O documento resume o verbete cristologia no Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Descreve as principais heresias dos primeiros séculos sobre a natureza de Cristo, como ebionismo, docetismo e gnosticismo. Também aborda os debates cristológicos que levaram às definições dos Concílios de Éfeso e Calcedônia sobre Cristo ter duas naturezas, divina e humana.
Resumo do Verbete Cristologia segundo o Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs
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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM
CURSO DE TEOLOGIA
JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA
RESUMO DO VERBETE CRISTOLOGIA SEGUNDO O DICIONÁRIO
PATRÍSTICO E DE ANTIGUIDADES CRISTÃS
ANANINDEUA / PA
2017
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JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA
RESUMO DO VERBETE CRISTOLOGIA SEGUNDO O DICIONÁRIO
PATRÍSTICO E DE ANTIGUIDADES CRISTÃS
Trabalho apresentado a Faculdade
Católica de Belém como requisito
avaliativo da disciplina Cristologia,
orientado pela Prof. Pe. João Paulo
Dantas.
ANANINDEUA / PA
2017
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Resumo do Verbete Cristologia segundo o Dicionário Patrístico e de Antiguidades
Cristãs
Partindo da definição sobre o verbete cristologia, a partir de Champlin (2001),
adentraremos sobre os diversos debates que ocorreram acerca do eixo central da cristologia
nos primeiros séculos do cristianismo, onde após muitas refutações das heresias nascentes é
posto um fim às controvérsias cristológicas com as conclusões resultantes dos Concílios
realizado em 451 e de 553, segundo Bernardino (2002).
A cristologia, pois, é o nome da interpretação teológica do sentido da pessoa e da
obra de Cristo. Diz respeito à sua natureza divino-humana, à sua encarnação, à sua
revelação de Deus, os seus milagres, os seus ensinamentos, à sua morte expiatória, à
sua ressurreição e ascensão,à sua intercessão emnosso favor, à sua parousia, ao seu
ofício de Juiz, à sua posição de Cabeça de todas as coisas, à sua centralidade dentro
do mistério da vontade de Deus, dentro da restauração. (CHAMPLIN, p. 985, 2001)
Dentro de alguns aspectos desta definição serão apresentados os diversos
pensamentos e críticas que levaram a produção de apologias, Epístola dogmática, declarações,
enfim onde todas buscavam resolver controvérsias acerca de Cristo.
O que evidencia o surgimento destes pensamentos ou doutrinas antagônicos são as
interpretações a cerda de duas convicções que a Igreja nascente já possui, a qual superava a
visão dos judeus que esperavam o “Messias (Ungido [do Senhor], Χριστος, Cristo)”
(BERNARDINO, p. 363, 2002): a humanidade real e dimensão de transcendência de Jesus, o
Filho de Deus, dando-se a conhecer e morrendo na cruz para redimir a humanidade de seus
pecados.
São destas vertentes que surgem as duas interrogações que norteiam os primeiros
pensamentos heréticos que são de origem judaica, norteada pela cultura monoteísta, sendo
assim não conseguiam compreender sobre como conciliar em Jesus “sua divindade com a
divindade de Deus Pai? Na pessoa de Cristo com se conciliam juntas, a dimensão divina e a
dimensão humana?” (ibidem). Alguns judeus não seguiam esta linha, afirmavam que Jesus
seria apenas humano, considerado o verdadeiro profeta “dotado de particulares carismas
divinos” (ibidem), esta doutrina sustentava-se sobre o Evangelho de Mateus, principalmente
em Mt 5, 17-19, onde consta a seguinte afirmativa de Jesus Cristo: “Não vim revogar a Lei ou
os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento [...]”. Estes judeu-cristãos
foram considerados heréticos e denominados de ebionitas.
Outra vertente doutrinaria dos ebionitas são aqueles que aceitavam Jesus como
messias, no entanto não acreditavam que nEle como sendo Filho de Deus, ou seja, rejeitavam
Sua divindade. Neste sentido eles O imaginavam, assim como o Espírito Santo, em forma
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angélica, chegando a apresenta traços dos arcanjos Miguel e Gabriel. Ainda que
considerassem Jesus com Filho de Deus, O consideram um ser divino de grau inferior. A
respeito da transcendência de Cristo emerge outra corrente de origem judaica, mas desta vez
com influência helenística, usando “o conceito de espírito (pneuma) de substrato, substância
divina participada por Pai, Filho e Espírito Santo, mas também como nome pessoal de Cristo
qua deus às vezes identificado com o Espírito Santo (Hermas)” (BERNARDINO, p. 364,
2002).
Entra em cena outro conjunto de correntes filosófico-religiosas denominada de
gnosticismo que inicialmente foi acentuado dentro do contexto cristão, por isso foi visto como
uma vertente heterodoxa do cristianismo nascente, pois “negava toda possibilidade de
salvação ao mundo da matéria e, por isso, ao corpo humano [...]. Negaram que ele houvesse
assumido, na encarnação um corpo real” (ibidem). As várias corrente gnósticas possuem em
comum o dualismo, no entanto diferenciam-se em determinados aspectos uma das outras, por
exemplo, os valentianos, partindo do princípio dos eons (as várias emanações de um deus
superior) pregavam que em Jesus estava presentes cinco eons: Nous, Logos, Homem, Cristo e
Salvador. Os basilidianos que ensinava que foi através do batismo que Cristo se tornou divino
e o docetismo concebia Jesus como um anjo, divino em sentido secundário, acreditando que
humanamente Ele seria apenas uma representação teatral. Nas duas primeiras vertentes que
possuem características cristãs mais acentuadas é evidente o conceito de Cristo como Logos
que por se emanado do Pai se torna inferior a Ele.
A partir do conceito de Logos de Deus, de grande valor para os gnósticos, os
teólogos católicos como Irineu, Justiniano, Taciano, Teófilo, Atenágoras situado entre 160 e o
fim do séc. II,
concebem o Logos divino como ab aeterno imanente impessoalmente em Deus e
por ele gerado ante tempus para providenciar a criação e governo do mundo.
Enquanto procede do Pai, ele é o Filo de Deus, Deus ele mesmo, apesar de inferior
ao Pai,deste distinto pessoalmente (embora o termo persona ainda não fosse
empregado em sentido técnico), mas não separado. (ibidem)
Haja vista esta afirmação, as personagens citadas acima que combatiam o
gnosticismo viam no Logos aquele de quem falara o Antigo Testamento ao narrar às aparições
teofânicas desde Abraão até Moises e muitas outras manifestações. A partir deste ponto estes
apologistas concluíram que todas as teofanias culminariam com a encarnação real do Logos,
como ensina Irineu: “Ele tornou-se naquilo que somos, a fim de tornar-nos aquilo que ele é”
(CHAMPLIN, p. 987, 2001). Tal pensamento expressa claramente que Cristo assumiu
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plenamente a natureza humana atingindo a redenção com a morte de cruz, como sacrifício
vigário, ou seja, para reparar a humanidade maculada pelo pecado.
Com Hipólito, Tertuliano, Clemente, Orígines nasce a refutação de outra heresia que
se destaca por criar conflitos com a doutrina da Trindade opondo-se a realeza de Jesus, o
monarquianismo e suas ramificações, logo a teologia do Logos ganha impulso. Neste cenário
está presente o adocionismo, o patripassionismo e o sabelianismo uma vez que estes
sobressalientam o princípio do bem e do mal, provindo da filosofia grega. A linha de
pensamento deste inicialmente consistia em negar a divindade de Jesus, porém surgiram
monarquistas que posteriormente aceitaram a divindade, mas não a divindade plena, como o
adocionistas que pregavam admissão da divindade apenas, ou melhor, como Filho de Deus,
apenas depois da Ressurreição. O patripassionismo e o sabelianismo acreditavam que o Pai
havia assumido as aparências do Filho e assim sofrido na cruz.
Novaciano se junta aos teólogos citados acima que combatem os princípios
monarquistas que juntamente com Hipólito e Tertuliano esclarecem que “a distinção entre Pai
e Filho não comprometia a unidade divina, concebida por Tertuliano como única substância
divina participada pelo Pai, pelo Filho e também pelo Espírito Santo” (BERNARDINO, p.
365, 2002). Tertuliano também ressalta a ação de as duas substâncias no Logos, mas elas não
se confundem e o agir se dá tanto como humana, quanto divina. Para ressaltar a diferença
entre as Três Pessoas Hipólito usará o termo prosopon que é tem o mesmo sentido de persona
utilizado por Tertuliano e Novaciano.
O aprofundamento desta ideia acontecerá com Orígenes usando o termo hipóstase fez
a distinção entre o Logos e o Pai como realidade individual subsistente, ou seja, três Pessoas
em uma única natureza. Porém, para na tentativa de não cometer equívoco falou desta
realidade “porque entendeu o perigo de conceber a geração divina como divisão do substrato
divino em duas partes e preferiu falar de unidade dinâmica do Pai com o Filho, unidade do
querer e do agir” (ibidem); ainda retoma a temática sobre morte de Jesus como um sacrifício
expiatório, mas afirmar que isto correu para que o espaço que existia entre Deus e o mundo
criado fosse preenchido, assim o Logos está presente no intimo de cada homem, não com o
objetivo de força-lo voltar a Deus, mas convence-lo a tomar uma atitude fazendo uso da
liberdade. Partindo do princípio platônico, Orígenes afirma que as almas humanas são
preexistentes aos seus corpos e a união ocorre durante a criação, conceito também aplicado a
Cristo, dando origem ao conceito communicatio idiomatum, pelo qual o homem é atribuído
caracteres divinos, e a Deus os caracteres da humanidade.
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Como o passar do tempo os teólogos do Logos firmavam suas doutrinas a respeito do
Logos, mas continuam a surgir novos questionamentos voltados ao esquema Logos/sarx
(carne), de modo particular na cristologia alexandrina, levando a afirmação de que o Logos ao
se encarnar assumira o papel de alma humana, num corpo sem alma, assim é visível o
desprezo pela natureza humana de Jesus.
Bernardino fala que Mediante algumas polêmicas, alguns Teólogos do Logos
“acentuavam a inferioridade do Logos em relação ao Pai (Dionísio de Alexandria)” (p. 365,
2002), foi o que fez Ario (apr. 320) a ponto de afirmar que o Logos é Deus, mas claramente
inferior ao Pai, por apoiar-se na cristologia Logos/sarx, para comprovar aquilo que é narrado
nos evangelhos sobre as paixões humanas em Cristo, angústia, temor, medo, etc. Os
opositores da doutrina ariana distinguiram nas ações de Cristo aquilo que era de natureza
humana o que era de provinha do poder do Logos; essa distinção era tão forte, como em
Diodoro de Tarso, que era perceptível uma distinção de dois sujeitos, dois Cristo, o homem e
o Logos. Do mesmo modo agira Apolinário de Laodicéia chegando a exaltar o homem Jesus
que não o conseguiu concebê-lo pregado na cruz.
Ao desenvolver sua teologia baseada no esquema Logos/sarx, Apolinário afirmava a
existência de uma única natureza quando o Logos se uni a natureza humana, ou seja, uma
única natureza do Deus Logos encarnada, por isso na cruz está presente o Logos divino e a
corpo humano. Colocaram-se contra este ensinamento Epifânio, Diodoro, Gregório de
Nazianzo, Gregório de Nissa utilizando o axioma “Cristo assumiu tudo quanto redimiu”, para
ocorrer essa remissão completa era preciso assumir tanto o corpo quanto a alma do homem.
Aprofundando este pensamento Teodoro de Mopsuéstia (fim do séc. IV) apresenta a distinção
das “duas naturezas íntegras e completas que se unem sem se confundir, num único prosopon,
isto é, numa pessoa” (ibidem). A doutrina de Apolinário foi condenada em 381 e com a
condenação foi proibido em Alexandria o uso da teologia baseada no esquema Logos/sarx,
porém a discussão não foi encerrada, pois em Cirilo há o pensamento da humanidade íntegra
de Cristo continua subordinada ao Logos, isto é, duas naturezas unidas, sem confusão, em um
só prosopon e defendia Maria com Mãe de Deus.
No ano de 428 é possível visualizar distintamente duas linhas de pensamento
cristológicos, uma da escola de antioquena que afirmava a existência de dois sujeitos e outra
da escola alexandrina que assegurava o Logos como um único sujeito. Neste período surge o
sacerdote antioqueno Nestório pregando obre existência de um só prosopon, mas com a
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comunicação das duas naturezas, surgindo a não aceitação do título Mãe de Deus (theotokos),
mas aceitava o título de Mãe de Jesus atribuído a Maria.
A doutrina monofisista é retomada por Êutiques (448), porém com uma forte
repreensão vinda do Ocidente, com a Epístola dogmática Tomus ad Flavianum na pessoa de
Leão Magno. Dada à tamanha importância do escrito que este foi tomada como base para a
fórmula de calcedônia (451) “que afirmava em Cristo duas naturezas unidas, mas não
confundidas, íntegras e completas, pelas quais Cristo é homoousios com o Pai segundo a
divindade, e homoousios com os homens segundo a humanidade” (BERNARDINO, p. 366,
2002).
Outro embate contra o monofisismo acontece com Justiniano, no inicio do séc. VI,
com o propósito de realçar a unidade de Cristo difunde a fórmula calcedonense e inserido a
expressão unus de Trinitate passus que saliente bem a participação do Logos na paixão de
Cristo. Acolhida no Concílio Constantinopolitano de 553, foram impostas a toda a cristandade
católica as instâncias da cristologia neocalcedonense. Mas, como uma forma de contrariar as
decisões tomadas pelo Concílio surge à doutrina do monoenergismo e monotelismo (início do
séc. VII) que foram condenadas no Concílio Constantinopolitano de 680-681 pôs fim às
controvérsias cristológicas.
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REFERÊNCIAS
BERNARDINO, Angelo Di. Cristologia in Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs.
Trad. Cristina Andrade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo, SP: Paulus, 2002.
CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. v 1. 5a ed.
Dutra, SP: Hagnos, 2001.