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Abner Partala, Ingrid Kleinschmitt, Lara Antonelli, Leonardo Peres,
Lucas Borges, Mariana Viecelli.
 Hipertermia maligna é uma síndrome que se manifesta durante
uma anestesia geral. Entre as principais características estão a
súbita elevação da temperatura corporal (daí o nome) acompanhada de:
 ↑ do CO2 expirado,
 Rigidez muscular e
 ↑ da FC.
O quadro clínico é considerado grave, pois há a possibilidade de evolução para
um choque irreversível, podendo até mesmo levar à morte (daí o termo maligna).
Conselho Federal de Medicina
 Uma afecção hereditária e latente, caracterizada por resposta hipermetabólica a
anestésicos voláteis (halotano, enflurano, isoflurano, sevoflurano e desflurano) e
à succinilcolina. James Manica
 Ralatada no mundo inteiro, afeta todos os grupos
raciais e sexos, porém é mais comum em homens.
 Podem ocorrer nos extremos de idades, sendo mais
frequente em crianças.
 Estima-se que 1: 10 mil indivíduos possuam o traço genético susceptível à HM. A
consanguinidade ↑ a densidade na população.
 Crises fulminantes de HM ocorrem a cada 250 mil anestesias. A cada 62 mil
anestesias onde se associa halogenado e succinilcolina e a cada 85 mil
anestesias sem associação de succinilcolina.
 Tem-se a noção de que a expressão clínica da HM oscila entre 35 e 50%, o
restante pode ser assintomático.
 Dependete de: mutações na pop. estudada, agentes e os tipos desencadeantes,
duração da exposição e fatores ambientais. Comuns manifestações atípicas.
 Herança autossômica dominante com baixa penetrância e
expressão variável.
 Está associada a diferentes mutações genéticas, a maioria
delas localizadas no braço longo do cromossomo 19, no gene
para o receptor Rianodina (RYR1). Também estão relatadas
mutações nos cromossomos 1, 3, 5, 7 e 17.
 Essas mutações podem aumentar a probabilidade de abertura
do canal de Ca2+ na presença de agonistas  Ex: Halotano,
cafeína. Porém, não interferem no fluxo de cálcio na ausência
deles.
 Os demais casos estão relacionados a diferentes loci das
mutações do gene RYR1.
 A mutação do gene CACNA1S, que codifica a subunidade α1 do
canal de cálcio L do músculo esquelético, denominado receptor
de di-hidropiridina (DHPR), está associado à paralisia periódica
hipocalêmica.
 Em condições normais os níveis de
Cálcio são controlados por:
 Receptor Di-hidropiridina  Túbulo
Transverso
 Receptor Rianodina (RYR)  Retículo
Sarcoplasmático (RS)
 Sistema Cálcio-Adenosina-Trifosfatase
(Ca2+-ATPase).
 Há 2 tipos de receptores RYR:
 RYR1, do músculo esquelético
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 São receptores RYR, intracelulares,
que permitem o RS libere Ca2+ para
contração muscular.
 Atinge principalmente o músculo
esquelético, embora também possa
afetar miocárdio, cérebro e fígado.
 Em indivíduos suscetíveis, agentes
halogenados determinam a abertura
prolongada do receptor à Rianodina
ou à Di-hidropiridina, ocorrendo um
“vazamento” agudo de Ca2+ pelo RS.
 Descontrole na liberação de Cálcio
pelo Retículo Sarcoplasmático.
 A elevação do cálcio citosólico do músculo estriado desencadeia:
 Consumo (hidrólise) de grande quantidade de ATP  Hipertermia
 O esgotamento dos estoques de ATP resulta no rompimento da membrana do músculo esquelético e há
um extravasamento dos constituintes celulares, que incluem potássio, creatina, fosfatos e mioglobina.
 A perda de Potássio  Acidose metabólica e arritmias
 ↓ [ATP]  Rigidez Muscular
 O ↑ no consumo de O2 (pela glicólise = metabolismo aeróbico)
leva à hipóxia celular  acidose láctica e ↑ de CO2
 Desacoplamento da fosforilação oxidativa
 Lise celular e extravasamento do conteúdo do citoplasma.
 RESUMINDO  O estado hipermetabólico gera calor e leva à hipoxemia,
acidose metabólica, rabdomiólise (destruição e lise das células musculares) e a
um rápido aumento na temperatura corporal, que pode ser fatal
AMARAL J.L.G - Hipertermia Maligna Anestésica- Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
 Inicialmente: Manifestações relacionadas ao aumento do metabolismo
muscular e à acidose
 Tardiamente: Manifestações secundárias ao aumento de temperatura e
destruição das células musculares (rabdomiólise)
 Durante a anestesia ou até 3 horas após o fim da administração
 Rapidez média da evolução da crise conforme o halogenado:
 Halotano (35 minutos) > Isoflurano (140 minutos) > Desflurano (260 minutos)
 Intensa rigidez de masseter. (a ponto de dificultar a intubação traqueal, após a
administração de succinilcolina)
 Acreditava-se que várias miopatias poderiam ter associações com a HM. Mas a única
com correlação direta é Pacientes com distrofias musculares como Duchenne e
Becker (quando expostas aos agentes desencadeantes da HM, principalmente a
succinilcolina)
 Diagnóstico fundamentado no
quadro clínico.
 Exames complementares têm mais utilidade
na avaliação das complicações e resposta ao
tratamento.
 Manifestações inespecíficas de
incidência variável.
 Taquicardia, acidose respiratória e
metabólica, rigidez muscular, mioglobinúria,
elevação da temperatura, instabilidade
hemodinâmica, alterações da coagulação,
hipercalemia, hipercreatinemia...
 Existe uma tabela para
avaliar a probabilidade de
um evento corresponder à
síndrome.
 O julgamento clínico
prevalece sobre a escala,
devido à variedade de
diagnósticos diferenciais.
Diagnósticos diferenciais
 Hipnose e analgesia inadequada e
bacteremia podem mimetizar as crises.
 Sistemas de aquecimento mal
ajustados, tireotoxicose,
feocromocitoma, síndrome epiléptica e
reação a drogas também podem
resultar em elevação da temperatura.
DIAGNÓSTI
CO
CRISE DE
HIPERTERMIA
MALIGNA
• PETCO2 > 5mmHg merece investigação.
• Aumento da pressão venosa e arterial de
CO2 é observada em crises fulminantes,
mas pode ser atenuada pela
hiperventilação nas moderadas.
Capnografia
• CPK > 20.000Ui/L.
• Não ocorre na maioria dos casos.
Elevação da creatinofosfocinase
Sintomas
Inespecíficos demais.
Febre, fadiga, câimbras,
fraqueza...
Antecedentes pessoais e
familiares
Ausência de sintomas
em exposições anteriores
não exclui suscetibilidade.
Temperatura baixa, opioides e
BNM podem ter atenuado a
resposta.
Creatinofosfocinase
em repouso
Elevação pouco específica, mas
útil quando há histórico familiar.
Concentração de cálcio
no citosol de linfócitos
Possibilidade promissora
(não é parte da rotina clínica)
Espectroscopia com
RNM para fósforo
Possibilidade promissora
(não é parte da rotina clínica)
DIAGNÓ
STICO
SUSCETIBILIDA
DE
 Teste de contração à exposição ao
halotano e cafeína
 Padrão internacional para confirmação
diagnóstica, mesmo em casos clássicos.
 Avalia a resposta contrátil de fascículos
biopsados a concentrações crescentes dos dois.
 Permite seleção para investigação genética.
 Há o protocolo americano e o europeu, que é
mais específico. No Brasil, usa-se o americano.
DIAGNÓ
STICO
SUSCETIBILIDA
DE
 Teste de contração à exposição ao
halotano e cafeína
 Pacientes com crises suspeitas e familiares
de casos confirmados.
 Feito depois de três meses após a crise, pois
poderia haver lesão residual.
 Evita-se em crianças abaixo de 20kg e
usuários de dandrolene sódico ou
bloqueadores de canal de cálcio.
As principais complicações da hipertermia maligna são:
• Hipertensão arterial (fase inicial);
• Colapso circulatório (choque);
• Arritmias cardíacas;
• Distúrbios da hemostasia (coagulação intravascular disseminada);
• Insuficiência renal aguda;
• Frequentes e eventualmente fulminantes, tais complicações
contribuem para a gravidade da hipertermia maligna.
TRATAMENT
O
A gravidade potencial das situações clinicas
no contexto da HM, faz com que se adote
uma rotina de tratamento, organização dos
recurso matérias com finalidade de otimizar
a assistência ao paciente acometido.
O protocolo de tratamento da HM
internacionalmente recomendado é
baseado na interrupção da exposição a
agentes desencadeantes, administração de
medicação específica (dantrolene sódico)
e em medidas de suporte ou destinadas à
prevenção de complicações associadas.
Entre elas:
Aceso venoso central e sondagem vesical;
periodicidade da coleta de sangue arterial para
gasometria
dosagem de eletrólitos
Dosagem de creatinina, lactato, mioglobina,
plaquetas e fatores de coagulação, enzimas
musculares e hepáticas
FASE
AGUDA
A crise de HM é uma emergência, rapidez do
diagnóstico e pronta intervenção, são fundamentais
para seu controle.
 Interrupção imediata da inalação de anestésicos
voláteis e/ou succinilcolina: a progressão das
manifestações de HM (formas abortivas) pode ser
interrompida com a retirada do agente
desencadeante.
 Cancelamento da operação: desde que possível, os
procedimentos cirúrgicos devem ser adiados. •
Hiperventilação com oxigênio puro: não há
necessidade de troca do circuito circular ou sistema
de absorção de CO2.
 Dantrolene sódico.
 Controle da acidose metabólica: o bicarbonato de
sódio intravenoso é administrado conforme o
bicarbonato sérico
Resfriamento ativo: é feito por meio de
lavagem gástrica, vesical, retal e de
cavidades (peritoneal ou torácica)
eventualmente abertas com NaCl a 0,9% frio
Uso de colchão hipotérmico e aplicação de
gelo na superfície corporal, até atingir a
temperatura de 38 °C, para evitar hipotermia
Tratamento das arritmias cardíacas: estas
em geral são controladas com o tratamento da
hiperpotassemia e acidemia
Diurese: deve-se manter a diurese acima de 1
mL⋅kg−1⋅h−1 com hidratação e/ou diuréticos. A
diurese é potencializada pelo manitol, presente
nas apresentações de dantrolene (3 g a cada
20 mg de dantrolene).
DANDROLE
NE SÓDICO
 O dantrolene sódico é capaz de reduzir de forma
dose-dependente as concentrações intracelulares de
cálcio medidas em repouso no músculo esquelético
 Inibe a liberação de cálcio do retículo
sarcoplasmático durante o acoplamento excitação-
contração por meio de interação direta ou indireta
com o receptor rianodina.
 Administram-se injeções intravenosas de 2,5
mg⋅kg−1, repetidas até o completo controle das
manifestações de HM. Ainda que doses maiores
sejam eventualmente necessárias, o controle das
crises é obtido na maioria dos casos com dose total
inferior a 10 mg⋅kg−1.17,300 A análise de 117 casos
mostrou que os 18 pacientes que receberam dose
inicial de dantrolene igual ou superior a 6 mg⋅kg−1
sobreviveram, enquanto 11 óbitos foram registrados
entre os que receberam doses menores.301
Observação em UTI
a recorrência é descrita em cerca de 30% dos casos,
sendo assim, é necessário esse monitoramento por 24
horas.
Dantrolene intravenoso: administrar 1 mg⋅kg−1⋅h−1,
em uso contínuo, ou, intermitentemente, 1 mg⋅kg−1 a
cada 4 a 6 horas, durante 48 horas
Controles a cada 6 horas:
monitorizar temperatura, gasometria arterial, níveis
sanguíneos de CPK, potássio e cálcio, coagulograma,
mioglobina sérica e urinária.
 Crises fulminantes, associadas a 60% de mortalidade, foram descritas
em até 50% dos casos de hipertermia maligna.
 Entretanto, muitos casos leves, com remissão espontânea, devem passar
despercebidos.
 A difusão do conhecimento sobre hipertermia maligna e a disponibilidade
de monitorização mais efetiva tem permitido diagnóstico precoce e rápida
instiruição de tratamento específico, tornando possível reduzir a
mortalidade associada a essa afecção.
• A indicação de succinilcolina é cada vez menos frequente, e o halotano tem
sido substituído por agentes com menor potencial na provocação de crises de
hipertermia maligna;
• O desenvolvimento de técnicas genéticas, não invasivas, custo-efetivas e,
portanto, acessíveis permitirá identificar os indivíduos suscetíveis;
• A exigência de padrões de monitorização mais eficazes, que permitam o rápido
diagnóstico e a correção de eventuais anormalidades fisiológicas.
• Espera-se, assim, acentuada redução do número de casos de hipertermia
maligna nos próximos anos.
 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
70942012000600007
 Anestesiologia: Princípios e Técnicas – James Manica e colaboradores.
 Hipertermia Maligna: Aspectos Moleculares e Clínicos
https://www.scielo.br/pdf/rba/v62n6/v62n6a07.pdf
 https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/hipertemia-maligna.pdf

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Hipertermia maligna: causas, sintomas e tratamento

  • 1. Abner Partala, Ingrid Kleinschmitt, Lara Antonelli, Leonardo Peres, Lucas Borges, Mariana Viecelli.
  • 2.  Hipertermia maligna é uma síndrome que se manifesta durante uma anestesia geral. Entre as principais características estão a súbita elevação da temperatura corporal (daí o nome) acompanhada de:  ↑ do CO2 expirado,  Rigidez muscular e  ↑ da FC. O quadro clínico é considerado grave, pois há a possibilidade de evolução para um choque irreversível, podendo até mesmo levar à morte (daí o termo maligna). Conselho Federal de Medicina  Uma afecção hereditária e latente, caracterizada por resposta hipermetabólica a anestésicos voláteis (halotano, enflurano, isoflurano, sevoflurano e desflurano) e à succinilcolina. James Manica
  • 3.  Ralatada no mundo inteiro, afeta todos os grupos raciais e sexos, porém é mais comum em homens.  Podem ocorrer nos extremos de idades, sendo mais frequente em crianças.  Estima-se que 1: 10 mil indivíduos possuam o traço genético susceptível à HM. A consanguinidade ↑ a densidade na população.  Crises fulminantes de HM ocorrem a cada 250 mil anestesias. A cada 62 mil anestesias onde se associa halogenado e succinilcolina e a cada 85 mil anestesias sem associação de succinilcolina.  Tem-se a noção de que a expressão clínica da HM oscila entre 35 e 50%, o restante pode ser assintomático.  Dependete de: mutações na pop. estudada, agentes e os tipos desencadeantes, duração da exposição e fatores ambientais. Comuns manifestações atípicas.
  • 4.  Herança autossômica dominante com baixa penetrância e expressão variável.  Está associada a diferentes mutações genéticas, a maioria delas localizadas no braço longo do cromossomo 19, no gene para o receptor Rianodina (RYR1). Também estão relatadas mutações nos cromossomos 1, 3, 5, 7 e 17.  Essas mutações podem aumentar a probabilidade de abertura do canal de Ca2+ na presença de agonistas  Ex: Halotano, cafeína. Porém, não interferem no fluxo de cálcio na ausência deles.  Os demais casos estão relacionados a diferentes loci das mutações do gene RYR1.  A mutação do gene CACNA1S, que codifica a subunidade α1 do canal de cálcio L do músculo esquelético, denominado receptor de di-hidropiridina (DHPR), está associado à paralisia periódica hipocalêmica.
  • 5.  Em condições normais os níveis de Cálcio são controlados por:  Receptor Di-hidropiridina  Túbulo Transverso  Receptor Rianodina (RYR)  Retículo Sarcoplasmático (RS)  Sistema Cálcio-Adenosina-Trifosfatase (Ca2+-ATPase).  Há 2 tipos de receptores RYR:  RYR1, do músculo esquelético  RYR2, do músculo cardíaco.  São receptores RYR, intracelulares, que permitem o RS libere Ca2+ para contração muscular.
  • 6.  Atinge principalmente o músculo esquelético, embora também possa afetar miocárdio, cérebro e fígado.  Em indivíduos suscetíveis, agentes halogenados determinam a abertura prolongada do receptor à Rianodina ou à Di-hidropiridina, ocorrendo um “vazamento” agudo de Ca2+ pelo RS.  Descontrole na liberação de Cálcio pelo Retículo Sarcoplasmático.
  • 7.  A elevação do cálcio citosólico do músculo estriado desencadeia:  Consumo (hidrólise) de grande quantidade de ATP  Hipertermia  O esgotamento dos estoques de ATP resulta no rompimento da membrana do músculo esquelético e há um extravasamento dos constituintes celulares, que incluem potássio, creatina, fosfatos e mioglobina.  A perda de Potássio  Acidose metabólica e arritmias  ↓ [ATP]  Rigidez Muscular  O ↑ no consumo de O2 (pela glicólise = metabolismo aeróbico) leva à hipóxia celular  acidose láctica e ↑ de CO2  Desacoplamento da fosforilação oxidativa  Lise celular e extravasamento do conteúdo do citoplasma.  RESUMINDO  O estado hipermetabólico gera calor e leva à hipoxemia, acidose metabólica, rabdomiólise (destruição e lise das células musculares) e a um rápido aumento na temperatura corporal, que pode ser fatal AMARAL J.L.G - Hipertermia Maligna Anestésica- Revista Neurociências V13 N3 (supl-versão eletrônica) – jul/set, 2005
  • 8.  Inicialmente: Manifestações relacionadas ao aumento do metabolismo muscular e à acidose
  • 9.  Tardiamente: Manifestações secundárias ao aumento de temperatura e destruição das células musculares (rabdomiólise)
  • 10.
  • 11.  Durante a anestesia ou até 3 horas após o fim da administração  Rapidez média da evolução da crise conforme o halogenado:  Halotano (35 minutos) > Isoflurano (140 minutos) > Desflurano (260 minutos)
  • 12.  Intensa rigidez de masseter. (a ponto de dificultar a intubação traqueal, após a administração de succinilcolina)  Acreditava-se que várias miopatias poderiam ter associações com a HM. Mas a única com correlação direta é Pacientes com distrofias musculares como Duchenne e Becker (quando expostas aos agentes desencadeantes da HM, principalmente a succinilcolina)
  • 13.  Diagnóstico fundamentado no quadro clínico.  Exames complementares têm mais utilidade na avaliação das complicações e resposta ao tratamento.  Manifestações inespecíficas de incidência variável.  Taquicardia, acidose respiratória e metabólica, rigidez muscular, mioglobinúria, elevação da temperatura, instabilidade hemodinâmica, alterações da coagulação, hipercalemia, hipercreatinemia...
  • 14.  Existe uma tabela para avaliar a probabilidade de um evento corresponder à síndrome.  O julgamento clínico prevalece sobre a escala, devido à variedade de diagnósticos diferenciais.
  • 15. Diagnósticos diferenciais  Hipnose e analgesia inadequada e bacteremia podem mimetizar as crises.  Sistemas de aquecimento mal ajustados, tireotoxicose, feocromocitoma, síndrome epiléptica e reação a drogas também podem resultar em elevação da temperatura.
  • 16. DIAGNÓSTI CO CRISE DE HIPERTERMIA MALIGNA • PETCO2 > 5mmHg merece investigação. • Aumento da pressão venosa e arterial de CO2 é observada em crises fulminantes, mas pode ser atenuada pela hiperventilação nas moderadas. Capnografia • CPK > 20.000Ui/L. • Não ocorre na maioria dos casos. Elevação da creatinofosfocinase
  • 17. Sintomas Inespecíficos demais. Febre, fadiga, câimbras, fraqueza... Antecedentes pessoais e familiares Ausência de sintomas em exposições anteriores não exclui suscetibilidade. Temperatura baixa, opioides e BNM podem ter atenuado a resposta. Creatinofosfocinase em repouso Elevação pouco específica, mas útil quando há histórico familiar.
  • 18. Concentração de cálcio no citosol de linfócitos Possibilidade promissora (não é parte da rotina clínica) Espectroscopia com RNM para fósforo Possibilidade promissora (não é parte da rotina clínica)
  • 19. DIAGNÓ STICO SUSCETIBILIDA DE  Teste de contração à exposição ao halotano e cafeína  Padrão internacional para confirmação diagnóstica, mesmo em casos clássicos.  Avalia a resposta contrátil de fascículos biopsados a concentrações crescentes dos dois.  Permite seleção para investigação genética.  Há o protocolo americano e o europeu, que é mais específico. No Brasil, usa-se o americano.
  • 20. DIAGNÓ STICO SUSCETIBILIDA DE  Teste de contração à exposição ao halotano e cafeína  Pacientes com crises suspeitas e familiares de casos confirmados.  Feito depois de três meses após a crise, pois poderia haver lesão residual.  Evita-se em crianças abaixo de 20kg e usuários de dandrolene sódico ou bloqueadores de canal de cálcio.
  • 21. As principais complicações da hipertermia maligna são: • Hipertensão arterial (fase inicial); • Colapso circulatório (choque); • Arritmias cardíacas; • Distúrbios da hemostasia (coagulação intravascular disseminada); • Insuficiência renal aguda; • Frequentes e eventualmente fulminantes, tais complicações contribuem para a gravidade da hipertermia maligna.
  • 22. TRATAMENT O A gravidade potencial das situações clinicas no contexto da HM, faz com que se adote uma rotina de tratamento, organização dos recurso matérias com finalidade de otimizar a assistência ao paciente acometido. O protocolo de tratamento da HM internacionalmente recomendado é baseado na interrupção da exposição a agentes desencadeantes, administração de medicação específica (dantrolene sódico) e em medidas de suporte ou destinadas à prevenção de complicações associadas.
  • 23.
  • 24. Entre elas: Aceso venoso central e sondagem vesical; periodicidade da coleta de sangue arterial para gasometria dosagem de eletrólitos Dosagem de creatinina, lactato, mioglobina, plaquetas e fatores de coagulação, enzimas musculares e hepáticas
  • 25. FASE AGUDA A crise de HM é uma emergência, rapidez do diagnóstico e pronta intervenção, são fundamentais para seu controle.  Interrupção imediata da inalação de anestésicos voláteis e/ou succinilcolina: a progressão das manifestações de HM (formas abortivas) pode ser interrompida com a retirada do agente desencadeante.  Cancelamento da operação: desde que possível, os procedimentos cirúrgicos devem ser adiados. • Hiperventilação com oxigênio puro: não há necessidade de troca do circuito circular ou sistema de absorção de CO2.  Dantrolene sódico.  Controle da acidose metabólica: o bicarbonato de sódio intravenoso é administrado conforme o bicarbonato sérico
  • 26. Resfriamento ativo: é feito por meio de lavagem gástrica, vesical, retal e de cavidades (peritoneal ou torácica) eventualmente abertas com NaCl a 0,9% frio Uso de colchão hipotérmico e aplicação de gelo na superfície corporal, até atingir a temperatura de 38 °C, para evitar hipotermia Tratamento das arritmias cardíacas: estas em geral são controladas com o tratamento da hiperpotassemia e acidemia Diurese: deve-se manter a diurese acima de 1 mL⋅kg−1⋅h−1 com hidratação e/ou diuréticos. A diurese é potencializada pelo manitol, presente nas apresentações de dantrolene (3 g a cada 20 mg de dantrolene).
  • 27. DANDROLE NE SÓDICO  O dantrolene sódico é capaz de reduzir de forma dose-dependente as concentrações intracelulares de cálcio medidas em repouso no músculo esquelético  Inibe a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático durante o acoplamento excitação- contração por meio de interação direta ou indireta com o receptor rianodina.  Administram-se injeções intravenosas de 2,5 mg⋅kg−1, repetidas até o completo controle das manifestações de HM. Ainda que doses maiores sejam eventualmente necessárias, o controle das crises é obtido na maioria dos casos com dose total inferior a 10 mg⋅kg−1.17,300 A análise de 117 casos mostrou que os 18 pacientes que receberam dose inicial de dantrolene igual ou superior a 6 mg⋅kg−1 sobreviveram, enquanto 11 óbitos foram registrados entre os que receberam doses menores.301
  • 28. Observação em UTI a recorrência é descrita em cerca de 30% dos casos, sendo assim, é necessário esse monitoramento por 24 horas. Dantrolene intravenoso: administrar 1 mg⋅kg−1⋅h−1, em uso contínuo, ou, intermitentemente, 1 mg⋅kg−1 a cada 4 a 6 horas, durante 48 horas Controles a cada 6 horas: monitorizar temperatura, gasometria arterial, níveis sanguíneos de CPK, potássio e cálcio, coagulograma, mioglobina sérica e urinária.
  • 29.  Crises fulminantes, associadas a 60% de mortalidade, foram descritas em até 50% dos casos de hipertermia maligna.  Entretanto, muitos casos leves, com remissão espontânea, devem passar despercebidos.  A difusão do conhecimento sobre hipertermia maligna e a disponibilidade de monitorização mais efetiva tem permitido diagnóstico precoce e rápida instiruição de tratamento específico, tornando possível reduzir a mortalidade associada a essa afecção.
  • 30. • A indicação de succinilcolina é cada vez menos frequente, e o halotano tem sido substituído por agentes com menor potencial na provocação de crises de hipertermia maligna; • O desenvolvimento de técnicas genéticas, não invasivas, custo-efetivas e, portanto, acessíveis permitirá identificar os indivíduos suscetíveis; • A exigência de padrões de monitorização mais eficazes, que permitam o rápido diagnóstico e a correção de eventuais anormalidades fisiológicas. • Espera-se, assim, acentuada redução do número de casos de hipertermia maligna nos próximos anos.
  • 31.  https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 70942012000600007  Anestesiologia: Princípios e Técnicas – James Manica e colaboradores.  Hipertermia Maligna: Aspectos Moleculares e Clínicos https://www.scielo.br/pdf/rba/v62n6/v62n6a07.pdf  https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/hipertemia-maligna.pdf

Notas do Editor

  1. Os indivíduos susceptíveis à HM respondem de forma anormal quando expostos a anestésicos inalatórios (halotano, enflurano, isoflurano, desflurano, sevoflurano), relaxantes musculares despolarizantes (ex: succinilcolina) ou atividade física extrema em ambientes quentes. Durante a exposição a esses agentes desencadeantes, há um crescimento rápido e sustentado da concentração mioplasmática de Ca2+ por causa da hiperativação do RyR1, o que provoca uma profunda alteração na homeostasia do Ca2+ e caracteriza um estado hipermetabólico
  2. A penetrância incompleta indica que embora o indivíduo tenha a mutação genética para a susceptibilidade à HM, não significa que essa disfunção será expressa durante o primeiro ou até mesmo após a exposição a um agente desencadeante O relaxante muscular geralmente envolvido é succinilcolina; o anestésico inalante é, com mais frequência, halotano, embora outros (p. ex., isoflurano, sevoflurano, desflurano) também possam estar.
  3. Localizado no braço longo do cromossomo 19 (19q13.2), o gene RYR1 (750 kpb) possui 106 éxons transcritos em RNA mensageiro (RNAm), com 15.364 nucleotídeos que codificam uma proteína de 5.038 aminoácidos. Além do músculo esquelético, o gene RYR1 tem expressão em linfócitos. As mutações do gene RYR1 associadas à SHM concentram-se na região N-terminal da proteína, entre os aminoácidos 35 e 614, e na região central, entre os aminoácidos 3.163 e 2.458. Elas provavelmente aumentam a probabilidade de abertura do canal de cálcio na presença de agonistas (p. ex., halotano ou cafeína), mas não interferem no fluxo de cálcio na ausência destes. Sambuughin e colaboradores encontraram sete mutações conhecidas para o gene do receptor da rianodina (RYR1 – Arg163Cys, Gly248Arg, Arg614Cys, Val2168Met, Thr2206Met, Gly2434Arg e Arg2454His) nas frequências 2,7%, 1,4%, 1,4%, 1,4%, 1,4%, 5,5% e 4,1% respectivamente. Além disso, três novas substituições de aminoácidos (Val2214Ile, Ala2367Thr e Asp2431Asn) foram detectadas na frequência de 1,4% cada uma. Essas 10 mutações concorrem para 21,9% da população norte-americana suscetível à HM. Em quase metade dos casos, não se tem identificado a mutação causal. A quase totalidade dos demais casos de SHM tem, em diferentes loci, mutações no gene RYR1. Também ligada à SHM está a mutação do gene CACNA1S, que codifica a subunidade a1 do canal de cálcio L do músculo esquelético, denominado receptor de di-hidropiridina (DHPR), também associado à paralisia periódica hipocalêmica.
  4. Os receptores de rianodina (RyRs) são canais de cátion de alta condutância que liberam Ca2+ dos estoques intracelulares, tais como o retículo endo/sarcoplasmático (RE/RS) 6. Os RyRs são onipresentes em todos os tipos de células e estão envolvidos em uma variedade de processos celulares (acoplamento E-C, neurotransmissão, secreção etc.)
  5. Presença de ATP é normalmente necessária para permitir o relaxamento muscular, além da associação de filamentos de actina e miosina para que o músculo se torne rígido e inextensível
  6. Intensa rigidez de masseter. (a ponto de dificultar a intubação traqueal)
  7. O protocolo europeu inclui testes com rianodina e/ou 4-cloro-m-cresol, além do halotano e cafeína. A biópsia deve ser feita em centros de biópsia, pois o teste deve estar concluído em até 5h.
  8. O protocolo europeu inclui testes com rianodina e/ou 4-cloro-m-cresol, além do halotano e cafeína. A biópsia deve ser feita em centros de biópsia, pois o teste deve estar concluído em até 5h.
  9. A gravidade potencial das situações clínicas que se apresentam no contexto das crises de HM torna conveniente a adoção de uma rotina de tratamento e organização dos recursos materiais de sorte a otimizar a assistência. Recomendam-se, nesses casos, acesso venoso central e sondagem vesical. Conforme a gravidade e a resposta ao tratamento, determina-se a periodicidade da coleta de sangue arterial para gasometria, dosagem de eletrólitos, creatinina, lactato, mioglobina, plaquetas e fatores de coagulação, enzimas musculares e hepáticas. No QuADrO 83.4 estão listados os itens necessários ao tratamento de uma crise de HM, que, para facilitar o uso, são mais bem acondicionados em um sistema móvel e/ou disponíveis no centro cirúrgico para uso imediato. O protocolo de tratamento da HM internacionalmente recomendado69,298,299 é baseado na interrupção da exposição a agentes desencadeantes, administração de medicação específica (dantrolene sódico) e em medidas de suporte ou destinadas à prevenção de complicações associadas.
  10. A crise de HM é uma emergência. Seu controle fundamenta-se na rapidez do diagnóstico e na pronta intervenção, que consiste em: Controle da acidose metabólica: o bicarbonato de sódio intravenoso é administrado conforme o bicarbonato sérico (em geral, 1-2 mEq⋅kg−1). • Resfriamento ativo: é feito por meio de lavagem gástrica, vesical, retal e de cavidades (peritoneal ou torácica) eventualmente abertas com NaCl a 0,9% frio, bem como por uso de colchão hipotérmico e aplicação de gelo na superfície corporal, até atingir a temperatura de 38 °C, para evitar hipotermia. • Tratamento das arritmias cardíacas: estas em geral são controladas com o tratamento da hiperpotassemia e acidemia. Caso haja necessidade, pode-se usar procainamida intravenosa (ampola de 5 mL, 100 mg⋅mL−1). Em adultos, a dose de ataque é 10 a 15 mg⋅kg−1, e a de manutenção, 2 a 4 mg⋅min−1, na dose máxima de 50 mg⋅min−1. Em crianças, a dose de ataque é 2 a 6 mg⋅kg−1, e a de manutenção, 20 a 80 µg⋅kg−1⋅min−1, na dose máxima de 100 mg. Já em neonatos, a dose de ataque é 1,5 mg⋅kg−1, diluída em soro glicosado a 5% (10 mg⋅mL−1) e infundida em 30 minutos, e a de manutenção, 20 a 80 µg⋅kg−1⋅min−1. Não se devem usar bloqueadores de canais de cálcio, pois sua interação com dantrolene resulta em hiperpotassemia e colapso circulatório.310,321 • Tratamento da hiperpotassemia: inclui elevação do pH com hiperventilação e/ou infusão de bicarbonato de sódio QuADrO 83.4 Itens necessários ao tratamento de uma crise de hipertermia maligna • Dantrolene sódico (36 frascos) • Água destilada (2.500 mL, para diluir o dantrolene) • Seringas de 50 mL (10 unidades, para aspiração do dantrolene) • Sistema de resfriamento (manta com circulação de ar) • Gelo (disponível no centro cirúrgico em máquina própria para esse fim) • Sonda vesical (Foley; diversos tamanhos) • Sistema coletor de urina fechado (1 unidade) • Sonda gástrica (diversos calibres) • Sonda retal (1 unidade) • NaCl a 0,9%, 5.000 mL (resfriados para irrigação e 5 equipos) • Bicarbonato de sódio, 250 mL (4 bolsas e 2 equipos de microgotas) • Glicose a 50%, 20 mL (10 ampolas) • Insulina (1 frasco-ampola) • Lidocaína a 2%, 20 mL (2 frascos-ampola) • Procainamida (3 ampolas) • Furosemida (20 mg, 10 ampolas) • Manitol a 20%, 250 mL (1 bolsa) • Heparina (1 frasco-ampola) • Seringas de 5 mL (para coleta de sangue para exames laboratoriais e administração de medicamentos; 20 unidades) • Agulhas (30 x 7 mm; 20 unidades; 40 x 12 mm, 20 unidades) • NaCl a 0,9%, 250 mL (para diluição de medicação; 2 bolsas e 2 equipos) • Etiquetas para identificação de material a ser enviado para o laboratório Hipertermia maligna 1373 e solução com insulina, 0,15 U⋅kg−1 em glicose a 50%, 1 mL⋅kg−1. • Diurese: deve-se manter a diurese acima de 1 mL⋅kg−1⋅h−1 com hidratação e/ou diuréticos. A diurese é potencializada pelo manitol, presente nas apresentações de dantrolene (3 g a cada 20 mg de dantrolene).
  11. Dantrolene sódico administram-se injeções intravenosas de 2,5 mg⋅kg−1, repetidas até o completo controle das manifestações de HM. Ainda que doses maiores sejam eventualmente necessárias, o controle das crises é obtido na maioria dos casos com dose total inferior a 10 mg⋅kg−1.17,300 A análise de 117 casos mostrou que os 18 pacientes que receberam dose inicial de dantrolene igual ou superior a 6 mg⋅kg−1 sobreviveram, enquanto 11 óbitos foram registrados entre os que receberam doses menores.301
  12. Observação: a recorrência é descrita em cerca de 30% dos casos. Short e Cooper322 descreveram recidiva de uma crise de HM aparente controlada havia 18 horas. Assim, em face do risco de recidiva, é conveniente a observação em unidade de tratamento intensivo durante, pelo menos, 24 horas. Recomenda-se, ainda, ao menos 24 horas de observação para os pacientes acometidos de rigidez de masseter. Esses casos beneficiam-se dos mesmos controles propostos a seguir para os casos de HM.323 • Dantrolene intravenoso: administrar 1 mg⋅kg−1⋅h−1, em uso contínuo, ou, intermitentemente, 1 mg⋅kg−1 a cada 4 a 6 horas, durante 48 horas. • Controles a cada 6 horas: monitorizar temperatura, gasometria arterial, níveis sanguíneos de CPK, potássio e cálcio, coagulograma, mioglobina sérica e urinária.