                                                                     ros, assim como transbordarão de vinho
O sábio ama e obedece a Deus                                         os teus reservatórios.4

3    Filho meu, não te esqueças das mi-
     nhas ordenanças, mas permite que o
teu coração guarde os meus mandamen-
                                                                     11 Filho meu, não desprezes a disciplina
                                                                     do SENHOR, nem te sintas magoado por
                                                                     causa da sua repreensão.
tos,                                                                 12 Porquanto o SENHOR corrige a quem
2 porquanto eles prolongarão a tua vida                              ama, da mesma forma que o pai re-
por muitos anos e te concederão plena                                preende o filho a quem deseja todo o
prosperidade e paz.1                                                 bem.5
3 Que a benignidade e a lealdade jamais                              13 Bem-aventurado o homem que acha
te abandonem: ata-as ao redor do pesco-                              a sabedoria, e a pessoa que encontra o
ço, escreve-as na tábua do teu coração.                              entendimento,
4 Assim, encontrarás favor diante de                                 14 pois a sabedoria é muito mais proveito-
Deus e dos homens, bem como boa re-                                  sa que a prata, e o lucro que ela proporcio-
putação.2                                                            na é maior que o acúmulo de ouro fino.

   8 A expressão hebraica original transliterada refaim significa “espíritos dos mortos” ou “reino das sombras” (7.27; Jó 26.5). Os
falecidos estão no Sheol, expressão hebraica original que se refere à sepultura, ao pó da terra para onde nossos corpos voltam,
às profundezas obscuras ou às “moradas dos mortos” (1.12). Uma vida dedicada à prática da imoralidade (uma ação imoral leva
sempre a outra e mais outra), pavimenta o caminho que conduz rapidamente à destruição e à morte dos envolvidos (5.5; 9.18).
   9 As terras de Canaã haviam sido prometidas por Deus a Israel (Gn 17.8; Dt 4.1). Na terra prometida o povo de Deus encontraria
plena paz e liberdade para viver em alegre devoção a Deus – Yahweh. Essa promessa foi ampliada para todos os povos, mediante
o sacrifício vicário de Cristo, o Messias (v.22; Dt 28.63; Sl 37.9-29; Mt 5.5).
   Capítulo 3
   1 A obediência amorosa aos mandamentos e princípios da Palavra de Deus (o temor ao Senhor – 1.7) proporciona saúde ao
corpo, paz ao espírito e, portanto, vida longa (v.8; 9.10,11; 10.27; 19.23). Essa é a promessa do quarto grande mandamento (Êx
20.12), que faz parte também dos ensinos de Jesus Cristo. Salomão orou pedindo sabedoria, e Deus lhe prometeu paz, prospe-
ridade e longevidade saudável, se permanecesse obediente à sua Palavra (1Rs 3.13,14).
   2 O sábio crescerá em graça diante de Deus e dos homens, conforme o exemplo que nos deixou o Senhor Jesus (Lc 2.52; Rm
12.17; 2Co 8.21). A expressão hebraica original  “confia” refere-se à atitude de depositar toda a nossa fé na pessoa de Deus.
                                                     
   3 O ser humano herdou de Deus a criatividade (capacidade de resolver problemas e ordenar o caos), mas para uma solução
perfeita e duradoura, devemos sempre consultar o Senhor (em oração) e sua Palavra. Não confiar jamais apenas em nossa força
e sentimentos, mas depositar toda a nossa fé no amor e poder de Deus, da mesma forma que os antepassados de Israel con-
fiaram em Deus e foram salvos (Sl 22.4,5; 37.5; Nm 14.24; Dt 1.36; Is 38.3). O próprio rei Davi suplicou a seu filho Salomão que
oferecesse seu coração em plena e sincera confiança ao Senhor (1Cr 28.9; Os 4.1; 6.6; Is 45.13).
   4 Deus promete a todos que lhe trazem o dízimo de seus bens e ganhos, como sincera demonstração de fé, louvor e adoração,
derramar mais bênçãos financeiras e econômicas do que eles têm condições de recolher e armazenar (Ml 3.10; Dt 28.8,12; 2Co 9.8).
   5 Nem sempre o justo vive em prosperidade plena; às vezes precisamos passar por provas e períodos sob a repreensão do Pai,
a fim de crescermos espiritualmente e não ficarmos tão apegados aos desejos da nossa carne e aos bens materiais (v.2; 12.1; Jó
5.17; 36.22; Sl 119.71; Hb 12.5-10). Israel, por exemplo, passou por uma prova e período de disciplina que durou 40 anos, por
causa do coração endurecido dos filhos de Deus naquele momento histórico (Dt 8.2-5).
151                                           PROVÉRBIOS 3

15 Mais preciosa é do que os rubis mais                             calamidades nem da ruína provocada
puros, e tudo o que podes ambicionar                                pelos ímpios!
não é comparável a ela!6                                            26 Porque o SENHOR é a tua segurança
16 Ao passar da vida, na mão direita a sa-                          em qualquer circunstância e guardará os
bedoria te garante longevidade; na mão                              teus pés de caírem em ciladas.
esquerda, riquezas e honra.                                         27 Sempre que possível, não deixes de co-
17 Os caminhos da sabedoria são veredas                             operar com quem precisa de ajuda.12
agradáveis, e todas as suas trilhas condu-                          28 Não respondas simplesmente ao teu
zem à paz.7                                                         próximo: “Vai e volta amanhã, e eu te
18 A sabedoria é árvore que oferece vida a                          darei algo”, se o tens disponível agora e
quem a abraça; quem a ela se apega será                             podes ajudar.
muito feliz!8                                                       29 Não planejes o mal contra o teu pró-
19 Por meio da sua sabedoria o SENHOR                               ximo, que confiantemente mora contigo
firmou os alicerces da terra, por seu en-                           ou perto de ti.
tendimento fixou no lugar os céus.                                  30 Jamais acuses ou demandes com al-
20 Pelo seu conhecimento as fontes mais                             guém, sem razão, especialmente se essa
profundas se rompem, e as nuvens gote-                              pessoa não te fez um mal evidente.
jam o delicado orvalho das manhãs e as                              31 Não tenhas inveja de quem é violento,
chuvas de tempo em tempo.9                                          nem adotes qualquer dos seus procedi-
21 Filho meu, não se apartem estes en-                              mentos;
sinos dos teus olhos; guarda em teu co-                             32 porque o SENHOR detesta o perverso,
ração a verdadeira sabedoria e o bom                                porém ao justo Ele trata como seu gran-
senso;                                                              de amigo!13
22 porquanto serão vida plena para a                                33 A maldição do SENHOR está sobre a
tua alma e valiosa jóia ao redor do teu                             casa dos ímpios, mas Ele abençoa o lar
pescoço!10                                                          dos justos.
23 Assim, andarás seguro no teu cami-                               34 Ele ri com desprezo dos arrogantes
nho, e não tropeçará o teu pé.                                      zombadores, entretanto concede graça
24 Quando te deitares, jamais temerás;                              aos humildes!
repousarás, e o teu sono será tranqüi-                              35 A honra é a preciosa herança dos sá-
lo.11                                                               bios, mas o Senhor expõe os insensatos
25 Não te afligirás com a iminência das                             ao ridículo.


   6 A sabedoria é personificada pelo poeta sagrado como a mais bela e inteligente mulher. A esposa amorosa e dedicada vale
mais que os mais caros rubis (31.10). Jó também considerou a sabedoria muito mais valiosa que os rubis (Jó 28.18). A KJ de 1611
já trazia a expressão hebraica original “rubis”, em vez de “pérolas”, como aparece em algumas versões: She is more precious then
Rubies: and all the things thou canst desire, are not be compared vnto her.
   7 A expressão hebraica original shãlôm não apenas significa paz mas também prosperidade e plenitude, considerando a paz
com Deus como base para alcançar a plenitude. (v.2; 16.7; Sl 119.165).
   8 O poeta sagrado usa uma figura de linguagem que remete à Árvore da Vida do jardim do Éden (Gn 2.9; Pv 11.30; 13.12; 15.4;
Ap 2.7; 22.2,14 de acordo com 1Co 1.30).
   9 Deus abriu, pela força do seu poder, fontes e rios por toda a terra (Gn 7.11; 49.25; Sl 74.15). O orvalho diário que limpa o ar
e renova o viço da flora e da fauna é uma figura de linguagem da própria renovação da graça diária de Deus para com a humani-
dade, assim como as chuvas periódicas concedidas pela sabedoria divina (Dt 33.13; 2Sm 1.21).
   10 Nas antigas culturas orientais, os soberanos exibiam ao redor do pescoço um valioso colar de ofício (Gn 41.42).
   11 O sono reparador e saudável é profundo e sem sobressaltos. Por isso, a oração antes de dormir é de fundamental impor-
tância na preparação de um terapêutico período de descanso para restauração do físico e da alma. Só Deus pode nos conceder
absoluta segurança e paz, mesmo em meio às crises mais difíceis e preocupantes (Sl 4.8; Mt 8.24-26; Ef 4.26). Essa é uma das
promessas listadas entre as bênçãos pactuais (Lv 26.6; Jó 11.18,19; Mq 4.4; Sf 3.13; Pv 1.33).
   12 Deixar de fazer o bem que sabemos e podemos é um grave pecado de omissão (Tg 4.17).
   13 O Senhor abomina qualquer tipo de prática pagã, como a maldade, arrogância, indiferença, perversidade e degradação
moral (Dt 18.9,12; Pv 6.16; 8.7; 11.20). Porém, o justo é considerado seu grande amigo (Gn 18.17-19; Jó 29.4; Sl 25.14; Jo
15.12-27).
PROVÉRBIOS 4                                                  152

A supremacia da sabedoria                                           12 Sendo assim, enquanto andares sabia-
4    Ouvi, filhos meus, a instrução do pai;
     prestai atenção, a fim de alcançardes
o discernimento;
                                                                    mente, nenhum obstáculo impedirá tua
                                                                    vitória: correrás e não tropeçarás!
                                                                    13 Retém a orientação que recebeste e
2 porquanto o ensino que vos ofereço é                              jamais a desprezes; guarda-a bem, pois
excelente; não desprezeis a minha dou-                              dela depende a tua vida.3
trina.                                                              14 Jamais sigas pelas trilhas dos ímpios,
3 Quando eu era menino, ainda mui-                                  tampouco andes pelas veredas dos maus.
to pequeno, filho único de meus pais, e                             15 Evita o mal caminho, não passes por
muito especial para minha mãe,1                                     ele; desvia-te dele e passa de largo.
4 meu querido pai me ensinava, dizendo:                             16 Porquanto, os maus não conseguem
“Retém em teu coração as minhas pa-                                 conciliar o sono enquanto não praticam
lavras; obedece às minhas ordenanças e                              o mal; não podem dormir se não fizerem
viverás feliz.                                                      tropeçar alguém;
5 Busca a sabedoria, procura obter en-                              17 pois eles se alimentam com o pão da
tendimento e não te esqueças das pala-                              malignidade, e se embriagam com o vi-
vras da minha boca, tampouco delas te                               nho da violência.
afastes.                                                            18 Entretanto, a vereda dos justos é como
6 Não abandones a sabedoria, e ela te pro-                          a luz da aurora, que vai brilhando cada
tegerá; ama-a, e ela te dará segurança.                             vez mais até a plena iluminação do dia.
7 O princípio fundamental do saber é:                               19 O caminho dos perversos é como as
procura obter sabedoria; investe todo o                             mais densas trevas, nem conseguem sa-
teu ser e o que possuis para adquirir en-                           ber em que tropeçam.4
tendimento.2                                                        20 Filho meu, dá atenção às minhas ins-
8 Dedica grande consideração à sabe-                                truções; aos meus conselhos inclina os
doria, e ela te exaltará; abraça-a, e ela te                        teus ouvidos.
honrará!                                                            21 Jamais os percas de vista; guarda-os no
9 Ela te coroará com um exuberante dia-                             mais íntimo das tuas entranhas,
dema de graça sobre tua cabeça e nela                               22 pois são vida para quem os encontra e
fará repousar o esplendor da glória”.                               saúde para todo o seu ser.
10 Ouve, filho meu, recebe com atenção                              23 Acima de tudo o que se deve preser-
as minhas palavras e terás vida longa.                              var, guarda o íntimo da razão, pois é da
11 No caminho da sabedoria te condu-                                disposição do coração que depende toda
zi e pelas veredas da retidão te ensinei                            a tua vida.5
a andar.                                                            24 Afasta para longe da tua boca as pala-




   1 O rei Davi fala sobre Salomão, seu único filho com Bate-Seba (1Cr 22.5; 29.1),quando este era ainda muito jovem e inexpe-
riente (simples), muito amado por seu pai e, especial para sua mãe (Gn 37.3; Zc 12.10). As citações e declarações autobiográficas
eram comuns entre os sábios judaicos (Pv 24.30-34, de acordo com o livro de Eclesiastes).
   2 A expressão original hebraica  (o princípio) nos ajuda a compreender que a sabedoria é “suprema” e deve ser procura-
da de todo o coração, por meio do temor do Senhor (1.7), como alguém que, ao encontrar uma pérola rara, de valor inestimável,
vende tudo o que tem para adquiri-la (Mt 13.45,46). É Deus quem concede a sabedoria (Tg 1.5-8).
   3 Devemos aceitar e amar a sabedoria divina como luz e guia eterno para os nossos caminhos (Sl 119.89, 105). Jesus Cristo
nos ensinou a reconhecer na Palavra de Deus a direção sábia e infalível de Deus; seus mandamentos são leves e nos conduzem
à verdadeira felicidade (Mt 11.28-30; Jo 10.10; 14.12-21).
   4 Em muitas ocasiões, o próprio Messias, o Senhor Jesus, referiu-se aos provérbios para ministrar aos seus amados ouvintes
(Jo 12.35 com Pv 4.19; Jo 8.24 com Pv 5.23; Jo 6.47 com Pv 8.35; Mt 7.24-29 com Pv 14.11).
   5 A expressão hebraica original aqui traduzida por “coração”, corresponde à sede dos sentimentos e decisões do ser humano,
que no antigo oriente era compreendida como a região das entranhas (dos intestinos), especialmente por causa da sensação
que as emoções normalmente causam no estômago, como um certo “frio na barriga”. Jesus nos ensinou que a boca fala do que
está cheio o “coração”, ou seja, do que está repleto o íntimo (Lc 6.45). Sendo o corpo do cristão o templo do Espírito Santo, é
fundamental que saibamos guardar o nosso “coração”; afastarmo-nos do mal mediante atenção às orientações do Espírito (Rm
8.26,27; 1Co 6.19; 1Ts 5.19).
153                                         PROVÉRBIOS 4, 5

vras perversas; e não permitas que teus                             9 para que não entregues aos outros a tua
lábios pronunciem qualquer mentira.                                 honra, tampouco, tua própria vida a al-
25 Olha sempre para a frente, mantém teu                            gum homem cruel e violento;
olhar fixo no objetivo a ser alcançado.6                            10 para que dos teus bens não se fartem
26 Reflete sobre tuas escolhas e sobre o                            os estranhos, e outros se enriqueçam à
caminho por onde andas, e todos os teus                             custa do teu trabalho;
planos serão bem sucedidos!                                         11 e venhas a te queixar e gemer no final
27 Não te desvies nem para a direita                                da vida, quando teu corpo perder o es-
nem para a esquerda; retira o teu pé da                             plendor e o vigor abandonar tua carne.
malignidade!7                                                       12 Então, murmurarás: “Como me rebe-
                                                                    lei à disciplina! Como meu coração des-
Conselhos contra a imoralidade                                      prezou a repreensão!

5   Filho meu, presta atenção às minhas
    palavras de sabedoria e inclina os teus
ouvidos para compreender o meu dis-
                                                                    13 Não quis ouvir os meus mestres, nem
                                                                    dei atenção aos que me ensinavam.
                                                                    14 Cheguei muito próximo da ruína com-
cernimento.                                                         pleta, à vista de toda a comunidade!”3
2 Assim manterás o bom senso, e os teus                             15 Portanto, bebe a água da tua própria
lábios guardarão o conhecimento;1                                   fonte, sacia tua sede com as águas que
3 porquanto os lábios da mulher imoral                              brotam do teu próprio poço.
são sedutores e destilam mel; sua voz é                             16 Por que deixar que os teus ribeiros
mais suave que o azeite,                                            transbordem pelas ruas e as tuas fontes
4 contudo, no final é amarga como fel,                              pelas praças?
afiada como uma espada de dois gumes.2                              17 Que tais mananciais sejam exclusiva-
5 Seus pés correm para a morte; seus pas-                           mente teus, jamais divididos com quem
sos conduzem-na diretamente ao inferno.                             quer que seja!
6 Ela não reflete sobre o perigo de andar                           18 Bendita seja a tua fonte! Alegra-te
por trilhas tortuosas, e não consegue en-                           sobremaneira com a tua esposa. Sê feliz
xergar o caminho da vida.                                           com a moça com quem casaste!
7 Agora, portanto, meu filho, dá-me ou-                             19 Gazela ardorosa, corsa graciosa; que os
vidos e não te desvies das palavras da mi-                          seios da tua esposa sempre te fartem de
nha boca.                                                           prazer, e seu amor te extasie de carinhos
8 Afasta o teu caminho da mulher adúltera,                          todos os dias de tua vida.
e não te aproximes da porta da sua casa;                            20 Por qual razão, filho meu, andarias




   6 Devemos olhar sempre para nosso alvo maior: a glória do Senhor (Fl 3.13,14), e não nos deixarmos levar pelas coisas e pai-
xões paralelas deste mundo (Sl 119.37). A inveja, o mexerico e a maledicência são outras formas de nos desviarmos do principal
objetivo de nossas vidas e “olharmos de lado” (v.27; Lv 19.16; Dt 5.32,33; 28.14; Js 1.7).
   7 Assim foi traduzido este versículo, do manuscrito grego para a KJ de 1611: Turne not to the right hande nor to the left: remoue
thy foot frō euil. (1.15).
   Capítulo 5:
   1 A expressão original hebraica     “para que conserves a discrição e os teus lábios guardem o conhecimen-
                                                   
to” era, costumeiramente, aplicada a um sacerdote (Ml 2.7). Os cristãos, hoje, são os sacerdotes de Cristo (1Pe 2.9; Ap 5.10).
   2 Estes conselhos foram dirigidos, originalmente, a jovens masculinos de uma cultura oriental hebraica, há cerca de 3000 anos;
hoje, particularmente nas sociedades ocidentais, podem ser aplicados, indistintamente, a ambos os sexos e a todas as idades.
Os “lábios que destilam o mel” referem-se à conversa interessante, compreensiva e agradável que se estabelece entre duas
pessoas em processo de sedução (Ct 4.11; 5.13; 7.9). As palavras de uma mulher ou homem adúlteros (imorais), bem pensadas
e carinhosamente pronunciadas, exercem função semelhante à do azeite quente massageado em músculos tensos e juntas dolo-
ridas; entretanto, são expressões cheias de lisonjas, hipocrisia e malícia (Sl 5.9; 55.21). O absinto ou fel é um extrato de ervas, a
substância mais amarga que se conhecia, usado na época no tratamento dos males do estômago, fígado e intestinos.
   3 No contexto da cultura e da Lei judaicas da época, o pecador aqui apresentado quase foi acusado perante a assembléia do
povo e condenado à pena de morte por apedrejamento (Lv 24.14; Dt 22.22). A tradução literal e original deste versículo é: “Por
pouco estive em todo mal no meio de toda a assembléia e congregação”. A KJ de 1611 traduziu desta maneira: I was almost in
all euill, in the midst of the congregation & assembly.
PROVÉRBIOS 5, 6                                                  154

descontrolado atrás de uma mulher imo-                                 Advertência contra a preguiça
ral? Por que acariciar outros seios que                                6 Observa a formiga, ó preguiçoso, reflete
não os de tua esposa?                                                  sobre o trabalho que ela realiza e sê sábio!
21 Os caminhos do homem estão diante                                   7 Mesmo não tendo um chefe, nem su-
dos olhos do SENHOR, e Ele examina aten-                               pervisor, nem comandante,
tamente todos os seus passos!4                                         8 armazena suas provisões no verão, e na
22 Quanto ao perverso, são suas próprias                               época da colheita ajunta seu alimento,
iniqüidades que o amarram e o fazem pri-                               com toda a disciplina.
sioneiro das cordas do seu pecado.                                     9 Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado?
23 Com toda a certeza, ele morrerá por                                 Quando te levantarás da tua sonolência?
falta de controle; andará inseguro e cam-                              10 Tirando uma pestana, cochilando um
baleante por conta de sua insensatez.                                  pouco, cruzando os braços para descansar,
                                                                       11 tua iminente pobreza te aterrorizará,
Advertência quanto a ser fiador                                        e tua necessidade te assaltará como um

6    Filho meu, se serviste de fiador
     ao teu próximo, se, com um aper-
to de mãos, te comprometeste por um
                                                                       ladrão armado.

                                                                       Advertência contra a maldade
estranho,1                                                             12 O caráter do perverso é maligno. Ca-
2 e ficaste enredado pelas declarações que                             minha de um lado para o outro murmu-
saíram da tua boca, então és prisioneiro                               rando atrocidades,3
de tua própria palavra.                                                13 comunica-se sorrateiramente com os
3 Agora, filho meu, considerando que                                   olhos, arrasta os pés e faz sinais com os
caíste nas mãos do teu companheiro, vai                                dedos.
e humilha-te diante dele; insiste, inco-                               14 Em seu coração habita o engano; todo
moda e importuna esse teu próximo;                                     o tempo planeja o mal; anda semeando
4 não te permitas conciliar o sono, nem que                            perversidades e discórdias.
teus olhos pestanejem; não descanses.                                  15 Por essa razão, a desgraça se abaterá
5 Livra-te desse compromisso como a ga-                                repentinamente sobre ele; de um gol-
zela das mãos do caçador, como a ave da                                pe será completamente destruído, sem
armadilha que a pode prender.2                                         qualquer apelação.4


   4 Estamos moralmente e psicologicamente nus diante do Espírito de Deus, e o Senhor sonda os nossos corações (vontades e
intenções), o tempo todo. Se a felicidade plena e a vida eterna repousam na obediência amorosa e sincera aos mandamentos de
Deus, não há como justificar más intenções, deslizes morais e pecados de toda espécie, com argumentos racionais, científicos
e modernos (novos padrões de moral mundial). Somente o sincero arrependimento, confissão, pedido de perdão e a mudança
radical de hábitos, mediante o exercício prático do “temor do Senhor” poderão nos livrar das garras do maligno e da destruição
certeira (v.22; 1Sm 16.7; Ez 33.11; Mt 5.8 de acordo com Hb 9.27 e Gl 6.7).
   Capítulo 6
   1 Um documento assinado, um aperto de mão ou uma palavra empenhada, para a pessoa que realmente teme a Deus, são
atitudes que têm o mesmo significado: um compromisso que deve ser cumprido custe o que custar (22.26,27). Em Gênesis há
uma passagem que ilustra bem o perigo de assumirmos a responsabilidade pelo pagamento da dívida do próximo ou qualquer
outra obrigação semelhante. Judá ofereceu sua própria pessoa como garantia pela devolução, em segurança, de Benjamim a
Jacó (Gn 43.9), e, quando o cumprimento desse desafio pareceu impossível de se realizar, Judá se viu obrigado a apresentar-se a
José para servir-lhe como escravo (Gn 44.32,33). Era costume dos judeus da antigüidade selarem seus contratos e alianças com
um aperto de mãos (Pv 11.15; 17.18; 20.16; 22.26, de acordo com Jó 17.3).
   2 Devemos fugir de qualquer contrato de fiança como as aves fogem das mãos ou do laço do passarinheiro (Sl 124.7). Veja este
versículo na tradução da KJ de 1611: Deliuer thy selfe as a Roe from the hand of the hunter, and as a bird from the hand of the fowler.
   3 O original hebraico personifica e apresenta o “homem vil”   como “homem de Belial”, uma pessoa maligna (1Sm
30.22). O termo “maligno” vem da conjunção de duas palavras: beli, “sem” e ya’al, “nada de bom” ou “imprestável” (Jz 19.22;
1Sm 25.25; Jó 34.18; Dt 13.13). Em 1Co 6.15 essa palavra traduz um dos nomes de Satanás.
   4 Há pessoas que são absolutamente escravizadas e manipuladas pelo Diabo. Assim como as atitudes do homem de Belial
são semelhantes às obras do Maligno, assim também seu fim será parecido à derrota iminente, fulminante e eterna do “homem
da iniqüidade” (2Ts 2.7-12). A própria palavra “Diabo” originalmente significa “semeador de conflitos”, e a palavra grega diabolos
quer dizer “aquele que promove a discórdia”. A palavra original hebraica Satan tem o sentido básico de “Acusador”.
155                                         PROVÉRBIOS 6, 7

16 Há seis atitudes que o SENHOR odeia,                            objetivo da adúltera, que vive rondando
sete atitudes que ele detesta:5                                    à caça de vidas preciosas!8
17 olhos arrogantes, língua mentirosa,                             27 É possível alguém atear fogo ao pró-
mãos que derramam sangue inocente,                                 prio peito sem queimar a roupa?
18 coração que maquina planos perversos,                           28 Pode alguém andar sobre brasas sem
pés que se apressam para fazer o mal,                              queimar os próprios pés?
19 a testemunha falsa que espalha difa-                            29 Assim acontece com quem se deita
mações e aquele que provoca contendas                              com mulher alheia; ninguém que a toque
entre irmãos!                                                      ficará sem castigo.
                                                                   30 O ladrão não é execrado se, faminto,
Advertências contra o adultério                                    furta para matar a fome?
20 Filho meu, obedece à orientação de teu                          31 Contudo este, quando for pego, deverá
pai e não abandones o ensino de tua mãe.                           pagar sete vezes o que furtou, ainda que
21 Ata-os para sempre ao teu coração,                              isso lhe custe tudo o que tem em casa.9
envolve-os junto ao teu pescoço.6                                  32 Mas o homem que comete adultério
22 Quando caminhares, eles te guiarão;                             não tem juízo; qualquer pessoa que as-
quando te deitares, eles te protegerão                             sim procede a si mesmo se destrói.
durante o sono; quando acordares, eles                             33 Sofrerá ferimentos e vergonha, e a sua
dialogarão contigo!                                                humilhação jamais se apagará,
23 Porquanto, o mandamento é lâmpada,                              34 pois o ciúme desperta a fúria de um
o ensino é luz, e as advertências da disci-                        homem, que não terá misericórdia quan-
plina são o caminho que conduz à vida;                             do se vingar.10
24 eles te guardarão da mulher imoral e                            35 Não aceitará nenhuma compensação;
das palavras lisonjeiras da mulher adúl-                           nem os mais caros presentes servirão
tera!                                                              para acalmar sua ira.
25 Não cobices no teu coração a sua
beleza, nem te deixes seduzir por seus                             A sedução e a cilada do adultério
olhares,7
26 pois o preço de uma prostituta é um
pedaço de pão, quando comparado ao
                                                                   7   Filho meu, obedece aos meus conse-
                                                                       lhos e no íntimo do teu ser guarda os
                                                                   meus mandamentos!


   5 A poesia bíblica hebraica do séc. X a.C. costumava usar números na formação de seu paralelismo sinônimo, com o objetivo
de dar ênfase e dramaticidade aos escritos sapienciais (30.15-29; Jó 5.19). O número sete, por exemplo, desde a antigüidade ju-
daica tem sido usado para comunicar a idéia de “absoluto, completo, perfeito” e tem sentido de “muitos ou fartura”. A idéia central
deste versículo é apenas mostrar uma seleção das várias atitudes pecaminosas que são detestadas, abomináveis a Deus (3.32).
   6 Estas expressões no original evocam a passagem de Dt 6.4-9, que alguns judeus mais religiosos até hoje recitam todas as
manhãs, como sua confissão de fé, conhecida como shema, “Ouve, ó Israel!...”. (v.22; Js 1.8; Dt 6.4-9).
   7 É melhor deixar a Palavra e o Espírito de Deus queimarem toda a “cobiça”, assim que surgir no horizonte de nossa alma
voluptuosa, do que cair no engodo do “adultério” (imoralidade), quer seja sexual, financeiro ou político (Pv 5.20; Mt 5.27-30, de
acordo com Êx 20.17).
   8 Aqui não há uma concessão bíblica para qualquer prática imoral ou licenciosidade sexual. O saber canônico está apenas
revelando, de forma dramática, que a mulher pública (prostituta) tem como principal objetivo o dinheiro dos incautos que por ela
são seduzidos; mas como adúltera, ela é muito mais perversa: reduzirá o homem conquistado, a mera servidão e a completa ruína
moral e econômica (1Sm 2.36; Pv 5.10; 29.3). Quem se entrega a uma vida adúltera será destruído, a menos que se arrependa
e mude radicalmente seus hábitos, zelando permanentemente por sua castidade e integridade diante de Deus (Hb 13.4; 1Co
6.9; Gl 5.19-21).
   9 A lei dos judeus exigia, como penalidade, que o criminoso restituísse, à sua vítima, até cinco vezes mais o valor do que havia
furtado ou roubado (furto a mão armada ou com violência). A sabedoria bíblica e poética usa o termo “sete vezes” para indicar,
simbolicamente, que o faltoso pagará a pena máxima e integral. Contudo, a pessoa que vive em adultério e jamais se arrepende,
sofrerá vergonha e destruição eterna (Êx 22.1-9; 2Sm 13.13,22).
   10 Aqui, a exemplo da questão do v.26 (Nota 8), não está sendo apresentada uma justificativa plausível para a vingança e a
violência, especialmente se a parte prejudicada for temente a Deus. No entanto, o sábio nos adverte sobre a força destruidora do
ciúme incontrolado. Além disso, bens materiais sempre poderão ser reconquistados ou restituídos, mas não há compensação
para a loucura (insensatez) das práticas adúlteras, que não ficarão sem o devido castigo (vv. 29-31).
PROVÉRBIOS 7                                                 156

2 Segue as minhas orientações e desco-                             buscar-te, e te encontrei.
brirás a verdadeira vida; zela pelos meus                          16 Já estendi sobre o meu leito cobertas
ensinos como cuidas da pupila dos teus                             coloridas de linho fino do Egito;
olhos.                                                             17 também já perfumei minha cama e o
3 Amarra os meus mandamentos aos                                   ambiente, com mirra, aloés e canela.
teus dedos; escreve-os na tábua do teu                             18 Vem, embriaguemo-nos com as de-
coração!                                                           lícias da sensualidade até o amanhecer;
4 Dize à Sabedoria: “Tu és minha irmã!”,                           gozemos os prazeres do amor!
e ao Entendimento considera teu parente                            19 Pois o meu marido não está em casa;
próximo;1                                                          partiu para uma longa viagem.3
5 eles saberão te manter longe da mulher                           20 Levou consigo uma bolsa cheia de pra-
imoral e da pessoa leviana e bajuladora.                           ta e não retornará antes da lua cheia!”
6 Da janela da minha casa, por minhas                              21 Assim, com a sedução ardilosa das suas
grades, olhando eu,                                                muitas palavras e gestos, persuadiu-o,
7 vi entre os incautos, no meio de um gru-                         com a lisonja e volúpia dos seus lábios,
po de jovens, um rapaz deveras sem juízo!                          o arrastou.
8 Ele ia e vinha pela rua próxima à esqui-                         22 E ele, sem refletir, no mesmo momento
na de certa mulher imoral, depois seguiu                           a seguiu como o boi levado ao matadou-
em direção à casa dela.                                            ro ou como o cervo que corre em direção
9 Estava chegando o crepúsculo, o final                            à emboscada,
do dia, caíam as sombras do entardecer,                            23 até que uma flecha lhe atravesse o co-
rodeavam as trevas da noite.                                       ração; como a ave que se apressa em sal-
10 Eis que a mulher lhe sai ao encontro,                           tar para dentro do alçapão, sem imagi-
com vestes de prostituta e cheia de astú-                          nar que essa atitude lhe custará a vida!
cia na alma.                                                       24 Agora, portanto, filho, dá-me toda a
11 Ela é sedutora e espalhafatosa, seus pés                        tua atenção e inclina os teus ouvidos às
não suportam ficar em casa;                                        minhas palavras experientes:
12 um momento na rua, outro nas praças,                            25 Não permitas que teu coração se des-
em cada esquina se detém à espreita de                             vie para o caminho da mulher imoral,
sua vítima.                                                        nem vagues desorientado pelas trilhas
13 Precipitou-se sobre o rapaz, beijou-o                           dessa pessoa.
sem pudor e lhe declarou:                                          26 Inúmeras foram as suas vítimas; e
14 “Tenho em casa a carne dos sacrifícios                          muitos são os que por ela foram mortos!
de paz que hoje preparei para cumprir os                           27 A casa dela é uma trilha que conduz
meus votos.2                                                       precipício abaixo, rumo ao inferno, à
15 Por esse motivo, saí ao teu encontro, a                         morada eterna dos mortos.4


  1 O sábio personifica a Sabedoria e o Entendimento, para enfatizar o quanto são importantes e devem ser amados e cuidados
como nossos parentes mais íntimos. O termo hebraico original “irmã” pode também ser empregado aqui com o sentido de
“noiva” (Ct 4.10-12; 5.1,2).
  2 Conforme a Lei, após seu período menstrual toda mulher deveria oferecer, ao Senhor, uma oferta “pacífica” ou “de comu-
nhão” (Lv 15.19-30; Am 5.21,22). O sentido espiritual do texto nos leva a entender que essa pessoa imunda, que representa toda
a sagacidade do pecado, teve a petulância de usar um ritual sagrado para confundir e instigar ainda mais a volúpia do jovem
inexperiente (incauto ou fraco na fé). Essa situação também revela como é possível que as pessoas continuem sua vida religiosa
e cerimonial sem se darem conta de que estão cometendo graves afrontas e sacrilégios contra Deus.
  3 Podemos fazer uma outra importante inferência espiritual a partir desta declaração. É possível ver como a sociedade tende a
argumentar que Deus se ausentou do mundo e da vida cotidiana e individual das pessoas sobre a face da terra e que, portanto,
nada há de mal em se permitir um pouco de divertimento e prazer em meio a tanta desgraça. Esse sofisma bem articulado tem
levado e continuará levando milhões de pessoas para a morte eterna, especialmente quando o “Noivo” voltar em glória para
resgatar os seus e destruir o Maligno e seus seguidores (Mt 25.6).
  4 O sábio não está se referindo simplesmente à pena máxima para o adultério, tanto do homem quanto da mulher, explícita
na Lei e em voga na época, que era a condenação à morte (Lv 20.10). O pecado e todo tipo de adulteração da Palavra de Deus
conduz à desmoralização da personalidade, à ruína em todos os sentidos, ao lugar dos mortos (em hebraico: Sheol), e à morte
157                                           PROVÉRBIOS 8

A primazia absoluta da sabedoria                                   que as mais finas jóias, e de tudo o que se
8   A Sabedoria clama! O Entendimento
    ergue a sua voz!1
2 Sobre os montes mais elevados junto
                                                                   possa ambicionar, absolutamente nada
                                                                   se compara a ela!
                                                                   12 Eu sou a Sabedoria! Em mim habita
ao caminho, nos cruzamentos, ouve-se a                             todo o conhecimento, o discernimento e
voz do discernimento.2                                             o ensino!5
3 Ao lado dos portais, à entrada da cida-                          13 O temor do SENHOR consiste em
de, portas adentro, ela conclama em alta                           odiar o mal; rejeitar todo orgulho, ar-
voz:                                                               rogância, o mau comportamento e o
4 “A todos vós, ó homens, suplico; dirijo                          falar perverso.
a minha convocação a toda a humanida-                              14 Meu é o conselho sábio; a mim perten-
de.                                                                cem o entendimento e o poder!
5 Entendei, ó incautos, a prudência; e vós,                        15 Por meu intermédio, os reis governam,
insensatos, compreendei a sabedoria!3                              e as autoridades exercem a justiça;
6 Ouvi, pois proferirei conselhos exce-                            16 da mesma forma, mediante meu po-
lentes; os meus lábios falarão de assuntos                         der, governam os nobres, todos os juízes
justos e práticos.                                                 da terra.
7 A minha boca proclamará a verdade,                               17 Eu amo todos os que me amam, e
porquanto meus lábios abominam a ma-                               quem me busca me encontra!6
lignidade!                                                         18 Em minhas mãos está toda a riqueza,
8 Todas as minhas palavras são justas, ne-                         honra, prosperidade e justiça perenes.
nhuma delas é adulterada ou perversa.4                             19 Meu fruto é melhor que o ouro; sim,
9 Para os que possuem discernimento,                               que o ouro mais puro; o lucro que vos
são ensinos claros; e, veredas retas, para                         ofereço é superior ao metal mais valioso!
os que alcançam o conhecimento.                                    20 Ando pelo caminho da retidão, em
10 Recebei o meu ensino, e não a prata,                            meio às veredas da justiça,
preferi o conhecimento, antes do ouro                              21 outorgando riquezas aos que me
puro.                                                              amam; oferecendo a estes prosperidade
11 Porquanto, melhor é a sabedoria do                              sem fim!

eterna ou inferno (2.18; 5.5; 14.12; 16.25; Mt 7.13; 1Co 6.9,10). Graças a Deus temos na pessoa e no sacrifício vicário de Cristo,
a derradeira oportunidade de nos livrarmos das garras do pecado e da morte: a confissão, o arrependimento e o abandono da
prática do pecado em o Nome do Senhor (1Jo 1.9).
   Capítulo 8
   1 O livro de Provérbios pode ser didaticamente dividido em três grandes capítulos, todos com o objetivo de ensinar à huma-
nidade como viver de forma piedosa (santa e inteligente) diante de Deus: o temor do Senhor é a base de todo o saber e vida
com Deus (1.1 – 7.27). A prática da verdadeira vida espiritual (santidade) só é possível mediante a sabedoria – o conhecimento
vivo do Senhor – (8.1 – 9.18). A piedade (santidade) é o exato oposto da vida mundana desinteressada de Deus – impiedade –
(10.1 – 31.31).
   2 Uma das mais evidentes demonstrações da graça de Deus está no fato de que ele mesmo providencia – de todas as formas
– para que sua mensagem de salvação (evangelização) chegue a todos os povos, culturas e indivíduos em todo o mundo, das
ruas e vilas às grandes edificações e centros urbanos. É importante notar que o convite do Senhor vem ao nosso encontro, onde
estivermos, e cabe a nós a decisão final de aceitá-lo de todo o coração ou nos mantermos indiferentes, atitude que tem o mesmo
sentido prático da rejeição (v.7; Lc 19.9,10).
   3 O termo original hebraico  peti´ “simples” comunica a idéia de uma pessoa “ingênua, inexperiente, que é facilmente
enganada”, ou seja, “incauta”. “Néscio” ou “insensato” – em hebraico, kesil – tem o sentido de alguém vagaroso na compreensão
das coisas e da vida, mas inclui também a idéia de ser “ímpio, pagão ou ateu” (Sl 49.13; Ec 7.25).
   4 A expressão “adúltera” não se aplica somente à perversão sexual, mas a todo tipo de distorção da verdade, falsificação,
corrupção, deturpação e perversidade (Fp 2.15 e Pv 2.15).
   5 A “Sabedoria” é personificada e revelada com perfeição em Jesus, o Filho de Deus e o Cristo (o Messias prometido). Nele
reside, corporalmente, toda a plenitude da “Divindade” (Cl 2.9), que é a “Vida” (Jo 14.6) e a “Luz” que veio do céu (Jo 8.12) para
todos os que o aceitam com sinceridade e alegria de coração (Jo 7.17). Só essa sabedoria tem o poder de falar com autoridade
absoluta (vv.22-31; Jo 1.1; 1Co 1.30; Cl 1.17).
   6 Aqui podemos reconhecer claramente a voz de Jesus Cristo expressando seu amor incondicional pela humanidade e sua
disposição constante em atender as orações de todos que se achegam a ele (Jo 13.1; Hb 7.25).
PROVÉRBIOS 8, 9                                                158

A Sabedoria vive para sempre                                         Ele criou, e me alegrando com os seres
22 O SENHOR me possui como fundamento                                humanos!
do seu Caminho, antes mesmo do princí-                               32 Agora, pois, filhos meus, ouvi-me
pio das suas obras mais antigas;7                                    atentamente, porquanto muito felizes se-
23 fui formada desde a eternidade, desde                             rão os que guardarem os meus decretos!
a origem de tudo, antes de existir a terra.                          33 Ouvi o meu ensino e sereis sábios, não
24 Nasci quando ainda nem havia abis-                                rejeites a minha instrução.
mos, quando não existiam fontes carre-                               34 Bem-aventurado todo aquele que me
gadas de água;                                                       dá ouvidos, vigiando dia a dia à minha
25 antes de serem estabelecidos os montes                            porta, aguardando com esperança às om-
e de se formarem as colinas, eu já existia.                          breiras da entrada da minha casa.
26 Ele ainda não havia formado a terra,                              35 Porquanto, toda pessoa que me en-
tampouco os campos, ou as partículas de                              contra, acha a vida e ganha o favor do
poeira com as quais fez o mundo.                                     SENHOR.9
27 Quando Ele estabeleceu os céus, lá                                36 Todavia, aquele que decide afastar-se
estava Eu; quando delineou o horizonte                               de mim, a si mesmo se flagela; todos os
sobre a superfície do abismo,                                        que me desprezam, amam a morte!”
28 quando fixou as nuvens em cima e es-
tabeleceu as fontes do abismo,                                       O grande convite da Sabedoria
29 quando determinou as fronteiras do
mar para que as águas não ultrapassas-
sem seu ordenamento, quando assinalou
                                                                     9   A Sabedoria edificou a sua casa; er-
                                                                         gueu suas sete colunas.1
                                                                     2 Charqueou as melhores carnes do re-
as balizas dos alicerces da terra,                                   banho para o banquete, preparou seu
30 então, Eu estava com Ele e cooperei                               vinho com especiarias e arrumou sua
em tudo como seu arquiteto. Dia após                                 grande mesa.
dia tenho sido o seu prazer, sempre me                               3 Já deu ordens às suas servas para pro-
sentindo muito feliz a seu lado.8                                    clamarem os convites desde o ponto mais
31 Regozijando-me com o mundo que                                    alto da cidade, anunciando:2


   7 O trecho dos vv.22-31 veio a se constituir – ao longo da história de Israel e da Igreja – em um hino sobre a personificação e a
obra da sabedoria divina em toda a criação do Universo (1.20-33; 3.15-18; 9.1-12). Portanto, esta e outras passagens semelhantes
podem ser interpretadas como uma antecipação sobre o que o NT descreve quanto a Jesus Cristo como a própria Palavra de
Deus (Jo 1.1-3; 17.5), como também, Sabedoria de Deus (1Co 1.24,30; Cl 2.3; Jo 5.17,18).
   8 Deus, em sua plena soberania e eternidade, criou o Universo e tudo o que há, a partir do “nada absoluto”, que é o sentido
exato da palavra “criar” nos originais hebraicos do livro do Gênesis 1.1,21,27. Deus forma do “nada” as partículas básicas do
Universo, moléculas e células, enquanto sua palavra (o logos divino) e sabedoria (seu caráter amoroso e justo), reveladas na
pessoa do seu Filho, e nosso Salvador (Messias), colaboram na maravilhosa ação da Trindade para ordenar tudo de tal forma que
a humanidade possa ter alguma compreensão geral (Jo 1.1-3). E na plenitude dos tempos, no limiar do final das eras, decidiu
Deus tomar plena forma humana (encarnar) na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo; viver e sacrificar-se em benefício da vida eterna
da criação, da qual o homem, feito à imagem de Deus, é obra-prima (Gn 1.26-28).
   9 Aquele que é a vida em si mesmo é o único que pode dar a vida (Jo 14.6). E Deus (em Cristo) deseja ansiosamente dar essa
vida a todos aqueles que desejam recebê-la, mediante simples e sincera fé na pessoa e obra vicária do seu Filho, o Cristo (Jo
11.25,26; Jo 3.16-21). A KJ de 1611 traz a seguinte tradução para este versículo: For whoso findeth mee, findeth life, and shall
obtaine fauour of the LORD.
   Capítulo 9
   1 O convite divino (de Yahweh – o nome hebraico de Deus) sempre se expressou nos termos de um grande, delicioso e alegre
banquete entre amigos de verdade (Is 55.1,2). Somente em Cristo, entretanto, o Evangelho (a Salvação), esse banquete eterno,
tem seu custo total e substância plenamente compreendidos (Jo 6.51-58). Aqui a expressão hebraica  pode ser transli-
terada em hokmôť “a sabedoria” (1.20). As grandes edificações pagãs, como o magnífico templo de Afrodite e o palácio do rei
assírio Senaqueribe, costumavam ser sustentados por sete imponentes colunas. Mas a sabedoria que vem do Senhor revela suas
sete colunas, nos sete dias da criação (8.27), e mais: na Instrução, no Conselho, no Ensino, no Entendimento, na Inteligência,
no Conhecimento Pleno (para receber, no coração, a Sabedoria) e na Prudência (a melhor maneira de se aplicar o saber). Estas
palavras são as chaves para compreensão da Sabedoria e deste livro.
   2 A Sabedoria e a Insensatez convidam a humanidade para suas casas (14.7,8; 8.34). Entretanto, a Sabedoria edificou sua casa
pessoalmente (14.1; 31.10-27), não apenas utiliza a casa de outrem, nem fica “sentada” (v.14) recepcionando seus convivas. O
159                                     PROVÉRBIOS 9, 10

4 “Vinde  todos vós, os incautos!” Aos in-                       que não têm bom senso ela convida:
sensatos e desajuizados conclama:                                17 “Aágua roubada é doce, e o pão que se
5 “Vinde, comei do meu pão e bebei do                            come escondido é ainda mais saboroso!”
vinho que preparei.                                              18 Contudo, eles nem imaginam que exa-
6 Abandonai a insensatez e vivei; andai                          tamente ali residem os espíritos dos con-
pelo Caminho do arrependimento!3                                 denados à morte, que os seus convidados
7 O que censura o zombador traz afronta                          estão todos nas regiões mais profundas
sobre si; quem repreende o ímpio man-                            do inferno.4
cha o próprio nome.
8 Portanto, não admoestes o escarnece-                           A justiça e a malignidade
dor, para que não te aborreça; repreende
o sábio, e ele te amará!
9 Orienta a pessoa que tem sabedoria, e
                                                                 10     Provérbios de Salomão:1
                                                                        O filho sábio alegra o coração do
                                                                 seu pai, mas o filho insensato é a tristeza
ela será ainda mais sábia; ensina o ho-                          de sua mãe.
mem justo, e ele aumentará em muito o                            2 Os tesouros que são fruto da desones-
seu saber.                                                       tidade de nada valem, mas a justiça livra
10 O temor do SENHOR é a chave da sabe-                          da morte.
doria e conhecer a Divindade é alcançar                          3 O SENHOR não permite que o justo ve-
o pleno sentido do conhecimento!                                 nha a passar fome, mas abate a ambição
11 Porquanto por meu intermédio os teus                          dos ímpios.
dias serão multiplicados, e o tempo da                           4 As mãos preguiçosas empobrecem o ser
tua vida se prolongará.                                          humano, porém as mãos laboriosas lhe
12 Se fores sábio, o benefício será todo                         produzem riqueza.
teu; contudo, se fores zombador sofrerás                         5 Aquele que faz a colheita no verão é fi-
as conseqüências da tua própria esco-                            lho sensato, mas aquele que dorme du-
lha”.                                                            rante a ceifa é filho que causa vergonha.
                                                                 6 Sobre a cabeça do justo há bênçãos,
O convite da Insensatez, a louca                                 mas na boca dos perversos reside a bru-
13 A Insensatez é mulher sensual, exibi-                         talidade.
cionista e ignorante!                                            7 A memória do justo é abençoada, mas o
14 Sentada à porta de sua casa, no ponto                         nome dos perversos cai em podridão.
mais alto da cidade,                                             8 O sábio de coração aceita os manda-
15 propagandeia sua proposta aos que                             mentos, mas o insensato de lábios vem
transitam por ali em seus caminhos:                              a arruinar-se.
16 “Vinde todos vós, os incautos!” E aos                         9 Quem caminha com integridade anda




banquete preparado pela Sabedoria forma um contraste poético e moral com a cama perfumada da Insensata (7.17). A Sabedoria
oferece o melhor pão (iguarias), um vinho novo e especial, muito mais saboroso (Ct 8.2), ao seu grupo de convidados que proce-
de das ruas e das praças, sendo que a deficiência de tais hóspedes é a única qualificação deles (v.4).
  3 As dádivas divinas da Sabedoria à humanidade são apresentadas simbolicamente como um magnífico banquete, semelhante
aos realizados por ocasião das bodas dos grandes monarcas. Cristo (o Caminho – At 19.23; 24.22) retoma esse tema e convida
“seus servos” para seu banquete universal e eterno (Lc 14.15-24; Mt 22.1-14).
  4 A expressão hebraica original usada aqui  do she’ôl (sepultura, moradia dos mortos ou inferno) não é uma referência
específica ao futuro eterno, uma vez que a teologia hebraica dessa época tinha mais interesse em conhecer a Deus na terra e
obedecer a Ele, do que em especular sobre os detalhes da vida após a morte. Só com a vinda de Jesus Cristo (o Messias) e seus
ensinos sobre salvação e vida eterna, é que também ficou clara a doutrina da condenação à morte eterna e o aniquilamento de
Satanás e seus seguidores (Jo 3.16-21; Mc 9.44,45; Ap 20.10-14). A KJ de 1611 traduz assim este versículo: But hee knoweth not
that the dead are there; and her guests are in the depths of hell.
  Capítulo 10
  1 No original hebraico, a soma do valor numérico das consoantes do nome “Salomão”, na expressão  “de Salomão”,
resulta em 375, conforme o antigo costume judaico de atribuir números às letras (Sl 119). Curiosamente, esse é o número total
dos versículos selecionados da imensa obra (1Rs 4.32) do sábio servo do Senhor (28.7; 15.20; 17.21,25; 29.3,15), e que se acham
registrados entre os capítulos 10.1 e 22.16.
PROVÉRBIOS 10, 11                                              160

em segurança, mas quem segue por tri-                                22 A bênção do SENHOR produz riqueza e
lhas tortuosas será descoberto.                                      não provoca sofrimento algum.
10 Aquele que se comunica com olhares                                23 Para o insensato, praticar a iniqüidade
maliciosos provoca infelicidades, assim                              é um divertimento; mas o ser humano
como a boca do insensato o leva à des-                               verdadeiramente inteligente deleita-se
truição.                                                             na sabedoria.
11 Os lábios do justo são fonte de vida,                             24 Aquilo que teme o ímpio, isso mesmo
mas a boca dos ímpios abriga a violên-                               lhe acontecerá; o que os justos esperam
cia.2                                                                lhes será concedido.
12 O ódio provoca contendas, mas o amor                              25 Como passa a tempestade, assim desa-
cobre todas as transgressões.3                                       parece o perverso, mas o justo permane-
13 Nos lábios do prudente se encontra                                cerá firme para sempre.4
a sabedoria, mas a vara da repreensão é                              26 Como vinagre para os dentes e fumaça
para as costas do desajuizado.                                       para os olhos, assim é o preguiçoso para
14 Os sábios acumulam conhecimento,                                  aqueles que o supervisionam.
mas a boca do néscio é um atalho para                                27 O temor do SENHOR prolonga os dias
a ruína.                                                             da nossa existência, mas o tempo de vida
15 Os bens dos ricos são sua cidade for-                             dos perversos será abreviado.
tificada, mas a pobreza é a humilhação                               28 O objetivo do justo será concluído
dos pobres.                                                          com alegria, mas as ambições dos ímpios
16 O salário do justo lhe proporciona                                darão em nada.
uma vida feliz, mas as rendas do perverso                            29 O Caminho do SENHOR é o refúgio dos
o conduzem ao castigo.                                               íntegros, entretanto, será a destruição de
17 Quem recebe bem a disciplina conhece                              todos os que praticam o mal.
o caminho da vida, mas quem ignora a re-                             30 Os justos jamais serão definitivamente
preensão desencaminha a si e aos outros.                             abalados, mas os ímpios pouco perma-
18 Quem esconde o ódio tem lábios fal-                               necerão na terra.
sos, e quem espalha calúnia é insensato.                             31 A boca do justo produz sabedoria, mas
19 Quando se fala demais é certo que o                               a língua perversa será extirpada.5
pecado está presente, mas quem sabe                                  32 Os lábios justos sabem como falar agra-
controlar a língua é prudente.                                       davelmente; entretanto, a boca dos ímpios
20 A língua dos justos é prata da melhor                             só tagarela perversidades.
qualidade, mas o coração dos ímpios
quase não tem valor.                                                 A Integridade e o bom nome
21 As palavras dos justos alimentam mui-
tas pessoas, mas os insensatos morrem
por falta de juízo.
                                                                     11     Deus tem ódio das balanças de-
                                                                            sonestas, mas os pesos exatos lhe
                                                                     dão prazer!


   2 Em qualquer situação devemos conversar de maneira controlada e compreensiva, ainda que tenhamos de ser firmes e decisivos. A
conversa torpe, autoritária e abrutalhada coopera na formação de um ambiente beligerante, rixoso, malicioso e odioso (Ef 4.25-32).
   3 O verdadeiro amor, em toda a amplitude do seu significado sempre promoverá o perdão e a reconciliação. A expressão he-
braica original kasah “cobrir” comunica o sentido de “expiar”, “apagar”, “cancelar a dívida”. Este versículo foi citado também por
Tiago e pelo apóstolo Pedro no NT (Tg 5.20; 1Pe 4.8). Jesus Cristo foi quem pagou toda a nossa dívida por meio do seu próprio
sangue e nos deixou o maior exemplo prático de amor e perdão (Cl 2.14).
   4 O homem prudente constrói sua casa sobre a Rocha (Cristo – 1Pe 2.4-10). Este é um fundamento perpétuo: o justo permane-
cerá vivo e feliz para sempre, enquanto o ímpio e insensato passará de uma hora para outra, e dele ninguém mais se lembrará (Mt
7.24-27; Sl 37.10; 15.5; Is 28.18; 1Co 15.58). A KJ 1611 traduziu este versículo assim: As the whirlewinde passeth, so is the wicked
no more: but the righteous is an euerlasting foundation.
   5 A expressão hebraica original , transliterada em hokmâh “a sabedoria”, comunica, nas Sagradas Escrituras, a qualidade
de ser “arguto para o bem”, embora esse mesmo termo fora da Bíblia tenha apenas o sentido de “grande inteligência, perspicácia
e perícia técnica” (Êx 31.3; Ez 27.8). Contudo, a “sabedoria plena” pertence a Deus e é dom de Deus aos amados de seu Filho,
Jesus, o Messias (Jo 12.12-36). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: The mouth of the iust bringeth foorth wisedome: but the
froward tongue shalbe cut out.
161                                          PROVÉRBIOS 11

2 Em vindo a arrogância, chega logo tam-                             frerá as conseqüências; entretanto, quem
bém a desonra, mas com os humildes                                   evita assumir a responsabilidade de ou-
está a sabedoria.1                                                   trem estará seguro e em paz.
3 A integridade dos justos os guia, mas a                            16 A mulher gentil e honrada alcança o
falsidade dos infiéis os aniquila.                                   respeito de todos, mas os homens per-
4 As riquezas acumuladas não terão valor                             versos só conquistam bens materiais.
algum no Dia da ira divina, mas a justiça                            17 Quem faz o bem aos outros, a si mes-
livrará o fiel da morte.2                                            mo o faz; a pessoa cruel provoca sua pró-
5 A retidão dos íntegros de coração lhes                             pria ruína.
descortina o caminho justo, mas os ím-                               18 O ímpio recebe pagamentos engano-
pios são abatidos por sua própria perver-                            sos, mas quem semeia a justiça colhe se-
sidade.                                                              gura recompensa.
6 A integridade das pessoas justas as li-                            19 Tão certo como a retidão conduz a
vrará, mas em sua malignidade os infiéis                             uma vida feliz, assim o que segue o ma-
serão apanhados.                                                     ligno corre para sua própria morte.
7 Assim que o ímpio morre, toda a sua                                20 O SENHOR detesta todas as pessoas
esperança perece com ele; todos os seus                              perversas de coração, mas aqueles que
planos acabam em nada.                                               andam em integridade de coração são a
8 O justo é salvo das tribulações, e elas                            sua alegria.
são transferidas para o ímpio.                                       21 Tendes todos esta certeza: os maus não
9 O ímpio, com sua própria boca, destrói                             ficarão sem o devido castigo, mas os jus-
o próximo, mas os justos encontram a li-                             tos serão perdoados!
berdade por meio do real conhecimento.                               22 Como anel de ouro em focinho de
10 Com a prosperidade dos justos toda a                              porco, assim é a mulher bonita, mas in-
cidade fica feliz; quando os ímpios pere-                            discreta.
cem há música e alegria no ar.                                       23 As ambições dos justos resultam em
11 Os justos abençoam a cidade por meio                              bem para muitos; a esperança dos ím-
das bênçãos que recebem, mas pela boca                               pios, somente em desgosto e ira.
dos perversos é destruída.                                           24 Quem dá com generosidade, vê suas
12 O que despreza o próximo é falto de                               riquezas se multiplicarem; outros prefe-
senso, mas a pessoa prudente sabe o mo-                              rem reter o que deveriam ofertar, e caem
mento de se calar.                                                   na pobreza.
13 O fofoqueiro trai a confiança de quem                             25 O generoso sempre prosperará; quem
quer que seja, mas aquele que guarda um                              oferece ajuda ao necessitado, conforto
segredo merece crédito.                                              receberá.
14 Não havendo sábia direção, toda a na-                             26 O povo amaldiçoa aquele que esconde
ção é arruinada; o que a pode restaurar é                            o trigo para alcançar maior preço, mas a
o conselho de muitos sábios.                                         bênção alcança aquele que logo se dispõe
15 Quem serve de fiador com certeza so-                              a atender o povo.


    1 A arrogância é o único pecado sem perdão; não porque Deus não possa perdoar o soberbo, mas porque a pessoa altiva
jamais reconhece profundamente seus erros e, portanto, não é capaz de pedir perdão com a sinceridade de quem deseja aban-
donar o erro e obedecer ao Senhor. A expressão hebraica original  zãdôn refere-se a “arrogância” ou “insolência”, que é
sempre causada por um desequilíbrio na balança da auto-estima: desenvolvemos um conceito exageradamente alto de nossa
própria pessoa ou capacidades e um baixo conceito ou desconsideração pelo talento ou virtudes de outrem. Quando esse mes-
mo sentimento se aplica à pessoa de Deus, corremos o risco de cometer o pecado da blasfêmia (16.18). Já o termo hebraico
 cãnüah “os humildes”, em sua forma verbal de “andar humildemente” diante do Senhor, se junta às virtudes paralelas, do
humilde: a justiça e a misericórdia, o fundamento e o âmago da piedade e da verdadeira religião de Deus, descrita no AT (Mq
6.8; Pv 15.33; 29.23).
    2 O dia (ou período) do grande e terrível juízo final de Deus sobre a terra e a humanidade é chamado nas Escrituras, de: Dia do
Juízo (Is 10.3; Sf 1.18); Dia da ira (Lm 2.22; Sf 2.2; Rm 2.5); Dia do Senhor (Is 2.12; 13.6; Ez 30.3; Jl 1.15; 2.11); Dia da vingança
(Jr 46.10).
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028 proverbios

  • 1. INTRODUÇÃO PROVÉRBIOS Autoria O próprio livro de Provérbios apresenta Salomão (971-931 a.C.), filho do grande rei Davi com Bate-Seba (2Sm 12.24), como o principal autor e compilador dos ditados e instruções sapienciais que formam esta obra canônica (1.1). Os escritos que se encontram registrados entre 10.1 e 22.6 são de sua direta e pessoal autoria. Contudo, Salomão selecionou – com sabedoria divina – os mais apropriados pensamentos e ditados entre as centenas de sábios que vinham anualmente ao reino unificado de Israel para conhecer, aprender e trocar experiências com o maior líder nacional, pacifi- cador, administrador, conselheiro e sábio hebreu de todos os tempos. A passagem de 22.17 revela as conclusões poéticas de alguns “Sábios”, e 24.23 cita ainda a contribuição de “outros sábios”. A introdução de 22.17-21 é uma comprovação de que as diversas sessões da obra são fruto de um colegiado de homens de Deus e sábios, e não apenas do próprio Salomão. O capítulo 30 tem como mentor o sábio Agur, filho de Jaque e o rei Lemuel com sua mãe são considerados os autores do trecho bíblico que encerra o livro de Provérbios. A extraordinária capacidade intelectual de Salomão é evidenciada no Primeiro Livro dos Reis (4.29- 32), que afirma ser Salomão autor de 3.000 provérbios. O destaque conferido ao “temor do Senhor” como a chave para uma vida feliz aqui, agora e na eternidade (1.7), é o elo indelével de todas as sessões e conclusões da obra. Propósitos No livro de Provérbios, a sabedoria tem sua origem em Deus, Yahweh. Os ditados e instruções da obra têm um principal objetivo: revelar prudência aos incautos; conhecimento e bom senso aos jovens (1.4); assim como aumentar a inteligência dos sábios (1.5). O uso freqüente da expressão “filho meu” ressalta a idéia de um monarca que ama a Deus, sábio e muito experiente na arte de viver, que, amorosa e pacientemente, procura conduzir seus súditos mais jovens e inexperientes pelo caminho da paz, da saúde e da prosperidade eterna (1.8,10; 2.1; 3.1; 4.1; 5.1). Embora esta obra seja eminentemente prática e menos teológica, o alicerce de toda a sua praxe repousa sobre o princípio filosófico de que o “temor do Senhor” é o segredo de uma vida feliz (1.7). Nos primeiros capítulos (de 1 a 9), a obra revela que o caminho da sabedoria é absolutamente oposto a qualquer atitude arrogante, violenta e imoral (1.11-18; 2.16-18). Ao mesmo tempo, Provérbios critica severamente a esposa implicante e briguenta (19.13; 21.9,19), e os maridos insensíveis, preguiçosos e rabugentos (14.29; 26.21). O lar deve ser um lugar de amor, respeito, descanso e encorajamento para a alma (15.17; 17.1). A intriga e a difamação são expressamente condenadas (10.19; 17.27). O tempo e a comunica- ção devem servir para a edificação saudável e integral dos filhos e dos alunos ou discípulos (1.8; 22.6; 31.26). O sistema disciplinar formado por ministração, ensino, acompanhamento, correção e repreensão e indispensável à boa educação e formação de filhos, empregados e alunos em geral (13.24). Por isso, Provérbios incentiva o trabalho honesto e dedicado (10.4; 31.17-19), repudiando o preguiçoso e aproveitador (6.6; 20.13). A boa e verdadeira riqueza está associada a retidão, jus- tiça e esforço competente (3.16); enquanto a miséria é, quase sempre, fruto de iniqüidade e falta do “temor do Senhor” (22.16). Há riquezas perversas e sobre elas Provérbios faz severos alertas (15.16; 28.6). Os reis e governantes têm obrigação de agir com honestidade e justiça (31.5). Os que tratam os mais fracos e pobres com misericórdia e cooperação serão grandemente abenço- ados por Deus (14.21). Os ímpios e arrogantes serão exterminados subitamente (11.2; 16.18), es- pecialmente aquele soberbo que vive questionando e zombando da fé e do comportamento limpo e justo dos crentes no Senhor (1.22; 21.24). Os que se entregam ao álcool e a quaisquer outras drogas vivem sob depressão e muita tristeza e precisam desistir de seus vícios o quanto antes e apegar-se a Deus (20.1; 23.29-35).
  • 2. Mesmo não tendo a preocupação de ser uma obra teológica, Provérbios faz questão de apresentar Deus como o Criador do Universo, Aquele que detém o tempo, a matéria e a História em suas mãos, controlando cada mínimo detalhe na Terra e no Universo (16.4,9,33; 20.24; 14.31; 5.21; 15.3). A “Sabedoria”, como atributo do caráter de Deus é personificada (8.22-31). Não há situação impossível para Deus, pois é Ele quem dirige e muda o próprio coração dos reis, segundo seus propósitos santos e justos (21.1). Data da primeira publicação A escrita e o estilo poético-sapiencial dos provérbios já eram áreas bastante apreciadas pelos povos do Oriente Próximo (cananitas, hititas), especialmente na Mesopotâmia e no Egito, desde o segundo milênio a.C. A técnica literária de personificar uma grande virtude a ser exaltada e ensinada é visível em muitas passagens do livro bíblico de Provérbios (1.20; 3.15-18; 8.1-36). Os “30 ditados dos Sábios”, que fazem parte do cânon das Escrituras Sagradas (22.17 a 24.22), apresentam grande semelhança com as 30 sessões da conhecida obra egípcia “Sabedoria de Amenemope”, publicada por volta da mesma época de Salomão. Nesse sentido, considerando o papel fundamental do rei Sa- lomão na autoria e coletânea dos melhores pensamentos disponíveis em sua época, sobre o relacio- namento do homem com Deus, Yahweh (o nome sagrado e impronunciável de Jeová ou Iavé: YHWH, o Eu Sou dos judeus e de todos os crentes, o Senhor – Êx 3,14, 15; Mt 16.15-17), podemos inferir que o livro de Provérbios, como o conhecemos, foi publicado por volta do século 10 a.C. Um período em que Israel e os povos vizinhos experimentaram grande paz, prosperidade e desenvolvimento cultural. Tudo isso, fruto do amor sincero e dedicado do rei Davi e de seu filho Salomão, por Deus, por seu povo e pela humanidade em geral. A vida do rei Salomão mostra o que um líder nacional pode fazer por sua nação e pelo mundo, quando verdadeiramente comprometido em servir a Deus. O próprio livro de Provérbios nos revela que um grupo especial de sábios, conhecido como “os servos de Ezequias, rei de Judá” (25.1), foi encarregado de selecionar, organizar, editar e publicar seções completas dos pensamentos e escritos de Salomão, por volta dos anos 715 e 686 a.C. Época de grande reavivamento espiritual em Israel, motivado pelo próprio Ezequias rei, que amava a exten- sa obra poética e literária de Davi e de Asafe (2Cr 29.30). Foi nesse tempo que as palavras proféticas (no sentido de “oráculo”, de instrução e transmissão da Palavra de Deus ao povo) do sábio Agur (cap.30) e do rei Lemuel (cap.31.1-9), assim como os demais ditados dos “Sábios” foram incorpora- dos à coletânea que deu origem ao cânon do livro de Provérbios, como o temos hoje, na edição da Bíblia King James Atualizada - KJA (22.17 a 24.22; 24.23-34). Esboço geral de Provérbios       I.  Prefácio: autor, propósito e tema (1.1-7)       II.  Dois conjuntos de sete princípios de sabedoria (1.8 – 9.18)          A)  Primeiro conjunto dos princípios do saber: 1.  O poder e as riquezas conquistados por meios imorais e violentos (1.8-33) 2.  A graça e a riqueza da sabedoria e do discernimento que vêm de Deus (2.1-22) 3.  Deus sempre abençoará o esforço daqueles que nele confiam (3.1-10) 4.  Descobrir o valor da disciplina é encontrar valioso tesouro (3.11-20) 5.  Um único Caminho é certo, e o amor ao próximo passa por ele (3.21-35) 6.  A sabedoria bíblica é o maior tesouro de uma família (4.1-9) 7.  A sabedoria do Senhor nos ajuda a tomar o Caminho certo (4.10-19)          B)  Segundo conjunto dos princípios do saber: 1.  O filho de Deus precisa demonstrar justiça e bom senso ao mundo (4.20-27) 2.  O cuidado para não se deixar levar pelos ardis da carne e do maligno (5.1-6) 3.  O amor verdadeiro é absolutamente oposto à concupiscência (5.7-23) 4.  Cuidados com a fiança, a preguiça e os enganos malignos (6.1-19) 5.  A imoralidade e o adultério são loucuras: fuja dessas ciladas (6.20-35) 6.  Quem busca viver em santidade contará com as bênçãos de Deus (7.1-27) 7.  A personificação da Sabedoria em busca do coração humano (8.1-9.18)
  • 3.       III.  Provérbios escritos por Salomão e as palavras dos sábios (10.1-29.27) 1.  A extraordinária sabedoria divina e inteligência de Salomão (10.1-22.16) 2.  A primeira parte dos ditados dos Sábios (22.17 – 24.22) 3.  A segunda parte dos ditados dos Sábios (24.23-34) 4.  Os pensamentos de Salomão pelos sábios do rei Ezequias (25.1-29.27)       IV.  Os oráculos do sábio Agur (30.1-33) 1.  A verdade e a mentira – o meio termo ou a difamação (30.1-10) 2.  Caluniadores e enganadores – os desobedientes (30.11-17) 3.  Os quatro caminhos misteriosos, e a queda no adultério (30.18-20) 4.  Os quatro eventos que surpreendem o mundo (30.21-33)       V.  Oráculos do rei Lemuel e da rainha-mãe (31.1-9)       VI.  Acróstico da mulher virtuosa (31.10-31).
  • 4. PROVÉRBIOS O princípio da sabedoria1 Advertências contra as seduções 1 Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel. 2 Para aprender a viver de maneira inte- 8 Filho meu, ouve a instrução de teu pai e não menosprezes o ensino de tua mãe.5 ligente e disciplinada; para entender os 9 Pois eles formarão uma coroa de bên- ensinos que produzem sabedoria;2 çãos para a tua cabeça e colar de honra 3 para desenvolver um caráter correto e para o teu pescoço. perspicaz, vivendo de maneira justa, com 10 Filho meu, se pessoas perversas tenta- eqüidade e bom senso; rem seduzir-te, não o permitas! 4 para dar prudência aos simples, assim 11 Se te convidarem: “Vem conosco, em- como conhecimento e juízo aos jovens.3 bosquemo-nos para assaltar e matar al- 5 Mesmo o sábio que lhes der ouvidos guém; espreitemos o incauto, ainda que aumentará em muito seu entendimento, apenas por diversão! e quem tem discernimento obterá clara 12 Traguemo-los vivos, como a sepultura orientação engole os mortos; vamos destruí-los por 6 para compreender o significado das pa- completo, como são aniquilados os que lavras e parábolas, ditados e enigmas dos descem à cova; sábios. 13 encontraremos todo tipo de objetos 7 O temor do SENHOR é o princípio do co- valiosos e encheremos as nossas casas nhecimento, mas os insensatos despre- com tudo o que roubarmos;6 zam a sabedoria e a disciplina.4 14 junta-te ao nosso bando; dividiremos 1 Jafar Sadeq, considerado pela tradição muçulmana xiita como um de seus santos mais destacados, encontrou-se com um religioso ocidental e lhe perguntou: “Quem pode ser considerado sábio?” Depois de pensar um pouco, o religioso lhe disse: “Aquele que pode distinguir entre o bem e o mal”. Ao que replicou o mestre xiita: “Então, até mesmo um macaco pode ser con- siderado sábio, pois que é capaz de discernir entre o que é bom e ruim para ele”. Entretanto, a Palavra de Deus nos garante que a amorosa, sincera e reverente devoção a Deus (expressão aqui traduzida por “temor”) é a lei magna e princípio fundamental de todo o saber (v.7). A sabedoria divina de Salomão, sua profícua produção literária de provérbios e cânticos em louvor ao Senhor Deus são citados em 1Rs 4.32; Ec 1.1; Ct 1.1; Pv 10.1; 25.1. 2 “Sabedoria” é palavra-chave nesta obra canônica e ocorre mais de 40 vezes em todo o livro. Seu significado inclui a idéia de aplicar a inteligência divina nas idéias e práticas humanas cotidianas. O livro dos provérbios é uma convocação para um viver sadio e bem sucedido, em harmonia com os justos e imutáveis desígnios de Deus (3.13,14; 4.5). Jesus Cristo, o Messias, é a expressão exata da sabedoria de Deus (1Co 1.30; Cl 2.3). 3 A palavra, aqui traduzida por “prudência”, no original hebraico é uma expressão tão forte que, na literatura hebraica, fora do cânon bíblico, é normalmente usada com conotação negativa de “ardil” ou “astúcia” (Gn 3.1; Jó 5.13). Os “simples” ou “inexpe- rientes” são expressões (e seus sinônimos) que aparecem no texto bíblico mais de 15 vezes, sempre com o propósito de se referir às pessoas que se deixam influenciar facilmente; os incautos, ingênuos, inseguros ou de personalidade fraca, alguns devido à pouca experiência com a vida e nos relacionamentos humanos e à dificuldade em dominar suas vontades (9.4,16; Sl 19.7). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: To giue subtiltie to the simple, to the yong man knowledge and discretion. 4 O v.7 resume o tema da obra:  “o temor” do Senhor, que é a maneira bíblica hebraica original de se referir à plena, alegre e amo-    rosa submissão do ser humano ao seu Criador e Pai – Deus Yahweh – a quem, como súditos celestes, devemos honra e a cuja Palavra devemos obediência (9.10; 31.30; Jó 28.28; Sl 2.11; 111.10; Is 12.6; Ec 12.13; Ml 1.14). Em contraposição, temos a figura do “insen- sato”, expressão cujo sentido mais amplo e dramático refere-se ao “louco”, não exatamente ao doente mental, mas especialmente ao “tolo”, aquele que diante da verdade e da vida prefere a mentira e a morte (v.22; Jo 1.9-12; Pv 5.12; 12.1; 20.3; 28.26; 29.11; Sl 14.1). 5 Na prática diária da vida hebraica, especialmente nos tempos antigos, o pai e a mãe são os primeiros e melhores mestres que um ser humano pode ter: é um privilégio, particularmente nos primeiros anos de vida. Por isso, é comum no Oriente, os mestres tratarem seus alunos como filhos (6.20). A KJ de 1611 traduz: My sonne, heare the instruction of thy father, and forsake not the law of thy mother. 6 O poder e o prazer são tentáculos do deus Dinheiro (Mâmon), que desde a mais tenra idade procuram seduzir e manipular os “tolos” e “volúveis”. Pessoas cujo egoísmo não lhes permite resistir aos encantos e prazeres do poder, seja qual for o preço a
  • 5. PROVÉRBIOS 1 148 em partes iguais o resultado de tudo o ção: eis que derramarei copiosamente que tomarmos!” sobre vós o meu espírito e vos revelarei 15 Filho meu, não sigas pelo caminho as minhas palavras.10 desse tipo de gente! Afasta os teus pés 24 Contudo, visto que vos convoquei ao para longe das veredas que eles seguem,7 arrependimento e vós recusastes; porque 16 pois os pés deles se precipitam para o estendi a mão e não houve quem aten- mal e correm para derramar sangue. desse; 17 Assim como é inútil estender a rede de 25 em vez disso, rejeitastes todo o meu caça, se as aves te observam,8 conselho e não aceitastes a minha repre- 18 da mesma maneira essas pessoas não ensão, percebem que armam cilada contra a 26 eu, de minha parte, zombarei da vos- própria vida; constroem emboscadas sa desgraça; me rirei quando o terror se para sua própria destruição! abater sobre vós,11 19 Tal é a vereda de todo ganancioso; e a 27 em vindo o flagelo como a tempesta- ambição pelo lucro ilícito conduz o in- de sobre vós; em vindo a vossa completa sensato à ruína. perdição como o furacão, quando a afli- ção e a dor vos desesperarem. Exortação à sabedoria 28 Então, suplicarão minha atenção, en- 20 A Sabedoria clama em alta voz pelas tretanto, não vos responderei; buscar- ruas, proclama nas praças públicas;9 me-ão, porém, não me hão de encontrar. 21 brada do alto dos muros; à entrada das 29 Porquanto desprezaram o conheci- portas da cidade profere em alta voz o mento e rejeitaram o temor do Eterno, seu discurso: o SENHOR, 22 “Até quando, ó insensatos, amareis a 30 não desejaram receber o meu conselho insensatez? E vós, zombadores, até quan- e foram indiferentes à minha advertên- do tereis prazer na zombaria? E, vós, des- cia! controlados, até quando desprezareis o 31 Portanto, comerão do fruto de suas conhecimento? decisões e atitudes, e se fartarão de suas 23 Convertei-vos, pois, à minha exorta- próprias elucubrações inúteis.12 pagar; que estão prontas a derramar sangue inocente para obter seus intentos sórdidos (v. 13,19; 3.14-16; 5.1-6; 6.24; 7.5; 16.16; Jó 28.12-19; Mt 6.24). 7 O caminho do adultério (não apenas sexual, mas toda alteração da verdade e justiça) é ilusório (aparentemente interessante, sedutor e prazeroso), mas conduz, invariavelmente, a dois resultados: produz muito mal às outras pessoas (v.16) e aos próprios incautos (vv.17-19). 8 Uma alusão a um antigo adágio oriental: “Ave experiente (e suculenta) não cai em laço simples”. Os caçadores (corruptores e mal-intencionados) freqüentemente caem em suas próprias armadilhas (emboscadas – v.11): é só uma questão de tempo (Sl 7.15; Pv 26.27; Ec 10.8). 9 Salomão é dirigido por Deus para personificar a “Sabedoria”, fazendo referência à própria pessoa de Jesus Cristo, que prome- te conceder o seu Espírito (v.23), mediante oração invocatória (de aceitação da Graça – v.28), adverte todos aqueles que zombam e desdenham da sua Palavra, mas promete a paz e a felicidade aos que o aceitam de coração sincero (vv.32,33; Mt 5.6). 10 Ainda é tempo de o arrogante, presunçoso, insensível, avarento, hedonista e egoísta se render humildemente aos pés de Cristo e receber a graça salvadora de Deus. Há uma fonte de refrigério de alma e sabedoria jorrando, ininterruptamente, à disposi- ção de todas as pessoas da terra (18.4). Contudo, chegará o momento em que essa fonte cessará de jorrar na terra e o derradeiro juízo terá início, sem clemência (v.24; Is 1.4; 5.24; Mt 23.37). 11 Este verso não deve ser compreendido como uma atitude simplesmente vingativa ou possivelmente descontrolada de Deus, mas como uma reprodução da exultação humana, frente ao glorioso momento de sua redenção, depois de tanto tempo passado sob as tentações, a exploração e zombaria daqueles que se achavam imbatíveis, auto-suficientes e rebeldes contra Deus, seus ser- vos e seus princípios. O sábio poeta retrata a alegria do justo que, finalmente, vê com satisfação o mal ser definitivamente destruído. Deus dará sua resposta aos reis da terra que usurparam seus poderes e imaginaram ser iguais à divindade (6.12-15; Sl 2.4). 12 É comum às pessoas clamarem diante de um perigo, grave acidente ou catástrofe: “Ó, meu Deus!” Todavia, no instante preciso em que o Dia do Senhor chegar, e com ele o grande e derradeiro Juízo, não adiantarão expressões de arrependimento e súplicas por perdão e misericórdia (vv.20,27; 18.20; 31.31; Is 3.10). “Portanto, tudo o que o ser humano semear, isso também colherá!” (Gl 6.7).
  • 6. 149 PROVÉRBIOS 1, 2 32 Pois a imprudência dos néscios os ma- 8 pois guarda os passos do justo e protege tará; e o falso bem-estar dos insensatos o caminho de seus santos.4 os levará à destruição. 9 Desse modo, compreenderás bem o que 33 Mas aquele que me der ouvidos vive- significa ser justo, ter juízo, agir com reti- rá em plena paz, seguro e sem temer mal dão, e aprenderás os caminhos do bem. algum!”13 10 Pois a sabedoria habitará em teu co- ração, e o conhecimento será agradável Lucros de uma vida sábia à tua alma.5 2 Meu filho, se aceitares os meus con- selhos e abrigares contigo os meus mandamentos,1 11 O bom senso te guardará, e a plena in- teligência te protegerá. 12 A sabedoria te livrará das veredas dos 2 com o objetivo de considerar atenta- maus, das pessoas de palavras ardilosas; mente a sabedoria e inclinar o coração 13 dos que abandonam o caminho da para o discernimento,2 verdade e trilham os atalhos da mentira 3 e, se clamares por entendimento, e por e das trevas; inteligência suplicares, aos brados; 14 que se alegram em praticar o mal e co- 4 se buscares a sabedoria como quem memoram a crueldade dos perversos, procura a prata, e como tesouros escon- 15 seguem por atalhos tortuosos e se ex- didos a procurares, traviam em suas próprias trilhas. 5 então, compreenderás o que significa 16 A sabedoria também te livrará da mu- o temor do SENHOR e acharás o conheci- lher imoral, da pervertida que visa sedu- mento de Deus.3 zir com palavras e sensualidade,6 6 Porquanto é o SENHOR quem concede 17 que abandona aquele que desde a ju- sabedoria, e da sua boca procedem a in- ventude foi seu companheiro dedicado, teligência e o discernimento. ignorando a aliança que pactuou diante 7 Ele reserva a plena sabedoria para os de Deus.7 justos; como um escudo protege quem 18 A mulher imoral caminha a passos procura viver com integridade, largos em direção à morte, que é a sua 13 Os “tolos” seguirão suas próprias e mais obscuras vontades rumo à destruição. O “sábio” andará na companhia do Espírito de Deus e jamais se arrependerá; ainda que passe por crises e momentos de aflição, reinará em triunfo, paz e felicidade sobre a terra (Is 32.9,18; Ez 34.27; Am 6.1; Sf 1.12). Capítulo 2 1 O sábio conclama os jovens ou inexperientes (tanto na vida quanto na comunhão com Deus) a depositarem a sabedoria em seus corações com todo o carinho e segurança, assim como o salmista exorta que guardemos a Palavra de Deus (Sl 119.11; Is 55.11). A expressão original hebraica  “meus mandamentos” não deixa dúvida sobre as ordens expressas do Senhor. 2 A expressão hebraica traduzida nas edições de KJ, desde 1611, como “coração”, corresponde, na antiga cultura hebraica, a “entranhas” ou a “intestinos”, por causa da sensação (frio na barriga) normalmente experimentada quando se sente uma forte emoção, e significa o “centro das decisões humanas”; sendo assim traduzida também, em algumas passagens, por “mente” ou “razão” (4.21; 1Rs 3.9). A KJ de 1611 publica assim este versículo: So that thou incline thine eare vnto wisedome, and apply thine heart to vnderstanding. 3 A expressão hebraica aqui traduzida por Deus é Elohim (v.17; Gn 2.4; Pv 3.4; 25.2; 30.9). O sábio nos exorta a conhecer a Deus como pessoa (Pai), como única maneira de alcançar vida sábia e eterna (v.6; Fl 3.10-11). 4 A expressão hebraica original “santos” significa aqueles que foram “santificados”; escolhidos e separados pelo Espírito de Deus para sua honra e glória (Rm 1.7; 8.14). 5 Os que aceitam a Palavra de Deus e recebem com sinceridade a sua Graça, aprenderão, com o Espírito do Senhor, a agir com sabedoria em todas as circunstâncias (Hb 5.11-14). 6 A expressão hebraica original e literal “forasteira” ou “estrangeira” carregava o sentido de que as mulheres judias eram tementes ao Senhor e, portanto, somente as gentias ou pagãs eram “imorais”. Contudo, o significado mais amplo diz respeito ao afastamento da Lei e, especialmente, do amor sincero e dedicado ao Senhor, a fim de se entregar aos ilusórios prazeres mun- danos (5.3,10,20; 6.24; 7.5,21; 23.27; 1Rs 11.1). 7 O crente sincero é leal e, por seu amor e fé em Deus, não quebra pactos assumidos diante do Senhor, como o caso da “aliança” matrimonial, normalmente celebrada na juventude, com a pessoa a quem se prometeu amar e cooperar na construção de uma família temente a Deus por toda a vida (Is 54.6; Ez 16.8; Ml 2.14; Êx 20.14).
  • 7. PROVÉRBIOS 2, 3 150 derradeira habitação, e cujas trilhas to- 5 Confia no SENHOR de todo o teu coração das conduzem ao lugar dos espíritos e não te apóies no teu próprio entendi- mortos.8 mento.3 19 Os que a procuram jamais retornarão, 6 Reconhece o SENHOR em todos os teus tampouco voltarão a encontrar o cami- caminhos, e Ele endireitará as tuas vere- nho da vida! das. 20 Entretanto, a sabedoria te fará an- 7 Não sejas sábio aos teus próprios olhos; dar pelo caminho dos homens de bem e teme ao SENHOR e aparta-te do mal. aprenderás a guardar a vereda dos justos. 8 Isso se constituirá em saúde para o teu 21 Porquanto os justos herdarão a terra, e corpo e vigor para os teus ossos. os íntegros nela habitarão;9 9 Honra ao SENHOR com teus bens e com 22 porém os ímpios serão exterminados as primícias de todos os teus rendimen- da face da terra, assim como dela serão tos; desarraigados os insinceros e desleais. 10 e se encherão com fartura os teus celei- ros, assim como transbordarão de vinho O sábio ama e obedece a Deus os teus reservatórios.4 3 Filho meu, não te esqueças das mi- nhas ordenanças, mas permite que o teu coração guarde os meus mandamen- 11 Filho meu, não desprezes a disciplina do SENHOR, nem te sintas magoado por causa da sua repreensão. tos, 12 Porquanto o SENHOR corrige a quem 2 porquanto eles prolongarão a tua vida ama, da mesma forma que o pai re- por muitos anos e te concederão plena preende o filho a quem deseja todo o prosperidade e paz.1 bem.5 3 Que a benignidade e a lealdade jamais 13 Bem-aventurado o homem que acha te abandonem: ata-as ao redor do pesco- a sabedoria, e a pessoa que encontra o ço, escreve-as na tábua do teu coração. entendimento, 4 Assim, encontrarás favor diante de 14 pois a sabedoria é muito mais proveito- Deus e dos homens, bem como boa re- sa que a prata, e o lucro que ela proporcio- putação.2 na é maior que o acúmulo de ouro fino. 8 A expressão hebraica original transliterada refaim significa “espíritos dos mortos” ou “reino das sombras” (7.27; Jó 26.5). Os falecidos estão no Sheol, expressão hebraica original que se refere à sepultura, ao pó da terra para onde nossos corpos voltam, às profundezas obscuras ou às “moradas dos mortos” (1.12). Uma vida dedicada à prática da imoralidade (uma ação imoral leva sempre a outra e mais outra), pavimenta o caminho que conduz rapidamente à destruição e à morte dos envolvidos (5.5; 9.18). 9 As terras de Canaã haviam sido prometidas por Deus a Israel (Gn 17.8; Dt 4.1). Na terra prometida o povo de Deus encontraria plena paz e liberdade para viver em alegre devoção a Deus – Yahweh. Essa promessa foi ampliada para todos os povos, mediante o sacrifício vicário de Cristo, o Messias (v.22; Dt 28.63; Sl 37.9-29; Mt 5.5). Capítulo 3 1 A obediência amorosa aos mandamentos e princípios da Palavra de Deus (o temor ao Senhor – 1.7) proporciona saúde ao corpo, paz ao espírito e, portanto, vida longa (v.8; 9.10,11; 10.27; 19.23). Essa é a promessa do quarto grande mandamento (Êx 20.12), que faz parte também dos ensinos de Jesus Cristo. Salomão orou pedindo sabedoria, e Deus lhe prometeu paz, prospe- ridade e longevidade saudável, se permanecesse obediente à sua Palavra (1Rs 3.13,14). 2 O sábio crescerá em graça diante de Deus e dos homens, conforme o exemplo que nos deixou o Senhor Jesus (Lc 2.52; Rm 12.17; 2Co 8.21). A expressão hebraica original  “confia” refere-se à atitude de depositar toda a nossa fé na pessoa de Deus.   3 O ser humano herdou de Deus a criatividade (capacidade de resolver problemas e ordenar o caos), mas para uma solução perfeita e duradoura, devemos sempre consultar o Senhor (em oração) e sua Palavra. Não confiar jamais apenas em nossa força e sentimentos, mas depositar toda a nossa fé no amor e poder de Deus, da mesma forma que os antepassados de Israel con- fiaram em Deus e foram salvos (Sl 22.4,5; 37.5; Nm 14.24; Dt 1.36; Is 38.3). O próprio rei Davi suplicou a seu filho Salomão que oferecesse seu coração em plena e sincera confiança ao Senhor (1Cr 28.9; Os 4.1; 6.6; Is 45.13). 4 Deus promete a todos que lhe trazem o dízimo de seus bens e ganhos, como sincera demonstração de fé, louvor e adoração, derramar mais bênçãos financeiras e econômicas do que eles têm condições de recolher e armazenar (Ml 3.10; Dt 28.8,12; 2Co 9.8). 5 Nem sempre o justo vive em prosperidade plena; às vezes precisamos passar por provas e períodos sob a repreensão do Pai, a fim de crescermos espiritualmente e não ficarmos tão apegados aos desejos da nossa carne e aos bens materiais (v.2; 12.1; Jó 5.17; 36.22; Sl 119.71; Hb 12.5-10). Israel, por exemplo, passou por uma prova e período de disciplina que durou 40 anos, por causa do coração endurecido dos filhos de Deus naquele momento histórico (Dt 8.2-5).
  • 8. 151 PROVÉRBIOS 3 15 Mais preciosa é do que os rubis mais calamidades nem da ruína provocada puros, e tudo o que podes ambicionar pelos ímpios! não é comparável a ela!6 26 Porque o SENHOR é a tua segurança 16 Ao passar da vida, na mão direita a sa- em qualquer circunstância e guardará os bedoria te garante longevidade; na mão teus pés de caírem em ciladas. esquerda, riquezas e honra. 27 Sempre que possível, não deixes de co- 17 Os caminhos da sabedoria são veredas operar com quem precisa de ajuda.12 agradáveis, e todas as suas trilhas condu- 28 Não respondas simplesmente ao teu zem à paz.7 próximo: “Vai e volta amanhã, e eu te 18 A sabedoria é árvore que oferece vida a darei algo”, se o tens disponível agora e quem a abraça; quem a ela se apega será podes ajudar. muito feliz!8 29 Não planejes o mal contra o teu pró- 19 Por meio da sua sabedoria o SENHOR ximo, que confiantemente mora contigo firmou os alicerces da terra, por seu en- ou perto de ti. tendimento fixou no lugar os céus. 30 Jamais acuses ou demandes com al- 20 Pelo seu conhecimento as fontes mais guém, sem razão, especialmente se essa profundas se rompem, e as nuvens gote- pessoa não te fez um mal evidente. jam o delicado orvalho das manhãs e as 31 Não tenhas inveja de quem é violento, chuvas de tempo em tempo.9 nem adotes qualquer dos seus procedi- 21 Filho meu, não se apartem estes en- mentos; sinos dos teus olhos; guarda em teu co- 32 porque o SENHOR detesta o perverso, ração a verdadeira sabedoria e o bom porém ao justo Ele trata como seu gran- senso; de amigo!13 22 porquanto serão vida plena para a 33 A maldição do SENHOR está sobre a tua alma e valiosa jóia ao redor do teu casa dos ímpios, mas Ele abençoa o lar pescoço!10 dos justos. 23 Assim, andarás seguro no teu cami- 34 Ele ri com desprezo dos arrogantes nho, e não tropeçará o teu pé. zombadores, entretanto concede graça 24 Quando te deitares, jamais temerás; aos humildes! repousarás, e o teu sono será tranqüi- 35 A honra é a preciosa herança dos sá- lo.11 bios, mas o Senhor expõe os insensatos 25 Não te afligirás com a iminência das ao ridículo. 6 A sabedoria é personificada pelo poeta sagrado como a mais bela e inteligente mulher. A esposa amorosa e dedicada vale mais que os mais caros rubis (31.10). Jó também considerou a sabedoria muito mais valiosa que os rubis (Jó 28.18). A KJ de 1611 já trazia a expressão hebraica original “rubis”, em vez de “pérolas”, como aparece em algumas versões: She is more precious then Rubies: and all the things thou canst desire, are not be compared vnto her. 7 A expressão hebraica original shãlôm não apenas significa paz mas também prosperidade e plenitude, considerando a paz com Deus como base para alcançar a plenitude. (v.2; 16.7; Sl 119.165). 8 O poeta sagrado usa uma figura de linguagem que remete à Árvore da Vida do jardim do Éden (Gn 2.9; Pv 11.30; 13.12; 15.4; Ap 2.7; 22.2,14 de acordo com 1Co 1.30). 9 Deus abriu, pela força do seu poder, fontes e rios por toda a terra (Gn 7.11; 49.25; Sl 74.15). O orvalho diário que limpa o ar e renova o viço da flora e da fauna é uma figura de linguagem da própria renovação da graça diária de Deus para com a humani- dade, assim como as chuvas periódicas concedidas pela sabedoria divina (Dt 33.13; 2Sm 1.21). 10 Nas antigas culturas orientais, os soberanos exibiam ao redor do pescoço um valioso colar de ofício (Gn 41.42). 11 O sono reparador e saudável é profundo e sem sobressaltos. Por isso, a oração antes de dormir é de fundamental impor- tância na preparação de um terapêutico período de descanso para restauração do físico e da alma. Só Deus pode nos conceder absoluta segurança e paz, mesmo em meio às crises mais difíceis e preocupantes (Sl 4.8; Mt 8.24-26; Ef 4.26). Essa é uma das promessas listadas entre as bênçãos pactuais (Lv 26.6; Jó 11.18,19; Mq 4.4; Sf 3.13; Pv 1.33). 12 Deixar de fazer o bem que sabemos e podemos é um grave pecado de omissão (Tg 4.17). 13 O Senhor abomina qualquer tipo de prática pagã, como a maldade, arrogância, indiferença, perversidade e degradação moral (Dt 18.9,12; Pv 6.16; 8.7; 11.20). Porém, o justo é considerado seu grande amigo (Gn 18.17-19; Jó 29.4; Sl 25.14; Jo 15.12-27).
  • 9. PROVÉRBIOS 4 152 A supremacia da sabedoria 12 Sendo assim, enquanto andares sabia- 4 Ouvi, filhos meus, a instrução do pai; prestai atenção, a fim de alcançardes o discernimento; mente, nenhum obstáculo impedirá tua vitória: correrás e não tropeçarás! 13 Retém a orientação que recebeste e 2 porquanto o ensino que vos ofereço é jamais a desprezes; guarda-a bem, pois excelente; não desprezeis a minha dou- dela depende a tua vida.3 trina. 14 Jamais sigas pelas trilhas dos ímpios, 3 Quando eu era menino, ainda mui- tampouco andes pelas veredas dos maus. to pequeno, filho único de meus pais, e 15 Evita o mal caminho, não passes por muito especial para minha mãe,1 ele; desvia-te dele e passa de largo. 4 meu querido pai me ensinava, dizendo: 16 Porquanto, os maus não conseguem “Retém em teu coração as minhas pa- conciliar o sono enquanto não praticam lavras; obedece às minhas ordenanças e o mal; não podem dormir se não fizerem viverás feliz. tropeçar alguém; 5 Busca a sabedoria, procura obter en- 17 pois eles se alimentam com o pão da tendimento e não te esqueças das pala- malignidade, e se embriagam com o vi- vras da minha boca, tampouco delas te nho da violência. afastes. 18 Entretanto, a vereda dos justos é como 6 Não abandones a sabedoria, e ela te pro- a luz da aurora, que vai brilhando cada tegerá; ama-a, e ela te dará segurança. vez mais até a plena iluminação do dia. 7 O princípio fundamental do saber é: 19 O caminho dos perversos é como as procura obter sabedoria; investe todo o mais densas trevas, nem conseguem sa- teu ser e o que possuis para adquirir en- ber em que tropeçam.4 tendimento.2 20 Filho meu, dá atenção às minhas ins- 8 Dedica grande consideração à sabe- truções; aos meus conselhos inclina os doria, e ela te exaltará; abraça-a, e ela te teus ouvidos. honrará! 21 Jamais os percas de vista; guarda-os no 9 Ela te coroará com um exuberante dia- mais íntimo das tuas entranhas, dema de graça sobre tua cabeça e nela 22 pois são vida para quem os encontra e fará repousar o esplendor da glória”. saúde para todo o seu ser. 10 Ouve, filho meu, recebe com atenção 23 Acima de tudo o que se deve preser- as minhas palavras e terás vida longa. var, guarda o íntimo da razão, pois é da 11 No caminho da sabedoria te condu- disposição do coração que depende toda zi e pelas veredas da retidão te ensinei a tua vida.5 a andar. 24 Afasta para longe da tua boca as pala- 1 O rei Davi fala sobre Salomão, seu único filho com Bate-Seba (1Cr 22.5; 29.1),quando este era ainda muito jovem e inexpe- riente (simples), muito amado por seu pai e, especial para sua mãe (Gn 37.3; Zc 12.10). As citações e declarações autobiográficas eram comuns entre os sábios judaicos (Pv 24.30-34, de acordo com o livro de Eclesiastes). 2 A expressão original hebraica  (o princípio) nos ajuda a compreender que a sabedoria é “suprema” e deve ser procura- da de todo o coração, por meio do temor do Senhor (1.7), como alguém que, ao encontrar uma pérola rara, de valor inestimável, vende tudo o que tem para adquiri-la (Mt 13.45,46). É Deus quem concede a sabedoria (Tg 1.5-8). 3 Devemos aceitar e amar a sabedoria divina como luz e guia eterno para os nossos caminhos (Sl 119.89, 105). Jesus Cristo nos ensinou a reconhecer na Palavra de Deus a direção sábia e infalível de Deus; seus mandamentos são leves e nos conduzem à verdadeira felicidade (Mt 11.28-30; Jo 10.10; 14.12-21). 4 Em muitas ocasiões, o próprio Messias, o Senhor Jesus, referiu-se aos provérbios para ministrar aos seus amados ouvintes (Jo 12.35 com Pv 4.19; Jo 8.24 com Pv 5.23; Jo 6.47 com Pv 8.35; Mt 7.24-29 com Pv 14.11). 5 A expressão hebraica original aqui traduzida por “coração”, corresponde à sede dos sentimentos e decisões do ser humano, que no antigo oriente era compreendida como a região das entranhas (dos intestinos), especialmente por causa da sensação que as emoções normalmente causam no estômago, como um certo “frio na barriga”. Jesus nos ensinou que a boca fala do que está cheio o “coração”, ou seja, do que está repleto o íntimo (Lc 6.45). Sendo o corpo do cristão o templo do Espírito Santo, é fundamental que saibamos guardar o nosso “coração”; afastarmo-nos do mal mediante atenção às orientações do Espírito (Rm 8.26,27; 1Co 6.19; 1Ts 5.19).
  • 10. 153 PROVÉRBIOS 4, 5 vras perversas; e não permitas que teus 9 para que não entregues aos outros a tua lábios pronunciem qualquer mentira. honra, tampouco, tua própria vida a al- 25 Olha sempre para a frente, mantém teu gum homem cruel e violento; olhar fixo no objetivo a ser alcançado.6 10 para que dos teus bens não se fartem 26 Reflete sobre tuas escolhas e sobre o os estranhos, e outros se enriqueçam à caminho por onde andas, e todos os teus custa do teu trabalho; planos serão bem sucedidos! 11 e venhas a te queixar e gemer no final 27 Não te desvies nem para a direita da vida, quando teu corpo perder o es- nem para a esquerda; retira o teu pé da plendor e o vigor abandonar tua carne. malignidade!7 12 Então, murmurarás: “Como me rebe- lei à disciplina! Como meu coração des- Conselhos contra a imoralidade prezou a repreensão! 5 Filho meu, presta atenção às minhas palavras de sabedoria e inclina os teus ouvidos para compreender o meu dis- 13 Não quis ouvir os meus mestres, nem dei atenção aos que me ensinavam. 14 Cheguei muito próximo da ruína com- cernimento. pleta, à vista de toda a comunidade!”3 2 Assim manterás o bom senso, e os teus 15 Portanto, bebe a água da tua própria lábios guardarão o conhecimento;1 fonte, sacia tua sede com as águas que 3 porquanto os lábios da mulher imoral brotam do teu próprio poço. são sedutores e destilam mel; sua voz é 16 Por que deixar que os teus ribeiros mais suave que o azeite, transbordem pelas ruas e as tuas fontes 4 contudo, no final é amarga como fel, pelas praças? afiada como uma espada de dois gumes.2 17 Que tais mananciais sejam exclusiva- 5 Seus pés correm para a morte; seus pas- mente teus, jamais divididos com quem sos conduzem-na diretamente ao inferno. quer que seja! 6 Ela não reflete sobre o perigo de andar 18 Bendita seja a tua fonte! Alegra-te por trilhas tortuosas, e não consegue en- sobremaneira com a tua esposa. Sê feliz xergar o caminho da vida. com a moça com quem casaste! 7 Agora, portanto, meu filho, dá-me ou- 19 Gazela ardorosa, corsa graciosa; que os vidos e não te desvies das palavras da mi- seios da tua esposa sempre te fartem de nha boca. prazer, e seu amor te extasie de carinhos 8 Afasta o teu caminho da mulher adúltera, todos os dias de tua vida. e não te aproximes da porta da sua casa; 20 Por qual razão, filho meu, andarias 6 Devemos olhar sempre para nosso alvo maior: a glória do Senhor (Fl 3.13,14), e não nos deixarmos levar pelas coisas e pai- xões paralelas deste mundo (Sl 119.37). A inveja, o mexerico e a maledicência são outras formas de nos desviarmos do principal objetivo de nossas vidas e “olharmos de lado” (v.27; Lv 19.16; Dt 5.32,33; 28.14; Js 1.7). 7 Assim foi traduzido este versículo, do manuscrito grego para a KJ de 1611: Turne not to the right hande nor to the left: remoue thy foot frō euil. (1.15). Capítulo 5: 1 A expressão original hebraica     “para que conserves a discrição e os teus lábios guardem o conhecimen-             to” era, costumeiramente, aplicada a um sacerdote (Ml 2.7). Os cristãos, hoje, são os sacerdotes de Cristo (1Pe 2.9; Ap 5.10). 2 Estes conselhos foram dirigidos, originalmente, a jovens masculinos de uma cultura oriental hebraica, há cerca de 3000 anos; hoje, particularmente nas sociedades ocidentais, podem ser aplicados, indistintamente, a ambos os sexos e a todas as idades. Os “lábios que destilam o mel” referem-se à conversa interessante, compreensiva e agradável que se estabelece entre duas pessoas em processo de sedução (Ct 4.11; 5.13; 7.9). As palavras de uma mulher ou homem adúlteros (imorais), bem pensadas e carinhosamente pronunciadas, exercem função semelhante à do azeite quente massageado em músculos tensos e juntas dolo- ridas; entretanto, são expressões cheias de lisonjas, hipocrisia e malícia (Sl 5.9; 55.21). O absinto ou fel é um extrato de ervas, a substância mais amarga que se conhecia, usado na época no tratamento dos males do estômago, fígado e intestinos. 3 No contexto da cultura e da Lei judaicas da época, o pecador aqui apresentado quase foi acusado perante a assembléia do povo e condenado à pena de morte por apedrejamento (Lv 24.14; Dt 22.22). A tradução literal e original deste versículo é: “Por pouco estive em todo mal no meio de toda a assembléia e congregação”. A KJ de 1611 traduziu desta maneira: I was almost in all euill, in the midst of the congregation & assembly.
  • 11. PROVÉRBIOS 5, 6 154 descontrolado atrás de uma mulher imo- Advertência contra a preguiça ral? Por que acariciar outros seios que 6 Observa a formiga, ó preguiçoso, reflete não os de tua esposa? sobre o trabalho que ela realiza e sê sábio! 21 Os caminhos do homem estão diante 7 Mesmo não tendo um chefe, nem su- dos olhos do SENHOR, e Ele examina aten- pervisor, nem comandante, tamente todos os seus passos!4 8 armazena suas provisões no verão, e na 22 Quanto ao perverso, são suas próprias época da colheita ajunta seu alimento, iniqüidades que o amarram e o fazem pri- com toda a disciplina. sioneiro das cordas do seu pecado. 9 Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? 23 Com toda a certeza, ele morrerá por Quando te levantarás da tua sonolência? falta de controle; andará inseguro e cam- 10 Tirando uma pestana, cochilando um baleante por conta de sua insensatez. pouco, cruzando os braços para descansar, 11 tua iminente pobreza te aterrorizará, Advertência quanto a ser fiador e tua necessidade te assaltará como um 6 Filho meu, se serviste de fiador ao teu próximo, se, com um aper- to de mãos, te comprometeste por um ladrão armado. Advertência contra a maldade estranho,1 12 O caráter do perverso é maligno. Ca- 2 e ficaste enredado pelas declarações que minha de um lado para o outro murmu- saíram da tua boca, então és prisioneiro rando atrocidades,3 de tua própria palavra. 13 comunica-se sorrateiramente com os 3 Agora, filho meu, considerando que olhos, arrasta os pés e faz sinais com os caíste nas mãos do teu companheiro, vai dedos. e humilha-te diante dele; insiste, inco- 14 Em seu coração habita o engano; todo moda e importuna esse teu próximo; o tempo planeja o mal; anda semeando 4 não te permitas conciliar o sono, nem que perversidades e discórdias. teus olhos pestanejem; não descanses. 15 Por essa razão, a desgraça se abaterá 5 Livra-te desse compromisso como a ga- repentinamente sobre ele; de um gol- zela das mãos do caçador, como a ave da pe será completamente destruído, sem armadilha que a pode prender.2 qualquer apelação.4 4 Estamos moralmente e psicologicamente nus diante do Espírito de Deus, e o Senhor sonda os nossos corações (vontades e intenções), o tempo todo. Se a felicidade plena e a vida eterna repousam na obediência amorosa e sincera aos mandamentos de Deus, não há como justificar más intenções, deslizes morais e pecados de toda espécie, com argumentos racionais, científicos e modernos (novos padrões de moral mundial). Somente o sincero arrependimento, confissão, pedido de perdão e a mudança radical de hábitos, mediante o exercício prático do “temor do Senhor” poderão nos livrar das garras do maligno e da destruição certeira (v.22; 1Sm 16.7; Ez 33.11; Mt 5.8 de acordo com Hb 9.27 e Gl 6.7). Capítulo 6 1 Um documento assinado, um aperto de mão ou uma palavra empenhada, para a pessoa que realmente teme a Deus, são atitudes que têm o mesmo significado: um compromisso que deve ser cumprido custe o que custar (22.26,27). Em Gênesis há uma passagem que ilustra bem o perigo de assumirmos a responsabilidade pelo pagamento da dívida do próximo ou qualquer outra obrigação semelhante. Judá ofereceu sua própria pessoa como garantia pela devolução, em segurança, de Benjamim a Jacó (Gn 43.9), e, quando o cumprimento desse desafio pareceu impossível de se realizar, Judá se viu obrigado a apresentar-se a José para servir-lhe como escravo (Gn 44.32,33). Era costume dos judeus da antigüidade selarem seus contratos e alianças com um aperto de mãos (Pv 11.15; 17.18; 20.16; 22.26, de acordo com Jó 17.3). 2 Devemos fugir de qualquer contrato de fiança como as aves fogem das mãos ou do laço do passarinheiro (Sl 124.7). Veja este versículo na tradução da KJ de 1611: Deliuer thy selfe as a Roe from the hand of the hunter, and as a bird from the hand of the fowler. 3 O original hebraico personifica e apresenta o “homem vil”   como “homem de Belial”, uma pessoa maligna (1Sm 30.22). O termo “maligno” vem da conjunção de duas palavras: beli, “sem” e ya’al, “nada de bom” ou “imprestável” (Jz 19.22; 1Sm 25.25; Jó 34.18; Dt 13.13). Em 1Co 6.15 essa palavra traduz um dos nomes de Satanás. 4 Há pessoas que são absolutamente escravizadas e manipuladas pelo Diabo. Assim como as atitudes do homem de Belial são semelhantes às obras do Maligno, assim também seu fim será parecido à derrota iminente, fulminante e eterna do “homem da iniqüidade” (2Ts 2.7-12). A própria palavra “Diabo” originalmente significa “semeador de conflitos”, e a palavra grega diabolos quer dizer “aquele que promove a discórdia”. A palavra original hebraica Satan tem o sentido básico de “Acusador”.
  • 12. 155 PROVÉRBIOS 6, 7 16 Há seis atitudes que o SENHOR odeia, objetivo da adúltera, que vive rondando sete atitudes que ele detesta:5 à caça de vidas preciosas!8 17 olhos arrogantes, língua mentirosa, 27 É possível alguém atear fogo ao pró- mãos que derramam sangue inocente, prio peito sem queimar a roupa? 18 coração que maquina planos perversos, 28 Pode alguém andar sobre brasas sem pés que se apressam para fazer o mal, queimar os próprios pés? 19 a testemunha falsa que espalha difa- 29 Assim acontece com quem se deita mações e aquele que provoca contendas com mulher alheia; ninguém que a toque entre irmãos! ficará sem castigo. 30 O ladrão não é execrado se, faminto, Advertências contra o adultério furta para matar a fome? 20 Filho meu, obedece à orientação de teu 31 Contudo este, quando for pego, deverá pai e não abandones o ensino de tua mãe. pagar sete vezes o que furtou, ainda que 21 Ata-os para sempre ao teu coração, isso lhe custe tudo o que tem em casa.9 envolve-os junto ao teu pescoço.6 32 Mas o homem que comete adultério 22 Quando caminhares, eles te guiarão; não tem juízo; qualquer pessoa que as- quando te deitares, eles te protegerão sim procede a si mesmo se destrói. durante o sono; quando acordares, eles 33 Sofrerá ferimentos e vergonha, e a sua dialogarão contigo! humilhação jamais se apagará, 23 Porquanto, o mandamento é lâmpada, 34 pois o ciúme desperta a fúria de um o ensino é luz, e as advertências da disci- homem, que não terá misericórdia quan- plina são o caminho que conduz à vida; do se vingar.10 24 eles te guardarão da mulher imoral e 35 Não aceitará nenhuma compensação; das palavras lisonjeiras da mulher adúl- nem os mais caros presentes servirão tera! para acalmar sua ira. 25 Não cobices no teu coração a sua beleza, nem te deixes seduzir por seus A sedução e a cilada do adultério olhares,7 26 pois o preço de uma prostituta é um pedaço de pão, quando comparado ao 7 Filho meu, obedece aos meus conse- lhos e no íntimo do teu ser guarda os meus mandamentos! 5 A poesia bíblica hebraica do séc. X a.C. costumava usar números na formação de seu paralelismo sinônimo, com o objetivo de dar ênfase e dramaticidade aos escritos sapienciais (30.15-29; Jó 5.19). O número sete, por exemplo, desde a antigüidade ju- daica tem sido usado para comunicar a idéia de “absoluto, completo, perfeito” e tem sentido de “muitos ou fartura”. A idéia central deste versículo é apenas mostrar uma seleção das várias atitudes pecaminosas que são detestadas, abomináveis a Deus (3.32). 6 Estas expressões no original evocam a passagem de Dt 6.4-9, que alguns judeus mais religiosos até hoje recitam todas as manhãs, como sua confissão de fé, conhecida como shema, “Ouve, ó Israel!...”. (v.22; Js 1.8; Dt 6.4-9). 7 É melhor deixar a Palavra e o Espírito de Deus queimarem toda a “cobiça”, assim que surgir no horizonte de nossa alma voluptuosa, do que cair no engodo do “adultério” (imoralidade), quer seja sexual, financeiro ou político (Pv 5.20; Mt 5.27-30, de acordo com Êx 20.17). 8 Aqui não há uma concessão bíblica para qualquer prática imoral ou licenciosidade sexual. O saber canônico está apenas revelando, de forma dramática, que a mulher pública (prostituta) tem como principal objetivo o dinheiro dos incautos que por ela são seduzidos; mas como adúltera, ela é muito mais perversa: reduzirá o homem conquistado, a mera servidão e a completa ruína moral e econômica (1Sm 2.36; Pv 5.10; 29.3). Quem se entrega a uma vida adúltera será destruído, a menos que se arrependa e mude radicalmente seus hábitos, zelando permanentemente por sua castidade e integridade diante de Deus (Hb 13.4; 1Co 6.9; Gl 5.19-21). 9 A lei dos judeus exigia, como penalidade, que o criminoso restituísse, à sua vítima, até cinco vezes mais o valor do que havia furtado ou roubado (furto a mão armada ou com violência). A sabedoria bíblica e poética usa o termo “sete vezes” para indicar, simbolicamente, que o faltoso pagará a pena máxima e integral. Contudo, a pessoa que vive em adultério e jamais se arrepende, sofrerá vergonha e destruição eterna (Êx 22.1-9; 2Sm 13.13,22). 10 Aqui, a exemplo da questão do v.26 (Nota 8), não está sendo apresentada uma justificativa plausível para a vingança e a violência, especialmente se a parte prejudicada for temente a Deus. No entanto, o sábio nos adverte sobre a força destruidora do ciúme incontrolado. Além disso, bens materiais sempre poderão ser reconquistados ou restituídos, mas não há compensação para a loucura (insensatez) das práticas adúlteras, que não ficarão sem o devido castigo (vv. 29-31).
  • 13. PROVÉRBIOS 7 156 2 Segue as minhas orientações e desco- buscar-te, e te encontrei. brirás a verdadeira vida; zela pelos meus 16 Já estendi sobre o meu leito cobertas ensinos como cuidas da pupila dos teus coloridas de linho fino do Egito; olhos. 17 também já perfumei minha cama e o 3 Amarra os meus mandamentos aos ambiente, com mirra, aloés e canela. teus dedos; escreve-os na tábua do teu 18 Vem, embriaguemo-nos com as de- coração! lícias da sensualidade até o amanhecer; 4 Dize à Sabedoria: “Tu és minha irmã!”, gozemos os prazeres do amor! e ao Entendimento considera teu parente 19 Pois o meu marido não está em casa; próximo;1 partiu para uma longa viagem.3 5 eles saberão te manter longe da mulher 20 Levou consigo uma bolsa cheia de pra- imoral e da pessoa leviana e bajuladora. ta e não retornará antes da lua cheia!” 6 Da janela da minha casa, por minhas 21 Assim, com a sedução ardilosa das suas grades, olhando eu, muitas palavras e gestos, persuadiu-o, 7 vi entre os incautos, no meio de um gru- com a lisonja e volúpia dos seus lábios, po de jovens, um rapaz deveras sem juízo! o arrastou. 8 Ele ia e vinha pela rua próxima à esqui- 22 E ele, sem refletir, no mesmo momento na de certa mulher imoral, depois seguiu a seguiu como o boi levado ao matadou- em direção à casa dela. ro ou como o cervo que corre em direção 9 Estava chegando o crepúsculo, o final à emboscada, do dia, caíam as sombras do entardecer, 23 até que uma flecha lhe atravesse o co- rodeavam as trevas da noite. ração; como a ave que se apressa em sal- 10 Eis que a mulher lhe sai ao encontro, tar para dentro do alçapão, sem imagi- com vestes de prostituta e cheia de astú- nar que essa atitude lhe custará a vida! cia na alma. 24 Agora, portanto, filho, dá-me toda a 11 Ela é sedutora e espalhafatosa, seus pés tua atenção e inclina os teus ouvidos às não suportam ficar em casa; minhas palavras experientes: 12 um momento na rua, outro nas praças, 25 Não permitas que teu coração se des- em cada esquina se detém à espreita de vie para o caminho da mulher imoral, sua vítima. nem vagues desorientado pelas trilhas 13 Precipitou-se sobre o rapaz, beijou-o dessa pessoa. sem pudor e lhe declarou: 26 Inúmeras foram as suas vítimas; e 14 “Tenho em casa a carne dos sacrifícios muitos são os que por ela foram mortos! de paz que hoje preparei para cumprir os 27 A casa dela é uma trilha que conduz meus votos.2 precipício abaixo, rumo ao inferno, à 15 Por esse motivo, saí ao teu encontro, a morada eterna dos mortos.4 1 O sábio personifica a Sabedoria e o Entendimento, para enfatizar o quanto são importantes e devem ser amados e cuidados como nossos parentes mais íntimos. O termo hebraico original “irmã” pode também ser empregado aqui com o sentido de “noiva” (Ct 4.10-12; 5.1,2). 2 Conforme a Lei, após seu período menstrual toda mulher deveria oferecer, ao Senhor, uma oferta “pacífica” ou “de comu- nhão” (Lv 15.19-30; Am 5.21,22). O sentido espiritual do texto nos leva a entender que essa pessoa imunda, que representa toda a sagacidade do pecado, teve a petulância de usar um ritual sagrado para confundir e instigar ainda mais a volúpia do jovem inexperiente (incauto ou fraco na fé). Essa situação também revela como é possível que as pessoas continuem sua vida religiosa e cerimonial sem se darem conta de que estão cometendo graves afrontas e sacrilégios contra Deus. 3 Podemos fazer uma outra importante inferência espiritual a partir desta declaração. É possível ver como a sociedade tende a argumentar que Deus se ausentou do mundo e da vida cotidiana e individual das pessoas sobre a face da terra e que, portanto, nada há de mal em se permitir um pouco de divertimento e prazer em meio a tanta desgraça. Esse sofisma bem articulado tem levado e continuará levando milhões de pessoas para a morte eterna, especialmente quando o “Noivo” voltar em glória para resgatar os seus e destruir o Maligno e seus seguidores (Mt 25.6). 4 O sábio não está se referindo simplesmente à pena máxima para o adultério, tanto do homem quanto da mulher, explícita na Lei e em voga na época, que era a condenação à morte (Lv 20.10). O pecado e todo tipo de adulteração da Palavra de Deus conduz à desmoralização da personalidade, à ruína em todos os sentidos, ao lugar dos mortos (em hebraico: Sheol), e à morte
  • 14. 157 PROVÉRBIOS 8 A primazia absoluta da sabedoria que as mais finas jóias, e de tudo o que se 8 A Sabedoria clama! O Entendimento ergue a sua voz!1 2 Sobre os montes mais elevados junto possa ambicionar, absolutamente nada se compara a ela! 12 Eu sou a Sabedoria! Em mim habita ao caminho, nos cruzamentos, ouve-se a todo o conhecimento, o discernimento e voz do discernimento.2 o ensino!5 3 Ao lado dos portais, à entrada da cida- 13 O temor do SENHOR consiste em de, portas adentro, ela conclama em alta odiar o mal; rejeitar todo orgulho, ar- voz: rogância, o mau comportamento e o 4 “A todos vós, ó homens, suplico; dirijo falar perverso. a minha convocação a toda a humanida- 14 Meu é o conselho sábio; a mim perten- de. cem o entendimento e o poder! 5 Entendei, ó incautos, a prudência; e vós, 15 Por meu intermédio, os reis governam, insensatos, compreendei a sabedoria!3 e as autoridades exercem a justiça; 6 Ouvi, pois proferirei conselhos exce- 16 da mesma forma, mediante meu po- lentes; os meus lábios falarão de assuntos der, governam os nobres, todos os juízes justos e práticos. da terra. 7 A minha boca proclamará a verdade, 17 Eu amo todos os que me amam, e porquanto meus lábios abominam a ma- quem me busca me encontra!6 lignidade! 18 Em minhas mãos está toda a riqueza, 8 Todas as minhas palavras são justas, ne- honra, prosperidade e justiça perenes. nhuma delas é adulterada ou perversa.4 19 Meu fruto é melhor que o ouro; sim, 9 Para os que possuem discernimento, que o ouro mais puro; o lucro que vos são ensinos claros; e, veredas retas, para ofereço é superior ao metal mais valioso! os que alcançam o conhecimento. 20 Ando pelo caminho da retidão, em 10 Recebei o meu ensino, e não a prata, meio às veredas da justiça, preferi o conhecimento, antes do ouro 21 outorgando riquezas aos que me puro. amam; oferecendo a estes prosperidade 11 Porquanto, melhor é a sabedoria do sem fim! eterna ou inferno (2.18; 5.5; 14.12; 16.25; Mt 7.13; 1Co 6.9,10). Graças a Deus temos na pessoa e no sacrifício vicário de Cristo, a derradeira oportunidade de nos livrarmos das garras do pecado e da morte: a confissão, o arrependimento e o abandono da prática do pecado em o Nome do Senhor (1Jo 1.9). Capítulo 8 1 O livro de Provérbios pode ser didaticamente dividido em três grandes capítulos, todos com o objetivo de ensinar à huma- nidade como viver de forma piedosa (santa e inteligente) diante de Deus: o temor do Senhor é a base de todo o saber e vida com Deus (1.1 – 7.27). A prática da verdadeira vida espiritual (santidade) só é possível mediante a sabedoria – o conhecimento vivo do Senhor – (8.1 – 9.18). A piedade (santidade) é o exato oposto da vida mundana desinteressada de Deus – impiedade – (10.1 – 31.31). 2 Uma das mais evidentes demonstrações da graça de Deus está no fato de que ele mesmo providencia – de todas as formas – para que sua mensagem de salvação (evangelização) chegue a todos os povos, culturas e indivíduos em todo o mundo, das ruas e vilas às grandes edificações e centros urbanos. É importante notar que o convite do Senhor vem ao nosso encontro, onde estivermos, e cabe a nós a decisão final de aceitá-lo de todo o coração ou nos mantermos indiferentes, atitude que tem o mesmo sentido prático da rejeição (v.7; Lc 19.9,10). 3 O termo original hebraico  peti´ “simples” comunica a idéia de uma pessoa “ingênua, inexperiente, que é facilmente enganada”, ou seja, “incauta”. “Néscio” ou “insensato” – em hebraico, kesil – tem o sentido de alguém vagaroso na compreensão das coisas e da vida, mas inclui também a idéia de ser “ímpio, pagão ou ateu” (Sl 49.13; Ec 7.25). 4 A expressão “adúltera” não se aplica somente à perversão sexual, mas a todo tipo de distorção da verdade, falsificação, corrupção, deturpação e perversidade (Fp 2.15 e Pv 2.15). 5 A “Sabedoria” é personificada e revelada com perfeição em Jesus, o Filho de Deus e o Cristo (o Messias prometido). Nele reside, corporalmente, toda a plenitude da “Divindade” (Cl 2.9), que é a “Vida” (Jo 14.6) e a “Luz” que veio do céu (Jo 8.12) para todos os que o aceitam com sinceridade e alegria de coração (Jo 7.17). Só essa sabedoria tem o poder de falar com autoridade absoluta (vv.22-31; Jo 1.1; 1Co 1.30; Cl 1.17). 6 Aqui podemos reconhecer claramente a voz de Jesus Cristo expressando seu amor incondicional pela humanidade e sua disposição constante em atender as orações de todos que se achegam a ele (Jo 13.1; Hb 7.25).
  • 15. PROVÉRBIOS 8, 9 158 A Sabedoria vive para sempre Ele criou, e me alegrando com os seres 22 O SENHOR me possui como fundamento humanos! do seu Caminho, antes mesmo do princí- 32 Agora, pois, filhos meus, ouvi-me pio das suas obras mais antigas;7 atentamente, porquanto muito felizes se- 23 fui formada desde a eternidade, desde rão os que guardarem os meus decretos! a origem de tudo, antes de existir a terra. 33 Ouvi o meu ensino e sereis sábios, não 24 Nasci quando ainda nem havia abis- rejeites a minha instrução. mos, quando não existiam fontes carre- 34 Bem-aventurado todo aquele que me gadas de água; dá ouvidos, vigiando dia a dia à minha 25 antes de serem estabelecidos os montes porta, aguardando com esperança às om- e de se formarem as colinas, eu já existia. breiras da entrada da minha casa. 26 Ele ainda não havia formado a terra, 35 Porquanto, toda pessoa que me en- tampouco os campos, ou as partículas de contra, acha a vida e ganha o favor do poeira com as quais fez o mundo. SENHOR.9 27 Quando Ele estabeleceu os céus, lá 36 Todavia, aquele que decide afastar-se estava Eu; quando delineou o horizonte de mim, a si mesmo se flagela; todos os sobre a superfície do abismo, que me desprezam, amam a morte!” 28 quando fixou as nuvens em cima e es- tabeleceu as fontes do abismo, O grande convite da Sabedoria 29 quando determinou as fronteiras do mar para que as águas não ultrapassas- sem seu ordenamento, quando assinalou 9 A Sabedoria edificou a sua casa; er- gueu suas sete colunas.1 2 Charqueou as melhores carnes do re- as balizas dos alicerces da terra, banho para o banquete, preparou seu 30 então, Eu estava com Ele e cooperei vinho com especiarias e arrumou sua em tudo como seu arquiteto. Dia após grande mesa. dia tenho sido o seu prazer, sempre me 3 Já deu ordens às suas servas para pro- sentindo muito feliz a seu lado.8 clamarem os convites desde o ponto mais 31 Regozijando-me com o mundo que alto da cidade, anunciando:2 7 O trecho dos vv.22-31 veio a se constituir – ao longo da história de Israel e da Igreja – em um hino sobre a personificação e a obra da sabedoria divina em toda a criação do Universo (1.20-33; 3.15-18; 9.1-12). Portanto, esta e outras passagens semelhantes podem ser interpretadas como uma antecipação sobre o que o NT descreve quanto a Jesus Cristo como a própria Palavra de Deus (Jo 1.1-3; 17.5), como também, Sabedoria de Deus (1Co 1.24,30; Cl 2.3; Jo 5.17,18). 8 Deus, em sua plena soberania e eternidade, criou o Universo e tudo o que há, a partir do “nada absoluto”, que é o sentido exato da palavra “criar” nos originais hebraicos do livro do Gênesis 1.1,21,27. Deus forma do “nada” as partículas básicas do Universo, moléculas e células, enquanto sua palavra (o logos divino) e sabedoria (seu caráter amoroso e justo), reveladas na pessoa do seu Filho, e nosso Salvador (Messias), colaboram na maravilhosa ação da Trindade para ordenar tudo de tal forma que a humanidade possa ter alguma compreensão geral (Jo 1.1-3). E na plenitude dos tempos, no limiar do final das eras, decidiu Deus tomar plena forma humana (encarnar) na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo; viver e sacrificar-se em benefício da vida eterna da criação, da qual o homem, feito à imagem de Deus, é obra-prima (Gn 1.26-28). 9 Aquele que é a vida em si mesmo é o único que pode dar a vida (Jo 14.6). E Deus (em Cristo) deseja ansiosamente dar essa vida a todos aqueles que desejam recebê-la, mediante simples e sincera fé na pessoa e obra vicária do seu Filho, o Cristo (Jo 11.25,26; Jo 3.16-21). A KJ de 1611 traz a seguinte tradução para este versículo: For whoso findeth mee, findeth life, and shall obtaine fauour of the LORD. Capítulo 9 1 O convite divino (de Yahweh – o nome hebraico de Deus) sempre se expressou nos termos de um grande, delicioso e alegre banquete entre amigos de verdade (Is 55.1,2). Somente em Cristo, entretanto, o Evangelho (a Salvação), esse banquete eterno, tem seu custo total e substância plenamente compreendidos (Jo 6.51-58). Aqui a expressão hebraica  pode ser transli- terada em hokmôť “a sabedoria” (1.20). As grandes edificações pagãs, como o magnífico templo de Afrodite e o palácio do rei assírio Senaqueribe, costumavam ser sustentados por sete imponentes colunas. Mas a sabedoria que vem do Senhor revela suas sete colunas, nos sete dias da criação (8.27), e mais: na Instrução, no Conselho, no Ensino, no Entendimento, na Inteligência, no Conhecimento Pleno (para receber, no coração, a Sabedoria) e na Prudência (a melhor maneira de se aplicar o saber). Estas palavras são as chaves para compreensão da Sabedoria e deste livro. 2 A Sabedoria e a Insensatez convidam a humanidade para suas casas (14.7,8; 8.34). Entretanto, a Sabedoria edificou sua casa pessoalmente (14.1; 31.10-27), não apenas utiliza a casa de outrem, nem fica “sentada” (v.14) recepcionando seus convivas. O
  • 16. 159 PROVÉRBIOS 9, 10 4 “Vinde todos vós, os incautos!” Aos in- que não têm bom senso ela convida: sensatos e desajuizados conclama: 17 “Aágua roubada é doce, e o pão que se 5 “Vinde, comei do meu pão e bebei do come escondido é ainda mais saboroso!” vinho que preparei. 18 Contudo, eles nem imaginam que exa- 6 Abandonai a insensatez e vivei; andai tamente ali residem os espíritos dos con- pelo Caminho do arrependimento!3 denados à morte, que os seus convidados 7 O que censura o zombador traz afronta estão todos nas regiões mais profundas sobre si; quem repreende o ímpio man- do inferno.4 cha o próprio nome. 8 Portanto, não admoestes o escarnece- A justiça e a malignidade dor, para que não te aborreça; repreende o sábio, e ele te amará! 9 Orienta a pessoa que tem sabedoria, e 10 Provérbios de Salomão:1 O filho sábio alegra o coração do seu pai, mas o filho insensato é a tristeza ela será ainda mais sábia; ensina o ho- de sua mãe. mem justo, e ele aumentará em muito o 2 Os tesouros que são fruto da desones- seu saber. tidade de nada valem, mas a justiça livra 10 O temor do SENHOR é a chave da sabe- da morte. doria e conhecer a Divindade é alcançar 3 O SENHOR não permite que o justo ve- o pleno sentido do conhecimento! nha a passar fome, mas abate a ambição 11 Porquanto por meu intermédio os teus dos ímpios. dias serão multiplicados, e o tempo da 4 As mãos preguiçosas empobrecem o ser tua vida se prolongará. humano, porém as mãos laboriosas lhe 12 Se fores sábio, o benefício será todo produzem riqueza. teu; contudo, se fores zombador sofrerás 5 Aquele que faz a colheita no verão é fi- as conseqüências da tua própria esco- lho sensato, mas aquele que dorme du- lha”. rante a ceifa é filho que causa vergonha. 6 Sobre a cabeça do justo há bênçãos, O convite da Insensatez, a louca mas na boca dos perversos reside a bru- 13 A Insensatez é mulher sensual, exibi- talidade. cionista e ignorante! 7 A memória do justo é abençoada, mas o 14 Sentada à porta de sua casa, no ponto nome dos perversos cai em podridão. mais alto da cidade, 8 O sábio de coração aceita os manda- 15 propagandeia sua proposta aos que mentos, mas o insensato de lábios vem transitam por ali em seus caminhos: a arruinar-se. 16 “Vinde todos vós, os incautos!” E aos 9 Quem caminha com integridade anda banquete preparado pela Sabedoria forma um contraste poético e moral com a cama perfumada da Insensata (7.17). A Sabedoria oferece o melhor pão (iguarias), um vinho novo e especial, muito mais saboroso (Ct 8.2), ao seu grupo de convidados que proce- de das ruas e das praças, sendo que a deficiência de tais hóspedes é a única qualificação deles (v.4). 3 As dádivas divinas da Sabedoria à humanidade são apresentadas simbolicamente como um magnífico banquete, semelhante aos realizados por ocasião das bodas dos grandes monarcas. Cristo (o Caminho – At 19.23; 24.22) retoma esse tema e convida “seus servos” para seu banquete universal e eterno (Lc 14.15-24; Mt 22.1-14). 4 A expressão hebraica original usada aqui  do she’ôl (sepultura, moradia dos mortos ou inferno) não é uma referência específica ao futuro eterno, uma vez que a teologia hebraica dessa época tinha mais interesse em conhecer a Deus na terra e obedecer a Ele, do que em especular sobre os detalhes da vida após a morte. Só com a vinda de Jesus Cristo (o Messias) e seus ensinos sobre salvação e vida eterna, é que também ficou clara a doutrina da condenação à morte eterna e o aniquilamento de Satanás e seus seguidores (Jo 3.16-21; Mc 9.44,45; Ap 20.10-14). A KJ de 1611 traduz assim este versículo: But hee knoweth not that the dead are there; and her guests are in the depths of hell. Capítulo 10 1 No original hebraico, a soma do valor numérico das consoantes do nome “Salomão”, na expressão  “de Salomão”, resulta em 375, conforme o antigo costume judaico de atribuir números às letras (Sl 119). Curiosamente, esse é o número total dos versículos selecionados da imensa obra (1Rs 4.32) do sábio servo do Senhor (28.7; 15.20; 17.21,25; 29.3,15), e que se acham registrados entre os capítulos 10.1 e 22.16.
  • 17. PROVÉRBIOS 10, 11 160 em segurança, mas quem segue por tri- 22 A bênção do SENHOR produz riqueza e lhas tortuosas será descoberto. não provoca sofrimento algum. 10 Aquele que se comunica com olhares 23 Para o insensato, praticar a iniqüidade maliciosos provoca infelicidades, assim é um divertimento; mas o ser humano como a boca do insensato o leva à des- verdadeiramente inteligente deleita-se truição. na sabedoria. 11 Os lábios do justo são fonte de vida, 24 Aquilo que teme o ímpio, isso mesmo mas a boca dos ímpios abriga a violên- lhe acontecerá; o que os justos esperam cia.2 lhes será concedido. 12 O ódio provoca contendas, mas o amor 25 Como passa a tempestade, assim desa- cobre todas as transgressões.3 parece o perverso, mas o justo permane- 13 Nos lábios do prudente se encontra cerá firme para sempre.4 a sabedoria, mas a vara da repreensão é 26 Como vinagre para os dentes e fumaça para as costas do desajuizado. para os olhos, assim é o preguiçoso para 14 Os sábios acumulam conhecimento, aqueles que o supervisionam. mas a boca do néscio é um atalho para 27 O temor do SENHOR prolonga os dias a ruína. da nossa existência, mas o tempo de vida 15 Os bens dos ricos são sua cidade for- dos perversos será abreviado. tificada, mas a pobreza é a humilhação 28 O objetivo do justo será concluído dos pobres. com alegria, mas as ambições dos ímpios 16 O salário do justo lhe proporciona darão em nada. uma vida feliz, mas as rendas do perverso 29 O Caminho do SENHOR é o refúgio dos o conduzem ao castigo. íntegros, entretanto, será a destruição de 17 Quem recebe bem a disciplina conhece todos os que praticam o mal. o caminho da vida, mas quem ignora a re- 30 Os justos jamais serão definitivamente preensão desencaminha a si e aos outros. abalados, mas os ímpios pouco perma- 18 Quem esconde o ódio tem lábios fal- necerão na terra. sos, e quem espalha calúnia é insensato. 31 A boca do justo produz sabedoria, mas 19 Quando se fala demais é certo que o a língua perversa será extirpada.5 pecado está presente, mas quem sabe 32 Os lábios justos sabem como falar agra- controlar a língua é prudente. davelmente; entretanto, a boca dos ímpios 20 A língua dos justos é prata da melhor só tagarela perversidades. qualidade, mas o coração dos ímpios quase não tem valor. A Integridade e o bom nome 21 As palavras dos justos alimentam mui- tas pessoas, mas os insensatos morrem por falta de juízo. 11 Deus tem ódio das balanças de- sonestas, mas os pesos exatos lhe dão prazer! 2 Em qualquer situação devemos conversar de maneira controlada e compreensiva, ainda que tenhamos de ser firmes e decisivos. A conversa torpe, autoritária e abrutalhada coopera na formação de um ambiente beligerante, rixoso, malicioso e odioso (Ef 4.25-32). 3 O verdadeiro amor, em toda a amplitude do seu significado sempre promoverá o perdão e a reconciliação. A expressão he- braica original kasah “cobrir” comunica o sentido de “expiar”, “apagar”, “cancelar a dívida”. Este versículo foi citado também por Tiago e pelo apóstolo Pedro no NT (Tg 5.20; 1Pe 4.8). Jesus Cristo foi quem pagou toda a nossa dívida por meio do seu próprio sangue e nos deixou o maior exemplo prático de amor e perdão (Cl 2.14). 4 O homem prudente constrói sua casa sobre a Rocha (Cristo – 1Pe 2.4-10). Este é um fundamento perpétuo: o justo permane- cerá vivo e feliz para sempre, enquanto o ímpio e insensato passará de uma hora para outra, e dele ninguém mais se lembrará (Mt 7.24-27; Sl 37.10; 15.5; Is 28.18; 1Co 15.58). A KJ 1611 traduziu este versículo assim: As the whirlewinde passeth, so is the wicked no more: but the righteous is an euerlasting foundation. 5 A expressão hebraica original , transliterada em hokmâh “a sabedoria”, comunica, nas Sagradas Escrituras, a qualidade de ser “arguto para o bem”, embora esse mesmo termo fora da Bíblia tenha apenas o sentido de “grande inteligência, perspicácia e perícia técnica” (Êx 31.3; Ez 27.8). Contudo, a “sabedoria plena” pertence a Deus e é dom de Deus aos amados de seu Filho, Jesus, o Messias (Jo 12.12-36). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: The mouth of the iust bringeth foorth wisedome: but the froward tongue shalbe cut out.
  • 18. 161 PROVÉRBIOS 11 2 Em vindo a arrogância, chega logo tam- frerá as conseqüências; entretanto, quem bém a desonra, mas com os humildes evita assumir a responsabilidade de ou- está a sabedoria.1 trem estará seguro e em paz. 3 A integridade dos justos os guia, mas a 16 A mulher gentil e honrada alcança o falsidade dos infiéis os aniquila. respeito de todos, mas os homens per- 4 As riquezas acumuladas não terão valor versos só conquistam bens materiais. algum no Dia da ira divina, mas a justiça 17 Quem faz o bem aos outros, a si mes- livrará o fiel da morte.2 mo o faz; a pessoa cruel provoca sua pró- 5 A retidão dos íntegros de coração lhes pria ruína. descortina o caminho justo, mas os ím- 18 O ímpio recebe pagamentos engano- pios são abatidos por sua própria perver- sos, mas quem semeia a justiça colhe se- sidade. gura recompensa. 6 A integridade das pessoas justas as li- 19 Tão certo como a retidão conduz a vrará, mas em sua malignidade os infiéis uma vida feliz, assim o que segue o ma- serão apanhados. ligno corre para sua própria morte. 7 Assim que o ímpio morre, toda a sua 20 O SENHOR detesta todas as pessoas esperança perece com ele; todos os seus perversas de coração, mas aqueles que planos acabam em nada. andam em integridade de coração são a 8 O justo é salvo das tribulações, e elas sua alegria. são transferidas para o ímpio. 21 Tendes todos esta certeza: os maus não 9 O ímpio, com sua própria boca, destrói ficarão sem o devido castigo, mas os jus- o próximo, mas os justos encontram a li- tos serão perdoados! berdade por meio do real conhecimento. 22 Como anel de ouro em focinho de 10 Com a prosperidade dos justos toda a porco, assim é a mulher bonita, mas in- cidade fica feliz; quando os ímpios pere- discreta. cem há música e alegria no ar. 23 As ambições dos justos resultam em 11 Os justos abençoam a cidade por meio bem para muitos; a esperança dos ím- das bênçãos que recebem, mas pela boca pios, somente em desgosto e ira. dos perversos é destruída. 24 Quem dá com generosidade, vê suas 12 O que despreza o próximo é falto de riquezas se multiplicarem; outros prefe- senso, mas a pessoa prudente sabe o mo- rem reter o que deveriam ofertar, e caem mento de se calar. na pobreza. 13 O fofoqueiro trai a confiança de quem 25 O generoso sempre prosperará; quem quer que seja, mas aquele que guarda um oferece ajuda ao necessitado, conforto segredo merece crédito. receberá. 14 Não havendo sábia direção, toda a na- 26 O povo amaldiçoa aquele que esconde ção é arruinada; o que a pode restaurar é o trigo para alcançar maior preço, mas a o conselho de muitos sábios. bênção alcança aquele que logo se dispõe 15 Quem serve de fiador com certeza so- a atender o povo. 1 A arrogância é o único pecado sem perdão; não porque Deus não possa perdoar o soberbo, mas porque a pessoa altiva jamais reconhece profundamente seus erros e, portanto, não é capaz de pedir perdão com a sinceridade de quem deseja aban- donar o erro e obedecer ao Senhor. A expressão hebraica original  zãdôn refere-se a “arrogância” ou “insolência”, que é sempre causada por um desequilíbrio na balança da auto-estima: desenvolvemos um conceito exageradamente alto de nossa própria pessoa ou capacidades e um baixo conceito ou desconsideração pelo talento ou virtudes de outrem. Quando esse mes- mo sentimento se aplica à pessoa de Deus, corremos o risco de cometer o pecado da blasfêmia (16.18). Já o termo hebraico  cãnüah “os humildes”, em sua forma verbal de “andar humildemente” diante do Senhor, se junta às virtudes paralelas, do humilde: a justiça e a misericórdia, o fundamento e o âmago da piedade e da verdadeira religião de Deus, descrita no AT (Mq 6.8; Pv 15.33; 29.23). 2 O dia (ou período) do grande e terrível juízo final de Deus sobre a terra e a humanidade é chamado nas Escrituras, de: Dia do Juízo (Is 10.3; Sf 1.18); Dia da ira (Lm 2.22; Sf 2.2; Rm 2.5); Dia do Senhor (Is 2.12; 13.6; Ez 30.3; Jl 1.15; 2.11); Dia da vingança (Jr 46.10).