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HAZRAT INAYAT KHAN
MENSAGEM SUFI
DE LIBERDADE
ESPIRITUAL
Volume V
Pérolas do Oceano Invisível
UNIVERSALISMO
Sumário
Prefácio
Mensagem Sufi de Liberdade Espiritual
Aquibat, a Vida após a Morte
O Fenômeno da Alma
Amor, Humano e Divino
Pérolas do Oceano Invisível
Metafísica
Prefácio
Em 1910, Hazrat Inayat Khan partiu da Índia, seu país natal, em direção ao
Ocidente, para onde deveria levar a Mensagem Sufi. Nos primeiros quatro anos,
viajou intensamente pelos Estados Unidos e Europa, e no início da Primeira
Guerra Mundial instalou-se, temporariamente, em Londres, onde reuniu ao seu
redor um grupo de alunos, aos quais começou a ensinar os fundamentos dos
pensamentos e idéias Sufi. Uma parte desses ensinamentos foi adaptada para
maior distribuição e coletada nos livros constantes deste volume, o quinto da
série em curso de publicação.
O primeiro destes é a Mensagem Sufi de Liberdade Espiritual. Surgiu em 1914
e foi de difícil obtenção por muitos anos, como é o caso dos outros livros. Esta
primeira edição é reeditada aqui, praticamente inalterada, apesar de algumas
terminologias então usadas terem sido revisadas para ajustar-se àquelas dos
livros subsequentes. A nota biográfica foi omitida, porque uma biografia mais
completa foi planejada para publicação, na mesma série, posteriormente.
Em 1918, seguiu-se Aqbat, a Vida após a Morte, e no ano seguinte Amor,
Humano e Divino, Pérolas do Oceano Invisível e Fenômeno da Alma, os quais
foram ampliados com alguns ensinamentos afins, até agora não publicados mas
datados do mesmo período. Estes quatro livros diferem dos outros que
apareceram durante a vida ou depois da morte de Hazrat Inayat Khan e que
foram publicados sob o nome de alguns colaboradores que haviam preparado
conferências e lições para publicação.
Metafísica, o último livro deste Volume, é também de uma série de lições
anteriores, entretanto sua publicação foi prorrogada até 1939, quando apareceu
pela primeira vez.
MENSAGEM SUFI DE
LIBERDADE ESPIRITUAL
DEUS
BEM-AMADOS de Deus, vocês podem pertencer a qualquer raça, casta, credo
ou nação, mas todos são amados por Deus de maneira imparcial. Pode ser um
crente ou um descrente do Ser Supremo. Ele não se importa. Sua clemência e
Sua graça fluem através de todos os Seus poderes, sem distinção entre amigo
ou inimigo.
“Cada folha de árvore demonstra seu louvor a Alá, só a mente piedosa pode
ouvir suas baladas sagradas.”
O sol, a lua e as estrelas emitem luz. A mudança periódica das estações favorece
a saúde e a alegria. A chuva faz crescer o trigo, as frutas e as flores e a
alternação do dia e da noite dá oportunidade ao trabalho e ao descanso.
“Terra, água, fogo e ar,
Tudo trabalha harmoniosamente;
Sempre preparando para ti o alimento;
Tu não deves comer sem mostrares gratidão;
Pois assim como todos os dias o sol brilha e serve,
Alá merece de ti todos os louvores.”
Se estudarem seu corpo, verificarão que seu mecanismo é o modelo original do
mecanismo artificial do mundo. A arte e a ciência são falhas se comparadas com
a arte e a ciência da natureza de Deus. Os ouvidos, os olhos e todos os outros
órgãos como se adaptam perfeitamente à forma e ao mecanismo a que têm que
servir! Como são supridas com liberalidade as necessidades da vida: água, ar e
alimento; até mesmo o leite é preparado no seio da mãe para o bebê que está
para nascer. Não devemos apreciar a liberalidade do Criador e agradecer-Lhe a
todo o momento com humildade e gratidão? Escreveu Sa’di: “Louvado seja Alá!
A adoração a Alá é a forma de nos aproximarmos cada vez mais Dele e o nosso
agradecimento envolve um aumento de atos de caridade. Todo ar aspirado
prolonga a vida e quando expirado vivifica a estrutura. Portanto, em cada
respiração estão contidas duas bênçãos e para cada bênção é devida uma ação
de graças.”
Ele nos modelou e moldou à Sua própria imagem e faz de cada um de nós um
“Asbráf al-Maklusqt”, o mais elevado de todos os seres e o orgulho do universo,
dando-nos o comando sobre todos os outros seres de ambos os mundos. Como
está escrito no Corão: “Não vês que Alá entregou a ti todas as coisas da Terra?”
Ao mesmo tempo, Ele nos deu os atributos da humanidade: bondade, gratidão,
fidelidade, justiça, modéstia, piedade, compaixão, reverência, bravura,
paciência, amor, conhecimento e sabedoria. E uma prova inconteste de que
somos o objetivo verdadeiro da criação e os mais amados de Deus.
NATUREZA
Tem sido realçado o argumento de que a manifestação inteira é fruto da
interação dos elementos naturais que trabalham com forças próprias. Cada
causa tem seus efeitos e por seu turno o efeito se transforma numa causa para
a reação. Assim, a natureza trabalha sem ajuda. A resposta é que cada causa
deve ter alguma causa que a precedeu, ou seja, a primeira causa, para que ela
pudesse ser produzida. Logicamente, uma causa pode produzir muitos efeitos,
cujos efeitos, por seu turno, se tornam segundas causas, produzindo novas
reações. “Enquanto as mentes intelectuais procuram as segundas causas, o
homem sábio apenas percebe a primeira causa. O ar, a terra, a água, sendo
segundas causas, está oculta a causa precedente que as transformou em ação
e pausa.”
O SER PESSOAL
Admitindo que vemos a natureza e admitindo também sua causa original, em
que terreno devemos considerar a causa como sendo um Deus pessoal que
merece nossa adoração? A resposta é que a própria natureza é constituída de
diferentes personalidades e cada uma delas tem seus atributos ou qualidades
especiais. A soma total de todas essas personalidades é o UM, a única
personalidade verdadeira. Em relação a esse UM todas as outras
personalidades são mera ilusão. Tanto quanto uma nação ou uma comunidade,
numa forma limitada, é a soma de muitas personalidades; assim como a
natureza manifestada em inúmeros nomes e formas é ainda chamada natureza
no singular não no plural; assim como o indivíduo possui no corpo diferentes
partes: braços, pernas, olhos, ouvidos, e é possuidor de diferentes qualidades e
ao mesmo tempo é uma pessoa – também a soma total de todas as
personalidades é que é chamada Deus. Ele é o possuidor dos atributos visíveis
e invisíveis do Absoluto e tem diferentes nomes em línguas diferentes para
compreensão do homem. Pode ser dito que a personalidade de um homem é
perfeitamente compreensível, porque suas ações o mostram como um único
indivíduo, enquanto que a personalidade Deus não tem uma identificação clara
dele mesmo. A resposta é que a variedade cobre a unidade. Disse Jelal-ud-Din
Rumi: “As coisas ocultas se manifestam nos seus opostos ou nos seus
contrários, mas como Deus não tem nenhum oposto Ele permanece oculto. A
Luz de Deus não tem nenhum oposto no âmbito da criação, por meio do qual
pudesse se manifestar à visão.”
Pelo estudo da natureza o homem sábio entra na unidade através da sua
variedade e chega à realização da personalidade de Deus pelo auto-sacrifício.
“Aquele que conhece a si mesmo conhece Alá.” (Provérbio de Maomé) “O Reino
de Deus está dentro de vós.” (Bíblia) “O autoconhecimento é a verdadeira
sabedoria.” (Vedanta).
A relação de Deus com a natureza pode ser compreendida pela análise da idéia
expressa nas palavras “Eu, mim”. Essa afirmação significa o indivíduo único e
ao mesmo tempo identifica o aspecto dual do UM. Nessa frase, o “Eu” é o
possuidor e o “Mim” é o possuído. Assim também Deus, o não-manifestado, é o
possuidor e a natureza, a manifestação, é o possuído que oculta dentro de si sua
origem.
O possuído não poderia ter sido criado de nada mais que do próprio ser do
possuidor, porque não existe nada senão o possuidor. Embora o possuidor e o
possuído sejam considerados duas identidades separadas, na realidade são
uma só identidade. O possuidor realiza o possuído por meio de sua própria
consciência que forma três aspectos do Único Ser, a Trindade. O filósofo alemão
Hegel disse: “Se você disser que Deus é um, é verdade, se você disser que Ele
é dois, também é verdade, e se você disser que Ele é três, igualmente é verdade,
porque é a natureza do mundo”.
Deus é visto por três pontos de vista: personalidade, moralidade e realidade. De
acordo com o primeiro ponto de vista, Deus é o mais elevado. O homem é
dependente de Deus e Seu servo mais obediente. De acordo com o segundo
ponto de vista, Deus é o Todo-Misericordioso e o Todo-Bondoso Mestre do Dia
do Julgamento, enquanto que todo o mal vem de Satanás. O terceiro ponto de
vista é o ponto de vista filosófico: Deus é o começo e o fim de tudo, sendo que
Ele não tem começo nem fim. Como disse um místico Sufi: “O universo é a
manifestação de Alá, de onde Ele criou Sua própria unidade, pela involução,
variedade – o estado de vários nomes e formas – dessa forma distinguível como
Alá, digno de todo louvor e adoração”.
O ASPECTO DUAL
De acordo com os princípios Sufis, os dois aspectos do Ser Supremo são
chamados “Zàt” e “Sifat”, ou seja, o Conhecedor e o Conhecido. O primeiro, “Zàt”,
é Alá e o último, “Sifat”, é “Mohammad” ou Maomé. “Zàt” sendo apenas um na
sua existência, não pode ser chamado senão por um só nome que é Alá e “Sifat”,
sendo múltiplo em quatro involuções diferentes, tem inúmeros nomes, a soma
de todos eles sendo chamada de “Mohammad”. As formas ascendentes e
descendentes de “Zàt” e “Sifat” formam o círculo do Absoluto. Essas duas formas
são chamadas de “Nuzul” e “Uruj”, que significam involução e evolução. “Nuzul”
começa em “Zàt” e acaba em “Sifat”. “Uruj” começa em “Sifat” e acaba em “Zàt”,
sendo “Zàt” a força negativa e “Sifat” a força positiva.
“Zàt” projeta “Sifat” do seu próprio ser e o absorve dentro do si. E uma regra de
filosofia que o negativo não pode perder sua negatividade projetando o positivo
dele mesmo, embora o positivo cubra o negativo dentro de si, como a chama
encobre o fogo. O positivo não tem existência independente e, não obstante, é
real porque é projetado do real e não pode ser considerado uma ilusão. A
ignorância humana continua considerando “Zàt” separado de “Sifat” e “Sifat”
independente de “Zàt”.
ADORAÇÃO
Pode-se perguntar por que se deve adorar a Deus e se o conhecimento teórico
da Sua lei na natureza não é suficiente para alcançar a mais alta realização. A
resposta é não, porque o conhecimento teórico de um assunto nunca pode
suplantar a experiência que é necessária para a realização. A música escrita não
pode nos entreter a não ser que seja tocada num instrumento, nem a descrição
de um perfume delícia nossos sentidos a não ser que aspiremos o perfume e
nem os recipientes dos pratos mais deliciosos satisfazem nossa fome. Assim
também a teoria sobre Deus não pode trazer completa alegria e paz. Devemos
na verdade realizar Deus ou atingir aquele estado de realização que dá eterna
felicidade através da admiração e adoração da beleza da natureza e sua fonte.
“O Bem-Amado é tudo em tudo, o amante só O encobre; o Bem-Amado é tudo
que vive, o amante uma coisa morta”. (Jelal-ud-Din Rumi)
A VERDADE
Os diferentes métodos chamados religiões e filosofias têm sido adotados pelas
diversas nações em períodos variados. Embora a forma e os ensinamentos das
diversas religiões pareçam ser muito desiguais, sua fonte é uma e a mesma.
Entretanto, desde o começo as diferenças criaram preconceitos, inveja e
antagonismos entre os homens. Tais dissensões ocupam grande parte da
história do mundo e se tornaram o mais importante assunto da vida.
“Tantas castas e tantos credos,
Tantas fés e tantas crenças,
Tudo surgiu da ignorância humana.
Sábio é aquele que só concebe a Verdade.”
Um homem sábio chega à compreensão de que a base fundamental de todas as
religiões e crenças é uma só: “Haq” ou a Verdade. A Verdade tem sido sempre
coberta por duas peças do vestuário: uma, um turbante na cabeça, e outra, um
manto sobre o corpo. O turbante é feito do mistério conhecido como misticismo
e o manto é feito da moralidade, que é chamada de religião. A Verdade tem sido
coberta dessa maneira por muitos profetas e santos para escondê-la dos olhos
ignorantes que ainda não estão suficientemente desenvolvidos para suportar a
Verdade na sua forma desnuda. Os que vêem a Verdade descoberta abandonam
a razão e a lógica, o bem e o mal, o alto e o baixo, o novo e o velho; as diferenças
e distinções de nomes e formas desaparecem e todo o universo é compreendido
como sendo nada mais que “Haq” ou a Verdade. A Verdade em sua realização
é uma, em sua representação é muitas, uma vez que suas revelações são feitas
sob condições variáveis de tempo e espaço.
Assim como a água numa fonte flui como uma corrente mas cai em muitas gotas
divididas pelo tempo e pelo espaço, a mesma coisa acontece com as revelações
de uma corrente da Verdade. Nem todos podem compreender a idéia de
diferentes verdades derivadas de uma única verdade. O senso comum tem sido
tão estreitamente treinado neste mundo de variedades, que naturalmente é falho
na realização da extensão e sutileza de um fato espiritual tão elevado e que está
além do alcance do seu raciocínio limitado.
OS SUFIS
A palavra Sufi é derivada da palavra “Safá”, que quer dizer puro, purificado da
ignorância, da superstição, do dogmatismo, do egoísmo e do fanatismo, bem
como livre das limitações das castas, credos, raças e nações. Os Sufis acreditam
em Deus como o Absoluto, o Único Ser, e que toda a criação é a manifestação
de Sua natureza.
Os Sufis sempre estiveram presentes em todos os períodos da história humana.
Embora tenham vivido em diferentes partes do mundo, falando línguas diferentes
e nascidos dentro de diferentes fés e crenças, eles se reconheciam e se
simpatizavam uns com os outros através da unidade de seus entendimentos.
Ainda, com seu profundo conhecimento do mundo e dos mistérios espirituais
eles ocultavam suas crenças da multidão e prosseguiam em segredo no seu
caminho com o objetivo de alcançar a mais alta bem-aventurança.
AUTOCONHECIMENTO
A natureza involui através do espírito para a matéria e evolui através de
diferentes estágios. O homem é o resultado da involução do espírito e da
evolução da matéria. O efeito final dessa causa é a auto-realização, o que quer
dizer que o Conhecedor chega àquele estágio de perfeição onde Ele pode Se
conhecer.
“Tu és um ser mortal
E tu és o Um Eterno,
Conhece-te a ti mesmo através da luz da sabedoria.
Com exceção de Ti nada mais existe.”
O ser humano por herança é capaz do autoconhecimento, mas conhecer a si
mesmo não é somente saber que seu nome é João, Jacob ou Henrique, que se
é baixo, alto ou de estatura normal, ou saber que se é bom, mau e assim por
diante. Conhecer a si mesmo é conhecer o mistério da própria existência, tanto
teórica como praticamente. É conhecer o que se tem dentro de si, de onde e
para que objetivo se veio à Terra, se se vai viver aqui eternamente ou se a
permanência é curta, saber de que se é composto e que atributos se possui, se
se pertence aos anjos contemplando as belezas da natureza de Deus, ou se se
pertence aos animais que nada mais sabem senão comer, beber e se divertir, ou
se se pertence aos demônios. Requer perfeição da humanidade chegar ao
autoconhecimento. Saber que “Eu sou Deus” ou que somos deuses, ou saber
que tudo é uma parte de Deus, não é suficiente. A realização perfeita só pode
ser obtida passando por todos os estágios entre o homem, a manifestação e
Deus, o Único Ser, conhecendo-nos e nos realizando desde o mais baixo até o
mais alto grau da existência, realizando assim a jornada celestial.
AMOR
O maior princípio do Sufismo é “Ishq Allah, Ma’bud Allah”, que quer dizer Deus
é o amor, o amante e o bem-amado.
Quando Alá, o Único Ser, tornou-se consciente do seu “Wahdat”, a única
existência, através de Sua própria consciência, Sua predisposição para o amor
fez com que Ele se projetasse para estabelecer Seu aspecto dual, para que Ele
fosse capaz de amar alguém. Isso fez de Deus o amante e fez da manifestação
o bem-amado. A inversão que se seguiu fez da manifestação o amado e Deus o
bem-amado. Essa força do amor tem trabalhado através de muitas evoluções e
involuções e terminou no homem, que é o último objetivo de Deus. O aspecto
dual de Deus é significativo em “Zàt” e “Sifat”, no espírito e na matéria, e nos
reinos mineral, vegetal, animal e humano, onde os dois sexos, macho e fêmea,
estão claramente representados. O aspecto dual de Deus é simbolizado por cada
forma deste mundo maravilhoso. Todo este universo, interna e externamente, é
governado pela força do amor, que é muitas vezes a causa e muitas vezes é o
efeito. O produtor e o produto são um só e esse UM nada mais é que o amor.
“Uma Igreja, um templo ou uma pedra a Kaaba,
O Corão ou a Bíblia, ou o osso de um mártir,
Tudo isso e mais, meu coração pode tolerar
Porque minha religião agora é somente o Amor.”
(Abul Ala)
Os Sufis seguem o caminho do amor e da devoção para conseguir seu mais alto
objetivo, porque foi o amor que trouxe o homem do mundo da unidade para o
mundo da variedade e a mesma força pode levar o homem novamente para o
mundo da unidade, tirando-o do mundo da variedade.
“O amor é a redução do universo no ser único e a expansão de um ser único até
Deus.”
(Balzac)
Amor é aquele estado da mente em que a consciência do amante imerge, funde-
se, na consciência do objeto do seu amor. Produz no amante todos os atributos
da humanidade, tais como: resignação, renúncia, humildade, bondade,
contentamento, paciência, vontade, calma, gentileza, caridade, fidelidade,
bravura, e por esses atributos o devoto se torna harmônico com o Absoluto.
Como ele é um dos amados de Deus, um caminho se abre para sua jornada
celestial; no fim chega à união com Deus e toda sua individualidade se dissolve
no oceano da eterna bem-aventurança, onde desaparece a concepção de Deus
e homem.
“Embora o amor seja uma doce loucura,
Todas as enfermidades ele cura.
Santos e sábios por ele passaram.
O amor atrai tanto Deus como o homem.”
PERFEIÇÃO
O ideal-perfeição é chamado de “Baqà” pelos Sufis, é denominado “Najat” no
Islã, “Nirvana” no Budismo, “Salvação” no Cristianismo e “Mukhti” no Hinduísmo.
É o mais elevado estado que se pode atingir. Todos os antigos profetas e sábios
experimentaram esse estado e o ensinaram ao mundo.
“Baqá” é o estado original de Deus. Cada ser humano deve chegar a esse estado
um dia, consciente ou inconscientemente, antes ou depois da morte. O começo
e o fim de todos os seres é o mesmo, havendo somente diferença durante a
jornada.
Há três caminhos na jornada que o homem empreende na direção de Deus. O
primeiro é o caminho da ignorância, no qual cada um deve viajar. É como se uma
pessoa andasse milhares de quilômetros no sol carregando um fardo pesado
nos ombros e, sentindo-se fatigada, jogasse o fardo e caísse adormecida sob a
sombra de uma árvore. Essa é a condição da pessoa comum que consome sua
vida cegamente sob a influência de seus sentidos e acumula o fardo de suas
más ações, criando um inferno com as agonias de seus anseios terrenos, através
de cujo inferno ela deve passar para alcançar o ponto final de sua jornada.
Referindo-se a esse tipo de pessoa diz o Corão: “Aquele que é cego na vida,
cego também será no além-túmulo.”
O segundo caminho é o da devoção, caminho a ser trilhado pelos amorosos
verdadeiros. Rumi disse: “O homem pode ser o amante do homem ou o amante
de Deus. Depois da sua perfeição em qualquer um dos caminhos que tomou, ele
é levado à presença do Rei do Amor.” A devoção é o vinho celestial que intoxica
o devoto até que seu coração se purifique de todas as enfermidades e
permaneça nele a visão feliz do Bem-Amado, que dura até o fim da jornada. “A
morte é uma ponte que une amigo a amigo” (Provérbio de Maomé).
O terceiro caminho é o caminho da sabedoria, realizado apenas por poucos. O
discípulo desdenha os confortos momentâneos da vida, livra-se de todas as
servidões terrenas e volta os olhos para Deus, inspirado pela sabedoria divina.
Assume o comando do seu corpo, de seus pensamentos e dos seus sentimentos
e, assim, torna-se capaz de criar seu próprio céu dentro de si mesmo, para que
possa se regozijar até imergir na meta eterna. “Nós tiramos o véu de teus olhos
e tua visão hoje é aguçada”, diz o Corão. Todos devem viajar por um desses três
caminhos, mas no fim chegam à única e mesma meta. Como está escrito no
Corão: “Foi Ele que multiplicou vocês na Terra e a Ele vocês se reunirão.”
PROFETAS
É difícil o intelecto acreditar na possibilidade da inspiração profética.
Intelecto é a consciência refletida no conhecimento dos nomes e formas.
Sabedoria é a consciência em sua essência pura, que necessariamente não é
dependente do conhecimento dos nomes e formas.
O dom da sabedoria permite a visão da verdadeira natureza das coisas, como o
Raio X penetra nos corpos materiais. A sabedoria tem sido especialmente
conferida a certas pessoas e, nestes raros casos, os que a recebem são mais
do que meramente sábios e devem ser considerados como a própria
manifestação da sabedoria. Eles são os profetas que possuem previsão,
inspiração, intuição, clarividência, clariaudiência como seus atributos inatos.
O Sufi considera todos os profetas e sábios não como indivíduos, mas como
corporificação da consciência pura de Deus ou a manifestação da sabedoria
divina, surgindo na Terra com diferentes nomes e formas para despertar o
homem do seu sono de ignorância. Exatamente como o próprio subconsciente
de alguém pode acordá-lo numa hora certa, se previamente avisado, do mesmo
modo a consciência de Deus é o meio de despertar Sua manifestação,
projetando-se através de diferentes nomes e formas para realizar Seu desejo de
ser conhecido. Todas as causas da sabedoria são a manifestação de uma causa,
Haq.
A finalidade da missão profética era educar a humanidade gradualmente na
sabedoria divina, de acordo com sua evolução mental, concedendo-a ao homem,
conforme seu entendimento, em formas adequadas às várias regiões, em
épocas diferentes. Por esse motivo, ainda existem numerosas e diferentes
religiões, apesar dos princípios morais serem os mesmos.
Cada profeta tinha a missão de preparar o mundo para o ensinamento do
próximo profeta; cada um profetizava a vinda do próximo e o trabalho foi assim
continuado por todos os profetas até Maomé, o “Khatim al Mursalin”, o último
mensageiro da sabedoria divina e o fecho dos profetas; veio com sua missão e
deu a declaração final da sabedoria divina: “Nada existe, somente Alá”. Esta
mensagem preencheu o objetivo da missão profética. Essa definição final é uma
interpretação clara de todas as religiões e filosofias de forma mais evidente. Não
houve necessidade de mais profetas depois desta mensagem divina que criou o
espírito de democracia na religião pelo conhecimento de Deus em cada ser. Por
esta mensagem, o homem recebeu o conhecimento de que ele pode atingir a
mais alta perfeição sob a orientação de um mestre perfeito ou professor
espiritual.
Os Sufis não têm preconceito em relação a quaisquer profetas e mestres.
Consideram todos como a própria sabedoria divina, o atributo mais elevado de
Deus, aparecendo sob diferentes nomes e formas e os amam com toda a
devoção, como a amante ama seu bem-amado em todos os diferentes trajes e
através de todos os estágios de sua vida. Os Sufis também, respeitosamente,
reconhecem e oferecem devoção ao seu Bem-Amado, a divina sabedoria, em
todos os seus trajes, em todas as épocas e sob diferentes nomes e formas como:
Abraão, Moisés, Jesus e Maomé. Os ensinamentos de Maomé são estudados e
seguidos pelos ortodoxos como religião e pelos profundos pensadores como
filosofia.
SUFISMO
Os Sufis, que receberam treinamento espiritual de todos os profetas e
condutores anteriores, da mesma forma receberam treinamento de Maomé. A
abertura dos ensinamentos essenciais de Maomé abriu caminho para eles se
apresentarem ao mundo sem a interferência que tinham experimentado
anteriormente e pelo Profeta foi inaugurada uma ordem mística chamada
Sahaba-e-Safa, Cavalheiros da Pureza, que teve continuidade através de Ali e
Siddiq. As vidas destes cavalheiros eram extraordinárias em sabedoria, piedade,
bravura, espiritualidade e grande caridade de coração. Esta ordem foi seguida
por seus sucessores que eram chamados “Pir-o-Murshid, Shaikh”, etc., um após
outro, devidamente ligados como elos de uma corrente.
O vínculo espiritual entre eles é uma força miraculosa de iluminação divina e é
experimentada pelos iniciados merecedores da Ordem Sufi, assim como a
corrente elétrica passa através de todas as lâmpadas e as ilumina. Por este
meio, é conseguido o maior desenvolvimento, sem grandes esforços. O Sufismo
foi praticado na Arábia, sem ostentação, durante o período de Sahabis, Tába’in
e Tába-i-tába’in. Caridade, piedade, espiritualidade e bravura são as provas
reais do progresso do Sufi.
Os grandes movimentos Sufi que tiveram lugar na Pérsia (Irã), nos últimos
tempos, conquistaram todos os louvores do Sufismo para os persas, vindo a ser
referido como uma filosofia persa. Imam al-Ghazali, Juneyd-e-Baghdadi, Farid-
ud-Din’ Attar tomaram a liderança no avanço do Sufismo no mundo livre. Shams-
e Tabrèz, Sa’di, Khagani, Firdausi, Omar Khayyám, Abdull Ala e outros grandes
poetas Sufi estabeleceram substancialmente a reputação do Sufismo pelos seus
inspirados trabalhos poéticos sobre a sabedoria divina. Os trabalhos de Sa’di
(Gulistan e Bostan) iluminam o intelecto; o “Divan” de Hafiz expande o coração
de amor divino; os poemas de Jelal-ud-Din Rumi, “Masnavi e Ma’navi” inspiram
a alma.
Estes trabalhos foram compostos, originalmente, na Pérsia e traduzidos em
muitas outras línguas. Têm sido uma importante fonte de educação para a
humanidade e são estudados como os tratados mais populares sobre a
sabedoria divina do Oriente.
A parte espiritual do Sufismo foi realizada milagrosamente por Abdul Qudir Jilani,
Moin-ud-Din Christi, Bahá-ud-Din, Naqshband, Shihab-ud-Din Sohrawardi e
outros.
A Índia, sendo muito devotada à filosofia, se ajustou bem ao Sufismo; em antigos
e modernos registros é encontrado um grande número de Sufis com carreiras
milagrosas. Os túmulos de Moin-ud-Din Christi, Nizam-ud-Din, Bandeh Navaz,
Mohammad Gauth são visitados com muita reverência e devoção pelos povos
de várias nações e diversas crenças em reconhecimento às suas grandes
carreiras.
O Sufismo, como uma filosofia religiosa de amor, harmonia e beleza, objetiva a
expansão da alma do homem até que a realização da beleza de toda a criação
permita a ele tornar-se, tanto quanto possível, uma expressão perfeita de
harmonia divina. É, portanto, natural que a Ordem Sufi deva ficar na dianteira
como uma força espiritual no Oriente e esteja se tornando rapidamente
reconhecida no Ocidente.
Muitos santos Sufi têm alcançado o que é conhecido como consciência de Deus,
que é a mais abrangente realização do significado da palavra “bom” atingível
pelo homem. Falando exatamente, o Sufismo não é religião nem filosofia; não é
teísmo nem ateísmo, porém fica entre os dois e preenche a diferença. Os Sufis
são considerados entre os religiosos como livres-pensadores, enquanto entre os
filósofos e intelectuais são considerados religiosos, porque eles fazem uso dos
princípios mais sutis da vida para elevar a alma, no que podem ser seguidos
facilmente pela lógica material.
Os Sufis têm, em muitos casos, concebido e mostrado a maior perfeição da
humanidade. Entre as vidas dos santos Sufi podem ser encontrados alguns dos
modelos mais divinos da perfeição humana em todas as posições, de um rei a
um trabalhador. A idéia de que o Sufismo originou-se do Islamismo ou de
qualquer outra religião não é necessariamente verdade; ainda pode ser chamado
certamente de espírito do islamismo como também a essência pura de todas as
religiões e filosofias.
Um verdadeiro Sufi permanece continuadamente com o pensamento na
Verdade, vê a Verdade em todas as coisas, nunca se torna preconceituoso, e
cultiva afeição por todos os seres. Um Sufi realiza a jornada divina e alcança o
mais alto grau de Baqà durante esta vida, mas as pessoas das diversas crenças
chegam, eventualmente, ao mesmo nível de entendimento e realização
representado pelo Sufismo.
O Sufismo abrange todos os ramos do misticismo, tais como psicologia,
ocultismo, espiritualismo, clarividência, clariaudiência, intuição, inspiração, etc.,
porém o que o Sufi deseja particularmente adquirir não é necessariamente
quaisquer dos poderes acima mencionados, porque o objetivo de todos esses
poderes é dirigido para maior individualidade e a individualidade em si é somente
um obstáculo no caminho do Sufi, direcionado para a realização de sua mais alta
perfeição. Por isso, o principal objetivo da iniciação na Ordem Sufi é cultivar o
coração, através da renúncia e da resignação, que deve ser bastante puro para
semear a semente do amor divino e conceber a mais sublime verdade e
sabedoria, ambas teórica e praticamente, desse modo alcançando os mais
elevados atributos da humanidade.
A perfeição divina é a perfeição de todos os poderes e mistérios. Todos os
poderes, mistérios e realizações gradualmente se manifestam no Sufi, através
do desenvolvimento natural, sem uma luta especial por eles.
A obtenção da auto-realização é a mais importante e a mais difícil; é impossível
adquiri-la pelas ciências e pelas artes, nem é possível obtê-la como a saúde,
riqueza, honra e o poder que podem ser adquiridos por diversos meios. Por
causa da auto-realização, milhares de pessoas têm renunciado às famílias, a
todos os bens do mundo e os reis aos seus reinados, e têm se retirado para o
deserto, selvas ou montanhas, jejuando e lutando para encontrar no ascetismo
o segredo desta bênção.
TREINAMENTO SUFI
O mestre prefere um discípulo cuja mente esteja desembaraçada de outros
métodos de treinamento; que seja livre de ponderações e seja possuído de
sincera perseverança; que seja capaz de confiar com verdadeira fé e devoção
na orientação de seu mestre.
A prática da harmonia e temperança é essencial, mas o mestre nunca prescreve
para seu discípulo a vida ascética; antes, é uma peculiaridade no treinamento
Sufi que o discípulo seja estimulado a apreciar e desfrutar do mundo mais do
que os outros. O mestre, primeiro, cria no discípulo o amor divino que, no
decurso do tempo, desenvolve e purifica tanto seu coração que permite serem
as virtudes da humanidade desabrochadas espontaneamente. Então, ele recebe
mais e mais a sabedoria divina do canal estabelecido e por fim chega à completa
auto-realização.
Não há um curso comum de estudo para o discípulo, cada um recebe um
treinamento que melhor se adapte às suas necessidades. Em outras palavras, o
mestre, como um médico espiritual, prescreve um remédio indicado para a cura
de cada discípulo. Não há limite de tempo para o avanço de um determinado
grau. Para um, a realização pode vir logo após a iniciação; para outro, pode não
ser concedida durante toda a sua vida. Entre os provérbios de Maomé se
encontra este: “Não depende de nada, mas da misericórdia de Alá, seja quem
for deverá ser escolhido por Ele.”
Ainda há esperança de sucesso: “Aquele que dá um passo em direção à graça
de Alá, a misericórdia divina dá dez passos para recebê-lo.”
MANIFESTAÇÃO
O Único Ser tem se manifestado através dos sete diferentes planos da existência
para realizar Seu desejo de ser reconhecido:
1. Zàt – o não manifestado
Tanzih 2. Ahadist – plano da Consciência Eterna
3. Wahdat – plano da consciência
4. Wahdaniat – plano das idéias abstratas
5. Arwah – o plano espiritual
Tashbih 6. Ajsam – o plano astral
7. Insán – o plano físico
Existem, ainda, sete aspectos da manifestação:
1. Sitara – terrestre
2. Mahtab – lunar
3. Aftab – solar
4. Madeniat – reino mineral
5. Nabitat – reino vegetal
6. Haywanat – reino animal
7. Insán – reino humano
Insán, sendo a manifestação ideal, reconhece Deus pelo conhecimento do seu
próprio eu. O homem alcança esta perfeição pelo desenvolvimento através de
cinco graus de evolução:
1. Nasut – plano material
2. Malakut – plano mental
3. Jabarut – plano astral
4. Lahut – plano espiritual
5. Hahut – plano da consciência
Cada grau de desenvolvimento prepara a pessoa para um grau mais elevado e
prepara-a em cinco diferentes graus da humanidade:
1. Adam – o homem comum
2. Insan – o homem sábio
3. Wali – o homem santo
4. Qutb – o santo
5. Nabi – o profeta
As cinco naturezas correspondentes a estes cinco graus são:
1. Ammara – aquele que atua sob a influência dos sentidos;
2. Lauwama – aquele que se arrepende de seus erros;
3. Mutmaina – aquele que pensa antes de praticar uma ação;
4. Alima – aquele que fala, pensa e age corretamente;
5. Salima – aquele que se sacrifica em benefício de outros.
O diagrama abaixo ilustra os planos de Muzul e Uruj (evolução e involução):
8. Todos os planos da existência consistem em vibrações, do tipo mais leve ao
mais denso; as vibrações de cada plano vêm de um mais elevado e se tornam
mais grosseiras. Quem conhece o mistério das vibrações realmente conhece
todas as coisas. As vibrações são de cinco aspectos diferentes, aparecendo nos
cinco elementos:
1. Nur – éter
2. Baad – ar
3. Atesh – fogo
4. Aab – água
5. Khaak – terra
Em relação a estes elementos, os homens têm cinco sentidos:
Sentidos Órgãos
Basarat – sentido da visão...................................os olhos
Samát – sentido da audição.................................os ouvidos
Naghat – sentido do olfato....................................o nariz
Lazzat – sentido do paladar..................................a língua
Muss – sentido do tato..........................................a pele
Através desses sentidos e diferentes órgãos da existência mental e física, Ruh,
a alma, experimenta a vida; e quando Ruh receber a mais elevada experiência
das fases da existência com o auxílio do mestre, terá, então, a paz e a bênção,
a realização do que é o único objetivo da manifestação.
INTERESSE E INDIFERENÇA
O interesse resulta da ignorância e a indiferença resulta da sabedoria; no
entanto, não é sábio evitar o interesse enquanto estamos no mundo da ilusão. O
interesse de Deus foi a causa de toda a criação e conserva todo o universo em
harmonia; entretanto, não devemos estar completamente imersos no fenômeno,
mas nos reconhecermos como sendo independentes de interesse.
O aspecto dual do Único Ser, na forma de amor e beleza, tem glorificado o
universo e produzido harmonia.
Aquele que chega ao estado de indiferença sem experimentar interesse na vida
está incompleto e apto para ser tentado pelo interesse a qualquer momento;
porém, aquele que chega ao estado de indiferença através do interesse,
realmente alcança o estado de bem-aventurança. A perfeição é alcançada não
somente através do interesse, nem somente através da indiferença, mas através
da experiência correta e do entendimento de ambos.
ESPÍRITO E MATÉRIA
Do ponto de vista científico, espírito e matéria são completamente diferentes,
mas, de acordo com o ponto de vista filosófico, são a mesma coisa.
Espírito e matéria são diferentes justamente como a água é diferente da neve.
Quando as vibrações espirituais se tornam mais densas se transformam em
matéria e quando as vibrações materiais se tornam mais leves se desenvolvem
em espírito.
Para um Sufi, no começo do treinamento, a vida espiritual é proveitosa, mas
depois de dominá-la, as vidas espiritual e material se tornam a mesma coisa e
ele é senhor de ambas.
CORAÇÃO E ALMA
O coração do homem é o trono de Deus. O coração não é somente um órgão
físico, colocado no meio do corpo e da alma, tem também a função de sentir. O
coração de carne é o instrumento que primeiro recebe o sentimento da alma e
transmite seu efeito através de todo o corpo. São quatro os aspectos do coração:
1. Arsh – a exaltação da vontade
2. Kursi – a sede da justiça e da distinção
3. Lawh – a fonte de inspiração
4. Kalam – a origem da intuição
A respiração mantém o corpo, o coração e a alma ligados. Consiste em vibrações
astrais e tem muita influência sobre a existência física e espiritual. A primeira
coisa que um Sufi faz para harmonizar toda a existência é a purificação do
coração. Como não há probabilidade do desenvolvimento da alma sem a
devoção, assim o discípulo fiel torna-se um Sahib-e Dil, como o caminho ideal e
mais fácil para o desenvolvimento.
INTELIGÊNCIA E SABEDORIA
Inteligência é o conhecimento obtido pela experiência de nomes e formas.
Sabedoria é o conhecimento que se manifesta somente do ser interior. Para
adquirir inteligência devemos nos aprofundar nos estudos, mas para obter
sabedoria nada é necessário, senão o fluxo da divina misericórdia, que é tão
natural como o instinto de nadar para o peixe ou de voar para o pássaro. A
inteligência é a visão que permite a alguém ver o mundo exterior, mas a luz da
sabedoria permite ver o mundo interior através do exterior.
A sabedoria é mais importante e mais difícil de atingir do que a inteligência,
piedade ou espiritualidade.
SONHOS E INSPIRAÇÕES
Sonhos e inspirações são provas irrefutáveis da existência de um mundo
superior. O passado, o presente e o futuro são vistos frequentemente num sonho
e podem ser revelados através da inspiração. O justo vê mais claramente do que
o injusto.
Há cinco espécies de sonhos:
1. Khayali – quando as ações e os pensamentos são reproduzidos no sono
2. Qalbi – quando o sonho é o oposto ao verdadeiro acontecimento
3. Naqshi – quando o verdadeiro significado é disfarçado numa representação
simbólica, que só pode ser entendida pelo sábio
4. Ruhi – quando o acontecimento verdadeiro é mostrado literalmente
5. Elhami – quando as mensagens divinas são dadas por escrito ou por uma voz
angelical
Às vezes, os sonhos são em forma clara, outras vezes em forma velada, dando
aviso de aproximação de perigos e certeza de sucesso. A habilidade da
consciência dos sonhos e seus significados varia de acordo com o grau de
desenvolvimento da pessoa.
Os sonhos produzem efeitos mais cedo ou mais tarde, conforme os astros sob
cuja influência acontecem. O sonho acontecido à meia-noite se realiza dentro de
um ano e o sonho depois dessa hora será realizado dentro de seis meses. Os
sonhos ocorridos nos primeiros alvores da madrugada se realizam logo. A
manifestação dos sonhos está também sujeita a certas condições, de acordo
com as boas e más ações do sonhador.
As inspirações são mais facilmente refletidas sobre as pessoas espirituais do
que sobre as pessoas materialistas. Inspiração é a luz interior que se reflete no
coração do homem. Quanto mais puro for o coração, como um espelho limpo,
mais claramente será a inspiração nele refletida. Para receber claramente as
inspirações, o coração deve ser preparado por meio de um treinamento
apropriado. Um coração com manchas de ferrugem nunca será capaz de receber
inspirações.
Há cinco espécies de inspirações:
1. Elham-e-´Ilm – inspiração de um artista e um cientista
2. Elham-e-Husn – inspiração de um músico e de um poeta
3. Elham-e-´Ishq – inspiração de um devoto
4. Elham-e-Ruh – inspiração de um místico
5. Elham-e-Ghayb – inspiração de um profeta
As inspirações são refletidas na humanidade de cinco maneiras:
1. Kushad der Khyal – na onda do pensamento
2. Kushad der Hál – nas emoções e sentimentos
3. Kushad der Jemal – nos sofrimentos do coração
4. Kushad der Jelal – no fluxo da sabedoria
5. Kushad der Kemal – na voz e na visão divinas
Alguns seres nascem com o dom da inspiração. Em outros a inspiração aparece
depois do seu desenvolvimento. Quanto maior for o desenvolvimento espiritual,
maior será a capacidade para receber inspiração, embora o dom da inspiração
não seja constante. É como disse o Profeta Maomé: “As inspirações são
cobertas e descobertas, e aparecem de acordo com a vontade de Alá, o Único
Conhecedor do desconhecido”.
LEI DA AÇÃO
A lei de causa e efeito é tão precisa nos seus resultados nos campos da palavra
e do pensamento como no mundo físico.
O mal feito, quando é considerado um mal, é um pecado e o bem feito, quando
considerado um bem, é uma virtude, mas quem faz o bem ou o mal sem
compreensão não tem responsabilidade por seus pecados nem crédito por suas
virtudes, mas é passível de punição ou recompensa da mesma maneira.
Os homens constroem seu futuro pelas suas ações. Suas ações, boas ou más,
espalham suas vibrações e se tornam conhecidas em todo o universo. Quanto
mais espiritual é o homem, tanto mais fortes e mais claras são as vibrações de
suas ações que são espalhadas pelo mundo e fazem seu futuro.
O universo é como uma abóbada: vibra com aquilo que você diz e lhe devolve
com o eco. Assim é a lei da ação: colhemos o que semeamos.
É impossível distinguir o bem do mal, porque a coisa vista é colorida pela
personalidade daquele que vê. Para a visão má, todo bem é um mal e para a
visão boa, mesmo o mal parece um bem, num certo sentido. Assim, os sábios
guardam silêncio na distinção do bem e do mal. A regra mais essencial é não
fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fosse feito. A ação é proveitosa
quando resulta da bondade e indesejável quando resulta da crueldade. Sem
dúvida, também, a força muitas vezes é o certo; porém, no fim, o certo é a única
força.
Existem diferentes princípios de vida nas diferentes religiões, mas a vontade do
Sufi é seu próprio princípio. Ele é o servidor que se submete aos princípios e é
o mestre que prescreve os princípios para ele próprio. Aquele que nunca foi
comandado na vida não sabe comandar, do mesmo modo que para se ser um
mestre deve-se primeiro ser um servidor.
O mestre, como médico da alma, prescreve os princípios necessários para o
discípulo, o qual, depois de completar o treinamento, chega ao estado
abençoado onde se sobrepõe às virtudes e pecados, e se situa além do bem e
do mal. Para ele a felicidade não mais difere da tristeza, porque seu pensamento,
palavra e ação tornam-se o pensamento, palavra e ação de Deus.
A MÚSICA ENTRE OS SUFIS
A música é chamada pelos Sufis de “Ghiza-i-ruh”, o alimento da alma. A música,
sendo a arte mais divina, eleva a alma para o espírito mais alto. A música, não
sendo vista, alcança logo o invisível. Como somente um diamante pode cortar
outro diamante, assim as vibrações musicais são usadas para tornar inativas as
vibrações físicas e mentais e o Sufi poder ser elevado às esferas espirituais.
A música consiste em vibrações que se precipitam de cima para baixo e, se
puderem ser usadas sistematicamente, poderão se expandir de baixo para cima.
A música verdadeira é apenas conhecida por alguns seres dotados. São cinco
os aspectos da música:
1. Tarab – a música que induz o movimento do corpo (artística)
2. Raga – a música que atrai o intelecto (científica)
3. Qawl – a música que cria os sentimentos (emocional)
4. Nida – a música ouvida com imaginação (inspiradora)
5. Saut – a música abstrata (celestial)
A música tem sido o meio favorito dos Sufis para o desenvolvimento espiritual.
Rumi, o autor de Masnavi, introduziu a música na sua Ordem Maulvi e deleitava-
se enquanto a ouvia, associando-a à lembrança do seu abençoado mestre.
Desde aquele tempo, a música tem sido a segunda matéria das práticas Sufis.
Declaram eles que a música cria harmonia em ambos os mundos e proporciona
a paz eterna.
O grande místico da Índia, Khwaja Moin-ud-Din Chishti, introduziu a música na
sua Ordem Chishtia. Até hoje, os entretenimentos musicais para elevação da
alma, chamados “Suma”, são mantidos entre os Sufis.
ÊXTASE
O êxtase é chamado “Wajad” pelos Sufis e é cultivado principalmente pelos
Chisthis. Esta bênção é sinal de desenvolvimento espiritual e também de
abertura para todas as inspirações e poderes. É o estado de paz eterna que
purifica todos os pecados. Somente os Sufis mais evoluídos podem
experimentar “Wajad”. Apesar de ser um estado abençoado e fascinante,
aqueles que se entregam inteiramente a ele se tornam desajustados, porque
todo excesso é prejudicial; como o trabalho diário é um precursor do descanso
da noite, assim é melhor desfrutar desta bênção espiritual somente depois de
cumpridos os deveres terrenos.
Os Sufis geralmente desfrutam do “Wajad” enquanto ouvem uma música
especial chamada “Qawwali” que produz emoções de amor, medo, desejo,
arrependimento, etc.
São cinco os aspectos de “Wajad”: Wajad dos dervixes que produz um
movimento rítmico do corpo; Wajad dos idealistas, expressado por uma
sensação emocionante no corpo, lágrimas e suspiros; Wajad dos devotos, que
cria um estado de exaltação no corpo físico e mental; Wajad dos santos, que cria
uma calma perfeita e paz, e Wajad dos profetas, a realização da consciência
mais elevada chamada de “Sadra al Manteha”.
Aquele que, pela proteção do Mestre, chega ao estado de “Wajad”, é sem dúvida,
uma alma abençoada e merece todo o respeito.
CONCENTRAÇÃO
O universo inteiro, com toda a sua atividade, foi criado através da concentração
de Deus. No mundo, todo ser está ocupado, consciente ou inconscientemente,
em algum ato de concentração. Deus e o diabo são igualmente o resultado da
concentração. Quanto mais forte é a concentração, tanto maior o resultado. A
falta de concentração é a causa do fracasso de muitas coisas. Para este mundo
e o outro, para o progresso material, como também do espiritual, o mais
essencial é a concentração. O poder da vontade é muito maior do que o poder
da ação, mas a ação é a necessidade final para a realização da vontade. A
perfeição é alcançada pela prática regular da concentração, passando por três
graus de desenvolvimento: “Fanà-fi-Shaikh”, aniquilamento no plano astral,
“Fanà-fi-Rasul”, aniquilamento no plano espiritual e “Fanà-fi-Allah”,
aniquilamento no abstrato.
Depois de passar por estes três graus, o estado mais elevado é conseguido com
“Báqi-bi-Allah”, aniquilamento da consciência eterna que é o destino de todos
que viajam por este caminho.
A respiração é a primeira coisa a ser bem estudada. Esta é a verdadeira vida e
também a cadeia que liga a existência material à espiritual. O seu controle
perfeito é a escada que leva do mais baixo ao mais alto estágio de
desenvolvimento. Sua ciência deve ser dominada com o auxílio do mestre, a luz
guia de Deus.
O ASPECTO MASCULINO
E FEMININO DE DEUS
O Único Ser é manifestado através de todos os planos da existência em dois
aspectos: o masculino e o feminino, representando as forças positivas e
negativas da natureza. São dois os aspectos no plano da consciência: “Wahdat”,
consciência e “Ahadiat”, consciência eterna, assim como espírito e matéria, noite
e dia, significam o aspecto dual nos planos inferiores. Nos reinos mineral e
vegetal o sexo está num estado de evolução, porém a manifestação mais alta do
masculino e do feminino é o homem e a mulher.
O homem sendo o primeiro aspecto da manifestação é o espírito maior e o mais
perto de Deus; a mulher sendo a seguinte manifestação é mais pura e mais
capaz do conhecimento divino. A tendência natural do homem é em direção a
Deus, enquanto a tendência da mulher é em direção ao mundo. Estas tendências
contrárias resultam em equilíbrio. Por isso o homem necessita da mulher para
dirigir sua vida e a mulher necessita do homem para seu governo e proteção,
ambos sendo incompletos em si mesmos.
O problema da emancipação da mulher deve ser estudado pela comparação de
sua posição no Oriente e no Ocidente.
A mulher Oriental, cuja liberdade é restrita, é a melhor esposa do ponto de vista
individual, porém a inatividade forçada de metade da população não é benéfica
para a nação. A mulher Ocidental, a quem é dada inteira liberdade, é menos
ansiosa e menos capaz na vida do lar, mas estando no mundo sua presença
promove o progresso da nação.
À primeira vista, pode parecer que a mulher é mais respeitada pelo homem, no
Ocidente, mas, na realidade, o Oriente lhe presta a maior reverência.
O homem tem mais liberdade do que a mulher, em todo o mundo, porque ele
tem mais força e poder e a delicadeza da mulher necessita de proteção, como
os olhos, sendo um dos órgãos mais sensíveis do corpo, são protegidos pela
natureza através das pálpebras. Ambos se sobressaem en suas próprias
características.
A virgem é adorada pelo homem porque ela é o modelo da alta manifestação; a
virtude da mulher é um ideal maior do que sua beleza física e intelectual. A
natureza a colocou sob a proteção do homem, porém o mais desejável é que o
homem dê liberdade à mulher e que ela a valorize, fazendo melhor uso dela.
Há três tipos de virgens. Aquela comumente considerada virgem, que nunca teve
ligação com o homem; uma outra é a virgem pelo coração, cujo amor é
centralizado num só amado; e a terceira é a virgem de alma, que considera o
homem como um Deus. Somente ela pode dar nascimento a uma criança divina.
Uma mulher pode se tornar uma médica, advogada ou ministra, porém é
incomparavelmente mais nobre se pode se tornar uma boa esposa e uma mãe
extremosa.
A monogamia e a poligamia são atributos humanos inatos. Elas também existem
entre os pássaros e animais. Cada indivíduo nasce com uma dessas tendências,
mas algumas vezes uma se desenvolve mais do que a outra pelos efeitos da
atmosfera e do ambiente. Estas tendências também dependem das condições
climáticas e físicas dos diferentes países e raças. A poligamia pode ser natural
ao homem e a monogamia à mulher, porque a primeira favorece a manifestação,
enquanto a última a destrói. A poligamia ilegal é pior do que a legal porque ela
cria falsidade e hipocrisia. A monogamia é a vida ideal, que proporciona conforto
neste mundo e no futuro, e aperfeiçoa a pessoa no amor.
A renúncia absoluta é tão indesejável quanto a fixação cega no mundo. A vida
ideal é um interesse imparcial pelo mundo, que é melhor conseguido pelo
homem e pela mulher juntos.
A mulher é um mistério em si mesma, devido a sua natureza sutil. Sábios que
erraram, considerando a mulher de menor importância espiritual, esqueceram
que eles próprios eram frutos da mulher.
A maioria dos profetas e mestres têm sido homens porque o homem é a mais
alta manifestação, representada pelo mito de Adão e Eva, no qual Eva nasceu
da costela de Adão, significando que a mulher é a manifestação posterior; o fruto
significa que a mulher dirigiu os pensamentos do homem em direção à
procriação. A interpretação do exílio de Adão e Eva do paraíso é a queda da
humanidade do estado de inocência para o estado da juventude. A separação e
infelicidade de Adão e Eva mostram o objetivo de Deus de manifestar no aspecto
dual que Ele pode realizar seu verdadeiro desejo de amor. De acordo com o
Vedanta, metade do corpo divino, Arghangi, é do sexo feminino, provando que a
unidade de ambos é a vida completa.
Os Sufis consideram uma vida de completa unidade a mais equilibrada, se é
verdadeira e harmoniosa. O amor e a sabedoria criam harmonia entre o homem
e a mulher, porém se estão ausentes cessa de existir a harmonia.
A criança herda mais qualidades de sua mãe do que de seu pai, por isso a mãe
é mais responsável por seus méritos e defeitos e se ela tiver conhecimento
poderá treinar a alma de seu filho mesmo antes do seu nascimento pelo poder
de concentração, moldando o futuro da criança de acordo com seu próprio
desejo.
A harmonia entre pessoas mais puras é mais duradoura do que as afeições da
média da humanidade. As pessoas de qualidades angelicais têm harmonia
duradoura entre elas, na qual o próprio Deus realiza Seu objetivo de
manifestação.
A humanidade nasce com uma atitude de adoração e como todas as atitudes
mostram satisfação por meio da expressão, assim, a atitude do adorador
encontra seu objeto de adoração. Os antigos gregos e “Shiva Bhaktas” da Índia
cultuavam os aspectos da manifestação nos nomes de deuses e deusas. O
Sufismo, sendo a essência de todas as religiões e filosofias, considera ambos
os aspectos opostos da natureza como na realidade um e o chama de “Sifat
Allah”. Os Sufis alcançam a realização de Deus pela adoração de Sua natureza,
chamando por Ele, dizendo “Kull-i shayin Hál-i kull”, que significa: “Tudo
perecerá, exceto Sua própria Face”. Eles consideram todos os nomes e formas
como meio de conceber o Uno, o Único Ser.
AQUIBAT, A VIDA
APÓS A MORTE
CAPÍTULO I
A morte
Amamos tanto nosso corpo, identificamo-nos tanto com ele que nos sentimos
infelizes ao pensar que nosso corpo, que nos é tão caro, algum dia será
enterrado. Ninguém gosta de pensar que seu corpo está sujeito à morte e será
destruído. Mas o nosso verdadeiro “eu” não é o corpo, é a alma. A alma já existia
antes do nosso nascimento. Continuará a existir depois da morte. O que sustenta
o que concebemos como “eu”, que é uma entidade viva, não é o corpo e sim a
alma, mas a alma deixa-se iludir pelo corpo. A alma pensa que é o corpo. Pensa
que ela anda, senta, deita, porém ela não faz realmente nada disso. Uma ligeira
indisposição do corpo faz a alma pensar que está doente. Uma leve ofensa abate
a alma. Um pequeno elogio faz a alma pensar que está no Céu. Na realidade, a
alma não está nem no Céu nem na Terra, está onde é seu lugar. Alojada num
corpo físico, material, a alma se ilude a ponto de pensar: “Só posso viver do
alimento material, só poderei viver se me conservar na Terra, só posso apreciar
as coisas materiais à minha volta. Sem isso não estou em lugar algum e nada
sou.”
Na Pérsia há o seguinte ditado: “Nunca faça uma casa em terreno alheio”. É
justamente isso que a alma faz. A consciência reconhece como seu tudo que vê.
A pureza da alma se reflete em tudo que encontra à sua frente. Daí pensar: “Isto
sou eu”. É o que precisamente acontece com a água, que quando está límpida
reflete a nossa imagem. A alma quer que tudo seja belo e agradável, para seu
conforto e vaidade. Gosta que seu “eu” objetivo esteja bem vestido e passa a
desejar para ele todas as coisas boas. Constrói para si uma bela casa e através
da existência procura obter tudo o que deseja. Quando mais tarde vem a morte,
o castelo que construiu na areia se desmorona. A propriedade que adquiriu lhe
é arrebatada e isso é motivo de grande desapontamento. Perde tudo que lhe
interessava. O que realmente acontece quando sobrevém a morte é a volta da
alma ao seu eu puro. O que perdeu foi o que a cercava na Terra, que não
passava de ilusão por ser de caráter transitório. Foi isso que foi retirado de sua
visão, o que deu à alma a idéia de morte, encarada por ela com verdadeiro
horror. Morte é o horror e o desapontamento. Essas são as mortes que realmente
existem. O corpo nada mais é que um invólucro para abrigar a alma. Quando o
corpo morre ou é destruído, não estamos mortos, porque a alma não está sujeita
à morte. O que morreu foi o corpo. Nunca nos julgamos mortos se nosso casaco
se gastou ou alguém rasgou nossa camisa.
O momento de nossa morte é o único momento em que sentimos que estamos
mortos. A impressão causada por esse estado de morte, a desesperança do
médico, a tristeza e o pesar dos familiares, tudo isso completa essa impressão.
Depois da morte, logo que nos recobramos dessa impressão, gradativamente
descobrimos que estamos vivos, porque vemos que a vida nos conservou vivos
enquanto usávamos nossa roupa física – o corpo – e naturalmente, no início, nos
sentimos estranhos quando essa roupa nos é retirada. Entretanto, a alma não
morreu, está ainda mais viva. Aquele grande fardo que era o corpo físico foi
removido, o corpo que por certo tempo nos fez pensar que era a verdadeira vida.
A alma, usando seus próprios poderes, cria os elementos de que precisa para
viver e os extrai do exterior. Colhe e armazena esses elementos. Contudo, o uso
desses elementos acaba por desgastá-los e eles duram apenas um determinado
tempo. A alma mantém no corpo todos esses elementos enquanto interessam
ao corpo e enquanto o magnetismo do corpo os quiser reter. A atividade mantém
esses elementos ocupados. Logo que diminui o interesse da alma pelo corpo ou
logo que os elementos que compõem o corpo perdem o poder por fraqueza ou
qualquer irregularidade no mecanismo do corpo, o corpo vai afrouxando a garra
e a alma, cuja tendência inata é ser livre, liberta-se, aproveitando imediatamente
a oportunidade que lhe foi dada de se libertar, pela incapacidade do corpo de
retê-la por mais tempo. O resultado é o que chamam de morte.
Os elementos criados pela alma começam a se dispersar, mesmo antes de
ocorrer a morte do corpo físico. Depois da morte do corpo, esses elementos
voltam diretamente para o lugar de onde foram tirados, isto é, a água volta para
o elemento água, a terra para a terra, e assim por diante, cada um com seu
semelhante. Ficam contentes por voltar. Cada elemento se regozija com seu
semelhante. Se existir gás perto do fogo, a chama vai para o gás, porque no gás
existe muito do elemento fogo.
Pensamos que isto é tudo que ocorre e que depois da morte nada restará a uma
pessoa comum, aquela que pensou que era somente um corpo, o corpo alto,
grande, pesado, com muitos anos de vida, aquela que pensou que nada restaria
quando o corpo físico desaparecesse, que tudo se extinguiria. Entretanto, não é
bem assim. Quando o corpo desaparece a mente permanece. A mente é a parte
mais delicada do eu do homem e se compõe de vibrações. Os elementos existem
tanto nas vibrações como nos átomos. Se assim não fosse, uma pessoa zangada
não ficaria vermelha e com calor. No sonho, quando nosso corpo está
adormecido, vemo-nos andando, falando e agindo em certos lugares com
determinadas pessoas. Só chamamos isso de sonho pelo contraste com a
condição de andar. O nosso eu existe depois que o corpo desaparece. Continua
a existir a exata contraparte do que somos agora, não daquilo que éramos
quando tínhamos cinco ou dez anos, mas daquilo que somos agora.
Às vezes diz-se que a alma é o que permanece depois da morte do corpo físico
e vai para o céu ou inferno. Não é bem assim. A alma é algo muito mais
grandioso. Uma coisa que em si mesma é luz, “Nur” ou a Luz de Deus, poderia
ser queimada pelo fogo? No entanto, devido à ilusão, a alma toma para si todas
as condições que a mente tem que passar depois da morte. Portanto, a
experiência da alma que depois da morte não atingiu a liberação é muito
deprimente. Se a mente não estiver muito ligada à vida terrena e não tiver
armazenado a satisfação de suas ações, gozará o céu. No caso contrário,
experimentará o inferno.
A mente que evoluiu com os cuidados e ligações terrenas não deixa a alma ficar
na luz. Se enviarmos um balão para o ar ele sobe, mas depois cai. Eleva-se
devido ao ar dentro dele, cai por causa de sua substância material. A tendência
da alma é subir às mais altas esferas, às quais pertence. Assim é a natureza da
alma. A substância material ou terrena que recolheu à sua volta faz com que
volte à Terra. O papagaio de papel sobe, mas a corda na mão de quem o solta
faz com que ele volte à Terra. As ligações terrenas são as cordas que trazem a
alma para baixo. Notamos que a fumaça sobe e no seu trajeto deixa na chaminé
sua substância material. Deixa no ar o restante de sua substância material e só
depois que tiver deixado tudo para trás é que poderá subir ao éter. Também a
alma não pode se elevar das regiões baixas até que tenha deixado para trás
todos os desejos e ligações.
Todos têm grande medo da morte, especialmente as pessoas simples,
delicadas, afetuosas e os que estão muito ligados ao pai, mãe, irmãos, irmãs,
amigos, posição e haveres. Os infelizes também temem a morte. Uma pessoa
prefere viver muito doente a morrer. Prefere estar num hospital que no túmulo
como os mortos. Quando o homem pensa: “algum dia vou deixar isto tudo e ser
enterrado num túmulo”, uma grande tristeza dele se apossa. Alguns carregam
esse medo grande parte de suas vidas. Em outros, esse medo dura a vida inteira.
A prova que o medo da morte é muito forte está no fato de sempre considerarem
a morte a pior punição, embora nem de longe seja tão ruim como as dores,
tristezas e preocupações da vida.
A morte é uma experiência para a qual alguns vão preparados e outros
despreparados, alguns com confiança, outros com medo. Entretanto, por mais
que alguém pretenda ser espiritual ou virtuoso, é testado diante da morte. As
máscaras caem por terra. Está escrito no Corão: “Quando a calamitosa colisão
vier, nesse dia o homem recordar-se-á daquilo por que lutou”.
Um velho vivia sempre chorando, se lastimando e dizendo: “Como sou infeliz,
minha vida é tão dura, sempre trabalhando e me cansando! Seria melhor se
estivesse morto”. Todos os dias as mesmas lamentações. Pedia insistentemente
que a morte o levasse. Um dia Azrael, o anjo da morte, apareceu e lhe disse:
“Tens me chamado tantas vezes. Vim buscar-te”. O velho gritou: “Ainda não, sou
um homem velho e peço que me sejam concedidos mais alguns dias de vida”. O
anjo da morte disse-lhe: “Pediste tantas vezes para morrer; não posso atender-
te, deves ir para perto de Alá”. O velho insistiu: “Esperai mais um pouco. Deixai-
me ficar aqui mais algum tempo”. O anjo da morte respondeu: “Nem mais um
minuto” e levou-o.
Qual o pensamento que vem à mente no momento da morte? O pensamento
que vem depende da evolução do indivíduo: alguns pensam em Deus, no objeto
de sua devoção, ou em ambientes agradáveis, sobre o que gostam e tenham
idealizado. Se a pessoa é materialista, o pensamento de ambientes agradáveis
criar-lhe-á um céu. Se seu estado é a devoção, unir-se-á com o objeto de sua
devoção. Se é um religioso, seu pensamento se volta certamente para Deus, o
correto. Consta dos provérbios de Maomé: “Verdadeiramente, a morte é uma
ponte que une amigo a amigo”.
Quando dizem que certas pessoas estão na presença de Deus, referem-se aos
que mantêm diante de si a visão do Bem-Amado Divino, que toda a vida
idealizaram. Alegram-se durante um tempo bastante longo com a presença do
Ser idealizado.
Enquanto vivemos na Terra, temos consciência de três coisas: corpo, mente e
alma. Depois da morte física, temos consciência somente da mente e da alma.
Enquanto estamos no plano físico, se aparecer um ladrão não ficamos muito
amedrontados: olhamos à volta e procuramos algo para atacá-lo, mas no sonho
temos medo, porque nada temos para atacá-lo. No campo físico, a vontade é
muito mais forte, no sonho, a imaginação é mais forte e a vontade menos forte.
Na vida física, temos oportunidades entre uma e outra experiência. Se à noite
temos medo, de manhã dizemos: “Foi um pesadelo” ou “Em meu sonho estava
triste, mas isso nada significa”. No sonho não temos chances.
Assim sendo, é aqui que devemos acordar para o alvo da nossa vida. Do outro
lado não podemos melhorar tanto como aqui. Por esse motivo é que alguns
seres, os escolhidos de Deus, diziam: “Acorda, acorda, enquanto há tempo”.
Alguns podem fazer o que quiserem num sonho. O que desejam acontece e o
que viram à noite no sonho acontece no dia seguinte. São casos excepcionais.
Como dominam a sua vontade na Terra, podem fazer com que as coisas
aconteçam de acordo com sua vontade, até no plano superior. Quando alguém
fica alegre e quer que outra pessoa coma a iguaria que está comendo, quando
deseja que outra use belas roupas iguais às que usa, elevou-se acima da
humanidade. São esses os santos e sábios. O futuro de suas vidas está em suas
mãos, porque se sentem felizes tanto com o lucro como com a perda.
A mente dos profetas e mestres não pode ser comparada com outras mentes.
Suas mentes são controladas pela mestria a que chegaram. Conservam-nas
assim muito mais tempo. Como viveram sempre para os outros, depois da morte
continuam a viver para os outros. Pensaram apenas no eterno. Outros pensaram
em coisas passageiras e suas mentes serão passageiras.
Estudando o Sufismo, uma pessoa passa a saber o que lhe acontecerá depois
da morte, isto é, o que acontecerá ao seu “eu” que é o seu ser verdadeiro,
estando isso habitualmente oculto para nós. Depois da morte física, a vida que
não morre dá ao homem novas condições para viver em outros planos.
Permanece sempre vivo. Nós, como seres vivos, existimos tanto na terra como
no mar. Somos constituídos dos elementos terra e água. Os seres do mar são
formados também de terra e nós temos igualmente água em nossa constituição.
No entanto, o mar é tão estranho para nós como a terra é estranha para as
criaturas do mar. Não gostariam de trocar de lugar e se acontecesse ficarem fora
de seu elemento, a água, acabariam por ser extintos. Isso porque o peixe não
compreendeu que é também um ser da terra, que a terra também é seu
elemento, que ele não pode viver na terra. Da mesma forma os seres da terra,
cuja vida depende de estarem em terra firme, fracassam no mar porque pensam
que vão afundar.
Se fôssemos lançados ao mar, seria horrível, porque estaríamos convencidos
que iríamos para o fundo, que morreríamos afogados. O medo e o pensamento
de afogar é que nos levariam ao fundo. O mar mantém na sua superfície um
navio em que viajam milhares de passageiros e carrega toneladas de carga. Por
que não manteria à tona nosso pequeno corpo?
Nosso ser interior é como o mar, nosso ser exterior é como a terra. O mesmo
acontece com a palavra morte. Morte é a parte marítima de nós mesmos, para
onde somos levados quando saímos da parte terrena. Por não estarmos
acostumados, achamos a jornada pouco familiar e desconfortável e a chamamos
de morte. Para o homem do mar a viagem marítima é tão fácil como a viagem
por terra. Sobre este assunto Cristo disse a Pedra: “Ó homem de pouca fé, por
que duvidaste?” Em Sânscrito e em Prakrit liberação é “Taran”, que significa
nadar. O poder de nadar é que faz da água o habitat do peixe. Para os que
nadam no oceano da vida eterna, se possuem um corpo ou não possuem um
corpo, o mar se torna sua eterna morada.
O nadador brinca com o mar. A princípio nada um pequeno percurso, depois
nada mais além. A seguir domina o mar e por fim o mar se transforma em seu
lar, em seu elemento, como a terra. Aquele que domina os dois elementos, terra
e água, conseguiu a mestria total.
Os mergulhadores do porto de Ceilão e os árabes no mar Vermelho mergulham
até o fundo. Primeiro obstruem os ouvidos, os olhos, a boca e o nariz, depois
mergulham e trazem as pérolas. O místico também mergulha no mar da
consciência, fechando todos os sentidos ao mundo exterior para entrar no plano
abstrato.
O trabalho do Sufi é fazer desaparecer o medo da morte. Esse caminho é trilhado
para que saiba durante a vida o que conservará depois da morte. Está escrito no
Corão: “Mutu kubla anta mutu”, cuja tradução é: “Morra antes da morte”. Despir
o seu traje mortal, ensinar à alma que ela não é um ser mortal e sim um ser
imortal, para que possamos escapar do grande desapontamento que traz a
morte, isso é que um Sufi realiza na vida.
CAPÍTULO II
O Dia do Julgamento
No Budismo e na religião Hindu pouco é dito sobre o Dia do Julgamento porque
eles têm a doutrina do Carma, porém no Corão ele é repetido com grande ênfase
nas diferentes “suras”. A Bíblia menciona-o muitas vezes.
O Dia do Julgamento, do qual muitas religiões têm falado, é um grande segredo.
Tudo que pode ser dito sobre ele é que nenhum momento, nem mesmo o piscar
de olhos, passa sem julgamento. Na consciência de cada indivíduo existe a
faculdade de julgar, julgar a si próprio e aos outros, e esta faculdade existe na
sua perfeição na Consciência universal que julga todo o universo. A primeira é a
justiça do homem e a última a justiça de Deus.
Na justiça do homem são encontrados parcialidade e erro, porque sua
consciência está obscurecida pelo seu eu; assim, a faculdade de ver da
consciência torna-se difícil. A justiça de Deus é a correta, porque nenhuma
sombra de parcialidade cai sobre a Sua consciência universal, pois todo o
universo é Seu campo de visão e, portanto, Sua vista é aguçada. Assim como
nossa justiça determina nossos gostos e insatisfações e cria em nós atos de
generosidade ou de desagrado pelos outros, assim é com Deus. Ele considera
a soma dos feitos e aplica recompensas e punições. Também perdoa com Sua
misericórdia e compaixão a quem Ele pode perdoar, como fazemos nós seres
humanos em nosso curto caminho. Para os de pouca visão, a justiça do homem
é simples, porém a justiça de Deus é por demais indefinida para ser entendida;
existem exemplos aparentes que os deixam perdidos, tais como o honesto sendo
mal tratado enquanto o desonesto goza a vida. Mas os de vista aguçada podem
ver o fim da alegria para o desonesto e dos maus tratos para o honesto. O vidente
pode ver o golpe aguardando sua hora para cair sobre um e a recompensa sendo
preparada para o outro. É só uma questão de tempo.
Para uma pessoa materialista isto parece absurdo. Pensa: “se eu roubo alguém
e a polícia me prende, este é o julgamento. Se eles não me apanham, tudo bem,
então estou a salvo. Se tenho uma bolsa cheia de dinheiro e posso pagar rábulas
e advogados, está tudo certo.” Não vê nada da vida futura, vê somente o agora.
Um crente ingênuo acredita que existe o Dia do Julgamento, mas dificilmente
sabe alguma coisa sobre ele. O Sufi deve reconhecer que existe um registro de
cada ação, pensamento e trabalho na memória – o manuscrito da natureza
aberto diante da nossa própria consciência. Se um assassino escapa da polícia,
não pode escapar de sua consciência interior. Pode-se pensar: “É sua própria
consciência, o que importa se está descontente por algum tempo?” Porém, há a
Consciência universal atrás disto, perfeitamente justa e todo-poderosa, a qual,
se ele escapou da terra e encontrou refúgio na água, pode abatê-lo mesmo
através das ondas do mar, como punição para seu crime.
Tudo que se faz, todo o nosso trabalho, tem três partes: o início, a ação e o fim.
No início existe esperança, na ação há alegria e no fim, a realização.
Pela manhã, ao acordar, a pessoa está refeita e pronta para planejar todo o
trabalho do dia. Trabalha durante todo o dia e à noite vê o resultado obtido de
seu trabalho e qual foi o seu ganho.
Quando uma criança nasce está disposta e pronta para se distrair com tudo. É
feliz com pequenas coisas, qualquer bonequinha que lhe seja dada. Não sabe o
que é o mundo nem os problemas da vida. Portanto, a pessoa tem que passar
na vida por todas as experiências, boas e más, e quando chega a velhice vê,
então, o resultado de suas ações. Na época da ação ela não a vê, pois a ação é
cega. Então, se trabalhou para alcançar riquezas ela terá riquezas; se trabalhou
para a fama ela a terá. Se ama, recebe a afeição e simpatia dos que a rodeiam.
Quando está velha, é o período do julgamento na Terra. Então vê a recompensa
de suas ações. Se matou alguém, o julgamento se dá quando ela é enforcada.
Se roubou, ela vai para a prisão e se arrepende. Porém, o tempo para a ação
chega apenas uma vez e depois disto é tarde demais para reparar nossas faltas.
Fazemos muitas coisas que, no momento, nos parecem corretas; porém, depois
nosso eu não se satisfaz. É como a pessoa que come alguma coisa com um
sabor agradável mas depois produz um odor ruim, de modo que o cheiro de seu
próprio hálito lhe traz dor de cabeça. O que foi tolerado naquele ser enquanto
tinha força, magnetismo e atividade junto com energia, polidez, aparência e bom
aspecto, não será tolerado por mais ninguém quando a força o deixar. Torna-se
mal-humorado, seus filhos querem deixá-lo porque dizem que o velho papai
perdeu a cabeça; seus amigos o rejeitam, dizendo que ele não os interessa.
Existem muitos hábitos e fraquezas da mente que na juventude não parecem de
maior consequência, tais como inveja, ganância, cobiça, ódio e paixão. Quando
a juventude passa, com sua própria força e magnetismo, somente a fraqueza
permanece com sua insaciedade. Estamos cegos enquanto nos engajamos em
uma atividade. Nossos olhos se abrem quando chega o resultado.
Uma vez um “Badishah” estava cavalgando numa floresta. Ao atravessar uma
ponte viu um homem completamente bêbado parado no meio dela. O homem
gritou: “Caminhante, quer me vender esse cavalo?” Porque ele estava bêbado
não podia reconhecer o cavaleiro. O “Badishah” pensou: “Ele está bêbado” e,
assim, não deu mais atenção. Depois de caçar por algumas horas na floresta,
viu o homem que havia parado no meio do caminho, sentado, agora, ao lado da
estrada. O “Badishah” perguntou ao homem, por brincadeira: “Você quer
comprar este cavalo?” A bebedeira do homem havia passado. Ele estava atônito
ao pensar o que teria dito ao “Badishah” enquanto alcoolizado; porém,
afortunadamente, ele pensou numa resposta muito sagaz. Disse: “O comprador
do cavalo se foi, permanece o tratador do cavalo”. Isto agradou ao “Badishah”
que perdoou sua falta.
Há uma época em que o nosso ego deseja tudo que o tenta, porém, quando os
estágios do início e da ação passam, permanece a desesperança.
Nossa vida tem três partes: a parte antes do nascimento, a do tempo de nossa
vida terrena e do tempo depois da morte. Quando consideramos nossa vida aqui
e a futura, compreendemos que nossa vida na Terra é nossa juventude, o
período da vida futura o tempo de colher os frutos de nossas ações e a época
do julgamento chega depois da morte.
Nas artes também vemos que existem três destes aspectos. Na música há
primeiro a introdução, depois a música em toda a sua grandeza e depois a
conclusão, que dá a essência de tudo que se passou antes. Na pintura, o artista
primeiro desenha, depois colore o quadro e depois o olha. Se não está do seu
agrado apaga-o ou rasga-o. Alguém diria: “Você o fez, por que o rasgou?”
Porque quando ele olha o quadro descobre, algumas vezes, que não tem valor,
ao passo que quando está bom o artista deseja que seja enviado a uma
exposição e, orgulhosamente, convida seus parentes e amigos para apreciá-lo.
Este mundo é o quadro do Criador. O Criador, como o artista, olha seu trabalho
e o altera, melhora ou o apaga, como melhor lhe pareça.
Por que o Dia do Julgamento é chamado de “dia”? Nosso dia é quando estamos
acordados, nossa noite é quando estamos dormindo. Não são o dia e a noite da
Terra, que são limitados a vinte e quatro horas, mas o dia e a noite da
consciência. O que separa um dia do outro, o que nos faz distinguir os dias é a
noite.
Aqui, nossa vida está na ignorância da atividade, onde o mundo de ilusão parece
real a nossos olhos e a rápida passagem pela vida nos parece estável;
exatamente como quando num trem nos parece que árvores em fila estão
correndo e o trem está parado. Quando a vida ilusória prova não ser real, como
pensamos por algum tempo, chega o dia em que as coisas aparecem tão claras
como a luz do dia. Para alguns poucos, isto acontece neste mundo, mas
acontece para todos na vida futura.
Aqui temos dois estados: o da vigília e o do sonho. Lá a única realidade será o
sonho. Será nosso dia contínuo, sem a interferência da noite. Não haverá
mudança. Este dia durará para sempre, isto é, até a nossa individualidade
submergir na consciência divina.
Sonhamos com todas as coisas que nos cercam e com todas as coisas como
aparecem. Sonhamos com um cavalo ou um elefante, com nosso irmão, irmã,
mãe, pai ou tio, porém não sonhamos com objetos que não existem, ou com um
cavalo com asas ou um coelho com orelhas de elefante, porque estes não são
do nosso mundo. Aquilo com o qual nossa consciência está impressionada,
somente aquilo é nosso mundo. Esse mundo entra em julgamento
continuamente. O mundo do marido será sua casa e sua família, O mundo do rei
será o ambiente do palácio.
Não estaremos, então, num grande aglomerado onde haverá milhões e bilhões
de almas em qualquer forma que apareçam e todas as almas que existiram no
mundo serão julgadas ao mesmo tempo? Será assim na aparência, mas não em
realidade, porque o Dia do Julgamento de cada indivíduo refletirá o mundo inteiro
dentro dele e lhe será peculiar. Em outras palavras, o mundo será ressurgido em
cada alma. A afirmação e a negação de todos os aspectos da consciência
estarão em plena atividade, algumas vezes guiados por Munkir e Nakir, os anjos
registradores.
Na realidade, haverá um disco registrador que repetirá todas as experiências de
cada um, lembradas e esquecidas, boas e más, junto com um filme sobre tudo
que lhe diz respeito, se antes ou depois de morto, ou ainda vivo na Terra. Isto
tem lugar frente à nossa própria alma, na presença do Ser perfeitamente justo e
poderoso, o Conhecedor e Pesador de todas as coisas.
CAPÍTULO III
Céu e inferno
O princípio abstrato do céu e inferno existe, de urna forma ou de outra, em todas
as religiões, permitindo à religião manter grande influência sobre as massas,
mantê-las sob controle e induzindo-as a praticar o bem e evitar o mal. Esse
controle seria quase impossível sem a idéia do céu e do inferno, porque o homem
é sempre tentado para o mal e quando quer praticar o bem enormes dificuldades
surgem à sua frente. O reino da Terra parece pertencer aos maus, enquanto os
virtuosos procuram a misericórdia de Deus. Se não houvesse a recompensa do
céu e do inferno, a humanidade não teria se unido na religião da fé, por maior
que fosse uma outra recompensa qualquer.
A recompensa que nos é dada por Deus difere completamente do conforto e
riqueza da Terra, mas nos tempos primitivos – e isso ainda acontece com
algumas pessoas atualmente – essa recompensa só poderia ser compreendida
pelos homens se lhes fosse apresentada em termos terrenos. Eis o motivo por
que os Apóstolos receberam o poder de falar aos homens na sua própria
linguagem.
As Escrituras primitivas foram dadas aos homens numa época em que a
evolução do mundo era tal que o povo ansiava por qualquer conforto material
que pudesse obter. Diziam ao povo: “Se se afastarem do pecado, viverão entre
plantas sem espinhos e bananeiras repletas de frutos. Sua sombra abrigá-los-á
e terão sempre água corrente e leitos para descansar.
Nesse lugar vivem jovens em flor e seres brilhantes com olhos tão grandes como
pérolas. Haverá uma nova criação com jovens belas que carregarão os alimentos
em pratos dourados e vinho suave em jarros de ouro para ser servido em taças
douradas. Lá não verão semblantes crispados, não haverá fraqueza dos
sentidos. Terão os frutos de que mais gostarem, a carne das aves, tudo que
desejarem. Não ouvirão nenhuma conversa fútil, o pecado lá não existe e só
ouvirão o grito: “Paz, Paz!”
Se nós dissermos a uma criança: “Se fizer o que estou pedindo ganhará um
doce”, obedecerá, por maior sacrifício que seja para ela, porque pensa em comer
um doce. As palavras que constam das Escrituras sobre a recompensa para as
boas ações no Céu foram expressas de acordo com a evolução dos povos
daqueles tempos. As promessas foram feitas como um adulto promete a uma
criança: “Não tire a maçã do outro, vou lhe dar uma maçã mais doce do que esta”
ou “Não tire a boneca de nenhuma criança, porque vou lhe dar uma boneca mais
bonita do que qualquer outra”.
Era a única maneira de evitar que o povo pouco evoluído cometesse atos
indesejáveis.
Da mesma forma, a humanidade foi ameaçada com punição, como ser queimada
com fogo ardente, beber de uma fonte fervente, não tendo outro alimento senão
espinhos e cardos, assim como uma mãe diz a seu filho: “Você levará uma surra
se fizer isto”.
O Profeta Maomé expressou-se assim certa vez: “O inferno é para o mau. Os
tolos lutam pelo céu.”
Cada religião deu a idéia do céu e do inferno baseando-se nas cenas familiares
da Terra, de acordo com os usos e costumes de cada lugar.
O céu dos hindus é um teatro de ópera, onde existem “Upsaras” (cantores) e
“Gandharvas” (dançarinos). O inferno está cheio de cobras e escorpiões,
imundície e vermes.
No céu dos cristãos, os abençoados se transformam em anjos, vestidos de
branco, com asas também brancas, tocando harpas douradas. Ficam no céu
azul, sentados nas nuvens brancas, cantando em louvor a Deus. Sua alegria é
conhecer Deus e estar em comunhão com os abençoados. O inferno cristão é
uma fornalha incandescente e abrasadora, com lagos de enxofre e súlfur
causticante, onde o condenado não morre e o fogo não se apaga. Os demônios
aguilhoam os amaldiçoados com as pontas incandescentes de seus tridentes.
São os condenados atormentados pela sede e ficam no inferno para sempre ou
até que tenham pago a dívida de seus pecados até o último centavo.
No céu dos muçulmanos há os “Huris” e “Malaks”, os assistentes do céu,
esperando os habitantes de Jannat. Suas faces ficarão luminosas e radiantes
com a beleza celestial e serão incomparavelmente mais elegantes do que os
mais belos da Terra. Leite e mel correm nos riachos, jóias e gemas rolam pelo
chão. Estarão sempre à disposição bebidas refrescantes e brisa revigorante.
Todas as frutas e alimentos estarão à mão. Fontes de “Kouthar”, o vinho divino,
estarão sempre jorrando. Todos os que entrarem em Jannat, criança ou adulto,
serão sempre jovens. Haverá união com o sagrado e a atmosfera divina far-se-
á sentir em tudo. O inferno na tradição muçulmana é um lugar de fogo irado,
mais quente que qualquer fogo da Terra. Lá estão os que choram e gritam,
clamando por água e com chamas saindo pela boca. Os arredores são
melancólicos, miseráveis, desamparados e doentios. A escuridão, a confusão, o
horror e a ignorância envolvem o inferno. Uma atmosfera demoníaca cobre tudo.
Podemos perguntar por que as diversas religiões deram explicações diferentes
sobre o céu e o inferno. Os Profetas jamais falaram de coisas que não fossem
verdadeiras. Se nos basearmos na visão filosófica, veremos que o que queriam
dizer é: o que quer que tenhamos idealizado, é isso que obteremos.
Os hindus idealizaram o seu céu como um lugar de música, canto,
representações e dança.
No cristianismo evitaram, desde a sua fundação, o pensamento da distinção de
sexos. No seu lugar santo há anjos sem sexo cantando para Deus, no céu, acima
das nuvens.
Na Arábia, onde a areia é escaldante, o homem anseia por uma bebida
refrescante a todas as horas do dia e da noite. O clima torna o povo emotivo e o
leva a admirar a juventude e a beleza.
O inferno, em quase todas as religiões, foi descrito, de uma forma ou de outra,
como um lugar de tormento, onde se encontram todas as formas de tortura.
A imagem do céu ou do inferno teve origem numa revelação muito simples, como
veio à mente do Profeta Maomé: um grande horror ante a idéia do pecado e um
senso de alegria e de beleza diante da Beleza, que se expressa primeiro na
imaginação artística antes de surgir nos lábios. O pensamento de horror leva
imediatamente à imagem do fogo, especialmente entre os que vivem no deserto
e nas areias quentes da Arábia, onde a água é a única salvação para o povo e
o fogo sempre representa o principal elemento de destruição. Quando surge o
pensamento de alegria e beleza, é imediatamente imaginado como a beleza do
sexo oposto, que sempre deleitou as almas desde o primeiro dia da criação e
continuará eternamente. Assim sendo, todas as delícias atrairão os sentidos.
Todas as visões que se deseja ter ficaram diante da visão do Profeta e ele as
expressou na linguagem que os ouvintes podiam compreender e apreciar. O Sufi
penetra na fonte ou na origem do céu e do inferno, o crente simples se deleita
com as palavras.
Tudo de que falam as tradições é compreendido literalmente pelo crente, mas o
Sufi as vê de maneira diferente. Para o Sufi os “Huris” são expressões celestiais
da Beleza que aparece diante dos olhos abertos na Terra e que os olhos
admiram como imanência divina na Terra. No “Hadith” está escrito: “Deus é
beleza. Ele ama a beleza.” Toda a criação foi feita para que a beleza que existe
dentro do Criador pudesse se manifestar em Sua criação, para que fosse
testemunhada. A mesma tendência se vê em todo o percurso. Os olhos de Deus
vêem a beleza celestial através do devoto que caminha para a meta eterna. Diz
o Corão: “Nenhuma alma sabe o que lhe está reservado, que alegria refrescará
seus olhos como recompensa pelo que fez.”
O mel é a essência de todas as flores e a essência do ser integral é a sabedoria.
A sabedoria é o mel que se encontra no céu. O leite é a substância pura e
essencial preparada no seio da mãe. O sustento essencial do nosso ser é o
espírito puro como o leite. Bebemos esse leite por meio da espiritualidade e é
dele que nossa alma se nutre. Está escrito na Bíblia: “Nem só do pão vive o
homem, mas de toda palavra que vem da boca de Deus.” As riquezas terrenas
como gemas e jóias a que o devoto renuncia durante a sua passagem pela Terra
rolam como seixos sem valor diante de seus pés.
Para aquele que é vidente, a riqueza terrena que o homem persegue durante
toda a sua vida no fim se transforma em seixos que rolam a seus pés. “Kouthar”,
o vinho, representa a influência intoxicante do êxtase espiritual, que se esconde
no coração em forma de amor, purificando a mente de todas as impressões
gravadas durante a existência na Terra e preparando a alma para a união com
Deus.
Para cada pessoa existe um céu e um inferno diferentes, de acordo com seu
grau de evolução. O que para um é o céu, para outro é o inferno. Um pobre acha
que céu é ter urna casa confortável e um carro para transportá-lo. Se um rei
fosse obrigado a viver na casa de um rico negociante, apenas com um ou dois
carros e alguns empregados para servi-lo, acharia isso um inferno. Um estalo da
língua é mais penoso para um cavalo que dez chicotadas no lombo de um burro,
o que mostra que o inferno do cavalo e o inferno do burro não são os mesmos.
Há a história de um “Padishah”, um juiz, a quem levaram quatro pessoas
acusadas do mesmo crime. Olhou para uma delas e sentenciou: “Enforquem-
na”. Olhou para outra e disse: “Prisão perpétua”. Para uma outra sentenciou:
“Banimento”. Olhou a última e lhe disse: “Que vergonha! Como ousa me mostrar
a sua face? Vá embora e nunca mais me apareça”. O que foi sentenciado ao
enforcamento matou mais algumas pessoas no caminho da forca, o exilado
partiu e iniciou outro negócio usando sua velhacaria. Prosperou noutro país. O
que foi mandado para a prisão perpétua regozijou-se impudicamente com os
companheiros da prisão. O que foi eximido de culpa voltou para casa e suicidou-
se. Para ele as palavras amargas do “Badishah” foram piores do que uma taça
de veneno.
Deus, de seu trono, não nos recompensa ou nos pune e não existe um aprisco
ou cercado chamado céu em que os virtuosos podem entrar e não existe um
lugar chamado inferno em que todos os pecadores estão a penar. A realidade é
que experimentamos o céu e o inferno na nossa vida cotidiana, a todos os
momentos. Aqui na Terra experimentamos tanto a vida de sonho como a vida
física. Há sempre possibilidade de mudança. Se hoje estamos vivendo num
inferno, amanhã podemos viver num céu. Se hoje estamos vivendo num céu,
amanhã podemos estar vivendo num inferno. Quando retornamos deste mundo
de variedades, não progredimos pela experiência, nosso céu e nosso inferno não
mudam muito.
Falemos primeiramente do inferno e do céu que cada um de nós cria para si
mesmo na Terra. Quando se faz um ato que não agrada a nossa consciência, a
impressão permanece na consciência, torturando-a continuamente, mantendo
diante dela as agonias que o “eu” experimenta. Vemos neste mundo pessoas
em altas posições, vivendo em ambientes luxuosos, possuindo fortuna e poder.
Suas más ações, entretanto, criam dentro delas um fogo abrasador. Algumas
vezes a vida externa dessas pessoas mostra seu estado interior, às vezes não.
Há outros que são felizes mas acham que estão num inferno. Isso fica
parcialmente escondido de seus olhos, devido à contínua variedade de suas
experiências. Essa vaga visão de seu inferno no futuro poderá levá-los realmente
ao inferno.
Quando alguém faz uma ação que sua consciência aprecia, ela a aprova. Diz-
lhe: “Bravo, que bela ação!” Sua alma fica contente com as ações feitas. Se
estiver por acaso num ambiente que não seja muito bom ou em qualquer outro
lugar, sua alegria interior é suficiente para fazê-lo feliz. Quando sua consciência
fica satisfeita com as ações corretas, o Deus interior fica satisfeito. Essa pessoa
está feliz consigo mesma, por pior que seja sua situação na vida. O mundo talvez
considere tal pessoa infeliz, mas é muito mais feliz que um rei. Está no seu céu
e a mesma experiência continua ininterruptamente nos planos mais altos da
existência, céu e inferno.
Todos criam seu próprio céu e inferno. Um discípulo certa vez perguntou ao seu
Murshid (Mestre): “Suplico-lhe, Murshid, deixe-me ver o céu numa visão”.
Respondeu-lhe ele: “Entre no outro quarto, sente-se e feche os olhos. Verá o
céu”. O discípulo seguiu o conselho e sentou-se em meditação. Em sua visão
viu uma enorme área e nada mais. Não havia rios de mel e mares de leite, nem
blocos de rubi, nem tampouco tetos cobertos de diamantes. Voltou. “Obrigado,
Mestre” – disse ele. – “Vi o céu e agora gostaria de ver o inferno”. O Mestre então
lhe disse: “Muito bem, faz novamente a mesma coisa” e o discípulo entrou na
outra sala e sentou-se em meditação. Viu de novo uma grande área, mas nada
havia nela, nem cobras, nem fogo, demônios ou animais cruéis, nada. Voltou
para junto do Murshid e lhe disse: “Vi uma grande área, mas de novo, não vi
nada nela”. O Murshid falou: “Meu filho, você esperava lá encontrar rios de mel
e mares de leite ou cobras ou fogo no inferno. Não? Lá não existe nada disso,
você terá que levar tudo daqui. Aqui é o lugar onde se pode coletar tudo, quer
as delícias do céu quer o fogo do inferno”.
Escreveu Omar Khayyám: “O céu é a visão do desejo satisfeito, o inferno a
sombra de uma alma em fogo”.
Na realidade, nosso “eu” é céu quando abençoado pela misericórdia divina.
Nosso “eu” é inferno quando amaldiçoado pela cólera divina. Os sete portões de
que fala o Corão são as sete aberturas de nossos sentidos. Através desses
portões experimentamos nosso céu ou nosso inferno. Os sete píncaros
representam os sete planos da existência do homem. Cada plano tem seu céu e
seu inferno característicos.
Para nós as coisas parecem ser o que queremos que elas sejam. Se somos
tolerantes com o nosso meio ambiente, se estamos satisfeitos com tudo que
possuímos, se suportamos os desconfortos e inconveniências inevitáveis, se
adquirimos conhecimentos sobre o nosso próprio ser, se vemos a imanência
divina ao nosso redor e se desenvolvemos o amor dentro de nós, esse amor que
sustenta o mundo, a nossa vida passa a ser uma preparação para o céu e nosso
além-túmulo terá grande expressão. Esse é o estado de ser do devoto. Diz o
Corão: “Os piedosos entram em paz e segurança... Lá nenhuma preocupação
os atingirá nem serão expulsos”. Se os devotos estão cobertos de trapos, se se
deitam no pó, o pó se transformará no trono de Suleyman e seus turbantes de
trapos se transformarão na coroa do “Khussrau”.
Nossa insatisfação daquilo que possuímos na vida, nossa intolerância para com
o meio ambiente, a falta de paciência para com as condições que não podemos
evitar, nossa fraqueza de nos entregarmos às nossas paixões e apetites, nossa
falta de sociabilidade, nossa ignorância a respeito do nosso verdadeiro ser e
nossa cegueira ante a visão de Deus manifestada em toda a natureza são os
tormentos da vida na Terra e o fogo flamejante do além-túmulo.
O céu é para o homem piedoso, cujas virtudes o conduzem para ele. O inferno
é para os maus, que acendem eles mesmos o fogo do inferno. Diz o Sufi: “Fico
acima do céu e do inferno, feliz nos braços da paz eterna. Nem a alegria do céu
pode me tentar, nem o fogo do inferno pode me tocar, pois me abracei com a
bem-aventurança e beijei a maldição, procurando me elevar acima das alegrias
e tristezas da vida”.
Em verdade, nenhuma alma permanecerá no céu ou no inferno eternamente.
Esse é um processo de dissolver gradualmente no oceano do Ser Eterno os
resíduos do ser individual. Esse estado é chamado de “Pulserat”, ou purgatório.
CAPÍTULO IV
Qayamat, o fim do mundo
Um poeta persa diz:
“Tu escondeste a face sob o véu da Tua criação,
Porém eu sei que foste Tu que num sopro colocaste
ambos os mundos em movimento.”
O mundo é como um arco de criança, quando se sopra ele corre mais e mais;
quando a força do sopro se esgota ele pára e cai. Isto pode ser visto em menor
grau em todas as coisas do mundo. Quando a atividade do mundo terminar, o
mundo se extinguirá. O curso da destruição é como o curso da manifestação, é
em ciclos. A primeira ação é criada pelo sopro dado e depois cada ação causa
uma outra ação.
O curso da vida no mundo é como o do relógio. Alguns relógios trabalham
durante quatro dias, outros oito dias e para alguns é necessário dar corda
diariamente. Quando o período da corda termina, os ponteiros param.
A lei da construção e da destruição pode ser descrita como tendo três aspectos.
Uruj, o primeiro aspecto, mostra a força da atividade; Kemal mostra o clímax, o
limite de seu progresso; e Zeval a volta à inatividade, o fim da qual é Kemal
absoluto. Kemal mostra seu poder destrutivo em ambos os pólos, primeiro no fim
de Uruj, a atividade em vigor, quando o progresso pára e mais uma vez no fim
de Zeval, quando a atividade cessa completamente. O elemento construtivo é
chamado Kadr, o poder dominado. O destrutivo é o poder absoluto que domina.
É chamado Kaza. Tudo que é nascido, construído, feito ou brotado deve, num
ou noutro dia, separada ou coletivamente, ser submetido a Kaza, o poder
destrutivo.
Surpreendemo-nos quando, devido a uma explosão, uma fábrica vai pelos ares
acidentalmente e milhares de vidas são perdidas. Horrorizamo-nos ao ver uma
cidade destruída por uma enchente e milhões de vidas sacrificadas, porém para
o Criador isto nada significa. É como se um matemático tivesse que achar um
total multiplicando, adicionando, subtraindo e dividindo até milhares e milhões de
números e, então, de repente tivesse a fantasia de destruir todo o trabalho.
Há uma ocasião em que um dedo é extirpado e uma ocasião em que toda a mão
é amputada. Há um tempo em que um membro se deteriora e um tempo em que
todo o corpo está morto. Há um tempo em que uma coisa na sala é quebrada,
um outro quando tudo na sala é despedaçado, quando toda a casa é arruinada
e um outro quando toda a cidade ou todo o campo é destruído. Assim, chegará
o tempo em que o mundo inteiro será destruído, até o universo, porém isto virá
num período muito mais longo de tempo.
Por que a manifestação, apesar de ser feita de vida eterna, é ainda sujeita à
destruição? A resposta é que a vida eterna é a única vida e esta vida aparente
na Terra é meramente uma suposição. Certa vez perguntaram ao Profeta
Maomé: “O que é a alma?” Ele respondeu usando uma palavra “Amr-e-Allah”,
uma ação de Deus. Há a mesma diferença entre Deus e Sua manifestação que
há entre o homem e sua ação. Assim como a ação perece e o homem
permanece, também a manifestação é destruída e Deus permanece.
Todas as manifestações, toda recordação e todas as máculas do mundo
desaparecem da consciência, deixando-a tão pura como era antes.
Se uma garrafa cheia de tinta é derramada no oceano, a tinta é absorvida e o
mar permanece claro e imutável como antes. Quando um novo universo se
manifesta é sem a experiência da manifestação anterior. Quando o universo
cessa de existir, recomeça mais uma vez e, apesar disto se repetir vezes sem
conta, cada vez é mais novo do que nunca.
CAPÍTULO V
Lugares mal-assombrados
Em nossa vida diária, a influência das visitas que vêm à nossa casa é sentida
não somente em sua presença como permanece mesmo depois delas terem se
retirado. Na cadeira onde sentaram, no quarto onde estiveram, no corredor pelo
qual andaram, uma pessoa mais suscetível pode captar isto, apesar de nem
todos, naturalmente.
Certa vez, durante uma viagem, ocupei um quarto em Kandy, no Ceilão, e à
noite, durante as horas de minha meditação, enquanto estava ocupado em
minhas práticas sagradas, senti-me inquieto e perturbado e não podia fixar a
mente na meditação nem por um momento. Fiquei aborrecido comigo mesmo e
fui para a cama, porém minha inquietação aumentou. Levantei-me e senti que
devia olhar dentro dos armários. Não sabia por que estava fazendo aquilo.
Acredito que talvez meu ser interior queria me guiar pela razão, em face de
experiência tão incomum. Encontrei lá, para minha surpresa, um chumaço de
cabelos pretos, como se alguma mulher tivesse reunido os cabelos que haviam
caído de seus penteados, por um longo tempo. Passei uma noite ruim e pela
manhã a primeira coisa que fiz foi perguntar à hospedeira quem havia ocupado
o quarto anteriormente. Ela disse: “Senhor, não me recorde dela. Pensar nela
torna-me doente. Uma mulher viveu aqui por algum tempo. Nunca pagou o
aluguel. Chamava-me de nomes feios, lutava com os homens e discutia todo o
dia, afugentando todos os outros pensionistas. Meu coração está em paz desde
que ela deixou esta casa.” Disse-lhe: “Que pena ter me hospedado naquele
quarto!” Ao que ela retrucou: “Senhor, eu lhe dei aquele quarto de propósito,
porque pela sua aparência o senhor pareceu-me um homem santo e estava certa
que este quarto seria purificado pela sua boa influência.” Não tive resposta para
ela, apenas sorri.
Se a influência dos vivos é essa, quão maior é a influência dos mortos nos
lugares onde viveram e foram felizes, aos quais estavam presos e dos quais a
morte os tirou violentamente! A lembrança de seus lares conserva-os onde
viveram, ou no campo onde trabalharam e nos clubes onde gozaram a vida, nas
casas dos amigos para as quais são atraídos.
Se o espírito durante a vida foi interessado em bons pratos, depois da morte
onde há um bom prato ele sempre estará presente. Se em toda a sua vida tiver
gostado de uísque, depois da morte estará num bar onde tenha uísque.
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Hazrat Inayat Khan Mensagem Sufi de Liberdade Espiritual

  • 1. HAZRAT INAYAT KHAN MENSAGEM SUFI DE LIBERDADE ESPIRITUAL Volume V Pérolas do Oceano Invisível UNIVERSALISMO
  • 2.
  • 3. Sumário Prefácio Mensagem Sufi de Liberdade Espiritual Aquibat, a Vida após a Morte O Fenômeno da Alma Amor, Humano e Divino Pérolas do Oceano Invisível Metafísica
  • 4. Prefácio Em 1910, Hazrat Inayat Khan partiu da Índia, seu país natal, em direção ao Ocidente, para onde deveria levar a Mensagem Sufi. Nos primeiros quatro anos, viajou intensamente pelos Estados Unidos e Europa, e no início da Primeira Guerra Mundial instalou-se, temporariamente, em Londres, onde reuniu ao seu redor um grupo de alunos, aos quais começou a ensinar os fundamentos dos pensamentos e idéias Sufi. Uma parte desses ensinamentos foi adaptada para maior distribuição e coletada nos livros constantes deste volume, o quinto da série em curso de publicação. O primeiro destes é a Mensagem Sufi de Liberdade Espiritual. Surgiu em 1914 e foi de difícil obtenção por muitos anos, como é o caso dos outros livros. Esta primeira edição é reeditada aqui, praticamente inalterada, apesar de algumas terminologias então usadas terem sido revisadas para ajustar-se àquelas dos livros subsequentes. A nota biográfica foi omitida, porque uma biografia mais completa foi planejada para publicação, na mesma série, posteriormente. Em 1918, seguiu-se Aqbat, a Vida após a Morte, e no ano seguinte Amor, Humano e Divino, Pérolas do Oceano Invisível e Fenômeno da Alma, os quais foram ampliados com alguns ensinamentos afins, até agora não publicados mas datados do mesmo período. Estes quatro livros diferem dos outros que apareceram durante a vida ou depois da morte de Hazrat Inayat Khan e que foram publicados sob o nome de alguns colaboradores que haviam preparado conferências e lições para publicação. Metafísica, o último livro deste Volume, é também de uma série de lições anteriores, entretanto sua publicação foi prorrogada até 1939, quando apareceu pela primeira vez.
  • 6. DEUS BEM-AMADOS de Deus, vocês podem pertencer a qualquer raça, casta, credo ou nação, mas todos são amados por Deus de maneira imparcial. Pode ser um crente ou um descrente do Ser Supremo. Ele não se importa. Sua clemência e Sua graça fluem através de todos os Seus poderes, sem distinção entre amigo ou inimigo. “Cada folha de árvore demonstra seu louvor a Alá, só a mente piedosa pode ouvir suas baladas sagradas.” O sol, a lua e as estrelas emitem luz. A mudança periódica das estações favorece a saúde e a alegria. A chuva faz crescer o trigo, as frutas e as flores e a alternação do dia e da noite dá oportunidade ao trabalho e ao descanso. “Terra, água, fogo e ar, Tudo trabalha harmoniosamente; Sempre preparando para ti o alimento; Tu não deves comer sem mostrares gratidão; Pois assim como todos os dias o sol brilha e serve, Alá merece de ti todos os louvores.” Se estudarem seu corpo, verificarão que seu mecanismo é o modelo original do mecanismo artificial do mundo. A arte e a ciência são falhas se comparadas com a arte e a ciência da natureza de Deus. Os ouvidos, os olhos e todos os outros órgãos como se adaptam perfeitamente à forma e ao mecanismo a que têm que servir! Como são supridas com liberalidade as necessidades da vida: água, ar e alimento; até mesmo o leite é preparado no seio da mãe para o bebê que está para nascer. Não devemos apreciar a liberalidade do Criador e agradecer-Lhe a todo o momento com humildade e gratidão? Escreveu Sa’di: “Louvado seja Alá! A adoração a Alá é a forma de nos aproximarmos cada vez mais Dele e o nosso agradecimento envolve um aumento de atos de caridade. Todo ar aspirado prolonga a vida e quando expirado vivifica a estrutura. Portanto, em cada respiração estão contidas duas bênçãos e para cada bênção é devida uma ação de graças.” Ele nos modelou e moldou à Sua própria imagem e faz de cada um de nós um “Asbráf al-Maklusqt”, o mais elevado de todos os seres e o orgulho do universo, dando-nos o comando sobre todos os outros seres de ambos os mundos. Como está escrito no Corão: “Não vês que Alá entregou a ti todas as coisas da Terra?” Ao mesmo tempo, Ele nos deu os atributos da humanidade: bondade, gratidão, fidelidade, justiça, modéstia, piedade, compaixão, reverência, bravura,
  • 7. paciência, amor, conhecimento e sabedoria. E uma prova inconteste de que somos o objetivo verdadeiro da criação e os mais amados de Deus. NATUREZA Tem sido realçado o argumento de que a manifestação inteira é fruto da interação dos elementos naturais que trabalham com forças próprias. Cada causa tem seus efeitos e por seu turno o efeito se transforma numa causa para a reação. Assim, a natureza trabalha sem ajuda. A resposta é que cada causa deve ter alguma causa que a precedeu, ou seja, a primeira causa, para que ela pudesse ser produzida. Logicamente, uma causa pode produzir muitos efeitos, cujos efeitos, por seu turno, se tornam segundas causas, produzindo novas reações. “Enquanto as mentes intelectuais procuram as segundas causas, o homem sábio apenas percebe a primeira causa. O ar, a terra, a água, sendo segundas causas, está oculta a causa precedente que as transformou em ação e pausa.” O SER PESSOAL Admitindo que vemos a natureza e admitindo também sua causa original, em que terreno devemos considerar a causa como sendo um Deus pessoal que merece nossa adoração? A resposta é que a própria natureza é constituída de diferentes personalidades e cada uma delas tem seus atributos ou qualidades especiais. A soma total de todas essas personalidades é o UM, a única personalidade verdadeira. Em relação a esse UM todas as outras personalidades são mera ilusão. Tanto quanto uma nação ou uma comunidade, numa forma limitada, é a soma de muitas personalidades; assim como a natureza manifestada em inúmeros nomes e formas é ainda chamada natureza no singular não no plural; assim como o indivíduo possui no corpo diferentes partes: braços, pernas, olhos, ouvidos, e é possuidor de diferentes qualidades e ao mesmo tempo é uma pessoa – também a soma total de todas as personalidades é que é chamada Deus. Ele é o possuidor dos atributos visíveis e invisíveis do Absoluto e tem diferentes nomes em línguas diferentes para compreensão do homem. Pode ser dito que a personalidade de um homem é perfeitamente compreensível, porque suas ações o mostram como um único indivíduo, enquanto que a personalidade Deus não tem uma identificação clara dele mesmo. A resposta é que a variedade cobre a unidade. Disse Jelal-ud-Din Rumi: “As coisas ocultas se manifestam nos seus opostos ou nos seus contrários, mas como Deus não tem nenhum oposto Ele permanece oculto. A Luz de Deus não tem nenhum oposto no âmbito da criação, por meio do qual pudesse se manifestar à visão.”
  • 8. Pelo estudo da natureza o homem sábio entra na unidade através da sua variedade e chega à realização da personalidade de Deus pelo auto-sacrifício. “Aquele que conhece a si mesmo conhece Alá.” (Provérbio de Maomé) “O Reino de Deus está dentro de vós.” (Bíblia) “O autoconhecimento é a verdadeira sabedoria.” (Vedanta). A relação de Deus com a natureza pode ser compreendida pela análise da idéia expressa nas palavras “Eu, mim”. Essa afirmação significa o indivíduo único e ao mesmo tempo identifica o aspecto dual do UM. Nessa frase, o “Eu” é o possuidor e o “Mim” é o possuído. Assim também Deus, o não-manifestado, é o possuidor e a natureza, a manifestação, é o possuído que oculta dentro de si sua origem. O possuído não poderia ter sido criado de nada mais que do próprio ser do possuidor, porque não existe nada senão o possuidor. Embora o possuidor e o possuído sejam considerados duas identidades separadas, na realidade são uma só identidade. O possuidor realiza o possuído por meio de sua própria consciência que forma três aspectos do Único Ser, a Trindade. O filósofo alemão Hegel disse: “Se você disser que Deus é um, é verdade, se você disser que Ele é dois, também é verdade, e se você disser que Ele é três, igualmente é verdade, porque é a natureza do mundo”. Deus é visto por três pontos de vista: personalidade, moralidade e realidade. De acordo com o primeiro ponto de vista, Deus é o mais elevado. O homem é dependente de Deus e Seu servo mais obediente. De acordo com o segundo ponto de vista, Deus é o Todo-Misericordioso e o Todo-Bondoso Mestre do Dia do Julgamento, enquanto que todo o mal vem de Satanás. O terceiro ponto de vista é o ponto de vista filosófico: Deus é o começo e o fim de tudo, sendo que Ele não tem começo nem fim. Como disse um místico Sufi: “O universo é a manifestação de Alá, de onde Ele criou Sua própria unidade, pela involução, variedade – o estado de vários nomes e formas – dessa forma distinguível como Alá, digno de todo louvor e adoração”. O ASPECTO DUAL De acordo com os princípios Sufis, os dois aspectos do Ser Supremo são chamados “Zàt” e “Sifat”, ou seja, o Conhecedor e o Conhecido. O primeiro, “Zàt”, é Alá e o último, “Sifat”, é “Mohammad” ou Maomé. “Zàt” sendo apenas um na sua existência, não pode ser chamado senão por um só nome que é Alá e “Sifat”, sendo múltiplo em quatro involuções diferentes, tem inúmeros nomes, a soma de todos eles sendo chamada de “Mohammad”. As formas ascendentes e descendentes de “Zàt” e “Sifat” formam o círculo do Absoluto. Essas duas formas são chamadas de “Nuzul” e “Uruj”, que significam involução e evolução. “Nuzul”
  • 9. começa em “Zàt” e acaba em “Sifat”. “Uruj” começa em “Sifat” e acaba em “Zàt”, sendo “Zàt” a força negativa e “Sifat” a força positiva. “Zàt” projeta “Sifat” do seu próprio ser e o absorve dentro do si. E uma regra de filosofia que o negativo não pode perder sua negatividade projetando o positivo dele mesmo, embora o positivo cubra o negativo dentro de si, como a chama encobre o fogo. O positivo não tem existência independente e, não obstante, é real porque é projetado do real e não pode ser considerado uma ilusão. A ignorância humana continua considerando “Zàt” separado de “Sifat” e “Sifat” independente de “Zàt”. ADORAÇÃO Pode-se perguntar por que se deve adorar a Deus e se o conhecimento teórico da Sua lei na natureza não é suficiente para alcançar a mais alta realização. A resposta é não, porque o conhecimento teórico de um assunto nunca pode suplantar a experiência que é necessária para a realização. A música escrita não pode nos entreter a não ser que seja tocada num instrumento, nem a descrição de um perfume delícia nossos sentidos a não ser que aspiremos o perfume e nem os recipientes dos pratos mais deliciosos satisfazem nossa fome. Assim também a teoria sobre Deus não pode trazer completa alegria e paz. Devemos na verdade realizar Deus ou atingir aquele estado de realização que dá eterna felicidade através da admiração e adoração da beleza da natureza e sua fonte. “O Bem-Amado é tudo em tudo, o amante só O encobre; o Bem-Amado é tudo que vive, o amante uma coisa morta”. (Jelal-ud-Din Rumi) A VERDADE Os diferentes métodos chamados religiões e filosofias têm sido adotados pelas diversas nações em períodos variados. Embora a forma e os ensinamentos das diversas religiões pareçam ser muito desiguais, sua fonte é uma e a mesma. Entretanto, desde o começo as diferenças criaram preconceitos, inveja e antagonismos entre os homens. Tais dissensões ocupam grande parte da história do mundo e se tornaram o mais importante assunto da vida. “Tantas castas e tantos credos, Tantas fés e tantas crenças, Tudo surgiu da ignorância humana. Sábio é aquele que só concebe a Verdade.” Um homem sábio chega à compreensão de que a base fundamental de todas as religiões e crenças é uma só: “Haq” ou a Verdade. A Verdade tem sido sempre
  • 10. coberta por duas peças do vestuário: uma, um turbante na cabeça, e outra, um manto sobre o corpo. O turbante é feito do mistério conhecido como misticismo e o manto é feito da moralidade, que é chamada de religião. A Verdade tem sido coberta dessa maneira por muitos profetas e santos para escondê-la dos olhos ignorantes que ainda não estão suficientemente desenvolvidos para suportar a Verdade na sua forma desnuda. Os que vêem a Verdade descoberta abandonam a razão e a lógica, o bem e o mal, o alto e o baixo, o novo e o velho; as diferenças e distinções de nomes e formas desaparecem e todo o universo é compreendido como sendo nada mais que “Haq” ou a Verdade. A Verdade em sua realização é uma, em sua representação é muitas, uma vez que suas revelações são feitas sob condições variáveis de tempo e espaço. Assim como a água numa fonte flui como uma corrente mas cai em muitas gotas divididas pelo tempo e pelo espaço, a mesma coisa acontece com as revelações de uma corrente da Verdade. Nem todos podem compreender a idéia de diferentes verdades derivadas de uma única verdade. O senso comum tem sido tão estreitamente treinado neste mundo de variedades, que naturalmente é falho na realização da extensão e sutileza de um fato espiritual tão elevado e que está além do alcance do seu raciocínio limitado. OS SUFIS A palavra Sufi é derivada da palavra “Safá”, que quer dizer puro, purificado da ignorância, da superstição, do dogmatismo, do egoísmo e do fanatismo, bem como livre das limitações das castas, credos, raças e nações. Os Sufis acreditam em Deus como o Absoluto, o Único Ser, e que toda a criação é a manifestação de Sua natureza. Os Sufis sempre estiveram presentes em todos os períodos da história humana. Embora tenham vivido em diferentes partes do mundo, falando línguas diferentes e nascidos dentro de diferentes fés e crenças, eles se reconheciam e se simpatizavam uns com os outros através da unidade de seus entendimentos. Ainda, com seu profundo conhecimento do mundo e dos mistérios espirituais eles ocultavam suas crenças da multidão e prosseguiam em segredo no seu caminho com o objetivo de alcançar a mais alta bem-aventurança. AUTOCONHECIMENTO A natureza involui através do espírito para a matéria e evolui através de diferentes estágios. O homem é o resultado da involução do espírito e da evolução da matéria. O efeito final dessa causa é a auto-realização, o que quer
  • 11. dizer que o Conhecedor chega àquele estágio de perfeição onde Ele pode Se conhecer. “Tu és um ser mortal E tu és o Um Eterno, Conhece-te a ti mesmo através da luz da sabedoria. Com exceção de Ti nada mais existe.” O ser humano por herança é capaz do autoconhecimento, mas conhecer a si mesmo não é somente saber que seu nome é João, Jacob ou Henrique, que se é baixo, alto ou de estatura normal, ou saber que se é bom, mau e assim por diante. Conhecer a si mesmo é conhecer o mistério da própria existência, tanto teórica como praticamente. É conhecer o que se tem dentro de si, de onde e para que objetivo se veio à Terra, se se vai viver aqui eternamente ou se a permanência é curta, saber de que se é composto e que atributos se possui, se se pertence aos anjos contemplando as belezas da natureza de Deus, ou se se pertence aos animais que nada mais sabem senão comer, beber e se divertir, ou se se pertence aos demônios. Requer perfeição da humanidade chegar ao autoconhecimento. Saber que “Eu sou Deus” ou que somos deuses, ou saber que tudo é uma parte de Deus, não é suficiente. A realização perfeita só pode ser obtida passando por todos os estágios entre o homem, a manifestação e Deus, o Único Ser, conhecendo-nos e nos realizando desde o mais baixo até o mais alto grau da existência, realizando assim a jornada celestial. AMOR O maior princípio do Sufismo é “Ishq Allah, Ma’bud Allah”, que quer dizer Deus é o amor, o amante e o bem-amado. Quando Alá, o Único Ser, tornou-se consciente do seu “Wahdat”, a única existência, através de Sua própria consciência, Sua predisposição para o amor fez com que Ele se projetasse para estabelecer Seu aspecto dual, para que Ele fosse capaz de amar alguém. Isso fez de Deus o amante e fez da manifestação o bem-amado. A inversão que se seguiu fez da manifestação o amado e Deus o bem-amado. Essa força do amor tem trabalhado através de muitas evoluções e involuções e terminou no homem, que é o último objetivo de Deus. O aspecto dual de Deus é significativo em “Zàt” e “Sifat”, no espírito e na matéria, e nos reinos mineral, vegetal, animal e humano, onde os dois sexos, macho e fêmea, estão claramente representados. O aspecto dual de Deus é simbolizado por cada forma deste mundo maravilhoso. Todo este universo, interna e externamente, é governado pela força do amor, que é muitas vezes a causa e muitas vezes é o efeito. O produtor e o produto são um só e esse UM nada mais é que o amor.
  • 12. “Uma Igreja, um templo ou uma pedra a Kaaba, O Corão ou a Bíblia, ou o osso de um mártir, Tudo isso e mais, meu coração pode tolerar Porque minha religião agora é somente o Amor.” (Abul Ala) Os Sufis seguem o caminho do amor e da devoção para conseguir seu mais alto objetivo, porque foi o amor que trouxe o homem do mundo da unidade para o mundo da variedade e a mesma força pode levar o homem novamente para o mundo da unidade, tirando-o do mundo da variedade. “O amor é a redução do universo no ser único e a expansão de um ser único até Deus.” (Balzac) Amor é aquele estado da mente em que a consciência do amante imerge, funde- se, na consciência do objeto do seu amor. Produz no amante todos os atributos da humanidade, tais como: resignação, renúncia, humildade, bondade, contentamento, paciência, vontade, calma, gentileza, caridade, fidelidade, bravura, e por esses atributos o devoto se torna harmônico com o Absoluto. Como ele é um dos amados de Deus, um caminho se abre para sua jornada celestial; no fim chega à união com Deus e toda sua individualidade se dissolve no oceano da eterna bem-aventurança, onde desaparece a concepção de Deus e homem. “Embora o amor seja uma doce loucura, Todas as enfermidades ele cura. Santos e sábios por ele passaram. O amor atrai tanto Deus como o homem.” PERFEIÇÃO O ideal-perfeição é chamado de “Baqà” pelos Sufis, é denominado “Najat” no Islã, “Nirvana” no Budismo, “Salvação” no Cristianismo e “Mukhti” no Hinduísmo. É o mais elevado estado que se pode atingir. Todos os antigos profetas e sábios experimentaram esse estado e o ensinaram ao mundo. “Baqá” é o estado original de Deus. Cada ser humano deve chegar a esse estado um dia, consciente ou inconscientemente, antes ou depois da morte. O começo e o fim de todos os seres é o mesmo, havendo somente diferença durante a jornada.
  • 13. Há três caminhos na jornada que o homem empreende na direção de Deus. O primeiro é o caminho da ignorância, no qual cada um deve viajar. É como se uma pessoa andasse milhares de quilômetros no sol carregando um fardo pesado nos ombros e, sentindo-se fatigada, jogasse o fardo e caísse adormecida sob a sombra de uma árvore. Essa é a condição da pessoa comum que consome sua vida cegamente sob a influência de seus sentidos e acumula o fardo de suas más ações, criando um inferno com as agonias de seus anseios terrenos, através de cujo inferno ela deve passar para alcançar o ponto final de sua jornada. Referindo-se a esse tipo de pessoa diz o Corão: “Aquele que é cego na vida, cego também será no além-túmulo.” O segundo caminho é o da devoção, caminho a ser trilhado pelos amorosos verdadeiros. Rumi disse: “O homem pode ser o amante do homem ou o amante de Deus. Depois da sua perfeição em qualquer um dos caminhos que tomou, ele é levado à presença do Rei do Amor.” A devoção é o vinho celestial que intoxica o devoto até que seu coração se purifique de todas as enfermidades e permaneça nele a visão feliz do Bem-Amado, que dura até o fim da jornada. “A morte é uma ponte que une amigo a amigo” (Provérbio de Maomé). O terceiro caminho é o caminho da sabedoria, realizado apenas por poucos. O discípulo desdenha os confortos momentâneos da vida, livra-se de todas as servidões terrenas e volta os olhos para Deus, inspirado pela sabedoria divina. Assume o comando do seu corpo, de seus pensamentos e dos seus sentimentos e, assim, torna-se capaz de criar seu próprio céu dentro de si mesmo, para que possa se regozijar até imergir na meta eterna. “Nós tiramos o véu de teus olhos e tua visão hoje é aguçada”, diz o Corão. Todos devem viajar por um desses três caminhos, mas no fim chegam à única e mesma meta. Como está escrito no Corão: “Foi Ele que multiplicou vocês na Terra e a Ele vocês se reunirão.” PROFETAS É difícil o intelecto acreditar na possibilidade da inspiração profética. Intelecto é a consciência refletida no conhecimento dos nomes e formas. Sabedoria é a consciência em sua essência pura, que necessariamente não é dependente do conhecimento dos nomes e formas. O dom da sabedoria permite a visão da verdadeira natureza das coisas, como o Raio X penetra nos corpos materiais. A sabedoria tem sido especialmente conferida a certas pessoas e, nestes raros casos, os que a recebem são mais do que meramente sábios e devem ser considerados como a própria manifestação da sabedoria. Eles são os profetas que possuem previsão, inspiração, intuição, clarividência, clariaudiência como seus atributos inatos.
  • 14. O Sufi considera todos os profetas e sábios não como indivíduos, mas como corporificação da consciência pura de Deus ou a manifestação da sabedoria divina, surgindo na Terra com diferentes nomes e formas para despertar o homem do seu sono de ignorância. Exatamente como o próprio subconsciente de alguém pode acordá-lo numa hora certa, se previamente avisado, do mesmo modo a consciência de Deus é o meio de despertar Sua manifestação, projetando-se através de diferentes nomes e formas para realizar Seu desejo de ser conhecido. Todas as causas da sabedoria são a manifestação de uma causa, Haq. A finalidade da missão profética era educar a humanidade gradualmente na sabedoria divina, de acordo com sua evolução mental, concedendo-a ao homem, conforme seu entendimento, em formas adequadas às várias regiões, em épocas diferentes. Por esse motivo, ainda existem numerosas e diferentes religiões, apesar dos princípios morais serem os mesmos. Cada profeta tinha a missão de preparar o mundo para o ensinamento do próximo profeta; cada um profetizava a vinda do próximo e o trabalho foi assim continuado por todos os profetas até Maomé, o “Khatim al Mursalin”, o último mensageiro da sabedoria divina e o fecho dos profetas; veio com sua missão e deu a declaração final da sabedoria divina: “Nada existe, somente Alá”. Esta mensagem preencheu o objetivo da missão profética. Essa definição final é uma interpretação clara de todas as religiões e filosofias de forma mais evidente. Não houve necessidade de mais profetas depois desta mensagem divina que criou o espírito de democracia na religião pelo conhecimento de Deus em cada ser. Por esta mensagem, o homem recebeu o conhecimento de que ele pode atingir a mais alta perfeição sob a orientação de um mestre perfeito ou professor espiritual. Os Sufis não têm preconceito em relação a quaisquer profetas e mestres. Consideram todos como a própria sabedoria divina, o atributo mais elevado de Deus, aparecendo sob diferentes nomes e formas e os amam com toda a devoção, como a amante ama seu bem-amado em todos os diferentes trajes e através de todos os estágios de sua vida. Os Sufis também, respeitosamente, reconhecem e oferecem devoção ao seu Bem-Amado, a divina sabedoria, em todos os seus trajes, em todas as épocas e sob diferentes nomes e formas como: Abraão, Moisés, Jesus e Maomé. Os ensinamentos de Maomé são estudados e seguidos pelos ortodoxos como religião e pelos profundos pensadores como filosofia. SUFISMO Os Sufis, que receberam treinamento espiritual de todos os profetas e condutores anteriores, da mesma forma receberam treinamento de Maomé. A
  • 15. abertura dos ensinamentos essenciais de Maomé abriu caminho para eles se apresentarem ao mundo sem a interferência que tinham experimentado anteriormente e pelo Profeta foi inaugurada uma ordem mística chamada Sahaba-e-Safa, Cavalheiros da Pureza, que teve continuidade através de Ali e Siddiq. As vidas destes cavalheiros eram extraordinárias em sabedoria, piedade, bravura, espiritualidade e grande caridade de coração. Esta ordem foi seguida por seus sucessores que eram chamados “Pir-o-Murshid, Shaikh”, etc., um após outro, devidamente ligados como elos de uma corrente. O vínculo espiritual entre eles é uma força miraculosa de iluminação divina e é experimentada pelos iniciados merecedores da Ordem Sufi, assim como a corrente elétrica passa através de todas as lâmpadas e as ilumina. Por este meio, é conseguido o maior desenvolvimento, sem grandes esforços. O Sufismo foi praticado na Arábia, sem ostentação, durante o período de Sahabis, Tába’in e Tába-i-tába’in. Caridade, piedade, espiritualidade e bravura são as provas reais do progresso do Sufi. Os grandes movimentos Sufi que tiveram lugar na Pérsia (Irã), nos últimos tempos, conquistaram todos os louvores do Sufismo para os persas, vindo a ser referido como uma filosofia persa. Imam al-Ghazali, Juneyd-e-Baghdadi, Farid- ud-Din’ Attar tomaram a liderança no avanço do Sufismo no mundo livre. Shams- e Tabrèz, Sa’di, Khagani, Firdausi, Omar Khayyám, Abdull Ala e outros grandes poetas Sufi estabeleceram substancialmente a reputação do Sufismo pelos seus inspirados trabalhos poéticos sobre a sabedoria divina. Os trabalhos de Sa’di (Gulistan e Bostan) iluminam o intelecto; o “Divan” de Hafiz expande o coração de amor divino; os poemas de Jelal-ud-Din Rumi, “Masnavi e Ma’navi” inspiram a alma. Estes trabalhos foram compostos, originalmente, na Pérsia e traduzidos em muitas outras línguas. Têm sido uma importante fonte de educação para a humanidade e são estudados como os tratados mais populares sobre a sabedoria divina do Oriente. A parte espiritual do Sufismo foi realizada milagrosamente por Abdul Qudir Jilani, Moin-ud-Din Christi, Bahá-ud-Din, Naqshband, Shihab-ud-Din Sohrawardi e outros. A Índia, sendo muito devotada à filosofia, se ajustou bem ao Sufismo; em antigos e modernos registros é encontrado um grande número de Sufis com carreiras milagrosas. Os túmulos de Moin-ud-Din Christi, Nizam-ud-Din, Bandeh Navaz, Mohammad Gauth são visitados com muita reverência e devoção pelos povos de várias nações e diversas crenças em reconhecimento às suas grandes carreiras. O Sufismo, como uma filosofia religiosa de amor, harmonia e beleza, objetiva a expansão da alma do homem até que a realização da beleza de toda a criação
  • 16. permita a ele tornar-se, tanto quanto possível, uma expressão perfeita de harmonia divina. É, portanto, natural que a Ordem Sufi deva ficar na dianteira como uma força espiritual no Oriente e esteja se tornando rapidamente reconhecida no Ocidente. Muitos santos Sufi têm alcançado o que é conhecido como consciência de Deus, que é a mais abrangente realização do significado da palavra “bom” atingível pelo homem. Falando exatamente, o Sufismo não é religião nem filosofia; não é teísmo nem ateísmo, porém fica entre os dois e preenche a diferença. Os Sufis são considerados entre os religiosos como livres-pensadores, enquanto entre os filósofos e intelectuais são considerados religiosos, porque eles fazem uso dos princípios mais sutis da vida para elevar a alma, no que podem ser seguidos facilmente pela lógica material. Os Sufis têm, em muitos casos, concebido e mostrado a maior perfeição da humanidade. Entre as vidas dos santos Sufi podem ser encontrados alguns dos modelos mais divinos da perfeição humana em todas as posições, de um rei a um trabalhador. A idéia de que o Sufismo originou-se do Islamismo ou de qualquer outra religião não é necessariamente verdade; ainda pode ser chamado certamente de espírito do islamismo como também a essência pura de todas as religiões e filosofias. Um verdadeiro Sufi permanece continuadamente com o pensamento na Verdade, vê a Verdade em todas as coisas, nunca se torna preconceituoso, e cultiva afeição por todos os seres. Um Sufi realiza a jornada divina e alcança o mais alto grau de Baqà durante esta vida, mas as pessoas das diversas crenças chegam, eventualmente, ao mesmo nível de entendimento e realização representado pelo Sufismo. O Sufismo abrange todos os ramos do misticismo, tais como psicologia, ocultismo, espiritualismo, clarividência, clariaudiência, intuição, inspiração, etc., porém o que o Sufi deseja particularmente adquirir não é necessariamente quaisquer dos poderes acima mencionados, porque o objetivo de todos esses poderes é dirigido para maior individualidade e a individualidade em si é somente um obstáculo no caminho do Sufi, direcionado para a realização de sua mais alta perfeição. Por isso, o principal objetivo da iniciação na Ordem Sufi é cultivar o coração, através da renúncia e da resignação, que deve ser bastante puro para semear a semente do amor divino e conceber a mais sublime verdade e sabedoria, ambas teórica e praticamente, desse modo alcançando os mais elevados atributos da humanidade. A perfeição divina é a perfeição de todos os poderes e mistérios. Todos os poderes, mistérios e realizações gradualmente se manifestam no Sufi, através do desenvolvimento natural, sem uma luta especial por eles.
  • 17. A obtenção da auto-realização é a mais importante e a mais difícil; é impossível adquiri-la pelas ciências e pelas artes, nem é possível obtê-la como a saúde, riqueza, honra e o poder que podem ser adquiridos por diversos meios. Por causa da auto-realização, milhares de pessoas têm renunciado às famílias, a todos os bens do mundo e os reis aos seus reinados, e têm se retirado para o deserto, selvas ou montanhas, jejuando e lutando para encontrar no ascetismo o segredo desta bênção. TREINAMENTO SUFI O mestre prefere um discípulo cuja mente esteja desembaraçada de outros métodos de treinamento; que seja livre de ponderações e seja possuído de sincera perseverança; que seja capaz de confiar com verdadeira fé e devoção na orientação de seu mestre. A prática da harmonia e temperança é essencial, mas o mestre nunca prescreve para seu discípulo a vida ascética; antes, é uma peculiaridade no treinamento Sufi que o discípulo seja estimulado a apreciar e desfrutar do mundo mais do que os outros. O mestre, primeiro, cria no discípulo o amor divino que, no decurso do tempo, desenvolve e purifica tanto seu coração que permite serem as virtudes da humanidade desabrochadas espontaneamente. Então, ele recebe mais e mais a sabedoria divina do canal estabelecido e por fim chega à completa auto-realização. Não há um curso comum de estudo para o discípulo, cada um recebe um treinamento que melhor se adapte às suas necessidades. Em outras palavras, o mestre, como um médico espiritual, prescreve um remédio indicado para a cura de cada discípulo. Não há limite de tempo para o avanço de um determinado grau. Para um, a realização pode vir logo após a iniciação; para outro, pode não ser concedida durante toda a sua vida. Entre os provérbios de Maomé se encontra este: “Não depende de nada, mas da misericórdia de Alá, seja quem for deverá ser escolhido por Ele.” Ainda há esperança de sucesso: “Aquele que dá um passo em direção à graça de Alá, a misericórdia divina dá dez passos para recebê-lo.” MANIFESTAÇÃO O Único Ser tem se manifestado através dos sete diferentes planos da existência para realizar Seu desejo de ser reconhecido: 1. Zàt – o não manifestado
  • 18. Tanzih 2. Ahadist – plano da Consciência Eterna 3. Wahdat – plano da consciência 4. Wahdaniat – plano das idéias abstratas 5. Arwah – o plano espiritual Tashbih 6. Ajsam – o plano astral 7. Insán – o plano físico Existem, ainda, sete aspectos da manifestação: 1. Sitara – terrestre 2. Mahtab – lunar 3. Aftab – solar 4. Madeniat – reino mineral 5. Nabitat – reino vegetal 6. Haywanat – reino animal 7. Insán – reino humano Insán, sendo a manifestação ideal, reconhece Deus pelo conhecimento do seu próprio eu. O homem alcança esta perfeição pelo desenvolvimento através de cinco graus de evolução: 1. Nasut – plano material 2. Malakut – plano mental 3. Jabarut – plano astral 4. Lahut – plano espiritual 5. Hahut – plano da consciência Cada grau de desenvolvimento prepara a pessoa para um grau mais elevado e prepara-a em cinco diferentes graus da humanidade: 1. Adam – o homem comum 2. Insan – o homem sábio 3. Wali – o homem santo
  • 19. 4. Qutb – o santo 5. Nabi – o profeta As cinco naturezas correspondentes a estes cinco graus são: 1. Ammara – aquele que atua sob a influência dos sentidos; 2. Lauwama – aquele que se arrepende de seus erros; 3. Mutmaina – aquele que pensa antes de praticar uma ação; 4. Alima – aquele que fala, pensa e age corretamente; 5. Salima – aquele que se sacrifica em benefício de outros. O diagrama abaixo ilustra os planos de Muzul e Uruj (evolução e involução): 8. Todos os planos da existência consistem em vibrações, do tipo mais leve ao mais denso; as vibrações de cada plano vêm de um mais elevado e se tornam mais grosseiras. Quem conhece o mistério das vibrações realmente conhece todas as coisas. As vibrações são de cinco aspectos diferentes, aparecendo nos cinco elementos: 1. Nur – éter 2. Baad – ar 3. Atesh – fogo 4. Aab – água 5. Khaak – terra Em relação a estes elementos, os homens têm cinco sentidos:
  • 20. Sentidos Órgãos Basarat – sentido da visão...................................os olhos Samát – sentido da audição.................................os ouvidos Naghat – sentido do olfato....................................o nariz Lazzat – sentido do paladar..................................a língua Muss – sentido do tato..........................................a pele Através desses sentidos e diferentes órgãos da existência mental e física, Ruh, a alma, experimenta a vida; e quando Ruh receber a mais elevada experiência das fases da existência com o auxílio do mestre, terá, então, a paz e a bênção, a realização do que é o único objetivo da manifestação. INTERESSE E INDIFERENÇA O interesse resulta da ignorância e a indiferença resulta da sabedoria; no entanto, não é sábio evitar o interesse enquanto estamos no mundo da ilusão. O interesse de Deus foi a causa de toda a criação e conserva todo o universo em harmonia; entretanto, não devemos estar completamente imersos no fenômeno, mas nos reconhecermos como sendo independentes de interesse. O aspecto dual do Único Ser, na forma de amor e beleza, tem glorificado o universo e produzido harmonia. Aquele que chega ao estado de indiferença sem experimentar interesse na vida está incompleto e apto para ser tentado pelo interesse a qualquer momento; porém, aquele que chega ao estado de indiferença através do interesse, realmente alcança o estado de bem-aventurança. A perfeição é alcançada não somente através do interesse, nem somente através da indiferença, mas através da experiência correta e do entendimento de ambos. ESPÍRITO E MATÉRIA Do ponto de vista científico, espírito e matéria são completamente diferentes, mas, de acordo com o ponto de vista filosófico, são a mesma coisa. Espírito e matéria são diferentes justamente como a água é diferente da neve. Quando as vibrações espirituais se tornam mais densas se transformam em matéria e quando as vibrações materiais se tornam mais leves se desenvolvem em espírito.
  • 21. Para um Sufi, no começo do treinamento, a vida espiritual é proveitosa, mas depois de dominá-la, as vidas espiritual e material se tornam a mesma coisa e ele é senhor de ambas. CORAÇÃO E ALMA O coração do homem é o trono de Deus. O coração não é somente um órgão físico, colocado no meio do corpo e da alma, tem também a função de sentir. O coração de carne é o instrumento que primeiro recebe o sentimento da alma e transmite seu efeito através de todo o corpo. São quatro os aspectos do coração: 1. Arsh – a exaltação da vontade 2. Kursi – a sede da justiça e da distinção 3. Lawh – a fonte de inspiração 4. Kalam – a origem da intuição A respiração mantém o corpo, o coração e a alma ligados. Consiste em vibrações astrais e tem muita influência sobre a existência física e espiritual. A primeira coisa que um Sufi faz para harmonizar toda a existência é a purificação do coração. Como não há probabilidade do desenvolvimento da alma sem a devoção, assim o discípulo fiel torna-se um Sahib-e Dil, como o caminho ideal e mais fácil para o desenvolvimento. INTELIGÊNCIA E SABEDORIA Inteligência é o conhecimento obtido pela experiência de nomes e formas. Sabedoria é o conhecimento que se manifesta somente do ser interior. Para adquirir inteligência devemos nos aprofundar nos estudos, mas para obter sabedoria nada é necessário, senão o fluxo da divina misericórdia, que é tão natural como o instinto de nadar para o peixe ou de voar para o pássaro. A inteligência é a visão que permite a alguém ver o mundo exterior, mas a luz da sabedoria permite ver o mundo interior através do exterior. A sabedoria é mais importante e mais difícil de atingir do que a inteligência, piedade ou espiritualidade. SONHOS E INSPIRAÇÕES Sonhos e inspirações são provas irrefutáveis da existência de um mundo superior. O passado, o presente e o futuro são vistos frequentemente num sonho
  • 22. e podem ser revelados através da inspiração. O justo vê mais claramente do que o injusto. Há cinco espécies de sonhos: 1. Khayali – quando as ações e os pensamentos são reproduzidos no sono 2. Qalbi – quando o sonho é o oposto ao verdadeiro acontecimento 3. Naqshi – quando o verdadeiro significado é disfarçado numa representação simbólica, que só pode ser entendida pelo sábio 4. Ruhi – quando o acontecimento verdadeiro é mostrado literalmente 5. Elhami – quando as mensagens divinas são dadas por escrito ou por uma voz angelical Às vezes, os sonhos são em forma clara, outras vezes em forma velada, dando aviso de aproximação de perigos e certeza de sucesso. A habilidade da consciência dos sonhos e seus significados varia de acordo com o grau de desenvolvimento da pessoa. Os sonhos produzem efeitos mais cedo ou mais tarde, conforme os astros sob cuja influência acontecem. O sonho acontecido à meia-noite se realiza dentro de um ano e o sonho depois dessa hora será realizado dentro de seis meses. Os sonhos ocorridos nos primeiros alvores da madrugada se realizam logo. A manifestação dos sonhos está também sujeita a certas condições, de acordo com as boas e más ações do sonhador. As inspirações são mais facilmente refletidas sobre as pessoas espirituais do que sobre as pessoas materialistas. Inspiração é a luz interior que se reflete no coração do homem. Quanto mais puro for o coração, como um espelho limpo, mais claramente será a inspiração nele refletida. Para receber claramente as inspirações, o coração deve ser preparado por meio de um treinamento apropriado. Um coração com manchas de ferrugem nunca será capaz de receber inspirações. Há cinco espécies de inspirações: 1. Elham-e-´Ilm – inspiração de um artista e um cientista 2. Elham-e-Husn – inspiração de um músico e de um poeta 3. Elham-e-´Ishq – inspiração de um devoto 4. Elham-e-Ruh – inspiração de um místico 5. Elham-e-Ghayb – inspiração de um profeta As inspirações são refletidas na humanidade de cinco maneiras:
  • 23. 1. Kushad der Khyal – na onda do pensamento 2. Kushad der Hál – nas emoções e sentimentos 3. Kushad der Jemal – nos sofrimentos do coração 4. Kushad der Jelal – no fluxo da sabedoria 5. Kushad der Kemal – na voz e na visão divinas Alguns seres nascem com o dom da inspiração. Em outros a inspiração aparece depois do seu desenvolvimento. Quanto maior for o desenvolvimento espiritual, maior será a capacidade para receber inspiração, embora o dom da inspiração não seja constante. É como disse o Profeta Maomé: “As inspirações são cobertas e descobertas, e aparecem de acordo com a vontade de Alá, o Único Conhecedor do desconhecido”. LEI DA AÇÃO A lei de causa e efeito é tão precisa nos seus resultados nos campos da palavra e do pensamento como no mundo físico. O mal feito, quando é considerado um mal, é um pecado e o bem feito, quando considerado um bem, é uma virtude, mas quem faz o bem ou o mal sem compreensão não tem responsabilidade por seus pecados nem crédito por suas virtudes, mas é passível de punição ou recompensa da mesma maneira. Os homens constroem seu futuro pelas suas ações. Suas ações, boas ou más, espalham suas vibrações e se tornam conhecidas em todo o universo. Quanto mais espiritual é o homem, tanto mais fortes e mais claras são as vibrações de suas ações que são espalhadas pelo mundo e fazem seu futuro. O universo é como uma abóbada: vibra com aquilo que você diz e lhe devolve com o eco. Assim é a lei da ação: colhemos o que semeamos. É impossível distinguir o bem do mal, porque a coisa vista é colorida pela personalidade daquele que vê. Para a visão má, todo bem é um mal e para a visão boa, mesmo o mal parece um bem, num certo sentido. Assim, os sábios guardam silêncio na distinção do bem e do mal. A regra mais essencial é não fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fosse feito. A ação é proveitosa quando resulta da bondade e indesejável quando resulta da crueldade. Sem dúvida, também, a força muitas vezes é o certo; porém, no fim, o certo é a única força. Existem diferentes princípios de vida nas diferentes religiões, mas a vontade do Sufi é seu próprio princípio. Ele é o servidor que se submete aos princípios e é
  • 24. o mestre que prescreve os princípios para ele próprio. Aquele que nunca foi comandado na vida não sabe comandar, do mesmo modo que para se ser um mestre deve-se primeiro ser um servidor. O mestre, como médico da alma, prescreve os princípios necessários para o discípulo, o qual, depois de completar o treinamento, chega ao estado abençoado onde se sobrepõe às virtudes e pecados, e se situa além do bem e do mal. Para ele a felicidade não mais difere da tristeza, porque seu pensamento, palavra e ação tornam-se o pensamento, palavra e ação de Deus. A MÚSICA ENTRE OS SUFIS A música é chamada pelos Sufis de “Ghiza-i-ruh”, o alimento da alma. A música, sendo a arte mais divina, eleva a alma para o espírito mais alto. A música, não sendo vista, alcança logo o invisível. Como somente um diamante pode cortar outro diamante, assim as vibrações musicais são usadas para tornar inativas as vibrações físicas e mentais e o Sufi poder ser elevado às esferas espirituais. A música consiste em vibrações que se precipitam de cima para baixo e, se puderem ser usadas sistematicamente, poderão se expandir de baixo para cima. A música verdadeira é apenas conhecida por alguns seres dotados. São cinco os aspectos da música: 1. Tarab – a música que induz o movimento do corpo (artística) 2. Raga – a música que atrai o intelecto (científica) 3. Qawl – a música que cria os sentimentos (emocional) 4. Nida – a música ouvida com imaginação (inspiradora) 5. Saut – a música abstrata (celestial) A música tem sido o meio favorito dos Sufis para o desenvolvimento espiritual. Rumi, o autor de Masnavi, introduziu a música na sua Ordem Maulvi e deleitava- se enquanto a ouvia, associando-a à lembrança do seu abençoado mestre. Desde aquele tempo, a música tem sido a segunda matéria das práticas Sufis. Declaram eles que a música cria harmonia em ambos os mundos e proporciona a paz eterna. O grande místico da Índia, Khwaja Moin-ud-Din Chishti, introduziu a música na sua Ordem Chishtia. Até hoje, os entretenimentos musicais para elevação da alma, chamados “Suma”, são mantidos entre os Sufis.
  • 25. ÊXTASE O êxtase é chamado “Wajad” pelos Sufis e é cultivado principalmente pelos Chisthis. Esta bênção é sinal de desenvolvimento espiritual e também de abertura para todas as inspirações e poderes. É o estado de paz eterna que purifica todos os pecados. Somente os Sufis mais evoluídos podem experimentar “Wajad”. Apesar de ser um estado abençoado e fascinante, aqueles que se entregam inteiramente a ele se tornam desajustados, porque todo excesso é prejudicial; como o trabalho diário é um precursor do descanso da noite, assim é melhor desfrutar desta bênção espiritual somente depois de cumpridos os deveres terrenos. Os Sufis geralmente desfrutam do “Wajad” enquanto ouvem uma música especial chamada “Qawwali” que produz emoções de amor, medo, desejo, arrependimento, etc. São cinco os aspectos de “Wajad”: Wajad dos dervixes que produz um movimento rítmico do corpo; Wajad dos idealistas, expressado por uma sensação emocionante no corpo, lágrimas e suspiros; Wajad dos devotos, que cria um estado de exaltação no corpo físico e mental; Wajad dos santos, que cria uma calma perfeita e paz, e Wajad dos profetas, a realização da consciência mais elevada chamada de “Sadra al Manteha”. Aquele que, pela proteção do Mestre, chega ao estado de “Wajad”, é sem dúvida, uma alma abençoada e merece todo o respeito. CONCENTRAÇÃO O universo inteiro, com toda a sua atividade, foi criado através da concentração de Deus. No mundo, todo ser está ocupado, consciente ou inconscientemente, em algum ato de concentração. Deus e o diabo são igualmente o resultado da concentração. Quanto mais forte é a concentração, tanto maior o resultado. A falta de concentração é a causa do fracasso de muitas coisas. Para este mundo e o outro, para o progresso material, como também do espiritual, o mais essencial é a concentração. O poder da vontade é muito maior do que o poder da ação, mas a ação é a necessidade final para a realização da vontade. A perfeição é alcançada pela prática regular da concentração, passando por três graus de desenvolvimento: “Fanà-fi-Shaikh”, aniquilamento no plano astral, “Fanà-fi-Rasul”, aniquilamento no plano espiritual e “Fanà-fi-Allah”, aniquilamento no abstrato. Depois de passar por estes três graus, o estado mais elevado é conseguido com “Báqi-bi-Allah”, aniquilamento da consciência eterna que é o destino de todos que viajam por este caminho.
  • 26. A respiração é a primeira coisa a ser bem estudada. Esta é a verdadeira vida e também a cadeia que liga a existência material à espiritual. O seu controle perfeito é a escada que leva do mais baixo ao mais alto estágio de desenvolvimento. Sua ciência deve ser dominada com o auxílio do mestre, a luz guia de Deus. O ASPECTO MASCULINO E FEMININO DE DEUS O Único Ser é manifestado através de todos os planos da existência em dois aspectos: o masculino e o feminino, representando as forças positivas e negativas da natureza. São dois os aspectos no plano da consciência: “Wahdat”, consciência e “Ahadiat”, consciência eterna, assim como espírito e matéria, noite e dia, significam o aspecto dual nos planos inferiores. Nos reinos mineral e vegetal o sexo está num estado de evolução, porém a manifestação mais alta do masculino e do feminino é o homem e a mulher. O homem sendo o primeiro aspecto da manifestação é o espírito maior e o mais perto de Deus; a mulher sendo a seguinte manifestação é mais pura e mais capaz do conhecimento divino. A tendência natural do homem é em direção a Deus, enquanto a tendência da mulher é em direção ao mundo. Estas tendências contrárias resultam em equilíbrio. Por isso o homem necessita da mulher para dirigir sua vida e a mulher necessita do homem para seu governo e proteção, ambos sendo incompletos em si mesmos. O problema da emancipação da mulher deve ser estudado pela comparação de sua posição no Oriente e no Ocidente. A mulher Oriental, cuja liberdade é restrita, é a melhor esposa do ponto de vista individual, porém a inatividade forçada de metade da população não é benéfica para a nação. A mulher Ocidental, a quem é dada inteira liberdade, é menos ansiosa e menos capaz na vida do lar, mas estando no mundo sua presença promove o progresso da nação. À primeira vista, pode parecer que a mulher é mais respeitada pelo homem, no Ocidente, mas, na realidade, o Oriente lhe presta a maior reverência. O homem tem mais liberdade do que a mulher, em todo o mundo, porque ele tem mais força e poder e a delicadeza da mulher necessita de proteção, como os olhos, sendo um dos órgãos mais sensíveis do corpo, são protegidos pela natureza através das pálpebras. Ambos se sobressaem en suas próprias características.
  • 27. A virgem é adorada pelo homem porque ela é o modelo da alta manifestação; a virtude da mulher é um ideal maior do que sua beleza física e intelectual. A natureza a colocou sob a proteção do homem, porém o mais desejável é que o homem dê liberdade à mulher e que ela a valorize, fazendo melhor uso dela. Há três tipos de virgens. Aquela comumente considerada virgem, que nunca teve ligação com o homem; uma outra é a virgem pelo coração, cujo amor é centralizado num só amado; e a terceira é a virgem de alma, que considera o homem como um Deus. Somente ela pode dar nascimento a uma criança divina. Uma mulher pode se tornar uma médica, advogada ou ministra, porém é incomparavelmente mais nobre se pode se tornar uma boa esposa e uma mãe extremosa. A monogamia e a poligamia são atributos humanos inatos. Elas também existem entre os pássaros e animais. Cada indivíduo nasce com uma dessas tendências, mas algumas vezes uma se desenvolve mais do que a outra pelos efeitos da atmosfera e do ambiente. Estas tendências também dependem das condições climáticas e físicas dos diferentes países e raças. A poligamia pode ser natural ao homem e a monogamia à mulher, porque a primeira favorece a manifestação, enquanto a última a destrói. A poligamia ilegal é pior do que a legal porque ela cria falsidade e hipocrisia. A monogamia é a vida ideal, que proporciona conforto neste mundo e no futuro, e aperfeiçoa a pessoa no amor. A renúncia absoluta é tão indesejável quanto a fixação cega no mundo. A vida ideal é um interesse imparcial pelo mundo, que é melhor conseguido pelo homem e pela mulher juntos. A mulher é um mistério em si mesma, devido a sua natureza sutil. Sábios que erraram, considerando a mulher de menor importância espiritual, esqueceram que eles próprios eram frutos da mulher. A maioria dos profetas e mestres têm sido homens porque o homem é a mais alta manifestação, representada pelo mito de Adão e Eva, no qual Eva nasceu da costela de Adão, significando que a mulher é a manifestação posterior; o fruto significa que a mulher dirigiu os pensamentos do homem em direção à procriação. A interpretação do exílio de Adão e Eva do paraíso é a queda da humanidade do estado de inocência para o estado da juventude. A separação e infelicidade de Adão e Eva mostram o objetivo de Deus de manifestar no aspecto dual que Ele pode realizar seu verdadeiro desejo de amor. De acordo com o Vedanta, metade do corpo divino, Arghangi, é do sexo feminino, provando que a unidade de ambos é a vida completa. Os Sufis consideram uma vida de completa unidade a mais equilibrada, se é verdadeira e harmoniosa. O amor e a sabedoria criam harmonia entre o homem e a mulher, porém se estão ausentes cessa de existir a harmonia.
  • 28. A criança herda mais qualidades de sua mãe do que de seu pai, por isso a mãe é mais responsável por seus méritos e defeitos e se ela tiver conhecimento poderá treinar a alma de seu filho mesmo antes do seu nascimento pelo poder de concentração, moldando o futuro da criança de acordo com seu próprio desejo. A harmonia entre pessoas mais puras é mais duradoura do que as afeições da média da humanidade. As pessoas de qualidades angelicais têm harmonia duradoura entre elas, na qual o próprio Deus realiza Seu objetivo de manifestação. A humanidade nasce com uma atitude de adoração e como todas as atitudes mostram satisfação por meio da expressão, assim, a atitude do adorador encontra seu objeto de adoração. Os antigos gregos e “Shiva Bhaktas” da Índia cultuavam os aspectos da manifestação nos nomes de deuses e deusas. O Sufismo, sendo a essência de todas as religiões e filosofias, considera ambos os aspectos opostos da natureza como na realidade um e o chama de “Sifat Allah”. Os Sufis alcançam a realização de Deus pela adoração de Sua natureza, chamando por Ele, dizendo “Kull-i shayin Hál-i kull”, que significa: “Tudo perecerá, exceto Sua própria Face”. Eles consideram todos os nomes e formas como meio de conceber o Uno, o Único Ser.
  • 30. CAPÍTULO I A morte Amamos tanto nosso corpo, identificamo-nos tanto com ele que nos sentimos infelizes ao pensar que nosso corpo, que nos é tão caro, algum dia será enterrado. Ninguém gosta de pensar que seu corpo está sujeito à morte e será destruído. Mas o nosso verdadeiro “eu” não é o corpo, é a alma. A alma já existia antes do nosso nascimento. Continuará a existir depois da morte. O que sustenta o que concebemos como “eu”, que é uma entidade viva, não é o corpo e sim a alma, mas a alma deixa-se iludir pelo corpo. A alma pensa que é o corpo. Pensa que ela anda, senta, deita, porém ela não faz realmente nada disso. Uma ligeira indisposição do corpo faz a alma pensar que está doente. Uma leve ofensa abate a alma. Um pequeno elogio faz a alma pensar que está no Céu. Na realidade, a alma não está nem no Céu nem na Terra, está onde é seu lugar. Alojada num corpo físico, material, a alma se ilude a ponto de pensar: “Só posso viver do alimento material, só poderei viver se me conservar na Terra, só posso apreciar as coisas materiais à minha volta. Sem isso não estou em lugar algum e nada sou.” Na Pérsia há o seguinte ditado: “Nunca faça uma casa em terreno alheio”. É justamente isso que a alma faz. A consciência reconhece como seu tudo que vê. A pureza da alma se reflete em tudo que encontra à sua frente. Daí pensar: “Isto sou eu”. É o que precisamente acontece com a água, que quando está límpida reflete a nossa imagem. A alma quer que tudo seja belo e agradável, para seu conforto e vaidade. Gosta que seu “eu” objetivo esteja bem vestido e passa a desejar para ele todas as coisas boas. Constrói para si uma bela casa e através da existência procura obter tudo o que deseja. Quando mais tarde vem a morte, o castelo que construiu na areia se desmorona. A propriedade que adquiriu lhe é arrebatada e isso é motivo de grande desapontamento. Perde tudo que lhe interessava. O que realmente acontece quando sobrevém a morte é a volta da alma ao seu eu puro. O que perdeu foi o que a cercava na Terra, que não passava de ilusão por ser de caráter transitório. Foi isso que foi retirado de sua visão, o que deu à alma a idéia de morte, encarada por ela com verdadeiro horror. Morte é o horror e o desapontamento. Essas são as mortes que realmente existem. O corpo nada mais é que um invólucro para abrigar a alma. Quando o corpo morre ou é destruído, não estamos mortos, porque a alma não está sujeita à morte. O que morreu foi o corpo. Nunca nos julgamos mortos se nosso casaco se gastou ou alguém rasgou nossa camisa.
  • 31. O momento de nossa morte é o único momento em que sentimos que estamos mortos. A impressão causada por esse estado de morte, a desesperança do médico, a tristeza e o pesar dos familiares, tudo isso completa essa impressão. Depois da morte, logo que nos recobramos dessa impressão, gradativamente descobrimos que estamos vivos, porque vemos que a vida nos conservou vivos enquanto usávamos nossa roupa física – o corpo – e naturalmente, no início, nos sentimos estranhos quando essa roupa nos é retirada. Entretanto, a alma não morreu, está ainda mais viva. Aquele grande fardo que era o corpo físico foi removido, o corpo que por certo tempo nos fez pensar que era a verdadeira vida. A alma, usando seus próprios poderes, cria os elementos de que precisa para viver e os extrai do exterior. Colhe e armazena esses elementos. Contudo, o uso desses elementos acaba por desgastá-los e eles duram apenas um determinado tempo. A alma mantém no corpo todos esses elementos enquanto interessam ao corpo e enquanto o magnetismo do corpo os quiser reter. A atividade mantém esses elementos ocupados. Logo que diminui o interesse da alma pelo corpo ou logo que os elementos que compõem o corpo perdem o poder por fraqueza ou qualquer irregularidade no mecanismo do corpo, o corpo vai afrouxando a garra e a alma, cuja tendência inata é ser livre, liberta-se, aproveitando imediatamente a oportunidade que lhe foi dada de se libertar, pela incapacidade do corpo de retê-la por mais tempo. O resultado é o que chamam de morte. Os elementos criados pela alma começam a se dispersar, mesmo antes de ocorrer a morte do corpo físico. Depois da morte do corpo, esses elementos voltam diretamente para o lugar de onde foram tirados, isto é, a água volta para o elemento água, a terra para a terra, e assim por diante, cada um com seu semelhante. Ficam contentes por voltar. Cada elemento se regozija com seu semelhante. Se existir gás perto do fogo, a chama vai para o gás, porque no gás existe muito do elemento fogo. Pensamos que isto é tudo que ocorre e que depois da morte nada restará a uma pessoa comum, aquela que pensou que era somente um corpo, o corpo alto, grande, pesado, com muitos anos de vida, aquela que pensou que nada restaria quando o corpo físico desaparecesse, que tudo se extinguiria. Entretanto, não é bem assim. Quando o corpo desaparece a mente permanece. A mente é a parte mais delicada do eu do homem e se compõe de vibrações. Os elementos existem tanto nas vibrações como nos átomos. Se assim não fosse, uma pessoa zangada não ficaria vermelha e com calor. No sonho, quando nosso corpo está adormecido, vemo-nos andando, falando e agindo em certos lugares com determinadas pessoas. Só chamamos isso de sonho pelo contraste com a condição de andar. O nosso eu existe depois que o corpo desaparece. Continua a existir a exata contraparte do que somos agora, não daquilo que éramos quando tínhamos cinco ou dez anos, mas daquilo que somos agora.
  • 32. Às vezes diz-se que a alma é o que permanece depois da morte do corpo físico e vai para o céu ou inferno. Não é bem assim. A alma é algo muito mais grandioso. Uma coisa que em si mesma é luz, “Nur” ou a Luz de Deus, poderia ser queimada pelo fogo? No entanto, devido à ilusão, a alma toma para si todas as condições que a mente tem que passar depois da morte. Portanto, a experiência da alma que depois da morte não atingiu a liberação é muito deprimente. Se a mente não estiver muito ligada à vida terrena e não tiver armazenado a satisfação de suas ações, gozará o céu. No caso contrário, experimentará o inferno. A mente que evoluiu com os cuidados e ligações terrenas não deixa a alma ficar na luz. Se enviarmos um balão para o ar ele sobe, mas depois cai. Eleva-se devido ao ar dentro dele, cai por causa de sua substância material. A tendência da alma é subir às mais altas esferas, às quais pertence. Assim é a natureza da alma. A substância material ou terrena que recolheu à sua volta faz com que volte à Terra. O papagaio de papel sobe, mas a corda na mão de quem o solta faz com que ele volte à Terra. As ligações terrenas são as cordas que trazem a alma para baixo. Notamos que a fumaça sobe e no seu trajeto deixa na chaminé sua substância material. Deixa no ar o restante de sua substância material e só depois que tiver deixado tudo para trás é que poderá subir ao éter. Também a alma não pode se elevar das regiões baixas até que tenha deixado para trás todos os desejos e ligações. Todos têm grande medo da morte, especialmente as pessoas simples, delicadas, afetuosas e os que estão muito ligados ao pai, mãe, irmãos, irmãs, amigos, posição e haveres. Os infelizes também temem a morte. Uma pessoa prefere viver muito doente a morrer. Prefere estar num hospital que no túmulo como os mortos. Quando o homem pensa: “algum dia vou deixar isto tudo e ser enterrado num túmulo”, uma grande tristeza dele se apossa. Alguns carregam esse medo grande parte de suas vidas. Em outros, esse medo dura a vida inteira. A prova que o medo da morte é muito forte está no fato de sempre considerarem a morte a pior punição, embora nem de longe seja tão ruim como as dores, tristezas e preocupações da vida. A morte é uma experiência para a qual alguns vão preparados e outros despreparados, alguns com confiança, outros com medo. Entretanto, por mais que alguém pretenda ser espiritual ou virtuoso, é testado diante da morte. As máscaras caem por terra. Está escrito no Corão: “Quando a calamitosa colisão vier, nesse dia o homem recordar-se-á daquilo por que lutou”. Um velho vivia sempre chorando, se lastimando e dizendo: “Como sou infeliz, minha vida é tão dura, sempre trabalhando e me cansando! Seria melhor se estivesse morto”. Todos os dias as mesmas lamentações. Pedia insistentemente que a morte o levasse. Um dia Azrael, o anjo da morte, apareceu e lhe disse: “Tens me chamado tantas vezes. Vim buscar-te”. O velho gritou: “Ainda não, sou
  • 33. um homem velho e peço que me sejam concedidos mais alguns dias de vida”. O anjo da morte disse-lhe: “Pediste tantas vezes para morrer; não posso atender- te, deves ir para perto de Alá”. O velho insistiu: “Esperai mais um pouco. Deixai- me ficar aqui mais algum tempo”. O anjo da morte respondeu: “Nem mais um minuto” e levou-o. Qual o pensamento que vem à mente no momento da morte? O pensamento que vem depende da evolução do indivíduo: alguns pensam em Deus, no objeto de sua devoção, ou em ambientes agradáveis, sobre o que gostam e tenham idealizado. Se a pessoa é materialista, o pensamento de ambientes agradáveis criar-lhe-á um céu. Se seu estado é a devoção, unir-se-á com o objeto de sua devoção. Se é um religioso, seu pensamento se volta certamente para Deus, o correto. Consta dos provérbios de Maomé: “Verdadeiramente, a morte é uma ponte que une amigo a amigo”. Quando dizem que certas pessoas estão na presença de Deus, referem-se aos que mantêm diante de si a visão do Bem-Amado Divino, que toda a vida idealizaram. Alegram-se durante um tempo bastante longo com a presença do Ser idealizado. Enquanto vivemos na Terra, temos consciência de três coisas: corpo, mente e alma. Depois da morte física, temos consciência somente da mente e da alma. Enquanto estamos no plano físico, se aparecer um ladrão não ficamos muito amedrontados: olhamos à volta e procuramos algo para atacá-lo, mas no sonho temos medo, porque nada temos para atacá-lo. No campo físico, a vontade é muito mais forte, no sonho, a imaginação é mais forte e a vontade menos forte. Na vida física, temos oportunidades entre uma e outra experiência. Se à noite temos medo, de manhã dizemos: “Foi um pesadelo” ou “Em meu sonho estava triste, mas isso nada significa”. No sonho não temos chances. Assim sendo, é aqui que devemos acordar para o alvo da nossa vida. Do outro lado não podemos melhorar tanto como aqui. Por esse motivo é que alguns seres, os escolhidos de Deus, diziam: “Acorda, acorda, enquanto há tempo”. Alguns podem fazer o que quiserem num sonho. O que desejam acontece e o que viram à noite no sonho acontece no dia seguinte. São casos excepcionais. Como dominam a sua vontade na Terra, podem fazer com que as coisas aconteçam de acordo com sua vontade, até no plano superior. Quando alguém fica alegre e quer que outra pessoa coma a iguaria que está comendo, quando deseja que outra use belas roupas iguais às que usa, elevou-se acima da humanidade. São esses os santos e sábios. O futuro de suas vidas está em suas mãos, porque se sentem felizes tanto com o lucro como com a perda. A mente dos profetas e mestres não pode ser comparada com outras mentes. Suas mentes são controladas pela mestria a que chegaram. Conservam-nas assim muito mais tempo. Como viveram sempre para os outros, depois da morte
  • 34. continuam a viver para os outros. Pensaram apenas no eterno. Outros pensaram em coisas passageiras e suas mentes serão passageiras. Estudando o Sufismo, uma pessoa passa a saber o que lhe acontecerá depois da morte, isto é, o que acontecerá ao seu “eu” que é o seu ser verdadeiro, estando isso habitualmente oculto para nós. Depois da morte física, a vida que não morre dá ao homem novas condições para viver em outros planos. Permanece sempre vivo. Nós, como seres vivos, existimos tanto na terra como no mar. Somos constituídos dos elementos terra e água. Os seres do mar são formados também de terra e nós temos igualmente água em nossa constituição. No entanto, o mar é tão estranho para nós como a terra é estranha para as criaturas do mar. Não gostariam de trocar de lugar e se acontecesse ficarem fora de seu elemento, a água, acabariam por ser extintos. Isso porque o peixe não compreendeu que é também um ser da terra, que a terra também é seu elemento, que ele não pode viver na terra. Da mesma forma os seres da terra, cuja vida depende de estarem em terra firme, fracassam no mar porque pensam que vão afundar. Se fôssemos lançados ao mar, seria horrível, porque estaríamos convencidos que iríamos para o fundo, que morreríamos afogados. O medo e o pensamento de afogar é que nos levariam ao fundo. O mar mantém na sua superfície um navio em que viajam milhares de passageiros e carrega toneladas de carga. Por que não manteria à tona nosso pequeno corpo? Nosso ser interior é como o mar, nosso ser exterior é como a terra. O mesmo acontece com a palavra morte. Morte é a parte marítima de nós mesmos, para onde somos levados quando saímos da parte terrena. Por não estarmos acostumados, achamos a jornada pouco familiar e desconfortável e a chamamos de morte. Para o homem do mar a viagem marítima é tão fácil como a viagem por terra. Sobre este assunto Cristo disse a Pedra: “Ó homem de pouca fé, por que duvidaste?” Em Sânscrito e em Prakrit liberação é “Taran”, que significa nadar. O poder de nadar é que faz da água o habitat do peixe. Para os que nadam no oceano da vida eterna, se possuem um corpo ou não possuem um corpo, o mar se torna sua eterna morada. O nadador brinca com o mar. A princípio nada um pequeno percurso, depois nada mais além. A seguir domina o mar e por fim o mar se transforma em seu lar, em seu elemento, como a terra. Aquele que domina os dois elementos, terra e água, conseguiu a mestria total. Os mergulhadores do porto de Ceilão e os árabes no mar Vermelho mergulham até o fundo. Primeiro obstruem os ouvidos, os olhos, a boca e o nariz, depois mergulham e trazem as pérolas. O místico também mergulha no mar da consciência, fechando todos os sentidos ao mundo exterior para entrar no plano abstrato.
  • 35. O trabalho do Sufi é fazer desaparecer o medo da morte. Esse caminho é trilhado para que saiba durante a vida o que conservará depois da morte. Está escrito no Corão: “Mutu kubla anta mutu”, cuja tradução é: “Morra antes da morte”. Despir o seu traje mortal, ensinar à alma que ela não é um ser mortal e sim um ser imortal, para que possamos escapar do grande desapontamento que traz a morte, isso é que um Sufi realiza na vida.
  • 36. CAPÍTULO II O Dia do Julgamento No Budismo e na religião Hindu pouco é dito sobre o Dia do Julgamento porque eles têm a doutrina do Carma, porém no Corão ele é repetido com grande ênfase nas diferentes “suras”. A Bíblia menciona-o muitas vezes. O Dia do Julgamento, do qual muitas religiões têm falado, é um grande segredo. Tudo que pode ser dito sobre ele é que nenhum momento, nem mesmo o piscar de olhos, passa sem julgamento. Na consciência de cada indivíduo existe a faculdade de julgar, julgar a si próprio e aos outros, e esta faculdade existe na sua perfeição na Consciência universal que julga todo o universo. A primeira é a justiça do homem e a última a justiça de Deus. Na justiça do homem são encontrados parcialidade e erro, porque sua consciência está obscurecida pelo seu eu; assim, a faculdade de ver da consciência torna-se difícil. A justiça de Deus é a correta, porque nenhuma sombra de parcialidade cai sobre a Sua consciência universal, pois todo o universo é Seu campo de visão e, portanto, Sua vista é aguçada. Assim como nossa justiça determina nossos gostos e insatisfações e cria em nós atos de generosidade ou de desagrado pelos outros, assim é com Deus. Ele considera a soma dos feitos e aplica recompensas e punições. Também perdoa com Sua misericórdia e compaixão a quem Ele pode perdoar, como fazemos nós seres humanos em nosso curto caminho. Para os de pouca visão, a justiça do homem é simples, porém a justiça de Deus é por demais indefinida para ser entendida; existem exemplos aparentes que os deixam perdidos, tais como o honesto sendo mal tratado enquanto o desonesto goza a vida. Mas os de vista aguçada podem ver o fim da alegria para o desonesto e dos maus tratos para o honesto. O vidente pode ver o golpe aguardando sua hora para cair sobre um e a recompensa sendo preparada para o outro. É só uma questão de tempo. Para uma pessoa materialista isto parece absurdo. Pensa: “se eu roubo alguém e a polícia me prende, este é o julgamento. Se eles não me apanham, tudo bem, então estou a salvo. Se tenho uma bolsa cheia de dinheiro e posso pagar rábulas e advogados, está tudo certo.” Não vê nada da vida futura, vê somente o agora. Um crente ingênuo acredita que existe o Dia do Julgamento, mas dificilmente sabe alguma coisa sobre ele. O Sufi deve reconhecer que existe um registro de cada ação, pensamento e trabalho na memória – o manuscrito da natureza
  • 37. aberto diante da nossa própria consciência. Se um assassino escapa da polícia, não pode escapar de sua consciência interior. Pode-se pensar: “É sua própria consciência, o que importa se está descontente por algum tempo?” Porém, há a Consciência universal atrás disto, perfeitamente justa e todo-poderosa, a qual, se ele escapou da terra e encontrou refúgio na água, pode abatê-lo mesmo através das ondas do mar, como punição para seu crime. Tudo que se faz, todo o nosso trabalho, tem três partes: o início, a ação e o fim. No início existe esperança, na ação há alegria e no fim, a realização. Pela manhã, ao acordar, a pessoa está refeita e pronta para planejar todo o trabalho do dia. Trabalha durante todo o dia e à noite vê o resultado obtido de seu trabalho e qual foi o seu ganho. Quando uma criança nasce está disposta e pronta para se distrair com tudo. É feliz com pequenas coisas, qualquer bonequinha que lhe seja dada. Não sabe o que é o mundo nem os problemas da vida. Portanto, a pessoa tem que passar na vida por todas as experiências, boas e más, e quando chega a velhice vê, então, o resultado de suas ações. Na época da ação ela não a vê, pois a ação é cega. Então, se trabalhou para alcançar riquezas ela terá riquezas; se trabalhou para a fama ela a terá. Se ama, recebe a afeição e simpatia dos que a rodeiam. Quando está velha, é o período do julgamento na Terra. Então vê a recompensa de suas ações. Se matou alguém, o julgamento se dá quando ela é enforcada. Se roubou, ela vai para a prisão e se arrepende. Porém, o tempo para a ação chega apenas uma vez e depois disto é tarde demais para reparar nossas faltas. Fazemos muitas coisas que, no momento, nos parecem corretas; porém, depois nosso eu não se satisfaz. É como a pessoa que come alguma coisa com um sabor agradável mas depois produz um odor ruim, de modo que o cheiro de seu próprio hálito lhe traz dor de cabeça. O que foi tolerado naquele ser enquanto tinha força, magnetismo e atividade junto com energia, polidez, aparência e bom aspecto, não será tolerado por mais ninguém quando a força o deixar. Torna-se mal-humorado, seus filhos querem deixá-lo porque dizem que o velho papai perdeu a cabeça; seus amigos o rejeitam, dizendo que ele não os interessa. Existem muitos hábitos e fraquezas da mente que na juventude não parecem de maior consequência, tais como inveja, ganância, cobiça, ódio e paixão. Quando a juventude passa, com sua própria força e magnetismo, somente a fraqueza permanece com sua insaciedade. Estamos cegos enquanto nos engajamos em uma atividade. Nossos olhos se abrem quando chega o resultado. Uma vez um “Badishah” estava cavalgando numa floresta. Ao atravessar uma ponte viu um homem completamente bêbado parado no meio dela. O homem gritou: “Caminhante, quer me vender esse cavalo?” Porque ele estava bêbado não podia reconhecer o cavaleiro. O “Badishah” pensou: “Ele está bêbado” e, assim, não deu mais atenção. Depois de caçar por algumas horas na floresta,
  • 38. viu o homem que havia parado no meio do caminho, sentado, agora, ao lado da estrada. O “Badishah” perguntou ao homem, por brincadeira: “Você quer comprar este cavalo?” A bebedeira do homem havia passado. Ele estava atônito ao pensar o que teria dito ao “Badishah” enquanto alcoolizado; porém, afortunadamente, ele pensou numa resposta muito sagaz. Disse: “O comprador do cavalo se foi, permanece o tratador do cavalo”. Isto agradou ao “Badishah” que perdoou sua falta. Há uma época em que o nosso ego deseja tudo que o tenta, porém, quando os estágios do início e da ação passam, permanece a desesperança. Nossa vida tem três partes: a parte antes do nascimento, a do tempo de nossa vida terrena e do tempo depois da morte. Quando consideramos nossa vida aqui e a futura, compreendemos que nossa vida na Terra é nossa juventude, o período da vida futura o tempo de colher os frutos de nossas ações e a época do julgamento chega depois da morte. Nas artes também vemos que existem três destes aspectos. Na música há primeiro a introdução, depois a música em toda a sua grandeza e depois a conclusão, que dá a essência de tudo que se passou antes. Na pintura, o artista primeiro desenha, depois colore o quadro e depois o olha. Se não está do seu agrado apaga-o ou rasga-o. Alguém diria: “Você o fez, por que o rasgou?” Porque quando ele olha o quadro descobre, algumas vezes, que não tem valor, ao passo que quando está bom o artista deseja que seja enviado a uma exposição e, orgulhosamente, convida seus parentes e amigos para apreciá-lo. Este mundo é o quadro do Criador. O Criador, como o artista, olha seu trabalho e o altera, melhora ou o apaga, como melhor lhe pareça. Por que o Dia do Julgamento é chamado de “dia”? Nosso dia é quando estamos acordados, nossa noite é quando estamos dormindo. Não são o dia e a noite da Terra, que são limitados a vinte e quatro horas, mas o dia e a noite da consciência. O que separa um dia do outro, o que nos faz distinguir os dias é a noite. Aqui, nossa vida está na ignorância da atividade, onde o mundo de ilusão parece real a nossos olhos e a rápida passagem pela vida nos parece estável; exatamente como quando num trem nos parece que árvores em fila estão correndo e o trem está parado. Quando a vida ilusória prova não ser real, como pensamos por algum tempo, chega o dia em que as coisas aparecem tão claras como a luz do dia. Para alguns poucos, isto acontece neste mundo, mas acontece para todos na vida futura. Aqui temos dois estados: o da vigília e o do sonho. Lá a única realidade será o sonho. Será nosso dia contínuo, sem a interferência da noite. Não haverá mudança. Este dia durará para sempre, isto é, até a nossa individualidade submergir na consciência divina.
  • 39. Sonhamos com todas as coisas que nos cercam e com todas as coisas como aparecem. Sonhamos com um cavalo ou um elefante, com nosso irmão, irmã, mãe, pai ou tio, porém não sonhamos com objetos que não existem, ou com um cavalo com asas ou um coelho com orelhas de elefante, porque estes não são do nosso mundo. Aquilo com o qual nossa consciência está impressionada, somente aquilo é nosso mundo. Esse mundo entra em julgamento continuamente. O mundo do marido será sua casa e sua família, O mundo do rei será o ambiente do palácio. Não estaremos, então, num grande aglomerado onde haverá milhões e bilhões de almas em qualquer forma que apareçam e todas as almas que existiram no mundo serão julgadas ao mesmo tempo? Será assim na aparência, mas não em realidade, porque o Dia do Julgamento de cada indivíduo refletirá o mundo inteiro dentro dele e lhe será peculiar. Em outras palavras, o mundo será ressurgido em cada alma. A afirmação e a negação de todos os aspectos da consciência estarão em plena atividade, algumas vezes guiados por Munkir e Nakir, os anjos registradores. Na realidade, haverá um disco registrador que repetirá todas as experiências de cada um, lembradas e esquecidas, boas e más, junto com um filme sobre tudo que lhe diz respeito, se antes ou depois de morto, ou ainda vivo na Terra. Isto tem lugar frente à nossa própria alma, na presença do Ser perfeitamente justo e poderoso, o Conhecedor e Pesador de todas as coisas.
  • 40. CAPÍTULO III Céu e inferno O princípio abstrato do céu e inferno existe, de urna forma ou de outra, em todas as religiões, permitindo à religião manter grande influência sobre as massas, mantê-las sob controle e induzindo-as a praticar o bem e evitar o mal. Esse controle seria quase impossível sem a idéia do céu e do inferno, porque o homem é sempre tentado para o mal e quando quer praticar o bem enormes dificuldades surgem à sua frente. O reino da Terra parece pertencer aos maus, enquanto os virtuosos procuram a misericórdia de Deus. Se não houvesse a recompensa do céu e do inferno, a humanidade não teria se unido na religião da fé, por maior que fosse uma outra recompensa qualquer. A recompensa que nos é dada por Deus difere completamente do conforto e riqueza da Terra, mas nos tempos primitivos – e isso ainda acontece com algumas pessoas atualmente – essa recompensa só poderia ser compreendida pelos homens se lhes fosse apresentada em termos terrenos. Eis o motivo por que os Apóstolos receberam o poder de falar aos homens na sua própria linguagem. As Escrituras primitivas foram dadas aos homens numa época em que a evolução do mundo era tal que o povo ansiava por qualquer conforto material que pudesse obter. Diziam ao povo: “Se se afastarem do pecado, viverão entre plantas sem espinhos e bananeiras repletas de frutos. Sua sombra abrigá-los-á e terão sempre água corrente e leitos para descansar. Nesse lugar vivem jovens em flor e seres brilhantes com olhos tão grandes como pérolas. Haverá uma nova criação com jovens belas que carregarão os alimentos em pratos dourados e vinho suave em jarros de ouro para ser servido em taças douradas. Lá não verão semblantes crispados, não haverá fraqueza dos sentidos. Terão os frutos de que mais gostarem, a carne das aves, tudo que desejarem. Não ouvirão nenhuma conversa fútil, o pecado lá não existe e só ouvirão o grito: “Paz, Paz!” Se nós dissermos a uma criança: “Se fizer o que estou pedindo ganhará um doce”, obedecerá, por maior sacrifício que seja para ela, porque pensa em comer um doce. As palavras que constam das Escrituras sobre a recompensa para as boas ações no Céu foram expressas de acordo com a evolução dos povos daqueles tempos. As promessas foram feitas como um adulto promete a uma
  • 41. criança: “Não tire a maçã do outro, vou lhe dar uma maçã mais doce do que esta” ou “Não tire a boneca de nenhuma criança, porque vou lhe dar uma boneca mais bonita do que qualquer outra”. Era a única maneira de evitar que o povo pouco evoluído cometesse atos indesejáveis. Da mesma forma, a humanidade foi ameaçada com punição, como ser queimada com fogo ardente, beber de uma fonte fervente, não tendo outro alimento senão espinhos e cardos, assim como uma mãe diz a seu filho: “Você levará uma surra se fizer isto”. O Profeta Maomé expressou-se assim certa vez: “O inferno é para o mau. Os tolos lutam pelo céu.” Cada religião deu a idéia do céu e do inferno baseando-se nas cenas familiares da Terra, de acordo com os usos e costumes de cada lugar. O céu dos hindus é um teatro de ópera, onde existem “Upsaras” (cantores) e “Gandharvas” (dançarinos). O inferno está cheio de cobras e escorpiões, imundície e vermes. No céu dos cristãos, os abençoados se transformam em anjos, vestidos de branco, com asas também brancas, tocando harpas douradas. Ficam no céu azul, sentados nas nuvens brancas, cantando em louvor a Deus. Sua alegria é conhecer Deus e estar em comunhão com os abençoados. O inferno cristão é uma fornalha incandescente e abrasadora, com lagos de enxofre e súlfur causticante, onde o condenado não morre e o fogo não se apaga. Os demônios aguilhoam os amaldiçoados com as pontas incandescentes de seus tridentes. São os condenados atormentados pela sede e ficam no inferno para sempre ou até que tenham pago a dívida de seus pecados até o último centavo. No céu dos muçulmanos há os “Huris” e “Malaks”, os assistentes do céu, esperando os habitantes de Jannat. Suas faces ficarão luminosas e radiantes com a beleza celestial e serão incomparavelmente mais elegantes do que os mais belos da Terra. Leite e mel correm nos riachos, jóias e gemas rolam pelo chão. Estarão sempre à disposição bebidas refrescantes e brisa revigorante. Todas as frutas e alimentos estarão à mão. Fontes de “Kouthar”, o vinho divino, estarão sempre jorrando. Todos os que entrarem em Jannat, criança ou adulto, serão sempre jovens. Haverá união com o sagrado e a atmosfera divina far-se- á sentir em tudo. O inferno na tradição muçulmana é um lugar de fogo irado, mais quente que qualquer fogo da Terra. Lá estão os que choram e gritam, clamando por água e com chamas saindo pela boca. Os arredores são melancólicos, miseráveis, desamparados e doentios. A escuridão, a confusão, o horror e a ignorância envolvem o inferno. Uma atmosfera demoníaca cobre tudo.
  • 42. Podemos perguntar por que as diversas religiões deram explicações diferentes sobre o céu e o inferno. Os Profetas jamais falaram de coisas que não fossem verdadeiras. Se nos basearmos na visão filosófica, veremos que o que queriam dizer é: o que quer que tenhamos idealizado, é isso que obteremos. Os hindus idealizaram o seu céu como um lugar de música, canto, representações e dança. No cristianismo evitaram, desde a sua fundação, o pensamento da distinção de sexos. No seu lugar santo há anjos sem sexo cantando para Deus, no céu, acima das nuvens. Na Arábia, onde a areia é escaldante, o homem anseia por uma bebida refrescante a todas as horas do dia e da noite. O clima torna o povo emotivo e o leva a admirar a juventude e a beleza. O inferno, em quase todas as religiões, foi descrito, de uma forma ou de outra, como um lugar de tormento, onde se encontram todas as formas de tortura. A imagem do céu ou do inferno teve origem numa revelação muito simples, como veio à mente do Profeta Maomé: um grande horror ante a idéia do pecado e um senso de alegria e de beleza diante da Beleza, que se expressa primeiro na imaginação artística antes de surgir nos lábios. O pensamento de horror leva imediatamente à imagem do fogo, especialmente entre os que vivem no deserto e nas areias quentes da Arábia, onde a água é a única salvação para o povo e o fogo sempre representa o principal elemento de destruição. Quando surge o pensamento de alegria e beleza, é imediatamente imaginado como a beleza do sexo oposto, que sempre deleitou as almas desde o primeiro dia da criação e continuará eternamente. Assim sendo, todas as delícias atrairão os sentidos. Todas as visões que se deseja ter ficaram diante da visão do Profeta e ele as expressou na linguagem que os ouvintes podiam compreender e apreciar. O Sufi penetra na fonte ou na origem do céu e do inferno, o crente simples se deleita com as palavras. Tudo de que falam as tradições é compreendido literalmente pelo crente, mas o Sufi as vê de maneira diferente. Para o Sufi os “Huris” são expressões celestiais da Beleza que aparece diante dos olhos abertos na Terra e que os olhos admiram como imanência divina na Terra. No “Hadith” está escrito: “Deus é beleza. Ele ama a beleza.” Toda a criação foi feita para que a beleza que existe dentro do Criador pudesse se manifestar em Sua criação, para que fosse testemunhada. A mesma tendência se vê em todo o percurso. Os olhos de Deus vêem a beleza celestial através do devoto que caminha para a meta eterna. Diz o Corão: “Nenhuma alma sabe o que lhe está reservado, que alegria refrescará seus olhos como recompensa pelo que fez.”
  • 43. O mel é a essência de todas as flores e a essência do ser integral é a sabedoria. A sabedoria é o mel que se encontra no céu. O leite é a substância pura e essencial preparada no seio da mãe. O sustento essencial do nosso ser é o espírito puro como o leite. Bebemos esse leite por meio da espiritualidade e é dele que nossa alma se nutre. Está escrito na Bíblia: “Nem só do pão vive o homem, mas de toda palavra que vem da boca de Deus.” As riquezas terrenas como gemas e jóias a que o devoto renuncia durante a sua passagem pela Terra rolam como seixos sem valor diante de seus pés. Para aquele que é vidente, a riqueza terrena que o homem persegue durante toda a sua vida no fim se transforma em seixos que rolam a seus pés. “Kouthar”, o vinho, representa a influência intoxicante do êxtase espiritual, que se esconde no coração em forma de amor, purificando a mente de todas as impressões gravadas durante a existência na Terra e preparando a alma para a união com Deus. Para cada pessoa existe um céu e um inferno diferentes, de acordo com seu grau de evolução. O que para um é o céu, para outro é o inferno. Um pobre acha que céu é ter urna casa confortável e um carro para transportá-lo. Se um rei fosse obrigado a viver na casa de um rico negociante, apenas com um ou dois carros e alguns empregados para servi-lo, acharia isso um inferno. Um estalo da língua é mais penoso para um cavalo que dez chicotadas no lombo de um burro, o que mostra que o inferno do cavalo e o inferno do burro não são os mesmos. Há a história de um “Padishah”, um juiz, a quem levaram quatro pessoas acusadas do mesmo crime. Olhou para uma delas e sentenciou: “Enforquem- na”. Olhou para outra e disse: “Prisão perpétua”. Para uma outra sentenciou: “Banimento”. Olhou a última e lhe disse: “Que vergonha! Como ousa me mostrar a sua face? Vá embora e nunca mais me apareça”. O que foi sentenciado ao enforcamento matou mais algumas pessoas no caminho da forca, o exilado partiu e iniciou outro negócio usando sua velhacaria. Prosperou noutro país. O que foi mandado para a prisão perpétua regozijou-se impudicamente com os companheiros da prisão. O que foi eximido de culpa voltou para casa e suicidou- se. Para ele as palavras amargas do “Badishah” foram piores do que uma taça de veneno. Deus, de seu trono, não nos recompensa ou nos pune e não existe um aprisco ou cercado chamado céu em que os virtuosos podem entrar e não existe um lugar chamado inferno em que todos os pecadores estão a penar. A realidade é que experimentamos o céu e o inferno na nossa vida cotidiana, a todos os momentos. Aqui na Terra experimentamos tanto a vida de sonho como a vida física. Há sempre possibilidade de mudança. Se hoje estamos vivendo num inferno, amanhã podemos viver num céu. Se hoje estamos vivendo num céu, amanhã podemos estar vivendo num inferno. Quando retornamos deste mundo
  • 44. de variedades, não progredimos pela experiência, nosso céu e nosso inferno não mudam muito. Falemos primeiramente do inferno e do céu que cada um de nós cria para si mesmo na Terra. Quando se faz um ato que não agrada a nossa consciência, a impressão permanece na consciência, torturando-a continuamente, mantendo diante dela as agonias que o “eu” experimenta. Vemos neste mundo pessoas em altas posições, vivendo em ambientes luxuosos, possuindo fortuna e poder. Suas más ações, entretanto, criam dentro delas um fogo abrasador. Algumas vezes a vida externa dessas pessoas mostra seu estado interior, às vezes não. Há outros que são felizes mas acham que estão num inferno. Isso fica parcialmente escondido de seus olhos, devido à contínua variedade de suas experiências. Essa vaga visão de seu inferno no futuro poderá levá-los realmente ao inferno. Quando alguém faz uma ação que sua consciência aprecia, ela a aprova. Diz- lhe: “Bravo, que bela ação!” Sua alma fica contente com as ações feitas. Se estiver por acaso num ambiente que não seja muito bom ou em qualquer outro lugar, sua alegria interior é suficiente para fazê-lo feliz. Quando sua consciência fica satisfeita com as ações corretas, o Deus interior fica satisfeito. Essa pessoa está feliz consigo mesma, por pior que seja sua situação na vida. O mundo talvez considere tal pessoa infeliz, mas é muito mais feliz que um rei. Está no seu céu e a mesma experiência continua ininterruptamente nos planos mais altos da existência, céu e inferno. Todos criam seu próprio céu e inferno. Um discípulo certa vez perguntou ao seu Murshid (Mestre): “Suplico-lhe, Murshid, deixe-me ver o céu numa visão”. Respondeu-lhe ele: “Entre no outro quarto, sente-se e feche os olhos. Verá o céu”. O discípulo seguiu o conselho e sentou-se em meditação. Em sua visão viu uma enorme área e nada mais. Não havia rios de mel e mares de leite, nem blocos de rubi, nem tampouco tetos cobertos de diamantes. Voltou. “Obrigado, Mestre” – disse ele. – “Vi o céu e agora gostaria de ver o inferno”. O Mestre então lhe disse: “Muito bem, faz novamente a mesma coisa” e o discípulo entrou na outra sala e sentou-se em meditação. Viu de novo uma grande área, mas nada havia nela, nem cobras, nem fogo, demônios ou animais cruéis, nada. Voltou para junto do Murshid e lhe disse: “Vi uma grande área, mas de novo, não vi nada nela”. O Murshid falou: “Meu filho, você esperava lá encontrar rios de mel e mares de leite ou cobras ou fogo no inferno. Não? Lá não existe nada disso, você terá que levar tudo daqui. Aqui é o lugar onde se pode coletar tudo, quer as delícias do céu quer o fogo do inferno”. Escreveu Omar Khayyám: “O céu é a visão do desejo satisfeito, o inferno a sombra de uma alma em fogo”. Na realidade, nosso “eu” é céu quando abençoado pela misericórdia divina. Nosso “eu” é inferno quando amaldiçoado pela cólera divina. Os sete portões de
  • 45. que fala o Corão são as sete aberturas de nossos sentidos. Através desses portões experimentamos nosso céu ou nosso inferno. Os sete píncaros representam os sete planos da existência do homem. Cada plano tem seu céu e seu inferno característicos. Para nós as coisas parecem ser o que queremos que elas sejam. Se somos tolerantes com o nosso meio ambiente, se estamos satisfeitos com tudo que possuímos, se suportamos os desconfortos e inconveniências inevitáveis, se adquirimos conhecimentos sobre o nosso próprio ser, se vemos a imanência divina ao nosso redor e se desenvolvemos o amor dentro de nós, esse amor que sustenta o mundo, a nossa vida passa a ser uma preparação para o céu e nosso além-túmulo terá grande expressão. Esse é o estado de ser do devoto. Diz o Corão: “Os piedosos entram em paz e segurança... Lá nenhuma preocupação os atingirá nem serão expulsos”. Se os devotos estão cobertos de trapos, se se deitam no pó, o pó se transformará no trono de Suleyman e seus turbantes de trapos se transformarão na coroa do “Khussrau”. Nossa insatisfação daquilo que possuímos na vida, nossa intolerância para com o meio ambiente, a falta de paciência para com as condições que não podemos evitar, nossa fraqueza de nos entregarmos às nossas paixões e apetites, nossa falta de sociabilidade, nossa ignorância a respeito do nosso verdadeiro ser e nossa cegueira ante a visão de Deus manifestada em toda a natureza são os tormentos da vida na Terra e o fogo flamejante do além-túmulo. O céu é para o homem piedoso, cujas virtudes o conduzem para ele. O inferno é para os maus, que acendem eles mesmos o fogo do inferno. Diz o Sufi: “Fico acima do céu e do inferno, feliz nos braços da paz eterna. Nem a alegria do céu pode me tentar, nem o fogo do inferno pode me tocar, pois me abracei com a bem-aventurança e beijei a maldição, procurando me elevar acima das alegrias e tristezas da vida”. Em verdade, nenhuma alma permanecerá no céu ou no inferno eternamente. Esse é um processo de dissolver gradualmente no oceano do Ser Eterno os resíduos do ser individual. Esse estado é chamado de “Pulserat”, ou purgatório.
  • 46. CAPÍTULO IV Qayamat, o fim do mundo Um poeta persa diz: “Tu escondeste a face sob o véu da Tua criação, Porém eu sei que foste Tu que num sopro colocaste ambos os mundos em movimento.” O mundo é como um arco de criança, quando se sopra ele corre mais e mais; quando a força do sopro se esgota ele pára e cai. Isto pode ser visto em menor grau em todas as coisas do mundo. Quando a atividade do mundo terminar, o mundo se extinguirá. O curso da destruição é como o curso da manifestação, é em ciclos. A primeira ação é criada pelo sopro dado e depois cada ação causa uma outra ação. O curso da vida no mundo é como o do relógio. Alguns relógios trabalham durante quatro dias, outros oito dias e para alguns é necessário dar corda diariamente. Quando o período da corda termina, os ponteiros param. A lei da construção e da destruição pode ser descrita como tendo três aspectos. Uruj, o primeiro aspecto, mostra a força da atividade; Kemal mostra o clímax, o limite de seu progresso; e Zeval a volta à inatividade, o fim da qual é Kemal absoluto. Kemal mostra seu poder destrutivo em ambos os pólos, primeiro no fim de Uruj, a atividade em vigor, quando o progresso pára e mais uma vez no fim de Zeval, quando a atividade cessa completamente. O elemento construtivo é chamado Kadr, o poder dominado. O destrutivo é o poder absoluto que domina. É chamado Kaza. Tudo que é nascido, construído, feito ou brotado deve, num ou noutro dia, separada ou coletivamente, ser submetido a Kaza, o poder destrutivo. Surpreendemo-nos quando, devido a uma explosão, uma fábrica vai pelos ares acidentalmente e milhares de vidas são perdidas. Horrorizamo-nos ao ver uma cidade destruída por uma enchente e milhões de vidas sacrificadas, porém para o Criador isto nada significa. É como se um matemático tivesse que achar um total multiplicando, adicionando, subtraindo e dividindo até milhares e milhões de números e, então, de repente tivesse a fantasia de destruir todo o trabalho.
  • 47. Há uma ocasião em que um dedo é extirpado e uma ocasião em que toda a mão é amputada. Há um tempo em que um membro se deteriora e um tempo em que todo o corpo está morto. Há um tempo em que uma coisa na sala é quebrada, um outro quando tudo na sala é despedaçado, quando toda a casa é arruinada e um outro quando toda a cidade ou todo o campo é destruído. Assim, chegará o tempo em que o mundo inteiro será destruído, até o universo, porém isto virá num período muito mais longo de tempo. Por que a manifestação, apesar de ser feita de vida eterna, é ainda sujeita à destruição? A resposta é que a vida eterna é a única vida e esta vida aparente na Terra é meramente uma suposição. Certa vez perguntaram ao Profeta Maomé: “O que é a alma?” Ele respondeu usando uma palavra “Amr-e-Allah”, uma ação de Deus. Há a mesma diferença entre Deus e Sua manifestação que há entre o homem e sua ação. Assim como a ação perece e o homem permanece, também a manifestação é destruída e Deus permanece. Todas as manifestações, toda recordação e todas as máculas do mundo desaparecem da consciência, deixando-a tão pura como era antes. Se uma garrafa cheia de tinta é derramada no oceano, a tinta é absorvida e o mar permanece claro e imutável como antes. Quando um novo universo se manifesta é sem a experiência da manifestação anterior. Quando o universo cessa de existir, recomeça mais uma vez e, apesar disto se repetir vezes sem conta, cada vez é mais novo do que nunca.
  • 48. CAPÍTULO V Lugares mal-assombrados Em nossa vida diária, a influência das visitas que vêm à nossa casa é sentida não somente em sua presença como permanece mesmo depois delas terem se retirado. Na cadeira onde sentaram, no quarto onde estiveram, no corredor pelo qual andaram, uma pessoa mais suscetível pode captar isto, apesar de nem todos, naturalmente. Certa vez, durante uma viagem, ocupei um quarto em Kandy, no Ceilão, e à noite, durante as horas de minha meditação, enquanto estava ocupado em minhas práticas sagradas, senti-me inquieto e perturbado e não podia fixar a mente na meditação nem por um momento. Fiquei aborrecido comigo mesmo e fui para a cama, porém minha inquietação aumentou. Levantei-me e senti que devia olhar dentro dos armários. Não sabia por que estava fazendo aquilo. Acredito que talvez meu ser interior queria me guiar pela razão, em face de experiência tão incomum. Encontrei lá, para minha surpresa, um chumaço de cabelos pretos, como se alguma mulher tivesse reunido os cabelos que haviam caído de seus penteados, por um longo tempo. Passei uma noite ruim e pela manhã a primeira coisa que fiz foi perguntar à hospedeira quem havia ocupado o quarto anteriormente. Ela disse: “Senhor, não me recorde dela. Pensar nela torna-me doente. Uma mulher viveu aqui por algum tempo. Nunca pagou o aluguel. Chamava-me de nomes feios, lutava com os homens e discutia todo o dia, afugentando todos os outros pensionistas. Meu coração está em paz desde que ela deixou esta casa.” Disse-lhe: “Que pena ter me hospedado naquele quarto!” Ao que ela retrucou: “Senhor, eu lhe dei aquele quarto de propósito, porque pela sua aparência o senhor pareceu-me um homem santo e estava certa que este quarto seria purificado pela sua boa influência.” Não tive resposta para ela, apenas sorri. Se a influência dos vivos é essa, quão maior é a influência dos mortos nos lugares onde viveram e foram felizes, aos quais estavam presos e dos quais a morte os tirou violentamente! A lembrança de seus lares conserva-os onde viveram, ou no campo onde trabalharam e nos clubes onde gozaram a vida, nas casas dos amigos para as quais são atraídos. Se o espírito durante a vida foi interessado em bons pratos, depois da morte onde há um bom prato ele sempre estará presente. Se em toda a sua vida tiver gostado de uísque, depois da morte estará num bar onde tenha uísque.