1. P. 129
1. Considere a imagem e respetiva legenda.
Prisioneiros do campo de concentração de Buchenwald (abril de 1945). Na Segunda Guerra
Mundial, durante a ocupação alemã, os pescadores holandeses e dinamarqueses transportaram
clandestinamente nos seus barcos, para países aliados ou neutrais (como a Inglaterra ou a Suécia),
milhares de foragidos judeus. Por vezes, os barcos de pesca com refugiados a bordo eram intercetados
por barcos-patrulha nazis. Quando isto acontecia, os pescadores mentiam e obtinham autorização de
passagem, seguindo depois viagem com os judeus perseguidos. Com esta ação evitaram que muitos
judeus fossem aprisionados e mortos nos campos de concentração e extermínio nazis.
1. Do ponto de vista de Kant, a ação dos pescadores é moralmente admissível? Fundamente.
2. Se agir moralmente significa agir de acordo com uma lei que imponho a mim mesmo, o que
me garante que todos irão escolher a mesma lei moral? Se o imperativo categórico é produto
da minha vontade, não será possível que pessoas diferentes escolham imperativos
categóricos diferentes? Justifique.
Cenários de resposta
1. Não. Kant adota uma posição muito dura contra a mentira. O dever de dizer a verdade prevalece sempre,
independentemente das circunstâncias particulares e das consequências.
2. Q uando determinamos o imperativo moral a seguir – diz Kant -, não escolhemos enquanto pessoas particulares, mas
sim como seres racionais. A lei moral não depende de cada um de nós enquanto indivíduos com interesses e desejos.
Isto significa que, enquanto seres racionais, se nos abstrairmos dos nossos interesses e desejos chegaremos à mesma
conclusão, ou seja, a um imperativo categórico (incondicional), universal e absoluto.
2. P. 130
1. No conjunto de itens 1 a 8, selecione apenas as opções que permitem obter afirmações
possíveis de serem subscritas por Immanuel Kant.
1. O João afirma que age moralmente ao recusar-se a copiar nos testes. Fá-lo porque considera
que terá menos prejuízos com esta atitude, já que um zero e a vergonha por que passaria
seriam sempre piores do que um mau resultado conseguido num teste feito sem recorrer à
fraude.
2. Um cidadão que ajuda a capturar um assassino em série faz o que é moralmente correto, quer
o seu motivo seja o dever, quer seja a esperança de ser recompensado pelos riscos que correu.
3. Os magnatas que, como Bill Gates, doam em vida (ou em testamento) parte da sua fortuna
fazem o que é correto, mas não agem moralmente se a sua ação visar sentirem-se bem consigo
mesmos e com os outros.
4. Michael Bloomberg, um dos homens mais ricos dos Estados Unidos e presidente da câmara de
Nova Iorque, agiu moralmente ao assumir o compromisso de doar uma boa parte da sua
fortuna, uma vez que pretende ensinar aos seus filhos o valor do dinheiro.
5. Agem moralmente as pessoas que são caritativas quando o fazem sem nenhum outro motivo
de vaidade ou interesse, mas apenas porque reconhecem o dever de ajudar outros seres
humanos, agindo unicamente com base nesse dever.
6. Agem moralmente as pessoas que são caritativas sem nenhum outro motivo de vaidade ou
interesse, mas apenas pelo prazer em espalhar alegria à sua volta e se poderem alegrar com o
contentamento dos outros.
7. É moralmente irrelevante o motivo que leva a Rita a auxiliar os seus colegas na organização do
estudo para os testes, uma vez que os ajuda a conseguir melhores resultados, coisa que não
seria possível sem a sua preciosa colaboração.
8. Um cidadão que ajuda a capturar um assassino em série faz o que é moralmente correto se, e
apenas se, o seu motivo for o dever, mesmo com prejuízo dos seus interesses, entre eles, o
risco que corre ao fazê-lo.
2. Complete o quadro.
Deontologismo de Immanuel
Kant
Utilitarismo de J. Stuart Mill
Definição de ação
moralmente correta
(A) (E)
Critério de
moralidade
(B) (F)
Virtudes da teoria (C) (G)
3. Objeções à teoria (D) (H)
Cenários de resposta
1. 3; 5; 8
2.
(A ) U ma ação é moralmente correta ou valiosa se, e apenas se, for única e exclusivamente motivada pelo dever, ou
seja, pela obediência estrita aos princípios.
(B) Imperativo categórico.
(C ) Respeito pelos princípios. Recusa da instrumentalização dos seres humanos.
(D) O cumprimento cego das obrigações morais pode conduzir a consequências funestas. C onflito de deveres: em
algumas circunstâncias, cumprir uma obrigação moral pode implicar deixar de cumprir outra.
(E) U ma ação é moralmente correta ou valiosa se, e somente se, previsivel mente maximizar imparcialmente a
felicidade ou o bem-estar do maior número do conjunto dos afetados.
(F) U tilidade ou princípio da maior felicidade.
(G) V alorização dos resultados e das circunstâncias específicas das ações.
(H) P ode colocar em causa os direitos individuais das pessoas, em nome da maioria (maior número de pessoas).
P. 133
1. Atente no texto que se segue.
Segundo o princípio da maior felicidade (…), o fim último, por referência ao qual e em virtude do qual
todas as outras coisas são desejáveis (quer estejamos a considerar o nosso próprio bem ou o das outras
pessoas), é uma existência tanto quanto possível isenta de dor e tão rica quanto possível em prazeres,
tanto em quantidade como em qualidade (…).
J. Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, p. 57.
1.1. Aponte o padrão de moralidade utilitarista.
1.2. Qual deve ser, segundo Stuart Mill, o fim último da moralidade?
Cenários de resposta
1.1. O padrão de moralidade utilitarista é o princípio da maior felicidade.
1.2. O fim último da moralidade de ser «uma existência tanto quanto possível isenta de dor e tão rica quanto possível
em prazeres, tanto em quantidade como em qualidade».
4. P. 136
1. Faça corresponder o conceito à respetiva descrição.
Conceito Descrição
1. Deontológicas
2. Consequencialistas
3. Utilitarismo
4. Dever
5. Ação por dever
6. Ação conforme ao
dever
7. Imperativo
categórico
8. Imperativo
hipotético
9. Autonomia
10. Heteronomia
11. Hedonismo
12. Prazeres
superiores
13. Prazeres inferiores
A. Ação correta, mas sem valor moral, segundo Kant.
B. Na ética kantiana uma afirmação normativa que
descreve uma ação necessária para alcançar um fim,
mas que vale apenas se e enquanto esse fim for
desejado pelo agente.
C. Teoria consequencialista que responde a todas as
questões acerca do que fazer, o que admirar ou como
fazer, em termos da maximização da utilidade ou da
felicidade.
D. A tese de que o prazer é o maior bem: só o prazer tem
valor em si e que todo o prazer tem valor em si.
E. Sinónimo de ação moral, ação por causa da lei moral,
na perspetiva kantiana.
F. Segundo Mill, os prazeres que estão associados à
satisfação física.
G. Teorias morais segundo as quais o valor moral de uma
ação deriva inteiramente do valor das suas
consequências e não do caráter da pessoa ou do valor
intrínseco da ação.
H. Na ética de Kant é o poder de um agente para agir de
acordo com regras de conduta universalmente válidas
e objetivas, avalizadas unicamente pela razão.
I. Para Mill, prazeres que estão associados às
capacidades psicológicas, intelectuais e morais dos
seres humanos.
J. Na ética kantiana uma afirmação normativa ou
obrigação moral que exige que algo se aplique a todas
as pessoas, independentemente das suas inclinações
ou circunstâncias
K. O que tem de ser feito ou que estamos obrigados a
fazer. É o conceito central das éticas deontológicas.
L. Teorias morais segundo as quais a correção ou
obrigatoriedade das ações morais – o cumprimento de
uma promessa, por exemplo – não dependem das
consequências, mas da obediência aos princípios.
M. É a condição de quem age segundo desejos e não
segundo princípios legislados pela razão.
5. Cenários de resposta
1. (L); 2. (G); 3. (C ); 4. (K); 5. (E); 6. (A ); 7. (J); 8. (B); 9. (H); 10. (M ); 11. (D); 12. (I); 13. (F)
P. 136
(Exercício retirado do teste intermédio de 2011)
1. Leia os textos seguintes.
Texto A
Conseguimos portanto mostrar, pelo menos, que, se o dever é um conceito que deve ter um
significado e conter uma verdadeira legislação para as nossas ações, esta legislação só se pode
exprimir em imperativos categóricos, mas de forma alguma em imperativos hipotéticos.
I. Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Atlântida, 1960, pp. 61-62.
Texto B
O objeto da ética é dizer-nos quais são os nossos deveres, ou por que meios podemos
conhecê-los; mas nenhum sistema de ética exige que o único motivo de tudo o que façamos
seja um sentimento de dever. (…) O motivo nada tem a ver com a moralidade da ação, embora
tenha muito a ver com o valor do agente. Quem salva um semelhante de se afogar faz o que
está moralmente correto, quer o seu motivo seja o dever, ou a esperança de ser pago pelo seu
incómodo.
J. Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, 2005, p. 65.
1.1. Distinga imperativo categórico de imperativo hipotético, considerando o texto A.
1.2. Interprete o exemplo dado no texto B segundo a perspetiva ética do autor.
2. Compare a ética de Kant com a ética de Stuart Mill.
Na sua resposta deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes aspetos:
• o princípio ético da autonomia da vontade em Kant e o princípio ético da maior felicidade em
Stuart Mill;
• o critério de moralidade em Kant e em Stuart Mill.
Cenários de resposta
1.1. Na resposta, são referidos os aspetos seguintes:
– o imperativo categórico exprime a lei moral sob a forma de dever;
– só as ações praticadas em obediência ao imperativo categórico, por puro respeito à lei, têm valor moral; o
imperativo categórico ordena sem condições;
– o imperativo hipotético ordena mediante condições. Neste caso, as ações são praticadas em função de
inclinações, ou como condição para se atingir uma finalidade extrínseca, pelo que não têm valor moral.
1.2. Na resposta, abordam-se os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes:
– a ação de salvar alguém de se afogar (exemplo do texto) é moralmente correta, independentemente da intenção
do agente;
– o valor moral da ação depende das consequências da ação.
2. Na resposta, integram-se os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
6. – segundo o princípio da vontade autónoma (racional), na ética formal de Kant, é na intenção do agente, na
obediência ao imperativo categórico (dever), que se encontra o critério de moralidade; é moralmente boa a ação
realizada por dever;
– segundo o princípio da maior felicidade para o maior número de pe ssoas, na ética utilitarista de Stuart M ill, são as
consequências da ação que devem ser julgadas; é moralmente boa a ação cujas consequências beneficiem o maior
número de pessoas, independentemente da intenção do agente;
– a ética de Kant é considerada deontológica, enquanto a ética de Stuart M ill é considerada consequencialista.
p. 136
(Exercício retirado do exame nacional de 2012)
Leia o texto seguinte.
Quando Kant propõe (…), enquanto princípio fundamental da moral, a lei «Age de modo que a tua regra
de conduta possa ser adotada como lei por todos os seres racionais», reconhece virtualmente que o
interesse coletivo da humanidade, ou, pelo menos, o interesse indiscriminado da humanidade, tem de
estar na mente do agente quando este determina conscienciosamente a moralidade do ato. Caso
contrário, Kant estaria (a) usar palavras vazias, pois nem sequer se pode defender plausivelmente que
mesmo uma regra de absoluto egoísmo não poderia ser adotada por todos os seres racionais, isto é, que
a natureza das coisas coloca um obstáculo insuperável à sua adoção. Para dar algum significado ao
princípio de Kant, o sentido a atribuir-lhe tem de ser o de que devemos moldar a nossa conduta segundo
uma regra que todos os seres racionais possam adotar com benefício para o seu interesse coletivo.
John Stuart Mill, Utilitarismo, Porto Editora, 2005.
1. Na resposta a cada um dos itens de 1.1. a 1.4., selecione a única opção adequada ao
sentido do texto.
1.1. Segundo Stuart Mill, Kant verdadeiramente valoriza…
(A) … o interesse da humanidade.
(B) … as circunstâncias da ação.
(C) … o imperativo categórico.
(D) … um imperativo hipotético.
1.2. Kant defende que a ação moral é determinada…
(A) … pelo bem-estar e pela felicidade.
(B) … pela razão e pelo dever.
(C) … pelo exemplo e pelo sentimento.
(D) … pela inclinação e pela boa vontade.
1.3. Stuart Mill defende que uma ação tem valor moral…
(A) … sempre que o agente renuncia ao prazer.
(B) … quando a intenção do agente é boa.
(C) … quando dela resulta um maior bem comum.
(D) … sempre que resulta de uma vontade boa.
1.4. Para Kant, a lei «Age de modo que a tua regra de conduta possa ser adotada como lei por todos os
seres racionais» significa que…
7. (A) … os seres racionais estão submetidos às suas emoções.
(B) … as ações morais são avaliadas pelas suas consequências.
(C) … as ações morais são avaliadas segundo as leis vigentes.
(D) … os seres racionais estão submetidos a leis objetivas.
Cenários de resposta
1.1. (A ); 1.2.(B); 1.3. (C ); 1.4.(D)
p. 136
(Exercício retirado da prova escrita de 2012)
Leia o texto seguinte.
Ficaria eu satisfeito de ver a minha máxima (de me tirar de apuros por meio de uma promessa não
verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para mim como para os outros)? E poderia eu dizer a
mim mesmo: – Toda a gente pode fazer uma promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade de
que não pode sair de outra maneira? Em breve reconheço que posso em verdade querer a mentira, mas
que não posso querer uma lei universal de mentir; pois, segundo uma tal lei, não poderia propriamente
haver já promessa alguma (…). Por conseguinte, a minha máxima, uma vez arvorada em lei universal,
destruir-se-ia a si mesma necessariamente.
I. Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Atlântida, 1960.
1.1. Explique, a partir do exemplo do texto, por que razão o ato de mentir nunca é moralmente
permissível, segundo Kant.
1.2. Compare o papel da intenção do agente na ética de Kant com o papel da intenção do agente na
ética de Stuart Mill.
Cenários de resposta
1.1. A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
- identificação das condições de moralidade de um ato, segundo Kant;
- articulação entre máxima, universalidade e lei moral;
- aplicação da lei moral kantiana ao exemplo do texto.
1.2. A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
- distinção do critério de avaliação moral das ações em Kant – a intenção do agente – e em StuartM ill – as
consequências das ações;
- clarificação do conceito de «dever» e/ou de «imperativo categórico» na ética kantiana e do «princípio da maior
felicidade» em Stuart M ill.