O documento discute como as teorias pedagógicas modernas podem ser revisitadas à luz do debate contemporâneo. Apresenta diferentes correntes pedagógicas modernas e suas críticas, e discute como o pensamento pós-moderno impacta a educação. Também destaca temas emergentes como a noção de totalidade, razão, ciência, subjetividade e relativismo cultural.
1. José Carlos Libâneo
As teorias pedagógicas modernas
revisitadas pelo debate contemporâneo na
Educação
2. Objetivo do texto
Abordar possíveis mudanças no interior das
teorias pedagógicas modernas em sua interface
com teorias contemporâneas alinhadas ao
pensamento “pós-moderno”
3. As exigências da pedagogia em
um mundo em mudança
Como se configura o
contexto social
contemporâneo?
Como a escola tem
contribuído para a
superação das
contradições hoje
vividas?
?
4. As exigências da pedagogia em um
mundo em mudança
Um posicionamento pedagógico requer uma investigação das
condições escolares atuais de formação das subjetividades e
identidades para verificar onde estão as reais explicações do
sentimento de fracasso, de mediocridade, de incompetência, que vai
tomando conta do alunado
Aspectos a serem considerados para contribuir com as condições do
agir pedagógico
Práticas pedagógicas implicam decisões e ações que envolvem o destino
humano das pessoas, requerendo projetos que explicitem direção de
sentido da ação educativa e formas explícitas do agir pedagógico
É necessário aliar à analise global do problema educativo, uma reflexão
acerca dos meios educativos, dos instrumentos de mediação que são os
dispositivos e métodos de educação e ensino, ou seja, a didática
As práticas educativas são ações complexas, uma vez que se encontram
determinadas por múltiplas relações e necessitam, para seu estudo, do
aporte de outros campos de saberes.
5. As tarefas do agir pedagógico
Prover mediações culturais para o
desenvolvimento da razão crítica
(conhecimento teórico-científico,
capacidades cognitivas e modos de ação)
Desenvolver a subjetividade dos alunos e
ajudar na construção de sua identidade
pessoal e no acolhimento à diversidade
social e cultural
Formar para a cidadania e preparar para
atuação na realidade
6. As teorias pedagógicas modernas
Idéias base
manutenção de uma ordem social mais estável, garantidas pela
racionalidade e pelo progresso em todos os campos (ciência)
natureza humana universal
autonomia do sujeito
educabilidade humana
emancipação humana pela razão
Pedagogias modernas são ativas e estáveis mesmo que
novas tendências estejam sendo experimentadas
Pedagogia Liberal: tradicional, renovada e tecnicista
Pedagogia Progressista: libertadora, libertária e crítico-social dos
conteúdos
Características comuns às pedagogias modernas
Críticas feitas às pedagogias modernas
7. O contexto “pós-moderno” e os
impactos na educação
Vivemos na contemporaneidade uma condição “pós-
moderna”
Características da condição pós-moderna
Aspectos que o pensamento e a condição pós-moderna
trazem para a educação escolar
Contribuições do pensamento pós-moderno para uma
Pedagogia Crítica
Reavaliação dos paradigmas de produção do conhecimento
Sistematização das explicações de fenômenos novos que surgem na
sociedade: espetáculo, efêmero, cultura de consumo, etc.
Mapeamento das transformações contemporâneas para manter-se dentro
de um posicionamento crítico
8. Teorias e correntes pedagógicas
contemporâneas
CORRENTES MODALIDADES
1. Racional Tecnológica
Ensino de excelência
Ensino tecnológico
2. Neocognitivistas
Construtivismo piagetiano
Ciências cognitivas
3. Sociocríticas
Sociologia crítica do currículo
Teoria histórico-cultural
Teoria sócio-cultural
Teoria sociocognitiva
Teoria da ação comunicativa
4. “Holísticas”
Holismo
Teoria da complexidade
Teoria naturalista do conhecimento
Ecopedagogia
Conhecimento em rede
5. “Pós-modernas”
Pós-estruturalismo
Neo-pragmatismo
9. A corrente racional-tecnológica
Neotecnicismo: pedagogia a serviço da formação para
o sistema produtivo.
Baseia-se na racionalidade técnica e instrumental.
Outros traços: centralidade no conhecimento em função
da sociedade tecnológica, transformação da educação
em ciência, produção do aluno como ser tecnológico
(aprender a aprender), utilização intensiva dos meios de
comunicação e informação e de tecnologias.
Currículo por competência
Modalidades:
Ensino de excelência: formar a elite intelectual e técnica para o
sistema produtivo;
Ensino tecnológico: formar mão-de-obra intermediária para o
mercado.
10. A corrente neocognitivista
Construtivismo pós-piagetiano
Teoria de base: a aprendizagem resulta de construção mental feita pelos
sujeitos baseados na sua ação sobre o mundo e na interação com os
outros.
Contribuições de outras fontes: lugar do desejo e do outro na
aprendizagem, predomínio da linguagem em relação à razão, papel da
interação social na construção do conhecimento, singularidade e
pluralidade dos sujeitos.
Socioconstrutivismo: papel determinante das significações sociais e
das interações sociais na construção de conhecimentos.
Ciências cognitivas
Referência: utilização de computadores para investigar os processos
psicológicos e a cognição.
Aportes teóricos: psicolingüística, teoria da comunicação e da cibernética.
Versões:
Psicologia cognitiva: estudo do ser humano como processador de
informações;
Ciência cognitiva: analogia entre mente e computador, visando à construção
de modelos computacionais para entender a cognição humana. Interessa-se
pela construção de programas de inteligência artificial.
11. Teorias sociocríticas
Adotam o referencial marxista ou neo-marxista ou
apenas de inspiração marxista.
Ponto de convergência: concepção de educação
como compreensão da realidade para transformá-la,
visando à construção de novas relações sociais para
superar desigualdades sociais e econômicas.
Algumas enfatizam as questões políticas do processo
de formação, outras a relação pedagógica como
mediação da formação social e política.
12. Teorias sociocríticas
A teoria curricular crítica
Base neomarxista, origina-se da sociologia crítica inglesa e norte-
americana.
Questiona como são construídos os saberes escolares, analisa o
saber de cada grupo de alunos, pois é a expressão do modo
como agem, sentem, falam, vêem o mundo.
A cultura é um terreno conflitante onde se enfrentam diferentes
concepções de vida social e onde emergem a diversidade cultural
e a diferença. Currículo é terreno de luta, território contestado.
Teoria histórico-cultural
Base: Vygotsky e seguidores
Aprendizagem é resultado da interação sujeito-objeto, sendo a
ação do sujeito mediada socialmente. As funções psicológicas
superiores “são ações interiorizadas de algo socialmente
mediado, a partir da cultura constituída”.
13. Teorias sociocríticas
Teoria sociocultural
Base: Vygotsky
“Compreende as práticas de aprendizagem como atividade sempre situada
em um contexto de cultura, de relações, de conhecimento”.
Teoria sociocognitiva
Enfatiza “as condições culturais e sociais da aprendizagem, visando ao
desenvolvimento da sociabilidade por meio de processos socioculturais”.
O que é importante na escola: “a organização de um ambiente educativo de
solidariedade de relações comunicativas, com base nas experiências
cotidianas, nas manifestações da cultura popular”.
Projeto de escola: criar situações pedagógicas interativas para propiciar uma
formação democrática e inclusiva […] em que se valorizam mais experiências
socioculturais do que o currículo formal”.
Teoria da ação comunicativa
Base: Habermas, está associada a teoria crítica da Escola de Frankfurt.
Assenta-se no diálogo e na participação, visando a emancipação dos
sujeitos.
Pontos de ligação com Paulo Freire; influenciou autores da sociologia crítica
do currículo norte-americana (Giroux, Apple)
14. Correntes “holísticas
Comum: visão da “realidade como uma totalidade
de integração entre o todo e as parte, mas
compreendendo diferentemente a dinâmica e os
processos dessa integração”.
15. Correntes “holísticas
O holismo
Base filosófica: holismo – a realidade é uma totalidade formada por dimensões
interpenetrantes, constituindo uma unidade orgânica.
Projeto educativo: “conscientizar para o fato de que as pessoas pertencem ao
universo e que o desenvolvimento da espécie humana depende de um projeto
mundial de preservação da vida. […] não rejeita o conhecimento racional e outras
formas de conhecimento, mas insiste em considerar a vida como uma totalidade
em que o todo se encontra na parte, cada parte é um todo, porque o todo está
nela”.
Teoria da complexidade
“É uma abordagem metodológica dos fenômenos em que se apreende a
complexidade das situações educativas, em oposição ao pensamento
simplificador”.
Morin e Lê Moigne (2000): “a teoria científica não é o reflexo do real, é uma
construção do espírito que se esforça para captar o real. As teorias científicas são
produções do espírito, são percepções do real, são sociais, emergem de uma
cultura. Elas carregam a incerteza, o inesperado”.
Prática pedagógica não prescritiva, não disciplinar, é preciso dialogar com a
dúvida, com o inesperado. “…pressupõe a integração no ato pedagógico de
múltiplas dimensões, o que requer o diálogo com várias orientações de
pensamento, reconhecendo que nenhuma teoria pedagógica é capaz, sozinha, de
atender a necessidades educativas sociais e individuais”.
16. Correntes “holísticas
A teoria naturalista do conhecimento
Varela e Maturana, Assman
Opõe-se a uma visão mentalista do sujeito e da consciência,
afirma a mediação corporal dos processos de conhecimento.
Assman: teoria da corporeidade – nova visão do conhecimento
cujo ponto de partida é a profunda identidade entre os processos
vitais e os processos de conhecimento.
Ecopedagogia
“…pedagogia que promove a aprendizagem do sentido das coisas
a partir da vida cotidiana”.
“Os princípios da ecopedagogia acentuam a unidade de tudo o
que existe, a inter-relação e auto-organização dos diferentes
ecossistemas, o reconhecimento do global e do local na
perspectiva de uma cidadania planetária, a centralidade do ser
humano no processo educativo e a intersubjetividade, a educação
voltada para a vida cotidiana”.
17. Correntes “holísticas
O conhecimento em rede
Base: “…os conhecimentos disciplinares,
assentados na visão moderna de razão, devem
ceder lugar aos conhecimentos tecidos em redes
relacionadas à ação cotidiana”.
O conhecimento está vinculado a prática social,
emerge das redes de relações em que pessoas
compartilham significados.
São eliminadas as fronteiras entre ciência e senso
comum, entre conhecimento válido e conhecimento
cotidiano.
18. Correntes “pós-modernas”
Não se autodenominam de pedagogias e
recusam as classificações.
Base: criticam as concepções globalizantes do
destino humano e da sociedade, i. e., as
metanarrativas calcadas na razão, na ciência, no
progresso, na autonomia individual.
19. Correntes “pós-modernas”
O pós-estruturalismo
Base: Foucault – relação entre o saber e o poder nas instituições educativas.
Se há uma pedagogia, ela será desconstrutiva dos discursos.
Temas de investigação e análise: o poder, a linguagem e a cultura
Questões que discute: a identidade/diferença, a subjetividade, os significados
e as práticas discursivas, as relações gênero-raça-etnia-sexualidade, o
multiculturalismo, os estudos culturais e os estudos feministas.
O neopragmatismo
Base: filosofia analítica; R. Rorty – principal representante.
Valoriza, no processo educativo, as experiências pessoais do indivíduo, a
interação dialógica numa conversação aberta, contínua, interminável.
Ação pedagógica: valoriza atitudes dos professores em suas ações e
interações baseadas no diálogo; o currículo como processo que propicia a
transformação pessoal, com base na experiência que o aluno vivencia ao
aprender; propõe a discussão de problemas humanos edificantes. Em
síntese, propõe uma visão de conhecimento e de construção humana em que
se supera uma visão individualista, estática, por outra de caráter dialógico,
comunicativo, realizada no mundo prático onde o conhecimento é produzido.
20. Temas emergentes das teorias
educacionais contemporâneas em
embate com as teorias modernas
Crise da noção de totalidade e valores e objetivos da
educação
A crítica da razão e a consciência individual autônoma
A noção de ciência e os conteúdos escolares
Do paradigma da consciência à filosofia da linguagem
Sociedade do conhecimento, novas tecnologias,
qualidade da educação
O currículo e sua interface com a cultura, o poder e a
linguagem
Totalidade do ser e subjetividade fragmentada
Relativismo cultural, diferença, universalidade
Objetivismo epistemológico e saberes da experiência
21. Pontos dos quais a pedagogia moderna
crítica não pode se afastar
Crença na educação como capacitação para a autodeterminação
racional.
Não abrir mão dos princípios de emancipação humana, da autonomia, da
razão, da liberdade intelectual e política
Criar condições para que todos tenham o domínio da cultura geral
de base, da ciência e da arte (formação geral) (Fugir do cunho
técnico e privilegiar o cunho geral).
Princípio da dialética entre o individual e o coletivo (estabelecer as
diferenças)
Educação unilateral, a educação como formação de todas as
potencialidades humanas (física, cognitiva, afetiva, moral e estética)
Empreender práticas educativas que aliem os conteúdos à
experiência sociocultural concreta dos alunos
Questão que desponta dos conceitos modernos
Quais saberes são necessários serem ensinados?
22. Onde estamos e para onde
vamos?
O hibridismo ajuda? – sim, a escolha deve ser
feita com critérios.
Qual teoria adotar?
Libâneo (2005) propõe a adoção da teoria histórico-cultural e
a pesquisa cultural
Para concluir, os dilemas a enfrentar…
Universalismo e relativismo
Formas de organização curricular baseado na formação do
conhecimento científico ou com base na experiência
sociocultural
Formas de organização institucional da escola
Significado da educação inclusiva (para todos)
Notas do Editor
Conhecer é processar informação;
Teoria Curricular Crítica – No Brasil há uma prescrição legal do que deva ser um currículo (PCN´s) – Parâmetros Curriculares Nacionais;
PCN´s = Atravessadas por culturas, ideologias, relações de controle;
Currículo Prescrito – Prescrição é uma indicação do que deve ser ensinado (Na realidade nem sempre o que é prescrito é de fato ensinado, ou seja, há uma distância do que se ensina para o que se aprende, sempre se é mais rico o que se ensina, mais complexo do que fora prescrevido);
Currículo Real
Currículo Oculto
Teoria Histórico-Cultural -
Habermas – Racionalidade instrumental;
Perre Levi – Árvore do Conhecimento
Escola da Ponte – Portugal
A escola brasileira não cumpre o mínimo (O sujeito deveria sair dominando as disciplinas, desenvolvendo um pensamento autônomo)