Conferência SC 24 | Gestão logística para redução de custos e fidelização
Harvard Business Review Brasil Março 2019.pdf
1. Março 2019
hbrbr.com.br
R$ 49,90
BRASIL
Por qu
falha
Criticar as
pessoas não
as ajuda a atingir
a excelência.
Há uma
forma melhor.
50
62 O ponto cego da colaboração
LISA B. KWAN
72 Duas metas. Um só manual
JULIE BATTILANA, ANNE-CLAIRE PACHE,
METIN SENGUL E MARISSA KIMSEY
32 O futuro do desenvolvimento de lideranças
MIHNEA MOLDOVEANU E DAS NARAYANDAS
Editores
2.
3.
4. Março2019
31
FOCO
COMOEDUCAR
APRÓXIMA
GERAÇÃODE
LÍDERES
32 GESTÃO DE TALENTOS
Ofuturodo
desenvolvimento
delideranças
Lacunas na educação
executiva tradicional
estão criando espaço
para abordagens mais
customizadas e democráticas.
Mihnea Moldoveanu e
Das Narayandas
44 GESTÃO PESSOAL
Aprendacompessoas,
nãocomaulas
Quem você conhece
e o que eles podem
lhe ensinar?
Reid Hoffman, Chris Yeh e
Ben Casnocha
46 GESTÃO DE PESSOAS
“Fazemosos
indivíduosse
apropriaremdeseu
desenvolvimento”
Mesa-redonda com
diretores de aprendizagem
Índice
“Conforme as plataformas mudarem
a natureza do desenvolvimento de
talentos, surgirão líderes com as
habilidades para fazer a coisa certa,
na hora certa.” PÁGINA 32
FOTOGRAFIA
DE CAPA
Stephen Lewis
ILUSTRAÇÃO
DE CAPA
Zohar Lazar
Fotografia de ALEJANDRO GUIJARRO
4 Harvard Business Review
Março 2019
5. 49
ARTIGOS
50 GESTÃO DE PESSOAS
Afaláciado
feedback
Durante anos os gestores
foram encorajados a elogiar
e criticar construtivamente
quase tudo que seus
funcionários faziam. Mas
existem formas melhores
de ajudá-los a prosperar
e se superar.
Marcus Buckingham e
Ashley Goodall
Ilustração de PAUL GARLAND
50
62 GESTÃO DE
MUDANÇA
Opontocegoda
colaboração
Muitos gestores ignoram
a maior ameaça dos
projetos que envolvem
diferentes equipes: eles
estimulam atitudes
defensivas.
Lisa B. Kwan
72 GESTÃO
ORGANIZACIONAL
Duasmetas.
Umsómanual
O que é preciso para
fazer o bem e ter lucro
ao mesmo tempo.
Julie Battilana,
Anne-Claire Pache,
Metin Sengul e
Marissa Kimsey
RADAR
10 CLIENTES
Novamaneira
deaumentara
satisfaçãodo
cliente
Analisar a linguagem dos
emails e compartilhar
as melhores práticas.
SEÇÕES
08 CARTA AO LEITOR
89 RESUMO DA
EDIÇÃO
EXPERIÊNCIA
Conselhos e inspiração
84 ESTUDO DE CASO
Venderdiretoao
consumidorou
pelaAmazon?
Fabricante de bicicletas
avalia as vantagens e
desvantagens.
Thales Teixeira
10 84
14 DEFENDA
SEU ESTUDO
Vocênãodeve
seoferecerpara
ajudarseus
colegas
Socorrê-los pode ter
efeitos indesejados.
25 COMO EU FIZ
OCEOdaTraeger
explicaa
reconstruçãode
umaculturatóxica
A empresa teve
basicamente de começar
do zero.
Jeremy Andrus
Novas ideias, pesquisas em progresso
Harvard Business Review
Março 2019 5
8. Lucroefinalidade
O DESEMPENHO FINANCEIRO não deveria ser o único
objetivo das corporações. Elas estão sendo forçadas a
considerar os interesses de todos os stakeholders — incluindo
funcionários, clientes e a comunidade —, não só dos
acionistas. Obviamente alguns líderes, há muito tempo,
abraçaram a ideia de ter lucro fazendo o bem. Mas tornar essa
ideia realidade é um grande desafio.
As empresas que conseguiram de fato criar tanto valor
financeiro como social são raras. Patagonia e Grameen
Bank são as duas que imediatamente nos vêm à mente.
Não há mágica nessa conquista, observam Julie Battilana,
Anne-Claire Pache, Metin Sengul e Marissa Kimsey, que
estudaram empresas sociais por mais de uma década. Em
“Duas metas. Um só manual” (pág. 72) eles argumentam
que as organizações que conseguiram fazer isso assumiram
um compromisso para criar os dois tipos de valor em suas
atividades centrais.
Esses negócios dominaram o que os autores chamam
de organizar de forma híbrida — abordagem em que se
estabelecem e se monitoram metas sociais e financeiras,
estruturando a organização para atingi-las, contratar
funcionários que possam abraçá-las e administrar mantendo
nelas o foco. Quando a meta social e a financeira entram
em conflito, os gestores precisam fazer concessões difíceis
para manter os negócios nos trilhos. Isso envolve medidas
iguais de criatividade, disciplina, aspiração e praticidade
— que são, afinal, os ingredientes das grandes lideranças.
ADI IGNATIUS
Editor-chefe
Editora executiva Ania Wieckowski e Adi Ignatius
Carta ao leitor
www.hbrbr.com.br
EMAIL: contato@rfmeditores.com.br
TWITTER: @hbrbrasil
FACEBOOK: Harvard Business Review Brasil
LINKEDIN: Harvard Business Review Brasil
Fique
conectado
conosco
Andrew
Nguyen
8 Harvard Business Review
Março 2019
10. Ilustrações de KAGAN MCLEOD
NA TEORIA
NOVAMANEIRADE
AUMENTARASATISFAÇÃO
DOCLIENTE
Avaliealinguagemdos
emailsecompartilheas
melhoresinterações.
Novas ideias, pesquisas em progresso
QUANDO QUEREM SE APRIMORAR, os atletas geralmente
passam horas analisando em vídeo o seu desempenho.
No ambiente de trabalho corporativo é difícil conseguir
feedback tão distinto. No entanto, nos últimos anos
muitos pesquisadores aprenderam a extrair um con-
junto de dados singular que é um verdadeiro replay em
câmera lenta das atividades de empresas e funcioná-
rios: a troca de emails entre eles e seus clientes permite
Radar
10 Harvard Business Review
Março 2019
11. Durante o estudo, líderes de equipe
participaram mensalmente de uma ses-
são de espelhamento virtual que durava
de 30 minutos a uma hora em que lhes
era mostrado um placar contendo
parâmetros importantes retirados dos
emails que registravam: a prontidão da
comunicação (isto é, com que frequên-
cia os empregados respondiam às per-
guntas dos clientes por conta própria em
contraposição à quantidade de vezes
em que precisavam informar seu
supervisor); a simplicidade da lingua-
gem utilizada no campo da mensagem
rastrear quem conversou com quem, por
que, como e com qual frequência.
Os acadêmicos chamam esse tipo
de pesquisa de análise das redes sociais.
Eles têm se dedicado ao estudo das
comunicações internas com o intuito
de aprender como os colegas podem
colaborar da maneira mais eficiente
possível. Nova pesquisa usa a análise
de emails com um objetivo diferente:
examinar como os funcionários intera-
gem com os clientes, o que fornece às
empresas a oportunidade de descobrir
quais padrões e comportamentos
afetam a satisfação dos clientes e usar os
resultados para treinar seus empregados
a desenvolver um tipo de comunica-
ção mais eficiente. Os pesquisadores
chamam esse trabalho de espelhamento
virtual (virtual mirroing), uma vez que
ele ajuda as pessoas a refletir sobre seu
estilo e compará-lo com o dos outros.
“Este é um dos destaques de 15 anos
de pesquisas em que apresentamos às
pessoas sua rede de contatos via email,
determinamos quais variáveis impulsio-
nam o desempenho e lhes mostramos
como podem melhorar sua colabora-
ção”, afirma Peter Gloor, cientista e pes-
quisador do MIT que liderou o estudo.
Os estudiosos identificaram 176
equipes trabalhando com contas de
clientes importantes na Genpact,
empresa internacional de serviços
profissionais que se originou da General
Electric, em 2005. As equipes variavam
em tamanho e número de funcionários,
de algumas dezenas até centenas. Vinte
e seis foram escolhidos como grupo
experimental, e os demais formaram o
grupo de controle; ambos tinham como
clientes empresas similares (a maioria
delas integrantes da Fortune 500)
dos mais diversos setores. Em quatro
momentos durante o estudo os pes-
quisadores compilaram e analisaram o
equivalente a dois meses de trocas de
email entre funcionários e clientes; ao
longo de dois anos, coletaram e exa-
minaram ao todo mais de 4,5 milhões
de mensagens. Os períodos em que os
emails foram recolhidos coincidiram
com a pesquisa semestral de satisfação
do cliente promovida pela empresa,
o que produziu um net promote score
indicativo do grau de satisfação de cada
cliente com o serviço oferecido.
Harvard Business Review
Março 2019 11
12. destinado ao assunto; a prontidão com
que os empregados respondiam às
mensagens dos clientes; e a frequência
com que os clientes interagiam com um
único funcionário e com que interagiam
com vários deles. Os pesquisadores for-
mularam a hipótese de que as equipes
com comunicação direta, linguagem
simples, respostas enviadas em pouco
tempo e com pontos de contato consis-
tentes receberiam um net promoter score
mais alto que as demais, e os resultados
comprovaram a hipótese. (Ressalva:
os pesquisadores não acessaram o corpo
dos emails; a análise semântica limi-
tou-se ao campo destinado ao assunto.)
O que de mais importante esse
estudo descobriu foram os efeitos
positivos do feedback de uma sessão
de espelhamento virtual na atitude dos
autores das mensagens. Eles se comuni-
caram de maneira direta, responderam
prontamente e se estabeleceram cada
um como a pessoa de contato do cliente
na empresa. Foram mudanças significa-
tivas: ao longo do estudo, as equipes que
participaram da análise dos emails e das
sessões de espelhamento virtual viram
a satisfação de seus clientes crescer 17%
em relação a esse quesito nas equipes
que faziam parte do grupo de controle.
Embora os resultados sugiram que
determinadas atitudes registradas
nos emails aumentem a satisfação
dos clientes, os pesquisadores obser-
varam que o grau de eficácia desse
tipo de interação varia de acordo com
o contexto. “Durante a assistência
oferecida em pós-venda (o contexto do
estudo), deseja-se ter líderes estáveis, e
não necessariamente criativos”, explica
Gloor. “Os clientes pedem a solução de
um problema e quase sempre querem
que a resposta venha da mesma pessoa.
Mas em diferentes contextos, como
desenvolvimento de novo produto,
seriam necessárias discussões dinâmi-
cas e criativas e seria desejável maior
rotação de pessoas”.
Em outros experimentos os pes-
quisadores ampliaram o estudo que
vinham fazendo com os emails. Em um
deles, avaliaram emails, telefonemas
e conferências online dos vendedores
mais bem-sucedidos. Descobriram que
os de melhor desempenho eram mais
propensos a ligar a câmera durante as
videoconferências do que seus colegas
de desempenho inferior e que, além
disso, se envolviam em discussões mais
extensas com os clientes durante essas
conversas. E em outro estudo realizado
com a Genpact, os pesquisadores con-
cluíram que a análise de emails pode
ajudar a prever com acerto (até cinco
meses de antecedência) se determinado
empregado vai deixar a empresa — em
alguns casos, afirmam eles, a probabili-
dade foi identificada antes mesmo que
o funcionário admitisse estar de saída.
Não surpreende que a maneira como
os funcionários interagem afeta a satis-
fação dos clientes. Os gerentes podem
tirar proveito disso ao tratar os emails
como uma fonte que deixa “pegadas
digitais” a ser analisadas sistematica-
mente. Assim como assistir a um vídeo
de sua movimentação numa tacada no
golfe, olhar no espelho e estudar suas
falhas pode oferecer lições valiosas de
como melhorar.
HBR Reprint F1903A–P Para pedidos, página 9
SOBRE O ESTUDO The impact of virtual
mirroing on customer satisfaction, de Peter
Gloor et al. (Journal of Business Research, 2017)
NA PRÁTICA
“Istonãoé
colocaras
pessoasem
situação
desagradável”
Gianni Giacomelli lidera o
setor de inovação na Genpact,
a empresa de transformação
de serviços digitais onde o
estudo descrito neste artigo
foi conduzido. Ele falou
recentemente com a HBR sobre a
pesquisa e a reação da empresa.
Trechos editados a seguir.
Por que estudar os emails da
Genpact? Nossa empresa é
grande e espalhada — temos 80
mil empregados em diversos fusos
horários; é bastante difícil realizar
uma comunicação sincronizada, e
isso faz com que os emails sejam
importantes. É uma amostra
representativa da interação dos
funcionários.
Como você compartilhou a
avaliação mensal com seus
empregados? Temos muitos
grupos de até 500 funcionários
que atendem um único cliente.
Levamos as análises a duas
pessoas em cada grupo: o líder
operacional, que supervisiona o
trabalho, e o líder de negócios, que
supervisiona o PL (demonstrativo
de perdas e lucros, em inglês)
de todo o setor vertical. Nas
Radar
12 Harvard Business Review
Março 2019
13. primeiras reuniões explicamos os
parâmetros — o que queremos
dizer com linguagem simples,
rapidez de resposta e um ponto
de contato consistente. Depois
os líderes começaram a receber
boletins mensais e a levar essas
informações para suas equipes
durante reuniões.
Uma eventual reação defensiva
por parte de seus funcionários
em relação aos parâmetros de
rapidez de resposta aos emails
dos clientes era algo que o
preocupava? As informações
estavam disponíveis em nível
individual, e nós, inicialmente,
usamos isso para saber de onde
vinham aqueles números. Mas
logo percebemos que isso não
significava colocar as pessoas em
situação desagradável, mas sim
dizer a elas o que nós, como grupo,
havíamos feito naquele mês — e
mostrar continuamente os três
comportamentos que seriam
encorajados. Ao longo do tempo
a maior parte dos espelhamentos
virtuais passou a ocorrer em grupo.
Às vezes as pessoas usam
palavras difíceis para parecer
inteligentes. Os empregados
ficaram surpresos com o fato de
os clientes preferirem linguagem
simples? Ficaram. Nosso pessoal
é bastante instruído, e eles
acreditam que estão fazendo um
ótimo trabalho se usam palavras
que não são necessariamente
complicadas, mas bastante
específicas. Os resultados
basicamente diziam: apenas fale
de maneira simples; use linguagem
que a outra pessoa não vai precisar
decifrar. Os resultados mostraram
que você nunca sabe o que é
importante para determinado
trabalho até que se estabeleça a
causalidade. Para inovação digital,
transformações ou trabalhos
criativos os parâmetros seriam
diferentes, e linguagem mais
variada talvez viesse a ter bons
resultados.
E outras áreas que não a
satisfação dos clientes? A
análise pode ser usada para
muitas coisas. Nós a usamos para
identificar os comportamentos
que indicavam falta de
comprometimento ou desgaste
dos funcionários. A análise pode
ajudar a preparar a integração
(onboarding) de determinados
grupos de novos empregados,
como os envolvidos em vendas
e consultoria de transformação.
Descobrimos que nos primeiros
seis a nove meses de ingresso na
empresa o tamanho, a estrutura e
o crescimento orgânicos das redes
internas dos funcionários oferecem
boa previsão de sucesso. E, por fim,
das redes internas dos funcionários
também para coaching para
mostrar as atitudes mais eficazes
e a melhor forma de desenvolver
redes de contatos profissionais.
Vocês ainda estão analisando
emails? Não usamos o registro
por muito tempo, mas ainda
usamos técnicas como role-play
para ensinar as pessoas a adotar
as atitudes desejadas.
A importância dessas ferramentas
está em identificar parâmetros
que grupos de pessoas amplos
e espalhados precisam aplicar
para que possam causar impacto.
Com o tempo deixa de ser algo
voltado para os placares —
passando a se voltar para o
entendimento do que realmente
aprimora a satisfação dos
clientes.
Fotografia de JORDAN HOLLENDER
Harvard Business Review
Março 2019 13
14. Johnson: Nossas descobertas sugerem
que precisamos ser cuidadosos
ao oferecer ajuda não solicitada.
Ouvimos frequentemente que é bom
ser prestativo de maneira proativa,
principalmente com colegas de
trabalho. Porém, é importante admitir
que o tempo e o esforço que você está
colocando nessa assistência — e tirando
de seu próprio trabalho — podem não
ser bem recebidos. De acordo com nosso
estudo, muitas vezes o destinatário da
ajuda não demonstrará gratidão, e isso
significa que você não vai colher os
benefícios psicológicos do ato de ajudar.
Mesmo 24 horas depois, você se sentirá
menos voltado para os relacionamentos,
menos cooperativo e menos motivado a
respeito do trabalho.
HBR: Mas, ao ver alguém em dificuldade,
não se deve, de qualquer maneira,
intervir? E não se preocupar se todos
vão se sentir felizes com isso depois?
Eu e meus coautores — Hun Whee
Lee, Jacob Bradburn e Chu-Hsiang
Chang, da Michigan State University,
e Szu-Han Lin, da UMass Amherst —
aconselharíamos a pensar duas vezes.
Em primeiro lugar, como observador
externo, pode ser que você não
entenda plenamente o problema
da pessoa. E talvez seu julgamento se
mostre embaçado por tendências como
projeções ou percepção seletiva.
Você provavelmente terá de usar
uma porção de recursos cognitivos
para descobrir o que realmente está
acontecendo, sem ter certeza de que
está oferecendo a seu colega a ajuda
de que ele de fato precisa. Em segundo
lugar, é possível que a pessoa prefira
resolver ela mesma o problema e
aprender com a experiência. Se você
se precipitar sem ter sido chamado,
é mais provável que ameace o senso
de autonomia e o domínio de seu
colega em relação ao trabalho e
diminua sua autoestima. Em duas
pesquisas subsequentes realizadas
com cerca de 500 empregados em
tempo integral nos Estados Unidos,
descobrimos evidências para ambos
os fenômenos. Os entrevistados que
se lembraram de momentos em que
haviam proativamente ajudado colegas
relataram que tinham menos clareza a
respeito dos assuntos em pauta do que
aqueles que descreveram situações em
que prestaram assistência de maneira
reativa. E as pessoas que nos contaram
ter sido ajudadas demonstraram maior
propensão a se sentir ameaçadas caso
não tivessem pedido assistência.
Nessas situações, a ajuda foi
menos eficaz. Por isso, a falta de
agradecimento aos que ofereceram
ajuda não surpreende.
É possível contornar a questão fazendo
com que a pessoa que precisa de
assistência tome a iniciativa de lhe pedir?
Talvez seja melhor abordar o colega
Russell Johnson, da Michigan State University, e seus colegas
pesquisadores pediram a gestores que registrassem a ajuda que deram a
seus colegas ao longo de dez dias e o modo como essa ajuda foi recebida.
A equipe descobriu que era mais provável receber agradecimentos quando
a ajuda era prestada mediante solicitação expressa do que quando “a
mãozinha” era oferecida sem ter sido solicitada. Participantes do estudo
sentiram-se menos sociáveis e comprometidos com o trabalho um dia após
terem prestado assistência de maneira proativa. A conclusão:
Vocênãodeveseoferecer
paraajudarseuscolegas
Ilustração de IRINA KRUGLOVA
ProfessorJohnson,
DEFENDASEUESTUDO
Radar
14 Harvard Business Review
Março 2019
15. com a pergunta “posso fazer alguma
coisa para ajudar?” e permitir que ele
diga sim ou não. Acredito que o tom
e a linguagem corporal são também
importantes. Há uma diferença entre
oferecer ajuda de maneira bajuladora,
arrogante, e fazer isso com gentileza
e humildade. Mas nossa pesquisa não
entrou nessas nuances.
A hierarquia é importante? Não é
de esperar que chefes auxiliem seus
funcionários e vice-versa?
Pode ser. Nossos estudos se
concentraram em interações entre
colegas. Pedimos ao primeiro grupo —
54 pessoas matriculadas em um curso
executivo de MBA de meio período
que tinham emprego em tempo
integral em diferentes setores — que
nos relatasse, por meio de questionários
online, episódios dessa natureza
ocorridos durante dez dias úteis
consecutivos, e eles nos relataram
232 incidentes em que haviam
auxiliado seus colegas. Nos estudos
subsequentes, realizados por meio
da plataforma Mechanical Turk, fizemos
perguntas tanto sobre auxiliar colegas
de trabalho como sobre ser ajudado
por eles. Talvez nossas descobertas
fossem diferentes se tivéssemos levado
em conta a dinâmica patrão/empregado.
Mas não sei. Quando seu supervisor
lhe oferece ajuda proativamente,
isso é auxílio ou microgestão? Se
subordinados se prontificam sem ter
sido solicitados, estão fazendo seu
trabalho ou enfraquecendo o poder
e o status do gerente? Ou simplesmente
se intrometendo?
Há alguma implicação para pessoas
que atuam em cargos com contato
direto com clientes?
Devemos a partir de agora instruir
vendedores a serem reativos em vez
de proativos? O auxílio que estudamos
— entre colegas de trabalho — era
discricionário. A ajuda ofertada a um
cliente é um pouco diferente porque
faz parte das obrigações formais
do vendedor, por isso espera-se
proatividade e, independentemente
do tipo de ajuda, é menos provável
que haja agradecimento.
Houve alguma diferença entre homens
e mulheres?
Não encontramos nenhuma. Claro
que existe uma grande quantidade
de pesquisas segundo as quais as
mulheres, no ambiente profissional,
tendem a ser mais colaborativas e
voltadas para o coletivo, e podem ser
penalizadas se não o forem, uma vez
que isso vai contra o que é esperado
delas. Mas, quando se trata do impacto
entre ajuda proativa e reativa, não
parece haver nenhum componente
relativo ao gênero.
Você estudou ajuda individual.
E se voluntariar em um ambiente
coletivo? É melhor ou pior?
Acho que uma oferta pública não
solicitada para auxiliar um colega
de trabalho ampliaria o problema.
A pessoa pode ficar envergonhada e
sentir seu ego ainda mais ameaçado.
Por outro lado, se você observar um
problema que está sendo enfrentado
por um grupo de maneira coletiva e
levantar sua mão para solucioná-lo,
isso não será ruim. Mas os motivos
são importantes — se sua meta é
individual ou coletiva. Se está
ajudando não por altruísmo, mas
porque sabe que seu chefe está
observando e você quer se destacar,
saiba que, segundo diversos
estudos, as pessoas tendem a reagir
negativamente. Isso posto, quando
nós nos aprofundamos nas centenas
de interações estudadas para analisar
a motivação daquele que estava
oferecendo ajuda, isto é, se as pessoas
eram motivadas pela preocupação
com os outros ou pelo desejo de
se sentir melhor consigo mesmas,
descobrimos que isso não exercia
influência no tipo de ajuda oferecida
nem nas expressões de agradecimento
recebidas.
E a cultura corporativa? Ela pode
desempenhar um papel na legitimação
da ajuda proativa?
Não perguntamos a nossos
participantes a respeito desse aspecto
em seu ambiente de trabalho.
Porém é interessante comparar as
descobertas em culturas colaborativas
e em culturas competitivas, ou em
organizações hierárquicas em relação
às horizontais. A recomendação
prática que damos a gerentes,
independentemente do ambiente
profissional, é a seguinte: encoraje
as pessoas e se concentrar em seu
próprio trabalho. Explique que não é
problema adotar a abordagem “sentar
e esperar” quando se trata de ajudar
os colegas. Mas é importante criar um
ambiente em que todos os que precisam
de ajuda se sintam à vontade para
pedir e em que qualquer pessoa
capaz de auxiliar esteja disposta e
se mostre acessível para tanto assim
que o pedido é feito.
Esse estudo o motivou a mudar a
maneira como você oferece e pede ajuda?
Como orientador de alunos de
doutorado, tenho uma política de
estar sempre de portas abertas e
constantemente disponível para
eles. Mas eles devem pedir ajuda.
Não saio por aí apagando incêndios.
Especialmente em um contexto de
aprendizagem como a universidade,
posso observar alunos enfrentando
dificuldades, mas sei que eles
normalmente querem encontrar a
solução sozinhos. Além disso, quando
alguém me ajuda ou vejo um aluno
ajudando outro, eu me esforço não
só para reconhecer a pessoa que está
ajudando, mas também para mostrar
gratidão a ela.
Entrevistado por Alison Beard
HBR Reprint F1903B–P
Para pedidos, página 9
Harvard Business Review
Março 2019 15
16. O Top Employers
Institute é
autoridade global
no reconhecimento
da excelência nas
práticas de RH por
ĵåĜŅÚåÏåųƋĜĀ
ϱÓÅŅØ
permitindo que
empresas aprimorem
e desenvolvam seu
ambiente de trabalho
resente em 118 países do mun-
do, o Top Employer realiza
anualmente os Certification
Dinners, reunindo pessoas para apren-
der, conectar, compartilhar, celebrar e
se inspirarem com os Top Employers.
Afinal, é fundamental reconhecer e
valorizar as empresas pela dedicação
ao colocar pessoas em primeiro lugar
em suas estratégias de RH.
P
AP
PRESE
ENTA
Os melhores entre
17. EMPRESAS CERTIFICADAS SETOR
AkzoNobel Manufacturing
Amil Healthcare
Arcos Dourados Hospitality
Atento Professional Services
Autoneum Automotive
B3 – Brasil, Bolsa, Balcão Professional Services
Banco do Brasil Professional Services
Baxter Manufacturing
Boehringer Ingelheim Pharmaceutical
Chiesi Pharmaceutical
China Construction Bank Professional Services
Cognizant Professional Services
Conductor Professional Services
Corbion Manufacturing
Deloitte. Professional Services
DHL Express Logistics
DHL Global Forwarding Logistics
DHL Supply Chain Logistics
dimention data Professional Services
Enel Natural Resources
everis Professional Services
JTI Consumer Goods
Merck Pharmaceutical
Naturgy Natural Resources
Orange Business Services Professional Services
Philip Morris Consumer Goods
Reed Exhibitions Alcantara Machado Professional Services
Roche Diabetes Care Pharmaceutical
Saint-Gobain Manufacturing
Sandoz Pharmaceutical
„±ĹŅĀ Pharmaceutical
SAP Professional Services
SAS Institute Professional Services
Souza Cruz Consumer Goods
Takeda Pharmaceutical
Tata Consultancy Services Professional Services
Valeo Automotive
Volkswagen do Brasil Automotive
A Volkswagen
ocupa o palco para
compartilhar
sua alegria
18. AP
PRESENTA
k
k AUTOMO
OTIVO
A
AS
S PESSOAS SÃO O FOCO
As mudanças culturais desempenhadas na Nova
Volkswagen têm como principal direcionamento
o foco em pessoas. “Além de trabalharmos para
atrair os melhores talentos, buscamos também
criar as melhores condições para reter os talentos
que já temos em nosso time hoje”, garante o vice-
presidente de RH da Volkswagen do Brasil e
América do Sul, Marcellus Puig. Dentre as ações
desenvolvidas pela área, está a integração dos
empregados ao negócio, com a participação desses
colaboradores em momentos-chave da empresa,
como o lançamento de veículos e test-drives
de novos modelos. “Queremos manter nossos
empregados como principais embaixadores
de nossa marca, trabalhando com orgulho e
paixão”, ressalta.
Como tendências para atuação no futuro, cita
Puig, estão a digitalização, assunto de destaque
na companhia com investimentos em platafor-
mas e aplicativos específicos; e o tema cultura:
“Uma transformação cultural massiva não é feita
em seis meses ou um ano; manteremos a consis-
tência em nossas ações para nos aproximarmos
mais de nossos empregados”.
k
k BENS DE CONSUM
MO
V
VI
IABILIZAR DESENVOLVI
IMENTO PRO
OFIS
S-
S
SIONAL E OP
PORTUNIDADE
ES
A gestão de talentos pode ser apontada como
um destaque recente nas práticas de RH da JTI
no Brasil. O objetivo da proposta é garantir que
os colaboradores tenham visibilidade de seu
posicionamento na matriz de talentos. “O pro-
cesso começa com a avaliação de performance e
desenvolvimento individual bastante adequada,
uma discussão robusta com a liderança para o
correto posicionamento, levando em conside-
ração a performance e o potencial do colabo-
rador e, então, a divulgação da posição de cada
profissional”, explica o general manager da JTI,
Cláudio Ferreira. Um processo que, segundo o
executivo, exige transparência e maturidade da
liderança, que precisa desenvolver as metas de
negócio. Também demanda competência para
garantir a gestão de diferentes gerações e ex-
pectativas, feedbacks e conversas de carreiras
constantes, cada vez mais desafiadoras. Para
2019, a empresa pretende lançar novos módu-
los de desenvolvimento on-line para realçar as
competências das lideranças. “Queremos pro-
mover uma cultura de aprendizagem contínua,
oferecendo aos gestores ferramentas que faci-
litem o desenvolvimento holístico de sua equi-
pe e a disseminação da inovação e criatividade
permitindo que as pessoas aprendam com os
erros”, conclui Ferreira.
F
FO
OCO NO CA
ANDIDATO E S
SUA EXPERIÊ
ÊNCIA
A
C
CO
OM A COMP
PANHIA
A Philip Morris implementou durante o ano
de 2018 um sistema global chamado Avature.
A proposta é garantir maior cuidado ao candi-
dato, em um processo que se prolonga desde a
abertura da vaga até o seu onboarding. “Há todo
o acompanhamento mais próximo por parte dos
gestores, com duração de dois anos; as conversas
são mais regulares no início e com check points
mais espaçados depois de um ano de empresa”,
detalha a diretora de Pessoas e Cultura da em-
presa no Brasil, Karen Ramirez. E para 2019, a
área de Talent Acquisition da companhia deve
ganhar um novo programa de Employer Bran-
ding. “Vamos focar também no desenvolvimento
de nossa liderança, para que ela possa realmente
conduzir nossa transformação e impulsionar o
crescimento da empresa e de nossos colaborado-
res, com ferramentas que favorecem a colabora-
ção e a inclusão e diversidade”, explica a dire-
tora. A Philip Morris vive um momento de forte
investimento em tecnologia e inovação para uma
transformação interna. “Estamos nos transfor-
mando em uma empresa mais ágil, colaborativa
e focada em atender nossos consumidores. Isso
requer mudança de mindset, de comportamento
e um alinhamento interno com a liderança para
impulsionar esse movimento”, conclui.
E
EM
MPODERAM
MENTO DOS T
TIMES
Dentre as características de destaque nas
ações internas de pessoal da Souza Cruz, estão as
oportunidades de expatriação – em 2018, mais de
40 colaboradores tiveram chance de ocupar po-
sições internacionais. “Nossas práticas de gestão
de talentos são robustas tanto na parte de desen-
volvimento, quanto em gestão de carreira; cuida-
mos da nossa cultura e ambiente de trabalho, o
que permite ter uma empresa alinhada, engajada,
produtiva e com um excelente espaço para nossos
colaboradores crescerem”, ressalta o diretor de
RH, Harry Vargas. A proposta da empresa é incen-
Marcellus Puig
Vice-presidente de
RH da Volkswagen
do Brasil e América
do Sul
19. tivar o empoderamento dos times, com o intuito
de incluí-los na transformação que envolve tanto
a companhia quanto o negócio em si. “Nosso ob-
jetivo é consolidar a cultura de ‘vamos construir
juntos’, para que o profissional também se envolva
no desenvolvimento de práticas que tornem o dia a
dia mais flexível e menos burocrático”, diz. Ele ex-
plica que o desafio do RH é promover um ambiente
de trabalho cada vez mais ágil e moderno, em que
o colaborador participe não só como público-alvo,
mas como agente de transformação e implemen-
tação da cultura da empresa.
k
k SERVIÇO
OS FINANC
CEIROS
A
AU
UMENTAR O
O ENGAJAME
ENTO E O VÍN
NCU
U-
L
LO
O COM A EM
MPRESA
A B3 vem de um processo de mudança. O que
era RH tornou-se a área de Pessoas, dedicada a
rever práticas e processos de gestão, buscando
maior alinhamento com os valores corporativos
e causa. “Foram realizadas ações institucionais e
de desenvolvimento de 100% dos gestores e equi-
pes, somando mais de 40 mil horas de investimen-
to, com o objetivo de aumentar o engajamento e
vínculo com a B3”, detalha a diretora de Pessoas
e Marca da companhia, Ana Buchaim. Em decor-
rência desse processo interno, outras ações fo-
ram mapeadas e estão sendo implementadas com
o objetivo de gerar mais aderência à cultura. Um
exemplo é o fortalecimento da marca empregado-
ra, que tem como objetivo tangibilizar para o mer-
cado e para os funcionários a ampla proposta de
valor da empresa. “Estamos investindo fortemente
no tema de People Analytics, que nos dará cada vez
mais insumos para definir a estratégia de pessoas,
além de fornecer maior quantidade de informa-
ções para tomada de decisão do gestor com maior
autonomia”, explica.
T
TR
RANSFORM
MANDO CULTU
URA E LÍDER
RES
O modelo do Pipeline de Liderança, de au-
toria de Ram Charam, serve como base para o
desenvolvimento de líderes no Banco do Brasil.
De acordo com essa premissa, cada colaborador
da empresa é líder, podendo ser desde líder de
si mesmo a líder corporativo. “Objetivamente,
para pensar em capacitação da liderança no BB,
estamos atentos ao fato de que o mundo, o sis-
tema financeiro, e o banco estão passando por
significativa transformação – e qualquer trans-
formação cultural está condicionada, sobretudo,
à transformação da liderança”, afirma o vice-
-presidente de Gestão de Pessoas, Suprimentos e
Operações, Gustavo do Vale. Ainda este ano, deve
ser lançado um programa de desenvolvimento da
gerência destinado a 20 mil gestores do banco
que estão ocupando, pela primeira vez, funções
gerenciais. “A meta é capacitá-los sobre o impac-
to da sua atuação para o atingimento dos objeti-
vos estratégicos da empresa e sobre as mudanças
comportamentais necessárias para o desempe-
nho dessas novas funções”, afirma o executivo.
k
k CUIDAD
DOS COM A
A SAÚDE
P
PILARES PAR
RA O BEM-EST
TAR DA EQUIP
PE
A Amil compõe uma das três unidades de ne-
gócios do UnitedHealth Group Brasil e coloca
em prática o programa Viver Bem, que se baseia
em quatro pilares para o bem-estar dos colabo-
radores: saúde, carreira, conexões e finanças.
“Entre eles está o Programa de Atendimento ao
Colaborador (PAC), que já beneficiou mais de 7
mil funcionários, que ajuda os profissionais e
seus dependentes a identificar, planejar e admi-
nistrar diversas situações no âmbito financeiro,
jurídico, psicológico e social, por meio de uma
rede de especialistas”, explica a vice-presidente
de Capital Humano do grupo, Catia Porto. Ou-
tro ponto ligado à saúde é o programa Mamãe
e Bebê, com suporte às funcionárias grávidas
desde o primeiro mês da gestação. “Após o par-
to, é oferecido suporte telefônico 24 horas com
enfermeiras de plantão, disponível desde o nas-
cimento até a criança completar 12 anos”, com-
plementa. O mesmo programa ainda proporcio-
na o auxílio-academia, em que a Amil financia
até 80% de pacotes para atividades físicas para
colaboradores e seus dependentes.
k
k HOSPITA
TALIDADE
M
MELHOR EXP
PERIÊNCIA D
DE PRIMEIRO
O EM
M-
P
PR
REGO PARA
A OS JOVENS
O título traz uma característica marcante do
McDonald’s quando o assunto é o bem-estar e a
formação dos seus funcionários. “Além da opor-
tunidade de crescimento e um plano de carreira,
também existe a preocupação em prepará-los para
o mercado de trabalho e dar liberdade para que
eles escolham quais caminhos querem trilhar”,
salienta o diretor de RH da empresa, Marcelo Nó-
brega. Desde 2017, a empresa implementou um novo
Gustavo do Vale
Vice-presidente de
Gestão de Pessoas,
Suprimentos e
Operações do Banco
do Brasil
20. modelo de atendimento, chamado de “Cooltura de
Serviço”, que permite aos funcionários um atendi-
mento aos clientes de forma mais natural, sem os
denominados speeches padronizados.
k
k MANUFATURA
M
MAPEAR TAL
LENTOS E EN
NGAJAR FUN
NCIO-
N
NÁ
ÁRIOS
A Baxter é uma empresa que incentiva a cha-
mada “cultura de feedback”. A empresa executa
uma rotina de retornos mensais, com o objetivo
de alavancar o relacionamento entre líderes e co-
laboradores. “Nosso foco será fortalecer cada vez
mais o programa ACE: Alinhar, Chegar e Execu-
tar”, ressalta a diretora de Recursos Humanos,
Kelen Reis. Norteados por essas medidas, a Baxter
deve implementar uma proposta de “coffee chat”,
onde cada diretor vai conversar com grupos de
funcionários para discutir sobre os impulsionado-
res culturais. “Anualmente, conduzimos um ciclo
de revisão de talentos para toda liderança e força
de vendas; esse processo nos possibilita mapear
nossos talentos com relação ao desempenho, po-
tencial, próximos passos, risco de perda e impacto
de perda”, explica a diretora. Para engajar as equi-
pes internas, Kelen ressalta a política de transpa-
rência, que segue práticas de conexão com o CEO
Global da marca. “Todas as comunicações escritas
e também pessoalmente com nossos funcionários
garantem que todos os funcionários estejam co-
nectados com a estratégia da Baxter”, diz.
P
PO
OSSIBILITA
AR OS PRÓXIMOS PASSOS NA
A
C
CA
ARREIRA
A Saint-Gobain considera como principal
highlight, dentre outros destaques em RH, as práti-
cas de Carreira e Sucessão. “A gestão de Carreira e
Sucessão da Saint-Gobain tem como base as aná-
lises do cenário atual de cada empresa e áreas do
grupo, frente aos desafios do futuro e objetivos de
negócio”, salienta a vice-presidente de Recursos
Humanos da empresa na América Latina, Adria-
na Rillo. Segundo a executiva, as possibilidades de
próximos passos de carreira, sucessão e desenvol-
vimento de talentos são discutidos periodicamen-
te em comitês compostos por líderes do negócio
e de RH, com o objetivo de discutir e validar as
percepções sobre comportamentos e resultados.
“A relevância desse tópico para a Saint-Gobain é
reiterada a partir do mapeamento dos talentos
potenciais, calibração das avaliações e dos con-
ceitos utilizados, além do acompanhamento dos
planos de ação individuais realizados nos últimos
12 meses, bem como uma análise específica sobre a
saúde do nosso pipeline de sucessão da liderança da
organização”, detalha Adriana.
k
k RECURS
SOS NATURAIS
F
FILOSOFIA OPEN POWER P
PARA MERCA
ADO E
P
PE
ESSOAS
A Enel passou, recentemente, por um rebranding,
construído sob a filosofia Open Power. Em linhas
gerais, como o próprio nome diz, significa abrir a
energia para mais pessoas, novas tecnologias, no-
vos usos e parcerias. A mudança da marca reflete
uma abertura maior dos negócios da companhia.
Segundo o diretor de RH e Organização do Grupo
Enel no Brasil, Ewandro Naegele Moreira, a empre-
sa buscou transmitir esses valores internamente.
“As Jornadas Open Power foram, sem dúvida, um
ponto de destaque, uma vez que cumpriram o ob-
jetivo de disseminar para todos os colaboradores
a nova visão estratégica”, garante. Para este ano, a
expectativa gira em torno do projeto que incentiva
pessoas à mudança em relação a sua área original
de trabalho, o Osmosis. “O conceito que emba-
sa essa ação é o de que, frente ao cenário externo
VUCA (sigla em inglês para condições de volatili-
dade, incerteza, complexidade e ambiguidade), e da
mudança disruptiva por que passa o nosso negócio,
a organização precisa se adaptar tendo profissio-
nais mais multifacetados e com uma maior trans-
versalidade nas diferentes áreas do nosso negócio”,
explica Moreira.
k
k FARMAC
CÊUTICA
T
TR
RANSFORMA
AÇÃOEINOVAÇ
ÇÃONOSNEGÓ
ÓCIOS
S
O RH da Boehringer Ingelheim atua em con-
junto com a empresa com o objetivo de propor-
cionar experiências positivas aos colaboradores,
junto do propósito de melhorar a vida dos seus
pacientes. “É apoiar a transformação e a inova-
ção dos nossos negócios, nesse sentido, é preciso
focarmos na gestão da mudança não somente dos
nossos processos, que visam à eficiência e exce-
lência na experiência do colaborador, mas prin-
cipalmente no fortalecimento da cultura”, reforça
o diretor de RH, Esteban Blanco Ziegler. Entre
as práticas de destaque estão ações de aprendi-
zagem e desenvolvimento, que oferecem oportu-
nidades individualizadas em todos os níveis da
Ewandro
Naegele Moreira
Diretor de RH e
Organização do
Grupo Enel no Brasil
Esteban
Blanco Ziegler
Diretor de RH
da Boehringer
Ingelheim
AP
PRESENTA
21.
22. AP
PRESENTA
companhia, além de planejamento de carreira e
sucessão, com foco na sustentabilidade do negó-
cio. A política de remuneração e benefícios exibe
um pacote competitivo, que proporciona mais
saúde e bem-estar ao colaborador e sua família.
“Precisamos acelerar nossa transformação e en-
gajar a nossos colaboradores para avançar juntos
nessa nova direção, já que a mudança começa com
cada um de nós – para isso, vamos garantir con-
sistência entre a nossa robusta proposta de valor e
a experiência dos colaboradores”, conclui.
P
PL
LANO DE DE
ESENVOLVIME
ENTO INDIVID
DUAL
L
P
PA
ARA COLAB
BORADORES
Na Chiesi, uma iniciativa que já apresenta ma-
turidade no interior da companhia faz parte do
processo de Performance Management. “Trata-se
de uma iniciativa que hoje está plenamente incor-
porada nas interações entre gestor e subordinado:
todos os nossos colaboradores têm um plano de
desenvolvimento individual que acompanhamos
periodicamente a evolução e levamos em consi-
deração antes de fazer qualquer movimentação
interna”, explica a diretora de RH e Comunicação
da Chiesi Brasil, Elisangela Ranieri. Para o ano de
2019, as pessoas ainda continuarão no centro das
iniciativas do setor, explica a executiva. “O foco
não será somente nos gaps atuais, mas também já
antecipando o desenvolvimento de competências
que serão críticas para o sucesso do nosso negó-
cio e que suportarão nossa Visão 2025”, diz. Outros
temas que devem receber atenção especial são di-
versidade, inclusão e sustentabilidade. “A Chiesi é
signatária dos 12 objetivos sustentáveis da ONU e
este ano teremos um plano de ação para cada uma
das 8 metas de desenvolvimento que nos compro-
metemos, conscientizando e engajando nossos
funcionários para embutirem estes temas em tudo
o que fizerem”, reforça Elisangela.
A
AS
S TENDÊNCIAS E O FUTUR
RO DO TRABA
ALHO
O
O ano de 2018 na Roche Diabetes Care Brasil
foi marcado por novas práticas de gestão de pes-
soas. “Elas são reflexo de novos desafios de negó-
cio e também das principais tendências do futuro
do trabalho – e estão baseadas em um papel mais
ativo de nossos líderes e que ocorram de forma
mais natural, flexíveis e informais”, pontua o
head de RH e Comunicação, Guilherme Queiroz.
Para exemplificar essas mudanças, o executivo
cita a eliminação da curva sugerida de avalia-
ção, processo que foi simplificado com a redução
de cinco para três os conceitos de contribuição
dos colaboradores. Como tendência para a área,
Queiroz aponta um forte trabalho sobre o tema
liderança, com base nas novidades tecnológi-
cas e seus efeitos na operação. “É fundamental
uma mudança de mindset, revisão de modelos de
negócios e como trabalhar com os seus times”,
diz. Outro ponto que se relaciona com esse seg-
mento é a questão da agilidade na organização.
De acordo com o head de RH Comunicação, é
preciso responder mais rapidamente aos desa-
fios e transformações constantes. “O papel do
RH será liderar esse tema e impulsionar essa
mudança cultural”, conclui.
I
IM
MPULSIONA
AR O POTENC
CIAL QUE EX
XISTE
E
N
NA
AS PESSOA
AS
A Sandoz elenca cinco prioridades que são
consideradas estratégias globais da companhia.
De acordo com a diretora de RH da empresa,
Priscilla Cotti, são elas: impulsionar o potencial
que existe nas pessoas; inovar para transformar;
buscar excelência operacional todos os dias;
foco em dados e digital; e devolver mais para a
sociedade. “Nosso objetivo é impulsionar cada
vez mais as prioridades no dia a dia, através de
uma cultura inspiradora, curiosa e ‘unbossed’ –
é importante que as ações sejam facilitadas pela
liderança, empoderando e inspirando cada dia
mais nossos colaboradores”, explica. Dentre os
destaques do RH da companhia, estão os proces-
sos de gerenciamento de talentos, compensação
e benefícios. Segundo Priscilla, após os resulta-
dos positivos do Top Employer, as próximas eta-
pas já estão definidas. “Será aprofundar a análi-
se do relatório da pesquisa já apresentado com a
equipe de RH, formar os times que conduzirão os
projetos e implementá-los”, diz. Outro destaque
que deve estar no radar do RH da companhia em
2019 serão as métricas e as ações de atração de
talentos e EVP.
F
FO
ORTALECIM
MENTO DE UMA CULT
TURA
A
C
CO
OM FOCO E
EM INOVAÇÃO
O
Nas ações internas da Sanofi, existe uma busca
não apenas por considerar “o que” vai se entregar,
mas também “como” a empresa está trabalhando.
“É saber se estamos aplicando na prática os nossos
valores: coragem, respeito, integridade e trabalho
em equipe”, salienta o diretor de RH, Pedro Pittella.
Esses conceitos dão sustentabilidade aos três
quesitos prioritários das metas da companhia,
Pedro Pittella
Diretor de RH
da Sanofi
Priscilla Cotti
Diretora de RH
da Sandoz
23. Veronika Falconer
Diretora Executiva de
Administração, Recursos
Humanos e Comunicação
Corporativa da Takeda no
Brasil Latam
que são: cooperação transversal, ação pela
mudança e desenvolvimento de pessoas. Além dos
valores citados, a empresa vive um processo de
transformação cultural, com foco no fortalecimento
de pontos como inovação e diversidade.
“Foram criados Comitês de Desenvolvimento
Organizacional (CDO), compostos por funcionários
voluntários que atuam como embaixadores dos
valores e prioridades da empresa e desafiam o statu
quo”, complementa Pittella. Para 2019, a novidade é
a criação do EVP com base em ousar para cuidar,
cooperar com paixão e inspirar sua jornada. “Além
de ter sinergia entre si, os pontos expressam o que a
Sanofi oferece no ambiente de trabalho e convergem
na nossa missão de empoderar as pessoas”, conclui.
E
EN
NXERGAR A
AS NECESSIDA
ADES INDIVID
DUAIS
S
D
DO
O COLABOR
RADOR
Com 237 anos de história, a farmacêutica suge-
re um olhar mais cuidadoso com os colaboradores,
ressalta a diretora executiva de Administração,
Recursos Humanos e Comunicação Corporativa
da Takeda no Brasil e Latam, Veronika Falconer.
“Nosso diferencial é, de fato, enxergar as neces-
sidades individuais, os encorajando a serem pro-
tagonistas de suas carreiras e, ao mesmo tempo,
aliando o equilíbrio entre vida pessoal e profis-
sional”, diz. Dentre as principais iniciativas, a
empresa oferece um programa de mentoring em
que membros de liderança auxiliam profissio-
nais de diversos níveis hierárquicos, no acon-
selhamento de carreira. Além de subsídio com
pós-graduação, MBA ou aula de idiomas, com a
Universidade Takeda, os colaboradores têm mais
de 200 cursos presenciais e em formato e-lear-
ning. É possível obter capacitação nas diferentes
áreas que envolvem a companhia, como finanças,
operações, inovação, negócios, estratégia, mar-
keting, compliance liderança e desenvolvimento
humano. “A iniciativa teve uma adesão tão grande
que está sendo expandida para uma universidade
educacional de nível global”, ressalta.
k
k SERVIÇO
OS PROFIS
SSIONAIS
S
ADMINISTRAR O CAPITA
AL HUMANO
Prestes a completar duas décadas de opera-
ção, a empresa vem se destacando em iniciativas
de RH como o Programa de Avaliação de Perfor-
mance, que analisa o desempenho, bagagem e
potencialidades do colaborador, possibilitando
seu desenvolvimento profissional. “Temos tam-
bém o programa de recrutamento interno que
atua como mecanismo de retenção, uma vez que
valoriza os profissionais que já estão na compa-
nhia e oferece oportunidades de crescimento”,
pontua a vice-presidente de RH da Atento, Majo
Martinez. No campo do desenvolvimento do pro-
fissional, a companhia oferece opções nos pilares
da educação corporativa, produção de conteúdo,
inovação em treinamento. “Destaco a Academia
Atento, que congrega todas as iniciativas de for-
mação inicial e continuada, em cursos obrigató-
rios e/ou recomendados, treinamentos específi-
cos in company e cursos livres, com alternativas
nas modalidades presencial e EAD”, detalha a VP.
Com foco nos líderes, há a Universidade de Lide-
rança Atento, com as missões de modelar uma
cultura de liderança tangível e compartilhada
por toda a organização e, também, promover o
alinhamento desses profissionais com a estraté-
gia da companhia, vinculando-o aos resultados
do negócio.
E
EX
XECUTIVOS NO PROCESSO
O DE ONBOAR
RDING
G
Prática de destaque na Cognizant, as ações de boas-
-vindas aos novos colaboradores contam com pleno
envolvimento do corpo executivo da organização.
“Os executivos estão presentes no processo
de onboarding, explicando a cultura organiza-
cional da empresa”, relata a diretora de Recursos
Humanos da Cognizant no Brasil, Tatiana Porto.
No âmbito da avaliação de desempenho, a com-
panhia utiliza uma ferramenta própria, chamada
GoPerform. “É uma ferramenta global, que é fácil
de usar para os colaboradores de toda a empre-
sa”, destaca a diretora. Para os próximos passos, a
empresa pretende fortalecer programas de diver-
sidade. “Já temos um comitê de empoderamento
feminino e pretendemos criar novos comitês para
LGBTS e pessoas com deficiência”, explica Tatia-
na. Na visão da diretora, um tema que deve ga-
nhar destaque no RH e liderança nos próximos
tempos é a comunicação. “Exercer uma comuni-
cação efetiva é, em parte, uma responsabilidade
dos líderes, quando devidamente apoiados pelas
áreas, seja com treinamentos ou materiais de su-
porte que respeitem às individualidades na forma
de cascateamento da informação”, conclui.
F
FA
ALAR “COM”
” PESSOAS E NÃO “DE” PESS
SOAS
S
A brincadeira com as palavras no título faz parte de
uma metodologia de Global Performance Experience
(GPE) implantada mundialmente pela Deloitte, que
24. trabalha justamente com o lema acima. “Eliminamos
os formulários de avaliação e trocamos por uma
metodologia mais simples, rápida e fácil, como um
check-in que pode ser feito por meio de um aplicativo
em que é possível agendar uma conversa com o
gestor”, exemplifica a diretora de Talento e Cultura da
Deloitte, Sonia Romeiro. Essa é uma das ferramentas
que fizeram da Gestão de Desempenho um dos
destaques do RH da empresa. Como tendência para
os próximos tempos, a diretora destaca os temas de
inovação e disrupção. “Na Deloitte trabalhamos com
clientes que compõem a indústria 4.0 e o mundo VUCA
(em português: Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo)
– e isso implica em revisar competências, automatizar
processos e preparar pessoas que perderão seus
empregos por conta dessa transformação”, diz. A
universidade corporativa da Deloitte, a D. Influencers,
trabalha esses conceitos e estratégias, abordando
novas formas de inovar e aprender.
RH COMO
O SUPORTE PARA DECIS
SÕES
S
E
ES
STRATÉGIC
CAS
Dados financeiros, demográficos e compor-
tamentais são utilizados estrategicamente nas
tomadas de decisões do RH da SAP. E esses dados
são fornecidos ao departamento por sistemas de
gestão dessa área. “É importante aqui destacar
o engajamento de todos os nossos colaborado-
res que contribuem com sugestões e planos de
ações que nos ajudam nesse processo de inova-
ção constante”, comemora o diretor de RH da
SAP Brasil, Marcelo Carvalho. O executivo res-
salta o uso dessas soluções em todas as etapas
de relacionamento do colaborador com a empre-
sa – desde a atração a conhecer a SAP, passan-
do pela admissão, onboarding, desenvolvimento,
reconhecimento, e até após deixar a empresa
participando de nossa rede de Alumni. Carvalho
acredita que os temas sobre o futuro do trabalho
são os mais comentados e discutidos pelo RH nos
dias de hoje. “Nossa visão é muito positiva sobre
o futuro do trabalho: a tecnologia será a grande
aliada. Acreditamos que o ser humano será cada
vez mais estimulado a criar inovações que im-
pactem positivamente na vida das pessoas e da
sociedade”, conclui.
PRODUTIV
VIDADE E MEL
LHOR ALOCA
AÇÃO
O
D
DE
E WORK FO
ORCE
Seguindo um alinhamento global, o SAS reali-
za a gestão da força de trabalho para a adequação
da estrutura organizacional em diversas áreas. A
prática é feita com o auxílio de uma plataforma
tecnológica, que possibilita o acompanhamen-
to em relatórios específicos. “Os resultados se
traduzem em ganho de produtividade e melhor
alocação de work force”, garante o gerente sênior
de Recursos Humanos do SAS Brasil e Cone Sul,
Tato Athanase. A empresa deve passar por re-
formulação na estrutura de RH ainda este ano,
com a implementação de centros de excelência
regionais. A plataforma de tecnologia do SAS tem
recebido todas as informações e estratégias do
segmento de RH. “O objetivo é tornar as análi-
ses de dados ainda mais precisas no que tange
à aquisição de talentos, mensuração de eficácia
organizacional, avaliação de performance, ges-
tão de promoção, entre outros temas”, explica
Athanase. Dentre as propostas de transformação
social e digital, a empresa dará ênfase ao con-
ceito de Employer Branding, com investimentos
em plataformas digitais e sociais, bem como em
treinamento. “É importante que os funcionários
e o mercado interajam de forma produtiva sobre
os desafios de negócio, a solução de problemas e
que haja uma troca de experiências em projetos,
além do compartilhamento de boas práticas”,
enumera o gerente.
P
PE
ESSOAS, NO
OSSO MAIOR PATRIMÔNIO
O
Em2018,aTCSafirmaterdedicadomaisde40mil
horas em treinamentos para novos funcionários.
“Precisamos investir nas melhores práticas de
RH para nos concentrarmos no crescimento
pessoal e profissional do nosso time”, afirma
a diretora de RH da empresa, Saveeta D’Souza.
Outras ações da companhia têm foco na
diversidade. “Trabalhamos em projetos focados
em empoderar as mulheres para trabalhar
com ciências (Girls in Tech), engajar jovens
estudantes e professores em tecnologia (goIT),
criar oportunidades de recolocação profissional
e introduzir informática para crianças (Hour of
Code), entre outros”, diz. No momento, a TCS
trabalha a expansão das operações no Brasil.
Atualmente são três escritórios localizados nas
cidades de São Paulo, Londrina e Rio de Janeiro.
“A expectativa é a de contratar 500 profissionais
até julho e alcançar 4 mil funcionários em um
futuro próximo”, garante Saveeta. “Estamos
investindo em novas contratações para ampliar
ainda mais esse potencial, trocar experiências,
inovar e reafirmar nosso compromisso com o
país”, conclui.
Marcelo Carvalho
Diretor de RH
da SAP Brasil
AP
PRESENTA
25. Fotografia de CHAD KIRKLAND
COMOEUFIZCEODATRAEGER
EXPLICAARECONSTRUÇÃODEUMA
CULTURATÓXICA
por Jeremy Andrus
Radar
Harvard Business Review
Março 2019 25
26. E
m uma manhã de outubro de
2014, parei no estacionamento
de minha empresa. Ela estava
cercada por caminhões do
corpo de bombeiros. Algum
tempo antes, eu havia feito um
anúncio importante: a Traeger,
fabricante de grelhas e churrasqueiras
com base em Oregon, onde eu recen-
temente assumira o cargo de CEO,
fecharia seus depósitos, deixaria de
realizar operações de transporte e as
terceirizaria para a UPS. A mudança fa-
zia sentido do ponto de vista estratégi-
co, e havíamos oferecido indenizações
generosas e assistência na recolocação
de vários empregados afetados. No en-
tanto, as notícias não foram muito bem
recebidas. Ao descer do carro, descobri
que um de nossos caminhões estava
em chamas. Não sabíamos quem era o
responsável, mas era óbvio que não se
tratava de incêndio acidental.
Reuni minha equipe executiva para
discutirmos como lidar com o incidente.
O feed de notícias de alguém relatava que,
naquela mesma manhã, em um escritório
no Alabama, um funcionário insatisfeito
matara alguns colegas de trabalho a tiros.
Aquilo nos fez refletir que as coisas po-
deriam piorar muito na Traeger. Cerca de
uma hora depois, um antigo funcionário
abriu a porta e, colocando sua cabeça para
dentro, disse: “Há rumores de que algu-
ma coisa grande vai acontecer hoje”. Eu
sabia que precisava ficar frente a frente
com os empregados e falar com eles sem
rodeios, e o que poderia acontecer depois
disso me deixava tenso. Era a primeira
vez na vida em que me sentia fisicamente
inseguro no trabalho.
Não existe um estudo de caso para o
que fazer quando funcionários passam a
atear fogo em seus ativos, ou um grupo
potencialmente rebelde começa a se
formar. Infelizmente esses incidentes
eram apenas exemplos extremos de um
problema mais amplo: nossa empresa
desenvolvera uma cultura tóxica carac-
terizada pela falta de confiança, atitu-
des negativas e uma recusa teimosa em
colaborar. Como novo CEO, eu passara
vários meses tentando descobrir uma
maneira de resolver o problema. O dia
do incêndio no caminhão representava
um momento crucial: eu sabia que pre-
cisava desmantelar a cultura corporativa
existente e construir uma nova, do zero.
A SEDUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO
Meu caminho até me tornar CEO da
Traeger foi tortuoso, para dizer o
mínimo. Como muitas pessoas, enfrentei
dificuldades quando tinha 20 e poucos
anos na tentativa de decidir o que queria
fazer. Depois da faculdade atuei como
consultor de gestão durante três anos,
e embora tenha aprendido muita coisa,
não era algo que eu amava. Depois, pas-
sei seis meses no mercado financeiro,
e esse foi o trabalho mais estressante e
empolgante que já realizei em minha vi-
da. Ajudei uma empresa a construir ho-
téis. Matriculei-me na Harvard Business
School, mas quando me formei, em
2002, no rescaldo da bolha da internet,
as únicas empresas interessadas em mim
eram as consultorias de gestão e organi-
zações de desenvolvimento imobiliário,
pois essa era a experiência registrada em
meu currículo. Eu sabia que queria fazer
alguma coisa diferente.
Após alguns meses dormindo no
porão da casa de meus pais, mudei-me
para Dallas e me tornei sócio de uma
pequena empresa de frozen-drinks. Era a
primeira vez em minha carreira em que
tudo fazia sentido. Uma hora eu estava
dirigindo uma empilhadeira no depósito;
em outra, negociando com um banquei-
ro; depois, tentando realizar uma venda
para um distribuidor. Adorava poder
participar de todas as partes do negócio,
e essa experiência me convenceu de
que como empreendedor eu seria uma
pessoa realizada.
Alguns anos depois, alguém me apre-
sentou a Rick Alden, fundador de uma
empresa chamada Skullcandy. Ainda era
pequena — somente US$ 500 mil em
vendas (ainda estava colocando alto-
falantes em capacetes para snowboard
e não havia, até aquela altura, se dedi-
cado a fones de ouvido). Em 2005 passei
a ser vice-presidente de operações da
Skullcandy. Crescemos tão rapidamente
que ficava com a impressão de sempre
estar um passo atrás, mas aprendia
muito. Rick enfrentou dificuldades
para angariar fundos com investidores
externos, então construímos a marca
com muito pouco dinheiro.
Acabei me tornando CEO, ficando
ali por oito anos, fazendo com que a
organização chegasse a US$ 300 milhões
em receitas e viesse a se tornar uma
empresa de capital aberto. Com o passar
do tempo, descobri que não gostava
particularmente de gerir uma empresa
de capital aberto. Lidávamos com inú-
meras vendas a descoberto (short selling)
e, pensando bem, éramos pequenos
demais para termos nos tornado uma
empresa de capital aberto. No início de
2013 eu saí e ingressei numa empresa de
private equity em busca de uma organi-
zação menor que eu pudesse adquirir e
gerir sozinho.
Radar
26 Harvard Business Review
Março 2019
27. CERTA MÁGICA NA MARCA
Observei 40 ou 50 negócios e dediquei
meu tempo de maneira mais séria a cerca
de dez deles. Estava interessado principal-
mente em marcas voltadas diretamente
para o consumidor. Meu pai trabalhou em
gestão de marca quando eu era pequeno
e sempre me vi como alguém ligado aos
produtos de consumo. Gosto de descobrir
como os clientes pensam e de construir
uma marca e um produto para atender a
suas necessidades. Um dos alvos era um
fabricante de doces 100% naturais. Estive
perto de comprar uma empresa de liqui-
dificadores de alta qualidade. Em todos os
casos o que eu mais levava em conta era
se conseguiria fazer com que o negócio
crescesse significativamente.
A primeira vez que a Traeger apare-
ceu em minha mesa foi na primavera de
2013, logo no começo da minha busca.
A empresa, na época com 26 anos de
fundação, criara e patenteara um pro-
duto chamado grill de pellet de madeira,
mas eu nunca tinha ouvido falar nem
da empresa nem do setor. Suas origens
remontam à crise do petróleo na década
de 1970, quando as pessoas começaram
a buscar alternativas para aquecedores
a óleo. Fogões de pellet de madeira
tornaram-se populares para o aqueci-
mento doméstico, e no início da década
de 1980, Joe Traeger, que administrava
uma empresa de aquecedores em Ore-
gon, passou a fazer experiências usando
essa mesma tecnologia — em que um
motor elétrico faz girar uma broca que
alimenta pellets de madeira em câmara
incineradora — com uma churrasqueira
para quintal. Como um termostato é
usado para controlar o aquecimento,
grills de pellet são particularmente bons
para curar carnes em temperaturas
constantes. Tive uma conversa de 30
minutos por telefone com a empresa e
decidi que aquela oportunidade não era
para mim. O setor de churrasqueiras não
parecia muito interessante; é altamen-
te comoditizado, e eu não via muita
vantagem competitiva em torcer e soldar
metais. Terminado o telefonema, não
pensei mais no assunto.
Alguns meses depois, a empresa de
private equity que havia me alertado a
respeito da Traeger voltou a me telefonar.
Desde então, eles haviam comprado
ações da Traeger e firmado uma parceria
com seu então CEO. Aquilo não dera certo
e eles estavam procurando alguém novo
para administrar a empresa. Àquela altura
eu vinha procurando havia dez meses
uma empresa que eu pudesse adquirir,
e estava ficando impaciente; por isso,
ouvi com mais atenção. A empresa havia
pesquisado mais a fundo a Traeger e
tinha novas informações sobre seu net
promoter scores: eram espetaculares.
O fato é que as pessoas que compram a
churrasqueira da Traeger tendem a falar
sobre ela para todos os seus conhecidos,
convencendo-os a também comprar uma.
Parecia haver certa mágica na marca que
os atuais donos não tinham conseguido
transformar em crescimento dimensioná-
vel. Aquilo despertou meu interesse.
Criamos uma estrutura em que eu me
tornaria acionista minoritário e CEO. Fui
a Oregon visitar a sede da empresa, mas,
à medida que ia conhecendo a cultura do
lugar, pensava se não cometera um erro
ao me envolver com aquilo.
UM HEMATOMA NO PEITO
Durante minha primeira visita, concen-
trei-me em duas coisas: o potencial de
crescimento das vendas e a qualidade da
equipe de gerenciamento existente. Vi
muita coisa que podia ser melhorada. Até
2010 a própria empresa vinha fabricando
suas churrasqueiras, o que não fazia
muito sentido do ponto de vista estratégi-
co, mas recentemente passara a terceirizar
a produção para a China. Em 2013, ainda
executava os trabalhos relativos aos depó-
sitos e ao transporte e à execução, ainda
que a maioria dos competidores também
terceirizasse tais atividades; até seus
próprios caminhões e motoristas faziam
parte da folha de pagamento. Cerca de 240
pessoas trabalhavam na empresa — 120
na sede em Oregon, 30 em um escritório
de vendas em Utah e 90 vendedores
comissionados em todo o país. Eu e minha
família morávamos perto do escritório
de Utah, por isso comecei a viajar entre o
escritório de Utah e a sede em Oregon.
Rapidamente passei a notar um
problema cultural. A empresa de private
equity e eu tínhamos a minoria das ações;
o acionista majoritário era um empreen-
dedor serial que morava na Flórida. Ele
era o dono do negócio fazia oito anos e,
desde então, eu era o oitavo executivo
sênior; sete haviam saído. Tempos depois
descobri que os empregados me chama-
vam de Ocho (oito em espanhol) pelas cos-
tas e não esperavam que eu durasse muito
tempo lá. O comportamento deles refletia
isso. Quando eu pedia informações, era
ignorado. Certa vez, quando visitava a
sede, perguntei ao diretor financeiro se
podíamos nos falar. Embora eu fosse seu
chefe, ele disse que não seria possível
arrumar tempo em sua agenda (ele acabou
por conseguir 30 minutos para mim
durante aquela visita). Eu pedia às pessoas
que trabalhassem juntas em um projeto e
elas simplesmente se recusavam.
Certa vez, quando estava visitando a sede, perguntei ao diretor
financeiro se podíamos nos encontrar. Embora eu fosse seu chefe,
ele disse que não seria possível arrumar tempo em sua agenda.
Harvard Business Review
Março 2019 27
28. Embora o acionista majoritário
não exercesse função operacional, ele
conversava com as pessoas de todos os
níveis da empresa várias vezes por dia,
então os empregados agiam como se ele
estivesse no comando. Ele criara uma
cultura de medo: todos o temiam, e ele
gostava das coisas daquela maneira.
Recentemente, reli os emails que troquei
com ele durante meus primeiros 90
dias e me sinto orgulhoso pela maneira
comedida e controlada como agi. Ele
era agressivo e abusivo, e aquele estilo
contagiou as outras pessoas da empresa.
Eu precisava trazer para a empresa
uma equipe de gerenciamento melhor,
por isso contratei alguns executivos
com quem eu trabalhara de perto na
Skullcandy. Aquilo, inadvertidamente,
fez com que os problemas culturais
piorassem. Agora a situação era “nós
contra eles”: de um lado, a nova equipe e
eu; do outro, o acionista majoritário e os
empregados de longa data.
O primeiro passo que demos na ten-
tativa de resolver o problema cultural foi
eliminar o acionista majoritário. Assim,
em 20 de junho de 2014, cerca de cinco
meses depois de ter ingressado na orga-
nização, eu e a empresa de private equity
compramos sua parte. Foi um momento
importante — um dia que comemoramos
como feriado todos os anos dentro de
nossa empresa: O dia da independência
da Traeger, é como o batizamos.
Uma vez resolvido o problema de
posse da empresa, começamos a identi-
ficar outros problemas. Quando passei
a fazer parte da Traeger, ela era uma
organização de US$ 70 milhões — com
controles e processos supreendentemen-
te pouco sofisticados. Nossos depósitos
estavam defasados e subdimensionados;
não tinham condições de suportar o
volume existente, e muito menos de
lidar com o crescimento que queríamos
gerar. Conforme analisamos os aspectos
financeiros, percebemos que tínhamos
um grande problema com a gestão de
canais. Vendíamos nossos produtos
online diretamente para os clientes, mas
os vendíamos também em varejistas
como a Ace Hardware e cadeias de
hipermercados de produtos domésticos.
Descobrimos que a maior parte de nossas
vendas diretas ao consumidor tinham
enormes descontos — preços muitas
vezes mais baixos do que o valor que
nossos parceiros varejistas nos pagavam
pelos produtos. Os varejistas, compreen-
sivelmente, estavam descontentes com
essa situação, uma vez que tentávamos
convencê-los a estocar nossas churras-
queiras e depois minando-os ao oferecer
preço mais baixo. A primeira vez que
participei de uma feira de exposições,
voltei para casa com um hematoma no
peito: vários varejistas me cutucaram de
maneira vigorosa demonstrando sua irri-
tação por estarmos minando suas vendas
e oferecendo um péssimo serviço.
De volta à nossa sede, passei muito
tempo em reuniões com os 30 ou 40 prin-
cipais funcionários da empresa tentando
sentir a propensão de cada um em realizar
mudanças. Fizemos uma pesquisa cultu-
ral para angariar informações quantitati-
vas e permitimos que fossem realizados
feedbacks anonimamente. Criamos uma
nova missão e cinco valores que passa-
riam a guiar a Traeger, mas conforme os
divulgávamos nada parecia acontecer.
Muitos empregados trabalhavam lá havia
anos (alguns eram da segunda geração
de sua família) e tinham pouco incentivo
para fazer as coisas de maneira diferente.
Passar 75% de meu tempo longe da sede
era algo que não ajudava; assim que eu
saía, as pessoas voltavam a atuar do modo
como queriam. Durante um tempo pensei
em mudar minha família para Oregon,
mas não estava certo de que isso resolve-
ria a situação.
UMA CULTURA DO ZERO
Nos dias seguintes ao incêndio no
caminhão, resolvi que a única maneira
de lidar com uma cultura tóxica era
começar tudo de novo. Decidimos
mudar a sede de Oregon para Utah.
Tanto eu quanto a maior parte dos novos
executivos morávamos em Utah, e com
meus contatos e minha reputação sabia
que podia construir ali uma equipe forte.
Ao sairmos de Oregon, deixaríamos para
trás empregados que estavam minando
nossos esforços para criar uma cultura
mais positiva e colaborativa na Traeger.
Trabalhamos secretamente em um
plano por 45 dias antes de anunciá-lo. Era
uma atitude dispendiosa: pagamos inde-
nizações para as pessoas que estávamos
dispensando e bônus de permanência
para que funcionários-chave ficassem em
Oregon o suficiente até que estivéssemos
em condição de montar a nova sede. Em-
bora estivéssemos felizes por conseguir
reconstruir a cultura completamente,
estávamos muito preocupados com a
perda da memória institucional. Empre-
sas desse porte tendem a operar com base
no conhecimento tribal: muitas coisas
não são registradas e muitas práticas são
internalizadas pelos funcionários. É difícil
transferir esse conhecimento — principal-
mente quando as pessoas estão preocu-
padas com o próprio emprego.
Parte de mim se arrependeu de ter
Radar
28 Harvard Business Review
Março 2019
29. Começar uma empresa do zero significa que você pode também construir
a cultura do zero. Ainda que a Traeger estivesse no mercado havia três
décadas, ao mudarmos sua sede estaríamos recomeçando por completo.
tomado uma decisão tão drástica. Mas
quanto mais penso nisso mais reconheço
que a decisão resultou da quase impossi-
bilidade de transformar esse legado cul-
tural em que atitudes negativas estavam
arraigadas tão profundamente. Uma das
vantagens de começar uma empresa do
zero é que você também pode construir a
cultura do zero. Ainda que essa empresa
estivesse no mercado havia três décadas,
ao mudá-la para Utah estaríamos reco-
meçando por completo.
Passamos muito tempo decidindo
quem convidar para ir a Utah. Àquela
altura, depois de termos fechado os
depósitos e encerrado as atividades de
transporte, tínhamos cerca de 90 empre-
gados em Oregon. Avaliamos a compe-
tência e a adequação cultural de todos
eles. Classificamos as pessoas em líderes
culturais positivos, neutros ou detratores
culturais. Se fossem detratores culturais
(e muitos eram), não as queríamos, inde-
pendentemente do grau de competência.
Pode-se pensar que foi fácil identificar
os detratores, mas nem sempre foi esse
o caso. Lembro-me de um sujeito que
trabalhava no setor financeiro. Eu o via
como alguém positivo e otimista, mas
quando ele deixou a empresa e fez uma
entrevista de saída com uma empresa
externa de RH, pedi permissão para ver
sua ficha. Fiquei chocado ao notar como
ele era mesquinho e negativo.
Se alguém fosse culturalmente
neutro e altamente capacitado em
uma função difícil de ser preenchida,
convidávamos essa pessoa a se integrar à
a equipe de Utah. Somente alguns eram
líderes culturais, e eles também foram
convidados a continuar conosco. Entre
as 90 pessoas havia talvez 12 ou 15 que
esperávamos que fossem para Utah;
destas, cinco ou seis realmente foram.
Em geral, as pessoas que queríamos
vinham trabalhando na empresa havia
pouco tempo. Elas estavam sedentas em
desenvolver suas capacidades, ansiavam
por uma promoção e eram capazes de
se mover entre diferentes funções com
facilidade. Os empregados de longa data
não eram adaptáveis e tinham assimila-
do de maneira muito minuciosa a cultura
negativa. Encaramos aquilo como uma
quarentena: precisávamos ter certeza de
que não levaríamos ninguém que pudes-
se infectar a nova cultura que estávamos
tentando criar.
UM ESPAÇO FIEL PARA A MARCA
A sede de Utah foi oficialmente aberta
em setembro de 2015, e nos despedimos
do último funcionário em Oregon no
começo de 2016. Contratamos muitas
pessoas desde que nos mudamos —
atualmente contamos com 450 empre-
gados em todo o mundo —, e passei
muito tempo com cada candidato antes
de oferecer a ele um cargo. Não foco nos
currículos. Quero entender o que eles
pensam sobre assumir riscos e quais ca-
pacidades querem desenvolver. Procuro
me certificar de que estamos aplicando
um filtro cultural rígido a todos os que
são contratados. Queremos encontrar
pessoas que já estejam vivendo com base
em nossos valores.
Nossos escritórios físicos desempe-
nham um papel importante em nossa
cultura. Trabalhamos com arquitetos para
criar um ambiente que fosse fiel à nossa
marca. É um espaço dinâmico, ao ar livre,
com móveis feitos com madeira reciclada.
As salas de reunião receberam nomes que
remontam a aspectos antigos da Traeger
(uma é chamada de abadia, uma vez que
a Traeger foi fundada originalmente em
uma terra onde existia um mosteiro).
Hávárioslugaresmaravilhosospara
cozinhar,sentarecomer,poisnossamarca
temtudoavercomoatodecozinhare
comacomidaemsi,nãocommetalou
mecanismosdachurrasqueira.Toda
segunda-feirademanhãpreparamosum
cafédamanhãparatodaaempresa;efaze-
mosalmoçojuntosdeterçaasexta-fei-
ra. Preparar em conjunto a comida para
os colegas é uma maneira de mostrar que
nos preocupamos uns com os outros.
Os recursos que alocamos ao design do
escritório também transmitem isso.
Desde que me envolvi com a Traeger,
fizemos muito mais do que tentar trans-
formar a cultura — nós revimos nossa
estratégia, nosso marketing e nossa linha
de produtos. Criamos uma comunidade
de fãs e influenciadores nas redes sociais
e na vida real. Estou convencido de que a
mudança cultural que conseguimos rea-
lizar é uma força motriz importante para
nossos resultados, que têm sido signifi-
cativos. Em apenas cinco anos as vendas
aumentaram de US$ 70 milhões para
quase US$ 400 milhões. A mudança não é
aparente apenas em nossos demonstrati-
vos financeiros e no clima ao redor da se-
de — nossos parceiros varejistas também
veem evidências disso. Isso é importante
porque eles desempenham um papel vital
ao nos ajudar a educar os consumidores a
respeito das vantagens das churrasquei-
ras de pellet em comparação às de gás ou
carvão. Tudo isso é derivado da pesquisa
que primeiro despertou meu interesse
por essa empresa: depois que as pessoas
experimentam uma churrasqueira de
pellet, elas não mudam mais.
HBR Reprint F1903A–P Para pedidos, página 9
Harvard Business Review
Março 2019 29
30.
31. Fotografias de ALEJANDRO GUIJARRO
Como educar a próxima
geração de líderes
Cambridge III
Harvard Business Review
Março 2019 31
Foco
33. SOBRE A ARTE
Ao criar a série Momentum, Alejandro Guijarro transitou pelos departamentos
de física quântica da Universidade de Cambridge, Harvard e outras para
fotografar em formato grandes quadros-negros logo depois das aulas.
Harvard Business Review
Março 2019 33
34. de lideranças nunca foi tão urgente.
Empresas de todos os tipos já sabem
que para sobreviver num ambiente
volátil, incerto, complexo e ambíguo
é preciso ter habilidades de liderança
e competências organizacionais
diferentes daquelas que as tornaram
bem-sucedidas no passado. Também
há um reconhecimento cada vez maior
de que o desempenho da liderança não
deve se restringir aos poucos executi-
vos do C-level. Com a proliferação de
plataformas colaborativas de solução
de problemas e “adocracias” (grupos
e equipes cooperativos que se
organizam baseados em projetos)
digitais que estimulam a iniciativa
individual, os membros dos conselhos
esperam tomar decisões importantes
que se alinhem com a estratégia e a
cultura corporativa. É importante,
portanto, que as empresas estejam
equipadas com habilidades técnicas,
de relacionamento e comunicação.
O setor de desenvolvimento de
liderança, no entanto, está passando
por uma reviravolta. O número de
instituições que oferecem cursos sobre
habilidades técnicas e interpessoais
exigidas dos gestores corporativos
disparou. No entanto, organizações
que, juntas, gastam bilhões de dólares
anualmente para treinar os executivos
atuais e futuros estão cada vez mais
decepcionadas com os resultados.
Vários estudos abrangentes do setor,
além de entrevistas em profundidade
que realizamos com clientes, indicam
que mais de 50% dos líderes seniores
acreditam que suas iniciativas de
desenvolvimento de talento não criam
habilidades críticas e capacidades
organizacionais adequadas (ver qua-
dro “Os problemas da educação
executiva tradicional”).
Três razões explicam o estado
desarticulado do desenvolvimento
de liderança. A primeira é um gap nas
motivações. As organizações investem
no desenvolvimento executivo em
seu próprio benefício de longo prazo,
mas os funcionários participam a
fim de aprimorar suas habilidades e
promover a própria carreira, e eles, não
necessariamente, permanecem com
os empregadores que lhes financiam
o treinamento. A segunda é o gap
entre as habilidades que os programas
de desenvolvimento executivo
fornecem e o que as empresas exigem
— principalmente habilidades
interpessoais essenciais para prosperar
em organizações planas, conectadas em
redes e cada vez mais colaborativas. Os
provedores tradicionais têm expertise
para ensinar habilidades cognitivas e
medir seu desenvolvimento, mas têm
muito menos experiência em ensinar
as pessoas a se comunicar e a trabalhar
colaborativamente de forma eficiente.
A terceira razão é o gap de transferência
de habilidades. Basicamente, poucos
executivos parecem ensinar o que
aprenderam em sala de aula e aplicar
seus conhecimentos em suas atividades
diárias — e quanto mais distante estiver
o locus da aprendizagem do locus
da aplicação, maior se torna o gap
(ver quadro “O gap de transferência de
habilidades: o que se aprende raramente
Em
resumo
O PROBLEMA
Abordagens tradicionais
do desenvolvimento de
liderança não atendem
mais às necessidades
das organizações e dos
indivíduos.
AS RAZÕES
São três: (1) as organizações que pagam pelo
desenvolvimento de liderança nem sempre se beneficiam
tanto quanto os participantes individuais; (2) os
provedores não estão desenvolvendo as habilidades
interpessoais de que as organizações precisam; (3)
normalmente é difícil aplicar ao mundo real as lições
aprendidas em sala de aula.
A SOLUÇÃO
Uma variedade crescente de
cursos online, plataformas sociais
e ferramentas de aprendizagem
tanto de provedores tradicionais
como de novos ingressantes está
ajudando a fechar o gap.
34 Harvard Business Review
Março 2019
Foco
35. Os diretores de aprendizado
(CLOs) acreditam que os
programas tradicionais não
conseguem mais preparar os
executivos adequadamente
para os desafios que
enfrentam atualmente
e os que enfrentarão
no futuro. As empresas
estão procurando as
habilidades comunicativas,
interpretativas, emocionais
e perceptivas necessárias
para liderar colaborações
coerentes e proativas. Mas
a maioria dos programas
de educação executiva
— planejados para ser
extensões ou substitutos
de programas de MBA
— focam em conjuntos
de habilidades baseadas
em disciplinas, como
desenvolvimento
estratégico e análise
financeira, e subestimam
importantes habilidades
relacionais, emocionais e
de comunicação.
Não é de admirar
que os CLOs tenham
problemas para justificar
seu orçamento anual de
treinamento.
Os programas de
educação executiva também
não atingem os objetivos
propostos. A “aprendizagem
continuada” é um clichê
nos círculos corporativos e
universitários há décadas,
mas ainda está longe da
realidade. A educação
executiva tradicional
é simplesmente muito
episódica, exclusiva e
cara para atingir essa meta.
Não é de estranhar que
faculdades de administração
de alto nível, como Rotman
e HBS, tenham notado
aumento significativo na
demanda por programas
personalizados, de
coortes, que atendam
às necessidades de
desenvolvimento de
talento de empresas
idiossincráticas.
Universidades corporativas
e a nuvem de aprendizado
pessoal — o crescente
mix de cursos online,
plataformas sociais e
interativas e ferramentas
de aprendizagem tanto
de instituições tradicionais
como de novatas — estão
preenchendo o gap.
Osproblemasdaeducação
executivatradicional
é aplicado”). Para desenvolver liderança
essencial e talento empresarial as
organizações precisam fechar esses
três gaps.
A boa notícia é que a crescente
variedade de cursos online, plataformas
sociais e interativas e ferramentas
de aprendizado tanto de instituições
tradicionais como as mais novas — que
formam o que chamamos de “nuvem
de aprendizado pessoal” (PLC, na
sigla em inglês) — oferecem soluções.
As organizações podem selecionar
componentes da PLC e moldá-los
de acordo com as necessidades e
comportamentos de indivíduos e
equipes. A PLC é flexível e de acesso
imediato e permite aos funcionários
adquirir habilidades no contexto em
que serão utilizadas. Na verdade, essa é
uma forma de aprendizado profissional
do século 21. Neste artigo descrevemos
a evolução do desenvolvimento
de liderança, a dinâmica que força
as mudanças e as formas de gerir a
emergente PLC para o bem tanto da
empresa como de seus funcionários.
O ESTADO DO DESENVOLVIMENTO
Coursera e Udacity. Esse é um cenário
de fornecedores de serviços que muda
com rapidez, mas é um mundo que
precisamos conhecer intimamente
como educadores, consultores e líderes
de programas de educação executiva
da Rotman (no caso de Mihnea) e da
Harvard Business School (no caso de
Das). E para ajudar a compreender
melhor a situação, elaboramos uma
tabela que compara os atores (ver
quadro “O cenário dos provedores”).
Estamos observando agora
tendências poderosas para reformular
o setor e estimular a emergência da
PLC, como uma infraestrutura de
aprendizagem conectada em rede.
Primeira tendência: a PLC reduziu os
custos marginais para se estabelecer
em ambiente de aprendizado em
domicílio e permitiu que os diretores de
recursos humanos (CHROs) e diretores
de aprendizado (CLOs) tomassem
decisões mais criteriosas sobre as
experiências certas para as pessoas
e equipes de suas organizações. Um
estudo da Unicon relata que o número
de universidades corporativas — que
fornecem cursos a distância e on demand
que podem ser seguidos em casa ou
até no trabalho — explodiu para mais
de quatro mil nos Estados Unidos e
mais que duplicou mundialmente. No
entanto, acreditamos que, no futuro,
mesmo se as empresas oferecerem
oportunidades de aprendizado para
mais líderes em suas organizações, a
variação da estrutura de custo resultante
da digitalização dos ambientes de
aprendizado levará a somente um
pequeno aumento nos recursos alocados
para o desenvolvimento de liderança.
DA LIDERANÇA
Uma infinidade de atores emergentes
aliou-se aos atores tradicionais no
setor de desenvolvimento de liderança
— faculdades de administração,
universidades corporativas, empresas
especializadas em treinamento e
consultorias. Entre os atores mais
novos estão empresas de assessoria
em recursos humanos, grandes
consultorias em gestão como McKinsey
e BCG, e startups digitais como
Harvard Business Review
Março 2019 35
36. Asegundatendênciaéadiminuição
de programas baseados em salas de
aula padrão para o desenvolvimento
executivo, como os oferecidos basica-
mente pelas faculdades de adminis-
tração e universidades tradicionais.
A maioria das organizações demanda
medidas pré e pós-aquisição e apli-
cação de habilidades relevantes —
como competências em comunica-
ção e expertise em liderança —
que nunca foram abordadas pelos
programas tradicionais.
A terceira tendência é o aumento
progressivo de ambientes de
aprendizagem personalizados por
meio de plataformas e aplicativos que
personalizam o conteúdo de acordo
com as funções dos executivos e das
necessidades de suas organizações. As
plataformas dominantes contam agora
com milhões de inscritos em cursos
individuais e dezenas de milhões de
usuários totais.
Essas tendências estão conectadas
e formam um padrão coeso: à
medida que o ensino se torna
personalizado, socializado e adaptativo,
e as organizações se tornam mais
sofisticadas em aferir o retorno sobre
o investimento no desenvolvimento
de talentos, o setor está abandonando
o material pré-embalado, tamanho
único, e adotando a PLC. A PLC
permite a criação rápida e de baixo
custo de universidades corporativas
e de programas de ensino a distância
da mesma forma que plataformas
como Facebook e Instagram facilitam
a formação de grupos de discussão.
É a “placa de Petri” que encoraja o
rápido crescimento de comunidades de
aprendizado. E é vital manter os gestores
engajados e em ascensão na empresa.
Sustentando e amplificando essas
tendências está a rápida digitalização
do conteúdo e interação, que está
reformulando o segmento de
desenvolvimento de liderança de três
formas importantes. Primeiro, permite
a separação (ou desmembramento)
dos elementos de baixo custo dos de
alto custo do programa. Os lucros dos
provedores de educação dependem de
sua capacidade de dosar o conteúdo
de baixo custo — palestras, discussões
de caso, exercícios e outros — com
as experiências de alto valor como
coaching personalizado, aprendizagem
baseada em projeto e sessões de
feedback intensivo em grupo. Quanto
mais serviços de interação humana
forem incluídos no pacote, mais o
provedor poderá cobrar.
Segundo, a digitalização permite
entregar valor com mais eficiência.
Cambridge I
36 Harvard Business Review
Março 2019
Foco
37. As palestras em sala de aula, por
exemplo, podem ser gravadas em
videoteipe e depois assistidas online
por um número maior de interessados
conforme sua conveniência. Da
mesma forma, discussões em grupo
e fóruns de debate para aprofundar e
sedimentar conceitos da palestra podem
ser orquestradas online, muitas vezes
via plataformas como Zoom, Skype e
Google Hangouts, permitindo
a participação de muito mais
interessados — e com menos
problemas e gastos. Os millennials já
estão acostumados com interações
via mídias sociais, por isso o valor
de estar fisicamente presente no
campus pode estar se desgastando.
E como os componentes isolados de
um programa de educação online —
as aulas individuais, estudos de caso
e outros — podem ser precificados e
Ocenáriodosprovedores
À medida que aumenta a demanda por educação executiva — que pode ser personalizada,
rastreada e medida eficientemente —, estão surgindo novos competidores. As faculdades
de administração, consultorias, universidades corporativas e plataformas digitais estão
competindo para oferecer programas de desenvolvimento de habilidades, e cada ator tem
suas vantagens e restrições.
vendidos independentemente, o custo
de desenvolver várias habilidades foi
reduzido — principalmente habilidades
técnicas e analíticas cujo ensino e
aprendizado tornaram-se bastante
padronizados.
Finalmente, a digitalização
está levando à desintermediação.
Tradicionalmente, as universidades,
faculdades de administração e
consultorias em gestão serviram
como intermediários entre empresas
e seus funcionários e educadores —
acadêmicos, consultores e coaches.
Agora, no entanto, as empresas podem
acessar a internet para identificar (e,
muitas vezes, selecionar) professores
mais qualificados, experiências de
VANTAGENS RESTRIÇÕES
Faculdades de
administração
com programas
abertos
Uma grande loja de capital
intelectual e pedagógico
Capacidade limitada de
fornecer aprendizagem
contextualizada
Faculdades de
administração
com programas
personalizados
Pode adaptar o conteúdo aos
desafios que a organização-
cliente precisa enfrentar e
garantir a transferência de
habilidades centrais
Follow-up inadequado
quando a personalização
atinge o domínio do
aprendizado e design
pessoal
Consultorias
estratégicas
Uma abordagem altamente
contextualizada para a
transferência de habilidades
e desenvolvimento
Tecnologia e know-how
inadequados para avaliação
e feedback
Consultorias
em recursos
humanos
Pode identificar as
habilidades centrais
dos participantes
para criar coaching
de desenvolvimento
totalmente individualizado
Carência de expertise em
áreas funcionais relevantes
Universidades
corporativas
Pode oferecer conteúdos
imediatamente relevantes
para a organização e para
o contexto no qual as
habilidades serão aplicadas
Capacidade limitada para
medir a aquisição de
habilidade e aplicações
Plataformas
remotas de
aprendizado
personalizado
Alternativas de baixo
custo para programas que
transferem conhecimento
funcional e técnico
Limitações na aprendizagem
contextualizada e
desenvolvimento de
habilidades emocionais,
colaborativas e relacionais
Harvard Business Review
Março 2019 37
38. Uma das grandes queixas
que costumamos ouvir sobre
educação executiva é que as
habilidades e capacidades
desenvolvidas não são apli-
cadas no trabalho. Isso desa-
fia as próprias bases da edu-
cação executiva, mas ela
não surpreende. Pesquisas
realizadas por especialistas
em psicologia aplicada, cog-
nitiva e educacional que da-
tam de mais de um século,
juntamente com trabalhos
mais recentes em neurociên-
cia da aprendizagem, reve-
lam que a distância entre o
local onde uma habilidade é
aprendida (locus da aquisi-
ção) e o local onde ela é
aplicada (locus da aplicação)
influem determinantemente
na probabilidade de o aluno
colocar em prática suas
habilidades.
De fato, é muito mais fácil
utilizar uma nova habilidade
se o locus de aquisição
for similar ao locus de
aplicação. Isso é chamado
de transferência próxima.
Aprender, por exemplo,
a mapear a indústria do
alumínio como uma cadeia
de atividade associada
a valor se transfere mais
facilmente para uma
análise do negócio do aço
(transferência próxima)
que para uma análise da
indústria de semicondutores
(transferência distante) ou
dos setores de consultoria
estratégica (transferência
mais distante).
Quando dizemos “distância”
não estamos somente nos
referindo a distância física.
Há uma probabilidade
menor de novas habilidades
serem aplicadas não só
quando o locus da aplicação
está distante do locus de
aquisição no tempo e no
espaço (como aprender
numa sala de MBA e
aplicar as habilidade anos
depois no trabalho), mas
também quando o contexto
social (quem mais está
envolvido?) e funcional (para
que estamos utilizando a
habilidade) são diferentes.
Uma evidência curiosa
sobre transferência de
habilidades nos Estados
Unidos indica que pouco
mais de 10% dos US$ 200
bilhões dos gastos anuais
em desenvolvimento e
treinamento corporativo
produzem resultados
concretos. Esse é um
desperdício incrível. Mais
objetivamente, ele aumenta
a urgência dos setores de
treinamento corporativo
e desenvolvimento
executivo de reprojetar
suas experiências de
aprendizagem.
Ogapdetransferênciadehabilidades:
oqueseaprenderaramenteéaplicado
edX e 2U que oferecem conteúdo intera-
tivo online, treinamento corporativo
e ecossistemas de desenvolvimento
da LinkedIn Learning, Skillsoft,
Degreed e Salesforce Trailhead, que
visam o domínio rápido e proficiência
comprovável de habilidades centrais
em ambientes interativos, abordagens
on-demand, com foco na solução para
o desenvolvimento de liderança como
a McKinsey Academy, BCG Enablement
e DigitalBCG, e plataformas de gestão
de talentos como SmashFly, Yello e
Phenom People, que permitem aliar
necessidades de aprendizado com
resultados do candidato a decisões de
recrutamento, retenção e promoção.
A PLC tem quatro características:
1. O aprendizado é personalizado. Os
funcionários podem seguir o programa
de desenvolvimento de habilidades
ou desenvolver os temas que lhes
interessam de acordo com seu próprio
ritmo, usando mídias otimizadas de
acordo com seu estilo de aprendizagem
e ambiente de trabalho. A PLC permite
que as organizações acompanhem
o progresso e os resultados dos
participantes e proponham o
desenvolvimento e organização de
módulos e conteúdos na hora, para
atender às necessidades de evolução
das pessoas e equipes.
2. O aprendizado é socializado.
Como mostraram as experiências das
séries HBX da Harvard e Academy da
McKinsey, o aprendizado melhora
quando os participantes colaboram e
ajudam uns aos outros. O conhecimento
— tanto o “know-what” como o
“know-how” — é social na natureza.
Ele se distribui dentro e entre grupos
de pessoas que o utilizam para resolver
problemas em conjunto. A PLC permite
a formação orgânica e planejada de
equipes e coortes de participantes
envolvidos no desenvolvimento de
novas habilidades e capacidades.
3.Oaprendizadoécontextualizado.
Como revelaram nossas entrevistas e
como mostraram evidências recentes
da LinkedIn Learning, a maioria dos
executivos valoriza a oportunidade
de se desenvolver profissionalmente
no emprego de formas diretamente
relevantes para o seu ambiente
de trabalho. A PLC oferece essa
possibilidade e permite que eles
aprendam num recinto do local de
aprendizagem e módulos — e não
apenas os programas de melhor
qualidade. Enquanto isso, os instrutores
podem agir como “agentes livres”
e obter melhor remuneração ou
promover aulas-show mais satisfatórias,
escapando da rotina e das restrições
salariais de suas organizações afiliadas.
A ASCENSÃO DA NUVEM DE
APRENDIZADO PESSOAL
A PLC vem tomando forma há cerca
de uma década. Seus componentes
incluem cursos massivos gratuitos
online e plataformas como Coursera,
38 Harvard Business Review
Março 2019
39. trabalho e ajuda a garantir que aplica-
rão o conhecimento e as habilidades
que adquiriram.
4. Os resultados do aprendizado
podem ser acompanhados de forma
transparente e (em alguns casos)
com emissão de certificados. A
valorização da PLC não implica o fim
do credenciamento ou da valorização
de títulos, diplomas e certificados.
Muito pelo contrário: ela leva a uma
nova era de habilidades e capacidades
baseadas em certificados que servem
para desmembrar completamente o
nível profissional. Na verdade, hoje
já não se gastam tempo e dinheiro
para completar um grau profissional,
pois as organizações aceitam os
certificados e microcertificados que
atestam o treinamento de habilidades
específicas. E indiscutivelmente o
certificado sempre disponível está se
tornando realidade com a emergência
das blockchains e registros distribuídos
— como os da Block.io e Learning
Machine. Os microcredenciamentos
estão proliferando, porque a PLC
permite rastreamento seguro e
verificação auditável da inscrição e
conclusão do profissional.
A PLC possibilita que os CLOs e
CHROs sejam precisos tanto sobre as
habilidades que desejam cultivar como
sobre os programas educacionais,
instrutores e experiências de
aprendizado que pretendem utilizar.
O sistema PLC em expansão abrange
uma grande variedade de habilidades.
Numa das extremidades estão as
habilidades funcionais (como análise de
demonstrações financeiras e métodos
analíticos de big data) que requerem
pensamento cognitivo (raciocínio
lógico, cálculos) e práticas algorítmicas
(faça isso primeiro, faça isso depois). A
PLC já está em condições de ajudar as
pessoas a aprender essas habilidades
de acordo com seu próprio ritmo e de
modo a satisfazer suas necessidades
profissionais. Na outra extremidade do
espectro estão habilidades mais difíceis
de ensinar, medir ou até de articular.
Elas têm componentes emocionais
importantes e são amplamente não
algorítmicas. Essas habilidades incluem
liderar, comunicar, relacionar e
energizar grupos. O domínio dessa área
depende de prática e feedback, e a PLC
está se tornando cada vez melhor em
alinhar coaches talentosos e experts em
desenvolvimento de pessoas e equipes
que precisam desse treinamento.
Mas isso é só o começo.
Aparentemente a PLC é uma resposta
eficiente para fechar o gap de
transferência de habilidade, que tanto
dificulta a proficiência em comunicação
e relacionamento nos programas de
educação executiva tradicional. A
mudança comportamental duradoura
e significativa é um processo complexo
que requer orientação personalizada e
oportuna. Startups como a Accompany.
io e Butterfly Coaching Training estão
fornecendo às equipes executivas uma
estrutura de atividades interativas
que enfatizam o feedback mútuo
e permitem que elas aprendam no
trabalho enquanto executam suas
atividades habituais. A plataforma
Amethyst da BCG permite que
executivos e suas equipes aprendam
relacionamentos desenvolvimentistas
com mediadores e facilitadores para
poderem criar o capital colaborativo de
que eles e suas organizações precisam.
Aabundânciadematerialde
treinamentoonlinepermitequeosCLOs
escolhamcomponentesdaeducação
executivaemníveisdegranularidade
simplesmenteimpossíveisatéagora.
ElespodemadquirirdaPLCsomente
experiênciasqueconsideramdemaior
valor—geralmenteaumcustomais
baixodoqueodealternativasem
pacote—deumaquantidadeenormede
provedores,incluindodeprodutos,além
decoaches,consultores,emqualquer
lugar,aqualquerhora.Eosexecutivos
podemcomprarexperiênciasque
preenchamobjetivosespecíficos—como
desenvolvimentodenovasredes—de
instituiçõescomoaSingularityUniversity
eaKauffmanFoundersSchool,
especificamenteprojetadasparaisso.
Para os participantes, a PLC não é
apenas uma nuvem de aprendizado
interativo, mas também uma nuvem
de distribuição de microcertificados.
Os microcertificados rastreáveis da
blockchain, concedidos na conclu-
são de cursos em habilidades espe-
cíficas (e não de tópicos específicos),
permitem que as pessoas demonstrem
credibilidade (sem a menor possibili-
dade de falsificação) tanto para as
organizações como para o mercado de
que são competentes em determinada
habilidade. A PLC também ajuda
a resolver o gap de motivação,
permitindo que tanto as organizações
como os executivos saibam o que estão
comprando e paguem somente pelo
que precisam, quando precisam.
Finalmente, a PLC está reduzindo
significativamente os custos do desen-
volvimento executivo. Os programas
tradicionais são caros. Os cursos
duram, em média, cinco dias, e as
Foco
Harvard Business Review
Março 2019 39