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SUMÁRIO
O que É Liderança Cristã
A Pessoa do Líder
A Liderança de Moisés
A Liderança de Josué
A Falta que Faz um Líder
Exemplos de Liderança Feminina
A Liderança de Davi
A Liderança de Salomão
O Treinamento de Líderes segundo o Modelo de Jesus
Uma Liderança Chamada para Restaurar
A Liderança de Barnabé
A Liderança de Paulo
Jesus, o Modelo de Líder
Conclusão
Referências
A
CAPÍTULO 1
O QUE É LIDERANÇA CRISTÃ
compreensão correta sobre um determinado tema resultará em
práticas corretas, assim como uma compreensão parcial
contribuirá com uma prática parcial, ou, ainda, uma compreensão
equivocada levará as pessoas a cometerem erros na prática.
Portanto, antes de avançar no sentido de estudar sobre liderança
numa perspectiva bíblica e conhecer alguns dos principais líderes
do relato bíblico, é imprescindível dedicar um espaço para que as
bases sejam lançadas, e isso depende de uma boa e correta
compreensão do tema aqui proposto, isto é, liderança.
Em um primeiro momento, é importante destacar que, numa
perspectiva histórica, liderança tem sido um tema empolgante e
responsável por promover longos e importantes debates. Este
capítulo dedica-se em analisar o tema sobre a liderança sob três
aspectos: I) O significado de liderança; II) O papel de um líder; III)
As qualidades que caracterizam uma verdadeira liderança.
A Bíblia registra episódios que confirmam a soberania de Deus na
condução do seu povo por intermédio de pessoas que, sob a sua
autoridade, exerceram liderança, e esses relatos apresentam-se
como referenciais seguros para responder as questões que visam
nortear este capítulo, sendo elas: I) O que é liderança; II) O que faz
um líder; III) O que não é liderança.
I. O QUE É LIDERANÇA CRISTÃ
Com base na preocupante constatação da escassez de liderança na
atualidade, J. Robert Clinton afirma que o tema liderança tem-se
destacado como “preocupação de primeira grandeza”, e isso
porque, segundo as suas palavras, “há um vácuo de liderança”.1
Ritch K. Eich segue nessa mesma esteira e declara com firmeza:
Líderes de verdade são raros neste mundo de mudanças rápidas e
comandado pelo dinheiro [...]. A realidade atual — especialmente
com um ambiente econômico árido e a quantidade crescente de
millenials (também conhecidos como Geração Y, esses
trabalhadores nascidos entre 1980 e 2000) entrando no mercado de
trabalho — clama por uma liderança feita do modo certo.2
Por um lado, o exposto acima indica o quadro desanimador na
atualidade no que concerne ao tema da liderança; no entanto, por
outro lado, deflagra uma grande oportunidade que a Igreja de Cristo
tem de revisitar o assunto, reavaliar o seu significado e restabelecer
as suas práticas dentro de uma perspectiva bíblica e atual. Há,
portanto, a necessidade de uma definição que se fundamente sobre
os pilares do equilíbrio entre os padrões bíblicos de uma liderança
aprovada por Deus e as necessidades impostas pelo tempo vigente.
O que realmente É Ser um Líder?
Antes de qualquer coisa, o líder precisa saber sobre a sua própria
identidade, isto é, precisa saber quem ele é, qual o seu lugar, qual a
sua função e quais os limites da sua atuação. Dito de outra forma, o
líder precisa saber o que é ser um líder.
Na prática, o líder é responsável por conduzir pessoas em uma
determinada direção, o que implica dizer que ele é quem vai à frente
com a missão de apontar o caminho, de ensinar como trilhar por
este caminho e de incentivar os seus liderados a alcançarem os
objetivos preestabelecidos. Embora sejam importantes, a
capacidade intelectual, o carisma e a desenvoltura na comunicação
não são suficientes para que o líder seja exitoso na sua missão, pois
o exemplo pessoal é imprescindível nesse processo, ou seja, todas
as qualidades que um líder possa ter dependem de ser
acompanhadas de uma vida que inspire as pessoas a quem lidera.
Fica mais do que evidente que a figura do líder assume elevada
importância, pois, conforme se nota, em certa medida, o sucesso de
um determinado empreendimento depende da qualidade daquele
que o lidera e da sua conduta no seu trabalho.
Uma vez que o líder é responsável por conduzir pessoas e pela
indicação da direção a ser seguida, o que geralmente se espera de
uma liderança?
Em primeiro lugar, o líder deve ter uma visão e ser capaz de
transmiti-la com clareza aos seus liderados. Ele precisa saber para
onde está caminhando e indicar sempre o caminho certo de maneira
que as pessoas sintam-se seguras e incentivadas a ir nessa
direção. Poucas tragédias são maiores do que a de um determinado
grupo de pessoas que é liderado por alguém sem clareza do alvo a
ser perseguido ou que desconhece o destino a ser alcançado.
Portanto, visão e clareza da sua comunicação é o que se espera de
um líder.
Em segundo lugar, o líder deve identificar-se com a necessidade e
trabalhar pelo bem dos seus liderados, que, por sua vez, se sentirão
protegidos, respeitados e motivados. Um líder genuíno sempre
estará empenhado no sentido de remover os obstáculos e facilitar o
caminho daqueles que estão sob a sua liderança. Portanto, espera-
se de um líder: I) Visão e boa comunicação dela; II) Trabalho em
favor dos liderados.
Conclui-se, portanto, que liderar é influenciar. Ser líder é ser
seguido por pessoas.
O que É Liderança Cristã?
O tema da liderança é abrangente e amplo, o que permite análises
nas mais variadas formas e vertentes. Uma reflexão capaz de
oferecer contribuições significativas e duradouras depende de uma
delimitação do assunto, ou, ainda, de uma ênfase específica sobre
ele. Partindo desse princípio e considerando o objetivo desta obra, a
verificação aqui será feita sobre a liderança cristã.
Em um primeiro momento, destaca-se que a natureza cristã de
uma determinada liderança não a exime do seu caráter
influenciador; pelo contrário, o líder cristão também tem a
responsabilidade de influenciar os seus liderados. O diferencial da
liderança cristã repousa sobre os padrões pelos quais ela deve ser
pautada, pois o líder cristão deve ter as Sagradas Escrituras como
referência norteadora das suas decisões, das suas práticas e dos
seus comportamentos.
Sem o propósito de um aprofundamento na compreensão do
texto, note que Paulo diz que a expectativa em relação a um líder
espiritual é que “[...] cada um se ache fiel” (1 Co 4.2). Biblicamente,
a fidelidade imposta ao líder cristão possui muitas faces, só que
nenhuma supera aquela que reafirma o seu compromisso de
assemelhar-se a Cristo, o Senhor. Nesse aspecto, o pastor Silas
Queiroz defende que uma das marcas de um líder cristão maduro
consiste exatamente na sua capacidade de amar mesmo quando é
odiado, de tratar bem mesmo quando maltratado, à semelhança de
Cristo.3
O apóstolo Paulo escreveu sobre uma era vindoura e classificou-a
como “tempos trabalhosos” e, dentre as características elencadas,
está a seguinte: “porque haverá homens amantes de si mesmos [...]”
(2 Tm 3.2). Incontestavelmente, os dias atuais deflagram esses
“tempos trabalhosos” previstos pelo apóstolo; e, diante disso, como
ser um líder cristão fiel em meio a uma geração egoísta?
Objetivamente, o líder cristão que desejar seguir o modelo de
Cristo e achar-se fiel no exercício da sua missão deverá ser alguém
que nutre uma vida de comunhão com o Mestre. Aliás, antes de ser
chamado para o serviço de liderar, o líder é chamado a caminhar
com o Senhor, que o escolheu, conforme se percebe no registro
bíblico em que se nota que, antes de serem designados a “pescar
homens”, Pedro e André foram chamados a seguir o Senhor Jesus
(Mt 4.19). Antes de envolver-se com o trabalho do Reino, o líder
cristão deve envolver-se com o Rei do Reino.
A. B. Bruce apresenta o processo do relacionamento dos
apóstolos dividindo-o em três etapas até que estivessem prontos
para cumprir a missão para a qual cada um deles foi designado,
pois, “na primeira etapa eles simplesmente criam nele como sendo o
Cristo, e sendo os seus companheiros mais próximos,
particularmente em eventuais ocasiões festivas”, em seguida, ele
aponta para a “segunda etapa”, em que “a comunhão com Cristo
assumiu a forma de uma presença ininterrupta da sua pessoa, em
tempo integral”, e, finalmente, “os doze entraram no estágio final, e
mais elevado do discipulado quando foram escolhidos por seu
Mestre dentre toda a multidão de seguidores, e formaram um grupo
seleto, a ser treinado para a grande obra do apostolado”.4
Destaca-se que o serviço é o último estágio do processo em que o
líder cristão é submetido. Lamentavelmente, não são poucos os
líderes que, no desejo de cumprir a sua liderança, se perderam
como cristãos. Somente com uma vida de inteira entrega e de
comunhão com o Senhor é que essa tragédia pode ser evitada. A
liderança cristã, portanto, atua no sentido de influenciar pessoas sob
os princípios da Palavra de Deus, assim como o líder cristão é
chamado a andar com Cristo com vistas a refletir o seu caráter
enquanto exerce a sua missão de liderar pessoas.
Liderança como Serviço Em diversas abordagens que o
apóstolo Paulo fez sobre o ministério cristão e,
consequentemente, sobre a liderança cristã, ele
preocupou-se em deixar claro que esse ofício deve ser
exercido sob a premissa do serviço. No seu Comentário
Bíblico, Matthew Henry explica os termos “ministros
de Cristo” e “despenseiros dos mistérios de Deus”,
utilizados por Paulo em 1 Coríntios 4.1, e ele assim o
faz nos seguintes termos: Em nossa opinião, tanto
sobre os ministros quanto sobre todas as outras
coisas, devemos ser cuidadosos para evitarmos
extremos. Os próprios apóstolos não deviam ser: 1.
Supervalorizados, pois eles eram ministros, e não
mestres, administradores, e não senhores. Eles eram
servos de Cristo e não mais, embora fossem servos de
alto nível, que tinham o cuidado de sua casa, que
deviam alimentar o resto, apontar e dirigir seu
trabalho.5
O conceito de Paulo sobre o exercício da liderança cristã firma-se
não somente no serviço, mas também na capacidade que o líder
cristão deve ter de trabalhar diligente e fidedignamente onde as
pessoas não veem, como se vê nas figuras do soldado, do lavrador
e do atleta (2 Tm 2.3-6). Note que cada uma dessas funções aponta
para a uma atuação que quase sempre ocorre em lugares ocultos,
mesmo que haja o reconhecimento de muitos em alguns momentos,
mas quase sempre isso ocorre em secreto. Nesse caso, o líder
cristão é alguém que deve ser capaz de trabalhar onde só Deus é
capaz de enxergar e recompensar.
Sendo assim, liderança cristã é serviço.
O QUE FAZ UM LÍDER?
Uma vez que já se sabe o que é ser um líder, é necessário avaliar,
de maneira prática, quais são as principais funções, ou, se preferir,
as atribuições do líder cristão. Este ponto dedica-se em identificar
três funções que o líder cristão tem, sendo elas: I) esclarecer; II)
guiar; e III) abençoar.
O Líder Esclarece John C. Maxwell ensina que o líder
deve amenizar o sofrimento dos seus liderados e que
uma das formas pelas quais isso deve ocorrer é
levando “a pessoa a ver as coisas de forma mais
clara”, pois, nas palavras dele, “não há melhor maneira
de mudar um problema do que ajudar alguém a
enxergar uma solução”.6 Isso reafirma o compromisso
que o verdadeiro líder tem com o bem-estar dos seus
liderados, haja vista que, conforme visto acima, uma
das suas principais funções é a de lançar luz no
caminho das pessoas, favorecendo-as nos seus
desafios e nas suas decisões.
Observe o exemplo de Paulo, que, na condição de líder espiritual,
auxiliou a Timóteo em diferentes áreas da sua vida, inclusive
vocacional, conforme se lê: “Por este motivo, te lembro que
despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das
minhas mãos” (2 Tm 1.6). À semelhança do apóstolo, todo líder
cristão carrega sobre si a responsabilidade de cooperar com os
seus liderados, projetando luz para o caminho. O líder cristão,
portanto, tem a missão de esclarecer o que está obscuro aos seus
liderados.
O Líder Guia
O ser humano tem em si mesmo a necessidade de ser liderado por
alguém que lhe sirva de referencial e de fonte inspiradora. Essa
necessidade é bem retratada nas palavras do salmista ao utilizar a
figura da ovelha que dá testemunho do seu pastor (Sl 23). É
evidente que esse salmo refere-se a Deus como o Supremo-Pastor,
porém não deixa de representar a necessidade que o ser humano
tem de ser guiado e conduzido.
A dinâmica entre líderes e liderados é uma escolha divina, como
afirma Stephen Adei: “Embora Deus seja o nosso líder supremo, nós
ainda temos a responsabilidade de liderar e conduzir, a nós mesmos
e aos outros”.7 Dito de forma direta e objetiva, o líder cristão deve
ser um guia, cuja tarefa é a de conduzir os seus liderados rumo à
maturidade cristã, e é nesse ponto que o caráter influenciador de
uma liderança fica ainda mais acentuado, e a consolidação do seu
caráter e da sua integridade é imprescindível neste processo.
O líder cristão é submetido a um processo de aprofundamento das
suas raízes, e isso pelos meios estabelecidos pelo próprio Deus,
que objetiva treiná-lo até que alcance as condições necessárias no
seu caráter e possa influenciar pessoas, conduzindo-as ao propósito
de Deus; afinal de contas, liderar é conduzir ou mesmo guiar
pessoas em segurança rumo a uma direção bem definida.
O Líder Abençoa
Desde o início dos registros bíblicos, é possível perceber o interesse
de Deus em abençoar o ser humano, pois, mesmo quando pecaram,
Adão e Eva foram alvos da insistência de Deus na sua busca por
redimi-los e reconectá-los a Ele (Gn 3.8-15). A ação divina em toda
a Bíblia é sempre no sentido de abençoar os povos, e,
indubitavelmente, as palavras de Deus a Abraão confirmam isso,
pois assim ele disse: “[...] e em ti serão benditas todas as famílias da
terra” (Gn 12.3).
O ponto alto do interesse de Deus em abençoar os povos é
alcançado na Pessoa de Jesus Cristo, o seu Filho, conforme as
suas próprias palavras: “E eu, quando for levantado da terra, todos
atrairei a mim” (Jo 12.32). Nenhum dos planos de Deus pode ser
frustrado (Jó 42.2), pois Ele faz tudo o que deseja fazer; logo, então,
Apocalipse 7.9 e 10 consta o anúncio de que todas as nações serão
alcançadas pelo interesse divino em abençoá-las.
Desse modo, uma vez que o líder cristão tem o dever de estar
envolvido com o interesse de Deus, parte importante do seu
trabalho é o de abençoar os seus liderados, servindo, assim, como
uma espécie de instrumento por meio do qual o Senhor dispensa as
suas dádivas sobre o seu povo.
O líder cristão deve desejar e buscar uma comunhão real e
sincera com Deus, por meio da qual a bênção de Deus irá alcançá-
lo, e somente assim a sua função em abençoar pessoas poderá ser
cumprida cabalmente, pois ele só pode oferecer aquilo que possui.
Todo verdadeiro líder cristão, portanto, é um agente abençoador.
O QUE NÃO É LIDERANÇA?
Até aqui, o foco esteve sobre o que é liderança e sobre algumas das
principais funções que um líder deve cumprir. Neste ponto, a ênfase
recai sobre uma análise negativa sobre o tema proposto, a saber, o
que não é uma liderança, e, com isso, aquilo que efetivamente se
espera de um líder ficará ainda mais acentuado.
Destaca-se ainda que a importância dessa abordagem também se
confirma pela contribuição em alertar o líder cristão sobre alguns
perigos que o cercam, mui especialmente na tendência que há no
ser humano em julgar-se além do que realmente é; ou seja, essa
reflexão propõe-se a definir limites e evitar excessos que poderão
desagradar a Deus e comprometer o bom andamento da sua
liderança.
É imprescindível sublinhar que estar na posição de líder não
necessariamente implica uma liderança confirmada por Deus e nem
é a garantia de ela ser bem-sucedida. Liderança — principalmente a
cristã — não tem nada a ver com posição.
Liderar não É Ser Superior aos Liderados Desde que
desobedeceu a Deus, o homem tem-se inclinado a
buscar os primeiros lugares e as primeiras posições
como desdobramento da danosa e falsa promessa que
a serpente fez à Eva de que, caso comesse o fruto que
o Criador havia proibido, ela e o seu marido passariam
a ser “como Deus” (Gn 3.5). Acerca da origem e da
causa dos muitos conflitos existentes entre os
homens, leia o que está escrito na carta de Tiago 4.1,2.
A dificuldade em identificar e aceitar o próprio limite de atuação é
uma das trágicas consequências que o pecado trouxe à
humanidade, e a insatisfação é uma das suas principais
consequências, inclusive entre os que atuam na liderança cristã. A
insatisfação é um sentimento provocado, principalmente, por
expectativas frustradas, e isso impõe ao líder a necessidade de
definir bem quais, de fato, devem ser as suas expectativas,
objetivando proteger-se desse mal.
Uma maneira eficaz para evitar as frustrações no exercício da
liderança cristã é ter a clareza de que ser líder não consiste em
ocupar uma posição superior aos liderados. Pelo contrário,
conforme se nota no texto de 2 Pedro 5.1,2, o apóstolo ensina que
ser líder não é: I) Ter autonomia para fazer o que desejar; II) Usar da
sua posição para autopromoção; III) Ter autorização para exigir que
outros lhe sirvam; IV) Ser superior aos demais; e V) Trabalhar com a
expectativa de reconhecimento e recompensa humana.
Liderar não É Dar Ordens Um líder consciente de que
liderar não é estar em posição de superioridade aos
seus liderados não exercerá uma liderança marcada
pela imposição, mesmo porque o verdadeiro líder não
lidera dando ordens, mas, ao contrário disso, influencia
pessoas pelo bom relacionamento e pela sua conduta,
que passa a ser exemplo para os demais.
É urgente o combate à má compreensão do que realmente é ser
um líder, e isso passa, inevitavelmente, primeiro por desconstruir a
ideia de que liderar é “mandar” e, segundo, pela distinção entre o
que é chefiar e o que é liderar. Com a intenção de oferecer uma
contribuição clara, objetiva e eficaz a respeito desses dois pontos,
atente-se para as palavras de Ritch K. Eich: Líderes de verdade não
mandam [...]. Em geral, aprendemos a ser chefes, a mandar, não a
liderar; e, em muitos casos, os chefes são os modelos de conduta
que prevalecem. É raro hoje em dia encontrar indivíduos que não
apenas inspiram os outros com foco, confiança, conhecimento
estratégico e instinto para saber o que é importante, mas também
têm a habilidade de engajar e mobilizar suas tropas, colocando o
próprio ego de lado.8
Jesus não foi um líder que impôs a sua vontade aos seus
liderados, porém não deixou de influenciá-los, tanto pelo peso da
sua autoridade divina, como também pelo privilégio e prazer de
estar na sua companhia. Isso fica muito claro no episódio em que os
apóstolos foram desafiados pelo Mestre a decidir se ficariam ou se
acompanhariam a multidão que, em resposta negativa à mensagem
pregada por Jesus, decidiu deixá-lo, e Pedro respondeu no mesmo
instante: “[...] Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras
da vida eterna” (Jo 6.68). A verdade que Jesus representa, o prazer
da sua companhia e a certeza de momentos de crescimento
levaram o apóstolo Pedro a expressar o quanto os apóstolos foram
influenciados pelo Mestre e decidiram ficar não por obrigação, mas
por prazer, como fruto da influência de Jesus, e não da sua ordem.
Liderar é influenciar, não mandar.
Liderar não É Transferir Responsabilidades Não se
pode confundir delegar funções com transferência de
responsabilidades. O líder centralizador — que não
envolve outras pessoas na execução de funções — é
um problema; no entanto, um líder que nada faz e que
transfere para outros fazerem o que é para ele fazer é
tão trágico quanto. Portanto, é preciso alta
sensibilidade e profundo comprometimento no líder
que deseja estabelecer o equilíbrio entre delegar
funções e cumprir responsabilidades exclusivas.
Os diáconos foram instituídos em um momento desafiador da
História da Igreja, pois, em decorrência do seu crescimento, os
apóstolos começaram a falhar em partes como a atenção às viúvas,
o que resultou em murmuração da parte dos gregos (At 6.1). Diante
desse quadro, os apóstolos foram desafiados a oferecer uma
solução e, de maneira equilibrada, brilhante e admirável, eles
propuseram que as tarefas que não pertenciam à essência do
ministério apostólico fossem delegadas a homens com as
qualidades preestabelecidas, tendo em vista que eles não
deixassem de cumprir a responsabilidade essencial do apostolado,
isto é, a oração e o ministério da palavra (6.2-4). Esse é um
excelente exemplo de equilíbrio entre delegar funções sem deixar
de cumprir responsabilidades, algo tão necessário a um líder cristão.
O líder não transfere responsabilidades, assim como não faz tudo
sozinho.
1 CLINTON, J. Robert. Etapas na Vida de um Líder. Curitiba: Descoberta, 2000, p. 5.
2 EICH, Ritch K. Líderes Não Dão Ordens: Como orientar, inspirar e motivar sua equipe
para alcançar grandes objetivos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2013, p. 21.
3 QUEIROZ, Silas. Maturidade Espiritual do Líder: Orientações bíblicas para um
ministério eficaz. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, pp. 159.
4 BRUCE, A. B. O Treinamento dos Doze. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp. 25,26.
5 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse Edição
Completa. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 441.
6 MAXWELL, John C. O Coração e a Mente do Líder. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 58.
7 ADEI, Stephen. Seja o Líder que sua Família Precisa. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.
37.
8 EICH, Ritch K. Líderes Não Dão Ordens: Como orientar, inspirar e motivar sua equipe
para alcançar grandes objetivos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2013, pp. 25,49,50.
N
CAPÍTULO 2
A PESSOA DO LÍDER
ão há liderança sem a pessoa do líder. Essa é uma declaração
óbvia e pode soar, em certa medida, como ingênua; entretanto,
quando o assunto é liderança, duas coisas devem ser destacadas: I)
Essa é uma das verdades mais importantes; II) Essa é uma das
realidades mais negligenciadas. Por essa razão, este capítulo visa
ultrapassar as fronteiras do trabalho que um líder faz e das
expectativas existentes em torno disso para refletir sobre a sua
constituição pessoal.
Antes de avançar em direção ao objetivo de identificar aspectos
da pessoa do líder e como isso pode e deve influenciar a sua vida e
o seu trabalho, ressalta-se que o líder deve ter autoconhecimento,
ou seja, que ele seja capaz de conhecer a si mesmo, de ser
consciente das suas qualidades e de reconhecer os seus defeitos,
pois somente assim a sua liderança estará em constante
aperfeiçoamento e na direção da excelência. A respeito disso, John
W. Stanko mostra a importância e as razões pelas quais o líder deve
conhecer a si mesmo.9
Dentre as contribuições que Stanko oferece, destaca-se que o
líder que conhece a si mesmo é capaz de identificar os seus pontos
fracos e os seus pontos fortes, o que lhe dá condições de
potencializar as suas qualidades e trabalhar as suas deficiências
objetivando o seu aperfeiçoamento. Fica, portanto, registrada a
importância de o líder ter como meta uma constante autoavaliação,
trabalho que depende de: I) Disposição em realizá-lo; II)
Sensibilidade para identificar as necessidades e as possíveis falhas;
e III) Coragem para agir no sentido de corrigir o que está errado e
propor novas atitudes.
A essa altura, já deve estar claro que, embora a liderança de um
determinado líder seja importante e imprescindível, a pessoa deste
líder é ainda mais importante. Os registros bíblicos a respeito do
trabalho dos muitos líderes que Deus levantou ao longo da história
nunca depreciam a individualidade e as suas necessidades; pelo
contrário, a Palavra de Deus sempre acentua o valor de cada um
deles.
Leia atentamente as palavras do Senhor a Jeremias no instante
do seu chamado: “Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que
saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta” (Jr
1.4,5).
Diante do texto supracitado, considere as seguintes verdades: I)
Jeremias diz que “a palavra do Senhor” foi até ele, isto é, por meio
da sua palavra, o próprio Deus foi lugar onde ele estava; II)
Jeremias foi formado pelo próprio Deus no ventre da sua mãe; III)
Jeremias foi conhecido por Deus antes mesmo de ter sido formado
por Ele, e a expressão conhecer aqui denota relacionamento; IV)
Deus diz que santificou — o mesmo que consagrou ou, ainda,
separou — a Jeremias antes mesmo que ele nascesse, garantindo,
assim, a exclusividade; V) Por fim, Deus diz que presenteou às
nações com Jeremias para que lhes servisse como profeta.
Fica mais do que claro que, antes de entregá-lo para atuar como
profeta, Deus priorizou uma relação pessoal com Jeremias,
utilizando-se de termos bem íntimos e pessoais, como evidência de
que mais importante que o trabalho do profeta é a vida do profeta.
Do mesmo modo, antes de utilizar-se do líder como ferramenta nas
suas mãos, o Senhor da Igreja opta por valorizar e trabalhar a
pessoa do líder nas mais variadas áreas da sua constituição como
pessoa, começando pela sua personalidade, passando pelos
cuidados pessoais que o líder deve ter e nutrindo meios pelos quais
os seus relacionamentos sejam saudáveis e possam beneficiar a
sua vida e o seu trabalho.
O LÍDER COMO INDIVÍDUO
Há uma forte tendência, tanto do líder como dos seus liderados, em
perder de vista o fato de que, por mais bem-sucedido que o líder
possa ser, ele é uma pessoa e, além de ter de ser visto assim, ele
deve ser tratado dessa forma. A personalidade do líder deve ser
levada em conta e valorizada, assim como a sua integralidade e a
sua necessidade de bons, saudáveis e duradouros relacionamentos.
A Personalidade do Líder De acordo com o Novíssimo
Dicionário da Língua Portuguesa, personalidade é a
“qualidade do que é pessoal; caráter próprio de uma
pessoa; aquilo que a distingue de outra”.10 Em uma
ampliação do conceito, a personalidade tem sido
definida como o conjunto de fatores afetivo, emocional
e habitual, que, juntos, formam o ser de uma pessoa.
Além disso, a personalidade também indica a
consciência que a pessoa tem de si mesma e a forma
como ela lida com o ambiente onde vive.
Pensar a personalidade do líder é, portanto, considerar a sua
individualidade, levando em conta o seu bem-estar físico, emocional
e espiritual, haja vista que, em certo nível, o exercício e o sucesso
da sua liderança dependem de que esses aspectos estejam bem
ajustados e equilibrados.
Partindo do princípio de que uma das principais funções de um
líder é a de influenciar os seus liderados, é imprescindível para o
líder cristão a manutenção da coerência entre o que ele ensina e a
forma como vive a sua vida pessoal. O exemplo do líder passa pelo
seu aspecto ético, mas não pode estar limitado apenas a isso,
porém deve envolver a sua estrutura física, a sua constituição
emocional e a sua base espiritual.
Evidentemente que o cuidado com a saúde física, emocional e
espiritual é indispensável ao líder cristão, só que esse cuidado não
se dá pelo cuidado em si, mas deve ser moldado e cultivado pelos
padrões bíblicos; afinal de contas, trata-se de uma liderança cristã e
que, acima de qualquer outro objetivo, tem como meta a glória de
Deus e a condução da igreja no seu alvo de cumprir a sua missão
na terra. O cuidado integral do líder cristão deve, portanto, ser
pautado pelas Escrituras.
A Humanidade do Líder Refletir sobre a constituição
integral do líder depende do destaque de que o homem
foi criado por Deus, mas não somente isso, sendo
indispensável que se considere como isso se deu e
qual o propósito da sua existência. Sobre isso, Jacó
Armínio escreve: Assim foi criado o homem, para que
pudesse conhecer, amar e adorar o seu Criador, e viver
com Ele para sempre, num estado de bem-aventurança.
Por este ato de criação, Deus exibiu, de maneira
manifesta, a glória da sua sabedoria, bondade e
poder.11
A expressão “Assim foi criado o homem” feita por Armínio resulta
numa questão central: “Assim como?” E essa questão pode ser
respondida sob dois aspectos: I) O processo — leia-se o método —
pelo qual Deus criou o homem; II) A constituição do homem, isto é,
a sua estrutura. Nota-se, portanto, que o homem distingue-se dos
demais seres criados por Deus, e isso se dá por diferentes razões,
dentre as quais se destaca a sua dupla constituição, isto é, a sua
estrutura material e imaterial (Gn 2.7). Na sua Teologia Sistemática,
o teólogo Norman Geisler afirma que “a natureza dos seres
humanos inclui a sua dignidade” e, com base no texto de Salmos
8.5, ele destaca que “a humanidade é uma criação especial de
Deus”.12
Quanto à criação do homem e à sua constituição, a Bíblia
apresenta Deus como o idealizador e o criador do homem (Gn 1.27;
2.7; 5.1,2; 6.7; Dt 4.32; 43.1,7; 45.12; Rm 9.20; 1 Co 15.45; Cl 3.10;
1 Tm 2.13; Tg 3.9). A Escritura coloca o homem como uma criação
especial; afinal, o homem foi criado (do hebraico barra — criar algo
novo), formado (do hebraico asah — preparado) e moldado (do
hebraico yatzar — modelar).
A Bíblia também afirma que Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança (ver Gn 1.27), e isso tem sido tema de muita discussão,
e, dentre as diferentes formas de interpretar essa verdade,
encontra-se a que defende que a imagem e a semelhança de Deus
podem ser notadas no trino ser do homem: corpo, alma e espírito.
Aqui está a forma como Deus constituiu o homem ao criá-lo, e,
acerca disso, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus
estabelece que: [...] o ser humano é constituído de três substâncias,
uma física, corpo, e duas imateriais, alma e espírito [...]. Essa
doutrina é chamada tricotomia [...] a natureza humana consiste
numa parte externa, o corpo ou a carne, chamada “homem exterior”
e uma parte interna, denominada “homem interior”, composta do
espírito e da alma.13
Definitivamente, o homem é um ser tricotômico, isto é, a sua
estrutura é constituída de corpo, alma e espírito (Ec 12.7; Mt 6.25;
10.28; 1 Co 5.3,5; 1 Ts 5.23; Hb 4.12). Uma vez que o corpo foi
criado por Deus, que o espírito pertence a Deus e que a alma é
dada por Ele, não se pode pensar que um sobreponha ao outro em
termos de importância, pois se cada uma dessas partes advém do
Criador, todas elas têm a mesma importância e o mesmo valor.
O líder deve ser resoluto no sentido de buscar o equilíbrio entre as
partes da sua constituição humana sem nunca desconsiderar a sua
integralidade. Indubitavelmente, o apóstolo João tinha isso em
mente quando expressou o seu desejo de que Gaio tivesse saúde
física, emocional e espiritual (3 Jo 2).
O líder bem-sucedido é aquele que, dentre outras coisas, valoriza
cada área da sua constituição humana, pois reconhece que foi Deus
quem o criou dessa forma, razão pela qual ele deve buscar a tão
desejada e necessária disciplina com vistas ao cuidado com a sua
vida, em nível integral, e não parcial. Considere-se também que um
líder saudável em todas as áreas da sua vida tem maior condições
de cumprir a sua missão com mais empenho, dedicação e eficácia.
O Líder e os seus Relacionamentos Conforme já visto,
o cuidado do líder cristão deve compreender cada área
da sua estrutura humana, mas, afinal de contas, como
isso pode ser feito efetivamente?
Há muitos meios pelos quais o líder cristão não somente pode,
como também deve cuidar da sua vida pessoal, emocional e
espiritual; entretanto, relacionamento é uma palavra que contribui no
sentido de restringir essa reflexão para responder a essa questão.
Isso mesmo! O líder cristão que almeja alcançar êxito na sua
trajetória pessoal e ministerial deve ser alguém que valoriza, busca
e cuida dos seus relacionamentos em cada uma das áreas da sua
vida.
O que se propõe aqui é uma reflexão em torno da necessidade
que o líder tem de relacionar-se bem com Deus, consigo mesmo e
com o próximo, pois, fazendo assim, toda a sua estrutura humana
estará coberta por relacionamentos que contribuirão
significativamente com a sua saúde física, emocional e espiritual, o
que resultará, naturalmente, em frutos duráveis da sua liderança.
O pecado cometido por Adão e Eva afetou negativamente o
relacionamento do homem nos seus três níveis: I) Com Deus, pois,
assim que pecaram e perceberam a presença de Deus no jardim,
procuraram uma forma de esconderem-se do Senhor (Gn 3.8); II)
Consigo, já que o texto bíblico informa que, assim que pecaram,
ambos estavam nus (3.7); e III) Com o próximo, mesmo porque,
quando questionado sobre o seu erro, Adão atribuiu a culpa à Eva,
como clara demonstração de egoísmo e falta de compaixão com o
seu cônjuge (3.12).
O Senhor Jesus veio para desfazer não somente os efeitos, como
também as próprias obras do Diabo (1 Jo 3.8). A redenção operada
por Jesus é capaz de resolver o problema do homem com Deus (2
Co 5.19; Cl 2.14-17), consigo (Rm 8.1-21) e com o próximo (Ef 5.21-
33). Com base nisso e ciente de que o líder cristão tem a
responsabilidade de ensinar, guiar e influenciar os seus liderados a
viver e a experimentar as bênçãos que Cristo conquistou na cruz, a
restauração dos relacionamentos nas suas três dimensões deve ser
parte das ações de uma liderança cristã comprometida com o
Senhor da Igreja.
É evidente que uma das condições para que o líder tenha êxito
nessa tarefa é por meio do exemplo, e, nesse caso, à medida que
ele mantém um bom relacionamento com Deus, consigo e com os
seus semelhantes, os seus liderados serão influenciados e
motivados a também viver nesse mesmo nível, ou, ao menos, ter
esse padrão como ideal a ser alcançado. A promoção e a
manutenção de relacionamentos saudáveis, portanto, devem ser
uma das prioridades na agenda de um líder cristão.
CUIDADOS QUE UM LÍDER DEVE TER
Ainda numa abordagem sobre a pessoa do líder, este capítulo
possui um caráter exortativo no sentido de alertar sobre alguns dos
muitos cuidados que o líder cristão deve ter no exercício da sua
liderança, começando pelo cuidado que o líder deve ter em
conhecer e atuar dentro do seu próprio limite, passando pela
necessidade e o incentivo de o líder manter-se em constante
processo de aperfeiçoamento por meio do preparo inerente ao seu
trabalho e finalizando com a advertência sobre os perigos de
expectativas desalinhadas aos padrões bíblicos.
Cuidado em Conhecer o seu Próprio Limite Não é
surpresa para ninguém o fato de que todo líder deseja
ter êxito na sua liderança. Mas, afinal de contas, qual o
critério para que um líder cristão seja considerado
bem-sucedido?
Números são importantes e têm, sim, o seu lugar no processo de
análise sobre a performance de um determinado líder; influência —
nas suas mais variadas formas –— também tem o seu lugar e
possui um caráter estratégico em busca dos objetivos
preestabelecidos de uma liderança; do mesmo modo, a capacidade
intelectual de um líder também desempenha um importante papel na
conduta dos projetos a ser elaborados, executados e avaliados.
Entretanto, dentro de uma perspectiva estritamente bíblica, a
principal “régua” para medir o sucesso de uma liderança é a
fidelidade, e quem estabelece essa verdade é o apóstolo Paulo, ao
escrever: “Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se
ache fiel” (1 Co 4.2).
Mas, o que caracteriza a fidelidade de um líder cristão?
Por fidelidade deve-se entender a qualidade de um líder fiel, que,
por sua vez, tem como características a confiabilidade nos seus
relacionamentos e nos seus negócios. Em uma análise ainda mais
ampliada, o líder fiel é alguém que cumpre o que diz, que cumpre
com as suas obrigações, sendo, por isso, digno de confiança.14
Sendo assim, de maneira objetiva, o líder cristão fiel pode ser
definido como aquele que pauta o exercício da sua liderança no
padrão ensinado por Jesus, quer seja por palavras, quer seja por
exemplos práticos.
Conforme será visto mais à frente, o Senhor Jesus é o maior líder
que já passou por esta terra, e as suas qualidades são inúmeras em
quantidade e admiráveis em qualidade. Aqui, porém, o destaque
repousa sobre a sua humildade, pois essa virtude é um dos seus
argumentos ao convidar os seus discípulos a aprenderem dEle (Mt
11.29). Fundamentado nisso, destaca-se que a humildade é uma
qualidade necessária a todo líder cristão que deseja ser contado
entre os que são chamados de fiéis. Mas, afinal, o que é ser um
líder humilde?
Em linhas gerais, o líder cristão marcado pela humildade é aquele
cujas ações demonstram dependência em Deus em detrimento de si
mesmo, assim como é capaz de valorizar as outras pessoas.15
Como se vê, a humildade manifesta-se, portanto, de diferentes
formas e em diferentes dimensões, quer dizer, tanto na que é
conhecida somente por Deus como naquela que os homens têm
conhecimento; a humildade dá os seus frutos nas esferas visível e
invisível, interna e externa. Do mesmo modo, é preciso que o líder
cristão busque em Deus um coração humilde para que as suas
ações sejam capazes de refletir essa realidade.
Um líder que se parece com Jesus em demonstração de
humildade é alguém que tem conhecimento de si mesmo e do seu
limite de atuação. Com essa preocupação, o apóstolo Paulo advertiu
Timóteo a que — mesmo diante do sofrimento, rejeição e oposição
— cumprisse o seu chamado de evangelista (2 Tm 4.5).
A humildade, portanto, propicia ao líder cristão as seguintes
bênçãos: I) Conhecimento e clareza quanto ao seu lugar e à sua
atuação dentro do que Deus está realizando no mundo; II)
Motivação e condições para enfrentar os desafios inerentes à
liderança cristã; III) Manter-se firme sem perder de vista qual é a sua
missão efetivamente; capacidade de respeitar e honrar com
naturalidade a atuação de outras pessoas nas suas devidas
funções, mantendo, assim, relacionamentos bons, saudáveis e
duradouros.
Como evidência de um coração humilde, o líder cristão de
sucesso atua nos seus próprios limites e honra as atuações e o
valor do trabalho dos seus irmãos.
Cuidado em Preparar-se Ninguém vai além do preparo
que têm. Essa é uma máxima que deve fazer parte das
convicções de um líder cristão que deseja ser bem-
sucedido no seu ministério. Lembrando que sucesso,
aqui, está relacionado com fidelidade, e não com
expectativas simplesmente humanas. Diante disso e
considerando a integralidade da pessoa do líder, essa
seção dedica-se em refletir sobre o compromisso do
líder com o seu preparo em três aspectos principais: I)
Espiritual; II) Intelectual; III) Pessoal.
O preparo de um líder cristão deve ser dinâmico, permanente e
interminável. Há muitos textos bíblicos que confirmam a
necessidade de o líder buscar crescer e aperfeiçoar-se
constantemente, porém poucos retratam isso tão bem quanto as
seguintes palavras de Paulo: “[...] não julgo que o haja alcançado;
mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para
o alvo [...]” (Fp 3.13,14).
A saúde da vida espiritual de um líder cristão é imprescindível
para a sua liderança, e a sua manutenção depende de práticas
como oração, meditação bíblica, consagração, conversas sagradas
que contribuam com o crescimento espiritual; afinal de contas, é
isso o que se espera de cristãos maduros (1 Co 14.26). Essas
práticas espirituais certamente permitirão que o líder tenha a
sensibilidade necessária e a firmeza esperada para o bom uso dos
dons espirituais enquanto exerce a sua liderança (1 Pe 4.10). O
preparo intelectual também tem o seu lugar de destaque na galeria
dos cuidados que um líder precisa ter, e isso é visto na
admoestação que o apóstolo Paulo fez a Timóteo, ao escrever:
“Persiste em ler, exortar e ensinar [...]” (1 Tm 4.13). Por fim, o
preparo pessoal do líder também é parte de um todo a ser
considerado como prioritário no cuidado consigo, conforme Paulo
advertiu os líderes da igreja que estava em Éfeso: “Olhai, pois, por
vós [...]” (At 20.28) e a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo [...]” (1
Tm 4.16).
É evidente que os cuidados nos níveis apresentados aqui
representam um grande desafio a todo líder, e isso só poderá
acontecer mediante uma vida disciplinada. Essa disciplina é
chamada por Bill Hibells de “autoliderança” e é explicada por ele nas
seguintes palavras que pertencem a parte de uma experiência
pessoal dele: A sua recomendação? “É o gerenciamento de si
mesmo que deveria ocupar 50% do nosso tempo e o melhor das
nossas habilidades. E quando fazemos isso, os elementos éticos,
morais e espirituais do gerenciamento não têm como ser ignorados”.
Estava aturdido. Ele realmente queria dizer isso? Que deveríamos
dedicar 50% do nosso tempo a autoliderança, e dividir os 50%
restantes entre liderar acima, abaixo e lateralmente? [...] Isso é
autoliderança. E ninguém — digo ninguém — pode fazer isso por
nós. Todo líder tem de fazer esse trabalho sozinho, e isso não é
fácil. Na verdade, Dee Hock afirma que, por ser um trabalho tão
duro, é evitado pela maioria dos líderes. Preferimos tentar inspirar
ou controlar o comportamento dos outros a enfrentar a rigorosa
tarefa de refletir a nosso respeito e de crescer interiormente.16
Conclui-se, portanto, que a disciplina pessoal de um líder cristão
proporcionará a ele condições para que a sua liderança seja
próspera e duradoura.
Cuidado com as Expectativas Erradas As expectativas
erradas representam um perigo a qualquer pessoa, mui
especialmente aos líderes cristãos, pois a frustração
pode conduzi-los a situações inimaginavelmente
desagradáveis e até prejudiciais. Por esse motivo, a
Bíblia Sagrada adverte sobre isso de diferentes formas,
quer seja por meio de fatos históricos, quer seja pela
apresentação da expectativa genuinamente bíblica.
Samuel pensou que, ao pedir um rei, o povo estivesse rejeitando a
ele, mas o Senhor disse-lhe: “[...] pois não te tem rejeitado a ti;
antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele” (1 Sm
8.7). Uma expectativa errada pode levar um líder a frustrar-se e a
decepcionar-se.
Atente para as palavras de Paulo a Timóteo: “Por este motivo, te
lembro que despertes o dom de Deus, que existe em ti [...]” (2 Tm
1.6). Diante da rejeição e da oposição de alguns e do desafio de ter
de visitar a Paulo na prisão em Roma, Timóteo foi admoestado a
despertar o dom que havia nele; observe, porém, que o apóstolo
utiliza a expressão “Por este motivo”. Qual seria “este” motivo? A
resposta está nos versículos anteriores, em que há principalmente
as informações da trajetória de fé e ministerial de Timóteo, o que,
para Paulo, eram tudo o que o jovem obreiro necessitava para
cumprir o seu ministério. O líder cristão corre um sério risco quando
perde de vista o que realmente precisa para exercer a sua liderança.
Mas, afinal, qual deve ser a expectativa do líder cristão?
No que se refere à ação de Deus, o líder deve confiar que todo
crescimento procede do Senhor (1 Co 3.6); já no que concerne à
ação do homem diante de Deus, a expectativa deve ser de agradar
a Deus por meio da sua fidelidade (1 Co 4.1-2).
A VIDA ESPIRITUAL E FAMILIAR DO LÍDER
Para finalizar esta parte cujo objetivo tem sido enfatizar alguns dos
cuidados que devem estar presentes na trajetória de um líder, a
ênfase recai sobre dois aspectos que servem como selo para os
demais, pois tanto a vida espiritual como a estrutura familiar para o
exercício da liderança de alguém não é só fundamental, como
também vital. Esta seção é dividida da seguinte forma: I) A
espiritualidade de um líder cristão; II) A relação entre o líder e a sua
família; III) Práticas espirituais no exercício da liderança cristã.
A Espiritualidade de um Líder Cristão Como definir a
espiritualidade de um líder cristão?
Em primeiro lugar, destaca-se o que se entende aqui por
espiritualidade. A esse respeito, atente para o que Alister McGrath
tem a dizer: Espiritualidade trata, então, da vida da fé — aquilo que
a impulsiona e motiva, e o que as pessoas consideram útil para
sustentá-la e desenvolvê-la. Trata-se do que anima a vida do cristão
e o instiga a aprofundar e aperfeiçoar aquilo que no presente está
apenas em seu início. Espiritualidade é a prática na vida real da fé
religiosa de uma pessoa — o que a pessoa faz com o que crê. Não
se trata apenas de ideias, embora as ideias básicas da fé cristã
sejam importantes para a espiritualidade cristã. Trata-se de como a
vida cristã é concebida e exercitada. Trata-se da plena
compreensão da realidade de Deus.17
A espiritualidade cristã está fundamentada na experiência pessoal
e real do cristão com o seu Senhor, experiência esta que influencia
a forma como se crê e o seu relacionamento com Deus, a maneira
de pensar a existência humana, a forma como as pessoas
relacionam-se consigo e com o mundo exterior. Dito de outra forma,
a espiritualidade cristã é a vida espiritual na prática, referindo-se às
evidências dos fundamentos e princípios cristãos. Percebe-se que a
espiritualidade cristã lida com a complexa relação entre o invisível e
o visível, o sobrenatural e o natural ou, ainda, o divino e o humano.
A espiritualidade de um líder cristão é, portanto, um tema a ser
levado em alta consideração, pois diz respeito à sua relação com
Deus, com o meio onde vive e com as pessoas com as quais
convive, e, por meio de uma espiritualidade bíblica e saudável, essa
liderança agradará a Deus e o favorecimento aos liderados como
prioridades na sua prática, o que certamente refletirá o perfil de uma
liderança verdadeiramente aprovada pelo Senhor.
O Líder e a sua Família Liderar no âmbito cristão é só
mais uma forma de servir a Deus e agradá-lo. Nesse
caso, o líder cristão é desafiado a sentir e a agir sob os
mesmos princípios da vida cristã, com o diferencial de
que isso é feito enquanto exerce a sua liderança. Uma
das formas mais eficazes para verificar-se a
maturidade de um cristão e a sua vida espiritual é por
meio da engrenagem da sua relação familiar.
Paulo ensinou a igreja que estava em Éfeso sobre a necessidade
de uma vida cheia do Espírito Santo e indicou que o fruto disso é a
bondade, a justiça e a verdade (Ef 5.9,18). Em seguida, o apóstolo
passou a mostrar como deve ser a vida familiar de um cristão como
clara demonstração dessa vida sob o domínio do Espírito Santo com
as seguintes características: I) A esposa que vive em sujeição ao
seu marido (5.22); II) O marido que ama a sua esposa (5.25); III)
Filhos que obedecem aos seus pais (6.1-3); IV) Pais que não
provocam a ira dos seus filhos (6.4). Em linhas gerais, uma vida
cristã madura sob o domínio do Espírito de Deus resultará em
demonstrações práticas dentro de uma engrenagem familiar bem
ajustada e que glorifica ao Senhor.
Como cristão, o líder que atua no contexto da Igreja de Cristo
também é responsabilizado por trabalhar pela manutenção de uma
família saudável com vistas a glorificar a Deus e servir de exemplo
aos seus liderados. Ao orientar Timóteo sobre o perfil daqueles que
deveriam ser separados para trabalhar no contexto da igreja como
líderes, Paulo esteve focado — praticamente o tempo todo — no
aspecto do relacionamento, principalmente no que se refere à
família (1 Tm 3.1-13), e não foi — e nem poderia ser — diferente do
que falou a Tito (1.5). Cuidar da sua vida familiar é, portanto, dever
elementar de um líder cristão de sucesso.
Práticas Espirituais de um Líder A última abordagem
deste capítulo diz respeito às práticas espirituais para
uma liderança cristã exitosa, e, assim como para os
demais cuidados, elas exigem disciplina para que
sejam atendidas. David Kornfield apresenta uma série
de práticas espirituais separadas em duas classes,
chamadas por ele de “disciplinas de abstinência e
disciplinas de engajamento”. As práticas das
disciplinas de abstinência são: I) Solitude; II) Silêncio;
III) Jejum; IV) Frugalidade; V) Castidade, pureza; VI)
Segredo, sigilo; VII) Sacrifício. Já as práticas das
disciplinas de engajamento são: I) Estudo; II)
Adoração; III) Celebração; IV) Serviço, oração; V)
Comunhão; VI) Confissão; VII) Submissão.18
Fica, portanto, um alerta: líder cristão, cuide-se!
9 STANKO, John W. Muitos Líderes, Pouca Liderança. Niterói: BV Books, 2009, p. 121.
10 TERSARIOL, Alpheu. Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Li-Bra
Empresa Editorial, p. 617.
11 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio (vol. 2). Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 62.
12 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática (1). Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 941.
13 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de
Janeiro: CPAD, 2017, p. 78.
14 A fonte pesquisada para a fundamentação do pensamento aqui estabelecido sobre a
fidelidade é o Dicionário Bíblico Strong (STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong:
Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002,
ref. 4103).
15 Ibid. ref. 5011
16 HIBELLS, Bill. Liderança Corajosa. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 185,186.
17 MCGRATH, Alister E. Uma Introdução à Espiritualidade Cristã. São Paulo: Editora
Vida, 2008, p. 37.
18 KORNFIELD, David. O Líder que Brilha: Sete relacionamentos que levam à excelência.
São Paulo: Editora Vida, 2007, p. 90.
É
CAPÍTULO 3
A LIDERANÇA DE MOISÉS
impossível fazer um estudo sincero sobre liderança sob uma
perspectiva bíblica do Antigo Testamento sem levar em conta o
exemplo de Moisés; afinal de contas, pouquíssimos assemelham-se
a ele em riqueza quando o assunto é contribuição a ser oferecida no
assunto aqui tratado. Por essa causa, este capítulo é dedicado a
tomar a Moisés como referência com o objetivo de somar aos
demais exemplos aqui também elencados para a construção de um
“edifício” sobre o qual os líderes cristãos possam firmar-se à medida
que cumprem a sua missão em tempos atuais.
Embora seja admirado pela liderança bem-sucedida que teve e
pela sua representatividade profética, Moisés foi um ser humano
cujas limitações foram-lhe inerentes. Sendo assim, ele não foi isento
da necessidade de passar por um longo e intenso processo de
treinamento que visou prepará-lo para que cumprisse a sua missão;
do mesmo modo, Moisés foi flagrado como um homem portador de
limitações nas suas mais variadas formas, conforme se vê em
diferentes momentos da sua trajetória, mui especialmente na
ocasião em que o seu sogro, Jetro, advertiu-o para buscar ajuda a
fim de que pudesse liderar o povo de Israel. O exemplo de Moisés
ensina que o líder que delegar tarefas demonstra ser alguém que
reconhece as limitações da sua humanidade, ao passo que a
realidade dessas limitações é um meio pelo qual o líder é lembrado
da sua dependência de Deus.
Partindo, portanto, do princípio de que uma liderança bem-
sucedida é aquela que compartilha tarefas, a proposta deste
capítulo fundamenta-se em refletir sobre o perigo da sobrecarga na
vida de um líder cristão, a importância de encontrar pessoas com
que se possa dividir as responsabilidades e de pedir a Deus que
essas pessoas sejam por ele colocadas no caminho desse líder.
O PREPARO DE MOISÉS
Dentre os muitos que se encarregam de reafirmar a relevância da
vida e do ministério de Moisés, as palavras do Senhor ao seu
respeito ocupam uma elevada posição, conforme se lê em Números
12.6-8: E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver
profeta, eu, o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer ou em
sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés, que
é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista, e
não por figuras; pois, ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois,
não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?
Diante das duras críticas que Arão e Miriã faziam a Moisés, o
Senhor Deus saiu em defesa do seu servo sob os seguintes
argumentos: I) Deus testemunhou que Moisés foi fiel em toda a sua
casa; e II) O Senhor informou que a relação entre ele e Moisés era
direta e sem intermediários. Mas, afinal, como Moisés alcançou
essa estatura espiritual diante de Deus?
Inquestionavelmente, essas qualidades de Moisés foram
desenvolvidas nele por intermédio de um processo de preparo a que
o submeteu Deus com vistas o cumprimento de um propósito
preestabelecido por Ele.
No mesmo contexto em que Deus sai em defesa de Moisés diante
dos ataques de Arão e Miriã, há a seguinte informação: “E era o
varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia
sobre a terra” (Nm 12.3). Se levarmos em conta que Moisés
assassinou um homem em um determinado momento da sua vida
(Êx 2.11-3.22), a informação sobre a sua mansidão só pode fazer
sentido e ser explicada com algo significativo que tenha acontecido
entre esses dois fatos, e não restam dúvidas de que essa
transformação deu-se como resultado desse processo de disciplina
e de treinamento a que ele foi submetido.
A Infância de Moisés O ministério de líder que Moisés
exerceu não foi algo separado da sua trajetória
pessoal, começando pelo seu nascimento e o
desenvolvimento da sua infância. Do início ao fim, a
história de Moisés foi uma providência divina e, em
cada etapa, é possível identificar o processo a que ele
foi submetido como treinamento para que pudesse ser
exitoso na sua missão.
Moisés nasceu em um período sombrio da história de Israel, o seu
povo. Faraó deu ordem para que todos os meninos hebreus recém-
nascidos fossem assassinados, o que afetava e ameaçava Moisés;
entretanto, Deus preservou a sua vida soberana e milagrosamente,
conduzindo-o pelo rio Nilo até que chegasse à filha de Faraó, que
decidiu adotá-lo e encaminhou-o para que a sua própria mãe
amamentasse-o até que se tornasse grande e, então, fosse enviado
ao palácio (Êx 1.15,16; 2.1-10). Não há dúvida alguma de que Deus
guiou Moisés já nos seus primeiros momentos de vida, conduzindo-
o até a casa de Faraó, que, para Stanko, foi para educá-lo, já que,
na sua visão, Deus projetou a educação como parte do preparo de
Moisés, assim como é de fundamental importância para todo líder.19
A forma como Deus conduziu a história de Moisés, principalmente
no seu início, isto é, na sua infância, sublinha o fato de que a
formação de um líder é processual e dinâmica. Isso quer dizer que,
de forma soberana e providencial, o Senhor utiliza-se de cada fase e
de cada acontecimento da vida de um líder para treiná-lo e prepará-
lo.
Moisés, portanto, foi um líder treinado por Deus em cada uma das
fases da sua vida com vistas a estar pronto para a missão a que foi
designado.
Moisés no Palácio Terminado o período de ser cuidado
por Joquebede, a sua mãe, era a hora de Moisés ir para
o palácio, e longe de ter sido com o propósito de
proporcionar conforto e tranquilidade ao jovem hebreu,
a sua ida para a corte teve um propósito estratégico do
ponto de vista divino, o que é confirmado pelos
acontecimentos sucedentes. Destaca-se, conforme
defendido por Leo G. Cox, que o próprio nome dado a
Moisés foi uma forma de impregnar no jovem o cuidado
e o propósito de Deus com a sua vida, pois a própria
pronúncia do seu nome serviu como meio de
“lembrança constante de sua origem, pois o significado
hebraico é ‘tirado para fora’ e o significado egípcio é
‘salvo da água’” e “as primeiras palavras da mãe
produziram fruto que se manteve vivo no coração do
rapaz”.20
Moisés teve de conviver com uma “dupla identidade”, a de hebreu
de nascimento e a de egípcio de criação. Ao mesmo tempo, teve de
lidar com as facilidades e as oportunidades do palácio e com a triste
realidade de injustiça e sofrimento que o seu povo sofria. Esse
conflito durou até que ele teve de decidir defender um dos seus
irmãos hebreus ou o ignorar, e, conforme a informação bíblica, ele
optou por assassinar o egípcio que maltratava um dos hebreus (Êx
2.11,12).
Aqui o que precisa receber destaque é o fato de que a sua
passagem pelo palácio — ainda que haja pouca informação sobre
esse período — representa uma parte importante do preparo a que
Moisés foi submetido, pois ali recebeu instruções que forjaram a sua
capacidade intelectual (At 7.22), além de ter tido acesso a todas as
facilidades inerentes a um ambiente palaciano, pois, de acordo com
as palavras do escritor da carta aos Hebreus, o líder de Israel teve
de renunciar algo de elevado valor para que pudesse atender ao
chamado divino (11.24).
A inserção de Moisés no palácio não objetivou o seu conforto
pessoal, mas teve o propósito divino de prepará-lo em um nível que,
somente naquele ambiente, isso poderia acontecer com vistas a
libertação de Israel da servidão do Egito, e isso confirma duas
importantes verdades: I) O sucesso de uma liderança passa pelo
seu preparo; e II) A preparação de um líder visa o benefício dos
seus liderados.
Moisés no Deserto O processo a que Moisés foi
submetido como meio de prepará-lo para a sua missão
foi marcado por contrastes, ou, ainda, por “altos e
baixos”. Não é preciso muito esforço para identificar a
dinâmica desse processo, pois ele foi conduzido da sua
casa ao deserto, sendo este último um grande
contraste, o que acentua ainda mais o fato de que,
definitivamente, Deus inseriu-o num treinamento
intensivo.
A compaixão e a identificação com as necessidades de pessoas
vulneráveis, fragilizadas e subjugadas caracterizaram a liderança de
Moisés, e isso passou a ser percebido justamente no período da sua
fuga para as regiões desérticas de Midiã.
Além do interesse demonstrado em prestar auxílio aos fracos e
necessitados, que é bem explicitado pelo texto bíblico, é possível
notar outras duas características da liderança de Moisés e que o
período em que esteve no deserto serviu para sublinhar isso, sendo
elas: I) O seu interesse pelo bem-estar do próximo, ou seja, o seu
envolvimento com os problemas de outras pessoas com a intenção
de ajudar a solucioná-los; e II) O senso de justiça demonstrado pela
sua atitude em defender quem estava do lado da verdade.
No deserto, Moisés pôde aprender o caminho da solidão, pois
teve de enfrentar o esquecimento de muitos; teve, no entanto,
condições de conhecer a Deus noutro nível e, consequentemente,
ter uma visão a respeito de si mesmo, constatando com isso as
suas fragilidades e conhecendo o seu próprio lugar.
Do rio Nilo para os braços da filha de Faraó; do palácio para a
casa dos seus pais; da casa dos seus pais de volta ao palácio e daí
direto para o deserto. Diferentes lugares e circunstâncias, porém
com uma grande certeza: a presença de Deus conduzindo o líder
Moisés à maturidade com vistas ao aprofundamento das suas bases
sobre as quais o edifício da sua liderança seria estabelecido.
A presença de Deus e a consciência da sua missão, portanto, fez
com que Moisés perseverasse diante do Senhor e do seu propósito.
O CHAMADO DE MOISÉS
Diante das dificuldades e dos desafios inerentes a uma liderança
cristã, o que é capaz de sustentar o líder na sua missão?
A resposta a essa pergunta pode ser dada a partir da explanação
de Lorin Woolfe na qual ele explica que a consciência de Moisés
sobre a sua missão fez com que ele pudesse permanecer firme e a
sua liderança não fosse abalada.21 No entanto, o que foi
responsável pela clareza que Moisés teve da sua missão?
Aquilo que começou a ser gerado no coração de Moisés a partir
dos relatos sobre a sua trajetória à medida que Deus trabalhava
nele passou a ter uma conotação mais prática por ocasião da sua
experiência quando recebeu o chamado divino. Essa concretização
representada no chamado que recebeu de Deus deu condições a
Moisés para que este permanecesse firme na sua missão de liderar
a Israel, não obstante os apertos que teve de enfrentar.
Essa seção é dedicada a tratar, sob a perspectiva de Moisés, a
respeito da natureza de um chamado, da sua importância e a
experiência vivida no ato do chamado.
A Natureza do Chamado Até que fosse encontrado por
Deus no deserto, Moisés não demonstrou interesse de
ocupar uma posição em que pudesse destacar-se.
Diante do desinteresse de Moisés e do fato de que
recebeu o chamado de Deus, fica evidente que: I) A
iniciativa foi de Deus, e não de Moisés; II) A escolha foi
divina, e não humana; e III) Não há mérito algum em
Moisés (que foi chamado), mas, sim, em Deus (que o
chamou).
O chamado de Moisés teve uma natureza divina, já que a sua
fonte foi o próprio Deus. Nesse caso, destaca-se que, à sua
semelhança, o líder cristão tem, no mínimo, uma tríplice
manifestação: I) Em relação a Deus, que é a natureza da autoridade
espiritual sob a qual a liderança é exercida; II) Em relação aos
liderados que, à medida que identificam os traços de uma
verdadeira chamada do seu líder, se submetem de forma natural e
respeitosa; e III) Em relação a si mesmo, pois, diante dos desafios a
ser enfrentados, ele terá a certeza de que foi Deus quem o chamou,
razão pela qual Ele mesmo se encarregará de sustentá-lo e de
garantir-lhe a vitória.
A compreensão sobre a natureza divina do seu chamado deu a
Moisés condição necessária para compreender que o objetivo de
uma liderança espiritual não deve restringir-se a interesses
pessoais. Moisés foi um líder desprendido, cujo interesse nunca foi
a promoção do seu próprio nome, mas sempre se dedicou a
glorificar a Deus e a abençoar os seus liderados, como se vê no
episódio em que Moisés prefere ter o seu nome riscado do livro de
Deus a ver o povo ser destruído e o nome do Senhor ser
envergonhado entre os outros povos (Êx 32.9-14,30-35).
O exemplo da liderança de Moisés reafirma que a natureza de um
chamado à liderança é determinante para as suas motivações, as
suas ações e as suas expectativas.
A Importância do Chamado Sobre a importância do
chamado, James M. George argumenta e explica o
seguinte: O chamado de Deus para o ministério
vocacional é diferente do chamado à vocação e do
chamado que atinge todos os crentes: o serviço. Trata-
se de uma convocação de homens selecionados para
servir como líderes da igreja. Os destinatários desse
chamado precisam ter a certeza de que Deus assim os
escolhe para liderar.22
A certeza do chamado é algo imprescindível ao líder espiritual.
Isso é consoante ao conceito exposto diante de Deus por Moisés de
que o povo não o ouviria sob o argumento de que o Senhor não
havia aparecido a ele (Êx 4.1). Definitivamente, está claro que o
povo só daria ouvidos a alguém que comprovadamente esteve na
presença de Deus e dEle recebeu orientações e autorização para
liderá-lo. Estar na presença de Deus implica ter sido chamado para
isso, de onde procede toda a autoridade para o exercício de uma
liderança espiritual.
Falar e liderar em nome de Deus sem ter sido por Ele chamado e
designado é muito mais insano do que falar ao telefone sem que
haja uma chamada real. Exercer a liderança cristã sem um chamado
divino é, inquestionavelmente, uma tragédia anunciada. Moisés
apresentou as suas dificuldades e até mesmo as suas desculpas
diante do chamado divino, e, embora isso confirme a seriedade e o
cuidado com que ele relacionou-se com a tarefa para a qual foi
designado, foi o propósito de Deus que prevaleceu no fim.
À semelhança de Moisés, o profeta Jeremias também hesitou
diante do seu chamado, e, com base nisso, Eugene Peterson afirma
que “as desculpas que apresentamos são plausíveis e, com
frequência, são fiéis aos fatos, mas, no entanto, ainda não passam
de meras justificativas e são proibidas por nosso Senhor”.23
A hesitação de homens como Moisés e Jeremias,
verdadeiramente chamados por Deus, deve ser levada em alta
conta, principalmente diante do triste fato de que há muitos que
lidam com isso de forma irresponsável e até leviana. Liderar o povo,
em qualquer nível, é algo pesado e deve ser feito com temor e
reverência, mas somente com uma consciência cativa ao chamado
divino isso poderá realmente acontecer.
Esse episódio da vida de Moisés mostra, portanto, a importância
do chamado na vida de um líder em dois aspectos: I) As limitações
humanas não anulam o propósito de Deus demonstrado em um
chamado; e II) O chamado é uma garantia dada por Deus de que,
não obstante os desafios, o líder por ele estabelecido será exitoso
na sua missão, terá autoridade diante do povo e poderá descansar
na bondade daquEle que o chamou.
A Experiência do Chamado Outro aspecto muito
importante a ser levado em consideração no chamado
que Moisés recebeu de Deus é o registro detalhado que
a Bíblia faz da experiência que o marcou
permanentemente.
Três verdades a ser sublinhadas aqui: I) A experiência de um
chamado não é um fim em si mesmo, mas o meio por que Deus
cumpre o seu propósito de chamar a atenção e a transmissão do
seu propósito a quem Ele está chamando; II) A experiência não
pode ser transformada em algo sagrado ao ponto de ser colocada
acima da verdade da Palavra de Deus; III) A experiência contribui
com a reafirmação das verdades eternas, inclusive a respeito de
quem Deus é.
A experiência de Moisés, no entanto, marcou-o e mudou o rumo
da sua vida para sempre. Não há quem se encontre com Deus e
receba dEle um chamado para permanecer o mesmo. Aliás, o ato
de chamar alguém implica ser convocado a sair de um lugar para ir
a outro, ou, ainda, a deixar uma direção para seguir noutra. Foi
exatamente isso que aconteceu com Moisés, já que, quando
recebeu o chamado divino para liderar o seu povo na sua libertação
do Egito, ele levava uma vida calma e tranquila nas regiões de
Midiã, quando, de repente, teve a sua realidade radicalmente
transformada.
Conclui-se, portanto, que o líder cristão deve ter clareza sobre a
sua missão, e é somente por meio de uma convicção forte do seu
chamado que isso será possível. Tal convicção, por sua vez, cumpre
um papel fundamental para o sucesso dessa liderança, primeiro
porque a certeza do chamado contribui com a manutenção das
convicções pessoais, a autoridade espiritual e a confiança de que o
Senhor irá preservá-lo em tempos difíceis; e, por fim, o chamado
cumpre o papel de moldar o caráter desse líder no sentido de
nortear as suas motivações, os seus métodos e os seus objetivos.
DELEGANDO TAREFAS
Por mais capaz que Moisés tenha sido e a sua liderança bem-
sucedida, ele nunca deixou de ser humano, sujeito às mesmas
condições de qualquer outro mortal. É possível perceber a
humanidade de Moisés em vários momentos da sua trajetória,
principalmente no episódio em que Jetro, o seu sogro, percebeu o
quanto o seu genro estava sobrecarregado e aconselhou-o a dividir
a carga com outros líderes. Aqui a limitação de Moisés acentua-se
em duas situações: I) Na sua incapacidade de perceber a sua
própria condição de sobrecarga; II) Na sua limitação demonstrada
na incapacidade de realizar tudo sozinho.
Esta seção está encarregada de mostrar o perigo da sobrecarga
na vida de um líder e de enfatizar que, na obra que Deus está
realizando no mundo, há espaço para todos atuarem, o que significa
que o líder não só pode como também deve envolver outras
pessoas no seu trabalho, evitando as consequências das muitas
atividades e possibilitando que outros também sejam úteis. O
conselho de Jetro a Moisés demonstra o espírito da “liderança
compartilhada”, que começa a ser percebida no Antigo Testamento
e alcança o seu ponto alto no Novo, e isso indica o que Deus
idealiza para a liderança espiritual.
O propósito aqui não é o de detalhar cada uma das funções
ministeriais de liderança eclesiástica, mas apenas mostrar que, além
de ser impossível, um líder liderar sozinho contraria o modelo
deixado por Deus. Portanto, tomando como base o exemplo de
Moisés, o objetivo aqui é o de sublinhar que o Senhor Deus espera
que o líder espiritual cumpra a sua missão com fidelidade e
compartilhe funções com outras pessoas com condições para a
tarefa a ser-lhes designadas.
O Líder Sobrecarregado Jetro não precisou de muito
tempo e nem de fazer muito esforço para perceber que
o seu genro, Moisés, estava sobrecarregado e que,
caso aquilo não fosse mudado, as consequências
seriam trágicas e irreversíveis (Êx 18.13-18). Urge-se o
fato de que Jetro percebeu o que Moisés não percebeu;
aliás, um líder sobrecarregado geralmente está tão
ocupado que não consegue perceber os excessos no
trabalho e os perigos inerentes a isso.
O excesso de trabalho e a ausência de equilíbrio no exercício da
liderança podem trazer consequências profundas e negativas,
como, por exemplo, a fadiga, a estafa, a ansiedade, a Síndrome de
Burnout e, por fim, a depressão. É preciso, no entanto, ir além dos
possíveis efeitos da sobrecarga de trabalho de um líder e apontar os
elementos que causam esses excessos. Assim sendo, o que
geralmente causa a sobrecarga num líder cristão?
Destaca-se que a liderança cristã possui particularidades, pois
também lida com questões espirituais, e a tentativa de conduzir
essas questões com métodos humanos ou na “força do braço
humano” sempre causará desgastes que poderão ser fatais. Além
disso, a mutualidade cristã deve predominar nas relações entre os
que exercem liderança cristã com vistas a dividir a carga (Gl 6.2-5),
e esse é um princípio a ser observado e cumprido por aqueles que
desejam viver em paz e cumprir com fidelidade a sua missão.
Um líder cristão de sucesso também é caracterizado pela sua
capacidade de manter-se equilibrado e não sobrecarregado, e, para
isso, ele depende de Deus para operar as mudanças necessárias,
além de ser alguém que saiba quando e como usar as armas certas
para as batalhas certas, além de ter a humildade de reconhecer que
não conseguirá fazer tudo sozinho, razão pela qual deve ser alguém
que divide as tarefas com outras pessoas. Fazendo isso, o líder
cristão preservará a sua qualidade de vida, e Deus será glorificado,
pois este é o padrão que Ele deixou.
O Líder que Ouve
Na sua carta, Tiago deu a seguinte advertência: “Sabeis isto, meus
amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio
para falar [...]” (1.19). Paralelo à leitura desse texto, leia a
informação bíblica sobre a reação de Moisés ao conselho de Jetro,
o seu sogro: “E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro e fez tudo
quanto tinha dito” (Êx 18.24).
Todo cristão tem o dever de atentar e de obedecer a esse
princípio, e não é diferente para os que se encontram em posição de
liderança; aliás, muitas tragédias seriam evitadas se houvesse uma
disposição maior nos líderes cristãos para ouvir outras pessoas.
É evidente que o líder deve selecionar bem a quem ouvir; no
entanto, esse cuidado não deve sobrepor-se à necessidade de ter
alguém a quem recorrer em momentos decisivos e importantes.
Jetro tinha, pelo menos, duas vantagens em relação a Moisés: I) Ele
era mais velho e, por isso, mais experiente que o seu genro; II) Ele
pôde analisar a situação a partir de uma perspectiva diferente da de
Moisés. Entretanto, de que adiantaria Jetro falar se Moisés não
fosse alguém disposto a ouvir? Ouvir outras pessoas é um ato de
obediência e de humildade. Essa virtude é fundamental para o líder
cristão, pois, ao ouvir os seus liderados, o líder cristão permite-se
ser corrigido.
Moisés foi um líder de sucesso, e isso não foi acidental e nem
tampouco coincidência, mas foi resultado de uma combinação de
qualidades e atitudes pelas quais ele alcançou o posto de um dos
maiores líderes da história de Israel. Dentre essas qualidades e
atitudes, está — sem dúvida — a humildade, virtude que deu a ele a
disposição de ouvir o seu sogro, Jetro.
Um verdadeiro líder não é conhecido somente quando e como ele
fala, mas também é identificado pela sua capacidade de ouvir outras
pessoas. Além de falar (comunicar-se) bem, o líder cristão deve
ouvir bem.
Há Espaço para outros O que levou Moisés a pôr o
conselho de Jetro em prática?
Em primeiro lugar, conforme já visto, Moisés foi um líder capaz de
ouvir outras pessoas. Em segundo lugar, Moisés foi um líder realista
em reconhecer não ser o único com capacidade de ser útil para
Deus, além de sensível para identificar o valor em outras pessoas e
dar a elas uma oportunidade de exercerem as suas respectivas
funções.
Atente para as seguintes informações bíblicas registradas em
Êxodo 18.17,18,25: O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é
bom o que fazes. Totalmente desfalecerás, assim tu como este povo
que está contigo; porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não
o podes fazer [...]; e escolheu Moisés homens capazes [...].
Veja o contraste entre a exposição da incapacidade de Moisés
com a capacidade dos que por ele foram escolhidos, pois ele
demonstra a importância que há no processo de
complementaridade, isto é, aquilo que faltou em Moisés, os seus
auxiliares supriram.
Ao ser confrontado com o diagnóstico e o conselho de Jetro, o
líder Moisés teve de reconhecer a sua própria limitação e foi
lembrado de que a obra com a qual ele estava envolvido era maior
do que ele, razão pela qual teve de escolher pessoas que o
ajudassem, pois ele poderia sofrer o dano, mas não a obra de Deus.
O líder cristão não é chamado a fazer tudo, mas é dele a
responsabilidade de identificar pessoas capazes de desempenhar
papéis e dispor cada um na sua área de atuação. Há espaço para
todos atuarem na obra que Deus está realizando no mundo.
19 STANKO, John W. Muitos Líderes, Pouca Liderança. Niterói, BV Books, 2008. pp.
41,42.
20 COX, Leo G. Comentário Bíblico Beacon: Gênesis a Deuteronômio. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005, p. 144.
21 WOOLFE, Lorin. Liderança na Bíblia de Moisés a Mateus: Lições e práticas de
liderança que ensinam, inspiram e iluminam. São Paulo: M. Books Brasil, 2009, p. 40.
22 MACARTHUR, John. Ministério Pastoral: Alcançando a excelência no ministério
cristão. Rio de Janeiro: CPAD.
23 PETERSON, Eugene. Corra com os Cavalos: Para quem busca uma vida de
excelência. Viçosa: Ultimato e Niterói: Textus, 2004, p. 61.
J
CAPÍTULO 4
A LIDERANÇA DE JOSUÉ
osué apresenta-se como um dos grandes e principais líderes do
Antigo Testamento, e a importância da sua liderança não se deve
somente aos seus feitos à frente de Israel, mas principalmente pela
conjuntura e o contexto que marcaram o momento em que foi
estabelecido líder sobre o povo de Deus.
Logo que assumiu a liderança de Israel, Josué foi desafiado em,
pelo menos, dois sentidos especiais: I) Suceder a Moisés; e II) Ser
responsável por introduzir o povo de Israel na Terra Prometida. O
primeiro aspecto diz respeito a ter de substituir aquele que tem sido
considerado um dos maiores — se não o maior — líderes da história
de Israel, o que por si só já foi algo que estava além da capacidade
humana de Josué. O segundo aspecto tem uma relação com a
responsabilidade de liderar o povo no momento da materialização e
do cumprimento da promessa que fez Abraão obedecer a Deus e
deixar tudo para trás (Gn 12.1-4) e que mobilizou toda a trajetória de
Israel até aquele momento.
Definitivamente, Josué foi um líder que teve de enfrentar
imensuráveis desafios e, sob a palavra e a presença de Deus, pôde
vencê-los, vindo a tornar-se um dos principais referenciais de
liderança bem-sucedida na Bíblia. Sendo assim, analisar a liderança
de Josué requer fazê-lo sob a perspectiva de ter sido ele: I) O
sucessor de Moisés; II) Um líder certo na hora certa; e III) A
humanidade de Josué.
JOSUÉ, O SUCESSOR DE MOISÉS
A essa altura, já está claro que Josué teve uma grande missão
recebida de Deus; contudo, por mais extraordinário que Moisés
possa ter sido, o episódio da transição de liderança aqui analisada
reafirma que a obra pertence exclusivamente a Deus.
Por mais importante que Moisés tenha sido e o seu trabalho sirva
de exemplo para muitos líderes, a obra de Deus não ficou presa e
nem condicionada a ele, pois Josué já estava sendo preparado pelo
Senhor para continuá-la. Isso implica na grande verdade de que
Deus é Soberano e de que é Ele quem conduz a sua obra
independentemente dos homens. É necessário, portanto, que todo
líder cristão seja consciente de que a obra sempre prevalecerá e
que, quando necessário, o Senhor providenciará os meios e as
pessoas para que isso ocorra, pois ele não se prende a nada e nem
a ninguém.
Uma Escolha Divina É impossível desenvolver qualquer
pensamento sobre a liderança de Josué sem que a de
Moisés seja levada em conta, principalmente numa
análise que é feita sobre o processo de transição. Uma
grande lição a ser aprendida nesse processo é sobre o
desprendimento de Moisés, haja vista que ele não
priorizou a perpetuação da sua liderança, mas, à
medida que percebeu que se findavam os seus dias, ele
mesmo tomou a iniciativa de pedir ao Senhor que lhe
desse a direção sobre aquele que deveria sucedê-lo
(Nm 27.15-17).
A iniciativa foi de Moisés, mas foi Deus quem apontou a Josué
como o escolhido para a continuidade da sua missão (Nm 27.18).
Josué foi uma escolha de Deus, e não do homem. Além de indicar
Josué como sucessor de Moisés, o Senhor enfatizou a sua
qualidade ao dizer: “[...] homem em quem há o Espírito [...]” (v. 18).
Josué viria a ser um líder sob o domínio do Espírito Santo, ou seja,
essa declaração ao seu respeito indica que ele foi um homem
espiritual e que conduziria o povo de Israel sob esse padrão.
Há também informações de que Moisés impôs as mãos sobre
Josué e de que este deveria ser apresentado ao sacerdote Eleazar
(vv. 18,19). A esse respeito, F. F. Bruce explica o seguinte: Assim
como Moisés passou a autoridade sacerdotal a Eleazar (20.28), ele
passa a autoridade civil a Josué. Moisés deve comissionar Josué na
presença de Eleazar e de toda a comunidade (v.19), para que todos
sejam testemunhas da cerimônia e reconheçam Josué como líder.24
Josué foi um líder de grandes e surpreendentes realizações; ele,
no entanto, sempre soube que a autoridade que ele possuía para
liderar o povo de Deus não pertencia a ele e nem emanava dele
próprio, mas, ao contrário disso, a natureza dessa autoridade era
divina e confirmada pelas mãos de Moisés diante de todo o povo. O
líder cristão deve ser consciente de que a sua liderança não se
fundamenta em autoridade humana, mas divina; caso contrário, a
sua derrota é certa, e grandes serão os prejuízos.
A Continuidade da História O pensamento sobre a
responsabilidade que Josué recebeu de dar
continuidade à história que Moisés ajudou a escrever é
mais bem compreendida sob a perspectiva de que,
embora a Bíblia seja composta de muitas histórias,
também é um livro de uma história apenas, ou seja, a
história de Deus. Deve-se considerar o fato de que a
Bíblia registra a história de Deus, que por graça
decidiu contá-la por meio de homens. Isso implica
afirmar que a Igreja de Cristo de hoje é a responsável
por continuar a história começada pela Igreja de
ontem.
Esse princípio não só está presente no processo de transição
entre a liderança de Moisés e a de Josué, como também deve ser
levado em conta caso haja interesse em fazer-se uma análise a seu
respeito. Assim como Moisés não foi alguém isolado dessa história,
Josué deve ser considerado como parte dela. Uma das coisas mais
importantes na vida de um líder espiritual é o vínculo a ser
estabelecido e mantido nas suas mais variadas dimensões, inclusive
no que concerne na relação com as autoridades constituídas e o
respeito que deve ser dispensado a elas.
Ao chamar a Josué e informá-lo acerca da sua missão, o Senhor
não deixa de mencionar o nome de Moisés; pelo contrário, ele faz
repetidas menções ao grande líder morto recentemente. É possível
perceber nitidamente que há uma ação voluntária em vincular a
história de Josué à de Moisés, que, por sua vez, foi atrelada à dos
patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Êx 3.6). A liderança de Josué foi
importante e ocupa um importante lugar nas Escrituras; no entanto,
a sua liderança seria a continuidade de uma história já em
andamento, com a qual Moisés já havia contribuído.
Enquanto Moisés libertou a Israel do Egito, Josué foi incumbido de
introduzir este povo na Terra Prometida. A liderança de Josué é
parte de uma construção, e não uma carreira solo, e ela só tem
sentido quando inserida e compreendida à luz do trabalho que
outros prestaram e do que outros ainda prestarão.
Conclui-se, portanto, que o líder cristão deve ter muito claro na
sua mente a verdade de que a sua contribuição é uma parte, e não
o todo; afinal de contas, a história de Deus é infinitamente maior do
que qualquer outra história, e esse líder deve sentir-se honrado e
privilegiado.
A Lealdade de Josué O apóstolo Paulo declara que a
principal expectativa a respeito do líder cristão é de
que ele seja encontrado fiel (1 Co 4.2). O líder fiel é
caracterizado pela sua lealdade, que, por sua vez, é
demonstrada pelas seguintes qualidades: I)
Honestidade; II) Verdade; III) Sinceridade; IV)
Compromisso com as alianças firmadas; e V)
Respeitabilidade. Nesse caso, a lealdade de um líder
cristão manifesta-se numa dimensão transcendental
(diante de Deus), pessoal (consigo) e interpessoal (com
os seus liderados e com os seus líderes).
A lealdade desenvolve-se numa esfera interna e manifesta-se na
externa. A lealdade do líder cristão é colocada à prova
constantemente e é nas suas reações que se conhecerá o quão leal
este líder é diante de Deus, dos seus liderados e dos seus líderes.
Josué apresenta-se como exemplo de alguém que colheu bons
frutos da sua lealdade ao seu líder Moisés. Em momentos
importantes da vida de Josué, é possível encontrar a figura de
Moisés em algum nível; aliás, a primeira referência que a Bíblia faz
do seu nome remonta ao seu ato de obediência (Êx 17.8-16).
Uma das características principais da lealdade de Josué a Moisés
foi a sua firmeza, conforme se vê em dois momentos da sua história:
I) Diante do quadro em que Deus falava diretamente com Moisés e
o povo admirava-o por isso, Josué “nunca se apartava do meio da
tenda” (Êx 33.11), como demonstração de conhecimento do seu
lugar, do seu momento e de firmeza; e II) Junto de Calebe, ele
esteve alinhado ao coração de Moisés no momento em que dez
espias posicionaram-se contrários à conquista da Terra Prometida
(Nm 14.1-9). Esses dois quadros reafirmam a lealdade de Josué a
Moisés, tanto num momento de honra, como também num contexto
de dificuldades e cobranças.
Destaca-se ainda que Josué não exerceu a sua liderança sem que
houvesse uma referência de autoridade espiritual que o preparou,
encaminhou e respaldou ao longo da sua trajetória à frente de Israel
(Nm 27.20). A autoridade da liderança de Josué não procedia dele
mesmo, mas daquela que o Senhor confiara a Moisés, razão pela
qual o povo de Israel aceitava-o como líder e considerava tanto as
suas palavras quanto as suas diretrizes. A autenticidade e
genuinidade da liderança de Josué decorreram da sua relação de
submissão e lealdade a Moisés, líder estabelecido e confirmado por
Deus.
Josué pôde descansar em Deus e na sua promessa de que, assim
como Ele fora com Moisés, seria com ele (Js 1.5). A referência
usada por Deus foi a forma como Ele conduzira a liderança de
Moisés e como Josué sempre esteve presente ao seu lado, não lhe
restando dúvida alguma de que a sua liderança também seria
vitoriosa (Js 1.10-15). Essa relação de Josué com Deus e a forma
como ele, Josué, lidara com a autoridade espiritual de Moisés
contribuiu para que a sua liderança fosse confirmada pelo Senhor
(Js 1.16-18). A lealdade é a marca de um líder espiritual de sucesso.
O LÍDER CERTO NO TEMPO CERTO
Qual o líder ideal para os dias atuais? Que perfil de liderança
adequa-se à realidade atual, que seja capaz de enfrentar os
desafios contemporâneos e que, acima de tudo isso, seja capaz de
manter-se fiel ao padrão bíblico? Muito provavelmente, essas são
perguntas que, ainda que em outros termos, sempre estiveram
presentes nos mais diversos contextos e momentos da história.
Sempre houve expectativas sobre o perfil do líder e o que esperar
de uma liderança cristã, e não somente isso, mas também — e
principalmente — em torno de Deus levantar o líder certo, no
momento certo e para a tarefa certa.
Esta seção é dedicada a pensar em Josué como uma escolha
certa de Deus; aliás, essa história serve como mais uma forma de
confirmar a verdade de que o Senhor não erra e nem se engana nas
suas escolhas. Deus não investe em qualquer pessoa e nem semeia
boa semente em terras não férteis. Se não houvesse nenhum relato
bíblico-histórico sobre os feitos de Josué, e as informações
estivessem restritas somente ao momento da sua chamada, ainda
assim o seu chamado seria aceitável, pois a escolha de Deus
sempre é a certa e dá certo.
Josué recebeu de Deus a capacidade de liderar, foi treinado para
isso e viveu experiências que contribuíram com a sua formação
como líder (Êx 17.8-15; 24.12,13; Nm 14.6-12; 27.12-23; 32.12; Dt
1.37,38; 34.9). Assim como as demais lideranças levantadas por
Deus, a de Josué foi uma escolha acertada; afinal de contas, o
Senhor não erra nas suas escolhas, e a trajetória de Josué confirma
o quanto ele serviu de instrumento de bênçãos aos seus liderados.
Quem Foi Josué?
Não há muita informação sobre a família e a origem de Josué, a não
ser que foi filho de Num, procedente da tribo de Efraim (Nm 13.8;
14.6; Js 1.1). O nome Josué vem do hebraico Yehoshua ou Yeshua
e significa “O Senhor é salvação”. O seu nome original foi Oseias,
cujo significado é “salvação”, e Moisés muito provavelmente mudou
para Josué quando enviou os espias para conhecerem a terra de
Canaã (Nm 13.16). Ao transliterar para o grego, o nome Josué
aponta para a expressão Iesous, que no latim é Jesus.
Os feitos de Josué apontam para a sua alta capacidade, e o seu
comportamento indica a sua idoneidade, principalmente no quesito
lealdade e submissão. Há outras qualidades em Josué, como, por
exemplo, a justiça e a equidade na distribuição das terras, a
humildade em ter-se mantido como servo de Moisés até que o
Senhor fizesse dele líder sobre Israel, bem como a sua elevada
capacidade estratégica nas grandes conquistas militares à frente do
povo de Deus. Josué foi um líder que não tolerou o pecado no meio
do povo de Deus (Js 7) e tem-se consolidado como um líder a ser
imitado por aqueles que desejam lograr êxito na sua liderança.
Josué e o seu Tempo O líder eficaz deve ser alguém
que seja compreendido pelos seus liderados, mas, para
isso, ele deve compreender os seus liderados — caso
contrário, a comunicação ficará comprometida ou nem
mesmo existirá. Um dos fatores principais para que
realmente ocorra a comunicação é a capacidade de
identificar os anseios e as expectativas das pessoas
com base na realidade em que elas vivem. O líder que
deseja galgar patamares de destaque na sua liderança
precisa, portanto, conhecer o seu tempo e ser capaz
de identificar os seus dramas, com vistas a apresentar
soluções e até mesmo se permitir ser instrumento para
a solução.
Em primeiro lugar, o líder deve conhecer o seu tempo porque é
dentro dele que são impostos ao líder os grandes desafios à sua
liderança e que ele é chamado a exercê-la. Em segundo lugar, o
conhecimento do próprio tempo facilita o importante processo de
identificação das necessidades e dos anseios das pessoas da sua
época — ou seja, o conhecimento do próprio tempo leva o líder a
estar atualizado.
O líder cristão pode identificar as características do seu tempo por
meio de quatro passos: I) Ser capaz de parar quando necessário; II)
Ter um tempo de reflexão sobre os movimentos vigentes da sua
época; III) Estar disposto a dialogar sobre o assunto; e IV)
Estabelecer as verdadeiras prioridades para uma liderança atual e
relevante.
Olhar para o tempo em que Josué foi constituído líder sobre Israel
é ter de reconhecer o quão grande foi o desafio da sua liderança. A
palavra “transição” define muito bem o tempo de Josué, e isso
implica uma época marcada por: I) Incertezas; II) Insegurança; III)
Grandes expectativas; IV) Desconfiança; e V) Medo. No caso da
transição vivida por Josué, há um aspecto bem peculiar, pois ele
sucedeu o grande líder Moisés, razão por que teve de lidar com a
comparação constante entre ele e o seu precursor.
É dentro desse contexto que Deus levanta a Josué e mostra a sua
soberania, o seu domínio e reafirma o seu controle da história,
independentemente do homem. O tempo em que Josué foi
levantado desafiou-o a ser quem ele foi chamado para ser e que, de
fato, conseguiu ser com a graça de Deus, isto é, um líder de
sucesso.
Josué, o Líder Certo para a Hora Certa
Em toda a Bíblia Sagrada, é possível encontrar registros que
confirmam que, para cada tempo e em diferentes circunstâncias e
necessidades, Deus sempre levantou pessoas com as quais pôde
contar e usar como cooperadores na sua obra, inclusive na
qualidade de líderes espirituais. Exemplo disso é Neemias, que
providencialmente foi inserido no contexto do palácio sob o governo
de Artaxerxes e ali teve condições de pleitear por condições para a
reconstrução dos muros e das portas de Jerusalém (Ne 2).
A posição de copeiro do rei no palácio não teve como finalidade o
benefício pessoal de Neemias, mas é evidente que foi resultado de
uma ação estratégica de Deus para colocá-lo em um lugar que o
favorecesse na sua missão. Neemias foi uma pessoa certa, no lugar
certo e para a tarefa certa.
Do mesmo modo, Josué foi uma escolha de Deus para o seu
tempo, razão pela qual foi o líder certo, no lugar certo e com a tarefa
certa. É bem verdade que, aos olhos humanos, a falta de Moisés
não seria preenchida por ninguém, só que é Deus quem controla os
tempos, as estações, os povos e a história (Sl 59.13; 103.19; Zc
9.10), e, por isso, na sua onisciência, Josué já estava nos seus
planos para que, no tempo oportuno, fosse apresentado como líder
no lugar de Moisés.
Deus está acima da história, do tempo e dos homens. Perceba
isso na diferença da personalidade e do perfil de liderança de
Moisés e de Josué, pois aquele é descrito na Bíblia como o homem
mais manso da terra (Nm 12.3), enquanto este é apresentado como
homem de guerra, que, aliás, estava sempre disposto a guerrear (Js
5.13-15). Basta imaginar Josué na liderança de Israel — povo de
dura cerviz — na sua travessia pelo deserto. Dificilmente restaria
alguém com vida, tendo um líder com o ímpeto de guerra como ele
tinha. Por outro lado, imagine Moisés, manso como era, tendo de
introduzir Israel à Terra Prometida tomada por inimigos que
deveriam ser enfrentados e vencidos.
Definitivamente, Josué foi o líder certo, na hora certa e com a
tarefa certa.
A PESSOA DE JOSUÉ
Os feitos de um homem, por maiores que sejam, não o tornam mais
do que ele realmente é, ou seja, homem, ser humano. Com base
nisso, toda liderança, ainda que bem-sucedida e triunfante, deve ser
executada, analisada e refletida à luz da humanidade de quem a
exerce, pois, caso contrário, os danos poderão ser irreparáveis. A
Bíblia não oculta as limitações e nem os defeitos dos seus
personagens, assim como faz questão de exaltar as suas virtudes e
as suas conquistas.
Ressalta-se que: I) Nenhum líder, por mais brilhante que seja,
consegue ser tudo e realizar tudo sozinho; II) A obediência e
submissão a Deus são ordens destinadas a todos os líderes
espirituais, pois todos são servos e dependem única e
exclusivamente do Senhor; e III) As palavras divinas de
encorajamento e de fortalecimento servem a todos os líderes
espirituais, pois todos passam por momentos de desânimo, medo e
apreensão. Desse modo, fica a verdade de que todo líder é humano
e depende do Senhor.
Por essa causa, a proposta aqui é a de fazer uma análise de
Josué enquanto humano, iniciando com uma reflexão sobre a sua
relação familiar, passando pela sua humanidade em si e culminando
com o seu maior erro.
Josué e a sua Família Dentro de uma perspectiva
bíblica, é inadmissível que o líder cristão cuide de
pessoas em detrimento da sua própria família. Antes
de liderar os outros, o líder cristão deve ser líder do
seu cônjuge e dos seus filhos. Dito de outra forma, ele
deve liderar a sua própria casa. O apóstolo Paulo é
enfático sobre isso ao escrever que: “Mas, se alguém
não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua
família, negou a fé e é pior do que o infiel” (1 Tm 5.8).
Em outro texto, o apóstolo é bem específico ao tratar
diretamente com a liderança da igreja, conforme se lê:
“que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos
em sujeição, com toda a modéstia (porque se alguém
não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da
igreja de Deus?)” (3.4,5).
A autoridade de um líder cristão depende diretamente da sua
relação com a própria família. Nesse sentido, Josué pode ser
considerado um líder bem-sucedido. A Bíblia não dá informações
detalhadas sobre a família de Josué, e nem mesmo se ele foi
casado e se teve filhos, mas o pouco do que se pode saber é que
ele, ainda que com poucas palavras, dá indícios do seu sucesso em
conduzir a sua família em servir a Deus. Embora anônima, a família
de Josué tem servido de inspiração para muitas pessoas ao longo
da história, principalmente para aqueles que exercem liderança, pois
ele pôde dar a seguinte declaração: “[...] eu e a minha casa
serviremos ao SENHOR” (Js 24.15).
De acordo com o que tem sido base de reflexão até aqui, tudo
aponta para a dupla responsabilidade que o líder tem de servir de
exemplo e de inspiração aos seus liderados, e Josué apresenta-se
como um líder de sucesso nesses quesitos, em especial na
condução da sua família, já que a sua fala traduz a sua decisão no
que tange à sua casa, e, como resposta, todo o povo respondeu
positivamente e renovou a aliança e o compromisso de servir
somente ao Senhor, à semelhança do seu líder Josué (24.16-17).
Josué e suas Imperfeições Antes da breve abordagem
acerca da humanidade de Josué que aqui será feita,
acentua-se que o líder cristão precisa ter
conhecimento da sua identidade, que, nesse caso,
envolve a consciência sobre si mesmo, do que é
chamado para fazer e de como isso deve ser feito.
O autoconhecimento e a clara noção da missão a ser cumprida
são indispensáveis a um líder cristão, mas não somente isso; é
preciso também que haja a consciência de que conhecer a própria
identidade deve vir antes mesmo de qualquer plano de trabalho ou
método a ser usado com vistas aos bons resultados, além de
compreender e ter em alta conta o fato de que esse
autoconhecimento deve ser norteado pelos princípios da Palavra de
Deus.
Um aspecto teológico que contribui com a análise sobre esse
ponto é a relação do trabalho do líder com a consciência da sua
própria humanidade e de que forma isso pode e deve afetar a sua
liderança. Inevitavelmente, a humanidade do líder cristão sempre
será contrastada com a divindade daquEle que o chamou para esse
ministério, e isso implica em algumas lições fundamentais: I) Essa
consciência coloca o líder no seu lugar e faz com que ele reconheça
o lugar que pertence somente a Deus; II) O reconhecimento do
contraste entre a humanidade do líder e a divindade de quem o
chamou leva-o a depender inteiramente de Deus, e isso o levará a
uma vida de oração; e III) A graça divina manifesta-se e torna-se
mais visível aos homens à medida que Deus usa um determinado
líder não obstante as limitações impostas pela sua humanidade.
Esse princípio é percebido no contexto em que Deus adverte a
Jeremias a clamar, pois o texto bíblico informa que o profeta estava
preso (indicação da sua humanidade e incapacidade de autolibertar-
se); o texto ainda reafirma a soberania de Deus e a sua autonomia
em fazer o que quer e da forma como desejar (divindade de quem
falava com o profeta), em um claro contraste de realidade, razão por
que Jeremias deveria orar, pois ele depende exclusivamente de
Deus (Jr 33.1-3).
A humanidade de Josué também é apresentada nas Escrituras,
inclusive contrastando com a grandeza de Deus, como quando
recebeu a informação de que o momento de assumir a liderança
sobre Israel, o Senhor teve de encorajá-lo, pois ele certamente
estava amedrontado, assustado e com muitas dúvidas (Js 1.2,3,5-9;
3.7-8). A humanidade de Josué é notada em todo o registro bíblico,
inclusive no episódio em que demonstrou um sentimento de
exclusivismo e até de “ciúmes” ao informar a Moisés de que Eldade
e Medade estavam profetizando no arraial, tendo sido duramente
advertido pelo líder de Israel na época (Nm 11.26-30).
Conclui-se, portanto, que aqui está um grande e maravilhoso
mistério, em que este Deus perfeito decide agir e operar por meio de
pessoas imperfeitas na condução do seu povo e na cooperação da
sua obra. Isso é obra da graça de Deus, pois o seu poder, conforme
diz a Bíblia, “se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.9). Ao usar
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Liderança cristã: influenciar sob os princípios da Palavra de Deus

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  • 2.
  • 3. Todos os direitos reservados. Copyright © 2022 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão expressa da Editora. Preparação dos originais: Miquéias Nascimento Revisão: Daniele Pereira Adaptação de capa: Elisangela Santos Projeto gráfico e editoração: Elisangela Santos Conversão para ePub: Cumbuca Studio CDD: 220 – Bíblia e-ISBN: 978-65-5968-294-2 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 2009, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: https://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Av. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJ CEP 21.852-002 1ª edição: 2022
  • 4. SUMÁRIO O que É Liderança Cristã A Pessoa do Líder A Liderança de Moisés A Liderança de Josué A Falta que Faz um Líder Exemplos de Liderança Feminina A Liderança de Davi A Liderança de Salomão O Treinamento de Líderes segundo o Modelo de Jesus Uma Liderança Chamada para Restaurar A Liderança de Barnabé A Liderança de Paulo Jesus, o Modelo de Líder Conclusão Referências
  • 5. A CAPÍTULO 1 O QUE É LIDERANÇA CRISTÃ compreensão correta sobre um determinado tema resultará em práticas corretas, assim como uma compreensão parcial contribuirá com uma prática parcial, ou, ainda, uma compreensão equivocada levará as pessoas a cometerem erros na prática. Portanto, antes de avançar no sentido de estudar sobre liderança numa perspectiva bíblica e conhecer alguns dos principais líderes do relato bíblico, é imprescindível dedicar um espaço para que as bases sejam lançadas, e isso depende de uma boa e correta compreensão do tema aqui proposto, isto é, liderança. Em um primeiro momento, é importante destacar que, numa perspectiva histórica, liderança tem sido um tema empolgante e responsável por promover longos e importantes debates. Este capítulo dedica-se em analisar o tema sobre a liderança sob três aspectos: I) O significado de liderança; II) O papel de um líder; III) As qualidades que caracterizam uma verdadeira liderança. A Bíblia registra episódios que confirmam a soberania de Deus na condução do seu povo por intermédio de pessoas que, sob a sua autoridade, exerceram liderança, e esses relatos apresentam-se como referenciais seguros para responder as questões que visam nortear este capítulo, sendo elas: I) O que é liderança; II) O que faz um líder; III) O que não é liderança. I. O QUE É LIDERANÇA CRISTÃ Com base na preocupante constatação da escassez de liderança na atualidade, J. Robert Clinton afirma que o tema liderança tem-se destacado como “preocupação de primeira grandeza”, e isso
  • 6. porque, segundo as suas palavras, “há um vácuo de liderança”.1 Ritch K. Eich segue nessa mesma esteira e declara com firmeza: Líderes de verdade são raros neste mundo de mudanças rápidas e comandado pelo dinheiro [...]. A realidade atual — especialmente com um ambiente econômico árido e a quantidade crescente de millenials (também conhecidos como Geração Y, esses trabalhadores nascidos entre 1980 e 2000) entrando no mercado de trabalho — clama por uma liderança feita do modo certo.2 Por um lado, o exposto acima indica o quadro desanimador na atualidade no que concerne ao tema da liderança; no entanto, por outro lado, deflagra uma grande oportunidade que a Igreja de Cristo tem de revisitar o assunto, reavaliar o seu significado e restabelecer as suas práticas dentro de uma perspectiva bíblica e atual. Há, portanto, a necessidade de uma definição que se fundamente sobre os pilares do equilíbrio entre os padrões bíblicos de uma liderança aprovada por Deus e as necessidades impostas pelo tempo vigente. O que realmente É Ser um Líder? Antes de qualquer coisa, o líder precisa saber sobre a sua própria identidade, isto é, precisa saber quem ele é, qual o seu lugar, qual a sua função e quais os limites da sua atuação. Dito de outra forma, o líder precisa saber o que é ser um líder. Na prática, o líder é responsável por conduzir pessoas em uma determinada direção, o que implica dizer que ele é quem vai à frente com a missão de apontar o caminho, de ensinar como trilhar por este caminho e de incentivar os seus liderados a alcançarem os objetivos preestabelecidos. Embora sejam importantes, a capacidade intelectual, o carisma e a desenvoltura na comunicação não são suficientes para que o líder seja exitoso na sua missão, pois o exemplo pessoal é imprescindível nesse processo, ou seja, todas as qualidades que um líder possa ter dependem de ser acompanhadas de uma vida que inspire as pessoas a quem lidera. Fica mais do que evidente que a figura do líder assume elevada importância, pois, conforme se nota, em certa medida, o sucesso de
  • 7. um determinado empreendimento depende da qualidade daquele que o lidera e da sua conduta no seu trabalho. Uma vez que o líder é responsável por conduzir pessoas e pela indicação da direção a ser seguida, o que geralmente se espera de uma liderança? Em primeiro lugar, o líder deve ter uma visão e ser capaz de transmiti-la com clareza aos seus liderados. Ele precisa saber para onde está caminhando e indicar sempre o caminho certo de maneira que as pessoas sintam-se seguras e incentivadas a ir nessa direção. Poucas tragédias são maiores do que a de um determinado grupo de pessoas que é liderado por alguém sem clareza do alvo a ser perseguido ou que desconhece o destino a ser alcançado. Portanto, visão e clareza da sua comunicação é o que se espera de um líder. Em segundo lugar, o líder deve identificar-se com a necessidade e trabalhar pelo bem dos seus liderados, que, por sua vez, se sentirão protegidos, respeitados e motivados. Um líder genuíno sempre estará empenhado no sentido de remover os obstáculos e facilitar o caminho daqueles que estão sob a sua liderança. Portanto, espera- se de um líder: I) Visão e boa comunicação dela; II) Trabalho em favor dos liderados. Conclui-se, portanto, que liderar é influenciar. Ser líder é ser seguido por pessoas. O que É Liderança Cristã? O tema da liderança é abrangente e amplo, o que permite análises nas mais variadas formas e vertentes. Uma reflexão capaz de oferecer contribuições significativas e duradouras depende de uma delimitação do assunto, ou, ainda, de uma ênfase específica sobre ele. Partindo desse princípio e considerando o objetivo desta obra, a verificação aqui será feita sobre a liderança cristã. Em um primeiro momento, destaca-se que a natureza cristã de uma determinada liderança não a exime do seu caráter influenciador; pelo contrário, o líder cristão também tem a responsabilidade de influenciar os seus liderados. O diferencial da
  • 8. liderança cristã repousa sobre os padrões pelos quais ela deve ser pautada, pois o líder cristão deve ter as Sagradas Escrituras como referência norteadora das suas decisões, das suas práticas e dos seus comportamentos. Sem o propósito de um aprofundamento na compreensão do texto, note que Paulo diz que a expectativa em relação a um líder espiritual é que “[...] cada um se ache fiel” (1 Co 4.2). Biblicamente, a fidelidade imposta ao líder cristão possui muitas faces, só que nenhuma supera aquela que reafirma o seu compromisso de assemelhar-se a Cristo, o Senhor. Nesse aspecto, o pastor Silas Queiroz defende que uma das marcas de um líder cristão maduro consiste exatamente na sua capacidade de amar mesmo quando é odiado, de tratar bem mesmo quando maltratado, à semelhança de Cristo.3 O apóstolo Paulo escreveu sobre uma era vindoura e classificou-a como “tempos trabalhosos” e, dentre as características elencadas, está a seguinte: “porque haverá homens amantes de si mesmos [...]” (2 Tm 3.2). Incontestavelmente, os dias atuais deflagram esses “tempos trabalhosos” previstos pelo apóstolo; e, diante disso, como ser um líder cristão fiel em meio a uma geração egoísta? Objetivamente, o líder cristão que desejar seguir o modelo de Cristo e achar-se fiel no exercício da sua missão deverá ser alguém que nutre uma vida de comunhão com o Mestre. Aliás, antes de ser chamado para o serviço de liderar, o líder é chamado a caminhar com o Senhor, que o escolheu, conforme se percebe no registro bíblico em que se nota que, antes de serem designados a “pescar homens”, Pedro e André foram chamados a seguir o Senhor Jesus (Mt 4.19). Antes de envolver-se com o trabalho do Reino, o líder cristão deve envolver-se com o Rei do Reino. A. B. Bruce apresenta o processo do relacionamento dos apóstolos dividindo-o em três etapas até que estivessem prontos para cumprir a missão para a qual cada um deles foi designado, pois, “na primeira etapa eles simplesmente criam nele como sendo o Cristo, e sendo os seus companheiros mais próximos, particularmente em eventuais ocasiões festivas”, em seguida, ele
  • 9. aponta para a “segunda etapa”, em que “a comunhão com Cristo assumiu a forma de uma presença ininterrupta da sua pessoa, em tempo integral”, e, finalmente, “os doze entraram no estágio final, e mais elevado do discipulado quando foram escolhidos por seu Mestre dentre toda a multidão de seguidores, e formaram um grupo seleto, a ser treinado para a grande obra do apostolado”.4 Destaca-se que o serviço é o último estágio do processo em que o líder cristão é submetido. Lamentavelmente, não são poucos os líderes que, no desejo de cumprir a sua liderança, se perderam como cristãos. Somente com uma vida de inteira entrega e de comunhão com o Senhor é que essa tragédia pode ser evitada. A liderança cristã, portanto, atua no sentido de influenciar pessoas sob os princípios da Palavra de Deus, assim como o líder cristão é chamado a andar com Cristo com vistas a refletir o seu caráter enquanto exerce a sua missão de liderar pessoas. Liderança como Serviço Em diversas abordagens que o apóstolo Paulo fez sobre o ministério cristão e, consequentemente, sobre a liderança cristã, ele preocupou-se em deixar claro que esse ofício deve ser exercido sob a premissa do serviço. No seu Comentário Bíblico, Matthew Henry explica os termos “ministros de Cristo” e “despenseiros dos mistérios de Deus”, utilizados por Paulo em 1 Coríntios 4.1, e ele assim o faz nos seguintes termos: Em nossa opinião, tanto sobre os ministros quanto sobre todas as outras coisas, devemos ser cuidadosos para evitarmos extremos. Os próprios apóstolos não deviam ser: 1. Supervalorizados, pois eles eram ministros, e não mestres, administradores, e não senhores. Eles eram servos de Cristo e não mais, embora fossem servos de alto nível, que tinham o cuidado de sua casa, que deviam alimentar o resto, apontar e dirigir seu trabalho.5
  • 10. O conceito de Paulo sobre o exercício da liderança cristã firma-se não somente no serviço, mas também na capacidade que o líder cristão deve ter de trabalhar diligente e fidedignamente onde as pessoas não veem, como se vê nas figuras do soldado, do lavrador e do atleta (2 Tm 2.3-6). Note que cada uma dessas funções aponta para a uma atuação que quase sempre ocorre em lugares ocultos, mesmo que haja o reconhecimento de muitos em alguns momentos, mas quase sempre isso ocorre em secreto. Nesse caso, o líder cristão é alguém que deve ser capaz de trabalhar onde só Deus é capaz de enxergar e recompensar. Sendo assim, liderança cristã é serviço. O QUE FAZ UM LÍDER? Uma vez que já se sabe o que é ser um líder, é necessário avaliar, de maneira prática, quais são as principais funções, ou, se preferir, as atribuições do líder cristão. Este ponto dedica-se em identificar três funções que o líder cristão tem, sendo elas: I) esclarecer; II) guiar; e III) abençoar. O Líder Esclarece John C. Maxwell ensina que o líder deve amenizar o sofrimento dos seus liderados e que uma das formas pelas quais isso deve ocorrer é levando “a pessoa a ver as coisas de forma mais clara”, pois, nas palavras dele, “não há melhor maneira de mudar um problema do que ajudar alguém a enxergar uma solução”.6 Isso reafirma o compromisso que o verdadeiro líder tem com o bem-estar dos seus liderados, haja vista que, conforme visto acima, uma das suas principais funções é a de lançar luz no caminho das pessoas, favorecendo-as nos seus desafios e nas suas decisões.
  • 11. Observe o exemplo de Paulo, que, na condição de líder espiritual, auxiliou a Timóteo em diferentes áreas da sua vida, inclusive vocacional, conforme se lê: “Por este motivo, te lembro que despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1.6). À semelhança do apóstolo, todo líder cristão carrega sobre si a responsabilidade de cooperar com os seus liderados, projetando luz para o caminho. O líder cristão, portanto, tem a missão de esclarecer o que está obscuro aos seus liderados. O Líder Guia O ser humano tem em si mesmo a necessidade de ser liderado por alguém que lhe sirva de referencial e de fonte inspiradora. Essa necessidade é bem retratada nas palavras do salmista ao utilizar a figura da ovelha que dá testemunho do seu pastor (Sl 23). É evidente que esse salmo refere-se a Deus como o Supremo-Pastor, porém não deixa de representar a necessidade que o ser humano tem de ser guiado e conduzido. A dinâmica entre líderes e liderados é uma escolha divina, como afirma Stephen Adei: “Embora Deus seja o nosso líder supremo, nós ainda temos a responsabilidade de liderar e conduzir, a nós mesmos e aos outros”.7 Dito de forma direta e objetiva, o líder cristão deve ser um guia, cuja tarefa é a de conduzir os seus liderados rumo à maturidade cristã, e é nesse ponto que o caráter influenciador de uma liderança fica ainda mais acentuado, e a consolidação do seu caráter e da sua integridade é imprescindível neste processo. O líder cristão é submetido a um processo de aprofundamento das suas raízes, e isso pelos meios estabelecidos pelo próprio Deus, que objetiva treiná-lo até que alcance as condições necessárias no seu caráter e possa influenciar pessoas, conduzindo-as ao propósito de Deus; afinal de contas, liderar é conduzir ou mesmo guiar pessoas em segurança rumo a uma direção bem definida. O Líder Abençoa
  • 12. Desde o início dos registros bíblicos, é possível perceber o interesse de Deus em abençoar o ser humano, pois, mesmo quando pecaram, Adão e Eva foram alvos da insistência de Deus na sua busca por redimi-los e reconectá-los a Ele (Gn 3.8-15). A ação divina em toda a Bíblia é sempre no sentido de abençoar os povos, e, indubitavelmente, as palavras de Deus a Abraão confirmam isso, pois assim ele disse: “[...] e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). O ponto alto do interesse de Deus em abençoar os povos é alcançado na Pessoa de Jesus Cristo, o seu Filho, conforme as suas próprias palavras: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (Jo 12.32). Nenhum dos planos de Deus pode ser frustrado (Jó 42.2), pois Ele faz tudo o que deseja fazer; logo, então, Apocalipse 7.9 e 10 consta o anúncio de que todas as nações serão alcançadas pelo interesse divino em abençoá-las. Desse modo, uma vez que o líder cristão tem o dever de estar envolvido com o interesse de Deus, parte importante do seu trabalho é o de abençoar os seus liderados, servindo, assim, como uma espécie de instrumento por meio do qual o Senhor dispensa as suas dádivas sobre o seu povo. O líder cristão deve desejar e buscar uma comunhão real e sincera com Deus, por meio da qual a bênção de Deus irá alcançá- lo, e somente assim a sua função em abençoar pessoas poderá ser cumprida cabalmente, pois ele só pode oferecer aquilo que possui. Todo verdadeiro líder cristão, portanto, é um agente abençoador. O QUE NÃO É LIDERANÇA? Até aqui, o foco esteve sobre o que é liderança e sobre algumas das principais funções que um líder deve cumprir. Neste ponto, a ênfase recai sobre uma análise negativa sobre o tema proposto, a saber, o que não é uma liderança, e, com isso, aquilo que efetivamente se espera de um líder ficará ainda mais acentuado. Destaca-se ainda que a importância dessa abordagem também se confirma pela contribuição em alertar o líder cristão sobre alguns
  • 13. perigos que o cercam, mui especialmente na tendência que há no ser humano em julgar-se além do que realmente é; ou seja, essa reflexão propõe-se a definir limites e evitar excessos que poderão desagradar a Deus e comprometer o bom andamento da sua liderança. É imprescindível sublinhar que estar na posição de líder não necessariamente implica uma liderança confirmada por Deus e nem é a garantia de ela ser bem-sucedida. Liderança — principalmente a cristã — não tem nada a ver com posição. Liderar não É Ser Superior aos Liderados Desde que desobedeceu a Deus, o homem tem-se inclinado a buscar os primeiros lugares e as primeiras posições como desdobramento da danosa e falsa promessa que a serpente fez à Eva de que, caso comesse o fruto que o Criador havia proibido, ela e o seu marido passariam a ser “como Deus” (Gn 3.5). Acerca da origem e da causa dos muitos conflitos existentes entre os homens, leia o que está escrito na carta de Tiago 4.1,2. A dificuldade em identificar e aceitar o próprio limite de atuação é uma das trágicas consequências que o pecado trouxe à humanidade, e a insatisfação é uma das suas principais consequências, inclusive entre os que atuam na liderança cristã. A insatisfação é um sentimento provocado, principalmente, por expectativas frustradas, e isso impõe ao líder a necessidade de definir bem quais, de fato, devem ser as suas expectativas, objetivando proteger-se desse mal. Uma maneira eficaz para evitar as frustrações no exercício da liderança cristã é ter a clareza de que ser líder não consiste em ocupar uma posição superior aos liderados. Pelo contrário, conforme se nota no texto de 2 Pedro 5.1,2, o apóstolo ensina que ser líder não é: I) Ter autonomia para fazer o que desejar; II) Usar da sua posição para autopromoção; III) Ter autorização para exigir que
  • 14. outros lhe sirvam; IV) Ser superior aos demais; e V) Trabalhar com a expectativa de reconhecimento e recompensa humana. Liderar não É Dar Ordens Um líder consciente de que liderar não é estar em posição de superioridade aos seus liderados não exercerá uma liderança marcada pela imposição, mesmo porque o verdadeiro líder não lidera dando ordens, mas, ao contrário disso, influencia pessoas pelo bom relacionamento e pela sua conduta, que passa a ser exemplo para os demais. É urgente o combate à má compreensão do que realmente é ser um líder, e isso passa, inevitavelmente, primeiro por desconstruir a ideia de que liderar é “mandar” e, segundo, pela distinção entre o que é chefiar e o que é liderar. Com a intenção de oferecer uma contribuição clara, objetiva e eficaz a respeito desses dois pontos, atente-se para as palavras de Ritch K. Eich: Líderes de verdade não mandam [...]. Em geral, aprendemos a ser chefes, a mandar, não a liderar; e, em muitos casos, os chefes são os modelos de conduta que prevalecem. É raro hoje em dia encontrar indivíduos que não apenas inspiram os outros com foco, confiança, conhecimento estratégico e instinto para saber o que é importante, mas também têm a habilidade de engajar e mobilizar suas tropas, colocando o próprio ego de lado.8 Jesus não foi um líder que impôs a sua vontade aos seus liderados, porém não deixou de influenciá-los, tanto pelo peso da sua autoridade divina, como também pelo privilégio e prazer de estar na sua companhia. Isso fica muito claro no episódio em que os apóstolos foram desafiados pelo Mestre a decidir se ficariam ou se acompanhariam a multidão que, em resposta negativa à mensagem pregada por Jesus, decidiu deixá-lo, e Pedro respondeu no mesmo instante: “[...] Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.68). A verdade que Jesus representa, o prazer da sua companhia e a certeza de momentos de crescimento
  • 15. levaram o apóstolo Pedro a expressar o quanto os apóstolos foram influenciados pelo Mestre e decidiram ficar não por obrigação, mas por prazer, como fruto da influência de Jesus, e não da sua ordem. Liderar é influenciar, não mandar. Liderar não É Transferir Responsabilidades Não se pode confundir delegar funções com transferência de responsabilidades. O líder centralizador — que não envolve outras pessoas na execução de funções — é um problema; no entanto, um líder que nada faz e que transfere para outros fazerem o que é para ele fazer é tão trágico quanto. Portanto, é preciso alta sensibilidade e profundo comprometimento no líder que deseja estabelecer o equilíbrio entre delegar funções e cumprir responsabilidades exclusivas. Os diáconos foram instituídos em um momento desafiador da História da Igreja, pois, em decorrência do seu crescimento, os apóstolos começaram a falhar em partes como a atenção às viúvas, o que resultou em murmuração da parte dos gregos (At 6.1). Diante desse quadro, os apóstolos foram desafiados a oferecer uma solução e, de maneira equilibrada, brilhante e admirável, eles propuseram que as tarefas que não pertenciam à essência do ministério apostólico fossem delegadas a homens com as qualidades preestabelecidas, tendo em vista que eles não deixassem de cumprir a responsabilidade essencial do apostolado, isto é, a oração e o ministério da palavra (6.2-4). Esse é um excelente exemplo de equilíbrio entre delegar funções sem deixar de cumprir responsabilidades, algo tão necessário a um líder cristão. O líder não transfere responsabilidades, assim como não faz tudo sozinho.
  • 16. 1 CLINTON, J. Robert. Etapas na Vida de um Líder. Curitiba: Descoberta, 2000, p. 5. 2 EICH, Ritch K. Líderes Não Dão Ordens: Como orientar, inspirar e motivar sua equipe para alcançar grandes objetivos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2013, p. 21. 3 QUEIROZ, Silas. Maturidade Espiritual do Líder: Orientações bíblicas para um ministério eficaz. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, pp. 159. 4 BRUCE, A. B. O Treinamento dos Doze. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp. 25,26. 5 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse Edição Completa. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 441. 6 MAXWELL, John C. O Coração e a Mente do Líder. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 58. 7 ADEI, Stephen. Seja o Líder que sua Família Precisa. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 37. 8 EICH, Ritch K. Líderes Não Dão Ordens: Como orientar, inspirar e motivar sua equipe para alcançar grandes objetivos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2013, pp. 25,49,50.
  • 17. N CAPÍTULO 2 A PESSOA DO LÍDER ão há liderança sem a pessoa do líder. Essa é uma declaração óbvia e pode soar, em certa medida, como ingênua; entretanto, quando o assunto é liderança, duas coisas devem ser destacadas: I) Essa é uma das verdades mais importantes; II) Essa é uma das realidades mais negligenciadas. Por essa razão, este capítulo visa ultrapassar as fronteiras do trabalho que um líder faz e das expectativas existentes em torno disso para refletir sobre a sua constituição pessoal. Antes de avançar em direção ao objetivo de identificar aspectos da pessoa do líder e como isso pode e deve influenciar a sua vida e o seu trabalho, ressalta-se que o líder deve ter autoconhecimento, ou seja, que ele seja capaz de conhecer a si mesmo, de ser consciente das suas qualidades e de reconhecer os seus defeitos, pois somente assim a sua liderança estará em constante aperfeiçoamento e na direção da excelência. A respeito disso, John W. Stanko mostra a importância e as razões pelas quais o líder deve conhecer a si mesmo.9 Dentre as contribuições que Stanko oferece, destaca-se que o líder que conhece a si mesmo é capaz de identificar os seus pontos fracos e os seus pontos fortes, o que lhe dá condições de potencializar as suas qualidades e trabalhar as suas deficiências objetivando o seu aperfeiçoamento. Fica, portanto, registrada a importância de o líder ter como meta uma constante autoavaliação, trabalho que depende de: I) Disposição em realizá-lo; II) Sensibilidade para identificar as necessidades e as possíveis falhas; e III) Coragem para agir no sentido de corrigir o que está errado e propor novas atitudes.
  • 18. A essa altura, já deve estar claro que, embora a liderança de um determinado líder seja importante e imprescindível, a pessoa deste líder é ainda mais importante. Os registros bíblicos a respeito do trabalho dos muitos líderes que Deus levantou ao longo da história nunca depreciam a individualidade e as suas necessidades; pelo contrário, a Palavra de Deus sempre acentua o valor de cada um deles. Leia atentamente as palavras do Senhor a Jeremias no instante do seu chamado: “Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta” (Jr 1.4,5). Diante do texto supracitado, considere as seguintes verdades: I) Jeremias diz que “a palavra do Senhor” foi até ele, isto é, por meio da sua palavra, o próprio Deus foi lugar onde ele estava; II) Jeremias foi formado pelo próprio Deus no ventre da sua mãe; III) Jeremias foi conhecido por Deus antes mesmo de ter sido formado por Ele, e a expressão conhecer aqui denota relacionamento; IV) Deus diz que santificou — o mesmo que consagrou ou, ainda, separou — a Jeremias antes mesmo que ele nascesse, garantindo, assim, a exclusividade; V) Por fim, Deus diz que presenteou às nações com Jeremias para que lhes servisse como profeta. Fica mais do que claro que, antes de entregá-lo para atuar como profeta, Deus priorizou uma relação pessoal com Jeremias, utilizando-se de termos bem íntimos e pessoais, como evidência de que mais importante que o trabalho do profeta é a vida do profeta. Do mesmo modo, antes de utilizar-se do líder como ferramenta nas suas mãos, o Senhor da Igreja opta por valorizar e trabalhar a pessoa do líder nas mais variadas áreas da sua constituição como pessoa, começando pela sua personalidade, passando pelos cuidados pessoais que o líder deve ter e nutrindo meios pelos quais os seus relacionamentos sejam saudáveis e possam beneficiar a sua vida e o seu trabalho.
  • 19. O LÍDER COMO INDIVÍDUO Há uma forte tendência, tanto do líder como dos seus liderados, em perder de vista o fato de que, por mais bem-sucedido que o líder possa ser, ele é uma pessoa e, além de ter de ser visto assim, ele deve ser tratado dessa forma. A personalidade do líder deve ser levada em conta e valorizada, assim como a sua integralidade e a sua necessidade de bons, saudáveis e duradouros relacionamentos. A Personalidade do Líder De acordo com o Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, personalidade é a “qualidade do que é pessoal; caráter próprio de uma pessoa; aquilo que a distingue de outra”.10 Em uma ampliação do conceito, a personalidade tem sido definida como o conjunto de fatores afetivo, emocional e habitual, que, juntos, formam o ser de uma pessoa. Além disso, a personalidade também indica a consciência que a pessoa tem de si mesma e a forma como ela lida com o ambiente onde vive. Pensar a personalidade do líder é, portanto, considerar a sua individualidade, levando em conta o seu bem-estar físico, emocional e espiritual, haja vista que, em certo nível, o exercício e o sucesso da sua liderança dependem de que esses aspectos estejam bem ajustados e equilibrados. Partindo do princípio de que uma das principais funções de um líder é a de influenciar os seus liderados, é imprescindível para o líder cristão a manutenção da coerência entre o que ele ensina e a forma como vive a sua vida pessoal. O exemplo do líder passa pelo seu aspecto ético, mas não pode estar limitado apenas a isso, porém deve envolver a sua estrutura física, a sua constituição emocional e a sua base espiritual. Evidentemente que o cuidado com a saúde física, emocional e espiritual é indispensável ao líder cristão, só que esse cuidado não se dá pelo cuidado em si, mas deve ser moldado e cultivado pelos
  • 20. padrões bíblicos; afinal de contas, trata-se de uma liderança cristã e que, acima de qualquer outro objetivo, tem como meta a glória de Deus e a condução da igreja no seu alvo de cumprir a sua missão na terra. O cuidado integral do líder cristão deve, portanto, ser pautado pelas Escrituras. A Humanidade do Líder Refletir sobre a constituição integral do líder depende do destaque de que o homem foi criado por Deus, mas não somente isso, sendo indispensável que se considere como isso se deu e qual o propósito da sua existência. Sobre isso, Jacó Armínio escreve: Assim foi criado o homem, para que pudesse conhecer, amar e adorar o seu Criador, e viver com Ele para sempre, num estado de bem-aventurança. Por este ato de criação, Deus exibiu, de maneira manifesta, a glória da sua sabedoria, bondade e poder.11 A expressão “Assim foi criado o homem” feita por Armínio resulta numa questão central: “Assim como?” E essa questão pode ser respondida sob dois aspectos: I) O processo — leia-se o método — pelo qual Deus criou o homem; II) A constituição do homem, isto é, a sua estrutura. Nota-se, portanto, que o homem distingue-se dos demais seres criados por Deus, e isso se dá por diferentes razões, dentre as quais se destaca a sua dupla constituição, isto é, a sua estrutura material e imaterial (Gn 2.7). Na sua Teologia Sistemática, o teólogo Norman Geisler afirma que “a natureza dos seres humanos inclui a sua dignidade” e, com base no texto de Salmos 8.5, ele destaca que “a humanidade é uma criação especial de Deus”.12 Quanto à criação do homem e à sua constituição, a Bíblia apresenta Deus como o idealizador e o criador do homem (Gn 1.27; 2.7; 5.1,2; 6.7; Dt 4.32; 43.1,7; 45.12; Rm 9.20; 1 Co 15.45; Cl 3.10; 1 Tm 2.13; Tg 3.9). A Escritura coloca o homem como uma criação especial; afinal, o homem foi criado (do hebraico barra — criar algo
  • 21. novo), formado (do hebraico asah — preparado) e moldado (do hebraico yatzar — modelar). A Bíblia também afirma que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (ver Gn 1.27), e isso tem sido tema de muita discussão, e, dentre as diferentes formas de interpretar essa verdade, encontra-se a que defende que a imagem e a semelhança de Deus podem ser notadas no trino ser do homem: corpo, alma e espírito. Aqui está a forma como Deus constituiu o homem ao criá-lo, e, acerca disso, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus estabelece que: [...] o ser humano é constituído de três substâncias, uma física, corpo, e duas imateriais, alma e espírito [...]. Essa doutrina é chamada tricotomia [...] a natureza humana consiste numa parte externa, o corpo ou a carne, chamada “homem exterior” e uma parte interna, denominada “homem interior”, composta do espírito e da alma.13 Definitivamente, o homem é um ser tricotômico, isto é, a sua estrutura é constituída de corpo, alma e espírito (Ec 12.7; Mt 6.25; 10.28; 1 Co 5.3,5; 1 Ts 5.23; Hb 4.12). Uma vez que o corpo foi criado por Deus, que o espírito pertence a Deus e que a alma é dada por Ele, não se pode pensar que um sobreponha ao outro em termos de importância, pois se cada uma dessas partes advém do Criador, todas elas têm a mesma importância e o mesmo valor. O líder deve ser resoluto no sentido de buscar o equilíbrio entre as partes da sua constituição humana sem nunca desconsiderar a sua integralidade. Indubitavelmente, o apóstolo João tinha isso em mente quando expressou o seu desejo de que Gaio tivesse saúde física, emocional e espiritual (3 Jo 2). O líder bem-sucedido é aquele que, dentre outras coisas, valoriza cada área da sua constituição humana, pois reconhece que foi Deus quem o criou dessa forma, razão pela qual ele deve buscar a tão desejada e necessária disciplina com vistas ao cuidado com a sua vida, em nível integral, e não parcial. Considere-se também que um líder saudável em todas as áreas da sua vida tem maior condições de cumprir a sua missão com mais empenho, dedicação e eficácia.
  • 22. O Líder e os seus Relacionamentos Conforme já visto, o cuidado do líder cristão deve compreender cada área da sua estrutura humana, mas, afinal de contas, como isso pode ser feito efetivamente? Há muitos meios pelos quais o líder cristão não somente pode, como também deve cuidar da sua vida pessoal, emocional e espiritual; entretanto, relacionamento é uma palavra que contribui no sentido de restringir essa reflexão para responder a essa questão. Isso mesmo! O líder cristão que almeja alcançar êxito na sua trajetória pessoal e ministerial deve ser alguém que valoriza, busca e cuida dos seus relacionamentos em cada uma das áreas da sua vida. O que se propõe aqui é uma reflexão em torno da necessidade que o líder tem de relacionar-se bem com Deus, consigo mesmo e com o próximo, pois, fazendo assim, toda a sua estrutura humana estará coberta por relacionamentos que contribuirão significativamente com a sua saúde física, emocional e espiritual, o que resultará, naturalmente, em frutos duráveis da sua liderança. O pecado cometido por Adão e Eva afetou negativamente o relacionamento do homem nos seus três níveis: I) Com Deus, pois, assim que pecaram e perceberam a presença de Deus no jardim, procuraram uma forma de esconderem-se do Senhor (Gn 3.8); II) Consigo, já que o texto bíblico informa que, assim que pecaram, ambos estavam nus (3.7); e III) Com o próximo, mesmo porque, quando questionado sobre o seu erro, Adão atribuiu a culpa à Eva, como clara demonstração de egoísmo e falta de compaixão com o seu cônjuge (3.12). O Senhor Jesus veio para desfazer não somente os efeitos, como também as próprias obras do Diabo (1 Jo 3.8). A redenção operada por Jesus é capaz de resolver o problema do homem com Deus (2 Co 5.19; Cl 2.14-17), consigo (Rm 8.1-21) e com o próximo (Ef 5.21- 33). Com base nisso e ciente de que o líder cristão tem a responsabilidade de ensinar, guiar e influenciar os seus liderados a viver e a experimentar as bênçãos que Cristo conquistou na cruz, a restauração dos relacionamentos nas suas três dimensões deve ser
  • 23. parte das ações de uma liderança cristã comprometida com o Senhor da Igreja. É evidente que uma das condições para que o líder tenha êxito nessa tarefa é por meio do exemplo, e, nesse caso, à medida que ele mantém um bom relacionamento com Deus, consigo e com os seus semelhantes, os seus liderados serão influenciados e motivados a também viver nesse mesmo nível, ou, ao menos, ter esse padrão como ideal a ser alcançado. A promoção e a manutenção de relacionamentos saudáveis, portanto, devem ser uma das prioridades na agenda de um líder cristão. CUIDADOS QUE UM LÍDER DEVE TER Ainda numa abordagem sobre a pessoa do líder, este capítulo possui um caráter exortativo no sentido de alertar sobre alguns dos muitos cuidados que o líder cristão deve ter no exercício da sua liderança, começando pelo cuidado que o líder deve ter em conhecer e atuar dentro do seu próprio limite, passando pela necessidade e o incentivo de o líder manter-se em constante processo de aperfeiçoamento por meio do preparo inerente ao seu trabalho e finalizando com a advertência sobre os perigos de expectativas desalinhadas aos padrões bíblicos. Cuidado em Conhecer o seu Próprio Limite Não é surpresa para ninguém o fato de que todo líder deseja ter êxito na sua liderança. Mas, afinal de contas, qual o critério para que um líder cristão seja considerado bem-sucedido? Números são importantes e têm, sim, o seu lugar no processo de análise sobre a performance de um determinado líder; influência — nas suas mais variadas formas –— também tem o seu lugar e possui um caráter estratégico em busca dos objetivos preestabelecidos de uma liderança; do mesmo modo, a capacidade intelectual de um líder também desempenha um importante papel na
  • 24. conduta dos projetos a ser elaborados, executados e avaliados. Entretanto, dentro de uma perspectiva estritamente bíblica, a principal “régua” para medir o sucesso de uma liderança é a fidelidade, e quem estabelece essa verdade é o apóstolo Paulo, ao escrever: “Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel” (1 Co 4.2). Mas, o que caracteriza a fidelidade de um líder cristão? Por fidelidade deve-se entender a qualidade de um líder fiel, que, por sua vez, tem como características a confiabilidade nos seus relacionamentos e nos seus negócios. Em uma análise ainda mais ampliada, o líder fiel é alguém que cumpre o que diz, que cumpre com as suas obrigações, sendo, por isso, digno de confiança.14 Sendo assim, de maneira objetiva, o líder cristão fiel pode ser definido como aquele que pauta o exercício da sua liderança no padrão ensinado por Jesus, quer seja por palavras, quer seja por exemplos práticos. Conforme será visto mais à frente, o Senhor Jesus é o maior líder que já passou por esta terra, e as suas qualidades são inúmeras em quantidade e admiráveis em qualidade. Aqui, porém, o destaque repousa sobre a sua humildade, pois essa virtude é um dos seus argumentos ao convidar os seus discípulos a aprenderem dEle (Mt 11.29). Fundamentado nisso, destaca-se que a humildade é uma qualidade necessária a todo líder cristão que deseja ser contado entre os que são chamados de fiéis. Mas, afinal, o que é ser um líder humilde? Em linhas gerais, o líder cristão marcado pela humildade é aquele cujas ações demonstram dependência em Deus em detrimento de si mesmo, assim como é capaz de valorizar as outras pessoas.15 Como se vê, a humildade manifesta-se, portanto, de diferentes formas e em diferentes dimensões, quer dizer, tanto na que é conhecida somente por Deus como naquela que os homens têm conhecimento; a humildade dá os seus frutos nas esferas visível e invisível, interna e externa. Do mesmo modo, é preciso que o líder cristão busque em Deus um coração humilde para que as suas ações sejam capazes de refletir essa realidade.
  • 25. Um líder que se parece com Jesus em demonstração de humildade é alguém que tem conhecimento de si mesmo e do seu limite de atuação. Com essa preocupação, o apóstolo Paulo advertiu Timóteo a que — mesmo diante do sofrimento, rejeição e oposição — cumprisse o seu chamado de evangelista (2 Tm 4.5). A humildade, portanto, propicia ao líder cristão as seguintes bênçãos: I) Conhecimento e clareza quanto ao seu lugar e à sua atuação dentro do que Deus está realizando no mundo; II) Motivação e condições para enfrentar os desafios inerentes à liderança cristã; III) Manter-se firme sem perder de vista qual é a sua missão efetivamente; capacidade de respeitar e honrar com naturalidade a atuação de outras pessoas nas suas devidas funções, mantendo, assim, relacionamentos bons, saudáveis e duradouros. Como evidência de um coração humilde, o líder cristão de sucesso atua nos seus próprios limites e honra as atuações e o valor do trabalho dos seus irmãos. Cuidado em Preparar-se Ninguém vai além do preparo que têm. Essa é uma máxima que deve fazer parte das convicções de um líder cristão que deseja ser bem- sucedido no seu ministério. Lembrando que sucesso, aqui, está relacionado com fidelidade, e não com expectativas simplesmente humanas. Diante disso e considerando a integralidade da pessoa do líder, essa seção dedica-se em refletir sobre o compromisso do líder com o seu preparo em três aspectos principais: I) Espiritual; II) Intelectual; III) Pessoal. O preparo de um líder cristão deve ser dinâmico, permanente e interminável. Há muitos textos bíblicos que confirmam a necessidade de o líder buscar crescer e aperfeiçoar-se constantemente, porém poucos retratam isso tão bem quanto as seguintes palavras de Paulo: “[...] não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
  • 26. ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo [...]” (Fp 3.13,14). A saúde da vida espiritual de um líder cristão é imprescindível para a sua liderança, e a sua manutenção depende de práticas como oração, meditação bíblica, consagração, conversas sagradas que contribuam com o crescimento espiritual; afinal de contas, é isso o que se espera de cristãos maduros (1 Co 14.26). Essas práticas espirituais certamente permitirão que o líder tenha a sensibilidade necessária e a firmeza esperada para o bom uso dos dons espirituais enquanto exerce a sua liderança (1 Pe 4.10). O preparo intelectual também tem o seu lugar de destaque na galeria dos cuidados que um líder precisa ter, e isso é visto na admoestação que o apóstolo Paulo fez a Timóteo, ao escrever: “Persiste em ler, exortar e ensinar [...]” (1 Tm 4.13). Por fim, o preparo pessoal do líder também é parte de um todo a ser considerado como prioritário no cuidado consigo, conforme Paulo advertiu os líderes da igreja que estava em Éfeso: “Olhai, pois, por vós [...]” (At 20.28) e a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo [...]” (1 Tm 4.16). É evidente que os cuidados nos níveis apresentados aqui representam um grande desafio a todo líder, e isso só poderá acontecer mediante uma vida disciplinada. Essa disciplina é chamada por Bill Hibells de “autoliderança” e é explicada por ele nas seguintes palavras que pertencem a parte de uma experiência pessoal dele: A sua recomendação? “É o gerenciamento de si mesmo que deveria ocupar 50% do nosso tempo e o melhor das nossas habilidades. E quando fazemos isso, os elementos éticos, morais e espirituais do gerenciamento não têm como ser ignorados”. Estava aturdido. Ele realmente queria dizer isso? Que deveríamos dedicar 50% do nosso tempo a autoliderança, e dividir os 50% restantes entre liderar acima, abaixo e lateralmente? [...] Isso é autoliderança. E ninguém — digo ninguém — pode fazer isso por nós. Todo líder tem de fazer esse trabalho sozinho, e isso não é fácil. Na verdade, Dee Hock afirma que, por ser um trabalho tão duro, é evitado pela maioria dos líderes. Preferimos tentar inspirar
  • 27. ou controlar o comportamento dos outros a enfrentar a rigorosa tarefa de refletir a nosso respeito e de crescer interiormente.16 Conclui-se, portanto, que a disciplina pessoal de um líder cristão proporcionará a ele condições para que a sua liderança seja próspera e duradoura. Cuidado com as Expectativas Erradas As expectativas erradas representam um perigo a qualquer pessoa, mui especialmente aos líderes cristãos, pois a frustração pode conduzi-los a situações inimaginavelmente desagradáveis e até prejudiciais. Por esse motivo, a Bíblia Sagrada adverte sobre isso de diferentes formas, quer seja por meio de fatos históricos, quer seja pela apresentação da expectativa genuinamente bíblica. Samuel pensou que, ao pedir um rei, o povo estivesse rejeitando a ele, mas o Senhor disse-lhe: “[...] pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele” (1 Sm 8.7). Uma expectativa errada pode levar um líder a frustrar-se e a decepcionar-se. Atente para as palavras de Paulo a Timóteo: “Por este motivo, te lembro que despertes o dom de Deus, que existe em ti [...]” (2 Tm 1.6). Diante da rejeição e da oposição de alguns e do desafio de ter de visitar a Paulo na prisão em Roma, Timóteo foi admoestado a despertar o dom que havia nele; observe, porém, que o apóstolo utiliza a expressão “Por este motivo”. Qual seria “este” motivo? A resposta está nos versículos anteriores, em que há principalmente as informações da trajetória de fé e ministerial de Timóteo, o que, para Paulo, eram tudo o que o jovem obreiro necessitava para cumprir o seu ministério. O líder cristão corre um sério risco quando perde de vista o que realmente precisa para exercer a sua liderança. Mas, afinal, qual deve ser a expectativa do líder cristão? No que se refere à ação de Deus, o líder deve confiar que todo crescimento procede do Senhor (1 Co 3.6); já no que concerne à
  • 28. ação do homem diante de Deus, a expectativa deve ser de agradar a Deus por meio da sua fidelidade (1 Co 4.1-2). A VIDA ESPIRITUAL E FAMILIAR DO LÍDER Para finalizar esta parte cujo objetivo tem sido enfatizar alguns dos cuidados que devem estar presentes na trajetória de um líder, a ênfase recai sobre dois aspectos que servem como selo para os demais, pois tanto a vida espiritual como a estrutura familiar para o exercício da liderança de alguém não é só fundamental, como também vital. Esta seção é dividida da seguinte forma: I) A espiritualidade de um líder cristão; II) A relação entre o líder e a sua família; III) Práticas espirituais no exercício da liderança cristã. A Espiritualidade de um Líder Cristão Como definir a espiritualidade de um líder cristão? Em primeiro lugar, destaca-se o que se entende aqui por espiritualidade. A esse respeito, atente para o que Alister McGrath tem a dizer: Espiritualidade trata, então, da vida da fé — aquilo que a impulsiona e motiva, e o que as pessoas consideram útil para sustentá-la e desenvolvê-la. Trata-se do que anima a vida do cristão e o instiga a aprofundar e aperfeiçoar aquilo que no presente está apenas em seu início. Espiritualidade é a prática na vida real da fé religiosa de uma pessoa — o que a pessoa faz com o que crê. Não se trata apenas de ideias, embora as ideias básicas da fé cristã sejam importantes para a espiritualidade cristã. Trata-se de como a vida cristã é concebida e exercitada. Trata-se da plena compreensão da realidade de Deus.17 A espiritualidade cristã está fundamentada na experiência pessoal e real do cristão com o seu Senhor, experiência esta que influencia a forma como se crê e o seu relacionamento com Deus, a maneira de pensar a existência humana, a forma como as pessoas relacionam-se consigo e com o mundo exterior. Dito de outra forma, a espiritualidade cristã é a vida espiritual na prática, referindo-se às
  • 29. evidências dos fundamentos e princípios cristãos. Percebe-se que a espiritualidade cristã lida com a complexa relação entre o invisível e o visível, o sobrenatural e o natural ou, ainda, o divino e o humano. A espiritualidade de um líder cristão é, portanto, um tema a ser levado em alta consideração, pois diz respeito à sua relação com Deus, com o meio onde vive e com as pessoas com as quais convive, e, por meio de uma espiritualidade bíblica e saudável, essa liderança agradará a Deus e o favorecimento aos liderados como prioridades na sua prática, o que certamente refletirá o perfil de uma liderança verdadeiramente aprovada pelo Senhor. O Líder e a sua Família Liderar no âmbito cristão é só mais uma forma de servir a Deus e agradá-lo. Nesse caso, o líder cristão é desafiado a sentir e a agir sob os mesmos princípios da vida cristã, com o diferencial de que isso é feito enquanto exerce a sua liderança. Uma das formas mais eficazes para verificar-se a maturidade de um cristão e a sua vida espiritual é por meio da engrenagem da sua relação familiar. Paulo ensinou a igreja que estava em Éfeso sobre a necessidade de uma vida cheia do Espírito Santo e indicou que o fruto disso é a bondade, a justiça e a verdade (Ef 5.9,18). Em seguida, o apóstolo passou a mostrar como deve ser a vida familiar de um cristão como clara demonstração dessa vida sob o domínio do Espírito Santo com as seguintes características: I) A esposa que vive em sujeição ao seu marido (5.22); II) O marido que ama a sua esposa (5.25); III) Filhos que obedecem aos seus pais (6.1-3); IV) Pais que não provocam a ira dos seus filhos (6.4). Em linhas gerais, uma vida cristã madura sob o domínio do Espírito de Deus resultará em demonstrações práticas dentro de uma engrenagem familiar bem ajustada e que glorifica ao Senhor. Como cristão, o líder que atua no contexto da Igreja de Cristo também é responsabilizado por trabalhar pela manutenção de uma família saudável com vistas a glorificar a Deus e servir de exemplo
  • 30. aos seus liderados. Ao orientar Timóteo sobre o perfil daqueles que deveriam ser separados para trabalhar no contexto da igreja como líderes, Paulo esteve focado — praticamente o tempo todo — no aspecto do relacionamento, principalmente no que se refere à família (1 Tm 3.1-13), e não foi — e nem poderia ser — diferente do que falou a Tito (1.5). Cuidar da sua vida familiar é, portanto, dever elementar de um líder cristão de sucesso. Práticas Espirituais de um Líder A última abordagem deste capítulo diz respeito às práticas espirituais para uma liderança cristã exitosa, e, assim como para os demais cuidados, elas exigem disciplina para que sejam atendidas. David Kornfield apresenta uma série de práticas espirituais separadas em duas classes, chamadas por ele de “disciplinas de abstinência e disciplinas de engajamento”. As práticas das disciplinas de abstinência são: I) Solitude; II) Silêncio; III) Jejum; IV) Frugalidade; V) Castidade, pureza; VI) Segredo, sigilo; VII) Sacrifício. Já as práticas das disciplinas de engajamento são: I) Estudo; II) Adoração; III) Celebração; IV) Serviço, oração; V) Comunhão; VI) Confissão; VII) Submissão.18 Fica, portanto, um alerta: líder cristão, cuide-se! 9 STANKO, John W. Muitos Líderes, Pouca Liderança. Niterói: BV Books, 2009, p. 121. 10 TERSARIOL, Alpheu. Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Li-Bra Empresa Editorial, p. 617. 11 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio (vol. 2). Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 62. 12 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática (1). Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 941.
  • 31. 13 SOARES, Esequias (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 78. 14 A fonte pesquisada para a fundamentação do pensamento aqui estabelecido sobre a fidelidade é o Dicionário Bíblico Strong (STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong: Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002, ref. 4103). 15 Ibid. ref. 5011 16 HIBELLS, Bill. Liderança Corajosa. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 185,186. 17 MCGRATH, Alister E. Uma Introdução à Espiritualidade Cristã. São Paulo: Editora Vida, 2008, p. 37. 18 KORNFIELD, David. O Líder que Brilha: Sete relacionamentos que levam à excelência. São Paulo: Editora Vida, 2007, p. 90.
  • 32. É CAPÍTULO 3 A LIDERANÇA DE MOISÉS impossível fazer um estudo sincero sobre liderança sob uma perspectiva bíblica do Antigo Testamento sem levar em conta o exemplo de Moisés; afinal de contas, pouquíssimos assemelham-se a ele em riqueza quando o assunto é contribuição a ser oferecida no assunto aqui tratado. Por essa causa, este capítulo é dedicado a tomar a Moisés como referência com o objetivo de somar aos demais exemplos aqui também elencados para a construção de um “edifício” sobre o qual os líderes cristãos possam firmar-se à medida que cumprem a sua missão em tempos atuais. Embora seja admirado pela liderança bem-sucedida que teve e pela sua representatividade profética, Moisés foi um ser humano cujas limitações foram-lhe inerentes. Sendo assim, ele não foi isento da necessidade de passar por um longo e intenso processo de treinamento que visou prepará-lo para que cumprisse a sua missão; do mesmo modo, Moisés foi flagrado como um homem portador de limitações nas suas mais variadas formas, conforme se vê em diferentes momentos da sua trajetória, mui especialmente na ocasião em que o seu sogro, Jetro, advertiu-o para buscar ajuda a fim de que pudesse liderar o povo de Israel. O exemplo de Moisés ensina que o líder que delegar tarefas demonstra ser alguém que reconhece as limitações da sua humanidade, ao passo que a realidade dessas limitações é um meio pelo qual o líder é lembrado da sua dependência de Deus. Partindo, portanto, do princípio de que uma liderança bem- sucedida é aquela que compartilha tarefas, a proposta deste capítulo fundamenta-se em refletir sobre o perigo da sobrecarga na vida de um líder cristão, a importância de encontrar pessoas com
  • 33. que se possa dividir as responsabilidades e de pedir a Deus que essas pessoas sejam por ele colocadas no caminho desse líder. O PREPARO DE MOISÉS Dentre os muitos que se encarregam de reafirmar a relevância da vida e do ministério de Moisés, as palavras do Senhor ao seu respeito ocupam uma elevada posição, conforme se lê em Números 12.6-8: E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois, ele vê a semelhança do SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés? Diante das duras críticas que Arão e Miriã faziam a Moisés, o Senhor Deus saiu em defesa do seu servo sob os seguintes argumentos: I) Deus testemunhou que Moisés foi fiel em toda a sua casa; e II) O Senhor informou que a relação entre ele e Moisés era direta e sem intermediários. Mas, afinal, como Moisés alcançou essa estatura espiritual diante de Deus? Inquestionavelmente, essas qualidades de Moisés foram desenvolvidas nele por intermédio de um processo de preparo a que o submeteu Deus com vistas o cumprimento de um propósito preestabelecido por Ele. No mesmo contexto em que Deus sai em defesa de Moisés diante dos ataques de Arão e Miriã, há a seguinte informação: “E era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12.3). Se levarmos em conta que Moisés assassinou um homem em um determinado momento da sua vida (Êx 2.11-3.22), a informação sobre a sua mansidão só pode fazer sentido e ser explicada com algo significativo que tenha acontecido entre esses dois fatos, e não restam dúvidas de que essa transformação deu-se como resultado desse processo de disciplina e de treinamento a que ele foi submetido.
  • 34. A Infância de Moisés O ministério de líder que Moisés exerceu não foi algo separado da sua trajetória pessoal, começando pelo seu nascimento e o desenvolvimento da sua infância. Do início ao fim, a história de Moisés foi uma providência divina e, em cada etapa, é possível identificar o processo a que ele foi submetido como treinamento para que pudesse ser exitoso na sua missão. Moisés nasceu em um período sombrio da história de Israel, o seu povo. Faraó deu ordem para que todos os meninos hebreus recém- nascidos fossem assassinados, o que afetava e ameaçava Moisés; entretanto, Deus preservou a sua vida soberana e milagrosamente, conduzindo-o pelo rio Nilo até que chegasse à filha de Faraó, que decidiu adotá-lo e encaminhou-o para que a sua própria mãe amamentasse-o até que se tornasse grande e, então, fosse enviado ao palácio (Êx 1.15,16; 2.1-10). Não há dúvida alguma de que Deus guiou Moisés já nos seus primeiros momentos de vida, conduzindo- o até a casa de Faraó, que, para Stanko, foi para educá-lo, já que, na sua visão, Deus projetou a educação como parte do preparo de Moisés, assim como é de fundamental importância para todo líder.19 A forma como Deus conduziu a história de Moisés, principalmente no seu início, isto é, na sua infância, sublinha o fato de que a formação de um líder é processual e dinâmica. Isso quer dizer que, de forma soberana e providencial, o Senhor utiliza-se de cada fase e de cada acontecimento da vida de um líder para treiná-lo e prepará- lo. Moisés, portanto, foi um líder treinado por Deus em cada uma das fases da sua vida com vistas a estar pronto para a missão a que foi designado. Moisés no Palácio Terminado o período de ser cuidado por Joquebede, a sua mãe, era a hora de Moisés ir para o palácio, e longe de ter sido com o propósito de proporcionar conforto e tranquilidade ao jovem hebreu,
  • 35. a sua ida para a corte teve um propósito estratégico do ponto de vista divino, o que é confirmado pelos acontecimentos sucedentes. Destaca-se, conforme defendido por Leo G. Cox, que o próprio nome dado a Moisés foi uma forma de impregnar no jovem o cuidado e o propósito de Deus com a sua vida, pois a própria pronúncia do seu nome serviu como meio de “lembrança constante de sua origem, pois o significado hebraico é ‘tirado para fora’ e o significado egípcio é ‘salvo da água’” e “as primeiras palavras da mãe produziram fruto que se manteve vivo no coração do rapaz”.20 Moisés teve de conviver com uma “dupla identidade”, a de hebreu de nascimento e a de egípcio de criação. Ao mesmo tempo, teve de lidar com as facilidades e as oportunidades do palácio e com a triste realidade de injustiça e sofrimento que o seu povo sofria. Esse conflito durou até que ele teve de decidir defender um dos seus irmãos hebreus ou o ignorar, e, conforme a informação bíblica, ele optou por assassinar o egípcio que maltratava um dos hebreus (Êx 2.11,12). Aqui o que precisa receber destaque é o fato de que a sua passagem pelo palácio — ainda que haja pouca informação sobre esse período — representa uma parte importante do preparo a que Moisés foi submetido, pois ali recebeu instruções que forjaram a sua capacidade intelectual (At 7.22), além de ter tido acesso a todas as facilidades inerentes a um ambiente palaciano, pois, de acordo com as palavras do escritor da carta aos Hebreus, o líder de Israel teve de renunciar algo de elevado valor para que pudesse atender ao chamado divino (11.24). A inserção de Moisés no palácio não objetivou o seu conforto pessoal, mas teve o propósito divino de prepará-lo em um nível que, somente naquele ambiente, isso poderia acontecer com vistas a libertação de Israel da servidão do Egito, e isso confirma duas importantes verdades: I) O sucesso de uma liderança passa pelo
  • 36. seu preparo; e II) A preparação de um líder visa o benefício dos seus liderados. Moisés no Deserto O processo a que Moisés foi submetido como meio de prepará-lo para a sua missão foi marcado por contrastes, ou, ainda, por “altos e baixos”. Não é preciso muito esforço para identificar a dinâmica desse processo, pois ele foi conduzido da sua casa ao deserto, sendo este último um grande contraste, o que acentua ainda mais o fato de que, definitivamente, Deus inseriu-o num treinamento intensivo. A compaixão e a identificação com as necessidades de pessoas vulneráveis, fragilizadas e subjugadas caracterizaram a liderança de Moisés, e isso passou a ser percebido justamente no período da sua fuga para as regiões desérticas de Midiã. Além do interesse demonstrado em prestar auxílio aos fracos e necessitados, que é bem explicitado pelo texto bíblico, é possível notar outras duas características da liderança de Moisés e que o período em que esteve no deserto serviu para sublinhar isso, sendo elas: I) O seu interesse pelo bem-estar do próximo, ou seja, o seu envolvimento com os problemas de outras pessoas com a intenção de ajudar a solucioná-los; e II) O senso de justiça demonstrado pela sua atitude em defender quem estava do lado da verdade. No deserto, Moisés pôde aprender o caminho da solidão, pois teve de enfrentar o esquecimento de muitos; teve, no entanto, condições de conhecer a Deus noutro nível e, consequentemente, ter uma visão a respeito de si mesmo, constatando com isso as suas fragilidades e conhecendo o seu próprio lugar. Do rio Nilo para os braços da filha de Faraó; do palácio para a casa dos seus pais; da casa dos seus pais de volta ao palácio e daí direto para o deserto. Diferentes lugares e circunstâncias, porém com uma grande certeza: a presença de Deus conduzindo o líder
  • 37. Moisés à maturidade com vistas ao aprofundamento das suas bases sobre as quais o edifício da sua liderança seria estabelecido. A presença de Deus e a consciência da sua missão, portanto, fez com que Moisés perseverasse diante do Senhor e do seu propósito. O CHAMADO DE MOISÉS Diante das dificuldades e dos desafios inerentes a uma liderança cristã, o que é capaz de sustentar o líder na sua missão? A resposta a essa pergunta pode ser dada a partir da explanação de Lorin Woolfe na qual ele explica que a consciência de Moisés sobre a sua missão fez com que ele pudesse permanecer firme e a sua liderança não fosse abalada.21 No entanto, o que foi responsável pela clareza que Moisés teve da sua missão? Aquilo que começou a ser gerado no coração de Moisés a partir dos relatos sobre a sua trajetória à medida que Deus trabalhava nele passou a ter uma conotação mais prática por ocasião da sua experiência quando recebeu o chamado divino. Essa concretização representada no chamado que recebeu de Deus deu condições a Moisés para que este permanecesse firme na sua missão de liderar a Israel, não obstante os apertos que teve de enfrentar. Essa seção é dedicada a tratar, sob a perspectiva de Moisés, a respeito da natureza de um chamado, da sua importância e a experiência vivida no ato do chamado. A Natureza do Chamado Até que fosse encontrado por Deus no deserto, Moisés não demonstrou interesse de ocupar uma posição em que pudesse destacar-se. Diante do desinteresse de Moisés e do fato de que recebeu o chamado de Deus, fica evidente que: I) A iniciativa foi de Deus, e não de Moisés; II) A escolha foi divina, e não humana; e III) Não há mérito algum em Moisés (que foi chamado), mas, sim, em Deus (que o chamou).
  • 38. O chamado de Moisés teve uma natureza divina, já que a sua fonte foi o próprio Deus. Nesse caso, destaca-se que, à sua semelhança, o líder cristão tem, no mínimo, uma tríplice manifestação: I) Em relação a Deus, que é a natureza da autoridade espiritual sob a qual a liderança é exercida; II) Em relação aos liderados que, à medida que identificam os traços de uma verdadeira chamada do seu líder, se submetem de forma natural e respeitosa; e III) Em relação a si mesmo, pois, diante dos desafios a ser enfrentados, ele terá a certeza de que foi Deus quem o chamou, razão pela qual Ele mesmo se encarregará de sustentá-lo e de garantir-lhe a vitória. A compreensão sobre a natureza divina do seu chamado deu a Moisés condição necessária para compreender que o objetivo de uma liderança espiritual não deve restringir-se a interesses pessoais. Moisés foi um líder desprendido, cujo interesse nunca foi a promoção do seu próprio nome, mas sempre se dedicou a glorificar a Deus e a abençoar os seus liderados, como se vê no episódio em que Moisés prefere ter o seu nome riscado do livro de Deus a ver o povo ser destruído e o nome do Senhor ser envergonhado entre os outros povos (Êx 32.9-14,30-35). O exemplo da liderança de Moisés reafirma que a natureza de um chamado à liderança é determinante para as suas motivações, as suas ações e as suas expectativas. A Importância do Chamado Sobre a importância do chamado, James M. George argumenta e explica o seguinte: O chamado de Deus para o ministério vocacional é diferente do chamado à vocação e do chamado que atinge todos os crentes: o serviço. Trata- se de uma convocação de homens selecionados para servir como líderes da igreja. Os destinatários desse chamado precisam ter a certeza de que Deus assim os escolhe para liderar.22
  • 39. A certeza do chamado é algo imprescindível ao líder espiritual. Isso é consoante ao conceito exposto diante de Deus por Moisés de que o povo não o ouviria sob o argumento de que o Senhor não havia aparecido a ele (Êx 4.1). Definitivamente, está claro que o povo só daria ouvidos a alguém que comprovadamente esteve na presença de Deus e dEle recebeu orientações e autorização para liderá-lo. Estar na presença de Deus implica ter sido chamado para isso, de onde procede toda a autoridade para o exercício de uma liderança espiritual. Falar e liderar em nome de Deus sem ter sido por Ele chamado e designado é muito mais insano do que falar ao telefone sem que haja uma chamada real. Exercer a liderança cristã sem um chamado divino é, inquestionavelmente, uma tragédia anunciada. Moisés apresentou as suas dificuldades e até mesmo as suas desculpas diante do chamado divino, e, embora isso confirme a seriedade e o cuidado com que ele relacionou-se com a tarefa para a qual foi designado, foi o propósito de Deus que prevaleceu no fim. À semelhança de Moisés, o profeta Jeremias também hesitou diante do seu chamado, e, com base nisso, Eugene Peterson afirma que “as desculpas que apresentamos são plausíveis e, com frequência, são fiéis aos fatos, mas, no entanto, ainda não passam de meras justificativas e são proibidas por nosso Senhor”.23 A hesitação de homens como Moisés e Jeremias, verdadeiramente chamados por Deus, deve ser levada em alta conta, principalmente diante do triste fato de que há muitos que lidam com isso de forma irresponsável e até leviana. Liderar o povo, em qualquer nível, é algo pesado e deve ser feito com temor e reverência, mas somente com uma consciência cativa ao chamado divino isso poderá realmente acontecer. Esse episódio da vida de Moisés mostra, portanto, a importância do chamado na vida de um líder em dois aspectos: I) As limitações humanas não anulam o propósito de Deus demonstrado em um chamado; e II) O chamado é uma garantia dada por Deus de que, não obstante os desafios, o líder por ele estabelecido será exitoso
  • 40. na sua missão, terá autoridade diante do povo e poderá descansar na bondade daquEle que o chamou. A Experiência do Chamado Outro aspecto muito importante a ser levado em consideração no chamado que Moisés recebeu de Deus é o registro detalhado que a Bíblia faz da experiência que o marcou permanentemente. Três verdades a ser sublinhadas aqui: I) A experiência de um chamado não é um fim em si mesmo, mas o meio por que Deus cumpre o seu propósito de chamar a atenção e a transmissão do seu propósito a quem Ele está chamando; II) A experiência não pode ser transformada em algo sagrado ao ponto de ser colocada acima da verdade da Palavra de Deus; III) A experiência contribui com a reafirmação das verdades eternas, inclusive a respeito de quem Deus é. A experiência de Moisés, no entanto, marcou-o e mudou o rumo da sua vida para sempre. Não há quem se encontre com Deus e receba dEle um chamado para permanecer o mesmo. Aliás, o ato de chamar alguém implica ser convocado a sair de um lugar para ir a outro, ou, ainda, a deixar uma direção para seguir noutra. Foi exatamente isso que aconteceu com Moisés, já que, quando recebeu o chamado divino para liderar o seu povo na sua libertação do Egito, ele levava uma vida calma e tranquila nas regiões de Midiã, quando, de repente, teve a sua realidade radicalmente transformada. Conclui-se, portanto, que o líder cristão deve ter clareza sobre a sua missão, e é somente por meio de uma convicção forte do seu chamado que isso será possível. Tal convicção, por sua vez, cumpre um papel fundamental para o sucesso dessa liderança, primeiro porque a certeza do chamado contribui com a manutenção das convicções pessoais, a autoridade espiritual e a confiança de que o Senhor irá preservá-lo em tempos difíceis; e, por fim, o chamado cumpre o papel de moldar o caráter desse líder no sentido de nortear as suas motivações, os seus métodos e os seus objetivos.
  • 41. DELEGANDO TAREFAS Por mais capaz que Moisés tenha sido e a sua liderança bem- sucedida, ele nunca deixou de ser humano, sujeito às mesmas condições de qualquer outro mortal. É possível perceber a humanidade de Moisés em vários momentos da sua trajetória, principalmente no episódio em que Jetro, o seu sogro, percebeu o quanto o seu genro estava sobrecarregado e aconselhou-o a dividir a carga com outros líderes. Aqui a limitação de Moisés acentua-se em duas situações: I) Na sua incapacidade de perceber a sua própria condição de sobrecarga; II) Na sua limitação demonstrada na incapacidade de realizar tudo sozinho. Esta seção está encarregada de mostrar o perigo da sobrecarga na vida de um líder e de enfatizar que, na obra que Deus está realizando no mundo, há espaço para todos atuarem, o que significa que o líder não só pode como também deve envolver outras pessoas no seu trabalho, evitando as consequências das muitas atividades e possibilitando que outros também sejam úteis. O conselho de Jetro a Moisés demonstra o espírito da “liderança compartilhada”, que começa a ser percebida no Antigo Testamento e alcança o seu ponto alto no Novo, e isso indica o que Deus idealiza para a liderança espiritual. O propósito aqui não é o de detalhar cada uma das funções ministeriais de liderança eclesiástica, mas apenas mostrar que, além de ser impossível, um líder liderar sozinho contraria o modelo deixado por Deus. Portanto, tomando como base o exemplo de Moisés, o objetivo aqui é o de sublinhar que o Senhor Deus espera que o líder espiritual cumpra a sua missão com fidelidade e compartilhe funções com outras pessoas com condições para a tarefa a ser-lhes designadas. O Líder Sobrecarregado Jetro não precisou de muito tempo e nem de fazer muito esforço para perceber que o seu genro, Moisés, estava sobrecarregado e que, caso aquilo não fosse mudado, as consequências
  • 42. seriam trágicas e irreversíveis (Êx 18.13-18). Urge-se o fato de que Jetro percebeu o que Moisés não percebeu; aliás, um líder sobrecarregado geralmente está tão ocupado que não consegue perceber os excessos no trabalho e os perigos inerentes a isso. O excesso de trabalho e a ausência de equilíbrio no exercício da liderança podem trazer consequências profundas e negativas, como, por exemplo, a fadiga, a estafa, a ansiedade, a Síndrome de Burnout e, por fim, a depressão. É preciso, no entanto, ir além dos possíveis efeitos da sobrecarga de trabalho de um líder e apontar os elementos que causam esses excessos. Assim sendo, o que geralmente causa a sobrecarga num líder cristão? Destaca-se que a liderança cristã possui particularidades, pois também lida com questões espirituais, e a tentativa de conduzir essas questões com métodos humanos ou na “força do braço humano” sempre causará desgastes que poderão ser fatais. Além disso, a mutualidade cristã deve predominar nas relações entre os que exercem liderança cristã com vistas a dividir a carga (Gl 6.2-5), e esse é um princípio a ser observado e cumprido por aqueles que desejam viver em paz e cumprir com fidelidade a sua missão. Um líder cristão de sucesso também é caracterizado pela sua capacidade de manter-se equilibrado e não sobrecarregado, e, para isso, ele depende de Deus para operar as mudanças necessárias, além de ser alguém que saiba quando e como usar as armas certas para as batalhas certas, além de ter a humildade de reconhecer que não conseguirá fazer tudo sozinho, razão pela qual deve ser alguém que divide as tarefas com outras pessoas. Fazendo isso, o líder cristão preservará a sua qualidade de vida, e Deus será glorificado, pois este é o padrão que Ele deixou. O Líder que Ouve Na sua carta, Tiago deu a seguinte advertência: “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar [...]” (1.19). Paralelo à leitura desse texto, leia a
  • 43. informação bíblica sobre a reação de Moisés ao conselho de Jetro, o seu sogro: “E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro e fez tudo quanto tinha dito” (Êx 18.24). Todo cristão tem o dever de atentar e de obedecer a esse princípio, e não é diferente para os que se encontram em posição de liderança; aliás, muitas tragédias seriam evitadas se houvesse uma disposição maior nos líderes cristãos para ouvir outras pessoas. É evidente que o líder deve selecionar bem a quem ouvir; no entanto, esse cuidado não deve sobrepor-se à necessidade de ter alguém a quem recorrer em momentos decisivos e importantes. Jetro tinha, pelo menos, duas vantagens em relação a Moisés: I) Ele era mais velho e, por isso, mais experiente que o seu genro; II) Ele pôde analisar a situação a partir de uma perspectiva diferente da de Moisés. Entretanto, de que adiantaria Jetro falar se Moisés não fosse alguém disposto a ouvir? Ouvir outras pessoas é um ato de obediência e de humildade. Essa virtude é fundamental para o líder cristão, pois, ao ouvir os seus liderados, o líder cristão permite-se ser corrigido. Moisés foi um líder de sucesso, e isso não foi acidental e nem tampouco coincidência, mas foi resultado de uma combinação de qualidades e atitudes pelas quais ele alcançou o posto de um dos maiores líderes da história de Israel. Dentre essas qualidades e atitudes, está — sem dúvida — a humildade, virtude que deu a ele a disposição de ouvir o seu sogro, Jetro. Um verdadeiro líder não é conhecido somente quando e como ele fala, mas também é identificado pela sua capacidade de ouvir outras pessoas. Além de falar (comunicar-se) bem, o líder cristão deve ouvir bem. Há Espaço para outros O que levou Moisés a pôr o conselho de Jetro em prática? Em primeiro lugar, conforme já visto, Moisés foi um líder capaz de ouvir outras pessoas. Em segundo lugar, Moisés foi um líder realista em reconhecer não ser o único com capacidade de ser útil para Deus, além de sensível para identificar o valor em outras pessoas e
  • 44. dar a elas uma oportunidade de exercerem as suas respectivas funções. Atente para as seguintes informações bíblicas registradas em Êxodo 18.17,18,25: O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes. Totalmente desfalecerás, assim tu como este povo que está contigo; porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer [...]; e escolheu Moisés homens capazes [...]. Veja o contraste entre a exposição da incapacidade de Moisés com a capacidade dos que por ele foram escolhidos, pois ele demonstra a importância que há no processo de complementaridade, isto é, aquilo que faltou em Moisés, os seus auxiliares supriram. Ao ser confrontado com o diagnóstico e o conselho de Jetro, o líder Moisés teve de reconhecer a sua própria limitação e foi lembrado de que a obra com a qual ele estava envolvido era maior do que ele, razão pela qual teve de escolher pessoas que o ajudassem, pois ele poderia sofrer o dano, mas não a obra de Deus. O líder cristão não é chamado a fazer tudo, mas é dele a responsabilidade de identificar pessoas capazes de desempenhar papéis e dispor cada um na sua área de atuação. Há espaço para todos atuarem na obra que Deus está realizando no mundo. 19 STANKO, John W. Muitos Líderes, Pouca Liderança. Niterói, BV Books, 2008. pp. 41,42. 20 COX, Leo G. Comentário Bíblico Beacon: Gênesis a Deuteronômio. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 144. 21 WOOLFE, Lorin. Liderança na Bíblia de Moisés a Mateus: Lições e práticas de liderança que ensinam, inspiram e iluminam. São Paulo: M. Books Brasil, 2009, p. 40. 22 MACARTHUR, John. Ministério Pastoral: Alcançando a excelência no ministério cristão. Rio de Janeiro: CPAD. 23 PETERSON, Eugene. Corra com os Cavalos: Para quem busca uma vida de excelência. Viçosa: Ultimato e Niterói: Textus, 2004, p. 61.
  • 45. J CAPÍTULO 4 A LIDERANÇA DE JOSUÉ osué apresenta-se como um dos grandes e principais líderes do Antigo Testamento, e a importância da sua liderança não se deve somente aos seus feitos à frente de Israel, mas principalmente pela conjuntura e o contexto que marcaram o momento em que foi estabelecido líder sobre o povo de Deus. Logo que assumiu a liderança de Israel, Josué foi desafiado em, pelo menos, dois sentidos especiais: I) Suceder a Moisés; e II) Ser responsável por introduzir o povo de Israel na Terra Prometida. O primeiro aspecto diz respeito a ter de substituir aquele que tem sido considerado um dos maiores — se não o maior — líderes da história de Israel, o que por si só já foi algo que estava além da capacidade humana de Josué. O segundo aspecto tem uma relação com a responsabilidade de liderar o povo no momento da materialização e do cumprimento da promessa que fez Abraão obedecer a Deus e deixar tudo para trás (Gn 12.1-4) e que mobilizou toda a trajetória de Israel até aquele momento. Definitivamente, Josué foi um líder que teve de enfrentar imensuráveis desafios e, sob a palavra e a presença de Deus, pôde vencê-los, vindo a tornar-se um dos principais referenciais de liderança bem-sucedida na Bíblia. Sendo assim, analisar a liderança de Josué requer fazê-lo sob a perspectiva de ter sido ele: I) O sucessor de Moisés; II) Um líder certo na hora certa; e III) A humanidade de Josué. JOSUÉ, O SUCESSOR DE MOISÉS
  • 46. A essa altura, já está claro que Josué teve uma grande missão recebida de Deus; contudo, por mais extraordinário que Moisés possa ter sido, o episódio da transição de liderança aqui analisada reafirma que a obra pertence exclusivamente a Deus. Por mais importante que Moisés tenha sido e o seu trabalho sirva de exemplo para muitos líderes, a obra de Deus não ficou presa e nem condicionada a ele, pois Josué já estava sendo preparado pelo Senhor para continuá-la. Isso implica na grande verdade de que Deus é Soberano e de que é Ele quem conduz a sua obra independentemente dos homens. É necessário, portanto, que todo líder cristão seja consciente de que a obra sempre prevalecerá e que, quando necessário, o Senhor providenciará os meios e as pessoas para que isso ocorra, pois ele não se prende a nada e nem a ninguém. Uma Escolha Divina É impossível desenvolver qualquer pensamento sobre a liderança de Josué sem que a de Moisés seja levada em conta, principalmente numa análise que é feita sobre o processo de transição. Uma grande lição a ser aprendida nesse processo é sobre o desprendimento de Moisés, haja vista que ele não priorizou a perpetuação da sua liderança, mas, à medida que percebeu que se findavam os seus dias, ele mesmo tomou a iniciativa de pedir ao Senhor que lhe desse a direção sobre aquele que deveria sucedê-lo (Nm 27.15-17). A iniciativa foi de Moisés, mas foi Deus quem apontou a Josué como o escolhido para a continuidade da sua missão (Nm 27.18). Josué foi uma escolha de Deus, e não do homem. Além de indicar Josué como sucessor de Moisés, o Senhor enfatizou a sua qualidade ao dizer: “[...] homem em quem há o Espírito [...]” (v. 18). Josué viria a ser um líder sob o domínio do Espírito Santo, ou seja, essa declaração ao seu respeito indica que ele foi um homem espiritual e que conduziria o povo de Israel sob esse padrão.
  • 47. Há também informações de que Moisés impôs as mãos sobre Josué e de que este deveria ser apresentado ao sacerdote Eleazar (vv. 18,19). A esse respeito, F. F. Bruce explica o seguinte: Assim como Moisés passou a autoridade sacerdotal a Eleazar (20.28), ele passa a autoridade civil a Josué. Moisés deve comissionar Josué na presença de Eleazar e de toda a comunidade (v.19), para que todos sejam testemunhas da cerimônia e reconheçam Josué como líder.24 Josué foi um líder de grandes e surpreendentes realizações; ele, no entanto, sempre soube que a autoridade que ele possuía para liderar o povo de Deus não pertencia a ele e nem emanava dele próprio, mas, ao contrário disso, a natureza dessa autoridade era divina e confirmada pelas mãos de Moisés diante de todo o povo. O líder cristão deve ser consciente de que a sua liderança não se fundamenta em autoridade humana, mas divina; caso contrário, a sua derrota é certa, e grandes serão os prejuízos. A Continuidade da História O pensamento sobre a responsabilidade que Josué recebeu de dar continuidade à história que Moisés ajudou a escrever é mais bem compreendida sob a perspectiva de que, embora a Bíblia seja composta de muitas histórias, também é um livro de uma história apenas, ou seja, a história de Deus. Deve-se considerar o fato de que a Bíblia registra a história de Deus, que por graça decidiu contá-la por meio de homens. Isso implica afirmar que a Igreja de Cristo de hoje é a responsável por continuar a história começada pela Igreja de ontem. Esse princípio não só está presente no processo de transição entre a liderança de Moisés e a de Josué, como também deve ser levado em conta caso haja interesse em fazer-se uma análise a seu respeito. Assim como Moisés não foi alguém isolado dessa história,
  • 48. Josué deve ser considerado como parte dela. Uma das coisas mais importantes na vida de um líder espiritual é o vínculo a ser estabelecido e mantido nas suas mais variadas dimensões, inclusive no que concerne na relação com as autoridades constituídas e o respeito que deve ser dispensado a elas. Ao chamar a Josué e informá-lo acerca da sua missão, o Senhor não deixa de mencionar o nome de Moisés; pelo contrário, ele faz repetidas menções ao grande líder morto recentemente. É possível perceber nitidamente que há uma ação voluntária em vincular a história de Josué à de Moisés, que, por sua vez, foi atrelada à dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Êx 3.6). A liderança de Josué foi importante e ocupa um importante lugar nas Escrituras; no entanto, a sua liderança seria a continuidade de uma história já em andamento, com a qual Moisés já havia contribuído. Enquanto Moisés libertou a Israel do Egito, Josué foi incumbido de introduzir este povo na Terra Prometida. A liderança de Josué é parte de uma construção, e não uma carreira solo, e ela só tem sentido quando inserida e compreendida à luz do trabalho que outros prestaram e do que outros ainda prestarão. Conclui-se, portanto, que o líder cristão deve ter muito claro na sua mente a verdade de que a sua contribuição é uma parte, e não o todo; afinal de contas, a história de Deus é infinitamente maior do que qualquer outra história, e esse líder deve sentir-se honrado e privilegiado. A Lealdade de Josué O apóstolo Paulo declara que a principal expectativa a respeito do líder cristão é de que ele seja encontrado fiel (1 Co 4.2). O líder fiel é caracterizado pela sua lealdade, que, por sua vez, é demonstrada pelas seguintes qualidades: I) Honestidade; II) Verdade; III) Sinceridade; IV) Compromisso com as alianças firmadas; e V) Respeitabilidade. Nesse caso, a lealdade de um líder cristão manifesta-se numa dimensão transcendental
  • 49. (diante de Deus), pessoal (consigo) e interpessoal (com os seus liderados e com os seus líderes). A lealdade desenvolve-se numa esfera interna e manifesta-se na externa. A lealdade do líder cristão é colocada à prova constantemente e é nas suas reações que se conhecerá o quão leal este líder é diante de Deus, dos seus liderados e dos seus líderes. Josué apresenta-se como exemplo de alguém que colheu bons frutos da sua lealdade ao seu líder Moisés. Em momentos importantes da vida de Josué, é possível encontrar a figura de Moisés em algum nível; aliás, a primeira referência que a Bíblia faz do seu nome remonta ao seu ato de obediência (Êx 17.8-16). Uma das características principais da lealdade de Josué a Moisés foi a sua firmeza, conforme se vê em dois momentos da sua história: I) Diante do quadro em que Deus falava diretamente com Moisés e o povo admirava-o por isso, Josué “nunca se apartava do meio da tenda” (Êx 33.11), como demonstração de conhecimento do seu lugar, do seu momento e de firmeza; e II) Junto de Calebe, ele esteve alinhado ao coração de Moisés no momento em que dez espias posicionaram-se contrários à conquista da Terra Prometida (Nm 14.1-9). Esses dois quadros reafirmam a lealdade de Josué a Moisés, tanto num momento de honra, como também num contexto de dificuldades e cobranças. Destaca-se ainda que Josué não exerceu a sua liderança sem que houvesse uma referência de autoridade espiritual que o preparou, encaminhou e respaldou ao longo da sua trajetória à frente de Israel (Nm 27.20). A autoridade da liderança de Josué não procedia dele mesmo, mas daquela que o Senhor confiara a Moisés, razão pela qual o povo de Israel aceitava-o como líder e considerava tanto as suas palavras quanto as suas diretrizes. A autenticidade e genuinidade da liderança de Josué decorreram da sua relação de submissão e lealdade a Moisés, líder estabelecido e confirmado por Deus. Josué pôde descansar em Deus e na sua promessa de que, assim como Ele fora com Moisés, seria com ele (Js 1.5). A referência usada por Deus foi a forma como Ele conduzira a liderança de
  • 50. Moisés e como Josué sempre esteve presente ao seu lado, não lhe restando dúvida alguma de que a sua liderança também seria vitoriosa (Js 1.10-15). Essa relação de Josué com Deus e a forma como ele, Josué, lidara com a autoridade espiritual de Moisés contribuiu para que a sua liderança fosse confirmada pelo Senhor (Js 1.16-18). A lealdade é a marca de um líder espiritual de sucesso. O LÍDER CERTO NO TEMPO CERTO Qual o líder ideal para os dias atuais? Que perfil de liderança adequa-se à realidade atual, que seja capaz de enfrentar os desafios contemporâneos e que, acima de tudo isso, seja capaz de manter-se fiel ao padrão bíblico? Muito provavelmente, essas são perguntas que, ainda que em outros termos, sempre estiveram presentes nos mais diversos contextos e momentos da história. Sempre houve expectativas sobre o perfil do líder e o que esperar de uma liderança cristã, e não somente isso, mas também — e principalmente — em torno de Deus levantar o líder certo, no momento certo e para a tarefa certa. Esta seção é dedicada a pensar em Josué como uma escolha certa de Deus; aliás, essa história serve como mais uma forma de confirmar a verdade de que o Senhor não erra e nem se engana nas suas escolhas. Deus não investe em qualquer pessoa e nem semeia boa semente em terras não férteis. Se não houvesse nenhum relato bíblico-histórico sobre os feitos de Josué, e as informações estivessem restritas somente ao momento da sua chamada, ainda assim o seu chamado seria aceitável, pois a escolha de Deus sempre é a certa e dá certo. Josué recebeu de Deus a capacidade de liderar, foi treinado para isso e viveu experiências que contribuíram com a sua formação como líder (Êx 17.8-15; 24.12,13; Nm 14.6-12; 27.12-23; 32.12; Dt 1.37,38; 34.9). Assim como as demais lideranças levantadas por Deus, a de Josué foi uma escolha acertada; afinal de contas, o Senhor não erra nas suas escolhas, e a trajetória de Josué confirma o quanto ele serviu de instrumento de bênçãos aos seus liderados.
  • 51. Quem Foi Josué? Não há muita informação sobre a família e a origem de Josué, a não ser que foi filho de Num, procedente da tribo de Efraim (Nm 13.8; 14.6; Js 1.1). O nome Josué vem do hebraico Yehoshua ou Yeshua e significa “O Senhor é salvação”. O seu nome original foi Oseias, cujo significado é “salvação”, e Moisés muito provavelmente mudou para Josué quando enviou os espias para conhecerem a terra de Canaã (Nm 13.16). Ao transliterar para o grego, o nome Josué aponta para a expressão Iesous, que no latim é Jesus. Os feitos de Josué apontam para a sua alta capacidade, e o seu comportamento indica a sua idoneidade, principalmente no quesito lealdade e submissão. Há outras qualidades em Josué, como, por exemplo, a justiça e a equidade na distribuição das terras, a humildade em ter-se mantido como servo de Moisés até que o Senhor fizesse dele líder sobre Israel, bem como a sua elevada capacidade estratégica nas grandes conquistas militares à frente do povo de Deus. Josué foi um líder que não tolerou o pecado no meio do povo de Deus (Js 7) e tem-se consolidado como um líder a ser imitado por aqueles que desejam lograr êxito na sua liderança. Josué e o seu Tempo O líder eficaz deve ser alguém que seja compreendido pelos seus liderados, mas, para isso, ele deve compreender os seus liderados — caso contrário, a comunicação ficará comprometida ou nem mesmo existirá. Um dos fatores principais para que realmente ocorra a comunicação é a capacidade de identificar os anseios e as expectativas das pessoas com base na realidade em que elas vivem. O líder que deseja galgar patamares de destaque na sua liderança precisa, portanto, conhecer o seu tempo e ser capaz de identificar os seus dramas, com vistas a apresentar soluções e até mesmo se permitir ser instrumento para a solução.
  • 52. Em primeiro lugar, o líder deve conhecer o seu tempo porque é dentro dele que são impostos ao líder os grandes desafios à sua liderança e que ele é chamado a exercê-la. Em segundo lugar, o conhecimento do próprio tempo facilita o importante processo de identificação das necessidades e dos anseios das pessoas da sua época — ou seja, o conhecimento do próprio tempo leva o líder a estar atualizado. O líder cristão pode identificar as características do seu tempo por meio de quatro passos: I) Ser capaz de parar quando necessário; II) Ter um tempo de reflexão sobre os movimentos vigentes da sua época; III) Estar disposto a dialogar sobre o assunto; e IV) Estabelecer as verdadeiras prioridades para uma liderança atual e relevante. Olhar para o tempo em que Josué foi constituído líder sobre Israel é ter de reconhecer o quão grande foi o desafio da sua liderança. A palavra “transição” define muito bem o tempo de Josué, e isso implica uma época marcada por: I) Incertezas; II) Insegurança; III) Grandes expectativas; IV) Desconfiança; e V) Medo. No caso da transição vivida por Josué, há um aspecto bem peculiar, pois ele sucedeu o grande líder Moisés, razão por que teve de lidar com a comparação constante entre ele e o seu precursor. É dentro desse contexto que Deus levanta a Josué e mostra a sua soberania, o seu domínio e reafirma o seu controle da história, independentemente do homem. O tempo em que Josué foi levantado desafiou-o a ser quem ele foi chamado para ser e que, de fato, conseguiu ser com a graça de Deus, isto é, um líder de sucesso. Josué, o Líder Certo para a Hora Certa Em toda a Bíblia Sagrada, é possível encontrar registros que confirmam que, para cada tempo e em diferentes circunstâncias e necessidades, Deus sempre levantou pessoas com as quais pôde contar e usar como cooperadores na sua obra, inclusive na qualidade de líderes espirituais. Exemplo disso é Neemias, que providencialmente foi inserido no contexto do palácio sob o governo
  • 53. de Artaxerxes e ali teve condições de pleitear por condições para a reconstrução dos muros e das portas de Jerusalém (Ne 2). A posição de copeiro do rei no palácio não teve como finalidade o benefício pessoal de Neemias, mas é evidente que foi resultado de uma ação estratégica de Deus para colocá-lo em um lugar que o favorecesse na sua missão. Neemias foi uma pessoa certa, no lugar certo e para a tarefa certa. Do mesmo modo, Josué foi uma escolha de Deus para o seu tempo, razão pela qual foi o líder certo, no lugar certo e com a tarefa certa. É bem verdade que, aos olhos humanos, a falta de Moisés não seria preenchida por ninguém, só que é Deus quem controla os tempos, as estações, os povos e a história (Sl 59.13; 103.19; Zc 9.10), e, por isso, na sua onisciência, Josué já estava nos seus planos para que, no tempo oportuno, fosse apresentado como líder no lugar de Moisés. Deus está acima da história, do tempo e dos homens. Perceba isso na diferença da personalidade e do perfil de liderança de Moisés e de Josué, pois aquele é descrito na Bíblia como o homem mais manso da terra (Nm 12.3), enquanto este é apresentado como homem de guerra, que, aliás, estava sempre disposto a guerrear (Js 5.13-15). Basta imaginar Josué na liderança de Israel — povo de dura cerviz — na sua travessia pelo deserto. Dificilmente restaria alguém com vida, tendo um líder com o ímpeto de guerra como ele tinha. Por outro lado, imagine Moisés, manso como era, tendo de introduzir Israel à Terra Prometida tomada por inimigos que deveriam ser enfrentados e vencidos. Definitivamente, Josué foi o líder certo, na hora certa e com a tarefa certa. A PESSOA DE JOSUÉ Os feitos de um homem, por maiores que sejam, não o tornam mais do que ele realmente é, ou seja, homem, ser humano. Com base nisso, toda liderança, ainda que bem-sucedida e triunfante, deve ser executada, analisada e refletida à luz da humanidade de quem a
  • 54. exerce, pois, caso contrário, os danos poderão ser irreparáveis. A Bíblia não oculta as limitações e nem os defeitos dos seus personagens, assim como faz questão de exaltar as suas virtudes e as suas conquistas. Ressalta-se que: I) Nenhum líder, por mais brilhante que seja, consegue ser tudo e realizar tudo sozinho; II) A obediência e submissão a Deus são ordens destinadas a todos os líderes espirituais, pois todos são servos e dependem única e exclusivamente do Senhor; e III) As palavras divinas de encorajamento e de fortalecimento servem a todos os líderes espirituais, pois todos passam por momentos de desânimo, medo e apreensão. Desse modo, fica a verdade de que todo líder é humano e depende do Senhor. Por essa causa, a proposta aqui é a de fazer uma análise de Josué enquanto humano, iniciando com uma reflexão sobre a sua relação familiar, passando pela sua humanidade em si e culminando com o seu maior erro. Josué e a sua Família Dentro de uma perspectiva bíblica, é inadmissível que o líder cristão cuide de pessoas em detrimento da sua própria família. Antes de liderar os outros, o líder cristão deve ser líder do seu cônjuge e dos seus filhos. Dito de outra forma, ele deve liderar a sua própria casa. O apóstolo Paulo é enfático sobre isso ao escrever que: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel” (1 Tm 5.8). Em outro texto, o apóstolo é bem específico ao tratar diretamente com a liderança da igreja, conforme se lê: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)” (3.4,5).
  • 55. A autoridade de um líder cristão depende diretamente da sua relação com a própria família. Nesse sentido, Josué pode ser considerado um líder bem-sucedido. A Bíblia não dá informações detalhadas sobre a família de Josué, e nem mesmo se ele foi casado e se teve filhos, mas o pouco do que se pode saber é que ele, ainda que com poucas palavras, dá indícios do seu sucesso em conduzir a sua família em servir a Deus. Embora anônima, a família de Josué tem servido de inspiração para muitas pessoas ao longo da história, principalmente para aqueles que exercem liderança, pois ele pôde dar a seguinte declaração: “[...] eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js 24.15). De acordo com o que tem sido base de reflexão até aqui, tudo aponta para a dupla responsabilidade que o líder tem de servir de exemplo e de inspiração aos seus liderados, e Josué apresenta-se como um líder de sucesso nesses quesitos, em especial na condução da sua família, já que a sua fala traduz a sua decisão no que tange à sua casa, e, como resposta, todo o povo respondeu positivamente e renovou a aliança e o compromisso de servir somente ao Senhor, à semelhança do seu líder Josué (24.16-17). Josué e suas Imperfeições Antes da breve abordagem acerca da humanidade de Josué que aqui será feita, acentua-se que o líder cristão precisa ter conhecimento da sua identidade, que, nesse caso, envolve a consciência sobre si mesmo, do que é chamado para fazer e de como isso deve ser feito. O autoconhecimento e a clara noção da missão a ser cumprida são indispensáveis a um líder cristão, mas não somente isso; é preciso também que haja a consciência de que conhecer a própria identidade deve vir antes mesmo de qualquer plano de trabalho ou método a ser usado com vistas aos bons resultados, além de compreender e ter em alta conta o fato de que esse autoconhecimento deve ser norteado pelos princípios da Palavra de Deus.
  • 56. Um aspecto teológico que contribui com a análise sobre esse ponto é a relação do trabalho do líder com a consciência da sua própria humanidade e de que forma isso pode e deve afetar a sua liderança. Inevitavelmente, a humanidade do líder cristão sempre será contrastada com a divindade daquEle que o chamou para esse ministério, e isso implica em algumas lições fundamentais: I) Essa consciência coloca o líder no seu lugar e faz com que ele reconheça o lugar que pertence somente a Deus; II) O reconhecimento do contraste entre a humanidade do líder e a divindade de quem o chamou leva-o a depender inteiramente de Deus, e isso o levará a uma vida de oração; e III) A graça divina manifesta-se e torna-se mais visível aos homens à medida que Deus usa um determinado líder não obstante as limitações impostas pela sua humanidade. Esse princípio é percebido no contexto em que Deus adverte a Jeremias a clamar, pois o texto bíblico informa que o profeta estava preso (indicação da sua humanidade e incapacidade de autolibertar- se); o texto ainda reafirma a soberania de Deus e a sua autonomia em fazer o que quer e da forma como desejar (divindade de quem falava com o profeta), em um claro contraste de realidade, razão por que Jeremias deveria orar, pois ele depende exclusivamente de Deus (Jr 33.1-3). A humanidade de Josué também é apresentada nas Escrituras, inclusive contrastando com a grandeza de Deus, como quando recebeu a informação de que o momento de assumir a liderança sobre Israel, o Senhor teve de encorajá-lo, pois ele certamente estava amedrontado, assustado e com muitas dúvidas (Js 1.2,3,5-9; 3.7-8). A humanidade de Josué é notada em todo o registro bíblico, inclusive no episódio em que demonstrou um sentimento de exclusivismo e até de “ciúmes” ao informar a Moisés de que Eldade e Medade estavam profetizando no arraial, tendo sido duramente advertido pelo líder de Israel na época (Nm 11.26-30). Conclui-se, portanto, que aqui está um grande e maravilhoso mistério, em que este Deus perfeito decide agir e operar por meio de pessoas imperfeitas na condução do seu povo e na cooperação da sua obra. Isso é obra da graça de Deus, pois o seu poder, conforme diz a Bíblia, “se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.9). Ao usar