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HAZRAT INAYAT KHAN
ALQUIMIA DA
FELICIDADE
Volume VI
A Mensagem Sufi
UNIVERSALISMO
Sumário
Prefácio
Dados biográficos
A Alquimia da Felicidade
O Alvo da Vida
O Objetivo da Vida (1)
O Objetivo da Vida (2)
A Arte da Personalidade
O Desenvolvimento da Personalidade
A Atitude
O Segredo da Vida
O que é Desejado na Vida?
Vida, uma Batalha Contínua (1)
Vida, uma Batalha Contínua (2)
A Luta da Vida (1)
A Luta da Vida (2)
Reação
O Lado mais Profundo da Vida
A Vida, uma Oportunidade
A Experiência da nossa Vida
Comunicação com a Vida
A Intoxicação da Vida (1)
A Intoxicação da Vida (2)
O Significado da Vida
A Vida Interior
A Vida Interior e a Auto-Realização
A Interdependência da Vida Interior e Exterior
Interesse e Indiferença
Da Limitação à Perfeição (1)
Da Limitação à Perfeição (2)
O Caminho da Consecução, da Realização (1)
O Caminho da Consecução, da Realização (2)
Estágios no Caminho da Auto-Realização
O Homem, o Dono do seu Destino (1)
O Homem, o Dono do seu Destino (2)
A Lei da Ação
A Pureza da Vida
O Ideal
A Viagem para a Meta (1)
A Viagem para a Meta (2)
Recognição
Responsabilidade
A Continuidade da Vida
Prefácio
ALQUIMIA DA FELICIDADE foi o título de uma das palestras do Sufi Hazrat
Inayat Khan feitas nos anos 20. Foi publicada pela primeira vez numa antiga
publicação trimestral – Sufismo – em dezembro de 1922, e mais tarde publicada
separadamente. Faz parte do primeiro capítulo deste livro.
Os ensinamentos de Inayat Khan cobriram praticamente todos os aspectos da
existência humana. De um lado ele abordou os aspectos metafísicos, como o
parentesco entre Deus e o homem, os diferentes planos e fases da existência, o
lugar do homem na Criação, e muitos outros aspectos. Do outro lado ele sondou
profundamente a vida do homem na Terra, devassou seus problemas e
possibilidades e mostrou o caminho para uma vida mais equilibrada, frutífera e
feliz.
Por mais importante e interessante que seja tanto o estudo como a prática da
Mensagem de Inayat Khan na sua parte metafísica, ele constantemente chama
nossa atenção para o fato de que o estudo e a prática serão inúteis se nossa
vida cotidiana não entrar em harmonia com a metafísica. A verdadeira
compreensão, diz ele, não vem se nós nos agarrarmos intelectualmente ao
sentido de um aspecto da Verdade e sim se nós vivermos a Verdade.
Este é o persistente e repetido tema das palestras que compõem este livro.
Como essas palestras não foram feitas com a intenção de serem inseridas num
livro e foram realizadas em épocas diferentes destinadas a um público diferente,
o leitor notará que muitas vezes os tópicos se sobrepõem, mas se fizer um
estudo mais profundo desses tópicos, ficará patenteado que Inayat Khan sempre
lançou uma nova luz sobre os problemas por ele focalizados.
Dados biográficos
HAZRAT INAYAT KHAN veio ao mundo no ano de 1882 em Baroda, Índia, numa
família de alto nível artístico.
Dotado de grande capacidade musical, além de poeta, místico e profundo
pensador, já na sua infância conquistou vasta admiração pelos seus cantos e
composições. Realizou muitas viagens entre 18 e 24 anos, ocasião em que teve
amplas oportunidades de entrar em contato com ilustres filósofos e místicos de
seu país. Sentia-se bastante inclinado ao Sufismo, o ensino da Unidade de todos
os seres e coisas.
Foi iniciado no ano de 1908 por um Mestre Sufi, em Haiderabad, de quem
recebeu maravilhosos ensinamentos. Satisfazendo os desejos de seu Mestre,
Inayat Khan resolveu abandonar sua pátria, sua família e seus amigos, para levar
a Mensagem Espiritual ao Ocidente. Nessa época, efetuou muitas viagens
através da Europa e dos Estados Unidos da América do Norte, vivendo depois,
longo tempo, na Inglaterra e na França. Provou aos homens modernos que todos
os seres e coisas formam uma Unidade e que Leste e Oeste, juntos, completam
essa Unidade, demonstrando também que todos os Credos constituem nada
mais que ondas do mesmo Oceano da Verdade, da verdadeira Religião.
Dentro desses princípios e conhecimento, foi fundado por ele o Movimento Sufi.
Nas obras de Inayat Khan são analisados todos os problemas religiosos e
espirituais. Elas trazem também à luz a plena solução a todas as perguntas
materiais da vida cotidiana, procurando esclarecer o leitor sobre a razão da
causa e efeito.
Esse grande Mestre Sufi dedica seus trabalhos a todos os que, na luta diária,
procuram por estímulo e Luz, e aos que anseiam pela Divina Realização.
Em suma, Inayat Khan ensina a cada um como deve desenvolver as suas
próprias forças latentes, com plena consciência, conseguindo a completa
Unidade com a Vida Superior.
A Alquimia da Felicidade
A alma em Sânscrito, na terminologia Vedântica, chama-se “Atman”, que quer
dizer felicidade ou bem-aventurança. A felicidade não pertence à alma, a alma é
que é a felicidade. Como é natural, há uma confusão entre felicidade e prazer.
Prazer é apenas uma ilusão, é uma sombra da felicidade. O homem pode levar
a vida inteira vivendo nessa ilusão, procurando o prazer e nunca encontrando
uma satisfação. Diz um ditado Hindu que o homem procura o prazer e encontra
a dor. Na aparência exterior o prazer se assemelha à felicidade. O prazer
promete felicidade por ser a sombra da felicidade, mas assim como a sombra de
uma pessoa não é a própria pessoa, embora represente sua forma, também o
prazer representa a felicidade, mas não é na realidade a felicidade.
Em apoio a essa idéia podemos notar que raramente encontramos no mundo
almas que sabem o que é felicidade. Vivem constantemente desapontadas com
uma coisa e outra. Essa é a natureza da vida neste mundo. É tão enganadora
que se o homem se desapontar milhares de vezes, mesmo assim continuará
percorrendo o mesmo caminho, porque não conhece outro caminho. Quanto
mais estudamos a vida mais descobrimos como é raro encontrar uma alma que
diga honestamente “Eu sou feliz”. Quase todas as almas, qualquer que seja sua
situação na vida, de uma maneira ou de outra dirão que são infelizes. Se
perguntarmos a uma pessoa por que se sente infeliz dirá que não conseguiu
obter o que queria, que não tem nenhum poder, propriedades, haveres ou
posição social, não conseguiu nada do que se esforçou para obter anos a fio.
Talvez essa pessoa tenha almejado riquezas e não compreendeu que haveres
não proporcionam tanta satisfação como pensa. Talvez diga que tem inimigos
ou aqueles que amam não a amam. Há milhares de desculpas para a infelicidade
criadas pela mente e que influem no seu raciocínio.
Qualquer uma dessas desculpas, entretanto, é realmente correta? Pensam que
se pessoas que se dizem infelizes tivessem seus desejos satisfeitos seriam
felizes? Se possuíssem tudo que desejam seria suficiente? Não, ainda assim
arranjariam outras desculpas para sua infelicidade. Todas as desculpas não
passam de véus que cobrem os olhos dos homens. O anseio de chegar à
verdadeira felicidade, que nenhuma das coisas citadas aqui pode dar, está no
homem se aprofundar no seu próprio ser. Quem é realmente feliz é feliz em
qualquer lugar: num palácio ou numa choupana, na riqueza ou na pobreza,
porque descobriu a fonte da felicidade que está situada no seu coração.
Enquanto o homem não encontrar essa fonte nada lhe proporcionará a
verdadeira felicidade.
O homem que desconhece o segredo da felicidade muitas vezes desenvolve em
si o espírito de avareza. Quer possuir milhões e quando os obtêm, eles não o
satisfazem. Passa então a desejar bilhões e ainda assim não fica satisfeito. Sua
ânsia de riqueza é cada vez maior. Se todos lhe derem toda a simpatia e
préstimos, ainda assim esse homem se sentirá infeliz. Mesmo se lhe dermos
tudo que possuímos, isso não será bastante, até se lhe dermos o nosso amor.
Nada o ajudará, pesque ele está procurando a felicidade na direção errada. Para
ele a vida é uma tragédia.
Felicidade é uma coisa que não pode ser comprada ou vendida, nem ela pode
ser dada a quem não a possui. Felicidade é o próprio ser do homem, é o seu
próprio eu, é a coisa mais preciosa da vida. Todas as religiões, todos os sistemas
filosóficos ensinaram ao homem, de diversas maneiras, como alcançar a
felicidade, ou pelo caminho religioso ou pelo caminho místico. Todos os sábios,
de uma maneira ou de outra, ensinaram um método para o homem encontrar a
felicidade que a alma procura.
Os sábios e os místicos deram a esse processo o nome de alquimia. As histórias
das Mil e Uma Noites, de origem Árabe, que simbolizam idéias místicas, estão
repletas da crença de que há uma pedra filosofal que transforma os metais em
ouro por um processo químico. Indubitavelmente, essa idéia simbólica iludiu os
homens tanto do Oriente como do Ocidente. Muitos pensaram que existia um
processo pelo qual o ouro poderia ser fabricado, ao passo que essa idéia nunca
foi a dos sábios e místicos. A procura do metal ouro é para os homens que ainda
não saíram da meninice. Para os que têm consciência da realidade, ouro quer
dizer luz ou inspiração espiritual. O ouro representa a cor da luz. A perseguição
inconsciente do homem ao encontro da luz tem feito com que ele procure o ouro,
mas existe uma grande diferença entre o ouro verdadeiro e o ouro falso. O anseio
de encontrar o ouro verdadeiro faz o homem adquirir a imitação do ouro, por
ignorar que o ouro verdadeiro está dentro do seu ser. A imitação do ouro nesse
caso satisfaz a ânsia da sua alma, como uma criança se satisfaz com
brinquedos.
Essa realização não é questão de idade. Uma pessoa pode ter idade avançada
e mesmo assim ainda gostar de brincar com brinquedos. Sua alma pode estar
envolvida com a procura da imitação do ouro. Uma outra pessoa que na
juventude começou a ver a vida pelo seu aspecto verdadeiro, pode chegar a
essa realização. Se estudarmos a natureza transitória da vida na Terra e
verificarmos como ela é sujeita a mutações, e constatarmos que o anseio
permanente de cada ser é encontrar a felicidade, certamente vamos nos esforçar
o máximo para encontrar algo em que possamos confiar. O homem, colocado no
meio do mundo de mutações, aprecia e procura a constância onde ela puder ser
encontrada. Não sabe que o que deve fazer é desenvolver nele próprio a
qualidade constância. Faz parte da natureza da alma valorizar tudo que é
confiável. E há uma coisa na vida em que se pode confiar e que está acima das
mutações e da destruição. Tudo que teve nascimento e tudo que foi fabricado
está sujeito à destruição, tem um fim. Mas se existe alguma coisa em que se
pode confiar, e que não será destruída, é o que está oculto no coração do
homem: a centelha divina, a verdadeira pedra filosofal, o verdadeiro ouro, o ser
interno do homem.
Uma pessoa pode seguir uma religião e não chegar à realização da verdade.
Nesse caso qual a utilidade da religião se ela não a fez feliz? Religião nada tem
a ver com depressão e tristeza. O espírito da religião deve proporcionar
felicidade. Deus é felicidade, é a perfeição do Amor, da Harmonia e da Beleza.
Uma pessoa religiosa deve ser mais feliz que uma não-religiosa. Se uma pessoa
que professa uma religião está sempre melancólica, para ela a religião é uma
coisa triste, a forma da religião foi conservada mas o espírito da religião não
existe. Se o estudo da religião e do misticismo não levar à verdadeira alegria e
felicidade, seria melhor se não existisse, porque nada ajudará na realização do
objetivo da vida. O mundo de hoje é triste e sofrido como consequência das
guerras catastróficas. A religião que preenche as exigências da vida hoje é
aquela que revigora e dá vida às almas, que ilumina o coração do homem com
a luz divina que já está dentro do coração humano, não precisando usar
necessariamente uma forma exterior – embora para algumas pessoas uma
forma exterior seja de grande ajuda – mas mostrando a felicidade que é o anseio
de todas as almas.
Quanto à questão de como praticar o processo da alquimia, todo esse processo
foi explicado pelos alquimistas, mas de maneira simbólica. Disseram que o ouro
é produzido através do mercúrio. A natureza do mercúrio é uma movimentação
contínua, mas por meio de um determinado processo ele era primeiramente
acalmado e depois de acalmado se transformava em prata. A prata então era
derretida e o suco de uma erva despejado sobre a prata derretida, que assim se
transformava em ouro. Trata-se naturalmente de um esboço, mas é possível
obter-se explicações detalhadas desse processo no seu todo. Muitas almas
procuraram fabricar ouro acalmando o mercúrio, derretendo a prata e tentando
encontrar a erva, mas se desiludiram e teria sido melhor se tivessem trabalhado
para conseguir ganhar dinheiro.
A verdadeira interpretação desse processo é a seguinte: o mercúrio representa
a natureza da mente, em perene inquietação. Especialmente quando uma
pessoa tenta se concentrar é que verifica que a sua mente está sempre inquieta.
A mente é igual a um cavalo rebelde: quando está sendo montado fica mais
rebelde que quando está na cavalariça. A natureza da mente é idêntica: fica mais
rebelde e inquieta quando queremos controlá-la. É igual ao mercúrio,
constantemente se movimentando.
Quando, usando o método da concentração, uma pessoa consegue dominar a
mente, deu o primeiro passo na realização de uma tarefa sagrada. A prece é
uma concentração, a leitura é uma concentração, sentar, relaxar e pensar num
objeto é concentração. Todos os artistas, pensadores e inventores praticaram a
concentração de uma forma ou de outra. Concentraram suas mentes em alguma
coisa e focalizando a mente num objeto desenvolveram a faculdade da
concentração. Contudo, para acalmar a mente é necessário um método especial,
ensinado pelos místicos, da mesma forma que um professor de canto ensina o
cantor a emitir a voz.
Esse segredo pode ser aprendido através da ciência da respiração. A respiração
é a essência da vida, o centro da vida. A mente pode ser controlada pelo
conhecimento do método apropriado da respiração. Para isso é necessário
receber instruções de um Mestre. O culto místico do Oriente tornou-se conhecido
no Ocidente, livros têm sido publicados e os ensinamentos que eram mantidos
secretos como os da religião, vêm sendo discutidos por meio de palavras,
quando não se pode jamais explicar verdadeiramente o mistério daquilo que é o
próprio ser do homem. As pessoas lêem esses livros e começam a se divertir
com a respiração e muitas vezes, ao invés de beneficiar a mente e o corpo, são
eles prejudicados. Há também os que fazem um negócio do ensino dos
exercícios respiratórios, angariando dinheiro, desse modo degradando uma
coisa sagrada. A ciência da respiração é o maior mistério existente e durante
milhares de anos tem sido mantida como uma coisa em que se pode confiar e
sagrada nas escolas místicas.
Quando a mente está em perfeitas condições e sob controle, perdeu totalmente
sua inquietação. A pessoa pode manter um pensamento à vontade e por quanto
tempo quiser. É o início do fenômeno. Muitos abusam desses privilégios e
dissipam o poder assim obtido, destruindo a prata antes que se transforme em
ouro. A prata deve ser aquecida antes de ser derretida, mas aquecida com quê?
Com o calor, a essência divina no coração do homem, isto é, o elemento amor,
que brota como tolerância, simpatia, serviço, humildade, altruísmo, numa
corrente que se eleva e cai em milhares de gotas e cada gota pode ser chamada
de virtude. Todas as virtudes vêm daquela única corrente oculta no coração do
homem, o elemento amor. Quando o fogo do amor está incandescente no
coração do homem, suas ações, seus movimentos, o tom de sua voz, a sua
expressão mostram que o coração está quente. Logo que isso acontece o
homem realmente está vivo, tirou o lacre da fonte da felicidade que suplanta tudo
que é perturbador e desarmonioso. A fonte agora é uma corrente divina.
Depois que o coração é aquecido pelo elemento divino que é o amor, o passo
seguinte é a erva. Essa erva é o amor de Deus. Entretanto o amor de Deus ainda
não é o suficiente: é preciso também o conhecimento de Deus. A falta desse
conhecimento de Deus é que faz a pessoa abandonar sua religião, porque há
um limite para a paciência humana. O conhecimento de Deus fortalece a crença
do homem em Deus, lança luz sobre ele e sobre a vida. As coisas tornam-se
claras. Cada folha de árvore se transforma na página de um livro sagrado para
quem tem os olhos abertos para o conhecimento de Deus. Quando o suco da
erva do amor divino é despejado sobre o coração do homem que está aquecido
pelo amor aos seus semelhantes, o coração se transforma num coração de ouro.
Esse coração expressa o que Deus expressaria. O homem não viu Deus mas
viu Deus no homem. Quando isso acontece, verdadeiramente falando, tudo que
vem desse homem vem de Deus.
O Alvo da Vida
Só pode ser um único o objetivo da vida, apesar de haver outros objetivos que
não pertencem ao mundo objetivo e sim ao mundo exterior, como coisas e seres.
A vida só tem um objetivo porque a vida é uma só, embora exteriormente se
tenha a impressão de que existem muitas vidas. Esse é o pensamento que nos
leva à unidade. Partindo desse pensamento, aprendemos a verdadeira
sabedoria. Sem dúvida alguma, esse objetivo principal não pode ser
compreendido de imediato. A melhor coisa, pois, a fazer é cada um de nós
procurar seu objetivo na vida, porque, realizando nosso objetivo pessoal,
chegaremos algum dia à realização do objetivo interior. Quando o homem ainda
não compreendeu isso, pensa que há sempre algo a ser realizado. Pensa em
tudo que vê à sua frente e que ainda não foi realizado. Eis a causa de seu
contínuo insucesso.
Quem não definiu seu objetivo ainda não começou a percorrer o caminho da
vida. Deve, pois, primeiramente, determinar qual é o seu objetivo, não
importando o seu tamanho, se é grande ou pequeno. O homem começa a viver
a vida logo que o objetivo é determinado. Existem muitas pessoas que ainda não
conseguiram descobrir sua vocação. Consideram por isso sua vida um fracasso.
Não se fixam, vão de uma coisa a outra, sempre à procura de algo. Como
desconhecem seu objetivo na vida, realizam muito pouco. Se certas pessoas
quiserem saber por que não têm sucesso, a resposta é: não encontraram ainda
seu objetivo. Logo que o descobrem, começam a se harmonizar com o mundo,
o que antes não conseguiam, porque o mundo Ihes era completamente estranho.
Assim que o homem encontra seu objetivo, seu caminho, considera-se uma
pessoa de sorte, porque todas as coisas que deseja realizar passam a se
aproximar dele espontaneamente. Mesmo que o mundo inteiro estiver contra
esse homem, já adquiriu tal poder que se agarra ao seu objetivo e o defende de
tudo e de todos. Sua paciência será tão grande que, na caminhada para o
objetivo, nenhuma desventura poderá desencorajá-lo. Entretanto, não há dúvida
alguma, se o homem não encontrar seu objetivo, procura uma coisa e outra,
estará sempre procurando alguma coisa. Não havendo nenhuma satisfação na
procura, pensa que a vida é sua inimiga. Começa a ver falhas nos outros, nas
condições, nos planos, no clima, enfim, em tudo. Assim, o que chamamos de
auspicioso ou bem sucedido é realmente o objetivo certo. Quando usamos
roupas que não foram feitas para nós, dizemos que são muito largas ou muito
estreitas, mas se as roupas forem feitas sob medida, sentimo-nos confortáveis
dentro delas. Assim, também, cada um deve ter liberdade de escolher seu
objetivo na vida. Quando o encontrarmos saberemos que estamos no caminho
certo.
Quando o homem começa a caminhada na vida, deve levar em consideração
determinadas coisas. Quando alguém tem um nó a desmanchar e lhe é dada
uma faca para cortá-lo, está perdendo uma grande oportunidade. É um pequeno
detalhe, mas por ter deixado de desatar o nó, não avançou por seu esforço
próprio, retrocedeu. Este é um exemplo de pequena monta, mas em tudo que
fizermos, se não tivermos paciência e confiança para avançar, haverá grande
prejuízo. Por menor que seja o trabalho que temos a nosso cargo, se o
completarmos, teremos realizado coisa de grande valor. Se o trabalho feito
aparentemente não nos deu nenhum poder, pelo simples fato de tê-lo realizado
já adquirimos grande poder.
Quanto ao objetivo principal de todas as almas, esse objetivo pode ser chamado
de objetivo espiritual. Um indivíduo pode passar a vida inteira sem ter um
objetivo, mas chegará um dia em que, embora não o admita, começa a procurá-
lo.
Realização espiritual não é simplesmente adquirir conhecimentos, é apetite, é
fome da alma. Chega um dia em que o homem sente muito mais o apetite da
alma que qualquer outro tipo de apetite. Não há dúvida que cada alma tem uma
ânsia inconsciente de satisfazer esse apetite, mas a vida cotidiana absorve de
tal maneira as pessoas, torna-as tão ocupadas, que não têm tempo para prestar
a mínima atenção a esse anseio da alma.
Se quisermos definir a realização espiritual, podemos dizer que ela está no
estudo da natureza humana. A natureza humana é uma só e única, seja de
caráter espiritual ou material. Há cinco coisas que o homem anseia: Viver, ter
poder, adquirir conhecimento, ser feliz e ter paz. O apetite constante que vem da
parte mais profunda do ser humano é uma ânsia de obter essas cinco coisas.
Para satisfazer o desejo de viver o homem come, bebe e se protege dos perigos.
No entanto, seu apetite nunca é plenamente satisfeito, porque se escapar de
todos os perigos não escapa do último perigo, o que chama de morte.
Para obter poder, o homem faz tudo para adquirir força física, influência, posição
social. Procura todas as formas do poder. Encontra muitos desapontamentos,
porque verifica que onde há um poder, por exemplo, de 10 graus, há sempre
outro poder de 20 graus a enfrentar. Pensemos nas grandes nações cujo poderio
militar era tão grande que ninguém acreditaria que pudesse ser destruído, tão
grande era o poder dessas nações. Não precisamos procurar exemplos na
história, basta olhar para os mapas de hoje.
Segue-se o desejo de adquirir conhecimentos. Esse desejo leva o homem à
tendência de estudar. Um homem pode estudar a vida inteira, mas mesmo se
tiver lido todos os livros das bibliotecas, ainda perguntará: “Por quê?” Esse
porquê nunca será respondido pelos livros que o homem lê e estuda, nem se
explorar a vida no campo externo. Em primeiro lugar a natureza é tão profunda
que a vida limitada do homem não é suficientemente longa para investigar sua
profundidade. Comparativa ou relativamente podemos dizer que uma pessoa é
mais ilustrada que outra, mas ninguém atinge a verdadeira satisfação pelo
estudo exterior da vida.
O quarto tipo de apetite é a felicidade. O homem tenta satisfazer seu apetite de
felicidade com prazeres, esquecendo-se que os prazeres do mundo não podem
dar a felicidade que a alma realmente procura. As tentativas do homem nessa
direção são inúteis. Por fim verifica que cada esforço feito lhe trouxe uma grande
perda e nenhum lucro. Além do mais, o que não é duradouro, o que não é
verdadeiro em seu conteúdo, em sua natureza, nunca é satisfatório.
O quinto tipo de apetite é a paz. Para encontrar a paz o homem em geral afasta-
se do ambiente que o perturba, foge das pessoas, prefere sentar-se
sossegadamente e repousar, mas aquele que ainda não está pronto para a paz,
não a encontrará mesmo se fosse viver longe do mundo, nas cavernas do
Himalaia.
Esses cinco apetites são os mais profundos do homem. Verificamos que todos
os esforços feitos pelo indivíduo para satisfazer esses apetites parecem nulos,
porque só podem realmente ser satisfeitos pela realização espiritual. É a única
maneira de satisfazê-los. Assim, pois, o desejo de viver só pode ser satisfeito
quando a alma realizar sua vida eterna, quando compreender que é eterna. A
mortalidade é uma concepção, não uma realidade. Sob o ponto-de-vista
espiritual, mortalidade é a falta de compreensão da parte da alma de seu próprio
“eu”. É como um homem que vivesse a vida inteira com a concepção que ele é
o casaco que está usando e acreditasse que quando o casaco ficar roto, morrerá.
Essa mesma experiência passa a alma na terra. A alma tem uma espécie de
ilusão quanto ao corpo físico em que está encerrada, identifica-se como o ser
mortal em que habita. Os sábios de todas as eras usaram a meditação para dar
à alma oportunidade de realizar sua independência do corpo físico. Logo que a
alma sabe o que é, que sua vida não depende da sua roupagem exterior, começa
a confiar na vida e não teme mais aquilo que chamam de morte. Assim que esse
fenômeno ocorre, o homem deixa de chamar a morte pelo nome de morte.
Chama-a de mudança.
Se fizermos um estudo sobre o desejo de viver, verificaremos que ninguém tem
um desejo se ele não fizer parte de sua natureza. O desejo de viver
continuadamente é um desejo tanto do homem espiritualista como do homem
materialista. Um espiritualista tem esperança na vida além-túmulo. O
pessimismo do homem materialista age contra o desejo de viver eternamente
não acredita na alma, mas esse desejo existe da mesma forma. Como se pode
chegar a essa continuidade da vida? Não depende apenas da crença, embora a
crença ajude alguns a realizar essa experiência. Os que não têm nenhuma
crença não têm condições de encontrar o caminho. Não obstante, a continuidade
da vida é logicamente possível, porque todo homem quer viver. Não é natural
uma pessoa desejar o que não é possível. Se há um desejo natural é porque já
existe uma possibilidade de sua realização. Se não houvesse possibilidade não
haveria desejo. Naturalmente isso não se aplica a uma pessoa desequilibrada.
Essa pode desejar tudo, mas uma pessoa que raciocina só deseja aquilo que é
possível ser realizado.
O segredo desse assunto está na auto-análise. Se estudarmos o nosso “eu”
constatamos que o corpo é apenas uma cobertura de nosso verdadeiro ser e
através de um estudo ainda mais profundo, veremos que mesmo a mente é uma
cobertura do nosso “eu” verdadeiro. Logo que chegamos a essa descoberta,
tornamo-nos independentes do corpo como sendo o único meio de viver.
Tornamo-nos também independentes da mente para viver. “Mas” – pode-se
perguntar – “se o corpo não existisse o que seria então a vida?” Quem faz essa
pergunta é aquele que se limitou, aquele que experimenta a vida somente
através do corpo, não tentou experimentar a vida sem o auxílio do corpo físico.
Quando o homem não tem consciência do corpo, torna-se consciente da mente.
Quando os olhos estão abertos o homem olha para tudo que vê, mas quando os
olhos estão fechados, aí então o homem medita sobre o proveito que pode tirar
da sua mente. Em ambos os casos o homem fica dependente para viver do corpo
e da mente e essa dependência torna a alma limitada. A alma não fica só
limitada, torna-se mortal, embora na realidade a alma não seja mortal.
Entretanto, se a alma acreditar na mortalidade, será o mesmo que ser mortal.
Os ensinamentos de Jesus Cristo, do princípio ao fim, tiveram como finalidade
elevar o homem acima da mortalidade, descobrir o que é a vida, aprender a arte
e a ciência de viver. Todas as Escrituras, todos os filósofos e místicos, ensinaram
a mesma coisa. E por que ensinaram? Porque se existe uma coisa indesejável
é a mortalidade ou a morte. Nenhuma pessoa de sã consciência deseja a morte.
O desejo de morrer não é um desejo natural. Mesmo quando a mente deseja a
morte, a alma anseia por viver.
A alma está viva, é a própria vida. A morte é estranha à alma. É por isso que até
o mais pequenino inseto se protege de todas as maneiras. Não deseja morrer,
quer viver.
O que chamamos de morte é apenas a impressão que temos de uma mudança.
A vida está sujeita a modificações. Morte é apenas uma mudança de vida. Fazer
as pessoas acreditarem na imortalidade, fazer com que se elevem acima do
medo da morte, é uma coisa que deve ser feita gradativamente e não
subitamente, pois de outra forma tal conhecimento as amedrontaria mais que a
própria morte. Por este motivo o conhecimento desta verdade foi sempre uma
ciência mística, secreta. Não haveria nenhuma outra razão para esconder uma
coisa tão preciosa, como esse conhecimento, dos nossos semelhantes.
Sabemos que quando alguém é subitamente despertado, tem um grande
choque, física e mentalmente. Leva algum tempo para se refazer. O mesmo
acontece com as verdades espirituais. É por isso que há as iniciações e
promessa de guardar segredo. Não se pode colocar pratos de comida diante de
um bebê recém-nascido. O bebê precisa primeiro ser alimentado com leite.
Vejamos agora o desejo de obter poder. O homem deseja adquirir poder porque
é natural querer lucrar o mais possível. Não pode evitar isso, há uma força oculta
em alguma parte dentro do homem, mas a despeito da força oculta no seu íntimo,
sente-se impotente. A impotência ou o que o homem experimenta como
impotente, nada mais é que sua ignorância do poder que existe dentro dele. Para
abrir as portas e ver o poder que tem armazenado dentro de si, é necessário que
o homem procure o reino de Deus, como diz a Bíblia, pois ali encontrará sua
herança divina toda-poderosa. Mas como adquirir poder? Requer uma tentativa
de nossa parte no sentido de uma mudança radical interior. Essa mudança
significa uma espécie de luta com nosso falso ego. Quando o falso ego é
crucificado, parece que não há poder, mas na verdade adquirimos um poder total
através dessa crucificação.
O conhecimento tem dois aspectos. Um é o conhecimento que se coletou através
do aprendizado dos nomes e das formas na vida. Esse conhecimento não
satisfaz o apetite de poder do homem, é apenas um degrau. Esse aprendizado
exterior apenas ajuda o homem a entrar no caminho do aprendizado interior, que
é o segundo aspecto do conhecimento. O aprendizado interior é completamente
diferente do aprendizado exterior. Como é esse aprendizado interior? É aprender
através do estudo do “eu”. É descobrir que dentro de nós está todo o
conhecimento que lutamos para conseguir e também dentro de nós está tudo
que existe para ser estudado. Portanto, encontramos dentro de nós uma espécie
de universo. Pelo estudo do “eu” chegaremos ao conhecimento espiritual. A alma
tem fome desse conhecimento espiritual.
Na consecução do conhecimento espiritual o homem deve tentar meditar e
mergulhar no mar do conhecimento, o que não pode ser ensinado por meio de
livros ou estudos. Desta forma o homem passa a distinguir dois aspectos do
conhecimento: um dos aspectos é o intelecto, o outro é a sabedoria. Assim, pois,
um sábio não é necessariamente um homem de talento, nem um homem de
talento é necessariamente um sábio.
Falemos da felicidade. Uma pessoa pensa que será feliz se o amigo for bom,
quando os outros lhe correspondem, quando fica rico, mas não é essa a maneira
de ser feliz. Às vezes tudo isso leva a um resultado contrário. A infelicidade faz
uma pessoa culpar os outros, porque acha que todo mundo a está impedindo de
ser feliz. Na realidade isso não é verdade. A verdadeira felicidade não é coisa
que se ganhe, é uma coisa que se descobre. Felicidade é propriedade do
homem. É por isso que anseia pela felicidade. O que afasta do homem a
felicidade é quando ele fecha as portas do seu coração. Quando o coração não
está vivo, a felicidade não existe. Muitas vezes o coração não está
completamente vivo, está parcialmente vivo. Há pessoas que ficam à espera da
chegada de um outro coração que bata com o seu, mas a vida verdadeira do
coração é a vida independentemente da sua própria felicidade, que se obtém
através da realização espiritual, quando mergulhamos fundo dentro do nosso
coração.
Aquele que encontrou paz interior, quer esteja numa caverna nas montanhas ou
no meio da multidão, encontrará paz em toda parte. O que em geral acontece é
que dizemos que não temos paz porque os outros afetam nossos nervos.
Culpamos os outros, mas na realidade a verdadeira paz só pode ser estabelecida
dentro de nós quando nos sentirmos firmes e seguros contra todas as influências
existentes à nossa volta, só quando as coisas não mais nos perturbarem.
Falemos agora como essas cinco coisas – vida, poder, conhecimento, felicidade
e paz – podem ser alcançadas. Como já disse, a primeira coisa a fazer, e que é
muito necessária, é cumprir o objetivo que está à nossa frente e cumpri-lo
imediatamente. Não importa o tamanho do objetivo, pequeno ou grande.
Adquirimos poder cumprindo nosso objetivo. À proporção que avançamos no
caminho da vida, procurando sempre a verdade, chegamos afinal à realidade. A
verdade é alcançada pelo amor à verdade. Quando fugimos da verdade, ela foge
de nós. Se não fugirmos da verdade, estará ela mais perto de nós, muito mais
próxima que tudo que não é verdadeiro. Não há nada na vida mais precioso que
a verdade. Amando a verdade, alcançando a verdade, chegaremos à religião, a
religião de todas as Igrejas e de todos os homens. Assim sendo, não importa a
que Igreja pertença o homem, que religião professa, a que raça pertence,
contanto que chegue à verdade, à compreensão de que ele é tudo porque está
com tudo. O obstáculo está no desacordo, no desentendimento, antes de chegar
à verdade. Uma vez alcançada a verdade, o homem não encontra mais nenhum
desentendimento. As disputas surgem entre os que aprenderam apenas o
conhecimento exterior. Para os que chegaram à verdade, não tem importância
se as pessoas vivem no norte ou no sul, se são de nacionalidade diferentes, pois
entraram em sintonização completa e perfeita ao chegarem à verdade. Há união.
Este é o pensamento que devemos manter à nossa frente se quisermos unir
todos os setores divididos da humanidade, pois a verdadeira felicidade da
humanidade está na unidade. Essa unidade pode ser obtida se cada um de nós
se elevar acima das barreiras que dividem os homens.
O Objetivo da Vida (1)
Todo ser vivo tem um objetivo na vida. O que capacita todas as almas a
realizarem esse objetivo é o conhecimento que têm dele. No “Gayan” está
escrito: “Abençoado é aquele que conhece o objetivo de sua vida”.
Não se surpreendam se encontrarem pessoas que passaram toda a vida vivendo
na escuridão, ora fazendo uma coisa ora outra, pulando de uma coisa para outra,
sempre insatisfeitas, eternamente descontentes. Tudo que fazem não produz
nenhum resultado. Falta-lhes um conhecimento, que é o conhecimento de suas
vidas, que desconhecem.
Sem falar na pessoa humana, todo objeto tem o seu objetivo. A missão da
ciência é descobrir o objetivo das coisas. Sua função é essa e para isso foi
criada. Não somente a ciência médica e a filosofia, também todos os diferentes
aspectos da ciência resultam do desejo de descobrir o objetivo das coisas. O
alvo do misticismo é descobrir o objetivo da vida dos seres humanos, o objetivo
da nossa própria vida e de outras vidas. Enquanto uma pessoa não descobrir
esse objetivo, embora seja bem sucedida ou fracasse, não está propriamente
vivendo, porque a vida começa no momento em que descobrirmos nosso
objetivo na vida.
Encontramos muitas pessoas ricas, de boa posição social, vivendo com todo o
conforto e facilidades e, no entanto, falta-lhes alguma coisa, isto é, não possuem
a coisa principal, a única coisa que pode tornar suas vidas felizes: o
conhecimento do seu objetivo. É a única coisa que Ihes falta. A humanidade
também desconhece esse objetivo. Um homem é capaz de se interessar por
milhares de coisas. Seu interesse fixa-se primeiro numa coisa, depois noutra, e
assim sucessivamente. Parece que nunca chegará ao ponto em que descobre o
objetivo da sua vida. Por quê? Porque esse objetivo jamais foi procurado.
Citemos a educação infantil e a educação juvenil. Quase sempre os pais não
pensam muito sobre o assunto. Acham que o que deve ser feito é aquilo que
Ihes parece benéfico para a criança. Não Ihes passa pela cabeça que é na
infância que o homem deve encontrar o objetivo de sua vida. E quantas vidas
foram destruídas por este motivo! Uma criança deve ser criada com todas as
facilidades para que possa encontrar o objetivo de sua vida e, no entanto, é
afastada dele.
Por mais infeliz que seja um homem, logo que conhece o objetivo de sua vida é
como se apertasse um comutador e a luz se acendesse. Pode não conseguir as
coisas imediatamente, mas o simples fato de conhecer seu objetivo na vida lhe
dá esperança, vigor, inspiração e força para esperar pelo momento apropriado.
Se tiver que lutar a vida inteira para alcançar seu objetivo, isso não tem a menor
importância, contanto que conheça o objetivo. Dez pessoas iguais a esse homem
e que conhecem o seu objetivo têm muito mais poder do que mil indivíduos que
trabalham de manhã à noite, mas desconhecem o objetivo de suas vidas.
Além do mais, o que chamamos de errado ou certo, de bom ou mau, varia de
acordo com o objetivo da vida. Quanto mais estudarmos a vida mais
compreenderemos que não é a ação que torna as coisas certas ou erradas, boas
ou más, é o objetivo. À proporção que progredimos, ficamos mais despertos e
maior é a compreensão do objetivo à nossa frente.
Entretanto, acima disso tudo paira o objetivo dos objetivos, isto é, o último
objetivo. Iniciamos a vida com um objetivo individual, depois chegamos a um
estágio em que compreendemos que o propósito de cada alma é um só e o
mesmo. Podemos aprender isso se estudarmos as tendências ou inclinações do
ser humano. Cada homem tem cinco inclinações ocultas no fundo do seu
coração. Pode se esquecer do objetivo final porque vive absorvido com a vida
mundana, mas não há dúvida de que existe nele uma inclinação contínua nessa
direção, o que demonstra que o objetivo final da vida de todos nós é um único e
mesmo objetivo.
A primeira dessas inclinações é o amor pelo conhecimento. Não são só os
intelectuais que procuram o conhecimento. Até uma criança pequena quer saber
o motivo de qualquer barulhinho. As crianças fazem perguntas quando vêem
uma cor ou traço bonitos num quadro. Assim, todo indivíduo, num maior ou
menor grau, luta para adquirir conhecimentos. Sem dúvida, com a vida moderna,
muitas pessoas são colocadas em tal situação que nunca têm um momento
sequer para adquirir os conhecimentos que deseja. De manhã à noite estão às
voltas com seus afazeres e ficam tão absorvidas neles que, depois de um certo
tempo, tornam-se obtusas. Há milhares de pessoas que a vida colocou em tal
situação que não podem mais deixar de se concentrar em certas tarefas
pessoais. Assim sendo, nunca dispõem de tempo para pensar nas coisas que
gostariam de pensar e conhecer. Esse tipo de vida é produto do homem, que a
chama de progresso, de vida com liberdade, quando não há nesse tipo de vida
liberdade da mente. A mente fica restrita a um horizonte limitado, que chamamos
de esfera.
Se todo pensamento e se toda vida fossem dirigidos apenas com o intuito de
aprender algo para ganhar o pão de cada dia, quando então poderíamos nos
dedicar, com nosso pensamento e nossa concentração mental, no que a alma
procura? Entre os que gozam de um pouco de liberdade na vida, que têm tempo
para pensar em adquirir algum conhecimento existem muitos que andam à
procura de novidades. Pensam que aprender é apenas saber determinadas
coisas que ainda não sabem. Muitos poucos são os que investigam e descobrem
que, por mais simples que pareça ser uma idéia, dela virá uma revelação, se
dedicarem à idéia todo seu pensamento. A idéia então começa a Ihes ensinar,
cada vez mais, coisas que nunca souberam. Eu passei por uma dessas
experiências. Aconteceu com a estrofe de um verso Persa, que já conhecia há
doze anos. Gostava muito dessa estrofe. Era uma concepção simples sobre o
dia-a-dia. Depois de doze anos, um dia, veio-me um vislumbre de inspiração e
toda a estrofe foi uma revelação para mim. Parecia que nela havia uma semente,
que dela surgiu uma raiz que se transformou numa planta e a planta deu flores
e frutos.
A dificuldade experimentada pelos chamados pesquisadores da verdade é que,
quando têm um pouco de tempo para procurar a verdade, já estão muito
impacientes. Certas coisas não os satisfazem e por isso largam uma coisa e
pegam outra. Com esse procedimento, ao invés de ter a verdadeira noção da
verdade, ficam confusos.
Alguém perguntou a um artista se ele poderia realmente pintar uma coisa que
fosse novidade. “Posso”, disse ele e pintou dois chifres e duas asas no corpo de
um peixe. As pessoas exclamaram: “Que maravilha! Isto jamais foi visto por
qualquer pessoa!” Os presentes tinham visto asas em pássaros e chifres em
animais, mas nunca num peixe. Há almas que precisam de novidades como esta.
Muitos admiram tudo que é novidade. Poucos pensam, como Salomão, que não
há nada de novo sob o sol, especialmente no ramo da sabedoria, do
conhecimento. Não é estudando muitas coisas que chegaremos à concentração,
à contemplação ou à meditação, nem deixando de lado uma idéia e passando
para outra.
A segunda inclinação do homem é o amor à vida. Essa inclinação existe não só
nos seres humanos como também nos pequeninos insetos, que tentam escapar
ao ser tocados. A vida para eles é muito preciosa. O que isso nos mostra? Mostra
que todo ser vivo quer viver, por mais infeliz que seja, por mais difícil que a vida
pareça ser. Talvez a tristeza passageira leve uma pessoa ao suicídio, mas se
estivesse em seu estado normal nunca pensaria em deixar o mundo, não porque
o mundo lhe fosse muito querido e sim porque a tendência de toda a alma é
viver.
Lemos no “Gayan”: “A vida vive, a morte morre”. Uma vez que a vida vive, ela só
anseia por viver. Ninguém quer pensar por um momento sequer que a morte o
vem buscar. Pelo que lutaram os grandes profetas, mestres, santos, sábios,
filósofos e místicos? Sua luta foi no sentido de descobrir um remédio que viesse
curar o homem da mortalidade, mas que mortalidade? Da sua concepção ou da
sua condição? Da sua condição se o assunto for encarado exteriormente, mas
na realidade, da sua concepção de mortalidade. A alma retém o corpo que usa
somente enquanto ela não preenche sua finalidade. A alma quer se desfazer da
sua roupa-corpo, porque ninguém quer carregar toda vida um capotão pesado.
Até os reis se sentem mais confortáveis quando tiram a coroa e a colocam numa
mesa.
A felicidade da alma é alcançada quando ela se livra do seu fardo físico. Só é
feliz quando pode ser ela mesma. Enquanto o homem pensar que é o seu corpo,
mais mortal se torna porque só tem consciência de sua existência mortal.
Compreender isso apenas intelectualmente não ajuda. A alma deve ver a si
mesma, deve realizar-se. Como pode a alma conseguir isso? Consta das
Escrituras: “Morra antes da morte”. Que morte é essa? É morrer representando
um papel no drama da morte. Durante todo o tempo que passaram na terra os
místicos representaram esse papel. Conseguiram ver o que é a morte
representando-a. Não foi apenas um conhecimento intelectual, constataram pela
própria experiência que realmente a alma continua a existir independentemente
da roupagem ou do corpo físico em que está encerrada. Buddha deu a isso o
nome de “Jnana”, que significa realização, A ausência de “Jnana” é “Ajnana”,
que quer dizer falta de realização.
Todo pensador fica muito triste ao pensar no dia que tiver de deixar a terra, onde
tem amigos e bens que ama. Não é só isso: o que o faz ficar ainda mais triste é
sentir que, quando partir, partirá para sempre. Esquece-se de que a vida não
quer se transformar em morte, a vida quer viver. Em geral o homem ignora o que
é a vida. Tem uma concepção falsa da vida, que adquiriu pelos sentidos, pela
experiência através dos sentidos. Não conhece, pois, a vida. Vida é uma coisa
completamente diferente.
A terceira inclinação do homem é adquirir poder de todas as formas. Todos
lutam, durante sua existência, para conseguir poder. A razão é que a alma luta
para existir e se opõe à invasão das condições da vida, porque as condições da
vida devastam tudo que não tem força, poder. Quando a folha perde a força cai
da árvore. Quando a flor perde a força, desfolha-se. Como é natural a alma quer
conservar sua força. Por isso todo indivíduo procura o poder. O erro está no
seguinte: por mais poder que tenha o homem é sempre um poder limitado. Seu
poder sempre aumenta, mas chega um dia em que ele vê que há um poder maior
que o seu. Essa limitação faz o homem sofrer, leva-o ao desaponto. Aliás, se
olharmos o poder que o homem possui, isto é, o poder mundano, perguntamos:
“Que poder é esse?” Vemos nações poderosas, construídas há milhares de
anos, que podem ser esmagadas num curto espaço de tempo. Sendo assim, que
poder têm essas nações? Se existe um poder é o poder oculto, o poder
onipotente. Se entrarmos em contato com esse poder, começamos a extrair dele
todo poder de que necessitamos.
O segredo atrás de todos os milagres e fenômenos dos sábios e mestres, foi o
poder que conseguiram extrair de dentro do seu ser. Há faquires e dervixes que
se atiram dentro do fogo, ou cortam o corpo e curam as feridas
instantaneamente. Existe porém um poder ainda maior, só que os que realmente
o possuem não demonstram abertamente possuí-lo. Há o poder que prova que
o espírito domina a matéria, embora muitas vezes o espírito esteja sepultado sob
a matéria e nesse caso faz do homem um impotente.
A quarta inclinação do homem é ser feliz. Procura a felicidade no prazer, na
alegria, que são sombras da felicidade. A verdadeira felicidade está no coração
do homem, mas não é ali que ele a procura. Busca o prazer para encontrar a
felicidade. Tudo que não dura, tudo que culmina em infelicidade, não é felicidade.
Felicidade é o próprio ser do homem. Os Vedantistas deram à alma o nome de
“Ananda”, que quer dizer felicidade, porque a alma é a própria felicidade. É por
isso que a alma procura a felicidade. Não podendo se encontrar consigo mesma,
a alma procura sempre algo que a faça feliz, mas o que encontra nunca a faz
realmente feliz, inteiramente feliz.
O pecado e a virtude, o bem e o mal, o certo e o errado, podem ser distinguidos
e determinados pelos seguintes princípios: virtude é o que traz a verdadeira
felicidade. O que chamamos de certo é aquilo que nos conduz à felicidade. O
que é bom é bom porque causa felicidade. O que não causar felicidade não pode
ser bom, não pode ser virtude, não pode ser certo. Sempre que o homem diz
que encontrou a virtude na infelicidade, engana-se. Sempre que comete um erro
é infeliz. A felicidade é o próprio ser do homem. É por isso que ele deseja com
ardor a felicidade.
A quinta inclinação do homem é a paz. Não se chega à paz nem pelo repouso
nem pelo conforto e nem através da solidão. Devemos aprender uma arte se
quisermos obter a paz: é a arte dos místicos. Por meio dessa arte o homem
chega ao estado de paz. Alguém pode perguntar: “Se para a alma é uma coisa
natural experimentar o estado de paz, porque devemos lutar para obter a paz
por meio de exercícios, práticas, meditações e contemplações?” A resposta é
que é realmente uma coisa natural a alma experimentar a paz, mas a vida neste
mundo nada tem de natural. Os animais e pássaros têm paz, mas não a
humanidade, porque é o homem o ladrão de sua paz. Tornou sua vida tão
artificial que não pode mais imaginar quanto se distanciou do que é vida normal
e natural, que é a que ele deve viver. É por isso que precisamos da arte de
descobrir a paz dentro de nós. Não desfrutaremos da paz melhorando só as
condições exteriores. O homem sempre ansiou pela paz e no entanto foi ele
mesmo quem forjou as guerras. Da mesma forma, todo indivíduo diz que está
procurando a paz. Por que motivo há guerras? Por que acontecem? Acontecem
porque o significado da paz ainda não foi bem compreendido. O homem vive
num contínuo tumulto, em permanente estado de inquietude. Procurando a paz
o homem entra na guerra. Se esse estado de coisas continuar não teremos paz
enquanto cada indivíduo não começar a procurar a paz dentro do seu próprio
ser.
O que é a paz? Paz é o estado natural da alma. A alma que perdeu seu estado
natural fica inquieta. O estado normal da mente é a tranquilidade, portanto, a
mente nada mais é que tranquilidade, assim como a alma nada mais é que paz.
A pergunta que todo homem pensador faz é: “Qual foi a razão, qual foi o
propósito da criação do mundo?” A resposta é: para quebrar a monotonia.
Chamem o Criador de Deus, de Único Ser, de Fonte, Meta, de tudo que
quiserem. Sentindo-se só, quis Ele alguma coisa para conhecer. Os Hindus
dizem que a criação é o sonho de Brahma. Pode-se dar à criação o nome de
sonho, mas a criação é o objetivo principal. Os Sufis explicam assim a criação:
Deus, o Amoroso, quis conhecer a sua própria natureza e assim, através da
manifestação, criou o Bem-Amado, para que o amor se manifestasse. Vendo as
coisas sob esta luz, tudo que vemos é o Bem-Amado.
É como escreveu Rumi, o maior escritor da Pérsia: “O Bem-Amado é tudo em
tudo, o Amante apenas encobre o Bem-Amado. O Bem-Amado é tudo que vive,
o Amante é uma coisa morta”.
Os Sufis assim chamam Deus de Bem-Amado e vêem o Bem-Amado em todos
os seres. Nunca pensam que Deus está no céu separado, longe de todos os
seres. Vêem a beleza de Deus em tudo e em todas as formas. O objetivo
principal e o objetivo derradeiro são preenchidos com essa realização.
Consta das antigas Escrituras que quando Deus perguntou a Adão: “Quem é teu
Senhor?” ele respondeu: “Tu és meu Senhor”, o que quer dizer que o propósito
da criação é fazer com que cada alma reconheça sua fonte e sua meta, que a
elas se submeta, atribuindo-lhes toda a beleza, sabedoria e poder. É o que está
escrito na Bíblia: “Sede perfeitos como vosso Pai que está no céu é perfeito”.
O Objetivo da Vida (2)
Mais cedo ou mais tarde as pessoas inteligentes chegam a um estágio em que
começam a indagar sobre o objetivo da vida, sobre o motivo de terem vindo à
terra. Perguntam-se: “Por que motivo estou eu na terra? O que devo realizar na
vida?”. Não há dúvida de que no momento que alguém faz essas perguntas, deu
o primeiro passo no caminho da sabedoria. Antes, por não estar consciente do
objetivo da sua vida, tudo que ele fazia não lhe trazia contentamento. Pode ter
sido bem sucedido ou pode ter fracassado, mas continua a desejar que o objetivo
de sua vida seja realizado. É por esta razão que muitas pessoas bem sucedidas
em seus negócios, realizadas integralmente na sua profissão, instaladas
confortavelmente na vida familiar, muito populares na sociedade, ainda
continuam descontentes porque não conhecem o objetivo de suas vidas.
Depois de conhecermos o objetivo de nossas vidas, podemos ser embargados
por muitas coisas, os meios para realizar nosso objetivo podem nos faltar, mas
apesar de tudo isso as condições tornar-se-ão favoráveis e avançaremos para o
nosso objetivo. Quando uma pessoa já descobriu o objetivo de sua vida, não se
importa mais se sua vida é difícil e quantos impedimentos terá que vencer. Desse
momento em diante nada existe que não possa suportar, nenhum sacrifício que
deixe de fazer, nada que não possa aguentar. Espera com paciência toda a vida
e se não for bem sucedida nesta vida, esperará até mesmo pela vida futura, feliz
porque está realizando o objetivo de sua vida. Quando uma pessoa sabe que:
“Eu estou aqui por um determinado objetivo”, esse conhecimento lhe dá um
grande poder de convicção.
Contam uma história sobre o Profeta Maomé. Quando o Profeta que nasceu para
realizar um objetivo especial na vida, sentiu uma espécie de inquietação, um
descontentamento geral, pensou que o melhor seria retirar-se para a floresta,
para a selva, para as montanhas e lá ficar sentado sozinho, entrar em contato
com seu eu e descobrir porque existia nele esse desejo ardente de descobrir
algo que não conhecia. Perguntou à esposa se ela permitiria que ele procurasse
a solidão que sua alma tanto almejava. Ela concordou e ele foi para a floresta, lá
permanecendo alguns dias. Quando as vibrações do seu corpo físico e da sua
mente, que estavam sempre desordenadas e em tumulto no meio do mundo, se
acalmaram, quando sua mente se aquietou e seu espírito se tranquilizou, quando
o coração do Profeta sossegou, começou ele a se sentir ligado com toda a
natureza daquele lugar, com o espaço, com o firmamento, com a terra. Parecia
que tudo estava se comunicando com ele, como se a água e as nuvens falassem.
Entrou em comunicação com o mundo inteiro, com a vida no seu todo.
Naquele instante o Profeta ouviu as seguintes palavras: “Proclame alto o Nome
do teu Senhor”. Essa é a lição do idealismo, que não consiste apenas em estar
em contato com a natureza, consiste também em idealizar o Senhor. Existe uma
grande desvantagem nos dias de hoje: quando as pessoas se tornam muito
inteligentes perdem o idealismo. Se querem encontrar Deus querem encontrá-lo
nas imagens. Muitos preferem meditar a adorar, a rezar. Desta forma tem havido
sempre conflitos entre o intelectual e o idealista. Ensinaram ao Profeta que a
primeira lição era idealizar o Senhor e quando o ideal que ele criou se tornou sua
concepção própria de Deus, por meio dessa concepção Deus foi despertado
dentro do Profeta. Ele começou a ouvir a voz que dizia: “Agora deves servir teu
povo, deves despertar em teu povo o senso da religião, o ideal de Deus, o desejo
da realização espiritual e o desejo de viver uma vida melhor”. O Profeta agora
sabia que tinha chegado a sua vez de realizar todas as coisas que os Profetas
anteriores tiveram que executar.
Cada um de nós nasceu neste mundo para realizar um certo objetivo. Enquanto
o homem não conhece esse objetivo é um ignorante do que é a vida. Não pode
dizer que é um ser vivo. A uma máquina não é dada escolha e ela não pode
encontrar seu objetivo na vida, mas o homem é responsável num grau muito
elevado. Deixando de lado a fraqueza, o homem se entrega frequentemente a
uma coisa que de outra maneira se recusaria aceitar. Essa fraqueza surge
devido à falta de paciência, de tolerância, de autoconfiança e confiança em geral.
Quem não confia na Providência, quem não consegue ter paciência, quem não
é capaz de tolerar, aceita imediatamente tudo aquilo que lhe vem, não espera
até o dia seguinte. Quem sabe se o objetivo de sua vida não se descortinaria
diante dele se possuísse um poder maior de tolerância, mais auto-confiança e
mais confiança na Providência? Quando o homem não possue nada disso,
assemelha-se a uma máquina. Não está contente com o que a vida lhe dá,
reclama o dia inteiro, vive confuso e, não obstante, age como um cavalo que não
tem vontade de galopar mas assim mesmo se deixa atrelar à carruagem e tem
que prosseguir. O primeiro conhecimento que deve ser adquirido é o
conhecimento do objetivo da nossa vida.
É lastimável que a educação como está sendo hoje ministrada dê muito pouca
atenção ao objetivo da vida. As crianças, os jovens e os adultos passam pela
vida labutando de manhã à noite, estudando e trabalhando, e no entanto não
conhecem o objetivo que devem realizar. Entre mil pessoas talvez exista uma
que seja exceção. As outras novecentas e noventa, quer queiram ou não, estão
colocadas numa situação em que trabalham como máquina, uma máquina
instalada num determinado lugar que lhe foi designado. De um total de cem
pessoas talvez noventa e nove estão descontentes com o trabalho que
executam, ou com o ambiente em que se encontram, ou porque têm idéia de que
precisam trabalhar para seu sustento ou pela idéia de que devem juntar primeiro
o dinheiro de que necessitam. Quando conseguirem os meios de poder fazer
alguma coisa na vida, já desapareceu o desejo de realizar o que queriam.
É um grande retrocesso o fato dos indivíduos muitas vezes não terem
oportunidade de realizar o que desejam apesar do progresso da humanidade.
Muitos jovens jamais pensaram nisso, mas dizem: “Devemos fazer este trabalho
e isso é tudo”. Não têm tempo de pensar sobre o objetivo de suas vidas. É assim
que centenas e milhares de vidas são desperdiçadas. Apesar de todo dinheiro
por eles adquirido, seus corações não estão contentes, pois não é a riqueza que
se pode obter que proporciona essa satisfação.
Ouvindo o Profeta Maomé dizer que todas as coisas e seres foram criados para
realizar um determinado objetivo, alguém perguntou-lhe: “Profeta, não consigo
compreender o motivo dos mosquitos terem sido criados”, ao que ele respondeu:
“Foram criados para que tu te levantes depressa à noite e te entregues às tuas
orações”. Tudo é criado com um objetivo, para que possamos usar as coisas de
acordo com o objetivo para o qual foram criadas. O mesmo acontece com as
pessoas. Disse Sa’di que “Cada ser é criado com um objetivo e a luz desse
objetivo está acesa em sua alma”. Assim como precisamos de ferreiros, ourives,
fazendeiros, etc., também precisamos de filósofos, místicos e profetas para criar
harmonia, como na música necessitamos de sustenidos e bemóis. Se não fosse
isso não haveria beleza, porque a beleza é criada através da variedade.
Quando olhamos a vida com a visão de um filósofo, vemos que cada pessoa é
uma nota na sinfonia da vida, que todos nós somos músicos dessa sinfonia da
vida, que cada um de nós contribuiu com a parte musical adequada. Se não
soubermos tocar nossa parte na sinfonia da vida, como é natural é como se uma
das quatro cordas do violino não estivesse afinada. Se as cordas não estiverem
afinadas não poderão dar à música a ressonância que ela deve ter. Igualmente,
cada um de nós deve contribuir com a parte com que veio ao mundo. Se não
contribuirmos com aquilo a que fomos destinados fazer e, portanto, é a nossa
contribuição, não estamos afinados com o nosso destino. Só chegaremos ao
contentamento se tocarmos a parte que nos foi confiada na sinfonia da vida.
Pode ser que muitas pessoas não pensem como eu, por exemplo, os que
acreditam no pacifismo, no ideal de paz, que dirão: “Não é loucura ter deixado
que um qualquer fizesse uma guerra?” Entretanto, tudo que se faz, embora
pareça melhor ou pior, faz parte de alguma coisa no esquema da vida. Não
temos o direito de condenar. O ideal para cada indivíduo é se tornar consciente
do dever com o qual nasceu.
Na realidade existem dois objetivos na vida: um é o objetivo menor, o outro o
objetivo maior. Um é o objetivo preliminar e o outro o objetivo final. O objetivo
preliminar da vida é um degrau para o objetivo final. Assim sendo, devemos
primeiramente considerar o objetivo preliminar da vida.
No Oriente existem várias histórias sobre sábios e santos que despertavam o
homem para o objetivo de sua vida. Logo que o homem era despertado sua vida
se modificava. Há um episódio na história da Índia que fala da vida de Shivaji.
Havia um jovem ladrão que assaltava os viajantes que passavam pelo lugar onde
vivia. Roubava tudo que podia. Um dia o jovem procurou um sábio antes do
assalto, cumprimentou-o e lhe disse: “Sábio, quero vossa bênção e vossa ajuda
nas minhas ocupações”. O sábio quis saber qual eram suas ocupações e o jovem
respondeu: “Sou um ladrão sem importância”. O sábio falou: “Tens a minha
bênção”. O ladrão ficou muito satisfeito e partiu. Teve um sucesso muito maior.
Feliz com seu sucesso voltou à presença do sábio, cumprimentou-o tocando
seus pés e lhe disse: “Que maravilhosa bênção! Fui tão bem sucedido!” O
comentário do sábio foi o seguinte: “Ainda não estou satisfeito com o teu
sucesso, quero que sejas ainda mais bem sucedido. Procura 3 ou 4 ladrões,
junta-te a eles e continua com teu trabalho.” O ladrão juntou-se a 4 ou 5 homens
e novamente teve grande sucesso. Procurou mais uma vez o sábio dizendo:
“Peço a vossa bênção”. Respondeu o sábio: “Tu a tens, mas eu ainda não estou
satisfeito. Quatro ladrões é um número pequeno. Deves formar um grupo de 20”.
O jovem procurou 20 ladrões e por fim seu número aumentou para 100. O sábio
então comentou. “Não estou satisfeito com o pequeno trabalho que fazes. Teu
grupo se constitui de homens jovens e já é um pequeno exército. Devem fazer
alguma coisa grandiosa. Porque não atacam as fortalezas dos Mongóis e os
expulsam para que nosso povo possa reinar neste país?” Foi o que fez o jovem.
Foi assim que aquele reino foi criado. O passo seguinte do ladrão seria formar
um império reunindo todo o país, mas morreu. Se tivesse vivido, Shivaji (o nome
do jovem ladrão), teria fundado um império. Ao ser procurado por aquele jovem
o sábio poderia ter dito: “Estás fazendo uma coisa má, uma coisa terrível. Vá
para uma fábrica e trabalhe, mas o sábio viu o que Shivaji seria capaz de fazer.
O roubo era sua primeira lição ou o seu bê-á-bá, Precisava subir apenas poucos
degraus para se tornar o defensor do seu país. O sábio compreendeu que ele
seria um rei, que seria capaz de livrar seu povo dos Mongóis. Os outros ladrões
não viram isso e nem aquele jovem pensava nessa perspectiva. Foi levado a
esse empreendimento pelo sábio. Aquele sábio não empurrou o jovem para o
roubo, preparou-o para uma grande tarefa.
Por que razão no Oriente dá-se a maior importância a um mestre espiritual no
caminho espiritual? Disse Hafiz como explicação: “Se teu mestre diz para
borrifares teu tapete de orações com vinho, faça-o”. Um tapete de orações é um
tapete sagrado, o vinho é considerado uma coisa nociva, mas Hafiz continuou:
“Porque o conhecedor conhece melhor o caminho a ser seguido”. Por exemplo,
se uma pessoa quer reunir uma fortuna, sua mente fica inteiramente absorvida
nisso. Pode ser advertido: “Não faça isso, isso não é uma coisa boa, por que
afinal o que é a riqueza? É irreal, desnecessária. Você deve ser uma pessoa
devocional, espiritual”. A mente dessa pessoa passa a se fixar nesse outro
objetivo, mas ela se sente infeliz porque não adquiriu o dinheiro que queria. Se
alguém forçá-la espiritualmente com religião, devoção e preces, não a ajudará.
Às vezes certas pessoas dão água a alguém ao invés de alimento e no lugar da
água dão comida, o que não é nada bom. A espiritualidade é uma coisa que
chega no devido tempo. O objetivo preliminar é a contribuição do homem ao
mundo como primeiro passo antes do seu despertamento para a perfeição
espiritual.
Todos os grandes mestres da humanidade ensinaram esse objetivo preliminar
da vida nas religiões que fundaram. Qualquer ensinamento dado por eles aos
seus seguidores continha a mesma motivação: ajudar a realizar esse primeiro
objetivo da vida. Por exemplo, quando Cristo chamou os pescadores e Ihes
disse: “Sigam-me e eu os farei pescadores de homens” não disse que os tornaria
mais espiritualizados. Era o primeiro passo a ser dado, Cristo queria que eles
realizassem o primeiro objetivo da vida. O próximo objetivo era se tornarem mais
espirituais. Para os mestres do conhecimento espiritual que encaram o assunto
desta forma, o primeiro dever é mostrar aos homens como realizar o primeiro
objetivo da vida. Depois da realização desse primeiro objetivo, mostram-lhes o
segundo objetivo.
Existem quatro caminhos diferentes que o homem pode tomar na vida: o primeiro
é o caminho para obter benefícios materiais. O homem pode ganhar dinheiro por
meio da sua profissão, ocupação, negócio ou indústria. Muitas coisas podem ser
ditas a favor e contra esse ideal. Contra ele pode-se dizer que enquanto o
homem trabalha amealhando riquezas, muitas vezes desvia-se da estrada certa,
do pensamento e da consideração certos, que quando trabalha por dinheiro pode
negligenciar com muita facilidade os direitos alheios. Pode ser dito a favor que
afinal os que possuem fortuna são os que melhor podem usar o dinheiro que
conseguiram amealhar em propósitos altruísticos. Todas as instituições
filantrópicas, hospitais, escolas, colégios, são fundados por pessoas caritativas
que deram generosas contribuições. Não há portanto nada de errado em ganhar
dinheiro e devotar nossas energias e tempo a esse propósito, contanto que o
objetivo seja bom e correto.
O outro caminho é o do dever. Um indivíduo pensa que tem um dever a cumprir
com a comunidade, com a cidade ou país. Faz um trabalho social, tenta fazer o
bem aos outros, coisas que ele considera ser de seu dever. Talvez tenha um
dever a cumprir com seu país, talvez tenha que cuidar da mãe e sacrificar a vida
por ela, ou pela esposa e filhos. Há nisso um grande mérito. Um argumento
contra isso, sem dúvida, é que muitas vezes a vida dessa pessoa fica estragada
porque não tem oportunidade de fazer qualquer coisa que valha a pena no
mundo. Entretanto, se não houvesse pessoas assim o mundo seria privado de
amor e afeição. Se a esposa não possuísse um senso de dever para com o
marido, nem o vizinho para com o amigo, estariam vivendo como criaturas
pertencentes à criação inferior. O senso do dever torna o homem maior do que
os outros seres. Os heróis que admiramos, que dão suas vidas pelos seus
países, não estão fazendo uma coisa insignificante. Quando alguém dá a vida
pelo amor ao dever, está praticando um ato grandioso. Aliás o dever é uma
grande virtude.
Durante a guerra de 1914 havia uma jovem senhora que andava muito
aborrecida e em completa desarmonia com o esposo. Estava sempre na
expectativa de uma separação. Quando o país convocou os homens para a
guerra, o marido foi para o campo de batalha. Ele esperava que durante sua
ausência a esposa pudesse talvez encontrar uma outra pessoa. Enquanto
prosseguia a guerra, a esposa achou que já que o mando estava lutando deveria
trabalhar como enfermeira. O marido foi ferido justamente perto do lugar onde
ela trabalhava. Tinha perdido a visão e ela ficou perplexa quando constatou que
era ela a enfermeira designada para tomar conta daquele ferido. Acabara de
receber uma carta de um homem propondo-lhe casamento. Rasgou-a. Tinha
mudado de idéia e pensou: “Agora que meu marido perdeu a visão, que está
inutilizado, continuarei sua esposa e tomarei conta dele enquanto viver”.
O dever, o senso do dever, é uma grande virtude. Quando aperfeiçoado e
aprofundado no coração do homem, desperta-o para um maior e mais elevado
estado de consciência. Foi deste modo que certos homens realizaram coisas de
grande nobreza. Os grandes heróis levam uma vida inteiramente dedicada ao
dever.
O senso do dever vem do idealismo. Quanto maior o ideal-dever maior é o
homem. De acordo com os Hindus, os que se dedicam ao dever são
considerados religiosos, porque a palavra sânscrita “Dharma” significa religião e
também dever.
O terceiro caminho que escolhemos na vida é fazer do presente o melhor
presente possível. É o ponto de vista de Omar Khayyám, que disse a alguém:
“Beba o cálice da vida agora mesmo”. Há no seu livro “Rubayat” uma estrofe que
diz:
“Ó meu Bem-Amado, enchei o cálice que limpa o hoje
das tristezas e medos futuros.
Amanhã! Amanhã eu mesmo posso estar
com sete mil anos de ontem!”
É o mesmo ponto de vista de quem diz: “Se fui grande no passado, o que
importa? O passado está esquecido. Quanto ao futuro, quem sabe o que ele
trará? Ninguém conhece seu futuro. Façamos o melhor deste momento, vamos
tornar nossa vida tão feliz quanto pudermos”. Não é um mau ponto de vista, é
um ponto de vista filosófico. Os que aderem a esse ponto de vista são felizes e
proporcionam felicidade aos outros.
Não há dúvida que todos esses diferentes pontos de vista têm também um lado
errado, mas se olharmos para o seu lado correto muito há a ser apreciado.
Hoje as pessoas usam a seguinte frase: “Fulano é um camarada bom e alegre”.
Essa frase é usada em canções e em diferentes ocasiões, uma demonstração
da tendência da mente de apreciar e tentar tornar todos os instantes momentos
felizes. É uma coisa muito difícil, muito difícil mesmo, e nem todos conseguem
isso porque a vida tem muitos conflitos e inúmeros aborrecimentos. Temos que
enfrentar muitas dificuldades na vida e manter um sorriso nos lábios não é
façanha para qualquer um. Para continuar sorrindo a pessoa precisa ser ou muito
tola e não sentir, ou não pensar em coisa alguma, fechar simplesmente tanto os
olhos como o coração para o mundo, ou então precisa se elevar tanto como as
almas mencionadas no milagre de Cristo caminhando sobre as águas. Há os que
afundam e há os que nadam, e ainda outros que caminham sobre as águas. Os
que se afogam na miséria da vida são os que não podem mais sair da miséria.
Estão atados bem embaixo nas profundezas da vida, são os que não conseguem
sair e ali ficam se sentindo miseráveis. São os que afundaram. Há outros que
nadam. São os que lutam através das condições conflitantes da vida para que
um dia possam alcançar a praia.
Mas existem outros que caminham sobre a vida. Deles é a vida, simbolicamente
representada pelo milagre de Cristo caminhando sobre as águas. É como viver
no mundo e não pertencer ao mundo, é tocar o mundo e não ser por ele tocado,
o que requer uma percepção clara da vida, uma inteligência acurada, uma
compreensão perfeita, tudo isso aliado a uma grande coragem, força e bravura.
Não quero dizer que o homem que faz o melhor de cada momento de sua vida
seja igual ao que chamamos em geral de despreocupado, de homem simples.
Esse vive num outro mundo, não está ciente das condições da vida, não
despertou para as influências conflitantes da vida. Não é surpresa se é feliz, pois
é a própria felicidade. Refiro-me aos que despertaram para as condições da vida,
os ternos e sensíveis aos pensamentos e sentimentos do próximo. Para eles é
muito difícil continuar a viver e ao mesmo tempo conservar o sorriso. Se um
homem conseguiu isso certamente realizou uma grande façanha.
O quarto caminho ou aspecto, é o dos que pensam: “O que afinal é a vida na
terra? Não é para passar apenas poucos dias de qualquer maneira?” Os dias
acabam, os meses e anos passam e o tempo se esvai. Chega-se ao fim da vida
quando menos se espera e o passado se torna um sonho que tivemos à noite.
Perguntem a um homem que vive há cem anos: “O que pensa da vida na terra?”
e ele responderá: “É um sonho de uma noite, meu filho, nada mais que isso”.
Se isso é tudo que existe na vida, os que consideram a vida assim devem
compreender que deviam pensar na vida futura. Assim como existem alguns que
pensam que “enquanto somos capazes de trabalhar devemos lutar para fazer
provisões para nossa velhice e podermos viver com mais conforto”, há outros
que pensam na vida futura e dizem: “A vida é curta, nada mais é que uma
oportunidade. Devemos preparar alguma coisa para que mais tarde nos possa
beneficiar”. Talvez existam alguns que tenham uma compreensão correta, en-
quanto outros contam muito com certas coisas e têm uma concepção errada da
vida futura. Entretanto, os que possuem sabedoria e acreditam que devem usar
o tempo e a oportunidade que Ihes é dada nesta vida para que se preparem para
a vida futura, terão realizado muita coisa. É algo que deve ser admirado.
Diz-se que a terra, o céu e o espaço não acomodam quem não corresponde às
exigências da vida, embora existam leis excepcionais para almas excepcionais,
porque as vidas dos seres excepcionais não podem ser explicadas em palavras
comuns. Pode-se perguntar qual será o futuro dos que não preencheram os
requisitos da vida. Terão que voltar para aprender a lição mais uma vez? Todos
nós temos que aprender nossa lição agora. A vida é vivida agora, suas
exigências são apresentadas exatamente agora e devemos atendê-las já, agora.
A todo tempo estamos sendo chamados para executar um determinado dever,
preencher uma certa obrigação. A verdadeira religião é nos tornarmos
conscientes disso e fazer tudo da maneira mais adequada e correta.
Compreenderemos as exigências da vida se compreendermos melhor a vida.
Alguns não atendem às exigências da vida porque não sabem o que a vida Ihes
solicita. Outros não atendem às exigências da vida embora as conheçam.
Quando as exigências da vida exterior são diferentes das exigências que a vida
interior nos pede, devemos preencher as exigências da vida exterior sem
negligenciar as exigências da vida interior, como está na Bíblia: “Dai a César o
que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Devemos ser como a maré baixa e a maré alta. São expressões simbólicas. Uma
determinada coisa é realizada uma vez por simpatia e outra vez por indiferença.
Devemos enfrentar uma determinada situação interessando-nos por ela e uma
outra situação nos tornando indiferentes a ela, deixando de nos importar com a
situação. Se no mar tivesse sempre maré baixa e nunca maré alta, ou sempre
maré alta e nunca maré baixa, o mar seria um mar morto. O mar vivo inala e
exala. Assim, em tudo que fazemos na vida é preciso que sejamos capazes de
enfrentar cada situação e cada acontecimento da maneira que eles exigem.
São os seguintes os quatro caminhos diferentes que o homem toma para realizar
o objetivo de sua vida: Primeiro, adquirindo riqueza; segundo, tendo consciência
de seus deveres; terceiro, fazendo o melhor de cada momento da vida, quarto,
preparando-se para o futuro. Todos esses quatros caminhos têm seus pontos
favoráveis. Logo que a pessoa realiza o que tem que realizar não precisa mais
culpar ninguém porque esse alguém tomou um outro caminho diferente para
realizar o objetivo da sua vida. Quando compreendemos isso nos tornamos
tolerantes.
Agora chegamos ao último objetivo da vida, que é sempre um único e o mesmo
objetivo, pois todo homem tem no fim que realizar o mesmo objetivo, qualquer
que seja o caminho escolhido. Chegará a ele consciente ou inconscientemente,
com facilidade ou dificuldade. Terá que realizar o objetivo: o caminho da
realização espiritual. Pode-se indagar se uma pessoa que é materialista, que
nunca pensa sobre espiritualismo, que se recusa a levar em consideração este
assunto, chegará um dia a atingir a realização espiritual. A resposta é sim. Cada
um, consciente ou inconscientemente, está lutando para chegar à realização
espiritual. Às vezes uma pessoa não trilha o mesmo caminho que nós, às vezes
seu ponto de vista e seus métodos são diferentes e algumas vezes a pessoa
atinge a realização espiritual muito mais cedo do que outra. Pode alcançá-la num
dia, enquanto uma outra luta toda a vida para atingir a realização espiritual e
ainda nada conseguiu. O que determina essa realização? A evolução de uma
determinada alma.
Na Índia conta-se como uma pessoa foi despertada para a consciência espiritual
depois de ter ouvido uma palavra do seu Guru. Essa palavra a inspirou
instantaneamente e a pessoa atingiu a consciência mais elevada. Ouvimos
também histórias no Oriente sobre pessoas que se dirigiram à floresta ou para
as montanhas, que jejuaram dias e meses, que ficaram penduradas pelos pés,
de cabeça para baixo, ou que ficaram em posição ereta anos e anos. Prova como
isso é difícil para uma pessoa e muito fácil para outra. Cometemos hoje um
grande erro considerando que a evolução de cada indivíduo deve ser igual.
Existem grandes diferenças entre as pessoas: uma está rastejando, outra
andando, uma correndo e uma outra voando e, no entanto, todas vivem sob o
mesmo sol.
No Oriente é costume os que aspiram chegar a um objetivo procurarem um
mestre espiritual. Não empreendem a jornada espiritual por sua conta. Milhares
de anos de experiência ensinaram que para trilhar o caminho espiritual é
necessário ter um líder a quem se possa fazer confidências, depositar nossa
confiança, seguindo-o até o fim. Não há dúvida que no Ocidente existe um
despertar geral. Cada um deseja saber alguma coisa sobre o caminho espiritual,
mas a dificuldade é que não se apegam a uma e mesma coisa, muitos vão
primeiro a uma escola esotérica, depois a uma outra, e assim por diante. No fim
aprenderam tanto coisa que não distinguem mais o que é verdadeiro e o que é
falso, o que é certo e o que é errado. É o mesmo que ir a um restaurante e comer
tanto que no fim não se consegue digerir a comida. Além disso, quando alguém
aceita tudo que é falso e verdadeiro, não mais existe discriminação entre o falso
e o verdadeiro.
Para realizar o objetivo preliminar da nossa vida, precisamos encontrar o nosso
ritmo natural. Adotam-se hoje métodos errados. As pessoas vão a um vidente e
perguntam sobre o objetivo de suas vidas, porque ignoram-no. Acham que
qualquer um pode Ihes dizer isso, exceto seu próprio espírito, sua alma.
Perguntam aos outros sobre seus objetivos na vida porque não conseguem se
afinar com o diapasão em que poderão sentir intuitivamente o motivo por que
estão vivendo. Se uma pessoa disser à outra: “Estás aqui para seres um
carpinteiro, um advogado ou um jurista”, não satisfaz suas exigências. Quem
deve nos falar é o nosso próprio espírito. Devemos ter a necessária capacidade
de nos acalmar, de afinar nosso espírito com a consciência universal, a fim de
saber o objetivo da nossa vida. Logo que conhecermos esse objetivo, a melhor
coisa a fazer é correr atrás dele, apesar de todas as dificuldades. Nada nos deve
desencorajar, nada nos deve reter, logo que sabemos qual é o nosso objetivo na
vida. Assim, devemos ir à procura do nosso objetivo, mesmo sacrificando tudo o
mais, pois quando é grande nosso sacrifício no fim o que ganhamos com ele nos
dá um poder maior, uma inspiração muito maior.
Não tem importância se levantamos ou caímos, se somos bem sucedidos ou
fracassamos, desde que conhecemos o objetivo de nossas vidas. Se falharmos
99 vezes, seremos bem sucedidos 100 vezes.
Portanto, o último objetivo que a alma procura a todos os momentos de sua vida
é o objetivo espiritual. Podeis perguntar como atingir esse objetivo. A resposta é
que aquilo que estais procurando está dentro de vós. A maneira de proceder
para atingir esse objetivo espiritual é em vez de procurá-lo fora de vós, deveis
olhar para dentro de vós mesmos. É suspender ou interromper todos os vossos
sentidos por alguns momentos, como a visão, a audição, o olfato, o tato, a fim
de colocar um biombo diante da vida exterior. Pela concentração e
desenvolvimento da qualidade meditativa, mais cedo ou mais tarde entrareis em
contato com o vosso eu interior, que é mais comunicativo, que fala mais alto do
que todos os ruídos deste mundo. Isso proporciona alegria, cria a paz e produz
em vós o espírito da auto-suficiência, o espírito de independência, da verdadeira
liberdade. Do momento que entrardes em contato com vosso eu, estareis em
comunhão com Deus. Dessa maneira, se a comunicação com Deus for
procurada corretamente, alcançaremos a espiritualidade.
A Arte da Personalidade
Muitas pessoas acreditam que a arte é inferior à natureza, o que não é exato. A
arte completa a natureza. Existe algo de divino na arte, pois é o próprio Deus
através do homem que completa a beleza da natureza chamada arte. Em outras
palavras, a arte não é somente uma imitação da natureza, a arte é um
melhoramento da natureza, quer na pintura, no desenho, na poesia ou na
música. A maior de todas as artes porém é a arte da personalidade, que deve
ser aprendida e praticada ao longo do caminho da vida. Não é preciso que cada
indivíduo seja um pintor ou um arquiteto. O necessário é que aprenda a arte da
personalidade. Certa vez uma pessoa aproximou-se de mim e me disse com
grande orgulho e satisfação: “Fui criado pelos meus pais exatamente como uma
planta na floresta”. Respondi-lhe: “Que pena. Se seus pais desejavam que você
crescesse como cresce tudo na natureza, deveriam tê-lo mantido na floresta. É
pena que você esteja no ambiente do mundo, porque o mundo é feito pela arte
e para viver nele você precisa conhecer a arte da personalidade.”
Poucos fazem distinção entre individualidade e personalidade. Individualidade é
o que trazemos conosco ao nascer. Nascemos como uma entidade à parte, o
que faz de nós indivíduos. Individualidade é a consciência da alma na sua
unidade, apesar dos acessórios com que a alma ainda se identifica. Essa
individualidade é vista na criança que diz: “Não quero este brinquedo, quero o
outro”. Logo que a alma diz “Eu” torna-se consciente de uma individualidade,
apesar de possuir diferentes órgãos no corpo e diferentes pensamentos que
orientam esses órgãos. A tendência é atribuirmos a nós mesmos todas as
diferentes partes, embora compreendamos que uma parte é uma parte, apesar
de serem muitas as partes. Em outras palavras, apesar das partes serem
compostas de muitos aspectos.
Personalidade é um aperfeiçoamento da individualidade. Quando o indivíduo se
converte numa pessoa, a beleza oculta na sua individualidade se desenvolve. O
desenvolvimento da individualidade é que se chama personalidade.
Individualidade é a natureza, ao passo que a personalidade é a arte.
Personalidade é uma coisa que foi adquirida ou obtida, não veio conosco.
Foi por isso que, antigamente, as pessoas tinham que aprender e praticar a arte
da personalidade como parte de sua educação. Era essa a cultura dos tempos
antigos. Hoje uma pessoa precisa passar por exames e quando obtém um
diploma pensa que está segura pelo fato de tê-lo obtido, pensa que pode
enfrentar o mundo e subir na vida. Mas essa qualificação externa que se chama
diploma não é suficiente. O que tem importância é a qualificação interior, a
cultura interior, que só pode ser obtida através do desenvolvimento da
personalidade.
Como se faz uso da personalidade? No comércio um vendedor faz sucesso
usando seu poder magnético. Sua influência depende exclusivamente da sua
personalidade. O que atrai o comprador é a sua personalidade, quer trabalhe
numa loja ou se dedique a um outro tipo de negócio. É a personalidade do
vendedor que chama a atenção e influencia o freguês a comprar, vender,
negociar com ele. Quando não existe essa influência, o comprador não compra
e não volta. Um estadista, um político, um professor, um procurador, um
causídico, um advogado, todos precisam da personalidade. Um médico pode ser
um grande médico, pode ser altamente qualificado, mas se sua personalidade
não for agradável, se for um homem rude ou antipático, embora tenha muitos
pacientes os remédios que receitar não farão com que o doente se sinta melhor.
Sua personalidade pode até contribuir para que o doente se sinta melhor. Sua
personalidade pode até contribuir para que o doente piore. Muitas vezes um
médico por possuir uma personalidade extremamente simpática, compassiva,
boas maneiras e sabedoria, cura um doente apenas com uma palavra de
consolo, antes mesmo de lhe prescrever qualquer medicamento. Um procurador
ou um advogado que não possui essas características pode desanimar um ciente
numa só visita. Quando perdemos a coragem e a esperança, naturalmente há
pouca chance de sucesso. O poder da mente é indispensável. Se o poder da
mente de um advogado é forte ele pode ser bem sucedido. Em todos os passos
da vida o que importa é a personalidade. Aquele que não tem a personalidade a
seu favor, tem o mundo contra si.
Existem quatro categorias de personalidade. A primeira personalidade se
assemelha a uma tâmara, a segunda a uma noz, a terceira a uma romã e a
quarta a uma uva.
A personalidade que se assemelha à tâmara é macia por fora e dura por dentro.
Logo que colocamos uma tâmara na boca sentimos o caroço entre os dentes e
temos horror a ela. Na segunda categoria da personalidade que se assemelha à
noz, a noz tem uma casca dura, difícil de ser aberta. À proporção que vamos
conhecendo uma pessoa, é como se a casca que envolve a pessoa se
quebrasse e encontrássemos dentro uma noz, macia. Na terceira personalidade,
semelhante à romã, a romã é dura por fora e dura por dentro. Ela é dura sua
pele é dura e a semente interna também é dura. Por fim vem a personalidade
semelhante à uva, macia por fora e macia por dentro. Sempre encontramos na
vida essas quatro categorias de pessoas.
Aquele que possui uma personalidade macia por fora e dura por dentro, atrai
imediatamente as pessoas, mas elas não ficam muito tempo perto dele. É por
isso que as pessoas com este tipo de personalidade não fazem muitos amigos.
Só podemos compreender uma pessoa com essa personalidade quando
tocarmos seu ser interior. A personalidade dura por fora e dura por dentro fica
isolada no mundo. O mundo não é lugar para quem tem esse tipo de
personalidade. Todos querem ficar longe dessa pessoa e depois de algum tempo
ela se vê em dificuldades. No entanto, quem tem uma personalidade semelhante
à uva, macia por fora e macia por dentro, é naturalmente mais magnético. A uva
é a mais atraente das frutas.
Em cada estágio da evolução humana há um tipo diferente de magnetismo.
Existem quatro aspectos diferentes de magnetismo: o magnetismo físico, o
magnetismo intelectual, o magnetismo simpatético, muitas vezes chamado de
magnetismo pessoal, e o magnetismo espiritual.
Frescura, pureza, boa saúde, asseio, movimentos harmoniosos, aparência
regular, tudo isso ajuda o magnetismo físico. Toda pessoa amorosa, afetuosa,
bondosa e gentil, que desenvolveu uma natureza simpática, sempre atrairá
involuntariamente, pois a simpatia é um dos maiores poderes. Esse magnetismo
perdura. Em qualquer tipo de relacionamento, se não houver um elo de simpatia
não haverá atração.
Quando numa pessoa não existe o desenvolvimento da natureza simpática ou
compassiva, há um bloqueio da mente e do corpo. No corpo físico existem alguns
centros nervosos que são despertados pelo desenvolvimento da simpatia e da
compaixão. Se não houver esse processo de desenvolvimento os centros ficam
fechados. É por isso que um carniceiro raramente é uma pessoa intuitiva. A
simpatia e a compaixão desenvolvem a vida dos centros mais refinados do
homem e sua ausência afasta essa vida. O mesmo acontece com a mente.
Quando o coração não é compassivo, falta alguma coisa na mentalidade do
indivíduo. Muitas vezes uma pessoa é altamente qualificada, muito intelectual,
sua aparência é imponente e, no entanto, por não ter sentimentos não possui
magnetismo. Em muitos casos deixa de alcançar o sucesso por lhe faltar
simpatia e compaixão.
O quarto tipo de magnetismo é o magnetismo espiritual, que pode ser
reconhecido na inocência de um indivíduo, na sua pureza e na sua simplicidade.
Um espiritualista é considerado uma pessoa muito evoluída, mas na aparência
o espiritualizado deve ser a mais simples das pessoas, a mais inocente. Ele não
é ignorante, é menos complicado, sua perspectiva é mais ampla, seus ideais são
altos, sua consciência é elevada e, contudo, ele é humilde e democrata na
acepção da palavra.
A idéia de democracia é mal compreendida atualmente por inúmeras pessoas.
O princípio “Eu sou tão bom como você” é um princípio errado aplicado à
democracia. Afasta a humildade, a gentileza e o elevado ideal de um indivíduo.
Além disso, como é infantil pensar que a cânfora e o osso, o giz e o açúcar, são
iguais! A idéia de todos serem iguais pode parecer boa, mas se afinarmos um
piano com todas as notas no mesmo tom, nenhuma música poderá ser tocada.
A concepção atual errada de democracia é o mesmo que afinar o piano na
mesma tonalidade. A música da alma não poderá ser tocada e será extinta. Essa
maneira de pensar sobre democracia é mais uma obsessão do que propriamente
democracia. A verdadeira democracia é nos elevarmos o mais alto possível e
apreciar o ideal que está diante de nós. Elevamo-nos assim a um ideal mais alto.
Entretanto, há muitas pessoas que não apreciam um ideal elevado. Democracia
significa ser igual, mas num plano mais elevado e não na ignorância. Trazendo
uma pessoa que está num campo elevado para baixo, para a terra, falar-lhe de
democracia, é uma forma errada de praticar a democracia. É esse o espírito dos
revolucionários, das pessoas obcecadas por uma determinada idéia, que não se
importam com mais nada na vida, como podemos ver em muitas partes do
mundo. Por exemplo, foi o que aconteceu quando houve uma revolta contra a
Igreja Católica. Mas foi realmente uma revolta contra a Igreja Católica? Não, a
revolta não foi contra a Igreja, foi contra os ideais da Igreja. Todos os bons
aspectos do Catolicismo foram negligenciados. Não foi uma revolta propriamente
dita, foi uma revolta contra tudo que fosse ligado à Igreja. A partir daquela data
o sentido e a profundidade da religião que existia no mundo ocidental parece ter
diminuído e continua diminuindo cada vez mais. Apesar das inúmeras igrejas
existentes, há menos idealismo. O ideal é de primordial importância para as
almas, de uma maneira ou de outra, e o ideal está submergindo, pelo fato do
povo ter se revoltado contra um ideal sem levar em consideração o que nele
havia de bom.
Quando o ideal-Deus é negligenciado, a tendência é negligenciar tudo que se
relaciona com Deus. É por isso que com a obsessão da democracia a arte da
personalidade está desaparecendo, deixando de ser exercida como uma forma
de evolução espiritual da humanidade. Somente a perspectiva espiritual dá ao
homem o verdadeiro sentido da democracia, que se aplica a ele próprio e a
qualquer outro homem, seja ele seu inimigo, seu melhor amigo, seus pais,
irmãos. O homem espiritual vê todas as pessoas como se fosse ele próprio. Vê
refletidos nos seus semelhantes seu próprio espírito e sua própria alma. Essa é
a verdadeira democracia, quando uma pessoa se vê quer numa pessoa elevada
quer numa pessoa menos elevada. Esse é o ideal mais alto da realização
espiritual. É o que faz do homem um verdadeiro democrata.
Só por estágios pode uma pessoa se elevar a tal ideal. O primeiro estágio é por
meio da gentileza. É por isso que na língua inglesa é usada a palavra
“gentleman”, homem gentil. Porque a expressão homem gentil? Gentil porque
esse homem deu o primeiro passo na arte da personalidade. Não é necessário
que um homem seja rico, ocupe uma alta posição, ou seja de classe elevada.
Apenas isso não faz de um homem um homem gentil. Logo que uma pessoa
passa a refletir, a ter consideração, seu primeiro passo é tornar-se gentil. Assim
que desenvolve a qualidade consideração deu o primeiro passo na direção da
verdadeira evolução. A gentileza é o maior dos poderes. O poder da gentileza é
como o poder da água: purificador. Se há uma rocha no caminho de uma
corrente de água, a água circunda a rocha e não a destrói, porque a água é
maleável. Assim é a pessoa gentil. A gentileza tudo purifica com o decorrer do
tempo.
Às vezes pensamos que todos tentam usar a consideração. No entanto, quando
refletimos sobre duas coisas na nossa vida cotidiana – quando o silêncio é
necessário e quando o falar é necessário – notamos que cometemos milhares
de erros. Sempre falamos mais do que devíamos ou fazemos confidências a
certas pessoas que seria melhor nunca termos feito, ou então falamos com
alguém que não devíamos. Mais tarde, quando pensamos melhor, já é tarde. Às
vezes, por estarmos apressados, com disposição para contrariar, ou num estado
de profunda tristeza, dizemos uma palavra ofensiva intencionalmente e nos
arrependemos. Nada lucramos dizendo essa palavra. Frequentemente a pessoa
que fala sem pensar acha que isso é um passatempo e que se livrou de uma
coisa que a oprimia, mas de qualquer forma sua atitude resultou em desarmonia.
O coração humano é muito delicado e tem a fragilidade do vidro. Uma vez partido
é muito difícil ser consertado. Qualquer ferida ou dano feito ao coração nunca é
realmente reparado. O causador pode pedir desculpas e perdão, mas o que foi
feito já está feito, o que foi dito já está dito. A palavra nunca se perde. Cada
palavra dita por nós fica em algum lugar: no coração de quem a ouviu, no espaço,
ou no chão. A palavra continua a existir e causa um resultado. Outrossim, se o
homem aprender a ter consideração desenvolverá no seu caráter a dignidade.
Quanto mais se pensa nos outros mais dignos nos tornamos, pois a dignidade
brota da consideração.
Assim sendo, frequentemente uma pessoa cria o hábito de falar demais. Perde
tempo, seu próprio pensamento se perde e faz com que o tempo e o pensamento
de uma outra pessoa também se percam. Na maior parte das vezes isso cria
confusão. Nada pode ser realizado com argumentos inúteis. É interessante notar
que é comum uma pessoa discutir porque lhe faltam certos conhecimentos.
Continua a discutir porque não sabe. Quer descobrir tudo que não sabe por
intermédio de uma outra pessoa. Aliás, como pode alguém compreender
discutindo ou argumentando sobre o que só pode compreender através da
própria sabedoria, através da sua intuição interior? Quase sempre é uma perda
de tempo.
Algumas pessoas têm verdadeira paixão pelo ato de falar. Para elas falar é um
divertimento, um passatempo. Por fim ficam exaustas, nervosas e nada lucram.
Às vezes parece difícil manter o silêncio, mas certamente isso traz grandes
vantagens, pois pelo silêncio podemos evitar muitos contratempos e
desarmonias. O silêncio é excelente tanto para o sábio como para o tolo. É bom
para o sábio porque evita conversas desnecessárias, porque ele pode conservar
seus preciosos pensamentos no seu íntimo com muito carinho e cultivar o
pensamento como se cultiva uma planta. O tolo oculta sua estupidez quando se
mantém em silêncio e quanto mais ficar calado melhor. O silêncio aumenta a
dignidade do sábio e oculta a estupidez do tolo. Além disso, quanto mais o
homem evolui mais descobre os graus diferentes das pessoas, justamente como
se descobre o som das diferentes notas do piano. Uma nota é mais baixa, outra
mais alta. Cada pessoa também tem um grau diferente de evolução. Quanto
mais evoluímos mais constatamos que não podemos tratar todos da mesma
maneira. Devemos falar com cada pessoa de maneira diferente. Na verdade
devemos falar na própria linguagem da pessoa. Se usarmos uma linguagem que
a pessoa não pode compreender, a linguagem não terá nenhum nexo para ela.
Se a pessoa for pouco evoluída fará um mau uso do que lhe dissermos. Se for
altamente evoluída e lhe dissermos alguma coisa que não atinja seu grau de
evolução, seremos diminuídos aos seus olhos. E o que adiantaria? Por fim
sempre descobrimos que a desarmonia é causada pelas palavras
desnecessárias. De outro lado, se usarmos palavras sábias podemos dissolver
as nuvens da desarmonia.
Numa das minhas viagens encontrei um homem cuja evolução estava num grau
muito nebuloso. Era um soldado que sempre vivera em alojamentos militares e
tinha idéias fixas. Enquanto conversávamos vimos que pensávamos de maneira
diferente sobre certo assunto. Com o intuito de manter a harmonia eu lhe disse:
“Bem, somos irmãos”. Ele me olhou com raiva e respondeu: “Irmãos? Como ousa
dizer isso?” Respondi-lhe então: “Esqueci-me, eu sou seu servo, senhor”. O
soldado ficou satisfeitíssimo. Eu poderia ter argumentado, mas teria criado uma
desarmonia sem necessidade. A tolice daquele homem crepitava como fogo.
Joguei água no fogo e ele se extinguiu. Minha atitude não me diminuiu. Somos
servos uns dos outros. O que eu disse contribuiu para que aquele homem se
sentisse contente e feliz.
Há uma história sobre um sábio, grande curador. Uma mulher procurou-o e
perguntou-lhe: “O Senhor pode me dizer o que devo fazer? Tenho tido momentos
muito difíceis com meu marido. Todos os dias há brigas em nossa casa”. O sábio
respondeu: “É muito fácil”. Ela continuou falando: “Como ficaria grata se as
brigas acabassem!” O sábio curador deu-lhe alguns doces e recomendou: “Dou-
lhe estes losangos que são de açúcar. Coloque-os na boca quando seu marido
chegar em casa e tudo correrá bem. Esses doces estão magnetizados”. Depois
disso não houve mais nenhuma briga. Após dez dias os doces acabaram e ela
voltou ao curador e lhe disse: “Daria tudo para que o Senhor me desse mais
alguns doces. Seu efeito foi maravilhoso!” “Minha amiga” – disse o sábio – “deve
ter compreendido depois de ter comido os doces durante dez dias, que seu
marido, que trabalha o dia inteiro, fica nervoso, cansado, esgotado; chega em
casa num estado deplorável como é natural e completamente desafinado. A
senhora com suas discussões fazia com que ele ficasse ainda pior. Comendo os
doces a senhora ficava calada. Não houve mais motivo para discussões e seu
lar se tornou mais harmonioso. Que isto lhe sirva de lição: o silêncio é a chave
da harmonia”.
O Desenvolvimento da
Personalidade
Qualquer esforço em prol do desenvolvimento da personalidade ou da formação
do caráter não deve ser feito com o intuito de provar que se é superior aos
demais e sim para que nos tornemos mais agradáveis às pessoas à nossa volta
e com as quais entramos em contato. A moral do Sufismo não é somente a
conciliação, a conciliação é a marca do Sufi. A atitude conciliatória não se
aprende e nem se pratica facilmente, pois requer boa-vontade e sabedoria. O
talento do diplomata está em alcançar os resultados desejados de comum
acordo com as partes envolvidas. Desentendimento é uma coisa fácil. Entre a
criação inferior vemos com frequência o desentendimento. O que é difícil é o
entendimento, pois requer uma perspectiva mais ampla, que é o verdadeiro sinal
da espiritualidade. A estreiteza da perspectiva torna curta a visão do homem.
Quem tem uma perspectiva estreita não pode concordar facilmente com os
outros. Existe sempre um ponto de encontro entre duas pessoas, embora seus
pensamentos sejam diferentes. Esse ponto de encontro, contudo, pode estar
muito distante e quando isso acontece a pessoa nem sempre está disposta a se
esforçar para ir até onde se encontra o entendimento. Isso acontece com muita
frequência devido à falta de paciência das pessoas. O que em geral acontece é
que cada um quer que o outro venha ao seu encontro no lugar em que se
encontra e não há interesse de nenhuma das partes em sair do lugar onde está.
Isso não significa que para se tornar um verdadeiro Sufi um indivíduo precisa
abandonar suas próprias idéias e concordar com todos. Não há vantagem em
sermos sempre condescendentes com cada pensamento vindo da parte dos
outros, nem apagar dos nossos corações nossas idéias. Isso não é conciliação.
Quem é capaz de ouvir outra pessoa tem o poder de fazer com que os outros o
ouçam e concordem com ele. Com essa maneira de agir tal pessoa sai realmente
lucrando apesar do prejuízo aparente que pode ocorrer. Quando uma pessoa
pode ver as coisas tanto pelo seu ponto de vista como pelo ponto de vista alheio,
adquiriu uma plenitude de visão e uma clara introspecção. Por assim dizer tal
pessoa vê com seus olhos e também com os olhos dos outros.
Indubitavelmente a fricção produz a luz, mas luz é uma concordância entre os
átomos. Duas pessoas têm suas próprias idéias e argumentos, mas isso pode
ser um estímulo para o pensamento, não sendo uma coisa tão importante assim,
porém se uma pessoa argumenta pelo amor ao argumento, o argumento passa
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Hazrat Inayat Khan Alquimia da Felicidade

  • 1. HAZRAT INAYAT KHAN ALQUIMIA DA FELICIDADE Volume VI A Mensagem Sufi UNIVERSALISMO
  • 2.
  • 3. Sumário Prefácio Dados biográficos A Alquimia da Felicidade O Alvo da Vida O Objetivo da Vida (1) O Objetivo da Vida (2) A Arte da Personalidade O Desenvolvimento da Personalidade A Atitude O Segredo da Vida O que é Desejado na Vida? Vida, uma Batalha Contínua (1) Vida, uma Batalha Contínua (2) A Luta da Vida (1) A Luta da Vida (2) Reação O Lado mais Profundo da Vida A Vida, uma Oportunidade A Experiência da nossa Vida Comunicação com a Vida A Intoxicação da Vida (1) A Intoxicação da Vida (2)
  • 4. O Significado da Vida A Vida Interior A Vida Interior e a Auto-Realização A Interdependência da Vida Interior e Exterior Interesse e Indiferença Da Limitação à Perfeição (1) Da Limitação à Perfeição (2) O Caminho da Consecução, da Realização (1) O Caminho da Consecução, da Realização (2) Estágios no Caminho da Auto-Realização O Homem, o Dono do seu Destino (1) O Homem, o Dono do seu Destino (2) A Lei da Ação A Pureza da Vida O Ideal A Viagem para a Meta (1) A Viagem para a Meta (2) Recognição Responsabilidade A Continuidade da Vida
  • 5. Prefácio ALQUIMIA DA FELICIDADE foi o título de uma das palestras do Sufi Hazrat Inayat Khan feitas nos anos 20. Foi publicada pela primeira vez numa antiga publicação trimestral – Sufismo – em dezembro de 1922, e mais tarde publicada separadamente. Faz parte do primeiro capítulo deste livro. Os ensinamentos de Inayat Khan cobriram praticamente todos os aspectos da existência humana. De um lado ele abordou os aspectos metafísicos, como o parentesco entre Deus e o homem, os diferentes planos e fases da existência, o lugar do homem na Criação, e muitos outros aspectos. Do outro lado ele sondou profundamente a vida do homem na Terra, devassou seus problemas e possibilidades e mostrou o caminho para uma vida mais equilibrada, frutífera e feliz. Por mais importante e interessante que seja tanto o estudo como a prática da Mensagem de Inayat Khan na sua parte metafísica, ele constantemente chama nossa atenção para o fato de que o estudo e a prática serão inúteis se nossa vida cotidiana não entrar em harmonia com a metafísica. A verdadeira compreensão, diz ele, não vem se nós nos agarrarmos intelectualmente ao sentido de um aspecto da Verdade e sim se nós vivermos a Verdade. Este é o persistente e repetido tema das palestras que compõem este livro. Como essas palestras não foram feitas com a intenção de serem inseridas num livro e foram realizadas em épocas diferentes destinadas a um público diferente, o leitor notará que muitas vezes os tópicos se sobrepõem, mas se fizer um estudo mais profundo desses tópicos, ficará patenteado que Inayat Khan sempre lançou uma nova luz sobre os problemas por ele focalizados.
  • 6. Dados biográficos HAZRAT INAYAT KHAN veio ao mundo no ano de 1882 em Baroda, Índia, numa família de alto nível artístico. Dotado de grande capacidade musical, além de poeta, místico e profundo pensador, já na sua infância conquistou vasta admiração pelos seus cantos e composições. Realizou muitas viagens entre 18 e 24 anos, ocasião em que teve amplas oportunidades de entrar em contato com ilustres filósofos e místicos de seu país. Sentia-se bastante inclinado ao Sufismo, o ensino da Unidade de todos os seres e coisas. Foi iniciado no ano de 1908 por um Mestre Sufi, em Haiderabad, de quem recebeu maravilhosos ensinamentos. Satisfazendo os desejos de seu Mestre, Inayat Khan resolveu abandonar sua pátria, sua família e seus amigos, para levar a Mensagem Espiritual ao Ocidente. Nessa época, efetuou muitas viagens através da Europa e dos Estados Unidos da América do Norte, vivendo depois, longo tempo, na Inglaterra e na França. Provou aos homens modernos que todos os seres e coisas formam uma Unidade e que Leste e Oeste, juntos, completam essa Unidade, demonstrando também que todos os Credos constituem nada mais que ondas do mesmo Oceano da Verdade, da verdadeira Religião. Dentro desses princípios e conhecimento, foi fundado por ele o Movimento Sufi. Nas obras de Inayat Khan são analisados todos os problemas religiosos e espirituais. Elas trazem também à luz a plena solução a todas as perguntas materiais da vida cotidiana, procurando esclarecer o leitor sobre a razão da causa e efeito. Esse grande Mestre Sufi dedica seus trabalhos a todos os que, na luta diária, procuram por estímulo e Luz, e aos que anseiam pela Divina Realização. Em suma, Inayat Khan ensina a cada um como deve desenvolver as suas próprias forças latentes, com plena consciência, conseguindo a completa Unidade com a Vida Superior.
  • 7. A Alquimia da Felicidade A alma em Sânscrito, na terminologia Vedântica, chama-se “Atman”, que quer dizer felicidade ou bem-aventurança. A felicidade não pertence à alma, a alma é que é a felicidade. Como é natural, há uma confusão entre felicidade e prazer. Prazer é apenas uma ilusão, é uma sombra da felicidade. O homem pode levar a vida inteira vivendo nessa ilusão, procurando o prazer e nunca encontrando uma satisfação. Diz um ditado Hindu que o homem procura o prazer e encontra a dor. Na aparência exterior o prazer se assemelha à felicidade. O prazer promete felicidade por ser a sombra da felicidade, mas assim como a sombra de uma pessoa não é a própria pessoa, embora represente sua forma, também o prazer representa a felicidade, mas não é na realidade a felicidade. Em apoio a essa idéia podemos notar que raramente encontramos no mundo almas que sabem o que é felicidade. Vivem constantemente desapontadas com uma coisa e outra. Essa é a natureza da vida neste mundo. É tão enganadora que se o homem se desapontar milhares de vezes, mesmo assim continuará percorrendo o mesmo caminho, porque não conhece outro caminho. Quanto mais estudamos a vida mais descobrimos como é raro encontrar uma alma que diga honestamente “Eu sou feliz”. Quase todas as almas, qualquer que seja sua situação na vida, de uma maneira ou de outra dirão que são infelizes. Se perguntarmos a uma pessoa por que se sente infeliz dirá que não conseguiu obter o que queria, que não tem nenhum poder, propriedades, haveres ou posição social, não conseguiu nada do que se esforçou para obter anos a fio. Talvez essa pessoa tenha almejado riquezas e não compreendeu que haveres não proporcionam tanta satisfação como pensa. Talvez diga que tem inimigos ou aqueles que amam não a amam. Há milhares de desculpas para a infelicidade criadas pela mente e que influem no seu raciocínio. Qualquer uma dessas desculpas, entretanto, é realmente correta? Pensam que se pessoas que se dizem infelizes tivessem seus desejos satisfeitos seriam felizes? Se possuíssem tudo que desejam seria suficiente? Não, ainda assim arranjariam outras desculpas para sua infelicidade. Todas as desculpas não passam de véus que cobrem os olhos dos homens. O anseio de chegar à verdadeira felicidade, que nenhuma das coisas citadas aqui pode dar, está no homem se aprofundar no seu próprio ser. Quem é realmente feliz é feliz em qualquer lugar: num palácio ou numa choupana, na riqueza ou na pobreza, porque descobriu a fonte da felicidade que está situada no seu coração.
  • 8. Enquanto o homem não encontrar essa fonte nada lhe proporcionará a verdadeira felicidade. O homem que desconhece o segredo da felicidade muitas vezes desenvolve em si o espírito de avareza. Quer possuir milhões e quando os obtêm, eles não o satisfazem. Passa então a desejar bilhões e ainda assim não fica satisfeito. Sua ânsia de riqueza é cada vez maior. Se todos lhe derem toda a simpatia e préstimos, ainda assim esse homem se sentirá infeliz. Mesmo se lhe dermos tudo que possuímos, isso não será bastante, até se lhe dermos o nosso amor. Nada o ajudará, pesque ele está procurando a felicidade na direção errada. Para ele a vida é uma tragédia. Felicidade é uma coisa que não pode ser comprada ou vendida, nem ela pode ser dada a quem não a possui. Felicidade é o próprio ser do homem, é o seu próprio eu, é a coisa mais preciosa da vida. Todas as religiões, todos os sistemas filosóficos ensinaram ao homem, de diversas maneiras, como alcançar a felicidade, ou pelo caminho religioso ou pelo caminho místico. Todos os sábios, de uma maneira ou de outra, ensinaram um método para o homem encontrar a felicidade que a alma procura. Os sábios e os místicos deram a esse processo o nome de alquimia. As histórias das Mil e Uma Noites, de origem Árabe, que simbolizam idéias místicas, estão repletas da crença de que há uma pedra filosofal que transforma os metais em ouro por um processo químico. Indubitavelmente, essa idéia simbólica iludiu os homens tanto do Oriente como do Ocidente. Muitos pensaram que existia um processo pelo qual o ouro poderia ser fabricado, ao passo que essa idéia nunca foi a dos sábios e místicos. A procura do metal ouro é para os homens que ainda não saíram da meninice. Para os que têm consciência da realidade, ouro quer dizer luz ou inspiração espiritual. O ouro representa a cor da luz. A perseguição inconsciente do homem ao encontro da luz tem feito com que ele procure o ouro, mas existe uma grande diferença entre o ouro verdadeiro e o ouro falso. O anseio de encontrar o ouro verdadeiro faz o homem adquirir a imitação do ouro, por ignorar que o ouro verdadeiro está dentro do seu ser. A imitação do ouro nesse caso satisfaz a ânsia da sua alma, como uma criança se satisfaz com brinquedos. Essa realização não é questão de idade. Uma pessoa pode ter idade avançada e mesmo assim ainda gostar de brincar com brinquedos. Sua alma pode estar envolvida com a procura da imitação do ouro. Uma outra pessoa que na juventude começou a ver a vida pelo seu aspecto verdadeiro, pode chegar a essa realização. Se estudarmos a natureza transitória da vida na Terra e verificarmos como ela é sujeita a mutações, e constatarmos que o anseio permanente de cada ser é encontrar a felicidade, certamente vamos nos esforçar o máximo para encontrar algo em que possamos confiar. O homem, colocado no meio do mundo de mutações, aprecia e procura a constância onde ela puder ser
  • 9. encontrada. Não sabe que o que deve fazer é desenvolver nele próprio a qualidade constância. Faz parte da natureza da alma valorizar tudo que é confiável. E há uma coisa na vida em que se pode confiar e que está acima das mutações e da destruição. Tudo que teve nascimento e tudo que foi fabricado está sujeito à destruição, tem um fim. Mas se existe alguma coisa em que se pode confiar, e que não será destruída, é o que está oculto no coração do homem: a centelha divina, a verdadeira pedra filosofal, o verdadeiro ouro, o ser interno do homem. Uma pessoa pode seguir uma religião e não chegar à realização da verdade. Nesse caso qual a utilidade da religião se ela não a fez feliz? Religião nada tem a ver com depressão e tristeza. O espírito da religião deve proporcionar felicidade. Deus é felicidade, é a perfeição do Amor, da Harmonia e da Beleza. Uma pessoa religiosa deve ser mais feliz que uma não-religiosa. Se uma pessoa que professa uma religião está sempre melancólica, para ela a religião é uma coisa triste, a forma da religião foi conservada mas o espírito da religião não existe. Se o estudo da religião e do misticismo não levar à verdadeira alegria e felicidade, seria melhor se não existisse, porque nada ajudará na realização do objetivo da vida. O mundo de hoje é triste e sofrido como consequência das guerras catastróficas. A religião que preenche as exigências da vida hoje é aquela que revigora e dá vida às almas, que ilumina o coração do homem com a luz divina que já está dentro do coração humano, não precisando usar necessariamente uma forma exterior – embora para algumas pessoas uma forma exterior seja de grande ajuda – mas mostrando a felicidade que é o anseio de todas as almas. Quanto à questão de como praticar o processo da alquimia, todo esse processo foi explicado pelos alquimistas, mas de maneira simbólica. Disseram que o ouro é produzido através do mercúrio. A natureza do mercúrio é uma movimentação contínua, mas por meio de um determinado processo ele era primeiramente acalmado e depois de acalmado se transformava em prata. A prata então era derretida e o suco de uma erva despejado sobre a prata derretida, que assim se transformava em ouro. Trata-se naturalmente de um esboço, mas é possível obter-se explicações detalhadas desse processo no seu todo. Muitas almas procuraram fabricar ouro acalmando o mercúrio, derretendo a prata e tentando encontrar a erva, mas se desiludiram e teria sido melhor se tivessem trabalhado para conseguir ganhar dinheiro. A verdadeira interpretação desse processo é a seguinte: o mercúrio representa a natureza da mente, em perene inquietação. Especialmente quando uma pessoa tenta se concentrar é que verifica que a sua mente está sempre inquieta. A mente é igual a um cavalo rebelde: quando está sendo montado fica mais rebelde que quando está na cavalariça. A natureza da mente é idêntica: fica mais rebelde e inquieta quando queremos controlá-la. É igual ao mercúrio, constantemente se movimentando.
  • 10. Quando, usando o método da concentração, uma pessoa consegue dominar a mente, deu o primeiro passo na realização de uma tarefa sagrada. A prece é uma concentração, a leitura é uma concentração, sentar, relaxar e pensar num objeto é concentração. Todos os artistas, pensadores e inventores praticaram a concentração de uma forma ou de outra. Concentraram suas mentes em alguma coisa e focalizando a mente num objeto desenvolveram a faculdade da concentração. Contudo, para acalmar a mente é necessário um método especial, ensinado pelos místicos, da mesma forma que um professor de canto ensina o cantor a emitir a voz. Esse segredo pode ser aprendido através da ciência da respiração. A respiração é a essência da vida, o centro da vida. A mente pode ser controlada pelo conhecimento do método apropriado da respiração. Para isso é necessário receber instruções de um Mestre. O culto místico do Oriente tornou-se conhecido no Ocidente, livros têm sido publicados e os ensinamentos que eram mantidos secretos como os da religião, vêm sendo discutidos por meio de palavras, quando não se pode jamais explicar verdadeiramente o mistério daquilo que é o próprio ser do homem. As pessoas lêem esses livros e começam a se divertir com a respiração e muitas vezes, ao invés de beneficiar a mente e o corpo, são eles prejudicados. Há também os que fazem um negócio do ensino dos exercícios respiratórios, angariando dinheiro, desse modo degradando uma coisa sagrada. A ciência da respiração é o maior mistério existente e durante milhares de anos tem sido mantida como uma coisa em que se pode confiar e sagrada nas escolas místicas. Quando a mente está em perfeitas condições e sob controle, perdeu totalmente sua inquietação. A pessoa pode manter um pensamento à vontade e por quanto tempo quiser. É o início do fenômeno. Muitos abusam desses privilégios e dissipam o poder assim obtido, destruindo a prata antes que se transforme em ouro. A prata deve ser aquecida antes de ser derretida, mas aquecida com quê? Com o calor, a essência divina no coração do homem, isto é, o elemento amor, que brota como tolerância, simpatia, serviço, humildade, altruísmo, numa corrente que se eleva e cai em milhares de gotas e cada gota pode ser chamada de virtude. Todas as virtudes vêm daquela única corrente oculta no coração do homem, o elemento amor. Quando o fogo do amor está incandescente no coração do homem, suas ações, seus movimentos, o tom de sua voz, a sua expressão mostram que o coração está quente. Logo que isso acontece o homem realmente está vivo, tirou o lacre da fonte da felicidade que suplanta tudo que é perturbador e desarmonioso. A fonte agora é uma corrente divina. Depois que o coração é aquecido pelo elemento divino que é o amor, o passo seguinte é a erva. Essa erva é o amor de Deus. Entretanto o amor de Deus ainda não é o suficiente: é preciso também o conhecimento de Deus. A falta desse conhecimento de Deus é que faz a pessoa abandonar sua religião, porque há um limite para a paciência humana. O conhecimento de Deus fortalece a crença
  • 11. do homem em Deus, lança luz sobre ele e sobre a vida. As coisas tornam-se claras. Cada folha de árvore se transforma na página de um livro sagrado para quem tem os olhos abertos para o conhecimento de Deus. Quando o suco da erva do amor divino é despejado sobre o coração do homem que está aquecido pelo amor aos seus semelhantes, o coração se transforma num coração de ouro. Esse coração expressa o que Deus expressaria. O homem não viu Deus mas viu Deus no homem. Quando isso acontece, verdadeiramente falando, tudo que vem desse homem vem de Deus.
  • 12. O Alvo da Vida Só pode ser um único o objetivo da vida, apesar de haver outros objetivos que não pertencem ao mundo objetivo e sim ao mundo exterior, como coisas e seres. A vida só tem um objetivo porque a vida é uma só, embora exteriormente se tenha a impressão de que existem muitas vidas. Esse é o pensamento que nos leva à unidade. Partindo desse pensamento, aprendemos a verdadeira sabedoria. Sem dúvida alguma, esse objetivo principal não pode ser compreendido de imediato. A melhor coisa, pois, a fazer é cada um de nós procurar seu objetivo na vida, porque, realizando nosso objetivo pessoal, chegaremos algum dia à realização do objetivo interior. Quando o homem ainda não compreendeu isso, pensa que há sempre algo a ser realizado. Pensa em tudo que vê à sua frente e que ainda não foi realizado. Eis a causa de seu contínuo insucesso. Quem não definiu seu objetivo ainda não começou a percorrer o caminho da vida. Deve, pois, primeiramente, determinar qual é o seu objetivo, não importando o seu tamanho, se é grande ou pequeno. O homem começa a viver a vida logo que o objetivo é determinado. Existem muitas pessoas que ainda não conseguiram descobrir sua vocação. Consideram por isso sua vida um fracasso. Não se fixam, vão de uma coisa a outra, sempre à procura de algo. Como desconhecem seu objetivo na vida, realizam muito pouco. Se certas pessoas quiserem saber por que não têm sucesso, a resposta é: não encontraram ainda seu objetivo. Logo que o descobrem, começam a se harmonizar com o mundo, o que antes não conseguiam, porque o mundo Ihes era completamente estranho. Assim que o homem encontra seu objetivo, seu caminho, considera-se uma pessoa de sorte, porque todas as coisas que deseja realizar passam a se aproximar dele espontaneamente. Mesmo que o mundo inteiro estiver contra esse homem, já adquiriu tal poder que se agarra ao seu objetivo e o defende de tudo e de todos. Sua paciência será tão grande que, na caminhada para o objetivo, nenhuma desventura poderá desencorajá-lo. Entretanto, não há dúvida alguma, se o homem não encontrar seu objetivo, procura uma coisa e outra, estará sempre procurando alguma coisa. Não havendo nenhuma satisfação na procura, pensa que a vida é sua inimiga. Começa a ver falhas nos outros, nas condições, nos planos, no clima, enfim, em tudo. Assim, o que chamamos de auspicioso ou bem sucedido é realmente o objetivo certo. Quando usamos roupas que não foram feitas para nós, dizemos que são muito largas ou muito estreitas, mas se as roupas forem feitas sob medida, sentimo-nos confortáveis dentro delas. Assim, também, cada um deve ter liberdade de escolher seu
  • 13. objetivo na vida. Quando o encontrarmos saberemos que estamos no caminho certo. Quando o homem começa a caminhada na vida, deve levar em consideração determinadas coisas. Quando alguém tem um nó a desmanchar e lhe é dada uma faca para cortá-lo, está perdendo uma grande oportunidade. É um pequeno detalhe, mas por ter deixado de desatar o nó, não avançou por seu esforço próprio, retrocedeu. Este é um exemplo de pequena monta, mas em tudo que fizermos, se não tivermos paciência e confiança para avançar, haverá grande prejuízo. Por menor que seja o trabalho que temos a nosso cargo, se o completarmos, teremos realizado coisa de grande valor. Se o trabalho feito aparentemente não nos deu nenhum poder, pelo simples fato de tê-lo realizado já adquirimos grande poder. Quanto ao objetivo principal de todas as almas, esse objetivo pode ser chamado de objetivo espiritual. Um indivíduo pode passar a vida inteira sem ter um objetivo, mas chegará um dia em que, embora não o admita, começa a procurá- lo. Realização espiritual não é simplesmente adquirir conhecimentos, é apetite, é fome da alma. Chega um dia em que o homem sente muito mais o apetite da alma que qualquer outro tipo de apetite. Não há dúvida que cada alma tem uma ânsia inconsciente de satisfazer esse apetite, mas a vida cotidiana absorve de tal maneira as pessoas, torna-as tão ocupadas, que não têm tempo para prestar a mínima atenção a esse anseio da alma. Se quisermos definir a realização espiritual, podemos dizer que ela está no estudo da natureza humana. A natureza humana é uma só e única, seja de caráter espiritual ou material. Há cinco coisas que o homem anseia: Viver, ter poder, adquirir conhecimento, ser feliz e ter paz. O apetite constante que vem da parte mais profunda do ser humano é uma ânsia de obter essas cinco coisas. Para satisfazer o desejo de viver o homem come, bebe e se protege dos perigos. No entanto, seu apetite nunca é plenamente satisfeito, porque se escapar de todos os perigos não escapa do último perigo, o que chama de morte. Para obter poder, o homem faz tudo para adquirir força física, influência, posição social. Procura todas as formas do poder. Encontra muitos desapontamentos, porque verifica que onde há um poder, por exemplo, de 10 graus, há sempre outro poder de 20 graus a enfrentar. Pensemos nas grandes nações cujo poderio militar era tão grande que ninguém acreditaria que pudesse ser destruído, tão grande era o poder dessas nações. Não precisamos procurar exemplos na história, basta olhar para os mapas de hoje. Segue-se o desejo de adquirir conhecimentos. Esse desejo leva o homem à tendência de estudar. Um homem pode estudar a vida inteira, mas mesmo se
  • 14. tiver lido todos os livros das bibliotecas, ainda perguntará: “Por quê?” Esse porquê nunca será respondido pelos livros que o homem lê e estuda, nem se explorar a vida no campo externo. Em primeiro lugar a natureza é tão profunda que a vida limitada do homem não é suficientemente longa para investigar sua profundidade. Comparativa ou relativamente podemos dizer que uma pessoa é mais ilustrada que outra, mas ninguém atinge a verdadeira satisfação pelo estudo exterior da vida. O quarto tipo de apetite é a felicidade. O homem tenta satisfazer seu apetite de felicidade com prazeres, esquecendo-se que os prazeres do mundo não podem dar a felicidade que a alma realmente procura. As tentativas do homem nessa direção são inúteis. Por fim verifica que cada esforço feito lhe trouxe uma grande perda e nenhum lucro. Além do mais, o que não é duradouro, o que não é verdadeiro em seu conteúdo, em sua natureza, nunca é satisfatório. O quinto tipo de apetite é a paz. Para encontrar a paz o homem em geral afasta- se do ambiente que o perturba, foge das pessoas, prefere sentar-se sossegadamente e repousar, mas aquele que ainda não está pronto para a paz, não a encontrará mesmo se fosse viver longe do mundo, nas cavernas do Himalaia. Esses cinco apetites são os mais profundos do homem. Verificamos que todos os esforços feitos pelo indivíduo para satisfazer esses apetites parecem nulos, porque só podem realmente ser satisfeitos pela realização espiritual. É a única maneira de satisfazê-los. Assim, pois, o desejo de viver só pode ser satisfeito quando a alma realizar sua vida eterna, quando compreender que é eterna. A mortalidade é uma concepção, não uma realidade. Sob o ponto-de-vista espiritual, mortalidade é a falta de compreensão da parte da alma de seu próprio “eu”. É como um homem que vivesse a vida inteira com a concepção que ele é o casaco que está usando e acreditasse que quando o casaco ficar roto, morrerá. Essa mesma experiência passa a alma na terra. A alma tem uma espécie de ilusão quanto ao corpo físico em que está encerrada, identifica-se como o ser mortal em que habita. Os sábios de todas as eras usaram a meditação para dar à alma oportunidade de realizar sua independência do corpo físico. Logo que a alma sabe o que é, que sua vida não depende da sua roupagem exterior, começa a confiar na vida e não teme mais aquilo que chamam de morte. Assim que esse fenômeno ocorre, o homem deixa de chamar a morte pelo nome de morte. Chama-a de mudança. Se fizermos um estudo sobre o desejo de viver, verificaremos que ninguém tem um desejo se ele não fizer parte de sua natureza. O desejo de viver continuadamente é um desejo tanto do homem espiritualista como do homem materialista. Um espiritualista tem esperança na vida além-túmulo. O pessimismo do homem materialista age contra o desejo de viver eternamente não acredita na alma, mas esse desejo existe da mesma forma. Como se pode
  • 15. chegar a essa continuidade da vida? Não depende apenas da crença, embora a crença ajude alguns a realizar essa experiência. Os que não têm nenhuma crença não têm condições de encontrar o caminho. Não obstante, a continuidade da vida é logicamente possível, porque todo homem quer viver. Não é natural uma pessoa desejar o que não é possível. Se há um desejo natural é porque já existe uma possibilidade de sua realização. Se não houvesse possibilidade não haveria desejo. Naturalmente isso não se aplica a uma pessoa desequilibrada. Essa pode desejar tudo, mas uma pessoa que raciocina só deseja aquilo que é possível ser realizado. O segredo desse assunto está na auto-análise. Se estudarmos o nosso “eu” constatamos que o corpo é apenas uma cobertura de nosso verdadeiro ser e através de um estudo ainda mais profundo, veremos que mesmo a mente é uma cobertura do nosso “eu” verdadeiro. Logo que chegamos a essa descoberta, tornamo-nos independentes do corpo como sendo o único meio de viver. Tornamo-nos também independentes da mente para viver. “Mas” – pode-se perguntar – “se o corpo não existisse o que seria então a vida?” Quem faz essa pergunta é aquele que se limitou, aquele que experimenta a vida somente através do corpo, não tentou experimentar a vida sem o auxílio do corpo físico. Quando o homem não tem consciência do corpo, torna-se consciente da mente. Quando os olhos estão abertos o homem olha para tudo que vê, mas quando os olhos estão fechados, aí então o homem medita sobre o proveito que pode tirar da sua mente. Em ambos os casos o homem fica dependente para viver do corpo e da mente e essa dependência torna a alma limitada. A alma não fica só limitada, torna-se mortal, embora na realidade a alma não seja mortal. Entretanto, se a alma acreditar na mortalidade, será o mesmo que ser mortal. Os ensinamentos de Jesus Cristo, do princípio ao fim, tiveram como finalidade elevar o homem acima da mortalidade, descobrir o que é a vida, aprender a arte e a ciência de viver. Todas as Escrituras, todos os filósofos e místicos, ensinaram a mesma coisa. E por que ensinaram? Porque se existe uma coisa indesejável é a mortalidade ou a morte. Nenhuma pessoa de sã consciência deseja a morte. O desejo de morrer não é um desejo natural. Mesmo quando a mente deseja a morte, a alma anseia por viver. A alma está viva, é a própria vida. A morte é estranha à alma. É por isso que até o mais pequenino inseto se protege de todas as maneiras. Não deseja morrer, quer viver. O que chamamos de morte é apenas a impressão que temos de uma mudança. A vida está sujeita a modificações. Morte é apenas uma mudança de vida. Fazer as pessoas acreditarem na imortalidade, fazer com que se elevem acima do medo da morte, é uma coisa que deve ser feita gradativamente e não subitamente, pois de outra forma tal conhecimento as amedrontaria mais que a própria morte. Por este motivo o conhecimento desta verdade foi sempre uma
  • 16. ciência mística, secreta. Não haveria nenhuma outra razão para esconder uma coisa tão preciosa, como esse conhecimento, dos nossos semelhantes. Sabemos que quando alguém é subitamente despertado, tem um grande choque, física e mentalmente. Leva algum tempo para se refazer. O mesmo acontece com as verdades espirituais. É por isso que há as iniciações e promessa de guardar segredo. Não se pode colocar pratos de comida diante de um bebê recém-nascido. O bebê precisa primeiro ser alimentado com leite. Vejamos agora o desejo de obter poder. O homem deseja adquirir poder porque é natural querer lucrar o mais possível. Não pode evitar isso, há uma força oculta em alguma parte dentro do homem, mas a despeito da força oculta no seu íntimo, sente-se impotente. A impotência ou o que o homem experimenta como impotente, nada mais é que sua ignorância do poder que existe dentro dele. Para abrir as portas e ver o poder que tem armazenado dentro de si, é necessário que o homem procure o reino de Deus, como diz a Bíblia, pois ali encontrará sua herança divina toda-poderosa. Mas como adquirir poder? Requer uma tentativa de nossa parte no sentido de uma mudança radical interior. Essa mudança significa uma espécie de luta com nosso falso ego. Quando o falso ego é crucificado, parece que não há poder, mas na verdade adquirimos um poder total através dessa crucificação. O conhecimento tem dois aspectos. Um é o conhecimento que se coletou através do aprendizado dos nomes e das formas na vida. Esse conhecimento não satisfaz o apetite de poder do homem, é apenas um degrau. Esse aprendizado exterior apenas ajuda o homem a entrar no caminho do aprendizado interior, que é o segundo aspecto do conhecimento. O aprendizado interior é completamente diferente do aprendizado exterior. Como é esse aprendizado interior? É aprender através do estudo do “eu”. É descobrir que dentro de nós está todo o conhecimento que lutamos para conseguir e também dentro de nós está tudo que existe para ser estudado. Portanto, encontramos dentro de nós uma espécie de universo. Pelo estudo do “eu” chegaremos ao conhecimento espiritual. A alma tem fome desse conhecimento espiritual. Na consecução do conhecimento espiritual o homem deve tentar meditar e mergulhar no mar do conhecimento, o que não pode ser ensinado por meio de livros ou estudos. Desta forma o homem passa a distinguir dois aspectos do conhecimento: um dos aspectos é o intelecto, o outro é a sabedoria. Assim, pois, um sábio não é necessariamente um homem de talento, nem um homem de talento é necessariamente um sábio. Falemos da felicidade. Uma pessoa pensa que será feliz se o amigo for bom, quando os outros lhe correspondem, quando fica rico, mas não é essa a maneira de ser feliz. Às vezes tudo isso leva a um resultado contrário. A infelicidade faz uma pessoa culpar os outros, porque acha que todo mundo a está impedindo de ser feliz. Na realidade isso não é verdade. A verdadeira felicidade não é coisa
  • 17. que se ganhe, é uma coisa que se descobre. Felicidade é propriedade do homem. É por isso que anseia pela felicidade. O que afasta do homem a felicidade é quando ele fecha as portas do seu coração. Quando o coração não está vivo, a felicidade não existe. Muitas vezes o coração não está completamente vivo, está parcialmente vivo. Há pessoas que ficam à espera da chegada de um outro coração que bata com o seu, mas a vida verdadeira do coração é a vida independentemente da sua própria felicidade, que se obtém através da realização espiritual, quando mergulhamos fundo dentro do nosso coração. Aquele que encontrou paz interior, quer esteja numa caverna nas montanhas ou no meio da multidão, encontrará paz em toda parte. O que em geral acontece é que dizemos que não temos paz porque os outros afetam nossos nervos. Culpamos os outros, mas na realidade a verdadeira paz só pode ser estabelecida dentro de nós quando nos sentirmos firmes e seguros contra todas as influências existentes à nossa volta, só quando as coisas não mais nos perturbarem. Falemos agora como essas cinco coisas – vida, poder, conhecimento, felicidade e paz – podem ser alcançadas. Como já disse, a primeira coisa a fazer, e que é muito necessária, é cumprir o objetivo que está à nossa frente e cumpri-lo imediatamente. Não importa o tamanho do objetivo, pequeno ou grande. Adquirimos poder cumprindo nosso objetivo. À proporção que avançamos no caminho da vida, procurando sempre a verdade, chegamos afinal à realidade. A verdade é alcançada pelo amor à verdade. Quando fugimos da verdade, ela foge de nós. Se não fugirmos da verdade, estará ela mais perto de nós, muito mais próxima que tudo que não é verdadeiro. Não há nada na vida mais precioso que a verdade. Amando a verdade, alcançando a verdade, chegaremos à religião, a religião de todas as Igrejas e de todos os homens. Assim sendo, não importa a que Igreja pertença o homem, que religião professa, a que raça pertence, contanto que chegue à verdade, à compreensão de que ele é tudo porque está com tudo. O obstáculo está no desacordo, no desentendimento, antes de chegar à verdade. Uma vez alcançada a verdade, o homem não encontra mais nenhum desentendimento. As disputas surgem entre os que aprenderam apenas o conhecimento exterior. Para os que chegaram à verdade, não tem importância se as pessoas vivem no norte ou no sul, se são de nacionalidade diferentes, pois entraram em sintonização completa e perfeita ao chegarem à verdade. Há união. Este é o pensamento que devemos manter à nossa frente se quisermos unir todos os setores divididos da humanidade, pois a verdadeira felicidade da humanidade está na unidade. Essa unidade pode ser obtida se cada um de nós se elevar acima das barreiras que dividem os homens.
  • 18. O Objetivo da Vida (1) Todo ser vivo tem um objetivo na vida. O que capacita todas as almas a realizarem esse objetivo é o conhecimento que têm dele. No “Gayan” está escrito: “Abençoado é aquele que conhece o objetivo de sua vida”. Não se surpreendam se encontrarem pessoas que passaram toda a vida vivendo na escuridão, ora fazendo uma coisa ora outra, pulando de uma coisa para outra, sempre insatisfeitas, eternamente descontentes. Tudo que fazem não produz nenhum resultado. Falta-lhes um conhecimento, que é o conhecimento de suas vidas, que desconhecem. Sem falar na pessoa humana, todo objeto tem o seu objetivo. A missão da ciência é descobrir o objetivo das coisas. Sua função é essa e para isso foi criada. Não somente a ciência médica e a filosofia, também todos os diferentes aspectos da ciência resultam do desejo de descobrir o objetivo das coisas. O alvo do misticismo é descobrir o objetivo da vida dos seres humanos, o objetivo da nossa própria vida e de outras vidas. Enquanto uma pessoa não descobrir esse objetivo, embora seja bem sucedida ou fracasse, não está propriamente vivendo, porque a vida começa no momento em que descobrirmos nosso objetivo na vida. Encontramos muitas pessoas ricas, de boa posição social, vivendo com todo o conforto e facilidades e, no entanto, falta-lhes alguma coisa, isto é, não possuem a coisa principal, a única coisa que pode tornar suas vidas felizes: o conhecimento do seu objetivo. É a única coisa que Ihes falta. A humanidade também desconhece esse objetivo. Um homem é capaz de se interessar por milhares de coisas. Seu interesse fixa-se primeiro numa coisa, depois noutra, e assim sucessivamente. Parece que nunca chegará ao ponto em que descobre o objetivo da sua vida. Por quê? Porque esse objetivo jamais foi procurado. Citemos a educação infantil e a educação juvenil. Quase sempre os pais não pensam muito sobre o assunto. Acham que o que deve ser feito é aquilo que Ihes parece benéfico para a criança. Não Ihes passa pela cabeça que é na infância que o homem deve encontrar o objetivo de sua vida. E quantas vidas foram destruídas por este motivo! Uma criança deve ser criada com todas as facilidades para que possa encontrar o objetivo de sua vida e, no entanto, é afastada dele.
  • 19. Por mais infeliz que seja um homem, logo que conhece o objetivo de sua vida é como se apertasse um comutador e a luz se acendesse. Pode não conseguir as coisas imediatamente, mas o simples fato de conhecer seu objetivo na vida lhe dá esperança, vigor, inspiração e força para esperar pelo momento apropriado. Se tiver que lutar a vida inteira para alcançar seu objetivo, isso não tem a menor importância, contanto que conheça o objetivo. Dez pessoas iguais a esse homem e que conhecem o seu objetivo têm muito mais poder do que mil indivíduos que trabalham de manhã à noite, mas desconhecem o objetivo de suas vidas. Além do mais, o que chamamos de errado ou certo, de bom ou mau, varia de acordo com o objetivo da vida. Quanto mais estudarmos a vida mais compreenderemos que não é a ação que torna as coisas certas ou erradas, boas ou más, é o objetivo. À proporção que progredimos, ficamos mais despertos e maior é a compreensão do objetivo à nossa frente. Entretanto, acima disso tudo paira o objetivo dos objetivos, isto é, o último objetivo. Iniciamos a vida com um objetivo individual, depois chegamos a um estágio em que compreendemos que o propósito de cada alma é um só e o mesmo. Podemos aprender isso se estudarmos as tendências ou inclinações do ser humano. Cada homem tem cinco inclinações ocultas no fundo do seu coração. Pode se esquecer do objetivo final porque vive absorvido com a vida mundana, mas não há dúvida de que existe nele uma inclinação contínua nessa direção, o que demonstra que o objetivo final da vida de todos nós é um único e mesmo objetivo. A primeira dessas inclinações é o amor pelo conhecimento. Não são só os intelectuais que procuram o conhecimento. Até uma criança pequena quer saber o motivo de qualquer barulhinho. As crianças fazem perguntas quando vêem uma cor ou traço bonitos num quadro. Assim, todo indivíduo, num maior ou menor grau, luta para adquirir conhecimentos. Sem dúvida, com a vida moderna, muitas pessoas são colocadas em tal situação que nunca têm um momento sequer para adquirir os conhecimentos que deseja. De manhã à noite estão às voltas com seus afazeres e ficam tão absorvidas neles que, depois de um certo tempo, tornam-se obtusas. Há milhares de pessoas que a vida colocou em tal situação que não podem mais deixar de se concentrar em certas tarefas pessoais. Assim sendo, nunca dispõem de tempo para pensar nas coisas que gostariam de pensar e conhecer. Esse tipo de vida é produto do homem, que a chama de progresso, de vida com liberdade, quando não há nesse tipo de vida liberdade da mente. A mente fica restrita a um horizonte limitado, que chamamos de esfera. Se todo pensamento e se toda vida fossem dirigidos apenas com o intuito de aprender algo para ganhar o pão de cada dia, quando então poderíamos nos dedicar, com nosso pensamento e nossa concentração mental, no que a alma procura? Entre os que gozam de um pouco de liberdade na vida, que têm tempo
  • 20. para pensar em adquirir algum conhecimento existem muitos que andam à procura de novidades. Pensam que aprender é apenas saber determinadas coisas que ainda não sabem. Muitos poucos são os que investigam e descobrem que, por mais simples que pareça ser uma idéia, dela virá uma revelação, se dedicarem à idéia todo seu pensamento. A idéia então começa a Ihes ensinar, cada vez mais, coisas que nunca souberam. Eu passei por uma dessas experiências. Aconteceu com a estrofe de um verso Persa, que já conhecia há doze anos. Gostava muito dessa estrofe. Era uma concepção simples sobre o dia-a-dia. Depois de doze anos, um dia, veio-me um vislumbre de inspiração e toda a estrofe foi uma revelação para mim. Parecia que nela havia uma semente, que dela surgiu uma raiz que se transformou numa planta e a planta deu flores e frutos. A dificuldade experimentada pelos chamados pesquisadores da verdade é que, quando têm um pouco de tempo para procurar a verdade, já estão muito impacientes. Certas coisas não os satisfazem e por isso largam uma coisa e pegam outra. Com esse procedimento, ao invés de ter a verdadeira noção da verdade, ficam confusos. Alguém perguntou a um artista se ele poderia realmente pintar uma coisa que fosse novidade. “Posso”, disse ele e pintou dois chifres e duas asas no corpo de um peixe. As pessoas exclamaram: “Que maravilha! Isto jamais foi visto por qualquer pessoa!” Os presentes tinham visto asas em pássaros e chifres em animais, mas nunca num peixe. Há almas que precisam de novidades como esta. Muitos admiram tudo que é novidade. Poucos pensam, como Salomão, que não há nada de novo sob o sol, especialmente no ramo da sabedoria, do conhecimento. Não é estudando muitas coisas que chegaremos à concentração, à contemplação ou à meditação, nem deixando de lado uma idéia e passando para outra. A segunda inclinação do homem é o amor à vida. Essa inclinação existe não só nos seres humanos como também nos pequeninos insetos, que tentam escapar ao ser tocados. A vida para eles é muito preciosa. O que isso nos mostra? Mostra que todo ser vivo quer viver, por mais infeliz que seja, por mais difícil que a vida pareça ser. Talvez a tristeza passageira leve uma pessoa ao suicídio, mas se estivesse em seu estado normal nunca pensaria em deixar o mundo, não porque o mundo lhe fosse muito querido e sim porque a tendência de toda a alma é viver. Lemos no “Gayan”: “A vida vive, a morte morre”. Uma vez que a vida vive, ela só anseia por viver. Ninguém quer pensar por um momento sequer que a morte o vem buscar. Pelo que lutaram os grandes profetas, mestres, santos, sábios, filósofos e místicos? Sua luta foi no sentido de descobrir um remédio que viesse curar o homem da mortalidade, mas que mortalidade? Da sua concepção ou da sua condição? Da sua condição se o assunto for encarado exteriormente, mas
  • 21. na realidade, da sua concepção de mortalidade. A alma retém o corpo que usa somente enquanto ela não preenche sua finalidade. A alma quer se desfazer da sua roupa-corpo, porque ninguém quer carregar toda vida um capotão pesado. Até os reis se sentem mais confortáveis quando tiram a coroa e a colocam numa mesa. A felicidade da alma é alcançada quando ela se livra do seu fardo físico. Só é feliz quando pode ser ela mesma. Enquanto o homem pensar que é o seu corpo, mais mortal se torna porque só tem consciência de sua existência mortal. Compreender isso apenas intelectualmente não ajuda. A alma deve ver a si mesma, deve realizar-se. Como pode a alma conseguir isso? Consta das Escrituras: “Morra antes da morte”. Que morte é essa? É morrer representando um papel no drama da morte. Durante todo o tempo que passaram na terra os místicos representaram esse papel. Conseguiram ver o que é a morte representando-a. Não foi apenas um conhecimento intelectual, constataram pela própria experiência que realmente a alma continua a existir independentemente da roupagem ou do corpo físico em que está encerrada. Buddha deu a isso o nome de “Jnana”, que significa realização, A ausência de “Jnana” é “Ajnana”, que quer dizer falta de realização. Todo pensador fica muito triste ao pensar no dia que tiver de deixar a terra, onde tem amigos e bens que ama. Não é só isso: o que o faz ficar ainda mais triste é sentir que, quando partir, partirá para sempre. Esquece-se de que a vida não quer se transformar em morte, a vida quer viver. Em geral o homem ignora o que é a vida. Tem uma concepção falsa da vida, que adquiriu pelos sentidos, pela experiência através dos sentidos. Não conhece, pois, a vida. Vida é uma coisa completamente diferente. A terceira inclinação do homem é adquirir poder de todas as formas. Todos lutam, durante sua existência, para conseguir poder. A razão é que a alma luta para existir e se opõe à invasão das condições da vida, porque as condições da vida devastam tudo que não tem força, poder. Quando a folha perde a força cai da árvore. Quando a flor perde a força, desfolha-se. Como é natural a alma quer conservar sua força. Por isso todo indivíduo procura o poder. O erro está no seguinte: por mais poder que tenha o homem é sempre um poder limitado. Seu poder sempre aumenta, mas chega um dia em que ele vê que há um poder maior que o seu. Essa limitação faz o homem sofrer, leva-o ao desaponto. Aliás, se olharmos o poder que o homem possui, isto é, o poder mundano, perguntamos: “Que poder é esse?” Vemos nações poderosas, construídas há milhares de anos, que podem ser esmagadas num curto espaço de tempo. Sendo assim, que poder têm essas nações? Se existe um poder é o poder oculto, o poder onipotente. Se entrarmos em contato com esse poder, começamos a extrair dele todo poder de que necessitamos.
  • 22. O segredo atrás de todos os milagres e fenômenos dos sábios e mestres, foi o poder que conseguiram extrair de dentro do seu ser. Há faquires e dervixes que se atiram dentro do fogo, ou cortam o corpo e curam as feridas instantaneamente. Existe porém um poder ainda maior, só que os que realmente o possuem não demonstram abertamente possuí-lo. Há o poder que prova que o espírito domina a matéria, embora muitas vezes o espírito esteja sepultado sob a matéria e nesse caso faz do homem um impotente. A quarta inclinação do homem é ser feliz. Procura a felicidade no prazer, na alegria, que são sombras da felicidade. A verdadeira felicidade está no coração do homem, mas não é ali que ele a procura. Busca o prazer para encontrar a felicidade. Tudo que não dura, tudo que culmina em infelicidade, não é felicidade. Felicidade é o próprio ser do homem. Os Vedantistas deram à alma o nome de “Ananda”, que quer dizer felicidade, porque a alma é a própria felicidade. É por isso que a alma procura a felicidade. Não podendo se encontrar consigo mesma, a alma procura sempre algo que a faça feliz, mas o que encontra nunca a faz realmente feliz, inteiramente feliz. O pecado e a virtude, o bem e o mal, o certo e o errado, podem ser distinguidos e determinados pelos seguintes princípios: virtude é o que traz a verdadeira felicidade. O que chamamos de certo é aquilo que nos conduz à felicidade. O que é bom é bom porque causa felicidade. O que não causar felicidade não pode ser bom, não pode ser virtude, não pode ser certo. Sempre que o homem diz que encontrou a virtude na infelicidade, engana-se. Sempre que comete um erro é infeliz. A felicidade é o próprio ser do homem. É por isso que ele deseja com ardor a felicidade. A quinta inclinação do homem é a paz. Não se chega à paz nem pelo repouso nem pelo conforto e nem através da solidão. Devemos aprender uma arte se quisermos obter a paz: é a arte dos místicos. Por meio dessa arte o homem chega ao estado de paz. Alguém pode perguntar: “Se para a alma é uma coisa natural experimentar o estado de paz, porque devemos lutar para obter a paz por meio de exercícios, práticas, meditações e contemplações?” A resposta é que é realmente uma coisa natural a alma experimentar a paz, mas a vida neste mundo nada tem de natural. Os animais e pássaros têm paz, mas não a humanidade, porque é o homem o ladrão de sua paz. Tornou sua vida tão artificial que não pode mais imaginar quanto se distanciou do que é vida normal e natural, que é a que ele deve viver. É por isso que precisamos da arte de descobrir a paz dentro de nós. Não desfrutaremos da paz melhorando só as condições exteriores. O homem sempre ansiou pela paz e no entanto foi ele mesmo quem forjou as guerras. Da mesma forma, todo indivíduo diz que está procurando a paz. Por que motivo há guerras? Por que acontecem? Acontecem porque o significado da paz ainda não foi bem compreendido. O homem vive num contínuo tumulto, em permanente estado de inquietude. Procurando a paz o homem entra na guerra. Se esse estado de coisas continuar não teremos paz
  • 23. enquanto cada indivíduo não começar a procurar a paz dentro do seu próprio ser. O que é a paz? Paz é o estado natural da alma. A alma que perdeu seu estado natural fica inquieta. O estado normal da mente é a tranquilidade, portanto, a mente nada mais é que tranquilidade, assim como a alma nada mais é que paz. A pergunta que todo homem pensador faz é: “Qual foi a razão, qual foi o propósito da criação do mundo?” A resposta é: para quebrar a monotonia. Chamem o Criador de Deus, de Único Ser, de Fonte, Meta, de tudo que quiserem. Sentindo-se só, quis Ele alguma coisa para conhecer. Os Hindus dizem que a criação é o sonho de Brahma. Pode-se dar à criação o nome de sonho, mas a criação é o objetivo principal. Os Sufis explicam assim a criação: Deus, o Amoroso, quis conhecer a sua própria natureza e assim, através da manifestação, criou o Bem-Amado, para que o amor se manifestasse. Vendo as coisas sob esta luz, tudo que vemos é o Bem-Amado. É como escreveu Rumi, o maior escritor da Pérsia: “O Bem-Amado é tudo em tudo, o Amante apenas encobre o Bem-Amado. O Bem-Amado é tudo que vive, o Amante é uma coisa morta”. Os Sufis assim chamam Deus de Bem-Amado e vêem o Bem-Amado em todos os seres. Nunca pensam que Deus está no céu separado, longe de todos os seres. Vêem a beleza de Deus em tudo e em todas as formas. O objetivo principal e o objetivo derradeiro são preenchidos com essa realização. Consta das antigas Escrituras que quando Deus perguntou a Adão: “Quem é teu Senhor?” ele respondeu: “Tu és meu Senhor”, o que quer dizer que o propósito da criação é fazer com que cada alma reconheça sua fonte e sua meta, que a elas se submeta, atribuindo-lhes toda a beleza, sabedoria e poder. É o que está escrito na Bíblia: “Sede perfeitos como vosso Pai que está no céu é perfeito”.
  • 24. O Objetivo da Vida (2) Mais cedo ou mais tarde as pessoas inteligentes chegam a um estágio em que começam a indagar sobre o objetivo da vida, sobre o motivo de terem vindo à terra. Perguntam-se: “Por que motivo estou eu na terra? O que devo realizar na vida?”. Não há dúvida de que no momento que alguém faz essas perguntas, deu o primeiro passo no caminho da sabedoria. Antes, por não estar consciente do objetivo da sua vida, tudo que ele fazia não lhe trazia contentamento. Pode ter sido bem sucedido ou pode ter fracassado, mas continua a desejar que o objetivo de sua vida seja realizado. É por esta razão que muitas pessoas bem sucedidas em seus negócios, realizadas integralmente na sua profissão, instaladas confortavelmente na vida familiar, muito populares na sociedade, ainda continuam descontentes porque não conhecem o objetivo de suas vidas. Depois de conhecermos o objetivo de nossas vidas, podemos ser embargados por muitas coisas, os meios para realizar nosso objetivo podem nos faltar, mas apesar de tudo isso as condições tornar-se-ão favoráveis e avançaremos para o nosso objetivo. Quando uma pessoa já descobriu o objetivo de sua vida, não se importa mais se sua vida é difícil e quantos impedimentos terá que vencer. Desse momento em diante nada existe que não possa suportar, nenhum sacrifício que deixe de fazer, nada que não possa aguentar. Espera com paciência toda a vida e se não for bem sucedida nesta vida, esperará até mesmo pela vida futura, feliz porque está realizando o objetivo de sua vida. Quando uma pessoa sabe que: “Eu estou aqui por um determinado objetivo”, esse conhecimento lhe dá um grande poder de convicção. Contam uma história sobre o Profeta Maomé. Quando o Profeta que nasceu para realizar um objetivo especial na vida, sentiu uma espécie de inquietação, um descontentamento geral, pensou que o melhor seria retirar-se para a floresta, para a selva, para as montanhas e lá ficar sentado sozinho, entrar em contato com seu eu e descobrir porque existia nele esse desejo ardente de descobrir algo que não conhecia. Perguntou à esposa se ela permitiria que ele procurasse a solidão que sua alma tanto almejava. Ela concordou e ele foi para a floresta, lá permanecendo alguns dias. Quando as vibrações do seu corpo físico e da sua mente, que estavam sempre desordenadas e em tumulto no meio do mundo, se acalmaram, quando sua mente se aquietou e seu espírito se tranquilizou, quando o coração do Profeta sossegou, começou ele a se sentir ligado com toda a natureza daquele lugar, com o espaço, com o firmamento, com a terra. Parecia
  • 25. que tudo estava se comunicando com ele, como se a água e as nuvens falassem. Entrou em comunicação com o mundo inteiro, com a vida no seu todo. Naquele instante o Profeta ouviu as seguintes palavras: “Proclame alto o Nome do teu Senhor”. Essa é a lição do idealismo, que não consiste apenas em estar em contato com a natureza, consiste também em idealizar o Senhor. Existe uma grande desvantagem nos dias de hoje: quando as pessoas se tornam muito inteligentes perdem o idealismo. Se querem encontrar Deus querem encontrá-lo nas imagens. Muitos preferem meditar a adorar, a rezar. Desta forma tem havido sempre conflitos entre o intelectual e o idealista. Ensinaram ao Profeta que a primeira lição era idealizar o Senhor e quando o ideal que ele criou se tornou sua concepção própria de Deus, por meio dessa concepção Deus foi despertado dentro do Profeta. Ele começou a ouvir a voz que dizia: “Agora deves servir teu povo, deves despertar em teu povo o senso da religião, o ideal de Deus, o desejo da realização espiritual e o desejo de viver uma vida melhor”. O Profeta agora sabia que tinha chegado a sua vez de realizar todas as coisas que os Profetas anteriores tiveram que executar. Cada um de nós nasceu neste mundo para realizar um certo objetivo. Enquanto o homem não conhece esse objetivo é um ignorante do que é a vida. Não pode dizer que é um ser vivo. A uma máquina não é dada escolha e ela não pode encontrar seu objetivo na vida, mas o homem é responsável num grau muito elevado. Deixando de lado a fraqueza, o homem se entrega frequentemente a uma coisa que de outra maneira se recusaria aceitar. Essa fraqueza surge devido à falta de paciência, de tolerância, de autoconfiança e confiança em geral. Quem não confia na Providência, quem não consegue ter paciência, quem não é capaz de tolerar, aceita imediatamente tudo aquilo que lhe vem, não espera até o dia seguinte. Quem sabe se o objetivo de sua vida não se descortinaria diante dele se possuísse um poder maior de tolerância, mais auto-confiança e mais confiança na Providência? Quando o homem não possue nada disso, assemelha-se a uma máquina. Não está contente com o que a vida lhe dá, reclama o dia inteiro, vive confuso e, não obstante, age como um cavalo que não tem vontade de galopar mas assim mesmo se deixa atrelar à carruagem e tem que prosseguir. O primeiro conhecimento que deve ser adquirido é o conhecimento do objetivo da nossa vida. É lastimável que a educação como está sendo hoje ministrada dê muito pouca atenção ao objetivo da vida. As crianças, os jovens e os adultos passam pela vida labutando de manhã à noite, estudando e trabalhando, e no entanto não conhecem o objetivo que devem realizar. Entre mil pessoas talvez exista uma que seja exceção. As outras novecentas e noventa, quer queiram ou não, estão colocadas numa situação em que trabalham como máquina, uma máquina instalada num determinado lugar que lhe foi designado. De um total de cem pessoas talvez noventa e nove estão descontentes com o trabalho que executam, ou com o ambiente em que se encontram, ou porque têm idéia de que
  • 26. precisam trabalhar para seu sustento ou pela idéia de que devem juntar primeiro o dinheiro de que necessitam. Quando conseguirem os meios de poder fazer alguma coisa na vida, já desapareceu o desejo de realizar o que queriam. É um grande retrocesso o fato dos indivíduos muitas vezes não terem oportunidade de realizar o que desejam apesar do progresso da humanidade. Muitos jovens jamais pensaram nisso, mas dizem: “Devemos fazer este trabalho e isso é tudo”. Não têm tempo de pensar sobre o objetivo de suas vidas. É assim que centenas e milhares de vidas são desperdiçadas. Apesar de todo dinheiro por eles adquirido, seus corações não estão contentes, pois não é a riqueza que se pode obter que proporciona essa satisfação. Ouvindo o Profeta Maomé dizer que todas as coisas e seres foram criados para realizar um determinado objetivo, alguém perguntou-lhe: “Profeta, não consigo compreender o motivo dos mosquitos terem sido criados”, ao que ele respondeu: “Foram criados para que tu te levantes depressa à noite e te entregues às tuas orações”. Tudo é criado com um objetivo, para que possamos usar as coisas de acordo com o objetivo para o qual foram criadas. O mesmo acontece com as pessoas. Disse Sa’di que “Cada ser é criado com um objetivo e a luz desse objetivo está acesa em sua alma”. Assim como precisamos de ferreiros, ourives, fazendeiros, etc., também precisamos de filósofos, místicos e profetas para criar harmonia, como na música necessitamos de sustenidos e bemóis. Se não fosse isso não haveria beleza, porque a beleza é criada através da variedade. Quando olhamos a vida com a visão de um filósofo, vemos que cada pessoa é uma nota na sinfonia da vida, que todos nós somos músicos dessa sinfonia da vida, que cada um de nós contribuiu com a parte musical adequada. Se não soubermos tocar nossa parte na sinfonia da vida, como é natural é como se uma das quatro cordas do violino não estivesse afinada. Se as cordas não estiverem afinadas não poderão dar à música a ressonância que ela deve ter. Igualmente, cada um de nós deve contribuir com a parte com que veio ao mundo. Se não contribuirmos com aquilo a que fomos destinados fazer e, portanto, é a nossa contribuição, não estamos afinados com o nosso destino. Só chegaremos ao contentamento se tocarmos a parte que nos foi confiada na sinfonia da vida. Pode ser que muitas pessoas não pensem como eu, por exemplo, os que acreditam no pacifismo, no ideal de paz, que dirão: “Não é loucura ter deixado que um qualquer fizesse uma guerra?” Entretanto, tudo que se faz, embora pareça melhor ou pior, faz parte de alguma coisa no esquema da vida. Não temos o direito de condenar. O ideal para cada indivíduo é se tornar consciente do dever com o qual nasceu. Na realidade existem dois objetivos na vida: um é o objetivo menor, o outro o objetivo maior. Um é o objetivo preliminar e o outro o objetivo final. O objetivo preliminar da vida é um degrau para o objetivo final. Assim sendo, devemos primeiramente considerar o objetivo preliminar da vida.
  • 27. No Oriente existem várias histórias sobre sábios e santos que despertavam o homem para o objetivo de sua vida. Logo que o homem era despertado sua vida se modificava. Há um episódio na história da Índia que fala da vida de Shivaji. Havia um jovem ladrão que assaltava os viajantes que passavam pelo lugar onde vivia. Roubava tudo que podia. Um dia o jovem procurou um sábio antes do assalto, cumprimentou-o e lhe disse: “Sábio, quero vossa bênção e vossa ajuda nas minhas ocupações”. O sábio quis saber qual eram suas ocupações e o jovem respondeu: “Sou um ladrão sem importância”. O sábio falou: “Tens a minha bênção”. O ladrão ficou muito satisfeito e partiu. Teve um sucesso muito maior. Feliz com seu sucesso voltou à presença do sábio, cumprimentou-o tocando seus pés e lhe disse: “Que maravilhosa bênção! Fui tão bem sucedido!” O comentário do sábio foi o seguinte: “Ainda não estou satisfeito com o teu sucesso, quero que sejas ainda mais bem sucedido. Procura 3 ou 4 ladrões, junta-te a eles e continua com teu trabalho.” O ladrão juntou-se a 4 ou 5 homens e novamente teve grande sucesso. Procurou mais uma vez o sábio dizendo: “Peço a vossa bênção”. Respondeu o sábio: “Tu a tens, mas eu ainda não estou satisfeito. Quatro ladrões é um número pequeno. Deves formar um grupo de 20”. O jovem procurou 20 ladrões e por fim seu número aumentou para 100. O sábio então comentou. “Não estou satisfeito com o pequeno trabalho que fazes. Teu grupo se constitui de homens jovens e já é um pequeno exército. Devem fazer alguma coisa grandiosa. Porque não atacam as fortalezas dos Mongóis e os expulsam para que nosso povo possa reinar neste país?” Foi o que fez o jovem. Foi assim que aquele reino foi criado. O passo seguinte do ladrão seria formar um império reunindo todo o país, mas morreu. Se tivesse vivido, Shivaji (o nome do jovem ladrão), teria fundado um império. Ao ser procurado por aquele jovem o sábio poderia ter dito: “Estás fazendo uma coisa má, uma coisa terrível. Vá para uma fábrica e trabalhe, mas o sábio viu o que Shivaji seria capaz de fazer. O roubo era sua primeira lição ou o seu bê-á-bá, Precisava subir apenas poucos degraus para se tornar o defensor do seu país. O sábio compreendeu que ele seria um rei, que seria capaz de livrar seu povo dos Mongóis. Os outros ladrões não viram isso e nem aquele jovem pensava nessa perspectiva. Foi levado a esse empreendimento pelo sábio. Aquele sábio não empurrou o jovem para o roubo, preparou-o para uma grande tarefa. Por que razão no Oriente dá-se a maior importância a um mestre espiritual no caminho espiritual? Disse Hafiz como explicação: “Se teu mestre diz para borrifares teu tapete de orações com vinho, faça-o”. Um tapete de orações é um tapete sagrado, o vinho é considerado uma coisa nociva, mas Hafiz continuou: “Porque o conhecedor conhece melhor o caminho a ser seguido”. Por exemplo, se uma pessoa quer reunir uma fortuna, sua mente fica inteiramente absorvida nisso. Pode ser advertido: “Não faça isso, isso não é uma coisa boa, por que afinal o que é a riqueza? É irreal, desnecessária. Você deve ser uma pessoa devocional, espiritual”. A mente dessa pessoa passa a se fixar nesse outro objetivo, mas ela se sente infeliz porque não adquiriu o dinheiro que queria. Se
  • 28. alguém forçá-la espiritualmente com religião, devoção e preces, não a ajudará. Às vezes certas pessoas dão água a alguém ao invés de alimento e no lugar da água dão comida, o que não é nada bom. A espiritualidade é uma coisa que chega no devido tempo. O objetivo preliminar é a contribuição do homem ao mundo como primeiro passo antes do seu despertamento para a perfeição espiritual. Todos os grandes mestres da humanidade ensinaram esse objetivo preliminar da vida nas religiões que fundaram. Qualquer ensinamento dado por eles aos seus seguidores continha a mesma motivação: ajudar a realizar esse primeiro objetivo da vida. Por exemplo, quando Cristo chamou os pescadores e Ihes disse: “Sigam-me e eu os farei pescadores de homens” não disse que os tornaria mais espiritualizados. Era o primeiro passo a ser dado, Cristo queria que eles realizassem o primeiro objetivo da vida. O próximo objetivo era se tornarem mais espirituais. Para os mestres do conhecimento espiritual que encaram o assunto desta forma, o primeiro dever é mostrar aos homens como realizar o primeiro objetivo da vida. Depois da realização desse primeiro objetivo, mostram-lhes o segundo objetivo. Existem quatro caminhos diferentes que o homem pode tomar na vida: o primeiro é o caminho para obter benefícios materiais. O homem pode ganhar dinheiro por meio da sua profissão, ocupação, negócio ou indústria. Muitas coisas podem ser ditas a favor e contra esse ideal. Contra ele pode-se dizer que enquanto o homem trabalha amealhando riquezas, muitas vezes desvia-se da estrada certa, do pensamento e da consideração certos, que quando trabalha por dinheiro pode negligenciar com muita facilidade os direitos alheios. Pode ser dito a favor que afinal os que possuem fortuna são os que melhor podem usar o dinheiro que conseguiram amealhar em propósitos altruísticos. Todas as instituições filantrópicas, hospitais, escolas, colégios, são fundados por pessoas caritativas que deram generosas contribuições. Não há portanto nada de errado em ganhar dinheiro e devotar nossas energias e tempo a esse propósito, contanto que o objetivo seja bom e correto. O outro caminho é o do dever. Um indivíduo pensa que tem um dever a cumprir com a comunidade, com a cidade ou país. Faz um trabalho social, tenta fazer o bem aos outros, coisas que ele considera ser de seu dever. Talvez tenha um dever a cumprir com seu país, talvez tenha que cuidar da mãe e sacrificar a vida por ela, ou pela esposa e filhos. Há nisso um grande mérito. Um argumento contra isso, sem dúvida, é que muitas vezes a vida dessa pessoa fica estragada porque não tem oportunidade de fazer qualquer coisa que valha a pena no mundo. Entretanto, se não houvesse pessoas assim o mundo seria privado de amor e afeição. Se a esposa não possuísse um senso de dever para com o marido, nem o vizinho para com o amigo, estariam vivendo como criaturas pertencentes à criação inferior. O senso do dever torna o homem maior do que os outros seres. Os heróis que admiramos, que dão suas vidas pelos seus
  • 29. países, não estão fazendo uma coisa insignificante. Quando alguém dá a vida pelo amor ao dever, está praticando um ato grandioso. Aliás o dever é uma grande virtude. Durante a guerra de 1914 havia uma jovem senhora que andava muito aborrecida e em completa desarmonia com o esposo. Estava sempre na expectativa de uma separação. Quando o país convocou os homens para a guerra, o marido foi para o campo de batalha. Ele esperava que durante sua ausência a esposa pudesse talvez encontrar uma outra pessoa. Enquanto prosseguia a guerra, a esposa achou que já que o mando estava lutando deveria trabalhar como enfermeira. O marido foi ferido justamente perto do lugar onde ela trabalhava. Tinha perdido a visão e ela ficou perplexa quando constatou que era ela a enfermeira designada para tomar conta daquele ferido. Acabara de receber uma carta de um homem propondo-lhe casamento. Rasgou-a. Tinha mudado de idéia e pensou: “Agora que meu marido perdeu a visão, que está inutilizado, continuarei sua esposa e tomarei conta dele enquanto viver”. O dever, o senso do dever, é uma grande virtude. Quando aperfeiçoado e aprofundado no coração do homem, desperta-o para um maior e mais elevado estado de consciência. Foi deste modo que certos homens realizaram coisas de grande nobreza. Os grandes heróis levam uma vida inteiramente dedicada ao dever. O senso do dever vem do idealismo. Quanto maior o ideal-dever maior é o homem. De acordo com os Hindus, os que se dedicam ao dever são considerados religiosos, porque a palavra sânscrita “Dharma” significa religião e também dever. O terceiro caminho que escolhemos na vida é fazer do presente o melhor presente possível. É o ponto de vista de Omar Khayyám, que disse a alguém: “Beba o cálice da vida agora mesmo”. Há no seu livro “Rubayat” uma estrofe que diz: “Ó meu Bem-Amado, enchei o cálice que limpa o hoje das tristezas e medos futuros. Amanhã! Amanhã eu mesmo posso estar com sete mil anos de ontem!” É o mesmo ponto de vista de quem diz: “Se fui grande no passado, o que importa? O passado está esquecido. Quanto ao futuro, quem sabe o que ele trará? Ninguém conhece seu futuro. Façamos o melhor deste momento, vamos tornar nossa vida tão feliz quanto pudermos”. Não é um mau ponto de vista, é um ponto de vista filosófico. Os que aderem a esse ponto de vista são felizes e proporcionam felicidade aos outros.
  • 30. Não há dúvida que todos esses diferentes pontos de vista têm também um lado errado, mas se olharmos para o seu lado correto muito há a ser apreciado. Hoje as pessoas usam a seguinte frase: “Fulano é um camarada bom e alegre”. Essa frase é usada em canções e em diferentes ocasiões, uma demonstração da tendência da mente de apreciar e tentar tornar todos os instantes momentos felizes. É uma coisa muito difícil, muito difícil mesmo, e nem todos conseguem isso porque a vida tem muitos conflitos e inúmeros aborrecimentos. Temos que enfrentar muitas dificuldades na vida e manter um sorriso nos lábios não é façanha para qualquer um. Para continuar sorrindo a pessoa precisa ser ou muito tola e não sentir, ou não pensar em coisa alguma, fechar simplesmente tanto os olhos como o coração para o mundo, ou então precisa se elevar tanto como as almas mencionadas no milagre de Cristo caminhando sobre as águas. Há os que afundam e há os que nadam, e ainda outros que caminham sobre as águas. Os que se afogam na miséria da vida são os que não podem mais sair da miséria. Estão atados bem embaixo nas profundezas da vida, são os que não conseguem sair e ali ficam se sentindo miseráveis. São os que afundaram. Há outros que nadam. São os que lutam através das condições conflitantes da vida para que um dia possam alcançar a praia. Mas existem outros que caminham sobre a vida. Deles é a vida, simbolicamente representada pelo milagre de Cristo caminhando sobre as águas. É como viver no mundo e não pertencer ao mundo, é tocar o mundo e não ser por ele tocado, o que requer uma percepção clara da vida, uma inteligência acurada, uma compreensão perfeita, tudo isso aliado a uma grande coragem, força e bravura. Não quero dizer que o homem que faz o melhor de cada momento de sua vida seja igual ao que chamamos em geral de despreocupado, de homem simples. Esse vive num outro mundo, não está ciente das condições da vida, não despertou para as influências conflitantes da vida. Não é surpresa se é feliz, pois é a própria felicidade. Refiro-me aos que despertaram para as condições da vida, os ternos e sensíveis aos pensamentos e sentimentos do próximo. Para eles é muito difícil continuar a viver e ao mesmo tempo conservar o sorriso. Se um homem conseguiu isso certamente realizou uma grande façanha. O quarto caminho ou aspecto, é o dos que pensam: “O que afinal é a vida na terra? Não é para passar apenas poucos dias de qualquer maneira?” Os dias acabam, os meses e anos passam e o tempo se esvai. Chega-se ao fim da vida quando menos se espera e o passado se torna um sonho que tivemos à noite. Perguntem a um homem que vive há cem anos: “O que pensa da vida na terra?” e ele responderá: “É um sonho de uma noite, meu filho, nada mais que isso”. Se isso é tudo que existe na vida, os que consideram a vida assim devem compreender que deviam pensar na vida futura. Assim como existem alguns que pensam que “enquanto somos capazes de trabalhar devemos lutar para fazer provisões para nossa velhice e podermos viver com mais conforto”, há outros
  • 31. que pensam na vida futura e dizem: “A vida é curta, nada mais é que uma oportunidade. Devemos preparar alguma coisa para que mais tarde nos possa beneficiar”. Talvez existam alguns que tenham uma compreensão correta, en- quanto outros contam muito com certas coisas e têm uma concepção errada da vida futura. Entretanto, os que possuem sabedoria e acreditam que devem usar o tempo e a oportunidade que Ihes é dada nesta vida para que se preparem para a vida futura, terão realizado muita coisa. É algo que deve ser admirado. Diz-se que a terra, o céu e o espaço não acomodam quem não corresponde às exigências da vida, embora existam leis excepcionais para almas excepcionais, porque as vidas dos seres excepcionais não podem ser explicadas em palavras comuns. Pode-se perguntar qual será o futuro dos que não preencheram os requisitos da vida. Terão que voltar para aprender a lição mais uma vez? Todos nós temos que aprender nossa lição agora. A vida é vivida agora, suas exigências são apresentadas exatamente agora e devemos atendê-las já, agora. A todo tempo estamos sendo chamados para executar um determinado dever, preencher uma certa obrigação. A verdadeira religião é nos tornarmos conscientes disso e fazer tudo da maneira mais adequada e correta. Compreenderemos as exigências da vida se compreendermos melhor a vida. Alguns não atendem às exigências da vida porque não sabem o que a vida Ihes solicita. Outros não atendem às exigências da vida embora as conheçam. Quando as exigências da vida exterior são diferentes das exigências que a vida interior nos pede, devemos preencher as exigências da vida exterior sem negligenciar as exigências da vida interior, como está na Bíblia: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Devemos ser como a maré baixa e a maré alta. São expressões simbólicas. Uma determinada coisa é realizada uma vez por simpatia e outra vez por indiferença. Devemos enfrentar uma determinada situação interessando-nos por ela e uma outra situação nos tornando indiferentes a ela, deixando de nos importar com a situação. Se no mar tivesse sempre maré baixa e nunca maré alta, ou sempre maré alta e nunca maré baixa, o mar seria um mar morto. O mar vivo inala e exala. Assim, em tudo que fazemos na vida é preciso que sejamos capazes de enfrentar cada situação e cada acontecimento da maneira que eles exigem. São os seguintes os quatro caminhos diferentes que o homem toma para realizar o objetivo de sua vida: Primeiro, adquirindo riqueza; segundo, tendo consciência de seus deveres; terceiro, fazendo o melhor de cada momento da vida, quarto, preparando-se para o futuro. Todos esses quatros caminhos têm seus pontos favoráveis. Logo que a pessoa realiza o que tem que realizar não precisa mais culpar ninguém porque esse alguém tomou um outro caminho diferente para realizar o objetivo da sua vida. Quando compreendemos isso nos tornamos tolerantes.
  • 32. Agora chegamos ao último objetivo da vida, que é sempre um único e o mesmo objetivo, pois todo homem tem no fim que realizar o mesmo objetivo, qualquer que seja o caminho escolhido. Chegará a ele consciente ou inconscientemente, com facilidade ou dificuldade. Terá que realizar o objetivo: o caminho da realização espiritual. Pode-se indagar se uma pessoa que é materialista, que nunca pensa sobre espiritualismo, que se recusa a levar em consideração este assunto, chegará um dia a atingir a realização espiritual. A resposta é sim. Cada um, consciente ou inconscientemente, está lutando para chegar à realização espiritual. Às vezes uma pessoa não trilha o mesmo caminho que nós, às vezes seu ponto de vista e seus métodos são diferentes e algumas vezes a pessoa atinge a realização espiritual muito mais cedo do que outra. Pode alcançá-la num dia, enquanto uma outra luta toda a vida para atingir a realização espiritual e ainda nada conseguiu. O que determina essa realização? A evolução de uma determinada alma. Na Índia conta-se como uma pessoa foi despertada para a consciência espiritual depois de ter ouvido uma palavra do seu Guru. Essa palavra a inspirou instantaneamente e a pessoa atingiu a consciência mais elevada. Ouvimos também histórias no Oriente sobre pessoas que se dirigiram à floresta ou para as montanhas, que jejuaram dias e meses, que ficaram penduradas pelos pés, de cabeça para baixo, ou que ficaram em posição ereta anos e anos. Prova como isso é difícil para uma pessoa e muito fácil para outra. Cometemos hoje um grande erro considerando que a evolução de cada indivíduo deve ser igual. Existem grandes diferenças entre as pessoas: uma está rastejando, outra andando, uma correndo e uma outra voando e, no entanto, todas vivem sob o mesmo sol. No Oriente é costume os que aspiram chegar a um objetivo procurarem um mestre espiritual. Não empreendem a jornada espiritual por sua conta. Milhares de anos de experiência ensinaram que para trilhar o caminho espiritual é necessário ter um líder a quem se possa fazer confidências, depositar nossa confiança, seguindo-o até o fim. Não há dúvida que no Ocidente existe um despertar geral. Cada um deseja saber alguma coisa sobre o caminho espiritual, mas a dificuldade é que não se apegam a uma e mesma coisa, muitos vão primeiro a uma escola esotérica, depois a uma outra, e assim por diante. No fim aprenderam tanto coisa que não distinguem mais o que é verdadeiro e o que é falso, o que é certo e o que é errado. É o mesmo que ir a um restaurante e comer tanto que no fim não se consegue digerir a comida. Além disso, quando alguém aceita tudo que é falso e verdadeiro, não mais existe discriminação entre o falso e o verdadeiro. Para realizar o objetivo preliminar da nossa vida, precisamos encontrar o nosso ritmo natural. Adotam-se hoje métodos errados. As pessoas vão a um vidente e perguntam sobre o objetivo de suas vidas, porque ignoram-no. Acham que qualquer um pode Ihes dizer isso, exceto seu próprio espírito, sua alma.
  • 33. Perguntam aos outros sobre seus objetivos na vida porque não conseguem se afinar com o diapasão em que poderão sentir intuitivamente o motivo por que estão vivendo. Se uma pessoa disser à outra: “Estás aqui para seres um carpinteiro, um advogado ou um jurista”, não satisfaz suas exigências. Quem deve nos falar é o nosso próprio espírito. Devemos ter a necessária capacidade de nos acalmar, de afinar nosso espírito com a consciência universal, a fim de saber o objetivo da nossa vida. Logo que conhecermos esse objetivo, a melhor coisa a fazer é correr atrás dele, apesar de todas as dificuldades. Nada nos deve desencorajar, nada nos deve reter, logo que sabemos qual é o nosso objetivo na vida. Assim, devemos ir à procura do nosso objetivo, mesmo sacrificando tudo o mais, pois quando é grande nosso sacrifício no fim o que ganhamos com ele nos dá um poder maior, uma inspiração muito maior. Não tem importância se levantamos ou caímos, se somos bem sucedidos ou fracassamos, desde que conhecemos o objetivo de nossas vidas. Se falharmos 99 vezes, seremos bem sucedidos 100 vezes. Portanto, o último objetivo que a alma procura a todos os momentos de sua vida é o objetivo espiritual. Podeis perguntar como atingir esse objetivo. A resposta é que aquilo que estais procurando está dentro de vós. A maneira de proceder para atingir esse objetivo espiritual é em vez de procurá-lo fora de vós, deveis olhar para dentro de vós mesmos. É suspender ou interromper todos os vossos sentidos por alguns momentos, como a visão, a audição, o olfato, o tato, a fim de colocar um biombo diante da vida exterior. Pela concentração e desenvolvimento da qualidade meditativa, mais cedo ou mais tarde entrareis em contato com o vosso eu interior, que é mais comunicativo, que fala mais alto do que todos os ruídos deste mundo. Isso proporciona alegria, cria a paz e produz em vós o espírito da auto-suficiência, o espírito de independência, da verdadeira liberdade. Do momento que entrardes em contato com vosso eu, estareis em comunhão com Deus. Dessa maneira, se a comunicação com Deus for procurada corretamente, alcançaremos a espiritualidade.
  • 34. A Arte da Personalidade Muitas pessoas acreditam que a arte é inferior à natureza, o que não é exato. A arte completa a natureza. Existe algo de divino na arte, pois é o próprio Deus através do homem que completa a beleza da natureza chamada arte. Em outras palavras, a arte não é somente uma imitação da natureza, a arte é um melhoramento da natureza, quer na pintura, no desenho, na poesia ou na música. A maior de todas as artes porém é a arte da personalidade, que deve ser aprendida e praticada ao longo do caminho da vida. Não é preciso que cada indivíduo seja um pintor ou um arquiteto. O necessário é que aprenda a arte da personalidade. Certa vez uma pessoa aproximou-se de mim e me disse com grande orgulho e satisfação: “Fui criado pelos meus pais exatamente como uma planta na floresta”. Respondi-lhe: “Que pena. Se seus pais desejavam que você crescesse como cresce tudo na natureza, deveriam tê-lo mantido na floresta. É pena que você esteja no ambiente do mundo, porque o mundo é feito pela arte e para viver nele você precisa conhecer a arte da personalidade.” Poucos fazem distinção entre individualidade e personalidade. Individualidade é o que trazemos conosco ao nascer. Nascemos como uma entidade à parte, o que faz de nós indivíduos. Individualidade é a consciência da alma na sua unidade, apesar dos acessórios com que a alma ainda se identifica. Essa individualidade é vista na criança que diz: “Não quero este brinquedo, quero o outro”. Logo que a alma diz “Eu” torna-se consciente de uma individualidade, apesar de possuir diferentes órgãos no corpo e diferentes pensamentos que orientam esses órgãos. A tendência é atribuirmos a nós mesmos todas as diferentes partes, embora compreendamos que uma parte é uma parte, apesar de serem muitas as partes. Em outras palavras, apesar das partes serem compostas de muitos aspectos. Personalidade é um aperfeiçoamento da individualidade. Quando o indivíduo se converte numa pessoa, a beleza oculta na sua individualidade se desenvolve. O desenvolvimento da individualidade é que se chama personalidade. Individualidade é a natureza, ao passo que a personalidade é a arte. Personalidade é uma coisa que foi adquirida ou obtida, não veio conosco. Foi por isso que, antigamente, as pessoas tinham que aprender e praticar a arte da personalidade como parte de sua educação. Era essa a cultura dos tempos antigos. Hoje uma pessoa precisa passar por exames e quando obtém um diploma pensa que está segura pelo fato de tê-lo obtido, pensa que pode
  • 35. enfrentar o mundo e subir na vida. Mas essa qualificação externa que se chama diploma não é suficiente. O que tem importância é a qualificação interior, a cultura interior, que só pode ser obtida através do desenvolvimento da personalidade. Como se faz uso da personalidade? No comércio um vendedor faz sucesso usando seu poder magnético. Sua influência depende exclusivamente da sua personalidade. O que atrai o comprador é a sua personalidade, quer trabalhe numa loja ou se dedique a um outro tipo de negócio. É a personalidade do vendedor que chama a atenção e influencia o freguês a comprar, vender, negociar com ele. Quando não existe essa influência, o comprador não compra e não volta. Um estadista, um político, um professor, um procurador, um causídico, um advogado, todos precisam da personalidade. Um médico pode ser um grande médico, pode ser altamente qualificado, mas se sua personalidade não for agradável, se for um homem rude ou antipático, embora tenha muitos pacientes os remédios que receitar não farão com que o doente se sinta melhor. Sua personalidade pode até contribuir para que o doente se sinta melhor. Sua personalidade pode até contribuir para que o doente piore. Muitas vezes um médico por possuir uma personalidade extremamente simpática, compassiva, boas maneiras e sabedoria, cura um doente apenas com uma palavra de consolo, antes mesmo de lhe prescrever qualquer medicamento. Um procurador ou um advogado que não possui essas características pode desanimar um ciente numa só visita. Quando perdemos a coragem e a esperança, naturalmente há pouca chance de sucesso. O poder da mente é indispensável. Se o poder da mente de um advogado é forte ele pode ser bem sucedido. Em todos os passos da vida o que importa é a personalidade. Aquele que não tem a personalidade a seu favor, tem o mundo contra si. Existem quatro categorias de personalidade. A primeira personalidade se assemelha a uma tâmara, a segunda a uma noz, a terceira a uma romã e a quarta a uma uva. A personalidade que se assemelha à tâmara é macia por fora e dura por dentro. Logo que colocamos uma tâmara na boca sentimos o caroço entre os dentes e temos horror a ela. Na segunda categoria da personalidade que se assemelha à noz, a noz tem uma casca dura, difícil de ser aberta. À proporção que vamos conhecendo uma pessoa, é como se a casca que envolve a pessoa se quebrasse e encontrássemos dentro uma noz, macia. Na terceira personalidade, semelhante à romã, a romã é dura por fora e dura por dentro. Ela é dura sua pele é dura e a semente interna também é dura. Por fim vem a personalidade semelhante à uva, macia por fora e macia por dentro. Sempre encontramos na vida essas quatro categorias de pessoas. Aquele que possui uma personalidade macia por fora e dura por dentro, atrai imediatamente as pessoas, mas elas não ficam muito tempo perto dele. É por
  • 36. isso que as pessoas com este tipo de personalidade não fazem muitos amigos. Só podemos compreender uma pessoa com essa personalidade quando tocarmos seu ser interior. A personalidade dura por fora e dura por dentro fica isolada no mundo. O mundo não é lugar para quem tem esse tipo de personalidade. Todos querem ficar longe dessa pessoa e depois de algum tempo ela se vê em dificuldades. No entanto, quem tem uma personalidade semelhante à uva, macia por fora e macia por dentro, é naturalmente mais magnético. A uva é a mais atraente das frutas. Em cada estágio da evolução humana há um tipo diferente de magnetismo. Existem quatro aspectos diferentes de magnetismo: o magnetismo físico, o magnetismo intelectual, o magnetismo simpatético, muitas vezes chamado de magnetismo pessoal, e o magnetismo espiritual. Frescura, pureza, boa saúde, asseio, movimentos harmoniosos, aparência regular, tudo isso ajuda o magnetismo físico. Toda pessoa amorosa, afetuosa, bondosa e gentil, que desenvolveu uma natureza simpática, sempre atrairá involuntariamente, pois a simpatia é um dos maiores poderes. Esse magnetismo perdura. Em qualquer tipo de relacionamento, se não houver um elo de simpatia não haverá atração. Quando numa pessoa não existe o desenvolvimento da natureza simpática ou compassiva, há um bloqueio da mente e do corpo. No corpo físico existem alguns centros nervosos que são despertados pelo desenvolvimento da simpatia e da compaixão. Se não houver esse processo de desenvolvimento os centros ficam fechados. É por isso que um carniceiro raramente é uma pessoa intuitiva. A simpatia e a compaixão desenvolvem a vida dos centros mais refinados do homem e sua ausência afasta essa vida. O mesmo acontece com a mente. Quando o coração não é compassivo, falta alguma coisa na mentalidade do indivíduo. Muitas vezes uma pessoa é altamente qualificada, muito intelectual, sua aparência é imponente e, no entanto, por não ter sentimentos não possui magnetismo. Em muitos casos deixa de alcançar o sucesso por lhe faltar simpatia e compaixão. O quarto tipo de magnetismo é o magnetismo espiritual, que pode ser reconhecido na inocência de um indivíduo, na sua pureza e na sua simplicidade. Um espiritualista é considerado uma pessoa muito evoluída, mas na aparência o espiritualizado deve ser a mais simples das pessoas, a mais inocente. Ele não é ignorante, é menos complicado, sua perspectiva é mais ampla, seus ideais são altos, sua consciência é elevada e, contudo, ele é humilde e democrata na acepção da palavra. A idéia de democracia é mal compreendida atualmente por inúmeras pessoas. O princípio “Eu sou tão bom como você” é um princípio errado aplicado à democracia. Afasta a humildade, a gentileza e o elevado ideal de um indivíduo. Além disso, como é infantil pensar que a cânfora e o osso, o giz e o açúcar, são
  • 37. iguais! A idéia de todos serem iguais pode parecer boa, mas se afinarmos um piano com todas as notas no mesmo tom, nenhuma música poderá ser tocada. A concepção atual errada de democracia é o mesmo que afinar o piano na mesma tonalidade. A música da alma não poderá ser tocada e será extinta. Essa maneira de pensar sobre democracia é mais uma obsessão do que propriamente democracia. A verdadeira democracia é nos elevarmos o mais alto possível e apreciar o ideal que está diante de nós. Elevamo-nos assim a um ideal mais alto. Entretanto, há muitas pessoas que não apreciam um ideal elevado. Democracia significa ser igual, mas num plano mais elevado e não na ignorância. Trazendo uma pessoa que está num campo elevado para baixo, para a terra, falar-lhe de democracia, é uma forma errada de praticar a democracia. É esse o espírito dos revolucionários, das pessoas obcecadas por uma determinada idéia, que não se importam com mais nada na vida, como podemos ver em muitas partes do mundo. Por exemplo, foi o que aconteceu quando houve uma revolta contra a Igreja Católica. Mas foi realmente uma revolta contra a Igreja Católica? Não, a revolta não foi contra a Igreja, foi contra os ideais da Igreja. Todos os bons aspectos do Catolicismo foram negligenciados. Não foi uma revolta propriamente dita, foi uma revolta contra tudo que fosse ligado à Igreja. A partir daquela data o sentido e a profundidade da religião que existia no mundo ocidental parece ter diminuído e continua diminuindo cada vez mais. Apesar das inúmeras igrejas existentes, há menos idealismo. O ideal é de primordial importância para as almas, de uma maneira ou de outra, e o ideal está submergindo, pelo fato do povo ter se revoltado contra um ideal sem levar em consideração o que nele havia de bom. Quando o ideal-Deus é negligenciado, a tendência é negligenciar tudo que se relaciona com Deus. É por isso que com a obsessão da democracia a arte da personalidade está desaparecendo, deixando de ser exercida como uma forma de evolução espiritual da humanidade. Somente a perspectiva espiritual dá ao homem o verdadeiro sentido da democracia, que se aplica a ele próprio e a qualquer outro homem, seja ele seu inimigo, seu melhor amigo, seus pais, irmãos. O homem espiritual vê todas as pessoas como se fosse ele próprio. Vê refletidos nos seus semelhantes seu próprio espírito e sua própria alma. Essa é a verdadeira democracia, quando uma pessoa se vê quer numa pessoa elevada quer numa pessoa menos elevada. Esse é o ideal mais alto da realização espiritual. É o que faz do homem um verdadeiro democrata. Só por estágios pode uma pessoa se elevar a tal ideal. O primeiro estágio é por meio da gentileza. É por isso que na língua inglesa é usada a palavra “gentleman”, homem gentil. Porque a expressão homem gentil? Gentil porque esse homem deu o primeiro passo na arte da personalidade. Não é necessário que um homem seja rico, ocupe uma alta posição, ou seja de classe elevada. Apenas isso não faz de um homem um homem gentil. Logo que uma pessoa passa a refletir, a ter consideração, seu primeiro passo é tornar-se gentil. Assim
  • 38. que desenvolve a qualidade consideração deu o primeiro passo na direção da verdadeira evolução. A gentileza é o maior dos poderes. O poder da gentileza é como o poder da água: purificador. Se há uma rocha no caminho de uma corrente de água, a água circunda a rocha e não a destrói, porque a água é maleável. Assim é a pessoa gentil. A gentileza tudo purifica com o decorrer do tempo. Às vezes pensamos que todos tentam usar a consideração. No entanto, quando refletimos sobre duas coisas na nossa vida cotidiana – quando o silêncio é necessário e quando o falar é necessário – notamos que cometemos milhares de erros. Sempre falamos mais do que devíamos ou fazemos confidências a certas pessoas que seria melhor nunca termos feito, ou então falamos com alguém que não devíamos. Mais tarde, quando pensamos melhor, já é tarde. Às vezes, por estarmos apressados, com disposição para contrariar, ou num estado de profunda tristeza, dizemos uma palavra ofensiva intencionalmente e nos arrependemos. Nada lucramos dizendo essa palavra. Frequentemente a pessoa que fala sem pensar acha que isso é um passatempo e que se livrou de uma coisa que a oprimia, mas de qualquer forma sua atitude resultou em desarmonia. O coração humano é muito delicado e tem a fragilidade do vidro. Uma vez partido é muito difícil ser consertado. Qualquer ferida ou dano feito ao coração nunca é realmente reparado. O causador pode pedir desculpas e perdão, mas o que foi feito já está feito, o que foi dito já está dito. A palavra nunca se perde. Cada palavra dita por nós fica em algum lugar: no coração de quem a ouviu, no espaço, ou no chão. A palavra continua a existir e causa um resultado. Outrossim, se o homem aprender a ter consideração desenvolverá no seu caráter a dignidade. Quanto mais se pensa nos outros mais dignos nos tornamos, pois a dignidade brota da consideração. Assim sendo, frequentemente uma pessoa cria o hábito de falar demais. Perde tempo, seu próprio pensamento se perde e faz com que o tempo e o pensamento de uma outra pessoa também se percam. Na maior parte das vezes isso cria confusão. Nada pode ser realizado com argumentos inúteis. É interessante notar que é comum uma pessoa discutir porque lhe faltam certos conhecimentos. Continua a discutir porque não sabe. Quer descobrir tudo que não sabe por intermédio de uma outra pessoa. Aliás, como pode alguém compreender discutindo ou argumentando sobre o que só pode compreender através da própria sabedoria, através da sua intuição interior? Quase sempre é uma perda de tempo. Algumas pessoas têm verdadeira paixão pelo ato de falar. Para elas falar é um divertimento, um passatempo. Por fim ficam exaustas, nervosas e nada lucram. Às vezes parece difícil manter o silêncio, mas certamente isso traz grandes vantagens, pois pelo silêncio podemos evitar muitos contratempos e desarmonias. O silêncio é excelente tanto para o sábio como para o tolo. É bom para o sábio porque evita conversas desnecessárias, porque ele pode conservar
  • 39. seus preciosos pensamentos no seu íntimo com muito carinho e cultivar o pensamento como se cultiva uma planta. O tolo oculta sua estupidez quando se mantém em silêncio e quanto mais ficar calado melhor. O silêncio aumenta a dignidade do sábio e oculta a estupidez do tolo. Além disso, quanto mais o homem evolui mais descobre os graus diferentes das pessoas, justamente como se descobre o som das diferentes notas do piano. Uma nota é mais baixa, outra mais alta. Cada pessoa também tem um grau diferente de evolução. Quanto mais evoluímos mais constatamos que não podemos tratar todos da mesma maneira. Devemos falar com cada pessoa de maneira diferente. Na verdade devemos falar na própria linguagem da pessoa. Se usarmos uma linguagem que a pessoa não pode compreender, a linguagem não terá nenhum nexo para ela. Se a pessoa for pouco evoluída fará um mau uso do que lhe dissermos. Se for altamente evoluída e lhe dissermos alguma coisa que não atinja seu grau de evolução, seremos diminuídos aos seus olhos. E o que adiantaria? Por fim sempre descobrimos que a desarmonia é causada pelas palavras desnecessárias. De outro lado, se usarmos palavras sábias podemos dissolver as nuvens da desarmonia. Numa das minhas viagens encontrei um homem cuja evolução estava num grau muito nebuloso. Era um soldado que sempre vivera em alojamentos militares e tinha idéias fixas. Enquanto conversávamos vimos que pensávamos de maneira diferente sobre certo assunto. Com o intuito de manter a harmonia eu lhe disse: “Bem, somos irmãos”. Ele me olhou com raiva e respondeu: “Irmãos? Como ousa dizer isso?” Respondi-lhe então: “Esqueci-me, eu sou seu servo, senhor”. O soldado ficou satisfeitíssimo. Eu poderia ter argumentado, mas teria criado uma desarmonia sem necessidade. A tolice daquele homem crepitava como fogo. Joguei água no fogo e ele se extinguiu. Minha atitude não me diminuiu. Somos servos uns dos outros. O que eu disse contribuiu para que aquele homem se sentisse contente e feliz. Há uma história sobre um sábio, grande curador. Uma mulher procurou-o e perguntou-lhe: “O Senhor pode me dizer o que devo fazer? Tenho tido momentos muito difíceis com meu marido. Todos os dias há brigas em nossa casa”. O sábio respondeu: “É muito fácil”. Ela continuou falando: “Como ficaria grata se as brigas acabassem!” O sábio curador deu-lhe alguns doces e recomendou: “Dou- lhe estes losangos que são de açúcar. Coloque-os na boca quando seu marido chegar em casa e tudo correrá bem. Esses doces estão magnetizados”. Depois disso não houve mais nenhuma briga. Após dez dias os doces acabaram e ela voltou ao curador e lhe disse: “Daria tudo para que o Senhor me desse mais alguns doces. Seu efeito foi maravilhoso!” “Minha amiga” – disse o sábio – “deve ter compreendido depois de ter comido os doces durante dez dias, que seu marido, que trabalha o dia inteiro, fica nervoso, cansado, esgotado; chega em casa num estado deplorável como é natural e completamente desafinado. A senhora com suas discussões fazia com que ele ficasse ainda pior. Comendo os
  • 40. doces a senhora ficava calada. Não houve mais motivo para discussões e seu lar se tornou mais harmonioso. Que isto lhe sirva de lição: o silêncio é a chave da harmonia”.
  • 41. O Desenvolvimento da Personalidade Qualquer esforço em prol do desenvolvimento da personalidade ou da formação do caráter não deve ser feito com o intuito de provar que se é superior aos demais e sim para que nos tornemos mais agradáveis às pessoas à nossa volta e com as quais entramos em contato. A moral do Sufismo não é somente a conciliação, a conciliação é a marca do Sufi. A atitude conciliatória não se aprende e nem se pratica facilmente, pois requer boa-vontade e sabedoria. O talento do diplomata está em alcançar os resultados desejados de comum acordo com as partes envolvidas. Desentendimento é uma coisa fácil. Entre a criação inferior vemos com frequência o desentendimento. O que é difícil é o entendimento, pois requer uma perspectiva mais ampla, que é o verdadeiro sinal da espiritualidade. A estreiteza da perspectiva torna curta a visão do homem. Quem tem uma perspectiva estreita não pode concordar facilmente com os outros. Existe sempre um ponto de encontro entre duas pessoas, embora seus pensamentos sejam diferentes. Esse ponto de encontro, contudo, pode estar muito distante e quando isso acontece a pessoa nem sempre está disposta a se esforçar para ir até onde se encontra o entendimento. Isso acontece com muita frequência devido à falta de paciência das pessoas. O que em geral acontece é que cada um quer que o outro venha ao seu encontro no lugar em que se encontra e não há interesse de nenhuma das partes em sair do lugar onde está. Isso não significa que para se tornar um verdadeiro Sufi um indivíduo precisa abandonar suas próprias idéias e concordar com todos. Não há vantagem em sermos sempre condescendentes com cada pensamento vindo da parte dos outros, nem apagar dos nossos corações nossas idéias. Isso não é conciliação. Quem é capaz de ouvir outra pessoa tem o poder de fazer com que os outros o ouçam e concordem com ele. Com essa maneira de agir tal pessoa sai realmente lucrando apesar do prejuízo aparente que pode ocorrer. Quando uma pessoa pode ver as coisas tanto pelo seu ponto de vista como pelo ponto de vista alheio, adquiriu uma plenitude de visão e uma clara introspecção. Por assim dizer tal pessoa vê com seus olhos e também com os olhos dos outros. Indubitavelmente a fricção produz a luz, mas luz é uma concordância entre os átomos. Duas pessoas têm suas próprias idéias e argumentos, mas isso pode ser um estímulo para o pensamento, não sendo uma coisa tão importante assim, porém se uma pessoa argumenta pelo amor ao argumento, o argumento passa