Roteiros para o ensino e a pesquisa de gêneros textuais e hipertextuais
1. Roteiros para o ensino e a pesquisa
de gêneros textuais e hipertextuais
Prof. Thiago Eugênio
2. ARGUMENTO
Este minicurso tem por objetivo apresentar um estudo sobre os Gêneros
Textuais, a partir de uma perspectiva bakhtiniana. Serão analisados
gêneros hipertextuais como memes, twites, "textões", postagens e comentários
em redes sociais em diálogo com textos produzidos nos suportes impressos. Os exercícios de análise
serão realizados tanto pelo enfoque pedagógico, voltado para o ensino, quanto pela abordagem
teórica, voltada para a pesquisa científica.
3. CENAS
•CENA 1 – A teoria bakhtiniana e os desdobramentos
pedagógicos.
•CENA 2 – A apropriação dos gêneros discursivos por autores
brasileiros: Koch e Elias (2012), Travaglia (2007), Marcuschi (2007),
Santos et. al. (2015) e Costa (2012).
•CENA 1 – A internet e os gêneros textuais/hipertextuais.
4. CENA 1
A teoria bakhtiniana e os desdobramentos
pedagógicos.
• As fases dos estudos linguísticos;
• O signo em Saussure e Bakhtin;
• Dialogismo;
• As atividades humanas e o uso da linguagem;
5. Fases dos estudos da linguagem
5
Antiguidade Clássica
Concepção teológica da
linguagem e estudos sobre
as origens e as regras
universais do
funcionamento lógico da
língua.
Gramática Tradicional
Século XIX
Comparação (Linguística
Comparada) e
desenvolvimento e
evolução histórica da língua
através dos tempos.
Linguística
Histórica/Filologia
Início do séc. XX
Linguagem como
sistemas e os problemas
de funcionamento
desses sistemas.
Linguística Estruturalista
6. • Gramática tradicional – Ordenação lógica dos elementos linguísticos.
• Linguística histórica/filologia – “OLIMPÍADA”: Olympias (grego): “a cidade de Olímpia”. Aos
pés do Monte Olimpo, a cidade tem esse nome como uma homenagem ao local que era
considerado a morada dos deuses. Ados (grego) – equiv. Adis (latim): “relativo a”. O termo
“olimpíada” tem sua origem do grego, assimilando uma desinência/terminação (‘ad’) com
usos equivalentes no grego e no latim, e significa “relativo a”. Originalmente, “olimpíada”
significa “espaço de tempo entre as edições dos jogos realizados em Olímpia”, que por acaso
era de quatro anos. Passou a unidade de medida de tempo para os gregos, inclusive. E virou
sinônimo dos próprios Jogos, mais modernamente.
• Linguística estruturalista – arbitrariedade do signo linguístico: “O-LIM-PÍ-A-DA”, que pode ser
fragmentado em elementos menores, fonemas e morfemas.
7. Signo Linguístico e Signo Ideológico
Saussure
(1857 – 1913)
Bakhtin
(1895 – 1975)
O signo é carregado
de sentidos que
dizem respeito a
uma posição social,
histórica e cultural.
8. Langue X Parole
“Bakhtin enfatiza precisamente a fala, a parole, a enunciação, e afirma a natureza social, não
individual: a parole está indissoluvelmente ligada às condições de comunicação, que estão
sempre ligadas às estruturas sociais” (Weedwood, 2002. p. 152).
Na teoria bakhtiniana ou dialógica, o nosso discurso é resultado de condições sociais e
históricas, o que faz com que nunca possamos “falar sozinhos”.
Abordagem dialógica da linguagem
“Os enunciados estão sempre ligados a uma atividade humana, desempenhada por um
sujeito que tem um lugar na sociedade e na história” (Faria e Silva, p. 51).
9. “Conta só mais uma mentira!”
“O sentido último ou tema da
palavra é dado em cada
interação específica”
“O DIALOGISMO se dá pela
interação entre interlocutores
diretos e pela relação entre
vozes (ou discursos) presentes,
de forma explícita ou não, nos
enunciados”
10.
11.
12. Atividades humanas e uso da linguagem
“O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos)
concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da
atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as
finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo
da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais
da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional” (Bakhtin, 2011, p.
261).
13.
14. Enunciado concreto
“Enunciado concreto é um todo formado pela parte material (verbal ou visual) e
pelos contextos de produção, circulação e recepção. Isso significa que o processo e
o produto da enunciação são constitutivos do enunciado” (Silva, 2013, p. 49).
Folha de S. Paulo, 19/11/2017
17. Desdobramentos Pedagógicos
1) Ensino da língua com fundamentação teórica e substrato científico;
2) Democratização do ensino.
1) Sociolinguística – variedades linguísticas, preconceito linguístico, conceito
de “erro”.
-> resistência no reconhecimento da legitimidade de variedades
linguísticas
2) Teoria dos gêneros - aspectos sócio-históricos e interativos que definem o
funcionamento do texto e resultam de seu contexto de produção e recepção
-> há uma lacuna na formação de professores quanto a
compreensão do conceito e à orientação para o trabalho no ensino da língua:
O que é gênero? Quantos e quais são os gêneros? Com que gêneros se deve
trabalhar no ensino de português? Como ensinar tomando como diretriz os
gêneros?
Contexto Histórico
(meados do século XX)
Desdobramento pedagógico
no ensino de LP
18. O dialogismo nas redes sociais
Eu sou rica!
Hoje é dia de rock, bebê!
Alô, alô graças a Deus!
Já acabou, Jéssica?
Se isso é estar na pior... Porra!
Não sou capaz de opinar.
Senhora? Senhora?
Você pode substituir...
19. CENA 2
A apropriação dos gêneros discursivos por
autores brasileiros: Koch e Elias (2012),
Travaglia (2007), Marcuschi (2007) e Santos
et. al. (2015) e Costa (2012).
• Os gêneros discursivos e a Linguística do Texto;
• Os gêneros textuais nos PCN;
• Parâmetros para a categorização dos gêneros textuais;
• O trabalho pedagógico com os gêneros textuais.
20. O que é gênero?
Quantos e quais são os gêneros?
Com que gêneros se deve trabalhar no ensino de português?
Como ensinar tomando como diretriz os gêneros?
22. Dialogismo > Gêneros
“O discurso de um orador, o curso de um professor, o monólogo de
um ator, as reflexões em voz alta de um homem só – são monólogos
somente em sua forma exterior, mas, em sua estrutura interna,
semântica e estilística, eles são, com efeito, essencialmente
dialógicos”. Volochinov
“Vê-se que, para definir essa noção, ora leva-se em conta, de modo preferencial, a
ancoragem social do discurso, ora sua natureza comunicacional, ora as
regularidades composicionais dos textos, ora as características formais dos
textos produzidos” (Maingueneau e Charaudeau, 2008, p. 251).
GÊNERO DISCURSIVO GÊNERO TEXTUAL
23. Gêneros do Discurso
“Cada enunciado particular é individual, mas cada
campo de utilização da língua elabora seus tipos
relativamente estáveis de enunciados, os quais
denominamos GÊNEROS DO DISCURSO”
(Bakhtin, 2011, p. 262),
24. Parâmetros Curriculares Nacionais
• Texto como unidade de ensino (não como pretexto!)
• Práticas de linguagem:
Leitura Produção
Análise
Linguística
LÍNGUA
EM
USO
25. O texto como unidade de ensino
“ o ensino de textos precisa englobar aspectos variados,
como o suporte onde circula, o gênero textual a que
pertence, a tipologia textual predominante,
considerando elementos verbais e não verbais
constituintes desse texto, além da interação entre
interlocutores”
Santos et. al. (2015)
26. Para o trabalho com os gêneros textuais,
cabe à escola:
1. Levar o aluno a compreender e produzir gêneros na escola e fora dela,
transformando-os, simplificando-os e enfatizando determinadas dimensões de
sua composição.
2. Colocar o aluno em situações de comunicação o mais próximo possível das
verdadeiras, para que possam dominá-las como realmente são.
IMPORTANTE
Quanto mais claramente o objeto do trabalho é descrito e explicado, mais ele se
torna acessível aos alunos não só nas práticas de aprendizagem da língua, como em
situações concretas de interação pela linguagem.
27. Ensino de Gramática Prática de Análise Linguística
Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e
invariável.
Concepção de língua como ação interlocutiva situada, sujeita
às interferências dos falantes.
Fragmentação entre os eixos de ensino: as aulas de gramática
não se relacionam necessariamente com as de leitura e
produção textual.
Integração entre os eixos de ensino: a análise linguística é
ferramenta para a leitura e produção de textos.
Metodologia transmissiva, baseada na exposição dedutiva (do
geral para o particular, isto é, das regras para o exemplo) +
treinamento.
Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação dos
casos particulares para a conclusão das regularidades/regras).
Privilégio das habilidades metalinguísticas. Trabalho paralelo com habilidades metalinguísticas (reflexão
voltada para a descrição) e epilinguísticas (reflexão sobre o
uso).
Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de ensino,
abordando isoladamente e em sequência mais ou menos fixa.
Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de letura
e escrita), que remetem a vários outros objetos de ensino
(estruturais, textuais, discursivos, normativos), apresentados e
retomados sempre que necessário.
Centralidade na norma padrão. Centralidade nos efeitos de sentido.
Ausência de relação com as especificidades dos gêneros, uma
vez que a análise é mais de cunho estrutural e, quando
normativa, desconsidera o funcionamento desses gêneros no
contexto de interação verbal.
Fusão com os gêneros, à medida que contempla justamente a
intersecção das condições de produção dos textos e as
escolhas linguísticas.
Unidades privilegiadas: a palavra, a frase, o período. Unidade privilegiada: o texto.
Preferência pelos exercícios estruturais, de identificação e
classificação de unidades/funções morfossintáticas e correção.
Preferência por questões abertas e atividades de pesquisa, que
exigem comparação e reflexão sobre adequação e efeitos de
sentido.
29. Qual é o gênero? Como categorizar?
Paulo,
Parabéns!
Você passou no vestibular!
Um abraço!
Sua mãe, Maria.
30. Como ensinar tomando como diretriz os
gêneros?
Atividades pré-textuais Atividades textuais Atividades pós-textuais
- Comentar sobre o
conteúdo temático;
- Apresentar outros textos
sobre a mesma temática;
- Apresentar outros textos
do mesmo gênero,
destacando características
recorrentes;
- Levantar hipóteses com
base no título e na
“mancha gráfica”.
- Identificar os elementos
que caracterizam o gênero
textual em questão;
- Propor atividades que
explorem cada uma dos
parâmetros:
1 – Conteúdo;
2 – Superfície Linguística;
3 – Estrutura Composicional;
4 – Função sociocomunicativa;
5 – Condições de produção.
- Explorar a
intertextualidade;
- Propor atividades de
retextualização;
- Propor pesquisas sobre
as referências presentes
no texto;
- Parafrasear oralmente o
texto.
31. CENA 3
A internet e os gêneros
textuais/hipertextuais.
• O hipertexto;
• O meme e a performatividade linguística;
• O trabalho pedagógico com memes e postagens.
32. Hipertexto: uma nova textualidade
BABO, Maria Augusta. O hipertexto como nova forma de escrita. IN. SUSSEKIND,
Flora. (org.). Historiografia literária e técnicas de escrita: do manuscrito ao
hipertexto. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2004.
• “esta [ a comunicação na rede] cria efeitos de presença, pela aceleração
do tempo e consequente aproximação de lugares e ainda pela
participação ativa dos interlocutores” .
• “A internet baseia-se sobretudo neste caráter dialogal, reticular e
simultâneo de comunicação, arrastando a escrita neste
movimento”.
• “Não se limita a ser um suporte técnico da escrita, o hipertexto tornou-se
uma prática de escrita, abrangendo, justamente por lhes dar uma
configuração nova, limite da narrativa e do livro como limite de uma certa
racionalidade de escrita. (...) O hipertexto enquanto nova concepção de
escrita encontra as teorias do texto nesse pondo extremo que é o
cruzamento de heterogeneidades semióticas”.
33. O “meme” e as textualidades digitais
“Memes são aqueles vídeos, fotomontagens ou frases que aparecem de repente,
como uma brincadeira, e se espalham num velocidade absurda, sofrendo mutações
e ganhando novos contextos e significados” (Barbosa, 2017, p. 10)
Livro
O gene Egoísta
(1976)
Richard Dawkins
Site
Memepool
(1988)
Viral
X
Meme
Disseminação de informações pela
internet em que a piada é
retrabalhada ou customizada.
34. “Diluindo a função do autor, o regime hipertextual nem por isso
instaura um outro, o leitor. Antes abre o espaço e o tempo a um
jogo em que cada decisor arrisca a sua própria condição”.
#MEUAMIGOSECRETO
40. “ Ser bakhtiniano é conversar com o
enunciado concreto, e não analisa-lo
como um objeto inanimado. Porque
ele fala...”
Adriana Pucci Penteado de Faria e Silva
UFBA
41. Referências
• BABO, Maria Augusta. O hipertexto como nova forma de escrita. IN. SUSSEKIND, Flora. (org.). Historiografia literária e técnicas
de escrita: do manuscrito ao hipertexto. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2004.
• BARBOSA, Kleyson. Os 198 maiores memes brasileiros que você respeita. São Paulo: Abril, 2017.
• BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 6ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
• COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de Gêneros Textuais. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
• CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2008.
• KOCH, Ingedore; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias para a produção textual. São Paulo: Contexto, 2012.
• MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definição e funcionalidades. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/322091/mod_resource/content/1/MARCUSCHI%20G%C3%AAneros%20textuais.pdf
• OLIVEIRA, Luciano Amaral (org.). Estudos do discurso: perspectivas teóricas. São Paulo: Parábola, 2013.
• SANTOS, Leonor Werneck. et. Al. Análise e produção de textos. São Paulo: Contexto, 2015.
• TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A caracterização de categorias de texto: tipos, gêneros e espécies. Disponível em:
http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/view/1426/1127
• WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da Linguística. São Paulo: Parábola, 2002.