O documento discute a visão de Marx de que a religião é o "ópio do povo", servindo como um analgésico que torna a exploração e o sofrimento dos trabalhadores mais toleráveis. Também apresenta outras variáveis que alienam o povo, como política populista, analfabetismo e falta de consciência da realidade social. Por fim, reconhece que diferentes perspectivas filosóficas podem ver a religião de formas contrastantes.
1. As várias faces do “Ópio do Povo”
Para uma melhor compreensão do tema proposto, inicia-se este texto com sua fonte
primária, do autor Marx, o qual aponta que “A religião é o ópio do povo”. Com isso queria dizer
que ela serve como um anestésico para o sofrimento enfrentado pelos trabalhadores. Afinal, foi no
contexto da Revolução Industrial que fora escrito.
O ópio é uma droga com efeito anestésico. Seu consumo torna mais tolerável doenças
dolorosas ou situações de grande sofrimento físico. Ao afirmar que “a religião é o ópio do povo”,
Marx está referindo-se a esse “conforto”, ao consolo e à justificação que ela causa ao homem.
Para Karl Marx, é o ser humano quem faz a religião, mas a religião não faz o ser humano.
Nas suas palavras, conforme Lowi (2018), “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o
coração do mundo sem coração e o espírito das condições sem espírito. Ela é o ópio do povo.”
Reforça.
Marx parece sugerir com essa análise que essas crenças religiosas oferecem algum
conforto aos trabalhadores explorados. A esperança de um futuro de felicidade eterna é “o suspiro
da criatura oprimida”, um alívio momentâneo do sofrimento diário, que o faz conformar-se.
Nessa perspectiva, segundo Marx, a religião é adotada porque serve a uma necessidade
psicológica das classes mais desfavorecidas da sociedade. Pessoas em condições de vida
miseráveis como os trabalhadores ingleses (cita como exemplo) têm uma motivação forte para
acreditar que isso tudo que fala a religião é verdade. Pois essa crença tem um efeito anestésico:
torna o sofrimento suportável.
Em seu livro sobre Ludwig Börne, de 1940, Heine se refere ao papel narcótico da
religião de maneira positiva – com uma pitada de ironia: “Bendita seja uma religião, que goteja
sobre o amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio
espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança”.
Moeses Hess, (apud LOWI, 2018) em seus ensaios publicados na Suíça em 1843, adota
uma posição mais crítica – mas não livre de ambiguidade: “A religião pode render suportável… a
consciência infeliz da servidão… da mesma forma que o ópio é uma grande ajuda nas doenças
dolorosas”.
Com efeito, ele se debruçou inicialmente sobre o cristianismo primitivo, religião dos
pobres, excluídos, condenados, perseguidos e oprimidos. Os primeiros cristãos eram originários
das últimas fileiras da sociedade: escravos, libertos privados de seus direitos e pequenos
camponeses submersos em dívidas.
A religião e outras ideologias contribuem para fazer o trabalhador aceitar sua condição
miserável, ao invés de optar pela revolta.
2. Por que trabalhadores que viviam na miséria não se revoltavam contra o Estado e exigiam
uma vida melhor? Aqui entra a outra função da religião: manter todos submissos.
Nesse caso, a existência da religião é explicada por atender aos interesses da classe
dominante em manter todos pacíficos. A religião é difundida entre os trabalhadores pelos empresários
porque encoraja/sugere um comportamento humilde. Dessa forma, manipulado as crenças dos
trabalhadores, os patrões são capazes de mantê-los submissos. (Pensava Marx).
Para Ataíde (2021), dizer que o povo é alienado não é exatamente depreciá-lo. Esta
afirmação quer dizer, na maioria das vezes, que os mais pobres não têm consciência de sua
situação social, ou que pelo menos não se rebelam contra ela, como seria de se esperar. A questão
é colocada de tal modo, no entanto, como se a causa da alienação estivesse nas diversões
populares. É o que sugere uma frase muito presente na internet e pichada em muros de diversos
países: "enquanto te exploram, tu gritas gol". O que isso parece indicar é que, se o povo não
tivesse futebol ou novela, por exemplo, aí sim ele teria consciência de sua miséria e exploração.
Além da religião, apresentada por Marx como o ópio do povo, nota-se também outras variáveis que
também são ópio do povo, tais como: A política do pão e circo que milenarmente acontece e até os dias atuais
continua sendo esse ópio do conformismo, distração, alienação e diversão. O analfabetismo expresso em contrastes
e elevados índices também denota ser um forte vestígio de um ópio que vai além das religiões abrangendo classes
diversas.
Termina-se este texto com o seguinte questionamento: Porque o povo é alienado? Se o povo é
explorado e alienado nestes quatro aspectos descritos por Marx, por que ele não tem consciência
disso? A resposta é que não existe conhecimento imediato da realidade social. E por desconhecer, não
reage, não se manifesta. (Grifo meu). Na visão de um ateu, a religião é o ópio do povo. Na visão de um
cristão que abraça a fé, é a esperança. Na visão de um filósofo, um caso a estudar, pois tem vestígio de ciência e
ideologia.
Referências
Elster, John. Marx, Hoje. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
LOWI, Michael. Ópio do povo? Marxismo crítico e religião. 2018.
Glauber Ataide-dezembro 03, 2021. Por que o povo é alienado?
https://www.filosofiaepsicanalise.org/2021/12/por-que-o-povo-e-alienado.html. Acesso em
10/10/2023.