O documento descreve um programa de educação patrimonial na área do Projeto Salobo em Parauapebas, Brasil. O programa visa tornar conhecido o patrimônio arqueológico local entre os moradores e ensinar sobre a importância da preservação desse patrimônio cultural. O programa envolveu a descoberta do potencial artístico dos participantes e o resgate da herança cultural através da cerâmica, incorporando aspectos das peças arqueológicas encontradas na região.
1. Educação Patrimonial do Projeto Salobo - Parauapebas
Por Adilson Motta, 2012
O Programa de Educação Patrimonial para a área do Projeto Salobo que é vinculado
ao Projeto de Prospecção e Salvamento Arqueológico na área do Projeto Salobo, conforme
convênios firmados entre o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), a Vale do Rio Doce,
sua subsidiária Salobo Metais S.A (SMSA) e a Fundação Instituto para o Desenvolvimento
da Amazônia (FIDESA).
Sua realização visa o cumprimento da Portaria nº 230, de 17 de dezembro de 2002,
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, 2002) que prescreve a
realização de programas de educação patrimonial juntamente com o desenvolvimento de
pesquisas arqueológicas.
A área do projeto Salobo localiza-se na Floresta Nacional Tapirapé-Aquiri
(FLONATA), situada no município de Marabá, sudeste do estado do Pará, na região de
Carajás. As vilas Paulo Fonteles e Sanção, embora se encontrem no município de
Parauapebas, geograficamente estão bem próximas ao empreendimento e, portanto, aos
sítios arqueológicos existentes na área.
Portanto, o Patrimônio arqueológico existente na área do Projeto Salobo é o foco de
interesse deste programa de educação patrimonial. Torná-lo conhecido dos moradores locais
é essencial. Por um lado, para que estes entendam a necessidade do desenvolvimento de
pesquisas arqueológicas. E, por outro, também o é, porque a partir dos resultados da
pesquisa, a sociedade poderá obter informações sobre como era o modo de vida daqueles que
ali habitaram muito tempo antes de nós, reconstituindo parte da memória local e aprendendo
a valorizar o patrimônio cultural.
Fotos de algumas peças encontradas no sítio arqueológico da região
Salobo ePaulo Fonteles
2. Fonte: Mediações culturais com o patrimônio arqueológico: material de apoio à ação educativa patrimonial/
Lima, Janice Shirley de Souza et al. Belém: Museu paraense Emílio Goeldi, 2007.
Artefatos encontrados no sítio arqueológico de Paulo Fonteles – na localização
por onde vai passar a estrada (asfaltada) que liga Parauapebas ao Projeto Salobo
(por onde será escoada a produção mineral de Salobo).
Foram identificados 22 sítios e 5 ocorrências arqueológicas, todo a céu aberto
nas áreas investigadas até o momento. A cronologia situa a presença humana na
área entre 4.000 A.C. e 1800 AD. A sequência de datações, segundo Silveira (et
al, 2008), permitiu a identificação de três períodos: 1) período antigo –
relacionado a grupos caçadores coletores; 2) período intermediário –
relacionado a grupos caçadores coletores e grupos ceramistas; 3) período tardio
– relacionado a grupos ceramistas. Já na região Carajás foram identificados 53
sítios arqueológicos, caracterizados por dois contextos culturais distintos: um
pré-cerâmico e outro cerâmico.
3. O programa iniciou com ações nas vilas Sanção e Paulo Fonteles, para que os
participantes descobrissem suas potencialidades artísticas e artesanais no
sentido do resgate da herança cultural local e, agregado a esta meta, levar o
conhecimento do potencial arqueológico presente na região.
Como nas descobertas arqueológicas foram verificadas muitas peças e artefatos
da arte cerâmica – surgem um grupo de mulheres com um esplêndido projeto de
resgatar a arte dentro de seus moldes da descoberta, para que não fique apenas
como “peça de museu”, mas ganhe peculiaridade dentro da cultura
parauapebense ou regional.
Além de valorizar a cultura milenar deixada pela população que aqui dantes
vivera, esse aprendizado melhorou a qualidade da sua produção, apontando-lhes
boas perspectivas de renda. Desta forma, “a riqueza artística dos artefatos,
registro do seu modo de vida; e a necessidade de preservar e proteger esse
patrimônio”, afirma a arte-educadora e artesã Sandra Silva, piauiense integrante
da entidade.
Já Neuza Kluck, também arte-educadora partilha a ideia e realiza um antigo
desejo: “De conhecer a matéria prima e criar produtos artesanais que
representem um pouco da memória dos povos que aqui viveram; enfim,
conhecer e compreender cada artefato e perceber o registro da história de um
povode que eu não tinha a menor ideia da existência foi a realização de um
sonho”. Marlene Ribeiro, também participante do Grupo Mulheres de Barro,
comentando suas experiências afirma que: “Hoje tenho certeza de que o
patrimônio arqueológico é conhecimento, tem valor e precisa ser protegido e
valorizado”.