1) O documento discute a teologia da prosperidade pregada por alguns líderes evangélicos e como ela foi apropriada pela Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil.
2) A teologia da prosperidade prega que os cristãos têm direito a saúde, riqueza e felicidade e que esses bens vêm através da fé e da confissão positiva.
3) A Igreja Universal adotou essa doutrina e passou a ensinar que a pobreza é resultado da falta de fé ou da ação do diabo
Os perigos da Teologia da Prosperidade segundo textos bíblicos
1. Pag. 1 Textos para debate: A teologia da prosperidade
Texto 01
O IBGE trouxe uma constatação chocante para a ideologia dos propagadores da teologia da
prosperidade no Brasil... Foi comprovado, no último censo de 2006, que os evangélicos são os que
mais contribuem com a sua religião, apesar disso, são os religiosos mais pobres do País. Ou seja, essa
teologia na prática não funciona. Bem, com a palavra os pregadores da prosperidade!
Essa é uma das doutrinas principais pregada por todos esses movimentos. Trata-se de uma substituição
do Evangelho da Graça, pelo “evangelho” da ganância.
Oral Roberts, um dos principais pregadores dessa heresia, chegou a escrever um livro intitulado How i
learned Jesus Was Not Poor (“Como aprendi que Jesus Não foi Pobre”) É comum ouvimos da boca dos
pregadores da prosperidade coisas do tipo: “Você é filho do Rei, não tem por que levar uma vida
derrotada.” A principio uma frase dessas pode até pode parecer ortodoxa. Mas, o que muitos talvez não
saibam, é que para esses pregadores, “vida derrotada”= é ser pobre, ter dificuldades financeiras, ficar
doente etc.
T.L Osborn, ensina em seu livro Curai Enfermos e Expulsai Demônios, que Paulo jamais esteve doente
contradizendo o seguinte texto: ”E vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez por causa de
uma enfermidade física. E, posto que a minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não
me revelastes desprezo nem desgosto; antes, me recebestes como anjo de Deus, como o próprio Cristo
Jesus”.(Gal.4.13,14).
É interessante saber que Osborn no começo de seu ministério se apoiou em líderes heréticos como
William Marrion Branham.
T. L. Osborn, no folheto intitulado Um Homem Chamado William Branham, escreveu o seguinte: "Esta
geração está incumbida: uma geração na qual Deus tem caminhado em carne humana na forma de um
Profeta. Deus tem visitado seu povo. Porque Um grande Profeta Tem-se Levantado entre Nós"
Osborn trata a pessoa de Branham como se fosse o próprio Deus. Em outro lugar no mesmo folheto, diz:
"Deus tem enviado o irmão Branham no século 20 e tem feito a mesma coisa. Deus em carne,
novamente passando por nossos caminhos, e muitos não o conheceram. Eles tampouco o teriam
conhecido se tivessem vivido no tempo em que Deus cruzou seus caminhos no corpo chamado Jesus, o
Cristo."
A teologia da prosperidade une o fútil ao desagradável, ou seja, é uma mistura de ganância e
comodismo. Os adeptos da teologia da prosperidade acham que nós temos direito de reivindicarmos
o que quisermos de Deus, esquecendo da soberania divina. Cito abaixo alguns textos bíblicos, que
refutam esse evangelho falso, que promete ao homem uma vida de prosperidade material, atiçando-lhe
a ganância.
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões
escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e
onde ladrões não escavam, nem roubam;(Mat.6.19,20)
“... é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem
inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é
pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. De fato, grande fonte de lucro
é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma
podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar
ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam
os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa
cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de
Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a
mansidão.(1Tim.6.4-11)
2. Pag. 2 Textos para debate: A teologia da prosperidade
Texto 02
Com o intuito de entender como a aspiração por bens materiais se relaciona com a cosmovisão
política dos neopentecostais, tentaremos num primeiro momento esclarecer, ainda que de forma
muito breve, o desenvolvimento da Teologia da Prosperidade e, num segundo momento, ilustrar, a
partir do exemplo da Igreja Universal do Reino de Deus IURD, uma das denominações de mais
rápido crescimento na América Latina nas duas últimas décadas, como esta doutrina foi apropriada e
difundida neste subcontinente, para então discorrermos sobre sua participação na política.
A Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva teve sua origem na década de 40 nos Estados
Unidos, sendo reconhecida como doutrina na década de 70, quando se difundiu pelo meio evangélico.
Possuía um forte cunho de auto-ajuda e valorização do indivíduo, agregando crenças sobre cura,
prosperidade e poder da fé através da confissão da "Palavra" em voz alta e "No Nome de Jesus" para
recebimento das bênçãos almejadas; por meio da Confissão Positiva, o cristão compreende que tem
direito a tudo de bom e de melhor que a vida pode oferecer: saúde perfeita, riqueza material, poder
para subjugar Satanás, uma vida plena de felicidade e sem problemas. Em contrapartida, dele é
esperado que não duvide minimamente do recebimento da bênção, pois isto acarretaria em sua perda,
bem como o triunfo do Diabo. A relação entre o fiel e Deus ocorre pela reciprocidade, o cristão
semeando através de dízimos e ofertas e Deus cumprindo suas promessas.
UMA TEOLOGIA DE RICOS PARA OS POBRES: O CASO DA IURD
Esta estrutura de pensamento pode ser encontrada nos livros do bispo Edir Macedo, fundador e
principal líder da IURD, nas décadas de 80, 90 e ano de 2001.
Nesta denominação, os pastores afirmam que só não é abastado quem não quer: as bênçãos estão ao
alcance de todos mediante a fé, inclusive com a alteração radical de realidades miseráveis em vidas
prósperas; porém, se alguém tiver qualquer envolvimento direto ou indireto com o Diabo ou não estiver
disposto a "sacrificar" para a obra de Deus, não será agraciado. Este mecanismo permite explicar porque
muitos fiéis não alcançam a graça.
Segundo Gomes, o termo "graça" pode ser traduzido pela posse de bens em vista de sua fruição, sinal da
natureza bondosa de Deus. Contra a Sua vontade, antepõe-se um elemento perturbador, o Diabo, o
qual, embora inferior em seu poder, interfere nesta relação, para confundir os fiéis e impedi-los de
usufruir dos bens. Não é portanto primordialmente o pecado (individual ou social) que impede a posse
dos bens, mas o Diabo, que age segundo seu próprio arbítrio, contra quem o crente deve lutar. Uma vez
que a responsabilidade fica por conta do fiel e do Diabo, cria-se uma linha de tensão entre a posse da
bênção e a atuação diabólica.
Por estas razões de ordem doutrinária, a dinâmica Benção Diabo Posse, e, em outro extremo, a
vontade de Deus, é que a Teologia da Prosperidade corrobora com o anseio de acomodação ao mundo
de certas lideranças, com a possibilidade de mobilidade social para alguns fiéis e com a manutenção de
um status já adquirido para outros, sem o sentimento de culpa. Em vez de ouvir num sermão que "é
mais fácil um camelo atravessar um buraco de agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus"
(Mateus 19,24 e Marcos 10,25), agora a novidade reside na possibilidade de desfrutar de bens e
riquezas, sem constrangimento e com a aquiescência de Deus.
Para os afortunados, esta abordagem traz alívio; para os pobres, o direito de possuir como filho de
Deus. Segundo Edir Macedo, Jesus veio pregar aos pobres para que estes se tornassem ricos.
Arrependimento e redenção, tema central no Cristianismo, e as dificuldades nesta vida para o justo de
Deus são temas raramente tratados. Por isso, na busca da bênção, o fiel deve determinar, decretar,
reivindicar e exigir de Deus que Ele cumpra sua parte no acordo; ao fiel compete dar dízimos e ofertas. A
Deus cabe abençoar.
3. Pag. 3 Textos para debate: A teologia da prosperidade
Texto 03
Macedo ensina como proceder: Comece hoje, agora mesmo, a cobrar d'Ele tudo aquilo que Ele tem
prometido (...) O ditado popular de que 'promessa é divida' se aplica também para Deus. Tudo aquilo
que Ele promete na sua palavra é uma dívida que tem para com você (...) Dar dízimos é candidatar-se a
receber bênçãos sem medida, de acordo com o que diz a Bíblia (...) Quando pagamos o dízimo a Deus,
Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos
devoradores (...) Quem é que tem o direito de provar a Deus, de cobrar d'Ele aquilo que prometeu? O
dizimista! (...) Conhecemos muitos homens famosos que provaram a Deus no respeito ao dízimo e se
transformaram em grandes milionários, como o sr. Colgate, o sr. Ford e o sr. Caterpilar. (MACEDO, Vida
com Abundância, p. 36)
Ao estabelecer esta relação de reciprocidade com Deus, o que ocorre é que Ele, Deus, fica na obrigação
de cumprir todas as promessas contidas na Bíblia na vida do fiel. Torna-se cativo de sua própria Palavra.
Devido a essa abordagem, a Teologia da Prosperidade é alvo de muitas críticas entre os pastores
evangélicos, que alegam ser tal mensagem dirigida propositadamente a um contingente pobre que
busca alívio para suas aflições. Ainda, que esta doutrina busca confrontar Deus e diminuir sua soberania,
pois é o fiel quem define qual seja a vontade de Deus e não o contrário.
Nas palavras do pastor batista Isaltino Coelho: Há poucos meses, ocorreu em Brasília um congresso
que mostrava os princípios para enriquecer. Um dos temas foi "Como se apossar das riquezas dos
incrédulos"(...). A teologia da prosperidade quer tirar a cruz do crente (...). Não se trata de masoquismo
espiritual. Isto é uma lei da vida. No mundo há sofrimentos (...). A teologia da prosperidade é alienante,
parcial, injusta, setorial e elitista. A idéia de que riquezas pessoais são resultado de nossa espiritualidade
agrada muito a quem tem bens. (Isaltino Gomes Coelho, pastor batista, Raio de Luz n. 91, 1993)
Ao entender a Teologia da Prosperidade como injusta, cremos que o pastor citado está considerando os
muitos pobres, que durante longo tempo de suas vidas buscarão compreender porque as bênçãos
exigidas de Deus não ocorreram. Eles terão de lidar com a angústia por terem falhado ou permitido que
o Diabo roubasse sua graça. Ou seguir os conselhos de Edir Macedo: Nós ensinamos as pessoas a cobrar
de Deus aquilo que está escrito. Se Ele não responder, a pessoa tem de exigir, bater o pé, dizer 'tô aqui,
tô precisando'. (MACEDO, Folha de S. Paulo, 20/6/1991).
O tema da prosperidade faz-se bastante presente também nos cultos da IURD e programas de TV. Uma
das técnicas utilizadas pela Igreja é a da repetição das mensagens nas pregações: normalmente, versam
sobre prosperidade financeira versus ação diabólica. Ação que passou a ser denominada ao longo do
ano de 2001 de encosto: termo bastante genérico para classificar diversos males espirituais e que
também possui conotações pejorativas para as religiões afro-brasileiras. Isto pode ser entendido como
uma mudança de estratégia na abordagem acerca das artimanhas satânicas: o universo religioso a ser
atacado continua sendo o mesmo, porém, sem agredir frontalmente aqueles que participam de cultos
espíritas, de umbanda ou candomblé. Numa programação diária, a Rede Record exibe o programa
"Ponto de Luz Sessão Espiritual de Descarrego", em que o pastor e apresentador exorta os que
assistem sobre os perigos de acabar se tornando vítima de um encosto, sujeição muito comum, e ter a
vida comprometida por estes espíritos. A ênfase recai sobre uma vida anterior e sem prosperidade
financeira, e a experiência atual, após tornar-se membro da Universal, em que o entrevistado declara
ter havido melhora em seu padrão de consumo. Subjaz no discurso um deslocamento que relega os
fatores sociais como conseqüências históricas, em favor da disputa, por Satanás, do Reino de Deus. Os
problemas sociais são bastante enfocados, porém, sem assumir ares de mudanças conquistadas pelos
próprios homens, porque as "desgraças" ocorridas no dia a dia ou até mesmo os valores sociais
dominantes são fruto de uma atuação maléfica. Para explicar e enfrentar tal atuação, estão os homens
escolhidos por Deus. Segundo Kepel, são homens com capacidade de inscrever os fatos acontecidos no
mundo numa sucessão de causalidades obedientes a um plano de Deus do qual eles seriam os
intérpretes por excelência (...).
4. Pag. 4 Textos para debate: A teologia da prosperidade
Texto 04
No discurso da IURD e em suas mensagens, autorizadas pelos fiéis porque reconhecidas pelos mesmos
como provenientes de Deus, é visível esta tendência de mergulhar-se em um mundo somente
espiritualista que reforça a figura do Diabo no inconsciente da coletividade; coletividade esta que luta
todo o tempo contra o que não vê, mas que está à sua volta: o Diabo; e purifica-se através do
exorcismo: uma expulsão pública do Mal que habitava o corpo do fiel.
A este propósito devemos lembrar, mais uma vez, que segundo a doutrina da IURD, o indivíduo não é
exatamente a sede do pecado, o que exigiria dele o arrependimento, mas uma vítima da ação maligna: o
ato de pecar não deriva de sua escolha, mas o Mal é fruto do encosto que atrapalha a sua vida, em
especial a financeira, sinal de bênção.
Essas práticas remontam a uma tradição de demonologia da época medieval, contudo, a perseguição
empreendida contra Satanás se dá, hoje, numa expulsão pública e violenta que expõe o possesso como
a vítima canalizadora do Mal, e não necessariamente um indivíduo que fez um pacto com o Diabo. Num
mundo que agoniza mediante as constantes lutas entre o Bem e o Mal, todos somos vítimas em
potencial, sem responsabilidade pelos nossos atos, uma vez que vivemos à mercê de um conflito
espiritual. Segundo Macedo, o mero contato ou aproximação com espíritas, por exemplo, pode
acarretar em possessão demoníaca. Novamente é enfatizada a figura do Diabo, cuidadosamente
construída através da Pedagogia do Medo.
Medo, porque a satanização dos acontecimentos desenvolve estruturas emocionais no fiel que em tudo
vê não a mão de Deus, ou a responsabilidade de seus atos sobre o curso da sua história, mas do Diabo,
que acaba por tornar-se um referencial de comportamentos socioculturais. Para a cura das doenças,
solução para o casamento, prosperidade financeira e tantos outros problemas é necessário o exorcismo,
que trará o milagre e a libertação. O próprio Macedo admite que, pelo menos na hora em que ocorre o
exorcismo, a pessoa fica curada. Ser curado ou adquirir livramento pela expulsão de Satanás é um ritual
necessário, pois, conforme Macedo, a mera recusa em aceitar a atuação de um demônio pessoal é um
indício de possessão.
Desta feita, Deus, na IURD, é um instrumento nas mãos do fiel. Ironicamente, Ele, Deus, deve ser
obediente e cumprir todas as exigências feitas pelo fiel, principalmente daquele que paga o dízimo:
Tudo que fazemos, seja correntes ou campanhas, é com espírito de luta, exigindo de Deus (grifo nosso)
aquilo que Ele nos prometeu. (MACEDO, Mensagens, p. 22)
A relação que se estabelece agrega um forte simbolismo ao dinheiro: o fiel propõe trocas com Deus para
conseguir a bênção desejada. Cabe ao fiel demonstrar revolta diante de Deus e "de dedo em riste" exigir
que as promessas bíblicas se cumpram. A Terceira Onda ou Neopentecostalismo se caracteriza
exatamente por este tipo de relacionamento do fiel com Deus, inspirada na Teologia da Prosperidade: o
cristão tem direito a tudo de bom e de melhor neste mundo. Nas palavras de Macedo: A Bíblia tem mais
de 640 vezes escrita a palavra oferta. Oferta é uma expressão de fé. Se Deus não honrar o que falou há
três ou quatro mil anos, eu é que vou ficar mal. (MACEDO, O Globo, 29/4/1990).
Neste discurso, a soberania de Deus é compartilhada pelo fiel na relação de troca. É incentivado que o
fiel se acomode ao mundo das novas tecnologias, acumule riquezas, more melhor, possua carro e não
tenha sentimento de culpa por não negar o mundo; pelo contrário, a conduta ascética tem diminuído
entre os pentecostais desde a década de 70.
Na relação de troca o fiel dá o dízimo, ofertas, participa das campanhas: É necessário dar o que não se
pode dar. O dinheiro que se guarda na poupança para um sonho futuro, esse dinheiro é que tem
importância, porque o que é dado por não fazer falta não tem valor para o fiel e muito menos para Deus.
(MACEDO, Isto É Senhor, 22/11/1989).
E tem a garantia dos pastores de que Deus cumprirá sua parte: Ele ficará na obrigação de cumprir Sua
Palavra. (MACEDO, Mensagens, p. 23). E ainda, O ditado popular de que 'promessa é dívida' se aplica
também a Deus. (CRIVELLA, 501 Pensamentos do Bispo Macedo, p. 103)
5. Pag. 5 Textos para debate: A teologia da prosperidade
Texto 05
A VISÃO BÍBLICA E TEOLÓGICA DA PROSPERIDADE: Encontramos no Antigo Testamento pelo menos
dez diferentes palavras da língua hebraica que pertencem ao mesmo campo de significado, a saber:
prosperar, ter êxito e sucesso, sair-se bem, fazer crescer, fortalecer, pacificar, ser frutífero, fartar-se e
riqueza.
Portanto, a Bíblia tem seu próprio conceito de prosperidade. Como este conceito é tão diferente da
maioria dos atuais, é necessário que estejamos atentos e abertos à antiga, porém sempre correta,
proposta bíblica.
O que é prosperar? Como a prosperidade, prioritariamente, não é obter vantagens pessoais ou ganhar
dinheiro, como a Bíblia trata este assunto? Vejamos alguns exemplos:
1. O profeta Ezequiel relaciona prosperidade para a casa de Israel com a videira que dá frutos
(Ez. 17.1-10; cf.Sl. 1.3); 2. Quando Josué assumiu a liderança do povo, em lugar de Moisés,
Deus lhe fez algumas instruções decisivas que definem a prosperidade: ser forte e corajoso, não
temer e andar nos seus caminhos (Js. 1.1-9); 3. Na oração de Neemias encontramos uma outra
definição de prosperidade: praticar a misericórdia, isto é, ser bondoso e leal para com Deus e os
seus semelhantes (Ne. 1.11); 4. Muitos textos bíblicos definem o êxito e sucesso na vida com a
conduta sábia, o discernimento e a perspicácia no trato com a instrução de Deus (Dt. 29.9; 1 Rs.
2.3; Ec. 10.10; 11.6); 5. Trazer paz ao mundo também pode ser considerada uma atitude de
sucesso (Sl. 122.6-7); 6. O povo de Deus entendia que fazer o bem e agir corretamente na vida
era ser próspero (Jó 21.13; Sl. 106.5); 7. Uma definição bíblica que resume todas as demais é a
seguinte: o próspero é uma pessoa que imita o agir de Deus. O Salmo 1 encontra esta pessoa. É
o justo.
Evidentemente, toda a Bíblia proclama que Deus é a causa direta da prosperidade dos justos (Gn.
39.3,23; Is. 48.15; Ez. 17.9-10; Ne. 2.20). Entretanto, Deus usa uma pedagogia, isto é, um jeito correto e
instrutivo para nos dar a sua ajuda e sua graça. Assim, a Bíblia mostra que a prosperidade do povo de
Deus vem:
o Pelo sofrimento e pela graça de Deus (Is. 53.10), que ensina que o começo de todo bem
sucedido empreendimento humano reside na capacidade da pessoa para sofrer;
o Pela fidelidade e lealdade a Deus e ao povo de Deus (Jr. 13.7-10; Dn. 6.9);
o Pela busca do temor do Senhor (I Cr. 26.5);
o Pela prática da justiça (Sl. 1.3);
o Pela posse (descida) do Espírito de Deus (Jz. 14.6; 19; 15.14).
É possível que estejamos repetindo conceitos e definições, porém a Bíblia é uma testemunha instrutiva.
Ela, através de suas reportagens, nos oferece pistas para obtermos sucesso na vida. Nela aprendemos
que, em primeiro lugar, a obtenção de prosperidade é precedida de pedido, apelo, por parte da pessoa
interessada (Sl. 118.25); segundo, através de uma vida de piedade e fidelidade à instrução de Deus (Js.
1.7-8; Dt. 29.9; I Cr.31.21); terceiro, através da insistente busca de sabedoria (Ec. 2.21; 11.6).
Também encontramos na Bíblia alguns textos que tratam a prosperidade de forma bastante negativa.
Para os autores bíblicos, a prosperidade como ganho, sucesso e êxito nos empreendimentos da vida
conflita com os princípios básicos da fé.
6. Pag. 6 Textos para debate: A teologia da prosperidade
Texto 06
Dois textos ilustram estes princípios:
1. Porque prosperam os malvados? (Jr. 12.1-6) Ao lermos este texto, percebemos que ele é um corpo
constituído de duas partes: na primeira, o profeta faz. Em tom de queixa, uma tremenda acusação
contra Deus (vv. 1-4); na Segunda parte, temos uma dura resposta de Deus (vv. 5-6). Este tipo de diálogo
apimentado, entre o profeta e Deus, nós o encontramos em Habacuque (1.2; 2.4) e constitui a
preocupação central do livro de Jó.
A questão geradora da queixa de Jeremias é: Porque os ímpios prosperam? Diante disso, o profeta abre
um processo jurídico contra Deus: Eu vou abrir um processo contra Ti (v. 1 a). O surpreendente, aqui é
que ele acusa Deus de ter permitido, com seu silêncio, o Domínio dos malfeitores sobre os justos
(comparar Ha. 1.2-4; 12-17).
Sua justificativa tem dois tipos de argumento: O primeiro é direto: Apesar de serem desleais (v. 1b),
usarem dos feitos de Deus para encobrirem suas más ações, (v.2), provocarem a destruição dos animais
e aves (v.4 a) e propagarem mentiras sobre Deus (v. 4b), esses malvados (como lobos vestidos de
cordeiros) prosperam e gozam de tranqüilidade (v. 1b) e o segundo é indireto: O profeta justifica sua
acusação, mencionando algumas conseqüências danosas e provocadas pelos prósperos ímpios:
primeiro, a gula de prosperidade alimenta e multiplica a deslealdade (v. 1b); segundo, a ansiedade pelo
lucro fácil não tem limites, agredindo e destruindo a natureza a flora e a fauna (v. 4 a) a ponto de
justificar seus atos com uma mentira, Deus não vê o nosso futuro (v. 4b).
O pequeno diálogo se encerra de modo surpreendente para o profeta: o pior estava por vir. Aqui, o
profeta não recebe uma resposta satisfatória e tranqüilizadora para o problema do mal e do sofrimento,
provocado pelas pessoas prósperas, que ele experimentava na própria carne.
2. A prosperidade dos ímpios incomoda os crentes (Sl. 37.1-40). Este Salmo mostra outro exemplo da
crise de fé causada pela prosperidade das pessoas más, egoístas, violentas, opressoras e descrentes. A
maior parte do Salmo é admoestação (vv. 1-11 e 22-40). O restante trata das descrições do inimigo
(vv.12-15), do justo e do ímpio (vv.16-26).
O salmista busca orientar, animar e sustentar a esperança do crente fiel para que este se mantenha
firme diante de toda provocação causada pela prosperidade dos ímpios (vv. 10.39-40).
A extensa lista de justificativas tem sua razão, pois, certamente, a prosperidade crescia entre o ímpios.
Em conseqüência disso, o salmista (bastante perturbado!) escreve esse manual de instrução para os
crentes, que poderíamos intitular: COMO ENFRENTAR A SOBERBA DOS ÍMPIOS.
Como enfrentar a soberba dos ímpios. Diante de nós estão duas experiências, mas um só problema: a
tentadora idéia de ser financeira ou artisticamente próspero. A difícil experiência de Jeremias e a crise
de fé vivida pela comunidade do salmista podem nos levar a estabelecer uma cartilha orientadora para
os crentes.
A Bíblia conhece a prosperidade como uma atitude sábia de enfrentar e responder às agressões da vida
com bondade, lealdade, fé, ação justa, solidariedade (Sl. 37.6).
A idéia de prosperidade, espúria à Bíblia, é a mesma oferecida a Jesus por satanás (Mt. 4.1-11; cf.
Mc.1.12-13; Lc. 4.1-13). É uma prosperidade relacionada a dinheiro, lucro, êxito na vida e sucesso nos
empreendimentos pessoais. Na denúncia de Jeremias (12.1-6), os prósperos são inimigos do servo de
Deus, cometem perversidade contra as pessoas, contra a natureza, promovem a descrença. No caso do
salmista, o perfil dos homens prósperos é mais amplo, e a repercussão de seus atos é, aparentemente,
maior. O gesto dessa gente má provoca sentimentos de indignação e inveja (v.1), irritação (v.7), ira,
furor e impaciência (v. 8), entre outras reações. Por todas essas razões, a Bíblia distingue dois tipos de
prosperidade.
7. Pag. 7 Textos para debate: A teologia da prosperidade
Texto 07
Quando a dignidade humana estiver sujeita ao dinheiro, o mundo ficará perigoso para se viver. É por
essa razão que o salmista grita: “socorro, Senhor!” (Sl. 12.1) e o profeta Jeremias se impacienta: “Até
quando”? (Jr. 12.4). O sistema de vida que a teoria da prosperidade defende está cheio de competições:
patrão/empregado; nação rica/nação pobre. Quem é mais forte explora ou elimina o mais fraco.
O texto de Jeremias e o de Salmos ensinam o crente como enfrentar o sistema de vida dos prósperos.
Ambos sugerem formas para confrontar esse inimigo. O salmista é mais objetivo e sugere formas de
enfrentar essa praga que está apagando da memória do povo o conhecimento de Deus. O texto de
Jeremias (12.1-6) reflete toda a perplexidade do crente diante do crescimento de prosperidade e poder
dos ímpios. Enquanto isso, o Salmo 37 tenta instruir os crentes fiéis para enfrentar o problema. Quando
a Bíblia fala da justiça divina, ela não quer dizer que Deus castiga os pecadores e premia os justos. Se
isso ocorresse, os templos estariam abarrotados de pessoas. Acontece que o ensino bíblico acerca da
justiça divina não é utilitarista. O princípio, é dando que se recebe, não retrata bem o ensino da
justificação.
A solução do problema em torno da prosperidade dos ímpios e do sofrimento dos justos não é imediata,
isto é, a transferência direta dos bens dos ímpios para os crentes. A Bíblia ensina que a superação desse
problema não tem data marcada, mas está na fidelidade do justo (cf. Hab. 2.4). Tanto Jeremias como o
salmista não orientam os perplexos crentes a fugirem para longe dos ímpios, mas a se manterem firmes
na fé. Por isso o grande apelo do salmista é: confiar em Deus (vv. 3,5,7,34) e esperar que um dia a
justiça divina possa restabelecer a paz na terra.
Considerações finais:
1. O estudo sobre o tema da prosperidade deve levar em consideração todos os textos bíblicos e não
apenas alguns em particular, como os teólogos da prosperidade costumam fazer para sustentar suas
idéias;
2. O estudo deve levar em conta o contexto no qual surge o tema da prosperidade e, portanto, seguir
rigorosamente os princípios de interpretação bíblica;
3. O conceito bíblico de prosperidade contrapõe, como vimos anteriormente, o conceito difundido hoje
em dia nos meios evangélicos. Na abordagem do tema é necessário que esta diferenciação seja
considerada.
4. Deve ficar sempre claro que Deus é o autor da vida, consequentemente, Ele é o responsável pelo
sucesso, pelo êxito ou prosperidade do Seu povo;
5. Vivemos numa sociedade que busca a prosperidade a qualquer custo, renunciando a solidariedade, a
justiça, o bem-estar dos outros, atitudes estas compatíveis à cidadania do Reino de Deus.