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Professor: Ely Santos
Matéria: TRINDADE
O significado do termo Trindade, que vem
do latim trinitas, procura transmitir um
sentido de “três que é um”.
Assuntos:
Ensino bíblico, a deidade dos três, a
triunidade,
Formulações históricas, elementos
essenciais
A Trindade na Bíblia
“Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo,
uma unidade de três Pessoas coeternas”
Na doutrina da Trindade, encontramos uma das doutrinas que de fato
distinguem o cristianismo. Entre as religiões do mundo, a fé cristã é
sem igual ao alegar que Deus é um mas que, ao mesmo tempo, há três
pessoas que são Deus.
Ao fazer isso, apresenta-se o que, na superfície, parece uma doutrina
contraditória. Além disso, essa doutrina não é declarada de forma
aberta ou explícita nas Escrituras.
No entanto, mentes devotas têm sido levadas a ela quando procuram
fazer justiça ao testemunho das Escrituras.
A doutrina da Trindade é crucial para o cristianismo. Ela se ocupa em
definir quem é Deus, como ele é, como trabalha e a forma pela qual se
tem acesso a ele. Além disso, a questão da deidade de Jesus Cristo, que
historicamente tem sido ponto de grande tensão, está muito ligada com
o conceito de Trindade. A posição que adotamos em relação à Trindade
exerce profunda influência em nossa cristologia. A posição que adotamos
em relação à Trindade também responderá uma série de perguntas de
natureza prática. A quem devemos cultuar —apenas ao Pai; ao Filho; ao
Espírito Santo; ou ao Deus triúno? A quem devemos orar? A obra de um
deve ser considerada à parte da obra dos outros, ou podemos entender
que, de alguma forma, a morte expiatória de Jesus também é obra do
Pai? Pode-se pensar no Filho como um equivalente ao Pai em essência,
ou ele deve ser relegado a um status ligeiramente menor?
A fé cristã é sem igual ao alegar que Deus é
um mas que, ao mesmo tempo, há três
pessoas que são Deus.
Vamos começar nosso estudo da Trindade examinando a base bíblica
da doutrina. É importante notar o tipo de testemunho das Escrituras
que levou a igreja a formular e a propor essa estranha doutrina.
Depois, vamos examinar algumas das primeiras tentativas de lidar com
os dados bíblicos, entre elas a formulação ortodoxa. Por fim, vamos
estudar os elementos essenciais da doutrina e procurar as analogias
que possam nos ajudar a compreendê-la um pouco melhor.
O ensino bíblico
Começamos com os dados bíblicos no que diz respeito à doutrina da
Trindade. Há três tipos de indícios distintos mas relacionados entre si:
o indício da unidade de Deus —que Deus é um; indícios de que há
três pessoas que são Deus; e, por fim, indicações ou pelo menos
insinuações da triunidade.
A unidade de Deus
A religião dos antigos hebreus era uma fé rigorosamente monoteísta, como,
aliás, é a religião judaica hoje. A unidade de Deus foi revelada a Israel em
muitas ocasiões diferentes e de várias maneiras. Os Dez Mandamentos, por
exemplo, começam com a declaração: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te
tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante
de mim" (Êx 20.2,3). A proibição da idolatria, o segundo mandamento (v. 4),
também repousa sobre a singularidade de Jeová. Ele não tolerará nenhuma
adoração de objetos feitos por mãos humanas, pois somente ele é Deus. A
rejeição do politeísmo percorre todo o Antigo Testamento. Deus demonstra
repetidas vezes sua superioridade sobre outros que reivindicam deidade.
Uma indicação mais clara da unidade de Deus é o Shema de Deuteronômio
6, as grandes verdades que o povo de Israel tinha a obrigação de absorver e
inculcar em seus filhos. Eles deviam meditar naqueles ensinamentos (
"Estas palavras [...] estarão no teu coração", v. 6). Deviam conversar sobre
eles —em casa e pelo caminho, ao levantar e ao deitar (v. 7). Deviam
empregar auxílios visuais para lhes chamar a atenção para tais verdades
—usando-as nas mãos e na testa, e escrevendo-as nos umbrais da casa e
nos portões. E quais são essas grandes verdades que deviam ser tão
destacadas? Uma delas é uma declaração afirmativa indicativa: "O SENHOR,
nosso Deus, é o único SENHOR" (v. 4). A segunda grande verdade que Deus
desejava que Israel aprendesse e ensinasse é um mandamento baseado em
sua singularidade: "Amarás o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma e de toda a tua força" ( v. 5). Por ele ser único, não
devia haver divisão no compromisso de Israel.
O ensino a respeito da unidade de Deus não se restringe ao Antigo
Testamento. Tiago 2.19 recomenda a crença num único Deus, embora
observe que isso é insuficiente para a justificação. Paulo escreve quando
discorre sobre a ingestão de carne oferecida a ídolos: "Sabemos que o
ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus, [...] o Pai,
de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor,
Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de
quem vivemos" (ICo 8.4,6, NVI). Aqui, Paulo, à semelhança da lei
mosaica, exclui a idolatria, baseado no fato de só existir um Deus.
A deidade dos três
Todos esses indícios, tomados por si, com certeza nos levariam a uma
crença basicamente monoteísta. Que motivo, nesse caso, levou a igreja a ir
além dessas indicações? Foi o testemunho bíblico complementar de que
três pessoas são Deus. A deidade da primeira pessoa, o Pai, pouco se
discute. Além das referências em lCoríntios 8.4, 6 e ITimóteo 2.5,6,
podemos notar os casos em que Jesus refere-se ao Pai como Deus. Em
Mateus 6.26, por exemplo, ele indica que "vosso Pai celeste as sustenta [as
aves do céu]". Numa afirmação paralela que vem logo depois, ele indica
que "Deus veste [...] a erva do campo" (v. 30). É óbvio que, para Jesus,
"Deus" e " vosso Pai celeste" são expressões equivalentes. E em numerosas
referências a Deus, é evidente que Jesus tem em mente o Pai (e.g. Mt
19.23-26; 27.46; Mc 12.17, 24-27).
Um pouco mais problemático é o status de Jesus como deidade, ainda que
a Escritura também o identifique como Deus. Uma referência chave à
deidade de Cristo Jesus é encontrada em Filipenses 2. Ao que tudo indica,
nos versículos 5-11, Paulo toma o que era um hino da igreja primitiva e o
usa como base para pedir aos leitores que pratiquem a humildade. Paulo
observa que "ele [Jesus], subsistindo em forma de Deus, não julgou como
usurpação o ser igual a Deus" (v. 6). A palavra aqui traduzida por "forma"
é moiphê. Esse termo, tanto no grego clássico como no bíblico, significa
"conjunto de características que fazem com que uma coisa seja o que é".
Denotando a genuína natureza de uma coisa, morphê contrasta com
schêma, que também é em geral traduzida por "forma", mas no sentido
de formato ou aparência superficial, em lugar de substância.
O uso de morphê nessa passagem, refletindo a fé da igreja primitiva,
insinua uma profunda confiança na plena deidade de Cristo.
Outra passagem significativa é Hebreus 1. O autor, cuja identidade nos é
desconhecida, está escrevendo para um grupo de cristãos hebreus. Ele (ou
ela) faz várias afirmações que implicam fortemente a plena deidade do
Filho. Nos versículos iniciais, o autor argumenta que o Filho é superior aos
anjos e nota que Deus tem falado por meio do Filho, destacou-o como
herdeiro de todas as coisas e fez o universo por meio dele (v. 2). O autor
descreve, então, o Filho como o "resplendor da glória de Deus" (NVl) e a
"expressão exata do seu ser". Embora talvez possa se alegar que isso só
afirma que Deus se revelou por meio do Filho, não que o Filho é Deus, o
contexto sugere outra coisa. Além de se identificar como o Pai daquele a
quem chama Filho (v. 5), Deus é citado no versículo 8 (do SI 45.6) dirigindo-
se ao Filho como "Deus" e no versículo 10 como "Senhor" (do SI 102.25).
O autor conclui observando que Deus disse ao Filho: "Assenta-te à minha
direita" (do SI 110.1).
É significativo que o autor bíblico dirige-se a cristãos hebreus, que com
certeza estariam imbuídos de monoteísmo, de maneiras que
inegavelmente afirmam a deidade de Jesus e sua igualdade com o Pai.
Uma consideração final sobre a autoconsciência de Jesus.
Devemos notar que Jesus nunca afirmou diretamente sua deidade.
Ele nunca disse simplesmente: "Sou Deus". Mas várias pistas sugerem
que era assim, de fato, que ele se via. Ele afirmava possuir o que
pertence unicamente a Deus.
Ele falou dos anjos de Deus (Lc 12.8,9; 15.10) como se fossem seus (Mt
13.41).
Ele considerava o reino de Deus (Mt 12.28; 19.14, 24; 21.31, 43) e
os eleitos de Deus (Mc 13.20) como de sua propriedade. Além disso,
ele alegou perdoar pecados (Mc 2.8-10).
Os judeus reconheciam que somente Deus podia perdoar pecados e,
por conseguinte, acusaram Jesus de blasfêmia. Ele também
reivindicava poder para julgar o mundo (Mt 25.31) e reinar sobre ele
(Mt 24.30; Mc 14.62).
Também há referências bíblicas que identificam o Espírito Santo com
Deus. Aqui podemos notar que há passagens em que referências ao
Espírito Santo ocorrem de forma intercambiável com referências a Deus.
Um exemplo disso é Atos 5.3,4. Ananias e Safira retiveram uma parte do
produto da venda de sua propriedade, fingindo que o colocavam
inteiramente aos pés dos apóstolos. Aqui, mentir ao Espírito Santo (v. 3)
é equiparado a mentir a Deus (v. 4).
O Espírito Santo também é descrito como alguém que possui as
qualidades de Deus e executa as obras dele. E o Espírito Santo quem
convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11). Ele
regenera ou dá nova vida (Jo 3.8)
Em ICoríntios 12.4-11, lemos que é o Espírito quem concede dons à
igreja e exerce soberania sobre os que recebem tais dons. Além disso, ele
recebe a honra e a glória reservadas a Deus. Em lCoríntios 3.16,17, Paulo
lembra aos fiéis que eles são o templo de Deus e que seu Espírito habita
neles. No capítulo 6, Paulo diz que o corpo deles é um templo do Espírito
Santo que neles habita (v. 19,20). "Deus" e "Espírito Santo", ao que
parece, são expressões equivalentes. Também há alguns trechos em que
o Espírito Santo é colocado em pé de igualdade com Deus. Um deles é a
fórmula batismal de Mateus 28.19; o segundo é a bênção paulina em
2Coríntios 13.14; e, por fim, há IPedro 1.2, em que Pedro dirige-se a seus
leitores como os "eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em
santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de
Jesus Cristo".
A triunidade
Na superfície, essas duas linhas de pistas —a unidade e a triplicidade
de Deus— parecem contraditórias. Quando a igreja começou a refletir
sobre questões doutrinárias, chegou à conclusão de que Deus deve ser
compreendido como três em um ou, em outras palavras, triúno.
Neste ponto precisamos discutir se essa doutrina é ensinada de forma
explícita na Bíblia, se é nela insinuada ou se é uma mera inferência de
outros ensinos bíblicos.
Um texto tradicionalmente citado como um registro da Trindade é ljoão
5.7, isto é, segundo se encontra em versões mais antigas como a Edição
Revista e Corrigida: "Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a
Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um".
Aparentemente, há uma afirmação clara e sucinta da triunidade.
Infelizmente, a base textual é tão frágil que algumas traduções recentes (e.
g. NVI, ARA) só incluem essa declaração em notas ou entre colchetes,
enquanto outras a omitem por completo (e.g. rsv). Se existe alguma base
bíblica para a Trindade, deve estar em outro lugar
A forma plural do substantivo que designa o Deus de Israel, ’êlõhim, é
às vezes entendido como um indício da concepção trinitária.
Trata-se de um nome genérico usado também para outros deuses.
Quando usado em referência ao Deus de Israel, apresenta-se em geral,
mas nem sempre, no plural. Alguns diriam que essa é uma indicação da
natureza plural de Deus.
Existem ainda outras formas plurais. Em Gênesis 1.26, Deus diz:
"Façamos o homem à nossa imagem". Aqui, o plural aparece tanto no
verbo "façamos" como no sufixo possessivo "nossa".
Quando Isaías foi chamado, ouviu o Senhor dizendo: "A quem enviarei, e
quem há de ir por nós?" (Is 6.8). O que é significativo do ponto  de vista
da análise lógica é a mudança do singular para o plural. Gênesis 1.26 diz
na realidade: "Também disse [singular] Deus: Façamos [plural] o homem
à nossa [plural] imagem".
Deus é citado usando um verbo no plural em referência a si mesmo. De
modo semelhante, Isaías 6.8 traz: "A quem enviarei [singular], e quem
há de ir por nós [plural]?"
O ensino a respeito da imagem de Deus na humanidade também é visto
como uma indicação da Trindade. Gênesis 1.27 traz:
Criou Deus, pois, o h o m em à sua im agem , à im agem de Deus o criou;
hom em e m ulher os criou.
Alguns argumentariam que temos aqui um paralelismo não apenas nas duas
primeiras linhas, mas nas três. Assim, "homem e mulher os criou" seria
equivalente a "criou Deus, pois, o homem à sua imagem" e a "à imagem de
Deus o criou". Por esse raciocínio, a imagem de Deus no homem (genérico)
deve ser encontrada no fato de o homem ter sido criado macho e fêmea (i.e.
, plural).1 Isso significa que a imagem de Deus deve consistir em uma
unidade em pluralidade, uma característica tanto do éctipo quanto do
arquétipo. De acordo com Gênesis 2.24, homem e mulher devem tornar-se
um (' cchãd): exige-se uma união de duas entidades distintas. É significativo
que a mesma palavra é usada para Deus no Shema: "O SENHOR, nosso Deus,
é o único [’ ecMd SENHOR" (Dt 6.4). Parece que existe alguma afirmação
acerca da natureza de Deus —ele é um organismo, ou seja, uma unidade de
partes distintas
Em algumas partes das Escrituras, as três pessoas são associadas em
unidade e aparente igualdade.
Uma delas é a fórmula batismal conforme prescrita na grande comissão
(Mt 28.19,20): batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo.
Note que "nome" é singular, embora haja o envolvimento de três pessoas.
Ainda outra associação direta dos três nomes é a bênção paulina em
2Coríntios • 13.13 —"A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus,
e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós". Aqui temos
novamente a associação dos três nomes em unidade e aparente igualdade
É no quarto evangelho que encontramos o indício mais significativo de
uma Trindade de equivalentes. A fórmula tríplice aparece repetidas
vezes: 1.33,34; 14.16, 26; 16.13-15; 20.21,22 (cf. ljo 4.2, 13,14). A
dinâmica interna entre as três pessoas surge várias vezes, como
observou George Hendry.
O Filho é enviado peLo Pai (14.24) e vem dele (16.28). O Espírito é dado
pelo Pai (14.16), enviado pelo Pai (14.26) e procede do Pai (15.26).
Mas o Filho está estreitamente relacionado com a vinda do Espírito: ele
ora por sua vinda (14.16); o Pai envia o Espírito em nome do Filho
(14.26); o Filho enviará o Espírito da parte do Pai (15.26); o Filho deve ir
para que possa enviar o Espírito (16.7). O
O ministério do Espírito é visto como uma ‘» ■ c o n tin u a ç ã o e
desenvolvimento do ministério do Filho. Ele trará à lembrança o que o
Filho disse (14.26); ele testemunhará do Filho (15.26); ele declarará o que
ouve do Filho, glorificando, dessa forma, o Filho (16.13,14). O prólogo do
evangelho também contém um material rico em significado para a
doutrina da Trindade.
João diz no primeiro versículo do livro: "O Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus". Eis uma idéia da divindade da Palavra. Aqui também
encontramos a idéia de que embora o filho seja distinto do Pai, existe
uma comunhão entre eles, pois a preposição pros ("com") não conota
apenas uma proximidade física em relação ao Pai, mas também uma
intimidade de comunhão.
Há outras maneiras pelas quais esse evangelho salienta a proximidade e
a unidade entre o Pai e o Filho. Jesus diz: "Eu e o Pai somos um" (10.30)
e "Quem me vê a mim vê o Pai" (14.9). Ele ora para que seus discípulos
sejam um como são ele e o Pai (17.21).
Nossa conclusão a partir dos dados que acabamos de examinar: Embora
a doutrina da Trindade não seja declarada de forma expressa, a Escritura,
especialmente o Novo Testamento, contém tantos indícios da deidade e
da unidade das três pessoas que podemos compreender por que a igreja
formulou a doutrina, concluindo que estava certa em fazê-lo.
Formulações históricas
Durante os dois primeiros séculos depois de Cristo, houve pouco
esforço consciente de lutar com as questões teológicas e filosóficas do
que hoje entendemos por doutrina da Trindade.
Pensadores como Justino e Taciano destacaram a unidade da essência
entre a Palavra e o Pai, usando a figura da impossibilidade de separar
a luz de sua fonte, o sol. Dessa forma, ilustraram que, embora a
Palavra e o Pai sejam distintos, não podem ser divididos ou separados.
A perspectiva "econômica" da Trindade
Em Hipólito e Tertuliano, encontramos o desenvolvimento de uma
perspectiva "econômica" da Trindade. Houve poucas tentativas de
explorar as relações eternas entre os três; antes, houve uma
concentração no estudo das formas pelas quais a Tríade se manifestou
na criação e na redenção. Embora a criação e a redenção mostrassem
que o Filho e o Espírito eram diferentes do Pai, eles eram também
considerados unidos de modo inseparável ao Pai em seu ser eterno.
Entendia-se que, assim como as funções mentais de um ser humano, a
razão de Deus, ou seja, a Palavra, estava imanente e indivisivelmente
com ele. À guisa de uma rápida avaliação, notamos que existe um quê
de indefinição nessa perspectiva da Trindade. Qualquer esforço para se
chegar a uma compreensão mais exata de seu significado mostrar-se-á
desalentador.
O monarquianism o dinâmico
No final do século II e no século III, houve duas tentativas de elaborar
uma definição precisa do relacionamento entre Cristo e Deus. As duas
concepções são tratadas por monarquianismo (lit. "soberania única"), uma
vez que destacam a singularidade e a unidade de Deus, mas apenas a
última reivindicou essa designação para si. ^ O monarquianismo dinâmico
sustentava que Deus estava dinamicamente presente na vida de Jesus
homem. Havia uma obra ou força de Deus que atuava sobre, em ou por
meio de Jesus homem, mas não havia uma presença real de Deus nele. O
idealizador do monarquianismo dinâmico, Teódoto, asseverava que, antes
do batismo, Jesus era um homem comum, embora completamente
virtuoso.
No batismo, o Espírito, ou Cristo, desceu sobre ele, e daquele momento
em diante, ele passou a concretizar as obras milagrosas de Deus. Essas
idéias de monarquianismo dinâmico nunca chegaram a se difundir.
O monarquianismo modalista
Em contraste, o monarquianismo modalista era um ensino popular, muito
difundido.
Enquanto o monarquianismo dinâmico parecia negar a doutrina da
Trindade, o modalismo parecia afirmá-la. Ambas as variedades do
monarquianismo desejavam preservar a doutrina da unidade de Deus. O
modalismo, porém, também se devotava profundamente à plena
divindade de Jesus.
Uma vez que em geral se entendia que o termo Pai referia-se à própria
Divindade, qualquer insinuação de que a Palavra ou o Filho eram de
alguma forma diferentes do Pai incomodava os modalistas.
Parecia-lhes um caso de biteísmo, crença em dois deuses. Em essência, a
idéia dessa escola de pensamento é que existe uma Divindade que pode
ser designada de várias formas, como Pai, Filho ou Espírito.
Os termos não indicam distinções reais, sendo meros nomes que são
apropriados e aplicáveis em diferentes ocasiões. Pai, Filho e Espírito Santo
são idênticos —são revelações sucessivas da mesma pessoa. A solução
modalista ao paradoxo de Deus ser três e um era, portanto, não três
pessoas, mas uma pessoa com três nomes, funções ou atividades
diferentes.5
Deve-se reconhecer que, no monarquianismo modalista, temos uma
concepção genuinamente única, original e criativa, concepção que, em
alguns aspectos, é uma ruptura brilhante. Tanto a unidade de Deus quanto
a deidade das três pessoas — Pai, Filho e Espírito Santo— são preservadas.
Mas a igreja, ao avaliar essa teologia, considerou-a deficiente em alguns
aspectos significativos.
Em particular, o fato de as três pessoas por vezes aparecerem
simultaneamente na cena da revelação bíblica tomou-se uma grande
pedra de tropeço para essa concepção. A cena do batismo, em que o Pai
fala para o Filho, e o Espírito desce sobre o Filho é um exemplo. Alguns
dos textos trinitários destacados anteriormente também se mostram
problemáticos.
A formulação ortodoxa
A doutrina ortodoxa da Trindade foi enunciada em uma série de debates e
concílios, em grande parte, causada pelas controvérsias provocadas por
movimentos tais como o monarquianismo e o arianismo. Foi no Concílio de
Constantinopla (381) que emergiu uma formulação definitiva em que a
igreja explicitou as crenças que estavam implícitas. A concepção que
prevaleceu foi basicamente a de Atanásio (293-373), conforme elaborada e
aperfeiçoada pelos teólogos capadócios —Basílio, Gregório de Nazianzo e
Gregório de Nissa A fórmula que expressa a posição de Constantinopla é
"uma omia [substância] em três hypostases [pessoas]". Com freqüência, a
ênfase parece estar mais na segunda parte da fórmula, ou seja, na
existência distinta das três pessoas, e não numa Divindade única, indivisível.
A Divindade única existe "indivisível em pessoas divididas". Existe uma
"identidade de natureza" nas três hipóstases.
Os capadócios tentaram expor os conceitos da substância comum e das
pessoas múltiplas distintas usando a analogia de um universal e seus
particulares —as pessoas da Trindade estão para a substância divina,
assim como os homens estão para o homem universal (ou a
humanidade).
Cada uma das hipóstases é a ousia da Divindade que se distingue pelas
características ou propriedades peculiares a ela, assim como cada ser
humano possui características únicas que o distinguem de outros seres
humanos. Respectivamente, essas propriedades das pessoas divinas são,
de acordo com Basílio, paternidade, filiação e poder santificador ou
santificação.
É evidente que a fórmula ortodoxa protege a doutrina da Trindade
contra o perigo do modalismo. Mas será que o fez à custa de cair no
erro oposto —o triteísmo? Na superfície, o perigo parece considerável.
Dois pontos foram, no entanto, levantados para resguardar a doutrina
da Trindade do triteísmo. Em primeiro lugar, observou-se que se
pudermos encontrar uma única atividade do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, a qual, de maneira nenhuma, seja diferente em alguma das três
pessoas, precisamos concluir que existe o envolvimento de apenas uma
substância idêntica.
E tal unidade foi encontrada na atividade divina da revelação. A
revelação origina-se no Pai, procede por meio do Filho e é completada
no Espírito. Não são três ações, mas uma ação em que todos os três se
envolvem.
Em segundo lugar, houve uma insistência na concretitude e na
indivisibilidade da substância divina. Muito da crítica contra a doutrina
capadócia da Trindade centrava-se na analogia de um universal que se
manifesta em particulares. Para evitar a conclusão de que há uma
multiplicidade de deuses dentro da Deidade, assim como há uma
multiplicidade de seres humanos dentro da humanidade, Gregório de
Nissa afirmou que, no sentido estrito, não devemos falar de uma
multiplicidade de seres hunjanos, mas de uma multiplicidade de um
ser humano universal. Assim, os capadócios continuaram salientando
que, embora os três membros da Trindade possam ser distinguidos
numericamente como pessoas, eles são indistinguíveis em sua
essência ou substância. Eles são distinguíveis como pessoas, mas são
um e inseparáveis em sua existência
Deve-se reiterar que a ousia não é abstrata, mas uma realidade concreta.
Além disso, essa essência divina é simples e indivisível.
Seguindo a doutrina aristotélica de que somente o que é material pode
ser dividido quantitativamente, os capadócios às vezes quase negavam
que a categoria de número pudesse ser de alguma forma aplicada à
Deidade.
Deus é simples e não composto. Assim, embora cada uma das pessoas
seja distinta, não podem ser somadas para formar três entidades.
Elementos essenciais de uma doutrina da Trindade
Aqui é preciso fazer uma pausa a fim de observar os elementos de
destaque que devem ser incluídos em qualquer doutrina da Trindade.
1. Começamos com a unidade de Deus. Deus é um, não vários. A unidade
de Deus pode ser comparada com a unidade entre marido e esposa, mas
devemos ter em mente que estamos lidando com um Deus, não com uma
reunião de entidades distintas.
2. A deidade da cada uma das três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, deve
ser salientada. No que se refere à qualidade, todas são iguais. O Filho é
divino da mesma forma e na mesma medida que o Pai, e isso também vale
para o Espírito Santo.
Algum dia, compreenderemos melhor a Deus,
mas, mesmo então, não o compreenderemos
totalmente.
3. A triplicidade e a unidade de Deus não dizem respeito ao mesmo
pormenor. Embora a interpretação ortodoxa da Trindade pareça
contraditória (Deus é um, mas também três), a contradição não é real,
mas apenas aparente. Existe uma contradição quando algo é A e não é A
ao mesmo tempo, com respeito ao mesmo pormenor. O modalismo
tentou lidar com a aparente contradição afirmando que os três modos ou
manifestações de Deus não são simultâneos; em dado momento, apenas
um deles é revelado. A ortodoxia, porém, insiste em que Deus é três
pessoas a qualquer momento. Sustentando também sua unidade, a
ortodoxia lida com o problema afirmando que a a maneira pela qual Deus
é três difere, em alguns aspectos, da maneira pela qual ele é um.
Os pensadores do século IV falavam de uma ousia e três hipóstases.
Surge agora o problema de determinar o significado desses dois
termos ou, sendo mais abrangente, a diferença entre a natureza da
unidade de Deus e a de sua triplicidade.
4. A Trindade é eterna. Sempre houve três. Pai, Filho e Espírito Santo, e
todos eles sempre foram divinos. Um ou mais deles não surgiram em
algum ponto do tempo nem se tornaram divinos em algum momento.
O Deus Triúno é e será o que sempre foi.
5. A função de um membro da Trindade pode, por vezes, subordinar-se
a um ou aos dois outros membros, mas isso não significa que algum
deles possa ser inferior em essência.
Cada uma das três pessoas da Trindade teve, em certo período, uma
função específica exclusiva. Isso deve ser entendido como uma função
temporária no intuito de cumprir determinado objetivo, não uma
mudança em seu status ou essência. Na experiência humana, também
existe subordinação funcional. Vários iguais num negócio ou
empreendimento podem escolher um dentre eles para servir como
capitão de uma força tarefa ou como presidente de uma comissão por um
período determinado, sem que haja nenhuma mudança de posição. Da
mesma forma, em sua encarnação terrena, o Filho não se tomou menor
que o Pai, mas se subordinou funcionalmente à vontade do Pai.
Semelhantemente, o Espírito Santo está agora subordinado ao ministério
do Filho í veja Jo 14—16) assim como à vontade do Pai, mas isso não
implica que este seja menor que aqueles
6. A Trindade é incompreensível. Não podemos compreender plenamente
o mistério da Trindade. Algum dia, quando virmos Deus, iremos vê-lo
como é e o compreenderemos melhor que agora. Mas, mesmo então, não
o compreenderemos totalmente.
A busca de analogias
O problema na formulação de um enunciado da doutrina da Trindade
não se limita à compreensão de sua terminologia. Isso já é bem penoso;
por exemplo, é difícil saber o que "pessoa" significa nésse contexto.
Ainda mais difícil é compreender as relações internas entre os membros
da Trindade. A mente humana às vezes procura analogias para ajudá-lo
nesse intento. No nível popular, costumam-se utilizar analogias retiradas
da natureza física. Uma analogia amplamente difundida, por exemplo, é
a do ovo: o ovo consiste em gema, clara e casca, os quais, juntos,
constituem um ovo inteiro. Outra analogia
apreciada é a água: a água pode ser encontrada em forma líquida, sólida ou
gasosa. As vezes usam-se outros objetos materiais como ilustrações. Um
pastor, instruindo jovens catecúmenos, tentou esclarecer a triplicidade ao
mesmo tempo unitária usando a pergunta: "Calças é singular ou plural?"
Sua resposta era que calças é singular em cima e plural embaixo. Note que
essas analogias e ilustrações, bem como grande número de analogias
similares retiradas do âmbito material tendem a ser ou triteístas ou
modalistas em suas implicações. Por um lado, as analogias do ovo e das
calças dão a entender que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são partes
distintas da natureza divina. Por outro lado, a analogia das várias formas da
água possui um tom modalista, já que o gelo, a água líquida e o vapor são
modos de ser. Uma porção de água não existe simultaneamente em todos
os três estados
Uma das mentes mais criativas na história da teologia cristã foi Agostinho.
Em De trinitate, que talvez seja sua maior obra, ele voltou seu intelecto
prodigioso para o problema da natureza da Trindade. A maior contribuição
de Agostinho para a compreensão da Trindade são suas analogias
extraídas do campo da personalidade humana. Ele argumentou que, se a
humanidade é feita à imagem de Deus, que é triúno, é razoável esperar
encontrar, numa análise da natureza humana, um reflexo, mesmo que
tênue, da triunidade de Deus. Tendo em mente esse pensamento, vamos
examinar duas analogias extraídas do campo da experiência humana. A
primeira analogia é retirada do campo da psicologia do indivíduo humano.
Possuindo autoconsciência, posso me ocupar com um diálogo interno
comigo mesmo. Posso assumir posições diferentes e interagir comigo
mesmo. Posso, até, me envolver num debate comigo.
E mais, sou uma pessoa humana complexa, com múltiplas funções e
responsabilidades em interação dinâmica. Quando considero o que eu
devia fazer em determinada situação, o marido, o pai, o professor de
seminário e o cidadão americano que, juntos, me constituem, podem se
informar mutuamente. Um problema dessa analogia é que, na
experiência humana, isso se vê com maior nitidez nas situações em que
há tensão ou competição, e não harmonia, entre as várias posições e
funções do indivíduo. A disciplina da psicologia anormal nos
proporciona exemplos extremos de virtuais guerras entre os elementos
que constituem a personalidade humana. Mas, em Deus, de modo
contrastante, sempre há perfeita harmonia, comunicação e amor
A outra analogia vem da esfera das relações interpessoais. Tome o caso
dos gêmeos idênticos. Em um sentido, são da mesma essência, pois a
constituição genética deles é idêntica.
Um órgão pode ser transplantado de um para outro com relativa
facilidade, pois o corpo receptor não rejeitará o órgão do doador,
considerando-o estranho, mas o aceitará como se fosse dele mesmo.
Gêmeos idênticos também são muito chegados em outros aspectos.
Eles têm interesses e gostos semelhantes. Embora tenham cônjuges e
empregadores diferentes, há um vínculo muito estreito que os une.
Mas não são a mesma pessoa. São duas, não uma.
Essas duas analogias destacam aspectos diferentes da doutrina da
Trindade. A primeira salienta mais a unidade. A segunda ilustra com maior
clareza a triplicidade. Segundo a lógica, ambas não podem ser
simultaneamente verdadeiras, pelo menos dentro de nosso entendimento.
Mas não seria possível que tenhamos aqui um mistério? Precisamos nos
apegar a ambas, embora não consigamos ver a relação exata entre elas.
Talvez esse mistério a que precisamos nos apegar para levar em
consideração todos os dados seja, como diz Augustus Strong,
"inescrutável". Mas o teólogos não são os únicos que precisam manter os
dois pólos enquanto trabalham. Os físicos nunca resolveram de forma
definitiva e perfeita a questão da natureza da luz. Dependendo da maneira
pela qual é observada, ela se comporta como onda ou como partícula.
Pela lógica, não pode ser ambas.
Mesmo assim, para levar em consideração todos os dados, é preciso
aceitar simultaneamente os dois padrões de comportamento. A
doutrina da Trindade é um ingrediente crucial de nossa fé. Cada um dos
três, Pai, Filho e Espírito Santo, deve ser cultuado, assim como o Deus
Triúno.
E, tendo em mente a obra distinta de cada um, cabe dirigir orações de
graças e de petições a cada um dos membros da Trindade, bem como a
todos, coletivamente. Além disso, o amor e a unidade perfeita na
Divindade são modelos da unidade e do afeto que deve caracterizar
nossos relacionamentos dentro do corpo de Cristo.
Parece que Tertuliano estava certo ao afirmar que a doutrina da Trindade
deve ter sido divinamente revelada, não construída por seres humanos.
Ela é tão absurda para os padrões humanos que ninguém a poderia
inventar. Não defendemos a doutrina da Trindade porque é evidente por
si ou logicamente convincente. Nós a defendemos porque Deus revelou
que ele é assim. Como alguém disse acerca dessa doutrina:
Tente explicá-la, e perderá a cabeça; Mas tente negá-la, e perderá a alma.
PARTE 2
AS TRÊS PESSOAS ESTUDADAS SEPARADAMENTE
1. A Primeira Pessoa
Seria um pleonasmo teológico afirmar a divindade do Pai. A
única coisa que caberia nesta parte é afirmar que há somente um
Deus, mas isto se pode afirmar sobre o Filho. Não se trata de
pluralidade de deuses, mas de pluralidade de pessoas em um só
Deus.
A Divindade do Pai
Que o Pai é Deus está claramente evidente em cada
verso das Santas Escrituras, a partir do seu primeiro verso:
"No princípio criou Deus os céus e a terra". Também está
evidente que, embora haja a Trindade, a divindade do Pai
não é superior à do Filho nem do Espírito Santo. Contudo,
há uma certa subordinação funcional das duas outras
pessoas a ele. Mas isso não o torna mais Deus que elas. É
apenas uma questão do modas operandi da Trindade, como
já foi visto.
A Segunda Pessoa
- A Divindade de Jesus Cristo Afirmada no Antigo
Testamento
Embora o Verbo viesse a tornar-se carne somente no período do
Novo Testamento, há algumas profecias nas Escrituras do Antigo
Testamento que apontam para a divindade do Messias que haveria
de vir. Os mais clássicos são os seguintes:
Is 9.6 - "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o
governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe
da Paz."
Desde o começo do capítulo, o profeta Isaías, sob inspiração
divina, está falando do nascimento do Messias que haveria de
vir. Fala da terra que ficaria importante com a sua vinda (v. 1);
fala da grande luz que o povo haveria de ter (v. 2); fala da
alegria que esse povo haveria de experimentar (v. 3); fala da
libertação do jugo humano (esta era a esperança judaica) (vv. 4,
5). Então há o anúncio do nascimento de uma criança que
possui nomes próprios somente de alguém que é mais do que
simplesmente um homem. Sem levar em conta a ordem que o
texto apresenta, analisemos as expressões duplas desse verso:
Deus Forte - Inconfundivelmente, esse título lhe atribui plena
divindade. E essa divindade vem adjetivada de "forte". Jesus Cristo
é um Deus poderoso. Por essa razão, várias vezes no Novo
Testamento Jesus Cristo é chamado de "Senhor", aquele que
possui domínio absoluto sobre o universo.
Maravilhoso Conselheiro - Esse título divino que Jesus Cristo recebe no
Antigo Testamento é comprovado de maneira extraordinária no Novo
Testamento. Segundo o meu entendimento, esse título se refere à suprema
tarefa que Jesus Cristo tem como pastor do seu povo. A tarefa de
"Conselheiro" é eminentemente pastoral. O conselheiro é aquele que
conforta, anima, encoraja as pessoas nas horas de tristeza, desânimo e
fraqueza. E ele haveria de ser maravilhoso na execução dessa tarefa. E por
essa razão que o Novo Testamento fala de Cristo como o "Supremo Pastor"
de nossas almas (1Pe 5.4; 2.25). Assim como seu Pai era o pastor
maravilhoso do seu rebanho (Ez 34.15, 16), Deus, o Filho encarnado,
haveria de exercer a mesma função de um modo profundamente
maravilhoso.
Pai da Eternidade - Esse título pode ser traduzido como "Possuidor
da Eternidade". Ele indica de modo eminente a divindade de Jesus
Cristo. Somente alguém eterno pode trazer à existência coisas
eternas. Com o seu Pai, ele é gerador das coisas eternas, como a
vida e suas bem-aventuranças. Ele é o pai da redenção perpétua do
seu povo.
Príncipe da Paz - Jesus viria para estabelecer a paz entre os
homens. Os anjos anunciaram essa paz como produto da
encarnação do Verbo (Lc 2.11-14). Ele criou a paz entre judeus e
gentios, que Paulo canta de maneira maravilhosa, derrubando o
muro de separação que havia entre eles (Ef 2.14-16). Ele cria a paz
entre os pecadores remidos e Deus (Rm 5.1). A tarefa de ser o
Príncipe da Paz é divina porque somente Deus pode restaurar-nos
ao seu favor e Cristo é o Deus encarnado para poder estabelecer
essa paz entre o ofendido e os ofensores. É paz de Deus porque o
próprio Deus tomou a iniciativa de criá-la. Como Cristo é o agente
dessa paz, ele é chamado de o "Príncipe da Paz".
Pelo fato de ele ser Deus Forte e ter os outros três nomes acima
analisados, ele pode perfeitamente fazer uma outra coisa própria da
divindade: ter governo sobre o mundo. O texto diz que "o governo
está sobre os seus ombros". Desde que veio ao mundo, ele tem
esse governo nas mãos e o exercerá até que finalize toda a
redenção da criação e dos homens, quando, então, devolverá o
governo a Deus, o Pai (1Co 15.24).
Mq 5.2 — "E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como
grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e
cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
"
O primeiro ponto importante desse verso é o Messias, que João
chama de Verbo encarnado, que está no seio do Pai, isto é, procede de
Deus. O texto de Miquéias diz: "... de ti (Belém) me (Deus, o Pai) sairá".
Ele aponta, ao mesmo tempo, para a humanidade e a divindade do
Redentor. Ele veio de Belém como havia vindo de Deus. O segundo
ponto importante é a eternidade do Rei de Israel. Ao mesmo tempo que
ele é temporal, pois nasceu em Belém (isso mostra a sua humanidade),
ele é atemporal, eterno (o que aponta para a sua divindade). Não há
como negar que o atributo "eternidade" aponta de maneira inequívoca
para a sua divindade.
A Divindade de Jesus Cristo Afirmada no Novo Testamento
Há vários textos nas Escrituras do Novo Testamento que afirmam
diretamente a divindade de Jesus Cristo. Faremos uma rápida
análise alguns textos, a fim de que possamos explorar esse assunto
tão determinante para a fé cristã.
Mt 1.23 - "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele
será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).
"
Mateus está citando Isaías 7.14. O nome hebraico é composto de
duas palavras, Immanu + El, que significam "o Deus que está
conosco", e corresponde ao Verbo encarnado de João 1. No Antigo
Testamento, o Emanuel é apontado como o libertador que traria
libertação do período de trevas e de tribulação. Ele seria a
inauguração do período messiânico tão ansiado pelos justos de Israel.
No Novo Testamento, Mateus assinala a vinda de Jesus Cristo como o
cumprimento dessa promessa messiânica. Jesus Cristo é Deus entre
os homens.
Jo 1.1-3 - "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as cousas
foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez."
Este é o texto mais clássico sobre a divindade do Redentor. João
começa descrevendo quem é aquele que deveria se encarnar. Ele não
era homem. Ele não somente era eterno, porque existia no princípio
(palavra que em João designa o "tempo" antes da existência do mundo),
mas também vivia com Deus. Todavia, o texto deixa claro que a
existência não é tudo o que se pode dizer dele. Ele era o próprio Deus.
Como pode viver com Deus e ser o próprio Deus? Dois deuses? Não.
Aqui começa o claro raciocínio da coexistência e da subsistência de
pessoas no mesmo Ser, o divino.
O Verbo (que veio a encarnar-se) é Deus. A prova disso
está no fato de ele fazer o que é próprio de Deus. Ele criou o
universo e nada do que existe veio a existir sem ele. Portanto,
esse texto é uma prova cabal da divindade daquele que é
Redentor.
Rm 9.5 - "deles (judeus) são os patriarcas e também deles descende o Cristo,
segundo a carne, o qual é sobre todos. Deus bendito para todo o sempre.
Amém."
Neste texto, Paulo afirma as duas naturezas de Cristo: a sua humanidade
está patente no fato de ele dizer: "... também deles descende o Cristo, segundo a
carne". Carne aqui é sinonimo de natureza humana. A humanidade de Cristo era
aceita sem problemas porque os judeus sabiam de quem ele era filho, José e
Maria. Todavia, Paulo vai mais longe, afirmando ser ele "Deus bendito para todo
sempre", enfatizando assim a eternidade da Segunda Pessoa que se encarnou.
Essa afirmação de Paulo jamais seria aceita pelos judeus ortodoxos, porque ela
afirma claramente a divindade de Jesus Cristo. Contudo, agora Paulo escreve a
judeus crentes que viviam em Roma e estavam altamente necessitados de
noções soteriológicas. Não é de se estranhar que Paulo afirme claramente o
argumento fundamental para se entender a salvação: Cristo é Deus!
1 Jo 5.20 - "Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado
entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro,
em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna."
A tese principal de João em suas cartas é mostrar o contraste entre o falso
ensino e o verdadeiro. Jesus Cristo é o que unge os crentes com a
verdade. A verdade do evangelho é a unção dos crentes, e isto vem de
Jesus, o Santo de Deus (1Jo 2.18-29).
No verso acima, o Filho vem mostrar quem é o que fala a verdade, que é o
seu Pai. Por isso, este é chamado de o Verdadeiro. Ao mesmo tempo, o
verso fala que "estamos no verdadeiro" e o verdadeiro aqui também é o
Filho. O que o Pai é, o Filho também o é. Porque ele é verdadeiro como o
Pai, ele é reconhecido claramente por João como aquele que é Deus.
Portanto, João diz: "Este (Jesus) é o verdadeiro Deus e a vida eterna."
A divindade de Cristo sempre foi fundamental para o ensino
correto dos apóstolos. Sem essa convicção, tudo o que Jesus Cristo
fez e disse fica destituído de significado. Mas porque ele é igual ao
seu Pai em essência, tudo o que seu Pai faz, ele faz; tudo o que seu
Pai é, ele também é, exceto nas distinções pessoais, isto é, o Pai
não pode ser o Filho e vice-versa.
Ele faz o que somente Deus é capaz de fazer
1. Perdão de pecados. Ele perdoa pecados de maneira eterna. Os
homens podem fazer isso temporariamente, mas Cristo oferece o
perdão eterno (Mc 2:1-12).
2. Vida. Ele dá vida espiritual para quem desejar (Jo 5:21).
3. Ressurreição. Ele irá ressuscitar os mortos (Jo 11:43).
4. Julgamento. Ele irá julgar todas as pessoas (Jo 5:22,27).
Todos esse exemplos são obras que Jesus realizou ou afirmações
que ele fez, não declarações que outros fizeram a respeito dele.
Ou seja, Jesus passou a ser plenamente
humano mas sem deixar de ser Deus.
Para melhor entendermos isso, vamos estudar
sobre Kenósis e união Hipostática.
A União Hipostática
A união do divino e do humano em Jesus foi chamada, pelos
teólogos da Igreja, de hipostática. O termo vem do grego "Hipóstasis",
que significa o modo de ser pelo qual qualquer existência substancial
recebe uma individualidade independente e distinta.
Portanto deduzimos que uma união de caráter hipostático é a
união de naturezas independentes e distintas. Essa união ocorreu
apenas uma vez na história, e foi no ato da encarnação de Cristo.
Não há em Jesus qualquer confusão das duas naturezas. Isto se
evidencia pelo modo absoluto como ambas são apresentadas nas
Escrituras. Sua divindade não ficou reduzida por ter-se unido com
um corpo humano, porque ele é o verdadeiro Deus. Sua
humanidade, enquanto esteve na terra, não foi exaltada com
qualidades que a tornassem diferente dos outros seres humanos.
Se a natureza divina nele fosse imperfeita, ela teria perdido o seu
caráter fundamental, porque é essencial à divindade que ela seja
completa. Se quaisquer das atividades essenciais à natureza
humana tivessem faltado, ele não teria sido homem pleno. Se a
divindade e a humanidade estivessem nele misturadas e
confundidas, em tal caso ele teria sido um ser composto, nem Deus,
nem homem. Mas a ele nada faltava, nem à sua humanidade, nem
à sua divindade. Ele é o Eterno Cristo, o Verbo encarnado.
O fato da humanidade de Jesus Cristo foi bastante difundido na Igreja
primitiva, pois, o apóstolo João, por exemplo, advertia seus leitores
contra qualquer negação desta grande realidade. Então ele diz: "Nisto
conhecereis o Espírito de Deus: “Todo o espírito que confessa que
Jesus veio em carne [humanizou-se] é de Deus. E todo o espírito que
não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus...” (1 Jo
4.2,3a).
Ora, com efeito, o apóstolo quer mostrar aos seus leitores que o
Cristo de Deus se humanizou. Ele era Deus, mas tornou-se homem
pelo processo de sua encarnação; e, necessariamente, nasceu, viveu
e morreu de acordo com as circunstâncias que o rodeavam no mundo
em que vivia, sem, contudo deixar de ser Deus plenamente
As Sagradas Escrituras mostram como a humanização de nosso
Senhor operava simultaneamente com sua divindade:
1. Como homem, ele ficava cansado, mas como Deus chamou os
cansados para descansar nele.
1. Como homem, ele teve fome, mas como Deus era "O Pão da Vida''.
1. Como homem, ele teve sede, mas como Deus era a "Água da Vida".
E disse: "Se alguém tiver sede, venha a mim, e beba!
1. Como homem, ele esteve em agonia, mas como Deus, o socorro
bem presente na hora de nossa angustia.
Como homem, ele dormiu sobre uma "almofada'' no barco em que
viajava, mas, como Deus levantou-se e repreendeu a tempestade.
Como homem, ele caminhou dois dias até Betânia, mas sendo Deus
sabia o momento em que Lázaro morrera.
Como Homem, ele chorou junto à sepultura, mas sendo Deus disse:
“Lázaro venha para fora”, e o morto ressuscitou.
Como homem ele disse: "...Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?" (Mt 27.46b), mas Paulo acrescenta que "...Deus estava
em Cristo reconciliando consigo o mundo..." (2 Co 5.19a).
Como homem ele morreu, mas sendo Deus ele ressuscitou, e
ele mesmo é a vida eterna!
A Kenósis
As teorias que tratam do momento em que Jesus deixou os céus e
veio a Terra como homem e precisou renunciar a alguns privilégios de
sua divindade são chamadas de Kenóticas (do grego Kenoo, esvaziar).
Os teólogos que procuraram elaborar uma resposta para esta questão
foram Tomásio e Delitsch na Alemanha (1860 - 1880), David na
Escócia e Crosby nos Estados Unidos (1890 - 1910). E, ainda, teólogos
como Wayne Gruden, Millard Erkson, Louis Berkof.
Os primeiros são de linha liberal, isto é, nem sempre levam em
consideração o texto bíblico e a posição histórica da Igreja. Os outros
são teólogos conservadores, que defendem a verdadeira doutrina de
Cristo baseados nas Escrituras e apóiam a posição doutrinária
defendida historicamente pela Igreja.
O texto base para a discussão é Fp. 2.5-7
A Teoria do Esvaziamento Parcial
Essa foi a teoria defendida por Tomásio, e outros, onde afirma que
os atributos de Deus podem ser separados em dois grupos distintos:
os imanentes que são Onisciência, Onipresença e Onipotência, que
são dispensáveis; e os atributos essenciais que são poder absoluto,
verdade absoluta, amor absoluto, santidade absoluta, que são
indispensáveis.
Eles ensinavam que Jesus esvaziara-se de sua Onisciência,
Onipotência e Onipresença, ao mesmo tempo em que reteve apenas
atributos como santidade, amor e verdade absolutos. David Forest
declara que Cristo tinha um conhecimento amplo e profundo, mas
que não era Onisciência, e que ele ainda mais claramente não era
Onipotente e nem Onipresente.
Ao declarar que Jesus renunciou a metade de seus atributos divinos
para se tornar um homem, essa teoria compromete a divindade de
Jesus. Como Deus, Jesus possuía todos seus atributos (qualidades
inerentes a um ser), para tornar-se um homem.
Segundo essa teoria, ele teve que renunciar ou esvaziar-se de
metade de seus atributos. Isso significa dizer que quando ele esteve na
terra não era plenamente Deus, mais sim algo como um semi-Deus.
Essa teoria não apenas contraria a Doutrina da Igreja, como também
não encontra respaldo nos Evangelhos.
Jesus ao encontrar-se com Nicodemos afirmou sua Onipresença
quando disse: "Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do
céu, o Filho do homem que está no céu" (Jo 3.13).
Em uma outra ocasião, quando dominou uma tempestade no
Mar da Galiléia, demonstrando sua Onipotência diante da natureza,
os discípulos admirados do seu poder exclamaram: "Quem é este
homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?" (Mt 8,27). O
Evangelista João explica sua Onisciência da seguinte maneira: "E,
não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele
bem sabia o que havia no homem" (Jo 2.25).
Os textos acima nos deixa claro que Jesus possuía todos os
seus atributos divinos, e que em nenhum momento renunciara a
eles para se tornar um homem.
A Teoria do Esvaziamento Total
A teoria da renúncia de todos os atributos, defendida por teólogos
como Godê e Clark, sustenta um "suicídio divino" por entender que
Jesus se esvaziou de todos os seus atributos para se tornar apenas
um homem. Nessa condição, Sua consciência eterna teria deixado
de existir para ser gradualmente recuperada aos poucos até
alcançar novamente a plenitude divina após sua ressurreição.
Ao defender tais princípios, essa teoria desconsidera os vários
textos que retratam Jesus, em sua condição humana, como Deus, e
reconhece o Messias apenas como um homem comum cheio do
Espírito Santo. No entanto, faz-se necessário ressaltar que se Jesus
não era Deus, quando esteve aqui na terra, não poderia ser adorado
(Mt 2.2), não poderia perdoar pecados (Mt. 9.2), não poderia se
igualar à deidade, (Jo 10.30) e não poderia morrer pelos nossos
pecados (Jo 19.35-37). Se ele fosse apenas um homem, ele seria
considerado um mentiroso, um fanático. Se Jesus tivesse renunciado
a sua divindade ao encarnar-se, jamais poderia salvar a humanidade.
A Teoria da Limitação
A teoria da limitação, apresentada por Ebrard , defende que Cristo ,
ao se encarnar, teve seus atributos limitados, isto é, eles ensinavam
que sua Onipotência, Onisciência e Onipresença eram limitadas. Essa
afirmação apresenta dois problemas.
Primeiro não há uma base bíblica para sustentá-la.
Segundo, os atributos de Deus não são elásticos para serem
alargados ou contraídos.
Não há uma onisciência, onipresença e onipotência limitadas.
Jesus, quando esteve na Terra, possuía todos os seus atributos, mas
somente os utilizava nos momentos em que o Pai permitia (Jo 5.19).
A Teoria do Esvaziamento de Privilégios
Teólogos mais conservadores, como Russel Sheed, Strong, Gruden,
defendem uma posição bíblica, centrada no ensino dos apóstolos. Eles
explicam que quando Deus-Filho assumiu a humanidade não se
esvaziou de seus atributos, mas se desfez de alguns privilégios. Um
desses privilégios seria a visibilidade de sua glória. Esta verdade fica
provada na oração sacerdotal, na qual Jesus diz: "Torna a dar-me a
glória que tinha contigo antes que o mundo existisse" (Jo. 17.5).
Um outro privilégio a que Jesus precisou renunciar foi o do exercício
independente dos seus atributos divinos. Jesus possuía todos os
atributos essenciais e qualidades da divindade, mas Ele não os usava
a não ser que o Pai quisesse, como Ele expressa em João (5.19): "O
Filho não pode fazer nada de si mesmo".
Jesus não abandonou os atributos relativos nem os imanentes ou
absolutos. Foi sempre perfeitamente justo, santo, misericordioso
verdadeiro e fiel. Mas se esvaziou quando deixou de exercer
independentemente seus atributos relativos.
Assim ele é Onisciente, Onipresente e Onipotente na medida em que
o Pai lhe concedeu exercer esses atributos. Ele se subordinou ao Pai
e ao Espírito Santo como servo de Jeová. De maneira que se Jesus
abusasse do uso de seus atributos divinos enquanto esteve na terra,
não poderia ser semelhante ao homem em tudo. Ele se auto-limitou
para viver como homem na terra.
Teólogos como Wayne Gruden também defendem a rejeição das
teorias Kenóticas baseados em cinco argumentos.
Primeiro que nenhum mestre reconhecido dos primeiros 1800 anos da
história da Igreja, incluindo os que falavam grego desde o nascimento,
pensava que "esvaziou-se", significando que o Filho de Deus
abandonara alguns de seus atributos.
Em segundo lugar, eles dizem que devemos reconhecer que o texto
não afirma que Cristo "esvaziou-se de alguns de seus poderes" ou
"esvaziou-se de atributos divinos" ou algo parecido.
Em terceiro lugar, afirmam que o texto descreve o que Jesus fez
nesse "esvaziamento": Ele não deixou alguns de seus atributos,
mas antes "assumindo a forma de servo", ou seja, passando a viver
como homem. Assim o próprio contexto interpreta o esvaziar-se
como equivalente a "humilhar-se" e assumir a condição e posição
inferior. Assim, a NVI, em vez de traduzir a frase "a si mesmo se
esvaziou", traduziu: "mas se tornou nada" (Fp 2.7). Nesse contexto,
o esvaziamento inclui mudança de função e condição, não de
atributos essenciais.
O quarto motivo está no propósito de Paulo nesse contexto. Ele
pretende convencer os filipenses a serem humildes e a colocar os
interesses dos outros em primeiro lugar e coloca o exemplo de
Cristo para que eles pudessem imitá-lo. Assim a melhor
compreensão desta passagem é que ela fala de Jesus deixando a
condição e privilégio que possuía no céu para se tornar um homem,
abrindo mão de sua glória e tornando-se pobre para que nós
fôssemos ricos (Jo 17.5; 2; Cor 8.9).
O quinto e último argumento que eles apresentam é que esta teoria
deve ser rejeitada por causa do contexto mais amplo do ensino do
Novo Testamento e o ensino doutrinário de toda Bíblia. Se fosse
verdade que ocorreu um fato tão importante como esse - que o Filho
eterno de Deus abandonou, por um momento, todos os seus
atributos de Deus, deixando por um momento de ser Onisciente,
Onipotente, Onipresente, por exemplo - então, teria que se esperar
que tal fato incrível fosse ensinado repetidas vezes e de forma clara
no Novo Testamento, em vez de encontrar na interpretação duvidosa
de uma palavra de uma epístola.
Mas vemos o oposto disto: não encontramos declarado em
nenhum outro lugar que o Filho de Deus deixou de possuir alguns
dos atributos de Deus que possuía na eternidade.
Portanto, Jesus não renunciou a sua divindade para vir ao mundo,
apenas a alguns privilégios inerentes a essa divindade.
A Terceira Pessoa
Antes de tratarmos da divindade do Espírito, é necessário que
falemos um pouco do Espírito como uma pessoa, possuindo os
atributos próprios de uma pessoa. A grande dificuldade histórica foi
que muitos estudiosos sempre viram no Espírito uma força ou energia
usada por Deus para realizar os seus propósitos (visto sempre na
forma impessoal). O cristianismo ortodoxo tem reagido contra essa
posição teológica enfatizando a personalidade do Espírito, para que o
conceito da tripersonalidade da Trindade não seja prejudicado.
O Espírito exerce ministérios pessoais na vida dos seres
humanos, seja na esfera da redenção ou não.
Vejamos algumas coisas próprias de uma pessoa que o Espírito faz.
1. Ele Convence Pessoas
Essa é uma atividade de uma pessoa, e não tarefa de uma força,
energia ou poder. As Escrituras dizem que o Espírito convence os
pecadores "do pecado, da justiça e do juízo" (Jo 16.8-11). O
convencimento implica não simplesmente argumentos que trabalham
com a razão, mas também uma atividade interior que mostra às
pessoas o que elas fizeram ou precisam fazer.
2. Ele Guia Pessoas à Verdade
Essa não é tarefa de uma energia, mas dirigir para a verdade
é uma tarefa de uma personalidade trabalhando com outra.
Jesus disse aos seus discípulos que o "Espírito Santo vos
guiará a toda verdade, porque não falará por si mesmo, mas
dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as cousas que hão
de vir" (Jo 16.13). Perceba que essa orientação para a verdade
pressupõe ouvir da verdade, falar da verdade e anunciar
eventos que ainda estavam por vir. Só um ser pessoal pode
falar a outro ser pessoal. Isto o Espírito faz.
3. Ele Consola Pessoas
Ele é chamado de Consolador em vários lugares das Escrituras
(Jo 14.16: 15.26; 16.7). Essa é a sua função básica estando Jesus
ausente dos seus discípu-los. Estes precisavam de encorajamento
para enfrentar as perseguições que estavam por vir. Jesus não os
deixou sós, mas prometeu uma pessoa que os havia de consolar.
Essa tarefa coube ao Espírito Santo. E a tarefa de consolar é
exclusiva de um ser pessoal. Portanto, uma vez mais o Espírito, de
acordo com as Escrituras, é uma das pessoas que subsistem no ser
divino.
4. Ele Tem Sentimentos
As Escrituras dizem que quando pecamos trazemos sentimentos de tristeza
a Deus, o Espírito. Por essa razão, Paulo nos exorta: "E não entristeçais o
Esprito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção" (Ef 4.30). Ele é
a pessoa que vive em nós e, por causa de seu amor por nós, tem esse
sentimento próprio de uma pessoa.
A Divindade do Espirito
O único texto das Escrituras que fala claramente da divindade do Espírito
Santo é Atos 5.3, 4.
Esse texto mostra uma vez mais que o Espírito Santo é um ser pessoal,
pois Ananias mentiu ao Espírito (v. 3). Nenhum ser pessoal (no caso Ananias)
faz uma coisa dessa natureza a um objeto, força ou energia. Somente um
outro ser pessoal pode receber e detectar uma mentira.
Além de ser pessoal, o texto diz de maneira inequívoca que o Espírito
Santo é Deus, pois foi dito a Ananias: "Como pois assentaste no coração este
desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus" (v. 4). Mais adiante, no
episódio da mulher de Ananias, novamente Pedro fala da mentira, com a qual
ela foi conivente, dizendo: "Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito
do Senhor?" (v. 9), indicando a procedência divina do Espírito.
Evidências da Divindade do Espírito
O Espírito Recebe um Nome Divino
O mesmo título divino, Senhor, que o Pai e o Filho recebem na Escritura, é
também recebido pelo Espírito Santo. O texto das Escrituras diz assim:
2Co 3.17, 18 - "Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito"
É curioso que o texto diga ao mesmo tempo que o Espírito é do Senhor e que
esse Senhor seja o Espírito. Certamente o texto fala do Espírito de Cristo,
porque a imagem na qual estamos sendo transformados é a imagem de Cristo.
Contudo, é o Espírito, que é Senhor, quem opera em nós essa transformação
para que atinjamos a imagem de Cristo, o Senhor.
O Espírito Possui Atributos Divinos
O Espírito possui o atributo da onipresença
SI 139.7, 8 - "Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde
fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama
no mais profundo abismo, lá estás também."
Embora estes versos não falem explicitamente da divindade do
Espírito de Deus, podemos deduzir com muita facilidade que a
terceira pessoa da Trindade possui atributos próprios da divindade.
Nestes versos a atribuição do Espírito é a sua onipresença. Este
atributo não pertence à criatura nem a uma simples força ou energia,
mas é próprio das pessoas da divindade.
O Espírito possui o atributo da onisciência
1 Co 2.10. 11 - "Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a
todas as cousas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual
dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele
está? Assim também as cousas de Deus, ninguém as conhece, se-não o
Espírito de Deus."
Este texto de 1 Coríntios dá evidências claras de que só o igual pode
conhecer o igual. Ninguém pode penetrar a essência divina. Em outras palavras,
somente pode conhecer a Deus aquele que é igual a ele. É por isso que o
Espírito Santo é chamado de Espírito de Deus. Além de ele penetrar as
profundezas de Deus, o que é próprio somente de Deus, ele perscruta todas as
coisas. Essa é uma outra maneira de falar do conhecimento perfeito que o
Espírito possui de todas as coisas, ou seja, a onisciência.
O Espírito Faz Coisas Próprias da Divindade
Ele comunica vida aos pecadores
Jo 3.5, 6 - "...Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar
no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne: e o que é nascido
do Espírito é espírito."
Esta obra grandiosa de comunicar vida é uma atividade exclusiva da
divindade. João fala em uma de suas cartas que aquele que é "nascido
de Deus" não vive na prática do pecado (1 Jo 3.9). Ser nascido do
Espírito é a mesma coisa que ser nascido de Deus. Portanto, a passagem
acima é uma indicação clara de que o Espírito Santo é Deus.
Ele santifica a vida dos pecadores
O Espírito não somente é o doador da vida aos pecadores,
mas ele trabalha nessas pessoas que agora estão vivificadas até
que elas sejam completamente santificadas. É um processo que
acontece na vida do pecador pela atuação do Ser divino. É um
atributo divino santificar seres pecadores. É tarefa da divindade,
mas cabe com mais particularidade à terceira pessoa da
Trindade (1Pe 1.2). Ele é o Espírito santificador.
CONCLUSÃO
Na mente de algumas pessoas há um certo pessimismo quanto à
aplicabilidade dessa doutrina. De que ela me serve? Quais são os efeitos
práticos da doutrina da Trindade para nós? Em que implica para mim crer
nessa doutrina tão difícil de ser entendida logicamente? Quando alguém diz:
"Essa doutrina não é prática", tal pessoa pode estar querendo dizer: "Ela
não se encaixa bem nos meus gostos ou preferências". Especialmente nos
tempos em que vivemos, as pessoas falam na praticidade de alguma coisa
pensando na sua utilidade. Uma coisa não precisa ser útil para mim para
ser prática. E bastante que ela seja verdadeira e real para que eu creia nela.
E essa doutrina é fundamentalmente necessária para a vida do povo de
Deus. Sem ela, tudo o que sabemos e recebemos de Deus não existiria.
O fato é que precisamos conhecer o que de Deus nos foi
revelado.
“Entre os pecados para os quais se inclina o coração humano,
nenhum é mais odioso para Deus do que a idolatria; pois no fundo a
idolatria difama o caráter
divino. O coração idólatra entende Deus de maneira diferente do
que Ele realmente é... A essência da idolatria está nas ideias
indignas que temos a respeito de Deus...
Os conceitos errados a respeito de Deus não são apenas as
fontes das quais jorram as águas poluídas da idolatria – são, em si
mesmos, idólatras... A mais pesada responsabilidade da Igreja em
nossos dias está em purificar e elevar o seu conceito verdadeiro de
Deus” (A.W.Tozer).
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AULA_TRINDADE_(1)Elly.pdf

  • 1. Professor: Ely Santos Matéria: TRINDADE O significado do termo Trindade, que vem do latim trinitas, procura transmitir um sentido de “três que é um”. Assuntos: Ensino bíblico, a deidade dos três, a triunidade, Formulações históricas, elementos essenciais
  • 2. A Trindade na Bíblia “Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas”
  • 3. Na doutrina da Trindade, encontramos uma das doutrinas que de fato distinguem o cristianismo. Entre as religiões do mundo, a fé cristã é sem igual ao alegar que Deus é um mas que, ao mesmo tempo, há três pessoas que são Deus. Ao fazer isso, apresenta-se o que, na superfície, parece uma doutrina contraditória. Além disso, essa doutrina não é declarada de forma aberta ou explícita nas Escrituras. No entanto, mentes devotas têm sido levadas a ela quando procuram fazer justiça ao testemunho das Escrituras.
  • 4. A doutrina da Trindade é crucial para o cristianismo. Ela se ocupa em definir quem é Deus, como ele é, como trabalha e a forma pela qual se tem acesso a ele. Além disso, a questão da deidade de Jesus Cristo, que historicamente tem sido ponto de grande tensão, está muito ligada com o conceito de Trindade. A posição que adotamos em relação à Trindade exerce profunda influência em nossa cristologia. A posição que adotamos em relação à Trindade também responderá uma série de perguntas de natureza prática. A quem devemos cultuar —apenas ao Pai; ao Filho; ao Espírito Santo; ou ao Deus triúno? A quem devemos orar? A obra de um deve ser considerada à parte da obra dos outros, ou podemos entender que, de alguma forma, a morte expiatória de Jesus também é obra do Pai? Pode-se pensar no Filho como um equivalente ao Pai em essência, ou ele deve ser relegado a um status ligeiramente menor?
  • 5. A fé cristã é sem igual ao alegar que Deus é um mas que, ao mesmo tempo, há três pessoas que são Deus.
  • 6. Vamos começar nosso estudo da Trindade examinando a base bíblica da doutrina. É importante notar o tipo de testemunho das Escrituras que levou a igreja a formular e a propor essa estranha doutrina. Depois, vamos examinar algumas das primeiras tentativas de lidar com os dados bíblicos, entre elas a formulação ortodoxa. Por fim, vamos estudar os elementos essenciais da doutrina e procurar as analogias que possam nos ajudar a compreendê-la um pouco melhor.
  • 7. O ensino bíblico Começamos com os dados bíblicos no que diz respeito à doutrina da Trindade. Há três tipos de indícios distintos mas relacionados entre si: o indício da unidade de Deus —que Deus é um; indícios de que há três pessoas que são Deus; e, por fim, indicações ou pelo menos insinuações da triunidade.
  • 8. A unidade de Deus A religião dos antigos hebreus era uma fé rigorosamente monoteísta, como, aliás, é a religião judaica hoje. A unidade de Deus foi revelada a Israel em muitas ocasiões diferentes e de várias maneiras. Os Dez Mandamentos, por exemplo, começam com a declaração: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim" (Êx 20.2,3). A proibição da idolatria, o segundo mandamento (v. 4), também repousa sobre a singularidade de Jeová. Ele não tolerará nenhuma adoração de objetos feitos por mãos humanas, pois somente ele é Deus. A rejeição do politeísmo percorre todo o Antigo Testamento. Deus demonstra repetidas vezes sua superioridade sobre outros que reivindicam deidade.
  • 9. Uma indicação mais clara da unidade de Deus é o Shema de Deuteronômio 6, as grandes verdades que o povo de Israel tinha a obrigação de absorver e inculcar em seus filhos. Eles deviam meditar naqueles ensinamentos ( "Estas palavras [...] estarão no teu coração", v. 6). Deviam conversar sobre eles —em casa e pelo caminho, ao levantar e ao deitar (v. 7). Deviam empregar auxílios visuais para lhes chamar a atenção para tais verdades —usando-as nas mãos e na testa, e escrevendo-as nos umbrais da casa e nos portões. E quais são essas grandes verdades que deviam ser tão destacadas? Uma delas é uma declaração afirmativa indicativa: "O SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (v. 4). A segunda grande verdade que Deus desejava que Israel aprendesse e ensinasse é um mandamento baseado em sua singularidade: "Amarás o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força" ( v. 5). Por ele ser único, não devia haver divisão no compromisso de Israel.
  • 10. O ensino a respeito da unidade de Deus não se restringe ao Antigo Testamento. Tiago 2.19 recomenda a crença num único Deus, embora observe que isso é insuficiente para a justificação. Paulo escreve quando discorre sobre a ingestão de carne oferecida a ídolos: "Sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um Deus, [...] o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos" (ICo 8.4,6, NVI). Aqui, Paulo, à semelhança da lei mosaica, exclui a idolatria, baseado no fato de só existir um Deus.
  • 11. A deidade dos três Todos esses indícios, tomados por si, com certeza nos levariam a uma crença basicamente monoteísta. Que motivo, nesse caso, levou a igreja a ir além dessas indicações? Foi o testemunho bíblico complementar de que três pessoas são Deus. A deidade da primeira pessoa, o Pai, pouco se discute. Além das referências em lCoríntios 8.4, 6 e ITimóteo 2.5,6, podemos notar os casos em que Jesus refere-se ao Pai como Deus. Em Mateus 6.26, por exemplo, ele indica que "vosso Pai celeste as sustenta [as aves do céu]". Numa afirmação paralela que vem logo depois, ele indica que "Deus veste [...] a erva do campo" (v. 30). É óbvio que, para Jesus, "Deus" e " vosso Pai celeste" são expressões equivalentes. E em numerosas referências a Deus, é evidente que Jesus tem em mente o Pai (e.g. Mt 19.23-26; 27.46; Mc 12.17, 24-27).
  • 12. Um pouco mais problemático é o status de Jesus como deidade, ainda que a Escritura também o identifique como Deus. Uma referência chave à deidade de Cristo Jesus é encontrada em Filipenses 2. Ao que tudo indica, nos versículos 5-11, Paulo toma o que era um hino da igreja primitiva e o usa como base para pedir aos leitores que pratiquem a humildade. Paulo observa que "ele [Jesus], subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus" (v. 6). A palavra aqui traduzida por "forma" é moiphê. Esse termo, tanto no grego clássico como no bíblico, significa "conjunto de características que fazem com que uma coisa seja o que é".
  • 13. Denotando a genuína natureza de uma coisa, morphê contrasta com schêma, que também é em geral traduzida por "forma", mas no sentido de formato ou aparência superficial, em lugar de substância. O uso de morphê nessa passagem, refletindo a fé da igreja primitiva, insinua uma profunda confiança na plena deidade de Cristo.
  • 14. Outra passagem significativa é Hebreus 1. O autor, cuja identidade nos é desconhecida, está escrevendo para um grupo de cristãos hebreus. Ele (ou ela) faz várias afirmações que implicam fortemente a plena deidade do Filho. Nos versículos iniciais, o autor argumenta que o Filho é superior aos anjos e nota que Deus tem falado por meio do Filho, destacou-o como herdeiro de todas as coisas e fez o universo por meio dele (v. 2). O autor descreve, então, o Filho como o "resplendor da glória de Deus" (NVl) e a "expressão exata do seu ser". Embora talvez possa se alegar que isso só afirma que Deus se revelou por meio do Filho, não que o Filho é Deus, o contexto sugere outra coisa. Além de se identificar como o Pai daquele a quem chama Filho (v. 5), Deus é citado no versículo 8 (do SI 45.6) dirigindo- se ao Filho como "Deus" e no versículo 10 como "Senhor" (do SI 102.25). O autor conclui observando que Deus disse ao Filho: "Assenta-te à minha direita" (do SI 110.1).
  • 15. É significativo que o autor bíblico dirige-se a cristãos hebreus, que com certeza estariam imbuídos de monoteísmo, de maneiras que inegavelmente afirmam a deidade de Jesus e sua igualdade com o Pai. Uma consideração final sobre a autoconsciência de Jesus. Devemos notar que Jesus nunca afirmou diretamente sua deidade. Ele nunca disse simplesmente: "Sou Deus". Mas várias pistas sugerem que era assim, de fato, que ele se via. Ele afirmava possuir o que pertence unicamente a Deus. Ele falou dos anjos de Deus (Lc 12.8,9; 15.10) como se fossem seus (Mt 13.41).
  • 16. Ele considerava o reino de Deus (Mt 12.28; 19.14, 24; 21.31, 43) e os eleitos de Deus (Mc 13.20) como de sua propriedade. Além disso, ele alegou perdoar pecados (Mc 2.8-10). Os judeus reconheciam que somente Deus podia perdoar pecados e, por conseguinte, acusaram Jesus de blasfêmia. Ele também reivindicava poder para julgar o mundo (Mt 25.31) e reinar sobre ele (Mt 24.30; Mc 14.62).
  • 17. Também há referências bíblicas que identificam o Espírito Santo com Deus. Aqui podemos notar que há passagens em que referências ao Espírito Santo ocorrem de forma intercambiável com referências a Deus. Um exemplo disso é Atos 5.3,4. Ananias e Safira retiveram uma parte do produto da venda de sua propriedade, fingindo que o colocavam inteiramente aos pés dos apóstolos. Aqui, mentir ao Espírito Santo (v. 3) é equiparado a mentir a Deus (v. 4). O Espírito Santo também é descrito como alguém que possui as qualidades de Deus e executa as obras dele. E o Espírito Santo quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11). Ele regenera ou dá nova vida (Jo 3.8)
  • 18. Em ICoríntios 12.4-11, lemos que é o Espírito quem concede dons à igreja e exerce soberania sobre os que recebem tais dons. Além disso, ele recebe a honra e a glória reservadas a Deus. Em lCoríntios 3.16,17, Paulo lembra aos fiéis que eles são o templo de Deus e que seu Espírito habita neles. No capítulo 6, Paulo diz que o corpo deles é um templo do Espírito Santo que neles habita (v. 19,20). "Deus" e "Espírito Santo", ao que parece, são expressões equivalentes. Também há alguns trechos em que o Espírito Santo é colocado em pé de igualdade com Deus. Um deles é a fórmula batismal de Mateus 28.19; o segundo é a bênção paulina em 2Coríntios 13.14; e, por fim, há IPedro 1.2, em que Pedro dirige-se a seus leitores como os "eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo".
  • 19. A triunidade Na superfície, essas duas linhas de pistas —a unidade e a triplicidade de Deus— parecem contraditórias. Quando a igreja começou a refletir sobre questões doutrinárias, chegou à conclusão de que Deus deve ser compreendido como três em um ou, em outras palavras, triúno. Neste ponto precisamos discutir se essa doutrina é ensinada de forma explícita na Bíblia, se é nela insinuada ou se é uma mera inferência de outros ensinos bíblicos.
  • 20. Um texto tradicionalmente citado como um registro da Trindade é ljoão 5.7, isto é, segundo se encontra em versões mais antigas como a Edição Revista e Corrigida: "Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um". Aparentemente, há uma afirmação clara e sucinta da triunidade. Infelizmente, a base textual é tão frágil que algumas traduções recentes (e. g. NVI, ARA) só incluem essa declaração em notas ou entre colchetes, enquanto outras a omitem por completo (e.g. rsv). Se existe alguma base bíblica para a Trindade, deve estar em outro lugar
  • 21. A forma plural do substantivo que designa o Deus de Israel, ’êlõhim, é às vezes entendido como um indício da concepção trinitária. Trata-se de um nome genérico usado também para outros deuses. Quando usado em referência ao Deus de Israel, apresenta-se em geral, mas nem sempre, no plural. Alguns diriam que essa é uma indicação da natureza plural de Deus. Existem ainda outras formas plurais. Em Gênesis 1.26, Deus diz: "Façamos o homem à nossa imagem". Aqui, o plural aparece tanto no verbo "façamos" como no sufixo possessivo "nossa".
  • 22. Quando Isaías foi chamado, ouviu o Senhor dizendo: "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?" (Is 6.8). O que é significativo do ponto de vista da análise lógica é a mudança do singular para o plural. Gênesis 1.26 diz na realidade: "Também disse [singular] Deus: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem". Deus é citado usando um verbo no plural em referência a si mesmo. De modo semelhante, Isaías 6.8 traz: "A quem enviarei [singular], e quem há de ir por nós [plural]?" O ensino a respeito da imagem de Deus na humanidade também é visto como uma indicação da Trindade. Gênesis 1.27 traz: Criou Deus, pois, o h o m em à sua im agem , à im agem de Deus o criou; hom em e m ulher os criou.
  • 23. Alguns argumentariam que temos aqui um paralelismo não apenas nas duas primeiras linhas, mas nas três. Assim, "homem e mulher os criou" seria equivalente a "criou Deus, pois, o homem à sua imagem" e a "à imagem de Deus o criou". Por esse raciocínio, a imagem de Deus no homem (genérico) deve ser encontrada no fato de o homem ter sido criado macho e fêmea (i.e. , plural).1 Isso significa que a imagem de Deus deve consistir em uma unidade em pluralidade, uma característica tanto do éctipo quanto do arquétipo. De acordo com Gênesis 2.24, homem e mulher devem tornar-se um (' cchãd): exige-se uma união de duas entidades distintas. É significativo que a mesma palavra é usada para Deus no Shema: "O SENHOR, nosso Deus, é o único [’ ecMd SENHOR" (Dt 6.4). Parece que existe alguma afirmação acerca da natureza de Deus —ele é um organismo, ou seja, uma unidade de partes distintas
  • 24. Em algumas partes das Escrituras, as três pessoas são associadas em unidade e aparente igualdade. Uma delas é a fórmula batismal conforme prescrita na grande comissão (Mt 28.19,20): batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Note que "nome" é singular, embora haja o envolvimento de três pessoas. Ainda outra associação direta dos três nomes é a bênção paulina em 2Coríntios • 13.13 —"A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós". Aqui temos novamente a associação dos três nomes em unidade e aparente igualdade
  • 25. É no quarto evangelho que encontramos o indício mais significativo de uma Trindade de equivalentes. A fórmula tríplice aparece repetidas vezes: 1.33,34; 14.16, 26; 16.13-15; 20.21,22 (cf. ljo 4.2, 13,14). A dinâmica interna entre as três pessoas surge várias vezes, como observou George Hendry. O Filho é enviado peLo Pai (14.24) e vem dele (16.28). O Espírito é dado pelo Pai (14.16), enviado pelo Pai (14.26) e procede do Pai (15.26). Mas o Filho está estreitamente relacionado com a vinda do Espírito: ele ora por sua vinda (14.16); o Pai envia o Espírito em nome do Filho (14.26); o Filho enviará o Espírito da parte do Pai (15.26); o Filho deve ir para que possa enviar o Espírito (16.7). O
  • 26. O ministério do Espírito é visto como uma ‘» ■ c o n tin u a ç ã o e desenvolvimento do ministério do Filho. Ele trará à lembrança o que o Filho disse (14.26); ele testemunhará do Filho (15.26); ele declarará o que ouve do Filho, glorificando, dessa forma, o Filho (16.13,14). O prólogo do evangelho também contém um material rico em significado para a doutrina da Trindade. João diz no primeiro versículo do livro: "O Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Eis uma idéia da divindade da Palavra. Aqui também encontramos a idéia de que embora o filho seja distinto do Pai, existe uma comunhão entre eles, pois a preposição pros ("com") não conota apenas uma proximidade física em relação ao Pai, mas também uma intimidade de comunhão.
  • 27. Há outras maneiras pelas quais esse evangelho salienta a proximidade e a unidade entre o Pai e o Filho. Jesus diz: "Eu e o Pai somos um" (10.30) e "Quem me vê a mim vê o Pai" (14.9). Ele ora para que seus discípulos sejam um como são ele e o Pai (17.21). Nossa conclusão a partir dos dados que acabamos de examinar: Embora a doutrina da Trindade não seja declarada de forma expressa, a Escritura, especialmente o Novo Testamento, contém tantos indícios da deidade e da unidade das três pessoas que podemos compreender por que a igreja formulou a doutrina, concluindo que estava certa em fazê-lo.
  • 28. Formulações históricas Durante os dois primeiros séculos depois de Cristo, houve pouco esforço consciente de lutar com as questões teológicas e filosóficas do que hoje entendemos por doutrina da Trindade. Pensadores como Justino e Taciano destacaram a unidade da essência entre a Palavra e o Pai, usando a figura da impossibilidade de separar a luz de sua fonte, o sol. Dessa forma, ilustraram que, embora a Palavra e o Pai sejam distintos, não podem ser divididos ou separados.
  • 29. A perspectiva "econômica" da Trindade Em Hipólito e Tertuliano, encontramos o desenvolvimento de uma perspectiva "econômica" da Trindade. Houve poucas tentativas de explorar as relações eternas entre os três; antes, houve uma concentração no estudo das formas pelas quais a Tríade se manifestou na criação e na redenção. Embora a criação e a redenção mostrassem que o Filho e o Espírito eram diferentes do Pai, eles eram também considerados unidos de modo inseparável ao Pai em seu ser eterno. Entendia-se que, assim como as funções mentais de um ser humano, a razão de Deus, ou seja, a Palavra, estava imanente e indivisivelmente com ele. À guisa de uma rápida avaliação, notamos que existe um quê de indefinição nessa perspectiva da Trindade. Qualquer esforço para se chegar a uma compreensão mais exata de seu significado mostrar-se-á desalentador.
  • 30. O monarquianism o dinâmico No final do século II e no século III, houve duas tentativas de elaborar uma definição precisa do relacionamento entre Cristo e Deus. As duas concepções são tratadas por monarquianismo (lit. "soberania única"), uma vez que destacam a singularidade e a unidade de Deus, mas apenas a última reivindicou essa designação para si. ^ O monarquianismo dinâmico sustentava que Deus estava dinamicamente presente na vida de Jesus homem. Havia uma obra ou força de Deus que atuava sobre, em ou por meio de Jesus homem, mas não havia uma presença real de Deus nele. O idealizador do monarquianismo dinâmico, Teódoto, asseverava que, antes do batismo, Jesus era um homem comum, embora completamente virtuoso.
  • 31. No batismo, o Espírito, ou Cristo, desceu sobre ele, e daquele momento em diante, ele passou a concretizar as obras milagrosas de Deus. Essas idéias de monarquianismo dinâmico nunca chegaram a se difundir. O monarquianismo modalista Em contraste, o monarquianismo modalista era um ensino popular, muito difundido. Enquanto o monarquianismo dinâmico parecia negar a doutrina da Trindade, o modalismo parecia afirmá-la. Ambas as variedades do monarquianismo desejavam preservar a doutrina da unidade de Deus. O modalismo, porém, também se devotava profundamente à plena divindade de Jesus.
  • 32. Uma vez que em geral se entendia que o termo Pai referia-se à própria Divindade, qualquer insinuação de que a Palavra ou o Filho eram de alguma forma diferentes do Pai incomodava os modalistas. Parecia-lhes um caso de biteísmo, crença em dois deuses. Em essência, a idéia dessa escola de pensamento é que existe uma Divindade que pode ser designada de várias formas, como Pai, Filho ou Espírito. Os termos não indicam distinções reais, sendo meros nomes que são apropriados e aplicáveis em diferentes ocasiões. Pai, Filho e Espírito Santo são idênticos —são revelações sucessivas da mesma pessoa. A solução modalista ao paradoxo de Deus ser três e um era, portanto, não três pessoas, mas uma pessoa com três nomes, funções ou atividades diferentes.5
  • 33. Deve-se reconhecer que, no monarquianismo modalista, temos uma concepção genuinamente única, original e criativa, concepção que, em alguns aspectos, é uma ruptura brilhante. Tanto a unidade de Deus quanto a deidade das três pessoas — Pai, Filho e Espírito Santo— são preservadas. Mas a igreja, ao avaliar essa teologia, considerou-a deficiente em alguns aspectos significativos. Em particular, o fato de as três pessoas por vezes aparecerem simultaneamente na cena da revelação bíblica tomou-se uma grande pedra de tropeço para essa concepção. A cena do batismo, em que o Pai fala para o Filho, e o Espírito desce sobre o Filho é um exemplo. Alguns dos textos trinitários destacados anteriormente também se mostram problemáticos.
  • 34. A formulação ortodoxa A doutrina ortodoxa da Trindade foi enunciada em uma série de debates e concílios, em grande parte, causada pelas controvérsias provocadas por movimentos tais como o monarquianismo e o arianismo. Foi no Concílio de Constantinopla (381) que emergiu uma formulação definitiva em que a igreja explicitou as crenças que estavam implícitas. A concepção que prevaleceu foi basicamente a de Atanásio (293-373), conforme elaborada e aperfeiçoada pelos teólogos capadócios —Basílio, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa A fórmula que expressa a posição de Constantinopla é "uma omia [substância] em três hypostases [pessoas]". Com freqüência, a ênfase parece estar mais na segunda parte da fórmula, ou seja, na existência distinta das três pessoas, e não numa Divindade única, indivisível.
  • 35. A Divindade única existe "indivisível em pessoas divididas". Existe uma "identidade de natureza" nas três hipóstases. Os capadócios tentaram expor os conceitos da substância comum e das pessoas múltiplas distintas usando a analogia de um universal e seus particulares —as pessoas da Trindade estão para a substância divina, assim como os homens estão para o homem universal (ou a humanidade). Cada uma das hipóstases é a ousia da Divindade que se distingue pelas características ou propriedades peculiares a ela, assim como cada ser humano possui características únicas que o distinguem de outros seres humanos. Respectivamente, essas propriedades das pessoas divinas são, de acordo com Basílio, paternidade, filiação e poder santificador ou santificação.
  • 36. É evidente que a fórmula ortodoxa protege a doutrina da Trindade contra o perigo do modalismo. Mas será que o fez à custa de cair no erro oposto —o triteísmo? Na superfície, o perigo parece considerável. Dois pontos foram, no entanto, levantados para resguardar a doutrina da Trindade do triteísmo. Em primeiro lugar, observou-se que se pudermos encontrar uma única atividade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a qual, de maneira nenhuma, seja diferente em alguma das três pessoas, precisamos concluir que existe o envolvimento de apenas uma substância idêntica. E tal unidade foi encontrada na atividade divina da revelação. A revelação origina-se no Pai, procede por meio do Filho e é completada no Espírito. Não são três ações, mas uma ação em que todos os três se envolvem.
  • 37. Em segundo lugar, houve uma insistência na concretitude e na indivisibilidade da substância divina. Muito da crítica contra a doutrina capadócia da Trindade centrava-se na analogia de um universal que se manifesta em particulares. Para evitar a conclusão de que há uma multiplicidade de deuses dentro da Deidade, assim como há uma multiplicidade de seres humanos dentro da humanidade, Gregório de Nissa afirmou que, no sentido estrito, não devemos falar de uma multiplicidade de seres hunjanos, mas de uma multiplicidade de um ser humano universal. Assim, os capadócios continuaram salientando que, embora os três membros da Trindade possam ser distinguidos numericamente como pessoas, eles são indistinguíveis em sua essência ou substância. Eles são distinguíveis como pessoas, mas são um e inseparáveis em sua existência
  • 38. Deve-se reiterar que a ousia não é abstrata, mas uma realidade concreta. Além disso, essa essência divina é simples e indivisível. Seguindo a doutrina aristotélica de que somente o que é material pode ser dividido quantitativamente, os capadócios às vezes quase negavam que a categoria de número pudesse ser de alguma forma aplicada à Deidade. Deus é simples e não composto. Assim, embora cada uma das pessoas seja distinta, não podem ser somadas para formar três entidades.
  • 39. Elementos essenciais de uma doutrina da Trindade Aqui é preciso fazer uma pausa a fim de observar os elementos de destaque que devem ser incluídos em qualquer doutrina da Trindade. 1. Começamos com a unidade de Deus. Deus é um, não vários. A unidade de Deus pode ser comparada com a unidade entre marido e esposa, mas devemos ter em mente que estamos lidando com um Deus, não com uma reunião de entidades distintas. 2. A deidade da cada uma das três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, deve ser salientada. No que se refere à qualidade, todas são iguais. O Filho é divino da mesma forma e na mesma medida que o Pai, e isso também vale para o Espírito Santo.
  • 40. Algum dia, compreenderemos melhor a Deus, mas, mesmo então, não o compreenderemos totalmente.
  • 41. 3. A triplicidade e a unidade de Deus não dizem respeito ao mesmo pormenor. Embora a interpretação ortodoxa da Trindade pareça contraditória (Deus é um, mas também três), a contradição não é real, mas apenas aparente. Existe uma contradição quando algo é A e não é A ao mesmo tempo, com respeito ao mesmo pormenor. O modalismo tentou lidar com a aparente contradição afirmando que os três modos ou manifestações de Deus não são simultâneos; em dado momento, apenas um deles é revelado. A ortodoxia, porém, insiste em que Deus é três pessoas a qualquer momento. Sustentando também sua unidade, a ortodoxia lida com o problema afirmando que a a maneira pela qual Deus é três difere, em alguns aspectos, da maneira pela qual ele é um.
  • 42. Os pensadores do século IV falavam de uma ousia e três hipóstases. Surge agora o problema de determinar o significado desses dois termos ou, sendo mais abrangente, a diferença entre a natureza da unidade de Deus e a de sua triplicidade. 4. A Trindade é eterna. Sempre houve três. Pai, Filho e Espírito Santo, e todos eles sempre foram divinos. Um ou mais deles não surgiram em algum ponto do tempo nem se tornaram divinos em algum momento. O Deus Triúno é e será o que sempre foi. 5. A função de um membro da Trindade pode, por vezes, subordinar-se a um ou aos dois outros membros, mas isso não significa que algum deles possa ser inferior em essência.
  • 43. Cada uma das três pessoas da Trindade teve, em certo período, uma função específica exclusiva. Isso deve ser entendido como uma função temporária no intuito de cumprir determinado objetivo, não uma mudança em seu status ou essência. Na experiência humana, também existe subordinação funcional. Vários iguais num negócio ou empreendimento podem escolher um dentre eles para servir como capitão de uma força tarefa ou como presidente de uma comissão por um período determinado, sem que haja nenhuma mudança de posição. Da mesma forma, em sua encarnação terrena, o Filho não se tomou menor que o Pai, mas se subordinou funcionalmente à vontade do Pai. Semelhantemente, o Espírito Santo está agora subordinado ao ministério do Filho í veja Jo 14—16) assim como à vontade do Pai, mas isso não implica que este seja menor que aqueles
  • 44. 6. A Trindade é incompreensível. Não podemos compreender plenamente o mistério da Trindade. Algum dia, quando virmos Deus, iremos vê-lo como é e o compreenderemos melhor que agora. Mas, mesmo então, não o compreenderemos totalmente.
  • 45. A busca de analogias O problema na formulação de um enunciado da doutrina da Trindade não se limita à compreensão de sua terminologia. Isso já é bem penoso; por exemplo, é difícil saber o que "pessoa" significa nésse contexto. Ainda mais difícil é compreender as relações internas entre os membros da Trindade. A mente humana às vezes procura analogias para ajudá-lo nesse intento. No nível popular, costumam-se utilizar analogias retiradas da natureza física. Uma analogia amplamente difundida, por exemplo, é a do ovo: o ovo consiste em gema, clara e casca, os quais, juntos, constituem um ovo inteiro. Outra analogia
  • 46. apreciada é a água: a água pode ser encontrada em forma líquida, sólida ou gasosa. As vezes usam-se outros objetos materiais como ilustrações. Um pastor, instruindo jovens catecúmenos, tentou esclarecer a triplicidade ao mesmo tempo unitária usando a pergunta: "Calças é singular ou plural?" Sua resposta era que calças é singular em cima e plural embaixo. Note que essas analogias e ilustrações, bem como grande número de analogias similares retiradas do âmbito material tendem a ser ou triteístas ou modalistas em suas implicações. Por um lado, as analogias do ovo e das calças dão a entender que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são partes distintas da natureza divina. Por outro lado, a analogia das várias formas da água possui um tom modalista, já que o gelo, a água líquida e o vapor são modos de ser. Uma porção de água não existe simultaneamente em todos os três estados
  • 47. Uma das mentes mais criativas na história da teologia cristã foi Agostinho. Em De trinitate, que talvez seja sua maior obra, ele voltou seu intelecto prodigioso para o problema da natureza da Trindade. A maior contribuição de Agostinho para a compreensão da Trindade são suas analogias extraídas do campo da personalidade humana. Ele argumentou que, se a humanidade é feita à imagem de Deus, que é triúno, é razoável esperar encontrar, numa análise da natureza humana, um reflexo, mesmo que tênue, da triunidade de Deus. Tendo em mente esse pensamento, vamos examinar duas analogias extraídas do campo da experiência humana. A primeira analogia é retirada do campo da psicologia do indivíduo humano. Possuindo autoconsciência, posso me ocupar com um diálogo interno comigo mesmo. Posso assumir posições diferentes e interagir comigo mesmo. Posso, até, me envolver num debate comigo.
  • 48. E mais, sou uma pessoa humana complexa, com múltiplas funções e responsabilidades em interação dinâmica. Quando considero o que eu devia fazer em determinada situação, o marido, o pai, o professor de seminário e o cidadão americano que, juntos, me constituem, podem se informar mutuamente. Um problema dessa analogia é que, na experiência humana, isso se vê com maior nitidez nas situações em que há tensão ou competição, e não harmonia, entre as várias posições e funções do indivíduo. A disciplina da psicologia anormal nos proporciona exemplos extremos de virtuais guerras entre os elementos que constituem a personalidade humana. Mas, em Deus, de modo contrastante, sempre há perfeita harmonia, comunicação e amor
  • 49. A outra analogia vem da esfera das relações interpessoais. Tome o caso dos gêmeos idênticos. Em um sentido, são da mesma essência, pois a constituição genética deles é idêntica. Um órgão pode ser transplantado de um para outro com relativa facilidade, pois o corpo receptor não rejeitará o órgão do doador, considerando-o estranho, mas o aceitará como se fosse dele mesmo. Gêmeos idênticos também são muito chegados em outros aspectos. Eles têm interesses e gostos semelhantes. Embora tenham cônjuges e empregadores diferentes, há um vínculo muito estreito que os une. Mas não são a mesma pessoa. São duas, não uma.
  • 50. Essas duas analogias destacam aspectos diferentes da doutrina da Trindade. A primeira salienta mais a unidade. A segunda ilustra com maior clareza a triplicidade. Segundo a lógica, ambas não podem ser simultaneamente verdadeiras, pelo menos dentro de nosso entendimento. Mas não seria possível que tenhamos aqui um mistério? Precisamos nos apegar a ambas, embora não consigamos ver a relação exata entre elas. Talvez esse mistério a que precisamos nos apegar para levar em consideração todos os dados seja, como diz Augustus Strong, "inescrutável". Mas o teólogos não são os únicos que precisam manter os dois pólos enquanto trabalham. Os físicos nunca resolveram de forma definitiva e perfeita a questão da natureza da luz. Dependendo da maneira pela qual é observada, ela se comporta como onda ou como partícula. Pela lógica, não pode ser ambas.
  • 51. Mesmo assim, para levar em consideração todos os dados, é preciso aceitar simultaneamente os dois padrões de comportamento. A doutrina da Trindade é um ingrediente crucial de nossa fé. Cada um dos três, Pai, Filho e Espírito Santo, deve ser cultuado, assim como o Deus Triúno. E, tendo em mente a obra distinta de cada um, cabe dirigir orações de graças e de petições a cada um dos membros da Trindade, bem como a todos, coletivamente. Além disso, o amor e a unidade perfeita na Divindade são modelos da unidade e do afeto que deve caracterizar nossos relacionamentos dentro do corpo de Cristo.
  • 52. Parece que Tertuliano estava certo ao afirmar que a doutrina da Trindade deve ter sido divinamente revelada, não construída por seres humanos. Ela é tão absurda para os padrões humanos que ninguém a poderia inventar. Não defendemos a doutrina da Trindade porque é evidente por si ou logicamente convincente. Nós a defendemos porque Deus revelou que ele é assim. Como alguém disse acerca dessa doutrina: Tente explicá-la, e perderá a cabeça; Mas tente negá-la, e perderá a alma.
  • 54. AS TRÊS PESSOAS ESTUDADAS SEPARADAMENTE 1. A Primeira Pessoa Seria um pleonasmo teológico afirmar a divindade do Pai. A única coisa que caberia nesta parte é afirmar que há somente um Deus, mas isto se pode afirmar sobre o Filho. Não se trata de pluralidade de deuses, mas de pluralidade de pessoas em um só Deus.
  • 55. A Divindade do Pai Que o Pai é Deus está claramente evidente em cada verso das Santas Escrituras, a partir do seu primeiro verso: "No princípio criou Deus os céus e a terra". Também está evidente que, embora haja a Trindade, a divindade do Pai não é superior à do Filho nem do Espírito Santo. Contudo, há uma certa subordinação funcional das duas outras pessoas a ele. Mas isso não o torna mais Deus que elas. É apenas uma questão do modas operandi da Trindade, como já foi visto.
  • 56. A Segunda Pessoa - A Divindade de Jesus Cristo Afirmada no Antigo Testamento Embora o Verbo viesse a tornar-se carne somente no período do Novo Testamento, há algumas profecias nas Escrituras do Antigo Testamento que apontam para a divindade do Messias que haveria de vir. Os mais clássicos são os seguintes: Is 9.6 - "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz."
  • 57. Desde o começo do capítulo, o profeta Isaías, sob inspiração divina, está falando do nascimento do Messias que haveria de vir. Fala da terra que ficaria importante com a sua vinda (v. 1); fala da grande luz que o povo haveria de ter (v. 2); fala da alegria que esse povo haveria de experimentar (v. 3); fala da libertação do jugo humano (esta era a esperança judaica) (vv. 4, 5). Então há o anúncio do nascimento de uma criança que possui nomes próprios somente de alguém que é mais do que simplesmente um homem. Sem levar em conta a ordem que o texto apresenta, analisemos as expressões duplas desse verso:
  • 58. Deus Forte - Inconfundivelmente, esse título lhe atribui plena divindade. E essa divindade vem adjetivada de "forte". Jesus Cristo é um Deus poderoso. Por essa razão, várias vezes no Novo Testamento Jesus Cristo é chamado de "Senhor", aquele que possui domínio absoluto sobre o universo.
  • 59. Maravilhoso Conselheiro - Esse título divino que Jesus Cristo recebe no Antigo Testamento é comprovado de maneira extraordinária no Novo Testamento. Segundo o meu entendimento, esse título se refere à suprema tarefa que Jesus Cristo tem como pastor do seu povo. A tarefa de "Conselheiro" é eminentemente pastoral. O conselheiro é aquele que conforta, anima, encoraja as pessoas nas horas de tristeza, desânimo e fraqueza. E ele haveria de ser maravilhoso na execução dessa tarefa. E por essa razão que o Novo Testamento fala de Cristo como o "Supremo Pastor" de nossas almas (1Pe 5.4; 2.25). Assim como seu Pai era o pastor maravilhoso do seu rebanho (Ez 34.15, 16), Deus, o Filho encarnado, haveria de exercer a mesma função de um modo profundamente maravilhoso.
  • 60. Pai da Eternidade - Esse título pode ser traduzido como "Possuidor da Eternidade". Ele indica de modo eminente a divindade de Jesus Cristo. Somente alguém eterno pode trazer à existência coisas eternas. Com o seu Pai, ele é gerador das coisas eternas, como a vida e suas bem-aventuranças. Ele é o pai da redenção perpétua do seu povo.
  • 61. Príncipe da Paz - Jesus viria para estabelecer a paz entre os homens. Os anjos anunciaram essa paz como produto da encarnação do Verbo (Lc 2.11-14). Ele criou a paz entre judeus e gentios, que Paulo canta de maneira maravilhosa, derrubando o muro de separação que havia entre eles (Ef 2.14-16). Ele cria a paz entre os pecadores remidos e Deus (Rm 5.1). A tarefa de ser o Príncipe da Paz é divina porque somente Deus pode restaurar-nos ao seu favor e Cristo é o Deus encarnado para poder estabelecer essa paz entre o ofendido e os ofensores. É paz de Deus porque o próprio Deus tomou a iniciativa de criá-la. Como Cristo é o agente dessa paz, ele é chamado de o "Príncipe da Paz".
  • 62. Pelo fato de ele ser Deus Forte e ter os outros três nomes acima analisados, ele pode perfeitamente fazer uma outra coisa própria da divindade: ter governo sobre o mundo. O texto diz que "o governo está sobre os seus ombros". Desde que veio ao mundo, ele tem esse governo nas mãos e o exercerá até que finalize toda a redenção da criação e dos homens, quando, então, devolverá o governo a Deus, o Pai (1Co 15.24).
  • 63. Mq 5.2 — "E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. " O primeiro ponto importante desse verso é o Messias, que João chama de Verbo encarnado, que está no seio do Pai, isto é, procede de Deus. O texto de Miquéias diz: "... de ti (Belém) me (Deus, o Pai) sairá". Ele aponta, ao mesmo tempo, para a humanidade e a divindade do Redentor. Ele veio de Belém como havia vindo de Deus. O segundo ponto importante é a eternidade do Rei de Israel. Ao mesmo tempo que ele é temporal, pois nasceu em Belém (isso mostra a sua humanidade), ele é atemporal, eterno (o que aponta para a sua divindade). Não há como negar que o atributo "eternidade" aponta de maneira inequívoca para a sua divindade.
  • 64. A Divindade de Jesus Cristo Afirmada no Novo Testamento Há vários textos nas Escrituras do Novo Testamento que afirmam diretamente a divindade de Jesus Cristo. Faremos uma rápida análise alguns textos, a fim de que possamos explorar esse assunto tão determinante para a fé cristã.
  • 65. Mt 1.23 - "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco). " Mateus está citando Isaías 7.14. O nome hebraico é composto de duas palavras, Immanu + El, que significam "o Deus que está conosco", e corresponde ao Verbo encarnado de João 1. No Antigo Testamento, o Emanuel é apontado como o libertador que traria libertação do período de trevas e de tribulação. Ele seria a inauguração do período messiânico tão ansiado pelos justos de Israel. No Novo Testamento, Mateus assinala a vinda de Jesus Cristo como o cumprimento dessa promessa messiânica. Jesus Cristo é Deus entre os homens.
  • 66. Jo 1.1-3 - "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez." Este é o texto mais clássico sobre a divindade do Redentor. João começa descrevendo quem é aquele que deveria se encarnar. Ele não era homem. Ele não somente era eterno, porque existia no princípio (palavra que em João designa o "tempo" antes da existência do mundo), mas também vivia com Deus. Todavia, o texto deixa claro que a existência não é tudo o que se pode dizer dele. Ele era o próprio Deus. Como pode viver com Deus e ser o próprio Deus? Dois deuses? Não. Aqui começa o claro raciocínio da coexistência e da subsistência de pessoas no mesmo Ser, o divino.
  • 67. O Verbo (que veio a encarnar-se) é Deus. A prova disso está no fato de ele fazer o que é próprio de Deus. Ele criou o universo e nada do que existe veio a existir sem ele. Portanto, esse texto é uma prova cabal da divindade daquele que é Redentor.
  • 68. Rm 9.5 - "deles (judeus) são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos. Deus bendito para todo o sempre. Amém." Neste texto, Paulo afirma as duas naturezas de Cristo: a sua humanidade está patente no fato de ele dizer: "... também deles descende o Cristo, segundo a carne". Carne aqui é sinonimo de natureza humana. A humanidade de Cristo era aceita sem problemas porque os judeus sabiam de quem ele era filho, José e Maria. Todavia, Paulo vai mais longe, afirmando ser ele "Deus bendito para todo sempre", enfatizando assim a eternidade da Segunda Pessoa que se encarnou. Essa afirmação de Paulo jamais seria aceita pelos judeus ortodoxos, porque ela afirma claramente a divindade de Jesus Cristo. Contudo, agora Paulo escreve a judeus crentes que viviam em Roma e estavam altamente necessitados de noções soteriológicas. Não é de se estranhar que Paulo afirme claramente o argumento fundamental para se entender a salvação: Cristo é Deus!
  • 69. 1 Jo 5.20 - "Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna." A tese principal de João em suas cartas é mostrar o contraste entre o falso ensino e o verdadeiro. Jesus Cristo é o que unge os crentes com a verdade. A verdade do evangelho é a unção dos crentes, e isto vem de Jesus, o Santo de Deus (1Jo 2.18-29). No verso acima, o Filho vem mostrar quem é o que fala a verdade, que é o seu Pai. Por isso, este é chamado de o Verdadeiro. Ao mesmo tempo, o verso fala que "estamos no verdadeiro" e o verdadeiro aqui também é o Filho. O que o Pai é, o Filho também o é. Porque ele é verdadeiro como o Pai, ele é reconhecido claramente por João como aquele que é Deus. Portanto, João diz: "Este (Jesus) é o verdadeiro Deus e a vida eterna."
  • 70. A divindade de Cristo sempre foi fundamental para o ensino correto dos apóstolos. Sem essa convicção, tudo o que Jesus Cristo fez e disse fica destituído de significado. Mas porque ele é igual ao seu Pai em essência, tudo o que seu Pai faz, ele faz; tudo o que seu Pai é, ele também é, exceto nas distinções pessoais, isto é, o Pai não pode ser o Filho e vice-versa.
  • 71. Ele faz o que somente Deus é capaz de fazer 1. Perdão de pecados. Ele perdoa pecados de maneira eterna. Os homens podem fazer isso temporariamente, mas Cristo oferece o perdão eterno (Mc 2:1-12). 2. Vida. Ele dá vida espiritual para quem desejar (Jo 5:21). 3. Ressurreição. Ele irá ressuscitar os mortos (Jo 11:43). 4. Julgamento. Ele irá julgar todas as pessoas (Jo 5:22,27). Todos esse exemplos são obras que Jesus realizou ou afirmações que ele fez, não declarações que outros fizeram a respeito dele.
  • 72. Ou seja, Jesus passou a ser plenamente humano mas sem deixar de ser Deus. Para melhor entendermos isso, vamos estudar sobre Kenósis e união Hipostática.
  • 73. A União Hipostática A união do divino e do humano em Jesus foi chamada, pelos teólogos da Igreja, de hipostática. O termo vem do grego "Hipóstasis", que significa o modo de ser pelo qual qualquer existência substancial recebe uma individualidade independente e distinta. Portanto deduzimos que uma união de caráter hipostático é a união de naturezas independentes e distintas. Essa união ocorreu apenas uma vez na história, e foi no ato da encarnação de Cristo.
  • 74. Não há em Jesus qualquer confusão das duas naturezas. Isto se evidencia pelo modo absoluto como ambas são apresentadas nas Escrituras. Sua divindade não ficou reduzida por ter-se unido com um corpo humano, porque ele é o verdadeiro Deus. Sua humanidade, enquanto esteve na terra, não foi exaltada com qualidades que a tornassem diferente dos outros seres humanos.
  • 75. Se a natureza divina nele fosse imperfeita, ela teria perdido o seu caráter fundamental, porque é essencial à divindade que ela seja completa. Se quaisquer das atividades essenciais à natureza humana tivessem faltado, ele não teria sido homem pleno. Se a divindade e a humanidade estivessem nele misturadas e confundidas, em tal caso ele teria sido um ser composto, nem Deus, nem homem. Mas a ele nada faltava, nem à sua humanidade, nem à sua divindade. Ele é o Eterno Cristo, o Verbo encarnado.
  • 76. O fato da humanidade de Jesus Cristo foi bastante difundido na Igreja primitiva, pois, o apóstolo João, por exemplo, advertia seus leitores contra qualquer negação desta grande realidade. Então ele diz: "Nisto conhecereis o Espírito de Deus: “Todo o espírito que confessa que Jesus veio em carne [humanizou-se] é de Deus. E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus...” (1 Jo 4.2,3a). Ora, com efeito, o apóstolo quer mostrar aos seus leitores que o Cristo de Deus se humanizou. Ele era Deus, mas tornou-se homem pelo processo de sua encarnação; e, necessariamente, nasceu, viveu e morreu de acordo com as circunstâncias que o rodeavam no mundo em que vivia, sem, contudo deixar de ser Deus plenamente
  • 77. As Sagradas Escrituras mostram como a humanização de nosso Senhor operava simultaneamente com sua divindade: 1. Como homem, ele ficava cansado, mas como Deus chamou os cansados para descansar nele. 1. Como homem, ele teve fome, mas como Deus era "O Pão da Vida''. 1. Como homem, ele teve sede, mas como Deus era a "Água da Vida". E disse: "Se alguém tiver sede, venha a mim, e beba! 1. Como homem, ele esteve em agonia, mas como Deus, o socorro bem presente na hora de nossa angustia.
  • 78. Como homem, ele dormiu sobre uma "almofada'' no barco em que viajava, mas, como Deus levantou-se e repreendeu a tempestade. Como homem, ele caminhou dois dias até Betânia, mas sendo Deus sabia o momento em que Lázaro morrera. Como Homem, ele chorou junto à sepultura, mas sendo Deus disse: “Lázaro venha para fora”, e o morto ressuscitou. Como homem ele disse: "...Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46b), mas Paulo acrescenta que "...Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo..." (2 Co 5.19a).
  • 79. Como homem ele morreu, mas sendo Deus ele ressuscitou, e ele mesmo é a vida eterna!
  • 80. A Kenósis As teorias que tratam do momento em que Jesus deixou os céus e veio a Terra como homem e precisou renunciar a alguns privilégios de sua divindade são chamadas de Kenóticas (do grego Kenoo, esvaziar). Os teólogos que procuraram elaborar uma resposta para esta questão foram Tomásio e Delitsch na Alemanha (1860 - 1880), David na Escócia e Crosby nos Estados Unidos (1890 - 1910). E, ainda, teólogos como Wayne Gruden, Millard Erkson, Louis Berkof. Os primeiros são de linha liberal, isto é, nem sempre levam em consideração o texto bíblico e a posição histórica da Igreja. Os outros são teólogos conservadores, que defendem a verdadeira doutrina de Cristo baseados nas Escrituras e apóiam a posição doutrinária defendida historicamente pela Igreja.
  • 81. O texto base para a discussão é Fp. 2.5-7
  • 82. A Teoria do Esvaziamento Parcial Essa foi a teoria defendida por Tomásio, e outros, onde afirma que os atributos de Deus podem ser separados em dois grupos distintos: os imanentes que são Onisciência, Onipresença e Onipotência, que são dispensáveis; e os atributos essenciais que são poder absoluto, verdade absoluta, amor absoluto, santidade absoluta, que são indispensáveis. Eles ensinavam que Jesus esvaziara-se de sua Onisciência, Onipotência e Onipresença, ao mesmo tempo em que reteve apenas atributos como santidade, amor e verdade absolutos. David Forest declara que Cristo tinha um conhecimento amplo e profundo, mas que não era Onisciência, e que ele ainda mais claramente não era Onipotente e nem Onipresente.
  • 83. Ao declarar que Jesus renunciou a metade de seus atributos divinos para se tornar um homem, essa teoria compromete a divindade de Jesus. Como Deus, Jesus possuía todos seus atributos (qualidades inerentes a um ser), para tornar-se um homem. Segundo essa teoria, ele teve que renunciar ou esvaziar-se de metade de seus atributos. Isso significa dizer que quando ele esteve na terra não era plenamente Deus, mais sim algo como um semi-Deus. Essa teoria não apenas contraria a Doutrina da Igreja, como também não encontra respaldo nos Evangelhos. Jesus ao encontrar-se com Nicodemos afirmou sua Onipresença quando disse: "Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem que está no céu" (Jo 3.13).
  • 84. Em uma outra ocasião, quando dominou uma tempestade no Mar da Galiléia, demonstrando sua Onipotência diante da natureza, os discípulos admirados do seu poder exclamaram: "Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?" (Mt 8,27). O Evangelista João explica sua Onisciência da seguinte maneira: "E, não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem" (Jo 2.25). Os textos acima nos deixa claro que Jesus possuía todos os seus atributos divinos, e que em nenhum momento renunciara a eles para se tornar um homem.
  • 85. A Teoria do Esvaziamento Total A teoria da renúncia de todos os atributos, defendida por teólogos como Godê e Clark, sustenta um "suicídio divino" por entender que Jesus se esvaziou de todos os seus atributos para se tornar apenas um homem. Nessa condição, Sua consciência eterna teria deixado de existir para ser gradualmente recuperada aos poucos até alcançar novamente a plenitude divina após sua ressurreição.
  • 86. Ao defender tais princípios, essa teoria desconsidera os vários textos que retratam Jesus, em sua condição humana, como Deus, e reconhece o Messias apenas como um homem comum cheio do Espírito Santo. No entanto, faz-se necessário ressaltar que se Jesus não era Deus, quando esteve aqui na terra, não poderia ser adorado (Mt 2.2), não poderia perdoar pecados (Mt. 9.2), não poderia se igualar à deidade, (Jo 10.30) e não poderia morrer pelos nossos pecados (Jo 19.35-37). Se ele fosse apenas um homem, ele seria considerado um mentiroso, um fanático. Se Jesus tivesse renunciado a sua divindade ao encarnar-se, jamais poderia salvar a humanidade.
  • 87. A Teoria da Limitação A teoria da limitação, apresentada por Ebrard , defende que Cristo , ao se encarnar, teve seus atributos limitados, isto é, eles ensinavam que sua Onipotência, Onisciência e Onipresença eram limitadas. Essa afirmação apresenta dois problemas. Primeiro não há uma base bíblica para sustentá-la. Segundo, os atributos de Deus não são elásticos para serem alargados ou contraídos. Não há uma onisciência, onipresença e onipotência limitadas. Jesus, quando esteve na Terra, possuía todos os seus atributos, mas somente os utilizava nos momentos em que o Pai permitia (Jo 5.19).
  • 88. A Teoria do Esvaziamento de Privilégios Teólogos mais conservadores, como Russel Sheed, Strong, Gruden, defendem uma posição bíblica, centrada no ensino dos apóstolos. Eles explicam que quando Deus-Filho assumiu a humanidade não se esvaziou de seus atributos, mas se desfez de alguns privilégios. Um desses privilégios seria a visibilidade de sua glória. Esta verdade fica provada na oração sacerdotal, na qual Jesus diz: "Torna a dar-me a glória que tinha contigo antes que o mundo existisse" (Jo. 17.5).
  • 89. Um outro privilégio a que Jesus precisou renunciar foi o do exercício independente dos seus atributos divinos. Jesus possuía todos os atributos essenciais e qualidades da divindade, mas Ele não os usava a não ser que o Pai quisesse, como Ele expressa em João (5.19): "O Filho não pode fazer nada de si mesmo". Jesus não abandonou os atributos relativos nem os imanentes ou absolutos. Foi sempre perfeitamente justo, santo, misericordioso verdadeiro e fiel. Mas se esvaziou quando deixou de exercer independentemente seus atributos relativos.
  • 90. Assim ele é Onisciente, Onipresente e Onipotente na medida em que o Pai lhe concedeu exercer esses atributos. Ele se subordinou ao Pai e ao Espírito Santo como servo de Jeová. De maneira que se Jesus abusasse do uso de seus atributos divinos enquanto esteve na terra, não poderia ser semelhante ao homem em tudo. Ele se auto-limitou para viver como homem na terra. Teólogos como Wayne Gruden também defendem a rejeição das teorias Kenóticas baseados em cinco argumentos.
  • 91. Primeiro que nenhum mestre reconhecido dos primeiros 1800 anos da história da Igreja, incluindo os que falavam grego desde o nascimento, pensava que "esvaziou-se", significando que o Filho de Deus abandonara alguns de seus atributos. Em segundo lugar, eles dizem que devemos reconhecer que o texto não afirma que Cristo "esvaziou-se de alguns de seus poderes" ou "esvaziou-se de atributos divinos" ou algo parecido.
  • 92. Em terceiro lugar, afirmam que o texto descreve o que Jesus fez nesse "esvaziamento": Ele não deixou alguns de seus atributos, mas antes "assumindo a forma de servo", ou seja, passando a viver como homem. Assim o próprio contexto interpreta o esvaziar-se como equivalente a "humilhar-se" e assumir a condição e posição inferior. Assim, a NVI, em vez de traduzir a frase "a si mesmo se esvaziou", traduziu: "mas se tornou nada" (Fp 2.7). Nesse contexto, o esvaziamento inclui mudança de função e condição, não de atributos essenciais.
  • 93. O quarto motivo está no propósito de Paulo nesse contexto. Ele pretende convencer os filipenses a serem humildes e a colocar os interesses dos outros em primeiro lugar e coloca o exemplo de Cristo para que eles pudessem imitá-lo. Assim a melhor compreensão desta passagem é que ela fala de Jesus deixando a condição e privilégio que possuía no céu para se tornar um homem, abrindo mão de sua glória e tornando-se pobre para que nós fôssemos ricos (Jo 17.5; 2; Cor 8.9).
  • 94. O quinto e último argumento que eles apresentam é que esta teoria deve ser rejeitada por causa do contexto mais amplo do ensino do Novo Testamento e o ensino doutrinário de toda Bíblia. Se fosse verdade que ocorreu um fato tão importante como esse - que o Filho eterno de Deus abandonou, por um momento, todos os seus atributos de Deus, deixando por um momento de ser Onisciente, Onipotente, Onipresente, por exemplo - então, teria que se esperar que tal fato incrível fosse ensinado repetidas vezes e de forma clara no Novo Testamento, em vez de encontrar na interpretação duvidosa de uma palavra de uma epístola.
  • 95. Mas vemos o oposto disto: não encontramos declarado em nenhum outro lugar que o Filho de Deus deixou de possuir alguns dos atributos de Deus que possuía na eternidade. Portanto, Jesus não renunciou a sua divindade para vir ao mundo, apenas a alguns privilégios inerentes a essa divindade.
  • 96. A Terceira Pessoa Antes de tratarmos da divindade do Espírito, é necessário que falemos um pouco do Espírito como uma pessoa, possuindo os atributos próprios de uma pessoa. A grande dificuldade histórica foi que muitos estudiosos sempre viram no Espírito uma força ou energia usada por Deus para realizar os seus propósitos (visto sempre na forma impessoal). O cristianismo ortodoxo tem reagido contra essa posição teológica enfatizando a personalidade do Espírito, para que o conceito da tripersonalidade da Trindade não seja prejudicado. O Espírito exerce ministérios pessoais na vida dos seres humanos, seja na esfera da redenção ou não.
  • 97. Vejamos algumas coisas próprias de uma pessoa que o Espírito faz. 1. Ele Convence Pessoas Essa é uma atividade de uma pessoa, e não tarefa de uma força, energia ou poder. As Escrituras dizem que o Espírito convence os pecadores "do pecado, da justiça e do juízo" (Jo 16.8-11). O convencimento implica não simplesmente argumentos que trabalham com a razão, mas também uma atividade interior que mostra às pessoas o que elas fizeram ou precisam fazer.
  • 98. 2. Ele Guia Pessoas à Verdade Essa não é tarefa de uma energia, mas dirigir para a verdade é uma tarefa de uma personalidade trabalhando com outra. Jesus disse aos seus discípulos que o "Espírito Santo vos guiará a toda verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as cousas que hão de vir" (Jo 16.13). Perceba que essa orientação para a verdade pressupõe ouvir da verdade, falar da verdade e anunciar eventos que ainda estavam por vir. Só um ser pessoal pode falar a outro ser pessoal. Isto o Espírito faz.
  • 99. 3. Ele Consola Pessoas Ele é chamado de Consolador em vários lugares das Escrituras (Jo 14.16: 15.26; 16.7). Essa é a sua função básica estando Jesus ausente dos seus discípu-los. Estes precisavam de encorajamento para enfrentar as perseguições que estavam por vir. Jesus não os deixou sós, mas prometeu uma pessoa que os havia de consolar. Essa tarefa coube ao Espírito Santo. E a tarefa de consolar é exclusiva de um ser pessoal. Portanto, uma vez mais o Espírito, de acordo com as Escrituras, é uma das pessoas que subsistem no ser divino.
  • 100. 4. Ele Tem Sentimentos As Escrituras dizem que quando pecamos trazemos sentimentos de tristeza a Deus, o Espírito. Por essa razão, Paulo nos exorta: "E não entristeçais o Esprito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção" (Ef 4.30). Ele é a pessoa que vive em nós e, por causa de seu amor por nós, tem esse sentimento próprio de uma pessoa.
  • 101. A Divindade do Espirito O único texto das Escrituras que fala claramente da divindade do Espírito Santo é Atos 5.3, 4. Esse texto mostra uma vez mais que o Espírito Santo é um ser pessoal, pois Ananias mentiu ao Espírito (v. 3). Nenhum ser pessoal (no caso Ananias) faz uma coisa dessa natureza a um objeto, força ou energia. Somente um outro ser pessoal pode receber e detectar uma mentira. Além de ser pessoal, o texto diz de maneira inequívoca que o Espírito Santo é Deus, pois foi dito a Ananias: "Como pois assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus" (v. 4). Mais adiante, no episódio da mulher de Ananias, novamente Pedro fala da mentira, com a qual ela foi conivente, dizendo: "Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor?" (v. 9), indicando a procedência divina do Espírito.
  • 102. Evidências da Divindade do Espírito O Espírito Recebe um Nome Divino O mesmo título divino, Senhor, que o Pai e o Filho recebem na Escritura, é também recebido pelo Espírito Santo. O texto das Escrituras diz assim: 2Co 3.17, 18 - "Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito" É curioso que o texto diga ao mesmo tempo que o Espírito é do Senhor e que esse Senhor seja o Espírito. Certamente o texto fala do Espírito de Cristo, porque a imagem na qual estamos sendo transformados é a imagem de Cristo. Contudo, é o Espírito, que é Senhor, quem opera em nós essa transformação para que atinjamos a imagem de Cristo, o Senhor.
  • 103. O Espírito Possui Atributos Divinos O Espírito possui o atributo da onipresença SI 139.7, 8 - "Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também." Embora estes versos não falem explicitamente da divindade do Espírito de Deus, podemos deduzir com muita facilidade que a terceira pessoa da Trindade possui atributos próprios da divindade. Nestes versos a atribuição do Espírito é a sua onipresença. Este atributo não pertence à criatura nem a uma simples força ou energia, mas é próprio das pessoas da divindade.
  • 104. O Espírito possui o atributo da onisciência 1 Co 2.10. 11 - "Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as cousas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as cousas de Deus, ninguém as conhece, se-não o Espírito de Deus." Este texto de 1 Coríntios dá evidências claras de que só o igual pode conhecer o igual. Ninguém pode penetrar a essência divina. Em outras palavras, somente pode conhecer a Deus aquele que é igual a ele. É por isso que o Espírito Santo é chamado de Espírito de Deus. Além de ele penetrar as profundezas de Deus, o que é próprio somente de Deus, ele perscruta todas as coisas. Essa é uma outra maneira de falar do conhecimento perfeito que o Espírito possui de todas as coisas, ou seja, a onisciência.
  • 105. O Espírito Faz Coisas Próprias da Divindade Ele comunica vida aos pecadores Jo 3.5, 6 - "...Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne: e o que é nascido do Espírito é espírito." Esta obra grandiosa de comunicar vida é uma atividade exclusiva da divindade. João fala em uma de suas cartas que aquele que é "nascido de Deus" não vive na prática do pecado (1 Jo 3.9). Ser nascido do Espírito é a mesma coisa que ser nascido de Deus. Portanto, a passagem acima é uma indicação clara de que o Espírito Santo é Deus.
  • 106. Ele santifica a vida dos pecadores O Espírito não somente é o doador da vida aos pecadores, mas ele trabalha nessas pessoas que agora estão vivificadas até que elas sejam completamente santificadas. É um processo que acontece na vida do pecador pela atuação do Ser divino. É um atributo divino santificar seres pecadores. É tarefa da divindade, mas cabe com mais particularidade à terceira pessoa da Trindade (1Pe 1.2). Ele é o Espírito santificador.
  • 107. CONCLUSÃO Na mente de algumas pessoas há um certo pessimismo quanto à aplicabilidade dessa doutrina. De que ela me serve? Quais são os efeitos práticos da doutrina da Trindade para nós? Em que implica para mim crer nessa doutrina tão difícil de ser entendida logicamente? Quando alguém diz: "Essa doutrina não é prática", tal pessoa pode estar querendo dizer: "Ela não se encaixa bem nos meus gostos ou preferências". Especialmente nos tempos em que vivemos, as pessoas falam na praticidade de alguma coisa pensando na sua utilidade. Uma coisa não precisa ser útil para mim para ser prática. E bastante que ela seja verdadeira e real para que eu creia nela. E essa doutrina é fundamentalmente necessária para a vida do povo de Deus. Sem ela, tudo o que sabemos e recebemos de Deus não existiria.
  • 108. O fato é que precisamos conhecer o que de Deus nos foi revelado. “Entre os pecados para os quais se inclina o coração humano, nenhum é mais odioso para Deus do que a idolatria; pois no fundo a idolatria difama o caráter divino. O coração idólatra entende Deus de maneira diferente do que Ele realmente é... A essência da idolatria está nas ideias indignas que temos a respeito de Deus... Os conceitos errados a respeito de Deus não são apenas as fontes das quais jorram as águas poluídas da idolatria – são, em si mesmos, idólatras... A mais pesada responsabilidade da Igreja em nossos dias está em purificar e elevar o seu conceito verdadeiro de Deus” (A.W.Tozer).