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HAZRAT INAYAT KHAN
A MENSAGEM
SUFI-III
A Formação do Caráter
A Arte da Personalidade
Purificação Mental
UNIVERSALISMO
Sumário
O Mensageiro
Que é um Sufi
O Emblema Sufi
O Objetivo do Movimento Sufi
A Tradição do Sufismo
Mensagem Sufi
Máximas Sufis
Característicos do Sufi
Pensamentos do Sufi
Prefácio
CAPÍTULO 1 – FORMAÇÃO DO CARÁTER
I – O Poder da Vontade. O Verdadeiro Eu e o Falso Eu
II – Como Encarar o Mundo. A Vida é uma Sinfonia
III – Autocontrole
IV – Relacionamento com o Próximo
V – Sutileza
VI – Pessimismo – Otimismo
VII – Inquietação. Discrição. Tranquilidade
VIII – Curiosidade
IX – Maledicência
X – Generosidade
CAPÍTULO 2 – A ARTE DA PERSONALIDADE
I – Dançar na Corte de Indra
II – Gratidão
III – Impulsividade. Delicadeza
IV – Persuasão
V – Vaidade
VI – Dignidade
VII – A Palavra
VIII – Economia Espiritual
IX – Justiça
X – Refinamento Interior
XI – Harmonia e Largueza de Vistas
CAPÍTULO 3 – A PURIFICAÇÃO MENTAL
I – A Purificação Mental
II – A Mente Pura
III – Desaprender
IV – Distinção entre o Sutil e o Grosseiro
V – Maestria ou Arte do Aperfeiçoamento
VI – O Controle do Corpo
VII – O Controle da Mente
VIII – A Força do Pensamento
IX – Concentração
X – Vontade
XI – Relax Místico (1)
XII – Relax Místico (2)
XIII – Magnetismo
XIV – O Poder Interior
XV – O Segredo da Respiração
XVI – O Mistério do Sono
XVII – O Silêncio
XVIII – Sonhos e Revelações
XIX – Introspecção ou Visão Interior (1)
XX – Introspecção ou Visão Interior (2)
XXI – A Expansão da Consciência
O Mensageiro
Pir-O-Murshid Inayat Khan, o iniciador do Movimento Sufi, e fundador da
respectiva Ordem, nasceu em Baroda, Índia do Sul, a 5 de julho de 1882. Suas
qualidades excepcionais, talentos artísticos e atitudes espirituais eram evidentes
desde os primeiros anos de sua mocidade. Seus poemas são inspirados e tocam
ao sublime. Músico, tornou-se famoso em toda a Índia, tanto como compositor
quanto como cantor, e foi honrado pelos potentados com títulos, jóias e dinheiro.
Estudou música, poesia, filosofia, religião comparada e misticismo com os
maiores mestres da sua terra, e então, sentindo comandá-lo, no seu íntimo, a
força impulsiva do Divino, correspondeu à exortação do seu Senhor, “Na verdade
tu és abençoado por Allah, o mais Misericordioso e Compassivo Deus; segue
meu Filho, junta o Oriente com o Ocidente, dá ao mundo a Divina Mensagem de
Amor, Harmonia e Beleza”.
Pir-O-Murshid Inayat Khan, alma verdadeiramente iluminada e mística, deixou a
sua terra natal em 1910, e viajou pela Europa e Estados Unidos da América,
recebendo constantemente a Divina Inspiração e Revelação, que ele
interpretava em linguagem humana e ofertava ao mundo. Os seus ensinamentos
incorporam a riqueza do saber que tem sido entesourado no Oriente durante
séculos, satisfazem a fome espiritual de toda alma e formam um treino seguro e
sistemático a respeito do desenvolvimento da consciência no rumo dessa
compreensão da Presença de Deus, que é a meta da humanidade.
Pir-O-Murshid Inayat Khan fundou e organizou o Movimento Sufi e deu-lhe
completa intuição em todos os seus cinco ramos de atividade. Depois,
conhecendo que a sua Missão tinha sido cumprida, obedeceu ao Chamado de
Retorno e voltou para a Índia, no fim de 1926.
Depois de fazer uma série de conferências na Universidade de Delhi, capital da
Índia Inglesa, e de ser reconhecido pelo Chefe dos Sufis na Índia, Shaikh Nizami
como seu Mestre, de todos os Sufis, conheceu que a tarefa da sua vida estava
completa. Mais tarde, como predissera, passou alguns dias no estado de êxtase,
conhecido como Samadhi e finalmente deixou o seu corpo físico a 5 de fevereiro
de 1927. Seus restos mortais jazem numa tumba entre dois Santos Sufis, em
Delhi.
Que é um Sufi?
Que é um Sufi? – É aquele que não se separa dos outros pela opinião ou dogma
e que compreende que o coração é o Sacrário de Deus.
Que deseja ele? – Remover o falso eu e descobrir dentro dele Deus.
Que ensina ele? – Felicidade.
Que procura ele? – Iluminação.
Que enxerga ele? – Harmonia.
Que outorga ele? – Amor a todas as coisas criadas.
Que obtém ele? – Uma força maior do amor.
Que perde ele? – O egoísmo.
Que acha ele? – Deus.
O Emblema Sufi
O Emblema do Movimento Sufi – um coração alado – simboliza os seus ideais.
O coração é tomado em ambos os sentidos, o celeste e o terreno. Como o centro
do ser de uma pessoa, é um receptáculo na terra, do Espírito Divino, e se eleva
ao Reino do Céu quando corresponde ao Espírito de Deus, que eternamente
procura guiar a humanidade. A elevação do coração é indicada pelas asas
abertas, e estas representam, respectivamente, desprendimento e
independência; desprendimento dos gozos mundanos e da arbitrária opinião, e
independência na consciência do Amor, da Sabedoria e do Poder de Deus.
O Crescente no coração simboliza correspondência; é o coração
correspondendo ao Espírito de Deus, que se levanta. O Crescente é o símbolo
da correspondência, porque vai ficando mais cheio, correspondendo mais e mais
ao sol. A luz, que se vê na lua crescente, é a luz do sol, e, aumentando
correspondentemente, se torna ela cheia da luz do sol. Semelhantemente, a
alma nobilitada sempre se torna uma expressão mais plena das qualidades
divinas.
A Estrela no centro do Coração representa a centelha Divina, que se reflete no
coração humano com amor, e, pela virtude do sopro Divino, pode ser soprada
até que se levante uma chama para iluminar o caminho da vida de uma pessoa.
O Objetivo do Movimento Sufi
O objetivo do Movimento Sufi é trabalhar em prol da unidade. Seu objetivo
principal é atrair a humanidade, hoje dividida em tantos setores diferentes, para
que os homens se aproximem cada vez mais e compreendam mais
profundamente a vida. É uma preparação para um serviço de âmbito mundial,
usando três caminhos principais: um dos caminhos é a compreensão filosófica
da vida, outro é estabelecer uma fraternidade entre raças, nações e crenças, e
o terceiro caminho é satisfazer a mais premente necessidade do mundo, a
religião para os dias atuais. Sua finalidade é dar à humanidade aquela religião
natural, que sempre foi a religião dela: respeitar todas as crenças, todas as
escrituras e todos os mestres. A Mensagem Sufi é um eco da eterna mensagem
divina, que sempre foi transmitida e sempre será dada ao mundo para iluminar
a humanidade. Não é uma nova religião, é a mesma mensagem dada à
humanidade. É a continuação da mesma religião antiga, que sempre existiu e
sempre existirá, uma religião que pertence a todos os mestres e a todas as
escrituras. É a continuação de todas as grandes religiões que existiram no
mundo em épocas diferentes e é uma unificação de todas elas, o que constitui e
constituiu sempre o desejo de todos os profetas.
O Movimento Sufi é composto de pessoas que possuem o mesmo ideal de servir
a Deus e à humanidade, ideal esse que impele os Sufis a devotar uma parte, ou
a vida inteira, ao serviço da humanidade, levando-a ao caminho da Verdade. O
Movimento Sufi é formado de grupos, cujos membros pertencem a todas as
religiões e, portanto, professam religiões diferentes. Todos são benvindos ao
Movimento Sufi, quer sejam Cristãos, Budistas, Parsis, Muçulmanos, etc. Não se
indaga sobre a fé ou crença de ninguém. Cada um pode continuar a frequentar
a sua igreja, a ter sua religião ou credo. Não se obriga ninguém a acreditar em
um credo ou dogma em particular. Há liberdade de pensamento. É dada uma
orientação pessoal para trilhar o caminho, quer sobre os problemas da vida
exterior, quer sobre os problemas da vida interior.
Os que fazem parte da escola esotérica do Movimento Sufi recebem, além da
orientação pessoal, ensinamentos que são transmitidos somente àqueles que
estão preparados para recebê-los. Há sutilezas de idéias, de idéias espirituais,
morais ou filosóficas, que não podem ser transmitidas imediatamente a qualquer
pessoa, mas que são transmitidas gradativamente àqueles que se mostram
suficientemente compenetrados para enveredar no caminho da Verdade.
Entretanto, todos aqueles que desejarem pesquisar a Verdade devem se lembrar
de uma coisa: o primeiro passo no caminho da Verdade é ser verdadeiro para
consigo mesmo.
O culto do Movimento Sufi é chamado “Adoração Universal”, porque nesse culto
são reverenciados todos os cultos: do Cristão, do Muçulmano, do Hebreu, do
Zoroastriano, do Budista, do Hindu. Assim, pois, quem quer a bênção de Jesus
Cristo receberá essa bênção do altar, os que procuram a bênção de Moisés
receberão a sua bênção, os que desejam a bênção de Buda também a recebem
de Buda, e assim sucessivamente, mas aqueles que procuram a bênção de
todos os grandes Profetas que vieram ao mundo em épocas diferentes, esses
recebem uma bênção global, a bênção de todos os Profetas.
O Movimento Sufi não interfere no ideal de ninguém nem na devoção que cada
um tem ao seu Mestre. Seria isso um absurdo tão grande como se pensássemos
que uma criança pode amar mais a mãe de uma outra criança do que a sua
própria mãe. Tem alguém o direito de comparar e colocar em determinado lugar
os grandes Mestres ou as Escrituras? Ninguém. Onde podemos colocar o nosso
ideal é na devoção de nosso coração ao ideal que adoramos e isso é assunto
que só a nós diz respeito. Ninguém pode interferir.
Certa vez algumas meninas brincavam e diziam: “Minha mãe é a melhor das
mães”, ao que outras retrucavam: “Não, a minha mãe é a melhor”. Todas
apresentavam argumentos, mas uma delas, que tinha mais sabedoria do que as
outras, disse: “Não é nada disso, o que é adorável é a mãe, seja ela a sua mãe
ou a minha mãe”.
Interfere o Movimento Sufi na devoção das pessoas aos seus Mestres? Nunca,
mas convida as almas a ver que a fonte e a meta de todas as sabedorias é uma
só, e que todas as bênçãos que as almas almejam vêm da mesma fonte, pois a
verdade é que existe uma só e única fonte.
Na “Adoração Universal” os Sufis colocam no altar as Escrituras de todas as
religiões enumeradas acima e colocam também velas representando essas
religiões. As diversas velas acesas significam nossa adesão aos diferentes
Mestres, religiões e escrituras, que ensinaram que existe somente uma luz,
embora existam muitas lâmpadas. Não são as lâmpadas que devem entrar
primeiramente na mente e sim a luz. É essa luz que deve ser levada em primeiro
lugar ao coração.
Jesus Cristo trouxe ao mundo o ensinamento da religião da unidade. Os
ensinamentos de Moisés e os esforços de Maomé tiveram o mesmo objetivo.
Tudo que Buda ensinou, o que Krishna pregou, pode ser resumido no seguinte:
existe uma só luz, que é a luz divina, e a direção apontada por essa luz é o
caminho que deve ser trilhado pela humanidade.
Embora o ideal Sufi seja expresso de muitas maneiras, os Sufis adoram também
o ideal do “sem forma”. A forma serve para ajudar os que precisam ver a forma,
pois nossa educação é baseada realmente em nomes e formas. Se não
existissem nomes e formas, não teríamos aprendido a conhecer as coisas, mas
a finalidade da forma é apenas uma questão do que está atrás da forma. É
sempre a mesma e única verdade que existe atrás de todas as religiões.
Portanto, o cerimonial do culto Sufi não deixa também de ser um ensinamento,
mas todo Sufi é livre de usar ou não usar uma forma. Um Sufi não fica limitado
a forma alguma. As formas são usadas pelo Sufi, mas as formas não o
aprisionam.
No Movimento Sufi não existe sacerdócio no sentido comum da palavra. O
sacerdócio é apenas para o cerimonial e para preencher as funções que um
sacerdote sempre exerce na vida cotidiana. Os que recebem as ordens no
Movimento Sufi são chamados “Sirajs” e “Cherags”. Não há distinção entre o
elemento masculino e feminino. A alma que se mostrar digna será ordenada.
Constitui isso um exemplo para o mundo, mostrando que em todos os lugares –
na igreja, na escola, no Parlamento ou na corte – a mulher e o homem juntos é
que contribuem para uma evolução completa. O Sufi é ao mesmo tempo um
sacerdote, um pregador, um mestre e um aluno de todas as almas que encontra
pelo mundo.
As preces Sufi “Saum” e “Salat” não são preces feitas pelo homem. São preces
enviadas do Alto, foram transmitidas da mesma forma que, em cada período de
reconstrução espiritual da humanidade, foram transmitidas as demais preces.
Essas preces têm poder e trazem bênçãos, especialmente para aqueles que
crêem.
O que representa uma prece verdadeira? Louvor a Deus. Qual é o significado da
palavra louvor? Apreço, abrir o coração cada vez mais à beleza divina
representada na manifestação. Nunca seremos bastante gratos. Devemos
ensinar às crianças e aos nossos empregados a ter apreço, não para nosso
próprio benefício, mas para que eles se beneficiem do ensinamento de que
devem dar valor e apreciar as coisas. Se isso não Ihes for ensinado, privá-lo-
emos de uma grande virtude, pois a alegria e a felicidade estão no apreço a
determinadas coisas ou certas condições. A prece treina a alma para dar maior
apreço à bondade de Deus.
A prece pode ser feita em silêncio, mas como a natureza de sensação é
psicológica, se recitarmos as palavras da prece em voz alta faremos com que
elas penetrem no “Akasha” do corpo, a parte etérea do corpo, e atinjam o plano
interior do nosso ser. Assim sendo, as preces repetidas em voz alta têm sobre a
alma um efeito maior do que uma prece recitada em silêncio. A prece é dada ao
homem para que se beneficie dela e não para beneficiar Deus.
A ação da prece também é psicológica, porque produz em cada átomo do nosso
corpo, imagens do pensamento que está atrás da prece. Cada átomo do corpo
reza, até as células do sangue oram. Todo ser do homem se transforma numa
prece. Assim, os movimentos que acompanham as preces têm uma ação
psicológica. A cada movimento que fazemos ao dizer as preces, segue-se uma
espécie de projeção, que fica impressa em cada átomo do nosso corpo. Nossa
circulação é afetada e todo nosso ser é afetado pela circulação, até a nossa pele.
A Tradição do Sufismo
Pir-O-Murshid Inayat Khan definiu o Sufismo como a filosofia do Amor, da
Harmonia e da Beleza. É um reconhecido caminho místico da devoção, tem
existido no Oriente há mais de um milhar de anos, mas a sua tradição pode ser
rastreada pelo menos até o tempo de Abraão, o pai de quatro grandes religiões,
e que foi ele mesmo iniciado no antigo culto religioso do Egito. A Confraria dos
Essêneos, existente ao tempo de Jesus, era indubitavelmente Sufi. No sentido
verdadeiro da palavra, o Sufismo tem existido desde o nascimento da raça
humana e todos os grandes Mensageiros, Profetas, Santos e Mestres hão sido
Sufis. Neste aspecto ideal o Senhor Buda foi mais um Sufi do que um Budista,
justamente como o Senhor Jesus foi um Sufi antes que um Cristão, porque
ambos tornaram realidade a bênção da Consciência de Deus e apontaram o
caminho dela para os outros seguirem. No seu mais profundo aspecto, o Sufismo
corresponde àquela Companhia de todas as almas iluminadas, que formam a
corporação do Mestre, o Espírito de Guia, a que se referem os Místicos Cristãos
como a Igreja Oculta, iluminada pela Luz de Cristo, que governa e dirige todas
as formas exteriores de religião. Cada época do mundo tem visto almas
iluminadas, e assim como é impossível limitar a sabedoria a nenhum período,
lugar ou povo, assim também é impossível datar ou localizar a origem do
Sufismo.
Mensagem Sufi
A Mensagem de Deus tem sido enviada à terra aonde quer que o clamor da
humanidade chegue a um certo ponto, e tem sido outorgada numa forma
apropriada às necessidades do tempo; mas, em essência, é a mesma
eternamente. “Deus fala a seus filhos através dos lábios do homem”. Seus
Mensageiros Divinos têm sido muitos, e incluem Rama, que trouxe a Mensagem
da Sabedoria; Buda com a Mensagem da Compaixão; Zoroastro deu a
Mensagem da Pureza; Moisés, a Mensagem da Lei; Cristo foi portador da
Mensagem do Sacrifício de Si Mesmo, e Maomé deu a Mensagem da Unidade.
A Mensagem da Verdade Divina surgiu para o Mundo Ocidental em 1910 com
Pir-O-Murshid Inayat Khan. Ele incorporou numa forma moderna e universal a
Essência da Verdade e Sabedoria dos Místicos Sufis do Oriente, e profetizou
que o Sufismo se tornaria a religião e Filosofia das futuras gerações. Em si
mesmo, o Sufismo não é um culto novo, posto que sua clara exposição da
Verdade Divina e da natureza imortal do homem constitui uma Revelação para
o mundo.
A mensagem Sufi é a resposta Divina ao clamor humano da hora presente por
Paz, Amor e Felicidade, e estes ele os dá pela concepção de Deus imanente,
não distante, mas presente dentro do coração de cada indivíduo.
Não traz novas teorias, ou doutrinas, para se adicionarem àquelas já existentes,
que atrapalham a mente humana. O de que o mundo precisa hoje é a mensagem
de Amor, Harmonia e Beleza, cuja ausência é a única tragédia da vida. A
Mensagem Sufi não dá uma nova lei, mas desperta na humanidade o espírito de
fraternidade, com tolerância da parte de cada um para com a religião do outro,
com perdão de cada um para a falta do outro; ensina a plenitude de pensamento
e a consideração, de maneira a criar e manter a harmonia na Vida. Ensina a
servir e ser útil, o que pode, somente, fazer frutífera a vida no mundo, e em que
reside a satisfação de cada alma.
O Movimento Sufi tem crescido rapidamente durante os ultimas anos, sendo hoje
uma organização internacional com a sua sede em Genebra.
Máximas Sufis
Espiritualidade quer dizer coração afinado; não podemos obtê-la nem por
estudo nem por devoção.
Uma perda mundana por vezes se torna um ganho espiritual.
O caminho do Sufi é gozar a vida, e no entanto manter-se acima dela; viver no
mundo, e não se deixar ganhar por ele.
Aprender a lição de como viver é mais importante do que todo e qualquer treino
psíquico, ou de ocultismo.
A Sabedoria não está nas palavras, mas na compreensão.
Uma Alma é tão grande quanto o círculo da sua influência.
De entre as conchas de um coração partido emerge a alma rediviva.
Deus fala ao profeta na sua língua Divina e o profeta interpreta-o na linguagem
do homem.
A alma de Cristo é a luz do Universo.
O que nos faz felizes, ou infelizes, não é nossa situação na vida, mas a nossa
atitude para com a vida.
A felicidade é nosso direito inato; cada alma procura a felicidade, finalmente
descobre que não existe em parte alguma felicidade exceto em Deus.
Quanto mais temos em vista os sentimentos dos outros, mais harmonia e
felicidade podemos criar.
Para uma alma vigilante, o Dia do Juízo não vem depois da morte, mas hoje
mesmo.
Nas esferas da consciência, a alma do homem e o espírito de Deus se
encontram e se tornam um.
A alma Iluminada encontra seu caminho nas trevas, tanto no interior como fora
de si mesma.
A vida é a principal coisa a considerar, e a vida verdadeira é a vida interior, a
exata compreensão de Deus.
Fazer de Deus uma realidade é o verdadeiro objeto da adoração.
A alma chega a um estado de realização onde a Vida toda se torna uma visão
sublime da Imanência de Deus.
Na verdade, aquele que busca o mundo herdará o mundo, mas a alma que
procura Deus alcançará a Presença de Deus.
“A verdadeira espiritualidade não é necessariamente uma fé, ou crença, fixa – é
o enobrecimento da alma pelo elevar-se acima das barreiras da vida material”.
Caraterísticos do Sufi
– Qual é a religião do Sufi? – A vida natural.
– Qual é a maneira do Sufi? – A simplicidade.
– Qual é a meta do Sufi? – A exata compreensão de si mesmo.
– Qual é o caminho do Sufi? – A amizade.
– Qual é a arte do Sufi? – A humildade.
– Qual é o condão do Sufi? – A personalidade.
– Qual é a moral do Sufi? – A beneficência.
– Qual é a atitude do Sufi? – O perdão.
– Qual é o ideal do Sufi? – O homem.
– Qual é do Sufi o bem-amado? – Deus.
Pensamentos do Sufi
1. Existe um Deus, o Eterno, o Ser único; ninguém existe senão Ele.
2. Existe Um Mestre, o Espírito-Guia de todas as almas, que permanentemente
conduz os que o seguem para a Luz.
3. Existe um livro santo, o sagrado manuscrito da natureza, a única escritura
que pode iluminar o leitor.
4. Existe uma religião, o indesviável progresso na direção retilínea para o ideal,
que preenche o objetivo da existência de toda alma.
5. Existe uma lei, a lei da reciprocidade, que pode ser observada por uma
consciência sem egoísmo conjuntamente com um senso de vigilante justiça.
6. Existe uma fraternidade, a fraternidade humana, que une os filhos da terra,
indiscriminadamente, de Deus, na Paternidade.
7. Existe uma moral, o amor que rebenta da negação do egoísmo, e floresce em
obras de beneficência.
8. Existe um objeto de louvor, a beleza, que levanta o coração dos seus
adoradores através de todos os aspectos, do Visto, para o Não-visto.
9. Existe uma verdade, o verdadeiro conhecimento da nossa entidade, interna e
externa, o que é a essência da sabedoria.
10. Existe um caminho, o aniquilamento do falso eu no real, que levanta o mortal
para a imortalidade, na qual reside toda a perfeição.
Prefácio
Assim como a natureza na sua totalidade foi criada por Deus, assim a natureza
de cada um é criada por ele mesmo (“Gâyan”).
Os Hindus chamaram a natureza manifestada “O Sonho de Brahma”. Que é
sonho?
No sonho, o pensamento e o sentimento manifestam-se inteiramente; eles
atingem a sua plenitude.
Assim, a natureza do homem é a manifestação do próprio pensamento e
sentimento como a sua fisionomia é a imagem desse pensamento.
Nela se refletem as impressões que ele recolhe. Desde as épocas mais remotas
e, durante toda a vida, cada indivíduo forma sua natureza pelas impressões
recebidas, tornando-se elas seus atributos e suas qualidades. “A única coisa que
é criada através da vida é a natureza do indivíduo” (“Gâyan”).
O homem pode criar sua natureza tão bela quanto ele queira.
“A personalidade encantadora é uma magnífica obra de arte com vida!”
(“Gâyan”). “A personalidade encantadora é grande riqueza!” (“Nirtan”). Esse é o
tesouro que o homem “acumula no céu”, como disse Cristo. É com isso que se
começa a alcançar o reino dos céus.
“A arte da personalidade torna o homem capaz, não somente de se satisfazer
como também de agradar a Deus” (A arte da personalidade).
CAPÍTULO 1
Formação do Caráter
I
O PODER DA VONTADE – O VERDADEIRO
EU E O FALSO EU
A força de vontade exerce grande influência na formação do caráter. Ela se torna
fraca quando alguém cede a qualquer tendência, inclinação ou capricho que
tenha, e, quando se combate qualquer tendência, inclinação ou capricho, se
aprende a lutar contra si mesmo, desenvolvendo assim a força de vontade.
Quando as tendências, inclinações e caprichos de uma pessoa sobrepujam a
força de vontade, ela tem na vida a sensação dos diversos inimigos que existem
em si mesma e encontra dificuldade em combatê-los. Pois tendências,
inclinações e caprichos, quando se tornam poderosos, impedem a força de
vontade de agir contra eles. Se existe alguma coisa a que se pode chamar de
auto-abnegação, é a prática de exercitar a força de vontade e, assim fazendo,
adquire-se com o tempo uma força que pode ser chamada autocontrole.
Em pequenos detalhes da vida diária, despreza-se essa consideração,
pensando-se: “estas são minhas tendências, minhas inclinações, meus
caprichos e, respeitando-os, respeito a mim mesmo; considerando-os, con-
sidero a mim próprio”. Esquecemos, porém, que aquilo que se chama “meus,
minhas”, não se relaciona a mim, mas à minha vontade. Assim no Padre Nosso
cristão está dito: “Seja feita a Tua Vontade”. Tua Vontade, nesse caso, significa
a Vontade de Deus, atuando em mim, ou, em outras palavras: seja feita a minha
vontade que é a Tua Vontade, a Vontade de Deus. É essa ilusão de confundir o
que possuímos com o verdadeiro ser, que cria todas as outras ilusões e impede
o homem de alcançar a auto-realização.
A vida é uma luta contínua. O homem luta com coisas alheias ao seu espírito,
dando assim campo livre aos inimigos que existem no próprio ser. Por
consequência, a coisa mais necessária na vida, é dar uma trégua às
preocupações exteriores, preparando-se para a batalha que se travará
interiormente no espírito. Uma vez alcançada a paz interna, é fácil adquirir força
e poder suficientes para serem empregados na luta da vida exterior e interior. A
autopiedade é a pior pobreza. Quando uma pessoa diz: “Sinto isto, sinto aquilo”,
lastimosamente, diminui a metade do seu valor antes de prosseguir e o que ela
disser a mais, aniquila-a totalmente. Há tantas coisas no mundo de que nos
podemos compadecer e que seria de direito fazê-lo; se, porém, estamos sempre
preocupados conosco, não temos tempo de pensar nos outros. A vida é uma
longa jornada, e quanto mais para trás deixarmos o ser egoísta tanto mais
teremos avançado em direção ao objetivo a alcançar.
Na verdade, é com a perda do falso eu, que o eu verdadeiro é encontrado.
II
COMO ENCARAR O MUNDO – A VIDA É
UMA SINFONIA
Na formação do caráter, o de que mais se necessita aprender é a maneira de
encarar o mundo; o mundo, onde se encontram tristezas e tormentos, prazeres
e dores.
É muito difícil ocultar do mundo esses sentimentos; no entanto, uma pessoa
prudente não se expõe a mostrar a todos, nem a cada momento, o que sente. A
pessoa vulgar, ao contrário, não sabendo reagir a influências exteriores e
impulsos interiores é como uma máquina e, desse modo, não pode tirar partido
da música da vida.
Para uma pessoa dotada de sabedoria, a vida é uma sinfonia na qual ela tem de
executar certa parte. Se alguém se sentisse tão deprimido, que o coração
emitisse sons mais graves e a vida requeresse nesse momento sons mais
agudos, uma falha seria notada nessa sinfonia, na qual cada um tem que
executar a sua parte com segurança. É o meio pelo qual se pode distinguir a
alma inexperiente da alma experiente. A alma inexperiente mostrará qualquer
sentimento, ao passo que a alma experiente atingirá o grau mais elevado a
despeito de qualquer dificuldade.
Há ocasiões em que o riso deve ser contido e há outras em que as lágrimas
devem ser retidas, e, aqueles que chegaram a esse grau de perfeição, podem
desempenhar cabalmente o papel que lhes foi designado no drama da vida; eles
têm poder suficiente sobre a expressão da fisionomia, podendo tornar lágrimas
em risos ou risos em lágrimas. Podeis perguntar: “não é hipocrisia não ser
natural?”. Aquele que tem controle sobre a própria natureza, é mais natural; não
é apenas natural, mas também verdadeiramente senhor da natureza; aquele a
quem falta o controle sobre a natureza, apesar de toda sua naturalidade, é fraco.
Além disso, é preciso compreender que a verdadeira civilização significa a arte
da vida. Qual é essa arte? É o conhecimento relativo à música da vida. Logo que
a alma tenha despertado para a eterna música da vida, essa alma considerará
como responsabilidade e dever próprios, desempenhar-se na vida exterior, não
obstante seja isso contrário à condição interior no momento. É preciso saber em
cada momento da vida diária: Que é que a vida exige de mim? Que me pede?
Como corresponderei a essa solicitação? Isso requer que se esteja
perfeitamente consciente das condições da vida. É necessário que se tenha
conhecimento profundo em relação à natureza humana e que haja capacidade
de reconhecer perfeitamente a própria condição. Se alguém diz: “eu sou como
sou; se sou triste, sou triste; se sou alegre, sou alegre”; não age com
discernimento. A própria terra não tolerará quem não corresponder às
solicitações da vida. O céu não admitirá essa pessoa e o mundo rejeitará quem
não estiver apto a dar o que a vida lhe pede; sendo assim, melhor é que aquilo
que tem de ser feito, seja feito de bom grado.
Na orquestra há um regente e vários executantes e cada um tem de contribuir
no seu instrumento para uma execução perfeita. Se um músico falhar nessa
execução, a falta será sua. O regente não o atenderá, se ele disser que não
tocou bem por estar triste ou demasiadamente alegre. Está interessado somente
na parte que cada músico deve executar em toda a sinfonia. Essa é a natureza
de nossa existência. Quanto mais progredirmos nessa orquestra, tanto mais
eficientes nos tornaremos na execução satisfatória de nossa parte na sinfonia da
vida. Que é necessário para nos tornarmos capazes de ter controle sobre nós
mesmos? Precisamos ter controle sobre o nosso “eu” interior, porque toda a
manifestação exterior nada mais é do que a reação do estado interior. Por
conseguinte, o primeiro controle que cada um deve adquirir, é o controle sobre
si mesmo, sobre a sua natureza interior, o que se consegue fortalecendo a
vontade e também compreendendo melhor a vida.
III
AUTOCONTROLE
Durante a conversação e nos atos diários, é de grande importância o
autodomínio quanto à maneira de falar ou de agir, porque, às vezes, escapa
automaticamente por um impulso interior uma palavra ou outra que achamos não
deveria ser proferida ou talvez, pudéssemos dizer de outro modo. O mesmo
acontece com a ação. Pensa-se: “Eu não deveria ter agido assim”, depois de
fazer alguma coisa; ou, pensamos: “Deveríamos ter feito isso de outra forma”;
mas uma vez isso realizado, é demasiado tarde para agir de outro modo. Na
natureza humana existe certa pressa interior em nos manifestarmos e, assim,
deixamos escapar as palavras antes que tenhamos tempo de refletir e tudo isso
evidencia a falta de autocontrole.
É também uma condição nervosa. Muitas vezes, uma pessoa se esforça para
responder a alguém que ainda não acabou de falar; antes de concluída a frase,
a resposta está dada. Uma resposta semelhante, dada a uma idéia incompleta,
nem sempre é correta. O que acontece, geralmente, em tais casos, é que
tomamos muito a sério aquilo que ouvimos e permitimos, assim, que as coisas e
influências exteriores penetrem no nosso íntimo mais do que deveriam. Desse
modo nos tornamos sensíveis demais, provindo, então, o nervosismo.
Para exercer o autocontrole na vida diária, o melhor é desenvolver na nossa
natureza uma certa dose de indiferença. Nem toda a palavra que é dita por
outrem deve ser tomada tão a sério que transforme todo o ser, perturbe o
equilíbrio mental e prejudique a força de vontade. Na vida diária, há coisas que
têm pouca importância e há tantas outras que são insignificantes e, muitas
vezes, estamos sujeitos a atribuir-lhes uma força indevida.
A independência se completa com a indiferença. Isso não quer dizer que não
devemos prestar atenção ao que alguém diz ou faz, porém, que devemos
distinguir as coisas importantes das insignificantes na vida diária; que todas as
coisas necessárias e desnecessárias não devem exigir a mesma atenção, o
mesmo pensamento ou sentimento. A economia política tornou-se uma parte da
educação mas, em religião, a economia espiritual é a coisa essencial. Tudo que
se diz e faz, tudo que se pensa e sente, exerce certo esforço da parte do espírito.
É prudente evitar qualquer ocasião de perder o equilíbrio. É preciso mantermo-
nos em paz, porém, firmes contra todas as influências que perturbam a vida. Há
uma propensão para responder em defesa própria, mas com isso se perde o
equilíbrio mental. Por conseguinte, o autocontrole é a chave de todo êxito e de
toda felicidade.
Além do mais, há muitas pessoas que se sentem induzidas e na obrigação de
dizer ou fazer certas coisas, somente porque alguém lhes pede isso, e, assim,
se tornam cada vez mais fracas. Há outras que reagem energicamente contra
isso; ambas, porém, estão em erro. Aquele que é capaz de conservar o equilíbrio
sem se molestar ou perturbar, adquire esse autocontrole que e necessário para
evoluir na vida. Nenhum princípio deve ser cegamente seguido. A economia
espiritual não é uma virtude se ela perturba a harmonia e se de algum modo
impede alguém de progredir, arrastando-o a uma condição pior. Entretanto, é
muito necessário conhecer a ciência da economia espiritual, saber defender-se
contra todas as influências na vida diária, as quais vêm perturbar a tranquilidade
e a paz da alma.
IV
RELACIONAMENTO COM O PRÓXIMO
É coisa muito importante, na formação do caráter, a pessoa se tornar consciente
das próprias relações, da obrigação e deveres relativos a cada ser e não
confundir esse elo e parentesco estabelecido entre si mesma e outra pessoa,
com uma terceira.
Deve-se pensar que tudo que é confiado a alguém, por quem quer que seja, é
por confiança própria, e corresponder com sinceridade à confiança de todos é
um dever sagrado. Desse modo a relação harmoniosa está estabelecida com
qualquer pessoa e é a harmonia estabelecida com todos que sintoniza a alma
com o infinito.
Isso requer grande estudo sobre a natureza humana, além de um tino especial,
conservando-nos em termos harmoniosos com todos. Quando temos admiração
ou rancor por alguém, é melhor nos dirigirmos a esse alguém em vez de propalar
isso, entre nossos conhecidos, pessoas de nossas relações. Excetuando os
amigos, mesmo com relações comuns, essa consideração é necessária: guardar
carinhosamente o fio tênue que une duas almas, qualquer que seja a estima que
dediquemos a cada um ou o seu grau de cultura.
“Dharma” na linguagem dos Hindus, significa religião, mas a significação literal
dessa palavra é dever, sugerindo que o relacionamento com qualquer pessoa no
mundo é uma religião e, quanto mais conscienciosamente se segue isso, tanto
mais se prova estar seguindo intensamente a própria religião. Guardar o segredo
de nossos amigos, de seres de nossas relações, e mesmo daqueles de quem
durante certo tempo fomos amigos, sendo depois por eles molestados, é o dever
mais sagrado. Aquele que compreende assim sua religião, nunca considerará
direito contar a outrem algum mal ou injustiça que daqueles recebeu. Isso é
aprendido por meio da auto-abnegação, que nem sempre se obtém por meio de
jejuns ou de retiros no deserto. O homem cônscio de seu dever, das obrigações
para com seus amigos, é mais piedoso do que outro, retirado no isolamento.
Aquele que está na solidão não serve a Deus, serve unicamente a si, gozando o
prazer dessa solidão, mas aquele que tem confiança em todos os seres que
encontra, que considera as relações com os outros e conhecimentos, pequenos
ou grandes, como sendo sagrados, observa certamente a lei espiritual dessa
religião que é a religião de todas as religiões.
Faltas? Todos nós as cometemos. Nós mesmos, nossos amigos e nossos
inimigos, todos estamos sujeitos a elas. Quem deseja não sejam descobertas as
suas faltas, deve agir necessariamente do mesmo modo para com os outros.
Aquele que conhece a relação de amizade que existe entre um e outro ser, a
ternura dessa união, a delicadeza, a beleza e a santidade, pode gozar a vida em
sua plenitude, porque está vivendo a vida e, dessa forma, deve algum dia
comunicar-se com Deus. É esse mesmo laço, unindo duas almas que, uma vez
fortificado, transforma-se no caminho para Deus. Não há maior virtude neste
mundo do que ser bom e sincero para com o amigo, digno de sua confiança. A
diferença entre a alma inexperiente e a alma experiente é baseada neste
princípio particular: a alma inexperiente apenas se conhece e conhece aquilo
que almeja, preocupando-se com os próprios prazeres e desgostos, obcecada
pela contínua mudança de humor. A alma experiente observa a relação entre
sua alma e todas as outras, cumpre religiosamente suas obrigações para com
todos que conhece. Oculta as próprias mágoas, se é que as tem e suporta tudo
para cumprir seu dever com a máxima habilidade, favorecendo a todos.
V
SUTILEZA
Sutileza no caráter indica inteligência. Quando a sabemos empregar
corretamente, podemos praticar o bem como essa riqueza de inteligência, mas,
se tomarmos uma direção errada, abusaremos dessa grande faculdade. O
homem sutil por natureza, comparado a uma personalidade desprovida de
sutileza, é como um rio e uma montanha. A personalidade sutil é tão límpida
como a água corrente; tudo que aparece diante dela se reflete tão claramente
como a imagem na água pura. A personalidade semelhante à rocha, isto é,
desprovida de sutileza, é como a montanha, nada reflete. Muitos admiram a
linguagem franca, porque não compreendem a beleza que existe na fina sutileza.
Podem todas as coisas ser expressadas por palavras? Nada há mais belo, mais
sutil do que aquilo que dizemos? Quem pode ler nas entrelinhas, faz de uma
carta um livro. Sutileza de percepção e sutileza de expressão são insígnias do
sábio. Sábio e ignorante, distinguem-se pela fineza de um e rudeza do outro. O
homem desprovido de sutileza quer que a verdade se transforme em pedra, mas
o sutil transforma até a pedra em verdade.
Para adquirir conhecimento espiritual, receber inspiração e preparar o coração
para a revelação interior, é preciso esforço para criar a mentalidade maleável
como a água e não impenetrável como a rocha. Para prosseguir no caminho do
mistério da vida, que o homem tem de percorrer, deve tornar-se o mais sutil
possível, a fim de perceber e expressar esse mistério. Deus é um mistério, Sua
ciência é um mistério; a vida é um mistério, a natureza humana é um mistério;
em resumo, qualquer conhecimento profundo é um mistério, mesmo a ciência ou
a arte. Tudo o que é mais misterioso é mais profundo. O que todos os profetas e
mestres têm ensinado em qualquer tempo é expressar esse mistério em
palavras, atos, pensamentos e sentimentos; a maioria dos mistérios, porém, é
por eles expressada em silêncio. Porque então o mistério está em seu lugar.
Trazê-lo à terra, seria o mesmo que tirar um rei do trono e trazê-lo de rastos pelo
chão; mas, permitindo ao mistério permanecer em seu lugar, isto é, nas esferas
silentes, é o mesmo que prestar homenagem ao Rei, a quem as homenagens
são devidas.
Além do mistério da vida, nas pequenas coisas da vida diária, quanto menos
palavras forem empregadas, tanto mais nítidas serão as idéias. Julgais que
maior número de palavras explica melhor? Certamente que não. Demonstra isto,
unicamente, nervosismo da parte daqueles que dizem um cento delas para
expressar alguma coisa que pode ser explicada perfeitamente em dois
vocábulos; quanto ao ouvinte, é falta de inteligência se ele necessita de muitas
palavras para compreender o que pode ser explicado com uma palavra apenas.
Várias pessoas pensam que muitas palavras explicam melhor, mas ignoram, na
maioria das vezes, que quanto maior é o discurso tanto mais denso é o véu que
envolve a idéia. Saímos, finalmente, pela porta por onde entramos.
Respeito, consideração, veneração, bondade, compaixão e simpatia, perdão e
gratidão, todas essas virtudes podem ser mais adornadas pela sutileza de
expressão. Não é necessário nos excedermos em agradecimentos. Não se deve
apregoar: “simpatizo com você, meu caro-amigo”, nem tampouco divulgar: “eu
perdoei alguém”. Tais coisas são belas e sutis; devem ser sentidas e não
expressadas; não é fazendo barulho que as podemos expressar, porque até
mesmo o menor ruído concorre apenas para diminuir-lhes a beleza e tirar-lhes o
valor. Nas idéias e nos pensamentos espirituais, a sutileza é mais necessária do
que qualquer outra coisa. Se o homem espiritual levasse suas obras ao mercado
e discutisse com uns e outros sobre as próprias crenças e descrenças, onde iria
ele parar?
A chave que ele possui para a arte da conciliação é a sutileza, tanto na
percepção como na expressão. É falta de franqueza, é hipocrisia ser sutil? Não,
de forma alguma. Há muitas pessoas que se tornam grosseiras julgando-se
francas; essas pessoas estão sempre prontas a dizer a verdade, embora
melindrando os outros e orgulhosamente sustentam a franqueza, dizendo:
“pouco me importa se isso torna alguém triste ou irritado, estou apenas falando
a verdade”. Se a verdade for tão dura como um martelo, nunca deve ser dita;
ninguém deve seguir tal verdade!
Onde está então a verdade que dá paz, que acalma, que é conforto para cada
coração e cada alma; aquela verdade que eleva a alma, que é criadora de
harmonia e de beleza... de onde proveio? Essa verdade proveio da sutileza da
inteligência no pensamento, na linguagem e na ação; da sutileza que traz prazer,
conforto, beleza e paz.
VI
PESSIMISMO – OTIMISMO
Há duas atitudes que dividem o povo em dois perfis: a primeira atitude é uma
contínua queixa, a outra um constante sorrir. A vida é a mesma, se a chamarmos
boa ou má, correta ou incorreta; ela é o que é, e não pode ser de outro modo.
Um indivíduo para obter a simpatia de outrem, mostrar-lhe suas boas
características e, algumas vezes, mostrar-se mais inteligente, justo e correto,
lamenta-se. Ele se queixa de tudo: dos amigos, dos inimigos, daqueles que ama
e, muito mais, daqueles que odeia. Lastima-se desde a manhã até a noite; nunca
têm fim suas lamentações. Isso atinge a tal extensão que ele se queixa do bom
e do mau tempo, da influência atmosférica; é contra a terra e contra o céu e acha
mal feito tudo aquilo que os outros fazem; finalmente, esse estado se desenvolve
a tal ponto, que ele começa a ter aversão ao próprio trabalho, acabando por se
desgostar de si mesmo. Dessa forma, vira-se contra os outros, contra as
condições e, finalmente, contra si próprio.
Não pensem que esse é um caráter raro de se encontrar. Pelo contrário, é um
caráter que se encontra frequentemente, e é certo que quem tem essa atitude é
o pior inimigo de si próprio. Aquele que tem uma atitude correta de espírito, tenta
fazer do torto, direito, mas quem tem uma atitude de espírito errada, converterá
até o direito em torto. Além de que, magnetismo é uma coisa necessária a todos
os seres. A falta de magnetismo torna a vida penosa. A tendência à depreciação
por tudo, rouba-nos uma grande parte desse magnetismo que é tão necessário
à vida. Pois a natureza da vida é tal que, naturalmente, a multidão aceita só
aqueles que nela entram com a força do magnetismo e rejeita todos os outros.
Em outras palavras: o mundo é um lugar onde não podemos entrar sem um
passaporte e esse passaporte é o magnetismo; aquele que for desprovido dessa
força será rejeitado em toda parte.
Além disso, encontramos muitos indivíduos que se queixam sempre da saúde.
Pode haver uma razão, embora, algumas vezes, possa ser pequena ou, talvez,
mínima para que se mencione. Quando uma pessoa se acostuma a responder
negativamente, ao ser interrogada com simpatia: “Como está passando?” ela,
decerto, alimenta uma espécie de doença em si mesma, pela tendência de se
queixar. A nossa vida de limitações e a natureza dos confortos e prazeres
mundanos que são tão variados e indignos de confiança, a falsidade que se
encontra em tudo, em qualquer lugar, se nos pusermos em atitude de queixa,
toda nossa existência será curta para nos queixarmos; cada momento de nossa
vida decorreria cheio de lamentos. Mas, para pormos termo a todas essas
coisas, devemos olhar para o lado agradável, para o lado brilhante de tudo.
Especialmente para aqueles que procuram Deus e a verdade, para esses há
alguma coisa mais em que pensar; eles não necessitam saber quanto uma
pessoa é má. Quando pensarem em Quem acompanha essa pessoa, em Quem
está em seu coração, então, olharão para a vida com uma atitude esperançosa;
quando olharem para coisas mal feitas, pensarão que através de todas as obras
há Deus, que é justo e perfeito, e tornar-se-ão certamente mais confiantes.
A atitude de ver tudo com um sorriso, é indício de uma alma santa. Um sorriso
dispensado a um amigo, um sorriso para um inimigo mesmo, vencerá finalmente,
pois essa é a chave que abre o coração do homem. Como a claridade do sol
exterior ilumina o mundo inteiro, assim a claridade do sol interior, se ele se
externasse, iluminaria a vida toda, apesar de todos os erros aparentes, apesar
de todas as limitações. Deus é felicidade; a alma é felicidade, o espírito é
felicidade. Não há lugar para tristezas no reino de Deus. Aquele que priva o
homem da felicidade, o priva de Deus e da Verdade.
Pode-se começar a aprender a sorrir, apreciando as pequeninas coisas boas
que se introduzem pelo caminho de nossa vida e não prestando atenção a cada
coisa má que não gostamos de ver.
Não nos preocupemos demasiadamente com coisas desnecessárias na vida, as
quais nada mais trazem senão desgosto. E encarando a vida com uma atitude
de espírito esperançosa, com uma perspectiva otimista, o homem terá força para
transformar o errado em certo e levar luz onde há trevas. Bom humor é vida, mau
humor é morte. A vida atrai, a morte repele. A luz do sol que vem da alma, surge
através do coração e manifesta-se no sorriso do homem; é realmente a luz dos
céus. Nessa luz muitas flores crescem e muitos frutos amadurecem.
VII
INQUIETAÇÃO – DISCRIÇÃO –
TRANQUILIDADE
O melhor meio de agir em todas as direções da vida, no interior de nossa casa
ou fora, é silenciosamente; coisa tão pouco compreendida por muitos e tão
necessária para desenvolver a ordem, a harmonia e a paz na existência.
Trabalha-se pouco e fala-se muito, geralmente. Por qualquer coisa que se faz,
há logo alarido e, dessa forma, em vez de terminar a obra com êxito, atraem-se
dificuldades.
A primeira coisa que deve ser lembrada na formação do caráter é compreender
o segredo e a índole da natureza humana. Precisamos saber que, no mundo,
cada indivíduo tem o seu objetivo, o próprio interesse e ponto de vista e que ele
está sempre ocupado com tudo quanto lhe diz respeito. Sua paz é perturbada se
quisermos interessá-lo no objetivo do nosso interesse. Se quisermos forçá-lo ao
nosso ponto de vista, por mais íntima e estimada que essa pessoa nos possa
ser, isso não lhe será agradável.
Pouquíssimos consideram tal coisa e desejam desabafar as próprias
preocupações e dificuldades no primeiro que encontram, dizendo: “Cada um tem
o mesmo interesse que tenho no meu objetivo e no meu ponto de vista” e,
“qualquer um ficará contente em saber a minha estória”.
Conta-se que alguém começou a falar diante de pessoa conhecida havia pouco
tempo, a respeito dos antepassados e falou tanto, que esgotou inteiramente a
paciência do ouvinte. Acabando a história declarou à pessoa que lhe falava: “Se
eu não me interesso em saber a história dos meus antepassados, que interesse
posso ter em saber a dos seus?” Há muita gente que tem grande entusiasmo em
contar aos vizinhos qualquer resfriado ou tosse que tenha, qualquer perda ou
lucro, embora mínimo, e sente-se feliz em anunciar tudo ao rufo de tambores e
toque de cornetas. Isso é uma característica infantil. Essa tendência mostra uma
alma pouco desenvolvida. Algumas vezes, essa tendência amedronta os amigos
e auxilia os inimigos. Quem trabalha ruidosamente, realiza pouco, pois atrai pelo
barulho mais dez pessoas para intervirem e estragarem o trabalho que uma só
pessoa poderia fazer com facilidade.
Turbulência, vem de inquietação e inquietação é o sinal de “Tammas”, o ritmo
destruidor. Aqueles que obtiveram algum êxito na vida, em qualquer ramo, foi
devido ao trabalho em silêncio. Em negócios, indústria, arte, ciência, educação,
política, em todas as direções da vida, o trabalhador prudente é o trabalhador
tranquilo. Ele fala a respeito de qualquer coisa a tempo, nunca antes. Aquele que
fala sobre uma coisa antes de terminá-la, é como uma cozinheira que anuncia
as iguarias a toda a vizinhança, antes de estarem prontas.
Há uma estória de um criado entusiasmado, contada no Oriente. O patrão estava
com dor de cabeça e disse ao criado que fosse buscar um remédio. O criado
pensou que não seria bastante buscar o medicamento, mas marcou também
uma consulta com o médico e no caminho de casa, visitou o empresário da
funerária. O patrão perguntou: “Por que demoraste tanto?” O criado respondeu:
“Senhor, arranjei tudo”.
O entusiasmo é uma grande coisa na vida; em demasia, porém, algumas vezes
prejudica. Quanto mais dotada de sabedoria é uma pessoa tanto mais tranquila
ela é em tudo o que faz. Cavalheiro, em inglês “gentleman”, é o homem tranquilo.
Conta-se como fábula que um burro se dirigiu a um camelo e disse: “Tio, sejamos
amigos, vamos pastar juntos”. O camelo respondeu: “Menino, gosto mais de
passear só”. Acrescentou ainda o burro: “Estou impaciente por acompanhá-lo,
tio”. O pacato camelo consentiu e partiram juntos. Muito antes de o camelo
acabar de pastar, já o burro tinha acabado e estava inquieto para se manifestar
e continuou: “Tio, eu gostaria de ‘cantar’ se isso não o incomoda”. O camelo
respondeu: “Não faças tal coisa, pois será terrível para nós ambos; ainda não
terminei o meu jantar”. O burro não teve paciência, não pôde conter a sua alegria
e começou a cantar. O lavrador atraído por esse ‘canto’ veio com um bambu
comprido. O burro correu e toda a sova caiu sobre as costas do camelo. Quando,
na manhã seguinte, o burro foi outra vez convidar o Tio Camelo, este disse: “Eu
estou muito doente; sua maneira de agir é diferente da minha. De hoje em diante
temos de nos separar”.
Há uma grande diferença entre o indivíduo turbulento e o tranquilo. Um age como
a criança inquieta, o outro, age como adulto; um destrói, o outro edifica. A
maneira de trabalhar tranquilamente deve ser praticada em todas as coisas.
Fazendo-se muito barulho por qualquer coisa, provoca-se a comoção, o distúrbio
em toda parte, atividade inútil, sem resultado algum. A inquietação também se
revela na tendência ao exagero quando se quer fazer uma montanha de um
monte de areia.
Modéstia, humildade, gentileza, doçura, todas essas virtudes se manifestam na
pessoa que trabalha através da vida, tranquilamente.
VIII
CURIOSIDADE
Existe algo que pertence à natureza humana e sua origem está na curiosidade;
curiosidade essa que provoca a vontade de saber. Quando se abusa dessa
tendência, ela se desenvolve e se torna indiscrição. É curioso como a origem de
todas as imperfeições é uma tendência boa e é o abuso dessa tendência boa
que a transforma em defeito. Se refletíssemos no pouco tempo que temos para
viver neste mundo, veríamos cada momento de nossa existência tão precioso
que deveria ser empregado em coisas realmente muito aproveitáveis. Quando o
tempo é gasto com a indiscrição de querermos saber da vida alheia, perdemos
oportunidade que poderia ter sido aproveitada para um fim superior. Na vida há
tantas responsabilidades e tantos deveres, tanto que se corrigir em si próprio;
tanto que desfazer no que já se fez, tanto que cuidar nas próprias ocupações e
regularizar, que esse desperdício de tempo se assemelha a quem, estando
intoxicado, abandonasse todas as suas responsabilidades e deveres para
ocupar o espírito e os ouvidos com indagações frívolas.
O livre-arbítrio é dado a quem quer que seja para atender a obrigações
particulares, realizar os próprios objetivos, cuidar de seus afazeres, mas, quando
ele é empregado para indagar das fraquezas, privações e faltas de outrem, é
certo que se abusa desse poder. Algumas vezes, o homem tem curiosidade na
vida de outrem, no interesse que por ele toma geralmente, porém, tal curiosidade
é um vício. Ele pode não ter interesse algum no assunto mas desejar somente
gozar da satisfação de ouvir e de inquirir o que diz respeito a outrem. O
autoconhecimento é o ideal dos filósofos e não o conhecimento da vida alheia.
Há duas fases no desenvolvimento do homem: uma quando ele indaga o que se
refere ao próximo; a outra quando ele olha para dentro de si mesmo. Quando a
primeira fase cessou e a outra teve início, então ele começa a jornada para o fim
desejado. Rumi, o poeta Sufi, diz: “Não nos preocupemos com os outros, pois
temos muito que pensar em nós mesmos”.
Além de que, não se deve mostrar a menor tendência de saber mais do que é
devido, como uma prova de respeito para com as pessoas idosas e também para
com aquelas que desejamos considerar. Assim em parentesco próximo, como
pais e filhos, quando a intimidade é respeitada por uns e por outros, eles dão
certamente prova de grande virtude.
Querer saber da vida alheia, é geralmente uma falta de confiança. Aquele que
confia, não precisa desvendar seja o que for; ele não tem necessidade de
descobrir o que está encoberto. Quem deseja desvendar alguma coisa deseja
descobri-la e, se há alguma coisa que deva ser descoberta é, antes de tudo, o
verdadeiro eu. O tempo que se desperdiça indagando da vida, das faltas e
fraquezas dos outros, poderia ser justamente empregado em desvendar a
própria alma. O desejo de saber tem origem na alma. O homem apenas deve
discernir o que precisa saber, o que é digno de ser sabido. Existem muitas coisas
que não são dignas de interesse. Quando se dedica o tempo e pensamento,
procurando saber aquilo que não se deve, perde-se a oportunidade que a vida
oferece para descobrir a natureza e o segredo da alma, que é a base para a
realização do objetivo da vida.
IX
MALEDICÊNCIA
Devemos lembrar que o gosto pelo mexerico denota falta de nobreza de caráter.
Isso é muito comum, mas é grande falta de caráter acalentar a tendência de falar
dos outros. Além de que, é um excesso de fraqueza fazer observações relativas
a alguém na sua ausência. Primeiramente, é contrário ao que se pode chamar
franqueza e é também julgar o próximo, o que é incorreto relativamente à
doutrina de Cristo, que diz: “Não julgueis os outros para que não sejais julgados”.
Quando alguém permite que essa tendência permaneça em si mesmo,
desenvolve o gosto de falar dos outros. É um defeito que comumente existe e,
quando duas pessoas que têm a mesma tendência se encontram, começam a
tagarelar e completam a intriga. Uma ajuda a outra, uma da coragem à outra e,
quando alguma coisa é sustentada por duas pessoas, torna-se forçosamente
uma virtude, embora seja uma virtude momentânea.
Quantas vezes o homem esquece que dizendo mal de alguém, mesmo na sua
ausência, ele está falando na presença de Deus. Deus ouve tudo e sabe tudo. O
Criador conhece Suas criaturas com suas virtudes e suas faltas. Deus fica
descontente ouvindo falar mal da Sua criatura, assim como um artista não ficaria
satisfeito ouvindo observações pouco elogiosas, feitas por qualquer um, sobre
sua arte. Embora o artista reconheça a imperfeição de sua obra, ainda assim,
preferiria ele mesmo descobri-la e não outro qualquer. Quando uma pessoa fala
contra outra, as palavras da primeira não atingem a segunda, mas os
sentimentos chegam até lá. Se ela for sensível e perspicaz, saberá que alguém
falou mal de si, e, vendo essa pessoa que falou, lerá naquele rosto tudo quanto
foi dito. Este mundo é uma galeria de espelhos, o reflexo de um reproduz o outro.
Neste mundo em que tantas coisas parecem ocultas, na realidade nada assim
é; tudo se eleva à superfície mais ou menos demoradamente e manifesta-se à
vista.
Como poucos neste mundo sabem qual o efeito causado por um indivíduo que
diz mal de outrem e qual a influência que tem sobre a sua alma! O “eu” do
homem, seu “eu” interior, não é somente como uma cúpula, onde tudo quanto
ele diz se repete em eco, esse eco é mais ainda; é criador e produtor do que
ficou dito. Todo o bem e o mal se desenvolve na vida de uma pessoa conforme
o interesse que ela toma por isso. Cada falta, quando pequena, não se percebe
e, assim, se desenvolve até resultar em desapontamento. A vida é tão preciosa
e tem tanto mais valor, quanto mais prudentes nos tornamos; cada momento da
vida pode ser empregado para um fim muito mais elevado. A vida é uma
oportunidade e, quanto mais nos compenetrarmos disso, tanto mais tiraremos
proveito dessa oportunidade que ela nos oferece.
X
GENEROSIDADE
O espírito de generosidade em uma natureza, constrói um caminho em direção
a Deus, porque generosidade é expansão própria, é espontaneidade; sua
natureza é dirigir-se para um horizonte largo. A generosidade pode, portanto, ser
chamada a caridade do coração. Não é necessário que o espírito de
generosidade se demonstre sempre pelo dispêndio de dinheiro; ele se pode
apresentar nas pequeninas coisas. Generosidade é uma atitude que se mostra
em qualquer ação pequena que se faça para com as pessoas em cujo contato
estamos na nossa vida diária. Pode-se mostrar generosidade por um sorriso, um
olhar amável, um aperto de mão caloroso, acariciando o mais inexperiente como
sinal de coragem, denotando apreciação, expressando afeição. Pode-se mostrar
generosidade reconciliando os semelhantes, dando-lhes as boas-vindas ou
despedindo-se de um amigo. Em pensamentos, palavras e obras, de qualquer
modo e forma, se pode mostrar esse espírito generoso, sinal de pessoa caridosa
e caritativa.
A Bíblia fala de generosidade pela palavra caridade, mas se eu tivesse de dar
uma interpretação à palavra generosidade, chamá-la-ia de nobreza. Nenhuma
posição, condição social ou poder, pode provar que alguém é nobre; é
verdadeiramente nobre, aquele que é generoso de coração. Que é
generosidade? É nobreza, é expansão de coração. À medida que o coração se
expande, assim o horizonte se torna largo e acha-se cada vez maior o espaço
em que se deve construir o reino de Deus.
Depressão, desespero e toda a sorte de tristeza, vêm da falta de generosidade.
Donde provém o ciúme? Donde provém a inveja, o sofrimento do coração? Tudo
isso provém da carência de generosidade. O homem pode não ter nem um
centavo, no entanto, pode ser generoso, nobre, se tiver unicamente um coração
grande, de sentimentos amistosos. A vida, no mundo, oferece-nos toda a
oportunidade, seja qual for a nossa posição, para mostrar se temos algum
espírito de generosidade.
A inconstância e a falsidade da natureza humana, além da desconsideração e
falta de atenção que vêm daqueles com os quais se encontra o indivíduo e ainda
o egoísmo e o espírito avarento e usurpador que perturba e atormenta as almas,
tudo isso cria uma situação, que é por si mesma uma prova, uma experiência,
que cada um tem de passar na vida terrestre e, quando através dessas provas
e experiências, o homem se mantém firme ao princípio de caridade e segue a
direção de seu destino, não permitindo às influências que vêm dos quatros
cantos do mundo, retê-lo na jornada para a meta, finalmente, se torna o rei da
vida, mesmo se no fim do seu destino não forem deixados simples bens
terrestres em proveito do seu nome.
Não é a riqueza terrestre que torna o homem rico. A Riqueza vem pela
descoberta da mina de ouro que está oculta no coração humano, da qual vem o
espírito de generosidade. Alguém perguntou ao profeta qual a maior virtude, se
a da alma piedosa que reza continuamente, se a do viandante que caminha para
fazer a sagrada peregrinação, se a daquele que jejua dias e noites, ou ainda, se
a daquele que aprende a Sagrada Escritura de cor. “Nenhuma delas” respondeu
o Profeta: “É tão grande quanto sua alma, aquele que através da vida, mostra
caridade de coração”.
CAPÍTULO 2
A Arte da Personalidade
I
DANÇAR NA CORTE DE INDRA
É uma coisa ser homem e, a outra, é tornar-se um homem, aperfeiçoando a sua
individualidade, na qual está oculto o objetivo da vinda do ser humano à terra.
Os anjos foram criados para cantar louvores ao Senhor, os “Jinnss” ou os gênios
para imaginar, sonhar, meditar, mas o homem foi criado para mostrar
humanidade no caráter. É isso que o faz um homem. Há muitas coisas difíceis
na vida, a mais difícil de todas, porém, é aprender, conhecer e praticar a arte da
personalidade. A natureza, dizem, foi criada por Deus e a arte pelo homem, mas,
na verdade, é Deus Quem completa sua arte divina na formação da
personalidade. Não é o que Jesus Cristo ensinou que faz com que seus devotos
O amem; eles discutem essas coisas em vão. O que faz com que Cristo seja
amado é o que Ele próprio foi. Isso, é o que O faz amado e admirado por seus
devotos. Quando Jesus Cristo disse aos pescadores: “Sigam-me e eu vos
ensinarei a serem pescadores de homem”, que significam essas palavras?
Essas palavras significam: “Eu vos ensinarei a arte da personalidade, a qual será
como uma rede neste mar da vida”, pois todo coração, seja qual for seu grau de
evolução, será atraído pela beleza da arte da personalidade. Que procura a
humanidade em seu semelhante? Que espera o homem de seu amigo? Deseja
que ele seja rico, que tenha posição elevada, que seja possuidor de grandes
poderes, de qualidades maravilhosas, de influência muito grande mas, além
disso e acima de tudo, ele espera de seu amigo a qualidade humana, que é a
arte da personalidade. Se a seu amigo faltar essa arte, todas as coisas
supraditas serão de pouca utilidade e de mínimo valor. Muitos perguntam: “Como
podemos aprender tal coisa?” Pelo amor à arte, pela apreciação da beleza em
todos os seus vários aspectos. O artista aprende a arte, admirando o belo.
Quando alguém possui conhecimento introspectivo da beleza, então aprende a
arte das artes que é a arte da personalidade. O homem pode possuir mil títulos,
posições ou condições sociais, todos os bens da terra, mas se não possuir a arte
da personalidade, ele é realmente pobre. É por essa arte que o homem denota
nobreza, essa nobreza que pertence ao reino de Deus.
A arte da personalidade não é um título honorífico, é o fim para o qual o homem
foi criado e que o conduz ao propósito que deve cumprir para alcançar sua plena
satisfação. Pela arte da personalidade, o homem não só se satisfaz como agrada
a Deus. Essa fantasmagoria representada na terra, é produzida para prazer do
Rei do Universo, a Quem os Hindus chamaram Indra e perante o Qual os
“Gandharvas” cantavam e os “Upsaras” dançavam.
A interpretação dessa estória é que o destino de todas as almas é dançar na
corte de Indra. Aprender a dançar perfeitamente na corte de Indra é, a bem dizer,
a arte da personalidade. Aquele que diz: “Mas como posso eu dançar? Não sei
dançar”, esse desfaz o seu objetivo, pois nenhum ser é criado para ficar de lado
e apreciar, mas para dançar na corte de Indra. Quem se recusa a dançar, mostra,
certamente, ignorância relativa ao grande objetivo para o qual toda essa
representação está sendo realizada no palco da vida.
II
GRATIDÃO
A gratidão no caráter é como o perfume na flor. Qualquer pessoa, por mais
inteligente e apta que seja no seu trabalho, se tem falta de gratidão, está
desprovida da beleza de caráter que torna a personalidade atraente. Se
apreciarmos o menor ato de bondade de que somos alvo, desenvolveremos o
espírito de gratidão em nossa natureza; e, aprendendo isso, nos elevamos ao
nível em que começamos a compreender a bondade de Deus para conosco, e
nunca poderemos ser bastantes gratos pela sua divina compaixão.
O grande poeta entre os Sufis, Saadi, ensina gratidão como meio de atrair os
favores, o perdão e a misericórdia de Deus sobre nós, para a salvação de nossas
almas. Há muito no mundo pelo que nos podemos mostrar gratos, apesar de
todas as dificuldades e perturbações da vida. Saadi diz: “O sol e a lua, a chuva
e as nuvens, tudo está ocupado em preparar vosso alimento. Portanto, é
realmente injusto se não apreciarmos isso reconhecidos”.
A bondade de Deus é algo que não se pode aprender de uma vez, é preciso
tempo para compreendê-la. Os pequenos atos de bondade que recebemos
daqueles que nos cercam não nos devem passar despercebidos, mas devemos
ser a eles bem reconhecidos. Desse modo, o homem começa então a
desenvolver o sentimento de gratidão e exprime-o em pensamentos, palavras e
atos, como modelo de perfeita beleza. Enquanto alguém pensa e diz: “O que fiz
por você e o que você fez por mim”, e “como tenho sido bom para você e como
você tem sido bom para mim”, perde seu tempo, discutindo sobre aquilo que não
pode ser explicado em palavras, além de que fecha assim essa fonte de beleza
que brota do âmago de nosso coração, A primeira lição que devemos aprender
no caminho da gratidão, é esquecer absolutamente o que fazemos para os
outros e lembrar somente o que os outros fazem por nós. Ao longo da jornada,
no caminho espiritual, o mais importante a realizar é esquecer o nosso falso ego,
para que algum dia possamos chegar à compreensão do Ser a Quem chamamos
Deus.
Conta-se que um escravo, chamado Ayaz, foi trazido à presença do rei com mais
outros nove, para que o soberano escolhesse um deles para seu servidor
particular. O sábio rei deu na mão de cada um dos dez, um copo de vinho e
ordenou-lhes que os atirassem por terra. Todos obedeceram à ordem. Então, o
rei perguntou a cada um deles: “Por que fizeste semelhante coisa?” Nove
responderam: “Porque Vossa Majestade assim ordenou” Era a pura verdade;
chegando, porém, a vez do décimo, Ayaz, este pensou que dizer ao rei “Por que
vossa Majestade assim ordenou”, com isso, nada de novo lhe diria, e respondeu:
“Sinto imenso, desculpai-me”. A beleza dessa expressão cativou o soberano,
que assim o escolheu para seu servo particular.
Pouco tempo depois, Ayaz ganhou o crédito e a confiança do rei, que lhe confiou
seu tesouro, no qual jóias preciosas estavam guardadas. Pela súbita ascensão
de Ayaz, de escravo a tesoureiro, houve muitos invejosos. Assim que o povo
soube que Ayaz tinha se tornado o favorito do rei, começou a fazer circular
numerosos boatos, a fim de o levar ao descrédito. Um deles, foi que Ayaz ia
diariamente ao quarto onde se achavam as jóias fechadas no cofre e as ia
roubando todos os dias, pouco a pouco. O soberano respondeu: “Não, não posso
acreditar em semelhante coisa, provem o que estão dizendo”.
Logo que Ayaz entrou no quarto, trouxeram o rei e o fizeram ficar de pé onde
havia uma pequena abertura dando para o quarto, a fim de ver o que lá se
passava. O rei viu Ayaz abrir a porta do cofre. Que tirou ele dali? Suas velhas
roupas, rasgadas, que usara enquanto escravo. Beijou-as, levou-as aos olhos e
colocou-as em cima da mesa. Aí, queimava incenso e o que Ayaz estava fazendo
era considerado por ele mesmo como sagrado. Em seguida vestiu as roupas
velhas e mirou-se no espelho, dizendo como se fosse uma prece: “Ouve, Ayaz,
vê o que já foste um dia. Foi o rei quem te fez, quem te confiou o encargo desse
tesouro. Portanto, cuida dele como do mais sagrado dever e dessa honra como
teu privilégio, como ato de amor e bondade do rei. Reflete que não foi o teu
mérito que te elevou a tal posição, mas a grandeza, bondade e generosidade do
rei, que fechou os olhos a tuas faltas e te concedeu esse lugar e essa posição,
pelos quais estás sendo, agora, honrado. Por conseguinte, nunca te esqueças
do primeiro dia, do dia em que vieste a esta cidade; é a lembrança desse dia,
que te conservará em teu próprio lugar”.
Logo depois, tirou as roupas, colocou-as no mesmo lugar em segurança e saiu.
Ao retirar-se, que viu Ayaz? Viu que o rei perante o qual ele se inclinava,
esperava ardentemente para o abraçar e dizer-lhe: “Que lição me deste, Ayaz!
É essa lição que todos nós precisamos aprender, seja qual for a nossa posição.
Porque diante daquele Rei, em Cuja presença todos nós somos escravos, nada
nos pode fazer esquecer o apoio pelo qual fomos engrandecidos, elevados e
trazidos à vida para agir, compreender e viver alegremente. Disseram-me que
tinhas roubado jóias do nosso tesouro mas, aqui vindo, descobri que roubaste
meu coração”.
III
IMPULSIVIDADE – DELICADEZA
Todo impulso tem sua influência na palavra e na ação. Sendo assim,
naturalmente, cada impulso exerce pleno poder através das palavras e ações a
não ser que seja reprimido. Há dois tipos de pessoas: as que adquiriram poder
de reprimir palavras e atos, quando esses exercem sua força total, expressando-
se rudemente; e as que, mecanicamente, permitem que o impulso natural
interfira em suas palavras e ações, sem lhes prestar a mínima atenção. O
primeiro tipo é por conseguinte delicado, e o último rude. Delicadeza é a principal
coisa na arte da personalidade. Pode-se ver como a delicadeza age como fator
principal em qualquer arte. Pintando-se, desenhando-se, em linhas e cores, é a
delicadeza que mais atrai a alma. Veremos o mesmo na música. Um músico
pode ter aptidão suficiente para tocar com agilidade e gosto, pode conhecer toda
a técnica, mas, o que produz beleza, é sua execução delicada. Na delicadeza
está todo o apuro.
A base de todo o aprimoramento está na delicadeza. Mas, de onde provém isso?
Da consideração que se dispensa a outrem e é praticada pelo autodomínio.
Existe um provérbio em linguagem hinduísta: “Quanto mais energia falta ao
homem, tanto mais ele se zanga com facilidade”. A razão é que ele não tem
controle sobre seus nervos. É geralmente a falta de autocontrole que produz a
carência de delicadeza.
Não há dúvida que aprendemos maneiras polidas pela consideração que
dispensamos a outrem. É necessário pensar, antes de falar ou agir, sem nos
esquecermos do belo. Não é bastante falar ou agir, mas falar ou agir
delicadamente. O progresso das raças e nações é expressado pela delicadeza.
Também o progresso da evolução da alma se expressa pela delicadeza. Nações,
raças, bem como indivíduos demonstrarão atraso em suas evoluções se lhes
falta a delicadeza.
Nas condições atuais do mundo, parece que a arte da personalidade tem sido
bastante descuidada. O homem, intoxicado pela cupidez e pelo espírito de
rivalidade que o cerca, acorrentado pelo comercialismo diário, fica atarefado na
aquisição do que lhe é necessário para viver, perdendo de vista a beleza, que é
a necessidade da alma, o interesse do homem em todas as coisas da vida:
ciência, arte, filosofia, ficam incompletas sem a arte da personalidade. Como foi
acertada a distinção feita na língua inglesa: homem e cavalheiro (“man” e
gentleman!)
IV
PERSUASÃO
Há uma tendência oculta no impulso humano, a qual pode ser chamada
tendência persuasiva e que se manifesta de forma rude ou polida. No primeiro
aspecto é um erro e no último, um engano. Quando a tendência persuasiva se
manifesta rudemente, o indivíduo insiste com o outro para concordar com ele,
atendê-lo ou fazer o que ele quiser, discutindo, insistindo e tornando-se
desagradável. Frequentemente, tal indivíduo, pela força de vontade ou por sua
melhor posição na vida, consegue o que deseja. Isso lhe dá coragem para
continuar com o mesmo método até se convencer de que o resultado não é
satisfatório, se é que o percebe.
O outro meio de persuadir é a maneira agradável, fazendo pressão sobre a
bondade, benevolência e polidez de alguém, esgotando-lhe assim a paciência,
pondo à prova sua simpatia até ao fim. Por esse meio, as pessoas conseguem
no momento o que desejam alcançar, resultando finalmente em contrariedade
de todos aqueles que foram submetidos a essa tendência persuasiva. Não é isso
uma prova de que realizar assim qualquer coisa é mais fácil que respeitar o
sentimento dos outros? É tão raro encontrar neste mundo uma pessoa que tenha
consideração pelos sentimentos de outrem, mesmo que seja sacrificando-se
para conseguir seus próprios desejos. Cada um procura liberdade, mas para si
próprio. Se ele pensasse o mesmo em relação aos outros, tornar-se-ia um
verdadeiro maçom.
A tendência persuasiva mostra, sem dúvida, grande força de vontade e abusa
da fraqueza dos outros, que se rendem e cedem, devido ao amor, à simpatia,
bondade, amabilidade e polidez. Mas há um limite para tudo. Chega o momento
em que o fio se parte. O fio é tênue, não é feito de aço. Mesmo o de aço se parte
quando é puxado com muita força. A delicadeza do coração humano não é
compreendida por todos. O sentimento humano é demasiadamente sutil para a
percepção comum. A que se assemelha um ser que desenvolve sua
personalidade? Não se assemelha à raiz ou ao tronco da planta, nem tampouco
aos galhos ou às folhas; ele se assemelha à flor; a flor com sua fragrância,
colorido e delicadeza.
V
VAIDADE
Toda manifestação é o meio pelo qual se exprime o espírito do Logos que, em
termos “SUFI” é chamado Kíbria. Esse espírito se manifesta através de todos os
seres em forma de vaidade, orgulho ou presunção. Vaidade expressada
rudemente é chamada orgulho. Se não fosse por esse espírito que age em cada
ser como o tema central da vida, não existiria no mundo o bem nem o mal, nem
haveria o grande nem o pequeno. Todas as virtudes e todos os vícios são frutos
desse espírito. A arte da personalidade é cortar as pontas agudas desse espírito
de vaidade que fere e perturba aqueles que encontramos na vida. Quem diz:
“EU”, quanto mais fala sobre isso, tanto mais perturba a mente dos seus
ouvintes.
Muitas vezes, somos educados polidamente, aprendemos maneiras
aprimoradas e linguagem bela; todavia, se existe esse espírito de vaidade
pronunciado, apesar de todas as boas maneiras e da linguagem bela, aparece
ele no pensamento, nas palavras ou nos atos do indivíduo, gritando; “Sou eu,
Sou eu”. Se o indivíduo se conserva mudo, sua vaidade se manifesta na
expressão do olhar. É uma das coisas mais difíceis de suprimir e controlar. A luta
dos adeptos, na vida, não é tão grande com as paixões e emoções, o que, mais
cedo ou mais tarde, com maior ou menor esforço, pode ser controlado; mas a
vaidade, essa sempre cresce. Cortando-se-lhe a haste, não se vive, porque ela
é o próprio indivíduo, é o “eu”, o ego, a alma ou o Deus interior; sua existência
não pode ser negada, e a luta contra ela, a embeleza e a torna tanto mais
tolerável, o quanto em sua forma primitiva é intolerável.
A vaidade pode ser comparada a uma planta mágica. Se alguém a vir crescendo
no jardim e a corta, ela crescerá em outro lugar, no mesmo jardim, como árvore
frutífera e, se a retirarem, ela surgirá aí, ainda, em outro lugar como roseira
fragrante, espalhando felicidade por aqueles que nela tocarem. Por conseguinte,
a arte da personalidade não ensina a desarraigar a semente da vaidade, a qual
não pode ser desarraigada, enquanto o homem viver, mas a sua rude aparência
exterior pode ser destruída a fim de que, após várias mortes, ela se manifeste
como a planta dos desejos.
VI
DIGNIDADE
A dignidade que, em outras palavras pode ser chamada respeito próprio, não é
uma coisa que se deve desprezar, considerando a arte da personalidade.
Quando alguém perguntar: qual esse princípio e como deve ser praticado, a
resposta é que qualquer maneira leviana e que tenda para a frivolidade deve ser
extirpada da natureza para manter essa dignidade que nos é tão preciosa.
Aquele que não se interessa por tal idéia, não precisa se preocupar com ela; isso
existe unicamente para quem vê algo no respeito próprio. A pessoa que respeita
a si mesma, será respeitada pelos outros, não obstante seu poder, posses,
posição ou grau social que tenha; em qualquer posição ou situação na vida, essa
pessoa imporá respeito.
Surge então a pergunta: a leviandade tem ou não tem algum lugar na vida, é ou
não de qualquer modo necessária? Tudo é necessário, porém, tudo tem seu
tempo. Dignidade não consiste em mostrar um semblante sombrio; respeito não
é mostrar-se severo; não é franzindo a testa nem por uma atitude rígida que se
mostra dignidade. Dignidade não é estar triste ou deprimido; consiste em agir
convenientemente e de acordo com as circunstâncias. Há ocasiões para
hilaridade e outras para seriedade. A pessoa que ri constantemente, perde o
poder do riso; a que é sempre leviana não impõe o respeito necessário na
sociedade. Além de que, leviandade constante faz com que, muitas vezes, se
ofenda os outros, sem intenção.
Aquele que não tem respeito por si próprio, não o tem pelos outros. Pode pensar,
no momento, que é indiferente às convenções e livre na expressão e no
sentimento, mas não sabe que isso o torna tão insignificante como uma tira de
papel, movendo-se por aqui e por ali, no espaço, levado pelo vento. A vida é um
mar e, quanto mais para além se viaja, tanto mais seguro deve ser o navio.
Assim, nesse mar da existência, para que o homem inteligente possa vencer na
vida, há um certo grau de ponderação exigido que dá equilíbrio à personalidade.
A sabedoria dá essa ponderação. Sua ausência é sinal de incapacidade. O
cântaro cheio d’água é pesado; a ausência d’água no cântaro é que o torna leve,
assim como o homem destituído de sabedoria se torna vazio, fútil.
Quanto mais se estuda e compreende a arte da personalidade, tanto mais se
acha que ela é o enobrecimento do caráter que progride para o objetivo da
criação. Todas as diferentes virtudes, maneiras aprimoradas e qualidades belas,
são manifestações de nobreza de caráter. Mas que é nobreza de caráter? É o
ponto de vista que tudo abrange.
VII
A PALAVRA
A pessoa de sentimentos nobres deixa ver algo de natural em seu caráter: a
estima de sua palavra, que é chamada palavra de honra. Para essa pessoa, sua
palavra é ela própria e isso pode chegar a tal ponto que até a própria vida será
sacrificada por essa palavra. Quem atingiu a esse grau não está longe de Deus,
pois nas Escrituras lê-se frequentemente: “Se quiserdes ver-Nos, vêde-Nos em
nossas palavras”. Se Deus pode ser visto em Suas palavras, a verdadeira alma
também pode ser vista através de sua palavra. Prazer, desgosto, doçura,
amargura, honestidade, desonestidade, tudo isso se observa nas palavras que
o homem diz; porque a palavra é a expressão do pensamento e o pensamento
é a expressão do sentimento. E que é o homem? O homem é seu próprio
pensamento e sentimento. Assim, que é a palavra? A palavra é a expressão do
homem e a expressão de sua alma.
O homem em cujas palavras se pode confiar, é digno de confiança. Nenhuma
palavra no mundo pode ser comparada à palavra de honra. Todo aquele que diz
o que pensa, prova com essa virtude, espiritualidade. Para quem preza a
verdade, voltar atrás com a palavra, é pior do que a morte, pois é retroceder em
vez de progredir. Toda alma caminha e progride para a finalidade e quem
realmente caminha para a finalidade, demonstra-o em suas palavras.
Atualmente, quando são necessários tantos tribunais e tantos advogados,
obrigando à manutenção de inúmeras prisões, que aumentam dia a dia, eis aí
uma demonstração da falta dessa virtude, que é a palavra de honra, e que foi
sempre avaliada pelos nobres de pensamento, desde o princípio da civilização,
porque com tal qualidade o homem mostra a virtude humana, qualidade que não
pertence aos animais nem é atribuída aos anjos. Que é religião? Religião, no
verdadeiro sentido da palavra, não pode ser explicada. É um fio tênue, delicado
ao tato, pois é excessivamente sagrado para ser tocado. É o ideal que pode ser
desfeito se for tocado e que pode ser encontrado na sensibilidade que, em outras
palavras, pode ser chamada espiritualidade, respeito pela palavra.
Muitos neste mundo têm vivido através de sacrifícios; dores e sofrimentos lhes
têm sido infligidos, mas, unicamente para pôr à prova a virtude de sua palavra
pois, como é sabido, qualquer virtude tem de ser submetida à prova de fogo.
Quando a virtude é provada por meio de experiências, torna-se sólida. Isso pode
ser praticado em qualquer coisa que se faça na vida diária. Quem diz agora uma
coisa e daí a pouco outra, até o seu próprio coração começa a desacreditá-lo.
Os grandes que têm vindo à terra de tempos em tempos e que têm mostrado
muitas virtudes elevadas, entre eles a “palavra de honra” tem tido a mais alta
consideração. Maomé, antes de se apresentar ao mundo como profeta, era
chamado Amin por seus companheiros, o que significa digno de confiança. A
estória de Haria Chandra é conhecida pelos Hindus através dos séculos; o
exemplo que ele deu está gravado no pensamento da raça inteira.
A estória de Hatim, um Sufi que viveu há muitos anos, foi uma grande inspiração
para o povo da Pérsia. Em qualquer parte do mundo e em qualquer época,
segundo pensadores profundos e idealistas, a “palavra de honra” deve ser
prezada ao máximo.
VIII
ECONOMIA ESPIRITUAL
Existe um senso e uma tendência de economia qualquer, mais ou menos em
todo ser e, quando essa tendência se manifesta naqueles que nos cercam e com
quem convivemos, desenvolve-se a nossa personalidade. A vontade de poupar
a outrem a paciência em vez de submetê-la a uma prova extrema, é tendência
de economia, de elevadíssima compreensão de economia. Procurar poupar a
quem quer que seja o emprego de sua energia, é acrescentar beleza à própria
personalidade. Aquele qua ignora isso, torna-se com o tempo um estorvo para
os outros. Ele pode ser inconsciente, mas torna-se um obstáculo, porque não
tem consideração pela sua própria energia nem atenção para com a dos outros.
Essa consideração aparece no indivíduo quando ele começa a compreender o
valor da vida. Assim que ele começa a considerar esse assunto, poupa a si
mesmo pensamentos, palavras e ações inúteis, pois passa a fazer uso de tudo
economicamente; e, avaliando a própria vida e as próprias ações, aprende a
avaliar a dos outros. O tempo da vida humana neste mundo é muito precioso,
por conseguinte, quanto mais se pratica o uso econômico do tempo e da energia
que são preciosíssimos, tanto mais se aprende a desfrutar o que a vida tem de
melhor.
Sem nos referirmos ao que falamos, mesmo ouvir os outros falarem é uma
tensão contínua; rouba o tempo e a energia do indivíduo. Quando alguém não
compreende ou não se esforça por compreender o que foi dito com uma palavra
e quer pôr numa frase o que podia ser dito nessa única palavra, não tem,
certamente, idéia de economia; pois a economia do próprio dinheiro é menos
importante do que a de sua vida, de sua energia e da vida e energia dos outros.
Por amor ao belo, à graça e ao respeito, tratando-se com outrem, pode-se ir bem
longe, mas nunca demais. Não se pode tratar do mesmo modo um amigo, um
conhecido e um estranho. Aí, ainda a questão de economia deve ser
considerada. Experimentar a tal ponto a bondade, a benevolência, a
generosidade e paciência sem idéia de economia, é transformar, afinal, a
experiência em desvantagem para todos. Aquele que é bastante sensato para
guardar seus interesses na vida, pode ser chamado capaz, mas aquele que zela
melhor pelo interesse alheio do que pelo seu próprio, é sábio, pois agindo assim,
sem consciência, ele o faz também em interesse próprio. É o mesmo sentido de
economia que se emprega em pequenos detalhes da vida diária, íntima e na de
negócios; o mesmo sentido de economia empregado de modo mais elevado,
assim como a solicitude e a consideração, torna o homem mais capaz de servir
a outrem, o que é a religião das religiões.
IX
JUSTIÇA
Depois de adquirir o refinamento de caráter, das virtudes e dos méritos que são
necessários na vida, a personalidade pode-se tornar completa pelo despertar do
sentimento de justiça. A arte da personalidade esculpe estátuas, belos modelos
de arte, mas quando o sentimento de justiça é despertado, essas estátuas
adquirem vida, porque no sentimento de justiça está o segredo da evolução da
alma. Todos conhecem o nome de justiça, mas raramente se pode encontrar
alguém que seja realmente justo por natureza, em cujo coração tenha sido
despertada a sensação da justiça.
O que acontece, geralmente, é que cada um pretende ser justo, apesar de estar
longe de sê-lo. O desenvolvimento da justiça está no desinteresse; não se pode
ser justo e egoísta ao mesmo tempo. O egoísta pode ser justo, mas só para si.
Ele tem sua própria lei, uma lei que melhor lhe convém e que pode ser modificada
à sua vontade, e o raciocínio o ajudará a assim fazer, a fim de satisfazer as
próprias exigências da vida. Uma centelha de justiça pode ser encontrada em
todos os corações, em todas as pessoas, seja qual for o estado de evolução na
vida, mas, aquele que ama a justiça, sopra, digamos assim, essa centelha,
transformando-a numa chama, à luz da qual a vida se torna para ele mais
compreensível.
Há tanto que dizer sobre justiça, tantas contestações a respeito e, finalmente,
encontramos pessoas discutindo esse assunto e discordando umas das outras;
pensando que têm razão, nenhuma admitirá que a outra a tenha também.
Aqueles que aprendem realmente a ser justos, sua primeira lição é a que Cristo
ensinou: “Não julgueis o próximo para que não sejais julgados”. Pode-se então
perguntar: “Como aprender a ser justo se não se deve julgar?” Aquele, porém,
que julga a si mesmo, pode conhecer a justiça e não aquele que se entretém
julgando os outros. Nesta vida de limitações, se alguém julgou unicamente a si,
encontrará no próprio íntimo tantas e tantas faltas e fraquezas e, quando tratando
com outros, tanta deslealdade que, para aquele que realmente deseja conhecer
a justiça, a própria vida será matéria suficiente para apreendê-la.
Surge, então, em sua vida um período de culminância, de maior desenvolvimento
da alma, quando a justiça e a lealdade atingem ao apogeu, em que o indivíduo
se torna isento de censura; ele nada tem que dizer contra alguém e, se tiver
alguma observação a fazer, é unicamente contra si próprio. E é desse ponto que
se começa a ver a justiça divina oculta nesta manifestação. Isso aparece na vida
do homem como uma recompensa concedida do céu, uma recompensa que é
dada em confiança por Deus, para distinguir tudo o que é justo e injusto, na
brilhante e resplandecente luz da perfeita justiça.
X
REFINAMENTO INTERIOR –
HARMONIA – BELEZA
A arte da personalidade é semelhante à arte da música; requer ouvido educado
e cultura de voz. Para aquele que conhece a música da vida, a arte da
personalidade vem naturalmente, pois não só é antiartístico como discordante
aquele que demonstra falta dessa arte na personalidade. Quando o homem
considera cada indivíduo como um som musical e aprende a reconhecer se esse
som é forte ou fraco, grave ou agudo e a que tom pertence, torna-se então
conhecedor da humanidade e sabe como tratar a todos. Ele apresenta a arte nas
próprias ações, na linguagem; harmoniza-se com o ritmo da atmosfera, com o
timbre da pessoa, com o tema do momento. Tornar-se apurado é tornar-se
musical; é a alma musical que é artística na sua personalidade. A mesma palavra
dita em diferentes tons, muda de significação. Uma palavra dita no momento
apropriado ou contida a tempo, completa a harmonia da vida.
É uma inclinação contínua produzir o belo, que ajuda o indivíduo no
desenvolvimento da arte relativa à personalidade. É estranho como o homem se
sente prontamente inclinado a aprender o polimento exterior e como tantos
indivíduos são tão vagarosos em desenvolver essa arte, interiormente. Devemos
nos lembrar de que o impulso exterior não tem significação se não for impelido
para o belo por outro impulso interior. Pode-se aprender na estória de Indra, Rei
do Paraíso, como Deus fica satisfeito com o homem. Na corte de Indra os
“Gandharvas” cantam e os “Upsaras” dançam. Quando interpretado em palavras
singelas, isso significa que Deus é a essência da beleza; foi o Seu amor pelo
belo que produziu Sua própria beleza na manifestação, pois esse é o desejo por
Ele realizado no mundo objetivo.
É interessante, muitas vezes, observar como maneiras distintas molestam
aqueles que têm orgulho das próprias maneiras incivis. Eles as consideram
inúteis, porque o orgulho é ofendido em vista daquilo que não alcançaram.
Aquela cuja mão não alcança a videira, diz, nessa impossibilidade, que as uvas
estão verdes. E para alguns é, ainda, demasiado belo tornar-se apurado, assim
como muitos não gostam da música clássica, mas sentem-se inteiramente
satisfeitos com a música popular, e outros ficam até cansados com as boas
maneiras por parecerem estranhas à sua natureza.
Assim como não há mérito em se tornar inarmonioso, também não há sabedoria
em ser contra a polidez. Devemos apenas sentir em nós o belo e desenvolvê-lo,
confiantes de que, no íntimo de cada ser, a beleza e sua expressão denotam, de
qualquer forma, sinal de evolução da alma.
XI
CORDIALIDADE E LARGUEZA DE VISTAS
Uma atitude amiga, expressa em pensamentos, palavras e atos simpáticos, é a
coisa principal na arte da personalidade. Há um horizonte ilimitado para mostrar
essa atitude e, embora a personalidade esteja muito desenvolvida, nunca está
demais nesse sentido. Espontaneidade, a tendência de dar, dar aquilo que faz
prazer a alguém, eis aí a atitude amável. A vida tem inúmeras obrigações para
com amigos e inimigos, conhecidos e estranhos. Nunca somos demasiado
conscienciosos relativamente às próprias obrigações. Nunca se faz demais, para
cumpri-las. Fazer mais do que se pode, vai talvez além das forças de cada um;
fazendo, porém, o que se deve, cumpre-se o dever da vida.
A vida é uma intoxicação e o efeito dessa intoxicação é a negligência. As
palavras Hindus “Dharma” e “Adharma”, religião e irreligião, significam que o
dever de cada um na vida é “Dharma” e a negligência do mesmo dever é
“Adharma”, Aquele que não está ciente de suas obrigações para com todos os
seres com os quais está em contato, é realmente irreligioso. Muitos dirão:
“Esforçamo-nos por fazer o melhor possível, mas não o sabemos”; ou “Não
sabemos qual o nosso dever”, ou “Como saberemos realmente qual é ou não o
nosso dever?” Ninguém neste mundo pode ensinar qual é ou não o dever de
cada um. Cabe a todo indivíduo procurar por si mesmo tornar-se conhecedor das
próprias obrigações. Quanto mais consciencioso é o indivíduo, tanto mais
obrigações ele encontra para cumprir, não havendo fim para elas.
Em todo caso, nessa luta contínua, o que lhe pode parecer a princípio uma
perda, será um lucro finalmente, pois o homem se encontrará face-a-face com
seu Senhor, que está sempre vigilante. Os olhos do homem que não cumpre seu
dever para com o semelhante, absorvido na intoxicação da vida, devem-se tornar
certamente ofuscados e a sua mente exausta, perante Deus. Isso não quer dizer
que certa alma seja destituída da visão divina, apenas significa que, aquele que
ainda não aprendeu a abrir bem os olhos, não usufruirá da visão de Deus
enquanto seus olhos estiverem fechados. Todas as virtudes vêm de um largo
horizonte na vida. Por conseguinte, a nobreza de alma, está resumida na
amplidão da atitude que o homem toma na vida.
CAPÍTULO 3
Purificação Mental
I
A PURIFICAÇÃO MENTAL
Devemos limpar e purificar o corpo e devemos também – talvez seja ainda mais
necessário – manter mente limpa e pura. A causa das doenças está nas
impurezas, que também são responsáveis pela irregularidade no funcionamento
do sistema físico. Com a mente acontece o mesmo: há impurezas na mente que
causam diversos males. Se limparmos a mente, ajudaremos a conservar a saúde
tanto do corpo como da mente. Quando falo na saúde, refiro-me ao estado
natural do ser humano. O que é espiritualidade? É ser natural.
Poucos pensam deste modo. Há pessoas que julgam que ser espiritual é ter
capacidade para operar maravilhas, poder ver coisas estranhas, fenômenos
espetaculares e são poucos os que sabem como é simples ser espiritual, que
ser espiritual quer dizer ser natural.
A purificação mental pode ser feita de três maneiras diferentes. A primeira é
manter a mente quieta, pois muitas vezes a atividade da mente produz
impurezas. Se acalmarmos a mente, removeremos dela as impurezas. É como
se afinássemos a mente ao seu tom natural. A mente pode ser comparada a um
tanque com água: quando a água do tanque está parada, o reflexo é nítido; e a
mesma coisa acontece com a mente. Quando a mente está perturbada não
reflete com nitidez a intuição e a inspiração que recebemos. Logo que a mente
se acalma, recebe o reflexo nítido, como o que recebe o tanque quando a água
está parada.
Esse estado de quietude da mente é obtido pela prática do repouso físico. Sentar
numa determinada posição traz um determinado efeito. A ciência dos místicos
ensinou-nos as maneiras diferentes de sentar em silêncio e cada uma delas tem
um significado diferente. Não pensem que esse significado é pura imaginação.
As diversas posições de sentar produzem determinados resultados.
Pessoalmente, e por intermédio de outras pessoas, sei por experiência como a
atitude da mente é modificada, quando sentamos de uma determinada maneira.
Os antigos sabiam disso e descobriram novas posturas para determinadas
pessoas. Há a maneira de sentar do guerreiro, do trabalhador, do estudante,
daquele que medita, do homem de negócios, do advogado, do juiz e do inventor.
Podemos imaginar como foi maravilhoso os místicos fazerem essa descoberta e
a terem experimentado durante anos – a descoberta do grande efeito que uma
pessoa tira, especialmente sua mente, em sentar-se numa determinada posição.
Vivemos essa experiência em nossa vida cotidiana, só que não lhe prestamos
atenção. Às vezes sentamos de uma certa maneira e ficamos inquietos. Quando
sentamos de outra maneira, ficamos calmos. Se sentamos numa determinada
posição ficamos inspirados e se sentamos de outra maneira ficamos sem
energia, sem entusiasmo. Com a ajuda de uma determinada postura,
acalmamos a mente e a purificamos.
A segunda maneira de purificar a mente é usando a respiração. É muito
interessante para um oriental ver que, algumas vezes, o ocidental aplica
inconscientemente em seus inventos os princípios do plano místico. Inventaram
uma máquina para varrer tapetes ao mesmo tempo que aspira o pó. É o mesmo
sistema de expulsão de dentro para fora: a maneira correta de respirar é sugar
a poeira de dentro da mente e atirá-la para fora. Os cientistas vão mais além,
pois afirmam que o indivíduo expele dióxido de carbono. Os gases maléficos são
expulsos do corpo quando expiramos. Os místicos vão mais longe que os
cientistas, dizendo que esses gases não são só extraídos do corpo, mas também
da mente. Se soubermos remover as impurezas, podemos remover muito mais
do que imaginamos. Podemos remover as impurezas da mente, usando a
maneira correta de respirar. Por este motivo é que os místicos combinam a
respiração com a postura. A postura ajuda a acalmar a mente e a respiração
ajuda a limpar a mente. As duas coisas andam juntas.
A terceira maneira é purificar a mente pela atitude. É preciso adotar uma atitude
correta em relação à vida. É o caminho moral e a estrada real da purificação.
Podemos respirar e sentar em silêncio em centenas de posições, mas se não
temos uma atitude correta em relação à vida, jamais nos desenvolveremos. Essa
atitude é o principal. Perguntareis: “Qual deve ser a atitude correta?” A atitude
correta depende da maneira de interpretar nossos defeitos. Estamos muitas
vezes prontos a defender os nossos defeitos e erros e somos propensos a
considerar como um bem o que fazemos de mal. No entanto, não usamos a
mesma atitude em relação aos outros. Achamos que devemos censurar quando
chega a nossa vez de julgar os nossos semelhantes. É tão fácil desaprovar o
que os outros fazem! É ainda mais fácil antipatizar com as pessoas e não é de
todo difícil dar um passo mais à frente e odiar. Quando agimos assim, pensamos
que não estamos causando mal algum. Embora esses sentimentos se
desenvolvam internamente, somente os notamos exteriormente. Vemos nos
outros toda a maldade acumulada no nosso íntimo. O homem, assim, vive
sempre iludido: está sempre contente consigo e culpa constantemente os outros.
O extraordinário é que sempre o homem mais censurável é o que mais censura.
É melhor explicá-lo de outra maneira: é justamente porque culpamos demais os
outros que nos tornamos mais culpados.
A beleza existe na forma, na cor, nos traços, nas maneiras e no caráter. Certas
pessoas não possuem beleza e outras possuem beleza demais. Somente a
comparação é que nos leva a pensar que uma pessoa é melhor do que outra.
Se não comparássemos, notaríamos que todas as pessoas são boas. A
comparação é que nos faz pensar que determinada coisa é mais bonita que
outra, mas, se olhássemos com mais atenção, poderíamos ver a beleza que
também existe nos outros. Às vezes não somos justos em nossas comparações
pelo simples fato de que, embora hoje a nossa mente determine o que é bom e
belo, dentro de um mês ou um ano, estamos sujeitos a mudar de concepção.
Isto é uma prova de que, quando olhamos alguma coisa, apreciamo-la se sua
beleza se manifestar aos nossos olhos.
Não há nada de surpreendente em alguém chegar a um estágio e dizer: “Amo
tudo que vejo no mundo apesar de todos os sofrimentos, lutas e dificuldades.
Tudo é válido”. Outro diz: “Tudo que vejo nada mais é do que miséria. A vida é
feia. Não existe nem um pouco de beleza neste mundo”. Cada um deles está
certo de acordo com seu ponto de vista. São sinceros. Divergem porque olham
a vida de maneira diferente. Têm razões para aprovar ou desaprovar a vida. O
que acontece é que um se beneficia com a visão da beleza e o outro perde por
não apreciá-la, em face de não poder ver a beleza que há na vida.
Assim, pois, adotando uma atitude incorreta, a mente acumula impressões
indesejáveis recebidas dos outros, porque ninguém é perfeito neste mundo.
Todos têm um lado sujeito a críticas e que precisa ser corrigido. Quando olhamos
para tal lado, acumulamos impressões que nos fazem ficar cada vez mais
imperfeitos, pois elas recolhem imperfeições, e o nosso mundo passa a ser um
mundo de imperfeições. Quando a mente se transforma numa esponja cheia de
impressões indesejáveis, o que a mente emitir será também indesejável.
Ninguém pode falar mal de alguém sem que isso o afete, pois o que fala mal dos
outros, torna-se também mau.
Do ponto de vista moral, deve-se aprender a purificar a mente na vida diária.
Devemos fazer o possível para ver as coisas com simpatia, de maneira favorável.
Ver os outros como nós próprios nos vemos, colocando-nos no lugar dos outros
ao invés de acusá-los por suas fraquezas. As almas vêm à terra imperfeitas e
mostram imperfeições. Vão-se desenvolvendo com naturalidade à proporção
que avançam no caminho da perfeição. Se todos nós fôssemos perfeitos, não
haveria objetivo algum na criação do homem. A manifestação foi criada para dar
oportunidade a todos os seres de se elevarem, deixando a imperfeição para
atingir a perfeição. Este é o objetivo e a alegria da vida. Para isso é que o mundo
foi criado. Se esperássemos encontrar um ser perfeito em todos os homens, um
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A Mensagem Sufi - A Formação do Caráter, A Arte da Personalidade e a Purificação Mental

  • 1. HAZRAT INAYAT KHAN A MENSAGEM SUFI-III A Formação do Caráter A Arte da Personalidade Purificação Mental UNIVERSALISMO
  • 2.
  • 3. Sumário O Mensageiro Que é um Sufi O Emblema Sufi O Objetivo do Movimento Sufi A Tradição do Sufismo Mensagem Sufi Máximas Sufis Característicos do Sufi Pensamentos do Sufi Prefácio CAPÍTULO 1 – FORMAÇÃO DO CARÁTER I – O Poder da Vontade. O Verdadeiro Eu e o Falso Eu II – Como Encarar o Mundo. A Vida é uma Sinfonia III – Autocontrole IV – Relacionamento com o Próximo V – Sutileza VI – Pessimismo – Otimismo VII – Inquietação. Discrição. Tranquilidade VIII – Curiosidade IX – Maledicência X – Generosidade CAPÍTULO 2 – A ARTE DA PERSONALIDADE
  • 4. I – Dançar na Corte de Indra II – Gratidão III – Impulsividade. Delicadeza IV – Persuasão V – Vaidade VI – Dignidade VII – A Palavra VIII – Economia Espiritual IX – Justiça X – Refinamento Interior XI – Harmonia e Largueza de Vistas CAPÍTULO 3 – A PURIFICAÇÃO MENTAL I – A Purificação Mental II – A Mente Pura III – Desaprender IV – Distinção entre o Sutil e o Grosseiro V – Maestria ou Arte do Aperfeiçoamento VI – O Controle do Corpo VII – O Controle da Mente VIII – A Força do Pensamento IX – Concentração X – Vontade XI – Relax Místico (1) XII – Relax Místico (2) XIII – Magnetismo XIV – O Poder Interior XV – O Segredo da Respiração
  • 5. XVI – O Mistério do Sono XVII – O Silêncio XVIII – Sonhos e Revelações XIX – Introspecção ou Visão Interior (1) XX – Introspecção ou Visão Interior (2) XXI – A Expansão da Consciência
  • 6. O Mensageiro Pir-O-Murshid Inayat Khan, o iniciador do Movimento Sufi, e fundador da respectiva Ordem, nasceu em Baroda, Índia do Sul, a 5 de julho de 1882. Suas qualidades excepcionais, talentos artísticos e atitudes espirituais eram evidentes desde os primeiros anos de sua mocidade. Seus poemas são inspirados e tocam ao sublime. Músico, tornou-se famoso em toda a Índia, tanto como compositor quanto como cantor, e foi honrado pelos potentados com títulos, jóias e dinheiro. Estudou música, poesia, filosofia, religião comparada e misticismo com os maiores mestres da sua terra, e então, sentindo comandá-lo, no seu íntimo, a força impulsiva do Divino, correspondeu à exortação do seu Senhor, “Na verdade tu és abençoado por Allah, o mais Misericordioso e Compassivo Deus; segue meu Filho, junta o Oriente com o Ocidente, dá ao mundo a Divina Mensagem de Amor, Harmonia e Beleza”. Pir-O-Murshid Inayat Khan, alma verdadeiramente iluminada e mística, deixou a sua terra natal em 1910, e viajou pela Europa e Estados Unidos da América, recebendo constantemente a Divina Inspiração e Revelação, que ele interpretava em linguagem humana e ofertava ao mundo. Os seus ensinamentos incorporam a riqueza do saber que tem sido entesourado no Oriente durante séculos, satisfazem a fome espiritual de toda alma e formam um treino seguro e sistemático a respeito do desenvolvimento da consciência no rumo dessa compreensão da Presença de Deus, que é a meta da humanidade. Pir-O-Murshid Inayat Khan fundou e organizou o Movimento Sufi e deu-lhe completa intuição em todos os seus cinco ramos de atividade. Depois, conhecendo que a sua Missão tinha sido cumprida, obedeceu ao Chamado de Retorno e voltou para a Índia, no fim de 1926. Depois de fazer uma série de conferências na Universidade de Delhi, capital da Índia Inglesa, e de ser reconhecido pelo Chefe dos Sufis na Índia, Shaikh Nizami como seu Mestre, de todos os Sufis, conheceu que a tarefa da sua vida estava completa. Mais tarde, como predissera, passou alguns dias no estado de êxtase, conhecido como Samadhi e finalmente deixou o seu corpo físico a 5 de fevereiro de 1927. Seus restos mortais jazem numa tumba entre dois Santos Sufis, em Delhi.
  • 7. Que é um Sufi? Que é um Sufi? – É aquele que não se separa dos outros pela opinião ou dogma e que compreende que o coração é o Sacrário de Deus. Que deseja ele? – Remover o falso eu e descobrir dentro dele Deus. Que ensina ele? – Felicidade. Que procura ele? – Iluminação. Que enxerga ele? – Harmonia. Que outorga ele? – Amor a todas as coisas criadas. Que obtém ele? – Uma força maior do amor. Que perde ele? – O egoísmo. Que acha ele? – Deus.
  • 8. O Emblema Sufi O Emblema do Movimento Sufi – um coração alado – simboliza os seus ideais. O coração é tomado em ambos os sentidos, o celeste e o terreno. Como o centro do ser de uma pessoa, é um receptáculo na terra, do Espírito Divino, e se eleva ao Reino do Céu quando corresponde ao Espírito de Deus, que eternamente procura guiar a humanidade. A elevação do coração é indicada pelas asas abertas, e estas representam, respectivamente, desprendimento e independência; desprendimento dos gozos mundanos e da arbitrária opinião, e independência na consciência do Amor, da Sabedoria e do Poder de Deus. O Crescente no coração simboliza correspondência; é o coração correspondendo ao Espírito de Deus, que se levanta. O Crescente é o símbolo da correspondência, porque vai ficando mais cheio, correspondendo mais e mais ao sol. A luz, que se vê na lua crescente, é a luz do sol, e, aumentando correspondentemente, se torna ela cheia da luz do sol. Semelhantemente, a alma nobilitada sempre se torna uma expressão mais plena das qualidades divinas. A Estrela no centro do Coração representa a centelha Divina, que se reflete no coração humano com amor, e, pela virtude do sopro Divino, pode ser soprada até que se levante uma chama para iluminar o caminho da vida de uma pessoa.
  • 9. O Objetivo do Movimento Sufi O objetivo do Movimento Sufi é trabalhar em prol da unidade. Seu objetivo principal é atrair a humanidade, hoje dividida em tantos setores diferentes, para que os homens se aproximem cada vez mais e compreendam mais profundamente a vida. É uma preparação para um serviço de âmbito mundial, usando três caminhos principais: um dos caminhos é a compreensão filosófica da vida, outro é estabelecer uma fraternidade entre raças, nações e crenças, e o terceiro caminho é satisfazer a mais premente necessidade do mundo, a religião para os dias atuais. Sua finalidade é dar à humanidade aquela religião natural, que sempre foi a religião dela: respeitar todas as crenças, todas as escrituras e todos os mestres. A Mensagem Sufi é um eco da eterna mensagem divina, que sempre foi transmitida e sempre será dada ao mundo para iluminar a humanidade. Não é uma nova religião, é a mesma mensagem dada à humanidade. É a continuação da mesma religião antiga, que sempre existiu e sempre existirá, uma religião que pertence a todos os mestres e a todas as escrituras. É a continuação de todas as grandes religiões que existiram no mundo em épocas diferentes e é uma unificação de todas elas, o que constitui e constituiu sempre o desejo de todos os profetas. O Movimento Sufi é composto de pessoas que possuem o mesmo ideal de servir a Deus e à humanidade, ideal esse que impele os Sufis a devotar uma parte, ou a vida inteira, ao serviço da humanidade, levando-a ao caminho da Verdade. O Movimento Sufi é formado de grupos, cujos membros pertencem a todas as religiões e, portanto, professam religiões diferentes. Todos são benvindos ao Movimento Sufi, quer sejam Cristãos, Budistas, Parsis, Muçulmanos, etc. Não se indaga sobre a fé ou crença de ninguém. Cada um pode continuar a frequentar a sua igreja, a ter sua religião ou credo. Não se obriga ninguém a acreditar em um credo ou dogma em particular. Há liberdade de pensamento. É dada uma orientação pessoal para trilhar o caminho, quer sobre os problemas da vida exterior, quer sobre os problemas da vida interior. Os que fazem parte da escola esotérica do Movimento Sufi recebem, além da orientação pessoal, ensinamentos que são transmitidos somente àqueles que estão preparados para recebê-los. Há sutilezas de idéias, de idéias espirituais, morais ou filosóficas, que não podem ser transmitidas imediatamente a qualquer pessoa, mas que são transmitidas gradativamente àqueles que se mostram suficientemente compenetrados para enveredar no caminho da Verdade. Entretanto, todos aqueles que desejarem pesquisar a Verdade devem se lembrar
  • 10. de uma coisa: o primeiro passo no caminho da Verdade é ser verdadeiro para consigo mesmo. O culto do Movimento Sufi é chamado “Adoração Universal”, porque nesse culto são reverenciados todos os cultos: do Cristão, do Muçulmano, do Hebreu, do Zoroastriano, do Budista, do Hindu. Assim, pois, quem quer a bênção de Jesus Cristo receberá essa bênção do altar, os que procuram a bênção de Moisés receberão a sua bênção, os que desejam a bênção de Buda também a recebem de Buda, e assim sucessivamente, mas aqueles que procuram a bênção de todos os grandes Profetas que vieram ao mundo em épocas diferentes, esses recebem uma bênção global, a bênção de todos os Profetas. O Movimento Sufi não interfere no ideal de ninguém nem na devoção que cada um tem ao seu Mestre. Seria isso um absurdo tão grande como se pensássemos que uma criança pode amar mais a mãe de uma outra criança do que a sua própria mãe. Tem alguém o direito de comparar e colocar em determinado lugar os grandes Mestres ou as Escrituras? Ninguém. Onde podemos colocar o nosso ideal é na devoção de nosso coração ao ideal que adoramos e isso é assunto que só a nós diz respeito. Ninguém pode interferir. Certa vez algumas meninas brincavam e diziam: “Minha mãe é a melhor das mães”, ao que outras retrucavam: “Não, a minha mãe é a melhor”. Todas apresentavam argumentos, mas uma delas, que tinha mais sabedoria do que as outras, disse: “Não é nada disso, o que é adorável é a mãe, seja ela a sua mãe ou a minha mãe”. Interfere o Movimento Sufi na devoção das pessoas aos seus Mestres? Nunca, mas convida as almas a ver que a fonte e a meta de todas as sabedorias é uma só, e que todas as bênçãos que as almas almejam vêm da mesma fonte, pois a verdade é que existe uma só e única fonte. Na “Adoração Universal” os Sufis colocam no altar as Escrituras de todas as religiões enumeradas acima e colocam também velas representando essas religiões. As diversas velas acesas significam nossa adesão aos diferentes Mestres, religiões e escrituras, que ensinaram que existe somente uma luz, embora existam muitas lâmpadas. Não são as lâmpadas que devem entrar primeiramente na mente e sim a luz. É essa luz que deve ser levada em primeiro lugar ao coração. Jesus Cristo trouxe ao mundo o ensinamento da religião da unidade. Os ensinamentos de Moisés e os esforços de Maomé tiveram o mesmo objetivo. Tudo que Buda ensinou, o que Krishna pregou, pode ser resumido no seguinte: existe uma só luz, que é a luz divina, e a direção apontada por essa luz é o caminho que deve ser trilhado pela humanidade.
  • 11. Embora o ideal Sufi seja expresso de muitas maneiras, os Sufis adoram também o ideal do “sem forma”. A forma serve para ajudar os que precisam ver a forma, pois nossa educação é baseada realmente em nomes e formas. Se não existissem nomes e formas, não teríamos aprendido a conhecer as coisas, mas a finalidade da forma é apenas uma questão do que está atrás da forma. É sempre a mesma e única verdade que existe atrás de todas as religiões. Portanto, o cerimonial do culto Sufi não deixa também de ser um ensinamento, mas todo Sufi é livre de usar ou não usar uma forma. Um Sufi não fica limitado a forma alguma. As formas são usadas pelo Sufi, mas as formas não o aprisionam. No Movimento Sufi não existe sacerdócio no sentido comum da palavra. O sacerdócio é apenas para o cerimonial e para preencher as funções que um sacerdote sempre exerce na vida cotidiana. Os que recebem as ordens no Movimento Sufi são chamados “Sirajs” e “Cherags”. Não há distinção entre o elemento masculino e feminino. A alma que se mostrar digna será ordenada. Constitui isso um exemplo para o mundo, mostrando que em todos os lugares – na igreja, na escola, no Parlamento ou na corte – a mulher e o homem juntos é que contribuem para uma evolução completa. O Sufi é ao mesmo tempo um sacerdote, um pregador, um mestre e um aluno de todas as almas que encontra pelo mundo. As preces Sufi “Saum” e “Salat” não são preces feitas pelo homem. São preces enviadas do Alto, foram transmitidas da mesma forma que, em cada período de reconstrução espiritual da humanidade, foram transmitidas as demais preces. Essas preces têm poder e trazem bênçãos, especialmente para aqueles que crêem. O que representa uma prece verdadeira? Louvor a Deus. Qual é o significado da palavra louvor? Apreço, abrir o coração cada vez mais à beleza divina representada na manifestação. Nunca seremos bastante gratos. Devemos ensinar às crianças e aos nossos empregados a ter apreço, não para nosso próprio benefício, mas para que eles se beneficiem do ensinamento de que devem dar valor e apreciar as coisas. Se isso não Ihes for ensinado, privá-lo- emos de uma grande virtude, pois a alegria e a felicidade estão no apreço a determinadas coisas ou certas condições. A prece treina a alma para dar maior apreço à bondade de Deus. A prece pode ser feita em silêncio, mas como a natureza de sensação é psicológica, se recitarmos as palavras da prece em voz alta faremos com que elas penetrem no “Akasha” do corpo, a parte etérea do corpo, e atinjam o plano interior do nosso ser. Assim sendo, as preces repetidas em voz alta têm sobre a alma um efeito maior do que uma prece recitada em silêncio. A prece é dada ao homem para que se beneficie dela e não para beneficiar Deus.
  • 12. A ação da prece também é psicológica, porque produz em cada átomo do nosso corpo, imagens do pensamento que está atrás da prece. Cada átomo do corpo reza, até as células do sangue oram. Todo ser do homem se transforma numa prece. Assim, os movimentos que acompanham as preces têm uma ação psicológica. A cada movimento que fazemos ao dizer as preces, segue-se uma espécie de projeção, que fica impressa em cada átomo do nosso corpo. Nossa circulação é afetada e todo nosso ser é afetado pela circulação, até a nossa pele.
  • 13. A Tradição do Sufismo Pir-O-Murshid Inayat Khan definiu o Sufismo como a filosofia do Amor, da Harmonia e da Beleza. É um reconhecido caminho místico da devoção, tem existido no Oriente há mais de um milhar de anos, mas a sua tradição pode ser rastreada pelo menos até o tempo de Abraão, o pai de quatro grandes religiões, e que foi ele mesmo iniciado no antigo culto religioso do Egito. A Confraria dos Essêneos, existente ao tempo de Jesus, era indubitavelmente Sufi. No sentido verdadeiro da palavra, o Sufismo tem existido desde o nascimento da raça humana e todos os grandes Mensageiros, Profetas, Santos e Mestres hão sido Sufis. Neste aspecto ideal o Senhor Buda foi mais um Sufi do que um Budista, justamente como o Senhor Jesus foi um Sufi antes que um Cristão, porque ambos tornaram realidade a bênção da Consciência de Deus e apontaram o caminho dela para os outros seguirem. No seu mais profundo aspecto, o Sufismo corresponde àquela Companhia de todas as almas iluminadas, que formam a corporação do Mestre, o Espírito de Guia, a que se referem os Místicos Cristãos como a Igreja Oculta, iluminada pela Luz de Cristo, que governa e dirige todas as formas exteriores de religião. Cada época do mundo tem visto almas iluminadas, e assim como é impossível limitar a sabedoria a nenhum período, lugar ou povo, assim também é impossível datar ou localizar a origem do Sufismo.
  • 14. Mensagem Sufi A Mensagem de Deus tem sido enviada à terra aonde quer que o clamor da humanidade chegue a um certo ponto, e tem sido outorgada numa forma apropriada às necessidades do tempo; mas, em essência, é a mesma eternamente. “Deus fala a seus filhos através dos lábios do homem”. Seus Mensageiros Divinos têm sido muitos, e incluem Rama, que trouxe a Mensagem da Sabedoria; Buda com a Mensagem da Compaixão; Zoroastro deu a Mensagem da Pureza; Moisés, a Mensagem da Lei; Cristo foi portador da Mensagem do Sacrifício de Si Mesmo, e Maomé deu a Mensagem da Unidade. A Mensagem da Verdade Divina surgiu para o Mundo Ocidental em 1910 com Pir-O-Murshid Inayat Khan. Ele incorporou numa forma moderna e universal a Essência da Verdade e Sabedoria dos Místicos Sufis do Oriente, e profetizou que o Sufismo se tornaria a religião e Filosofia das futuras gerações. Em si mesmo, o Sufismo não é um culto novo, posto que sua clara exposição da Verdade Divina e da natureza imortal do homem constitui uma Revelação para o mundo. A mensagem Sufi é a resposta Divina ao clamor humano da hora presente por Paz, Amor e Felicidade, e estes ele os dá pela concepção de Deus imanente, não distante, mas presente dentro do coração de cada indivíduo. Não traz novas teorias, ou doutrinas, para se adicionarem àquelas já existentes, que atrapalham a mente humana. O de que o mundo precisa hoje é a mensagem de Amor, Harmonia e Beleza, cuja ausência é a única tragédia da vida. A Mensagem Sufi não dá uma nova lei, mas desperta na humanidade o espírito de fraternidade, com tolerância da parte de cada um para com a religião do outro, com perdão de cada um para a falta do outro; ensina a plenitude de pensamento e a consideração, de maneira a criar e manter a harmonia na Vida. Ensina a servir e ser útil, o que pode, somente, fazer frutífera a vida no mundo, e em que reside a satisfação de cada alma. O Movimento Sufi tem crescido rapidamente durante os ultimas anos, sendo hoje uma organização internacional com a sua sede em Genebra.
  • 15. Máximas Sufis Espiritualidade quer dizer coração afinado; não podemos obtê-la nem por estudo nem por devoção. Uma perda mundana por vezes se torna um ganho espiritual. O caminho do Sufi é gozar a vida, e no entanto manter-se acima dela; viver no mundo, e não se deixar ganhar por ele. Aprender a lição de como viver é mais importante do que todo e qualquer treino psíquico, ou de ocultismo. A Sabedoria não está nas palavras, mas na compreensão. Uma Alma é tão grande quanto o círculo da sua influência. De entre as conchas de um coração partido emerge a alma rediviva. Deus fala ao profeta na sua língua Divina e o profeta interpreta-o na linguagem do homem. A alma de Cristo é a luz do Universo. O que nos faz felizes, ou infelizes, não é nossa situação na vida, mas a nossa atitude para com a vida. A felicidade é nosso direito inato; cada alma procura a felicidade, finalmente descobre que não existe em parte alguma felicidade exceto em Deus. Quanto mais temos em vista os sentimentos dos outros, mais harmonia e felicidade podemos criar. Para uma alma vigilante, o Dia do Juízo não vem depois da morte, mas hoje mesmo. Nas esferas da consciência, a alma do homem e o espírito de Deus se encontram e se tornam um. A alma Iluminada encontra seu caminho nas trevas, tanto no interior como fora de si mesma. A vida é a principal coisa a considerar, e a vida verdadeira é a vida interior, a exata compreensão de Deus.
  • 16. Fazer de Deus uma realidade é o verdadeiro objeto da adoração. A alma chega a um estado de realização onde a Vida toda se torna uma visão sublime da Imanência de Deus. Na verdade, aquele que busca o mundo herdará o mundo, mas a alma que procura Deus alcançará a Presença de Deus. “A verdadeira espiritualidade não é necessariamente uma fé, ou crença, fixa – é o enobrecimento da alma pelo elevar-se acima das barreiras da vida material”.
  • 17. Caraterísticos do Sufi – Qual é a religião do Sufi? – A vida natural. – Qual é a maneira do Sufi? – A simplicidade. – Qual é a meta do Sufi? – A exata compreensão de si mesmo. – Qual é o caminho do Sufi? – A amizade. – Qual é a arte do Sufi? – A humildade. – Qual é o condão do Sufi? – A personalidade. – Qual é a moral do Sufi? – A beneficência. – Qual é a atitude do Sufi? – O perdão. – Qual é o ideal do Sufi? – O homem. – Qual é do Sufi o bem-amado? – Deus.
  • 18. Pensamentos do Sufi 1. Existe um Deus, o Eterno, o Ser único; ninguém existe senão Ele. 2. Existe Um Mestre, o Espírito-Guia de todas as almas, que permanentemente conduz os que o seguem para a Luz. 3. Existe um livro santo, o sagrado manuscrito da natureza, a única escritura que pode iluminar o leitor. 4. Existe uma religião, o indesviável progresso na direção retilínea para o ideal, que preenche o objetivo da existência de toda alma. 5. Existe uma lei, a lei da reciprocidade, que pode ser observada por uma consciência sem egoísmo conjuntamente com um senso de vigilante justiça. 6. Existe uma fraternidade, a fraternidade humana, que une os filhos da terra, indiscriminadamente, de Deus, na Paternidade. 7. Existe uma moral, o amor que rebenta da negação do egoísmo, e floresce em obras de beneficência. 8. Existe um objeto de louvor, a beleza, que levanta o coração dos seus adoradores através de todos os aspectos, do Visto, para o Não-visto. 9. Existe uma verdade, o verdadeiro conhecimento da nossa entidade, interna e externa, o que é a essência da sabedoria. 10. Existe um caminho, o aniquilamento do falso eu no real, que levanta o mortal para a imortalidade, na qual reside toda a perfeição.
  • 19. Prefácio Assim como a natureza na sua totalidade foi criada por Deus, assim a natureza de cada um é criada por ele mesmo (“Gâyan”). Os Hindus chamaram a natureza manifestada “O Sonho de Brahma”. Que é sonho? No sonho, o pensamento e o sentimento manifestam-se inteiramente; eles atingem a sua plenitude. Assim, a natureza do homem é a manifestação do próprio pensamento e sentimento como a sua fisionomia é a imagem desse pensamento. Nela se refletem as impressões que ele recolhe. Desde as épocas mais remotas e, durante toda a vida, cada indivíduo forma sua natureza pelas impressões recebidas, tornando-se elas seus atributos e suas qualidades. “A única coisa que é criada através da vida é a natureza do indivíduo” (“Gâyan”). O homem pode criar sua natureza tão bela quanto ele queira. “A personalidade encantadora é uma magnífica obra de arte com vida!” (“Gâyan”). “A personalidade encantadora é grande riqueza!” (“Nirtan”). Esse é o tesouro que o homem “acumula no céu”, como disse Cristo. É com isso que se começa a alcançar o reino dos céus. “A arte da personalidade torna o homem capaz, não somente de se satisfazer como também de agradar a Deus” (A arte da personalidade).
  • 20. CAPÍTULO 1 Formação do Caráter I O PODER DA VONTADE – O VERDADEIRO EU E O FALSO EU A força de vontade exerce grande influência na formação do caráter. Ela se torna fraca quando alguém cede a qualquer tendência, inclinação ou capricho que tenha, e, quando se combate qualquer tendência, inclinação ou capricho, se aprende a lutar contra si mesmo, desenvolvendo assim a força de vontade. Quando as tendências, inclinações e caprichos de uma pessoa sobrepujam a força de vontade, ela tem na vida a sensação dos diversos inimigos que existem em si mesma e encontra dificuldade em combatê-los. Pois tendências, inclinações e caprichos, quando se tornam poderosos, impedem a força de vontade de agir contra eles. Se existe alguma coisa a que se pode chamar de auto-abnegação, é a prática de exercitar a força de vontade e, assim fazendo, adquire-se com o tempo uma força que pode ser chamada autocontrole. Em pequenos detalhes da vida diária, despreza-se essa consideração, pensando-se: “estas são minhas tendências, minhas inclinações, meus caprichos e, respeitando-os, respeito a mim mesmo; considerando-os, con- sidero a mim próprio”. Esquecemos, porém, que aquilo que se chama “meus, minhas”, não se relaciona a mim, mas à minha vontade. Assim no Padre Nosso cristão está dito: “Seja feita a Tua Vontade”. Tua Vontade, nesse caso, significa a Vontade de Deus, atuando em mim, ou, em outras palavras: seja feita a minha vontade que é a Tua Vontade, a Vontade de Deus. É essa ilusão de confundir o que possuímos com o verdadeiro ser, que cria todas as outras ilusões e impede o homem de alcançar a auto-realização. A vida é uma luta contínua. O homem luta com coisas alheias ao seu espírito, dando assim campo livre aos inimigos que existem no próprio ser. Por consequência, a coisa mais necessária na vida, é dar uma trégua às preocupações exteriores, preparando-se para a batalha que se travará interiormente no espírito. Uma vez alcançada a paz interna, é fácil adquirir força e poder suficientes para serem empregados na luta da vida exterior e interior. A autopiedade é a pior pobreza. Quando uma pessoa diz: “Sinto isto, sinto aquilo”,
  • 21. lastimosamente, diminui a metade do seu valor antes de prosseguir e o que ela disser a mais, aniquila-a totalmente. Há tantas coisas no mundo de que nos podemos compadecer e que seria de direito fazê-lo; se, porém, estamos sempre preocupados conosco, não temos tempo de pensar nos outros. A vida é uma longa jornada, e quanto mais para trás deixarmos o ser egoísta tanto mais teremos avançado em direção ao objetivo a alcançar. Na verdade, é com a perda do falso eu, que o eu verdadeiro é encontrado. II COMO ENCARAR O MUNDO – A VIDA É UMA SINFONIA Na formação do caráter, o de que mais se necessita aprender é a maneira de encarar o mundo; o mundo, onde se encontram tristezas e tormentos, prazeres e dores. É muito difícil ocultar do mundo esses sentimentos; no entanto, uma pessoa prudente não se expõe a mostrar a todos, nem a cada momento, o que sente. A pessoa vulgar, ao contrário, não sabendo reagir a influências exteriores e impulsos interiores é como uma máquina e, desse modo, não pode tirar partido da música da vida. Para uma pessoa dotada de sabedoria, a vida é uma sinfonia na qual ela tem de executar certa parte. Se alguém se sentisse tão deprimido, que o coração emitisse sons mais graves e a vida requeresse nesse momento sons mais agudos, uma falha seria notada nessa sinfonia, na qual cada um tem que executar a sua parte com segurança. É o meio pelo qual se pode distinguir a alma inexperiente da alma experiente. A alma inexperiente mostrará qualquer sentimento, ao passo que a alma experiente atingirá o grau mais elevado a despeito de qualquer dificuldade. Há ocasiões em que o riso deve ser contido e há outras em que as lágrimas devem ser retidas, e, aqueles que chegaram a esse grau de perfeição, podem desempenhar cabalmente o papel que lhes foi designado no drama da vida; eles têm poder suficiente sobre a expressão da fisionomia, podendo tornar lágrimas em risos ou risos em lágrimas. Podeis perguntar: “não é hipocrisia não ser natural?”. Aquele que tem controle sobre a própria natureza, é mais natural; não é apenas natural, mas também verdadeiramente senhor da natureza; aquele a quem falta o controle sobre a natureza, apesar de toda sua naturalidade, é fraco. Além disso, é preciso compreender que a verdadeira civilização significa a arte da vida. Qual é essa arte? É o conhecimento relativo à música da vida. Logo que a alma tenha despertado para a eterna música da vida, essa alma considerará
  • 22. como responsabilidade e dever próprios, desempenhar-se na vida exterior, não obstante seja isso contrário à condição interior no momento. É preciso saber em cada momento da vida diária: Que é que a vida exige de mim? Que me pede? Como corresponderei a essa solicitação? Isso requer que se esteja perfeitamente consciente das condições da vida. É necessário que se tenha conhecimento profundo em relação à natureza humana e que haja capacidade de reconhecer perfeitamente a própria condição. Se alguém diz: “eu sou como sou; se sou triste, sou triste; se sou alegre, sou alegre”; não age com discernimento. A própria terra não tolerará quem não corresponder às solicitações da vida. O céu não admitirá essa pessoa e o mundo rejeitará quem não estiver apto a dar o que a vida lhe pede; sendo assim, melhor é que aquilo que tem de ser feito, seja feito de bom grado. Na orquestra há um regente e vários executantes e cada um tem de contribuir no seu instrumento para uma execução perfeita. Se um músico falhar nessa execução, a falta será sua. O regente não o atenderá, se ele disser que não tocou bem por estar triste ou demasiadamente alegre. Está interessado somente na parte que cada músico deve executar em toda a sinfonia. Essa é a natureza de nossa existência. Quanto mais progredirmos nessa orquestra, tanto mais eficientes nos tornaremos na execução satisfatória de nossa parte na sinfonia da vida. Que é necessário para nos tornarmos capazes de ter controle sobre nós mesmos? Precisamos ter controle sobre o nosso “eu” interior, porque toda a manifestação exterior nada mais é do que a reação do estado interior. Por conseguinte, o primeiro controle que cada um deve adquirir, é o controle sobre si mesmo, sobre a sua natureza interior, o que se consegue fortalecendo a vontade e também compreendendo melhor a vida. III AUTOCONTROLE Durante a conversação e nos atos diários, é de grande importância o autodomínio quanto à maneira de falar ou de agir, porque, às vezes, escapa automaticamente por um impulso interior uma palavra ou outra que achamos não deveria ser proferida ou talvez, pudéssemos dizer de outro modo. O mesmo acontece com a ação. Pensa-se: “Eu não deveria ter agido assim”, depois de fazer alguma coisa; ou, pensamos: “Deveríamos ter feito isso de outra forma”; mas uma vez isso realizado, é demasiado tarde para agir de outro modo. Na natureza humana existe certa pressa interior em nos manifestarmos e, assim, deixamos escapar as palavras antes que tenhamos tempo de refletir e tudo isso evidencia a falta de autocontrole. É também uma condição nervosa. Muitas vezes, uma pessoa se esforça para responder a alguém que ainda não acabou de falar; antes de concluída a frase, a resposta está dada. Uma resposta semelhante, dada a uma idéia incompleta,
  • 23. nem sempre é correta. O que acontece, geralmente, em tais casos, é que tomamos muito a sério aquilo que ouvimos e permitimos, assim, que as coisas e influências exteriores penetrem no nosso íntimo mais do que deveriam. Desse modo nos tornamos sensíveis demais, provindo, então, o nervosismo. Para exercer o autocontrole na vida diária, o melhor é desenvolver na nossa natureza uma certa dose de indiferença. Nem toda a palavra que é dita por outrem deve ser tomada tão a sério que transforme todo o ser, perturbe o equilíbrio mental e prejudique a força de vontade. Na vida diária, há coisas que têm pouca importância e há tantas outras que são insignificantes e, muitas vezes, estamos sujeitos a atribuir-lhes uma força indevida. A independência se completa com a indiferença. Isso não quer dizer que não devemos prestar atenção ao que alguém diz ou faz, porém, que devemos distinguir as coisas importantes das insignificantes na vida diária; que todas as coisas necessárias e desnecessárias não devem exigir a mesma atenção, o mesmo pensamento ou sentimento. A economia política tornou-se uma parte da educação mas, em religião, a economia espiritual é a coisa essencial. Tudo que se diz e faz, tudo que se pensa e sente, exerce certo esforço da parte do espírito. É prudente evitar qualquer ocasião de perder o equilíbrio. É preciso mantermo- nos em paz, porém, firmes contra todas as influências que perturbam a vida. Há uma propensão para responder em defesa própria, mas com isso se perde o equilíbrio mental. Por conseguinte, o autocontrole é a chave de todo êxito e de toda felicidade. Além do mais, há muitas pessoas que se sentem induzidas e na obrigação de dizer ou fazer certas coisas, somente porque alguém lhes pede isso, e, assim, se tornam cada vez mais fracas. Há outras que reagem energicamente contra isso; ambas, porém, estão em erro. Aquele que é capaz de conservar o equilíbrio sem se molestar ou perturbar, adquire esse autocontrole que e necessário para evoluir na vida. Nenhum princípio deve ser cegamente seguido. A economia espiritual não é uma virtude se ela perturba a harmonia e se de algum modo impede alguém de progredir, arrastando-o a uma condição pior. Entretanto, é muito necessário conhecer a ciência da economia espiritual, saber defender-se contra todas as influências na vida diária, as quais vêm perturbar a tranquilidade e a paz da alma. IV RELACIONAMENTO COM O PRÓXIMO É coisa muito importante, na formação do caráter, a pessoa se tornar consciente das próprias relações, da obrigação e deveres relativos a cada ser e não confundir esse elo e parentesco estabelecido entre si mesma e outra pessoa, com uma terceira.
  • 24. Deve-se pensar que tudo que é confiado a alguém, por quem quer que seja, é por confiança própria, e corresponder com sinceridade à confiança de todos é um dever sagrado. Desse modo a relação harmoniosa está estabelecida com qualquer pessoa e é a harmonia estabelecida com todos que sintoniza a alma com o infinito. Isso requer grande estudo sobre a natureza humana, além de um tino especial, conservando-nos em termos harmoniosos com todos. Quando temos admiração ou rancor por alguém, é melhor nos dirigirmos a esse alguém em vez de propalar isso, entre nossos conhecidos, pessoas de nossas relações. Excetuando os amigos, mesmo com relações comuns, essa consideração é necessária: guardar carinhosamente o fio tênue que une duas almas, qualquer que seja a estima que dediquemos a cada um ou o seu grau de cultura. “Dharma” na linguagem dos Hindus, significa religião, mas a significação literal dessa palavra é dever, sugerindo que o relacionamento com qualquer pessoa no mundo é uma religião e, quanto mais conscienciosamente se segue isso, tanto mais se prova estar seguindo intensamente a própria religião. Guardar o segredo de nossos amigos, de seres de nossas relações, e mesmo daqueles de quem durante certo tempo fomos amigos, sendo depois por eles molestados, é o dever mais sagrado. Aquele que compreende assim sua religião, nunca considerará direito contar a outrem algum mal ou injustiça que daqueles recebeu. Isso é aprendido por meio da auto-abnegação, que nem sempre se obtém por meio de jejuns ou de retiros no deserto. O homem cônscio de seu dever, das obrigações para com seus amigos, é mais piedoso do que outro, retirado no isolamento. Aquele que está na solidão não serve a Deus, serve unicamente a si, gozando o prazer dessa solidão, mas aquele que tem confiança em todos os seres que encontra, que considera as relações com os outros e conhecimentos, pequenos ou grandes, como sendo sagrados, observa certamente a lei espiritual dessa religião que é a religião de todas as religiões. Faltas? Todos nós as cometemos. Nós mesmos, nossos amigos e nossos inimigos, todos estamos sujeitos a elas. Quem deseja não sejam descobertas as suas faltas, deve agir necessariamente do mesmo modo para com os outros. Aquele que conhece a relação de amizade que existe entre um e outro ser, a ternura dessa união, a delicadeza, a beleza e a santidade, pode gozar a vida em sua plenitude, porque está vivendo a vida e, dessa forma, deve algum dia comunicar-se com Deus. É esse mesmo laço, unindo duas almas que, uma vez fortificado, transforma-se no caminho para Deus. Não há maior virtude neste mundo do que ser bom e sincero para com o amigo, digno de sua confiança. A diferença entre a alma inexperiente e a alma experiente é baseada neste princípio particular: a alma inexperiente apenas se conhece e conhece aquilo que almeja, preocupando-se com os próprios prazeres e desgostos, obcecada pela contínua mudança de humor. A alma experiente observa a relação entre sua alma e todas as outras, cumpre religiosamente suas obrigações para com
  • 25. todos que conhece. Oculta as próprias mágoas, se é que as tem e suporta tudo para cumprir seu dever com a máxima habilidade, favorecendo a todos. V SUTILEZA Sutileza no caráter indica inteligência. Quando a sabemos empregar corretamente, podemos praticar o bem como essa riqueza de inteligência, mas, se tomarmos uma direção errada, abusaremos dessa grande faculdade. O homem sutil por natureza, comparado a uma personalidade desprovida de sutileza, é como um rio e uma montanha. A personalidade sutil é tão límpida como a água corrente; tudo que aparece diante dela se reflete tão claramente como a imagem na água pura. A personalidade semelhante à rocha, isto é, desprovida de sutileza, é como a montanha, nada reflete. Muitos admiram a linguagem franca, porque não compreendem a beleza que existe na fina sutileza. Podem todas as coisas ser expressadas por palavras? Nada há mais belo, mais sutil do que aquilo que dizemos? Quem pode ler nas entrelinhas, faz de uma carta um livro. Sutileza de percepção e sutileza de expressão são insígnias do sábio. Sábio e ignorante, distinguem-se pela fineza de um e rudeza do outro. O homem desprovido de sutileza quer que a verdade se transforme em pedra, mas o sutil transforma até a pedra em verdade. Para adquirir conhecimento espiritual, receber inspiração e preparar o coração para a revelação interior, é preciso esforço para criar a mentalidade maleável como a água e não impenetrável como a rocha. Para prosseguir no caminho do mistério da vida, que o homem tem de percorrer, deve tornar-se o mais sutil possível, a fim de perceber e expressar esse mistério. Deus é um mistério, Sua ciência é um mistério; a vida é um mistério, a natureza humana é um mistério; em resumo, qualquer conhecimento profundo é um mistério, mesmo a ciência ou a arte. Tudo o que é mais misterioso é mais profundo. O que todos os profetas e mestres têm ensinado em qualquer tempo é expressar esse mistério em palavras, atos, pensamentos e sentimentos; a maioria dos mistérios, porém, é por eles expressada em silêncio. Porque então o mistério está em seu lugar. Trazê-lo à terra, seria o mesmo que tirar um rei do trono e trazê-lo de rastos pelo chão; mas, permitindo ao mistério permanecer em seu lugar, isto é, nas esferas silentes, é o mesmo que prestar homenagem ao Rei, a quem as homenagens são devidas. Além do mistério da vida, nas pequenas coisas da vida diária, quanto menos palavras forem empregadas, tanto mais nítidas serão as idéias. Julgais que maior número de palavras explica melhor? Certamente que não. Demonstra isto, unicamente, nervosismo da parte daqueles que dizem um cento delas para expressar alguma coisa que pode ser explicada perfeitamente em dois vocábulos; quanto ao ouvinte, é falta de inteligência se ele necessita de muitas
  • 26. palavras para compreender o que pode ser explicado com uma palavra apenas. Várias pessoas pensam que muitas palavras explicam melhor, mas ignoram, na maioria das vezes, que quanto maior é o discurso tanto mais denso é o véu que envolve a idéia. Saímos, finalmente, pela porta por onde entramos. Respeito, consideração, veneração, bondade, compaixão e simpatia, perdão e gratidão, todas essas virtudes podem ser mais adornadas pela sutileza de expressão. Não é necessário nos excedermos em agradecimentos. Não se deve apregoar: “simpatizo com você, meu caro-amigo”, nem tampouco divulgar: “eu perdoei alguém”. Tais coisas são belas e sutis; devem ser sentidas e não expressadas; não é fazendo barulho que as podemos expressar, porque até mesmo o menor ruído concorre apenas para diminuir-lhes a beleza e tirar-lhes o valor. Nas idéias e nos pensamentos espirituais, a sutileza é mais necessária do que qualquer outra coisa. Se o homem espiritual levasse suas obras ao mercado e discutisse com uns e outros sobre as próprias crenças e descrenças, onde iria ele parar? A chave que ele possui para a arte da conciliação é a sutileza, tanto na percepção como na expressão. É falta de franqueza, é hipocrisia ser sutil? Não, de forma alguma. Há muitas pessoas que se tornam grosseiras julgando-se francas; essas pessoas estão sempre prontas a dizer a verdade, embora melindrando os outros e orgulhosamente sustentam a franqueza, dizendo: “pouco me importa se isso torna alguém triste ou irritado, estou apenas falando a verdade”. Se a verdade for tão dura como um martelo, nunca deve ser dita; ninguém deve seguir tal verdade! Onde está então a verdade que dá paz, que acalma, que é conforto para cada coração e cada alma; aquela verdade que eleva a alma, que é criadora de harmonia e de beleza... de onde proveio? Essa verdade proveio da sutileza da inteligência no pensamento, na linguagem e na ação; da sutileza que traz prazer, conforto, beleza e paz. VI PESSIMISMO – OTIMISMO Há duas atitudes que dividem o povo em dois perfis: a primeira atitude é uma contínua queixa, a outra um constante sorrir. A vida é a mesma, se a chamarmos boa ou má, correta ou incorreta; ela é o que é, e não pode ser de outro modo. Um indivíduo para obter a simpatia de outrem, mostrar-lhe suas boas características e, algumas vezes, mostrar-se mais inteligente, justo e correto, lamenta-se. Ele se queixa de tudo: dos amigos, dos inimigos, daqueles que ama e, muito mais, daqueles que odeia. Lastima-se desde a manhã até a noite; nunca têm fim suas lamentações. Isso atinge a tal extensão que ele se queixa do bom e do mau tempo, da influência atmosférica; é contra a terra e contra o céu e acha
  • 27. mal feito tudo aquilo que os outros fazem; finalmente, esse estado se desenvolve a tal ponto, que ele começa a ter aversão ao próprio trabalho, acabando por se desgostar de si mesmo. Dessa forma, vira-se contra os outros, contra as condições e, finalmente, contra si próprio. Não pensem que esse é um caráter raro de se encontrar. Pelo contrário, é um caráter que se encontra frequentemente, e é certo que quem tem essa atitude é o pior inimigo de si próprio. Aquele que tem uma atitude correta de espírito, tenta fazer do torto, direito, mas quem tem uma atitude de espírito errada, converterá até o direito em torto. Além de que, magnetismo é uma coisa necessária a todos os seres. A falta de magnetismo torna a vida penosa. A tendência à depreciação por tudo, rouba-nos uma grande parte desse magnetismo que é tão necessário à vida. Pois a natureza da vida é tal que, naturalmente, a multidão aceita só aqueles que nela entram com a força do magnetismo e rejeita todos os outros. Em outras palavras: o mundo é um lugar onde não podemos entrar sem um passaporte e esse passaporte é o magnetismo; aquele que for desprovido dessa força será rejeitado em toda parte. Além disso, encontramos muitos indivíduos que se queixam sempre da saúde. Pode haver uma razão, embora, algumas vezes, possa ser pequena ou, talvez, mínima para que se mencione. Quando uma pessoa se acostuma a responder negativamente, ao ser interrogada com simpatia: “Como está passando?” ela, decerto, alimenta uma espécie de doença em si mesma, pela tendência de se queixar. A nossa vida de limitações e a natureza dos confortos e prazeres mundanos que são tão variados e indignos de confiança, a falsidade que se encontra em tudo, em qualquer lugar, se nos pusermos em atitude de queixa, toda nossa existência será curta para nos queixarmos; cada momento de nossa vida decorreria cheio de lamentos. Mas, para pormos termo a todas essas coisas, devemos olhar para o lado agradável, para o lado brilhante de tudo. Especialmente para aqueles que procuram Deus e a verdade, para esses há alguma coisa mais em que pensar; eles não necessitam saber quanto uma pessoa é má. Quando pensarem em Quem acompanha essa pessoa, em Quem está em seu coração, então, olharão para a vida com uma atitude esperançosa; quando olharem para coisas mal feitas, pensarão que através de todas as obras há Deus, que é justo e perfeito, e tornar-se-ão certamente mais confiantes. A atitude de ver tudo com um sorriso, é indício de uma alma santa. Um sorriso dispensado a um amigo, um sorriso para um inimigo mesmo, vencerá finalmente, pois essa é a chave que abre o coração do homem. Como a claridade do sol exterior ilumina o mundo inteiro, assim a claridade do sol interior, se ele se externasse, iluminaria a vida toda, apesar de todos os erros aparentes, apesar de todas as limitações. Deus é felicidade; a alma é felicidade, o espírito é felicidade. Não há lugar para tristezas no reino de Deus. Aquele que priva o homem da felicidade, o priva de Deus e da Verdade.
  • 28. Pode-se começar a aprender a sorrir, apreciando as pequeninas coisas boas que se introduzem pelo caminho de nossa vida e não prestando atenção a cada coisa má que não gostamos de ver. Não nos preocupemos demasiadamente com coisas desnecessárias na vida, as quais nada mais trazem senão desgosto. E encarando a vida com uma atitude de espírito esperançosa, com uma perspectiva otimista, o homem terá força para transformar o errado em certo e levar luz onde há trevas. Bom humor é vida, mau humor é morte. A vida atrai, a morte repele. A luz do sol que vem da alma, surge através do coração e manifesta-se no sorriso do homem; é realmente a luz dos céus. Nessa luz muitas flores crescem e muitos frutos amadurecem. VII INQUIETAÇÃO – DISCRIÇÃO – TRANQUILIDADE O melhor meio de agir em todas as direções da vida, no interior de nossa casa ou fora, é silenciosamente; coisa tão pouco compreendida por muitos e tão necessária para desenvolver a ordem, a harmonia e a paz na existência. Trabalha-se pouco e fala-se muito, geralmente. Por qualquer coisa que se faz, há logo alarido e, dessa forma, em vez de terminar a obra com êxito, atraem-se dificuldades. A primeira coisa que deve ser lembrada na formação do caráter é compreender o segredo e a índole da natureza humana. Precisamos saber que, no mundo, cada indivíduo tem o seu objetivo, o próprio interesse e ponto de vista e que ele está sempre ocupado com tudo quanto lhe diz respeito. Sua paz é perturbada se quisermos interessá-lo no objetivo do nosso interesse. Se quisermos forçá-lo ao nosso ponto de vista, por mais íntima e estimada que essa pessoa nos possa ser, isso não lhe será agradável. Pouquíssimos consideram tal coisa e desejam desabafar as próprias preocupações e dificuldades no primeiro que encontram, dizendo: “Cada um tem o mesmo interesse que tenho no meu objetivo e no meu ponto de vista” e, “qualquer um ficará contente em saber a minha estória”. Conta-se que alguém começou a falar diante de pessoa conhecida havia pouco tempo, a respeito dos antepassados e falou tanto, que esgotou inteiramente a paciência do ouvinte. Acabando a história declarou à pessoa que lhe falava: “Se eu não me interesso em saber a história dos meus antepassados, que interesse posso ter em saber a dos seus?” Há muita gente que tem grande entusiasmo em contar aos vizinhos qualquer resfriado ou tosse que tenha, qualquer perda ou lucro, embora mínimo, e sente-se feliz em anunciar tudo ao rufo de tambores e toque de cornetas. Isso é uma característica infantil. Essa tendência mostra uma
  • 29. alma pouco desenvolvida. Algumas vezes, essa tendência amedronta os amigos e auxilia os inimigos. Quem trabalha ruidosamente, realiza pouco, pois atrai pelo barulho mais dez pessoas para intervirem e estragarem o trabalho que uma só pessoa poderia fazer com facilidade. Turbulência, vem de inquietação e inquietação é o sinal de “Tammas”, o ritmo destruidor. Aqueles que obtiveram algum êxito na vida, em qualquer ramo, foi devido ao trabalho em silêncio. Em negócios, indústria, arte, ciência, educação, política, em todas as direções da vida, o trabalhador prudente é o trabalhador tranquilo. Ele fala a respeito de qualquer coisa a tempo, nunca antes. Aquele que fala sobre uma coisa antes de terminá-la, é como uma cozinheira que anuncia as iguarias a toda a vizinhança, antes de estarem prontas. Há uma estória de um criado entusiasmado, contada no Oriente. O patrão estava com dor de cabeça e disse ao criado que fosse buscar um remédio. O criado pensou que não seria bastante buscar o medicamento, mas marcou também uma consulta com o médico e no caminho de casa, visitou o empresário da funerária. O patrão perguntou: “Por que demoraste tanto?” O criado respondeu: “Senhor, arranjei tudo”. O entusiasmo é uma grande coisa na vida; em demasia, porém, algumas vezes prejudica. Quanto mais dotada de sabedoria é uma pessoa tanto mais tranquila ela é em tudo o que faz. Cavalheiro, em inglês “gentleman”, é o homem tranquilo. Conta-se como fábula que um burro se dirigiu a um camelo e disse: “Tio, sejamos amigos, vamos pastar juntos”. O camelo respondeu: “Menino, gosto mais de passear só”. Acrescentou ainda o burro: “Estou impaciente por acompanhá-lo, tio”. O pacato camelo consentiu e partiram juntos. Muito antes de o camelo acabar de pastar, já o burro tinha acabado e estava inquieto para se manifestar e continuou: “Tio, eu gostaria de ‘cantar’ se isso não o incomoda”. O camelo respondeu: “Não faças tal coisa, pois será terrível para nós ambos; ainda não terminei o meu jantar”. O burro não teve paciência, não pôde conter a sua alegria e começou a cantar. O lavrador atraído por esse ‘canto’ veio com um bambu comprido. O burro correu e toda a sova caiu sobre as costas do camelo. Quando, na manhã seguinte, o burro foi outra vez convidar o Tio Camelo, este disse: “Eu estou muito doente; sua maneira de agir é diferente da minha. De hoje em diante temos de nos separar”. Há uma grande diferença entre o indivíduo turbulento e o tranquilo. Um age como a criança inquieta, o outro, age como adulto; um destrói, o outro edifica. A maneira de trabalhar tranquilamente deve ser praticada em todas as coisas. Fazendo-se muito barulho por qualquer coisa, provoca-se a comoção, o distúrbio em toda parte, atividade inútil, sem resultado algum. A inquietação também se revela na tendência ao exagero quando se quer fazer uma montanha de um monte de areia.
  • 30. Modéstia, humildade, gentileza, doçura, todas essas virtudes se manifestam na pessoa que trabalha através da vida, tranquilamente. VIII CURIOSIDADE Existe algo que pertence à natureza humana e sua origem está na curiosidade; curiosidade essa que provoca a vontade de saber. Quando se abusa dessa tendência, ela se desenvolve e se torna indiscrição. É curioso como a origem de todas as imperfeições é uma tendência boa e é o abuso dessa tendência boa que a transforma em defeito. Se refletíssemos no pouco tempo que temos para viver neste mundo, veríamos cada momento de nossa existência tão precioso que deveria ser empregado em coisas realmente muito aproveitáveis. Quando o tempo é gasto com a indiscrição de querermos saber da vida alheia, perdemos oportunidade que poderia ter sido aproveitada para um fim superior. Na vida há tantas responsabilidades e tantos deveres, tanto que se corrigir em si próprio; tanto que desfazer no que já se fez, tanto que cuidar nas próprias ocupações e regularizar, que esse desperdício de tempo se assemelha a quem, estando intoxicado, abandonasse todas as suas responsabilidades e deveres para ocupar o espírito e os ouvidos com indagações frívolas. O livre-arbítrio é dado a quem quer que seja para atender a obrigações particulares, realizar os próprios objetivos, cuidar de seus afazeres, mas, quando ele é empregado para indagar das fraquezas, privações e faltas de outrem, é certo que se abusa desse poder. Algumas vezes, o homem tem curiosidade na vida de outrem, no interesse que por ele toma geralmente, porém, tal curiosidade é um vício. Ele pode não ter interesse algum no assunto mas desejar somente gozar da satisfação de ouvir e de inquirir o que diz respeito a outrem. O autoconhecimento é o ideal dos filósofos e não o conhecimento da vida alheia. Há duas fases no desenvolvimento do homem: uma quando ele indaga o que se refere ao próximo; a outra quando ele olha para dentro de si mesmo. Quando a primeira fase cessou e a outra teve início, então ele começa a jornada para o fim desejado. Rumi, o poeta Sufi, diz: “Não nos preocupemos com os outros, pois temos muito que pensar em nós mesmos”. Além de que, não se deve mostrar a menor tendência de saber mais do que é devido, como uma prova de respeito para com as pessoas idosas e também para com aquelas que desejamos considerar. Assim em parentesco próximo, como pais e filhos, quando a intimidade é respeitada por uns e por outros, eles dão certamente prova de grande virtude. Querer saber da vida alheia, é geralmente uma falta de confiança. Aquele que confia, não precisa desvendar seja o que for; ele não tem necessidade de
  • 31. descobrir o que está encoberto. Quem deseja desvendar alguma coisa deseja descobri-la e, se há alguma coisa que deva ser descoberta é, antes de tudo, o verdadeiro eu. O tempo que se desperdiça indagando da vida, das faltas e fraquezas dos outros, poderia ser justamente empregado em desvendar a própria alma. O desejo de saber tem origem na alma. O homem apenas deve discernir o que precisa saber, o que é digno de ser sabido. Existem muitas coisas que não são dignas de interesse. Quando se dedica o tempo e pensamento, procurando saber aquilo que não se deve, perde-se a oportunidade que a vida oferece para descobrir a natureza e o segredo da alma, que é a base para a realização do objetivo da vida. IX MALEDICÊNCIA Devemos lembrar que o gosto pelo mexerico denota falta de nobreza de caráter. Isso é muito comum, mas é grande falta de caráter acalentar a tendência de falar dos outros. Além de que, é um excesso de fraqueza fazer observações relativas a alguém na sua ausência. Primeiramente, é contrário ao que se pode chamar franqueza e é também julgar o próximo, o que é incorreto relativamente à doutrina de Cristo, que diz: “Não julgueis os outros para que não sejais julgados”. Quando alguém permite que essa tendência permaneça em si mesmo, desenvolve o gosto de falar dos outros. É um defeito que comumente existe e, quando duas pessoas que têm a mesma tendência se encontram, começam a tagarelar e completam a intriga. Uma ajuda a outra, uma da coragem à outra e, quando alguma coisa é sustentada por duas pessoas, torna-se forçosamente uma virtude, embora seja uma virtude momentânea. Quantas vezes o homem esquece que dizendo mal de alguém, mesmo na sua ausência, ele está falando na presença de Deus. Deus ouve tudo e sabe tudo. O Criador conhece Suas criaturas com suas virtudes e suas faltas. Deus fica descontente ouvindo falar mal da Sua criatura, assim como um artista não ficaria satisfeito ouvindo observações pouco elogiosas, feitas por qualquer um, sobre sua arte. Embora o artista reconheça a imperfeição de sua obra, ainda assim, preferiria ele mesmo descobri-la e não outro qualquer. Quando uma pessoa fala contra outra, as palavras da primeira não atingem a segunda, mas os sentimentos chegam até lá. Se ela for sensível e perspicaz, saberá que alguém falou mal de si, e, vendo essa pessoa que falou, lerá naquele rosto tudo quanto foi dito. Este mundo é uma galeria de espelhos, o reflexo de um reproduz o outro. Neste mundo em que tantas coisas parecem ocultas, na realidade nada assim é; tudo se eleva à superfície mais ou menos demoradamente e manifesta-se à vista. Como poucos neste mundo sabem qual o efeito causado por um indivíduo que diz mal de outrem e qual a influência que tem sobre a sua alma! O “eu” do
  • 32. homem, seu “eu” interior, não é somente como uma cúpula, onde tudo quanto ele diz se repete em eco, esse eco é mais ainda; é criador e produtor do que ficou dito. Todo o bem e o mal se desenvolve na vida de uma pessoa conforme o interesse que ela toma por isso. Cada falta, quando pequena, não se percebe e, assim, se desenvolve até resultar em desapontamento. A vida é tão preciosa e tem tanto mais valor, quanto mais prudentes nos tornamos; cada momento da vida pode ser empregado para um fim muito mais elevado. A vida é uma oportunidade e, quanto mais nos compenetrarmos disso, tanto mais tiraremos proveito dessa oportunidade que ela nos oferece. X GENEROSIDADE O espírito de generosidade em uma natureza, constrói um caminho em direção a Deus, porque generosidade é expansão própria, é espontaneidade; sua natureza é dirigir-se para um horizonte largo. A generosidade pode, portanto, ser chamada a caridade do coração. Não é necessário que o espírito de generosidade se demonstre sempre pelo dispêndio de dinheiro; ele se pode apresentar nas pequeninas coisas. Generosidade é uma atitude que se mostra em qualquer ação pequena que se faça para com as pessoas em cujo contato estamos na nossa vida diária. Pode-se mostrar generosidade por um sorriso, um olhar amável, um aperto de mão caloroso, acariciando o mais inexperiente como sinal de coragem, denotando apreciação, expressando afeição. Pode-se mostrar generosidade reconciliando os semelhantes, dando-lhes as boas-vindas ou despedindo-se de um amigo. Em pensamentos, palavras e obras, de qualquer modo e forma, se pode mostrar esse espírito generoso, sinal de pessoa caridosa e caritativa. A Bíblia fala de generosidade pela palavra caridade, mas se eu tivesse de dar uma interpretação à palavra generosidade, chamá-la-ia de nobreza. Nenhuma posição, condição social ou poder, pode provar que alguém é nobre; é verdadeiramente nobre, aquele que é generoso de coração. Que é generosidade? É nobreza, é expansão de coração. À medida que o coração se expande, assim o horizonte se torna largo e acha-se cada vez maior o espaço em que se deve construir o reino de Deus. Depressão, desespero e toda a sorte de tristeza, vêm da falta de generosidade. Donde provém o ciúme? Donde provém a inveja, o sofrimento do coração? Tudo isso provém da carência de generosidade. O homem pode não ter nem um centavo, no entanto, pode ser generoso, nobre, se tiver unicamente um coração grande, de sentimentos amistosos. A vida, no mundo, oferece-nos toda a oportunidade, seja qual for a nossa posição, para mostrar se temos algum espírito de generosidade.
  • 33. A inconstância e a falsidade da natureza humana, além da desconsideração e falta de atenção que vêm daqueles com os quais se encontra o indivíduo e ainda o egoísmo e o espírito avarento e usurpador que perturba e atormenta as almas, tudo isso cria uma situação, que é por si mesma uma prova, uma experiência, que cada um tem de passar na vida terrestre e, quando através dessas provas e experiências, o homem se mantém firme ao princípio de caridade e segue a direção de seu destino, não permitindo às influências que vêm dos quatros cantos do mundo, retê-lo na jornada para a meta, finalmente, se torna o rei da vida, mesmo se no fim do seu destino não forem deixados simples bens terrestres em proveito do seu nome. Não é a riqueza terrestre que torna o homem rico. A Riqueza vem pela descoberta da mina de ouro que está oculta no coração humano, da qual vem o espírito de generosidade. Alguém perguntou ao profeta qual a maior virtude, se a da alma piedosa que reza continuamente, se a do viandante que caminha para fazer a sagrada peregrinação, se a daquele que jejua dias e noites, ou ainda, se a daquele que aprende a Sagrada Escritura de cor. “Nenhuma delas” respondeu o Profeta: “É tão grande quanto sua alma, aquele que através da vida, mostra caridade de coração”.
  • 34. CAPÍTULO 2 A Arte da Personalidade I DANÇAR NA CORTE DE INDRA É uma coisa ser homem e, a outra, é tornar-se um homem, aperfeiçoando a sua individualidade, na qual está oculto o objetivo da vinda do ser humano à terra. Os anjos foram criados para cantar louvores ao Senhor, os “Jinnss” ou os gênios para imaginar, sonhar, meditar, mas o homem foi criado para mostrar humanidade no caráter. É isso que o faz um homem. Há muitas coisas difíceis na vida, a mais difícil de todas, porém, é aprender, conhecer e praticar a arte da personalidade. A natureza, dizem, foi criada por Deus e a arte pelo homem, mas, na verdade, é Deus Quem completa sua arte divina na formação da personalidade. Não é o que Jesus Cristo ensinou que faz com que seus devotos O amem; eles discutem essas coisas em vão. O que faz com que Cristo seja amado é o que Ele próprio foi. Isso, é o que O faz amado e admirado por seus devotos. Quando Jesus Cristo disse aos pescadores: “Sigam-me e eu vos ensinarei a serem pescadores de homem”, que significam essas palavras? Essas palavras significam: “Eu vos ensinarei a arte da personalidade, a qual será como uma rede neste mar da vida”, pois todo coração, seja qual for seu grau de evolução, será atraído pela beleza da arte da personalidade. Que procura a humanidade em seu semelhante? Que espera o homem de seu amigo? Deseja que ele seja rico, que tenha posição elevada, que seja possuidor de grandes poderes, de qualidades maravilhosas, de influência muito grande mas, além disso e acima de tudo, ele espera de seu amigo a qualidade humana, que é a arte da personalidade. Se a seu amigo faltar essa arte, todas as coisas supraditas serão de pouca utilidade e de mínimo valor. Muitos perguntam: “Como podemos aprender tal coisa?” Pelo amor à arte, pela apreciação da beleza em todos os seus vários aspectos. O artista aprende a arte, admirando o belo. Quando alguém possui conhecimento introspectivo da beleza, então aprende a arte das artes que é a arte da personalidade. O homem pode possuir mil títulos, posições ou condições sociais, todos os bens da terra, mas se não possuir a arte da personalidade, ele é realmente pobre. É por essa arte que o homem denota nobreza, essa nobreza que pertence ao reino de Deus.
  • 35. A arte da personalidade não é um título honorífico, é o fim para o qual o homem foi criado e que o conduz ao propósito que deve cumprir para alcançar sua plena satisfação. Pela arte da personalidade, o homem não só se satisfaz como agrada a Deus. Essa fantasmagoria representada na terra, é produzida para prazer do Rei do Universo, a Quem os Hindus chamaram Indra e perante o Qual os “Gandharvas” cantavam e os “Upsaras” dançavam. A interpretação dessa estória é que o destino de todas as almas é dançar na corte de Indra. Aprender a dançar perfeitamente na corte de Indra é, a bem dizer, a arte da personalidade. Aquele que diz: “Mas como posso eu dançar? Não sei dançar”, esse desfaz o seu objetivo, pois nenhum ser é criado para ficar de lado e apreciar, mas para dançar na corte de Indra. Quem se recusa a dançar, mostra, certamente, ignorância relativa ao grande objetivo para o qual toda essa representação está sendo realizada no palco da vida. II GRATIDÃO A gratidão no caráter é como o perfume na flor. Qualquer pessoa, por mais inteligente e apta que seja no seu trabalho, se tem falta de gratidão, está desprovida da beleza de caráter que torna a personalidade atraente. Se apreciarmos o menor ato de bondade de que somos alvo, desenvolveremos o espírito de gratidão em nossa natureza; e, aprendendo isso, nos elevamos ao nível em que começamos a compreender a bondade de Deus para conosco, e nunca poderemos ser bastantes gratos pela sua divina compaixão. O grande poeta entre os Sufis, Saadi, ensina gratidão como meio de atrair os favores, o perdão e a misericórdia de Deus sobre nós, para a salvação de nossas almas. Há muito no mundo pelo que nos podemos mostrar gratos, apesar de todas as dificuldades e perturbações da vida. Saadi diz: “O sol e a lua, a chuva e as nuvens, tudo está ocupado em preparar vosso alimento. Portanto, é realmente injusto se não apreciarmos isso reconhecidos”. A bondade de Deus é algo que não se pode aprender de uma vez, é preciso tempo para compreendê-la. Os pequenos atos de bondade que recebemos daqueles que nos cercam não nos devem passar despercebidos, mas devemos ser a eles bem reconhecidos. Desse modo, o homem começa então a desenvolver o sentimento de gratidão e exprime-o em pensamentos, palavras e atos, como modelo de perfeita beleza. Enquanto alguém pensa e diz: “O que fiz por você e o que você fez por mim”, e “como tenho sido bom para você e como você tem sido bom para mim”, perde seu tempo, discutindo sobre aquilo que não pode ser explicado em palavras, além de que fecha assim essa fonte de beleza que brota do âmago de nosso coração, A primeira lição que devemos aprender no caminho da gratidão, é esquecer absolutamente o que fazemos para os
  • 36. outros e lembrar somente o que os outros fazem por nós. Ao longo da jornada, no caminho espiritual, o mais importante a realizar é esquecer o nosso falso ego, para que algum dia possamos chegar à compreensão do Ser a Quem chamamos Deus. Conta-se que um escravo, chamado Ayaz, foi trazido à presença do rei com mais outros nove, para que o soberano escolhesse um deles para seu servidor particular. O sábio rei deu na mão de cada um dos dez, um copo de vinho e ordenou-lhes que os atirassem por terra. Todos obedeceram à ordem. Então, o rei perguntou a cada um deles: “Por que fizeste semelhante coisa?” Nove responderam: “Porque Vossa Majestade assim ordenou” Era a pura verdade; chegando, porém, a vez do décimo, Ayaz, este pensou que dizer ao rei “Por que vossa Majestade assim ordenou”, com isso, nada de novo lhe diria, e respondeu: “Sinto imenso, desculpai-me”. A beleza dessa expressão cativou o soberano, que assim o escolheu para seu servo particular. Pouco tempo depois, Ayaz ganhou o crédito e a confiança do rei, que lhe confiou seu tesouro, no qual jóias preciosas estavam guardadas. Pela súbita ascensão de Ayaz, de escravo a tesoureiro, houve muitos invejosos. Assim que o povo soube que Ayaz tinha se tornado o favorito do rei, começou a fazer circular numerosos boatos, a fim de o levar ao descrédito. Um deles, foi que Ayaz ia diariamente ao quarto onde se achavam as jóias fechadas no cofre e as ia roubando todos os dias, pouco a pouco. O soberano respondeu: “Não, não posso acreditar em semelhante coisa, provem o que estão dizendo”. Logo que Ayaz entrou no quarto, trouxeram o rei e o fizeram ficar de pé onde havia uma pequena abertura dando para o quarto, a fim de ver o que lá se passava. O rei viu Ayaz abrir a porta do cofre. Que tirou ele dali? Suas velhas roupas, rasgadas, que usara enquanto escravo. Beijou-as, levou-as aos olhos e colocou-as em cima da mesa. Aí, queimava incenso e o que Ayaz estava fazendo era considerado por ele mesmo como sagrado. Em seguida vestiu as roupas velhas e mirou-se no espelho, dizendo como se fosse uma prece: “Ouve, Ayaz, vê o que já foste um dia. Foi o rei quem te fez, quem te confiou o encargo desse tesouro. Portanto, cuida dele como do mais sagrado dever e dessa honra como teu privilégio, como ato de amor e bondade do rei. Reflete que não foi o teu mérito que te elevou a tal posição, mas a grandeza, bondade e generosidade do rei, que fechou os olhos a tuas faltas e te concedeu esse lugar e essa posição, pelos quais estás sendo, agora, honrado. Por conseguinte, nunca te esqueças do primeiro dia, do dia em que vieste a esta cidade; é a lembrança desse dia, que te conservará em teu próprio lugar”. Logo depois, tirou as roupas, colocou-as no mesmo lugar em segurança e saiu. Ao retirar-se, que viu Ayaz? Viu que o rei perante o qual ele se inclinava, esperava ardentemente para o abraçar e dizer-lhe: “Que lição me deste, Ayaz! É essa lição que todos nós precisamos aprender, seja qual for a nossa posição.
  • 37. Porque diante daquele Rei, em Cuja presença todos nós somos escravos, nada nos pode fazer esquecer o apoio pelo qual fomos engrandecidos, elevados e trazidos à vida para agir, compreender e viver alegremente. Disseram-me que tinhas roubado jóias do nosso tesouro mas, aqui vindo, descobri que roubaste meu coração”. III IMPULSIVIDADE – DELICADEZA Todo impulso tem sua influência na palavra e na ação. Sendo assim, naturalmente, cada impulso exerce pleno poder através das palavras e ações a não ser que seja reprimido. Há dois tipos de pessoas: as que adquiriram poder de reprimir palavras e atos, quando esses exercem sua força total, expressando- se rudemente; e as que, mecanicamente, permitem que o impulso natural interfira em suas palavras e ações, sem lhes prestar a mínima atenção. O primeiro tipo é por conseguinte delicado, e o último rude. Delicadeza é a principal coisa na arte da personalidade. Pode-se ver como a delicadeza age como fator principal em qualquer arte. Pintando-se, desenhando-se, em linhas e cores, é a delicadeza que mais atrai a alma. Veremos o mesmo na música. Um músico pode ter aptidão suficiente para tocar com agilidade e gosto, pode conhecer toda a técnica, mas, o que produz beleza, é sua execução delicada. Na delicadeza está todo o apuro. A base de todo o aprimoramento está na delicadeza. Mas, de onde provém isso? Da consideração que se dispensa a outrem e é praticada pelo autodomínio. Existe um provérbio em linguagem hinduísta: “Quanto mais energia falta ao homem, tanto mais ele se zanga com facilidade”. A razão é que ele não tem controle sobre seus nervos. É geralmente a falta de autocontrole que produz a carência de delicadeza. Não há dúvida que aprendemos maneiras polidas pela consideração que dispensamos a outrem. É necessário pensar, antes de falar ou agir, sem nos esquecermos do belo. Não é bastante falar ou agir, mas falar ou agir delicadamente. O progresso das raças e nações é expressado pela delicadeza. Também o progresso da evolução da alma se expressa pela delicadeza. Nações, raças, bem como indivíduos demonstrarão atraso em suas evoluções se lhes falta a delicadeza. Nas condições atuais do mundo, parece que a arte da personalidade tem sido bastante descuidada. O homem, intoxicado pela cupidez e pelo espírito de rivalidade que o cerca, acorrentado pelo comercialismo diário, fica atarefado na aquisição do que lhe é necessário para viver, perdendo de vista a beleza, que é a necessidade da alma, o interesse do homem em todas as coisas da vida: ciência, arte, filosofia, ficam incompletas sem a arte da personalidade. Como foi
  • 38. acertada a distinção feita na língua inglesa: homem e cavalheiro (“man” e gentleman!) IV PERSUASÃO Há uma tendência oculta no impulso humano, a qual pode ser chamada tendência persuasiva e que se manifesta de forma rude ou polida. No primeiro aspecto é um erro e no último, um engano. Quando a tendência persuasiva se manifesta rudemente, o indivíduo insiste com o outro para concordar com ele, atendê-lo ou fazer o que ele quiser, discutindo, insistindo e tornando-se desagradável. Frequentemente, tal indivíduo, pela força de vontade ou por sua melhor posição na vida, consegue o que deseja. Isso lhe dá coragem para continuar com o mesmo método até se convencer de que o resultado não é satisfatório, se é que o percebe. O outro meio de persuadir é a maneira agradável, fazendo pressão sobre a bondade, benevolência e polidez de alguém, esgotando-lhe assim a paciência, pondo à prova sua simpatia até ao fim. Por esse meio, as pessoas conseguem no momento o que desejam alcançar, resultando finalmente em contrariedade de todos aqueles que foram submetidos a essa tendência persuasiva. Não é isso uma prova de que realizar assim qualquer coisa é mais fácil que respeitar o sentimento dos outros? É tão raro encontrar neste mundo uma pessoa que tenha consideração pelos sentimentos de outrem, mesmo que seja sacrificando-se para conseguir seus próprios desejos. Cada um procura liberdade, mas para si próprio. Se ele pensasse o mesmo em relação aos outros, tornar-se-ia um verdadeiro maçom. A tendência persuasiva mostra, sem dúvida, grande força de vontade e abusa da fraqueza dos outros, que se rendem e cedem, devido ao amor, à simpatia, bondade, amabilidade e polidez. Mas há um limite para tudo. Chega o momento em que o fio se parte. O fio é tênue, não é feito de aço. Mesmo o de aço se parte quando é puxado com muita força. A delicadeza do coração humano não é compreendida por todos. O sentimento humano é demasiadamente sutil para a percepção comum. A que se assemelha um ser que desenvolve sua personalidade? Não se assemelha à raiz ou ao tronco da planta, nem tampouco aos galhos ou às folhas; ele se assemelha à flor; a flor com sua fragrância, colorido e delicadeza. V VAIDADE Toda manifestação é o meio pelo qual se exprime o espírito do Logos que, em termos “SUFI” é chamado Kíbria. Esse espírito se manifesta através de todos os
  • 39. seres em forma de vaidade, orgulho ou presunção. Vaidade expressada rudemente é chamada orgulho. Se não fosse por esse espírito que age em cada ser como o tema central da vida, não existiria no mundo o bem nem o mal, nem haveria o grande nem o pequeno. Todas as virtudes e todos os vícios são frutos desse espírito. A arte da personalidade é cortar as pontas agudas desse espírito de vaidade que fere e perturba aqueles que encontramos na vida. Quem diz: “EU”, quanto mais fala sobre isso, tanto mais perturba a mente dos seus ouvintes. Muitas vezes, somos educados polidamente, aprendemos maneiras aprimoradas e linguagem bela; todavia, se existe esse espírito de vaidade pronunciado, apesar de todas as boas maneiras e da linguagem bela, aparece ele no pensamento, nas palavras ou nos atos do indivíduo, gritando; “Sou eu, Sou eu”. Se o indivíduo se conserva mudo, sua vaidade se manifesta na expressão do olhar. É uma das coisas mais difíceis de suprimir e controlar. A luta dos adeptos, na vida, não é tão grande com as paixões e emoções, o que, mais cedo ou mais tarde, com maior ou menor esforço, pode ser controlado; mas a vaidade, essa sempre cresce. Cortando-se-lhe a haste, não se vive, porque ela é o próprio indivíduo, é o “eu”, o ego, a alma ou o Deus interior; sua existência não pode ser negada, e a luta contra ela, a embeleza e a torna tanto mais tolerável, o quanto em sua forma primitiva é intolerável. A vaidade pode ser comparada a uma planta mágica. Se alguém a vir crescendo no jardim e a corta, ela crescerá em outro lugar, no mesmo jardim, como árvore frutífera e, se a retirarem, ela surgirá aí, ainda, em outro lugar como roseira fragrante, espalhando felicidade por aqueles que nela tocarem. Por conseguinte, a arte da personalidade não ensina a desarraigar a semente da vaidade, a qual não pode ser desarraigada, enquanto o homem viver, mas a sua rude aparência exterior pode ser destruída a fim de que, após várias mortes, ela se manifeste como a planta dos desejos. VI DIGNIDADE A dignidade que, em outras palavras pode ser chamada respeito próprio, não é uma coisa que se deve desprezar, considerando a arte da personalidade. Quando alguém perguntar: qual esse princípio e como deve ser praticado, a resposta é que qualquer maneira leviana e que tenda para a frivolidade deve ser extirpada da natureza para manter essa dignidade que nos é tão preciosa. Aquele que não se interessa por tal idéia, não precisa se preocupar com ela; isso existe unicamente para quem vê algo no respeito próprio. A pessoa que respeita a si mesma, será respeitada pelos outros, não obstante seu poder, posses, posição ou grau social que tenha; em qualquer posição ou situação na vida, essa pessoa imporá respeito.
  • 40. Surge então a pergunta: a leviandade tem ou não tem algum lugar na vida, é ou não de qualquer modo necessária? Tudo é necessário, porém, tudo tem seu tempo. Dignidade não consiste em mostrar um semblante sombrio; respeito não é mostrar-se severo; não é franzindo a testa nem por uma atitude rígida que se mostra dignidade. Dignidade não é estar triste ou deprimido; consiste em agir convenientemente e de acordo com as circunstâncias. Há ocasiões para hilaridade e outras para seriedade. A pessoa que ri constantemente, perde o poder do riso; a que é sempre leviana não impõe o respeito necessário na sociedade. Além de que, leviandade constante faz com que, muitas vezes, se ofenda os outros, sem intenção. Aquele que não tem respeito por si próprio, não o tem pelos outros. Pode pensar, no momento, que é indiferente às convenções e livre na expressão e no sentimento, mas não sabe que isso o torna tão insignificante como uma tira de papel, movendo-se por aqui e por ali, no espaço, levado pelo vento. A vida é um mar e, quanto mais para além se viaja, tanto mais seguro deve ser o navio. Assim, nesse mar da existência, para que o homem inteligente possa vencer na vida, há um certo grau de ponderação exigido que dá equilíbrio à personalidade. A sabedoria dá essa ponderação. Sua ausência é sinal de incapacidade. O cântaro cheio d’água é pesado; a ausência d’água no cântaro é que o torna leve, assim como o homem destituído de sabedoria se torna vazio, fútil. Quanto mais se estuda e compreende a arte da personalidade, tanto mais se acha que ela é o enobrecimento do caráter que progride para o objetivo da criação. Todas as diferentes virtudes, maneiras aprimoradas e qualidades belas, são manifestações de nobreza de caráter. Mas que é nobreza de caráter? É o ponto de vista que tudo abrange. VII A PALAVRA A pessoa de sentimentos nobres deixa ver algo de natural em seu caráter: a estima de sua palavra, que é chamada palavra de honra. Para essa pessoa, sua palavra é ela própria e isso pode chegar a tal ponto que até a própria vida será sacrificada por essa palavra. Quem atingiu a esse grau não está longe de Deus, pois nas Escrituras lê-se frequentemente: “Se quiserdes ver-Nos, vêde-Nos em nossas palavras”. Se Deus pode ser visto em Suas palavras, a verdadeira alma também pode ser vista através de sua palavra. Prazer, desgosto, doçura, amargura, honestidade, desonestidade, tudo isso se observa nas palavras que o homem diz; porque a palavra é a expressão do pensamento e o pensamento é a expressão do sentimento. E que é o homem? O homem é seu próprio pensamento e sentimento. Assim, que é a palavra? A palavra é a expressão do homem e a expressão de sua alma.
  • 41. O homem em cujas palavras se pode confiar, é digno de confiança. Nenhuma palavra no mundo pode ser comparada à palavra de honra. Todo aquele que diz o que pensa, prova com essa virtude, espiritualidade. Para quem preza a verdade, voltar atrás com a palavra, é pior do que a morte, pois é retroceder em vez de progredir. Toda alma caminha e progride para a finalidade e quem realmente caminha para a finalidade, demonstra-o em suas palavras. Atualmente, quando são necessários tantos tribunais e tantos advogados, obrigando à manutenção de inúmeras prisões, que aumentam dia a dia, eis aí uma demonstração da falta dessa virtude, que é a palavra de honra, e que foi sempre avaliada pelos nobres de pensamento, desde o princípio da civilização, porque com tal qualidade o homem mostra a virtude humana, qualidade que não pertence aos animais nem é atribuída aos anjos. Que é religião? Religião, no verdadeiro sentido da palavra, não pode ser explicada. É um fio tênue, delicado ao tato, pois é excessivamente sagrado para ser tocado. É o ideal que pode ser desfeito se for tocado e que pode ser encontrado na sensibilidade que, em outras palavras, pode ser chamada espiritualidade, respeito pela palavra. Muitos neste mundo têm vivido através de sacrifícios; dores e sofrimentos lhes têm sido infligidos, mas, unicamente para pôr à prova a virtude de sua palavra pois, como é sabido, qualquer virtude tem de ser submetida à prova de fogo. Quando a virtude é provada por meio de experiências, torna-se sólida. Isso pode ser praticado em qualquer coisa que se faça na vida diária. Quem diz agora uma coisa e daí a pouco outra, até o seu próprio coração começa a desacreditá-lo. Os grandes que têm vindo à terra de tempos em tempos e que têm mostrado muitas virtudes elevadas, entre eles a “palavra de honra” tem tido a mais alta consideração. Maomé, antes de se apresentar ao mundo como profeta, era chamado Amin por seus companheiros, o que significa digno de confiança. A estória de Haria Chandra é conhecida pelos Hindus através dos séculos; o exemplo que ele deu está gravado no pensamento da raça inteira. A estória de Hatim, um Sufi que viveu há muitos anos, foi uma grande inspiração para o povo da Pérsia. Em qualquer parte do mundo e em qualquer época, segundo pensadores profundos e idealistas, a “palavra de honra” deve ser prezada ao máximo. VIII ECONOMIA ESPIRITUAL Existe um senso e uma tendência de economia qualquer, mais ou menos em todo ser e, quando essa tendência se manifesta naqueles que nos cercam e com quem convivemos, desenvolve-se a nossa personalidade. A vontade de poupar a outrem a paciência em vez de submetê-la a uma prova extrema, é tendência de economia, de elevadíssima compreensão de economia. Procurar poupar a
  • 42. quem quer que seja o emprego de sua energia, é acrescentar beleza à própria personalidade. Aquele qua ignora isso, torna-se com o tempo um estorvo para os outros. Ele pode ser inconsciente, mas torna-se um obstáculo, porque não tem consideração pela sua própria energia nem atenção para com a dos outros. Essa consideração aparece no indivíduo quando ele começa a compreender o valor da vida. Assim que ele começa a considerar esse assunto, poupa a si mesmo pensamentos, palavras e ações inúteis, pois passa a fazer uso de tudo economicamente; e, avaliando a própria vida e as próprias ações, aprende a avaliar a dos outros. O tempo da vida humana neste mundo é muito precioso, por conseguinte, quanto mais se pratica o uso econômico do tempo e da energia que são preciosíssimos, tanto mais se aprende a desfrutar o que a vida tem de melhor. Sem nos referirmos ao que falamos, mesmo ouvir os outros falarem é uma tensão contínua; rouba o tempo e a energia do indivíduo. Quando alguém não compreende ou não se esforça por compreender o que foi dito com uma palavra e quer pôr numa frase o que podia ser dito nessa única palavra, não tem, certamente, idéia de economia; pois a economia do próprio dinheiro é menos importante do que a de sua vida, de sua energia e da vida e energia dos outros. Por amor ao belo, à graça e ao respeito, tratando-se com outrem, pode-se ir bem longe, mas nunca demais. Não se pode tratar do mesmo modo um amigo, um conhecido e um estranho. Aí, ainda a questão de economia deve ser considerada. Experimentar a tal ponto a bondade, a benevolência, a generosidade e paciência sem idéia de economia, é transformar, afinal, a experiência em desvantagem para todos. Aquele que é bastante sensato para guardar seus interesses na vida, pode ser chamado capaz, mas aquele que zela melhor pelo interesse alheio do que pelo seu próprio, é sábio, pois agindo assim, sem consciência, ele o faz também em interesse próprio. É o mesmo sentido de economia que se emprega em pequenos detalhes da vida diária, íntima e na de negócios; o mesmo sentido de economia empregado de modo mais elevado, assim como a solicitude e a consideração, torna o homem mais capaz de servir a outrem, o que é a religião das religiões. IX JUSTIÇA Depois de adquirir o refinamento de caráter, das virtudes e dos méritos que são necessários na vida, a personalidade pode-se tornar completa pelo despertar do sentimento de justiça. A arte da personalidade esculpe estátuas, belos modelos de arte, mas quando o sentimento de justiça é despertado, essas estátuas adquirem vida, porque no sentimento de justiça está o segredo da evolução da alma. Todos conhecem o nome de justiça, mas raramente se pode encontrar
  • 43. alguém que seja realmente justo por natureza, em cujo coração tenha sido despertada a sensação da justiça. O que acontece, geralmente, é que cada um pretende ser justo, apesar de estar longe de sê-lo. O desenvolvimento da justiça está no desinteresse; não se pode ser justo e egoísta ao mesmo tempo. O egoísta pode ser justo, mas só para si. Ele tem sua própria lei, uma lei que melhor lhe convém e que pode ser modificada à sua vontade, e o raciocínio o ajudará a assim fazer, a fim de satisfazer as próprias exigências da vida. Uma centelha de justiça pode ser encontrada em todos os corações, em todas as pessoas, seja qual for o estado de evolução na vida, mas, aquele que ama a justiça, sopra, digamos assim, essa centelha, transformando-a numa chama, à luz da qual a vida se torna para ele mais compreensível. Há tanto que dizer sobre justiça, tantas contestações a respeito e, finalmente, encontramos pessoas discutindo esse assunto e discordando umas das outras; pensando que têm razão, nenhuma admitirá que a outra a tenha também. Aqueles que aprendem realmente a ser justos, sua primeira lição é a que Cristo ensinou: “Não julgueis o próximo para que não sejais julgados”. Pode-se então perguntar: “Como aprender a ser justo se não se deve julgar?” Aquele, porém, que julga a si mesmo, pode conhecer a justiça e não aquele que se entretém julgando os outros. Nesta vida de limitações, se alguém julgou unicamente a si, encontrará no próprio íntimo tantas e tantas faltas e fraquezas e, quando tratando com outros, tanta deslealdade que, para aquele que realmente deseja conhecer a justiça, a própria vida será matéria suficiente para apreendê-la. Surge, então, em sua vida um período de culminância, de maior desenvolvimento da alma, quando a justiça e a lealdade atingem ao apogeu, em que o indivíduo se torna isento de censura; ele nada tem que dizer contra alguém e, se tiver alguma observação a fazer, é unicamente contra si próprio. E é desse ponto que se começa a ver a justiça divina oculta nesta manifestação. Isso aparece na vida do homem como uma recompensa concedida do céu, uma recompensa que é dada em confiança por Deus, para distinguir tudo o que é justo e injusto, na brilhante e resplandecente luz da perfeita justiça. X REFINAMENTO INTERIOR – HARMONIA – BELEZA A arte da personalidade é semelhante à arte da música; requer ouvido educado e cultura de voz. Para aquele que conhece a música da vida, a arte da personalidade vem naturalmente, pois não só é antiartístico como discordante aquele que demonstra falta dessa arte na personalidade. Quando o homem
  • 44. considera cada indivíduo como um som musical e aprende a reconhecer se esse som é forte ou fraco, grave ou agudo e a que tom pertence, torna-se então conhecedor da humanidade e sabe como tratar a todos. Ele apresenta a arte nas próprias ações, na linguagem; harmoniza-se com o ritmo da atmosfera, com o timbre da pessoa, com o tema do momento. Tornar-se apurado é tornar-se musical; é a alma musical que é artística na sua personalidade. A mesma palavra dita em diferentes tons, muda de significação. Uma palavra dita no momento apropriado ou contida a tempo, completa a harmonia da vida. É uma inclinação contínua produzir o belo, que ajuda o indivíduo no desenvolvimento da arte relativa à personalidade. É estranho como o homem se sente prontamente inclinado a aprender o polimento exterior e como tantos indivíduos são tão vagarosos em desenvolver essa arte, interiormente. Devemos nos lembrar de que o impulso exterior não tem significação se não for impelido para o belo por outro impulso interior. Pode-se aprender na estória de Indra, Rei do Paraíso, como Deus fica satisfeito com o homem. Na corte de Indra os “Gandharvas” cantam e os “Upsaras” dançam. Quando interpretado em palavras singelas, isso significa que Deus é a essência da beleza; foi o Seu amor pelo belo que produziu Sua própria beleza na manifestação, pois esse é o desejo por Ele realizado no mundo objetivo. É interessante, muitas vezes, observar como maneiras distintas molestam aqueles que têm orgulho das próprias maneiras incivis. Eles as consideram inúteis, porque o orgulho é ofendido em vista daquilo que não alcançaram. Aquela cuja mão não alcança a videira, diz, nessa impossibilidade, que as uvas estão verdes. E para alguns é, ainda, demasiado belo tornar-se apurado, assim como muitos não gostam da música clássica, mas sentem-se inteiramente satisfeitos com a música popular, e outros ficam até cansados com as boas maneiras por parecerem estranhas à sua natureza. Assim como não há mérito em se tornar inarmonioso, também não há sabedoria em ser contra a polidez. Devemos apenas sentir em nós o belo e desenvolvê-lo, confiantes de que, no íntimo de cada ser, a beleza e sua expressão denotam, de qualquer forma, sinal de evolução da alma. XI CORDIALIDADE E LARGUEZA DE VISTAS Uma atitude amiga, expressa em pensamentos, palavras e atos simpáticos, é a coisa principal na arte da personalidade. Há um horizonte ilimitado para mostrar essa atitude e, embora a personalidade esteja muito desenvolvida, nunca está demais nesse sentido. Espontaneidade, a tendência de dar, dar aquilo que faz prazer a alguém, eis aí a atitude amável. A vida tem inúmeras obrigações para com amigos e inimigos, conhecidos e estranhos. Nunca somos demasiado
  • 45. conscienciosos relativamente às próprias obrigações. Nunca se faz demais, para cumpri-las. Fazer mais do que se pode, vai talvez além das forças de cada um; fazendo, porém, o que se deve, cumpre-se o dever da vida. A vida é uma intoxicação e o efeito dessa intoxicação é a negligência. As palavras Hindus “Dharma” e “Adharma”, religião e irreligião, significam que o dever de cada um na vida é “Dharma” e a negligência do mesmo dever é “Adharma”, Aquele que não está ciente de suas obrigações para com todos os seres com os quais está em contato, é realmente irreligioso. Muitos dirão: “Esforçamo-nos por fazer o melhor possível, mas não o sabemos”; ou “Não sabemos qual o nosso dever”, ou “Como saberemos realmente qual é ou não o nosso dever?” Ninguém neste mundo pode ensinar qual é ou não o dever de cada um. Cabe a todo indivíduo procurar por si mesmo tornar-se conhecedor das próprias obrigações. Quanto mais consciencioso é o indivíduo, tanto mais obrigações ele encontra para cumprir, não havendo fim para elas. Em todo caso, nessa luta contínua, o que lhe pode parecer a princípio uma perda, será um lucro finalmente, pois o homem se encontrará face-a-face com seu Senhor, que está sempre vigilante. Os olhos do homem que não cumpre seu dever para com o semelhante, absorvido na intoxicação da vida, devem-se tornar certamente ofuscados e a sua mente exausta, perante Deus. Isso não quer dizer que certa alma seja destituída da visão divina, apenas significa que, aquele que ainda não aprendeu a abrir bem os olhos, não usufruirá da visão de Deus enquanto seus olhos estiverem fechados. Todas as virtudes vêm de um largo horizonte na vida. Por conseguinte, a nobreza de alma, está resumida na amplidão da atitude que o homem toma na vida.
  • 46. CAPÍTULO 3 Purificação Mental I A PURIFICAÇÃO MENTAL Devemos limpar e purificar o corpo e devemos também – talvez seja ainda mais necessário – manter mente limpa e pura. A causa das doenças está nas impurezas, que também são responsáveis pela irregularidade no funcionamento do sistema físico. Com a mente acontece o mesmo: há impurezas na mente que causam diversos males. Se limparmos a mente, ajudaremos a conservar a saúde tanto do corpo como da mente. Quando falo na saúde, refiro-me ao estado natural do ser humano. O que é espiritualidade? É ser natural. Poucos pensam deste modo. Há pessoas que julgam que ser espiritual é ter capacidade para operar maravilhas, poder ver coisas estranhas, fenômenos espetaculares e são poucos os que sabem como é simples ser espiritual, que ser espiritual quer dizer ser natural. A purificação mental pode ser feita de três maneiras diferentes. A primeira é manter a mente quieta, pois muitas vezes a atividade da mente produz impurezas. Se acalmarmos a mente, removeremos dela as impurezas. É como se afinássemos a mente ao seu tom natural. A mente pode ser comparada a um tanque com água: quando a água do tanque está parada, o reflexo é nítido; e a mesma coisa acontece com a mente. Quando a mente está perturbada não reflete com nitidez a intuição e a inspiração que recebemos. Logo que a mente se acalma, recebe o reflexo nítido, como o que recebe o tanque quando a água está parada. Esse estado de quietude da mente é obtido pela prática do repouso físico. Sentar numa determinada posição traz um determinado efeito. A ciência dos místicos ensinou-nos as maneiras diferentes de sentar em silêncio e cada uma delas tem um significado diferente. Não pensem que esse significado é pura imaginação. As diversas posições de sentar produzem determinados resultados. Pessoalmente, e por intermédio de outras pessoas, sei por experiência como a atitude da mente é modificada, quando sentamos de uma determinada maneira. Os antigos sabiam disso e descobriram novas posturas para determinadas pessoas. Há a maneira de sentar do guerreiro, do trabalhador, do estudante,
  • 47. daquele que medita, do homem de negócios, do advogado, do juiz e do inventor. Podemos imaginar como foi maravilhoso os místicos fazerem essa descoberta e a terem experimentado durante anos – a descoberta do grande efeito que uma pessoa tira, especialmente sua mente, em sentar-se numa determinada posição. Vivemos essa experiência em nossa vida cotidiana, só que não lhe prestamos atenção. Às vezes sentamos de uma certa maneira e ficamos inquietos. Quando sentamos de outra maneira, ficamos calmos. Se sentamos numa determinada posição ficamos inspirados e se sentamos de outra maneira ficamos sem energia, sem entusiasmo. Com a ajuda de uma determinada postura, acalmamos a mente e a purificamos. A segunda maneira de purificar a mente é usando a respiração. É muito interessante para um oriental ver que, algumas vezes, o ocidental aplica inconscientemente em seus inventos os princípios do plano místico. Inventaram uma máquina para varrer tapetes ao mesmo tempo que aspira o pó. É o mesmo sistema de expulsão de dentro para fora: a maneira correta de respirar é sugar a poeira de dentro da mente e atirá-la para fora. Os cientistas vão mais além, pois afirmam que o indivíduo expele dióxido de carbono. Os gases maléficos são expulsos do corpo quando expiramos. Os místicos vão mais longe que os cientistas, dizendo que esses gases não são só extraídos do corpo, mas também da mente. Se soubermos remover as impurezas, podemos remover muito mais do que imaginamos. Podemos remover as impurezas da mente, usando a maneira correta de respirar. Por este motivo é que os místicos combinam a respiração com a postura. A postura ajuda a acalmar a mente e a respiração ajuda a limpar a mente. As duas coisas andam juntas. A terceira maneira é purificar a mente pela atitude. É preciso adotar uma atitude correta em relação à vida. É o caminho moral e a estrada real da purificação. Podemos respirar e sentar em silêncio em centenas de posições, mas se não temos uma atitude correta em relação à vida, jamais nos desenvolveremos. Essa atitude é o principal. Perguntareis: “Qual deve ser a atitude correta?” A atitude correta depende da maneira de interpretar nossos defeitos. Estamos muitas vezes prontos a defender os nossos defeitos e erros e somos propensos a considerar como um bem o que fazemos de mal. No entanto, não usamos a mesma atitude em relação aos outros. Achamos que devemos censurar quando chega a nossa vez de julgar os nossos semelhantes. É tão fácil desaprovar o que os outros fazem! É ainda mais fácil antipatizar com as pessoas e não é de todo difícil dar um passo mais à frente e odiar. Quando agimos assim, pensamos que não estamos causando mal algum. Embora esses sentimentos se desenvolvam internamente, somente os notamos exteriormente. Vemos nos outros toda a maldade acumulada no nosso íntimo. O homem, assim, vive sempre iludido: está sempre contente consigo e culpa constantemente os outros. O extraordinário é que sempre o homem mais censurável é o que mais censura.
  • 48. É melhor explicá-lo de outra maneira: é justamente porque culpamos demais os outros que nos tornamos mais culpados. A beleza existe na forma, na cor, nos traços, nas maneiras e no caráter. Certas pessoas não possuem beleza e outras possuem beleza demais. Somente a comparação é que nos leva a pensar que uma pessoa é melhor do que outra. Se não comparássemos, notaríamos que todas as pessoas são boas. A comparação é que nos faz pensar que determinada coisa é mais bonita que outra, mas, se olhássemos com mais atenção, poderíamos ver a beleza que também existe nos outros. Às vezes não somos justos em nossas comparações pelo simples fato de que, embora hoje a nossa mente determine o que é bom e belo, dentro de um mês ou um ano, estamos sujeitos a mudar de concepção. Isto é uma prova de que, quando olhamos alguma coisa, apreciamo-la se sua beleza se manifestar aos nossos olhos. Não há nada de surpreendente em alguém chegar a um estágio e dizer: “Amo tudo que vejo no mundo apesar de todos os sofrimentos, lutas e dificuldades. Tudo é válido”. Outro diz: “Tudo que vejo nada mais é do que miséria. A vida é feia. Não existe nem um pouco de beleza neste mundo”. Cada um deles está certo de acordo com seu ponto de vista. São sinceros. Divergem porque olham a vida de maneira diferente. Têm razões para aprovar ou desaprovar a vida. O que acontece é que um se beneficia com a visão da beleza e o outro perde por não apreciá-la, em face de não poder ver a beleza que há na vida. Assim, pois, adotando uma atitude incorreta, a mente acumula impressões indesejáveis recebidas dos outros, porque ninguém é perfeito neste mundo. Todos têm um lado sujeito a críticas e que precisa ser corrigido. Quando olhamos para tal lado, acumulamos impressões que nos fazem ficar cada vez mais imperfeitos, pois elas recolhem imperfeições, e o nosso mundo passa a ser um mundo de imperfeições. Quando a mente se transforma numa esponja cheia de impressões indesejáveis, o que a mente emitir será também indesejável. Ninguém pode falar mal de alguém sem que isso o afete, pois o que fala mal dos outros, torna-se também mau. Do ponto de vista moral, deve-se aprender a purificar a mente na vida diária. Devemos fazer o possível para ver as coisas com simpatia, de maneira favorável. Ver os outros como nós próprios nos vemos, colocando-nos no lugar dos outros ao invés de acusá-los por suas fraquezas. As almas vêm à terra imperfeitas e mostram imperfeições. Vão-se desenvolvendo com naturalidade à proporção que avançam no caminho da perfeição. Se todos nós fôssemos perfeitos, não haveria objetivo algum na criação do homem. A manifestação foi criada para dar oportunidade a todos os seres de se elevarem, deixando a imperfeição para atingir a perfeição. Este é o objetivo e a alegria da vida. Para isso é que o mundo foi criado. Se esperássemos encontrar um ser perfeito em todos os homens, um