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Análise comparativa: Intertextualização das críticas sociais
nas obras Capitães da Areia e Peter Pan
Em que medida as obras Capitães da Areia, de Jorge Amado, e Peter
Pan, de James Barrie, intertextualizam-se na crítica ao contexto social
em que estão inseridas?
Português A - Literatura – categoria 2
Contagem de palavras: 4000
2
Índice
Capa 1
Índice 2
Introdução 3
Desenvolvimento 5
1. Contexto e objetivo das obras 5
2. Meio 7
2.1 Antagonistas 9
3. Personagens secundárias 11
3.1 Personagens femininas 12
4. Protagonistas 15
Conclusão 19
Referências bibliográficas 20
3
Introdução
Essa monografia tem como principal objetivo fazer um estudo comparativo
entre o romance brasileiro Capitães da Areia, de Jorge Amado, e o conto de fadas
pertencente a literatura infantil britânica Peter Pan, de James Barrie. Ambas as
obras tecem uma crítica semelhante à sociedade, utilizando-se de um protagonista
masculino e jovem-adulto para criticar a forma como crianças eram acolhidas e
educadas em seus respectivos contextos sociais. Sendo assim, essa curiosa
incidência levou ao aprofundamento dessa análise literária comparativa de pergunta
norteadora: "Em que medida as obras Capitães da Areia, de Jorge Amado, e
Peter Pan, de James Barrie, intertextualizam-se na crítica ao contexto social
em que estão inseridas?".
O desenvolvimento da investigação inicia-se com a análise dos ambientes
nos quais Barrie e Amado tecem suas histórias. É abordada a forma como cada
autor se apropria da narrativa para cumprir com seu objetivo na transmissão da
mensagem desejada.
Após a análise do ambiente, serão discutidos os meios nos quais as histórias
se passam. Dentro da análise do meio, a presença do mal também é destacada,
representados pelos vilões. Os antagonistas se inserem no cenário de ambas as
obras contrapondo-se com o bem, que são representados pelos protagonistas e o
grupo que se inserem. Em ambas as narrativas, os autores utilizam o maniqueísmo
para criarem os conflitos da história e para simbolicamente representarem alguns
elementos caricatos da sociedade.
Em seguida, as personagens secundárias ganham voz. Nesta parte,
destacam-se suas contribuições para o enriquecimento da crítica. Em especial, são
4
analisadas as figuras femininas de cada obra. O conceito de infância é também
discutido por diferentes perspectivas, utilizando-se sempre a visão de Barrie e
Amado para diferentes caminhos que algumas das personagens secundárias
tomam. Além disso, destaca-se a influência das personagens femininas sobre os
demais personagens, principalmente em suas trajetórias de vida.
Por fim, tece-se a análise das características psíquicas dos protagonistas,
suas semelhanças, contrapontos e representações.
A pesquisa possui como desfecho a união de todos os elementos discutidos
anteriormente, que por meio da análise minuciosa de elementos das narrativas,
compuseram a mensagem geral dos romances. A finalidade dos autores para com
seus protagonistas é destacada, relevando suas importâncias à sociedade pós-
industrial, sendo esse também, o ponto principal no qual as narrativas se
convergem.
5
Desenvolvimento
1. Contexto e objetivo das obras
Peter Pan, de James Barrie, e Capitães da Areia, de Jorge Amado são
romances de sociedades muito distintas, afinal Peter Pan faz parte de um clássico
conto de fadas britânico, popularizado mundialmente quando foi adaptado para as
telas de cinema como desenho animado. Já Capitães da Areia é um romance
brasileiro pertencente ao período literário chamado de Modernismo, sendo uma das
obras mais representativas do período.
A narrativa de Barrie foge do compromisso com a realidade, na qual fadas,
piratas, terras perdidas e muita imaginação tomam conta das páginas. Na obra de
Jorge Amado, é demonstrada a dura realidade de um grupo de crianças
abandonadas que se sustentavam de roubos em Salvador, Bahia, longe do foco da
capital mundial da industrialização, Londres, na qual a história de Peter Pan é
contada.
Apesar de parecer que não há ligações entre os romances, é possível
perceber, que o objetivo dos autores se assemelha.
Ambos escreveram suas obras com o objetivo principal de criticar a forma
como as crianças estavam sendo educadas e acolhidas na sociedade. Peter Pan é
escrito em terceira pessoa sendo o narrador onisciente. Apesar disso, a história é
narrada na visão de mundo do protagonista, que vem de uma alta classe social e
foi abandonado pelos pais por não se encaixar no modelo de pensamento que lhe
fora imposto. Naturalmente, Peter Pan acaba criando e fechando-se no seu próprio
universo que é cheio de elementos místicos e que fogem da necessidade de
entender o mundo de uma maneira lógica e convencional.
6
pois a Terra do Nunca é sempre mais ou menos uma ilha, com pinceladas
maravilhosas de cor aqui e ali, e recifes de coral e barcos velozes prontos para
zarpar, e esconderijos selvagens e secretos, e gnomos que quase sempre são
alfaiates, e cavernas atravessadas por rios, e príncipes com seis irmãos mais velhos,
e uma cabana caindo aos pedaços, e uma velinha bem baixinha com nariz de
gavião. (BARRIE, 2012, p.25)
É comum uma criança imaginar o mundo de uma maneira diferente, de um
modo não-convencional, não havendo, portanto, os conceitos morais de certo e
errado, real ou irreal. A crítica é feita baseada em um modelo de pensamento
industrial. Por exemplo, o protagonista da obra, Peter Pan, é caracterizado pela sua
postura atrevida e conduta infantil, que entra em conflito com as convenções
esperadas em uma sociedade conservadora e moldada pelos valores de uma
comunidade recém-industrializada, dado que somente assim se era considerado um
ser respeitável.
Por isso que Peter Pan escapa da realidade para adentrar no seu próprio
mundo, a Terra do Nunca, em que o próprio nome sugere uma fuga da realidade.
Esse escape da personagem o impede de lidar com as dificuldades da vida,
deixando-o eternamente imaturo.
A forma como a história é contada assemelha-se ao seu conteúdo, pois o
gênero literário, conto de fadas, é de fácil compreensão e apresenta símbolos e
arquétipos que auxiliam no significado da mensagem da obra. Sendo dessa
maneira, também, o jeito que o protagonista enxerga o mundo: de uma forma
simples e bastante fantasiosa, carregada de simbolismos.
Já na história de Amado, há um compromisso maior com a realidade, embora
de aspecto ficcional. O narrador é em terceira pessoa e onisciente, e para a
7
mensagem ser passada de forma mais clara, não houve espaço para a criação da
fantasia, visto que a intenção de Jorge Amado era justamente trazer mais para perto
do leitor, a realidade em que muitas crianças abandonadas, beirando a
marginalização e no convívio com violência, viviam. “Vestidos de farrapos, sujos,
semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro”
(AMADO, 2009, p.27).
O protagonista, Pedro Bala, é o líder dos capitães da areia, grupo em que
todos são órfãos e moram juntos no trapiche. Ao contrário de Peter Pan, Pedro foi
precocemente forçado a amadurecer para assim sobreviver, e por consequência,
emancipou sua infância. “Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os
trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de
chefe.” (Ibid, p.27).
2. Meio
“O meio é forte contribuinte para o desenvolvimento de uma personalidade,
a pessoa que vive em determinado ambiente tem grande propensão a seguir
comportamentos referidos ao lugar que está inserida.” (OLIVEIRA, 2016, p.30).
Esses elementos englobam tanto os locais em que as histórias se passam, quanto
o grupo em que os protagonistas estão inseridos, incluídas também as ameaças
presentes nesses ambientes, sendo em Capitães da Areia a polícia e em Peter Pan,
os piratas.
O local de moradia dos capitães da areia é chamado de trapiche, onde eles
refugiam-se da polícia e da população de Salvador. O lugar consiste em um teto
esburacado e a esterilidade da areia que simboliza a esterilidade de suas vidas.
8
“uma grande parte do Capitães da Areia dormia no velho trapiche abandonado, em
companhia dos ratos, sob a lua amarela.” (AMADO, 2009, p.26).
No trapiche, não há fadas a recorrer quando os meninos precisam de atenção
e distração, não há consolo algum por parte daquele local. Mesmo a insegurança
de que nunca irão ser descobertos existe, pois eles estão sempre preparados para
fugir caso necessário, e são bastante cautelosos para que ninguém os ache ali.
Já a Terra do Nunca é o abrigo em que os meninos perdidos moram. Lá,
pode-se voar, dançar e cantar. A natureza abriga cuidadosamente os meninos,
escondendo-os dos piratas.
Segundo Curvello (2010, p.5), o esconderijo dos meninos perdidos é uma
conotação simbólica à ideia de inconsciente, por ser localizado no subterrâneo.
Essa análise é também justificada pelo espaço ser adequado somente a crianças,
dado que para entrar lá é necessário passar na circunferência de um tronco de
árvore, e a casa em si não é alta suficiente para caber um adulto em pé. Esse
espaço serve de armadura para os garotos, trazendo-os à segurança do lar.
Portanto, o inconsciente desses meninos é a escapatória da realidade, que é
simbolicamente representado pelo esconderijo subterrâneo.
Essa proteção é uma necessidade de todos os meninos, em substituição à
proteção que teriam em suas casas. Algo que para os capitães da areia, esse
sentimento de segurança provido pelo lar é ausente.
9
2.1 Antagonistas
Pode-se perceber que os antagonistas são representados de forma a seguir
a proposta de cada um dos autores. Os piratas, em Peter Pan, habitam na Ilha da
Terra do Nunca, junto com os meninos perdidos e Peter Pan. Eles estão presentes
na maior parte das brincadeiras de Peter e seu bando.
O líder dos piratas, Capitão Gancho, é o inimigo caricato de Peter Pan,
representando o mal que equilibra e contrapõe-se com as forças do bem, no caso,
os meninos perdidos. Apesar de o grupo de Peter Pan ser perseguido pelos piratas,
representando a visão de uma criança, todos os conflitos gerados na narrativa são
interpretados por Peter Pan como parte de uma brincadeira. Afinal sua realidade
consiste em lidar com os enigmas propostos pelo divertimento infantil, que no olhar
de um adulto, são problemas considerados banais e irrelevantes. Muitas vezes ele
não se dá conta da responsabilidade que as possíveis consequências desses
conflitos geram, chegando a provocar mortes que não são dadas relevância. “O
número de meninos na ilha é variado, é claro, conforme eles vão morrendo e coisa
e tal” (BARRIE, 2012, p.84).
O simbolismo da presença dos piratas, mais precisamente o Capitão
Gancho, é o conceito personificado do comportamento esperado de um adulto
civilizado para a sociedade britânica da época. “Já me disseram um grande
raconteur1
... a elegância de sua dicção, até quando falava palavrões, assim como a
superioridade de seu comportamento mostravam que ele não era da laia de sua
tripulação.” (BARRIE, 2012, p. 20). Afinal, Gancho tem uma obsessão repulsiva por
Peter Pan, por ser o influenciador de maus comportamentos (conduta infantil e
1
Tradução inglês-português: contador de histórias (CAMBRIDGE, 2019)
10
espontânea, sem amarras a regras de conduta social, como a etiqueta) a outras
crianças. Portanto, o protagonista é a representação de uma ameaça a esse modo.
Por outro lado, para Peter Pan, Gancho representa o pensamento que Barrie
critica, visto que ele tem a perfeita conduta social, tradição e boas maneiras. Além
disso, Gancho sonha em amarrar as crianças que são livres desse pensamento. Por
isso, seu principal objetivo é matar Peter Pan, porque é ele quem conduz as
crianças a esse mundo de liberdade e fantasia.
Por mais que Gancho seja a personificação da boa conduta e combate
aqueles que não a tem, Barrie demonstra como essa ideologia torna o capitão
escravo dela. O maior medo de Gancho na narrativa é o crocodilo. Gancho sabe
quando ele está se aproximando, pois esse animal emite o barulho de um relógio.
Esse barulho é apavorante para Gancho, tendo com simbolismo o aprisionamento
que o controle excessivo do tempo traz.
–Com isso, antes de ele conseguir chegar perto de mim, ouço o tic-tac e saio
correndo – Gancho riu, mas sem alegria.
– Um dia a corda do relógio vai acabar, e aí ele vai pegar o senhor – disse Barrica.
Gancho molhou os lábios ressecados.
– É – disse ele. – Esse é o medo que me persegue. (BARRIE, 2012, p.22)
Em contraponto, em Capitães da Areia, a polícia representa o mal, ela não
assume uma conotação tão simbólica quanto o mal em Peter Pan, já que nenhum
de seus conflitos com o grupo de Pedro Bala é visto como uma brincadeira. A
consequência desses conflitos tem como resultado sequelas graves, como o
encarceramento dos menores, a violência física ou até a morte. Por exemplo, o pai
11
de Pedro Bala é morto pela polícia durante uma greve em prol da igualdade social,
deixando Pedro órfão com apenas cinco anos.
Na visão de Amado, a sociedade demonstra repúdio e ausência de
compaixão por esses meninos, além do abandono também por parte do Estado,
tendo como braço opressor os policiais, que são aqueles que os perseguem,
oprimem e sadicamente os agridem.
Apesar disso, o conceito caricato de bem e mal não é tão bem definido como
em Peter Pan. Em se tratando de um relato mais fiel à realidade, a realidade
apresentada pelos capitães da areia na narrativa leva a considerá-los como parte
do bem, apesar de ser ciência do leitor que esses meninos cometem delitos como
furtos, agressões, roubos e chegam a até praticar estupros. “Eles furtavam,
brigavam nas ruas, xingavam nomes, derrubavam negrinhas no areal, por vezes
feriam com navalhas ou punhal homens e polícias. Mas, no entanto, eram bons, uns
eram amigos dos outros.” (AMADO, 2009, p.106).
3. Personagens secundárias
O grupo que Peter Pan lidera, os meninos perdidos, são crianças que fizeram
a escolha de deixar seus lares, para viverem no mundo onde a fantasia e a liberdade
dão espaço à criatividade e a muita diversão. Eles, quando se juntam a Peter Pan,
esquecem de suas origens e genitores para assim viverem sem amarras ao
passado, e, portanto, nunca amadurecem.
Por mais que todos eles sigam essas poucas regras que Peter Pan lhes
impõem, existe ainda um resquício de apego à realidade. Ao fim da narrativa, esse
12
vestígio de realidade os faz perceber que necessitam amadurecer, e, portanto, sair
da Terra do Nunca. "... a diferença entre Peter e os outros meninos é que estes
sabiam que aquilo tudo era um faz de conta" (BARRIE, 2012, p.102).
Já os capitães da areia acabam não possuindo a mesma escolha de ir à Terra
do Nunca em busca de um escape psicológico. A dura realidade lhes impõe o papel
de crianças criminosas.
Segundo Oliveira (2016, p.36), Amado compõe os membros dos capitães da
areia com características de personalidade avessas às normas e disciplinas que
cerceiam e limitam a capacidade da imaginação, constatação ou criação. Como
foram criados na rua, eles adquiriram a capacidade dos adultos de ludibriar,
enganar, e dissimular, mediante a necessidade de sua sobrevivência como
indivíduos e como um grupo.
Apesar disso, eles continuam sendo crianças, aprendem a valorizar uns aos
outros como no trecho proferido por Pedro Bala: "Quando se é amigo, se serve ao
amigo" (AMADO, 2009, p.94), e enchendo o espaço hostil, no qual habitam, com
suas risadas.
3.1 Personagens femininas
Ambas as figuras femininas abordam a questão da função da menina
(mulher) na sociedade, na qual assumem esse dever ainda jovens em decorrência
de uma necessidade do meio. Elas se estendem, em comparação às outras
crianças órfãs, uma vez que, além dos questionamentos e decisões que tomam por
não se encaixarem no padrão psicológico que lhes é imposto, e/ou condição de
abandono, ainda procuram compreender seus papéis sociais como mulheres.
13
Elas aderem ao bando pela necessidade de escape psicológico e físico da
sociedade. E, por mais que no início elas tenham sofrido para adentrar nessa nova
realidade, ambas são bem acolhidas por todos, visto que sua presença influencia
positivamente o grupo, provendo-lhes atenção, cuidado e carinho, e amenizando o
sentimento de abandono que tinham. Em Peter Pan pouco detalhe e foco são dados
a essas sensações, já que na visão de Peter, que é a perspectiva do narrador
também, os sentimentos não são compreendidos.
Pedro se aproximou de Dora:
–Tem medo, não. Ninguém toca em você.
….
Depois disse para todos:
– Amanhã ela vai embora. Não quero menina aqui.
– Não – disse Dora – Eu fico, ajudo vocês… Eu sei cozinhar, coser, lavar roupa.
(AMADO, 2009, p.173).
Tanto Dora como Wendy completam o equilíbrio do masculino e feminino na
narrativa, além de representarem a mudança e a volta à realidade. Elas mudam o
percurso de vida seguido pelos protagonistas, trazendo o amadurecimento para
eles, para o grupo e, consequentemente, para a narrativa. Esse retorno à realidade
não é exposto pelos autores como uma aceitação daquilo que estavam criticando
até então. Ele é interpretado como um enfrentamento do fato de forma a confrontá-
lo, ao invés de buscar o escape dele.
O amadurecimento de Pedro trazido pela passagem de Dora em sua vida é
expresso quando ele, ao fim da narrativa, encerra suas atividades de líder dos
capitães da areia, para seguir os passos de seu pai, engajando-se em lutas a favor
de minorias. Ele compreende qual é o melhor caminho a ser seguido, aliando sua
força de vontade, raiva, energia, caráter e tudo aquilo que adquiriu vivendo nas ruas,
14
por uma causa que lhe fazia mais sentido. "A revolução chama Pedro Bala como
Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche. É uma voz poderosa dentro dele..."
(AMADO, 2009, p.266).
Semelhante a isso, a saída de Wendy da vida de Peter lhe abre espaço para
também seguir sua ideologia, na qual busca crianças que necessitam do seu apoio
para fugir das amarras psicológicas e entregarem-se à fantasia. Além disso, por
mais que Peter Pan não apresente traços de maturidade, ele faz uma escolha de
se separar de Wendy e consequentemente não crescer. Essa opção de Peter Pan
demonstra a primeira passagem da história, em que ele questiona seu caminho de
vida e precisa decidir quais são suas prioridades, entre continuar na fantasia da
Terra do Nunca ou ir viver com Wendy.
Quanto a Peter, ele viu Wendy mais uma vez antes de sair voando.
...
– Peter – disse Wendy, com a voz trêmula –, você não acha que gostaria de
conversar com os meus pais sobre um assunto muito delicado?
– Não.
(BARRIE, 2012, p.208)
Wendy também redireciona o caminho seguido pelos meninos perdidos, que,
ao contrário de Peter Pan, resolvem ir morar com Wendy.
A escolha de vida dos meninos é interpretada como negativa por Barrie,
porquanto rapidamente os meninos se esquecem da fantasia e perdem suas
próprias peculiaridades e características individuais. Eles passam a cumprir papéis
sociais comuns. "Todos os dias os Gêmeos, Bico e Caracol vão para um escritório,
cada um carregando uma pasta e um guarda-chuva." (BARRIE, 2012, p.212).
15
Mesmo tendo voltado para casa, Wendy promete voltar para a Terra do
Nunca toda primavera, para fazer uma faxina. Esse trato torna-se a única ligação
de Peter Pan com a realidade. Porém, ele acaba não voltando mais que duas vezes
para buscá-la, porque possui uma memória muito curta e não usa do tempo
convencional. Wendy cresce e casa-se. Um dia, quando Peter volta, depara-se com
Wendy casada, ele assusta-se e chora de dor.
Esse choque é muito forte para ele, pois percebe que ela já não divide mais
seu mundo com ele. Porém, Wendy permite que sua filha a substitua na faxina. Esse
ciclo continua com a filha de sua filha e assim por diante.
Percebemos, portanto, uma mudança iniciada por Wendy, que, ao permitir
sua filha cultivar o devaneio e a liberdade para o mundo da fantasia, encontra uma
nova forma de criação em meio a essa sociedade, que mantinha seu sistema de
ensino muito padronizado e rigoroso. Esse conceito consiste na liberdade das
crianças e dos adultos de manterem contato com o universo imaginário, explorar
suas capacidades criativas sem o compromisso com regras de conduta social.
4. Protagonistas
Tanto Peter quanto Pedro são considerados crianças incompreendidas pela
sociedade, que possuem um mesmo ideal de pensamento e conduta que é fora do
padrão social esperado. Os dois possuem uma história de vida um tanto inusitadas,
sendo esse o ponto mais atrativo das obras. Apesar de ambos não viverem em uma
infância convencional, ainda sim são crianças, que apenas tiveram que adaptar-se
à realidade que depararam na vida.
16
Criança é tudo aquilo que é abandonado e enjeitado, e ao mesmo tempo possui
poder divino: o começo insignificante e duvidoso e o fim triunfal. A "criança eterna"
presente no homem é uma experiência indescritível, é uma incongruência, uma
excepcionalidade, e uma prerrogativa divina; é um fator imponderável que determina
a importância decisiva ou a desimportância de uma personalidade. (JUNG apud
TEIXEIRA, 2008, p.60).
Segundo Curvello (2010, p.3), Peter e Pedro assemelham-se no nome,
ambos derivados do latim Petrus, substantivo masculino de petra, que significa
pedra, rocha. Barrie e Amado trouxeram esse nome, visto que simboliza a recusa
de subordinar-se às convenções, a liberdade do indivíduo propriamente dita,
transmite à ideia de pedra dura. Ambos mantêm a sinceridade, fidelidade à amizade
e honestidade, como valores próprios.
Os semelhantes nomes dos protagonistas, Pedro e Peter, possuem o sentido
oposto à talhado que dá o sentido de servidão, cristalização e sedentarismo. Assim
como Jesus que deu o nome a seu discípulo de Pedro, porque ele que é a "pedra
angular de sua igreja". Este discípulo que fundou, tanto no sentido simbólico, quanto
no literal, a Igreja Católica Apostólica Romana (Ibid, p.3).
Já o segundo nome diverge para cada protagonista. Os extremos de real e
místico, que determinam a principal diferença, entre eles é claramente destacada.
Pan é o deus grego da natureza, paganismo e mundo amoral. (BARRIE apud LINS,
2012, p.27) Ele é o deus dos bosques e dos campos, perambula em vales e
montanhas. Vive com as ninfas e dedica-se à atividade da caça. Todos esses
atributos são muito semelhantes às qualidades de Peter Pan, nas quais ele vive na
Terra do Nunca, com fadas e seres místicos, e acaba tornando-se o protetor da ilha,
já que sem sua presença, não há quem dê vida e memórias a ela. “Mas com a vinda
17
de Peter, eles todos se animam de novo: se você encostar o ouvido no chão agora,
vai escutar a ilha inteira fervilhando de vida.” (BARRIE, 2012, p.83)
Segundo Teixeira (2015, p.60), outra referência mitológica de Peter Pan é
feita sobre a imagem do Cupido. Ele é caracterizado pela sua postura destemida,
atrevida e travessa. Sua presença tende a encantar uns e aterrorizar outros,
porquanto possui uma essência que não é afetada pelo pessimismo, não há
maldade propriamente dita, assim como a alma de uma criança. E o último ser
mitológico grego que formou a personalidade de Peter é Dionísio, ou também Puer
Aeternus, que simboliza a astúcia, a alegria, e a essência da eterna juventude (Ibid,
p.59).
Todas essas referências que Barrie utilizou na formação da personagem
Peter Pan ajudam a reforçar sua personalidade, que é avessa à expectativa de
conduta social.
Já o segundo nome de Pedro, Bala, não carrega referências mitológicas. Ele
é mais direto na análise, correspondendo à dualidade do seu conflito interno entre
a infância e a dureza de sua realidade, que o afasta de sua criança interior. Bala é
tanto o doce que agrada as crianças quanto a munição que representa a violência
fatal.
Pedro Bala demonstra-se o oposto de Peter Pan na criação do mito, visto
que assim Amado aproxima-se da sua intenção de narrar a realidade. Apesar disso,
Pedro torna-se o símbolo da resistência de menores abandonados com mentes
independentes e destaca-se na figura que aclama por um mundo mais justo e
igualitário.
18
Assim como Peter Pan, ele também foge dos critérios morais, sociais e reais
da sociedade em que vivem. Em parte, atingem esse estado porque, devido à
ausência de pais e estrutura social, não possuem contato com o sistema de ensino.
As instituições de ensino tendiam a ser o elemento principal da doutrinação do
estado no pensamento e repressão psicológica. Barrie e Amado viviam em
sociedades nas quais o Estado usava mecanismos para manter o pensamento
coletivo sob controle, a fim de se manterem no poder (CURVELLO, 2010, p.2).
19
Conclusão
A conclusão desse trabalho é composta da união dos elementos em comum
de ambas as narrativas, que juntos tecem as mensagens das obras e respondem a
pergunta investigativa: "Em que medida as obras Capitães da Areia, de Jorge
Amado, e Peter Pan, de James Barrie, intertextualizam-se na crítica ao
contexto social em que estão inseridas?".
Apesar de ambos os autores estarem inseridos em comunidades
geograficamente distantes, e de não haver registros que comprovem algum contato
entre Amado e Barrie, foi possível assemelhar o objetivo das duas obras. Por meio
dos elementos que compõem as narrativas, como os protagonistas, as personagens
secundárias, as figuras femininas e o meio em que todos esses personagens se
inserem, percebe-se que esses se comunicam, assemelhando-se ou contrapondo-
se.
Para Barrie e Amado, a principal crítica é mostrar a perspectiva do universo
infantil, a respeito da sociedade e a pressão que ela estava exercendo sobre as
crianças. Segundo as obras, a educação e a forma como a sociedade estava
acolhendo os jovens não estava impactando-os positivamente. Tanto Peter Pan
quanto Pedro Bala buscam seus meios de reagir e protestar contra essas situações,
tornando-se líderes e símbolos da representatividade e resistência da diversidade
e da liberdade de apenas ser.
20
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TEIXEIRA, Sonaira; SILVA Rosana Rodrigues da. Peter Pan: O mito da eterna
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Acesso em: 24 ago. 2019.

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Críticas sociais em Capitães e Peter Pan

  • 1. Análise comparativa: Intertextualização das críticas sociais nas obras Capitães da Areia e Peter Pan Em que medida as obras Capitães da Areia, de Jorge Amado, e Peter Pan, de James Barrie, intertextualizam-se na crítica ao contexto social em que estão inseridas? Português A - Literatura – categoria 2 Contagem de palavras: 4000
  • 2. 2 Índice Capa 1 Índice 2 Introdução 3 Desenvolvimento 5 1. Contexto e objetivo das obras 5 2. Meio 7 2.1 Antagonistas 9 3. Personagens secundárias 11 3.1 Personagens femininas 12 4. Protagonistas 15 Conclusão 19 Referências bibliográficas 20
  • 3. 3 Introdução Essa monografia tem como principal objetivo fazer um estudo comparativo entre o romance brasileiro Capitães da Areia, de Jorge Amado, e o conto de fadas pertencente a literatura infantil britânica Peter Pan, de James Barrie. Ambas as obras tecem uma crítica semelhante à sociedade, utilizando-se de um protagonista masculino e jovem-adulto para criticar a forma como crianças eram acolhidas e educadas em seus respectivos contextos sociais. Sendo assim, essa curiosa incidência levou ao aprofundamento dessa análise literária comparativa de pergunta norteadora: "Em que medida as obras Capitães da Areia, de Jorge Amado, e Peter Pan, de James Barrie, intertextualizam-se na crítica ao contexto social em que estão inseridas?". O desenvolvimento da investigação inicia-se com a análise dos ambientes nos quais Barrie e Amado tecem suas histórias. É abordada a forma como cada autor se apropria da narrativa para cumprir com seu objetivo na transmissão da mensagem desejada. Após a análise do ambiente, serão discutidos os meios nos quais as histórias se passam. Dentro da análise do meio, a presença do mal também é destacada, representados pelos vilões. Os antagonistas se inserem no cenário de ambas as obras contrapondo-se com o bem, que são representados pelos protagonistas e o grupo que se inserem. Em ambas as narrativas, os autores utilizam o maniqueísmo para criarem os conflitos da história e para simbolicamente representarem alguns elementos caricatos da sociedade. Em seguida, as personagens secundárias ganham voz. Nesta parte, destacam-se suas contribuições para o enriquecimento da crítica. Em especial, são
  • 4. 4 analisadas as figuras femininas de cada obra. O conceito de infância é também discutido por diferentes perspectivas, utilizando-se sempre a visão de Barrie e Amado para diferentes caminhos que algumas das personagens secundárias tomam. Além disso, destaca-se a influência das personagens femininas sobre os demais personagens, principalmente em suas trajetórias de vida. Por fim, tece-se a análise das características psíquicas dos protagonistas, suas semelhanças, contrapontos e representações. A pesquisa possui como desfecho a união de todos os elementos discutidos anteriormente, que por meio da análise minuciosa de elementos das narrativas, compuseram a mensagem geral dos romances. A finalidade dos autores para com seus protagonistas é destacada, relevando suas importâncias à sociedade pós- industrial, sendo esse também, o ponto principal no qual as narrativas se convergem.
  • 5. 5 Desenvolvimento 1. Contexto e objetivo das obras Peter Pan, de James Barrie, e Capitães da Areia, de Jorge Amado são romances de sociedades muito distintas, afinal Peter Pan faz parte de um clássico conto de fadas britânico, popularizado mundialmente quando foi adaptado para as telas de cinema como desenho animado. Já Capitães da Areia é um romance brasileiro pertencente ao período literário chamado de Modernismo, sendo uma das obras mais representativas do período. A narrativa de Barrie foge do compromisso com a realidade, na qual fadas, piratas, terras perdidas e muita imaginação tomam conta das páginas. Na obra de Jorge Amado, é demonstrada a dura realidade de um grupo de crianças abandonadas que se sustentavam de roubos em Salvador, Bahia, longe do foco da capital mundial da industrialização, Londres, na qual a história de Peter Pan é contada. Apesar de parecer que não há ligações entre os romances, é possível perceber, que o objetivo dos autores se assemelha. Ambos escreveram suas obras com o objetivo principal de criticar a forma como as crianças estavam sendo educadas e acolhidas na sociedade. Peter Pan é escrito em terceira pessoa sendo o narrador onisciente. Apesar disso, a história é narrada na visão de mundo do protagonista, que vem de uma alta classe social e foi abandonado pelos pais por não se encaixar no modelo de pensamento que lhe fora imposto. Naturalmente, Peter Pan acaba criando e fechando-se no seu próprio universo que é cheio de elementos místicos e que fogem da necessidade de entender o mundo de uma maneira lógica e convencional.
  • 6. 6 pois a Terra do Nunca é sempre mais ou menos uma ilha, com pinceladas maravilhosas de cor aqui e ali, e recifes de coral e barcos velozes prontos para zarpar, e esconderijos selvagens e secretos, e gnomos que quase sempre são alfaiates, e cavernas atravessadas por rios, e príncipes com seis irmãos mais velhos, e uma cabana caindo aos pedaços, e uma velinha bem baixinha com nariz de gavião. (BARRIE, 2012, p.25) É comum uma criança imaginar o mundo de uma maneira diferente, de um modo não-convencional, não havendo, portanto, os conceitos morais de certo e errado, real ou irreal. A crítica é feita baseada em um modelo de pensamento industrial. Por exemplo, o protagonista da obra, Peter Pan, é caracterizado pela sua postura atrevida e conduta infantil, que entra em conflito com as convenções esperadas em uma sociedade conservadora e moldada pelos valores de uma comunidade recém-industrializada, dado que somente assim se era considerado um ser respeitável. Por isso que Peter Pan escapa da realidade para adentrar no seu próprio mundo, a Terra do Nunca, em que o próprio nome sugere uma fuga da realidade. Esse escape da personagem o impede de lidar com as dificuldades da vida, deixando-o eternamente imaturo. A forma como a história é contada assemelha-se ao seu conteúdo, pois o gênero literário, conto de fadas, é de fácil compreensão e apresenta símbolos e arquétipos que auxiliam no significado da mensagem da obra. Sendo dessa maneira, também, o jeito que o protagonista enxerga o mundo: de uma forma simples e bastante fantasiosa, carregada de simbolismos. Já na história de Amado, há um compromisso maior com a realidade, embora de aspecto ficcional. O narrador é em terceira pessoa e onisciente, e para a
  • 7. 7 mensagem ser passada de forma mais clara, não houve espaço para a criação da fantasia, visto que a intenção de Jorge Amado era justamente trazer mais para perto do leitor, a realidade em que muitas crianças abandonadas, beirando a marginalização e no convívio com violência, viviam. “Vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro” (AMADO, 2009, p.27). O protagonista, Pedro Bala, é o líder dos capitães da areia, grupo em que todos são órfãos e moram juntos no trapiche. Ao contrário de Peter Pan, Pedro foi precocemente forçado a amadurecer para assim sobreviver, e por consequência, emancipou sua infância. “Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe.” (Ibid, p.27). 2. Meio “O meio é forte contribuinte para o desenvolvimento de uma personalidade, a pessoa que vive em determinado ambiente tem grande propensão a seguir comportamentos referidos ao lugar que está inserida.” (OLIVEIRA, 2016, p.30). Esses elementos englobam tanto os locais em que as histórias se passam, quanto o grupo em que os protagonistas estão inseridos, incluídas também as ameaças presentes nesses ambientes, sendo em Capitães da Areia a polícia e em Peter Pan, os piratas. O local de moradia dos capitães da areia é chamado de trapiche, onde eles refugiam-se da polícia e da população de Salvador. O lugar consiste em um teto esburacado e a esterilidade da areia que simboliza a esterilidade de suas vidas.
  • 8. 8 “uma grande parte do Capitães da Areia dormia no velho trapiche abandonado, em companhia dos ratos, sob a lua amarela.” (AMADO, 2009, p.26). No trapiche, não há fadas a recorrer quando os meninos precisam de atenção e distração, não há consolo algum por parte daquele local. Mesmo a insegurança de que nunca irão ser descobertos existe, pois eles estão sempre preparados para fugir caso necessário, e são bastante cautelosos para que ninguém os ache ali. Já a Terra do Nunca é o abrigo em que os meninos perdidos moram. Lá, pode-se voar, dançar e cantar. A natureza abriga cuidadosamente os meninos, escondendo-os dos piratas. Segundo Curvello (2010, p.5), o esconderijo dos meninos perdidos é uma conotação simbólica à ideia de inconsciente, por ser localizado no subterrâneo. Essa análise é também justificada pelo espaço ser adequado somente a crianças, dado que para entrar lá é necessário passar na circunferência de um tronco de árvore, e a casa em si não é alta suficiente para caber um adulto em pé. Esse espaço serve de armadura para os garotos, trazendo-os à segurança do lar. Portanto, o inconsciente desses meninos é a escapatória da realidade, que é simbolicamente representado pelo esconderijo subterrâneo. Essa proteção é uma necessidade de todos os meninos, em substituição à proteção que teriam em suas casas. Algo que para os capitães da areia, esse sentimento de segurança provido pelo lar é ausente.
  • 9. 9 2.1 Antagonistas Pode-se perceber que os antagonistas são representados de forma a seguir a proposta de cada um dos autores. Os piratas, em Peter Pan, habitam na Ilha da Terra do Nunca, junto com os meninos perdidos e Peter Pan. Eles estão presentes na maior parte das brincadeiras de Peter e seu bando. O líder dos piratas, Capitão Gancho, é o inimigo caricato de Peter Pan, representando o mal que equilibra e contrapõe-se com as forças do bem, no caso, os meninos perdidos. Apesar de o grupo de Peter Pan ser perseguido pelos piratas, representando a visão de uma criança, todos os conflitos gerados na narrativa são interpretados por Peter Pan como parte de uma brincadeira. Afinal sua realidade consiste em lidar com os enigmas propostos pelo divertimento infantil, que no olhar de um adulto, são problemas considerados banais e irrelevantes. Muitas vezes ele não se dá conta da responsabilidade que as possíveis consequências desses conflitos geram, chegando a provocar mortes que não são dadas relevância. “O número de meninos na ilha é variado, é claro, conforme eles vão morrendo e coisa e tal” (BARRIE, 2012, p.84). O simbolismo da presença dos piratas, mais precisamente o Capitão Gancho, é o conceito personificado do comportamento esperado de um adulto civilizado para a sociedade britânica da época. “Já me disseram um grande raconteur1 ... a elegância de sua dicção, até quando falava palavrões, assim como a superioridade de seu comportamento mostravam que ele não era da laia de sua tripulação.” (BARRIE, 2012, p. 20). Afinal, Gancho tem uma obsessão repulsiva por Peter Pan, por ser o influenciador de maus comportamentos (conduta infantil e 1 Tradução inglês-português: contador de histórias (CAMBRIDGE, 2019)
  • 10. 10 espontânea, sem amarras a regras de conduta social, como a etiqueta) a outras crianças. Portanto, o protagonista é a representação de uma ameaça a esse modo. Por outro lado, para Peter Pan, Gancho representa o pensamento que Barrie critica, visto que ele tem a perfeita conduta social, tradição e boas maneiras. Além disso, Gancho sonha em amarrar as crianças que são livres desse pensamento. Por isso, seu principal objetivo é matar Peter Pan, porque é ele quem conduz as crianças a esse mundo de liberdade e fantasia. Por mais que Gancho seja a personificação da boa conduta e combate aqueles que não a tem, Barrie demonstra como essa ideologia torna o capitão escravo dela. O maior medo de Gancho na narrativa é o crocodilo. Gancho sabe quando ele está se aproximando, pois esse animal emite o barulho de um relógio. Esse barulho é apavorante para Gancho, tendo com simbolismo o aprisionamento que o controle excessivo do tempo traz. –Com isso, antes de ele conseguir chegar perto de mim, ouço o tic-tac e saio correndo – Gancho riu, mas sem alegria. – Um dia a corda do relógio vai acabar, e aí ele vai pegar o senhor – disse Barrica. Gancho molhou os lábios ressecados. – É – disse ele. – Esse é o medo que me persegue. (BARRIE, 2012, p.22) Em contraponto, em Capitães da Areia, a polícia representa o mal, ela não assume uma conotação tão simbólica quanto o mal em Peter Pan, já que nenhum de seus conflitos com o grupo de Pedro Bala é visto como uma brincadeira. A consequência desses conflitos tem como resultado sequelas graves, como o encarceramento dos menores, a violência física ou até a morte. Por exemplo, o pai
  • 11. 11 de Pedro Bala é morto pela polícia durante uma greve em prol da igualdade social, deixando Pedro órfão com apenas cinco anos. Na visão de Amado, a sociedade demonstra repúdio e ausência de compaixão por esses meninos, além do abandono também por parte do Estado, tendo como braço opressor os policiais, que são aqueles que os perseguem, oprimem e sadicamente os agridem. Apesar disso, o conceito caricato de bem e mal não é tão bem definido como em Peter Pan. Em se tratando de um relato mais fiel à realidade, a realidade apresentada pelos capitães da areia na narrativa leva a considerá-los como parte do bem, apesar de ser ciência do leitor que esses meninos cometem delitos como furtos, agressões, roubos e chegam a até praticar estupros. “Eles furtavam, brigavam nas ruas, xingavam nomes, derrubavam negrinhas no areal, por vezes feriam com navalhas ou punhal homens e polícias. Mas, no entanto, eram bons, uns eram amigos dos outros.” (AMADO, 2009, p.106). 3. Personagens secundárias O grupo que Peter Pan lidera, os meninos perdidos, são crianças que fizeram a escolha de deixar seus lares, para viverem no mundo onde a fantasia e a liberdade dão espaço à criatividade e a muita diversão. Eles, quando se juntam a Peter Pan, esquecem de suas origens e genitores para assim viverem sem amarras ao passado, e, portanto, nunca amadurecem. Por mais que todos eles sigam essas poucas regras que Peter Pan lhes impõem, existe ainda um resquício de apego à realidade. Ao fim da narrativa, esse
  • 12. 12 vestígio de realidade os faz perceber que necessitam amadurecer, e, portanto, sair da Terra do Nunca. "... a diferença entre Peter e os outros meninos é que estes sabiam que aquilo tudo era um faz de conta" (BARRIE, 2012, p.102). Já os capitães da areia acabam não possuindo a mesma escolha de ir à Terra do Nunca em busca de um escape psicológico. A dura realidade lhes impõe o papel de crianças criminosas. Segundo Oliveira (2016, p.36), Amado compõe os membros dos capitães da areia com características de personalidade avessas às normas e disciplinas que cerceiam e limitam a capacidade da imaginação, constatação ou criação. Como foram criados na rua, eles adquiriram a capacidade dos adultos de ludibriar, enganar, e dissimular, mediante a necessidade de sua sobrevivência como indivíduos e como um grupo. Apesar disso, eles continuam sendo crianças, aprendem a valorizar uns aos outros como no trecho proferido por Pedro Bala: "Quando se é amigo, se serve ao amigo" (AMADO, 2009, p.94), e enchendo o espaço hostil, no qual habitam, com suas risadas. 3.1 Personagens femininas Ambas as figuras femininas abordam a questão da função da menina (mulher) na sociedade, na qual assumem esse dever ainda jovens em decorrência de uma necessidade do meio. Elas se estendem, em comparação às outras crianças órfãs, uma vez que, além dos questionamentos e decisões que tomam por não se encaixarem no padrão psicológico que lhes é imposto, e/ou condição de abandono, ainda procuram compreender seus papéis sociais como mulheres.
  • 13. 13 Elas aderem ao bando pela necessidade de escape psicológico e físico da sociedade. E, por mais que no início elas tenham sofrido para adentrar nessa nova realidade, ambas são bem acolhidas por todos, visto que sua presença influencia positivamente o grupo, provendo-lhes atenção, cuidado e carinho, e amenizando o sentimento de abandono que tinham. Em Peter Pan pouco detalhe e foco são dados a essas sensações, já que na visão de Peter, que é a perspectiva do narrador também, os sentimentos não são compreendidos. Pedro se aproximou de Dora: –Tem medo, não. Ninguém toca em você. …. Depois disse para todos: – Amanhã ela vai embora. Não quero menina aqui. – Não – disse Dora – Eu fico, ajudo vocês… Eu sei cozinhar, coser, lavar roupa. (AMADO, 2009, p.173). Tanto Dora como Wendy completam o equilíbrio do masculino e feminino na narrativa, além de representarem a mudança e a volta à realidade. Elas mudam o percurso de vida seguido pelos protagonistas, trazendo o amadurecimento para eles, para o grupo e, consequentemente, para a narrativa. Esse retorno à realidade não é exposto pelos autores como uma aceitação daquilo que estavam criticando até então. Ele é interpretado como um enfrentamento do fato de forma a confrontá- lo, ao invés de buscar o escape dele. O amadurecimento de Pedro trazido pela passagem de Dora em sua vida é expresso quando ele, ao fim da narrativa, encerra suas atividades de líder dos capitães da areia, para seguir os passos de seu pai, engajando-se em lutas a favor de minorias. Ele compreende qual é o melhor caminho a ser seguido, aliando sua força de vontade, raiva, energia, caráter e tudo aquilo que adquiriu vivendo nas ruas,
  • 14. 14 por uma causa que lhe fazia mais sentido. "A revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche. É uma voz poderosa dentro dele..." (AMADO, 2009, p.266). Semelhante a isso, a saída de Wendy da vida de Peter lhe abre espaço para também seguir sua ideologia, na qual busca crianças que necessitam do seu apoio para fugir das amarras psicológicas e entregarem-se à fantasia. Além disso, por mais que Peter Pan não apresente traços de maturidade, ele faz uma escolha de se separar de Wendy e consequentemente não crescer. Essa opção de Peter Pan demonstra a primeira passagem da história, em que ele questiona seu caminho de vida e precisa decidir quais são suas prioridades, entre continuar na fantasia da Terra do Nunca ou ir viver com Wendy. Quanto a Peter, ele viu Wendy mais uma vez antes de sair voando. ... – Peter – disse Wendy, com a voz trêmula –, você não acha que gostaria de conversar com os meus pais sobre um assunto muito delicado? – Não. (BARRIE, 2012, p.208) Wendy também redireciona o caminho seguido pelos meninos perdidos, que, ao contrário de Peter Pan, resolvem ir morar com Wendy. A escolha de vida dos meninos é interpretada como negativa por Barrie, porquanto rapidamente os meninos se esquecem da fantasia e perdem suas próprias peculiaridades e características individuais. Eles passam a cumprir papéis sociais comuns. "Todos os dias os Gêmeos, Bico e Caracol vão para um escritório, cada um carregando uma pasta e um guarda-chuva." (BARRIE, 2012, p.212).
  • 15. 15 Mesmo tendo voltado para casa, Wendy promete voltar para a Terra do Nunca toda primavera, para fazer uma faxina. Esse trato torna-se a única ligação de Peter Pan com a realidade. Porém, ele acaba não voltando mais que duas vezes para buscá-la, porque possui uma memória muito curta e não usa do tempo convencional. Wendy cresce e casa-se. Um dia, quando Peter volta, depara-se com Wendy casada, ele assusta-se e chora de dor. Esse choque é muito forte para ele, pois percebe que ela já não divide mais seu mundo com ele. Porém, Wendy permite que sua filha a substitua na faxina. Esse ciclo continua com a filha de sua filha e assim por diante. Percebemos, portanto, uma mudança iniciada por Wendy, que, ao permitir sua filha cultivar o devaneio e a liberdade para o mundo da fantasia, encontra uma nova forma de criação em meio a essa sociedade, que mantinha seu sistema de ensino muito padronizado e rigoroso. Esse conceito consiste na liberdade das crianças e dos adultos de manterem contato com o universo imaginário, explorar suas capacidades criativas sem o compromisso com regras de conduta social. 4. Protagonistas Tanto Peter quanto Pedro são considerados crianças incompreendidas pela sociedade, que possuem um mesmo ideal de pensamento e conduta que é fora do padrão social esperado. Os dois possuem uma história de vida um tanto inusitadas, sendo esse o ponto mais atrativo das obras. Apesar de ambos não viverem em uma infância convencional, ainda sim são crianças, que apenas tiveram que adaptar-se à realidade que depararam na vida.
  • 16. 16 Criança é tudo aquilo que é abandonado e enjeitado, e ao mesmo tempo possui poder divino: o começo insignificante e duvidoso e o fim triunfal. A "criança eterna" presente no homem é uma experiência indescritível, é uma incongruência, uma excepcionalidade, e uma prerrogativa divina; é um fator imponderável que determina a importância decisiva ou a desimportância de uma personalidade. (JUNG apud TEIXEIRA, 2008, p.60). Segundo Curvello (2010, p.3), Peter e Pedro assemelham-se no nome, ambos derivados do latim Petrus, substantivo masculino de petra, que significa pedra, rocha. Barrie e Amado trouxeram esse nome, visto que simboliza a recusa de subordinar-se às convenções, a liberdade do indivíduo propriamente dita, transmite à ideia de pedra dura. Ambos mantêm a sinceridade, fidelidade à amizade e honestidade, como valores próprios. Os semelhantes nomes dos protagonistas, Pedro e Peter, possuem o sentido oposto à talhado que dá o sentido de servidão, cristalização e sedentarismo. Assim como Jesus que deu o nome a seu discípulo de Pedro, porque ele que é a "pedra angular de sua igreja". Este discípulo que fundou, tanto no sentido simbólico, quanto no literal, a Igreja Católica Apostólica Romana (Ibid, p.3). Já o segundo nome diverge para cada protagonista. Os extremos de real e místico, que determinam a principal diferença, entre eles é claramente destacada. Pan é o deus grego da natureza, paganismo e mundo amoral. (BARRIE apud LINS, 2012, p.27) Ele é o deus dos bosques e dos campos, perambula em vales e montanhas. Vive com as ninfas e dedica-se à atividade da caça. Todos esses atributos são muito semelhantes às qualidades de Peter Pan, nas quais ele vive na Terra do Nunca, com fadas e seres místicos, e acaba tornando-se o protetor da ilha, já que sem sua presença, não há quem dê vida e memórias a ela. “Mas com a vinda
  • 17. 17 de Peter, eles todos se animam de novo: se você encostar o ouvido no chão agora, vai escutar a ilha inteira fervilhando de vida.” (BARRIE, 2012, p.83) Segundo Teixeira (2015, p.60), outra referência mitológica de Peter Pan é feita sobre a imagem do Cupido. Ele é caracterizado pela sua postura destemida, atrevida e travessa. Sua presença tende a encantar uns e aterrorizar outros, porquanto possui uma essência que não é afetada pelo pessimismo, não há maldade propriamente dita, assim como a alma de uma criança. E o último ser mitológico grego que formou a personalidade de Peter é Dionísio, ou também Puer Aeternus, que simboliza a astúcia, a alegria, e a essência da eterna juventude (Ibid, p.59). Todas essas referências que Barrie utilizou na formação da personagem Peter Pan ajudam a reforçar sua personalidade, que é avessa à expectativa de conduta social. Já o segundo nome de Pedro, Bala, não carrega referências mitológicas. Ele é mais direto na análise, correspondendo à dualidade do seu conflito interno entre a infância e a dureza de sua realidade, que o afasta de sua criança interior. Bala é tanto o doce que agrada as crianças quanto a munição que representa a violência fatal. Pedro Bala demonstra-se o oposto de Peter Pan na criação do mito, visto que assim Amado aproxima-se da sua intenção de narrar a realidade. Apesar disso, Pedro torna-se o símbolo da resistência de menores abandonados com mentes independentes e destaca-se na figura que aclama por um mundo mais justo e igualitário.
  • 18. 18 Assim como Peter Pan, ele também foge dos critérios morais, sociais e reais da sociedade em que vivem. Em parte, atingem esse estado porque, devido à ausência de pais e estrutura social, não possuem contato com o sistema de ensino. As instituições de ensino tendiam a ser o elemento principal da doutrinação do estado no pensamento e repressão psicológica. Barrie e Amado viviam em sociedades nas quais o Estado usava mecanismos para manter o pensamento coletivo sob controle, a fim de se manterem no poder (CURVELLO, 2010, p.2).
  • 19. 19 Conclusão A conclusão desse trabalho é composta da união dos elementos em comum de ambas as narrativas, que juntos tecem as mensagens das obras e respondem a pergunta investigativa: "Em que medida as obras Capitães da Areia, de Jorge Amado, e Peter Pan, de James Barrie, intertextualizam-se na crítica ao contexto social em que estão inseridas?". Apesar de ambos os autores estarem inseridos em comunidades geograficamente distantes, e de não haver registros que comprovem algum contato entre Amado e Barrie, foi possível assemelhar o objetivo das duas obras. Por meio dos elementos que compõem as narrativas, como os protagonistas, as personagens secundárias, as figuras femininas e o meio em que todos esses personagens se inserem, percebe-se que esses se comunicam, assemelhando-se ou contrapondo- se. Para Barrie e Amado, a principal crítica é mostrar a perspectiva do universo infantil, a respeito da sociedade e a pressão que ela estava exercendo sobre as crianças. Segundo as obras, a educação e a forma como a sociedade estava acolhendo os jovens não estava impactando-os positivamente. Tanto Peter Pan quanto Pedro Bala buscam seus meios de reagir e protestar contra essas situações, tornando-se líderes e símbolos da representatividade e resistência da diversidade e da liberdade de apenas ser.
  • 20. 20 Referências bibliográficas AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. BARRIE, James Matthew. Peter Pan. Tradução: Júlia Romeu. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2012. CAMBRIDGE Dictionary. In: CAMBRIDGE Dictionary: Cambridge Advanced Learner ‘s Dictionary & Thesaurus. [S. l.]: Cambridge University Press, 2019. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/raconteur. Acesso em: 16 nov. 2019. CANDIDO, Antonio; ROSENFELD, Anatol; PRADO, Décio de Almeida; GOMES, Paulo Emílio Salles. A Personagem de Ficção. 2a. ed. São Paulo: Perspectiva, 1968. CURVELLO, Maura Böttcher. Pedro Bala: Peter Pan no Brasil. Revista eletrônica de crítica e teoria de literaturas [online], Vol. 06 N. 01. Porto Alegre: Nau Literária, 2010. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/view/13266/10331. Acesso em: 24 ago. 2019. DINIZ, Luis de Melo; MENDONÇA, Wilma Martins. Mulher menina em abandono: Dora, a capitã da areia de Jorge Amado [online]. UFPB. Disponível em: http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ABRALIN_2009_vol_2/PDF- VOL2/Microsoft%20Word%20-%20Luis%20de%20Melo%20DINIZ.pdf. Acesso em: 24 ago. 2019. FREITAS, Cibele Beirith Figueiredo; MORAIS, Josiane Laurindo de; MORAIS, Geiziane Laurindo de. Dora, de Capitães da Areia: Rompendo preconceitos pela busca da emancipação feminina. Revista Lumen et Virtus [online], Vol. IX N. 22. JackBran, 2018. Disponível em: http://www.jackbran.com.br/lumen_et_virtus/numero_22/PDF/ASSIMETRIA%20DE %20G%C3%8ANEROS.pdf. Acesso em: 24 ago. 2019. OLIVEIRA, Janice de Andrade. Personalidade e comportamento, uma análise da influência do meio social em Capitães da Areia [online]. IV Semana de Letras da Faculdade Pio Décimo: Linguagens, Tecnologias e Interfaces Culturais. Aracaju: Pio Décimo, 2016. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Renata_Costa15/publication/308202335_Filol ogia_a_ciencia_dos_textos_escritos/links/57dd793b08ae4e6f1849a8dd/Filologia- a-ciencia-dos-textos-escritos.pdf#page=30. Acesso em: 24 ago. 2019. TEIXEIRA, Sonaira; SILVA Rosana Rodrigues da. Peter Pan: O mito da eterna infância na literatura infanto-juvenil. Revista de Letras Norte@mentos: Estudos Linguísticos e Literários [online], Vol. 07 N. 13. UNEMAT, 2015. Disponível em: http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/norteamentos/article/view/1528. Acesso em: 24 ago. 2019.