Este documento discute vários aspectos da Cristologia, incluindo: 1) Duas abordagens principais - a Cristologia ascendente e descendente; 2) Erros como o Nestorianismo e Monofisismo que enfatizaram excessivamente a humanidade ou divindade de Cristo; 3) Tensões entre a história de Jesus e a fé cristã, e entre a natureza e obra de Cristo. O documento defende que a fé cristã busca conciliar essas aparentes contradições sobre a pessoa e missão única de Jesus Cristo.
2. Credo Cristológico
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito
de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por ele todas as coisas foram feitas. E por nós,
homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e se
encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria,
e se fez homem. Também por nós, foi crucificado sob
Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao
terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos
céus,onde está sentado à direita do Pai. E de novo há
de vir, em sua gloria, para julgar os vivos e os mortos;
e seu reino não terá fim.
3. Kénosis Divina
Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se
valeu da sua igualdade com Deus, mas
aniquilou-Se a Si próprio assumindo a condição
de servo, tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda
mais, obedecendo até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e lhe deu o nome que
está acima de todos os nomes, para que ao nome
de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos
abismos, e toda a língua proclame que Jesus
Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
(Fl 2, 6-11)
4. Mediador Universal
Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de
toda a criatura. N’Ele foram criadas todas as coisas,
no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e
Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para
Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e
por Ele tudo subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o
seu Corpo. Ele é o Princípio, o Primogênito de entre os
mortos: em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a
Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e n’Ele
fossem reconciliadas consigo todas as coisas,
estabelecendo a paz, pelo Sangue da sua cruz, com
todas as criaturas, na terra e nos Céus. (Col 1, 12-20)
5. O que é Cristologia
A Cristologia é o estudo sobre Jesus Cristo, é um tratado
central da teologia sendo que Jesus Cristo é o revelador do
Pai e do Espírito Santo. O conteúdo deste tratado pode ser
dividido em duas parte:
O estudo da pessoa de Cristo como tal, o qual procura-se
aprofundar o mistério da encarnação do Verbo, ou seja, a
união Hipostática e suas propriedades.
O estudo da obra salvífica de Jesus ou a soteriologia, que
compreende a vida pública a morte, a ressurreição, a
ascensão de Cristo e o Pentecostes como evento salvíficos.
6. Cristologia Ascendente
A Cristologia Ascendente parte do aspecto
humano de Jesus, particularmente da figura
do servo de Javé, obediente até a morte e que
recebe o título de Kýrios após a sua
ressurreição.
7. Cristologia Descendente
A Cristologia Descendente o qual parte da
divindade de Jesus considerando-o Deus feito
homem. Afirma a sua pré- existência, o seu
nascimento humano no seio da Virgem Maria, que
viveu neste mundo como homem em tudo menos
no pecado e que por fim voltou ao Pai fazendo
sua humanidade ressuscitada compartilhar com a
glória de Deus.
8. Escolas Cristologicas
Destas duas metodologias originaram nos séculos III e
IV duas escolas diferentes de teologia. A escola
Antioquena, a qual acentuava a humanidade de Jesus,
detendo-se mais no sentido histórico da humanidade de
Jesus e a escola Alexandrina, a qual dava preferência
para a divindade de Jesus e para o seu aspecto
transcendental.
Ambas com suas próprias metodologias quando
permaneceram apenas na suas visões, deram origens a
algumas heresias a respeito de Jesus Cristo
9. Erros Metodológico
Nestorianismo tendo como representante Nestório (+451) o
qual enfatizou tanto a humanidade de Jesus que passou a
ensinar que existiam duas natureza nele; a natureza
humana e a natureza divina. A natureza divina com seu eu
divino estaria unida à natureza humana com o seu eu
humano.
Monofisismo, esta encabeçada por Dióscoro de Alexandria
e por Eutiques de Constantinopla que enfatizaram a
divindade de Jesus e só admitiram nele apenas a natureza
divina; esta para eles, teria absorvido a natureza humana
de modo que nele estava somente uma aparência de sua
divindade.
10. Cristo ou Jesus?
A partir da segunda década do século XIX o método
História das Formas surgido com alguns teólogos
protestantes, chamou atenção sobre o ocorrido entre a
pregação de Jesus (anos 27-30) e a fase de redação dos
evangelhos (anos 50-100) tempo em que a Boa Nova foi
transmitida oralmente.
Isto fez, segundo eles, que quando os evangelistas
redigiram os evangelhos já não tivessem mais uma figura
de Jesus fiel ao Jesus real do início, ou seja, os primeiros
cristãos professavam o Jesus da fé e não o Jesus da
história.
11. Jesus Cristo
A teologia católica admite que o evangelho antes de
ser escrito foi pregado oralmente no início e que os
pregadores se preocuparam mais em estruturar a fé
dos ouvintes levando a eles a mensagem de salvação.
Porém não admite que tenha havido desvio da
realidade histórica ou o desinteresse pela figura real
de Jesus, e por isso, quem crê nos evangelhos não crê
naquilo que os antigos cristãos imaginavam
simploriamente, mas na autêntica mensagem de Jesus
Cristo.
12. Pessoa e Ato
Esclarecendo de uma maneira mais concreta afirma-se que
a teologia é a ciência que tem por objeto Deus e a
Cristologia tem por objeto Cristo, sua pessoa e sua obra. A
teologia cristã primitiva é quase que exclusiva- mente uma
cristologia. As discussões teológicas se relacionaram todas
à pessoa de Cristo, à sua natureza por um lado, e a sua
relação com Deus. Por outro, por isso o Novo Testamento
não fala quase nada da pessoa de Cristo sem que se trate
ao mesmo tempo de sua obra. Ao se perguntar quem é
Cristo? Pergunta-se também; qual é a sua função? Por isso
os títulos Cristológicos referem sempre e ao mesmo tempo,
à pessoa e à obra de Cristo
13. Uma Conciliação
Porque a doutrina cristã é uma tentativa de explicar
o mistério divino, deve consistir na tentativa de
reunir verdades que, se examinadas superficialmente,
podem parecer contraditórias. A tentação perene é
aceitar uma e rejeitar a outra. Encontrar o "caminho
estreito" que é capaz de combiná-los racionalmente é
o maior desafio do teólogo.
14. Zonas de Tensões
O Jesus da história com O Cristo de fé
O ser em Cristo com O agir em Cristo
A humanidade com A divindade
A teologia de Encarnação com A teologia da Cruz
O Logos com O Ágape
15. História e Fé
A consequência dessa forma de ler a história do Evangelho
com a lente do método histórico-crítico é que surgem duas
pessoas distintas: o Jesus histórico que pregou o amor e o
perdão, e o Cristo que foi inventado pelos primeiros
seguidores de Jesus.
Ficamos com um aparente dilema de sermos forçados a
escolher entre o "Jesus da história" e o "Cristo da fé".
Ratzinger afirma resolver esse dilema no Credo. Aqui, o
"Cristo da fé", o Cristo em quem cremos, é o "Jesus da
história", que foi concebido e nascido, sofreu e morreu,
ressuscitou e ascendeu aos céus.
16. Ser e Agir
O primeiro passo em direção à conciliação da compreensão
da fé e da história é a conciliação da compreensão do ser
e do agir de Jesus Cristo. Ratzinger afirma que em Jesus
Cristo não é possível distinguir entre a pessoa e seu cargo.
Jesus é a sua palavra, e esta palavra é Jesus. É por isso
que, em primeira instância, a profissão de fé cristã não é
um resumo dos ensinamentos de Jesus, mas um ato de fé em
Jesus mesmo.
“A pessoa de Jesus é sua doutrina e sua doutrina é Jesus
mesmo. Portanto, fé cristã, isto é, fé em Jesus como o
Cristo, é verdadeiramente fé pessoal.”
17. Encarnação e Cruz
A teologia da encarnação tende para uma visão otimista
estática, em que a importância do pecado e a necessidade
de expiação são minimizadas e a futura deificação é
enfatizada; enquanto a teologia da cruz tende a uma visão
pessimista, em que a bondade do mundo é minimizada e a
pecaminosidade humana enfatizada.
Para Ratzinger, a chave para resolver a conciliação da
teologia da Encarnação com a teologia da cruz está no
Crucificado mesmo. É por isso que ele chama a Cruz de o
"berço" da fé cristã.