O documento discute a diferença entre memória e história, e como a memória foi "tomada como história". A memória verdadeira e espontânea deu lugar a uma memória arquivística, materializada em registros, imagens e bancos de dados. Os "lugares de memória" como museus e arquivos passaram a substituir a memória coletiva. Eles podem ser materiais, simbólicos ou funcionais, e carregam significados que dependem de como a imaginação os investe.
Estudo dirigido linguagens da indexação prof. kátia
Fichamento (4) memória e patrimônio texto pierre nora
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – ECI
DISCIPLINA: DIG TGI034 - Memória e Patrimônio Cultural
PROFESSOR: Rene Lommez Gomes
ALUNA: Rita de Cássia Gonçalves - CURSO: Biblioteconomia
4º Período Noturno.
ATIVIDADE: Fichamento (4) - DATA: 29 de outubro de 2012
“Entre uma memória organizadora, toda-poderosa, ordenadora e a memória atual, apenas
vestígio e trilha.”
É a memória que dita e a história que escreve”.
ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA: A problemática dos lugares
1 ACELERAÇÃO DA HISTÓRIA
O texto nos coloca as diferenças entre história-memória e memória tomada como
história, ou seja, houve a partir da história uma mudança substancial entre o que original e
espontâneo para o que hoje é mera reconstituição e “produtivismo arquivístico” da memória. O
fenômeno do distanciamento entre a memória verdadeira, social, comum nas sociedades
primitivas e a história que é o que nossas sociedades fazem do passado . Fala-se muito em
memória uma vez que ela não existe mais, memórias esfaceladas que ainda despertam a sua
„encarnação‟ .
Memória, história é a vida, o cotidiano em constante devir, dialética à lembrança e do
esquecimento, inconsciente, vulnerável, frágil, suscetível de usos e manipulações, sempre atual,
um verdadeiro „elo vivido no eterno presente‟. A memória é absoluta , contida no concreto, no
espaço, gesto, na imagem, no objeto. Para tanto , a memória „EMERGE DE UM GRUPO QUE
ELA UNE[...] MÚLTIPLA, DESACELERADA, COLETIVA, PLURAL E INDIVIDUALIZADA‟.
A história é laicizante, dessacralizada, analítica e crítica, possui vocação para o
universal. No cerne da história „trabalha um criticismo‟ que detona com a memória espontânea,
não construída. Para tal, apropria-se de um „arsenal necessário ao seu próprio trabalho, mas
esvaziando-os daquilo que os faz lugares de memória... lugares onde ancorar sua memória‟ .
FRANÇA= historiografia iconoclasta e irreverente - a história da história como algo
que denunciava as „mitologias predecessoras‟, mentirosas. O nascimento de uma historiografia
„é a história que se empenha em emboscar em si mesma o que não é ela própria, descobrindose como vítima da memória e fazendo um esforço para se livrar dela.” A nação como um dado,
a história uma ciência social e a nação-memória como a última encarnação da história-memória.
ESTADOS UNIDOS= país de memória múltipla, disciplinado, não questionam a
Tradição.
ESTUDO DE LUGARES /TEMPO DOS LUGARES NA FRANÇA:
Um movimento puramente historiográfico; reflexão da história sobre si mesma;
Um movimento histórico; o fim de uma tradição de memória;
2. Os lugares da memória são restos; não há memória espontânea: cria-se
arquivos, datas comemorativas, celebrações, atas, etc., para serem
estudados;
2 A MEMÓRIA TOMADA COMO HISTÓRIA (p.14)
Trata-se de uma „memória arquivística‟: mais preciso no traço, mais material no
vestígio, mais concreto no registro, mais visível na imagem ; necessita-se de referências
tangíveis. A sociedade moderna é acumuladora de testemunhos devido aos meios
disponibilizados.
A materialização da memória „dilatou-se, desacelerou-se, descentralizou-se,
democratizou-se, ao contrário, quando apenas os antigos produtores de arquivos (poucas
famílias, Igreja, Estado) mantinham suas memórias. Atualmente todos estão autorizados a
„consignarem suas lembranças e escreverem suas memórias‟. O dever da memória faz de cada
um o „historiador de si mesmo‟, ou seja, uma multiplicação de memórias particulares. A
história-memória do passado era de fato presente e não passado. Existe uma clareza que
demonstra as diferenças substanciais
entre a memória verdadeira, primitiva ,social,
globalizante, coletiva original, daquela que hoje é história, “vivida como dever” , presente nos
museus, bibliotecas depósitos, centros de documentação e finalmente bancos de dados.
3 OS LUGARES DE MEMÓRIA, UMA OUTRA HISTÓRIA
Os lugares de memória são : material, simbólico e funcional simultaneamente, ou seja,
coexistem. Ex.: depósito de arquivos, “ só é lugar de memória se a imaginação o investe de uma
aura simbólica. O ritual tem que se fazer presente.
Calendário Revolucionário (RF), lugar de memória e Calendário Gregoriano , perdeu
sua virtude de lugar de memória; O livro Le Tour de La France, documento para os
historiadores; “ todos os lugares de memória são objetos no abismo”. (p.24)
Entre os livros de história apenas são lugares de memória os livros fundamentados
„num remanejamento efetivo da memória ou que constituem os breviários pedagógicos”;
quanto aos acontecimentos, há dois tipos que são relevantes: um que parece medíocre, mas que,
o futuro „conferiu a grandiosidade das origens, a solenidade das rupturas inaugurais‟[...] o outro
diz respeito a uma comemoração antecipada, ou seja, se no momento ocorrido nada aconteceu,
“são imediatamente carregados de um sentido simbólico”. A memória
localiza-se
em
lugares, enquanto a história nos acontecimentos.
LUGARES MONUMENTAIS (ESTÁTUAS, OU MONUMENTOS) conservam seu
significado em sua existência; LUGARES ARQUITETURAIS, depende da significação das
relações entre os seus elementos , ex: Palácio de Versalhes.
“Os lugares da memória são por eles mesmos referentes, ou sejam, em estado puro, fechado em
si mesmo, lugar de excesso, mas aberto `extensão de suas significações.”
4 REFERÊNCIA
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História,
n.10, p. 7-28, dez. 1993 .