O documento discute os objetivos de ensino da língua portuguesa ao longo do tempo, comparando um manual de 1965 com os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997. Apresenta também os principais conceitos de gêneros textuais, sequências textuais e gramática, ilustrando com exemplos de narrativa, descrição, explicação, diálogo e argumentação.
2. As orientações curriculares no
tempo...
PROGRAMA DE ENSINO
2ª. Série
Objetivos
- Aperfeiçoar a técnica da leitura tornando-a corrente e expressiva, favorecendo,
assim, a capacidade de compreensão do trecho lido;
- Desenvolver a capacidade de escrever com simplicidade, propriedade e correção;
- Eliminar da linguagem oral e escrita vícios e erros;
(...)
- treinar leitura independente em livros adequados à série;
(...)
- treinar saudações para os dias festivos (Natal, Dia das Mães, Páscoa, etc.)
(...)
Trecho do Manual do Professor Primário do Paraná, 2ª. Série, 1965.
3. Hoje...
OBJETIVOS GERAIS DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
Ao longo dos oito anos [hoje 9] do ensino fundamental, espera-se que os alunos adquiram
progressivamente uma competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver
problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no
mundo letrado. Para que essa expectativa se concretize, o ensino de Língua Portuguesa deverá
organizar-se de modo que os alunos sejam capazes de:
- Expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-las em instâncias públicas,...
- Utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade lingüística valorizada
socialmente,...
(...)
- Valorizar a leitura como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e
possibilidade de fruição estética,...
(...)
- Conhecer e analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e preconceitos de
classe, credo, gênero ou etnia.
Trecho dos Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa – Educação Fundamental, 1997.
4. Conceitos: gêneros, sequências
textuais e gramática
Atividades sociais
T
E Gêneros Discurso
X
T Sequências textuais Cognição
O
Gramática Língua
5. Gêneros e sequências
Adam (2001), apoiando-se na máxima bakhtiniana dos tipos relativamente estáveis de enunciado,
defende uma tipologia de sequências textuais que figuram na base dos textos prototípicos da
nossa vida social: a narrativa, a descritiva, a argumentativa, a explicativa e a dialogal. É
importante salientar aqui que sequência não é gênero textual, tampouco a sua contraparte formal.
Os gêneros são voláteis: eles continuam sendo instrumento social, com seu pressuposto dialógico
e sua função discursiva; eles também continuam sendo criação natural das relações humanas, com
valência para a subversão ou para a “intertextualidade inter-gêneros” (Marcuschi 2005, p. 31) – o
emprego da forma mais previsível de um gênero com o propósito de outro, como a escrita de um
editorial em formato de poesia, por exemplo.
As sequências, por seu turno, são segmentos relativamente fixos que compõem os diferentes e
vulneráveis gêneros da nossa sociedade. São tipos que perpassam os diferentes gêneros. Como
entidades de construção textual, as sequências são elementos abstratos em razão de que não
existem isoladamente na vida real das relações comunicativas, e ao mesmo tempo concretos, pois
preveem estruturas linguísticas características. Mas os gêneros é que são os enunciados da vida
real, carregados de condicionamentos pragmáticos, contextuais e ideológicos. Na estrutura
característica de uma sequência textual, preveem-se partes de texto significativamente
estruturantes, nomeadas como macroposições. Nesse sentido, as sentenças ou proposições
contituem macroposições, que por sua vez constituem a sequência. Num esquema:
sequência > macroposições > proposições
12. Diálogo
Sequência fática de abertura Sequências transacionais Sequência fática de
encerramento
Sequências semanticamente
encadeada
Sequências pragmaticamente
encadeadas
Cognitivo? Tudo...
13. Texto de diálogo
PACIENTE: O.
IDADE: 36 anos
EPISÓDIO 4
Falando sobre a relação com a mulher em casa.
O: Fabiana //sinalizou negativo com a mão //.
Inv: o que houve, vocês estão brigados?
O: óóóó //mostrando com as mãos bastante tempo//.
Inv: aconteceu alguma coisa com vocês?
O: ela diz... diz tô entrevado.
Inv: mas você ta melhorando bastante, já está conseguindo andar sem apoio, ta falando mais...
O: ela... ela... não quer mais.
Inv: não quer mais...
O: eu. Falou ela.
Inv: ela não quer mais ficar casada com você, ela quer separar?
O: to entrevado.
Inv: O que eu quero saber é se ela disse que quer acabar o casamento.
O: é. To entrevado.
Inv: ela disse que não quer mais ficar casada porque você ta entrevado?
O:éééééé //sinalizando que era isso mesmo// to entrevado.
19. A relação com os gêneros
sequências gêneros relacionados
narrativa Conto, novela, fábula, romance, narrativa de ficção científica,
crônica literária, adivinha, piada
descritiva Seminário, aula, conferência, verbete, nota relatório científico,
notícia de jornal e os instrucionais: receita, regulamento, regra de
jogo, instrução de uso
explicativa Artigo científico, notícia de jornal comentada, ensaio
dialogal Debate, MSN, discussão, consulta médica, sessão de terapia
argumentativa Artigo, coluna, carta de leitor, discurso de defesa e acusação,
resenha, editorial, ensaio, dissertação, tese, monografia
21. Rererências
ADAM, Jean-Michel. Les textes – types et prototypes (récit, description, argumentation, explication et
dialogue). 4. ed. Paris: Nathan, 2001.
_____. Linguistique textuelle – des genres de discours aux textes. Paris: Nathan Université, 2004.
_____. A linguística textual – introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2008.
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras – coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
_____. Avaliação da produção textual no ensino médio. In:Bunzen, C.; Mendonça, M. (Orgs.). Português
no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola, 2006, 163-180.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1981.
_____. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BERNARDO, Gustavo. Redação Inquieta. (4ª. Ed.) São Paulo: Globo, 1991.
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita – elementos
para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). In: DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard
(Org.). Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.
TALMY, Leonard. Toward a cognitive semantics. Cambridge, Massachusets, London: The MIT Press, vol
I and II, 2000.
WACHOWICZ, Teresa Cristina. Análise lingüística nos gêneros textuais. Curitiba: Ed. Ibpex, 2010.