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HUBERTO ROHDEN
LUZES E SOMBRAS DA
ALVORADA
O que amigos e inimigos dizem da Alvorada e seu Orientador
UNIVERSALISMO
Luzes e Sombras da
Alvorada
Como afirmamos na 4.ª capa, este livro não é um livro escrito somente por
Huberto Rohden. Este livro É Huberto Rohden – seu trabalho, seu ideal, sua
vida. É a biografia do seu esforço cultural e espiritual.
Aqui, são os outros que contam, através de cartas, artigos, bilhetes, discursos
e testemunhos pessoais, como eles vivenciaram uma nova consciência de
vida, motivados pela própria vida e ensinamentos de Rohden.
São luzes e sombras da vida de um homem e do seu trabalho educacional pela
Humanidade. É um livro-Verdade.
Em nome dessa Verdade que o professor Rohden tanto amava, e para
conhecimento de seus leitores e amigos, vamos contar por que o Movimento
Alvorada, fundado e, até sua morte, orientado por ele, tem o nome Alvorada.
Primeiramente informamos que essa palavra, talvez vinda da Índia, tão sonora,
com a letra “a” repetida três vezes, e que é o feminino substantivado do
particípio do verbo alvorar foi, num concurso nacional, proclamada a mais bela
palavra da língua portuguesa.
Mas Rohden não a escolheu premeditadamente para simbolizar o seu trabalho
educacional. Ela começou a ser usada por uma circunstância rotineira e casual.
Foi um surgir e um usar espontâneo, necessário e suficiente.
Em 1951, o professor Huberto Rohden, depois de uma permanência de 5 anos
nos Estados Unidos da América do Norte, como professor de Filosofia e
Religiões Comparadas em uma universidade de Washington, retornou ao Brasil
para fazer parte do corpo docente da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
Por dificuldades de enquadramento pedagógico e em virtude do poderoso
curriculum vitae de Rohden, ele acabou não assumindo o cargo de professor
naquela importante instituição, ficando, aos 59 anos de idade, sem emprego e
sem as bases para a reorganização de sua vida no Brasil.
Depois de um longo período de conferências nas principais capitais e cidades
do Brasil, Rohden elegeu São Paulo como o centro de suas atividades
culturais, e aqui começou a dar um curso livre de Filosofia Univérsica e
Sabedoria do Evangelho.
No início eram dois pequenos grupos. Um no centro da cidade e o outro no
bairro do Ipiranga, ambos dados em residências particulares. O programa
constava de aulas teóricas e, no final, prática de cosmo-meditação.
No distante bairro do Ipiranga, as aulas começavam muito cedo, às vezes
antes das 6 horas. Por este motivo o grupo começou a ser chamado de “o
grupo da alvorada”. O trabalho foi tomando força até ser conhecido por
dezenas e dezenas de pessoas. Mais tarde mudou para o centro da cidade,
juntando-se com o outro grupo; mas o nome “alvorada” continuou para
designar as “aulas e os cursos” ministrados pelo professor Rohden.
Hoje Alvorada é um Movimento de caráter nacional, de incrível potencialidade,
com filial no Rio de Janeiro e em outras cidades, cumprindo, assim, sua missão
de levar a todos a mensagem de autoconhecimento e auto-realização.
Verdadeiramente, Alvorada é mais que o símbolo de um ideal – é a consciência
de um grupo de pessoas empenhadas na realização do Homem do futuro, do
Homem univérsico.
Sumário
Advertência
Prefácio do Editor
Primeira Parte
Pró e Contra Alvorada e seu Diretor
Por que este Livro
Que é Alvorada
Alvorada é uma Utopia?
Sabedoria dos Séculos
Fala um Jornalista Filósofo
Escreve um Intelectual Espiritualista
Fala um Bancário do Estado do Paraná
Fala um Padre Católico, Reitor de um Seminário Diocesano
Fala um Idealista Dinâmico
Fala um Jovem de 18 Primaveras
Fala um Motorista Desorientado
Fala uma Poetisa, através de um Acróstico
Fala o Reitor de um Seminário Católico
Escreve um Penitenciário em Vias de Conversão
Jovem de 17 Anos Suicida-se por Causa de meus Livros
O Mestre e a Mensagem
Segunda Parte
O que dizem da Alvorada e seu Fundador
Um Advogado Místico Fala das suas Experiências
Tem a Palavra uma Ex-Aluna Norte-Americana
Poder versus Verdade
As Auras do meu Ex-Guru
Um Acróstico em 4 Línguas
Contemplando a Dança das Libélulas
Liberta Física e Espiritualmente
Discurso de um Médico-Filósofo
Qual a Religião do Prof. Huberto Rohden?
Escreve um Suicida-Vivo
Nas Alturas da Filosofia Mística
Semana de Conferências
Da Frustração Existencial para a Realização Existencial
Carta de uma Leitora
Mais um Acróstico à Luz da Alvorada
Como Ele é, Física e Mentalmente
Também em Portugal
Saudação ao Prof. Huberto Rohden
Um Jornalzinho Clerical Proíbe os meus Livros
Um Companheiro de Ideal Escreve do Rio
O que um Reverendo Evangélico diz do Livro Paulo de Tarso
Escandalizado com o meu Livro Deus
Fala um Diretor de Instrução Pública Municipal
Para além dos Horizontes Teológicos
Uma Voz Amiga em Pleno Campo de Batalha
Solidariedade de um Sacerdote Amigo
Uma Freira Encantada com De Alma para Alma
O Poder Secreto
Encontro com o Cristo
O Senhor Destruiu a nossa Harmonia Conjugal
Um Monsenhor Entusiasmado
Escreve-me “Uma Espiritualista Feliz”
Uma Alma Crística da Ocidental Praia Lusitana
“Por Causa de Mim Sereis Odiados por Todos”
Reencarnação – como Fato ou como Valor
Discurso do Dr. Bento A. Martins
Terceira Parte
Perguntas sem Respostas
Por que não morri em 1963
Eu – e os Discos Voadores
Por que Dona K. não se Suicidou
Nas Penumbras da Parapsicologia
Cristo Histórico ou Cristo Interno?
Advertência
A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar
é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e
dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior,
porque deturpa o pensamento.
Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a
transição de uma existência para outra existência.
O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é um criador de gado.
Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea nada se
aniquila, tudo se transforma”; se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa,
mas se escrevemos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isto, preferimos a verdade e a clareza do pensamento a quaisquer
convenções acadêmicas.
Prefácio do Editor
Tivemos o privilégio de conhecer Huberto Rohden há muito tempo, mais
precisamente em 1939, quando ele ainda desempenhava as funções de
sacerdote, numa cidade do Rio Grande do Sul. Evidentemente, naquela época,
nossa mentalidade ainda infantil, pois tínhamos 11 anos, não podia captar a
grandeza educacional deste brilhante professor e guia espiritual.
Anos depois, em 1952, quando Rohden retornara ao Brasil e proferia um ciclo
de conferências em algumas capitais e cidades dos estados brasileiros,
novamente tivemos contacto pessoal com Rohden. Juntamente com outros,
organizamos suas conferências naquela mesma cidade, onde ele fora
sacerdote.
Sempre lemos e estudamos sofregamente os livros de Rohden, mas somente
em 1959, quando ele ministrava cursos sobre Filosofia Univérsica em Porto
Alegre, é que fomos “atingidos” pela sua grande força espiritual. Uma catarse
de incrível impacto nos atingiu, modificando nosso modo de pensar e agir. Por
meses uma crise existencial de destruição e construção se instalara em nós,
até o indescritível sentimento de certeza do verdadeiro sentido da Vida.
Em novembro desse mesmo ano “abandonamos tudo”, em Porto Alegre, e
viemos para São Paulo, para fazer cursos com Huberto Rohden e para “estar
com ele”. Por estranhas circunstâncias, durante os 10 anos posteriores não
encontramos Rohden, apesar de ele dar aulas, primeiramente no Colégio
Caetano de Campos, na Praça da República, e depois no Centro de Auto-
Realização Alvorada, na rua Conselheiro Crispiniano, ambos os lugares
situados apenas 5 quadras da nossa casa. Nesse tempo trabalhávamos fora da
capital, numa indústria automobilística. Saíamos muito cedo e somente
voltávamos no fim da tarde. Estranhamente havíamos perdido o contacto com
Huberto Rohden.
Foi somente no início da década de 1970 que, novamente, mergulhamos, com
grande entusiasmo, no trabalho educacional do professor Rohden, vindo a ser
– e é um privilégio –, seu aluno, discípulo, amigo, assessor e editor de seus
livros.
Em 3 de julho de 1980, por um ato de sua livre vontade, o professor Rohden,
na plenitude de suas faculdades, através de Escritura Pública, nos fez legatário
de sua obra literária, privilégio e honra que temos cumprido na plena totalidade
de nossa capacidade. Aliás, no final deste livro, no capítulo Cristo Histórico ou
Cristo Interno? Rohden, com fina sutileza, parece mostrar e justificar as razões
dessa sua histórica decisão.
Fomos, com outras poucas pessoas, os últimos a ouvir as derradeiras palavras
de Huberto Rohden, e a receber seu testamento verbal para que o seu ideal
continuasse a ser proclamado a todos os que, de boa vontade, viessem
procurar o Centro de Auto-Realização Alvorada, fundado por ele.
Hoje, o corpo físico do professor Huberto Rohden está em nosso jazigo, no
Cemitério Gethsêmani, da Mitra Arquidiocesana de São Paulo, n.º 0060,
quadra 06, Zona 4-A (onde, seguidamente, são depositadas flores, por seus
amigos e leitores.
Antigos amigos, alunos e discípulos de Rohden, que juntamente com ele
fundaram e dirigiram a Alvorada, pensam transformar a instituição na Fundação
Huberto Rohden, cuja estrutura jurídica permitirá, com mais eficiência e
permanência, realizar a vontade de seu legítimo fundador.
O ano de 1993 marcará o 1.º Centenário do Nascimento de Huberto Rohden.
Um extenso programa cultural já começa a ser construído, por todos os grupos
e pessoas ligados ao filósofo, a fim de assinalar, no contexto cultural brasileiro,
com a devida ênfase, a vida e a obra desse imortal pensador.
Para nós, seus editores, esse evento será mais uma oportunidade para poder
trabalhar pela sua obra e expressar nosso eterno sentimento de gratidão a
esse ser excepcional que, mais que professor, foi um mestre de Vida.
Este livro, impresso pela primeira vez em 1969, pelos antigos editores de
Rohden, sai, agora, em sua segunda edição totalmente revista e modificada
pelo autor que, antes de partir do convívio físico de seus amigos e leitores,
havia preparado a redação definitiva da obra.
Rohden fez várias modificações – retirando e acrescentando texto –, a fim de
dar coerência à linha do seu pensamento. Nós seguimos, com toda a
fidelidade, essas modificações do autor.
Luzes e Sombras da Alvorada é um documento vivo das atividades da
instituição e da vida de seu fundador. Futuros biógrafos do professor Huberto
Rohden terão nestas páginas valioso subsídio para suas pesquisas sobre o
autor e sua obra.
Nestas páginas, os milhares de leitores de Rohden encontrarão fundamentais
informações que esclarecerão muitas dúvidas sobre a Alvorada.
Antes de encerrarmos este prefácio, devemos e queremos expressar nosso
agradecimento às centenas de amigos, leitores e discípulos de Huberto
Rohden que, de muitas maneiras, colaboraram para a realização de sua obra
educacional. A bem da verdade, devemos nominar 3 pessoas que, por mais de
20 anos, dedicadamente, o ajudaram a fundar e dirigir a Alvorada. São eles:
Amélia Roveri Rangel, secretária de Rohden – ela o ajudava a preparar todos
os originais de seus livros; Elvira Fongaro Murano, de tradicional família
paulista, que assessorava Rohden na organização dos Retiros Espirituais; e
Luciano Zulian Teixeira, um bem sucedido empresário paulista que, com
dedicação, prestou inestimável apoio financeiro à construção do ashram de
Jundiai, da sede urbana, e de vários outros empreendimentos da instituição. A
todos esses colaboradores da Alvorada, nosso conhecimento e profunda
gratidão.
Martin Claret
Primeira Parte
Pró e Contra Alvorada e
seu Diretor
Por que
este Livro...
É tarefa ingrata um escritor falar de si mesmo.
Já o disse no prefácio de outro livro meu, Por um ideal.
O próprio Paulo de Tarso sentiu esta inconveniência, numa das suas epístolas;
mas resolveu ser “insipiente”, uma vez que outros o obrigaram a essa
“insipiência” – e, quem sabe? – talvez esta insipiência possa levar outros à
sapiência...
É o meu caso.
Nas páginas deste livro, tento reproduzir pensamentos e palavras que outros,
amigos e inimigos, externaram a meu respeito e sobre o movimento nacional
ALVORADA, que oriento.
Arrisco-me a essa aventura, quiçá desairosa, porque muitos dos meus leitores
necessitam de saber o que outros pensam de acontecimentos de âmbito
nacional. Diz Hermann Keyserling, no seu livro Reisetagebuch eines
Philosophen, que a maior parte dos homens só consegue consciência nítida
das suas experiências íntimas quando as vê refletidas no espelho da opinião
alheia; que a nossa inconsciente subjetividade exige uma conscientização
objetiva, para se tornar integralmente nossa.
Por isto, reproduzindo, neste livro, o que outros disseram, espero despertar no
leitor os seus próprios pensamentos, talvez dormentes ou semi-dormentes.
Reproduzirei com indicação de nomes o que já é do domínio público – artigos
de jornais e discursos proferidos em público; omito nomes de autores, quando
se trata de cartas particulares dirigidas a mim pessoalmente. Mas, quanto a
estas cartas, qualquer pessoa interessada em ver os originais, terá
oportunidade de as ler, caso se dê ao trabalho de me visitar.
Há diversos decênios que escrevo e publico livros. Cerca de 65 dos meus livros
se acham espalhados pelo Brasil inteiro, em diversos milhões de exemplares.
Além destes, quase três dezenas foram por mim retiradas de circulação, e não
estão sendo reeditadas, pelo fato de não refletirem mais a minha mentalidade
de hoje; e eu considero dever de honestidade para comigo mesmo não dizer ao
público o que não mais digo a mim mesmo. Alguns dos meus livros foram ou
estão sendo traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive para o esperanto.
* * *
Através de todas as cartas, artigos e discursos que perfazem a substância
deste volume, vai, como um fio de luz de ouro, um traço característico e
uniforme, que garante unidade em todas as diversidades, a saber: o anseio de
uma elite mental e espiritual de pessoas para saber por experiência própria,
direta e individual, o que, em séculos pretéritos, foi simplesmente crido
infantilmente, encampado cegamente como artigo de fé – ou que foi
bruscamente rejeitado pela inteligência adolescente como fábula e crendice
anticientífica.
Hoje, neste quase ocaso do segundo milênio da era cristã, existe um terceiro
grupo de homens, equidistante dos que aceitam cegamente e dos que rejeitam
violentamente. Este terceiro grupo, dos que se aproximam da maturidade
integral, continua a usar os invólucros milenares da fé tradicional, mas dá novo
conteúdo a esses velhos contendores.
Esse novo conteúdo consiste numa experiência interna, num contacto direto
com a Realidade Cósmica, com a alma do Universo, com o grande UNO do
Infinito que se revela sem cessar no VERSO dos Finitos, formando esse
misterioso e fascinante UNI-VERSO, essa estupenda Unidade na Diversidade,
que é a Realidade Integral do Cosmos.
Esse terceiro grupo da humanidade-elite é tipicamente univérsico (ou cósmico),
intuindo a alma una do mundo em todos os seus corpos diversos.
O homem univérsico é equidistante do dualismo separatista, que, geralmente,
impera no ocidente, e do panteísmo identificador, que domina boa parte do
oriente; guia-se por um monismo cósmico (também chamado panenteísmo),
que consiste na unidade com diversidade, perfeita harmonia, equidistante da
monotonia unitária e do caos diversitário.
Ultimamente, um exímio cientista francês, Teilhard de Chardin, tentou frisar nos
seus livros esse monismo cósmico do Universo, mas foi violentamente
combatido pelos dualistas separatistas do ocidente, incapazes de distinguir
panteísmo de panenteísmo, como o próprio Chardin lhe fez ver, no final do seu
livro O Fenômeno Humano.
Os antigos romanos davam ao Universo o significativo nome de mundus, que
quer dizer puro.
Para os gregos, o Universo era kósmos, isto é, belo.
O Universo é, pois, harmonia, pureza e beleza.
Ora, se o Universo é isto e se o homem é feito à imagem e semelhança da
alma do cosmos – um microcosmos – um mundo em miniatura, a perfeição do
homem consiste em ser tão univérsico como o próprio Universo, isto é, perfeita
harmonia, pureza e beleza – um homem universificado.
É esta a suprema aspiração da ALVORADA e de suas congêneres em outros
países. E é também este o traço de luz e ouro que, consciente ou
inconscientemente, vai através de todo o conteúdo aparentemente
heterogêneo deste livro – como de todos os meus livros, aulas e conferências.
Que é
Alvorada?
Desde 1952 estou realizando, em diversas cidades do Brasil, cursos de
Filosofia Cósmica (ou Univérsica), cursos de Filosofia do Evangelho e horas de
Cosmo-meditação, Tríduos de Retiro Espiritual, conferências, programas
radiofônicos; também publiquei dezenas de livros – tudo no espírito da
ALVORADA. Além disto nestes últimos anos, ALVORADA construiu, ou está
construindo, diversas casas de Retiro Espiritual (ashrams), onde pessoas
idôneas possam passar períodos maiores ou menores em completa solidão
com Deus e sua alma.
Todas estas atividades são orientadas pelo espírito da ALVORADA.
Em face disto, é óbvio que muitas pessoas queiram saber o que seja
ALVORADA.
É sabido que, no sentido físico, alvorada é o alvor que, no horizonte oriental,
precede o nascer-do-sol. Pois é neste mesmo sentido, embora metafísico,
espiritual, que usamos o nome ALVORADA. É o despontar da luz celeste, da
luz cósmica, da luz crística, em muitas almas humanas.
Talvez nem todos os nossos leitores tenham acompanhado e estejam a par
dos fatos históricos destes últimos decênios, que assinalam o fim da era do
“peixe” e preludiam o início da era do “aquário”.
O período do peixe, que começou pouco antes do nascimento de Jesus,
simbolizava o domínio da fé, no sentido de crença, ato dos homens de boa
vontade.
A era do aquário, que despontou há pouco, simboliza o período da sabedoria,
da compreensão espiritual, atitude própria dos homens que demandam o
sentido real daquilo que os homens de boa vontade apenas aceitam por um ato
de crença. A sabedoria compreende o simbolizado interno daquilo que os
símbolos externos da crença mandam crer sem compreender.
A era do peixe é dos crentes – a era do aquário é dos sapientes.
Aquela é dos egos de boa vontade – esta é dos Eus da compreensão.
Há quase dois milênios que a cristandade ocidental analisa o corpo do
Evangelho do Cristo – nos últimos decênios aparece, em todos os países, em
quase todas as Igrejas, e fora delas, uma elite cada vez maior que procura
viver a alma do Evangelho.
Esta orientação de experiência e vivência cósmica ou crística é que nós
designamos pelo termo simbólico de ALVORADA, ou seja, o alvorecer da
consciência crística, da sapiência cósmica.
Em outros países do globo existem movimentos similares, com nomes vários –
Self-Realization, New Outlook, New Thought, Neugeist, Seicho-No-Iê, etc. –
mas sempre com o mesmo objetivo da nossa ALVORADA.
Em 1956 mandei registrar o nosso movimento como Pessoa Jurídica com o
título “ALVORADA, Instituição Cultural e Beneficente”, sob o número de ordem
10.708, livro A-6, do Registro de Pessoas Jurídicas, na Capital de São Paulo.
Esse registro era necessário por motivos meramente legais; para nós, porém,
os amigos da ALVORADA, não se trata de nenhuma sociedade, no sentido
comum do termo, mas sim duma oportunidade para alguém se integrar, cada
vez mais, no espírito cósmico dos grandes mestres da humanidade, sobretudo
do Cristo.
Para efeitos legais, a ALVORADA é uma pessoa jurídica, devidamente
constituída, com um Estatuto Social, cujas cláusulas regem as ações da
entidade. As decisões administrativas e outras ações são tomadas pela
Diretoria Executiva e pelo Conselho Consultivo, legalmente eleitos para essas
finalidades. As eleições, realizadas de dois em dois anos, são feitas na sede da
instituição, com a participação da Diretoria, do Conselho e dos seus membros-
sócios, estatutariamente admitidos. Toda e qualquer pessoa, independente de
classe, cor ou credo, pode pertencer e acompanhar o espírito da ALVORADA e
gozar dos seus benefícios. Os que frequentam os cursos de filosofia
ministrados pela ALVORADA, em diversas cidades, costumam dar uma
contribuição mensal não-obrigatória, destinada à manutenção e ampliação das
obras externas do movimento.
ALVORADA é, pois, essencialmente um ideal de auto-realização individual,
sem a qual nenhuma reforma social é possível.
Sendo que toda a auto-realização subjetiva é realizada através de alo-
realizações objetivas, ALVORADA tem o seu setor de beneficência material, ou
seja, assistência social – escolas, centros educativos, ambulatórios, creches,
Natal dos Pobres, distribuição de utilidades aos necessitados, etc. Entretanto, a
alma da ALVORADA é sempre o autoconhecimento e a auto-realização do
indivíduo, isto é, a experiência mística transbordando em vivência ética, que,
na mensagem do Cristo, se chama o primeiro mandamento manifestado pelo
segundo mandamento. Nestes dois mandamentos, diz o Mestre, consistem
toda a lei e os profetas, toda a vida humana, externa e interna.
É neste sentido, essencialmente cósmico-crístico, que ALVORADA (Centro de
Auto-realização) procura realizar o seu programa.
* * *
Nos três primeiros séculos do cristianismo, quando os discípulos do Nazareno
viviam perseguidos, na vida subterrânea das catacumbas, não havia
interpretação analítico do Evangelho.
A partir do século quarto (313, edito de Milão), num período de liberdade e paz,
começaram os cristãos a fazer teologia e filosofia sobre a mensagem do Cristo.
A primeira e mais antiga interpretação do Evangelho é de caráter tipicamente
ritualista, influenciada, certamente, pelo espírito dos mistérios do paganismo
circunjacente: os efeitos espirituais eram considerados como dependentes de
causas materiais – é o período da prevalência dos sacramentos, que ainda
continua nas Igrejas ortodoxa e romana e, em menor escala, em algumas
Igrejas protestantes.
No século 16 começou a prevalecer a interpretação intelectualista: o
cristianismo se resumia na interpretação analítica do texto da Bíblia, bem como
num ato de fé fiducial (crença intelectual-volitiva) na pessoa de Jesus Cristo.
Ultimamente, sobretudo nos países latino-americanos, um setor do cristianismo
procura sintetizar-se num movimento de assistência social, subordinada ao
lema “fora da caridade não há salvação”. Se, pelo termo “caridade” se
entendesse o que esta palavra significa em latim (charitas = amor divino), nada
teríamos que opor; mas, hoje em dia, caridade é homônimo de filantropia, que
não é necessariamente uma manifestação de charitas. As palavras de Paulo de
Tarso, na primeira epístola aos coríntios, capítulo 13, “se eu desse aos pobres
todos os meus haveres, mas não tivesse amor (charitas), de nada me serviria”,
frisam admiravelmente a diferença entre amor divino e caridade humana.
Ritual, intelectual, social – estas três interpretações do Evangelho, através dos
séculos, não coincidem com o sentido central e autêntico da mensagem do
Cristo, como faz ver, num dos seus livros, o antigo vice-presidente da Índia,
Radha-krishnan.
Qual é, então, a quintessência do Evangelho do Cristo? Qual a alma, genuína e
integral, da sua mensagem à humanidade?
Quem responde é o próprio Cristo. Quando interrogado por um doutor da lei
(teólogo da sinagoga) “qual é o maior de todos os mandamentos”, o Nazareno
respondeu, com incomparável clareza e precisão: “O primeiro e maior de todos
os mandamentos é este: Amarás o Senhor, teu Deus, com toda a tua alma,
com toda a tua mente, com todo o teu coração e com todas as tuas forças –
este é o primeiro e maior de todos os mandamentos.”
Depois, acrescenta algo que o doutor da lei não perguntara: “O segundo
mandamento é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo”.
E conclui enfaticamente: “Nestes dois mandamentos consistem toda a lei e os
profetas”, isto é, toda a organização externa-legal (lei) e toda a inspiração
interna-espiritual (profetas) da vida humana.
Aqui temos, pois, a quintessência da mensagem do Cristo: a mística do
primeiro mandamento revelada na ética do segundo mandamento: a
paternidade única de Deus transbordando na fraternidade universal dos
homens.
A filosofia espiritual do oriente, sobretudo nas páginas maravilhosas da
Bhagavad Gita, milênios antes da era cristã, já havia dito o mesmo com outras
palavras. A yoga da Índia distingue jnani, raja, bhakti e hatha yoga, ou seja:
yoga espiritual, mental, emocional e material, correspondendo aos termos:
alma, mente, coração e forças corporais do Evangelho. Depois, manda a
quadrúplice yoga da Bhagavad Gita pôr esta experiência espiritual a serviço da
vivência social, em forma de karma yoga, yoga de ação, que é precisamente o
segundo mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
De maneira que a quintessência de toda a sabedoria, seja do Evangelho do
Cristo, seja da Bhagavad Gita de Krishna, sintetiza toda a vida humana na
grande vertical da mística manifestada na vasta horizontal da ética.
Ora, é precisamente este o programa da ALVORADA, genuinamente crística,
cósmica, universal.
Abraham Lincoln, o presidente-mártir que, após a guerra civil, reunificou os
Estados Unidos, foi o único dos presidentes daquele país que nunca pertenceu
a nenhuma das centenas de Igrejas cristãs existentes na grande democracia
do norte. Considerava-se discípulo da única Igreja do Cristo, do mandamento
do amor divino revelado no mandamento do amor humano, mística
transbordando em ética, que é a quintessência da nossa ALVORADA e das
suas congêneres, em outros países.
* * *
Em face de tão excelso ideal, era de esperar que apenas uma pequena elite de
alta compreensão crítica acompanhasse o nosso movimento. Verdade é que
centenas de pessoas aparecem às nossas aulas e exercícios de cosmo-
meditação; mas apenas um pequeno núcleo central é firme e coeso.
“Muitos são os vocados – poucos os evocados.”
Todos são potencialmente crísticos – poucos o são atualmente.
Todos podem gozar os benefícios de um banho de sol na luz matutina da
ALVORADA – poucos sabem aproveitar-se desse benefício.
Alvorada é uma Utopia?
Um Ideal?
ou uma Realidade?
Há quem pense que o que nós chamamos ALVORADA seja apenas uma bela
idéia, um lindo ideal, talvez uma utopia fantástica – mas sem nenhuma
realidade vital.
É porque essas pessoas não acompanharam o nosso movimento.
Antes de tudo, convém frisar que ALVORADA não pretende ser nenhuma
novidade, muito menos uma nova religião ou Igreja, nem mesmo uma nova
filosofia. É antes um esforço sincero e honesto de viver realmente, 24 horas por
dia, 365 dias por ano, a grandiosa mensagem do Cristo e de outros mestres
espirituais da humanidade. E de viver isto não como um compulsório “tu
deves”, mas sim como um espontâneo “eu quero”.
Mas a transição do dever compulsório para o querer espontâneo – do “caminho
estreito e da porta apertada” para o “jugo suave e o peso leve” – supõe algo
que poucos homens possuem: COMPREENSÃO, ou seja, experiência vital da
íntima realidade do ser humano.
ALVORADA visa nada mais e nada menos que levar o homem, pela
compreensão da realidade, de uma virtuosidade sacrificial para uma jubilosa
sabedoria ou sapiência.
A mensagem do Cristo, na sua base, para os principiantes, é, certamente,
virtude e virtuosidade – mas no seu zênite, para os finalizantes, é suprema
compreensão e sapiência. Não basta ao verdadeiro discípulo do Nazareno ter
boa vontade – é necessário que ingresse na zona luminosa da sabedoria,
consoante as palavras sapienciais do Mestre: “Conhecereis a Verdade – e a
Verdade vos libertará”.
Libertação não só do erro, mas também do sacrificialismo da verdade.
Este conhecimento da Verdade sobre o próprio homem é que, hoje em dia, se
chama auto-conhecimento, que coincide com a experiência mística do “primeiro
e maior de todos os mandamentos”.
E a realização prática deste autoconhecimento na vida de cada dia é a auto-
realização, a vivência ética do “segundo mandamento”.
ALVORADA visa, pois, a quintessência do Evangelho do Cristo e da sabedoria
de todos os grandes Iluminados da humanidade; e mostra a seus adeptos o
caminho para atingir essa meta.
Mesmo que ALVORADA não pudesse apresentar nenhum resultado palpável
da sua atividade, bastaria o próprio fato de manter firme a linha reta do
autoconhecimento e da auto-realização, essa quintessência de todas as
grandes filosofias e religiões da humanidade de todos os tempos e países.
Felizmente, não sofremos de falasanga, como os orientais chamam a mania de
resultados palpáveis. A Bhagavad Gita diz: “Trabalha intensamente, mas
renuncia a cada passo aos frutos do teu trabalho”. E o Cristo recomenda a
seus discípulos: “Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: agora
somos servos inúteis; cumprimos a nossa obrigação; nenhuma recompensa
merecemos por isto.”
Isto é a suprema libertação, pelo conhecimento da Verdade.
ALVORADA estaria satisfeita com esta consciência de estar cumprindo o seu
glorioso destino, mantendo a linha reta da Verdade através de todos os
ziguezagues das ilusões.
Entretanto, apesar de não sofrermos de nenhuma espécie da falasanga, os
resultados não são dados de acréscimo, quase à nossa revelia. Centenas e
centenas de cartas em meu poder, quase todas de pessoas desconhecidas,
atestam que, pelo veículo da ALVORADA, a Verdade está abrindo caminho na
vida de muitas pessoas, transformando o caos de ontem num cosmo de hoje,
mostrando a muitos o caminho certo da verdadeira felicidade. Sem cessar,
recebo cartas em que pessoas extravasam a sua grande felicidade por terem,
finalmente, encontrado uma razão-de-ser no meio de todos os objetivos da vida
terrestre.
É maravilhoso verificar que a caótica frustração existencial de outrora foi
substituída por uma tranquila e firme realização existencial.
Ainda que apenas uma única pessoa tivesse encontrado esse caminho da sua
realização existencial, após tanta frustração existencial, ALVORADA teria
cumprido a sua grande missão – mas o fato é que são muitas e muitas
pessoas, em todos os recantos do Brasil, que encontram a luz no meio das
trevas.
Aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro, ALVORADA mantém cursos
permanentes de Filosofia Cósmica e Filosofia do Evangelho, horas de cosmo-
meditação e períodos de Retiro Espiritual, oferecendo a algumas centenas de
pessoas oportunidade para o autoconhecimento e a auto-realização.
Lá fora, por todos os Estados do Brasil, os meus livros, uns 60, estão
circulando em cerca de 5.000.000 (cinco milhões) de exemplares, alguns deles
também traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive o esperanto. Através
destes livros, milhares de pessoas encontram o seu caminho verdadeiro.
Verdade é que nem todos estão em condições de assimilar este alimento
sadio. Por vezes, a semente da Verdade cai à beira do caminho, sobre pedras
ou no meio dos espinhos. E mesmo a parcela que cai em terra boa não produz
toda por igual: há grãos que produzem 30 por um, outros 60, e outros ainda
100 por um – que importa? Não está o discípulo acima do Mestre. O semeador
não é responsável pelo terreno nem pela frutificação; é responsável tão-
somente pela semeadura e pela pura intenção com que semeia a semente, que
é a palavra de Deus. É dever do semeador semear a boa semente, quer
produza quer não produza, quer produza muito quer pouco.
O terreno espiritual são as almas humanas, que não obedecem ao alo-
determinismo mecânico, mas sim à autodeterminação dinâmica do livre-
arbítrio, e por isto não pode o semeador prever o resultado do seu trabalho.
Nunca deve atribuir a si, vaidosamente, o resultado positivo da sua semeadura
– como, por outro lado, também não se deve sentir, pessimisticamente,
frustrado pelos resultados negativos.
O dever do semeador é semear – o resto não é com ele.
Este livro focaliza uma pequenina parcela dos resultados da ALVORADA que,
incidentemente, chegaram ao conhecimento de seu diretor espiritual.
Este livro não tem por fim justificar as atividades da ALVORADA; quer apenas
mostrar o que a palavra da Verdade pode produzir nas almas idôneas e
dispostas a assimilarem o seu conteúdo.
* * *
Em face da grande circulação dos meus livros, muitas pessoas me consideram
um milionário. Alguns querem saber quantas casas, quantos sítios, quantas
fazendas possui esse Professor Rohden.
A todos eles posso declarar, com a mão na consciência, que, há muitos anos,
estou vivendo praticamente o espírito da filosofia que professo e leciono, em
aulas e livros: não sou dono de um único palmo de terra, de nenhuma casa,
nem sequer da porcentagem dos livros que meus editores me concedem – tudo
isto já passou às mãos da humanidade, em forma de beneficência espiritual e
material; tudo é da ALVORADA, que é uma Instituição Cultural e Beneficente, e
o que é da ALVORADA é do Brasil e é da humanidade. Eu sou apenas o
administrador temporário desta parcela do patrimônio de Deus em prol da
humanidade. Tranquilizem-se, pois, os que me julgam milionário e latifundiário.
Em nenhum cartório do Brasil existe documento que me dê como dono de
algum imóvel; em nenhum banco, nacional ou estrangeiro, existe um único
cruzeiro, velho ou novo, que seja realmente meu. Verdade é que alguns
“amigos” me têm convidado para fazer depósitos em bancos da Suíça, como
fazem milhares de brasileiros; mas os meus capitais estão unicamente nos
bancos de Deus e da Humanidade.
No dia e na hora em que eu fechar os olhos para a vivência terrestre, ninguém
terá de brigar por causa dos meus haveres materiais.
Felizmente, alguns dos meus alunos e discípulos já estão seguindo o mesmo
caminho, desfazendo-se voluntariamente dos seus ídolos materiais em prol de
um ideal espiritual.
Alguns dos que trabalham mais intimamente comigo, no sítio e no santuário
Nirvana da ALVORADA, já assimilaram o princípio do homem crístico: “Aqui
nada se ganha, nada se gasta e tem-se tudo.”
Sabedoria
dos Séculos
As seguintes verdades eternas, quando devidamente conscientizadas,
produzem grandes benefícios espirituais e materiais. Convém proferir,
vagarosamente, sobretudo ao adormecer, uma destas verdades, a que tiver
mais estreita afinidade com a alma de cada pessoa:
1. Uno-me com todas as minhas forças ao Espírito Infinito.
2. Onde quer que eu esteja, lá Deus está – e que mal me poderia acontecer lá
onde Deus está?
3. No meu íntimo SER eu sou o que Deus é – por isto, no meu externo AGIR,
quero também agir assim como Deus age.
4. Envolve-me, penetra-me todo a Luz Branca do Cristo eterno e interno –
nenhum mal me pode tocar, todo o bem me deve caber.
5. Todas as coisas, mesmo as mais pequeninas, são grandes, quando feitas
com grandeza de alma.
6. Livra-me, Senhor, da soberba mesquinhez de querer ser servido – ensina-
me a humilde grandeza de querer servir.
7. Nenhum mal que os outros me fazem me faz mal, porque não me faz mau –
somente o mal que eu faço aos outros me faz mal porque me faz mau.
8. Nunca farei depender a minha felicidade de algo que não dependa de mim.
9. Não sou melhor porque me louvam, nem sou pior porque me censuram –
sou, na verdade, o que sou a Teus olhos, Senhor, e à luz da minha
consciência.
10. Deus, Tu que és Luz, Vida e Amor – manda-me através de todos os Teus
mundos, visíveis e invisíveis, como um raio da Tua Luz, como um sopro da Tua
Vida, como um brado do Teu Amor!
11. Guia-me, Luz Divina, por teus caminhos, para que nenhuma ingratidão me
faça ingrato, nenhuma amargura me faça amargo, nenhuma maldade me faça
mau, que eu queira antes sofrer todas as injustiças do que cometer uma só!
12. Ensina-me, Senhor, a sintonizar diariamente as antenas de minha alma por
Tuas ondas divinas, a fim de apanhar no meu receptáculo finito as vibrações da
Tua Vida Infinita!
13. Em Deus tudo está, de Deus tudo vem, para Deus tudo volta.
14. Não maldigo as trevas de ódio que me cercam – acendo em minha alma a
luz do amor.
15. Desde que me encontrei contigo, Senhor, faço com leveza as coisas
pesadas, com suavidade as coisas amargas, com alegria as coisas tristes – e
estendo o arco-íris da paz sobre todos os dilúvios das minhas lágrimas.
16. Eu afirmo a soberania da minha substância divina sobre todas as tiranias
das circunstâncias humanas.
Fala um
Jornalista Filósofo
“Ouvi Huberto Rohden numa cidadezinha do nordeste brasileiro, há mais de
vinte anos. Era um pregador da Santa Madre Igreja e parecia investido também
das funções desta figura moderna da sociedade, o “public relations”, porque
com a sua fala atraía não apenas os fiéis da sua própria fé, mas também
ovelhas de outros rebanhos, que se reuniam em torno dele, embevecidas pela
maneira como dizia as coisas. Reencontro agora o sacerdote de outrora. Ele
mudou de roupas e de idéias, mudou até de aspecto, mas não mudou de
assunto. Continua falando em Deus.
O salão da universidade estava repleto. E pareceu-me estranho, naquela noite
de chuva, que tanta gente se reunisse ali para ouvir um homem falar de Deus,
um assunto tão velho e quase sempre abordado de um modo tão complicado,
quando, mesmo numa cidade ainda modesta como Porto Alegre, os programas
mundanos que disputam as nossas horas de folga apresentam tantos números
novos. Uma experiência curiosa que podemos fazer sempre que nos
encontramos num auditório, fazendo parte dele, é assistir também às reações
das pessoas. Pois o imenso salão de atos da nossa universidade, ontem à
noite, era para tal experiência um esplêndido laboratório. Desembargadores,
professores, comerciantes, funcionários públicos – que rada mistura humana!
Uma modesta senhora torcia lentamente o cabo da sombrinha e bebia, quase
em êxtase, cada palavra do pregador. Homens que conheço da rua,
apressados e nervosos, pareciam colados no assento, e tão plácidos como se
flutuassem docemente naquele oceano de conceitos filosóficos. Quem poderia
selecionar, em tal mistura, os espiritualistas e os materialistas, os filhos de
Roma e os filhos de Iemanjá? Que pastor apartaria um tal rebanho? Naquele
momento, o auditório do Professor Huberto Rohden pareceu-me uma síntese
do Universo, assim como uma gota d’água contém na sua pequenez os
elementos de todos os mares.
Quando o professor discorreu sobre a tese espiritualista do Oriente, de que nós
somos Deus, tornou-se ostensiva nos lábios de cada um a satisfação íntima
daquela identificação1. Eu vi na senhora perfumada e grã-fina, que segurava
com tanta elegância o seu “lorgnon”, a mesma alegria da mocinha pobremente
vestida que estava sentada atrás dela. E posso jurar que, naquele momento, se
identificaram. Elas, e todos quantos ali se encontravam.
1. Convém que o leitor verifique nos meus livros em que sentido o homem pode ser chamado
Deus. Nada de panteísmo, nada de dualismo! Monismo Universal!
Não sei em que pecados estarei incorrendo, mas me parece muito saudável a
idéia dos orientais. Se nos conhecêssemos realmente que cada um de nós é
um pouco de Deus, quem sabe se as coisas não terminariam melhorando em
torno de nós?” (Abdias Silva – Folha da Tarde – Porto Alegre, 18-7-1961).2
2. Este conceito não é apenas da Índia e do Oriente longínquo, mas também do Oriente
próximo, da Palestina; permeia todo o Evangelho do Cristo e dos seus grandes discípulos. “O
Pai está em mim, e eu estou no Pai... O Pai também está em vós, e vós estais no Pai... Vós
sois deuses. Eu sou a luz do mundo, e vós sois a luz do mundo... O reino de Deus está dentro
de vós” – estas e outras palavras do Divino Mestre refletem a quintessência do seu Evangelho,
embora as nossas teologias eclesiásticas discordem.
“Não sabeis – pergunta Paulo de Tarso aos cristãos de Corinto – que vós sois templos do
Espírito Santo e que o espírito de Deus habita em vós?” E de si mesmo diz o apóstolo: “Já não
vivo eu, o Cristo é que vive em mim... O meu viver é o Cristo.”
No mesmo sentido escrevem os grandes místicos cristãos, sobretudo São João da Cruz, Santa
Teresa de Jesus e o rei dos místicos medievais, Meister Eckehart, que foi Superior Provincial
da Ordem dos Padres Dominicanos da Alemanha.
Nos meus livros, sobretudo O Espírito da Filosofia Oriental e A Grande Libertação, encontrará
o leitor abundante material sobre este ponto (H.R.).
Escreve um Intelectual
Espiritualista
“A obra de Rohden é das mais louváveis e características. Imperceptivelmente,
com lógica segura, com argumentos amadurecidos, em verdadeiros diálogos
íntimos com o leitor, vai desbastando o nosso enfumaçado ambiente mental,
vai nos desapegando do entulho filosófico-teológico, produto dos homens,
ensejando-nos a compreensão do cristianismo integral, produto do Cristo
Universal.
Rohden transcende o conceito de seita e alça vôo a alturas que pairam bem
acima das divergências sectárias. Abandona o horizontalismo dos conceitos
analíticos que dividem, para expandir-se na verticalidade dos conceitos
sintéticos que unem.
Nesta transcendentalidade está o seu grande vigor, a força magnética do seu
verbo, o valor da sua obra. Graças a ela, sua palavra penetra em todos os
escaninhos, em todos os setores, propiciando a todos aqueles que não se
encontrem petrificados em suas idéias, mas se acham – como ele mesmo diz –
em estado de “evolução fluídica”, capazes de dispor da devida elasticidade
rumo a novos horizontes.
O autor não é dogmático, nem espera que outros o sejam. No decorrer da sua
fertilíssima obra, ele mesmo se permitiu, de si próprio, várias vezes.”
Fala um Bancário do
Estado do Paraná
“Huberto, não pode fazer idéia de quanto lhe sou devedor, de quanto o amo e o
admiro. Já no ocaso da vida, deparei com aquilo que sempre buscava.
Cinco anos vivi num seminário; mas os ensinamentos ali recebidos não
satisfizeram aos anseios de minha alma. Frequentei por longos anos a Igreja
Presbiteriana, mas ainda sentia que algo de muito importante faltava à minha
alma, embora não soubesse o que fosse. Li inúmeras obras de Léon Denis,
Allan Kardec, Pietro Ubaldi, Hercílio Maes, C. Flammarion, Hugo Collarile,
Aléxis Carrel... Porém, já mais esclarecido, achava que ainda não estava no
caminho, muito embora adivinhasse que esse caminho existia. Ledor assíduo
dos Evangelhos, nunca me conformei com religiões dogmáticas, que com as
suas teologias nos colocam num dilema: a quem devemos dar crédito, aos
teólogos ou ao Cristo?
Ao acaso, numa livraria, simpatizei com o título de uma obra: Ídolos ou Ideal?
Iniciei a leitura dessa obra – e de um só fôlego a terminei. Estupefação, alegria,
lágrimas!... Tabus e dúvidas por terra!... Convicções abaladas!... Tudo isto senti
ao terminar a leitura de Ídolos ou Ideal? Hoje possuo em minha modesta
biblioteca 20 obras da sua autoria... Encontrei, através delas, o que durante 30
anos busquei ansiosamente. Ainda ontem, relendo De Alma para Alma, me
vieram lágrimas aos olhos, e minha esposa perguntou-me: “Por que está
chorando, Nahor?” Disse-lhe eu: “Choro, Aracy, porque sou feliz, porque
encontrei o Cristo, assim como realmente ele é.”
Amigo Rohden, o Sr. já imaginou quanto bem o Sr. tem feito? Já fez uma idéia
de quanta felicidade tem proporcionado aos seus ignotos amigos? Não essa
felicidade caricata almejada por nossos irmãos profanos, mas aquela felicidade
que nos torna bons por amor ao bem, que nos faz amar a Deus não por temor
nem tampouco por aguardar recompensa. Hoje sei que sou cidadão do
Universo, que sou eterno. Hoje sei que tudo está em Deus, tudo vem de Deus,
e a Deus tudo retorna. Hoje a minha vida é uma pleni-vida, uma vida
verdadeira.
A luta contra o ego luciférico é titânica, mas agora tenho certeza da vitória.
Encontro mais dificuldade junto aos meus familiares, pois eles não
compreendem que ser tolerante não significa ser covarde, que humilde não
significa servil. A distância geográfica que nos separa é enorme, porém todas
as noites, após as minhas horas de prece e meditação, o meu pensamento voa
para a pessoa tão querida de Huberto Rohden, e em pensamento lhe digo:
Muito obrigado, ignoto amigo! Como o estimo, admiro e amo! Que Deus o
inspire para que possa escrever muitas outras obras!...
Se, um dia, puder, irei a São Paulo, roubar-lhe-ei apenas um instante para lhe
dizer “muito obrigado” e ter entre as minhas as suas mãos, mãos essas que,
obedecendo aos ditames da alma, têm escrito obras magistrais, que nos
ensinam a amar em verdade e compreender em sua plenitude os
ensinamentos daquele que, ao expirar, nem sequer possuía um relógio de
baixo custo, uma caneta-tinteiro barata e uma tanga,4 mas possuía a
capacidade de dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”
4. Referências a Mahatma Gandhi, que deixou esses objetos, quando Jesus, ao morrer, não
deixou nada. Gandhi, ao receber as balas mortíferas de seu assassino, fez-lhe a costumada
saudação hindu, juntando as mãos à altura do peito e dizendo namastê, cujo sentido é: o Deus
em mim saúda o Deus em ti.
Fala um Padre Católico,
Reitor de um
Seminário Diocesano
“Tenho lido vários livros da sua autoria e não posso resistir mais ao desejo de
lhe manifestar minha profunda admiração e, principalmente, minha gratidão
pelo bem imenso que os livros do Sr. me têm feito. A princípio, eu os lia com
certo receio; temia que pudessem afastar-me de Deus, por conterem algo
diferente do que se ensina comumente. Fui verificando, entretanto, tratarem
eles de elevadíssima e incomum espiritualidade própria para eliminar o
materialismo e consequente desespero, que nos cerca.
Atravessei, ultimamente, dificuldades muito grandes e quase insolúveis, e o Sr.,
através dos seus livros, foi o cicerone da vitória. Por isto, eu tenho sempre ao
meu lado O Caminho da Felicidade, e Novos Rumos para a Educação. Aliás, já
distribuí vários exemplares de O Caminho da Felicidade e a muitas pessoas o
tenho aconselhado como meio de abrir novos horizontes de esperança para a
vida.
Quis adquirir outros de seus livros enumerados no catálogo, pois só possuo 7
de seus livros. Estou particularmente interessado no Em Espírito e Verdade,
mas está esgotado.
Gostaria de ter informações sobre o Centro “Alvorada” que o Sr. dirige. Já ouvi
falar alguma coisa sobre o assunto”.
Cartas como esta, do interior de Minas Gerais, recebo-as em grande número,
também de padres de Portugal e da Angola portuguesa da África, prova de que
todo esse feroz clericalismo que detesta os meus livros e seu autor não é
capaz de matar a anima naturaliter christiana. Ainda há pouco, alguém que
conhece o assunto me disse: Pode o Sr. estar certo de que os padres são os
mais assíduos leitores dos seus livros “heréticos”, embora nem todos tenham a
coragem de o confessar em público, com medo de perderem a sua privilegiada
posição.
Coisa análoga acontece, aliás, com numerosos pastores protestantes, que
publicamente hostilizam os meus livros porque não aprovo a bibliolatria deles,
mas muitos os têm em suas bibliotecas, e não poucos pregam em suas igrejas
no sentido das minhas “heresias”.
Com data de 9 de janeiro de 1967, uns três anos depois da carta acima
transcrita, o mesmo sacerdote volta ao assunto da carta anterior, dizendo:
“Há cerca de três anos, dirigi-me a V. S., manifestando a minha satisfação pela
leitura de alguns dos seus livros.
Hoje volto à sua presença para lhe dizer que continuo a ler novos livros da sua
vasta seara. O entusiasmo aumentou, e aumentou muito. Que coisa admirável
é o Evangelho de Cristo e quão profunda a filosofia nele contida. Já havia lido e
estudado o Evangelho, mas ele continuava um livro fechado para mim, embora
eu julgasse conhecê-lo bem; agora tornou-se um livro aberto e, mais ainda, um
programa de vida e de felicidade. Tenho até procurado adaptar as pregações
dominicais de modo a espargirem tanta doutrina boa contida nos livros do Sr.
Acho o Sermão da Montanha e a Grande Libertação os melhores de toda a
série, que conheço. Já possuo cerca de 21 livros do Sr. e os estou lendo
vagarosamente e procurando transformá-los em vida. Já distribuí vários deles
como presente a amigos, que se interessam por ideais que ultrapassam a vida
ordinária. Continuarei a distribuí-los, pois não existe maior dom do que a
verdade purificada de toda superstição e engano.
Gostaria de assistir a conferências que o Sr. costuma fazer no Rio e em São
Paulo. Peço endereços e horários. Gostaria de saber se estas conferências se
fazem também em período de férias.
Muito grato por tudo...”
(Seguem assinatura à mão, e endereço).
Respondi a esse sacerdote sincero e mandei o prospecto da “Alvorada”, com
endereço e horários das duas cidades solicitados.
Como se vê, a alma humana continua a ser “crística por sua própria natureza”,
como escrevia Tertuliano no segundo século; não há teologias nem filosofias
humanas que consigam destruir esta cristicidade da alma humana, quando o
homem tem a honestidade e coragem de ser fiel a si mesmo, ao seu verdadeiro
Eu divino.
Fala um Idealista
Dinâmico
“ALVORADA DE UMA NOVA ERA – Assistimos à conferência do Prof. Huberto
Rohden sobre a ‘filosofia cósmica do Sermão da Montanha’ como base de
auto-realização, proferida na Associação dos Funcionários Públicos de
Salvador.
É formidável ouvirmos a mensagem desse homem hercúleo de pensamento e
corpo, de cabeleira alva semelhante a um Moisés do século XX.
Logo no início da conferência, quem apresentou o escritor disse que Rohden
tinha sua própria filosofia, que poderíamos chamar de filosofia rohdiana – o que
o conferencista rebateu ao iniciar sua oração, dizendo que não havia nenhuma
filosofia rohdiana, que ele era apenas o eco do pensamento dos grandes
filósofos de toda a humanidade, tendo como supremo mestre Jesus, o Cristo. A
cultura de Rohden é gigantesca. Cita Gandhi, do qual fez uma recente
biografia, Sócrates e Einstein, com a mesma facilidade com que discorre sobre
a Divina Comédia, de Dante.
Nos círculos ortodoxos das religiões ou dos intelectuais sectários (Rohden é
combatido e desdenhado. O certo é que este solitário e genial leão da cultura e
do pensamento faz ruir todos os nossos falsos mitos com uma clareza e
originalidade incomuns.
Seria imensamente difícil sintetizar o seu pensamento num só artigo.
Aconselho que leiam e ouçam o fabuloso filósofo brasileiro.
Huberto Rohden é uma autêntica revolução para o pensamento. Transporta-
nos para mundos ignotos. Com cerca de cinco milhões de exemplares de livros
espalhados pelo Brasil afora, Rohden constitui um dos maiores best-sellers do
País.
Sabemos que qualquer pensador desvinculado das organizações sectárias
está fadado a ser combatido e perseguido, principalmente quando se trata de
religião – e Rohden não foge à regra. Combatido pelos profissionais do Cristo e
ridicularizado pelos intelectuais tidos como ateus, ele voa como um pássaro
livre, cheio de entusiasmo, cultura e ação, por todos os rincões da Pátria,
anunciando o retorno do Cristo das catacumbas, e não o culto da idolatria,
bibliolatria, mariolatria, etc.
Devo confessar publicamente que, na minha adolescência, quando vivia
torturado pela influência satânica do medo do inferno por não ser batizado e
não ser miado a nenhuma Igreja, me surge na Bahia este fabuloso Rohden e
me salva dos terríveis tormentos psicológicos que me afligiam desde a infância,
graças à educação religiosa que me deram. Hoje percebo como é
ridiculamente trágica a educação religiosa tradicional. E como ficam
desfigurados os seus crentes sinceros...
Assim como São Paulo renegou a sinagoga de Israel, Rohden também não
pôde continuar como padre por uma questão de fidelidade a si mesmo. Não
podia servir a dois senhores: a Deus e a Mamon.
A História dos Profetas se repete. Hoje sutilmente perseguido, segue este
profeta, como um jornalista desassombrado a anunciar o retorno à verdade de
Jesus, o Cristo, denunciando o desvirtuamento da divina mensagem do
Sermão da Montanha para o retrocesso à lei de talião: dente por dente, olho
por olho.
Felizmente, no mundo sempre surge um raio de luz; porque, se assim não
fosse, a humanidade mergulharia no mais terrível sofrimento do egoísmo
materialista e da maldade destruidora. Com o mundo dividido e ameaçado de
destruição total, provocada por sectarismos estreitos de dogmas políticos e
econômicos, habilmente manipulados pelas ambições satânicas, ainda há
esperança de se acordar para um mundo novo, livre desta terrível dualidade de
capitalismo e comunismo, de crentes e ateus.
Não compreendo a guerra de silêncio contra este mestre da cultura universal.
Todos o lêem. Ninguém o comenta...
Assim como Krishnamurti revoluciona a Índia misteriosa de mitos milenares,
Rohden revoluciona esta jovem nação para a Alvorada de uma nova Era.”
(Jornal da Semana, Salvador, Bahia, 10-2-1962).
Fala uma Jovem
de 18 Primaveras
“O que ouvi do Sr., nestes poucos dias em que aqui esteve, calou fundo no
meu Eu. Suas palavras e sua imagem seguem-me dia e noite. Parece-me que,
apesar dos meus pesares, minha vida passou a ser cor-de-rosa. Se bem que o
meu ego seja ultrateimoso, estou contudo fazendo um esforço tremendo.
Suas palestras estão causando enorme efeito naquele pequeno grupo que o
seguiu nos 10 dias em que aqui esteve. Todos estão combatendo o seu “irmão
burrinho”.5
5. Alusão ao fratel asino (irmão burrinho), como Francisco de Assis chamava o seu velho ego
humano, que teimava em desobedecer ao seu Eu divino.
Sr. Huberto, sua visita a Goiânia foi para mim muito propícia, pois nessa
ocasião, ou melhor, no dia anterior à sua primeira conferência, blasfemei
demais. Pensei até em suicidar-me. Por quê? Por motivos fúteis: considerava-
me ruim e inútil e causadora da infelicidade de todos os que me cercam: 1)
briguei com minhas irmãs; 2) discuti por motivos fúteis com meu noivo; 3) por
minha causa, papai discutiu com mamãe. Como vê, sou fraca. Não tenho
religião, embora seja espiritualista; também não tenho ilusão, apesar de contar
apenas 18 anos.
Sr. Huberto, como praticar meditação?... Estou desorientada...
Mestre, ajude-me, peço-lhe. Tenho uma vontade imensa de melhorar, de tirar
minha “luz de baixo do alqueire e colocá-la no alto do candelabro”...
Fala um Motorista
Desorientado
A seguinte carta, de um motorista de praça do Rio de Janeiro, mostra o que um
homem pode fazer quando se deixa empolgar pelas palavras do divino Mestre,
“sede simples como as pombas” – e mostra também como é fatal omitir a
segunda parte da admoestação “sede inteligentes como as serpentes”. Esse
homem não descobriu a síntese salvadora entre a providência divina e a
previdência humana – e acabou nesses dolorosos apuros que fala a seguinte
carta, que reproduzimos apenas em parte, pois ela abrange nada menos de 18
páginas).
“Sr. Rohden. Estive em São Paulo à sua procura, mas não consegui encontrá-
lo. Queria apenas pedir-lhe um emprego no seu sítio, a fim de salvar-me da
situação desesperadora em que me encontro, criada pelos seus belos livros de
filosofia cristã.
Sou um homem de quase 47 anos de idade. Vivia profanamente feliz com
minha companheira, em um apartamento com relativo conforto, possuindo
televisão, geladeira, rádio-vitrola, etc. Trabalhava num táxi de minha
propriedade, que me dava o suficiente para as despesas.
Até que um dia, por artes do diabo, peguei num livro de sua autoria com o título
Em Comunhão com Deus. Então começou a minha odisséia...
Eu, que nunca acreditara em Deus, entusiasmei-me pela sua literatura
convincente de que Deus existe, e fui comprando quase todos os seus livros,
procurando praticar todos os seus ensinamentos.
O primeiro obstáculo que encontrei foi a minha companheira; pois a minha vida,
em relação a tudo, inclusive em minhas relações íntimas, mudou
completamente. Dizia-me ela que não podia mais me suportar; pois eu estava
ficando louco, lendo bobagens que não existem.
A princípio, eu não lhe dei importância e continuei a ler os seus livros,
praticando o bem, dando aos outros o que podia dar, transportando
passageiros de graça no táxi, acreditando piamente que “há mais felicidade em
dar do que em receber.”
Ela, não me compreendendo e não suportando mais as minhas idéias,
expulsou-me de casa. Reagi, e ela chamou a Rádio-Patrulha, indo eu pela
primeira vez em minha vida parar num xadrez imundo. Ela declarou ao
delegado que eu estava louco e que a ameaçava de morte. Como tudo que
tinha em casa estava em seu nome – pois não éramos casados –, o delegado
deu-lhe razão e disse que, se eu aparecesse no apartamento, que ela
chamasse novamente a Rádio-Patrulha, que ele me daria uma lição.
Desesperado, pensei que Deus me tivesse abandonado e tentei me suicidar.
Passei três dias no Hospital Miguel Couto entre a vida e a morte. Fora de
perigo, fui levado por meu padrasto para a casa de minha mãe.
Mais calmo, refletindo, pensei que esta desgraça seria para o meu próprio bem,
e me conformei em perder tudo: conforto do lar e minha companheira. Ainda
me restava o carro para trabalhar.
Mas, em casa de minha mãe continuou o meu sofrimento. Meu padrasto, que é
espírita e diz que é médium, não compreendendo a filosofia que eu praticava,
entrou em conflito religioso comigo. Minha mãe, que acompanha a religião
dele, virou-se contra mim, tornando a minha presença em sua casa um
martírio.
Nessas alturas, eu já me encontrava desorientado, quase não saindo com o
carro para trabalhar.
Fizeram uma reunião em casa, e meus irmãos disseram-me que eu estava
esgotado, perturbado com os últimos acontecimentos e que eu devia
descansar um pouco num sanatório. Concordei e fui internado no Sanatório
Botafogo, à Rua Álvaro Ramos.
No primeiro dia que passei no Sanatório sem os meus livros – pois não me
deixaram levá-los – notei que eu não estava internado para descansar, mas
sim como um verdadeiro louco. Reagi violentamente, pois isto significava o fim
da minha vida.
No fim de três dias, apareceram os meus parentes e me disseram que, se eu
não quisesse ficar internado, eles me tirariam de lá, mas que eu me arranjasse
sozinho, pois nenhum deles queria mais saber de mim.
Com fé em Deus resolvi enfrentar o desprezo dos meus parentes e arranjei
para morar num barracão existente num terreno vazio, à Rua Padre Roma, no
Méier.
De acordo com os seus ensinamentos, suportei tudo com resignação, pois era
a vontade de Deus que eu sofresse tudo isso. Assim, depois de lutar tanto na
vida, profanamente, e de ter tido alguma coisa, morando confortavelmente num
apartamento com minha companheira, eu me via jogado num barracão de
madeira, sem água e sem luz, sozinho, considerado louco por todos, possuindo
apenas o meu carro e os meus livros.
Esperava que, quando encontrasse o “reino de Deus e sua justiça”, tudo
voltasse ao normal, isto é, que a minha companheira me compreendesse e me
aceitasse de volta, assim como os meus parentes.
Trabalhando no carro, quase sempre servindo de graça – o que surpreendia os
passageiros –, ganhava o suficiente para comer, o que me bastava; pois não
pagava casa.
Porém, os meus sofrimentos não terminaram aqui. Levei uma forte batida no
carro e, como não tinha dinheiro para consertá-lo e não podia contar com
ninguém para me ajudar, resolvi vendê-lo a um colega pelo preço de 40 mil
cruzeiros (velhos). Este carro valia mais de 300 mil. Pensei ser a vontade de
Deus que eu perdesse o meu carro.
Com este dinheiro paguei umas dívidas e tratei de procurar um emprego
modesto que me desse para viver honestamente com Deus.
E aqui começa o meu maior martírio. Como estou com quase 47 anos, como
lhe disse, ninguém me quer dar trabalho por causa da idade. Comecei então a
me desesperar. Como? Eu não servia mais para trabalhar? Sem trabalho, eu ia
terminar na miséria. Será que Deus me tinha abandonado?
Comecei então a refletir sobre os últimos acontecimentos da minha vida.
Quando eu não acreditava em Deus, vivia feliz. Agora, que eu procuro a Deus,
sou infeliz, desprezado por todos como um louco e inútil. Por quê?
Resolvi então procurá-lo em São Paulo, mas não o encontrei.
Em São Paulo, quase de novo tentei suicídio. Mas, pensando melhor, resolvi
devolver todos os livros que me fizeram infeliz, ao seu autor, por intermédio do
Dr. (nomeia um advogado, meu aluno no Curso de Filosofia, no Rio), para que
os vendesse...”
(Segue o resto, no mesmo tom. Infelizmente, o motorista desapareceu sem
deixar vestígio. De quinze em quinze dias estava eu no Rio, para as
costumadas aulas de Filosofia Universal e Filosofia do Evangelho. Nem eu nem
ninguém recebeu visita dele. E assim nada pudemos fazer pelo motorista.
Por aqui se vê como é necessário que um neófito, apesar de tão bem-
intencionado e tão sincero em suas aspirações cristãs, tenha um guia espiritual
que o dirija com prudência nas veredas do espírito, muitas vezes escuras e
incertas.
Os meus livros, que a tantos deram profunda felicidade, também teriam tornado
feliz a esse motorista sincero, se não se tivesse isolado no seu entusiasmo
religioso, em vez de se associar a outros companheiros na mesma jornada
rumo a Deus).
Fala uma Poetisa,
Através de um Acróstico
ARAUTO DE DEUS
Há no teu íntimo sabedoria;
Ultrapassaste a compreensão restrita
Baseada numa vã filosofia,
Escravidão parcial que o bem limita.
Resplendem nos teus largos horizontes
Toda a beleza e luz das grandes almas,
Onde a verdade das divinas fontes
Reside em águas límpidas e calmas.
Os teus lavores nobres foram pontes,
Hasteando o lábaro da fé candente,
Dás norte claro ao viajor terrestre
E segues como lume à nossa frente.
Na trilha vertical, querido mestre!
Mahiru – Porto Alegre – 1959.
Fala o Reitor de um
Seminário Católico
“Desde os tempos do Seminário sou leitor dos seus livros, e até hoje sou
discípulo seu incondicional. Os meus sermões são inspirados nos seus livros –
mas não o digo aos ouvintes, para não ser por eles acoimado de “herege”.
Pode o Sr. ter a certeza de que os melhores elementos do clero pensam como
o Sr., embora, por motivos de ordem externa, não ousem confessá-lo. Os seus
discípulos, por este Brasil afora, não são milhares, são milhões, porque os seus
livros despertam no homem o anima naturaliter christiana.”
Escreve um
Penitenciário em Vias
de Conversão
Para muitos delinquentes, parece a longa reclusão na Penitenciária ser
oportunidade para pensarem numa séria reforma da sua vida. Muitos deles,
talvez pela primeira vez, travaram conhecimento com o Evangelho do Cristo, e,
como quase toda a minha filosofia gira em torno dessa grande mensagem do
Mestre, os presidiários se afeiçoam aos meus livros e, de vez em quando, me
mandam cartas escritas na solidão da sua cela. Outros, entre eles o
famigerado “Sete Dedos”, me pedem visita. E, quase todos eles, me
surpreendem pela nobreza dos seus sentimentos. Por vezes, me vêm à mente
as palavras que um visitante a um manicômio de São Paulo deixou
consignadas no livro de visitas, em que ele diz: “Nem todos os que estão são –
nem todos os que são estão”. Não seria isto aplicável também aos
inquilinos das Penitenciárias? Nem todos os chamados (loucos ou) criminosos
o são realmente – nem todos os que são realmente (loucos ou) criminosos
estão aqui?
Em 12 de agosto de 1957, um dos inquilinos na Penitenciária Lemos Brito, do
Rio de Janeiro, me escreve, entre outras coisas:
“Prezado Senhor Huberto Rohden.
A paz de Deus seja convosco.
Há muito que venho confortando minha alma com as leituras escritas por
Vossa Senhoria. E, como não tenho palavras para expressar, aqui nesta carta,
o quanto meu coração deseja falar-lhe, rogo-lhe que, se for da vontade de
Deus, que Vossa Senhoria me envie os exemplares dos livros Porque
Sofremos e Deus e o Sofrimento Humano.6
6. O segundo livro mencionado não é da minha autoria.
Prezado senhor, sou um desses sofredores anônimos aos quais Vossa
Senhoria dedica as páginas do livro Porque Sofremos. Creia-me, senhor, cada
página deste livro contém uma parte da minha vida. Nas páginas deste livro
tenho encontrado remédio para os meus sofrimentos e coragem para alcançar
o objetivo que desejo.
Hoje reconheço as minhas culpas e misérias, que por espaço de 18 anos vivi
mergulhado na senda dos crimes e do vício. Vejo nas páginas do livro Porque
Sofremos os prós e os contras da minha vida desregrada. Vejo a minha
condenação e a minha absolvição.
Que Deus o inspire para escrever mais literaturas para “a legião imensa dos
sofredores anônimos.
Vosso criado...”
Jovem de 17 anos
Suicida-se por Causa
dos meus Livros
Sim, por causa dos meus livros – e também por amor a Deus e para estar mais
perto do Cristo.
É o que, numa carta de 24 de abril de 1964, afirma o pai do jovem suicida. O
autor da carta é tabelião numa cidade do Paraná.
Da carta transcrevo o seguinte:
“Não quero ofendê-lo, por amor de meu filho. Ele o admirava muito. Mas devo
dizer-lhe a verdade, para ser autêntico, como meu filho fora, além de santo e
sábio precoce (17 anos) – devo dizer-lhe que o seu gesto supremo, suicidando-
se, foi para viver as idéias que o senhor prega, mas não viveu (todos os grifos
são do autor da carta!). Ele foi maior do que todos os seus livros... Renunciou
até à vida pelo Cristo.”
O caso foi de grande notoriedade. O pai publicou diversos artigos em vários
jornais, além de espalhar um avulso, com o retrato do lindo jovem, intitulado
Ideário e Destino, no qual figuram as seguintes frases em parte tiradas dos
meus livros:
– Ser solidário, honesto, simples, leal, sincero e autêntico.
– Não mentir, não ferir, não julgar!
– Amar a Deus em todas as coisas.
– Matar todo sentimento de separatividade, filho do egoísmo e da ignorância.
– Tira o mal do teu coração e do teu pensamento – e desaparecerão todos os
problemas do mundo.
– Jamais procures ver nos outros os seus possíveis defeitos, mas sempre as
grandezas de sua alma, porque todas as criaturas são potencialmente divinas.
– Procura a tua felicidade em fazer felizes os outros.
– Pensa sempre em dar, e nunca em receber.
– Queima os teus navios, meu amigo!
– O amor é a mais poderosa afirmação do espírito. Não há ontem tão pecador
que o hoje do Amor não o possa converter num amanhã de excelsa pureza.
– Eu sou o meu ideal.
– O fim da prece não é alcançar algum bem – é fazer-te bom. A prece te faz
melhor, mais paciente, mais humilde, mais caridoso, mais sereno, mais leve,
mais feliz, mais humano e mais divino.
– Seja tão potente a força do teu espírito, seja tão pujante a juventude de tua
alma que nenhuma ingratidão te faça ingrato, nenhuma derrota te faça
derrotista, nenhuma amargura te faça amargo, nenhuma injustiça te faça
injusto. Mas, para triunfar interiormente com o triunfo alheio, requer-se grande
heroísmo da alma.
– Faze bem a ti mesmo, na pessoa dos outros. Faze o bem por amor ao bem –
dentro de ti mesmo e aos outros. O único meio de fazeres bem a ti mesmo e
aos outros, é seres bom, intimamente bom.
– Todo ato mau facilita futuras quedas e recaídas e dificulta a ressurreição.
– Sê silenciosamente bom, ama sem te oferecer.
– ‘O sábio sabe que nada sabe’.
– Não me pode a redenção do Cristo redimir do inferno de Satã, se eu não me
redimir do inferno de mim mesmo – e do inferno de mim mesmo só me redime
a dor.
– Para ser bom, deve o homem viver e sofrer a sua própria vocação. Deve
guardar absoluta fidelidade ao seu íntimo ser. Deve ser integralmente sincero
consigo mesmo. Deve prestar culto incondicional à Verdade e ao Bem. Deve
saber unir a Justiça ao Amor. Deve preferir a retilínea convicção às curvilíneas
convenções. Deve ter linhas definidas como o cristal, e não ser amorfo como a
argila. Deve imolar a farta escravidão na ara da liberdade austera. Deve ser um
eco do Eterno, no deserto do mundo efêmero. Deve ser um emissário de Deus
no meio da humanidade. Um sopro do Infinito...
– Faze da tua vida uma sementeira do bem – e será a tua morte uma colheita
de felicidade.
– Quanto mais te distanciares de ti mesmo e te aproximares de Deus, tanto
mais vasto será o silêncio, tanto mais profunda a solidão. O silêncio da
Divindade é a mais rica das plenitudes... O silêncio de Deus é a mais
estupenda das sinfonias do Universo... O Silêncio do Amor... O silêncio da
dor...
– É assim a vida de todo homem que vive o Evangelho: sofrendo, com grande
alegria... Gemendo, por entre aleluias... Luminoso, em plena noite... Sorrindo,
através de lágrimas... Sem posses, e tudo possuindo... Ultrajado, por entre
hosanas... Derrotado, e sempre vitorioso... Morrendo, e sempre renascendo.”
Estes pensamentos, transcritos do Ideário do jovem suicida Loumar, são
tirados dos meus livros, e alguns do prospecto da nossa “Alvorada”; Verdades
Eternas.
Pergunto aos leitores – o que perguntei ao pai do jovem – se, nesses
pensamentos, ou em outros dos meus livros, se encontra algum convite ao
suicídio? Verdade é que todos os mestres da sabedoria, sobretudo o Cristo e
seu discípulo Paulo de Tarso, convidam o homem a uma espécie de suicídio,
ou melhor, egocídio. Haja vista as palavras do Cristo: “Se o grão de trigo não
morrer, ficará estéril; mas, se morrer, produzirá muito fruto”. Ou a jubilosa
exclamação de Paulo: “Eu morro todos os dias, e é por isso mesmo que vivo;
mas já não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim”. Entretanto, nenhum
deles praticou suicídio. A mais corajosa afirmação do amor de Deus e da
vivência no Cristo está precisamente em não ser escapista da vida, como o
jovem Loumar foi, mas em afrontar vitoriosamente todos os revezes da
existência e potencializar o amor divino ao ponto de morrer voluntariamente
para todos os egoísmos da vida terrestre, sem ser morto ou se matar
fisicamente.
Infelizmente, o jovem idealista de Ponta Grossa não teve quem o orientasse
devidamente e soubesse canalizar a impetuosa torrente do seu idealismo em
direção mais verdadeira e mais crística.
E assim, o meu jovem e ignoto admirador, em 22 de abril de 1964, quando
estava cursando o 3.° Clássico de um colégio local, desertou da vida física, na
ilusão de que essa fuga do campo de batalha o ingressasse na pátria das suas
grandes aspirações.
Esse exemplo trágico mostra, mais uma vez, como é necessário, pelo menos
no princípio da jornada ascensional, ter um mestre ou guru que leve pela mão
os viajores de alta potência – mas ainda sem orientação segura.
Nestas linhas, deposito sobre o túmulo do meu jovem e ignoto discípulo e
admirador uma coroa de flores, e das profundezas de minha alma lhe envio
uma vibração de amor, juntamente com um anseio de esperança de o
encontrar, um dia, em alguma região do Universo de nosso Pai e do nosso
Cristo.
Amigo Loumar, salem aleikum! (A paz seja contigo.)
O Mestre
e a Mensagem
Há no teu verbo o gênesis da Vida,
Um cântico de amor, o gume de uma espada
Bebidos por tu alma na Fonte do teu Ser.
E segues, eterno Bandeirante do Infinito,
Rasgando ao teu clarão o mito do pecado,
Trazendo para a luz a Mensagem cifrada:
“O Homem – Deus – Cosmos – são Um! Fora d’Ele, o nada!
Renunciando, ganhamos. Morrendo, renascemos.
Ousa descer ao báratro e ascender
Homem cósmico à luz de uma Alvorada.
Demanda, peregrino, as praias do Infinito,
Expressando teu ser de essência universal,
Nascituro Senhor! Vidente da Verdade!”
Cora Torres Maia
Porto Alegre, 25 de julho de 1961.
Segunda Parte
O que dizem da Alvorada
e seu Diretor
Um Advogado Místico
Fala das suas
Experiências
Da longínqua Goiânia, recebo carta de um advogado amigo, que, anos atrás,
iniciou o hábito salutar de fazer cada manhã meia hora ou uma hora de
meditação e contemplação espiritual – e a sua vida profissional mudou
totalmente. É que esse homem tomou a sério as palavras do grande Mestre:
“Procurai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras
coisas vos serão dadas de acréscimo”. Muitos, quando iniciam vida espiritual,
receiam por essas “outras coisas”, receiam que a espiritualidade prejudique as
suas materialidades. O nosso advogado e assessor jurídico fez exatamente a
experiência contrária, e isto porque não fez da espiritualidade um meio
subordinado ao fim da prosperidade material, o que não seria “procurar em
primeiro lugar o reino de Deus”. Em hipótese alguma, poderá o reino de Deus
servir de meio ou condição para o fim de enriquecer. Isto seria uma tentativa de
burlar a retidão da Constituição do Universo.
“O Sr. – escreve o advogado – nos abriu um mundo novo, creia. Se bem que,
por intuição, já possuísse alguns apagados traços dessa mística extraordinária,
sua presença entre nós veio aclarar nossos horizontes. O Sr. pode ter a
certeza de que, pelo menos, dois discípulos aqui deixou: Dr.a Antonieta e este
servo que ora lhe escreve.
Passei os dias a seu lado sem dar conta do tempo ou dos trabalhos que teria,
normalmente, desempenhado. Foram grandes dias de minha vida, e desejo
imensamente continuar a receber de sua pena brilhante os esclarecimentos
necessários para que continue na jornada.
Quando o avião partiu – creia-me, meu querido amigo – senti um misto de
alegria e de tristeza. Alegria, por ter conhecido um mundo novo a seu lado; de
tristeza, por vê-lo partir. As lágrimas se me represaram nos olhos, e um
encantamento novo, uma nova ânsia de progresso espiritual, uma leveza que
se não podem explicar, pareciam invadir-me o ser.
Rebusquei em meu jardim as plantas que foram ali colocadas por sua mão. Em
tudo parecia encontrar algo do Mestre.
Perdoe-me as divagações, que mais se assemelham a sentimentalismo que,
talvez, sejam balofos e filhos da inexperiência... Mas o Sr., que tem uma
grande alma – e eu o pude comprovar – saberá interpretar essas emoções de
um discípulo que deseja acertar e seguir, se possível, reto ao caminho da luz.
Li o seu livro Em Comunhão com Deus e apliquei à minha meditação das 6 da
manhã os seus ensinamentos. Bem me falara o Sr. que uma paz diferente nos
embebe a alma, quando meditamos
Minha senhora e eu fazemos a nossa meditação das 6 às 6h 45. Antes, tomo
um banho frio, como o Sr. nos aconselhou.
O Sr. acha que se deve fazer uma vibração de paz, de harmonia e de luz, para
todos os sofredores, nessa hora, não é? Hoje vibrei para o Sr., e me senti
muito bem. Parece que, como diz Mouni Sadhu, em Dias de Grande Paz,
nosso guru nos imanta e nos fornece energias para vencer as dificuldades. O
Sr., nesses dias, estará em Retiro Espiritual e talvez, quando estiver lendo esta
carta, já se encontre em sua chácara,7 abismado no Infinito. Mas, mesmo
atrapalhando-o, tenho necessidade de me comunicar consigo.
7. O autor da carta se refere ao Sítio, perto de Jundiaí, Estado de São Paulo, onde nesse
tempo estávamos construindo um Ashram para que as almas desejosas de se encontrarem a
sós com Deus e sua alma, de permanecerem por tempo indefinido em silêncio e solidão,
tenham um lugar apropriado para realizar esse seu anseio. Como se trata de um ideal de alto
nível, não podemos contar com uma chuva de milhões, para a nossa Casa de Retiro Espiritual,
como certamente aconteceria se anunciássemos a fundação de uma boate ou dum campo de
futebol. A Casa de Retiro “Betânia” está funcionando desde 1970.
Por enquanto, como o Sr. sabe, nada senti senão uma calma intensa e uma
abstração das coisas terrenas; mesmo porque se não consegue o samadhi8
ainda. E isso está longe, eu o sei. Minha senhora, que é um tanto vidente,
percebe um vulto de branco. Nada mais.”
8. Samadhi é a palavra sânscrita para êxtase, que Paulo de Tarso chama “terceiro céu”, estado
de consciência espiritual absoluto.
Cerca de seis meses mais tarde, o mesmo advogado-assessor me escreve
outra carta, da qual transcrevo o seguinte:
“Continuamos as nossas meditações todas as manhãs, com o banho frio. Entro
em meditação às 6 em ponto. Se bem que o progresso seja lento, já podemos
apresentar visíveis melhoras, seja no modo de interpretar a vida, seja na saúde
física, seja no poder de concentração, que aumentou bastante. O caminho é
espinhoso, como bem explicou o querido amigo. É duro de ser trilhado; mas
nele experimentamos uma emoção diferente, e as modificações internas são
substanciais. Que alegria o Sr. nos veio trazer! Agradecemos a Deus,
diariamente, a graça de o termos conhecido. Que a sua missão continue a
oferecer frutos eficazes e que a luz que jorra da sua compreensão superior da
vida se espalhe como foi espalhada aqui.
Com a meditação vai se tendo uma compreensão completamente diferente da
vida. Noto isto em mim. Tudo é bom. Tudo é alegre, mesmo nos transes mais
difíceis. As intuições se nos apresentam mais frequentemente, e de maneira
mais elevada.
Os livros que o Sr. me indicou são de um valor fabuloso. A substância é de tal
ordem que, com a repetição da leitura, se vai, aos poucos, tendo novo
entendimento da vida e do Ser Real. A “Vichara”9 é um exercício fabuloso,
quando dela nos lembramos nas ruas, no trabalho e nas horas de lazer. O Sr.
pode estar certo de que eu me transformei em muita coisa. Minha patroa
também faz meditação comigo. Ela tem visões, que eu não tenho. Minha
compreensão sobre espiritismo sofreu alguma transformação, como o Sr.
mesmo me informou por aqui. Busco agora o Real, o Superior, que está acima
de todas as manifestações.”10
9. Vichara é o exercício de se perguntar constantemente a si mesmo “que sou eu?”, como
ensina o livro Dias de Grande Paz, ecoando as grandes experiências do exímio místico recém-
falecido, Ramana Maharishi, do qual o autor do livro, Mouni Sadhu, foi discípulo. O Vichara nos
liberta da funesta ilusão de nos identificarmos com o nosso ego físico, mental ou emocional,
fonte de todos os nossos males e das nossas maldades.
10. Quem, como o autor das cartas acima, pratica meditação prolongada, como o Cristo e seus
verdadeiros discípulos, não comete o erro funesto de confundir as manifestações de entidades
do mundo elemental ou astral com o Espírito Único do Pai, centro de todos os ensinamentos do
Divino Mestre.
Também adquiri um sítio aqui, para que melhor possa entrar em contato com a
natureza. O Sr. me fez compreender que temos necessidade de trabalho braçal
nos campos. É o que faço agora. Tenho obtido ótimos resultados. Faço de
tudo. Trabalho duro e sinto-me muito feliz. Para mim é uma verdadeira
felicidade ir para o sítio, aos sábados. Até nisto a sua influência foi enorme em
mim. Quero fazer daquele logradouro um Shangri-lá espiritual. E Deus me há
de proporcionar a sua graça.11
11. Com estas últimas palavras focaliza o advogado místico um ponto de capital importância
para o aspirante à vida espiritual: o contato com a natureza e a necessidade do trabalho físico.
Tolstói, Gandhi, Schweitzer e outros iluminados eram grandes amigos de trabalhos pesados no
campo. Muitos pretensos candidatos à espiritualidade aproveitam o fim de semana e os
feriados para demandarem as praias, onde prosseguem na sua vida profana e na sua cômoda
indolência, levando consigo as auras negativas das cidades, cujo fundador e patrono foi,
segundo a Bíblia, Caim, o primeiro homicida da humanidade. Se esses grã-finos comodistas
das praias fossem realizar trabalhos físicos na terra, no campo, em plena natureza, veriam que
reina íntima afinidade entre esses trabalhos em plena natureza e a vida espiritual. Conheço
alguns deles que têm sítio, mas o contaminam com as misérias e sujeiras da civilização
urbana, como sejam rádio, televisão, “barulhinhos portáteis”, e até tabuleiro de xadrez e
baralho de cartas, contaminando assim a natureza de Deus com a prostituição dos vícios
humanos.
Tem a Palavra
uma Ex-Aluna
Norte-Americana
Durante 5 anos lecionei Filosofia Universal e Religiões Comparadas numa das
universidades de Washington, Estados Unidos. Comecei com 50 alunos e
terminei com mais de 400. Embora já tenha deixado por muitos anos esse país,
continuo a receber, de quando em quando, cartas dos meus antigos alunos e
alunas. Uma delas me escreve:
“O que o Sr. nos ensinou, nos cursos da universidade, teve para mim uma
significação profunda; ajudou-me a pensar, com clareza e lógica, sobre religião
e filosofia e, acima de tudo, sobre os meus problemas pessoais.
Lembro-me especialmente da vossa explanação de que o Amor Universal é a
solução de todos os problemas.
Agora, mais do que nunca, compreendo o que muitas pessoas deste mundo
não podem compreender: que sem Amor não há vencedor nem vitória.
Compreendo que o problema internacional poderia ter solução fácil se os povos
compreendessem que toda manifestação de força e violência entre os homens
é uma negação absoluta desse preceito.”
Essa jovem americana, como se vê, afina pelo mesmo diapasão que levou
Mahatma Gandhi a libertar a Índia sem a violência das armas, mas sim pela
benevolência das almas. E a consagração da ahimsa (não-violência) e a
apoteose da satyagraha (amor à verdade) – que é, aliás, também a
quintessência do Sermão do Monte: “Não vos oponhais ao maligno... Amai os
vossos inimigos.”
Todos os grandes mestres da humanidade concordam nas verdades supremas
– os seus pequenos “discípulos” é que não obedecem aos mestres...
Poder
Versus
Verdade
Anos atrás, um adepto do poder clerical e renegado da verdade do Cristo
espalhou pela imprensa e do alto do púlpito palavras virulentas contra o meu
livro Metafísica do Cristianismo, cuja tradução francesa leva o título Sagesse
du Christ (Sabedoria do Cristo).
O crítico considera o meu livro como “panteísta”, por sinal que confunde
panteísmo com monismo (ou panenteísmo).
Esta mesmíssima censura foi lançada, ultimamente, aos livros do exímio
cientista jesuíta Pierre Teilhard de Chardin; os teólogos dualistas o tacham de
panteísta. Chardin, em resposta, não nega ser panteísta, mas distingue
sabiamente entre um panteísmo ilógico e inaceitável (tudo é Deus) e um
panteísmo razoável (tudo em Deus), que ele chama “ortodoxo e cristão”. O
Evangelho do Cristo é totalmente “panteísta” nesse último sentido, que tudo
está em Deus, e Deus está em tudo; basta citar as palavras do Cristo, no
Evangelho de João: “O Pai está em mim, e eu estou no Pai, mas o Pai é maior
do que eu... O Pai também está em vós, e vós estais no Pai”.
Paulo de Tarso escreve aos cristãos de Éfeso que Deus é “pánta en pâsin”
(tudo em nós), e aos filósofos de Atenas afirma solenemente que Deus é
aquele “no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”.
Se eu, Chardin e outros somos panteístas, então o foram também o Cristo,
Paulo de Tarso e, em resumo, todos os grandes iluminados e iniciados, que
sempre viram o Deus do mundo no mundo de Deus.
Entretanto, os teólogos dualistas detestam toda e qualquer espécie de
panteísmo, não por ser contra a verdade, mas por ser um perigo para o poder
que eles querem defender a todo o custo. É evidente que, se o clero aceitasse
a verdade de que Deus está em tudo e tudo está em Deus, correria sério perigo
a sua política financeira. Se Deus está no homem, então é claro que o homem
pode descobrir esse “tesouro oculto”, esse “Deus desconhecido”, tornando-o
conhecido e manifesto. Mas, neste caso, os teólogos sofrem grande eclipse,
perdendo o privilégio de serem pontes e intermediários que liguem o homem da
terra ao Deus do céu. Enquanto Deus mora num céu longínquo, o clero pode
arvorar-se em traço de união entre o homem e Deus e fazer crer aos
ignorantes que não há salvação sem o clero. Por meio de um certo ritual
eclesiástico, do qual o clero tem o monopólio, o homem é posto em contato
com Deus – se é que Deus é uma entidade ausente, e não presente no mundo
e no homem.
Não se trata, portanto, de saber se a onipresença de Deus é uma verdade ou
um erro – trata-se de saber, acima de tudo, se essa onipresença de Deus
favorece ou desfavorece o prestígio e a política do poder clerical; se favorece;
aceita-se; se não favorece, rejeita-se!
Heresia é aquilo que diminui o poder do clero.
O mundo está dividido em dois grandes campos: o campo do poder (que é do
ego luciférico) – e o campo da verdade (que é do Eu crístico).
As Auras do
meu Ex-Guru
Pronam! Saudações da alma! Como é maravilhoso saudarmo-nos assim, em
justiça, pureza e santidade... Na divindade das nossas almas... Sim, podemos
saudar-nos na plenitude das nossas almas, porque nossas almas seguem o
mesmo caminho, o antigo e eterno caminho de Deus, que leva rumo à suprema
perfeição do Pai celeste, da Divindade Transcendente, que é a origem da
nossa alma e de todo ser.
Dr. Rohden, nós somos Kriyabans, iniciados no caminho místico da Kriya. A
Iniciação é de vital e essencial importância para todo homem que busca a Luz.
A Iniciação estabelece o eterno e inseparável vínculo entre as nossas almas,
na divina aliança do amor de Deus. Quão felizes somos nós, pelo fato de
sermos companheiros nesta jornada, andando um ao lado do outro, com as
almas sintonizadas no Amor Supremo. Realmente, felizes de nós, Iniciados,
Kriyabans!”
Assim me escreve, no aniversário da minha Iniciação, o meu idoso mestre
hindu, que, como outrora Moisés, vive em plena juventude. Distante
fisicamente, vivemos espiritualmente presentes. Tempo e espaço são fatos
ilusórios, mas não são realidade veraz; para o ego existem, para o Eu não
existem.
E, por isto, as auras não têm de vir de longe – elas estão sempre presentes,
quando devidamente conscientizadas. Consciência é presença – inconsciência
é ausência.
Quando o homem transcende a estreita barreira dos fatos e entra na
vastíssima zona da realidade, então verifica, com grata surpresa, que tempo e
distância são como reflexos no espelho; depois de quebrar o espelho de tempo
e espaço, a realidade permanece intacta, sem o espelho dos fatos.
“Somos Kriyabans”... Somos companheiros em Kriya-yoga, embora separados
por continentes e mares.
Meu antigo guru fala de “iniciação” – e todo o mundo deseja ser alo-iniciado,
mas poucos sabem que a verdadeira iniciação é uma auto-iniciação. O próprio
Cristo não fez alo-iniciação com seus discípulos mas deu ordem para que eles
mesmos se auto-iniciassem, como de fato aconteceu na gloriosa manhã de
Pentecostes, quando, como refere o mestre Lucas nos “Atos dos Apóstolos”,
120 pessoas, homens e mulheres, se auto-iniciaram no espírito da verdade.
Mas essa auto-iniciação só se deu depois de 9 dias de silêncio e meditação.
O dia de Pentecostes – provavelmente, o dia 30 de maio do ano 33 – pode ser
considerado como o início do verdadeiro cristianismo, a proclamação do Reino
de Deus sobre a face da terra.
Um Acróstico
em 4 Línguas
“Tenho entre os meus discípulos, no sul do País, uma poetisa de estupenda
versatilidade; escreve cartas em verso e rima com a mesma facilidade com que
outros escrevem em prosa. Figuram neste livro alguns dos trabalhos dela,
assinados com as três sílabas iniciais dos seus três nomes “Mahiru”.
Nesta página aparece um acróstico que, lido de alto a baixo, dá o meu nome e
sobrenome; mas o mais interessante é que as rimas revezam em quatro
línguas – português, francês, inglês, alemão. Diz a poetisa em quatro línguas
que, por muito tempo, andou buscando, buscando, o que finalmente encontrou
em nossa ALVORADA.
Hei pensado, e, então, formei
Une extravagante idée
By my funny mind today,
Es mir zu verzeih’n ich fleh”.
Relembrando que o Senhor
Toujours choit des mots exquis
Of expression less or more.
Rar, deswegen schrieb ich dieses.
Os ideais que vislumbrei
Hauts, plus nobles, pures et doux,
Dreams of love so faraway.
Endlich winken sie mir zu –
Na “Alvorada”, que abracei.
Mahiru
Contemplando a Dança
das Libélulas
Ainda a mesma poetisa Mahiru escreveu a seguinte poesia:
LAMPEJOS
(Composto após uma meditação, ao entardecer, no ermo de uma praia,
contemplando o movimentado esvoaçar das libélulas).
Ao meu redor, num vaivém errante,
Neste esplendor sem par que o outono veste,
Asinhas diáfanas, a cada instante,
Pululam sob a abóbada celeste.
Chegai-vos, ó libélulas amigas,
Para o bailado deste fim de tarde,
Dançar ao ritmo de sutis cantigas,
Enquanto o sol, no ocaso, em chamas arde.
Esvoaçando ao encontro do firmamento,
Sorvei a luz do dia que desmaia,
Quero integrar-me a este ardor sedento,
Até que desça a noite sobre a praia.
E, quando a sombra misteriosa e fria
Transfigurar a lucidez em treva,
E um mundo cheio de melancolia
Quebrar o encanto que minh’alma eleva,
Terei de adormecer entristecida
Para aguardar a próxima alvorada,
E flutuar assim, de vida em vida,
Entre o Absoluto imenso e o extremo Nada.
Liberta Física
e Espiritualmente
De Curitiba: escreve uma das minhas leitoras o seguinte:
“Caro Irmão. Sou-lhe eternamente grata, porque os seus livros me libertaram,
tanto espiritualmente como fisicamente. Vivia cheia de achaques, com os meus
50 anos; mas agora sou forte e sei que o Senhor é Poderoso para me dar
largos anos de vida cheios de saúde e paz; e por isto vivo contente e feliz
comigo mesma e com os outros.
Mantenho a minha meditação e comunhão com o Altíssimo, todas as manhãs,
e isto me faz muito bem.”
Convém repetir sem cessar que os benefícios da meditação diária, da íntima
comunhão com o Infinito, não são apenas de ordem espiritual, mas se refletem
sobre todos os setores da vida material, social e profissional. Quando em
primeiro lugar alguém busca “o reino de Deus e sua justiça”, é inevitável que
“todas as outras coisas” lhe sejam dadas de acréscimo – contanto que o
homem não cometa o erro funesto de considerar as coisas do reino de Deus
como meios para conseguir como fim as outras coisas. O reino de Deus tem de
ser procurado em primeiro lugar, como fim absoluto e incondicional, e não em
segundo lugar, como meio subordinado a outros fins. A Constituição do
Universo é infalsificável e não coopera com o homem que tente burlar as leis
eternas da Verdade e Retitude. O reino dos céus é o único reino em que não
se admite logro, conchavos, políticas à meia-luz.
Discurso de
um Médico-Filósofo
Por ocasião da reabertura do Curso de Filosofia Cósmica, em São Paulo,
março de 1962, foi proferido o seguinte discurso por um médico-filósofo, antigo
aluno do curso, o qual deseja ficar no anonimato.
“Toda a Filosofia de Rohden gira em torno de duas palavras:
O pequeno eu, que ele prefere chamar de ego, e o grande Eu.
Ao pequeno eu ele adjetiva de físico-mental; às vezes, também, acrescenta a
palavra emocional, ficando sendo então ‘eu físico-mental-emocional’.
Ao grande Eu ele adjetiva de espiritual, ou, como ele prefere, racional.
O pequeno eu é um grande EGOÍSTA.
O grande Eu é altruísta, é o Cristo em nós adormido, que, quando desperto,
representa o AMOR, escrito com maiúsculas, que não deve ser confundido
com o pequeno amor emocional. O AMOR, escrito com maiúsculas, não é
emocional, mas representa, na linguagem bíblica, a COMPREENSÃO
onidimensional.
O meu discurso deve durar uns 10 a 15 minutos. Mas, se exceder um pouco
esse prazo, peço-vos que não façais soar o tímpano. O meu ego vaidoso e
semestrador ficaria muito triste, sentir-se-ia ferido, até. Coisas – vocês sabem –
da personalidade e x i s t e n c i a I...
Tendo assistido a dois ou três anos de filosofia rohdeniana e lido do Autor
vários livros (não todos) com receptividade e assimilação apenas parciais, a
minha ignorância tornou-se bastante eclética – para usar uma expressão de
RUBEM BRAGA, o extraordinário cronista de Manchete, que nos delicia todas
as semanas com uma de suas excogitações.
Como vereis dentro em breve, sou de Rohden apenas aluno, e não um
discípulo.
Mas, se saudade é a memória do coração (Coelho Neto) e a presença dos
ausentes (Olavo Bilac) – então tenho saudades dos primeiros cursos de
Rohden.
O proveito: Apesar dos meus muitos escotomas, alargou-se a minha visão.
O que eu mais temo – dizia RUBEM BRAGA – é escrever de um modo que a
gente logo tem vontade de não ler.
O que eu mais temo –, na situação em que compulsoriamente me colocaram –
é falar de um modo que a gente logo tem vontade de não ouvir.
Aqui, há muitos egos. Tenho medo deles.
A fábula de La Fontaine, do menino, do velho e do burro, representa bem esta
impossibilidade de contentar a todos os egos.
E fico a pensar, com os meus parcos recursos, como possa satisfazê-los.
Primeiro, quanto à quantidade.
Foi CHURCHILL, se não me engano – o grande orador –, que deu para um
discurso a seguinte receita:
Comparou o discurso com uma saia de mulher.
Ué! Que tem um discurso com uma saia de mulher?
Na opinião de CHURCHILL, tem.
Uma e outro deveriam ser suficientemente curtos para despertar interesse e
suficientemente longos para cobrir o tema!...
Vamos, pois, aproveitar a lição!
Qualitativamente, vai ser difícil satisfazê-los.
Estais muito mal acostumados e já tendes o excepcional como comum.
PALAVRAS VIVAS E PALAVRAS MORTAS
Há palavras mortas e palavras vivas.
Mortas, mortas, ou mortas apenas para quem não as souber receber.
Vivas, mas só para quem souber entender o seu conteúdo.
Aqui, parecerá a muitos que há muitas palavras- mortas.
E, talvez, o próprio autor não as tenha sentido tão vivas como muitos leitores
ou audientes bem mais receptivos para o imediato e o incomunicável; mais
conscientes da lua que os envolve e permeia, mais saídos do cárcere dos
sentidos e do pequeno físico-mental que Rohden chama de ego.
O EGO E O EU
Não me admiraria se até num curso como este de filosofia, em nome do Eu se
fizesse, até, campanha de difamação. É que o Cristo não foi crucificado. Ele
vem sendo crucificado todos os dias!...
O Cristo, todos sabeis, não é esse homem barbudinho que desde criança nos
ensinaram a admirar e não imitar.
O Cristo é algo que está potencialmente dentro de cada um de nós.
O outro pode ser um símbolo dimensional do indimensional em Jesus.
Mas o João e a Maria e o Cláudio e a Pafúncia, e que nome tenham, têm
também o seu Cristo, que eles crucificam um bocadinho pelo menos, mais ou
menos conscientemente, todos os dias, para que o ego goze com isso.
O ego é terrível para não seguir o Eu!
A LUZ INTERIOR É O RESUMO
DO EVANGELHO
Toda a filosofia de Rohden é sobre essa luz imanente no existente e
transcendente ao existente.
Ouvem-se essas coisas, vocês ouvem e reouvem essas coisas, contaminados
por uma sede que não se apaga mas cresce, e ele, o nosso querido repetidor,
bate e rebate as mesmas teclas, afirmando que a única coisa que pode fazer
com a sua palavra falada e escrita é conduzir-nos intelectualmente até as
fronteiras da outra dimensão, de onde em diante teremos que caminhar
sozinhos – primeiro CRENDO para depois SABER.
O CRER na filosofia rohdeniana é o passo indispensável para o SABER. O crer
e, até, o comportamento volicional, a ética volicional como se o crido fosse a
Verdade. Depois que o crido se transformou, então, em sabido, até mesmo
quando apenas um relâmpago espiritual (que ele chama de racional) clareou o
interior, entre duas trevas intelectuais, e ainda que esse relâmpago nunca mais
se repita, muito do que era difícil e sacrificial – para usar da sua linguagem – se
torna jubiloso e natural.
Todos os iluminados se entendem.
Mas, como os egos se desentendem...
Os egos é que sentem dificuldades sociais.
MAS, TAMBBM, NÃO FALEM SÓ MAL
DO EGO
Como é gostoso gostar de alguém.
Quando dois egos se entendem, e cada um é atendido em seu egoísmo – há
destas coisas maravilhosas.
Dizer sem falar.
Há quem fale sem dizer; mas, também, há quem diga sem falar.
Fica um ambiente fraterno, abrigoso, desnudo de obstáculos, sem aclives.
Mas não se iludam – sempre em estado pré-belicoso como duas nações
“amigas”.
Apesar disso, não falem só mal das emoções.
É tão gostoso gostar de alguém.
Os grisalhos dirão: já naqueles distantes tempos era assim!...
GRANDES OPOSITORES
É pena, mas Rohden precisaria de grandes opositores que atuassem como
tormentas que apagam velas, mas ateiam incêndios. E eles sabem disso, por
isso calam. Mesmo assim, Rohden continua contra opositores (falo de grandes
opositores) imaginários; ele, com coragem demolidora, arranca “falsos ídolos”
de seus “falsos altares”, mostrando-se um grande polemista, que nos seus
últimos livros passou a falar uma linguagem cada vez mais direta,
abandonando, cada vez mais, a linguagem oblíqua que usava em tempos idos.
Quando eu falo de demolidor, entendam-me bem.
Demolidor, sim, mas não pelo simples prazer de destruir.
Demolidor que no lugar de cada ruína pretende plantar um monumento da
Verdade! Do que ele tem por Verdade!
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Luzes e Sombras da Alvorada

  • 1. HUBERTO ROHDEN LUZES E SOMBRAS DA ALVORADA O que amigos e inimigos dizem da Alvorada e seu Orientador UNIVERSALISMO
  • 2. Luzes e Sombras da Alvorada Como afirmamos na 4.ª capa, este livro não é um livro escrito somente por Huberto Rohden. Este livro É Huberto Rohden – seu trabalho, seu ideal, sua vida. É a biografia do seu esforço cultural e espiritual. Aqui, são os outros que contam, através de cartas, artigos, bilhetes, discursos e testemunhos pessoais, como eles vivenciaram uma nova consciência de vida, motivados pela própria vida e ensinamentos de Rohden. São luzes e sombras da vida de um homem e do seu trabalho educacional pela Humanidade. É um livro-Verdade. Em nome dessa Verdade que o professor Rohden tanto amava, e para conhecimento de seus leitores e amigos, vamos contar por que o Movimento Alvorada, fundado e, até sua morte, orientado por ele, tem o nome Alvorada. Primeiramente informamos que essa palavra, talvez vinda da Índia, tão sonora, com a letra “a” repetida três vezes, e que é o feminino substantivado do particípio do verbo alvorar foi, num concurso nacional, proclamada a mais bela palavra da língua portuguesa. Mas Rohden não a escolheu premeditadamente para simbolizar o seu trabalho educacional. Ela começou a ser usada por uma circunstância rotineira e casual. Foi um surgir e um usar espontâneo, necessário e suficiente. Em 1951, o professor Huberto Rohden, depois de uma permanência de 5 anos nos Estados Unidos da América do Norte, como professor de Filosofia e Religiões Comparadas em uma universidade de Washington, retornou ao Brasil para fazer parte do corpo docente da Universidade Mackenzie, em São Paulo. Por dificuldades de enquadramento pedagógico e em virtude do poderoso curriculum vitae de Rohden, ele acabou não assumindo o cargo de professor naquela importante instituição, ficando, aos 59 anos de idade, sem emprego e sem as bases para a reorganização de sua vida no Brasil. Depois de um longo período de conferências nas principais capitais e cidades do Brasil, Rohden elegeu São Paulo como o centro de suas atividades culturais, e aqui começou a dar um curso livre de Filosofia Univérsica e Sabedoria do Evangelho.
  • 3. No início eram dois pequenos grupos. Um no centro da cidade e o outro no bairro do Ipiranga, ambos dados em residências particulares. O programa constava de aulas teóricas e, no final, prática de cosmo-meditação. No distante bairro do Ipiranga, as aulas começavam muito cedo, às vezes antes das 6 horas. Por este motivo o grupo começou a ser chamado de “o grupo da alvorada”. O trabalho foi tomando força até ser conhecido por dezenas e dezenas de pessoas. Mais tarde mudou para o centro da cidade, juntando-se com o outro grupo; mas o nome “alvorada” continuou para designar as “aulas e os cursos” ministrados pelo professor Rohden. Hoje Alvorada é um Movimento de caráter nacional, de incrível potencialidade, com filial no Rio de Janeiro e em outras cidades, cumprindo, assim, sua missão de levar a todos a mensagem de autoconhecimento e auto-realização. Verdadeiramente, Alvorada é mais que o símbolo de um ideal – é a consciência de um grupo de pessoas empenhadas na realização do Homem do futuro, do Homem univérsico.
  • 4. Sumário Advertência Prefácio do Editor Primeira Parte Pró e Contra Alvorada e seu Diretor Por que este Livro Que é Alvorada Alvorada é uma Utopia? Sabedoria dos Séculos Fala um Jornalista Filósofo Escreve um Intelectual Espiritualista Fala um Bancário do Estado do Paraná Fala um Padre Católico, Reitor de um Seminário Diocesano Fala um Idealista Dinâmico Fala um Jovem de 18 Primaveras Fala um Motorista Desorientado Fala uma Poetisa, através de um Acróstico Fala o Reitor de um Seminário Católico Escreve um Penitenciário em Vias de Conversão Jovem de 17 Anos Suicida-se por Causa de meus Livros O Mestre e a Mensagem Segunda Parte O que dizem da Alvorada e seu Fundador Um Advogado Místico Fala das suas Experiências
  • 5. Tem a Palavra uma Ex-Aluna Norte-Americana Poder versus Verdade As Auras do meu Ex-Guru Um Acróstico em 4 Línguas Contemplando a Dança das Libélulas Liberta Física e Espiritualmente Discurso de um Médico-Filósofo Qual a Religião do Prof. Huberto Rohden? Escreve um Suicida-Vivo Nas Alturas da Filosofia Mística Semana de Conferências Da Frustração Existencial para a Realização Existencial Carta de uma Leitora Mais um Acróstico à Luz da Alvorada Como Ele é, Física e Mentalmente Também em Portugal Saudação ao Prof. Huberto Rohden Um Jornalzinho Clerical Proíbe os meus Livros Um Companheiro de Ideal Escreve do Rio O que um Reverendo Evangélico diz do Livro Paulo de Tarso Escandalizado com o meu Livro Deus Fala um Diretor de Instrução Pública Municipal Para além dos Horizontes Teológicos Uma Voz Amiga em Pleno Campo de Batalha Solidariedade de um Sacerdote Amigo Uma Freira Encantada com De Alma para Alma O Poder Secreto
  • 6. Encontro com o Cristo O Senhor Destruiu a nossa Harmonia Conjugal Um Monsenhor Entusiasmado Escreve-me “Uma Espiritualista Feliz” Uma Alma Crística da Ocidental Praia Lusitana “Por Causa de Mim Sereis Odiados por Todos” Reencarnação – como Fato ou como Valor Discurso do Dr. Bento A. Martins Terceira Parte Perguntas sem Respostas Por que não morri em 1963 Eu – e os Discos Voadores Por que Dona K. não se Suicidou Nas Penumbras da Parapsicologia Cristo Histórico ou Cristo Interno?
  • 7. Advertência A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento. Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência. O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é um criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores. A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea nada se aniquila, tudo se transforma”; se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa, mas se escrevemos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa. Por isto, preferimos a verdade e a clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas.
  • 8. Prefácio do Editor Tivemos o privilégio de conhecer Huberto Rohden há muito tempo, mais precisamente em 1939, quando ele ainda desempenhava as funções de sacerdote, numa cidade do Rio Grande do Sul. Evidentemente, naquela época, nossa mentalidade ainda infantil, pois tínhamos 11 anos, não podia captar a grandeza educacional deste brilhante professor e guia espiritual. Anos depois, em 1952, quando Rohden retornara ao Brasil e proferia um ciclo de conferências em algumas capitais e cidades dos estados brasileiros, novamente tivemos contacto pessoal com Rohden. Juntamente com outros, organizamos suas conferências naquela mesma cidade, onde ele fora sacerdote. Sempre lemos e estudamos sofregamente os livros de Rohden, mas somente em 1959, quando ele ministrava cursos sobre Filosofia Univérsica em Porto Alegre, é que fomos “atingidos” pela sua grande força espiritual. Uma catarse de incrível impacto nos atingiu, modificando nosso modo de pensar e agir. Por meses uma crise existencial de destruição e construção se instalara em nós, até o indescritível sentimento de certeza do verdadeiro sentido da Vida. Em novembro desse mesmo ano “abandonamos tudo”, em Porto Alegre, e viemos para São Paulo, para fazer cursos com Huberto Rohden e para “estar com ele”. Por estranhas circunstâncias, durante os 10 anos posteriores não encontramos Rohden, apesar de ele dar aulas, primeiramente no Colégio Caetano de Campos, na Praça da República, e depois no Centro de Auto- Realização Alvorada, na rua Conselheiro Crispiniano, ambos os lugares situados apenas 5 quadras da nossa casa. Nesse tempo trabalhávamos fora da capital, numa indústria automobilística. Saíamos muito cedo e somente voltávamos no fim da tarde. Estranhamente havíamos perdido o contacto com Huberto Rohden. Foi somente no início da década de 1970 que, novamente, mergulhamos, com grande entusiasmo, no trabalho educacional do professor Rohden, vindo a ser – e é um privilégio –, seu aluno, discípulo, amigo, assessor e editor de seus livros. Em 3 de julho de 1980, por um ato de sua livre vontade, o professor Rohden, na plenitude de suas faculdades, através de Escritura Pública, nos fez legatário de sua obra literária, privilégio e honra que temos cumprido na plena totalidade
  • 9. de nossa capacidade. Aliás, no final deste livro, no capítulo Cristo Histórico ou Cristo Interno? Rohden, com fina sutileza, parece mostrar e justificar as razões dessa sua histórica decisão. Fomos, com outras poucas pessoas, os últimos a ouvir as derradeiras palavras de Huberto Rohden, e a receber seu testamento verbal para que o seu ideal continuasse a ser proclamado a todos os que, de boa vontade, viessem procurar o Centro de Auto-Realização Alvorada, fundado por ele. Hoje, o corpo físico do professor Huberto Rohden está em nosso jazigo, no Cemitério Gethsêmani, da Mitra Arquidiocesana de São Paulo, n.º 0060, quadra 06, Zona 4-A (onde, seguidamente, são depositadas flores, por seus amigos e leitores. Antigos amigos, alunos e discípulos de Rohden, que juntamente com ele fundaram e dirigiram a Alvorada, pensam transformar a instituição na Fundação Huberto Rohden, cuja estrutura jurídica permitirá, com mais eficiência e permanência, realizar a vontade de seu legítimo fundador. O ano de 1993 marcará o 1.º Centenário do Nascimento de Huberto Rohden. Um extenso programa cultural já começa a ser construído, por todos os grupos e pessoas ligados ao filósofo, a fim de assinalar, no contexto cultural brasileiro, com a devida ênfase, a vida e a obra desse imortal pensador. Para nós, seus editores, esse evento será mais uma oportunidade para poder trabalhar pela sua obra e expressar nosso eterno sentimento de gratidão a esse ser excepcional que, mais que professor, foi um mestre de Vida. Este livro, impresso pela primeira vez em 1969, pelos antigos editores de Rohden, sai, agora, em sua segunda edição totalmente revista e modificada pelo autor que, antes de partir do convívio físico de seus amigos e leitores, havia preparado a redação definitiva da obra. Rohden fez várias modificações – retirando e acrescentando texto –, a fim de dar coerência à linha do seu pensamento. Nós seguimos, com toda a fidelidade, essas modificações do autor. Luzes e Sombras da Alvorada é um documento vivo das atividades da instituição e da vida de seu fundador. Futuros biógrafos do professor Huberto Rohden terão nestas páginas valioso subsídio para suas pesquisas sobre o autor e sua obra. Nestas páginas, os milhares de leitores de Rohden encontrarão fundamentais informações que esclarecerão muitas dúvidas sobre a Alvorada. Antes de encerrarmos este prefácio, devemos e queremos expressar nosso agradecimento às centenas de amigos, leitores e discípulos de Huberto
  • 10. Rohden que, de muitas maneiras, colaboraram para a realização de sua obra educacional. A bem da verdade, devemos nominar 3 pessoas que, por mais de 20 anos, dedicadamente, o ajudaram a fundar e dirigir a Alvorada. São eles: Amélia Roveri Rangel, secretária de Rohden – ela o ajudava a preparar todos os originais de seus livros; Elvira Fongaro Murano, de tradicional família paulista, que assessorava Rohden na organização dos Retiros Espirituais; e Luciano Zulian Teixeira, um bem sucedido empresário paulista que, com dedicação, prestou inestimável apoio financeiro à construção do ashram de Jundiai, da sede urbana, e de vários outros empreendimentos da instituição. A todos esses colaboradores da Alvorada, nosso conhecimento e profunda gratidão. Martin Claret
  • 11. Primeira Parte Pró e Contra Alvorada e seu Diretor
  • 12. Por que este Livro... É tarefa ingrata um escritor falar de si mesmo. Já o disse no prefácio de outro livro meu, Por um ideal. O próprio Paulo de Tarso sentiu esta inconveniência, numa das suas epístolas; mas resolveu ser “insipiente”, uma vez que outros o obrigaram a essa “insipiência” – e, quem sabe? – talvez esta insipiência possa levar outros à sapiência... É o meu caso. Nas páginas deste livro, tento reproduzir pensamentos e palavras que outros, amigos e inimigos, externaram a meu respeito e sobre o movimento nacional ALVORADA, que oriento. Arrisco-me a essa aventura, quiçá desairosa, porque muitos dos meus leitores necessitam de saber o que outros pensam de acontecimentos de âmbito nacional. Diz Hermann Keyserling, no seu livro Reisetagebuch eines Philosophen, que a maior parte dos homens só consegue consciência nítida das suas experiências íntimas quando as vê refletidas no espelho da opinião alheia; que a nossa inconsciente subjetividade exige uma conscientização objetiva, para se tornar integralmente nossa. Por isto, reproduzindo, neste livro, o que outros disseram, espero despertar no leitor os seus próprios pensamentos, talvez dormentes ou semi-dormentes. Reproduzirei com indicação de nomes o que já é do domínio público – artigos de jornais e discursos proferidos em público; omito nomes de autores, quando se trata de cartas particulares dirigidas a mim pessoalmente. Mas, quanto a estas cartas, qualquer pessoa interessada em ver os originais, terá oportunidade de as ler, caso se dê ao trabalho de me visitar. Há diversos decênios que escrevo e publico livros. Cerca de 65 dos meus livros se acham espalhados pelo Brasil inteiro, em diversos milhões de exemplares. Além destes, quase três dezenas foram por mim retiradas de circulação, e não estão sendo reeditadas, pelo fato de não refletirem mais a minha mentalidade
  • 13. de hoje; e eu considero dever de honestidade para comigo mesmo não dizer ao público o que não mais digo a mim mesmo. Alguns dos meus livros foram ou estão sendo traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive para o esperanto. * * * Através de todas as cartas, artigos e discursos que perfazem a substância deste volume, vai, como um fio de luz de ouro, um traço característico e uniforme, que garante unidade em todas as diversidades, a saber: o anseio de uma elite mental e espiritual de pessoas para saber por experiência própria, direta e individual, o que, em séculos pretéritos, foi simplesmente crido infantilmente, encampado cegamente como artigo de fé – ou que foi bruscamente rejeitado pela inteligência adolescente como fábula e crendice anticientífica. Hoje, neste quase ocaso do segundo milênio da era cristã, existe um terceiro grupo de homens, equidistante dos que aceitam cegamente e dos que rejeitam violentamente. Este terceiro grupo, dos que se aproximam da maturidade integral, continua a usar os invólucros milenares da fé tradicional, mas dá novo conteúdo a esses velhos contendores. Esse novo conteúdo consiste numa experiência interna, num contacto direto com a Realidade Cósmica, com a alma do Universo, com o grande UNO do Infinito que se revela sem cessar no VERSO dos Finitos, formando esse misterioso e fascinante UNI-VERSO, essa estupenda Unidade na Diversidade, que é a Realidade Integral do Cosmos. Esse terceiro grupo da humanidade-elite é tipicamente univérsico (ou cósmico), intuindo a alma una do mundo em todos os seus corpos diversos. O homem univérsico é equidistante do dualismo separatista, que, geralmente, impera no ocidente, e do panteísmo identificador, que domina boa parte do oriente; guia-se por um monismo cósmico (também chamado panenteísmo), que consiste na unidade com diversidade, perfeita harmonia, equidistante da monotonia unitária e do caos diversitário. Ultimamente, um exímio cientista francês, Teilhard de Chardin, tentou frisar nos seus livros esse monismo cósmico do Universo, mas foi violentamente combatido pelos dualistas separatistas do ocidente, incapazes de distinguir panteísmo de panenteísmo, como o próprio Chardin lhe fez ver, no final do seu livro O Fenômeno Humano. Os antigos romanos davam ao Universo o significativo nome de mundus, que quer dizer puro. Para os gregos, o Universo era kósmos, isto é, belo.
  • 14. O Universo é, pois, harmonia, pureza e beleza. Ora, se o Universo é isto e se o homem é feito à imagem e semelhança da alma do cosmos – um microcosmos – um mundo em miniatura, a perfeição do homem consiste em ser tão univérsico como o próprio Universo, isto é, perfeita harmonia, pureza e beleza – um homem universificado. É esta a suprema aspiração da ALVORADA e de suas congêneres em outros países. E é também este o traço de luz e ouro que, consciente ou inconscientemente, vai através de todo o conteúdo aparentemente heterogêneo deste livro – como de todos os meus livros, aulas e conferências.
  • 15. Que é Alvorada? Desde 1952 estou realizando, em diversas cidades do Brasil, cursos de Filosofia Cósmica (ou Univérsica), cursos de Filosofia do Evangelho e horas de Cosmo-meditação, Tríduos de Retiro Espiritual, conferências, programas radiofônicos; também publiquei dezenas de livros – tudo no espírito da ALVORADA. Além disto nestes últimos anos, ALVORADA construiu, ou está construindo, diversas casas de Retiro Espiritual (ashrams), onde pessoas idôneas possam passar períodos maiores ou menores em completa solidão com Deus e sua alma. Todas estas atividades são orientadas pelo espírito da ALVORADA. Em face disto, é óbvio que muitas pessoas queiram saber o que seja ALVORADA. É sabido que, no sentido físico, alvorada é o alvor que, no horizonte oriental, precede o nascer-do-sol. Pois é neste mesmo sentido, embora metafísico, espiritual, que usamos o nome ALVORADA. É o despontar da luz celeste, da luz cósmica, da luz crística, em muitas almas humanas. Talvez nem todos os nossos leitores tenham acompanhado e estejam a par dos fatos históricos destes últimos decênios, que assinalam o fim da era do “peixe” e preludiam o início da era do “aquário”. O período do peixe, que começou pouco antes do nascimento de Jesus, simbolizava o domínio da fé, no sentido de crença, ato dos homens de boa vontade. A era do aquário, que despontou há pouco, simboliza o período da sabedoria, da compreensão espiritual, atitude própria dos homens que demandam o sentido real daquilo que os homens de boa vontade apenas aceitam por um ato de crença. A sabedoria compreende o simbolizado interno daquilo que os símbolos externos da crença mandam crer sem compreender. A era do peixe é dos crentes – a era do aquário é dos sapientes. Aquela é dos egos de boa vontade – esta é dos Eus da compreensão.
  • 16. Há quase dois milênios que a cristandade ocidental analisa o corpo do Evangelho do Cristo – nos últimos decênios aparece, em todos os países, em quase todas as Igrejas, e fora delas, uma elite cada vez maior que procura viver a alma do Evangelho. Esta orientação de experiência e vivência cósmica ou crística é que nós designamos pelo termo simbólico de ALVORADA, ou seja, o alvorecer da consciência crística, da sapiência cósmica. Em outros países do globo existem movimentos similares, com nomes vários – Self-Realization, New Outlook, New Thought, Neugeist, Seicho-No-Iê, etc. – mas sempre com o mesmo objetivo da nossa ALVORADA. Em 1956 mandei registrar o nosso movimento como Pessoa Jurídica com o título “ALVORADA, Instituição Cultural e Beneficente”, sob o número de ordem 10.708, livro A-6, do Registro de Pessoas Jurídicas, na Capital de São Paulo. Esse registro era necessário por motivos meramente legais; para nós, porém, os amigos da ALVORADA, não se trata de nenhuma sociedade, no sentido comum do termo, mas sim duma oportunidade para alguém se integrar, cada vez mais, no espírito cósmico dos grandes mestres da humanidade, sobretudo do Cristo. Para efeitos legais, a ALVORADA é uma pessoa jurídica, devidamente constituída, com um Estatuto Social, cujas cláusulas regem as ações da entidade. As decisões administrativas e outras ações são tomadas pela Diretoria Executiva e pelo Conselho Consultivo, legalmente eleitos para essas finalidades. As eleições, realizadas de dois em dois anos, são feitas na sede da instituição, com a participação da Diretoria, do Conselho e dos seus membros- sócios, estatutariamente admitidos. Toda e qualquer pessoa, independente de classe, cor ou credo, pode pertencer e acompanhar o espírito da ALVORADA e gozar dos seus benefícios. Os que frequentam os cursos de filosofia ministrados pela ALVORADA, em diversas cidades, costumam dar uma contribuição mensal não-obrigatória, destinada à manutenção e ampliação das obras externas do movimento. ALVORADA é, pois, essencialmente um ideal de auto-realização individual, sem a qual nenhuma reforma social é possível. Sendo que toda a auto-realização subjetiva é realizada através de alo- realizações objetivas, ALVORADA tem o seu setor de beneficência material, ou seja, assistência social – escolas, centros educativos, ambulatórios, creches, Natal dos Pobres, distribuição de utilidades aos necessitados, etc. Entretanto, a alma da ALVORADA é sempre o autoconhecimento e a auto-realização do indivíduo, isto é, a experiência mística transbordando em vivência ética, que, na mensagem do Cristo, se chama o primeiro mandamento manifestado pelo
  • 17. segundo mandamento. Nestes dois mandamentos, diz o Mestre, consistem toda a lei e os profetas, toda a vida humana, externa e interna. É neste sentido, essencialmente cósmico-crístico, que ALVORADA (Centro de Auto-realização) procura realizar o seu programa. * * * Nos três primeiros séculos do cristianismo, quando os discípulos do Nazareno viviam perseguidos, na vida subterrânea das catacumbas, não havia interpretação analítico do Evangelho. A partir do século quarto (313, edito de Milão), num período de liberdade e paz, começaram os cristãos a fazer teologia e filosofia sobre a mensagem do Cristo. A primeira e mais antiga interpretação do Evangelho é de caráter tipicamente ritualista, influenciada, certamente, pelo espírito dos mistérios do paganismo circunjacente: os efeitos espirituais eram considerados como dependentes de causas materiais – é o período da prevalência dos sacramentos, que ainda continua nas Igrejas ortodoxa e romana e, em menor escala, em algumas Igrejas protestantes. No século 16 começou a prevalecer a interpretação intelectualista: o cristianismo se resumia na interpretação analítica do texto da Bíblia, bem como num ato de fé fiducial (crença intelectual-volitiva) na pessoa de Jesus Cristo. Ultimamente, sobretudo nos países latino-americanos, um setor do cristianismo procura sintetizar-se num movimento de assistência social, subordinada ao lema “fora da caridade não há salvação”. Se, pelo termo “caridade” se entendesse o que esta palavra significa em latim (charitas = amor divino), nada teríamos que opor; mas, hoje em dia, caridade é homônimo de filantropia, que não é necessariamente uma manifestação de charitas. As palavras de Paulo de Tarso, na primeira epístola aos coríntios, capítulo 13, “se eu desse aos pobres todos os meus haveres, mas não tivesse amor (charitas), de nada me serviria”, frisam admiravelmente a diferença entre amor divino e caridade humana. Ritual, intelectual, social – estas três interpretações do Evangelho, através dos séculos, não coincidem com o sentido central e autêntico da mensagem do Cristo, como faz ver, num dos seus livros, o antigo vice-presidente da Índia, Radha-krishnan. Qual é, então, a quintessência do Evangelho do Cristo? Qual a alma, genuína e integral, da sua mensagem à humanidade? Quem responde é o próprio Cristo. Quando interrogado por um doutor da lei (teólogo da sinagoga) “qual é o maior de todos os mandamentos”, o Nazareno respondeu, com incomparável clareza e precisão: “O primeiro e maior de todos
  • 18. os mandamentos é este: Amarás o Senhor, teu Deus, com toda a tua alma, com toda a tua mente, com todo o teu coração e com todas as tuas forças – este é o primeiro e maior de todos os mandamentos.” Depois, acrescenta algo que o doutor da lei não perguntara: “O segundo mandamento é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. E conclui enfaticamente: “Nestes dois mandamentos consistem toda a lei e os profetas”, isto é, toda a organização externa-legal (lei) e toda a inspiração interna-espiritual (profetas) da vida humana. Aqui temos, pois, a quintessência da mensagem do Cristo: a mística do primeiro mandamento revelada na ética do segundo mandamento: a paternidade única de Deus transbordando na fraternidade universal dos homens. A filosofia espiritual do oriente, sobretudo nas páginas maravilhosas da Bhagavad Gita, milênios antes da era cristã, já havia dito o mesmo com outras palavras. A yoga da Índia distingue jnani, raja, bhakti e hatha yoga, ou seja: yoga espiritual, mental, emocional e material, correspondendo aos termos: alma, mente, coração e forças corporais do Evangelho. Depois, manda a quadrúplice yoga da Bhagavad Gita pôr esta experiência espiritual a serviço da vivência social, em forma de karma yoga, yoga de ação, que é precisamente o segundo mandamento “amarás o teu próximo como a ti mesmo.” De maneira que a quintessência de toda a sabedoria, seja do Evangelho do Cristo, seja da Bhagavad Gita de Krishna, sintetiza toda a vida humana na grande vertical da mística manifestada na vasta horizontal da ética. Ora, é precisamente este o programa da ALVORADA, genuinamente crística, cósmica, universal. Abraham Lincoln, o presidente-mártir que, após a guerra civil, reunificou os Estados Unidos, foi o único dos presidentes daquele país que nunca pertenceu a nenhuma das centenas de Igrejas cristãs existentes na grande democracia do norte. Considerava-se discípulo da única Igreja do Cristo, do mandamento do amor divino revelado no mandamento do amor humano, mística transbordando em ética, que é a quintessência da nossa ALVORADA e das suas congêneres, em outros países. * * * Em face de tão excelso ideal, era de esperar que apenas uma pequena elite de alta compreensão crítica acompanhasse o nosso movimento. Verdade é que centenas de pessoas aparecem às nossas aulas e exercícios de cosmo- meditação; mas apenas um pequeno núcleo central é firme e coeso.
  • 19. “Muitos são os vocados – poucos os evocados.” Todos são potencialmente crísticos – poucos o são atualmente. Todos podem gozar os benefícios de um banho de sol na luz matutina da ALVORADA – poucos sabem aproveitar-se desse benefício.
  • 20. Alvorada é uma Utopia? Um Ideal? ou uma Realidade? Há quem pense que o que nós chamamos ALVORADA seja apenas uma bela idéia, um lindo ideal, talvez uma utopia fantástica – mas sem nenhuma realidade vital. É porque essas pessoas não acompanharam o nosso movimento. Antes de tudo, convém frisar que ALVORADA não pretende ser nenhuma novidade, muito menos uma nova religião ou Igreja, nem mesmo uma nova filosofia. É antes um esforço sincero e honesto de viver realmente, 24 horas por dia, 365 dias por ano, a grandiosa mensagem do Cristo e de outros mestres espirituais da humanidade. E de viver isto não como um compulsório “tu deves”, mas sim como um espontâneo “eu quero”. Mas a transição do dever compulsório para o querer espontâneo – do “caminho estreito e da porta apertada” para o “jugo suave e o peso leve” – supõe algo que poucos homens possuem: COMPREENSÃO, ou seja, experiência vital da íntima realidade do ser humano. ALVORADA visa nada mais e nada menos que levar o homem, pela compreensão da realidade, de uma virtuosidade sacrificial para uma jubilosa sabedoria ou sapiência. A mensagem do Cristo, na sua base, para os principiantes, é, certamente, virtude e virtuosidade – mas no seu zênite, para os finalizantes, é suprema compreensão e sapiência. Não basta ao verdadeiro discípulo do Nazareno ter boa vontade – é necessário que ingresse na zona luminosa da sabedoria, consoante as palavras sapienciais do Mestre: “Conhecereis a Verdade – e a Verdade vos libertará”. Libertação não só do erro, mas também do sacrificialismo da verdade.
  • 21. Este conhecimento da Verdade sobre o próprio homem é que, hoje em dia, se chama auto-conhecimento, que coincide com a experiência mística do “primeiro e maior de todos os mandamentos”. E a realização prática deste autoconhecimento na vida de cada dia é a auto- realização, a vivência ética do “segundo mandamento”. ALVORADA visa, pois, a quintessência do Evangelho do Cristo e da sabedoria de todos os grandes Iluminados da humanidade; e mostra a seus adeptos o caminho para atingir essa meta. Mesmo que ALVORADA não pudesse apresentar nenhum resultado palpável da sua atividade, bastaria o próprio fato de manter firme a linha reta do autoconhecimento e da auto-realização, essa quintessência de todas as grandes filosofias e religiões da humanidade de todos os tempos e países. Felizmente, não sofremos de falasanga, como os orientais chamam a mania de resultados palpáveis. A Bhagavad Gita diz: “Trabalha intensamente, mas renuncia a cada passo aos frutos do teu trabalho”. E o Cristo recomenda a seus discípulos: “Quando tiverdes feito tudo que devíeis fazer, dizei: agora somos servos inúteis; cumprimos a nossa obrigação; nenhuma recompensa merecemos por isto.” Isto é a suprema libertação, pelo conhecimento da Verdade. ALVORADA estaria satisfeita com esta consciência de estar cumprindo o seu glorioso destino, mantendo a linha reta da Verdade através de todos os ziguezagues das ilusões. Entretanto, apesar de não sofrermos de nenhuma espécie da falasanga, os resultados não são dados de acréscimo, quase à nossa revelia. Centenas e centenas de cartas em meu poder, quase todas de pessoas desconhecidas, atestam que, pelo veículo da ALVORADA, a Verdade está abrindo caminho na vida de muitas pessoas, transformando o caos de ontem num cosmo de hoje, mostrando a muitos o caminho certo da verdadeira felicidade. Sem cessar, recebo cartas em que pessoas extravasam a sua grande felicidade por terem, finalmente, encontrado uma razão-de-ser no meio de todos os objetivos da vida terrestre. É maravilhoso verificar que a caótica frustração existencial de outrora foi substituída por uma tranquila e firme realização existencial. Ainda que apenas uma única pessoa tivesse encontrado esse caminho da sua realização existencial, após tanta frustração existencial, ALVORADA teria cumprido a sua grande missão – mas o fato é que são muitas e muitas pessoas, em todos os recantos do Brasil, que encontram a luz no meio das trevas.
  • 22. Aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro, ALVORADA mantém cursos permanentes de Filosofia Cósmica e Filosofia do Evangelho, horas de cosmo- meditação e períodos de Retiro Espiritual, oferecendo a algumas centenas de pessoas oportunidade para o autoconhecimento e a auto-realização. Lá fora, por todos os Estados do Brasil, os meus livros, uns 60, estão circulando em cerca de 5.000.000 (cinco milhões) de exemplares, alguns deles também traduzidos para línguas estrangeiras, inclusive o esperanto. Através destes livros, milhares de pessoas encontram o seu caminho verdadeiro. Verdade é que nem todos estão em condições de assimilar este alimento sadio. Por vezes, a semente da Verdade cai à beira do caminho, sobre pedras ou no meio dos espinhos. E mesmo a parcela que cai em terra boa não produz toda por igual: há grãos que produzem 30 por um, outros 60, e outros ainda 100 por um – que importa? Não está o discípulo acima do Mestre. O semeador não é responsável pelo terreno nem pela frutificação; é responsável tão- somente pela semeadura e pela pura intenção com que semeia a semente, que é a palavra de Deus. É dever do semeador semear a boa semente, quer produza quer não produza, quer produza muito quer pouco. O terreno espiritual são as almas humanas, que não obedecem ao alo- determinismo mecânico, mas sim à autodeterminação dinâmica do livre- arbítrio, e por isto não pode o semeador prever o resultado do seu trabalho. Nunca deve atribuir a si, vaidosamente, o resultado positivo da sua semeadura – como, por outro lado, também não se deve sentir, pessimisticamente, frustrado pelos resultados negativos. O dever do semeador é semear – o resto não é com ele. Este livro focaliza uma pequenina parcela dos resultados da ALVORADA que, incidentemente, chegaram ao conhecimento de seu diretor espiritual. Este livro não tem por fim justificar as atividades da ALVORADA; quer apenas mostrar o que a palavra da Verdade pode produzir nas almas idôneas e dispostas a assimilarem o seu conteúdo. * * * Em face da grande circulação dos meus livros, muitas pessoas me consideram um milionário. Alguns querem saber quantas casas, quantos sítios, quantas fazendas possui esse Professor Rohden. A todos eles posso declarar, com a mão na consciência, que, há muitos anos, estou vivendo praticamente o espírito da filosofia que professo e leciono, em aulas e livros: não sou dono de um único palmo de terra, de nenhuma casa, nem sequer da porcentagem dos livros que meus editores me concedem – tudo isto já passou às mãos da humanidade, em forma de beneficência espiritual e
  • 23. material; tudo é da ALVORADA, que é uma Instituição Cultural e Beneficente, e o que é da ALVORADA é do Brasil e é da humanidade. Eu sou apenas o administrador temporário desta parcela do patrimônio de Deus em prol da humanidade. Tranquilizem-se, pois, os que me julgam milionário e latifundiário. Em nenhum cartório do Brasil existe documento que me dê como dono de algum imóvel; em nenhum banco, nacional ou estrangeiro, existe um único cruzeiro, velho ou novo, que seja realmente meu. Verdade é que alguns “amigos” me têm convidado para fazer depósitos em bancos da Suíça, como fazem milhares de brasileiros; mas os meus capitais estão unicamente nos bancos de Deus e da Humanidade. No dia e na hora em que eu fechar os olhos para a vivência terrestre, ninguém terá de brigar por causa dos meus haveres materiais. Felizmente, alguns dos meus alunos e discípulos já estão seguindo o mesmo caminho, desfazendo-se voluntariamente dos seus ídolos materiais em prol de um ideal espiritual. Alguns dos que trabalham mais intimamente comigo, no sítio e no santuário Nirvana da ALVORADA, já assimilaram o princípio do homem crístico: “Aqui nada se ganha, nada se gasta e tem-se tudo.”
  • 24. Sabedoria dos Séculos As seguintes verdades eternas, quando devidamente conscientizadas, produzem grandes benefícios espirituais e materiais. Convém proferir, vagarosamente, sobretudo ao adormecer, uma destas verdades, a que tiver mais estreita afinidade com a alma de cada pessoa: 1. Uno-me com todas as minhas forças ao Espírito Infinito. 2. Onde quer que eu esteja, lá Deus está – e que mal me poderia acontecer lá onde Deus está? 3. No meu íntimo SER eu sou o que Deus é – por isto, no meu externo AGIR, quero também agir assim como Deus age. 4. Envolve-me, penetra-me todo a Luz Branca do Cristo eterno e interno – nenhum mal me pode tocar, todo o bem me deve caber. 5. Todas as coisas, mesmo as mais pequeninas, são grandes, quando feitas com grandeza de alma. 6. Livra-me, Senhor, da soberba mesquinhez de querer ser servido – ensina- me a humilde grandeza de querer servir. 7. Nenhum mal que os outros me fazem me faz mal, porque não me faz mau – somente o mal que eu faço aos outros me faz mal porque me faz mau. 8. Nunca farei depender a minha felicidade de algo que não dependa de mim. 9. Não sou melhor porque me louvam, nem sou pior porque me censuram – sou, na verdade, o que sou a Teus olhos, Senhor, e à luz da minha consciência. 10. Deus, Tu que és Luz, Vida e Amor – manda-me através de todos os Teus mundos, visíveis e invisíveis, como um raio da Tua Luz, como um sopro da Tua Vida, como um brado do Teu Amor! 11. Guia-me, Luz Divina, por teus caminhos, para que nenhuma ingratidão me faça ingrato, nenhuma amargura me faça amargo, nenhuma maldade me faça mau, que eu queira antes sofrer todas as injustiças do que cometer uma só!
  • 25. 12. Ensina-me, Senhor, a sintonizar diariamente as antenas de minha alma por Tuas ondas divinas, a fim de apanhar no meu receptáculo finito as vibrações da Tua Vida Infinita! 13. Em Deus tudo está, de Deus tudo vem, para Deus tudo volta. 14. Não maldigo as trevas de ódio que me cercam – acendo em minha alma a luz do amor. 15. Desde que me encontrei contigo, Senhor, faço com leveza as coisas pesadas, com suavidade as coisas amargas, com alegria as coisas tristes – e estendo o arco-íris da paz sobre todos os dilúvios das minhas lágrimas. 16. Eu afirmo a soberania da minha substância divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas.
  • 26. Fala um Jornalista Filósofo “Ouvi Huberto Rohden numa cidadezinha do nordeste brasileiro, há mais de vinte anos. Era um pregador da Santa Madre Igreja e parecia investido também das funções desta figura moderna da sociedade, o “public relations”, porque com a sua fala atraía não apenas os fiéis da sua própria fé, mas também ovelhas de outros rebanhos, que se reuniam em torno dele, embevecidas pela maneira como dizia as coisas. Reencontro agora o sacerdote de outrora. Ele mudou de roupas e de idéias, mudou até de aspecto, mas não mudou de assunto. Continua falando em Deus. O salão da universidade estava repleto. E pareceu-me estranho, naquela noite de chuva, que tanta gente se reunisse ali para ouvir um homem falar de Deus, um assunto tão velho e quase sempre abordado de um modo tão complicado, quando, mesmo numa cidade ainda modesta como Porto Alegre, os programas mundanos que disputam as nossas horas de folga apresentam tantos números novos. Uma experiência curiosa que podemos fazer sempre que nos encontramos num auditório, fazendo parte dele, é assistir também às reações das pessoas. Pois o imenso salão de atos da nossa universidade, ontem à noite, era para tal experiência um esplêndido laboratório. Desembargadores, professores, comerciantes, funcionários públicos – que rada mistura humana! Uma modesta senhora torcia lentamente o cabo da sombrinha e bebia, quase em êxtase, cada palavra do pregador. Homens que conheço da rua, apressados e nervosos, pareciam colados no assento, e tão plácidos como se flutuassem docemente naquele oceano de conceitos filosóficos. Quem poderia selecionar, em tal mistura, os espiritualistas e os materialistas, os filhos de Roma e os filhos de Iemanjá? Que pastor apartaria um tal rebanho? Naquele momento, o auditório do Professor Huberto Rohden pareceu-me uma síntese do Universo, assim como uma gota d’água contém na sua pequenez os elementos de todos os mares. Quando o professor discorreu sobre a tese espiritualista do Oriente, de que nós somos Deus, tornou-se ostensiva nos lábios de cada um a satisfação íntima daquela identificação1. Eu vi na senhora perfumada e grã-fina, que segurava com tanta elegância o seu “lorgnon”, a mesma alegria da mocinha pobremente
  • 27. vestida que estava sentada atrás dela. E posso jurar que, naquele momento, se identificaram. Elas, e todos quantos ali se encontravam. 1. Convém que o leitor verifique nos meus livros em que sentido o homem pode ser chamado Deus. Nada de panteísmo, nada de dualismo! Monismo Universal! Não sei em que pecados estarei incorrendo, mas me parece muito saudável a idéia dos orientais. Se nos conhecêssemos realmente que cada um de nós é um pouco de Deus, quem sabe se as coisas não terminariam melhorando em torno de nós?” (Abdias Silva – Folha da Tarde – Porto Alegre, 18-7-1961).2 2. Este conceito não é apenas da Índia e do Oriente longínquo, mas também do Oriente próximo, da Palestina; permeia todo o Evangelho do Cristo e dos seus grandes discípulos. “O Pai está em mim, e eu estou no Pai... O Pai também está em vós, e vós estais no Pai... Vós sois deuses. Eu sou a luz do mundo, e vós sois a luz do mundo... O reino de Deus está dentro de vós” – estas e outras palavras do Divino Mestre refletem a quintessência do seu Evangelho, embora as nossas teologias eclesiásticas discordem. “Não sabeis – pergunta Paulo de Tarso aos cristãos de Corinto – que vós sois templos do Espírito Santo e que o espírito de Deus habita em vós?” E de si mesmo diz o apóstolo: “Já não vivo eu, o Cristo é que vive em mim... O meu viver é o Cristo.” No mesmo sentido escrevem os grandes místicos cristãos, sobretudo São João da Cruz, Santa Teresa de Jesus e o rei dos místicos medievais, Meister Eckehart, que foi Superior Provincial da Ordem dos Padres Dominicanos da Alemanha. Nos meus livros, sobretudo O Espírito da Filosofia Oriental e A Grande Libertação, encontrará o leitor abundante material sobre este ponto (H.R.).
  • 28. Escreve um Intelectual Espiritualista “A obra de Rohden é das mais louváveis e características. Imperceptivelmente, com lógica segura, com argumentos amadurecidos, em verdadeiros diálogos íntimos com o leitor, vai desbastando o nosso enfumaçado ambiente mental, vai nos desapegando do entulho filosófico-teológico, produto dos homens, ensejando-nos a compreensão do cristianismo integral, produto do Cristo Universal. Rohden transcende o conceito de seita e alça vôo a alturas que pairam bem acima das divergências sectárias. Abandona o horizontalismo dos conceitos analíticos que dividem, para expandir-se na verticalidade dos conceitos sintéticos que unem. Nesta transcendentalidade está o seu grande vigor, a força magnética do seu verbo, o valor da sua obra. Graças a ela, sua palavra penetra em todos os escaninhos, em todos os setores, propiciando a todos aqueles que não se encontrem petrificados em suas idéias, mas se acham – como ele mesmo diz – em estado de “evolução fluídica”, capazes de dispor da devida elasticidade rumo a novos horizontes. O autor não é dogmático, nem espera que outros o sejam. No decorrer da sua fertilíssima obra, ele mesmo se permitiu, de si próprio, várias vezes.”
  • 29. Fala um Bancário do Estado do Paraná “Huberto, não pode fazer idéia de quanto lhe sou devedor, de quanto o amo e o admiro. Já no ocaso da vida, deparei com aquilo que sempre buscava. Cinco anos vivi num seminário; mas os ensinamentos ali recebidos não satisfizeram aos anseios de minha alma. Frequentei por longos anos a Igreja Presbiteriana, mas ainda sentia que algo de muito importante faltava à minha alma, embora não soubesse o que fosse. Li inúmeras obras de Léon Denis, Allan Kardec, Pietro Ubaldi, Hercílio Maes, C. Flammarion, Hugo Collarile, Aléxis Carrel... Porém, já mais esclarecido, achava que ainda não estava no caminho, muito embora adivinhasse que esse caminho existia. Ledor assíduo dos Evangelhos, nunca me conformei com religiões dogmáticas, que com as suas teologias nos colocam num dilema: a quem devemos dar crédito, aos teólogos ou ao Cristo? Ao acaso, numa livraria, simpatizei com o título de uma obra: Ídolos ou Ideal? Iniciei a leitura dessa obra – e de um só fôlego a terminei. Estupefação, alegria, lágrimas!... Tabus e dúvidas por terra!... Convicções abaladas!... Tudo isto senti ao terminar a leitura de Ídolos ou Ideal? Hoje possuo em minha modesta biblioteca 20 obras da sua autoria... Encontrei, através delas, o que durante 30 anos busquei ansiosamente. Ainda ontem, relendo De Alma para Alma, me vieram lágrimas aos olhos, e minha esposa perguntou-me: “Por que está chorando, Nahor?” Disse-lhe eu: “Choro, Aracy, porque sou feliz, porque encontrei o Cristo, assim como realmente ele é.” Amigo Rohden, o Sr. já imaginou quanto bem o Sr. tem feito? Já fez uma idéia de quanta felicidade tem proporcionado aos seus ignotos amigos? Não essa felicidade caricata almejada por nossos irmãos profanos, mas aquela felicidade que nos torna bons por amor ao bem, que nos faz amar a Deus não por temor nem tampouco por aguardar recompensa. Hoje sei que sou cidadão do Universo, que sou eterno. Hoje sei que tudo está em Deus, tudo vem de Deus, e a Deus tudo retorna. Hoje a minha vida é uma pleni-vida, uma vida verdadeira. A luta contra o ego luciférico é titânica, mas agora tenho certeza da vitória. Encontro mais dificuldade junto aos meus familiares, pois eles não
  • 30. compreendem que ser tolerante não significa ser covarde, que humilde não significa servil. A distância geográfica que nos separa é enorme, porém todas as noites, após as minhas horas de prece e meditação, o meu pensamento voa para a pessoa tão querida de Huberto Rohden, e em pensamento lhe digo: Muito obrigado, ignoto amigo! Como o estimo, admiro e amo! Que Deus o inspire para que possa escrever muitas outras obras!... Se, um dia, puder, irei a São Paulo, roubar-lhe-ei apenas um instante para lhe dizer “muito obrigado” e ter entre as minhas as suas mãos, mãos essas que, obedecendo aos ditames da alma, têm escrito obras magistrais, que nos ensinam a amar em verdade e compreender em sua plenitude os ensinamentos daquele que, ao expirar, nem sequer possuía um relógio de baixo custo, uma caneta-tinteiro barata e uma tanga,4 mas possuía a capacidade de dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” 4. Referências a Mahatma Gandhi, que deixou esses objetos, quando Jesus, ao morrer, não deixou nada. Gandhi, ao receber as balas mortíferas de seu assassino, fez-lhe a costumada saudação hindu, juntando as mãos à altura do peito e dizendo namastê, cujo sentido é: o Deus em mim saúda o Deus em ti.
  • 31. Fala um Padre Católico, Reitor de um Seminário Diocesano “Tenho lido vários livros da sua autoria e não posso resistir mais ao desejo de lhe manifestar minha profunda admiração e, principalmente, minha gratidão pelo bem imenso que os livros do Sr. me têm feito. A princípio, eu os lia com certo receio; temia que pudessem afastar-me de Deus, por conterem algo diferente do que se ensina comumente. Fui verificando, entretanto, tratarem eles de elevadíssima e incomum espiritualidade própria para eliminar o materialismo e consequente desespero, que nos cerca. Atravessei, ultimamente, dificuldades muito grandes e quase insolúveis, e o Sr., através dos seus livros, foi o cicerone da vitória. Por isto, eu tenho sempre ao meu lado O Caminho da Felicidade, e Novos Rumos para a Educação. Aliás, já distribuí vários exemplares de O Caminho da Felicidade e a muitas pessoas o tenho aconselhado como meio de abrir novos horizontes de esperança para a vida. Quis adquirir outros de seus livros enumerados no catálogo, pois só possuo 7 de seus livros. Estou particularmente interessado no Em Espírito e Verdade, mas está esgotado. Gostaria de ter informações sobre o Centro “Alvorada” que o Sr. dirige. Já ouvi falar alguma coisa sobre o assunto”. Cartas como esta, do interior de Minas Gerais, recebo-as em grande número, também de padres de Portugal e da Angola portuguesa da África, prova de que todo esse feroz clericalismo que detesta os meus livros e seu autor não é capaz de matar a anima naturaliter christiana. Ainda há pouco, alguém que conhece o assunto me disse: Pode o Sr. estar certo de que os padres são os mais assíduos leitores dos seus livros “heréticos”, embora nem todos tenham a coragem de o confessar em público, com medo de perderem a sua privilegiada posição. Coisa análoga acontece, aliás, com numerosos pastores protestantes, que publicamente hostilizam os meus livros porque não aprovo a bibliolatria deles,
  • 32. mas muitos os têm em suas bibliotecas, e não poucos pregam em suas igrejas no sentido das minhas “heresias”. Com data de 9 de janeiro de 1967, uns três anos depois da carta acima transcrita, o mesmo sacerdote volta ao assunto da carta anterior, dizendo: “Há cerca de três anos, dirigi-me a V. S., manifestando a minha satisfação pela leitura de alguns dos seus livros. Hoje volto à sua presença para lhe dizer que continuo a ler novos livros da sua vasta seara. O entusiasmo aumentou, e aumentou muito. Que coisa admirável é o Evangelho de Cristo e quão profunda a filosofia nele contida. Já havia lido e estudado o Evangelho, mas ele continuava um livro fechado para mim, embora eu julgasse conhecê-lo bem; agora tornou-se um livro aberto e, mais ainda, um programa de vida e de felicidade. Tenho até procurado adaptar as pregações dominicais de modo a espargirem tanta doutrina boa contida nos livros do Sr. Acho o Sermão da Montanha e a Grande Libertação os melhores de toda a série, que conheço. Já possuo cerca de 21 livros do Sr. e os estou lendo vagarosamente e procurando transformá-los em vida. Já distribuí vários deles como presente a amigos, que se interessam por ideais que ultrapassam a vida ordinária. Continuarei a distribuí-los, pois não existe maior dom do que a verdade purificada de toda superstição e engano. Gostaria de assistir a conferências que o Sr. costuma fazer no Rio e em São Paulo. Peço endereços e horários. Gostaria de saber se estas conferências se fazem também em período de férias. Muito grato por tudo...” (Seguem assinatura à mão, e endereço). Respondi a esse sacerdote sincero e mandei o prospecto da “Alvorada”, com endereço e horários das duas cidades solicitados. Como se vê, a alma humana continua a ser “crística por sua própria natureza”, como escrevia Tertuliano no segundo século; não há teologias nem filosofias humanas que consigam destruir esta cristicidade da alma humana, quando o homem tem a honestidade e coragem de ser fiel a si mesmo, ao seu verdadeiro Eu divino.
  • 33. Fala um Idealista Dinâmico “ALVORADA DE UMA NOVA ERA – Assistimos à conferência do Prof. Huberto Rohden sobre a ‘filosofia cósmica do Sermão da Montanha’ como base de auto-realização, proferida na Associação dos Funcionários Públicos de Salvador. É formidável ouvirmos a mensagem desse homem hercúleo de pensamento e corpo, de cabeleira alva semelhante a um Moisés do século XX. Logo no início da conferência, quem apresentou o escritor disse que Rohden tinha sua própria filosofia, que poderíamos chamar de filosofia rohdiana – o que o conferencista rebateu ao iniciar sua oração, dizendo que não havia nenhuma filosofia rohdiana, que ele era apenas o eco do pensamento dos grandes filósofos de toda a humanidade, tendo como supremo mestre Jesus, o Cristo. A cultura de Rohden é gigantesca. Cita Gandhi, do qual fez uma recente biografia, Sócrates e Einstein, com a mesma facilidade com que discorre sobre a Divina Comédia, de Dante. Nos círculos ortodoxos das religiões ou dos intelectuais sectários (Rohden é combatido e desdenhado. O certo é que este solitário e genial leão da cultura e do pensamento faz ruir todos os nossos falsos mitos com uma clareza e originalidade incomuns. Seria imensamente difícil sintetizar o seu pensamento num só artigo. Aconselho que leiam e ouçam o fabuloso filósofo brasileiro. Huberto Rohden é uma autêntica revolução para o pensamento. Transporta- nos para mundos ignotos. Com cerca de cinco milhões de exemplares de livros espalhados pelo Brasil afora, Rohden constitui um dos maiores best-sellers do País. Sabemos que qualquer pensador desvinculado das organizações sectárias está fadado a ser combatido e perseguido, principalmente quando se trata de religião – e Rohden não foge à regra. Combatido pelos profissionais do Cristo e ridicularizado pelos intelectuais tidos como ateus, ele voa como um pássaro livre, cheio de entusiasmo, cultura e ação, por todos os rincões da Pátria,
  • 34. anunciando o retorno do Cristo das catacumbas, e não o culto da idolatria, bibliolatria, mariolatria, etc. Devo confessar publicamente que, na minha adolescência, quando vivia torturado pela influência satânica do medo do inferno por não ser batizado e não ser miado a nenhuma Igreja, me surge na Bahia este fabuloso Rohden e me salva dos terríveis tormentos psicológicos que me afligiam desde a infância, graças à educação religiosa que me deram. Hoje percebo como é ridiculamente trágica a educação religiosa tradicional. E como ficam desfigurados os seus crentes sinceros... Assim como São Paulo renegou a sinagoga de Israel, Rohden também não pôde continuar como padre por uma questão de fidelidade a si mesmo. Não podia servir a dois senhores: a Deus e a Mamon. A História dos Profetas se repete. Hoje sutilmente perseguido, segue este profeta, como um jornalista desassombrado a anunciar o retorno à verdade de Jesus, o Cristo, denunciando o desvirtuamento da divina mensagem do Sermão da Montanha para o retrocesso à lei de talião: dente por dente, olho por olho. Felizmente, no mundo sempre surge um raio de luz; porque, se assim não fosse, a humanidade mergulharia no mais terrível sofrimento do egoísmo materialista e da maldade destruidora. Com o mundo dividido e ameaçado de destruição total, provocada por sectarismos estreitos de dogmas políticos e econômicos, habilmente manipulados pelas ambições satânicas, ainda há esperança de se acordar para um mundo novo, livre desta terrível dualidade de capitalismo e comunismo, de crentes e ateus. Não compreendo a guerra de silêncio contra este mestre da cultura universal. Todos o lêem. Ninguém o comenta... Assim como Krishnamurti revoluciona a Índia misteriosa de mitos milenares, Rohden revoluciona esta jovem nação para a Alvorada de uma nova Era.” (Jornal da Semana, Salvador, Bahia, 10-2-1962).
  • 35. Fala uma Jovem de 18 Primaveras “O que ouvi do Sr., nestes poucos dias em que aqui esteve, calou fundo no meu Eu. Suas palavras e sua imagem seguem-me dia e noite. Parece-me que, apesar dos meus pesares, minha vida passou a ser cor-de-rosa. Se bem que o meu ego seja ultrateimoso, estou contudo fazendo um esforço tremendo. Suas palestras estão causando enorme efeito naquele pequeno grupo que o seguiu nos 10 dias em que aqui esteve. Todos estão combatendo o seu “irmão burrinho”.5 5. Alusão ao fratel asino (irmão burrinho), como Francisco de Assis chamava o seu velho ego humano, que teimava em desobedecer ao seu Eu divino. Sr. Huberto, sua visita a Goiânia foi para mim muito propícia, pois nessa ocasião, ou melhor, no dia anterior à sua primeira conferência, blasfemei demais. Pensei até em suicidar-me. Por quê? Por motivos fúteis: considerava- me ruim e inútil e causadora da infelicidade de todos os que me cercam: 1) briguei com minhas irmãs; 2) discuti por motivos fúteis com meu noivo; 3) por minha causa, papai discutiu com mamãe. Como vê, sou fraca. Não tenho religião, embora seja espiritualista; também não tenho ilusão, apesar de contar apenas 18 anos. Sr. Huberto, como praticar meditação?... Estou desorientada... Mestre, ajude-me, peço-lhe. Tenho uma vontade imensa de melhorar, de tirar minha “luz de baixo do alqueire e colocá-la no alto do candelabro”...
  • 36. Fala um Motorista Desorientado A seguinte carta, de um motorista de praça do Rio de Janeiro, mostra o que um homem pode fazer quando se deixa empolgar pelas palavras do divino Mestre, “sede simples como as pombas” – e mostra também como é fatal omitir a segunda parte da admoestação “sede inteligentes como as serpentes”. Esse homem não descobriu a síntese salvadora entre a providência divina e a previdência humana – e acabou nesses dolorosos apuros que fala a seguinte carta, que reproduzimos apenas em parte, pois ela abrange nada menos de 18 páginas). “Sr. Rohden. Estive em São Paulo à sua procura, mas não consegui encontrá- lo. Queria apenas pedir-lhe um emprego no seu sítio, a fim de salvar-me da situação desesperadora em que me encontro, criada pelos seus belos livros de filosofia cristã. Sou um homem de quase 47 anos de idade. Vivia profanamente feliz com minha companheira, em um apartamento com relativo conforto, possuindo televisão, geladeira, rádio-vitrola, etc. Trabalhava num táxi de minha propriedade, que me dava o suficiente para as despesas. Até que um dia, por artes do diabo, peguei num livro de sua autoria com o título Em Comunhão com Deus. Então começou a minha odisséia... Eu, que nunca acreditara em Deus, entusiasmei-me pela sua literatura convincente de que Deus existe, e fui comprando quase todos os seus livros, procurando praticar todos os seus ensinamentos. O primeiro obstáculo que encontrei foi a minha companheira; pois a minha vida, em relação a tudo, inclusive em minhas relações íntimas, mudou completamente. Dizia-me ela que não podia mais me suportar; pois eu estava ficando louco, lendo bobagens que não existem. A princípio, eu não lhe dei importância e continuei a ler os seus livros, praticando o bem, dando aos outros o que podia dar, transportando passageiros de graça no táxi, acreditando piamente que “há mais felicidade em dar do que em receber.”
  • 37. Ela, não me compreendendo e não suportando mais as minhas idéias, expulsou-me de casa. Reagi, e ela chamou a Rádio-Patrulha, indo eu pela primeira vez em minha vida parar num xadrez imundo. Ela declarou ao delegado que eu estava louco e que a ameaçava de morte. Como tudo que tinha em casa estava em seu nome – pois não éramos casados –, o delegado deu-lhe razão e disse que, se eu aparecesse no apartamento, que ela chamasse novamente a Rádio-Patrulha, que ele me daria uma lição. Desesperado, pensei que Deus me tivesse abandonado e tentei me suicidar. Passei três dias no Hospital Miguel Couto entre a vida e a morte. Fora de perigo, fui levado por meu padrasto para a casa de minha mãe. Mais calmo, refletindo, pensei que esta desgraça seria para o meu próprio bem, e me conformei em perder tudo: conforto do lar e minha companheira. Ainda me restava o carro para trabalhar. Mas, em casa de minha mãe continuou o meu sofrimento. Meu padrasto, que é espírita e diz que é médium, não compreendendo a filosofia que eu praticava, entrou em conflito religioso comigo. Minha mãe, que acompanha a religião dele, virou-se contra mim, tornando a minha presença em sua casa um martírio. Nessas alturas, eu já me encontrava desorientado, quase não saindo com o carro para trabalhar. Fizeram uma reunião em casa, e meus irmãos disseram-me que eu estava esgotado, perturbado com os últimos acontecimentos e que eu devia descansar um pouco num sanatório. Concordei e fui internado no Sanatório Botafogo, à Rua Álvaro Ramos. No primeiro dia que passei no Sanatório sem os meus livros – pois não me deixaram levá-los – notei que eu não estava internado para descansar, mas sim como um verdadeiro louco. Reagi violentamente, pois isto significava o fim da minha vida. No fim de três dias, apareceram os meus parentes e me disseram que, se eu não quisesse ficar internado, eles me tirariam de lá, mas que eu me arranjasse sozinho, pois nenhum deles queria mais saber de mim. Com fé em Deus resolvi enfrentar o desprezo dos meus parentes e arranjei para morar num barracão existente num terreno vazio, à Rua Padre Roma, no Méier. De acordo com os seus ensinamentos, suportei tudo com resignação, pois era a vontade de Deus que eu sofresse tudo isso. Assim, depois de lutar tanto na vida, profanamente, e de ter tido alguma coisa, morando confortavelmente num apartamento com minha companheira, eu me via jogado num barracão de
  • 38. madeira, sem água e sem luz, sozinho, considerado louco por todos, possuindo apenas o meu carro e os meus livros. Esperava que, quando encontrasse o “reino de Deus e sua justiça”, tudo voltasse ao normal, isto é, que a minha companheira me compreendesse e me aceitasse de volta, assim como os meus parentes. Trabalhando no carro, quase sempre servindo de graça – o que surpreendia os passageiros –, ganhava o suficiente para comer, o que me bastava; pois não pagava casa. Porém, os meus sofrimentos não terminaram aqui. Levei uma forte batida no carro e, como não tinha dinheiro para consertá-lo e não podia contar com ninguém para me ajudar, resolvi vendê-lo a um colega pelo preço de 40 mil cruzeiros (velhos). Este carro valia mais de 300 mil. Pensei ser a vontade de Deus que eu perdesse o meu carro. Com este dinheiro paguei umas dívidas e tratei de procurar um emprego modesto que me desse para viver honestamente com Deus. E aqui começa o meu maior martírio. Como estou com quase 47 anos, como lhe disse, ninguém me quer dar trabalho por causa da idade. Comecei então a me desesperar. Como? Eu não servia mais para trabalhar? Sem trabalho, eu ia terminar na miséria. Será que Deus me tinha abandonado? Comecei então a refletir sobre os últimos acontecimentos da minha vida. Quando eu não acreditava em Deus, vivia feliz. Agora, que eu procuro a Deus, sou infeliz, desprezado por todos como um louco e inútil. Por quê? Resolvi então procurá-lo em São Paulo, mas não o encontrei. Em São Paulo, quase de novo tentei suicídio. Mas, pensando melhor, resolvi devolver todos os livros que me fizeram infeliz, ao seu autor, por intermédio do Dr. (nomeia um advogado, meu aluno no Curso de Filosofia, no Rio), para que os vendesse...” (Segue o resto, no mesmo tom. Infelizmente, o motorista desapareceu sem deixar vestígio. De quinze em quinze dias estava eu no Rio, para as costumadas aulas de Filosofia Universal e Filosofia do Evangelho. Nem eu nem ninguém recebeu visita dele. E assim nada pudemos fazer pelo motorista. Por aqui se vê como é necessário que um neófito, apesar de tão bem- intencionado e tão sincero em suas aspirações cristãs, tenha um guia espiritual que o dirija com prudência nas veredas do espírito, muitas vezes escuras e incertas. Os meus livros, que a tantos deram profunda felicidade, também teriam tornado feliz a esse motorista sincero, se não se tivesse isolado no seu entusiasmo
  • 39. religioso, em vez de se associar a outros companheiros na mesma jornada rumo a Deus).
  • 40. Fala uma Poetisa, Através de um Acróstico ARAUTO DE DEUS Há no teu íntimo sabedoria; Ultrapassaste a compreensão restrita Baseada numa vã filosofia, Escravidão parcial que o bem limita. Resplendem nos teus largos horizontes Toda a beleza e luz das grandes almas, Onde a verdade das divinas fontes Reside em águas límpidas e calmas. Os teus lavores nobres foram pontes, Hasteando o lábaro da fé candente, Dás norte claro ao viajor terrestre E segues como lume à nossa frente. Na trilha vertical, querido mestre! Mahiru – Porto Alegre – 1959.
  • 41. Fala o Reitor de um Seminário Católico “Desde os tempos do Seminário sou leitor dos seus livros, e até hoje sou discípulo seu incondicional. Os meus sermões são inspirados nos seus livros – mas não o digo aos ouvintes, para não ser por eles acoimado de “herege”. Pode o Sr. ter a certeza de que os melhores elementos do clero pensam como o Sr., embora, por motivos de ordem externa, não ousem confessá-lo. Os seus discípulos, por este Brasil afora, não são milhares, são milhões, porque os seus livros despertam no homem o anima naturaliter christiana.”
  • 42. Escreve um Penitenciário em Vias de Conversão Para muitos delinquentes, parece a longa reclusão na Penitenciária ser oportunidade para pensarem numa séria reforma da sua vida. Muitos deles, talvez pela primeira vez, travaram conhecimento com o Evangelho do Cristo, e, como quase toda a minha filosofia gira em torno dessa grande mensagem do Mestre, os presidiários se afeiçoam aos meus livros e, de vez em quando, me mandam cartas escritas na solidão da sua cela. Outros, entre eles o famigerado “Sete Dedos”, me pedem visita. E, quase todos eles, me surpreendem pela nobreza dos seus sentimentos. Por vezes, me vêm à mente as palavras que um visitante a um manicômio de São Paulo deixou consignadas no livro de visitas, em que ele diz: “Nem todos os que estão são – nem todos os que são estão”. Não seria isto aplicável também aos inquilinos das Penitenciárias? Nem todos os chamados (loucos ou) criminosos o são realmente – nem todos os que são realmente (loucos ou) criminosos estão aqui? Em 12 de agosto de 1957, um dos inquilinos na Penitenciária Lemos Brito, do Rio de Janeiro, me escreve, entre outras coisas: “Prezado Senhor Huberto Rohden. A paz de Deus seja convosco. Há muito que venho confortando minha alma com as leituras escritas por Vossa Senhoria. E, como não tenho palavras para expressar, aqui nesta carta, o quanto meu coração deseja falar-lhe, rogo-lhe que, se for da vontade de Deus, que Vossa Senhoria me envie os exemplares dos livros Porque Sofremos e Deus e o Sofrimento Humano.6 6. O segundo livro mencionado não é da minha autoria. Prezado senhor, sou um desses sofredores anônimos aos quais Vossa Senhoria dedica as páginas do livro Porque Sofremos. Creia-me, senhor, cada
  • 43. página deste livro contém uma parte da minha vida. Nas páginas deste livro tenho encontrado remédio para os meus sofrimentos e coragem para alcançar o objetivo que desejo. Hoje reconheço as minhas culpas e misérias, que por espaço de 18 anos vivi mergulhado na senda dos crimes e do vício. Vejo nas páginas do livro Porque Sofremos os prós e os contras da minha vida desregrada. Vejo a minha condenação e a minha absolvição. Que Deus o inspire para escrever mais literaturas para “a legião imensa dos sofredores anônimos. Vosso criado...”
  • 44. Jovem de 17 anos Suicida-se por Causa dos meus Livros Sim, por causa dos meus livros – e também por amor a Deus e para estar mais perto do Cristo. É o que, numa carta de 24 de abril de 1964, afirma o pai do jovem suicida. O autor da carta é tabelião numa cidade do Paraná. Da carta transcrevo o seguinte: “Não quero ofendê-lo, por amor de meu filho. Ele o admirava muito. Mas devo dizer-lhe a verdade, para ser autêntico, como meu filho fora, além de santo e sábio precoce (17 anos) – devo dizer-lhe que o seu gesto supremo, suicidando- se, foi para viver as idéias que o senhor prega, mas não viveu (todos os grifos são do autor da carta!). Ele foi maior do que todos os seus livros... Renunciou até à vida pelo Cristo.” O caso foi de grande notoriedade. O pai publicou diversos artigos em vários jornais, além de espalhar um avulso, com o retrato do lindo jovem, intitulado Ideário e Destino, no qual figuram as seguintes frases em parte tiradas dos meus livros: – Ser solidário, honesto, simples, leal, sincero e autêntico. – Não mentir, não ferir, não julgar! – Amar a Deus em todas as coisas. – Matar todo sentimento de separatividade, filho do egoísmo e da ignorância. – Tira o mal do teu coração e do teu pensamento – e desaparecerão todos os problemas do mundo. – Jamais procures ver nos outros os seus possíveis defeitos, mas sempre as grandezas de sua alma, porque todas as criaturas são potencialmente divinas. – Procura a tua felicidade em fazer felizes os outros.
  • 45. – Pensa sempre em dar, e nunca em receber. – Queima os teus navios, meu amigo! – O amor é a mais poderosa afirmação do espírito. Não há ontem tão pecador que o hoje do Amor não o possa converter num amanhã de excelsa pureza. – Eu sou o meu ideal. – O fim da prece não é alcançar algum bem – é fazer-te bom. A prece te faz melhor, mais paciente, mais humilde, mais caridoso, mais sereno, mais leve, mais feliz, mais humano e mais divino. – Seja tão potente a força do teu espírito, seja tão pujante a juventude de tua alma que nenhuma ingratidão te faça ingrato, nenhuma derrota te faça derrotista, nenhuma amargura te faça amargo, nenhuma injustiça te faça injusto. Mas, para triunfar interiormente com o triunfo alheio, requer-se grande heroísmo da alma. – Faze bem a ti mesmo, na pessoa dos outros. Faze o bem por amor ao bem – dentro de ti mesmo e aos outros. O único meio de fazeres bem a ti mesmo e aos outros, é seres bom, intimamente bom. – Todo ato mau facilita futuras quedas e recaídas e dificulta a ressurreição. – Sê silenciosamente bom, ama sem te oferecer. – ‘O sábio sabe que nada sabe’. – Não me pode a redenção do Cristo redimir do inferno de Satã, se eu não me redimir do inferno de mim mesmo – e do inferno de mim mesmo só me redime a dor. – Para ser bom, deve o homem viver e sofrer a sua própria vocação. Deve guardar absoluta fidelidade ao seu íntimo ser. Deve ser integralmente sincero consigo mesmo. Deve prestar culto incondicional à Verdade e ao Bem. Deve saber unir a Justiça ao Amor. Deve preferir a retilínea convicção às curvilíneas convenções. Deve ter linhas definidas como o cristal, e não ser amorfo como a argila. Deve imolar a farta escravidão na ara da liberdade austera. Deve ser um eco do Eterno, no deserto do mundo efêmero. Deve ser um emissário de Deus no meio da humanidade. Um sopro do Infinito... – Faze da tua vida uma sementeira do bem – e será a tua morte uma colheita de felicidade. – Quanto mais te distanciares de ti mesmo e te aproximares de Deus, tanto mais vasto será o silêncio, tanto mais profunda a solidão. O silêncio da Divindade é a mais rica das plenitudes... O silêncio de Deus é a mais
  • 46. estupenda das sinfonias do Universo... O Silêncio do Amor... O silêncio da dor... – É assim a vida de todo homem que vive o Evangelho: sofrendo, com grande alegria... Gemendo, por entre aleluias... Luminoso, em plena noite... Sorrindo, através de lágrimas... Sem posses, e tudo possuindo... Ultrajado, por entre hosanas... Derrotado, e sempre vitorioso... Morrendo, e sempre renascendo.” Estes pensamentos, transcritos do Ideário do jovem suicida Loumar, são tirados dos meus livros, e alguns do prospecto da nossa “Alvorada”; Verdades Eternas. Pergunto aos leitores – o que perguntei ao pai do jovem – se, nesses pensamentos, ou em outros dos meus livros, se encontra algum convite ao suicídio? Verdade é que todos os mestres da sabedoria, sobretudo o Cristo e seu discípulo Paulo de Tarso, convidam o homem a uma espécie de suicídio, ou melhor, egocídio. Haja vista as palavras do Cristo: “Se o grão de trigo não morrer, ficará estéril; mas, se morrer, produzirá muito fruto”. Ou a jubilosa exclamação de Paulo: “Eu morro todos os dias, e é por isso mesmo que vivo; mas já não sou eu que vivo, o Cristo é que vive em mim”. Entretanto, nenhum deles praticou suicídio. A mais corajosa afirmação do amor de Deus e da vivência no Cristo está precisamente em não ser escapista da vida, como o jovem Loumar foi, mas em afrontar vitoriosamente todos os revezes da existência e potencializar o amor divino ao ponto de morrer voluntariamente para todos os egoísmos da vida terrestre, sem ser morto ou se matar fisicamente. Infelizmente, o jovem idealista de Ponta Grossa não teve quem o orientasse devidamente e soubesse canalizar a impetuosa torrente do seu idealismo em direção mais verdadeira e mais crística. E assim, o meu jovem e ignoto admirador, em 22 de abril de 1964, quando estava cursando o 3.° Clássico de um colégio local, desertou da vida física, na ilusão de que essa fuga do campo de batalha o ingressasse na pátria das suas grandes aspirações. Esse exemplo trágico mostra, mais uma vez, como é necessário, pelo menos no princípio da jornada ascensional, ter um mestre ou guru que leve pela mão os viajores de alta potência – mas ainda sem orientação segura. Nestas linhas, deposito sobre o túmulo do meu jovem e ignoto discípulo e admirador uma coroa de flores, e das profundezas de minha alma lhe envio uma vibração de amor, juntamente com um anseio de esperança de o encontrar, um dia, em alguma região do Universo de nosso Pai e do nosso Cristo. Amigo Loumar, salem aleikum! (A paz seja contigo.)
  • 47. O Mestre e a Mensagem Há no teu verbo o gênesis da Vida, Um cântico de amor, o gume de uma espada Bebidos por tu alma na Fonte do teu Ser. E segues, eterno Bandeirante do Infinito, Rasgando ao teu clarão o mito do pecado, Trazendo para a luz a Mensagem cifrada: “O Homem – Deus – Cosmos – são Um! Fora d’Ele, o nada! Renunciando, ganhamos. Morrendo, renascemos. Ousa descer ao báratro e ascender Homem cósmico à luz de uma Alvorada. Demanda, peregrino, as praias do Infinito, Expressando teu ser de essência universal, Nascituro Senhor! Vidente da Verdade!” Cora Torres Maia Porto Alegre, 25 de julho de 1961.
  • 48. Segunda Parte O que dizem da Alvorada e seu Diretor
  • 49. Um Advogado Místico Fala das suas Experiências Da longínqua Goiânia, recebo carta de um advogado amigo, que, anos atrás, iniciou o hábito salutar de fazer cada manhã meia hora ou uma hora de meditação e contemplação espiritual – e a sua vida profissional mudou totalmente. É que esse homem tomou a sério as palavras do grande Mestre: “Procurai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras coisas vos serão dadas de acréscimo”. Muitos, quando iniciam vida espiritual, receiam por essas “outras coisas”, receiam que a espiritualidade prejudique as suas materialidades. O nosso advogado e assessor jurídico fez exatamente a experiência contrária, e isto porque não fez da espiritualidade um meio subordinado ao fim da prosperidade material, o que não seria “procurar em primeiro lugar o reino de Deus”. Em hipótese alguma, poderá o reino de Deus servir de meio ou condição para o fim de enriquecer. Isto seria uma tentativa de burlar a retidão da Constituição do Universo. “O Sr. – escreve o advogado – nos abriu um mundo novo, creia. Se bem que, por intuição, já possuísse alguns apagados traços dessa mística extraordinária, sua presença entre nós veio aclarar nossos horizontes. O Sr. pode ter a certeza de que, pelo menos, dois discípulos aqui deixou: Dr.a Antonieta e este servo que ora lhe escreve. Passei os dias a seu lado sem dar conta do tempo ou dos trabalhos que teria, normalmente, desempenhado. Foram grandes dias de minha vida, e desejo imensamente continuar a receber de sua pena brilhante os esclarecimentos necessários para que continue na jornada. Quando o avião partiu – creia-me, meu querido amigo – senti um misto de alegria e de tristeza. Alegria, por ter conhecido um mundo novo a seu lado; de tristeza, por vê-lo partir. As lágrimas se me represaram nos olhos, e um encantamento novo, uma nova ânsia de progresso espiritual, uma leveza que se não podem explicar, pareciam invadir-me o ser.
  • 50. Rebusquei em meu jardim as plantas que foram ali colocadas por sua mão. Em tudo parecia encontrar algo do Mestre. Perdoe-me as divagações, que mais se assemelham a sentimentalismo que, talvez, sejam balofos e filhos da inexperiência... Mas o Sr., que tem uma grande alma – e eu o pude comprovar – saberá interpretar essas emoções de um discípulo que deseja acertar e seguir, se possível, reto ao caminho da luz. Li o seu livro Em Comunhão com Deus e apliquei à minha meditação das 6 da manhã os seus ensinamentos. Bem me falara o Sr. que uma paz diferente nos embebe a alma, quando meditamos Minha senhora e eu fazemos a nossa meditação das 6 às 6h 45. Antes, tomo um banho frio, como o Sr. nos aconselhou. O Sr. acha que se deve fazer uma vibração de paz, de harmonia e de luz, para todos os sofredores, nessa hora, não é? Hoje vibrei para o Sr., e me senti muito bem. Parece que, como diz Mouni Sadhu, em Dias de Grande Paz, nosso guru nos imanta e nos fornece energias para vencer as dificuldades. O Sr., nesses dias, estará em Retiro Espiritual e talvez, quando estiver lendo esta carta, já se encontre em sua chácara,7 abismado no Infinito. Mas, mesmo atrapalhando-o, tenho necessidade de me comunicar consigo. 7. O autor da carta se refere ao Sítio, perto de Jundiaí, Estado de São Paulo, onde nesse tempo estávamos construindo um Ashram para que as almas desejosas de se encontrarem a sós com Deus e sua alma, de permanecerem por tempo indefinido em silêncio e solidão, tenham um lugar apropriado para realizar esse seu anseio. Como se trata de um ideal de alto nível, não podemos contar com uma chuva de milhões, para a nossa Casa de Retiro Espiritual, como certamente aconteceria se anunciássemos a fundação de uma boate ou dum campo de futebol. A Casa de Retiro “Betânia” está funcionando desde 1970. Por enquanto, como o Sr. sabe, nada senti senão uma calma intensa e uma abstração das coisas terrenas; mesmo porque se não consegue o samadhi8 ainda. E isso está longe, eu o sei. Minha senhora, que é um tanto vidente, percebe um vulto de branco. Nada mais.” 8. Samadhi é a palavra sânscrita para êxtase, que Paulo de Tarso chama “terceiro céu”, estado de consciência espiritual absoluto. Cerca de seis meses mais tarde, o mesmo advogado-assessor me escreve outra carta, da qual transcrevo o seguinte: “Continuamos as nossas meditações todas as manhãs, com o banho frio. Entro em meditação às 6 em ponto. Se bem que o progresso seja lento, já podemos apresentar visíveis melhoras, seja no modo de interpretar a vida, seja na saúde física, seja no poder de concentração, que aumentou bastante. O caminho é espinhoso, como bem explicou o querido amigo. É duro de ser trilhado; mas nele experimentamos uma emoção diferente, e as modificações internas são substanciais. Que alegria o Sr. nos veio trazer! Agradecemos a Deus,
  • 51. diariamente, a graça de o termos conhecido. Que a sua missão continue a oferecer frutos eficazes e que a luz que jorra da sua compreensão superior da vida se espalhe como foi espalhada aqui. Com a meditação vai se tendo uma compreensão completamente diferente da vida. Noto isto em mim. Tudo é bom. Tudo é alegre, mesmo nos transes mais difíceis. As intuições se nos apresentam mais frequentemente, e de maneira mais elevada. Os livros que o Sr. me indicou são de um valor fabuloso. A substância é de tal ordem que, com a repetição da leitura, se vai, aos poucos, tendo novo entendimento da vida e do Ser Real. A “Vichara”9 é um exercício fabuloso, quando dela nos lembramos nas ruas, no trabalho e nas horas de lazer. O Sr. pode estar certo de que eu me transformei em muita coisa. Minha patroa também faz meditação comigo. Ela tem visões, que eu não tenho. Minha compreensão sobre espiritismo sofreu alguma transformação, como o Sr. mesmo me informou por aqui. Busco agora o Real, o Superior, que está acima de todas as manifestações.”10 9. Vichara é o exercício de se perguntar constantemente a si mesmo “que sou eu?”, como ensina o livro Dias de Grande Paz, ecoando as grandes experiências do exímio místico recém- falecido, Ramana Maharishi, do qual o autor do livro, Mouni Sadhu, foi discípulo. O Vichara nos liberta da funesta ilusão de nos identificarmos com o nosso ego físico, mental ou emocional, fonte de todos os nossos males e das nossas maldades. 10. Quem, como o autor das cartas acima, pratica meditação prolongada, como o Cristo e seus verdadeiros discípulos, não comete o erro funesto de confundir as manifestações de entidades do mundo elemental ou astral com o Espírito Único do Pai, centro de todos os ensinamentos do Divino Mestre. Também adquiri um sítio aqui, para que melhor possa entrar em contato com a natureza. O Sr. me fez compreender que temos necessidade de trabalho braçal nos campos. É o que faço agora. Tenho obtido ótimos resultados. Faço de tudo. Trabalho duro e sinto-me muito feliz. Para mim é uma verdadeira felicidade ir para o sítio, aos sábados. Até nisto a sua influência foi enorme em mim. Quero fazer daquele logradouro um Shangri-lá espiritual. E Deus me há de proporcionar a sua graça.11 11. Com estas últimas palavras focaliza o advogado místico um ponto de capital importância para o aspirante à vida espiritual: o contato com a natureza e a necessidade do trabalho físico. Tolstói, Gandhi, Schweitzer e outros iluminados eram grandes amigos de trabalhos pesados no campo. Muitos pretensos candidatos à espiritualidade aproveitam o fim de semana e os feriados para demandarem as praias, onde prosseguem na sua vida profana e na sua cômoda indolência, levando consigo as auras negativas das cidades, cujo fundador e patrono foi, segundo a Bíblia, Caim, o primeiro homicida da humanidade. Se esses grã-finos comodistas das praias fossem realizar trabalhos físicos na terra, no campo, em plena natureza, veriam que reina íntima afinidade entre esses trabalhos em plena natureza e a vida espiritual. Conheço alguns deles que têm sítio, mas o contaminam com as misérias e sujeiras da civilização urbana, como sejam rádio, televisão, “barulhinhos portáteis”, e até tabuleiro de xadrez e
  • 52. baralho de cartas, contaminando assim a natureza de Deus com a prostituição dos vícios humanos.
  • 53. Tem a Palavra uma Ex-Aluna Norte-Americana Durante 5 anos lecionei Filosofia Universal e Religiões Comparadas numa das universidades de Washington, Estados Unidos. Comecei com 50 alunos e terminei com mais de 400. Embora já tenha deixado por muitos anos esse país, continuo a receber, de quando em quando, cartas dos meus antigos alunos e alunas. Uma delas me escreve: “O que o Sr. nos ensinou, nos cursos da universidade, teve para mim uma significação profunda; ajudou-me a pensar, com clareza e lógica, sobre religião e filosofia e, acima de tudo, sobre os meus problemas pessoais. Lembro-me especialmente da vossa explanação de que o Amor Universal é a solução de todos os problemas. Agora, mais do que nunca, compreendo o que muitas pessoas deste mundo não podem compreender: que sem Amor não há vencedor nem vitória. Compreendo que o problema internacional poderia ter solução fácil se os povos compreendessem que toda manifestação de força e violência entre os homens é uma negação absoluta desse preceito.” Essa jovem americana, como se vê, afina pelo mesmo diapasão que levou Mahatma Gandhi a libertar a Índia sem a violência das armas, mas sim pela benevolência das almas. E a consagração da ahimsa (não-violência) e a apoteose da satyagraha (amor à verdade) – que é, aliás, também a quintessência do Sermão do Monte: “Não vos oponhais ao maligno... Amai os vossos inimigos.” Todos os grandes mestres da humanidade concordam nas verdades supremas – os seus pequenos “discípulos” é que não obedecem aos mestres...
  • 54. Poder Versus Verdade Anos atrás, um adepto do poder clerical e renegado da verdade do Cristo espalhou pela imprensa e do alto do púlpito palavras virulentas contra o meu livro Metafísica do Cristianismo, cuja tradução francesa leva o título Sagesse du Christ (Sabedoria do Cristo). O crítico considera o meu livro como “panteísta”, por sinal que confunde panteísmo com monismo (ou panenteísmo). Esta mesmíssima censura foi lançada, ultimamente, aos livros do exímio cientista jesuíta Pierre Teilhard de Chardin; os teólogos dualistas o tacham de panteísta. Chardin, em resposta, não nega ser panteísta, mas distingue sabiamente entre um panteísmo ilógico e inaceitável (tudo é Deus) e um panteísmo razoável (tudo em Deus), que ele chama “ortodoxo e cristão”. O Evangelho do Cristo é totalmente “panteísta” nesse último sentido, que tudo está em Deus, e Deus está em tudo; basta citar as palavras do Cristo, no Evangelho de João: “O Pai está em mim, e eu estou no Pai, mas o Pai é maior do que eu... O Pai também está em vós, e vós estais no Pai”. Paulo de Tarso escreve aos cristãos de Éfeso que Deus é “pánta en pâsin” (tudo em nós), e aos filósofos de Atenas afirma solenemente que Deus é aquele “no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. Se eu, Chardin e outros somos panteístas, então o foram também o Cristo, Paulo de Tarso e, em resumo, todos os grandes iluminados e iniciados, que sempre viram o Deus do mundo no mundo de Deus. Entretanto, os teólogos dualistas detestam toda e qualquer espécie de panteísmo, não por ser contra a verdade, mas por ser um perigo para o poder que eles querem defender a todo o custo. É evidente que, se o clero aceitasse a verdade de que Deus está em tudo e tudo está em Deus, correria sério perigo a sua política financeira. Se Deus está no homem, então é claro que o homem pode descobrir esse “tesouro oculto”, esse “Deus desconhecido”, tornando-o conhecido e manifesto. Mas, neste caso, os teólogos sofrem grande eclipse,
  • 55. perdendo o privilégio de serem pontes e intermediários que liguem o homem da terra ao Deus do céu. Enquanto Deus mora num céu longínquo, o clero pode arvorar-se em traço de união entre o homem e Deus e fazer crer aos ignorantes que não há salvação sem o clero. Por meio de um certo ritual eclesiástico, do qual o clero tem o monopólio, o homem é posto em contato com Deus – se é que Deus é uma entidade ausente, e não presente no mundo e no homem. Não se trata, portanto, de saber se a onipresença de Deus é uma verdade ou um erro – trata-se de saber, acima de tudo, se essa onipresença de Deus favorece ou desfavorece o prestígio e a política do poder clerical; se favorece; aceita-se; se não favorece, rejeita-se! Heresia é aquilo que diminui o poder do clero. O mundo está dividido em dois grandes campos: o campo do poder (que é do ego luciférico) – e o campo da verdade (que é do Eu crístico).
  • 56. As Auras do meu Ex-Guru Pronam! Saudações da alma! Como é maravilhoso saudarmo-nos assim, em justiça, pureza e santidade... Na divindade das nossas almas... Sim, podemos saudar-nos na plenitude das nossas almas, porque nossas almas seguem o mesmo caminho, o antigo e eterno caminho de Deus, que leva rumo à suprema perfeição do Pai celeste, da Divindade Transcendente, que é a origem da nossa alma e de todo ser. Dr. Rohden, nós somos Kriyabans, iniciados no caminho místico da Kriya. A Iniciação é de vital e essencial importância para todo homem que busca a Luz. A Iniciação estabelece o eterno e inseparável vínculo entre as nossas almas, na divina aliança do amor de Deus. Quão felizes somos nós, pelo fato de sermos companheiros nesta jornada, andando um ao lado do outro, com as almas sintonizadas no Amor Supremo. Realmente, felizes de nós, Iniciados, Kriyabans!” Assim me escreve, no aniversário da minha Iniciação, o meu idoso mestre hindu, que, como outrora Moisés, vive em plena juventude. Distante fisicamente, vivemos espiritualmente presentes. Tempo e espaço são fatos ilusórios, mas não são realidade veraz; para o ego existem, para o Eu não existem. E, por isto, as auras não têm de vir de longe – elas estão sempre presentes, quando devidamente conscientizadas. Consciência é presença – inconsciência é ausência. Quando o homem transcende a estreita barreira dos fatos e entra na vastíssima zona da realidade, então verifica, com grata surpresa, que tempo e distância são como reflexos no espelho; depois de quebrar o espelho de tempo e espaço, a realidade permanece intacta, sem o espelho dos fatos. “Somos Kriyabans”... Somos companheiros em Kriya-yoga, embora separados por continentes e mares. Meu antigo guru fala de “iniciação” – e todo o mundo deseja ser alo-iniciado, mas poucos sabem que a verdadeira iniciação é uma auto-iniciação. O próprio Cristo não fez alo-iniciação com seus discípulos mas deu ordem para que eles
  • 57. mesmos se auto-iniciassem, como de fato aconteceu na gloriosa manhã de Pentecostes, quando, como refere o mestre Lucas nos “Atos dos Apóstolos”, 120 pessoas, homens e mulheres, se auto-iniciaram no espírito da verdade. Mas essa auto-iniciação só se deu depois de 9 dias de silêncio e meditação. O dia de Pentecostes – provavelmente, o dia 30 de maio do ano 33 – pode ser considerado como o início do verdadeiro cristianismo, a proclamação do Reino de Deus sobre a face da terra.
  • 58. Um Acróstico em 4 Línguas “Tenho entre os meus discípulos, no sul do País, uma poetisa de estupenda versatilidade; escreve cartas em verso e rima com a mesma facilidade com que outros escrevem em prosa. Figuram neste livro alguns dos trabalhos dela, assinados com as três sílabas iniciais dos seus três nomes “Mahiru”. Nesta página aparece um acróstico que, lido de alto a baixo, dá o meu nome e sobrenome; mas o mais interessante é que as rimas revezam em quatro línguas – português, francês, inglês, alemão. Diz a poetisa em quatro línguas que, por muito tempo, andou buscando, buscando, o que finalmente encontrou em nossa ALVORADA. Hei pensado, e, então, formei Une extravagante idée By my funny mind today, Es mir zu verzeih’n ich fleh”. Relembrando que o Senhor Toujours choit des mots exquis Of expression less or more. Rar, deswegen schrieb ich dieses. Os ideais que vislumbrei Hauts, plus nobles, pures et doux, Dreams of love so faraway. Endlich winken sie mir zu – Na “Alvorada”, que abracei. Mahiru
  • 59. Contemplando a Dança das Libélulas Ainda a mesma poetisa Mahiru escreveu a seguinte poesia: LAMPEJOS (Composto após uma meditação, ao entardecer, no ermo de uma praia, contemplando o movimentado esvoaçar das libélulas). Ao meu redor, num vaivém errante, Neste esplendor sem par que o outono veste, Asinhas diáfanas, a cada instante, Pululam sob a abóbada celeste. Chegai-vos, ó libélulas amigas, Para o bailado deste fim de tarde, Dançar ao ritmo de sutis cantigas, Enquanto o sol, no ocaso, em chamas arde. Esvoaçando ao encontro do firmamento, Sorvei a luz do dia que desmaia, Quero integrar-me a este ardor sedento, Até que desça a noite sobre a praia. E, quando a sombra misteriosa e fria Transfigurar a lucidez em treva, E um mundo cheio de melancolia Quebrar o encanto que minh’alma eleva, Terei de adormecer entristecida Para aguardar a próxima alvorada, E flutuar assim, de vida em vida, Entre o Absoluto imenso e o extremo Nada.
  • 60. Liberta Física e Espiritualmente De Curitiba: escreve uma das minhas leitoras o seguinte: “Caro Irmão. Sou-lhe eternamente grata, porque os seus livros me libertaram, tanto espiritualmente como fisicamente. Vivia cheia de achaques, com os meus 50 anos; mas agora sou forte e sei que o Senhor é Poderoso para me dar largos anos de vida cheios de saúde e paz; e por isto vivo contente e feliz comigo mesma e com os outros. Mantenho a minha meditação e comunhão com o Altíssimo, todas as manhãs, e isto me faz muito bem.” Convém repetir sem cessar que os benefícios da meditação diária, da íntima comunhão com o Infinito, não são apenas de ordem espiritual, mas se refletem sobre todos os setores da vida material, social e profissional. Quando em primeiro lugar alguém busca “o reino de Deus e sua justiça”, é inevitável que “todas as outras coisas” lhe sejam dadas de acréscimo – contanto que o homem não cometa o erro funesto de considerar as coisas do reino de Deus como meios para conseguir como fim as outras coisas. O reino de Deus tem de ser procurado em primeiro lugar, como fim absoluto e incondicional, e não em segundo lugar, como meio subordinado a outros fins. A Constituição do Universo é infalsificável e não coopera com o homem que tente burlar as leis eternas da Verdade e Retitude. O reino dos céus é o único reino em que não se admite logro, conchavos, políticas à meia-luz.
  • 61. Discurso de um Médico-Filósofo Por ocasião da reabertura do Curso de Filosofia Cósmica, em São Paulo, março de 1962, foi proferido o seguinte discurso por um médico-filósofo, antigo aluno do curso, o qual deseja ficar no anonimato. “Toda a Filosofia de Rohden gira em torno de duas palavras: O pequeno eu, que ele prefere chamar de ego, e o grande Eu. Ao pequeno eu ele adjetiva de físico-mental; às vezes, também, acrescenta a palavra emocional, ficando sendo então ‘eu físico-mental-emocional’. Ao grande Eu ele adjetiva de espiritual, ou, como ele prefere, racional. O pequeno eu é um grande EGOÍSTA. O grande Eu é altruísta, é o Cristo em nós adormido, que, quando desperto, representa o AMOR, escrito com maiúsculas, que não deve ser confundido com o pequeno amor emocional. O AMOR, escrito com maiúsculas, não é emocional, mas representa, na linguagem bíblica, a COMPREENSÃO onidimensional. O meu discurso deve durar uns 10 a 15 minutos. Mas, se exceder um pouco esse prazo, peço-vos que não façais soar o tímpano. O meu ego vaidoso e semestrador ficaria muito triste, sentir-se-ia ferido, até. Coisas – vocês sabem – da personalidade e x i s t e n c i a I... Tendo assistido a dois ou três anos de filosofia rohdeniana e lido do Autor vários livros (não todos) com receptividade e assimilação apenas parciais, a minha ignorância tornou-se bastante eclética – para usar uma expressão de RUBEM BRAGA, o extraordinário cronista de Manchete, que nos delicia todas as semanas com uma de suas excogitações. Como vereis dentro em breve, sou de Rohden apenas aluno, e não um discípulo.
  • 62. Mas, se saudade é a memória do coração (Coelho Neto) e a presença dos ausentes (Olavo Bilac) – então tenho saudades dos primeiros cursos de Rohden. O proveito: Apesar dos meus muitos escotomas, alargou-se a minha visão. O que eu mais temo – dizia RUBEM BRAGA – é escrever de um modo que a gente logo tem vontade de não ler. O que eu mais temo –, na situação em que compulsoriamente me colocaram – é falar de um modo que a gente logo tem vontade de não ouvir. Aqui, há muitos egos. Tenho medo deles. A fábula de La Fontaine, do menino, do velho e do burro, representa bem esta impossibilidade de contentar a todos os egos. E fico a pensar, com os meus parcos recursos, como possa satisfazê-los. Primeiro, quanto à quantidade. Foi CHURCHILL, se não me engano – o grande orador –, que deu para um discurso a seguinte receita: Comparou o discurso com uma saia de mulher. Ué! Que tem um discurso com uma saia de mulher? Na opinião de CHURCHILL, tem. Uma e outro deveriam ser suficientemente curtos para despertar interesse e suficientemente longos para cobrir o tema!... Vamos, pois, aproveitar a lição! Qualitativamente, vai ser difícil satisfazê-los. Estais muito mal acostumados e já tendes o excepcional como comum. PALAVRAS VIVAS E PALAVRAS MORTAS Há palavras mortas e palavras vivas. Mortas, mortas, ou mortas apenas para quem não as souber receber. Vivas, mas só para quem souber entender o seu conteúdo. Aqui, parecerá a muitos que há muitas palavras- mortas.
  • 63. E, talvez, o próprio autor não as tenha sentido tão vivas como muitos leitores ou audientes bem mais receptivos para o imediato e o incomunicável; mais conscientes da lua que os envolve e permeia, mais saídos do cárcere dos sentidos e do pequeno físico-mental que Rohden chama de ego. O EGO E O EU Não me admiraria se até num curso como este de filosofia, em nome do Eu se fizesse, até, campanha de difamação. É que o Cristo não foi crucificado. Ele vem sendo crucificado todos os dias!... O Cristo, todos sabeis, não é esse homem barbudinho que desde criança nos ensinaram a admirar e não imitar. O Cristo é algo que está potencialmente dentro de cada um de nós. O outro pode ser um símbolo dimensional do indimensional em Jesus. Mas o João e a Maria e o Cláudio e a Pafúncia, e que nome tenham, têm também o seu Cristo, que eles crucificam um bocadinho pelo menos, mais ou menos conscientemente, todos os dias, para que o ego goze com isso. O ego é terrível para não seguir o Eu! A LUZ INTERIOR É O RESUMO DO EVANGELHO Toda a filosofia de Rohden é sobre essa luz imanente no existente e transcendente ao existente. Ouvem-se essas coisas, vocês ouvem e reouvem essas coisas, contaminados por uma sede que não se apaga mas cresce, e ele, o nosso querido repetidor, bate e rebate as mesmas teclas, afirmando que a única coisa que pode fazer com a sua palavra falada e escrita é conduzir-nos intelectualmente até as fronteiras da outra dimensão, de onde em diante teremos que caminhar sozinhos – primeiro CRENDO para depois SABER. O CRER na filosofia rohdeniana é o passo indispensável para o SABER. O crer e, até, o comportamento volicional, a ética volicional como se o crido fosse a Verdade. Depois que o crido se transformou, então, em sabido, até mesmo quando apenas um relâmpago espiritual (que ele chama de racional) clareou o interior, entre duas trevas intelectuais, e ainda que esse relâmpago nunca mais se repita, muito do que era difícil e sacrificial – para usar da sua linguagem – se torna jubiloso e natural.
  • 64. Todos os iluminados se entendem. Mas, como os egos se desentendem... Os egos é que sentem dificuldades sociais. MAS, TAMBBM, NÃO FALEM SÓ MAL DO EGO Como é gostoso gostar de alguém. Quando dois egos se entendem, e cada um é atendido em seu egoísmo – há destas coisas maravilhosas. Dizer sem falar. Há quem fale sem dizer; mas, também, há quem diga sem falar. Fica um ambiente fraterno, abrigoso, desnudo de obstáculos, sem aclives. Mas não se iludam – sempre em estado pré-belicoso como duas nações “amigas”. Apesar disso, não falem só mal das emoções. É tão gostoso gostar de alguém. Os grisalhos dirão: já naqueles distantes tempos era assim!... GRANDES OPOSITORES É pena, mas Rohden precisaria de grandes opositores que atuassem como tormentas que apagam velas, mas ateiam incêndios. E eles sabem disso, por isso calam. Mesmo assim, Rohden continua contra opositores (falo de grandes opositores) imaginários; ele, com coragem demolidora, arranca “falsos ídolos” de seus “falsos altares”, mostrando-se um grande polemista, que nos seus últimos livros passou a falar uma linguagem cada vez mais direta, abandonando, cada vez mais, a linguagem oblíqua que usava em tempos idos. Quando eu falo de demolidor, entendam-me bem. Demolidor, sim, mas não pelo simples prazer de destruir. Demolidor que no lugar de cada ruína pretende plantar um monumento da Verdade! Do que ele tem por Verdade!