O documento discute a memória ao longo da história, desde sociedades pré-históricas até a Idade Média. Aborda como a memória mudou com a oralidade, escrita e cristianização, passando de coletiva a individual. Também apresenta pensadores como Jacques Le Goff e regras mnemônicas.
2. Jacques Le Goff
Jacques Le Goff nasceu em Toulon, em 01 de janeiro
de 1924. Seus pais eram professores. O autor viveu na
cidade até o final da Segunda Guerra Mundial. Ali
fez seus estudos iniciais, ocasião em que foi aluno de
Henri Michel. Posteriormente, estudou em Marselha.
Após ser convocado para o serviço de trabalho
obrigatório pelos Governo de Vichy, uniu-se à resistência
(SILVA, 2016, p. 36).
O autor é referência nos estudos medievais, com diversas
publicações inéditas no Brasil. Tornou-se um dos
principais pensadores dos annales, que é um movimento
historiográfico.
Disponível em: <https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/1173/926>.
3. André Leroi-Gourhan
André Leroi-Gourhan, nascido em 25 de agosto
de 1911 em Paris e falecido em 19 de fevereiro de
1986 em Paris, foi um etnólogo, arqueólogo e
historiador francês, especialista em pré-história.
Ele também é um pensador de técnicas e cultura,
que busca combinar precisão científica e
conceitos filosóficos.
4. Sobre o livro - > objetiva a
reconstrução do conceito de
memória; reunião de ensaios
diversos.
Sobre a memória - > etimologia
6. ⬗ Sociedades sem escrita – pautadas
na oralidade – a memória se funde
em: idade coletiva fundida em
mitos; prestígio em
famílias/genealogias; saber técnico
– magia religiosa.
⬗ Escrita – surgimento –
transformação da memória
coletiva. Mitogramas|mitologia –
ordem verbal da linguagem.
⬗ Há duas formas de memória
provenientes da escrita:
⬗ 1. Comemoração de
acontecimentos;
⬗ 2. Documento escrito em suporte de
escrita.
⬗ 1* A epigrafia surge após a memória
ter assumido outra forma.
⬗ 1** Oriente antigo – inscrições
comemorativas – multiplicação de
monumentos.
⬗ 1*** Mesopotâmia – predomínio das
estelas – representações figuradas
acompanhadas de inscrição.
Memória urbana – Memória real –
memória funerária, memória artificial,
memória individual/memória coletiva,
memória oral/escrita, memória social,
memória escolar.
Goody coloca a lista, a sucessão de palavras,
de conceitos, de gestos, de operações a efetuar
numa certa ordem e que permite
"descontextualizar" e "recontextualizar" um
dado verbal, segundo uma "recodificação
lingüística". Em apoio a esta tese, lembra a
importância, nas civilizações antigas, das listas
lexicais, dos glossários, dos tratados de
onomástica assentando na idéia de que nomear
é conhecer (LE GOFF, 1990, p.376).
Acrescentemos que este modelo deve ser
precisado de acordo com o tipo de sociedade e
o momento histórico em que se faz a passagem
de um tipo de memória para outro. Não se pode
aplicar sem especificações à passagem do oral
para o escrito nas sociedades antigas, às
sociedades "selvagens" modernas ou
contemporâneas, ou às sociedades muçulmanas
(LE GOFF, 1990, p.376).
7. 7
⬗ A instituição é a do mnemon que “permite observar o aparecimento, no direito, de uma função
social da memória” [Gernet, 1968, p. 285]. O mnemon é uma pessoa que guarda a lembrança do
passado em vista de uma decisão de justiça. Pode ser uma pessoa cujo papel de “memória” está
limitado a uma operação ocasional. Por exemplo, Teofrasto assinala que na lei de Thurium os
três vizinhos mais próximos da propriedade vendida recebem uma peça de moeda “em vista de
lembranças e de testemunho”. Mas pode ser também uma função durável. O aparecimento destes
funcionários da memória lembra os fenômenos que já evocamos: a relação com o mito, com a
urbanização. Na mitologia e na lenda, o mnemon é o servidor de um herói que o acompanha
sem cessar para lhe lembrar uma ordem divina cujo esqueçimento traria a morte. Os mnemones
são utilizados pelas cidades como magistrados encarregados de conservar na sua memória o
que é útil em matéria religiosa (nomeadamente para o calendário) e jurídica. Com o
desenvolvimento da escrita estas “memórias vivas” transformam-se em arquivistas (LE GOFF,
1990, p. 377).
⬗ Memória – intuito de enfraquecimento, ao invés de desenvolvimento. “esquecimento de
almas ao aprender”[p.378], busca por sinais externos ao invés de internos.
⬗ Divinização da memória – mnemosine – anamnesis – êxtase rememorante – separação
da memória e da história [pode conduzi-la ou distanciá-la] – mnerme – mcanezi –
mnemotecnia [rememoração (imagenes agentes), divisão (memoria rerum) e memória
das palavras (memoria verborum)] – encontrar o que dizer (inventio), colocar em
ordem (dispositio), acrescentar ornamento de palavras e figuras (elocutio), recitar o
discurso como ator (acho) e memória [recorrer à memória] (memoriae mandare).
10. ⬗ Difusão do cristianismo como
religião e ideologia dominante.
⬗ Cristianização da memória;
desenvolvimento da memória dos
mortos; aparecimento dos tratados
de memória.
⬗ Antigo testamento – dever da
recordação e da memória
constituinte – reconhecimento de
Yahveh – memória [judaismo].
⬗ Discursos de memória – cólera –
apelo à recordação e promessa.
⬗ Novo testamento – lembrança de
Jesus (última ceia).
⬗ Santo agostinho de hipona,
aprofundamento da memória
bíblica em confissões. Três poderes
da alma - memoria, intelligentia,
providentia.
⬗ Se a memória cristã se manifesta
essencialmente na comemoração de
Jesus, anualmente na liturgia que o
comemora do Advento ao Pentecostes,
através dos momentos essenciais do
Natal, da Quaresma, da Páscoa e da
Ascensão, cotidianamente na
celebração eucarística, a um nível mais
“popular” cristalizou-se sobretudo nos
santos e nos mortos (LE GOFF, 1990, p.
385].
Túmulos constituem centros de igrejas
[confessyo / martirium] – Difusão entre a
morte e a memória e sua relação
intrínseca. Irradiação de livros de
memória por meio do esquecimento –
excomunhão.
As pessoas de idade avançada eram super
valorizados por conta da memória.
Regras mnemônicas:
I É necessário encontrar “simulacros adequados
das coisas que se deseja recordar” e “é
necessário, segundo este método, inventar
simulacros e imagens porque as intenções
simples e espirituais facilmente se evolam da
alma, a menos que estejam, por assim dizer,
ligadas a qualquer símbolo corpóreo, porque o
conhecimento humano é mais forte em relação
aos sensibilia; por esta razão, o poder
mnemônico reside na parte sensitiva da alma”
[citado ibid., p. 69]. A memória está ligada ao
corpo.
II É necessário, em seguida, dispor “numa ordem
calculada as coisas que se deseja recordar de
modo que, de um ponto recordado, se torne
fácil a passagem ao ponto que lhe sucede”. A
memória é razão.
III É necessário “meditar com freqüência no que
se deseja recordar”. É por isso que Aristóles diz
que “a meditação preserva a memória” pois “o
hábito é como natureza” [ibid.].