2. FREUD NOS CONVIDA A FALAR SOBRE
SEXUALIDADE
• “......... Precisamos aprender a falar sem indignação sobre o que
chamamos de perversões sexuais - essas transgressões da função
sexual tanto na esfera do corpo quanto na do objeto sexual. Já a
indefinição dos limites do que se deve chamar de vida sexual
normal nas diferentes raças e épocas deveria arrefecer tal ardor
fanático. Tampouco nos devemos esquecer de que a perversão
que nos é mais repelente, o amor sensual de um homem por
outro, não só era tolerada num povo culturalmente tão superior a
nós quanto os gregos, como também lhe eram atribuídas entre
eles importantes funções sociais” (Freud, 1905, pág. 32)
3. SEXUALIDADE
De acordo com Millot (2001) a definição corrente [no período das
teorizações de freud] da sexualidade como comportamento
instintivo, destinado á união dos órgãos genitais de dois parceiros
de sexo oposto com vistas à reprodução da espécie, só recobre
parcialmente a extensão do conceito de sexualidade em psicanálise.
A experiência analítica mostra que a sexualidade não poderia ser
reduzida à genitalidade. As zonas genitais estão longe de ser as
únicas zonas erógenas. Os fins e objetos da pulsão sexual são, de
resto, eminentemente variáveis. (p. 22, grifo nosso).
4. MORAL SEXUAL CIVILIZADA E DOENÇA
NERVOSA MODERNA (1908)
Nesta obra, Freud expõe que as exigências da moral
sexual após a modernidade são suportadas desigualmente
pelo sujeito, pois ao normatizar as regras da conduta
sexual, impôs sacrifícios psíquicos à parcela de sujeitos
que não conseguem reproduzir a norma, comprometendo
o equilíbrio até da maioria pelo excesso dessas
exigências. (Millot, 2001)
5. PÓS-PSICANÁLISE
Após o falecimento de Sigmund Freud em 1939, muitos avanços
ocorreram na esfera mundial tangente às questões relacionadas aos
conteúdos então compreendidos por sexualidade.
Expandiu-se e fracionou-se em inúmeros aspectos os quais foram e
continuam sendo estudados e problematizados nos debates
acadêmicos e científicos ao redor do mundo.
A psicanálise continua sendo uma referência para inúmeras
pesquisas e estudos de base científica.
6. GÊNERO
“Entendendo gênero fundamentalmente como uma construção
social – e, portanto, histórica -, teríamos de supor que esse
conceito é plural, ou seja, haveria conceitos de feminino e de
masculino, social e historicamente diversos. A ideia de pluralidade
implicaria admitir não apenas que sociedades diferentes teriam
diferentes concepções de homem e de mulher, como também que
no interior de uma sociedade tais concepções seriam diversificadas,
conforme a classe, a religião, a raça, a idade, etc.; Além disso,
implicaria admitir que os conceitos de masculino e feminino se
transformam ao longo do tempo.” (Louro, 1997, p. 10)
8. “É uma normatização reguladora da estrutura da
sociedade contemporânea, pautada num padrão de
naturalidade heterossexual que prevê como o indivíduo
deve vivenciar e expressar suas subjetividades. Tais
vivências e expressões englobam, mesmo que de forma
indireta, categorizações de gênero, raça, classe social,
religião e orientação sexual” (Reis, Teixeira e Mendes,
2017)
9. “São processos sutis que interpassam a
subjetividade do indivíduo com classificações
para além do gênero feminino/masculino”
(Louro, 1997, apud Reis, Teixeira e Mendes,
2017)
10. “Todo movimento corporal é distinto para os dois
sexos: o andar balançando os quadris é assumido
como feminino, enquanto dos homens espera-se um
caminhar mais firme (palavra que no dicionário vem
associada a seguro, ereto, resoluto – expressões
muito masculinas e positivas), o uso das mãos [...] o
posicionamento das pernas ao sentar, enfim, muitas
posturas e movimentos são marcados, programados,
para um e para outro sexo” (Louro, 1992, pp. 58-59).
11. ESTUDOS SOBRE A SEXUALIDADE
Junto a sua total dependência da investigação psicanalítica, devo destacar, como
característica desse meu trabalho, sua deliberada dependência da investigação
biológica. Evitei cuidadosamente introduzir expectativas científicas provenientes
da biologia sexual geral, ou da biologia das espécies animais em particular, no
estudo da função sexual do ser humano que nos é possibilitado pela técnica da
psicanálise. A rigor, meu objetivo foi sondar o quanto se pode apurar sobre a
biologia da vida sexual humana com os meios acessíveis à investigação
psicológica; era me lícito assinalar os pontos de contato e concordância
resultantes dessa investigação, mas não havia por que me desconcertar com o
fato de o método psicanalítico, em muitos pontos importantes, levar a opiniões e
resultados consideravelmente diversos dos de base meramente biológica (Freud,
1905, p. 82) (grifo nosso)
12. OBJETO SEXUAL
Introduzamos aqui dois termos: chamemos de
objeto sexual a pessoa de quem provém a atração
sexual, e de alvo sexual a ação para a qual a
pulsão impele. Assim fazendo, a observação
cientificamente esquadrinhada mostrará um
grande número de desvios em ambos, o objeto
sexual e o alvo sexual, e a relação destes com a
suposta norma exige uma investigação minuciosa.
(Freud, 1905, pág. 84).
13. [A identificação] está fundada na fantasia, na projeção e na
idealização. Seu objeto tanto pode ser aquele que é odiado quanto
aquele que é adorado. (Hall, 2000, p. 107).
A teoria popular sobre a pulsão sexual tem seu mais belo
equivalente na fábula poética da divisão do ser humano em duas
metades - homem e mulher - que aspiram a unir-se de novo no
amor. Por isso causa grande surpresa tomar conhecimento de que
há homens cujo objeto sexual não é a mulher, mas o homem, e
mulheres para quem não o homem, e sim a mulher, representa o
objeto sexual. Diz-se dessas pessoas que são “de sexo contrário”,
ou melhor, “invertidas”, e chama-se o fato de inversão. O número
de tais pessoas é bastante considerável, embora haja dificuldades
em apurá-lo com precisão. (Freud, 1905, pág. 84).
14. INVERTIDOS
Richard von Krafft-Ebing
PSYCHOPATHIA SEXUALIS
Explicação da inversão: Nem a hipótese de que a
inversão é inata, nem tampouco a conjectura
alternativa de que é adquirida explicam sua
natureza. (Freud, 1905, pág. 84).
15. B I S SEXUA L I DA D E
No texto três ensaios sobre a sexualidade, freud discute sobre o
hermafroditismo anatômico e psíquico vejamos:
. “A doutrina da bissexualidade foi exprimida em sua mais crua forma por um porta-voz
dos invertidos masculinos: “um cérebro feminino num corpo masculino”. Entretanto,
ignoramos quais seriam as características de um “cérebro feminino”. A substituição do
problema psicológico pelo anatômico é tão inútil quanto injustificada. A tentativa de
explicação de krafft-ebing parece concebida de maneira mais exata que a de ulrichs,
embora em essência não difira dela; segundo krafft-ebing [1895, 5], a disposição
bissexual dota o indivíduo tanto de centros cerebrais masculinos e femininos quanto de
órgãos sexuais somáticos. Esses centros começam a desenvolver-se na época da
puberdade, na maioria das vezes sob a influência das glândulas sexuais, que independem
deles na disposição [originária]. Mas a esses “centros” masculinos e femininos aplica-se o
mesmo que dissemos sobre os cérebros masculinos e femininos, e, a propósito, nem
sequer sabemos se cabe presumir, para as funções sexuais, áreas cerebrais delimitadas
(“centros”) como as que supomos, por exemplo, para a fala.” (Freud, 1905, pág. 89).
16. Era sugestivo transpor essa concepção para o
campo psíquico e explicar a inversão em todas as
suas variedades como a expressão de um
hermafroditismo psíquico. E para resolver a
questão restaria apenas constatar uma
coincidência regular da inversão com os sinais
anímicos e somáticos do hermafroditismo (FREUD,
1905, p. 89)
17. Desde que me familiarizei com a noção de
bissexualidade, passei a considerá-la como o fator
decisivo e penso que, sem levá-la em conta,
dificilmente se poderá chegar a uma compreensão
das manifestações sexuais efetivamente no homem
e na mulher. (Freud, 1905, pág. 135).
18. Vários foram os estudos de Freud para compreender a
bissexualidade como sendo própria do ser humano,
vejamos:
“É bem sabido que a análise de homossexuais masculinos
em numerosos casos revelou a mesma combinação, o que
deveria nos alertar contra formarmos uma concepção
demasiado simples de natureza e gênese da inversão e
mantermos em mente a bissexualidade universal dos
seres humanos.” (Freud, 1920, p. 168).
19. A psicanálise possui uma base comum com a biologia, ao
pressupor uma bissexualidade original nos seres humanos (tal
como nos animais). Mas a psicanálise não pode elucidar a
natureza intrínseca daquilo que, na fraseologia convencional
ou biológica, é denominado de ‘masculino’ e ‘feminino’: ela
simplesmente toma os dois conceitos e faz deles a base de seu
trabalho. Quando tentamos reduzi-los mais ainda,
descobrimos a masculinidade desvanecendo-se em atividade e
a feminilidade em passividade, e isso não nos diz o bastante.
(Freud, 1920, p. 182, 183).
20. PSICANÁLISE E SEXUALIDADE
Não compete à psicanálise solucionar o
problema do homossexualismo. Ela deve
contentar-se com revelar os mecanismos psíquicos
que culminaram na determinação da escolha de
objeto, e remontar os caminhos que levam deles
até às disposições instintuais. (Freud, 1920, pág.
182).
21. RESPOSTA DA CARTA DA MÃE DE UM JOVEM
HOMOSSEXUAL
Lendo a sua carta, deduzo que seu filho é homossexual. Chamou fortemente a
minha atenção o fato de a senhora não mencionar este termo na informação que
acerca dele me enviou. Poderia lhe perguntar por que razão? Não tenho dúvidas
que a homossexualidade não representa uma vantagem, no entanto, também não
existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem
degradação alguma. Não pode ser qualificada como uma doença e nós a
consideramos como uma variante da função sexual, produto de certa interrupção
no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande respeito da antiguidade e
atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns dos personagens de maior
destaque na história como Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc. É uma
grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como
se esta fosse um delito. Caso não acredite na minha palavra, sugiro-lhe a leitura
dos livros de Havelock Ellis.
22. Ao me perguntar se eu posso lhe oferecer a minha ajuda, imagino
que isso seja uma tentativa de indagar acerca da minha posição em
relação à abolição da homossexualidade, visando substituí-la por
uma heterossexualidade normal. A minha resposta é que, em
termos gerais, nada parecido podemos prometer. Em certos casos
conseguimos desenvolver rudimentos das tendências
heterossexuais presentes em todo homossexual, embora na maioria
dos casos não seja possível. A questão fundamenta-se
principalmente, na qualidade e idade do sujeito, sem possibilidade
de determinar o resultado do tratamento. A análise pode fazer outra
coisa pelo seu filho. Se ele estiver experimentando
descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em
relação à sua vida social a análise poderá lhe proporcionar
tranquilidade, paz psíquica e plena eficiência, independentemente
de continuar sendo homossexual ou de mudar sua condição
23. RELATO DE EXPERIÊNCIA
“DISCUSSÕES SOBRE OS VÍNCULOS AFETIVOS ENTRE
HOMOSSEXUAIS E SEUS FAMILIARES”
LEILA SANT’ANNA BETONI
ACADÊMICA
JEFERSON CAMARGO TABORDA
ORIENTADOR
THIAGO DONDA RODRIGUES
CO-ORIENTADOR
24. R E S U M O
Esta pesquisa-intervenção tem como objetivo mencionar as alegrias e
tristezas de um grupo de pais de homossexuais e suas concepções de
gênero. Foi adotada como estratégia o método das oficinas de
intervenção psicossocial, sendo realizados seis encontros com pais e
familiares de homossexuais. Os resultados indicam que noções
cristalizadas, como o “papel de mulher” e “papel de homem”,
produzem sofrimentos diversos, mas podem ter seus efeitos
minimizados durante o processo grupal.
Observação: “Havia algo no homossexualismo da filha que lhe
despertava a mais profunda amargura, e estava determinado a
combatê-lo por todos os meios em seu poder.(Freud, 1920, p. 161)
25. MÉTODO
OFICINA
De acordo com afonso, (2006) [...] a “oficina” não se coloca como método sub-
reptício de manipulação e sim pretende ser um método participativo de análise
psicossocial, cujos processos podem ser estimulados mas não induzidos, e cujos
resultados dependem essencialmente da produção do grupo, enquanto uma rede
de relações, e não apenas da “atuação competente” de um coordenador. Como
seu nome diz, a oficina é um processo de construção, que se faz coletivamente –
ou não se faz (AFONSO, 2006, p. 60).
26. PROCESSOS PARA A FORMAÇÃO DO GRUPO
• DIVULGAÇÃO DO CONVITE NAS REDES SOCIAIS.
• VISITAS EM ALGUMAS ESCOLAS – ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO.
• VISITAS NOS CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS E CENTRO DE REFERÊNCIA
ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CREAS
• DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL - UFMS
• CONTATOS PESSOAIS.
27. PROBLEMATIZANDO GÊNERO COM
PAIS/RESPONSÁVEIS, ALGUMAS QUESTÕES QUE
SURGIRAM
- NO PRIMEIRO ENCONTRO HOUVE A PARTICIPAÇÃO APENAS DE MULHERES.
- HOUVE A APRESENTAÇÃO DOS PARTICIPANTES E OS RELATOS DE SUAS HISTÓRIAS
RELACIONADAS A HOMOSSEXUALIDADE DOS FILHOS.
- “CONVIVER COM A HOMOSSEXUALIDADE EM FAMÍLIA É DESCONSTRUIR CONCEITOS E
SONHOS”.
- APÓS FREQUENTAR CURSO SUPERIOR E LIDAR COM A TEMÁTICA, HOUVE A DESCONSTRUÇÃO
DE CONCEITOS.
- “ENGORDEI 20K COM A HOMOSSEXUALIDADE EM FAMÍLIA ESTOU EM BUSCA DA
DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS”.
- “MEU FILHO SE INTERESSAVA POR BRINCADEIRAS QUE REMETEM AO SEXO OPOSTO”.
- “ME SINTO UM MONSTRO EM NÃO ACEITAR MEU FILHO, PRECISO DESCONSTRUIR OS
CONCEITOS SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE, POIS O SOFRIMENTO GERADO EM FAMÍLIA É
FATO”.
- “ONDE FOI QUE EU ERREI NA EDUCAÇÃO DO MEU FILHO/A”?
28. -BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA E/OU FILHOS CRIADOS COM AVÓS INFLUENCIAM NA
HOMOSSEXUALIDADE.
-AUSÊNCIA DOS PAIS PELO TRABALHO, PAIS SEPARADOS, CARINHO EXCESSIVO DA
MÃE INFLUENCIAM NA HOMOSSEXUALIDADE.
-EXISTE INFLUÊNCIA DE HORMÔNIOS?
-QUEM TEM MAIS DIFICULDADE NA ACEITAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE, O PAI
OU A MÃE?
-“ME EMOCIONEI BASTANTE COM O FILME, ELE CONSEGUIU MOSTRAR O
SOFRIMENTO DO ADOLESCENTE PELA NÃO ACEITAÇÃO DA SUA
HOMOSSEXUALIDADE PELA FAMÍLIA”.
- “O FILME ABRIU MINHA MENTE, NO SENTIDO DE QUE O SER HUMANO NÃO É UM
PECADOR PELA PRÁTICA DA HOMOSSEXUALIDADE”.
29. - “ESTAR NO GRUPO É UM PASSO PARA A ACEITAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE”.
- “FOI DEUS QUE ME MANDOU VIR A ESSE GRUPO, HOJE MUDEI O OLHAR PARA COM O MEU
FILHO”.
- “OS ENCONTROS AJUDARAM A COMPREENDER A CONDIÇÃO DO MEU FILHO”.
- “ME FIZEREM CRESCER EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO DA DIVERSIDADE SEXUAL”.
- “CONSEGUI VER QUE NÃO SOU APENAS EU QUE VIVENCIO ESSA SITUAÇÃO”.
- “FALAR DA HOMOSSEXUALIDADE DO MEU FILHO ONDE TODOS VIVEM A MESMA SITUAÇÃO É
CONFORTANTE E ACOLHEDOR”.
- “A RELAÇÃO COM O MEU FILHO SEMPRE FOI BOA, MAS OS ENCONTROS ME FIZERAM CRESCER
MUITO”.
- “OS RELATOS DOS PAIS FORAM MUITO IMPORTANTES, POIS PUDERAM DEMONSTRAR SEUS
SENTIMENTOS”.
- IMPORTANTE FRISAR QUE DURANTE A CONFRATERNIZAÇÃO REALIZADA NO ULTIMO
ENCONTRO, TODOS OS PARTICIPANTES PEGARAM OS SEUS APARELHOS DE CELULARES PARA
MOSTRAREM A FOTO DOS SEUS FILHOS DEMONSTRANDO A ALEGRIA E O AMOR EM TÊ-LOS.
30. O GRUPO
APÓS A REALIZAÇÃO DOS SEIS ENCONTROS O GRUPO DECIDIU POR DAR
CONTINUIDADE AOS TRABALHOS.
FOI DADO UM NOME AO GRUPO POR ESCOLHAS DOS PRÓPRIOS PARTICIPANTES.
“ F A R D - FORTALECENDO AMOR E RESPEITO NA DIVERSIDADE”.
OS ENCONTROS ACONTECEM NA CLINICA-ESCOLA DA UFMS , A CADA QUINZE DIAS.
31. ALGUNS RESULTADOS
o “Eu sempre fui uma menina muito moleca, o quintal de casa era imenso, vivia
brincando na terra, subindo em árvore, fazendo trilha com os meninos e isso não
influenciou na minha orientação sexual; já a minha filha, que nunca participou de
brincadeiras assim, é lésbica”
o “Minha filha estava fazendo o enxoval da minha netinha e comprou só roupas rosas,
amarelas, cores de meninas. Meu marido brigou com ela, falando que não existe
cores de meninos ou de meninas e que não era para impor questões de gênero”
o “Quando eu estava na faculdade, além de ser uma das poucas mulheres da sala, tive
que ouvir de vários professores que ali não era meu lugar, que eu estava tirando o
lugar de um homem e que eu deveria voltar para o tanque”
32. o “O grupo salvou minha vida, estava sendo muito difícil para mim, e para minha filha,
lidarmos com o fato dela ser trans, e foi aqui que este processo ficou mais fácil; foi
deus que me encaminhou até aqui”
o “Eu abri meus olhos e pude ver a pessoa maravilhosa que minha filha é, nossa
relação já era boa, mas depois dos encontros melhorou muito”
o “Os encontros foram muito importantes para mim, me ajudaram a crescer
emocionalmente; por mais que eu tentasse entender o fato da sexualidade do meu
filho, sempre pairava uma insegurança e, como consequência, em certos momentos,
deixava o relacionamento fragilizado”
• “A presença do meu filho e do seu namorado hoje no grupo diz tudo, quanto vim
para o grupo não sabia nada sobre a homossexualidade, meu filho não é filho
biológico do meu atual marido e estávamos em conflito em casa. Hoje aceito o meu
filho e amo o seu companheiro como se fosse meu filho também, vê-los felizes é
motivo de felicidade para mim, hoje eles estão casados e morando na casa deles.
33. A MUDANÇA DO DISCURSO
PRIMEIRO
ENCONTRO
“Eu vivo uma relação harmoniosa
com minha filha, há aceitação do
pai e do irmão, mas é um assunto
velado, não há diálogos sobre esta
questão”
SEGUNDO
ENCONTRO
“Cheguei em casa e pedi para
minha filha assistir orações para
bobby comigo”
TERCEIRO
ENCONTRO
“Onde eu estava que não prestei
atenção no desenvolvimento e no
sofrimento da minha filha em
relação a sua sexualidade?”
34. A MUDANÇA DO DISCURSO
PRIMEIRO ENCONTRO
• “Ainda quando pequeno eu já percebia que
tinha algo diferente no meu filho, tenho
sentimento de culpa por ter mimado ele na
infância; quando ele nos contou sobre sua
condição houveram desentendimentos na
família, que sempre foi muito unida,
principalmente a dificuldade de aceitação da
sexualidade do filho, e o fato de ter mais duas
filhas acabou facilitando um pouco o processo
de aceitação. Meu maior sofrimento é saber
que meu filho é bastante inteligente, está
cursando direito em outra cidade, mora com as
irmãs, mas tenho receio de que o fato de ser
homossexual feche muitas portas para ele”
VIGÉSIMO QUARTO ENCONTRO
• ”Eu sentia uma profunda dor no meu peito,
não conseguia compreender, com a
participação no grupo pude perceber que
estava vivenciando um luto, a perda do filho
heterossexual, meus sonhos e fantasias
estavam assumindo uma nova posição. Hoje
eu consigo compreender que passei por um
processo de desconstrução de conceitos e
sonhos; convivemos com o namorado do
nosso filho e compreendo que está é minha
família”
35. DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO NO GRUPO
• Reflexões e discussões sobre o papel da mulher na sociedade:
o “A desigualdade sempre foi global, apesar da diminuição nas últimas década. Devido ao contexto
histórico do homem ser provedor, lembrando que na atualidade não mais, porém o machismo está
enraizado. É necessário fazer o movimento de igualdade sempre promovendo oportunidades iguais
e igualar as relações de trabalho; o homem como provedor ter diminuído a cada dia que passa, são
muitas mulheres que sustentam sozinhas as suas casas, sendo na maioria abandonadas pelos
maridos e deixadas com os filhos”
o “É uma questão cultural, homens ainda recebem salários maiores que as mulheres mesmo
exercendo a mesma função. Os cargos de chefias em sua grande maioria são ocupados por
homens, há uma luta constante por igualdade neste sentido”
o “Essa injustiça sempre foi cometida em razão do homem ser o provedor, apesar de ter sido
funcionária pública onde o salário é igual para o desempenho da mesma função, essa desigualdade
é vista na iniciativa privada”
o “Para mim é muito natural desempenhar funções que são tidas como femininas, eu sempre trabalhei
muito nessa vida e por muitas vezes em cozinha de restaurantes, pude perceber que existe uma
desigualdade sim, em termos de funções e salários; em casa sou eu que faço todo o trabalho
doméstico, às vezes recebo ajuda, mas não vejo problema em fazer tudo”
o “Quando eu não trabalhava fora; quando eu não consegui fazer parto normal; quando não
36. OS FILHOS
• “À Leila Betoni e ao grupo FARD (fortalecendo amor e respeito na diversidade), pelo incrível
trabalho com familiares de pessoas lgbt’s e por todo o acolhimento e apoio à minha família.”
• “Agradeço a oportunidade de poder relatar minha história e estou muito feliz de ver minha
mãe participando de um espaço tão significativo como este”
• “Minha relação com minha mãe mudou muito a partir da participação dela no grupo”
• “No início sei o quanto foi difícil para a família aceitar a sexualidade do meu irmão. A principio
se declarou homossexual e posteriormente transexual. Com a participação no grupo foi fácil
para aceitarmos o processo”
• “Meus pais participaram apenas de um encontro, mas mesmo assim teve um efeito muito bom
na relação com minha família, principalmente com meu pai”
37. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Segundo coimbra (2001) não se está, desmerecendo e/ou mesmo diminuindo o
grave problema da violência ... que ocorrem, principalmente, nos lares, espaço
secular e socialmente sacralizado, considerado longe da violência e produzido
como “doméstico” e, por isso mesmo, enfatizado como o território da
privacidade. Esta questão deve ser analisada, denunciada e tratada, pois se
entende que não é uma questão privado; ao contrário, trata-se de um problema
público que deve, inclusive, ser enfrentado pelas autoridades e ser preocupação
das políticas públicas. Ao se colocar esse tipo de violência no espaço
doméstico, no território do privado, retira-se todo o seu caráter político-social,
encarcerando-o num terreno facilmente psicologizante, familiarizante e
intimizante.
• OBS. : Foram realizados 33 encontros com a participação de 24 pessoas.
38. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFONSO, M.L.M.(ORG.) “OFICINAS EM DINÂMICAS DE GRUPO: um método de intervenção
psicossocial. SÃO PAULO: Casa do psicológo, 2006. PASSOS, KASTRUP E ESCÓSSIA, 2009.
COIMBRA, C. M. B. PSICOLOGIA, DIREITOS HUMANOS, EPISTEMOLOGIA E ÉTICA. 2001.
FREUD. Sigmund. [1856 – 1939]. A psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher.
In.: Obras Completas de Sigmund Freud: edição standart brasileira. Trad. Jayme Salomão. – Rio de
Janeiro: Imago, 1996, p. 159 -183.
FREUD, S. (1905). TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE. TRAD. SOB A DIREÇÃO DE
JAYME SALOMÃO. RIO DE JANEIRO, IMAGO, 2006. (EDIÇÃO STANDARD BRASILEIRA DAS OBRAS
PSICOLÓGICAS COMPLETAS DE SIGMUND FREUD, VII).
HALL, Stuart. Quem precisa de identidade?. In.: SILVA, Tomaz Tadeu (org. e trad.). Identidade e
diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 200. p. 103-133.
LOURO, G. L. (1997) GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO. UMA PERSPECTIVA PÓS-
ESTRUTURALISTA. 6ª ED. PETRÓPOLIS, RIO DE JANEIRO: EDITORA VOZES
MILLOT, Catherine. Freud antipedagogo. Trad. Ari Roitman. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2001.
REIS, C. R. DA S.; TEIXEIRA, S. A.; & MENDES, B. G. (2017). HETERONORMATIVIDADE: IMPLICAÇÕES
PSICOSSOCIAIS PARA SUJEITOS NÃO-HETERONORMATIVOS. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DA