2015 tem sido um ano de grandes desafios a toda indústria da construção, como de fato para toda a economia nacional.
Não serão poucos os obstáculos que estaremos atravessando esse ano, na busca pela retomada do crescimento econômico e pela consolidação de novos projetos.
Entenda o que é um outsourcing de impressão neutralizado
Revista GBC Brasil | 3ª Edição | 2015
1. REVISTA
MUSEU DE
ARTE DO
RIO
Arab Hoballah, da Unep:
redução da utilização de recursos
minimiza impactos ambientais
GBCBRASIL
C O N S T R U I N D O U M F U T U R O S U S T E N T Á V E L ANO2 / Nº3 / 2015
Escolas Verdes garantem
ambiente propício a uma
nova geração consciente
REVISTA
1° MUSEU LEED NA AMÉRICA
LATINA REVELA HARMONIA
ENTRE PASSADO E FUTURO
VIBEDITORA
EPD: Em busca da
transparência ambiental
dos produtos
G R E E N B U I L D I N G C O U N C I L
2. 2015
11 a 13 de agosto de 2015
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Apoio Institucional
Apoio de mídia
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4. 4 abr/15 rev/gbc/br
índice
EDITORIAL...................................................> 3
COLUNA GBC..............................................> 6
GREEN PAGES
ARAB HOBALLAH............................> 8
TIPOLOGIAS..........................................> 12
VIDA SUSTENTÁVEL...................................> 20
DOCUMENTO
SIEGBERT ZANETTINI...................................> 24
CAPA
MUSEU DE ARTE DO RIO...............> 30
POR DENTRO ..............................................> 36
DESEMPENHO.............................................> 40
CASA REFERENCIAL....................................> 46
TENDÊNCIAS...............................................> 50
ENERGIA......................................................> 56
EXPO GBC 2015....................................> 58
ECONOMIA..................................................> 54
SOLUÇÕES...................................................> 62
EMPRESAS & PESSOAS................................> 66
GBCBRASIL
C O N S T R U I N D O U M F U T U R O S U S T E N T Á V E L ANO2 / Nº3 / 2015
REVISTA
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6. 6 abr/15 rev/gbc/br
coluna gbc
Consolidação,
Aperfeiçoamento
e Expansão.
FELIPE FARIA,
DIRETOR
Green Building Council Brasil
O
título acima resume com
exatidão os resultados al-
cançados pelos Membros
do Green Building Council
Brasil e programados para o
ano de 2015.
Em muitos setores da construção
civil, como edificações comerciais de alto
padrão, a presença do movimento de
construção sustentável e certificação de
edificações tornou-se premissa unani-
me nos novos empreendimentos e gran-
des reformas. Hoje a certificação LEED já
acompanha o fluxo de lançamento destas
edificações comerciais, ou seja, havendo
lançamento teremos projeto registrado.
Todavia, a certificação LEED há tem-
pos não se restringe as edificações co-
merciais. Temos uma grande diversidade
de edificações registradas e certificadas
e esta multiplicidade de tipologias vem
aumentando rapidamente. Destaca-se as
plantas industriais, centro de logística, data
centers e lojas de varejo.
Museus, instituições de ensino, bi-
bliotecas, hospitais, agências bancárias e
planejamento urbano integrado também fo-
ram empreendimentos certificados recen-
temente e que comprovam a expansão da
conscientização do mercado e busca pelo
aperfeiçoamento com foco em eficiência.
A certificação LEED EBOM, própria
para edificações existentes desponta como
grande oportunidade de expansão. Já te-
mos no Brasil 75 projetos registrados e 20
certificados. Além de fazer todo sentido
econômico, as ações de retrofit se desta-
cam frente àquelas consideradas nos pla-
nos de mitigação dos efeitos das mudan-
ças climáticas que focam na reabilitação
das edificações existentes.
O setor residencial começa a ser
trabalhado com maior ênfase pelo GBC
Brasil, temos 12 casas registradas, sendo
2 certificadas e 2 prédios residenciais re-
gistrados como pilotos do Referencial GBC
Brasil Casa, além de outras casas e pré-
dios no “pipeline” aguardando para regis-
trarem seus projetos.
Atualmente as edificações verdes são
a principal solução para os atuais desafios
do país. A crise hídrica e energética preo-
cupam e podem gerar consequências eco-
nômicas e ambientais irreversíveis. Além de
enfatizar os resultados já alcançados pelas
edificações verdes, o GBC Brasil buscará
cooperar na elaboração de uma política in-
tegrada com foco em eficiência na concep-
ção, construção e operação de edificações.
Neste sentido, cabe citar nossa re-
cente conquista com o Selo Procel Edifi-
cações, que envolve o nível A em envoltó-
ria, A em iluminação e A no sistema de ar
condicionado como “Alternative Complian-
ce Path” para projetos registrados LEED
no Brasil em relação ao cumprimento do
pré-requisito de eficiência energética, em
substituição ao ASHRAE 90.1/2007.
Por fim, enfatizamos a colaboração
na divulgação do Mecanismo de Garantia
para Projetos de Eficiência Energética do
PNUD e Ministério do Meio Ambiente, fa-
cilitador e promotor de projetos de reade-
quação energética de edificações eficien-
tes.
A equipe do GBC Brasil está motiva-
da e trabalha insistentemente na criação
de ferramentas estratégicas de modo a
fomentar a interação entre Membros e nos-
sas atividades, certo que esta aproxima-
ção é a base do nosso sucesso.
O novo website do GBC Brasil, que
recebe cerca de 75.000 acessos por mês,
aumentou as opções de interação do Dire-
tório de Networking, criou a área de cases
de sucesso visando descrever os projetos
certificados LEED e Referencial GBC Bra-
sil Casa pelos especialistas em empresas
envolvidas, criou a área de divulgação dos
profissionais envolvidos e passou interagir
inteligentemente com todas mídias sociais.
Ademais, 2015 contará com o fortale-
cimento dos nossos canais de comunica-
ção, parcerias de mídia, Revista GBC Bra-
sil, mídias urbanas e um documentário de
5 episódios sobre construção sustentável a
ser desenvolvido.
Nossos agradecimentos especiais
a vocês, nossos Membros, por liderarem
esta transformação e juntos, vamos conti-
nuar construindo um futuro sustentável.
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8. 8 abr/15 rev/gbc/br
soluções
GREEN PAGES
8 abr/15 rev/gbc/br
Arab Hoballah
ENTREVISTA
Arab Hoballah é doutor em desenvolvimento econômico pela Universidade de Paris,
França, mestre em Economia e Ferramentas de Análise Prospectiva e também em
Direito e Relações Internacionais. Nascido no Líbano, em 1954, Hoballah trabalhou
em diversas instituições em países em desenvolvimento, incluindo vários anos com
projetos do Banco Mundial no Iêmen. Também criou e gerenciou a Comissão do
Mediterrâneo sobre Desenvolvimento Sustentável e por 14 anos trabalhou no programa
do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) Mares Regionais
como Vice-Diretor do Plano Azul e, em seguida, Vice-Coordenador do Plano de Ação
do Mediterrâneo (PAM). Atualmente é Chefe de Consumo e Produção Sustentáveis
na UNEP, desde 2005. Responsável pela integração de recursos e eficiência em todos os
níveis, local, nacional, regional e global em diversos setores (água e energia, edifícios e
cidades, indústrias mais limpos e seguros de produção, turismo, alimentação e educação),
desenvolvendo metodologias e ferramentas como Dissociação e Avaliação de Ciclo de
Vida, cenários e indicadores, rotulagem e aquisições, além de gerir parcerias para estreitar
a colaboração com os governos, as empresas e a indústria da sociedade civil.
9. revistagbcbrasil.com.br 9abr/15
soluções
revistagbcbrasil.com.br 9abr/15
Qual é o conceito primordial de decou-
pling?
Arab Hoballah. A Decoupling corresponde a
"fazer mais e melhor com menos", usando me-
nos materiais e recursos naturais por unidade
de produção, reduzindo os impactos sobre o
meio ambiente. O aumento da população, o
crescimento econômico global e, principal-
mente, o consumo e os padrões de produção,
em grande parte insustentáveis resultaram em
aumentos substanciais na extração de recur-
sos naturais, seu processamento, produção,
consumo e geração de resíduos. Agora, é ób-
vio que, com tais padrões insustentáveis, os
recursos sobre o nosso único planeta Terra
não serão suficientes para satisfazer as nos-
sas necessidades, a não ser que melhoremos
nossa eficiência. Ao reduzir a taxa de utilização
de recursos por unidade de atividade econô-
mica, a decoupling de recursos traz um bom
resultado econômico. E quando mantemos,
mesmo melhorando, a produção econômica,
reduzindo o impacto ambiental negativo, este
impacto da decoupling também traz um bom
resultado ambiental. Obviamente, isso requer
inovação em todos os níveis e em todos os
setores, o que, juntamente com a eficiência
integrada, irá apoiar e impulsionar o desenvol-
vimento econômico para a sustentabilidade.
Como é que se pode aplicar a decoupling
ao ciclo de vida dos produtos?
AH. Considerando-se uma perspectiva de
ciclo de vida na avaliação da decoupling, ou
seja, abordando decoupling em todo o ciclo
de vida de um sistema de produção/consumo
desde a aquisição de matéria-prima através
do processamento e fabricação, uso/consu-
mo e descarte de resíduos e reciclagem, exis-
tem duas grandes vantagens. Em primeiro
lugar, uma abordagem de ciclo de vida ajuda
a identificar os pontos no sistema onde exis-
tem maiores ineficiências, e, portanto, onde a
decoupling pode ser alcançada com o menor
número de intervenções e mais eficazmen-
te. Por exemplo no setor automotivo a maior
parte do consumo de recursos e impactos
ambientais ocorrem durante a fase de utiliza-
ção (associado ao consumo de combustível);
portanto, os esforços para dissociar o valor
econômico ou a funcionalidade de tais impac-
tos ambientais devem centrar-se na fase de
utilização (por exemplo, fazendo com que o
carro seja mais eficiente em termos de com-
bustível), a fim de ser mais significativos (sem
esquecer que a ação em outras fases do ciclo
de vida também pode ser importante e neces-
sária). Em segundo lugar, na verdade, permite
a avaliação da decoupling real em oposição a
decoupling parcial; por exemplo, se um país
terceiriza a indústria mais poluente vai fazer
com que seus impactos no mercado interno
sejam dissociados da performance econô-
mica; no entanto, esses impactos ainda vão
ocorrer (em outro lugar), a menos que o país
também tenha reduzido o consumo de pro-
dutos relacionados, e a decoupling de modo
real pode não ter acontecido (a menos que a
produção seja mais eficiente nos países onde
esses setores foram terceirizados).
Decoupling e seu "motor de eficiência" deve
aplicar-se em todas as etapas e fases da ca-
deia de valor, desde a extração até o proces-
samento, desde a produção até o consumo,
a partir da disposição da reutilização e reci-
clagem. Todas as fases do ciclo de vida dos
produtos podem estar sujeitas a decoupling,
utilizando menos recursos naturais e redução
dos impactos sobre o meio ambiente. Para
um produto, seja um produto de consumo ou
um edifício, o design é um processo crítico e
um importante passo para a utilização de me-
nos recursos, melhoria posterior na aquisição
adequada e na conscientização almejada da
educação para o uso, consumo e descarte
responsável.
Quais são as ações do governo e as em-
presas para promover a decoupling? E
quais os obstáculos?
AH. Uma vez que os governos e as corpora-
ções têm claramente entendido as oportuni-
dades e benefícios da decoupling e deficiên-
cia, é essencial que as autoridades públicas
criem e implementem o quadro político ne-
cessário que incentiva e induza a eficiência,
fornecendo informações adequadas e incen-
tivos necessários, se for o caso; enquanto
que as empresas devem incorporar a cultura
da decoupling, com menos recursos e redu-
ção da poluição, em toda a sua cadeia de
valor, investindo mais em inovação. No en-
tanto, investir em decoupling pode não ser
fácil para as pequenas e médias empresas,
uma vez que eles podem precisar de alguns
investimentos e tecnologias apropriadas não
disponíveis no mercado local. Para o efeito,
é importante que as partes interessadas e
tomadores de decisão garantam que o sis-
tema financeiro pode responder às exigên-
cias relacionadas, para apoiar a pesquisa e
inovação necessárias, bem como garantir a
10. 10 abr/15 rev/gbc/br
soluções
GREEN PAGES
10 abr/15 rev/gbc/br
resposta rápida aos mercados. Grande par-
te do "know-how" da concepção de políticas
necessárias para conseguir a decoupling está
presente em termos de legislação, sistemas
de incentivos, e reforma institucional. Muitos
países têm experimentado-os com resultados
tangíveis, encorajando outros a estudar e, se
for caso disso, replicar e ampliar tais práticas
e sucessos.
Como aumentar a consciência pública
sobre os limites dos recursos naturais
disponíveis no planeta?
AH. Para aumentar as chances que têm um
impacto sobre o público, é importante: primei-
ro, não apontar o dedo e acusar, mas explicar
os obstáculos, desafios e riscos, identificando
oportunidades para corrigir as tendências e
comportamentos insustentáveis, e ao mesmo
tempo manter, se não melhorar, o crescimen-
to econômico e qualidade de vida; Segundo,
demonstrar claramente que todos somos par-
te de um sistema e que todos e cada um de
nós tem um papel e uma responsabilidade;
Terceiro, induzir os governos, autoridades
públicas e empresas a darem o exemplo;
Quarto, identificar e partilhar boas práticas,
nas suas forças motrizes, permitindo novos
fatores e resultados; Quinto, concentrar-se
primeiro em questões às quais o público é ge-
ralmente mais sensível, como a saúde, água,
alimentos e energia, mostrando onde as ten-
dências atuais poderiam nos levar, do local
ao contexto global, assim como o oposto;
Sexto, mostrando como nós podemos fazer
economia, de recursos naturais e financeiros,
através da eficiência e da decoupling, com
pequenos esforços e investimentos, para o
bem pessoal e público.
Qual o papel das cidades na decoupling?
AH. Desenvolvimento das cidades para a
sustentabilidade é a pedra angular e condi-
ção “sine qua non” para a decoupling global
e a sustentabilidade. Eu costumo chamar de
"as cidades, as indústrias dos três quartos"
no caminho para a sustentabilidade. Por uma
questão de fato, as cidades vão, em cerca de
20 a 30 anos, dependendo da região do glo-
bo, acolher ¾ da população (mais de 90% na
América Latina) e gerar ¾ do PIB, mas tam-
bém gerar ¾ dos resíduos e as emissões de
CO2
; é claro que todos esses ¾ s são uma
ordem de magnitude, mas eles mostram em
que medida não poderia haver sustentabilida-
de se não com e, ao nível da cidade, daí a
necessidade de prosseguir a decoupling nas
cidades. O aumento da demanda por produ-
tos de consumo ocorrerá principalmente nas
cidades enquanto que os bilhões adicionais
de consumidores de classe média estará
principalmente nas cidades, impulsionando
o desenvolvimento global na direção certa ou
errada da sustentabilidade, dependendo de
seus padrões de consumo e demandas por
produtos eficientes de baixo consumo de car-
bono. Para o efeito, a inovação em infra-es-
trutura, pesada e leve, vai melhorar a gestão
dos recursos nas cidades que "lideram pelo
exemplo", com amplas oportunidades para
aplicação em grande número de cidades.
Para o efeito, o entendimento do metabolis-
mo urbano e o fluxo de recursos para e dentro
das cidades irá oferecer oportunidades para
separar em várias fases, desde a adaptação
das infra-estruturas existentes ou a concep-
ção/construção de novas.
Quais países que já estão se movendo na
direção da decoupling? E o que ações /
práticas concretas para isso?
AH. Quase todos os países estão a realizar
algum tipo de decoupling, mas eles não estão
qualificando ações relacionadas como tal. A
eficiência dos recursos está acontecendo em
todos os lugares, mas não em grande esca-
la. Os campeões neste sentido têm sido até
agora os países europeus, como a Holanda,
Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Suécia, No-
ruega, isso se aplica ao setor dos transpor-
tes, bem como para os edifícios e construção,
onde a promoção da eficiência energética tor-
na-se uma prática normal com legislação ade-
quada, incentivos e instrumentos de mercado.
Isto está a ser progressivamente ampliado a
muitos outros países, como Cingapura, África
do Sul, Colômbia e Brasil. A redução do con-
sumo de energia nos edifícios está agora bem
estabelecida, mas ainda precisa ser adequa-
damente implementada e ampliada, para uma
redução em cerca de 30% apenas com alte-
rações comportamentais e com pouco mais
investimento. O mesmo vale para o transporte
público e compartilhado. No setor da indús-
tria, a tecnologia avançada dos fornos de co-
-geração pode atingir até 40% de redução da
intensidade energética para fundição e pro-
cessamento de zinco, estanho, cobre e chum-
bo. Os agricultores na Índia, Jordânia, Espa-
nha e EUA têm mostrado que, em sistemas
de irrigação por gotejamento sub-superfície,
11. revistagbcbrasil.com.br 11abr/15
soluções
revistagbcbrasil.com.br 11abr/15
regar diretamente raízes das plantas, pode
reduzir o consumo de água entre 30-70% e
aumentar o rendimento das culturas por 20-
90%. Um certo número de tecnologias propor-
cionam períodos curtos de pay-back quando
se comparam os investimentos com seu perí-
odo de retorno; este é o caso de motores de
alta eficiência, irrigação por gotejamento, aço
de alta rigidez e metano do aterro de resíduos.
Quais são as consequências mais ime-
diatas de padrões insustentáveis de uso
dos recursos naturais?
AH. Os padrões insustentáveis de uso dos
recursos naturais irão resultar em diminuição
dos recursos, a concorrência sobre os restan-
tes recursos limitados e aumento de preços
dos produtos relacionados, gerando portan-
to, o aumento da pobreza e instabilidade.
Ele também terá um aumento dos riscos de
catástrofes, afetando o equilíbrio dos ecos-
sistemas em questão, resultando em inunda-
ções, se não no aumento da desertificação.
Os atuais padrões de utilização dos recursos
estão levando ao aumento dos preços dos re-
cursos, o aumento da volatilidade dos preços,
a arraigada escassez de recursos e o rompi-
mento de sistemas ambientais.
Explique sobre as principais conclusões
do "Decoupling 2" em poucas linhas.
AH. A decoupling deve ser perseguida para
garantir o crescimento econômico sustentado
e o progresso social equitativo; decoupling é
cada vez mais importante para fazer econo-
mias e as empresas mais competitivas. Mui-
tas tecnologias e técnicas de eficiência de
recursos estão disponíveis comercialmente
e sendo amplamente utilizadas em econo-
mias em desenvolvimento e desenvolvidas.
Elas permitem que a produção econômica
seja alcançada com menos recursos e insu-
mos para redução de resíduos, economia de
custos e mitigação dos riscos de escassez de
recursos e volatilidade dos preços.
Você pode falar sobre o lançamento do
State of Play América Latina, que ocorreu
no ano passado durante o Green Building
Brasil Expo, aqui em São Paulo?
AH. A mudança climática representa um risco
global para a sociedade e os ecossistemas
naturais. Ela afeta as necessidades básicas
de desenvolvimento, a água, a produção de
alimentos, o acesso à energia, a saúde, o
acesso e utilização de recursos. Enquanto o
mundo está se concentrando sobre o proble-
ma e as consequências das mudanças climá-
ticas, há várias oportunidades para contribuir
para a mitigação das alterações climáticas
através da eficiência dos recursos, a começar
com o típico baixo rendimento da eficiência
energética no setor da construção e, em se-
guida, estendido para o fluxo de recursos e
usos ao nível da cidade, devido, principalmen-
te, ao fato de que a população está cada vez
mais urbanizada, com uma correlacionada
demanda crescente para o consumo. Améri-
ca Latina é a região mais urbanizada do mun-
do e o potencial para corrigir as tendências
insustentáveis, poupando grande quantidade
de recursos, são enormes. Este relatório foi
pensado para essas oportunidades em vários
países da América Latina através de edifícios
e habitações sociais, em especial, ao avaliar
o quadro institucional relacionado existente, o
nível de conhecimento e ações necessárias.
Fazer mais
e melhor
com menos,
impulsionado
pela inovação
e decoupling
13. revistagbcbrasil.com.br 13abr/15
tipologias
Escolas certificadas
garantem ambiente
propício ao
desenvolvimento de uma
geração consciente de
suas responsabilidades
socioambientais
E
nsinar pelo exemplo é um
mote de educadores por todo
o mundo e está na essên-
cia das atividades da Global
Coalition for Green Schools
(GCGS), aliança vinculada
ao Green Building Council. A
Global Coalition consiste em
conselhos de construções sustentáveis alia-
dos a organizações que têm o interesse de
empoderar comunidades com ferramentas e
conhecimento, para que transformem as es-
colas do seu entorno em espaços de fomento
à cultura sustentável.
As escolas tornam-se importantes instrumen-
tos de educação para a sustentabilidade ao
apresentarem a seus alunos propostas como
a redução do uso de lâmpadas, a otimiza-
ção da ventilação natural, o cultivo de seus
próprios alimentos e o respeito à natureza.
Mais do que certificar edificações, as ações
da GCGS englobam atividades de conscien-
tização e educação voltadas aos aspectos
socioambientais. Relacionam, por exemplo, a
melhora no rendimento escolar com a quali-
dade interna do ar obtida por meio de técni-
cas de construção sustentável.
Nesse ambiente, construído para incentivar
o letramento ambiental, alunos, professores
e demais funcionários, juntamente com pais,
mães e membros da comunidade, desenvol-
vem a capacidade de compreender a com-
plexidade do mundo a partir de um ponto
de vista ambientalista, passando a ler a sus-
tentabilidade mais como ação do que como
conceito, para fazer a diferença.
Responsável pela GCGS no mundo, Rachel
Gutter esclarece que a aliança tem o compro-
misso de colocar cada aluno das novas gera-
ções em uma escola verde, desafio grande,
principalmente considerando países como
o Brasil, em que os projetos de sustentabili-
dade ainda engatinham e não são fomenta-
dos pelos setores públicos. Para superar as
dificuldades, o GCGS conta com o apoio de
parceiros estratégicos: “Buscamos organiza-
ções similares em outros países, que queiram
se comprometer com a mesma visão de sus-
tentabilidade e assumir a responsabilidade
de defender o movimento das escolas verdes
dentro de seus respectivos países”.
Nos Estados Unidos, as certificações ambien-
tais são normas obrigatórias, o que favoreceu
o lançamento e a consolidação da Coalition
naquele país, desde 2009. Lá, também as
associações de professores e de administra-
dores de escolas engajaram-se no processo.
O envolvimento garantiu o lançamento da
Global Coalition no Congress of World GBC
em 2013, com 30 membros fundadores mun-
diais, cada um representando um movimento
crescente de escolas verdes em seu país.
“China, Brasil, Argentina, Israel, Jordânia,
Croácia são alguns dos países envolvidos e
nossa rede está crescendo para atingir um
conjunto extremamente diversificado de co-
munidades e escolas”, celebra Rachel.
TÁVEL
O Colégio Estadual
Erich Walker Heine
conquistou no início
desse ano, o selo
LEED Schools Silver
14. 14 abr/15 rev/gbc/br
tipologias
Mudar um prédio e as pessoas
Estudos já comprovaram que há benefícios
diretamente relacionados à construção de
prédios sustentáveis e a melhora na saúde
e desempenho humano, seja no trabalho ou
nos estudos. Mas um dos objetivos da GCGS
é incentivar um maior número de pesquisas
que documentem os avanços positivos asso-
ciados às escolas verdes. Os benefícios en-
volvem também uma redução nos custos de
manutenção e contas. “Nos Estados Unidos,
uma escola verde padrão economiza cerca
de US$100 mil por ano em despesas diretas,
o suficiente para contratar dois novos profes-
sores ou comprar 200 computadores”.
Mas a diretora do GCGS considera essa uma
vantagem secundária, pois o foco principal
é na formação das pessoas: “Essas escolas
criam um efeito cascata que se estende muito
além da comunidade imediata, aumentando
a demanda por edifícios mais saudáveis, a
conservação de recursos municipais, como
água e energia, e a condução de estilos de
vida sustentáveis”. Rachel também desta-
ca que o mais importante nesse processo
é a formação dos alunos: “Uma escola ver-
de educa uma nova geração de nativos de
sustentabilidade, que sabem usar o que
precisam e não tudo o que podem. Esse é o
potencial do projeto em longo prazo: não os
edifícios que levantamos, mas os alunos que
formamos dentro deles”.
Transformação social
Essa realidade é observada diariamente por
Valnei Alexandre Fonseca, diretor geral do
Colégio Estadual Erich Walter Heine, locali-
zado em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, que
é a primeira escola totalmente sustentável do
Brasil e da América Latina. Com 15 anos de
experiência docente e há três à frente da Di-
reção Geral do Colégio, Valnei é testemunha
das mudanças ocorridas na comunidade do
entorno e acredita que os alunos se tornam
multiplicadores.
“Temos 600 alunos que moram em diversas
regiões do Rio de Janeiro e acabam levando
as vivências da escola para suas famílias. Da
última turma, 60 estão inseridos em universi-
dades públicas, sinal de que também cum-
primos com nosso papel acadêmico”, afirma
o professor, que também se preocupa com
a vertente das relações humanas na visão
da sustentabilidade. Para ele, é importante
que os alunos compreendam que para se
manter sustentável, o ambiente precisa ser
harmonioso, e o cumprimento de deveres, a
otimização dos espaços e a manutenção da
ordem são quesitos indispensáveis para o
bom relacionamento entre todos.
Para Valnei, o maior desafio foi o processo
de conscientização do grupo de professores
e funcionários, mas o esforço valeu a pena:
“Foi um trabalho de formiguinha e hoje os
resultados são muito positivos. Trabalhamos
agora com a manutenção dos projetos e revi-
são anual das atividades”. A maioria dos mais
de 30 projetos do C.E. Erich Walter Heine é
fruto de ideias dos próprios alunos e envolve
coleta seletiva, reciclagem, coleta de óleo de
cozinha, carona solidária, entre outros.
Pioneirismo
O prédio do C.E. Erich Walter Heine foi cons-
truído a partir de um projeto integrativo, que
aproveitou o terreno cedido pela prefeitura
municipal do Rio de Janeiro. Luiza Junqueira,
arquiteta e consultora LEED responsável pela
certificação, explica que o espaço original era
uma praça pública com quadras poliesporti-
vas e tais características foram incorporadas
ao projeto de modo a reduzir a geração de
resíduos. “Várias coisas do espaço original
foram reaproveitadas, como a pavimentação
da praça e os postes de iluminação”, conta a
consultora.
Projetos sustentáveis demandam a integra-
ção entre as ações de arquitetura, hidráulica,
paisagismo e luminotécnica, fato que ainda
não é muito comum no Brasil. Mas para Lui-
za Junqueira, o esforço por esta integração
traz benefícios que vão além da redução de
resíduos e do consumo de água e energia: “É
recompensador ver o que os alunos ganham
na convivência em um espaço como esse,
e como os professores passam a utilizar a
própria escola como ferramenta de ensino. O
telhado verde vira horta, eles têm uma com-
posteira própria e são referência para a coleta
seletiva da comunidade”, destaca.
Colégio Positivo, Curitiba
15. revistagbcbrasil.com.br 15abr/15
tipologias
Colégios certificados e iniciati-
vas verdes
No Brasil, a ausência de iniciativas formais
em prol da sustentabilidade nos currículos
escolares ainda é um desafio para a forma-
ção de estudantes mais conscientes de seus
deveres. No entanto, as certificações têm
garantido iniciativas que se destacam pelas
construções sustentáveis e impactam a co-
munidade local em diversos outros aspectos.
Em Curitiba, o Colégio Positivo Internacio-
nal foi certificado em junho de 2014 com o
LEED, tornando-se a primeira escola nível
ouro no Brasil. Com iluminação natural cui-
dadosamente planejada e ventilação cruzada
nas salas de aula, o prédio oferece conforto
térmico por meio de amplas janelas e portas
em lados opostos das salas, além de vidro
laminado capaz de permitir a entrada de luz,
mas não de calor.
Outro ponto que permite o conforto térmico é
o telhado branco, que reflete os raios solares
e evita as chamadas ilhas de calor. Água é
um item em pauta que não pode ser esqueci-
do no processo: tanto a redução do consumo
quanto a captação fazem parte do projeto do
prédio do Positivo. Até o paisagismo foi pen-
sado para evitar a irrigação artificial.
Em Florianópolis, uma nova creche inaugura-
da em março deste ano também é um marco
do desenvolvimento de escolas sustentáveis
no país. Com capacidade média para 200
crianças em tempo integral, sua localização
foi cuidadosamente escolhida para estar pró-
xima a diversos serviços básicos e residên-
cias para que a locomoção dos pedestres
possa ser feita sem o uso de automóveis,
dando preferência ao transporte público.
O projeto, com consultoria da Petinelli Inc.,
empresa de engenharia e consultoria em
construções sustentáveis, já foi registrado
junto ao United States Green Building Coun-
cil (USGBC) e é candidato a ser a primeira
creche municipal do Brasil a receber a certifi-
cação LEED nível Platina. “A Creche Munici-
pal Hassis é prova que basta liderança para
construirmos um futuro melhor e mais susten-
tável para as próximas gerações. O pionei-
rismo da Prefeitura de Florianópolis merece
reconhecimento. Esse projeto estabelece um
novo benchmark para eficiência energética
e consumo de água em edifícios públicos e
educacionais no país", celebra Guido Petine-
lli, Diretor da consultoria.
Durante a obra, foram tomados cuidados
com para evitar que sedimentos de barro e
areia fosse carregados para as galerias plu-
viais e córregos. Outras características de
sustentabilidade incluem sistema de capta-
ção da água da chuva para uso nos vasos
sanitários, instalação de telhas com tinta de
alto Índice de refletância solar, diminuindo a
Colégio Estadual Erich Walter Heine,
Rio de Janeiro
16. 16 abr/15 rev/gbc/br
tipologias
temperatura interna e o efeito ilha de calor.
Há também aquecimento solar para chuvei-
ros e torneiras, entre outros. A Creche Hassis
possui também uma central de coleta de resí-
duos recicláveis.
Para o consultor Guido Petinelli, diversos as-
pectos da obra merecem destaque: "De for-
ma inédita, a rede municipal de ensino fará
uso da energia do sol para gerar eletricidade
através da energia fotovoltaica. O excesso de
eletricidade é transferido para rede da Celesc
e entra como crédito para uso em outras uni-
dades educativas", explica.
Já no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, o
professor Fernando Ribeiro desde 2010 reali-
za projetos com seus alunos a fim de incluir o
tema das construções sustentáveis no curso
técnico de Edificações. Os estudantes são
incentivados a desenvolver trabalhos de con-
clusão de curso voltados para esta temática
e, em 2014, um grupo fez o projeto completo
para o Liceu obter a certificação LEED for
Schools. A banca de defesa contou com
a participação da arquiteta Maria Ca-
rolina Fujihara, do GBC Brasil, para
quem a iniciativa é de extrema
importância: “É nessa fase
que eles assimilam mais
e melhor as informa-
ções recebidas”. A
arquiteta acredita
também que um grande diferencial do Liceu
está no fato de formar profissionais que já
chegam ao mercado ou ao ensino superior
com conhecimentos sobre as construções
sustentáveis e suas certificações. “Os alunos
que já estão estudando na área entrarão na
universidade com um conhecimento já avan-
çado sobre o tema e possuirão um diferen-
cial importante. Levar o conhecimento para a
base da pirâmide é uma forma de dissemi-
nar com mais afinco tais práticas e colocar
a questão em pauta nas principais escolas
e universidades do país”, defende ela, que é
coordenadora técnica na GBC.
O professor destaca que a recepção dos alu-
nos ao tema é sempre muito positiva - “eles
têm uma participação intensa nas discussões,
principalmente na disciplina de Legislação”
– mas acredita que ainda é preciso avançar
na interdisciplinaridade das discussões, que
ainda são muito restritas aos cursos técnicos.
“Costumo dizer que existem muitas iniciati-
vas e poucas "acabativas". Acredito muito
que deva existir um foro adequado para
que todos os profissionais ligados
ao setor da construção possam
discutir novas diretrizes com
a comunidade. É uma
questão de cidada-
nia”.
Colégio Positivo, Curitiba
Campeonato de
Escolas Sustentáveis
Entre as iniciativas de construção susten-
tável em escolas mais bem sucedidas no
mundo, destacam-se as vencedoras da
competição Greenest School on Earth,
organizada pela GCGS anualmente. Os
últimos vencedores foram Green School
Bali, Sing Yin Secondary School em Hong
Kong e Waterbank School do Quênia. En-
tre os representantes brasileiros inscritos
em 2014, estava o Colégio Estadual Erich
Walter Heine. Este ano a vencedora foi a
Dunbarton High School do Canadá.
O campeonato premia com US$ 1 mil as
escolas que melhor exemplificam como a
sustentabilidade pode ser integralmente
tecida na infraestrutura, na cultura e no
currículo, considerando o uso eficiente de
recursos e redução do impacto ambiental;
a saúde melhorada e a aprendizagem en-
tre alunos, professores e funcionários; e a
ênfase na educação para a conservação
de recursos.
17. revistagbcbrasil.com.br 17abr/15
tipologias
Green Apple Day
Em setembro de 2014, a EMEF Padre Luiz de
Oliveira Andrade, em Barueri, recebeu um dia
de atividades lúdicas e sustentáveis, além da
oportunidade de ter um de seus problemas
estruturais resolvidos: a troca dos arejadores.
Foi o Green Apple Day, evento promovido
pela GCGS globalmente, em que empresas e
pessoas interessadas em transformar as es-
colas em ambientes mais sustentáveis para
as crianças se reúnem e dedicam um pouco
do seu tempo em benefício do outro.
Depois de 17 anos atuando como arquiteta no
exterior, principalmente nos Estados Unidos,
Cristina Shoji retornou ao Brasil para compar-
tilhar seus aprendizados sobre construções
sustentáveis por aqui. Participou do Green Ap-
ple Day da escola de Barueri junto com a en-
genheira e diretora técnica da LCP Engenha-
ria, Lourdes Printes, além de outros parceiros.
Ambas participaram do processo educativo
que explicou às crianças princípios de sus-
tentabilidade ao mesmo tempo em que sen-
sibilizou professores a mudar de atitude. “É
um dia em 365 do ano em que podemos doar
um pouco do nosso conhecimento e do nos-
so trabalho para mudar a realidade de uma
escola ou de uma comunidade. Foi uma ação
muito bonita e emocionante”, relembra Cristi-
na, que é consultora de sustentabilidade na
Green Design de São Paulo.
Já Lourdes é uma profissional pioneira da
construção sustentável no Brasil, atuando
desde a década de 1980 na área. Também
formada em História pela USP, ela comparti-
lha do desejo de ampliar a cultura das escolas
verdes pelo Brasil “A ideia do Green Apple Day
é trazer um retorno, fazer alguma coisa para
transformar um espaço físico e contribuir para
a disseminação do conceito sustentável. Não
é preciso ser engenheiro ou arquiteto para par-
ticipar, basta querer fazer a diferença”.
Também no mesmo mês, outra atividade
Green Apple Day + Programa de Educação
Ambiental GRS CTE foi realizado na ONG Go-
tas de Flor com Amor. O evento consistiu em
atividades recreativas sobre Resíduos, com o
objetivo de difundir conhecimentos sobre edu-
cação ambiental para as crianças. Participa-
ram 8 voluntários, sendo 7 da equipe do CTE
(Alexandre Felippes, Gabriel Casaroli, Julia
Magaldi, Juliana Webel, Marcelo Mello, Patricia
Missawa, Wagner Oliveira) e 25 crianças, além
dos educadores da ONG Gotas. As crianças
se divertiram com o jogo de Caça-ao-Tesouro
e puderam usar sua criatividade na dobradura
feita com papel já utilizado. Além disso foi fei-
ta uma atividade de upcycling com Garrafas
PETs transformando-as em puff. O evento foi
finalizado com a distribuição de brigadeiros
feitos com casca de banana. De acordo com
Rodrigo Robles, educador da ONG, “a ativi-
dade foi fantástica e nos dias seguintes eles
aproveitaram para colocar outras ações em
prática, como a reutilização de caixas de leite
como sementeiras para a horta que eles estão
cultivando na ONG”. Dessa forma, a equipe
CTE sente que está cumprindo sua missão,
encorajando as crianças a repensarem sobre
os resíduos. O Programa de Educação Am-
biental acontecerá até o final do ano e estão
previstas mais 3 encontros entre voluntários
CTE e crianças onde serão abordados outros
temas ambientais.
Eng. Lourdes Printes (LCP), Arq. Maria Carolina Fujihara
(GBC), Arq. Cristina Shoji (Green Design)
Palestra da Eng. Lourdes Printes (LCP)
Crianças montam puffs com garrafas PET na ONG Gotas de
Flor com Amor
18. 18 abr/15 rev/gbc/br
tipologias
Qual é o objetivo da Global Coalition for
Green Schools e quando isso começou?
Rachel Gutter. Nosso compromisso do
Centro de Escolas Verdes é colocar todos os
alunos em uma escola verde durante esta ge-
ração. Lançamos a Global Coalition for Green
Schools (Coligação Global) para formar par-
cerias com organizações similares em outros
países, que queriam se comprometer com
essa mesma visão e assumir a responsa-
bilidade de defender o movimento escolas
verdes dentro de seus respectivos países. A
Coligação Mundial baseia-se no sucesso da
Coalizão dos EUA, que foi lançada em 2009,
juntamente com muitas das organizações
mais poderosas e associações no mundo da
educação e da sustentabilidade como am-
bos os sindicatos nacionais de professores
e associações de administradores escolares,
membros do conselho escolar e funcionários
da administração. Em 2013, lançamos a Coa-
lizão Mundial no congresso anual do World
GBC com outros 30 membros fundadores,
cada um representando um movimento cres-
cente de escolas verdes em seu respectivo
país.
Quem são os membros da aliança global?
RG. Temos parceria com uma série de orga-
nizações que patrocinam iniciativas de esco-
las verdes em 31 países. Da China ao Brasil,
da Argentina a Israel e Jordânia até a Croácia,
nossa rede está crescendo ao longo do tem-
po para atingir um conjunto extremamente
diversificado de comunidades e escolas. Paí-
ses participantes atuais incluem Argentina,
Austrália, Bolívia, Botsuana, Brasil, Canadá,
Chile, China, Colômbia, Croácia, Líbano, Egi-
to, Emirados Árabes, Gana, Hong Kong, Ín-
dia, Itália, Israel, Jordânia, Quênia, Ilhas Mau-
rício, México, Namíbia, Panamá, Peru, Qatar,
Romênia, Cingapura, Eslovênia, Turquia e
Estados Unidos.
Vice Presidente Senior
do Conhecimento do
U.S. Green Building
Council e
Diretora do Centro de
Escolas Verdes
Rachel
Gutter
ENTREVISTA
19. revistagbcbrasil.com.br 19abr/15
tipologias
Como pode uma Escola Verde melhorar a
saúde e a aprendizagem de uma criança
e de uma geração? Que tipo de benefí-
cios isso pode proporcionar a uma comu-
nidade e a um país como um todo?
RG. Uma série de estudos estabeleceram
uma relação clara entre o ambiente construí-
do (ex. Escolas) e saúde humana e perfor-
mance. Impactos na saúde e desempenho
positivo estão ligados a uma variedade de
atributos das escolas verdes desde a acústi-
ca até a iluminação natural, a qualidade do ar
interior para projetar com base numa aprendi-
zagem baseada no espaço. Um dos objetivos
da aliança global é conduzir mais pesquisas
para este movimento e também documentar
os impactos na saúde e desempenho positi-
vos associados a uma escola verde. Mais im-
portante ainda, uma escola verde educa uma
nova geração de crianças que nasceram na
sustentabilidade, aqueles que sabem usar o
que eles precisam e não tudo o que podem.
Isso é realmente onde nós vemos o potencial
a longo prazo. Não são os edifícios construí-
dos mas os alunos que se constroem den-
tro deles. Em primeiro lugar, as iniciativas de
sustentabilidade ajudam a economizar recur-
sos devolve-los para as salas de aula onde
ele pertence. Nos EUA, uma típica escola ver-
de economiza US$ 100.000 por ano em cus-
tos operacionais diretos. Isso é o suficiente
para contratar dois professores ou comprar
200 computadores. Além de poupar dinhei-
ro, as escolas verdes são uma oportunidade
para educar uma geração de cidadãos glo-
bais que entendem o seu mundo e como o
conforto que eles desfrutam está intrinseca-
mente ligado a populações ao redor do glo-
bo. Escolas Verdes criam um efeito cascata
que se estende muito além da comunidade
imediata, aumentando a demanda por edifí-
cios mais saudáveis, a conservação dos re-
cursos municipais (energia, água, dinheiro) e
a condução de estilos de vida sustentáveis.
Como é que a qualidade do ar interior de
uma escola afeta os seus ocupantes?
RG. A qualidade do ar numa escola pode ser
melhorada em uma variedade de maneiras
desde aumentar a ventilação até diminuir a
presença de produtos químicos nocivos. A
melhoria da qualidade do ar foi capaz de di-
minuir a incidência de asma e outras doenças
respiratórias, aumentar a participação de pro-
fessores, funcionários e alunos, e melhorar
os resultados de aprendizagem e retenção.
Além disso, a melhoria de atendimento para
os professores tem um impacto financeiro di-
reto sobre a escola pela poupança de custos
com substitutos e gastos com saúde reduzi-
das para o sistema escolar.
Quais são as coisas mais importantes
que uma Escola Verde deve ter em ter-
mos de educação e arquitetura?
RG. No Centro de Escolas Verdes, junto com
nossos parceiros da Coalizão Global, nós en-
caramos os objetivos de uma escola verde
apoiado em três pilares. Simplificando, uma
escola verde aspira: minimizar o impacto am-
biental, absorvendo zero para energia, água
e resíduos; ter um impacto positivo sobre a
saúde humana, bem-estar e desempenho e;
finalmente, garantir que todos os formandos
sejam ambientalmente alfabetizados.
Você pode dar um bom exemplo de uma
Escola Verde no Mundo que pode inspi-
rar outras escolas?
RG. Destacamos três escolas excepcionais
através do nossa competição “Escola Mais
Verde da Terra”. Os nossos vencedores pas-
sados incluem a Escola Green Bali, na Indo-
nésia, a Escola Secundária Sing Yin em Hong
Kong e a Escola Waterbank no Quênia. Cada
uma dessas escolas exemplifica os três pila-
res de uma escola verde. A busca para este
ano da Escola Mais Verde na Terra encerrou-
-se a pouco tempo. Recebemos pedidos de
cerca de vinte países e o prêmio de 2015 foi
para aquela que está definindo o que signi-
fica viver, respirar e ensinar sustentabilidade
em toda a escola, a Dunbarton High School,
do Canadá.
Como você aproxima e envolve o gover-
no na iniciativa Escolas Verdes?
RG. Nos Estados Unidos, temos parcerias
com uma série de agências estaduais e lo-
cais e o que temos feito com o Departamento
de Educação dos Estados Unidos para aju-
dá-los a incrementar o prêmio Green Ribbon
School auxiliando o nosso trabalho com os
legisladores estaduais a aprovarem políticas
locais para escolas verdes. Nós trabalhamos
até mesmo com prefeitos através da nossa
Aliança de Prefeitos para Escolas Verdes.
Como você vê o futuro das Escolas Ver-
des e educação com os conceitos sus-
tentáveis?
RG. Vemos escolas verdes como motor da
transformação na educação, dando-lhes
competências do século 21, como o pen-
samento sistêmico e o empreendedorismo.
Sabemos que a geração de estudantes que
está chegando nas escolas verdes estarão
equipados para resolver os desafios que ine-
vitavelmente deixamos para trás. No Centro,
queremos que a nova geração de cidadãos
que pensam globalmente seja o nosso lega-
do.
21. revistagbcbrasil.com.br 21abr/15
vida sustentável
Relatório inédito do WGBC garante que construções
sustentáveis vão além dos benefícios econômicos
e ao meio ambiente, atingindo diretamente o
rendimento dos funcionários de uma empresa
A
s metrópoles se desenvolveram com muita rapidez.
Edifícios são construídos em poucos dias. Sem per-
ceber, o planejamento urbano e a preocupação com
a sustentabilidade foram deixados de lado. Grandes
cidades começaram a produzir impactos negativos ao
meio ambiente. Na construção há um gasto exagerado
de materiais com alto nível de energia embutida e materiais com alta
emissão de CO2
, além do grande volume de produção de entulho
e grande movimentação de terra. Já na operação o problema está
no grande consumo de energia, água, produção de esgotos e lixo e
impermeabilização do terreno.
Os Green Buildings vieram para reverter este quadro e comprovar
que é possível uma cidade crescer de maneira consciente e susten-
tável. O espaço construído deve ter na sua concepção, construção
e operação o uso de conceitos e procedimentos reconhecidos de
sustentabilidade ambiental, proporcionando benefícios econômicos
e, principalmente, na saúde e bem-estar das pessoas.
Nas escolas, há uma melhora de 20% nas provas; nos hospitais pa-
cientes deixam o local mais cedo; nos escritórios a produtividade da
equipe pode aumentar em até 16%, no comércio há um aumento signi-
ficativo por metro quadrado; e nas indústrias, o aumento da produção.
O World Green Building Council lançou em novembro de 2014 um
novo relatório que apresenta provas significativas nas relações dire-
tas entre o projeto de um escritório e o impacto significativo na saúde,
bem-estar e produtividade dos funcionários.
O relatório, patrocinado pela JLL, LendLease e Skanska, afirma que a
produtividade das pessoas depende de uma soma de vários fatores.
São considerados os itens físicos do espaço do escritório: Qualidade
do ar e ventilação, conforto térmico, iluminação e vistas para o exte-
rior, existência de plantas e áreas verdes, a Biofilia. Além disso, tam-
bém deve-se considerar os itens culturais e sociais, conforto acústi-
co, o layout e a ergonomia principalmente no mobiliário das mesas e
cadeiras, aspecto de limpeza e arrumação.
Principais comprovações
• Qualidade do ar interior: Várias pesquisas apontam que a melho-
ria na qualidade do ar interior (baixas concentrações de CO2
e de
poluentes e altas taxas de ventilação) pode elevar a melhoria da
produtividade de 8 a 11%.
• Conforto térmico: Pesquisas demonstram que o conforto térmico
tem um impacto significativo sobre a satisfação no local de tra-
balho e graus moderados de controle individual sobre conforto
térmico podem causar melhoria na produtividade.
• Iluminação e vista da área externa: Vários estudos têm estima-
do ganhos na produtividade como resultado da proximidade de
janelas; especialistas acreditam que vistas externas é, provavel-
mente, o fator mais significativo para o ganho de produtividade,
principalmente quando a vista oferece uma relação com a natu-
reza.
• Ruído e acústica: A pesquisa revela que quando o ruído provoca
uma distração indesejada é praticamente impossível ser produ-
tivo em um escritório baseado no conceito moderno de conheci-
mento. Esta pode ser a principal causa de insatisfação entre os
ocupantes.
• Layout interno: A forma como o interior de um escritório é confi-
gurado (incluindo densidade e configuração do espaço de tra-
balho, circulações, espaço social e estação de trabalho) possui
um impacto sobre a concentração, a colaboração, a confiden-
cialidade e a criatividade.
• Atividades e exercício: A saúde pode ser melhorada através da
prática de exercícios. Logo, um prédio que ofereça atividades,
promovendo o acesso a serviços e comodidades como acade-
mia, depósitos para bicicleta e espaços verdes, podendo esti-
mular um estilo de vida mais saudável a seus ocupantes.
Segundo a professora do Green Building Council Brasil e diretora
executiva da Asclépio Consultoria, Eleonora Zioni, o entorno do lo-
cal também é essencial no planejamento do edifício sustentável e
22. 22 abr/15 rev/gbc/br
vida sustentável
nos benefícios aos colaboradores. “A
influência é direta caso haja a exis-
tência de facilidades como creches,
restaurantes, lojas e conveniências no
local de trabalho ou próximas. O local
determina o transporte das pessoas
diariamente, item já muito discutido
em uma grande cidade como São
Paulo, já que quanto mais tempo se
perde com o deslocamento, maior é
a fonte de stress. As empresas que
oferecem serviços alternativos como
ônibus fretado, minivans, ou sistema
de carona solidária estão ajudando
as pessoas e o planeta”, afirma.
Para ela, o acesso direto ao exterior é realmente o mais importante
para as pessoas. Os benefícios da conexão com o exterior das edifi-
cações são comprovados cientificamente, o contato com a luz solar
tem relação direta com o ciclo circadiano das pessoas, interferindo
na produção de hormônios e fontes de prevenção de esgotamento
físico e emocional.
Escolha de materiais
Outro item que merece atenção é a escolha dos materiais, seus re-
quisitos técnicos e uso de substâncias: Tintas que não deixam cheiro
e não irritam os olhos, carpetes antialérgicos, mesas com laminados
melamínicos que não tenham componentes que liberam compostos
orgânicos voláteis e o cuidado com a manutenção dos sistemas de
ar condicionado.
Ferramentas para medição
Não há dúvidas que as vantagens aos funcionários são surpreenden-
tes. Contudo, é preciso saber se o trabalho que está sendo realiza-
do está realmente garantido todos os benefícios. Por isso, o relatório
apresenta um conjunto de ferramentas simples que poderão ser utili-
zadas pelas empresas para mensurar a saúde, o bem-estar e a pro-
dutividade de seus edifícios, além de informar a tomada de decisão
financeira.
A compreensão da relação entre trabalhadores e seus locais de
trabalho é importante para o desenvolvimento de edifícios de mais
qualidade, mais saudáveis e ecológicos, aspectos valorizados pelos
investidores, projetistas e ocupantes.
• Métricas financeiras: Absenteísmo, rotatividade de pessoal, com-
posição da receita (por departamento ou por edifício), custos
médicos e de reclamações e queixas físicas.
• Métricas perceptivas: Estudos que apontam uma série de ati-
tudes de autorrelato para a saúde, bem-estar e produtividade
no local de trabalho podem conter uma grande quantidade de
informações para a melhora do desempenho do escritório.
• Métricas físicas: medições do ambiente físico do escritório, como
a temperatura, auxiliam a mensurar seu efeito sobre a saúde,
bem-estar e produtividade dos trabalhadores. Avanços tecnoló-
gicos e de fácil manuseio nos dão acesso a estas informações.
A ferramenta de certificação LEED também é um instrumento que
oferece um padrão de itens da infraestrutura do escritório a serem
investidos no espaço, seja reforma ou nova construção, em qualquer
edifício. A ferramenta permite o benchmarking para a empresa, com-
paração com edifícios em todo o mundo.
Integração de equipes
Quando houver uma integração entre a engenharia, o RH e o finan-
ceiro, a empresa conseguirá aplicar no espaço de trabalho as reais
necessidades a partir da percepção dos colaboradores, sem desper-
dício, de acordo com o perfil de cada pessoa e reduzirão os custos
empregatícios, aumentando a produtividade e gerando maiores re-
ceitas. Uma maneira poderia ser iniciando uma aproximação através
do cruzamento de informações quanto à satisfação com o conforto
térmico, com a iluminação, com a ventilação com o layout e os mo-
biliários. Por exemplo: Uma pessoa de olhos claros fisiologicamente
tem os olhos mais sensíveis e precisa de menos luz para trabalhar.
Uma pessoa mais alta precisa de posição do monitor diferente de
uma pessoa de estatura média.
Eleonora questionou o gerente de uma grande empresa que estava
planejando a mudança para um escritório com certificação LEED CI,
qual era o item motivador da preocupação com a sustentabilidade.
“Ele me explicou que percebeu que deveria investir na qualidade
do ambiente quando quatro funcionários, que sentavam na mesma
mesa compartilhada, faltaram no mesmo dia por causa de gripe. A
empresa entendeu que era melhor cuidar melhor do escritório”. Vale
frase ‘É melhor prevenir do que remediar’.
Atuação do GBC Brasil
O GBC Brasil iniciou uma pesquisa de estudos de casos nacionais que
contará com o apoio do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). O
objetivo do estudo é realizar uma avaliação do Bem-estar nos escritó-
rios e a sua influência sobre a Saúde e Produtividade dos ocupantes,
além da avaliação do desempenho dos sistemas e equipamentos ins-
talados nos ambientes. Serão utilizadas métricas perceptivas e físicas,
com base no Relatório desenvolvido pelo World GBC (World Green
Building Council) em parceria com UKGBC, HKGBC, USGBC e Colôm-
bia GBC. Para mais informações contate o GBC Brasil.
Eleonora Zioni
26. 26 abr/15 rev/gbc/br
documento
A casa de Atibaia - 1974
Respeito profundo pela paisagem, a retoma-
da da rua interna, evolução antiga da galeria
de circulação da primeira casa própria cons-
truída, a racionalidade do setor hidráulico, o
controle da curva necessária, entre outros
aspectos. A primeira obra brasileira bioclimá-
tica e ecoeficiente, que sintetiza de conceito,
equilíbrio, simplicidade e magia na sua intera-
ção com meio ambiente.
Escola Estadual Dracena em São
Paulo - 1976
Para-sóis horizontais acima dos blocos soltos
dos ambientes de trabalho; ventilação natural
para garantir a renovação do ar e melhorar o
conforto térmico dos ambientes.
Residência Rodolfo Galvani - 1977
Atualidade de seus espaços, acolhimento
dos ambientes, clareza formal e refrescante
cobertura verde.
Residência Ilha Bela - 1976
As características físicas de um terreno com
12m de desnível determinaram a implantação
em quatro níveis, onde as linhas geométricas
promovem a adequação topográfica e a vo-
lumetria sinuosa de decks e varandas que se
alternam, planos, cilindros e um prisma trian-
gular que dialogam entre si compondo uma
unidade complexa e agradável.
Atelier Zanettini Arquitetura -1984
Muito conhecido como estúdio, laboratório e
oficina e local responsável pela experimen-
tação de inúmeras soluções construtivas de
novos materiais. Importante também por ser
o 1º edifício em aço no Brasil totalmente in-
dustrializado montado em 35 dias e desmon-
tado há um ano, em perfeito estado de pre-
servação, para ser montado em outra área.
Escolas Panamericanas de Arte -1989
e 1996
São até hoje os mais conhecidos e visitados
símbolos da arquitetura do aço do País, mo-
tivo de contínuas visitações, eventos, lança-
mentos e estudos de escolas de arquitetura
e continuamente escolhidos por alunos como
objetos de estudo;
Os projetos citados abaixo e outros que completariam essa longa
descrição são exemplos executados com soluções arquitetônicas e
sistemas construtivos que possuam controle de qualidade nos ele-
mentos produzidos industrialmente usando tecnologia limpa e prin-
cipalmente segura.
EVO
FotoscedidasporZanettiniArquitetura
27. revistagbcbrasil.com.br 27abr/15
documento
Casa Limpa – ECO 1992
Primeiro projeto com todos os atributos que
constituem hoje o conceito de sustentabilidade;
Hospital e Maternidade São Luiz –
Unidade Anália Franco
Primeira versão em estrutura metálica e por
solicitação do grupo executivo da obra, teve
a estrutura substituída por concreto em 2004,
finalizado em 2007 e vencedor do Prêmio
Destaque Saúde Projeto Predial no V Grande
Prêmio de Arquitetura Corporativa.
Cenpes - Centro de pesquisas da Pe-
trobras
Projeto de 2006 a 2008 e obra concluída em
2010, considerada a obra mais completa em
inovação, tecnologia, ecoeficiencia e susten-
tabilidade da América Latina e ganhadora
dos prêmios Green Building Brasil em 2011 e
Green Nation Fest de 2012.
Sede e Centro de Pesquisa da
Schlumberger
O edifício integra princípios de sustentabili-
dade na forma e função dos espaços proje-
tados, onde há presença constante de áreas
verdes, iluminação e ventilação corretas,
além de sistemas operacionais flexíveis que
permitem fácil operação e manutenção. Um
conjunto que assegura a renovação do ecos-
sistema natural, permite fáceis ampliações
futuras da estrutura em aço e minimiza os
impactos resultantes da intervenção urbana
na paisagem.
O Tribunal de Justiça do Distrito Fe-
deral Brasília, em 2009
Considerado o “Primeiro Fórum Sustentável
do Judiciário Brasileiro” em estrutura metálica
e utilização pela primeira vez de mantas de
aço inox para proteção da radiação térmica
nas fachadas. Designado de Fórum do Meio
Ambiente ganhou um selo federal comemora-
tivo dos Correios.
Centro de Convenções da Unicamp,
em 2010
É constituído de um auditório para 1800 pes-
soas e que pode ser dividido em três menores
além de várias salas de reuniões de grupos,
locais de exposição, restaurante e outros am-
bientes. Teve uma reestruturação viária ane-
xando grande estacionamento, praça pública
e grande área verde no entorno. O auditório
com forma acústica assim como todo o con-
junto utiliza estrutura metálica e importantes
soluções de sustentabilidade. Toda a água
da cobertura é recolhida num espelho d’água
paisagisticamente situado que acumula toda
a captação das águas pluviais das cobertu-
ras e as águas de reuso.
ÇOLUCÃO
29. revistagbcbrasil.com.br 29abr/15
documento
Perspectivas para o futuro
As conceituações decorrentes do aumento
da complexidade do conhecimento e do seu
trato, devem estar presentes desde a forma-
ção e aprofundadas no decorrer das ativi-
dades culturais e profissionais do arquiteto
e vem exigindo uma crescente contribuição
interdisciplinar em cada projeto entre os cabí-
veis participantes das várias áreas científicas
– humanas, biológicas, ambientais, exatas e
econômicas – em equilíbrio com o conheci-
mento sensível.
Como conseqüência e talvez a mais próxima,
seja a “re-união” de arquitetos e engenheiros
na formação e num trabalho mais interativo,
diante da constatação irrefutável de que es-
sas áreas tratam de um mesmo objeto.
Uma nova visão de mundo que decorre da
nossa consciência e sensibilidade estabele-
ce necessários vínculos com a sociologia, a
antropologia e as demais ciências que incor-
porem homem, uso, lugar, tempo, medida,
matéria, técnica com riqueza e qualidade fun-
damentais na inovação e na evolução tecno-
lógica, e que propicie condições para que o
arquiteto possa exercer sua profissão de uma
forma plena.
Mas infelizmente a busca de um mundo mais
sustentável encontra no presente sérios obs-
táculos a serem transpostos. As contra-
dições seguidas do capitalismo mundial na
suas exigências de mercado e de consumo
ditam a desordem presente em praticamente
em todas as nações, em especial as emer-
gentes e as de 3ª e 4º mundos. As cidades
e em especial os grandes aglomerados re-
fletem um inchamento com toda a sorte de
conflitos de um contexto cada vez mais insus-
tentável pela ausência de programas e ações
culturais, políticas e econômicas.
No Brasil, por exemplo, há a ausência de pre-
visão e planejamento físico e econômico; a
incompetência quase generalizada da classe
política e da “elite” econômica, principalmen-
te preocupada com o lucro fácil e rápido e
no conluio criminoso entre ambas; a desor-
dem das cidades, a ineficiência na mobilida-
de urbana, a ausência de políticas públicas
de educação e saúde; a ocupação retalhada
do território que reflete um tecido esgarçado
e destruidor do meio ambiente; o péssimo
aproveitamento da condição exuberante do
nosso clima, relevo e solo e a depredação
das paisagens no engano da ocupação dos
vales com sistema viário e os rios que res-
taram em esgotos a céu aberto. A insegu-
rança, o descuido na formação acadêmica,
o esquecimento da velhice, tirar- nos a con-
dição de cidadãos para nos reduzir a meros
consumidores. As cidades vão abandonan-
do a sua condição fundamental de lugar de
vida, nosso ar se poluiu, nossos lagos são
consumidos e nossas reservas velhas são
destruídas.
O mais breve possível devemos encontrar
caminhos que nos levem a uma visão plu-
ridimensional e um viver com uma postura
holística e sistêmica do conhecimento, com
desenvolvimentos cientifico e artístico inova-
dores que acelerem o tempo perdido e nos
coloquem num patamar digno do ser humano.
As cidades devem passar a ser entendidas
com uma visão metabólica que se renove
ciclicamente e recupere a condição de or-
ganismo vivo que se realimenta continua e
evolutivamente. Só assim alcançaremos um
mundo pleno, que tenha o homem como a
sua principal referência. Essa é a conceitua-
ção de sustentabilidade e que devemos para
que aconteça e que alimente um Projeto de
Nação que quebre paradigmas e constitua
contexto sócio-econômico e cultural.
FUTURO
34. 34 abr/15 rev/gbc/br
CAPA
como o piso em resina da Escola do Olhar,”
destaca Bernardo Jacobsen, um dos arquite-
tos do projeto.
Sob a responsabilidade do Centro de Tecno-
logia de Edificações (CTE), o MAR foi certifi-
cado no LEED NC, que é focado no projeto
e na construção do prédio, sendo a certifica-
ção obtida após a conclusão da obra. Con-
forme explica Anderson Benite, diretor da
Unidade de Sustentabilidade do CTE, “esse
tipo de certificação só perde seu valor caso
o prédio tenha seu uso alterado ou se passar
por uma reforma completa, descaracterizan-
do tudo o que existia ali no momento da en-
trega do certificado”.
Dentre as estratégias utilizadas, o projeto do
MAR aproveitou 66,77% de toda construção
que existia no local antes da obra, o que ga-
rantiu uma redução enorme de recursos que
seriam extraídos do meio natural, como ci-
mento, areia, aço, entre outros, além, é claro,
da redução da geração de resíduos e do con-
sumo de energia para a demolição. A seleção
dos materiais incorporados à obra também
teve requisitos de sustentabilidade: 20,41%
dos materiais usados no edifício foram extraí-
dos e manufaturados a menos de 800 km de
distância do empreendimento e 59% dos ma-
teriais possuem conteúdo reciclado.
Como recomenda a UNESCO, o MAR tem
atividades que envolvem coleta, registro,
pesquisa, preservação e devolução à comu-
nidade de bens culturais – sob a forma de
exposições, catálogos, programas em multi-
meios e educacionais. O complexo do mu-
seu inclui oito salas de exposições e cerca
de 2.400 m2
, divididos em quatro andares; a
Escola do Olhar e áreas de apoio técnico e
de recepção, além de serviços ao público.
Os dois prédios que formam a instituição são
unidos por meio de uma praça, uma passa-
rela e cobertura fluida, em forma de onda – o
traço mais marcante da caligrafia dos arqui-
tetos – transformando-os em um conjunto
harmônico.
O teto ondulado, uma das marcas visuais
mais impactantes do Museu, contribui para
a redução da incidência solar. A cobertura
fluida do museu foi feita a partir de fôrmas de
isopor EPS, comumente utilizado na constru-
ção civil por resistir à compressão de mais de
uma tonelada por metro quadrado e ser um
material maleável. Mas o grande diferencial
foi a confecção das fôrmas, feita nos galpões
das escolas de samba localizadas na região
portuária, com a mão de obra dos esculto-
res especializados no uso desse material. A
coordenação do trabalho dos artesãos ficou
sob a responsabilidade do artista plástico
Carlos Lopes, representando mais um exem-
plo da importância de agregar o fator social
às construções sustentáveis. Depois de uti-
lizadas, as peças de isopor foram doadas a
escolas do Grupo Especial e da Série A, que
usaram o material nos desfiles.
O cuidado com os princípios sustentáveis
foi tão grande que, ao final da obra, apurou-
-se que mais de 90% de todo resíduo pro-
duzido durante a construção foi desviado
de aterro, ou seja, reaproveitado ou enviado
para reciclagem e fins mais nobres do que
simplesmente aterrar. Outros diferenciais da
construção do MAR são a qualidade do ar
interno, o aumento da eficiência energética
e do conforto térmico, além de um processo
bem estabelecido de reciclagem por meio da
coleta seletiva e a prática do reuso. Vidros
especiais também contribuem para a redu-
ção da sensação de calor, sem reduzir a inci-
dência da luz natural.
O projeto conta, ainda, com as tecnologias
de economia de água, como torneiras com
fechamento automático e restritores de va-
zão, mictório de baixo consumo, vasos de
duplo acionamento, que reduziram em 68%
o consumo de água potável para esse fim,
quando comparado com a exigência do
LEED. “As estratégias de economia de ener-
gia permitiram que o prédio seja 12,48%
Diferenciais do projeto:
1. Redução do efeito de ilha de calor com
cobertura clara que absorve menos calor;
2. Redução do efeito de ilha de calor com uso
de pedra portuguesa;
3. Incentivo ao transporte alternativo, com
62 vagas em bicicletário e serviços de
transporte coletivo no entorno;
4. Redução do consumo de água potável pela
captação da chuva para uso no sistema de
descarga;
5. Redução do consumo de água potável por
meio do uso de metais sanitários econômicos;
6. Redução do consumo de água potável no pai-
sagismo, pelo uso de espécies que demandam
menos irrigação.
1
3
2
4
5
6
36. 36 abr/15 rev/gbc/br
por dentro
chega em Junho
1º Anuário de
Certificações
GBC Brasil
Contando com o apoio
das principais empresas
do setor, a publicação
especial da revista GBC
Brasil trará informações
completas sobre o merca-
do sustentável no país
36 abr/15
37. revistagbcbrasil.com.br 37abr/15
por dentro
R
efletindo o crescente reconhecimento da im-
portância de edifícios verdes na vida cotidia-
na das cidades brasileiras, no uso racional
dos recursos hídricos, na redução das emis-
sões de gases de efeito estufa, na melhoria
da qualidade de vida dos ocupantes, na eco-
nomia dos custos de manutenção, na busca
pela utilização de fontes de energia renová-
veis, o desenvolvimento do Green Building
Council Brasil é notório.
E continua a crescer com o fortalecimento da revista GBC Brasil, a
plataforma oficial de divulgação das melhores práticas e soluções no
mercado da construção sustentável no país.
Agora, essa plataforma ganha um novo impulso com o lançamento
de mais uma ferramenta de consulta e informação: o 1º Anuário de
Certificações GBC Brasil.
O ponto focal deste projeto foi a necessidade de ordenar e catalo-
gar todo um conjunto ordenado de informações sobre a construção
sustentável no Brasil, desenvolvendo um material de fácil acesso e
consulta, que possa chegar ao conhecimento de todo o mercado.
Em 2014 o Brasil atingiu o maior número de projetos certificados.
Foram 82 até dezembro. Em termos de projetos registrados acumu-
lados, chegamos a 944 o que significa o terceiro lugar no mundo,
apenas atrás dos EUA e da China.
O Anuário de Certificações GBC Brasil será organiza-
dos dividido por selo, tipologia, localização e abordará
todos os empreendimentos certificados em 2014, ofe-
recendo a oportunidade para que cada empresa que
tenha participado destes projetos, possa apresentar,
de forma consistente e relevante, o seu posicionamen-
to frente ao mercado sustentável. Também trará mui-
tos números e estatísticas e contará ainda a história das
certificações no país, mostrando um panorama com-
pleto do setor.
O Anuário apresentará em detalhe os empreendimentos, com infor-
mação do projeto, diferenciais sustentáveis e ficha técnica comple-
ta com os profissionais e empresas responsáveis, em verdadeiros
“Case Studies”.
Além disso, um Guia de Soluções Sustentáveis vai apresentar os
fornecedores e prestadores de serviços que estão por trás de cada
inovação, tecnologia, material ou solução sustentável que contribuiu
para a pontuação final de cada certificação.
“A construção de um futuro sustentável passa pelo aprendizado de
todo um arcabouço de soluções e estudos de caso que nos mostram
o caminho a ser seguido e aprimorado” diz Luiz Sampaio, diretor exe-
cutivo da VIB Editora, responsável pelo desenvolvimento da revista
GBC Brasil. “As empresas tem entendido a importância e relevância
desse documento e esperamos que haja cada vez maior interesse no
aprofundamento deste conhecimento”, conclui.
Com lançamento marcado para junho, a revista GBC Brasil está a
todo vapor trabalhando nas últimas etapas do projeto, sempre com o
apoio da equipe do Green Building Council Brasil.
#1 em junhoPara informações sobre como participar do
1º Anuário ou para reservar o seu exemplar,
entre em contato: revistagbc@gbcbrasil.org.br
38. 38 abr/15 rev/gbc/br
por dentro
Quantos m² já
foram certifica-
dos no Brasil?
Onde estão localizados
os empreendimentos
certificados no Brasil?
Qual construtora
tem mais projetos
certificados? E qual
arquiteto?
Quais os prin-
cipais projetos
certificados?
Quantos projetos
LEED Gold existem
no país?
Qual foi o primeiro
shopping center
certificado?
Informações,
estatísticas e
números do
mercado
Destaque dos empreen-
dimentos certificados
Mais: o exclusivo Guia de
Soluções Sustentáveis para
destacar produtos e serviços
para a sustentabildiade
Mais de 200 páginas
de conteúdos e distri-
buição superior a 10
mil exemplares
Imagensilustrativas
39. revistagbcbrasil.com.br 39abr/15
por dentro
1º Anuário de
Certificações
GBC Brasil
Nesta publicação especial, sua empresa vai encontrar informações completas e detalhadas
sobre todos os empreendimentos certificados em 2014, bem como dados e estatísticas
sobre os selos LEED, tipologias, classificação, e também sobre o Referencial Casa GBC,
Procel, entre outros. A história das certificações no Brasil e a opinião dos especialistas e
consultores sobre as perspectivas de um mercado em expansão. Além disso, um guia de
fornecedores de soluções sustentáveis que contribuíram para a certificação dos projetos.
Todas as respostas estão aqui. E muito mais informações.
Não perca essa oportunidade de destacar a sua empresa no principal
veículo de informação da construção sustentável!
11 5078 6109 | revistagbc@gbcbrasil.org.br
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40. 40 abr/15 rev/gbc/br
desempenho
U
ma EPD - Environmental
Product Declaration (ou
DAP - Declaração Am-
biental do Produto, em
português) é o conjunto
de informações detalha-
das dos aspectos am-
bientais associados a um produto ou serviço
específico - de matérias-primas de produ-
ção, fabricação, uso e descarte - e baseado
em informações de Avaliação de Ciclo de
Vida (ACV). É uma informação particularmen-
te útil para caracterizar produtos finais com
múltiplos usos, bem como produtos interme-
diários que serão transformados ao longo da
cadeia de suprimento.
Segundo Armando Caldeira Pires, da Uni-
versidade de Brasília e integrante do PBCV
– Programa Brasileiro de Ciclo de Vida e da
ABCV – Associação Brasileira de Ciclo de
Vida, num contexto de crescente demanda
por informação ambiental detalhada, tanto
por parte dos consumidores como das au-
toridades é cada vez maior o uso da EPD,
“pois preenche a lacuna de documentação
que caracteriza o impacto ambiental de um
produto ao longo de todo seu ciclo de vida”,
declara. Além disso, a EPD não exige um de-
terminado desempenho ambiental. Ela forne-
ce informações objetivas sobre os aspectos
ambientais de um produto. A importância
atribuída ao meio ambiente é feita por parte
dos compradores. Essas informações subsi-
diam a tomada de decisão e o processo de
especificação de materiais para projetistas e
engenheiros o que contribui para a sustenta-
bilidade dos produtos.
A EPD surgiu como um instrumento de ca-
racterização do desempenho ambiental,
principalmente associado à diretriz européia
IPP - Integrated Product Policy (Política Inte-
grada do Produto, em português), no inicio
do milênio. Desde então começou a fazer
parte oficiosamente de editais e licitações na
União Européia. Em 2004 ela começou a ser
discutida oficialmente na ISO para, no final
de 2006, vir a ser um nova norma técnica, a
ISO14025 (recentemente traduzida no Brasil,
e agora uma norma ABNT BR ISO14025).
A sua aceitação internacionalmente é total,
principalmente a partir de 2007.
O mercado internacional reconhece os se-
guintes benefícios com a caracterização do
desempenho ambiental de um produto a
partir de uma DAP:
Internos:
- Redução de custos: maior transparência
nas informações dos fluxos de energia e
materiais;
- Identificação de potenciais otimizações
ao longo da cadeia de suprimentos (do
berço à cova);
- Possibilidade da criação de um modelo
parametrizado para famílias de produtos.
Externas:
- Instrumento de marketing e de vanta-
gens competitivas a nível internacional;
- Demonstração de consciência ambien-
tal nas companhias;
- Dados disponíveis para a certificação.
Consumidores em geral se mostram cada
vez mais interessados na preservação am-
biental, o que aumentou a busca por pro-
dutos que, aparentemente, causam menor
dano ao ambiente. “Essa oportunidade de
mercado estimulou a divulgação de informa-
ções ambientais por parte dos fabricantes.
Rapidamente perceberam-se rótulos subje-
tivos, com pouca ou nenhuma informação
real sobre o impacto dos produtos, que
acabam confundindo os consumidores, ao
ponto em que se torna difícil comparar pro-
Em busca da
transparência
ambiental dos
produtos
EPD
Por Bruna Dalto
41. revistagbcbrasil.com.br 41abr/15
desempenho
dutos que competem entre si. A EPD surgiu
como uma ferramenta para harmonizar, de
maneira confiável, a divulgação das referidas
informações”, afirma Marcella Saade, enge-
nheira ambiental e doutoranda em avaliação
de ciclo de vida.
Através de uma EPD, o consumidor, além
de adquirir conhecimento primordial sobre o
ciclo de vida de seu produto e de identificar
oportunidades de melhoria, poderá estabele-
cer uma comparação honesta entre os pro-
dutos concorrentes, valorizando o processo
de fabricação ambientalmente bem geren-
ciado.
Para Gil Anderi da Silva, professor da Univer-
sidade de São Paulo, o procedimento para
implementação de uma EDP deve seguir as
seguintes fases:
1 - Estabelecimento de um Programa de De-
claração Ambiental. É um programa voluntá-
rio com um conjunto de regras que orientam
a sua administração e operação. Estas re-
gras, gerenciadas por um operador do pro-
grama, são chamadas de Instruções Gerais
do Programa.
1.1 – Definição do operador do programa:
Empresa(s), setor industrial, associação co-
mercial ou corpo independente.
1.2 – Estabelecimento do programa, ouvidas
as partes interessadas: A partir do programa,
os interessados em obter EPD para seus
produtos se organizam para desenvolver os
seus PCRs - Product Category Rules (Regras
de Categorias de Produtos, em português) o
que, necessariamente, deve incluir um amplo
sistema aberto de consulta. “Esta é a parte
crucial do sistema pois envolve, em muitos
casos interface com a vertente econômica da
sustentabilidade”, afirma Anderi da Silva.
1.3 – Estabelecimento de PCRs
a) definição da categoria de produto e
b) definição das regras para a elaboração de
estudos de ACV para a categoria.
Uma vez estabelecidas as PCR as mesmas
devem ser submetidas à homologação pelo
operador do programa. Este programa deve
prever um esquema de análise crítica das
EPDs geradas a partir das PCRs.
Desenvolvimento e implantação
da EPD são desafios
Já para desenvolvê-la é preciso, de acordo
com a IPP (Política Integrada do Produto, em
português), pesquisar e consultar PCR’s (do-
cumentos onde são estabelecidas as regras
para o desenvolvimento de uma EPD, princi-
palmente, as categorias de impacto ambien-
tal a serem avaliadas e outras informações
que dela devem constar) relativas ao tipo de
produtos em análise; desenvolver um estudo
de ACV de acordo com as regras constantes
da PCR, com as normas internacionais (ISO
14040-43) e com os requisitos específicos
do programa de certificação de EPD’s; re-
colher e organizar a informação a incluir na
EPD; efetuar a verificação da EPD por uma
3ª parte independente e registrá-la num pro-
grama de certificação, publicar e disseminar
a EPD.
Contudo, as dificuldades de implantação
residem, principalmente, no grande número
de sistemas de EPD e PCRs desenvolvidos
recentemente e na impossibilidade de com-
paração de EPDs realizadas de acordo com
PCRs diferentes. No setor de construção,
especificamente, este problema foi sanado
por meio da norma europeia EN 15804:2012,
que funciona como um PCR base (core PCR)
para os produtos da construção. De acordo
com Vanessa Gomes, da Unicamp, “no Bra-
sil, devemos acrescentar a dificuldade de
acesso a resultados de ACV para produtos
que formam a base das EPDs. Ainda não
contamos com inventários integrados de ci-
clo de vida, e construir uma base de dados
desta natureza não é um desafio trivial”.
Armando Caldeira Pires
Vanessa Gomes
Gil Anderi da Silva
42. 42 abr/15 rev/gbc/br
desempenho
Preparando uma EPD
A preparação de uma EPD exige uma sequ-
ência de procedimentos que garantem ao
seu usuário (em geral um consumidor do
produto em algum ponto da cadeia de su-
primentos) a qualidade das informações so-
bre o desempenho ambiental do produto ali
descrito.
Em primeiro lugar, uma EPD é definida por
uma PCR que especifica quais as categorias
de impactos ambientais que devem caracte-
rizar o produto e quais as fases do ciclo de
vida que devem ser caracterizadas. “A exi-
gência da PCR garante que todos os produ-
tos que irão exercer a mesma função terão
o seu desempenho ambiental caracterizado
pelos mesmos parâmetros dentro dos mes-
mos limites tecnológicos, espaciais e tempo-
rais”, comenta Armando.
Em segundo lugar, a preparação de uma
EPD é baseada num relatório de terceira par-
te do inventário do ciclo de vida do produ-
to. “Ou seja, o inventário do ciclo de vida
do produto, preparado de acordo com os re-
quisitos da PCR, deverá ser revisto por uma
terceira parte, em geral um grupo de profis-
sionais creditados para esse fim. Isto garante
que o inventário do ciclo de vida preparado
tem qualidade e está de acordo com a PCR”,
complementa ele.
Por fim, a EPD preparada deve ser revista por
uma terceira parte, garantindo que a decla-
ração está de acordo com os requisitos do
Sistema de EPD ao qual ela será submetida
para análise e depois arquivada em seu ban-
co de EPD.
Essa sequência de requisitos garante quali-
dade das informações descritas da EPD. E
dessa forma, um consumidor, terá capacida-
de de comparar o desempenho ambiental de
dois produtos sem ter que recorrer a labora-
tórios de análise ou à contratação de consul-
torias para averiguação da informação, po-
dendo definir suas escolhas com base nos
seus critérios de aquisição do produto que
melhor lhe convém.
Como deve ser constituída a EPD:
1. Descrição da Empresa e do Produto;
2. Desempenho Ambiental: Esta é a principal componente de uma
EPD e a informação baseia-se numa análise de ciclo de vida do
produto;
3. Contatos da Empresa e do Organismo Certificador: Além dos
contatos das duas empresas, deverá constar, contatos do Res-
ponsável, período de validade da certificação. Geralmente o pe-
ríodo de validade de uma certificação obtida por uma 3ª parte
tem a duração de três anos.
EPDO LEED e a EPD
A versão 4 do LEED, no Rating System LEED
BD+C e ID+C, incentiva o uso de produtos
com EPD, possibilitando o alcance de até 2
pontos dentro da categoria de Materiais e
Recursos, desde que instalados de forma
permanente e que atendam a determinados
parâmetros. O objetivo dos créditos é incen-
tivar as equipes de projetos a optar pelo uso
de materiais que contenham informações so-
bre o ciclo de vida, a fim de reduzir os possí-
veis impactos ambiental, econômico e social.
Para a concessão de 1 dos créditos, a edifi-
cação deverá utilizar ao menos 20 produtos,
de pelo menos 5 fabricantes diferentes , e
que atendam a critérios como: Declarações
específica e ambientais do produto; que es-
tejam em conformidade com as normas ISO
14025, 14040, 14044 e EN 15804 ou ISO
21930 e que contenham análise mínima do
berço ao portão (cradle to gate). Outro crité-
rio a ser considerado é que o produto cum-
pra com o Programa aprovado pelo USGBC
- quadro de declaração ambiental aprovado
pelo USGBC.
O outro crédito pode ser concedido pelo uso
de produtos os quais 50% dos seus custos
cumpram com critérios tais como: Certifica-
ção de produtos de terceiros que demons-
trem redução do impacto abaixo da média
da indústria em categorias como - potencial
de aquecimento global, destruição da cama-
da de ozônio, acidificação das fontes terres-
tres e aquáticas, dentre outras; Programa
aprovado pelo USGBC.
Cursos de EPD
O GBC Brasil oferece cursos sobre EPD. Re-
centemente foram realizados dois treinamen-
tos in company na Votorantim, ministrados
pela professora Vanessa Gomes, com 36
participantes. Para mais informações entrar
em contato diretamente com o GBC Brasil.