1. O documento discute as adaptações dos treinos de capoeira para pessoas com necessidades especiais e se isso pode ajudar a superar limites ou aumentar a consciência corporal. 2. A metodologia utilizada foi qualitativa, documental e bibliográfica. 3. A conclusão é que a adaptação dos treinos pode tanto ajudar a superar limites quanto aumentar a consciência corporal da pessoa.

1. 3
CAPOEIRA E EDUCAÇÃO ESPECIAL: ADAPTAR OS MOVIMENTOS CORPORAIS NO
TREINO É PARA SUPERAR LIMITES?
Júlio Carlos dos Santos1
; Luiz Leandro da Silva2
; Minervino Pereira Peixoto3
;Verônica de
Holanda Santos4
;
1
Formado em Gestão - gmestrecapile@gmail.com
2
Professor de Artes Marciais - projetokaisen@hotmail.com
3
Aluna do curso de Pedagogia na Unifatecie- vholandasantos@hotmail.com
4
Policial Aposentado-espinhela@gmail.com
Resumo: Este trabalho tem como objetivo principal refletir a respeito das adaptações no treinamento dos
movimentos corporais de capoeira para pessoas com necessidades especiais são necessários para se chegar a
um fator determinante: superar seus próprios limites e adquirir consciência corporal. A metodologia utilizada é a
abordagem qualitativa, documental e bibliográfica. Para aprender capoeira se faz necessário utilizar alguns meios,
sejam eles de modo lúdico, cheio de brincadeiras e de modo criativo. A prática esportiva é um elemento muito
importante no ensino-aprendizagem e um excelente incentivador de motivação e transformação dentro do
processo educativo quando é aberto espaço para diálogos e constantes interações, assim como favorece o
desempenho da memória, da cognição e das relações intrapessoal e interpessoal. O aprendizado dos movimentos
básicos da capoeira é relevante para que o aluno possa melhorar sua coordenação e atenção. Sendo assim, a
capoeira tem o objetivo de fornecer às pessoas com necessidades especiais o gosto pela prática de atividade
física, a socialização e seu bem-estar.
Palavras-chave: Capoeira. Educação Especial. Treino Adaptado. Superar Limites. Consciência Corporal.
INTRODUÇÃO
1 - Mestre de Capoeira de Cognome Capilé
2 - Professor de Capoeira de Cognome Belos Olhos
3 - Mestre Veterano de Capoeira de Cognome Espinhela
4 - Aluna de Capoeira de Cognome Paciência

2. 4
A singularidade desta pesquisa está em poder analisar as possibilidades que as
adaptações dos movimentos de capoeira para pessoas com necessidades especiais
podem desenvolver como uma prática pedagógica alternativa dentro do âmbito
capoeirístico, sendo a capoeira um elemento estruturante de formação humana e
poderoso elixir de cidadania.
Sendo a capoeira, um poderoso recurso pedagógico, quando é capaz de trazer
inúmeras possibilidades de ensino-aprendizagem, das quais pode-se citar a
descentralização dos ensinamentos expressão por meio dos participantes em roda. É
nesta forma de organização espacial que se possibilita aos participantes atribuir muitos
sentidos e vários significados pedagógicos em sua vivência neste momento formativo
pautado na relação e na interação com o outro e na horizontalidade dentro das relações
com o saber. Desse modo, aquele que se sente isolado, automaticamente faz a partilha; o
sentimento de individualismo é substituído pelo sentimento de solidariedade; os que tem
espírito de competição são tomados por espírito de cooperação e o que se tinha como
hierarquia do sábio saber é substituído pela distribuição equitativa do conhecer.
Em espaços que se trabalha pedagogicamente com pessoas com deficiência, os
movimentos corporais vivenciados nos treinamentos possibilitam que sejam ultrapassadas
todas as barreiras de atitudes existentes dentro do processo de exclusão social que
passam a ser substituídas pelas trocas, pelas parcerias e por todo o convívio com as
diferenças. Salientar que a prática da capoeira traz possibilidades de superação de
barreiras físicas por meio de um movimentos corporais que propiciam a ultrapassagem de
limites e dá a possibilidade de o atendimento às necessidades.
Buscamos compreender ao longo desta pesquisa, apresentar os treinos de capoeira
como uma gama lógica de estratégias pedagógicas, onde o trabalho adaptado com
pessoas com deficiência, podem apontar possibilidades de atendimento dos interesses
daqueles que social e historicamente foram excluídos dentro do processo de ensino-
aprendizagem por serem desconsiderados como aptos por muitas áreas de nossa vida
cotidiana. Nesse interim, o trabalho com a capoeira é colocado, em muitas situações a
serviço da vida, a serviço de transformações e principalmente da transformação da cultura

3. 5
excludente e, em consequência desses atos, estará sempre a serviço da transformação
social de um povo.
Nesse interim, a presente pesquisa versa sobre o seguinte problema: As adaptações
dos treinos de capoeira para pessoas com necessidades especiais pode contribuir para
superar limites ou é para ter maior consciência corporal? A capoeira faz parte da cultura
não somente brasileira, mas das culturas ao redor do globo terrestre e, que divulga a arte,
a língua e a cultura brasileira como um todo por onde passa e permanece. Essa
manifestação sociocultural, por meio de seus gestos corporais, leva a riqueza ímpar de
nosso povo, de nossa terra.
Em sua origem, a capoeira era utilizada como instrumento de luta por libertação de um
povo, dentro dessa óptica, ela ainda mantém essa perspectiva original de instrumento de
resistência, só que agora é utilizada pela educação de pessoas com deficiência para a
construção do alicerce de uma sociedade mais igualitária e justa, cuja verticalização das
relações e a valorização dos nomeados como “mais capazes” é substituída pela
horizontalização do conhecimento e pelo ensino-aprendizado do respeito às diferenças,
onde se tem a possibilidade por meio do convívio diário. Diante do exposto, a capoeira
passa a ser uma estratégia pedagógica dentro de um processo de educação libertadora,
onde busca romper com qualquer tipo de dominação e de exclusão.
O termo capoeira surgiu em função da fuga dos negros, onde esses procuravam uma
capoeira, ou seja, um local semi desmatado, que servia de para treinamento quando eram
encontrados pelos capitães-do-mato e lutavam, defendendo sua liberdade. Os
movimentos corporais da capoeira são sempre movimentos naturais, espontâneos que
cada pessoa expressa e de acordo com sua flexibilidade, resistência e mobilidade
corporal.
Segundo (REGO, 1968, p. 359), “primitivamente, a capoeira era um folguedo que os
negros inventaram [...] para divertirem a si e aos demais nas festas de largo, sem,
contudo, deixar de utilizá-la como luta, no momento preciso para sua defesa”.
De acordo com (CUNHA, 2003, p.65): “a Capoeira é uma arte brasileira que possui
múltiplas linguagens, das atividades físicas é a única que oferece às pessoas o maior

4. 6
número de experiências motoras, desenvolvendo algumas com mais e outras com menos
intensidade, porém todas as qualidades físicas são trabalhadas”.
METODOLOGIA
Para a realização da pesquisa escolhemos a abordagem qualitativa, documental,
bibliográfica por propiciar àquilo que há de singular no processo interativo, assim como
define Gerhardt (2009) ao nos exemplificar a respeito da pesquisa qualitativa: “a pesquisa
qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o
aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. [...] A
pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem
ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações
sociais”.
O trabalho em adaptar movimentos corporais da capoeira para pessoas com
necessidades especiais, seja para superar limites e/ou para se ter a consciência corporal,
é de grande valia pois as inseri em um mundo todo novo, cheio de ludicidade, pleno de
musicalidade, de arte e culturalmente enriquecido com valores éticos e morais, já que
pertence à cultura brasileira, à cultura de um povo e que também se faz presente em
muitas outras culturas e povos ao redor do mundo.
CONCLUSÃO
A temática foi escolhida para esse trabalho acreditando que o esporte é um excelente
instrumento sócio educacional, onde propicia o desenvolvimento integral do ser humano.
Ampliando o campo de experiência por cada indivíduo, já que estimula o desenvolvimento
físico e intelectual e oferece realidades de aprendizagem integral e social.

5. 7
Ao longo deste trabalho, podemos constatar que a adaptação dos treinos da capoeira
para pessoas com necessidades especiais pode tanto ser para superar limites quanto
para maior conhecimento da consciência corporal, já que nem sempre, ao adaptar os
movimentos, chega-se a superação de limite que se esperava, no entanto, o participante
consegue ter uma maior consciência de si mesmo e de seus pares.
A capoeira, que é cheia de expressão corporal, de gestualidade, de ludicidade é
atualmente vista como arte, como esporte, como arte marcial, como luta, como jogo,
como bem estar e lazer e, procura propagr a cultura, a paz e o bem aos cidadãos em
geral, além do que, visa a passar mensagens positivas, trazendo os velhos valores da
sociedade em que está inserida, valores esses que ajudam na relação interpessoal:
respeito, solidariedade, comprometimeto com si e com o outro, lealdade e
companheirismo e, todos esses podem ser transmitidos na prática capoeirística quando
em um roda de capoeira.
Sendo assim, espera-se que este trabalho de pesquisa sobre adaptações dos treinos
de pessoas com necessidades especiais inspire outros pesquisadores e capoeiristas na
área a pesquisarem e estudarem temas e questões afins que dependem de pessoas
interessadas em aprofundar e difundir a temática. Ao educar, consegue-se transformar
indivíduos tornando-os cidadãos críticos.
Deste modo, reafirma-se a importância de ferramentas alternativas como um meio de
propiciar e evidenciar valores éticos para a comunidade de um modo geral. Esse trabalho
possibilitou estabelecer uma proposta divergente de inclusão da capoeira no meio
educacional, dentro de uma gama de contribuições no ensino-aprendizagem de forma
integral e de socialização por meio dos movimentos corporais relativas à arte
capoeirística.
Gostaríamos que por meio do esporte e dentro do sistema educacional houvesse uma
maior aderência de socialização e que os indivíduos sejam sempre motivados à prática da
capoeira e que a mesma seja inclusa definitivamente no currículo escolar e institucional,
gerando assim um grande desenvolvimento integral, assim não se pode negar que por

6. 8
sua diversidade cultural, musicalidade, floreios podemos torná-la a cada dia mais
participativa em sua totalidade.
Sabe-se que o esporte e a prática de atividades físicas, melhora a autoestima, educa e
reeduca, socializa o ser humano, desperta habilidades adormecidas, possibilita todo o
desenvolvimento intelectual, coopera, incentiva a solidariedade, desperta a disciplina e o
respeito. A capoeira tem novas propostas educacionais, que englobam a vida do aluno e
o prepara para a vida.
Como educadores somos responsáveis por mudanças de vidas e planejar atividades
alternativas, que sejam complementares e sugestivas para sempre visar a melhoria do ser
humano em seu todo. Estar sempre dentro de uma perspectiva de crescimento pessoal e
educacional de qualidade de vida(s) enquanto seres transformadores de ações, ainda
mais quando o foco principal são as pessoas com necessidades especiais, que tanto
precisam de políticas educacionais mais abrangentes e de maior aderência.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Camile. Arte da Capoeira. Goiania/GO. 1995.
BRASIL. Roda de Capoeira recebe título de Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade. Brasília: Ministério da Cultura, 26 nov, 2014. Disponível em
<http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques. Acesso em 15 março 2019.
CAMPOS, Hélio. Capoeira na escola. Salvador: EDUFBA, 1990. 153p.
CUNHA, Andréa Cristiane Alves da. Capoeira Positiva - Os benefícios da prática da
Capoeira para crianças portadoras do vírus HIV. Rio de Janeiro: Edições Abada-
Capoeira, 2003.
DANTAS, Estélio H. M. A Prática da Preparação Física. 3ª edição. Rio de Janeiro:
Shape, 1995.
DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. Campinas, SP: Papirus, 1995.

7. 9
DARIDO, Suraya Cristina. Educação física na escola questões e reflexões. São Paulo,
SP: Guanabara Koogan, 2003.
FALCÃO, José Luiz Cirqueira. A escolarização da capoeira. Brasília DF: Royal Court
Editora, 1996.
FILHO, Vicente Deodato de Luna. SANTOS, Verônica de Holanda. Capoeira,
Musicalidade e Educação Infantil: Valores e Saberes Necessários à Prática
Educativa. In: V Congresso Nacional de Educação, 2018, Recife/PE. Anais do V
Congresso nacional de Educação – CONEDU. Porto Alegre: UniRitler, 2018. V.11. p.6.
________________. A Capoeira como Instrumento de Inclusão Social na Educação
Básica. In: V Congresso Nacional de Educação, 2018, Recife/PE. Anais do V Congresso
nacional de Educação – CONEDU. Porto Alegre: UniRitler, 2018. V.11. p.12.
FONSECA, V. Importância das emoções na aprendizagem: uma abordagem
neuropsicopedagógica. Rev. Psicopedagogia 2016; 33(102): 365-84.
____________. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na
aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. Psicopedagogia.
2014;31(96):236-53.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à pratica educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FRIGÉRIO, Alejandro. Capoeira: de arte negra a esporte branco. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, Rio de janeiro: v.4, n.10, p.85-98, jun.1989.
GERHARD, Tatiana; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2009. 120p.
IÓRIO, L. S.; Darido, S. C. (2005). Educação Física, capoeira e Educação Física
Escolar: possíveis relações. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v.4, n.4,
p.137-143.

8. 10
KOHL, Henrique Gerson. Gingando na prática pedagógica escolar: expressões
lúdicas no que fazer da educação física. Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal de Pernambuco. CE. Educação, 2007.
_____________. Educação e Capoeira: figurações emocionais na cidade do Recife-
PE-Brasil. Tese de Doutorado na Universidade Federal de Pernambuco. 2012, 390f.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho científico. 6 ed. São
Paulo: Atlas, 2001.
LOWEN, A. O corpo em terapia. São Paulo: Summus, 1977.
MENEZES, J. A. de; Vicente, J. G. V.; Órdas, M. C.; Menezes, N. de S. (2009). Capoeira
- análise das formas tradicionais de ensino. Propostas para beneficiá-las agregando
dados científicos no Treinamento das capacidades física, técnica, tática, moral e
Psicológica. In: Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III
Congresso Internacional de Ciências do Esporte. Salvador – Bahia/Brasil 20-25 de
setembro.
OLIVEIRA, Matheus de Falco Soares de. Capoeira para pessoas com deficiência
visual, análise de estudo de caso. I Congresso Internacional de Educação Física,
Esporte e Lazer. Unesp - Rio Claro- SP, 2010.
ORNELLAS, B. S. O peso do cordão na cintura do capoeirista: uma análise acerca
da graduação da capoeira. Disponível em: < http// www.grupomel.ufba.br> Acesso em:
10/01/2021.
PETTA, Rosangela. Capoeira: um jeito brasileiro de ir à luta. Revista Super
Interessante, v. 10, n. 5, p.46-57, Maio, Editora Abril, 1996.
REGO. Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio socioetnográfico. Salvador: Itapuã,
1968.
RIBEIRO, Jerri Luiz. Educação Física Inclusiva: Diferentes Olhares Sobre a Inclusão
Social Através da Educação Física e do Desporto.

9. 11
REIS FILHO, Adilson Domingo dos. A capoeira como instrumento pedagógico no
aprimoramento de coordenação motora de pessoas com Síndrome de Down.
Revista Pensar a Prática, Goiânia, v.13, n.2, 2010.
REIS, L. O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher
Brasil, 1997.
SILVA, G. O. (1995). Capoeira: do engenho à universidade. 2ª ed. São Paulo:
CEPEUSP.
SILVA, Jean Adriano. A capoeira na formação da pessoa com deficiência visual:
dificuldades e perspectivas presentes na ação pedagógica. Salvador: Dissertação
(Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, 2008.
SILVA, Jean Adriano e RABÊLLO, Roberto Sanches A Capoeira no 'Jogo' da
Aprendizagem: Perspectivas Para A Formação Da Pessoa Com Deficiência Visual.
Web Artigos, 2008.
SOARES, Gerson Alexandre; et.al. Manual da Capoeira de Pernambuco Imortal,
Imortal!!. Recife. Ed. dos Autores, 2020, 141 páginas. ISBN 978-65-00-04647-2.
VIEIRA, Luis Carlos Rabelo; SOUSA, Diego Sarmento. Inclusão na Educação Física
Escolar. Revisão de Conceitos, Caracterização de deficiências, benefícios do exercício
físico e esportes adaptados. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 16, Nº
155, 2011. http://www.efdeportes.com/efd155/beneficios-do-exercicio-fisico-e-esportes-
daptados.htm
VOLPI, José Henrique. Somatização: a memória emocional ancorada no corpo.
Curitiba: Centro Reichiano, 2004. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.
Acesso em: 10/12/2020.
VOLPI, J. H. & VOLPI, S. M. Crescer é uma aventura! Desenvolvimento emocional
segundo a psicologia corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2002.