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Certificações LEED,
GBC Brasil Casa & Condomínio
e GBC Zero Energy
GREEN BUILDING COUNCIL
ANUÁRIO
2020
ANO 2 / Nº 1 / MARÇO DE 2021
BRASIL
GBC
A Nova
Grande Onda
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
4
PRINCÍPIOS SUSTENTÁVEIS E SOLUÇÕES
PREDIAIS MITSUBISHI ELECTRIC.
É ASSIM QUE SE CONSTRÓI UM ÍCONE
DE DESIGN E SUSTENTABILIDADE
COMO A JAPAN HOUSE SÃO PAULO.
Desde a sua inauguração, a Japan House São Paulo
é um ícone de design e propósito. Agora, com a
conquista da certificação máxima LEED PLATINUM em
2020, ela também se tornou um marco em construção
e operação sustentável no Brasil e no mundo.
Isso graças à união de boas práticas sustentáveis e
todos os benefícios dos produtos Mitsubishi Electric.
Por exemplo, o Sistema de Automação Predial da
Mitsubishi Electric gera maior economia de energia
por meio do controle de iluminação e climatização.
Os inversores e controladores lógicos programáveis
gerenciam a performance energética em todo o
edifício. Já o sistema de ar-condicionado de alta
eficiência garante qualidade de ar superior, com
operação silenciosa, proporcionando mais conforto
e bem-estar para todos os visitantes. Como você
pode ver, juntos nós ajudamos a construir um edifício
mais eficiente.
VISITE O NOSSO SITE PARA SABER MAIS
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Foto: Estevam Romera
© 2020 Mitsubishi Electric Brasil, Inc. All rights reserved.
5
Visite o nosso site e conheça
mais sobre a Plaenge, no
segmento industrial. »
REFERÊNCIA NA EXECUÇÃO
DE OBRAS SUSTENTÁVEIS
Com expertise em empreendimentos que atendem os mais modernos
critérios de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental, somos
referência no segmento de obras com certificação LEED.
Imagem da nova sede da cooperativa de crédito Sicredi União,
em Maringá (PR) - Certificação Leed Platinum.
GBC
GREEN BUILDING COUNCIL
ANUÁRIO
2020
BRASIL
Certificações LEED,
GBC Casa & Condomínio
e GBC Zero Energy
A Nova
Grande Onda
ANO 2 / Nº 1 / MARÇO DE 2021
Somos a empresa do setor com maior número
de projetos sustentáveis certificados ou em
processo de certificação na região Sul do país.
LAGUNA. CADA VEZ MAIS
SUSTENTÁVEL, CADA VEZ
MAIS INCONFUNDÍVEL.
41 3259 1801 construtoralaguna.com.br
IGUAÇU
2820
LLUM
Batel
MAI
Terraces
ALMÁA
Cabral
ROC
Batel
IGUAÇU 2820 - Certificação LEED Gold
LLUM Batel - 1° residencial do Brasil Pré Certificado LEED Gold
Certificação conquistada em Janeiro de 2020
ROC Batel - Em processo de certificação GBC Condomínio Ouro
ALMÁA Cabral - Em processo de certificação GBC Condomínio Platina
MAI Terraces - Em processo de certificação GBC Condomínio Platina
A Nova Grande Onda
É com muita satisfação que lançamos mais uma edição do Anuário GBC Brasil, celebrando
juntamente com as principais lideranças da construção, as conquistas, que brilhantemente
ousam a elevar, continuamente, os patamares de consolidação e expansão do movimento
nacional de green building.
A nível mundial, o Brasil vem assumindo destaque e protagonismo cada vez maior, sendo
um grato motivo de orgulho a todos nós. Atribuímos o sucesso do nosso movimento, à
força da nossa comunidade. Digo, a comunidade expressiva de empresas membros do GBC,
a representatividade do nosso Conselho de Administração, aos milhares de profissionais
voluntários e as diversas associações parceiras.
Não à toa que, com toda essa estrutura, enfrentamos qualquer crise e turbulência econômica
com o pé firme no acelerador, dando rápidas respostas ao mercado, em respeito à relevância e à
urgência do propósito que defendemos.
Mesmo durante os últimos anos de estagnação da construção civil, ora por desafios econômicos,
ora por desafios políticos e agora por desafios humanitários, nós continuamos a registrar novos
projetos buscando a certificação green building. Em 2019, nós crescemos 45% comparado
ao ano anterior e no primeiro semestre de 2020, mesmo em meio à pandemia, já havíamos
registrado muito mais projetos novos do que no primeiro semestre de 2019.
Felipe Faria
CEO – Chief Executive Officer
Green Building Council Brasil
Board of Director Member
Nossa comunidade é forte e guiada por propósito, sendo essa a explicação sobre capacidade
de fazermos muito com pouco. No GBC temos a plena convicção que tudo é realizável, basta
estarmos 100% empenhados atrás das metas estabelecidas. Em 2019, nosso Conselho de
Administração provocou uma revisão de planejamento estratégico tendo como mote um
crescimento exponencial dos nossos números em 5 e 10 anos.
Resumidamente e de forma macro, uma forte agenda de discussão sobre desempenho,
aumentar nossa influência e colaboração junto a políticas públicas de fomento e construir
um canal direto de comunicação entre o movimento e a sociedade civil, de modo a tornar os
benefícios dos green buildings mais conhecidos serão objetivos norteadores das iniciativas e
atividades em desenvolvimento e em planejamento.
Essas iniciativas encontrarão nesses objetivos, oportunidades e desafios nas dimensões
que atualmente moldam a construção civil no mundo, a saber: digitalização favorecendo a
conectividade de pessoas, dados e tecnologias; disrupção de comportamento e preferências
sociais; riscos e consequências atreladas às mudanças globais.
No GBC esse novo olhar estratégico iniciou há alguns anos, mesmo antes da pandemia, a prática
de eventos online já havia sido implementada. Estabelecemos o uso dessa modalidade como
forma de atingir o público de todo Brasil, sendo que em 2019 a nossa Conferência Internacional
Greenbuilding Brasil teve mais de 50 sessões técnicas online e atingimos o público de 7 mil
participantes.
Seguindo essa premissa, em março de 2020, como forma de estimular que profissionais
permanecessem seguros e motivados em casa, liberamos o acesso à nossa plataforma online
de educação que conta com 4 cursos e mais de 100 sessões técnicas. Participaram 4 mil
profissionais em 20 dias.
Em 2019, por meio de todas as nossas mídias orgânicas, o GBC impactou mais de 5 milhões
de pessoas, centenas de matérias online, três entrevistas especiais em rádios, mais de 10
matérias em jornais e cinco telejornais, incluindo SPTV, BAHIATV e Boa Noite Paraná, todos da
Rede Globo.
Uma outra característica interessante da nossa forma de atuar é sempre evidenciar o caráter
de ganho econômico atrelado à sustentabilidade, consolidando o fato dos empreendimentos,
soluções e serviços green building serem as melhores opções de negócio. E à medida que
consolidamos o fato de sermos o melhor modelo de negócio, podemos explicar o quanto são
diversificadas as tipologias de edificações que buscam a certificação, uma vez que temos prédios
corporativos, públicos, shopping centers, escolas, hotéis, estádios, laboratórios, indústrias,
logística, bairros, museus, lojas, restaurantes. Também estamos interiorizando o movimento, não
ficando mais restrito às capitais.
Edifícios verdes, conforto, saúde e bem-estar, prédios inteligentes, todos esses conceitos estão
no guarda-chuva do Green Building Council Brasil, suas ferramentas de certificações, LEED, GBC
CASA&CONDOMÍNIO e ZERO ENERGY, bem como nossas atividades. Somos a porta de entrada
à inovação e à tecnologia.
Por fim, finalizo enaltecendo todos os nossos profissionais e empresas, responsáveis pelo sucesso
das realizações e avanços apresentados pela nossa indústria nacional da construção sustentável.
Felipe Faria
CEO – Chief Executive Officer
Green Building Council Brasil
Board of Director Member
World Green Building Council
Economia para você.
Sustentabilidadepara o planeta.
Entre em contato
com nossas agências
e saiba mais!
A Nova Grande Onda
Apresentação de Raul Penteado
Mercado LEED
Avanços do mercado LEED no Brasil
Mercado das certificações cresce em todas as tipologias
Bairros e Cidades Sustentáveis
Vidas melhores dependem de edifícios, cidades e comunidades melhores
Empreendimentos brasileiros com novo conceito
Novas ferramentas para gerenciamento de portfólios
Benchmarks de desempenho energético
De olho na performance
Desempenho em destaque
Uso eficiente da Água
Setor Hospitalar
Espaços de bem-estar
A voz do especialista
Programa Zero Energy
Edifícios públicos autossuficientes
Setor Residencial
Quando presente e futuro se encontram
É preciso mudar o paradigma
Economia Circular
Planeta em vertigem
Declaração Ambiental do Produto
21 anos de COMASP
GBC Brasil Certificações LEED 2019
GBC Brasil Certificações LEED 2020
GBC Brasil Certificações Casa & Condomínio
GBC Brasil Certificações Zero Energy
Conteúdo
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155
163
Os Projetos que buscam a certificação LEED são analisados por
9 dimensões. Todas possuem pré-requisitos e créditos que a medida que atendidos,
garantem pontos à edificação. Os níveis são: Certified, Silver, Gold e Platinum.
Categorias da versão 3 (2009):
LEED NC (New Construction), LEED CS (Core and Shell),
LEED HC (Healthcare), LEED for Schools, LEED for Retail,
LEED EBOM (Existing buildings operation and maintenance),
LEED CI (Commercial Interiors), LEED ND (Neighborhood).
Categorias da versão 4 (versão atual):
LEED BD+C: New Construction; Core and Shell; Schools; Retail; Healthcare;
Data Centers; Hospitality; Warehouses and Distribution Centers.
LEED O+M: Existing Buildings; Data Centers; Hospitality; Warehouses and Distribution
Centers; Schools; Retail.
LEED ID+C: Commercial Interiors; Retail; Hospitality.
LEED ND: LEED ND: Plan; LEED ND: Built Project.
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
18
J.J.Carol Editora
Tel +55 (11) 3871-1888
jacques@jjcarol.com.br
www.jjcarol.com.br
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Presidente GBC Brasil
Raul Penteado
Presidente, RSMF Empreendimentos
Vice-Presidente GBC Brasil
José Moulin Netto
CEO, NEXTA
MEMBROS DO CONSELHO
Adriano Sartori
Vice-Presidente, CBRE
Angelo Derenze
Diretor Geral, Shopping D&D
Carlos Betancourt
Presidente, Bresco
Celina Antunes
CEO América do Sul, Cushman&Wakefield
Ednelson Ivantes
Diretor Executivo, Plaenge Industrial
Guilherme Bertani
CEO, DOCOL
Paulo Mancio
Senior Vice-Presidente, Accorhotels
Paulo Perez
Diretor, Saint Gobain
Robert Harley
Presidente, JHSF Malls
Roberto Aflalo
Sócio-Diretor, Aflalo/Gasperine
Virginia Sodré
Sócia-Diretora, Inifinitytech
CEO Green Building Council Brasil
Felipe Faria
DIRETOR EXECUTIVO
Jacques Rutman jacques@jjcarol.com.br
PROJETO GRÁFICO Jackie Carol
REDAÇÃO Nanci Corbioli - MTb 21838/SP
REVISÃO Alessandra Angelo
RESPONSÁVEIS DO GBC
Enzo Tessitore e Maíra Macedo
Capa: Jackie Carol
Crédito da imagem: Newbi1 - Dreamstime.com
ANO 2 / Nº 1 / MARÇO DE 2021
As imagens e textos que não estão creditados são de divulgação
das empresas, que assumem a responsabilidade sobre os respectivos
copyrights. As matérias de autoria de colaboradores e anunciantes
não refletem, necessariamente, a opinião da Editora. Todos os
esforços foram feitos para reconhecer os direitos autorais das
imagens publicadas neste publicação. A editora agradece qualquer
informação relativa a autoria, titularidade e/ou outros dados,
se comprometendo a incluí-los em edições futuras.
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:
Estevam Romera
Estúdio 071
Gerson Lima
Iran Oliveira
Marcelo Donadussi
Nando Fischer
Rogério Albuquerque
Samuel Allard
19
Com muita satisfação, celebramos
expressivos resultados como a quinta
posição no ranking de 180 países, em que
a certificação LEED se faz presente, ou
os mais de 50 milhões de m2
que estão
buscando as certificações do GBC Brasil.
No segmento residencial, onde começamos a reforçar
presença, o valor total de vendas das unidades
familiares em edificações registradas ou certificadas
GBC CASA&CONDOMÍNIO somam R$4 bilhões.
Disseminamos as informações, práticas e casos
de sucesso de construções sustentáveis a milhões
de brasileiros.
Estamos falando de edificações que alinham
desenvolvimento econômico com a redução média de 25% em energia, 40% a
60% de água, desviam mais de 80% dos resíduos de aterros sanitários, melhora
de 8% a 11% da produtividade de funcionário em nossos escritórios, e impactam
positivamente na saúde e bem-estar das pessoas, seja no trabalho ou em suas casas.
Um dos principais desafios do GBC Brasil é a característica de ser uma entidade
multidisciplinar e multisetorial. Desafio que também nos traz uma oportunidade única
de se valer do poder da colaboração, conhecimento e dedicação de cada profissional
e empresa associada como forma de garantir a multiplicação dos nossos resultados.
As nossas iniciativas estão bem posicionadas, buscando incentivos financeiros
ou direcionando investimento a práticas e empreendimentos green building,
contribuição e destaque à inovação, intenso Programa de Educação, certificação
de empreendimentos, comunicação constante acerca dos benefícios do nosso
movimento aos diversos públicos, fomento a políticas públicas e colaboração.
Contribuímos positivamente a diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das
Nações Unidas, bem como conduzimos a transformação do mercado com base nos
princípios do North Star Goals, mudanças climáticas, saúde e bem-estar, e economia
circular. Contudo, há total alinhamento com as expectativas dos principais fundos de
pensão e investidores do mercado imobiliário, em suas decisões acerca das opções
mais prósperas a serem priorizadas no que tange novos investimentos.
Raul Penteado,
Presidente
Green Building Council Brasil
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
20
Hoje, juntamente com os demais conselheiros e a equipe executiva, e seguro do apoio
de cada empresa-membro, comemoraremos a cada dia nossos avanços conjuntos.
Trabalharemos pautas importantes à nossa economia e sociedade, além de altamente
relevantes às necessidades discutidas no mundo e que beneficiam a coletividade.
Os recentes anos estão sendo desafiadores do ponto de vista econômico e político, e
em particular 2020, em que vivenciamos uma pandemia cruel em todos os sentidos
e com efeitos colaterais diversos, inclusive ultrapassando questões sanitárias ou
de saúde pública, passando a influenciar nossos negócios, nossas prioridades e
preferências de consumo.
Diante toda essa circunstância, não há como negar a conclusão de que as pessoas, e
por que não, nossas empresas, passam a absorver uma visão mais holística e humana
como base para tomada de decisões e definições estratégicas. Dito isto, com muita
satisfação vejo que as atividades do GBC Brasil e os números de projetos seguem
aumentando como um indicativo que o processo de construção coletiva que estamos
conjuntamente liderando está alinhado e até mesmo antecipou as condicionantes de
uma nova construção civil.
Finalizo destacando o conceito de conforto, saúde e bem-estar, que já discutíamos
nos escritórios e residências e que ganham mais força após os acontecimentos
recentes. Vejo uma enorme oportunidade de evidenciarmos esse benefício
atrelado às edificações green buildings como forma de pavimentar um canal de
comunicação entre o nosso movimento e a sociedade civil. A forte rede colaborativa
que construímos para viabilizar a transformação de mercado esperada necessita da
participação da iniciativa privada, associações, setor público, academia e sociedade
civil. Reforçaremos todos os elos dessa corrente.
Nosso planeta não pode esperar. Precisamos agir rápido na inovação de sistemas
construtivos, incluindo materiais e processos, e com o apoio valioso de regulamentações
e certificações, vamos juntos, acelerar a construção do Brasil que queremos.
Raul Penteado
Presidente
Green Building Council Brasil
21
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
22
O Brasil mantém sua posição de
protagonismo dentro do cenário
mundial, com resultados promissores em
2020, mesmo com a pandemia do novo
coronavírus.
Há mais de 20 anos, o LEED vem disponibilizando em
todo o mundo parâmetros para projetar, construir e
manter edifícios sustentáveis de alto desempenho.
No Brasil, a primeira certificação foi concedida a
uma agência bancária em 2007. Ao longo dos anos
seguintes, o LEED se consolidou no país, com grande
volume de construções de diferentes tipologias
certificadas, apesar das crises nos campos da política e da
economia – em 2015 o Brasil assumiu a quinta posição
entre os países com mais certificações LEED no mundo.
O ano de 2020 tem se mostrado particularmente
desafiador, obrigando empresas, poder público e
sociedade a refletirem melhor sobre a forma como
vivemos e conduzimos nossos negócios. O impacto
da pandemia será sentido nos próximos anos, na
economia, nas pessoas e em nosso modo de vida.
Dentro do universo dos Greenbuildings, as discussões
se intensificaram e a forma como projetamos,
construímos e operamos nossas edificações nunca
foi tão salutar. Pautas como Cidades Inteligentes,
Performance, Saúde & Bem-Estar, Resiliência e
Equidade ganharam não apenas relevância, como
praticamente se mostraram obrigatórias.
A nova visão do USGBC e do GBCI baseia-se no
conceito de “Pessoas saudáveis em lugares saudáveis,
resultam em uma economia saudável”. Toda a nossa
estratégia e oferta de soluções está alinhada com esta
visão. Não precisamos escolher entre sustentabilidade,
saúde pública e economia saudável, o futuro exigirá
que essas frentes caminhem juntas.
Avanços do mercado
LEED no Brasil
Sandrino Beltrane
Head de Desenvolvimento de
Negócios no Brasil pelo GBCI Inc.
Várias mudanças já
foram feitas e apresenta-
das aos mercados por
meio dos Town Halls.
Dentre inúmeros exem-
plos, podemos citar as atualizações do LEED v4.1,
novos créditos-piloto que foram criados, mudanças
nos processos de revisão do GBCI, novas funcionali-
dades do ARC, etc.
No conceito da escala urbana, temos o crescimento
do programa LEED for Cities & Communities, que
auxilia líderes locais, planejadores e desenvolvedores
a criarem comunidades e cidades mais inteligentes,
por meio de planos específicos para sistemas naturais,
energia, água, resíduos, transportes e muitos outros
fatores que afetam diretamente a qualidade de vida.
Ao longo deste anuário temos um artigo específico
sobre o tema, além da apresentação de dois cases
icônicos implantados no norte e no sul do país – a
Vila Americana, em Belterra, no Pará, e a Cidade dos
Lagos, em Guarapuava, no Paraná.
No âmbito das edificações existentes, temos a
plataforma de desempenho ARC e todas as suas novas
funcionalidades. ARC é uma plataforma de tecnologia
que permite às equipes supervisionar a sustentabilidade
de edifícios, comunidades e cidades, via coleta de
dados, gerenciamento de informações, avaliação,
medição e melhoria contínua de performance.
ARC promove, além de performance e benefícios
operacionais – saúde, bem-estar e melhorada qualidade
MERCADO LEED
23
Sandrino Beltrane
Head de Desenvolvimento de Negócios
no Brasil pelo GBCI Inc.
de vida. Ao longo deste anuário, vocês encontrarão
artigos específicos que tratam das funcionalidades da
plataforma, além de cases brasileiros de sucesso.
O Brasil, como não poderia deixar de ser, mantém sua
posição de protagonismo dentro do cenário mundial,
com resultados promissores este ano, mesmo com
a pandemia do novo coronavírus - o que ratifica os
Greenbuildings como a melhor opção de negócio,
mesmo durante a crise!
Nós nos mantivemos entre os cinco países do mundo
com maior quantidade de projetos LEED (fora dos
EUA), superando a marca de 1.500. Em 2020,
até o fechamento deste artigo, o Brasil tinha 86
novos projetos registrados, com destaques para o
setor varejista (60%) e segmento logístico, além da
manutenção do protagonismo dos End-users.
Com relação à plataforma de desempenho ARC,
consolidamos de vez a nossa liderança, ultrapassando
os 700 projetos ativos na plataforma (500 deles
somente em 2020, mesmo durante a pandemia do
coronavírus). O Brasil é o segundo país do mundo
em número de projetos ativos, atrás somente dos
EUA, o que evidencia o amadurecimento do setor
frente à necessidade de se operar edifícios de forma
sustentável e eficiente – performance é o futuro dos
Greenbuildings!
Números incontestáveis, portfólio de soluções
alinhado com as tendências internacionais, base sólida
de clientes e parceiros, membros atuantes, liderança
técnica e de mercado – ingredientes que mantêm
o Brasil como um dos mercados mais atrativos do
mundo para se investir em Greenbuilding!
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
24
Em todo o mundo, as certificações LEED avançam
entre as mais diferentes tipologias, como prédios
de escritórios e residenciais, hotéis e aeroportos,
escolas e hospitais, shopping centers, restaurantes e
também museus. No Brasil, o icônico Museu da Língua
Portuguesa (MLP), museu público e o primeiro do
mundo dedicado a um idioma, está na reta final do
processo de certificação.
Inaugurado em 2006, o MLP tem projeto dos arquitetos
Paulo Mendes da Rocha (que nesse mesmo ano
conquistou Pritzker, prêmio internacional considerado
o Oscar da arquitetura) e Pedro Mendes da Rocha. O
museu ocupa parte do prédio da histórica Estação da
Luz, na região central de São Paulo, edificação tombada
pelo patrimônio do Estado em 1982.
Mercado das certificações
cresce em todas as tipologias
Museu da Língua Portuguesa e Grupo Madero são exemplos de como a certificação
avança entre clientes públicos e privados.
Em dezembro de 2015, um incêndio destruiu o
museu, comprometendo dois andares e a estrutura
do telhado. Essencialmente digital, o acervo foi
recuperado por meio de backups. Pouco mais de um
mês depois, em janeiro do ano seguinte, o Governo
do Estado de São Paulo, a Fundação Roberto
Marinho e a IDBrasil, organização responsável
pela gestão do museu, assinaram o convênio que
viabilizou a recuperação do prédio e também do
Museu da Língua Portuguesa. O acordo já previa
incorporar os padrões de sustentabilidade para
atualizar a edificação.
Os projetos e obras desenvolvidos visavam ao
LEED v4 BD+C NC em nível Silver. A consultoria
de sustentabilidade está a cargo do Centro de
Tecnologia das Edificações (CTE) e o estudo de
Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), para verificar
reduções de impactos ambientais desde a etapa de
reconstrução do museu, ficou sob o comando da
Fundação Espaço Eco (FEE). O objetivo desse estudo
é auxiliar a revisão dos projetos, de modo a atualizar
as normas e legislações que sofreram ajustes e
aprimoramentos desde a inauguração do museu
e incorporar os requisitos de sustentabilidade,
fazendo da construção um edifício verde. Pedro
Mendes da Rocha, um dos autores do projeto
original do museu, é responsável pelas adaptações
arquitetônicas necessárias.
De acordo com Guilherme Vilares, consultor de obras
sustentáveis do CTE, esse projeto teve como grande
destaque o processo da restauração, planejado
para que tudo fosse feito de forma organizada
e ambientalmente correta. “Esse é um grande
diferencial no mercado de obras. Tinha uma equipe
só para restaurar a madeira no canteiro.
MERCADO LEED
Estação da Luz em foto tirada logo após a conclusão
das obras de recuperação do prédio e do Museu da
Língua Portuguesa, no final de 2019. A estação fica
de frente para o Parque Jardim da Luz.
Ana
Mello
25
A ala que não foi queimada também teve sua pintura
restaurada para que fosse possível encontrar as cores
mais antigas usadas”, detalha.
Segundo Luis Leal, consultor de sustentabilidade do
CTE, o projeto reaproveita ao máximo os materiais
do edifício antigo. “Parte da madeira dos telhados
pôde ser reutilizada em esquadrias e portas. As
madeiras novas são da região amazônica e têm o selo
FSC, o que garantiu o crédito de origem de matérias-
primas”, explica.
De acordo com informações fornecidas pela Fundação
Roberto Marinho, o MLP consumia em 2015 mais de
600 mil litros de água e aproximadamente 900 mil
kWh de energia elétrica. O projeto buscou formas de
reduzir esses números e as principais modificações
abrangem os sistemas de ar-condicionado e de
iluminação, bem mais eficientes que os anteriores.
“O ar-condicionado traz mais conforto e garantia de
maior renovação de ar. A iluminação agora conta com
sensores e sistema de automação. Nas áreas antigas,
onde não pode haver intervenção maior,
foram utilizados sensores de
luminosidade e de ocupação e
interruptores sem fio. O sistema
de incêndio foi revisado e ganhou
rede de sprinkler”, comenta Leal.
Os novos metais sanitários são mais
econômicos e possuem restritores
de vazão, arejadores e fechamento
automático. “Não havia espaço
para estação de reúso e seria uma
intervenção muito grande. Parte
da instalação é muito antiga e na
área não atingida pelo fogo ela foi
reutilizada”, completa Vilares.
As obras foram concluídas
em dezembro de 2019 e a
reinauguração prevista para
junho de 2020 foi adiada devido
à pandemia. Mais detalhes sobre
a reforma e fotos internas serão
divulgados somente após a
reabertura do MLP.
Com projeto do
arquiteto britânico
Charles Henry
Driver, o prédio
atual da Estação da
Luz tem influências
inglesas e
neoclássicas. Ele foi
construído pela São
Paulo Railway entre
1895 e 1901.
Ana
Mello
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
26
Grupo tem 39 restaurantes certificados
Entre os clientes privados com mais certificações
LEED, o destaque no Brasil fica para o Grupo Madero.
Dos mais de 200 restaurantes das marcas Madero e
Jeronimo espalhadas pelo país, 39 têm certificados
LEED (5 em nível Gold, 20 Silver e 14 Certified), além
de outros 50 em processo de certificação.
Da construção dos restaurantes à Cozinha Central
do Grupo, em Ponta Grossa, PR, são vários os
exemplos de ações sustentáveis em conformidade
com a certificação LEED, a começar pelo sistema de
destinação de refugos de obras. Hoje, em média,
90% dos resíduos de obras do Grupo Madero são
destinados ao reúso ou reciclagem.
Já a Cozinha Central é equipada com uma Estação de
Tratamento de Efluentes, responsável pelo tratamento
da água utilizada que é devolvida à natureza 100%
pura e tratada. Essa água é tão limpa que serve como
lar para os peixes mantidos no lago na parte externa da
Cozinha Central. A partir de suas diretrizes e práticas
sustentáveis, o Grupo Madero consegue reduzir em
média 35% o consumo de água nos restaurantes
Madero Steak House e em 14% o de energia elétrica.
A consultoria de sustentabilidade está a cargo da
Forte Desenvolvimento Sustentável, que atua em
todas as etapas do processo de certificação. “São
realizadas ações que englobam desde a assessoria ao
desenvolvimento dos projetos seguindo as premissas
do LEED, simulações energéticas, acompanhamento
da obra e comissionamento dos sistemas. Sempre
integrando os principais players envolvidos e
garantindo a excelência em atendimento às metas de
cada projeto. Como Consultoria em Sustentabilidade,
buscamos sempre trazer as melhores soluções para
nossos clientes, de forma que os projetos sejam
referências inovadoras em resultados”, afirma Eduardo
Mattos, Gerente de Sustentabilidade da Forte.
Toda a produção de hortifrútis orgânicos da Fazenda
Madero, iniciada em janeiro de 2018, é hoje 100%
absorvida pelos restaurantes Madero e Jeronimo. O
Grupo Madero também continua apoiando outros
produtores de orgânicos, para complementar o
fornecimento de alface, tomate, brócolis, couve-flor,
morango, cenoura, limão, salsinha, cebolinha e alho,
para as receitas dos pratos na Cozinha Central.
Localizada em Palmeira, PR, a Fazenda Madero contou
com investimentos que ultrapassam R$ 6,5 milhões em
infraestrutura, estufas, câmaras refrigeradas, captação
de água e irrigação de alta tecnologia, rendendo-
lhe a certificação do selo Orgânico Brasil, conferido
pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que
garante ao consumidor alimentos dentro dos preceitos
e normas nacionais de produção orgânica.
A produção de hortifrútis orgânicos da
Fazenda Madero é totalmente absorvida
pelos restaurantes Madero e Jeronimo.
Imagem: Divulgação
Gerson
Lima
Madero Steak House no
Shopping Aricanduva, em São Paulo.
27
SUSTENTABILIDADE
A SEU ALCANCE,
ONDE QUER QUE
VOCÊ ESTEJA
Treinamentos com foco em
sustentabilidade, conforto, saúde
e bem-estar na construção.
CURSOS LIVRES COM CARGA HORÁRIA
DE 3 A 20 HORAS COM CERTIFICADO DE
CONCLUSÃO.
CURSOS ONLINE GBC BRASIL
gbcbrasil.org.br/cursos
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
28
O LEED for Cities e o LEED for
Communities foram desenvolvidos
para ajudar líderes a medir o impacto e
melhorar o patamar de sustentabilidade
desses empreendimentos
Por mais de duas décadas, o LEED forneceu uma
estrutura para projetar, construir e manter edifícios
sustentáveis de alto desempenho. Como resultado,
milhões de pessoas em 178 países estão vivendo,
trabalhando e aprendendo em edifícios com
certificação LEED. Isso mudou fundamentalmente a
maneira como pensamos sobre edifícios e transformou
a indústria da construção civil. Agora, o LEED também
está revolucionando nossas comunidades e cidades.
O USGBC vem expandindo sua visão para impactar
cidades e comunidades. Reconhecendo que
não havia uma maneira consistente de medir
desempenho e sustentabilidade, introduzimos dois
novos programas de certificação em dezembro de
2016, o LEED for Cities e o LEED for Communities.
Formalmente conhecidos como LEED para Cidades e
Comunidades, eles foram pensados para ajudar líderes
a medir o impacto do empreendimento, melhorar a
sustentabilidade e a desenvolver planos para energia
limpa, água, lixo, transporte e muitos outros fatores
que contribuem para a qualidade de vida.
O objetivo é transformar a maneira como as cidades
e comunidades são operadas para melhorar o padrão
de vida das pessoas e incentivar a melhoria contínua.
Afinal, melhores prédios - e melhores cidades e
comunidades - são iguais a vidas melhores.
Hoje já são 110 cidades e comunidades no mundo
certificadas sob o LEED for Cities and Communities.
A lista inclui as cidades de Chicago, Washington, D.C.,
Lancaster, San Jose, Savona, Phoenix, Seattle, Atlanta,
Hoboken, Franklin, Atlantic Beach, Santa Fé, Orlando,
entre outras. Também já foram certificadas as
comunidades de Arlington County, San Diego County,
Golden Triangle Business Improvement District em
Washington D.C., Aeroporto Internacional de Atlanta,
Stuyvesant Town, Peter Cooper Village em Nova York
e Songdo International Business District, entre outras .
Edifício por edifício, rua por rua, bairro por bairro - e
agora cidade por cidade -, os espaços com certificação
LEED estão transformando vidas. Com a recente
certificação LEED Platinum, o Golden Triangle Business
Improvement District em Washington, D.C., tornou-se
um exemplo das muitas maneiras que o LEED pode ser
usado para apoiar pessoas, empresas e bairros.
Edifícios melhores
Localizada em um edifício LEED Gold no centro
do Distrito de Colúmbia, onde fica Washignton
D.C., a sede do USGBC é um dos três espaços com
certificação LEED dentro do edifício.
Em 2010, o escritório do USGBC se tornou o primeiro
a certificar sob o sistema de classificação LEED 2009
ID+C (Interior Design & Construction).
Sua equipe de facilities continua a manter o mais alto
nível de desempenho para os funcionários do USGBC,
monitorando energia, resíduos, água, transporte e
experiência humana na plataforma de desempenho
Arc (https://arcskoru.com). Como resultado de seu
compromisso com a melhoria contínua, o espaço foi
recertificado LEED Platinum em junho de 2019, já sob
o LEED v4.1.
Faça um tour virtual pelo endereço https://www.
usgbc.org/articles/take-peek-inside-management-
usgbc-headquarters e veja as várias maneiras com que
o espaço apoia as pessoas e o planeta.
Vidas melhores dependem
de edifícios, cidades e
comunidades melhores
DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
29
Comunidades melhores
O USGBC faz parte do Golden Triangle Business
Improvement District (GTBID), que em 2019 alcançou
o LEED Platinum sob o LEED for Communities. Como
a primeira melhoria em um distrito de negócios com
certificação LEED do mundo, o GTBID usa o LEED
para demonstrar como está criando um ambiente
limpo, seguro e vibrante para mais de 89 mil pessoas.
Por meio de parcerias e iniciativas estratégicas, os
visitantes experimentam:
• Mais de 63 edifícios certificados pelo LEED,
representando 42% da área total construída
do GTBID, o que ressalta o valor dos projetos
sustentáveis para o bem-estar das pessoas e o
benefício da eficiência energética para
proprietários e investidores.
• Mais de 400 bicicletários, bem como ciclovias
protegidas, para ajudar a incentivar o transporte
alternativo e seguro pelo bairro.
• Seis jardins de chuva - com mais dez previstos
para o final de novembro de 2020 - que capturam
e filtram milhões de litros de escoamento de
águas pluviais anualmente e fornecem refúgio e
local de descanso para polinizadores e pessoas.
• Corredores mais ecológicos e uma cobertura
de árvores expandida que exigiam a conversão
de mais de 1.000 metros quadrados de asfalto e
concreto em espaço verde, adicionando 400
metros quadrados adicionais à área.
Cidades melhores
Nas palavras da prefeita Muriel Bowser, do Distrito
de Colúmbia, “é do melhor interesse da segurança,
economia e futuro de Washington, D.C., levar a
sustentabilidade e a resiliência a sério”.
O distrito tornou-se LEED Platinum e foi o primeiro
com certificação LEED do mundo (2017). Ele abriga
mais de 1620 edifícios com certificação LEED e foi o
primeiro distrito de aprimoramento de negócios com
certificação LEED.
Ano após ano, o distrito registra mais metros
quadrados de espaço com certificação LEED por
pessoa do que qualquer outra localidade dos Estados
Unidos.
O LEED for Cities serve como uma ferramenta valiosa
para o distrito, pois trabalha em direção às metas
descritas em seu Plano D.C. Sustentável, ajudando a
cidade a acompanhar o progresso e os resultados para
reduzir as emissões de gases de efeito estufa, apoiar a
inovação de energia limpa e focar na prosperidade e
habitabilidade inclusivas em todas as oito áreas.
Sede do USGBC em
Washington, D.C.
Parque Duke Ellington no
Golden Triangle District.
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
30
Toda certificação LEED apoia a visão do USGBC de
edifícios e comunidades que regeneram e sustentam
a saúde e a vitalidade de toda a vida dentro de
uma geração.
Nos últimos 25 anos, o LEED se concentrou em
criar a estrutura que explica o que significa ser um
edifício verde - definindo esse padrão para a nossa
primeira geração. Agora, ao olharmos para a próxima
geração, devemos considerar como as decisões que
tomamos hoje afetarão o desempenho de amanhã.
A próxima fase do nosso trabalho deve integrar
perfeitamente edifícios nas comunidades para
garantir um futuro sustentável para todos nós. O
foco nos resultados gerados pelos nossos esforços de
sustentabilidade nos incentivará a elevar os padrões
para que possamos melhorar verdadeiramente
a saúde dos cidadãos, proporcionar crescimento
econômico e tomar as decisões corretas para o nosso
planeta, nossos recursos e nossos semelhantes.
Vatsal Bhatt
Vice-presidente de Communities do
U.S. Green Building Council (USGBC)
Washington, D.C.,
cidade LEED Platinum
Simplificando, devemos pensar além
dos próprios edifícios.
O Green Building Council (GBC) oferece as certificações
LEED for Cities e LEED for Communities, ferramentas
que ajudam a planejar e a ponderar o desempenho
de cidades, bairros e loteamentos, sistemas naturais,
energia, água, resíduos, transporte e outros fatores que
contribuem para a qualidade de vida.
Os programas de certificação revolucionam a forma
como as cidades e comunidades são planejadas,
desenvolvidas e operadas para melhorar sua
sustentabilidade geral e qualidade de vida. A estrutura
LEED engloba indicadores e estratégias de desempenho
social, econômico e ambiental com um meio claro e
baseado em dados de benchmarking e comunicação
do progresso. O programa está alinhado com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações
Unidas e é influenciado por nosso envolvimento com
centenas de cidades e comunidades em todo o mundo.
31
8%
10%
12%
20%
22%
28%
MUDANÇASCLIMÁTICAS
SAÚDEEBEM-ESTAR
BENEFÍCIOSECONÔMICOS
RECURSOSHÍDRICOS
BIODIVERSIDADE
EDUCAÇÃO
Os ambientes construídos possuem um
enorme impacto no meio ambiente, econo-
mia, saúde e bem-estar dos usuários. Avan-
ços na ciência da construção, tecnologia,
serviços e sistemas estão cada vez mais
disponíveis para os projetistas, construtores
e proprietários que querem construir verde
e maximizar o desempenho econômico e
ambiental.
O GBC Brasil acredita ser extremamente im-
portante criar parâmetros técnicos e desen-
volver conceitos sustentáveis para o setor
residencial no país. Trata-se de uma ferra-
menta em benefício do futuro morador, re-
dução de custos operacionais, evidencia que
a edificação possui desempenho superior ao
exigido pelas normas técnicas que discipli-
nam os diversos sistemas de uma edificação,
valorização do empreendimento e foco na
saúde, conforto e bem-estar dos moradores.
As Certificações GBC Brasil Casa &
Condomínio visam promover a trans-
formação do setor da construção por
apara alcançar 6 objetivos:
SAÚDE E BEM-ESTAR
Agora no setor residencial
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
32
O bairro Cidade dos Lagos, em
Guarapuava, no Paraná, e a Vila
Americana, em Belterra, no Pará,
estão localizados em extremos opostos
do país e têm em comum o objetivo
de conquistar as certificações LEED
for Cities e LEED for Communities,
ferramentas que ajudam gestores e
líderes locais a desenvolver planos
responsáveis, sustentáveis e específicos
para a infraestrutura urbana de cidades,
bairros ou grandes loteamentos.
Começam a surgir no Brasil os primeiros projetos
urbanos que buscam as certificações LEED for Cities
e LEED for Communities. No sul do país, a cidade de
Guarapuava está se desenvolvendo e se expandindo
com o bairro inteligente Cidade dos Lagos, o primeiro
empreendimento brasileiro registrado para obter a
cerificação LEED for Communities em nível Gold.
A Cidade dos Lagos é um caso especial em que
um empreendimento ajuda a impulsionar o
desenvolvimento de uma cidade com cerca de 200 mil
habitantes. O loteamento tem cerca de 3 milhões de
metros quadrados e está situado entre as rodovias PR-
466 e BR-277. Sua implantação teve início em 2010 e
hoje ele conta com prédios comerciais e residenciais,
um shopping center, instituições de ensino, hospitais e
centros médicos especializados, centro de tecnologia e
inovação e centro de eventos, entre outros projetos.
Desde o início o empreendimento foi pensado para
que seus moradores ficassem perto de tudo. “O
objetivo sempre foi fazer um bairro em que as pessoas
pudessem morar, estudar, trabalhar, andar a pé, de
bicicleta, ter qualidade de vida”, afirma Vilso Dubena,
diretor da Cidade dos Lagos. “Daqui a 100 ou 200
anos não haverá problemas de alagamento. Temos
tubulações de águas pluviais superdimensionadas e
já organizamos lagos de contenção para que quando
o empreendimento estiver 70% habitado e coberto
de asfalto não venha a sofrer com enchentes de
colapso”, completa o diretor.
No total o empreendimento possui 43,5 hectares de
área verde preservada e nenhuma porção desse espaço
foi impactada pela implantação das vias. Existem áreas
de preservação permanente ao redor do bairro, além de
uma nascente totalmente preservada e áreas destinadas
ao turismo local, com trilhas e cachoeiras. “Plantamos
várias espécies de frutas silvestres na região para os
animais e para as pessoas”, destaca Dubena.
Quando o empreendimento ainda estava na
prancheta, a Cidade dos Lagos não encontrou um
loteador ou incorporador que fizesse o loteamento no
modelo desejado pela empresa. “Queríamos primeiro
resolver as questões ambientais. Temos grande área
de preservação, nossos recuos são o dobro do que a
prefeitura exige, as calçadas são mais largas. Fizemos
doações para áreas públicas como faculdades e
hospitais e o que sobrou é o que está sendo loteado.
Os empreendimentos obrigatoriamente devem ter
carregador para carro elétrico, bicicleta elétrica. Isso já
está organizado, já faz parte do nosso plano diretor.
Guarapuava tem 200 anos e por aqui existem cidades
mais novas e mais desenvolvidas. Quisemos dar um
norte, uma arrancada para Guarapuava. A qualidade
de vida depende da qualidade do emprego, que por
sua vez depende de projetos bem estruturados e com
atrativos para os investidores. Para isso, tínhamos que
desenvolver algo que realmente chamasse atenção,
que se tornasse uma referência”, conta Dubena.
Planejamento urbano
De acordo com Eduardo Mattos, sócio-gerente
de sustentabilidade da Forte Desenvolvimento
Sustentável, consultoria que está conduzindo o
processo de certificação, as principais estratégias
do Cidade dos Lagos estão diretamente ligadas ao
planejamento do desenvolvimento urbano
Empreendimentos brasileiros
com novo conceito
DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
para os próximos anos. São adotadas medidas
para descentralização de recursos, incentivando a
caminhada ou uso de transportes não poluentes.
Todas as ruas têm ciclovia ou ciclofaixa, área para
pedestres e acessibilidade. “A taxa de área verde por
habitante é bem elevada e as estimativas de emissões
de gases do efeito estufa são muito baixas, o que
ajudou muito o empreendimento com relação à
pontuação no LEED. O investimento e planejamento
em infraestrutura capaz de suportar o público
projetado é o grande diferencial para esse projeto se
tornar um case mundial de desenvolvimento urbano”,
afirma Mattos.
A iluminação pública é eficiente e possui
direcionamento dos feixes de luz de forma a não
atrapalhar a fauna noturna e a não ultrapassar os
limites do bairro. O plano de resiliência elaborado
engloba todos os principais riscos associados a
intempéries, com destaque na probabilidade de
ocorrência de enchentes praticamente nula, devido
ao sistema bem projetado de drenagem com lagos de
acumulação de águas pluviais.
De acordo com Mattos, o empreendimento é
planejado para que se promovam os chamados
centros compactos e completos, com facilidade de
acesso a recursos comunitários, como hospitais,
mercados, bancos e farmácias, em diferentes
localizações do bairro. O transporte público já foi
planejado conforme parametrização internacional
do número mínimo de viagens, de forma a integrar
também o bairro todo ao município. Além disso,
existe planejamento para instalação futura de
estações de carregamento elétrico, conforme o
aumento da demanda.
“A disponibilidade hídrica é planejada de forma
integrada por meio de um balanço hídrico, reduzindo
os riscos de escassez no futuro. A qualidade da água é
ainda acompanhada por meio dos relatórios periódicos
da concessionária local”, detalha Mattos.
Embora ainda não exista sistema de energia renovável
planejado no empreendimento, estão em andamento
alguns estudos de viabilidade para sua implantação.
O sistema público de iluminação e bombas é baseado
em equipamentos de alta eficiência, reduzindo o
consumo energético do bairro.
Quanto às políticas para resíduos e reciclagem,
existem planos para a execução de estações de
coleta seletiva em locais estratégicos, fomentando a
separação de resíduos por meio da colaboração de
todos os usuários.
Vista geral do bairro inteligente Cidade dos Lagos, em Guarapuava, PR.
Maquete mostra a dimensão do empreendimento que tem cerca de 3 milhões de m2
.
Calçadas largas, acessibilidade e espaços para esporte e lazer.
Paradas de ônibus equipadas com painéis solares e tomadas de uso público.
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
34
chegar na vila, seus representantes identificaram uma
série de prédios históricos tombados que poderiam
ganhar novo uso. Assim nasceu a ideia de um projeto
maior, voltado para a população local e também
para turistas. A ideia era combinar riquezas naturais
com sustentabilidade, buscando mostrar os valores
da Amazônia e desenvolver uma economia que
mantenha a floresta de pé.
“Além do museu, estão previstos passeios para
conhecer as árvores usadas para medicamentos,
as comunidades ao longo do Rio Tapajós e
suas economias baseadas na castanha do Pará
e no guaraná. O projeto também deve ser um
estímulo ao empreendedorismo, uma ponte
entre as comunidades e o mercado comprador
e, principalmente, apresentar alternativas para
que os produtores locais não coloquem fogo na
mata para dar lugar a gado ou soja. É mais viável
economicamente deixar a floresta de pé e aproveitar
os recursos que ela oferece do que dar lugar a gado,
garimpo ou monoculturas”, explica Gomes Pinto.
A primeira fase do projeto deve levar três anos para
ser implantada e prevê, além do museu, centro
gastronômico, hotel e escola abraçando o núcleo da
cidade e funcionando em edificações existentes. O
projeto é do arquiteto Arthur Casas.
“Todos os empreendimentos serão certificados, mas
ainda não registramos nenhum. Estamos justamente
na fase de diagnósticos para definir qual será
certificação de cada edificação e da vizinhança como
um todo”, explica Gomes Pinto.
As estratégias de certificação estão em
desenvolvimento. Já é dado como certo que o
empreendimento contará com uma fazenda solar, com
os painéis instalados no chão. Haverá um contrato
para lançar essa energia na rede da concessionária e
abater o valor correspondente do preço da energia
usada nos prédios. Haverá também uma estação para
tratamento de esgoto que usa nanotecnologia com
ozônio, dispensando produtos químicos. Essa água
poderá ser utilizada na irrigação e nas descargas dos
sanitários. Deverá ser criada uma cadeia de triagem
e reciclagem de resíduos e está previsto o uso de
veículos elétricos (tuk tuk) e bicicletas para circulação
no núcleo da cidade. O mobiliário desenvolvido por
Arthur Casas será produzido exclusivamente com
madeira regional obtida de forma sustentável.
Imagens: Divulgação/Cidade dos Lagos e Divulgação/Belterra
Civilização florestal
No outro extremo do país,
a mais de 3 mil km de
distância de Guarapuava,
está Belterra (PA), cidade
entre os rios Tapajós e
Amazonas, fundada em
1934 por Henry Ford em
plena floresta amazônica
durante o ciclo da
borracha. A área foi cedida pelo governo brasileiro
à companhia Ford para a exploração do látex das
seringueiras para uso em sua indústria de automóveis.
A cidade implantada na época estava dividida em três
vilas. A principal delas era a Vila Americana, onde
ficavam as pessoas mais importantes, como médicos e
pesquisadores. As construções tinham como referência
a arquitetura dos Estados Unidos e algumas delas hoje
são tombadas pelo patrimônio histórico. As pragas
nos seringais e a borracha sintética levaram ao fim do
ciclo de exploração do látex na região amazônica e em
1945 os norte-americanos deixaram Belterra.
A cidade tem hoje cerca de 18 mil habitantes e é a
16ª maior do país em área. Ela fica nas imediações de
Santarém, integrando uma região de grande potencial
turístico que abrange o Lago Verde, praia conhecida
como Caribe Amazônico, e vários outros locais
convidativos como Caranazal, Ilha do Amor e Ponta
do Cururu. A região vem recebendo investimentos
em ações para estimular o desenvolvimento social por
meio do turismo como vocação estratégica.
Segundo João Marcello Gomes Pinto, sócio-fundador
da Sustentech, empresa que faz a consultoria de
certificação e estudos relacionados à sustentabilidade
para o projeto Belterra, um dos atrativos locais é
precisamente a Vila Americana com suas construções
tombadas. A ideia de criar ali a primeira civilização
florestal do mundo moderno, levando educação
empreendedora e inspiração para seus habitantes,
surgiu quando o Instituto Butantan (IB), de São Paulo,
escolheu o antigo hospital da Vila Americana para
sediar o Museu de Ciências da Amazônia, o Muca - o
prédio está em reforma e dentro de alguns meses o
novo equipamento será inaugurado.
A Oscip Ama Brasil, que atua na preservação do
patrimônio histórico, artístico e ambiental do país, foi
convidada para trabalhar na proposta do museu. Ao
As fachadas de vidro levam luz natural para o interior do shopping center.
Uso de pavimento intertravado para reduzir a impermeabilização do solo e a cor clara
para ameninzar o efeito ilha de calor.
Proposta arquitetônica para a vila administrativa.
Perspectiva Centro de Cultura Alimentar Tapajônica. O prédio já está em obras
de revitalização. O projeto Belterra e as instituições envolvidas.
O lago Verde, em Alter do Chão, é um dos atrativos turísticos na região de
Belterra. A praia em plena floresta é conhecida como Caribe Amazônico.
O Centro Administrativo de Belterra, cidade fundada em 1934 por Henry Ford. As construções
seguem o modelo norte-americano e algumas são tombadas pelo patrimônio histórico.
Perspectiva do Museu de Ciências da Amazônia. Ele ocupará o
prédio do antigo hospital e já está na fase final de obras.
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
36
Os portfólios estão sendo usados para conduzir análise
da certificação LEED, organizar grupos de projetos
para certificação LEED e consolidar informações sobre
instalações em geografias e unidades de negócios,
fornecendo uma visão transversal.
Este trabalho complementa e alavanca os sistemas
empresariais de informação existentes, como o Energy
Star Portfolio Manager, Measurabl ou Wattics.
Hoje, o portfólio médio do Arc contém aproximadamente
40 stakeholders, com alguns contendo mais de mil projetos.
Esta tendência motivou a equipe Arc a desenvolver novas
ferramentas para criar e gerenciar portfólios.
O Arc lançou o primeiro conjunto de novos recursos
de portfólio:
• Crie portfólios com mais rapidez. Todos
os usuários têm novas ferramentas para
filtrar e selecionar vários projetos com base
em atributos como localização, status de
certificação e muito mais.
• Entenda e priorize o desempenho de todo o
portfólio. Todos os usuários têm uma nova
interface de usuário de portfólio, incluindo uma
Novas ferramentas para
gerenciamento de portfólios
A Plataforma Arc ajuda qualquer espaço ou edifício a gerenciar seu desempenho
nas áreas de energia, água, resíduos, transporte e experiência humana.
nova guia Desempenho. Este é o novo local
para pontuações de projetos. Mais ferramentas
e recursos serão disponibilizados em breve!
• Suporte para reentrada. Os usuários do Arc
Essentials também encontrarão um novo
painel de reentrada em nível de portfólio. Isso
acumulará as pontuações e subpontuações de
abrangência do Arc em vários projetos.
• Prepare-se para o LEED. Os usuários do Arc
Essentials também encontrarão uma seção
nova e expandida de preparação para o LEED
no relatório de projeto personalizado. Isso
inclui cinco categorias e todas as métricas
de desempenho da interface de usuário
do Arc antigo. Este é apenas o começo de
nossa implementação de novas ferramentas
em nível de portfólio. Ainda neste ano
lançaremos mais recursos de portfólios para
todos os usuários, além de recursos mais
avançados para assinantes do Arc Essentials.
DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
Chris Pyke
Senior Vice-President Arc Skoru Inc.
NOVO CURSO GBC BRASIL + SECOVI/SP
CONFORTO, SAÚDE E BEM-ESTAR
EDIFÍCIOS SAUDÁVEIS DO
PROJETO À OPERAÇÃO
NOVO CURSO GBC BRASIL
gbcbrasil.org.br/cursos
CONFORTO, SAÚDE E BEM-ESTAR
EDIFÍCIOS SAUDÁVEIS DO
PROJETO À OPERAÇÃO
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
38
O Conselho Brasileiro de Construção
Sustentável (CBCS) vem atuando no
desenvolvimento de benchmarks de
energia para edificações, ferramentas
que permitem aos usuários avaliar o
desempenho de consumo de prédios em
comparação com o mercado
O CBCS começou a desenvolver equações de
benchmarks em 2013, pois sempre houve a demanda
por conhecimento de consumos de energia de
referência para os edifícios brasileiros, conta a
engenheira civil Clarice Degani, coordenadora
executiva do CBCS. “Entendemos que o estudo
deveria ser feito por tipologia, identificando os
fatores com maior influência no consumo energético
de cada edificação”, afirma.
Segundo Clarice, a iniciativa contou com o apoio
de parceiros para o fornecimento de dados e para
financiar o trabalho dos desenvolvedores. A Eletrobras
teve papel relevante desde o início, juntamente com o
Banco do Brasil, Banco Santander e Caixa Econômica
Federal (para o benchmarking das Agências Bancárias),
com a Embaixada Britânica em Brasília (para o
benchmarking de Edifícios Corporativos) e com o
PNUD, Projeto 3E e Ministério do Meio Ambiente
(para o benchmarking dos Edifícios Administrativos
Públicos). Em 2018 foi firmado um novo convênio
do CBCS com a Eletrobras que refina a metodologia
de desenvolvimento dos benchmarks e acrescenta
equações para mais 14 tipologias.
Os benchmarks de consumo energético do CBCS são
construídos sobre bases de dados exclusivamente
brasileiras - dados de consumo energético, dados
climáticos regionais e características físicas e de
ocupação típicas de cada tipologia. Estas informações
auxiliam na modelagem de arquétipos de cada
tipologia que são usados nas
centenas de simulações termo
energéticas que identificam a
sensibilidade de diversas variáveis
no consumo de energia da
edificação. Da compreensão do
peso de cada variável relevante,
a equação de benchmark é capaz
de calcular o consumo energético
esperado para cada edifício,
cujos dados sejam inseridos
nesta equação, explica Clarice.
“A equação também é testada
a partir de dados de auditorias
energéticas realizadas em edifícios
existentes, comparando todas as
suas características e os consumos
efetivamente medidos. Assim, são
múltiplos fatores que compõem a
referência de consumo, edifício a
edifício, conforme sua localização
e condições de uso e operação”,
completa.
Benchmarks de
desempenho energético
DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
Clarice Degani
Coordenadora Executiva
Conselho Brasileiro de
Construção Sustentável (CBCS)
39
Desde 2013, o CBCS aperfeiçoou sua metodologia
de benchmarking e segue buscando parceiros para
ampliar o banco de dados e refinar continuamente
os benchmarks. O grande objetivo é disponibilizar
a todos não apenas uma referência média de
consumo típico do mercado, mas sim traçar metas
de eficiência energética, indicando os consumos
mais eficientes para cada tipologia. Atualmente, o
CBCS dispõe de benchmarks de agências bancárias,
edifícios corporativos e edifícios administrativos
públicos, mas até o final de 2020 a previsão é a
de refinar o benchmark das agências bancárias e
acrescentar à plataforma Desempenho Energético
Operacional (DEO) as tipologias Hotel de grande
porte e resort, Hotel de médio porte, hotel de
pequeno porte e pousada; Shopping center;
Supermercado; Comércio de varejo e de grande
porte; Comércio de pequeno porte; Restaurante e
preparação de alimentos; Escola de ensino infantil;
Escola de ensino fundamental e médio; Universidade
e instituição de ensino técnico; Hospital; Posto de
saúde e assistência social; Data center e CPD.
O uso das equações de benchmarks, disponibilizadas
na plataforma DEO do CBCS, aponta a eficiência
ou ineficiência de cada edificação que tenha seus
dados inseridos e o consumo típico calculado
para efeito comparativo. Serve,
portanto, para selecionar os
edifícios mais críticos do ponto
de vista de necessidade de
intervenções. “Geralmente
os proprietários de diversos
empreendimentos fazem as
análises dos edifícios críticos
comparando fatores como
consumo anual ou consumo por
metro quadrado ou consumo por
metro quadrado condicionado.
No uso dos benchmarks outras
variáveis entram na análise. No
entanto, para a melhoria do
desempenho energético das
edificações por meio do uso
de benchmarks é preciso ainda
avançar no desenvolvimento de
uma plataforma que viabilize
a alimentação contínua deste
banco de dados, identificando
não apenas os consumos típicos,
mas aqueles mais eficientes a
partir das melhores práticas, os
quais servirão como meta de
desempenho”, encerra.
Imagens:
Divulgação/CBCS
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
40
Roberto Aflalo é um dos titulares do escritório
aflalo/gasperini arquitetos, de São Paulo, um dos mais
importantes do país, reconhecido por forte atuação no
segmento corporativo. Atualmente com 35 arquitetos,
o escritório é responsável pelo projeto de dezenas de
empreendimentos emblemáticos, entre eles, Edifício
Augusta, FL Corporate, WTorre e Rochaverá, em São
Paulo. É também o escritório brasileiro de arquitetura
que mais desenvolveu projetos certificados pelo LEED
– até hoje são 32, sendo 25 em nível Gold, quatro em
nível Platinum e três em nível Silver.
O escritório opera em todo o território nacional,
principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro,
tendo também participado de projetos no exterior.
Desde 2009, todos os projetos desenvolvidos
no escritório estão na plataforma BIM (Building
Information Modeling) e possuem certificação de
qualidade pela Norma ISO 9001.
GBC – Qual a importância das variáveis
tecnologia, projeto & operação para a construção
de edifícios sustentáveis e com desempenho
acima da média do mercado?
RA – A tecnologia vem para ampliar o desempenho
energético e do conforto ambiental de um bom
projeto arquitetônico que apresenta fundamentos
como boa implantação, aberturas generosas para
iluminação e ventilação natural e presença de
vegetação, entre outros. Os sistemas de controle
dos elementos naturais em uma edificação, que são
estáticos, são considerados soluções arquitetônicas
passivas. Já os elementos que podem ser alterados,
buscando melhores resultados ao longo do dia, da
semana e das estações do ano, como temperatura
externa/insolação, movimentação, ocupação, são
consideradas soluções ativas. Aqui entra a operação,
que tem potencial para otimizar estes processos.
Quanto mais ajustada , melhor o desempenho e,
portanto, melhor a resposta ao investimento.
GBC – O preço das tecnologias que visam a
redução dos custos operacionais ainda é um
fator limitante para sua adoção? Para que tipos
de empreendimentos a implantação dessas
tecnologias é considerada prioridade?
RA – O desempenho energético é algo bastante simples
de ser mensurado. E pode ser fator decisivo no estudo
de viabilidade de um empreendimento ao longo do
tempo. O desempenho de um
edifício hoje é medido também
pelo seu custo operacional. Um
prédio “barato” pode ser um
péssimo negócio ao longo do
tempo se o seu desempenho
for pífio. O custo operacional
pode corroer o valor do aluguel
e o desconforto ambiental não
atrair usuários. Nesse ponto
entram as simulações para
definir qual a melhor relação
custo-benefício para cada empreendimento. Edifícios
comerciais, pelo seu alto consumo energético, tendem
a ter melhores respostas à aplicação de tecnologias. Já
os residenciais se beneficiam muito de um bom projeto
arquitetônico e soluções para redução de consumo de
água, aquecimento solar, iluminação e ventilação natural.
GBC – Como equalizar a lacuna entre o conforto
desejado pelos usuários, o baixo consumo de
insumos previstos na simulação e também os
melhores resultados para os investidores e
proprietários?
RA – Buscando equilibrar as variáveis apresentadas na
simulação aos interesses dos usuários e investidores.
GBC – Existem empreendimentos certificados
que apresentam consumo de energia médio
acima do previsto nas simulações realizadas para
certificação. Por que isso acontece? O problema é
operacional, de projeto ou abrange várias causas?
RA – Acredito que abrange várias causas. Edifícios de
único proprietário ou usuário tendem a ter melhor
desempenho pois as decisões operacionais são aplicadas
sem polêmicas. Já em edifícios com múltiplos usuários
as decisões tendem a ser mais “democráticas”, pois
muitas vezes podem desagradar alguns. Nesses casos
podem comprometer parte do desempenho esperado.
GBC – E quanto à operação do edifício?
RA – Em uma antiga palestra proferida por um
integrante do Foster Associates [escritório global de
arquitetura fundado por Norman Fostes e sediado
em Londres] sobre seus projetos e desempenho,
foram citados dois edifícios corporativos, projetados
e construídos em décadas diferentes, e com
desempenhos muito diferentes. O Commerzbank
Frankfurt, de 1997, e o Swiss Re, em Londres, 2004.
Arquiteto Roberto Aflalo
De olho na performance
41
O primeiro apresentava a curva de desempenho muito
próxima da simulação. O segundo, comparativamente,
deixava muito a desejar, apesar de ser mais moderno
e ter inovações tecnológicas. A resposta estava no
empenho da operação de cada um dos edifícios.
GBC – Os operadores prediais conhecem e sabem
operar a alta tecnologia embarcada nos edifícios?
O mercado dispõe de profissionais qualificados a
lidar com essa tecnologia mais avançada?
RA – Não saberia responder esta questão com
exatidão. Acredito que com a proliferação de
certificação e da implantação crescente de novas
tecnologias nos edifícios, abrem-se também
oportunidades de colocação para profissionais com
um pouco de especialização na área. Em alguns casos
o engenheiro que trabalhou na obra de implantação
do edifício e dessas tecnologias passa a operar o
edifício dada a sua familiaridade com o sistema.
GBC – O desempenho nem sempre depende total
ou parcialmente da tecnologia. O próprio projeto
arquitetônico pode favorecer o fluxo, melhorar
condições de segurança e garantir espaços mais
confortáveis e funcionais. Até onde o projeto
pode ajudar nesse aspecto?
RA – A presença de alguns fundamentos de
projeto garantem um desempenho maior. Cada
tipologia demanda soluções próprias. No caso do
Edifício. Eldorado B Tower, por exemplo, o fluxo de
pessoas no pavimento térreo em horários de pico
pode ser enorme. Neste caso previmos uma ampla
separação de saídas e entradas visando minimizar o
congestionamento.
GBC – O escritório tem informações sobre o atual
desempenho de algum dos empreendimentos
projetados por vocês?
RA – Não temos estas informações destes edifícios.
Infelizmente este ainda é um ponto a se aprimorar
na certificação. As simulações nos dizem bastante a
respeito do desempenho futuro dos edifícios, mas os
dados pós-utilização nos dariam maior credibilidade
aos números obtidos nas simulações. Temos muito
pouca informação sobre o desempenho real dos
edifícios certificados. Esta informação seria preciosa
para ajustar e direcionar o desenvolvimento dos
sistemas implantados e retroalimentar as simulações.
Cada país tem o seu próprio clima e sua própria
cultura. São alguns fatores que impedem que um
único sistema de avaliação de desempenho seja
a resposta a estas questões. É necessária uma
personalização da leitura dos dados obtidos, quando
coletados, para se comparar de fato os resultados.
GBC – E quanto à plataforma ARC?
RA – Podemos estar próximos de poder contar com estes
dados por meio da plataforma ARC, que aos poucos
começa a ser utilizada e ajustada à nossa realidade.
Empreendimentos
corporativos projetados
por aflalo/gasperini
arquitetos e construídos
em São Paulo.
Ana
Mello
Daniel
Ducci
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
42
Lançada em 2017 pelo governo japonês, a Japan House
São Paulo é um centro de difusão de cultura, valores e
costumes do Japão contemporâneo, promovidos por
meio de exposições, seminários, workshops e atividades
que trazem ao Brasil os mais relevantes criadores e
empreendedores nipônicos da atualidade.
O centro de cultura está localizado no início da
Avenida Paulista, perto da praça Osvaldo Cruz. Quem
circula por ali é impactado pela fachada de 11 metros
de altura e 36 metros de largura feita com cedro
japonês de mais de 70 anos de idade. Esse painel
escultural de madeira pesa mais de seis toneladas e
envolve um edifício que passou por obras de retrofit.
A proposta é assinada pelo arquiteto japonês Kengo
Kuma, autor do projeto do novo estádio Olímpico de
Tóquio, e pelo escritório paulistano FGMF Arquitetos.
A edificação já recebeu mais de dois milhões de
visitantes e em abril de 2020 conquistou a certificação
LEED EB O&M na categoria Platinum.
Segundo Eric Klug, presidente da Japan House São
Paulo, “o tema da sustentabilidade deve ter máxima
relevância em todos os setores da sociedade. Quando
afetados por um fenômeno como a pandemia
de Covid-19, somos relembrados dos recursos da
natureza e das consequências de nossas atividades
para o meio ambiente e para a comunidade”, afirma.
Entre os recursos sustentáveis da edificação estão torneiras
e acionadores de descargas com timers, sistema de
otimização do fluxo de água, luminárias de alta eficiência
com lâmpadas LED dimerizáveis, sistema de irrigação
automático por gotejamento e sensores de presença
nos banheiros. O destaque fica para os vasos sanitários
japoneses da marca Toto e do tipo dual flush, que
utilizam 3,0 litros e 4,8 litros por acionamento.
O consumo de energia é otimizado pelo sistema BMS,
da Mitsubishi Eletric, que responde pela automação
dos sistemas e controla iluminação e ar-condicionado.
Segundo Erika Emi Koga, da área de Desenvolvimento
de Negócios da empresa, a Mitsubishi Eletric também
forneceu o sistema de ar-condicionado, secadores de
mãos, medidores de energia e elevadores – na época
ela ainda comercializava elevadores.
O projeto minucioso, o sistema BMS, o ar-condicionado
e a operação formaram um contexto que responde pelo
alto desempenho energético da edificação.
Segundo Beatriz Sturm, consultora de projetos da
CTE, o prédio é 37% mais eficiente que a média
global da mesma tipologia. “A certificação é feita
DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
Desempenho em destaque
A Japan House São Paulo e a sede do Sebrae Ceará, em Fortaleza, são dois
empreendimentos que utilizam a Plataforma ARC como apoio de gestão
Imagens da Japan House São Paulo. O projeto
é de autoria do arquiteto japonês Kengo Kuma
e do escritório paulistano FGMF Arquitetos.
Estevam
Romera
Estevam
Romera
43
com base na performance, mensurada na Plataforma
ARC. No caso da Japan House os dados inseridos
foram rateados porque há um edifício anexo
compartilhado”, detalha.
De acordo com Beatriz, outro saldo positivo foi
registrado na categoria Experiência Humana da
plataforma ARC, que considera também a qualidade
interna do ar, teste de concentração de CO2 e de
concentração de COVs. A Japan House obteve
resultado 56% mais eficiente que a média global
da mesma tipologia. Para atingir esse índice, Klug
explica que o projeto conciliou soluções técnicas com
o princípio japonês do Omotenashi, que cuida de
cada detalhe comportamental, físico e visual
dos ambientes para que o
visitante tenha uma experiência
memorável, o que se refletiu na
pesquisa de conforto ambiental.
“Realizada com 345 usuários
da Japan House, ela teve um
resultado muito alto, muito
fora da curva, porque ninguém
reclamou de nada”, conta Beatriz.
“O índice de satisfação foi de
98,8% e não houve nenhum
registro de desconforto. Dentre
os elogios, os participantes
ressaltaram a qualidade do ar,
limpeza, iluminação natural,
privacidade, acústica e conforto
térmico”, encerra Klug.
Sebrae Ceará
O processo de retrofit iniciado em 2012, e concluído
dois anos depois, garantiu à sede do Sebrae-CE a
certificação LEED NC Silver. A equipe responsável
pela gestão operacional do edifício deu continuidade
às melhorias de performance e intervenções,
aperfeiçoando seus processos e mapeando
oportunidades de aprimoramento da manutenção
e operação do prédio. “Foram realizados desde
apontamentos de auditorias internas em eficiência
hídrica, com regulação de vazões conforme as
necessidades de cada ponto, otimização do sistema
de irrigação, redução de perdas de água no sistema,
eficiência energética, com o aprimoramento da
programação de ativação da iluminação, planejamento
de uso de energia e ações de sensibilização dos
usuários do edifício”, explica Carlos Viana Freire
Júnior, articulador de marketing e comunicação do
Sebrae/CE. Dessa forma, em outubro de 2019, o
edifício recebeu a certificação LEED Platinum.
De acordo com Welington Ribeiro, analista técnico
Sebrae CE, O prédio se tornou uma referência de
sustentabilidade em Fortaleza. “Recebemos visitas
guiadas para mostrar as soluções adotadas no retrofit,
destacando aquelas que são facilmente replicáveis.
Os visitantes podem ver tudo e contamos com um
intérprete de Libras para atender aos deficientes
auditivos, porque o Sebrae/CE se preocupa com
a redução de desigualdades e com inclusão de
deficientes”, afirma.
Equipamento de ar-condicionado Mitsubishi Eletric
instalado na Japan House.
Imagem: Divulgação/Mitsubishi Eletric
Estevam Romera
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
44
Entre as intervenções realizadas está a instalação de
uma fachada ventilada para funcionar como isolante
térmico. A cortina de vidro é complementada por
estruturação de um bolsão de ar com duas camadas
de vidro, para reduzir a insolação na fachada leste.
Na face oeste foram instalados brises para proteção
do envoltório. Todos os vidros usados são eficientes.
Outra medida foi a abertura de um poço profundo
para substituir a água potável antes usada no sistema
de ar-condicionado.
De acordo com Amália Uchôa, assistente da
unidade de gestão operacional do Sebrae-CE, o
projeto priorizou a iluminação natural do prédio,
complementada com luminárias LED. A limpeza
verde foi fortalecida em todo o edifício, com
produtos biodegradáveis, melhorando a qualidade
do ar e consequentemente a qualidade de vida de
colaboradores e visitantes. Foram instaladas duas
usinas fotovoltaicas no edifício. A menor destina-
se ao caráter educativo, como um showroom. “A
intenção é permitir que visitantes e empresários
curiosos e interessados em implementar em sua
empresa a cogeração de energia, possam conhecer
os elementos que compõem o sistema e ver como ele
funciona”, completa Amália. A segunda usina, soma
200 placas fotovoltaicas instaladas. Juntas, elas têm
capacidade de geração de 83 MGWatts de energia
por ano, o que equivale a todo o consumo do prédio
com iluminação, equivalente a 12% do consumo
total do edifício. A usina fotovoltaica não teve seu
resultado considerado na primeira certificação e seus
benefícios só foram levados em conta no processo
de recertificação.
A Plataforma ARC ajudou nos processos de melhoria
a partir de tomada de decisão mais assertiva, de uma
gestão vista mais ágil e sistêmica. “Quando iniciamos
o processo de certificação LEED Silver, trabalhávamos
com planilhas próprias, sem integração, o que nos
ajudava, porém com limitações. No processo de
upgrade para o LEED Platinum já contávamos com o
ARC, que se apresenta como um ambiente integrado
de apoio à gestão, possibilitando um olhar sistêmico
dos indicadores de desempenho. Desde agosto
ela está ainda melhor, mais detalhada e com mais
dados”, afirma Viana.
Na recertificação, as reduções de demanda de água
e energia tomaram por referência o consumo do
próprio prédio antes das intervenções. Inicialmente
foi obtida diminuição de consumo de água em
23%, mas a cada auditoria e análise realizados, os
resultados melhoravam mais. Com a implantação
do poço profundo para substituir a água do ar-
condicionado, hoje a economia é de cerca de 30%.
No caso da energia elétrica, a redução inicial foi de
28% e com a implantação da usina fotovoltaica, esse
índice a 37%.
Sede do
Sebrae-CE,
em Fortaleza.
Imagens:
Divulgação/
Sebrae-CE
45
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GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
46
Uso eficiente da água
Sabendo usar não vai faltar
A gestão da água é hoje um dos
principais desafios a serem enfrentados
pelo poder público e pelas empresas do
segmento da construção civil.
A diferença entre a demanda e a disponibilidade de
recursos hídricos faz da conservação da água uma
necessidade urgente com a qual todos os países precisam
se preocupar. No Brasil, país de dimensões continentais,
a situação não é diferente. As regiões sudeste e nordeste
concentram mais de 70% do PIB industrial e 71% da
população brasileira, porém, juntas dispõem de apenas
9% da água doce do país. A abundância de recursos
hídricos é registrada somente na região norte, habitada
por menos de 7% da população.
A escassez de água no nordeste é uma realidade velha
conhecida do brasileiro, mas no sudeste a questão
só entrou em evidência na década de 2000, com
racionamento e rodízios de água na Região
Metropolitana de São Paulo. Em 2014, auge da crise,
o sistema de reservatórios que servem a Grande São
Paulo beirou o colapso e atingiu os menores volumes
de armazenamento de toda sua história. Só então o
governo paulista iniciou as obras de transposição para
captação de água, o que garantiu algum fôlego extra
ao sistema, mas não levou em conta aspectos como
eficiência e gestão da demanda.
De acordo com o engenheiro civil e mestre em
edificações Osvaldo Oliveira, especialista no uso eficiente
da água e consultor institucional Tigre-ADS, trazer a água
de cada vez mais longe é uma solução convencional
e muitas vezes praticada, mas não necessariamente a
melhor. “O custo é muito elevado, tem que bombear,
é complicado, e ainda tem o ônus de tirar essa água
de outras comunidades. Antes de buscar fontes mais
distantes é necessário investir na eficiência, no combate
aos desperdícios, em produtos mais eficientes. Isso
aumenta a vida útil do sistema instalado”, detalha.
USO EFICIENTE DA ÁGUA
Gilberto
Marques
47
Como exemplo positivo dessa situação, Oliveira cita
Nova York, cidade que fugiu do convencional ao
enfrentar sua crise de abastecimento e de qualidade
da água. Entre as ações tomadas pela prefeitura
estão a compra de terras ao redor de mananciais
e o investimento em benfeitorias nas propriedades
vizinhas a fim de evitar a contaminação dos cursos
d’água. Essa medida tornou desnecessária a
construção de uma estação de filtragem que custaria
dez bilhões de dólares, segundo reportagem de 28 de
novembro de 2014 apresentada no Jornal Nacional, da
Rede Globo. Outra decisão importante da prefeitura
foi a de recortar as ruas da maior metrópole do
mundo para substituir a antiga tubulação metálica,
com vários pontos de vazamento, por tubos plásticos
como os de polietileno, material que resiste ao contato
com o solo e com a água e tem longa vida útil,
estimada entre 50 e 100 anos. “Junto às campanhas
de redução do consumo e programas de incentivo
para a troca de produtos hidráulicos por outros mais
modernos e eficientes, isso permitiu que o sistema
existente atendesse à demanda da população por
mais um período de 20 anos e por 1/10 do custo de ir
buscar água em fontes mais distantes. No Brasil, ainda
não houve essa mudança de visão do poder público
mas a sociedade civil pode cobrar e mostrar que há
outros caminhos”, destaca o especialista.
Chuveiros no alvo
As certificações de sustentabilidade chegaram ao país
a partir dos anos 2000 e se aliaram às normas técnicas,
novas ou revisadas, para oferecer parâmetros que
ajudam os profissionais a desenvolver projetos que
visam à conservação de água. A tecnologia também
contribuiu, disponibilizando produtos mais eficientes.
Antigamente, o volume das descargas era de 12
litros, depois caiu para 6 litros e a seguir veio o dual
flush. As atenções agora estão focadas nos chuveiros,
em especial para os prédios onde há aquecimento a
gás e pressão de água elevada. “Nos Estados Unidos
nenhum chuveiro pode ter vazão superior a 9 litros
por minuto, mas aqui não temos essa limitação. Um
chuveiro elétrico em uma casa com baixa pressão vai
consumir no máximo 4 litros por minuto, mas em um
prédio esse valor pode ser multiplicado por dez.
Existem chuveiros de grandes marcas estrangeiras que
aliam conforto e baixa vazão, mas eles exigem alta
pressão na rede, a partir de 14 metros por coluna de
água (mca) e, portanto, podem não funcionar bem
nas nossas instalações”, explica Oliveira – no Brasil, os
projetos estabelecem pressão entre 2 mca e 40 mca,
enquanto em outros países essa faixa é deslocada para
cima, de 14 mca a 56 mca. “A pressão mais baixa no
Brasil tem por objetivo reduzir perdas por vazamentos,
o que é um equívoco, pois um prédio não deveria ser
projetado imaginando-se a presença de vazamentos.
A pressão mais elevada é vantajosa porque garante a
sensação de conforto ao mesmo tempo em que reduz
o volume de água,” completa.
Essas questões sempre esbarram no aspecto
financeiro. Em regiões em que a água é mais cara,
é mais provável que uma edificação com grande
fluxo de pessoas encontre na tecnologia os meios
para reduzir o consumo e a conta de água. Um bom
exemplo são as descargas a vácuo, encontradas em
shopping centers, aeroportos ou grandes edificações
comerciais e industriais. “A bacia sanitária é importada
e cara, e a central de vácuo também tem custo
elevado, o que é um impeditivo para os projetos
menores, mas nos grandes compensa”, afirma
Oliveira. Nas edificações em que o consumo é menor
e a tarifa não é tão elevada, o entrave costuma ser o
custo da tecnologia. Nesses casos, o caminho mais
viável é o das campanhas de conscientização para
mudar os hábitos dos usuários e evitar desperdícios
e ainda dar preferência a soluções mais eficientes,
como chuveiros com redutores de vazão, torneiras
com mecanismo de ¼ de volta, descargas do tipo
dual flush e o uso de máquinas de lavar roupas e
louças com opções de níveis de água para atender a
diferentes demandas.
Medição para economizar
Medir é condição essencial para controle e gestão
do consumo de água. Quanto mais medidores, mais
fácil fica avaliar o perfil de consumo e encontrar os
pontos em que é possível economizar. A medição
também permite a comparação do desempenho
de uma edificação com outras da mesma tipologia,
estabelecendo indicadores de consumo.
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
48
De acordo com Oliveira, a proposta da medição
individualizada no Brasil surgiu na década de 1970,
com os edifícios de habitação popular. A ideia não
avançou porque os custos de instalação e de operação
eram altos e não havia tecnologia de medição remota
por unidade. O assunto voltou à baila entre o final
da década de 1990 e o início da de 2000, com a
crise hídrica. Entre 2004 e 2005 foram entregues
os primeiros empreendimentos com medidores
individualizados. Hoje esse item já é entendido
como necessidade de projeto, embora ainda existam
questões mal resolvidas, como o medidor no interior da
unidade. Em 2016 foi aprovada a Lei federal nº13.312,
que determina o uso de medidores individualizados em
todas as edificações entregues a partir de 2021.
Soluções urbanas
Existem soluções que podem ser adotadas na implantação
de um grande empreendimento ou de bairros e cidades
planejadas. Oliveira conta que na Alemanha é comum
encontrar unidades distritais para aquecimento da água,
que é distribuída por uma determinada região por meio
de uma rede paralela à de água potável. “É possível
ter uma rede paralela dessas para água de chuva ou
de reúso para o abastecimento de descargas, por
exemplo. Tudo depende de calcular o custo para ver se
compensa”, pondera Oliveira. Isso
seria interessante pela qualidade da
água, uma vez que o poder público
poderia exercer maior controle na
gestão de demandas das fontes
alternativas, o que nem sempre é
possível em nível residencial.
A Tigre-ADS oferece uma solução
que ajuda a reduzir enchentes
e deve ser instalada abaixo do
pavimento de grandes áreas, como
pátios de estacionamento, por
exemplo. Trata-se de reservatórios
subterrâneos na forma de um
conjunto de tubos de 1 metro ou 1,5 metro de
diâmetro que são enfileirados, formando uma rede para
a captação de água de chuva. Esses tubos podem ser
feitos com polietileno reciclado e têm uma expectativa
de vida útil de no mínimo 50 anos. Junto desse sistema
é instalada uma unidade de qualidade de água, com
filtragem para remoção de detritos, para permitir que ela
seja utilizada em irrigação ou lavagem de pisos.
Apropriação da água
Os recursos hídricos são bens cada vez mais escassos,
especialmente quando consideramos sua disponibilidade
em termos de quantidade e qualidade. Segundo dados
de Givíziez, G.H.N. e Oliveira, E.L. Demanda Futura por
Moradias, demografia, habitação e mercado, FIESP 2016,
as regiões nordeste e sudeste são as que concentram a
maior parcela da população (71,5%) e do PIB Industrial
(70,8%). No entanto, juntas, elas detêm apenas 9,3%
da água doce disponível no país, o que torna essencial
gerenciar seu uso de maneira mais eficiente.
A construção civil tem um papel relevante no
desenvolvimento urbano das cidades, trazendo grande
impacto na gestão dos recursos hídricos pois carrega a
responsabilidade sobre o uso desses recursos em todo os
seus processos, desde a concepção do projeto, passando
pela seleção e aquisição de materiais e pela metodologia
construtiva, até o uso da edificação ao longo de sua vida
útil”, afirma Virginia Sodré, sócia e diretora executiva da
InfinityTech Engenharia e Meio Ambiente.
A consciência sobre a importância desse papel motivou
o lançamento do Guia Metodológico de Cálculo de
Pegada Hídrica em Edificações, uma iniciativa do
SindusCon-SP com o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD) e a Caixa Econômica
Federal, sob a consultoria técnica da Infinitytech.
49
Lançado no final de 2019,
o guia oferece métricas
claras e padronizadas
que permitem calcular
a quantidade de
água (m3
/m2
de área
construída) apropriada
pela construção civil,
viabilizando avaliações
comparativas e
incentivando medidas
para conservação da
água. “Trata-se de uma ferramenta que permite
medir e fazer o benchmarking da apropriação do
consumo de água por toda a cadeia do processo
construtivo até os usos da água durante a vida útil
da edificação. É um trabalho completo, que pode ser
usado internacionalmente”, destaca Virgínia. O guia
está disponível para download gratuito em https://
sindusconsp.com.br/wp-content/uploads/2019/11/
final_guia_pegada_hidrica.pdf.
O que é pegada hídrica?
Na definição do professor holandês Arjen Hoekstra,
criador do conceito, a pegada hídrica é “um indicador
do uso de água que considera não apenas o seu uso
direto por um consumidor ou produtor, mas, também,
seu uso indireto”, podendo ser considerada como um
“indicador abrangente da apropriação de recursos
hídricos”. Para dar um exemplo simples, são necessários
15.500 litros de água para irrigar o pasto e hidratar o
gado a fim de produzir um quilo de carne bovina.
Segundo Virginia, são três tipos básicos de pegada
hídrica que podem ser aplicados às diferentes
atividades econômicas – a azul, a verde e a cinza.
A pegada hídrica azul (PHazul) pode ser calculada
como a água proveniente de uma bacia hidrográfica
(superficial ou subterrânea), evaporada, incorporada
a um produto ou retirada e devolvida a outro corpo
hídrico. Relevante para agricultura, indústria e uso
doméstico. A PHazul refere-se à água perdida em
determinado processo, geralmente por evaporação ou
incorporação ao produto. PHazul = água evaporada +
água incorporada + vazão de retorno perdida.
Há também a pegada hídrica verde (PHverde), que é
a água precipitada, armazenada no solo, evaporada,
transpirada ou incorporada pelas plantas. É relevante
para produtos agrícolas, horticultura e florestais
ou para a irrigação. Por fim, a pegada hídrica cinza
(PHcinza), definida como a quantidade de água doce
necessária para assimilar poluentes e atender aos
parâmetros de qualidade da água.
O guia metodológico utilizou-se desses conceitos e das
adaptações necessárias para calcular a pegada hídrica de
uma edificação, ou seja, o volume de água apropriado
por metro quadrado de área construída. A contabilização
da pegada hídrica considera todas as fases da obra,
começando pelo consumo direto dos serviços em
canteiro desde a etapa de movimentação de terra até o
acabamento final, passando pela pegada hídrica indireta
oriunda dos produtos, materiais e insumos utilizados
na construção, incluindo até a pegada hídrica direta,
estimada dos usuários ao longo da vida útil da edificação.
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
50
Embora ainda existam poucos estudos no mercado,
e mais pesquisas e informações sejam necessárias
por parte dos fabricantes, os estudos existentes
evidenciam que o concreto e o aço são os produtos
mais relevantes da pegada hídrica indireta na
construção, podendo chegar a quase 87% do total
da edificação. “O aço e o concreto utilizados são
os materiais de pegada mais representativa. Por
isso é interessante entendermos que todos temos
nossas responsabilidade na gestão dos recursos
hídricos, que os materiais que adquiro e utilizo
são representativos na minha pegada hídrica.
Dessa forma, posso solicitar que os fabricantes que
também estão produzindo em região com escassez
hídrica, modifiquem a sua forma de produzir para se
apropriar menos dos recursos hídricos. O objetivo é
trazer a consciência e a responsabilidade para toda
a cadeia”, diz Virginia.
Movimentos na indústria
O tema pegada hídrica já não é novidade em algumas
empresas brasileiras. Por iniciativa do Consulado da
Suíça (Consud), desde fevereiro de 2019 está sendo
desenvolvido na América do Sul um estudo que
envolve empresas de vários países da região. Do Brasil,
participam a Votorantim (cimento), a Klabin (papel) e a
CBA (alumínio). A Fundação Getúlio Vargas responde
pela gestão e pela assessoria técnica às empresas.
Segundo Angelo Zerbini, consultor de meio ambiente
da Votorantim, o estudo na empresa está focado na
produção de concreto, o que depende da análise de
dados do cimento também. Ainda em andamento, a
avaliação já aponta o alto consumo de energia elétrica
e o uso de combustíveis fósseis como os vilões da
pegada hídrica do concreto.
“A Votorantim trabalha com o coprocessamento
de resíduos, o que está ajudando a reduzir nossa
pegada hídrica”, explica Zerbini. Essa tecnologia
é reconhecida mundialmente como a destinação
adequada e ambientalmente correta de diferentes
tipos de resíduos, não utilizados na reciclagem, com
reaproveitamento energético nos fornos da indústria
de cimentos. Esses resíduos e biomassas substituem o
coque de petróleo, que é um combustível fóssil.
A empresa também está focada em garantir que a
origem da energia elétrica consumida seja solar ou
eólica, que são as mais sustentáveis possíveis, bem
como em assegurar o gerenciamento do consumo
hídrico nas plantas e implantar melhorias de eficiência
de processo de forma geral. Os planos ainda são de
longo prazo mas preveem a associação da Votorantim
a parques eólicos ou solares, empresas geradoras de
energia de baixo impacto, a fim de ter uma redução
bastante significativa de sua pegada hídrica.
Projetos mais eficientes
Outros agentes do setor da construção civil também
podem se valer do Guia Metodológico de Cálculo
de Pegada Hídrica em Edificações e contribuir para a
redução da pegada hídrica. O projeto da edificação
já deve ser pensado para ser sustentável e aplicar as
normas sobre o uso eficiente da água (ler boxe Saldo
positivo). Nas fases de especificação e de orçamento
é possível fazer a gestão da pegada hídrica e dar
preferência a materiais que necessitam de menos água
para sua produção e a equipamentos hidráulicos com
restrição de vazão. “O guia traz o benchmarking
internacional do consumo de água para esses
produtos. É um trabalho completo que pode ser usado
internacionalmente”, afirma Virginia.
Também pode-se ajudar a reduzir a pegada hídrica
da edificação por meio da gestão da obra, preferindo
sempre os procedimentos de menor consumo. É
possível estabelecer gestão por pavimento ou por
etapa e criar os próprios indicadores de consumo, de
modo a ter referências para as próximas obras.
Para o futuro, Virgínia prevê para as edificações
uma etiquetagem de consumo de água, nos
mesmos moldes da Procel Edifica. A ideia é criar
uma plataforma benchmarking em parceria com o
Sinduscon-SP e a partir daí já será possível desenvolver
essa classificação.
O perigo vive na água
A Legionella pneumophila é uma bactéria que vive e
se prolifera com facilidade em qualquer lugar onde
tenha água. Ela
pode ser encontrada
em rios, piscinas,
poços, caixas d’água,
tubulações, chuveiros
e nas torres de
refrigeração do ar-
condicionado, por
exemplo.
“Testes de
laboratório indicam
que essa bactéria
está presente em
mais de 35%
51
das amostras examinadas e cabe aos gestores dos
empreendimentos a responsabilidade pela saúde
das pessoas que trabalham, moram ou frequentam
essas edificações”, afirma o engenheiro químico
Marcos Bensoussan, perito em segurança da água
e editor responsável pelo livro Legionella na visão
de especialistas, publicado pela Setri Consultoria de
Sustentabilidade. O livro está disponível para download
gratuito em http://legionellaespecialistas.com.br/.
De acordo com Bensoussan, a aspiração de
micropartículas de água contaminada, na forma
de spray ou aerossol, pode causar a Doença dos
Legionários, ou legionelose, que é uma forma de
pneumonia atípica, provocada por qualquer variedade
de bactéria do gênero Legionella. Os sintomas incluem
tosse, falta de ar, febre elevada, dores musculares e
dores de cabeça, e até náuseas, vômitos e diarreia.
Ela pode ser fatal em alguns casos e possui taxa de
mortalidade superior à da Covid-19. Embora não
existam dados oficiais, estima-se que ocorram no Brasil
algo entre três mil e cinco mil óbitos por ano causados
por essa pneumonia.
A bactéria também é responsável pela Febre
Pontiac, uma forma mais leve da legionelose e com
sintomas semelhantes, mas sem a pneumonia. Da
mesma forma, o contágio se dá pela inalação de
gotículas em spray ou aerossol (de chuveiros, saunas,
névoa, umidificadores, torres de refrigeração do
ar-condicionado ou fontes decorativas) e ainda pela
aspiração acidental de água. Algumas vezes as pessoas
expostas à bactéria não apresentam sintomas e na
maioria dos casos a Febre Pontiac é confundida com
uma gripe ou resfriado forte.
Como prevenir
Um grupo multidisciplinar levou seis anos para
construir a norma ABNT NBR 16824:2020, que
especifica os métodos para gerenciamento de
risco e práticas de prevenção. “Nesse período o
conhecimento sobre o tema foi aprofundado e o
A ABNT NBR 16824:2020 especifica
os métodos para gerenciamento
de risco e práticas para a
prevenção de legionelose, doença
associada aos sistemas prediais
coletivos de água em edificações
industriais, comerciais, de serviços,
públicos e residenciais.
resultado é que a norma brasileira é uma das mais
atualizadas dos mundo”, detalha Bensoussan, que
participou da elaboração da nova regulamentação.
“O ponto principal da norma é a avaliação de risco
de contaminação do sistema hidráulico de um
empreendimento. A avaliação é realizada por um
especialista, que fará também um plano técnico para
mitigação do risco. A norma traz uma metodologia
conhecida mundialmente para essa finalidade.
O especialista diz em que pontos será necessário
testar e como seguir a norma. Só fazer análise não é
suficiente, porque a água muda o tempo todo. Uma
amostra livre não quer dizer que a água não esteja
contaminada.”, finaliza.
SALDO POSITIVO
Novas regulamentações permitem
potencializar os resultados obtidos
pela melhor gestão e correta escolha
das tecnologias.
Segundo Lilian Sarrouf, coordenadora técnica do
Comitê de Meio Ambiente do Sinduscon-SP (Comasp)
e gestora do CB-002 – Construção Civil da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o ano de 2019
deixou saldo positivo no aumento da eficiência no
uso da água no Brasil. Foram publicadas a ABNT NBR
16782:2019 - Conservação de água em edificações
- Requisitos, procedimentos e diretrizes e a ABNT
NBR 16783:2019 - Uso de fontes alternativas de
água não potável em Edificações. Além disso, foi
revisada a ABNT NBR 15527:2019 - Água de chuva:
aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para
fins não potáveis - Requisitos.
O mercado entrou em 2020 já com essa nova
regulamentação técnica e da revisão da norma de
água de chuva. Normas existentes relacionadas a
sistemas prediais e que passam por revisão estão se
alinhando aos conceitos das normatizações de 2019.
“Para empreendedores e projetistas, que já trabalham
com edifícios sustentáveis, a regulamentação permitirá
potencializar os resultados pela melhor gestão e
correta escolha das tecnologias, encerra Lilian”.
GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020
52
O LEED HealthCare ajuda a tornar as
edificações hospitalares mais seguras
e eficientes e contribui para que os
ambientes sejam muito mais saudáveis
“As certificações são a confirmação das práticas
sustentáveis e ainda tèm muito para se desenvolver
no país”, afirma Eleonora Zioni, diretora-executiva
da Asclépio Consultoria e arquiteta especializada em
arquitetura para saúde.
Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento
de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, existem
hoje no Brasil cerca de 280 mil estabelecimentos de
saúde públicos ou privados. Desse total, 6.500 são
hospitais, a grande maioria com até 100 leitos e que
trabalham em regimes ambulatoriais ou de internação
em diversas especialidades e complexidades. Os demais
estabelecimentos, a grande maioria, são clínicas,
consultórios médicos e odontológicos, postos de
saúde, enfermarias e laboratórios.
Segundo Eleonora, esse
mercado é um importante
ator econômico, responsável
por uma movimentação
de aproximadamente 580
bilhões de reais por ano e
faz parte do Sistema Único
de Saúde (SUS) e da rede
suplementar. “O LEED é a
única certificação que tem
uma modalidade específica
para a saúde, a LEED
HealthCare, com normas
e padrões de desempenho
com a finalidade de certificar
o empreendimento e sua
operação. Ela se aplica a todos
esses 280 mil estabelecimentos de saúde”, destaca.
LEED Healthcare é o protocolo de certificação LEED
mais exigente e adequado para estabelecimentos de
saúde, pois contém itens específicos para incentivar a
saúde de todos os usuários. “Ela
exige a integração do projetos
de arquitetura e engenharias
desde o início do processo, requer
condições rigorosas de acesso à
luz natural para o bem-estar dos
usuários, assim como restrições
aos contaminantes nos materiais,
tintas, mobiliários e equipamentos
médicos são pré-requisitos para a
certificação que não existem em
outra modalidades”, completa
Eleonora.
A arquiteta lembra que existem
também ações de sustentabilidade
como a Rede Global de Hospitais
Verdes e Saudáveis e o Projeto
Hospitais Saudáveis, do qual
Espaços de bem-estar
SETOR HOSPITALAR
Eleonora Zioni, arquiteta
especializada em
arquitetura para saúde
e diretora executiva da
Asclépio Consultoria, de
São Paulo.
O Hospital Israelita Brasileiro
Albert Einstein obteve
certificação LEED Healthcare
em 2009.
53
participam mais de 200 hospitais
brasileiros. “Portanto temos
ainda 6.300 potenciais hospitais
no Brasil para adotarem a
LEED Healthcare em seus
projetos, reformas, operação e
manutenção”, contabiliza.
Hospitais sustentáveis
A infraestrutura hospitalar no Brasil precisa ser
ampliada e adequada às novas tecnologias. A
complexidade dos projetos para construção,
reforma, ampliação ou constantes adequações dos
estabelecimentos para a saúde constitui um grande
desafio para os profissionais envolvidos. Entender
a saúde e a vida humana como foco do negócio,
compreender como funciona o hospital, quais são
suas demandas, como mitigar os riscos constantes
de contaminação, a necessidade de atualizações
tecnológicas contínuas e a importância de oferecer
espaços que proporcionem bem-estar e autonomia
ao paciente são parte essencial do processo, que
também deve incorporar as técnicas da arquitetura
hospitalar sustentável.
“Um hospital sustentável é um equipamento social
que consegue ter ambientes saudáveis, prestar
serviços assistenciais aos pacientes e fazer bem
para a saúde das pessoas que trabalham ali e dos
visitantes, ao mesmo tempo em que consegue trazer
redução de custos fixos com água, energia, resíduos
e ainda cuidar das mudanças climáticas globais,
minimizando as emissões de carbono, por exemplo”,
define Eleonora.
Conforme ela define, o hospital é o edifício mais
complexo que existe, pois funciona como seis em
um. “Sempre comento que o hospital é a união de
edifício de escritórios shopping-center, hotel, indústria
e escola. Tudo isso exige também muito treinamento
e conscientização dos profissionais da equipe
multiprofissional de saúde para conseguir atingir
todas as metas sustentáveis acordadas”, explica.
A arquiteta destaca que um hospital funciona
24 horas por dia, 365 dias por ano, e que apesar
de precisar se manter sempre atualizado, não
pode parar. As técnicas da arquitetura hospitalar
sustentável tornam a execução das obras mais
segura e eficiente quando comparada aos métodos
tradicionais brasileiros.
Também as equipes de operação e manutenção
precisam atuar tendo em mente que o objetivo de
um hospital é cuidar da saúde e da vida humana. A
operação hospitalar sustentável se preocupa com a
qualidade ambiental interna como um todo, desde os
produtos de limpeza até a ventilação e renovação do
ar para que não prejudique a saúde de todos, inclusive
dos profissionais que estão trabalhando. “As pessoas
que frequentam o hospital não serão incomodadas
com uma obra de manutenção ou ampliação que se
preocupa com vários componentes, como o cheiro de
tinta que faz mal para a saúde ao liberar compostos
orgânicos voláteis (COV)”, exemplifica.
Eleonora atuou no processo de certificação LEED
Healthcare do Hospital Israelita Brasileiro Albert
Einstein, em 2009. “Participei do projeto, construção
e certificação, tendo sido o maior hospital certificado
LEED nível Gold em 2009 com 70 mil m2
. Na época eu
trabalhava em uma empresa multinacional, a Kahn, e fui
a sétima profissional certificada LEED no Brasil”, conta.
Além da LEED e da Hospitais Saudáveis, o Einstein possui
certificações como ISO 14001 e a ISO 50.001, na área
ambiental, e outras específicas de serviços de saúde,
como o Selo do Idoso; a JCI de qualidade e segurança
para paciente, colaborador e ambiente; a Planetree
para cuidados centrados na pessoa; e certificações
da Associação Internacional de Pesquisa Clínica e a
Magnet, acreditação de Enfermagem de Excelência.
Cobertura do
bloco E do Hospital
Israelita Albert
Einstein, onde foi
criada uma área
externa de convívio.
Imagens: Divulgação.
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  • 1. Certificações LEED, GBC Brasil Casa & Condomínio e GBC Zero Energy GREEN BUILDING COUNCIL ANUÁRIO 2020 ANO 2 / Nº 1 / MARÇO DE 2021 BRASIL GBC A Nova Grande Onda
  • 2.
  • 3.
  • 4. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 4 PRINCÍPIOS SUSTENTÁVEIS E SOLUÇÕES PREDIAIS MITSUBISHI ELECTRIC. É ASSIM QUE SE CONSTRÓI UM ÍCONE DE DESIGN E SUSTENTABILIDADE COMO A JAPAN HOUSE SÃO PAULO. Desde a sua inauguração, a Japan House São Paulo é um ícone de design e propósito. Agora, com a conquista da certificação máxima LEED PLATINUM em 2020, ela também se tornou um marco em construção e operação sustentável no Brasil e no mundo. Isso graças à união de boas práticas sustentáveis e todos os benefícios dos produtos Mitsubishi Electric. Por exemplo, o Sistema de Automação Predial da Mitsubishi Electric gera maior economia de energia por meio do controle de iluminação e climatização. Os inversores e controladores lógicos programáveis gerenciam a performance energética em todo o edifício. Já o sistema de ar-condicionado de alta eficiência garante qualidade de ar superior, com operação silenciosa, proporcionando mais conforto e bem-estar para todos os visitantes. Como você pode ver, juntos nós ajudamos a construir um edifício mais eficiente. VISITE O NOSSO SITE PARA SABER MAIS HTTP://WWW.JUNTOSCONSTRUIMOSMELHOR.COM/ Foto: Estevam Romera © 2020 Mitsubishi Electric Brasil, Inc. All rights reserved.
  • 5. 5
  • 6.
  • 7.
  • 8.
  • 9.
  • 10. Visite o nosso site e conheça mais sobre a Plaenge, no segmento industrial. » REFERÊNCIA NA EXECUÇÃO DE OBRAS SUSTENTÁVEIS Com expertise em empreendimentos que atendem os mais modernos critérios de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental, somos referência no segmento de obras com certificação LEED. Imagem da nova sede da cooperativa de crédito Sicredi União, em Maringá (PR) - Certificação Leed Platinum.
  • 11. GBC GREEN BUILDING COUNCIL ANUÁRIO 2020 BRASIL Certificações LEED, GBC Casa & Condomínio e GBC Zero Energy A Nova Grande Onda ANO 2 / Nº 1 / MARÇO DE 2021
  • 12. Somos a empresa do setor com maior número de projetos sustentáveis certificados ou em processo de certificação na região Sul do país. LAGUNA. CADA VEZ MAIS SUSTENTÁVEL, CADA VEZ MAIS INCONFUNDÍVEL. 41 3259 1801 construtoralaguna.com.br IGUAÇU 2820 LLUM Batel MAI Terraces ALMÁA Cabral ROC Batel IGUAÇU 2820 - Certificação LEED Gold LLUM Batel - 1° residencial do Brasil Pré Certificado LEED Gold Certificação conquistada em Janeiro de 2020 ROC Batel - Em processo de certificação GBC Condomínio Ouro ALMÁA Cabral - Em processo de certificação GBC Condomínio Platina MAI Terraces - Em processo de certificação GBC Condomínio Platina
  • 13. A Nova Grande Onda É com muita satisfação que lançamos mais uma edição do Anuário GBC Brasil, celebrando juntamente com as principais lideranças da construção, as conquistas, que brilhantemente ousam a elevar, continuamente, os patamares de consolidação e expansão do movimento nacional de green building. A nível mundial, o Brasil vem assumindo destaque e protagonismo cada vez maior, sendo um grato motivo de orgulho a todos nós. Atribuímos o sucesso do nosso movimento, à força da nossa comunidade. Digo, a comunidade expressiva de empresas membros do GBC, a representatividade do nosso Conselho de Administração, aos milhares de profissionais voluntários e as diversas associações parceiras. Não à toa que, com toda essa estrutura, enfrentamos qualquer crise e turbulência econômica com o pé firme no acelerador, dando rápidas respostas ao mercado, em respeito à relevância e à urgência do propósito que defendemos. Mesmo durante os últimos anos de estagnação da construção civil, ora por desafios econômicos, ora por desafios políticos e agora por desafios humanitários, nós continuamos a registrar novos projetos buscando a certificação green building. Em 2019, nós crescemos 45% comparado ao ano anterior e no primeiro semestre de 2020, mesmo em meio à pandemia, já havíamos registrado muito mais projetos novos do que no primeiro semestre de 2019. Felipe Faria CEO – Chief Executive Officer Green Building Council Brasil Board of Director Member
  • 14. Nossa comunidade é forte e guiada por propósito, sendo essa a explicação sobre capacidade de fazermos muito com pouco. No GBC temos a plena convicção que tudo é realizável, basta estarmos 100% empenhados atrás das metas estabelecidas. Em 2019, nosso Conselho de Administração provocou uma revisão de planejamento estratégico tendo como mote um crescimento exponencial dos nossos números em 5 e 10 anos. Resumidamente e de forma macro, uma forte agenda de discussão sobre desempenho, aumentar nossa influência e colaboração junto a políticas públicas de fomento e construir um canal direto de comunicação entre o movimento e a sociedade civil, de modo a tornar os benefícios dos green buildings mais conhecidos serão objetivos norteadores das iniciativas e atividades em desenvolvimento e em planejamento. Essas iniciativas encontrarão nesses objetivos, oportunidades e desafios nas dimensões que atualmente moldam a construção civil no mundo, a saber: digitalização favorecendo a conectividade de pessoas, dados e tecnologias; disrupção de comportamento e preferências sociais; riscos e consequências atreladas às mudanças globais. No GBC esse novo olhar estratégico iniciou há alguns anos, mesmo antes da pandemia, a prática de eventos online já havia sido implementada. Estabelecemos o uso dessa modalidade como forma de atingir o público de todo Brasil, sendo que em 2019 a nossa Conferência Internacional Greenbuilding Brasil teve mais de 50 sessões técnicas online e atingimos o público de 7 mil participantes. Seguindo essa premissa, em março de 2020, como forma de estimular que profissionais permanecessem seguros e motivados em casa, liberamos o acesso à nossa plataforma online de educação que conta com 4 cursos e mais de 100 sessões técnicas. Participaram 4 mil profissionais em 20 dias. Em 2019, por meio de todas as nossas mídias orgânicas, o GBC impactou mais de 5 milhões de pessoas, centenas de matérias online, três entrevistas especiais em rádios, mais de 10 matérias em jornais e cinco telejornais, incluindo SPTV, BAHIATV e Boa Noite Paraná, todos da Rede Globo. Uma outra característica interessante da nossa forma de atuar é sempre evidenciar o caráter de ganho econômico atrelado à sustentabilidade, consolidando o fato dos empreendimentos, soluções e serviços green building serem as melhores opções de negócio. E à medida que consolidamos o fato de sermos o melhor modelo de negócio, podemos explicar o quanto são diversificadas as tipologias de edificações que buscam a certificação, uma vez que temos prédios corporativos, públicos, shopping centers, escolas, hotéis, estádios, laboratórios, indústrias, logística, bairros, museus, lojas, restaurantes. Também estamos interiorizando o movimento, não ficando mais restrito às capitais. Edifícios verdes, conforto, saúde e bem-estar, prédios inteligentes, todos esses conceitos estão no guarda-chuva do Green Building Council Brasil, suas ferramentas de certificações, LEED, GBC CASA&CONDOMÍNIO e ZERO ENERGY, bem como nossas atividades. Somos a porta de entrada à inovação e à tecnologia. Por fim, finalizo enaltecendo todos os nossos profissionais e empresas, responsáveis pelo sucesso das realizações e avanços apresentados pela nossa indústria nacional da construção sustentável. Felipe Faria CEO – Chief Executive Officer Green Building Council Brasil Board of Director Member World Green Building Council
  • 15. Economia para você. Sustentabilidadepara o planeta. Entre em contato com nossas agências e saiba mais!
  • 16. A Nova Grande Onda Apresentação de Raul Penteado Mercado LEED Avanços do mercado LEED no Brasil Mercado das certificações cresce em todas as tipologias Bairros e Cidades Sustentáveis Vidas melhores dependem de edifícios, cidades e comunidades melhores Empreendimentos brasileiros com novo conceito Novas ferramentas para gerenciamento de portfólios Benchmarks de desempenho energético De olho na performance Desempenho em destaque Uso eficiente da Água Setor Hospitalar Espaços de bem-estar A voz do especialista Programa Zero Energy Edifícios públicos autossuficientes Setor Residencial Quando presente e futuro se encontram É preciso mudar o paradigma Economia Circular Planeta em vertigem Declaração Ambiental do Produto 21 anos de COMASP GBC Brasil Certificações LEED 2019 GBC Brasil Certificações LEED 2020 GBC Brasil Certificações Casa & Condomínio GBC Brasil Certificações Zero Energy Conteúdo 11 17 20 22 26 30 34 36 38 40 44 50 54 58 62 69 72 76 78 85 131 155 163 Os Projetos que buscam a certificação LEED são analisados por 9 dimensões. Todas possuem pré-requisitos e créditos que a medida que atendidos, garantem pontos à edificação. Os níveis são: Certified, Silver, Gold e Platinum. Categorias da versão 3 (2009): LEED NC (New Construction), LEED CS (Core and Shell), LEED HC (Healthcare), LEED for Schools, LEED for Retail, LEED EBOM (Existing buildings operation and maintenance), LEED CI (Commercial Interiors), LEED ND (Neighborhood). Categorias da versão 4 (versão atual): LEED BD+C: New Construction; Core and Shell; Schools; Retail; Healthcare; Data Centers; Hospitality; Warehouses and Distribution Centers. LEED O+M: Existing Buildings; Data Centers; Hospitality; Warehouses and Distribution Centers; Schools; Retail. LEED ID+C: Commercial Interiors; Retail; Hospitality. LEED ND: LEED ND: Plan; LEED ND: Built Project.
  • 17.
  • 18. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 18 J.J.Carol Editora Tel +55 (11) 3871-1888 jacques@jjcarol.com.br www.jjcarol.com.br CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente GBC Brasil Raul Penteado Presidente, RSMF Empreendimentos Vice-Presidente GBC Brasil José Moulin Netto CEO, NEXTA MEMBROS DO CONSELHO Adriano Sartori Vice-Presidente, CBRE Angelo Derenze Diretor Geral, Shopping D&D Carlos Betancourt Presidente, Bresco Celina Antunes CEO América do Sul, Cushman&Wakefield Ednelson Ivantes Diretor Executivo, Plaenge Industrial Guilherme Bertani CEO, DOCOL Paulo Mancio Senior Vice-Presidente, Accorhotels Paulo Perez Diretor, Saint Gobain Robert Harley Presidente, JHSF Malls Roberto Aflalo Sócio-Diretor, Aflalo/Gasperine Virginia Sodré Sócia-Diretora, Inifinitytech CEO Green Building Council Brasil Felipe Faria DIRETOR EXECUTIVO Jacques Rutman jacques@jjcarol.com.br PROJETO GRÁFICO Jackie Carol REDAÇÃO Nanci Corbioli - MTb 21838/SP REVISÃO Alessandra Angelo RESPONSÁVEIS DO GBC Enzo Tessitore e Maíra Macedo Capa: Jackie Carol Crédito da imagem: Newbi1 - Dreamstime.com ANO 2 / Nº 1 / MARÇO DE 2021 As imagens e textos que não estão creditados são de divulgação das empresas, que assumem a responsabilidade sobre os respectivos copyrights. As matérias de autoria de colaboradores e anunciantes não refletem, necessariamente, a opinião da Editora. Todos os esforços foram feitos para reconhecer os direitos autorais das imagens publicadas neste publicação. A editora agradece qualquer informação relativa a autoria, titularidade e/ou outros dados, se comprometendo a incluí-los em edições futuras. CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Estevam Romera Estúdio 071 Gerson Lima Iran Oliveira Marcelo Donadussi Nando Fischer Rogério Albuquerque Samuel Allard
  • 19. 19 Com muita satisfação, celebramos expressivos resultados como a quinta posição no ranking de 180 países, em que a certificação LEED se faz presente, ou os mais de 50 milhões de m2 que estão buscando as certificações do GBC Brasil. No segmento residencial, onde começamos a reforçar presença, o valor total de vendas das unidades familiares em edificações registradas ou certificadas GBC CASA&CONDOMÍNIO somam R$4 bilhões. Disseminamos as informações, práticas e casos de sucesso de construções sustentáveis a milhões de brasileiros. Estamos falando de edificações que alinham desenvolvimento econômico com a redução média de 25% em energia, 40% a 60% de água, desviam mais de 80% dos resíduos de aterros sanitários, melhora de 8% a 11% da produtividade de funcionário em nossos escritórios, e impactam positivamente na saúde e bem-estar das pessoas, seja no trabalho ou em suas casas. Um dos principais desafios do GBC Brasil é a característica de ser uma entidade multidisciplinar e multisetorial. Desafio que também nos traz uma oportunidade única de se valer do poder da colaboração, conhecimento e dedicação de cada profissional e empresa associada como forma de garantir a multiplicação dos nossos resultados. As nossas iniciativas estão bem posicionadas, buscando incentivos financeiros ou direcionando investimento a práticas e empreendimentos green building, contribuição e destaque à inovação, intenso Programa de Educação, certificação de empreendimentos, comunicação constante acerca dos benefícios do nosso movimento aos diversos públicos, fomento a políticas públicas e colaboração. Contribuímos positivamente a diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, bem como conduzimos a transformação do mercado com base nos princípios do North Star Goals, mudanças climáticas, saúde e bem-estar, e economia circular. Contudo, há total alinhamento com as expectativas dos principais fundos de pensão e investidores do mercado imobiliário, em suas decisões acerca das opções mais prósperas a serem priorizadas no que tange novos investimentos. Raul Penteado, Presidente Green Building Council Brasil
  • 20. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 20 Hoje, juntamente com os demais conselheiros e a equipe executiva, e seguro do apoio de cada empresa-membro, comemoraremos a cada dia nossos avanços conjuntos. Trabalharemos pautas importantes à nossa economia e sociedade, além de altamente relevantes às necessidades discutidas no mundo e que beneficiam a coletividade. Os recentes anos estão sendo desafiadores do ponto de vista econômico e político, e em particular 2020, em que vivenciamos uma pandemia cruel em todos os sentidos e com efeitos colaterais diversos, inclusive ultrapassando questões sanitárias ou de saúde pública, passando a influenciar nossos negócios, nossas prioridades e preferências de consumo. Diante toda essa circunstância, não há como negar a conclusão de que as pessoas, e por que não, nossas empresas, passam a absorver uma visão mais holística e humana como base para tomada de decisões e definições estratégicas. Dito isto, com muita satisfação vejo que as atividades do GBC Brasil e os números de projetos seguem aumentando como um indicativo que o processo de construção coletiva que estamos conjuntamente liderando está alinhado e até mesmo antecipou as condicionantes de uma nova construção civil. Finalizo destacando o conceito de conforto, saúde e bem-estar, que já discutíamos nos escritórios e residências e que ganham mais força após os acontecimentos recentes. Vejo uma enorme oportunidade de evidenciarmos esse benefício atrelado às edificações green buildings como forma de pavimentar um canal de comunicação entre o nosso movimento e a sociedade civil. A forte rede colaborativa que construímos para viabilizar a transformação de mercado esperada necessita da participação da iniciativa privada, associações, setor público, academia e sociedade civil. Reforçaremos todos os elos dessa corrente. Nosso planeta não pode esperar. Precisamos agir rápido na inovação de sistemas construtivos, incluindo materiais e processos, e com o apoio valioso de regulamentações e certificações, vamos juntos, acelerar a construção do Brasil que queremos. Raul Penteado Presidente Green Building Council Brasil
  • 21. 21
  • 22. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 22 O Brasil mantém sua posição de protagonismo dentro do cenário mundial, com resultados promissores em 2020, mesmo com a pandemia do novo coronavírus. Há mais de 20 anos, o LEED vem disponibilizando em todo o mundo parâmetros para projetar, construir e manter edifícios sustentáveis de alto desempenho. No Brasil, a primeira certificação foi concedida a uma agência bancária em 2007. Ao longo dos anos seguintes, o LEED se consolidou no país, com grande volume de construções de diferentes tipologias certificadas, apesar das crises nos campos da política e da economia – em 2015 o Brasil assumiu a quinta posição entre os países com mais certificações LEED no mundo. O ano de 2020 tem se mostrado particularmente desafiador, obrigando empresas, poder público e sociedade a refletirem melhor sobre a forma como vivemos e conduzimos nossos negócios. O impacto da pandemia será sentido nos próximos anos, na economia, nas pessoas e em nosso modo de vida. Dentro do universo dos Greenbuildings, as discussões se intensificaram e a forma como projetamos, construímos e operamos nossas edificações nunca foi tão salutar. Pautas como Cidades Inteligentes, Performance, Saúde & Bem-Estar, Resiliência e Equidade ganharam não apenas relevância, como praticamente se mostraram obrigatórias. A nova visão do USGBC e do GBCI baseia-se no conceito de “Pessoas saudáveis em lugares saudáveis, resultam em uma economia saudável”. Toda a nossa estratégia e oferta de soluções está alinhada com esta visão. Não precisamos escolher entre sustentabilidade, saúde pública e economia saudável, o futuro exigirá que essas frentes caminhem juntas. Avanços do mercado LEED no Brasil Sandrino Beltrane Head de Desenvolvimento de Negócios no Brasil pelo GBCI Inc. Várias mudanças já foram feitas e apresenta- das aos mercados por meio dos Town Halls. Dentre inúmeros exem- plos, podemos citar as atualizações do LEED v4.1, novos créditos-piloto que foram criados, mudanças nos processos de revisão do GBCI, novas funcionali- dades do ARC, etc. No conceito da escala urbana, temos o crescimento do programa LEED for Cities & Communities, que auxilia líderes locais, planejadores e desenvolvedores a criarem comunidades e cidades mais inteligentes, por meio de planos específicos para sistemas naturais, energia, água, resíduos, transportes e muitos outros fatores que afetam diretamente a qualidade de vida. Ao longo deste anuário temos um artigo específico sobre o tema, além da apresentação de dois cases icônicos implantados no norte e no sul do país – a Vila Americana, em Belterra, no Pará, e a Cidade dos Lagos, em Guarapuava, no Paraná. No âmbito das edificações existentes, temos a plataforma de desempenho ARC e todas as suas novas funcionalidades. ARC é uma plataforma de tecnologia que permite às equipes supervisionar a sustentabilidade de edifícios, comunidades e cidades, via coleta de dados, gerenciamento de informações, avaliação, medição e melhoria contínua de performance. ARC promove, além de performance e benefícios operacionais – saúde, bem-estar e melhorada qualidade MERCADO LEED
  • 23. 23 Sandrino Beltrane Head de Desenvolvimento de Negócios no Brasil pelo GBCI Inc. de vida. Ao longo deste anuário, vocês encontrarão artigos específicos que tratam das funcionalidades da plataforma, além de cases brasileiros de sucesso. O Brasil, como não poderia deixar de ser, mantém sua posição de protagonismo dentro do cenário mundial, com resultados promissores este ano, mesmo com a pandemia do novo coronavírus - o que ratifica os Greenbuildings como a melhor opção de negócio, mesmo durante a crise! Nós nos mantivemos entre os cinco países do mundo com maior quantidade de projetos LEED (fora dos EUA), superando a marca de 1.500. Em 2020, até o fechamento deste artigo, o Brasil tinha 86 novos projetos registrados, com destaques para o setor varejista (60%) e segmento logístico, além da manutenção do protagonismo dos End-users. Com relação à plataforma de desempenho ARC, consolidamos de vez a nossa liderança, ultrapassando os 700 projetos ativos na plataforma (500 deles somente em 2020, mesmo durante a pandemia do coronavírus). O Brasil é o segundo país do mundo em número de projetos ativos, atrás somente dos EUA, o que evidencia o amadurecimento do setor frente à necessidade de se operar edifícios de forma sustentável e eficiente – performance é o futuro dos Greenbuildings! Números incontestáveis, portfólio de soluções alinhado com as tendências internacionais, base sólida de clientes e parceiros, membros atuantes, liderança técnica e de mercado – ingredientes que mantêm o Brasil como um dos mercados mais atrativos do mundo para se investir em Greenbuilding!
  • 24. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 24 Em todo o mundo, as certificações LEED avançam entre as mais diferentes tipologias, como prédios de escritórios e residenciais, hotéis e aeroportos, escolas e hospitais, shopping centers, restaurantes e também museus. No Brasil, o icônico Museu da Língua Portuguesa (MLP), museu público e o primeiro do mundo dedicado a um idioma, está na reta final do processo de certificação. Inaugurado em 2006, o MLP tem projeto dos arquitetos Paulo Mendes da Rocha (que nesse mesmo ano conquistou Pritzker, prêmio internacional considerado o Oscar da arquitetura) e Pedro Mendes da Rocha. O museu ocupa parte do prédio da histórica Estação da Luz, na região central de São Paulo, edificação tombada pelo patrimônio do Estado em 1982. Mercado das certificações cresce em todas as tipologias Museu da Língua Portuguesa e Grupo Madero são exemplos de como a certificação avança entre clientes públicos e privados. Em dezembro de 2015, um incêndio destruiu o museu, comprometendo dois andares e a estrutura do telhado. Essencialmente digital, o acervo foi recuperado por meio de backups. Pouco mais de um mês depois, em janeiro do ano seguinte, o Governo do Estado de São Paulo, a Fundação Roberto Marinho e a IDBrasil, organização responsável pela gestão do museu, assinaram o convênio que viabilizou a recuperação do prédio e também do Museu da Língua Portuguesa. O acordo já previa incorporar os padrões de sustentabilidade para atualizar a edificação. Os projetos e obras desenvolvidos visavam ao LEED v4 BD+C NC em nível Silver. A consultoria de sustentabilidade está a cargo do Centro de Tecnologia das Edificações (CTE) e o estudo de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), para verificar reduções de impactos ambientais desde a etapa de reconstrução do museu, ficou sob o comando da Fundação Espaço Eco (FEE). O objetivo desse estudo é auxiliar a revisão dos projetos, de modo a atualizar as normas e legislações que sofreram ajustes e aprimoramentos desde a inauguração do museu e incorporar os requisitos de sustentabilidade, fazendo da construção um edifício verde. Pedro Mendes da Rocha, um dos autores do projeto original do museu, é responsável pelas adaptações arquitetônicas necessárias. De acordo com Guilherme Vilares, consultor de obras sustentáveis do CTE, esse projeto teve como grande destaque o processo da restauração, planejado para que tudo fosse feito de forma organizada e ambientalmente correta. “Esse é um grande diferencial no mercado de obras. Tinha uma equipe só para restaurar a madeira no canteiro. MERCADO LEED Estação da Luz em foto tirada logo após a conclusão das obras de recuperação do prédio e do Museu da Língua Portuguesa, no final de 2019. A estação fica de frente para o Parque Jardim da Luz. Ana Mello
  • 25. 25 A ala que não foi queimada também teve sua pintura restaurada para que fosse possível encontrar as cores mais antigas usadas”, detalha. Segundo Luis Leal, consultor de sustentabilidade do CTE, o projeto reaproveita ao máximo os materiais do edifício antigo. “Parte da madeira dos telhados pôde ser reutilizada em esquadrias e portas. As madeiras novas são da região amazônica e têm o selo FSC, o que garantiu o crédito de origem de matérias- primas”, explica. De acordo com informações fornecidas pela Fundação Roberto Marinho, o MLP consumia em 2015 mais de 600 mil litros de água e aproximadamente 900 mil kWh de energia elétrica. O projeto buscou formas de reduzir esses números e as principais modificações abrangem os sistemas de ar-condicionado e de iluminação, bem mais eficientes que os anteriores. “O ar-condicionado traz mais conforto e garantia de maior renovação de ar. A iluminação agora conta com sensores e sistema de automação. Nas áreas antigas, onde não pode haver intervenção maior, foram utilizados sensores de luminosidade e de ocupação e interruptores sem fio. O sistema de incêndio foi revisado e ganhou rede de sprinkler”, comenta Leal. Os novos metais sanitários são mais econômicos e possuem restritores de vazão, arejadores e fechamento automático. “Não havia espaço para estação de reúso e seria uma intervenção muito grande. Parte da instalação é muito antiga e na área não atingida pelo fogo ela foi reutilizada”, completa Vilares. As obras foram concluídas em dezembro de 2019 e a reinauguração prevista para junho de 2020 foi adiada devido à pandemia. Mais detalhes sobre a reforma e fotos internas serão divulgados somente após a reabertura do MLP. Com projeto do arquiteto britânico Charles Henry Driver, o prédio atual da Estação da Luz tem influências inglesas e neoclássicas. Ele foi construído pela São Paulo Railway entre 1895 e 1901. Ana Mello
  • 26. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 26 Grupo tem 39 restaurantes certificados Entre os clientes privados com mais certificações LEED, o destaque no Brasil fica para o Grupo Madero. Dos mais de 200 restaurantes das marcas Madero e Jeronimo espalhadas pelo país, 39 têm certificados LEED (5 em nível Gold, 20 Silver e 14 Certified), além de outros 50 em processo de certificação. Da construção dos restaurantes à Cozinha Central do Grupo, em Ponta Grossa, PR, são vários os exemplos de ações sustentáveis em conformidade com a certificação LEED, a começar pelo sistema de destinação de refugos de obras. Hoje, em média, 90% dos resíduos de obras do Grupo Madero são destinados ao reúso ou reciclagem. Já a Cozinha Central é equipada com uma Estação de Tratamento de Efluentes, responsável pelo tratamento da água utilizada que é devolvida à natureza 100% pura e tratada. Essa água é tão limpa que serve como lar para os peixes mantidos no lago na parte externa da Cozinha Central. A partir de suas diretrizes e práticas sustentáveis, o Grupo Madero consegue reduzir em média 35% o consumo de água nos restaurantes Madero Steak House e em 14% o de energia elétrica. A consultoria de sustentabilidade está a cargo da Forte Desenvolvimento Sustentável, que atua em todas as etapas do processo de certificação. “São realizadas ações que englobam desde a assessoria ao desenvolvimento dos projetos seguindo as premissas do LEED, simulações energéticas, acompanhamento da obra e comissionamento dos sistemas. Sempre integrando os principais players envolvidos e garantindo a excelência em atendimento às metas de cada projeto. Como Consultoria em Sustentabilidade, buscamos sempre trazer as melhores soluções para nossos clientes, de forma que os projetos sejam referências inovadoras em resultados”, afirma Eduardo Mattos, Gerente de Sustentabilidade da Forte. Toda a produção de hortifrútis orgânicos da Fazenda Madero, iniciada em janeiro de 2018, é hoje 100% absorvida pelos restaurantes Madero e Jeronimo. O Grupo Madero também continua apoiando outros produtores de orgânicos, para complementar o fornecimento de alface, tomate, brócolis, couve-flor, morango, cenoura, limão, salsinha, cebolinha e alho, para as receitas dos pratos na Cozinha Central. Localizada em Palmeira, PR, a Fazenda Madero contou com investimentos que ultrapassam R$ 6,5 milhões em infraestrutura, estufas, câmaras refrigeradas, captação de água e irrigação de alta tecnologia, rendendo- lhe a certificação do selo Orgânico Brasil, conferido pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que garante ao consumidor alimentos dentro dos preceitos e normas nacionais de produção orgânica. A produção de hortifrútis orgânicos da Fazenda Madero é totalmente absorvida pelos restaurantes Madero e Jeronimo. Imagem: Divulgação Gerson Lima Madero Steak House no Shopping Aricanduva, em São Paulo.
  • 27. 27 SUSTENTABILIDADE A SEU ALCANCE, ONDE QUER QUE VOCÊ ESTEJA Treinamentos com foco em sustentabilidade, conforto, saúde e bem-estar na construção. CURSOS LIVRES COM CARGA HORÁRIA DE 3 A 20 HORAS COM CERTIFICADO DE CONCLUSÃO. CURSOS ONLINE GBC BRASIL gbcbrasil.org.br/cursos
  • 28. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 28 O LEED for Cities e o LEED for Communities foram desenvolvidos para ajudar líderes a medir o impacto e melhorar o patamar de sustentabilidade desses empreendimentos Por mais de duas décadas, o LEED forneceu uma estrutura para projetar, construir e manter edifícios sustentáveis de alto desempenho. Como resultado, milhões de pessoas em 178 países estão vivendo, trabalhando e aprendendo em edifícios com certificação LEED. Isso mudou fundamentalmente a maneira como pensamos sobre edifícios e transformou a indústria da construção civil. Agora, o LEED também está revolucionando nossas comunidades e cidades. O USGBC vem expandindo sua visão para impactar cidades e comunidades. Reconhecendo que não havia uma maneira consistente de medir desempenho e sustentabilidade, introduzimos dois novos programas de certificação em dezembro de 2016, o LEED for Cities e o LEED for Communities. Formalmente conhecidos como LEED para Cidades e Comunidades, eles foram pensados para ajudar líderes a medir o impacto do empreendimento, melhorar a sustentabilidade e a desenvolver planos para energia limpa, água, lixo, transporte e muitos outros fatores que contribuem para a qualidade de vida. O objetivo é transformar a maneira como as cidades e comunidades são operadas para melhorar o padrão de vida das pessoas e incentivar a melhoria contínua. Afinal, melhores prédios - e melhores cidades e comunidades - são iguais a vidas melhores. Hoje já são 110 cidades e comunidades no mundo certificadas sob o LEED for Cities and Communities. A lista inclui as cidades de Chicago, Washington, D.C., Lancaster, San Jose, Savona, Phoenix, Seattle, Atlanta, Hoboken, Franklin, Atlantic Beach, Santa Fé, Orlando, entre outras. Também já foram certificadas as comunidades de Arlington County, San Diego County, Golden Triangle Business Improvement District em Washington D.C., Aeroporto Internacional de Atlanta, Stuyvesant Town, Peter Cooper Village em Nova York e Songdo International Business District, entre outras . Edifício por edifício, rua por rua, bairro por bairro - e agora cidade por cidade -, os espaços com certificação LEED estão transformando vidas. Com a recente certificação LEED Platinum, o Golden Triangle Business Improvement District em Washington, D.C., tornou-se um exemplo das muitas maneiras que o LEED pode ser usado para apoiar pessoas, empresas e bairros. Edifícios melhores Localizada em um edifício LEED Gold no centro do Distrito de Colúmbia, onde fica Washignton D.C., a sede do USGBC é um dos três espaços com certificação LEED dentro do edifício. Em 2010, o escritório do USGBC se tornou o primeiro a certificar sob o sistema de classificação LEED 2009 ID+C (Interior Design & Construction). Sua equipe de facilities continua a manter o mais alto nível de desempenho para os funcionários do USGBC, monitorando energia, resíduos, água, transporte e experiência humana na plataforma de desempenho Arc (https://arcskoru.com). Como resultado de seu compromisso com a melhoria contínua, o espaço foi recertificado LEED Platinum em junho de 2019, já sob o LEED v4.1. Faça um tour virtual pelo endereço https://www. usgbc.org/articles/take-peek-inside-management- usgbc-headquarters e veja as várias maneiras com que o espaço apoia as pessoas e o planeta. Vidas melhores dependem de edifícios, cidades e comunidades melhores DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
  • 29. 29 Comunidades melhores O USGBC faz parte do Golden Triangle Business Improvement District (GTBID), que em 2019 alcançou o LEED Platinum sob o LEED for Communities. Como a primeira melhoria em um distrito de negócios com certificação LEED do mundo, o GTBID usa o LEED para demonstrar como está criando um ambiente limpo, seguro e vibrante para mais de 89 mil pessoas. Por meio de parcerias e iniciativas estratégicas, os visitantes experimentam: • Mais de 63 edifícios certificados pelo LEED, representando 42% da área total construída do GTBID, o que ressalta o valor dos projetos sustentáveis para o bem-estar das pessoas e o benefício da eficiência energética para proprietários e investidores. • Mais de 400 bicicletários, bem como ciclovias protegidas, para ajudar a incentivar o transporte alternativo e seguro pelo bairro. • Seis jardins de chuva - com mais dez previstos para o final de novembro de 2020 - que capturam e filtram milhões de litros de escoamento de águas pluviais anualmente e fornecem refúgio e local de descanso para polinizadores e pessoas. • Corredores mais ecológicos e uma cobertura de árvores expandida que exigiam a conversão de mais de 1.000 metros quadrados de asfalto e concreto em espaço verde, adicionando 400 metros quadrados adicionais à área. Cidades melhores Nas palavras da prefeita Muriel Bowser, do Distrito de Colúmbia, “é do melhor interesse da segurança, economia e futuro de Washington, D.C., levar a sustentabilidade e a resiliência a sério”. O distrito tornou-se LEED Platinum e foi o primeiro com certificação LEED do mundo (2017). Ele abriga mais de 1620 edifícios com certificação LEED e foi o primeiro distrito de aprimoramento de negócios com certificação LEED. Ano após ano, o distrito registra mais metros quadrados de espaço com certificação LEED por pessoa do que qualquer outra localidade dos Estados Unidos. O LEED for Cities serve como uma ferramenta valiosa para o distrito, pois trabalha em direção às metas descritas em seu Plano D.C. Sustentável, ajudando a cidade a acompanhar o progresso e os resultados para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, apoiar a inovação de energia limpa e focar na prosperidade e habitabilidade inclusivas em todas as oito áreas. Sede do USGBC em Washington, D.C. Parque Duke Ellington no Golden Triangle District.
  • 30. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 30 Toda certificação LEED apoia a visão do USGBC de edifícios e comunidades que regeneram e sustentam a saúde e a vitalidade de toda a vida dentro de uma geração. Nos últimos 25 anos, o LEED se concentrou em criar a estrutura que explica o que significa ser um edifício verde - definindo esse padrão para a nossa primeira geração. Agora, ao olharmos para a próxima geração, devemos considerar como as decisões que tomamos hoje afetarão o desempenho de amanhã. A próxima fase do nosso trabalho deve integrar perfeitamente edifícios nas comunidades para garantir um futuro sustentável para todos nós. O foco nos resultados gerados pelos nossos esforços de sustentabilidade nos incentivará a elevar os padrões para que possamos melhorar verdadeiramente a saúde dos cidadãos, proporcionar crescimento econômico e tomar as decisões corretas para o nosso planeta, nossos recursos e nossos semelhantes. Vatsal Bhatt Vice-presidente de Communities do U.S. Green Building Council (USGBC) Washington, D.C., cidade LEED Platinum Simplificando, devemos pensar além dos próprios edifícios. O Green Building Council (GBC) oferece as certificações LEED for Cities e LEED for Communities, ferramentas que ajudam a planejar e a ponderar o desempenho de cidades, bairros e loteamentos, sistemas naturais, energia, água, resíduos, transporte e outros fatores que contribuem para a qualidade de vida. Os programas de certificação revolucionam a forma como as cidades e comunidades são planejadas, desenvolvidas e operadas para melhorar sua sustentabilidade geral e qualidade de vida. A estrutura LEED engloba indicadores e estratégias de desempenho social, econômico e ambiental com um meio claro e baseado em dados de benchmarking e comunicação do progresso. O programa está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e é influenciado por nosso envolvimento com centenas de cidades e comunidades em todo o mundo.
  • 31. 31 8% 10% 12% 20% 22% 28% MUDANÇASCLIMÁTICAS SAÚDEEBEM-ESTAR BENEFÍCIOSECONÔMICOS RECURSOSHÍDRICOS BIODIVERSIDADE EDUCAÇÃO Os ambientes construídos possuem um enorme impacto no meio ambiente, econo- mia, saúde e bem-estar dos usuários. Avan- ços na ciência da construção, tecnologia, serviços e sistemas estão cada vez mais disponíveis para os projetistas, construtores e proprietários que querem construir verde e maximizar o desempenho econômico e ambiental. O GBC Brasil acredita ser extremamente im- portante criar parâmetros técnicos e desen- volver conceitos sustentáveis para o setor residencial no país. Trata-se de uma ferra- menta em benefício do futuro morador, re- dução de custos operacionais, evidencia que a edificação possui desempenho superior ao exigido pelas normas técnicas que discipli- nam os diversos sistemas de uma edificação, valorização do empreendimento e foco na saúde, conforto e bem-estar dos moradores. As Certificações GBC Brasil Casa & Condomínio visam promover a trans- formação do setor da construção por apara alcançar 6 objetivos: SAÚDE E BEM-ESTAR Agora no setor residencial
  • 32. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 32 O bairro Cidade dos Lagos, em Guarapuava, no Paraná, e a Vila Americana, em Belterra, no Pará, estão localizados em extremos opostos do país e têm em comum o objetivo de conquistar as certificações LEED for Cities e LEED for Communities, ferramentas que ajudam gestores e líderes locais a desenvolver planos responsáveis, sustentáveis e específicos para a infraestrutura urbana de cidades, bairros ou grandes loteamentos. Começam a surgir no Brasil os primeiros projetos urbanos que buscam as certificações LEED for Cities e LEED for Communities. No sul do país, a cidade de Guarapuava está se desenvolvendo e se expandindo com o bairro inteligente Cidade dos Lagos, o primeiro empreendimento brasileiro registrado para obter a cerificação LEED for Communities em nível Gold. A Cidade dos Lagos é um caso especial em que um empreendimento ajuda a impulsionar o desenvolvimento de uma cidade com cerca de 200 mil habitantes. O loteamento tem cerca de 3 milhões de metros quadrados e está situado entre as rodovias PR- 466 e BR-277. Sua implantação teve início em 2010 e hoje ele conta com prédios comerciais e residenciais, um shopping center, instituições de ensino, hospitais e centros médicos especializados, centro de tecnologia e inovação e centro de eventos, entre outros projetos. Desde o início o empreendimento foi pensado para que seus moradores ficassem perto de tudo. “O objetivo sempre foi fazer um bairro em que as pessoas pudessem morar, estudar, trabalhar, andar a pé, de bicicleta, ter qualidade de vida”, afirma Vilso Dubena, diretor da Cidade dos Lagos. “Daqui a 100 ou 200 anos não haverá problemas de alagamento. Temos tubulações de águas pluviais superdimensionadas e já organizamos lagos de contenção para que quando o empreendimento estiver 70% habitado e coberto de asfalto não venha a sofrer com enchentes de colapso”, completa o diretor. No total o empreendimento possui 43,5 hectares de área verde preservada e nenhuma porção desse espaço foi impactada pela implantação das vias. Existem áreas de preservação permanente ao redor do bairro, além de uma nascente totalmente preservada e áreas destinadas ao turismo local, com trilhas e cachoeiras. “Plantamos várias espécies de frutas silvestres na região para os animais e para as pessoas”, destaca Dubena. Quando o empreendimento ainda estava na prancheta, a Cidade dos Lagos não encontrou um loteador ou incorporador que fizesse o loteamento no modelo desejado pela empresa. “Queríamos primeiro resolver as questões ambientais. Temos grande área de preservação, nossos recuos são o dobro do que a prefeitura exige, as calçadas são mais largas. Fizemos doações para áreas públicas como faculdades e hospitais e o que sobrou é o que está sendo loteado. Os empreendimentos obrigatoriamente devem ter carregador para carro elétrico, bicicleta elétrica. Isso já está organizado, já faz parte do nosso plano diretor. Guarapuava tem 200 anos e por aqui existem cidades mais novas e mais desenvolvidas. Quisemos dar um norte, uma arrancada para Guarapuava. A qualidade de vida depende da qualidade do emprego, que por sua vez depende de projetos bem estruturados e com atrativos para os investidores. Para isso, tínhamos que desenvolver algo que realmente chamasse atenção, que se tornasse uma referência”, conta Dubena. Planejamento urbano De acordo com Eduardo Mattos, sócio-gerente de sustentabilidade da Forte Desenvolvimento Sustentável, consultoria que está conduzindo o processo de certificação, as principais estratégias do Cidade dos Lagos estão diretamente ligadas ao planejamento do desenvolvimento urbano Empreendimentos brasileiros com novo conceito DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES
  • 33. para os próximos anos. São adotadas medidas para descentralização de recursos, incentivando a caminhada ou uso de transportes não poluentes. Todas as ruas têm ciclovia ou ciclofaixa, área para pedestres e acessibilidade. “A taxa de área verde por habitante é bem elevada e as estimativas de emissões de gases do efeito estufa são muito baixas, o que ajudou muito o empreendimento com relação à pontuação no LEED. O investimento e planejamento em infraestrutura capaz de suportar o público projetado é o grande diferencial para esse projeto se tornar um case mundial de desenvolvimento urbano”, afirma Mattos. A iluminação pública é eficiente e possui direcionamento dos feixes de luz de forma a não atrapalhar a fauna noturna e a não ultrapassar os limites do bairro. O plano de resiliência elaborado engloba todos os principais riscos associados a intempéries, com destaque na probabilidade de ocorrência de enchentes praticamente nula, devido ao sistema bem projetado de drenagem com lagos de acumulação de águas pluviais. De acordo com Mattos, o empreendimento é planejado para que se promovam os chamados centros compactos e completos, com facilidade de acesso a recursos comunitários, como hospitais, mercados, bancos e farmácias, em diferentes localizações do bairro. O transporte público já foi planejado conforme parametrização internacional do número mínimo de viagens, de forma a integrar também o bairro todo ao município. Além disso, existe planejamento para instalação futura de estações de carregamento elétrico, conforme o aumento da demanda. “A disponibilidade hídrica é planejada de forma integrada por meio de um balanço hídrico, reduzindo os riscos de escassez no futuro. A qualidade da água é ainda acompanhada por meio dos relatórios periódicos da concessionária local”, detalha Mattos. Embora ainda não exista sistema de energia renovável planejado no empreendimento, estão em andamento alguns estudos de viabilidade para sua implantação. O sistema público de iluminação e bombas é baseado em equipamentos de alta eficiência, reduzindo o consumo energético do bairro. Quanto às políticas para resíduos e reciclagem, existem planos para a execução de estações de coleta seletiva em locais estratégicos, fomentando a separação de resíduos por meio da colaboração de todos os usuários. Vista geral do bairro inteligente Cidade dos Lagos, em Guarapuava, PR. Maquete mostra a dimensão do empreendimento que tem cerca de 3 milhões de m2 . Calçadas largas, acessibilidade e espaços para esporte e lazer. Paradas de ônibus equipadas com painéis solares e tomadas de uso público.
  • 34. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 34 chegar na vila, seus representantes identificaram uma série de prédios históricos tombados que poderiam ganhar novo uso. Assim nasceu a ideia de um projeto maior, voltado para a população local e também para turistas. A ideia era combinar riquezas naturais com sustentabilidade, buscando mostrar os valores da Amazônia e desenvolver uma economia que mantenha a floresta de pé. “Além do museu, estão previstos passeios para conhecer as árvores usadas para medicamentos, as comunidades ao longo do Rio Tapajós e suas economias baseadas na castanha do Pará e no guaraná. O projeto também deve ser um estímulo ao empreendedorismo, uma ponte entre as comunidades e o mercado comprador e, principalmente, apresentar alternativas para que os produtores locais não coloquem fogo na mata para dar lugar a gado ou soja. É mais viável economicamente deixar a floresta de pé e aproveitar os recursos que ela oferece do que dar lugar a gado, garimpo ou monoculturas”, explica Gomes Pinto. A primeira fase do projeto deve levar três anos para ser implantada e prevê, além do museu, centro gastronômico, hotel e escola abraçando o núcleo da cidade e funcionando em edificações existentes. O projeto é do arquiteto Arthur Casas. “Todos os empreendimentos serão certificados, mas ainda não registramos nenhum. Estamos justamente na fase de diagnósticos para definir qual será certificação de cada edificação e da vizinhança como um todo”, explica Gomes Pinto. As estratégias de certificação estão em desenvolvimento. Já é dado como certo que o empreendimento contará com uma fazenda solar, com os painéis instalados no chão. Haverá um contrato para lançar essa energia na rede da concessionária e abater o valor correspondente do preço da energia usada nos prédios. Haverá também uma estação para tratamento de esgoto que usa nanotecnologia com ozônio, dispensando produtos químicos. Essa água poderá ser utilizada na irrigação e nas descargas dos sanitários. Deverá ser criada uma cadeia de triagem e reciclagem de resíduos e está previsto o uso de veículos elétricos (tuk tuk) e bicicletas para circulação no núcleo da cidade. O mobiliário desenvolvido por Arthur Casas será produzido exclusivamente com madeira regional obtida de forma sustentável. Imagens: Divulgação/Cidade dos Lagos e Divulgação/Belterra Civilização florestal No outro extremo do país, a mais de 3 mil km de distância de Guarapuava, está Belterra (PA), cidade entre os rios Tapajós e Amazonas, fundada em 1934 por Henry Ford em plena floresta amazônica durante o ciclo da borracha. A área foi cedida pelo governo brasileiro à companhia Ford para a exploração do látex das seringueiras para uso em sua indústria de automóveis. A cidade implantada na época estava dividida em três vilas. A principal delas era a Vila Americana, onde ficavam as pessoas mais importantes, como médicos e pesquisadores. As construções tinham como referência a arquitetura dos Estados Unidos e algumas delas hoje são tombadas pelo patrimônio histórico. As pragas nos seringais e a borracha sintética levaram ao fim do ciclo de exploração do látex na região amazônica e em 1945 os norte-americanos deixaram Belterra. A cidade tem hoje cerca de 18 mil habitantes e é a 16ª maior do país em área. Ela fica nas imediações de Santarém, integrando uma região de grande potencial turístico que abrange o Lago Verde, praia conhecida como Caribe Amazônico, e vários outros locais convidativos como Caranazal, Ilha do Amor e Ponta do Cururu. A região vem recebendo investimentos em ações para estimular o desenvolvimento social por meio do turismo como vocação estratégica. Segundo João Marcello Gomes Pinto, sócio-fundador da Sustentech, empresa que faz a consultoria de certificação e estudos relacionados à sustentabilidade para o projeto Belterra, um dos atrativos locais é precisamente a Vila Americana com suas construções tombadas. A ideia de criar ali a primeira civilização florestal do mundo moderno, levando educação empreendedora e inspiração para seus habitantes, surgiu quando o Instituto Butantan (IB), de São Paulo, escolheu o antigo hospital da Vila Americana para sediar o Museu de Ciências da Amazônia, o Muca - o prédio está em reforma e dentro de alguns meses o novo equipamento será inaugurado. A Oscip Ama Brasil, que atua na preservação do patrimônio histórico, artístico e ambiental do país, foi convidada para trabalhar na proposta do museu. Ao
  • 35. As fachadas de vidro levam luz natural para o interior do shopping center. Uso de pavimento intertravado para reduzir a impermeabilização do solo e a cor clara para ameninzar o efeito ilha de calor. Proposta arquitetônica para a vila administrativa. Perspectiva Centro de Cultura Alimentar Tapajônica. O prédio já está em obras de revitalização. O projeto Belterra e as instituições envolvidas. O lago Verde, em Alter do Chão, é um dos atrativos turísticos na região de Belterra. A praia em plena floresta é conhecida como Caribe Amazônico. O Centro Administrativo de Belterra, cidade fundada em 1934 por Henry Ford. As construções seguem o modelo norte-americano e algumas são tombadas pelo patrimônio histórico. Perspectiva do Museu de Ciências da Amazônia. Ele ocupará o prédio do antigo hospital e já está na fase final de obras.
  • 36. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 36 Os portfólios estão sendo usados para conduzir análise da certificação LEED, organizar grupos de projetos para certificação LEED e consolidar informações sobre instalações em geografias e unidades de negócios, fornecendo uma visão transversal. Este trabalho complementa e alavanca os sistemas empresariais de informação existentes, como o Energy Star Portfolio Manager, Measurabl ou Wattics. Hoje, o portfólio médio do Arc contém aproximadamente 40 stakeholders, com alguns contendo mais de mil projetos. Esta tendência motivou a equipe Arc a desenvolver novas ferramentas para criar e gerenciar portfólios. O Arc lançou o primeiro conjunto de novos recursos de portfólio: • Crie portfólios com mais rapidez. Todos os usuários têm novas ferramentas para filtrar e selecionar vários projetos com base em atributos como localização, status de certificação e muito mais. • Entenda e priorize o desempenho de todo o portfólio. Todos os usuários têm uma nova interface de usuário de portfólio, incluindo uma Novas ferramentas para gerenciamento de portfólios A Plataforma Arc ajuda qualquer espaço ou edifício a gerenciar seu desempenho nas áreas de energia, água, resíduos, transporte e experiência humana. nova guia Desempenho. Este é o novo local para pontuações de projetos. Mais ferramentas e recursos serão disponibilizados em breve! • Suporte para reentrada. Os usuários do Arc Essentials também encontrarão um novo painel de reentrada em nível de portfólio. Isso acumulará as pontuações e subpontuações de abrangência do Arc em vários projetos. • Prepare-se para o LEED. Os usuários do Arc Essentials também encontrarão uma seção nova e expandida de preparação para o LEED no relatório de projeto personalizado. Isso inclui cinco categorias e todas as métricas de desempenho da interface de usuário do Arc antigo. Este é apenas o começo de nossa implementação de novas ferramentas em nível de portfólio. Ainda neste ano lançaremos mais recursos de portfólios para todos os usuários, além de recursos mais avançados para assinantes do Arc Essentials. DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES Chris Pyke Senior Vice-President Arc Skoru Inc.
  • 37. NOVO CURSO GBC BRASIL + SECOVI/SP CONFORTO, SAÚDE E BEM-ESTAR EDIFÍCIOS SAUDÁVEIS DO PROJETO À OPERAÇÃO NOVO CURSO GBC BRASIL gbcbrasil.org.br/cursos CONFORTO, SAÚDE E BEM-ESTAR EDIFÍCIOS SAUDÁVEIS DO PROJETO À OPERAÇÃO
  • 38. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 38 O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) vem atuando no desenvolvimento de benchmarks de energia para edificações, ferramentas que permitem aos usuários avaliar o desempenho de consumo de prédios em comparação com o mercado O CBCS começou a desenvolver equações de benchmarks em 2013, pois sempre houve a demanda por conhecimento de consumos de energia de referência para os edifícios brasileiros, conta a engenheira civil Clarice Degani, coordenadora executiva do CBCS. “Entendemos que o estudo deveria ser feito por tipologia, identificando os fatores com maior influência no consumo energético de cada edificação”, afirma. Segundo Clarice, a iniciativa contou com o apoio de parceiros para o fornecimento de dados e para financiar o trabalho dos desenvolvedores. A Eletrobras teve papel relevante desde o início, juntamente com o Banco do Brasil, Banco Santander e Caixa Econômica Federal (para o benchmarking das Agências Bancárias), com a Embaixada Britânica em Brasília (para o benchmarking de Edifícios Corporativos) e com o PNUD, Projeto 3E e Ministério do Meio Ambiente (para o benchmarking dos Edifícios Administrativos Públicos). Em 2018 foi firmado um novo convênio do CBCS com a Eletrobras que refina a metodologia de desenvolvimento dos benchmarks e acrescenta equações para mais 14 tipologias. Os benchmarks de consumo energético do CBCS são construídos sobre bases de dados exclusivamente brasileiras - dados de consumo energético, dados climáticos regionais e características físicas e de ocupação típicas de cada tipologia. Estas informações auxiliam na modelagem de arquétipos de cada tipologia que são usados nas centenas de simulações termo energéticas que identificam a sensibilidade de diversas variáveis no consumo de energia da edificação. Da compreensão do peso de cada variável relevante, a equação de benchmark é capaz de calcular o consumo energético esperado para cada edifício, cujos dados sejam inseridos nesta equação, explica Clarice. “A equação também é testada a partir de dados de auditorias energéticas realizadas em edifícios existentes, comparando todas as suas características e os consumos efetivamente medidos. Assim, são múltiplos fatores que compõem a referência de consumo, edifício a edifício, conforme sua localização e condições de uso e operação”, completa. Benchmarks de desempenho energético DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES Clarice Degani Coordenadora Executiva Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS)
  • 39. 39 Desde 2013, o CBCS aperfeiçoou sua metodologia de benchmarking e segue buscando parceiros para ampliar o banco de dados e refinar continuamente os benchmarks. O grande objetivo é disponibilizar a todos não apenas uma referência média de consumo típico do mercado, mas sim traçar metas de eficiência energética, indicando os consumos mais eficientes para cada tipologia. Atualmente, o CBCS dispõe de benchmarks de agências bancárias, edifícios corporativos e edifícios administrativos públicos, mas até o final de 2020 a previsão é a de refinar o benchmark das agências bancárias e acrescentar à plataforma Desempenho Energético Operacional (DEO) as tipologias Hotel de grande porte e resort, Hotel de médio porte, hotel de pequeno porte e pousada; Shopping center; Supermercado; Comércio de varejo e de grande porte; Comércio de pequeno porte; Restaurante e preparação de alimentos; Escola de ensino infantil; Escola de ensino fundamental e médio; Universidade e instituição de ensino técnico; Hospital; Posto de saúde e assistência social; Data center e CPD. O uso das equações de benchmarks, disponibilizadas na plataforma DEO do CBCS, aponta a eficiência ou ineficiência de cada edificação que tenha seus dados inseridos e o consumo típico calculado para efeito comparativo. Serve, portanto, para selecionar os edifícios mais críticos do ponto de vista de necessidade de intervenções. “Geralmente os proprietários de diversos empreendimentos fazem as análises dos edifícios críticos comparando fatores como consumo anual ou consumo por metro quadrado ou consumo por metro quadrado condicionado. No uso dos benchmarks outras variáveis entram na análise. No entanto, para a melhoria do desempenho energético das edificações por meio do uso de benchmarks é preciso ainda avançar no desenvolvimento de uma plataforma que viabilize a alimentação contínua deste banco de dados, identificando não apenas os consumos típicos, mas aqueles mais eficientes a partir das melhores práticas, os quais servirão como meta de desempenho”, encerra. Imagens: Divulgação/CBCS
  • 40. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 40 Roberto Aflalo é um dos titulares do escritório aflalo/gasperini arquitetos, de São Paulo, um dos mais importantes do país, reconhecido por forte atuação no segmento corporativo. Atualmente com 35 arquitetos, o escritório é responsável pelo projeto de dezenas de empreendimentos emblemáticos, entre eles, Edifício Augusta, FL Corporate, WTorre e Rochaverá, em São Paulo. É também o escritório brasileiro de arquitetura que mais desenvolveu projetos certificados pelo LEED – até hoje são 32, sendo 25 em nível Gold, quatro em nível Platinum e três em nível Silver. O escritório opera em todo o território nacional, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, tendo também participado de projetos no exterior. Desde 2009, todos os projetos desenvolvidos no escritório estão na plataforma BIM (Building Information Modeling) e possuem certificação de qualidade pela Norma ISO 9001. GBC – Qual a importância das variáveis tecnologia, projeto & operação para a construção de edifícios sustentáveis e com desempenho acima da média do mercado? RA – A tecnologia vem para ampliar o desempenho energético e do conforto ambiental de um bom projeto arquitetônico que apresenta fundamentos como boa implantação, aberturas generosas para iluminação e ventilação natural e presença de vegetação, entre outros. Os sistemas de controle dos elementos naturais em uma edificação, que são estáticos, são considerados soluções arquitetônicas passivas. Já os elementos que podem ser alterados, buscando melhores resultados ao longo do dia, da semana e das estações do ano, como temperatura externa/insolação, movimentação, ocupação, são consideradas soluções ativas. Aqui entra a operação, que tem potencial para otimizar estes processos. Quanto mais ajustada , melhor o desempenho e, portanto, melhor a resposta ao investimento. GBC – O preço das tecnologias que visam a redução dos custos operacionais ainda é um fator limitante para sua adoção? Para que tipos de empreendimentos a implantação dessas tecnologias é considerada prioridade? RA – O desempenho energético é algo bastante simples de ser mensurado. E pode ser fator decisivo no estudo de viabilidade de um empreendimento ao longo do tempo. O desempenho de um edifício hoje é medido também pelo seu custo operacional. Um prédio “barato” pode ser um péssimo negócio ao longo do tempo se o seu desempenho for pífio. O custo operacional pode corroer o valor do aluguel e o desconforto ambiental não atrair usuários. Nesse ponto entram as simulações para definir qual a melhor relação custo-benefício para cada empreendimento. Edifícios comerciais, pelo seu alto consumo energético, tendem a ter melhores respostas à aplicação de tecnologias. Já os residenciais se beneficiam muito de um bom projeto arquitetônico e soluções para redução de consumo de água, aquecimento solar, iluminação e ventilação natural. GBC – Como equalizar a lacuna entre o conforto desejado pelos usuários, o baixo consumo de insumos previstos na simulação e também os melhores resultados para os investidores e proprietários? RA – Buscando equilibrar as variáveis apresentadas na simulação aos interesses dos usuários e investidores. GBC – Existem empreendimentos certificados que apresentam consumo de energia médio acima do previsto nas simulações realizadas para certificação. Por que isso acontece? O problema é operacional, de projeto ou abrange várias causas? RA – Acredito que abrange várias causas. Edifícios de único proprietário ou usuário tendem a ter melhor desempenho pois as decisões operacionais são aplicadas sem polêmicas. Já em edifícios com múltiplos usuários as decisões tendem a ser mais “democráticas”, pois muitas vezes podem desagradar alguns. Nesses casos podem comprometer parte do desempenho esperado. GBC – E quanto à operação do edifício? RA – Em uma antiga palestra proferida por um integrante do Foster Associates [escritório global de arquitetura fundado por Norman Fostes e sediado em Londres] sobre seus projetos e desempenho, foram citados dois edifícios corporativos, projetados e construídos em décadas diferentes, e com desempenhos muito diferentes. O Commerzbank Frankfurt, de 1997, e o Swiss Re, em Londres, 2004. Arquiteto Roberto Aflalo De olho na performance
  • 41. 41 O primeiro apresentava a curva de desempenho muito próxima da simulação. O segundo, comparativamente, deixava muito a desejar, apesar de ser mais moderno e ter inovações tecnológicas. A resposta estava no empenho da operação de cada um dos edifícios. GBC – Os operadores prediais conhecem e sabem operar a alta tecnologia embarcada nos edifícios? O mercado dispõe de profissionais qualificados a lidar com essa tecnologia mais avançada? RA – Não saberia responder esta questão com exatidão. Acredito que com a proliferação de certificação e da implantação crescente de novas tecnologias nos edifícios, abrem-se também oportunidades de colocação para profissionais com um pouco de especialização na área. Em alguns casos o engenheiro que trabalhou na obra de implantação do edifício e dessas tecnologias passa a operar o edifício dada a sua familiaridade com o sistema. GBC – O desempenho nem sempre depende total ou parcialmente da tecnologia. O próprio projeto arquitetônico pode favorecer o fluxo, melhorar condições de segurança e garantir espaços mais confortáveis e funcionais. Até onde o projeto pode ajudar nesse aspecto? RA – A presença de alguns fundamentos de projeto garantem um desempenho maior. Cada tipologia demanda soluções próprias. No caso do Edifício. Eldorado B Tower, por exemplo, o fluxo de pessoas no pavimento térreo em horários de pico pode ser enorme. Neste caso previmos uma ampla separação de saídas e entradas visando minimizar o congestionamento. GBC – O escritório tem informações sobre o atual desempenho de algum dos empreendimentos projetados por vocês? RA – Não temos estas informações destes edifícios. Infelizmente este ainda é um ponto a se aprimorar na certificação. As simulações nos dizem bastante a respeito do desempenho futuro dos edifícios, mas os dados pós-utilização nos dariam maior credibilidade aos números obtidos nas simulações. Temos muito pouca informação sobre o desempenho real dos edifícios certificados. Esta informação seria preciosa para ajustar e direcionar o desenvolvimento dos sistemas implantados e retroalimentar as simulações. Cada país tem o seu próprio clima e sua própria cultura. São alguns fatores que impedem que um único sistema de avaliação de desempenho seja a resposta a estas questões. É necessária uma personalização da leitura dos dados obtidos, quando coletados, para se comparar de fato os resultados. GBC – E quanto à plataforma ARC? RA – Podemos estar próximos de poder contar com estes dados por meio da plataforma ARC, que aos poucos começa a ser utilizada e ajustada à nossa realidade. Empreendimentos corporativos projetados por aflalo/gasperini arquitetos e construídos em São Paulo. Ana Mello Daniel Ducci
  • 42. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 42 Lançada em 2017 pelo governo japonês, a Japan House São Paulo é um centro de difusão de cultura, valores e costumes do Japão contemporâneo, promovidos por meio de exposições, seminários, workshops e atividades que trazem ao Brasil os mais relevantes criadores e empreendedores nipônicos da atualidade. O centro de cultura está localizado no início da Avenida Paulista, perto da praça Osvaldo Cruz. Quem circula por ali é impactado pela fachada de 11 metros de altura e 36 metros de largura feita com cedro japonês de mais de 70 anos de idade. Esse painel escultural de madeira pesa mais de seis toneladas e envolve um edifício que passou por obras de retrofit. A proposta é assinada pelo arquiteto japonês Kengo Kuma, autor do projeto do novo estádio Olímpico de Tóquio, e pelo escritório paulistano FGMF Arquitetos. A edificação já recebeu mais de dois milhões de visitantes e em abril de 2020 conquistou a certificação LEED EB O&M na categoria Platinum. Segundo Eric Klug, presidente da Japan House São Paulo, “o tema da sustentabilidade deve ter máxima relevância em todos os setores da sociedade. Quando afetados por um fenômeno como a pandemia de Covid-19, somos relembrados dos recursos da natureza e das consequências de nossas atividades para o meio ambiente e para a comunidade”, afirma. Entre os recursos sustentáveis da edificação estão torneiras e acionadores de descargas com timers, sistema de otimização do fluxo de água, luminárias de alta eficiência com lâmpadas LED dimerizáveis, sistema de irrigação automático por gotejamento e sensores de presença nos banheiros. O destaque fica para os vasos sanitários japoneses da marca Toto e do tipo dual flush, que utilizam 3,0 litros e 4,8 litros por acionamento. O consumo de energia é otimizado pelo sistema BMS, da Mitsubishi Eletric, que responde pela automação dos sistemas e controla iluminação e ar-condicionado. Segundo Erika Emi Koga, da área de Desenvolvimento de Negócios da empresa, a Mitsubishi Eletric também forneceu o sistema de ar-condicionado, secadores de mãos, medidores de energia e elevadores – na época ela ainda comercializava elevadores. O projeto minucioso, o sistema BMS, o ar-condicionado e a operação formaram um contexto que responde pelo alto desempenho energético da edificação. Segundo Beatriz Sturm, consultora de projetos da CTE, o prédio é 37% mais eficiente que a média global da mesma tipologia. “A certificação é feita DESEMPENHO NAS EDIFICAÇÕES Desempenho em destaque A Japan House São Paulo e a sede do Sebrae Ceará, em Fortaleza, são dois empreendimentos que utilizam a Plataforma ARC como apoio de gestão Imagens da Japan House São Paulo. O projeto é de autoria do arquiteto japonês Kengo Kuma e do escritório paulistano FGMF Arquitetos. Estevam Romera Estevam Romera
  • 43. 43 com base na performance, mensurada na Plataforma ARC. No caso da Japan House os dados inseridos foram rateados porque há um edifício anexo compartilhado”, detalha. De acordo com Beatriz, outro saldo positivo foi registrado na categoria Experiência Humana da plataforma ARC, que considera também a qualidade interna do ar, teste de concentração de CO2 e de concentração de COVs. A Japan House obteve resultado 56% mais eficiente que a média global da mesma tipologia. Para atingir esse índice, Klug explica que o projeto conciliou soluções técnicas com o princípio japonês do Omotenashi, que cuida de cada detalhe comportamental, físico e visual dos ambientes para que o visitante tenha uma experiência memorável, o que se refletiu na pesquisa de conforto ambiental. “Realizada com 345 usuários da Japan House, ela teve um resultado muito alto, muito fora da curva, porque ninguém reclamou de nada”, conta Beatriz. “O índice de satisfação foi de 98,8% e não houve nenhum registro de desconforto. Dentre os elogios, os participantes ressaltaram a qualidade do ar, limpeza, iluminação natural, privacidade, acústica e conforto térmico”, encerra Klug. Sebrae Ceará O processo de retrofit iniciado em 2012, e concluído dois anos depois, garantiu à sede do Sebrae-CE a certificação LEED NC Silver. A equipe responsável pela gestão operacional do edifício deu continuidade às melhorias de performance e intervenções, aperfeiçoando seus processos e mapeando oportunidades de aprimoramento da manutenção e operação do prédio. “Foram realizados desde apontamentos de auditorias internas em eficiência hídrica, com regulação de vazões conforme as necessidades de cada ponto, otimização do sistema de irrigação, redução de perdas de água no sistema, eficiência energética, com o aprimoramento da programação de ativação da iluminação, planejamento de uso de energia e ações de sensibilização dos usuários do edifício”, explica Carlos Viana Freire Júnior, articulador de marketing e comunicação do Sebrae/CE. Dessa forma, em outubro de 2019, o edifício recebeu a certificação LEED Platinum. De acordo com Welington Ribeiro, analista técnico Sebrae CE, O prédio se tornou uma referência de sustentabilidade em Fortaleza. “Recebemos visitas guiadas para mostrar as soluções adotadas no retrofit, destacando aquelas que são facilmente replicáveis. Os visitantes podem ver tudo e contamos com um intérprete de Libras para atender aos deficientes auditivos, porque o Sebrae/CE se preocupa com a redução de desigualdades e com inclusão de deficientes”, afirma. Equipamento de ar-condicionado Mitsubishi Eletric instalado na Japan House. Imagem: Divulgação/Mitsubishi Eletric Estevam Romera
  • 44. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 44 Entre as intervenções realizadas está a instalação de uma fachada ventilada para funcionar como isolante térmico. A cortina de vidro é complementada por estruturação de um bolsão de ar com duas camadas de vidro, para reduzir a insolação na fachada leste. Na face oeste foram instalados brises para proteção do envoltório. Todos os vidros usados são eficientes. Outra medida foi a abertura de um poço profundo para substituir a água potável antes usada no sistema de ar-condicionado. De acordo com Amália Uchôa, assistente da unidade de gestão operacional do Sebrae-CE, o projeto priorizou a iluminação natural do prédio, complementada com luminárias LED. A limpeza verde foi fortalecida em todo o edifício, com produtos biodegradáveis, melhorando a qualidade do ar e consequentemente a qualidade de vida de colaboradores e visitantes. Foram instaladas duas usinas fotovoltaicas no edifício. A menor destina- se ao caráter educativo, como um showroom. “A intenção é permitir que visitantes e empresários curiosos e interessados em implementar em sua empresa a cogeração de energia, possam conhecer os elementos que compõem o sistema e ver como ele funciona”, completa Amália. A segunda usina, soma 200 placas fotovoltaicas instaladas. Juntas, elas têm capacidade de geração de 83 MGWatts de energia por ano, o que equivale a todo o consumo do prédio com iluminação, equivalente a 12% do consumo total do edifício. A usina fotovoltaica não teve seu resultado considerado na primeira certificação e seus benefícios só foram levados em conta no processo de recertificação. A Plataforma ARC ajudou nos processos de melhoria a partir de tomada de decisão mais assertiva, de uma gestão vista mais ágil e sistêmica. “Quando iniciamos o processo de certificação LEED Silver, trabalhávamos com planilhas próprias, sem integração, o que nos ajudava, porém com limitações. No processo de upgrade para o LEED Platinum já contávamos com o ARC, que se apresenta como um ambiente integrado de apoio à gestão, possibilitando um olhar sistêmico dos indicadores de desempenho. Desde agosto ela está ainda melhor, mais detalhada e com mais dados”, afirma Viana. Na recertificação, as reduções de demanda de água e energia tomaram por referência o consumo do próprio prédio antes das intervenções. Inicialmente foi obtida diminuição de consumo de água em 23%, mas a cada auditoria e análise realizados, os resultados melhoravam mais. Com a implantação do poço profundo para substituir a água do ar- condicionado, hoje a economia é de cerca de 30%. No caso da energia elétrica, a redução inicial foi de 28% e com a implantação da usina fotovoltaica, esse índice a 37%. Sede do Sebrae-CE, em Fortaleza. Imagens: Divulgação/ Sebrae-CE
  • 45. 45 gbcbrasil.org.br FAÇA PARTE DA REDE DE NETWORKING DO GBC BRASIL PARA PROFISSIONAIS CLUBE DE BENEFÍCIOS GBC BRASIL Cortesias anuais para os cursos do GBC Eventos de networking exclusivos benefícios Perfil profissional no site do GBC Brasil
  • 46. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 46 Uso eficiente da água Sabendo usar não vai faltar A gestão da água é hoje um dos principais desafios a serem enfrentados pelo poder público e pelas empresas do segmento da construção civil. A diferença entre a demanda e a disponibilidade de recursos hídricos faz da conservação da água uma necessidade urgente com a qual todos os países precisam se preocupar. No Brasil, país de dimensões continentais, a situação não é diferente. As regiões sudeste e nordeste concentram mais de 70% do PIB industrial e 71% da população brasileira, porém, juntas dispõem de apenas 9% da água doce do país. A abundância de recursos hídricos é registrada somente na região norte, habitada por menos de 7% da população. A escassez de água no nordeste é uma realidade velha conhecida do brasileiro, mas no sudeste a questão só entrou em evidência na década de 2000, com racionamento e rodízios de água na Região Metropolitana de São Paulo. Em 2014, auge da crise, o sistema de reservatórios que servem a Grande São Paulo beirou o colapso e atingiu os menores volumes de armazenamento de toda sua história. Só então o governo paulista iniciou as obras de transposição para captação de água, o que garantiu algum fôlego extra ao sistema, mas não levou em conta aspectos como eficiência e gestão da demanda. De acordo com o engenheiro civil e mestre em edificações Osvaldo Oliveira, especialista no uso eficiente da água e consultor institucional Tigre-ADS, trazer a água de cada vez mais longe é uma solução convencional e muitas vezes praticada, mas não necessariamente a melhor. “O custo é muito elevado, tem que bombear, é complicado, e ainda tem o ônus de tirar essa água de outras comunidades. Antes de buscar fontes mais distantes é necessário investir na eficiência, no combate aos desperdícios, em produtos mais eficientes. Isso aumenta a vida útil do sistema instalado”, detalha. USO EFICIENTE DA ÁGUA Gilberto Marques
  • 47. 47 Como exemplo positivo dessa situação, Oliveira cita Nova York, cidade que fugiu do convencional ao enfrentar sua crise de abastecimento e de qualidade da água. Entre as ações tomadas pela prefeitura estão a compra de terras ao redor de mananciais e o investimento em benfeitorias nas propriedades vizinhas a fim de evitar a contaminação dos cursos d’água. Essa medida tornou desnecessária a construção de uma estação de filtragem que custaria dez bilhões de dólares, segundo reportagem de 28 de novembro de 2014 apresentada no Jornal Nacional, da Rede Globo. Outra decisão importante da prefeitura foi a de recortar as ruas da maior metrópole do mundo para substituir a antiga tubulação metálica, com vários pontos de vazamento, por tubos plásticos como os de polietileno, material que resiste ao contato com o solo e com a água e tem longa vida útil, estimada entre 50 e 100 anos. “Junto às campanhas de redução do consumo e programas de incentivo para a troca de produtos hidráulicos por outros mais modernos e eficientes, isso permitiu que o sistema existente atendesse à demanda da população por mais um período de 20 anos e por 1/10 do custo de ir buscar água em fontes mais distantes. No Brasil, ainda não houve essa mudança de visão do poder público mas a sociedade civil pode cobrar e mostrar que há outros caminhos”, destaca o especialista. Chuveiros no alvo As certificações de sustentabilidade chegaram ao país a partir dos anos 2000 e se aliaram às normas técnicas, novas ou revisadas, para oferecer parâmetros que ajudam os profissionais a desenvolver projetos que visam à conservação de água. A tecnologia também contribuiu, disponibilizando produtos mais eficientes. Antigamente, o volume das descargas era de 12 litros, depois caiu para 6 litros e a seguir veio o dual flush. As atenções agora estão focadas nos chuveiros, em especial para os prédios onde há aquecimento a gás e pressão de água elevada. “Nos Estados Unidos nenhum chuveiro pode ter vazão superior a 9 litros por minuto, mas aqui não temos essa limitação. Um chuveiro elétrico em uma casa com baixa pressão vai consumir no máximo 4 litros por minuto, mas em um prédio esse valor pode ser multiplicado por dez. Existem chuveiros de grandes marcas estrangeiras que aliam conforto e baixa vazão, mas eles exigem alta pressão na rede, a partir de 14 metros por coluna de água (mca) e, portanto, podem não funcionar bem nas nossas instalações”, explica Oliveira – no Brasil, os projetos estabelecem pressão entre 2 mca e 40 mca, enquanto em outros países essa faixa é deslocada para cima, de 14 mca a 56 mca. “A pressão mais baixa no Brasil tem por objetivo reduzir perdas por vazamentos, o que é um equívoco, pois um prédio não deveria ser projetado imaginando-se a presença de vazamentos. A pressão mais elevada é vantajosa porque garante a sensação de conforto ao mesmo tempo em que reduz o volume de água,” completa. Essas questões sempre esbarram no aspecto financeiro. Em regiões em que a água é mais cara, é mais provável que uma edificação com grande fluxo de pessoas encontre na tecnologia os meios para reduzir o consumo e a conta de água. Um bom exemplo são as descargas a vácuo, encontradas em shopping centers, aeroportos ou grandes edificações comerciais e industriais. “A bacia sanitária é importada e cara, e a central de vácuo também tem custo elevado, o que é um impeditivo para os projetos menores, mas nos grandes compensa”, afirma Oliveira. Nas edificações em que o consumo é menor e a tarifa não é tão elevada, o entrave costuma ser o custo da tecnologia. Nesses casos, o caminho mais viável é o das campanhas de conscientização para mudar os hábitos dos usuários e evitar desperdícios e ainda dar preferência a soluções mais eficientes, como chuveiros com redutores de vazão, torneiras com mecanismo de ¼ de volta, descargas do tipo dual flush e o uso de máquinas de lavar roupas e louças com opções de níveis de água para atender a diferentes demandas. Medição para economizar Medir é condição essencial para controle e gestão do consumo de água. Quanto mais medidores, mais fácil fica avaliar o perfil de consumo e encontrar os pontos em que é possível economizar. A medição também permite a comparação do desempenho de uma edificação com outras da mesma tipologia, estabelecendo indicadores de consumo.
  • 48. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 48 De acordo com Oliveira, a proposta da medição individualizada no Brasil surgiu na década de 1970, com os edifícios de habitação popular. A ideia não avançou porque os custos de instalação e de operação eram altos e não havia tecnologia de medição remota por unidade. O assunto voltou à baila entre o final da década de 1990 e o início da de 2000, com a crise hídrica. Entre 2004 e 2005 foram entregues os primeiros empreendimentos com medidores individualizados. Hoje esse item já é entendido como necessidade de projeto, embora ainda existam questões mal resolvidas, como o medidor no interior da unidade. Em 2016 foi aprovada a Lei federal nº13.312, que determina o uso de medidores individualizados em todas as edificações entregues a partir de 2021. Soluções urbanas Existem soluções que podem ser adotadas na implantação de um grande empreendimento ou de bairros e cidades planejadas. Oliveira conta que na Alemanha é comum encontrar unidades distritais para aquecimento da água, que é distribuída por uma determinada região por meio de uma rede paralela à de água potável. “É possível ter uma rede paralela dessas para água de chuva ou de reúso para o abastecimento de descargas, por exemplo. Tudo depende de calcular o custo para ver se compensa”, pondera Oliveira. Isso seria interessante pela qualidade da água, uma vez que o poder público poderia exercer maior controle na gestão de demandas das fontes alternativas, o que nem sempre é possível em nível residencial. A Tigre-ADS oferece uma solução que ajuda a reduzir enchentes e deve ser instalada abaixo do pavimento de grandes áreas, como pátios de estacionamento, por exemplo. Trata-se de reservatórios subterrâneos na forma de um conjunto de tubos de 1 metro ou 1,5 metro de diâmetro que são enfileirados, formando uma rede para a captação de água de chuva. Esses tubos podem ser feitos com polietileno reciclado e têm uma expectativa de vida útil de no mínimo 50 anos. Junto desse sistema é instalada uma unidade de qualidade de água, com filtragem para remoção de detritos, para permitir que ela seja utilizada em irrigação ou lavagem de pisos. Apropriação da água Os recursos hídricos são bens cada vez mais escassos, especialmente quando consideramos sua disponibilidade em termos de quantidade e qualidade. Segundo dados de Givíziez, G.H.N. e Oliveira, E.L. Demanda Futura por Moradias, demografia, habitação e mercado, FIESP 2016, as regiões nordeste e sudeste são as que concentram a maior parcela da população (71,5%) e do PIB Industrial (70,8%). No entanto, juntas, elas detêm apenas 9,3% da água doce disponível no país, o que torna essencial gerenciar seu uso de maneira mais eficiente. A construção civil tem um papel relevante no desenvolvimento urbano das cidades, trazendo grande impacto na gestão dos recursos hídricos pois carrega a responsabilidade sobre o uso desses recursos em todo os seus processos, desde a concepção do projeto, passando pela seleção e aquisição de materiais e pela metodologia construtiva, até o uso da edificação ao longo de sua vida útil”, afirma Virginia Sodré, sócia e diretora executiva da InfinityTech Engenharia e Meio Ambiente. A consciência sobre a importância desse papel motivou o lançamento do Guia Metodológico de Cálculo de Pegada Hídrica em Edificações, uma iniciativa do SindusCon-SP com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Caixa Econômica Federal, sob a consultoria técnica da Infinitytech.
  • 49. 49 Lançado no final de 2019, o guia oferece métricas claras e padronizadas que permitem calcular a quantidade de água (m3 /m2 de área construída) apropriada pela construção civil, viabilizando avaliações comparativas e incentivando medidas para conservação da água. “Trata-se de uma ferramenta que permite medir e fazer o benchmarking da apropriação do consumo de água por toda a cadeia do processo construtivo até os usos da água durante a vida útil da edificação. É um trabalho completo, que pode ser usado internacionalmente”, destaca Virgínia. O guia está disponível para download gratuito em https:// sindusconsp.com.br/wp-content/uploads/2019/11/ final_guia_pegada_hidrica.pdf. O que é pegada hídrica? Na definição do professor holandês Arjen Hoekstra, criador do conceito, a pegada hídrica é “um indicador do uso de água que considera não apenas o seu uso direto por um consumidor ou produtor, mas, também, seu uso indireto”, podendo ser considerada como um “indicador abrangente da apropriação de recursos hídricos”. Para dar um exemplo simples, são necessários 15.500 litros de água para irrigar o pasto e hidratar o gado a fim de produzir um quilo de carne bovina. Segundo Virginia, são três tipos básicos de pegada hídrica que podem ser aplicados às diferentes atividades econômicas – a azul, a verde e a cinza. A pegada hídrica azul (PHazul) pode ser calculada como a água proveniente de uma bacia hidrográfica (superficial ou subterrânea), evaporada, incorporada a um produto ou retirada e devolvida a outro corpo hídrico. Relevante para agricultura, indústria e uso doméstico. A PHazul refere-se à água perdida em determinado processo, geralmente por evaporação ou incorporação ao produto. PHazul = água evaporada + água incorporada + vazão de retorno perdida. Há também a pegada hídrica verde (PHverde), que é a água precipitada, armazenada no solo, evaporada, transpirada ou incorporada pelas plantas. É relevante para produtos agrícolas, horticultura e florestais ou para a irrigação. Por fim, a pegada hídrica cinza (PHcinza), definida como a quantidade de água doce necessária para assimilar poluentes e atender aos parâmetros de qualidade da água. O guia metodológico utilizou-se desses conceitos e das adaptações necessárias para calcular a pegada hídrica de uma edificação, ou seja, o volume de água apropriado por metro quadrado de área construída. A contabilização da pegada hídrica considera todas as fases da obra, começando pelo consumo direto dos serviços em canteiro desde a etapa de movimentação de terra até o acabamento final, passando pela pegada hídrica indireta oriunda dos produtos, materiais e insumos utilizados na construção, incluindo até a pegada hídrica direta, estimada dos usuários ao longo da vida útil da edificação.
  • 50. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 50 Embora ainda existam poucos estudos no mercado, e mais pesquisas e informações sejam necessárias por parte dos fabricantes, os estudos existentes evidenciam que o concreto e o aço são os produtos mais relevantes da pegada hídrica indireta na construção, podendo chegar a quase 87% do total da edificação. “O aço e o concreto utilizados são os materiais de pegada mais representativa. Por isso é interessante entendermos que todos temos nossas responsabilidade na gestão dos recursos hídricos, que os materiais que adquiro e utilizo são representativos na minha pegada hídrica. Dessa forma, posso solicitar que os fabricantes que também estão produzindo em região com escassez hídrica, modifiquem a sua forma de produzir para se apropriar menos dos recursos hídricos. O objetivo é trazer a consciência e a responsabilidade para toda a cadeia”, diz Virginia. Movimentos na indústria O tema pegada hídrica já não é novidade em algumas empresas brasileiras. Por iniciativa do Consulado da Suíça (Consud), desde fevereiro de 2019 está sendo desenvolvido na América do Sul um estudo que envolve empresas de vários países da região. Do Brasil, participam a Votorantim (cimento), a Klabin (papel) e a CBA (alumínio). A Fundação Getúlio Vargas responde pela gestão e pela assessoria técnica às empresas. Segundo Angelo Zerbini, consultor de meio ambiente da Votorantim, o estudo na empresa está focado na produção de concreto, o que depende da análise de dados do cimento também. Ainda em andamento, a avaliação já aponta o alto consumo de energia elétrica e o uso de combustíveis fósseis como os vilões da pegada hídrica do concreto. “A Votorantim trabalha com o coprocessamento de resíduos, o que está ajudando a reduzir nossa pegada hídrica”, explica Zerbini. Essa tecnologia é reconhecida mundialmente como a destinação adequada e ambientalmente correta de diferentes tipos de resíduos, não utilizados na reciclagem, com reaproveitamento energético nos fornos da indústria de cimentos. Esses resíduos e biomassas substituem o coque de petróleo, que é um combustível fóssil. A empresa também está focada em garantir que a origem da energia elétrica consumida seja solar ou eólica, que são as mais sustentáveis possíveis, bem como em assegurar o gerenciamento do consumo hídrico nas plantas e implantar melhorias de eficiência de processo de forma geral. Os planos ainda são de longo prazo mas preveem a associação da Votorantim a parques eólicos ou solares, empresas geradoras de energia de baixo impacto, a fim de ter uma redução bastante significativa de sua pegada hídrica. Projetos mais eficientes Outros agentes do setor da construção civil também podem se valer do Guia Metodológico de Cálculo de Pegada Hídrica em Edificações e contribuir para a redução da pegada hídrica. O projeto da edificação já deve ser pensado para ser sustentável e aplicar as normas sobre o uso eficiente da água (ler boxe Saldo positivo). Nas fases de especificação e de orçamento é possível fazer a gestão da pegada hídrica e dar preferência a materiais que necessitam de menos água para sua produção e a equipamentos hidráulicos com restrição de vazão. “O guia traz o benchmarking internacional do consumo de água para esses produtos. É um trabalho completo que pode ser usado internacionalmente”, afirma Virginia. Também pode-se ajudar a reduzir a pegada hídrica da edificação por meio da gestão da obra, preferindo sempre os procedimentos de menor consumo. É possível estabelecer gestão por pavimento ou por etapa e criar os próprios indicadores de consumo, de modo a ter referências para as próximas obras. Para o futuro, Virgínia prevê para as edificações uma etiquetagem de consumo de água, nos mesmos moldes da Procel Edifica. A ideia é criar uma plataforma benchmarking em parceria com o Sinduscon-SP e a partir daí já será possível desenvolver essa classificação. O perigo vive na água A Legionella pneumophila é uma bactéria que vive e se prolifera com facilidade em qualquer lugar onde tenha água. Ela pode ser encontrada em rios, piscinas, poços, caixas d’água, tubulações, chuveiros e nas torres de refrigeração do ar- condicionado, por exemplo. “Testes de laboratório indicam que essa bactéria está presente em mais de 35%
  • 51. 51 das amostras examinadas e cabe aos gestores dos empreendimentos a responsabilidade pela saúde das pessoas que trabalham, moram ou frequentam essas edificações”, afirma o engenheiro químico Marcos Bensoussan, perito em segurança da água e editor responsável pelo livro Legionella na visão de especialistas, publicado pela Setri Consultoria de Sustentabilidade. O livro está disponível para download gratuito em http://legionellaespecialistas.com.br/. De acordo com Bensoussan, a aspiração de micropartículas de água contaminada, na forma de spray ou aerossol, pode causar a Doença dos Legionários, ou legionelose, que é uma forma de pneumonia atípica, provocada por qualquer variedade de bactéria do gênero Legionella. Os sintomas incluem tosse, falta de ar, febre elevada, dores musculares e dores de cabeça, e até náuseas, vômitos e diarreia. Ela pode ser fatal em alguns casos e possui taxa de mortalidade superior à da Covid-19. Embora não existam dados oficiais, estima-se que ocorram no Brasil algo entre três mil e cinco mil óbitos por ano causados por essa pneumonia. A bactéria também é responsável pela Febre Pontiac, uma forma mais leve da legionelose e com sintomas semelhantes, mas sem a pneumonia. Da mesma forma, o contágio se dá pela inalação de gotículas em spray ou aerossol (de chuveiros, saunas, névoa, umidificadores, torres de refrigeração do ar-condicionado ou fontes decorativas) e ainda pela aspiração acidental de água. Algumas vezes as pessoas expostas à bactéria não apresentam sintomas e na maioria dos casos a Febre Pontiac é confundida com uma gripe ou resfriado forte. Como prevenir Um grupo multidisciplinar levou seis anos para construir a norma ABNT NBR 16824:2020, que especifica os métodos para gerenciamento de risco e práticas de prevenção. “Nesse período o conhecimento sobre o tema foi aprofundado e o A ABNT NBR 16824:2020 especifica os métodos para gerenciamento de risco e práticas para a prevenção de legionelose, doença associada aos sistemas prediais coletivos de água em edificações industriais, comerciais, de serviços, públicos e residenciais. resultado é que a norma brasileira é uma das mais atualizadas dos mundo”, detalha Bensoussan, que participou da elaboração da nova regulamentação. “O ponto principal da norma é a avaliação de risco de contaminação do sistema hidráulico de um empreendimento. A avaliação é realizada por um especialista, que fará também um plano técnico para mitigação do risco. A norma traz uma metodologia conhecida mundialmente para essa finalidade. O especialista diz em que pontos será necessário testar e como seguir a norma. Só fazer análise não é suficiente, porque a água muda o tempo todo. Uma amostra livre não quer dizer que a água não esteja contaminada.”, finaliza. SALDO POSITIVO Novas regulamentações permitem potencializar os resultados obtidos pela melhor gestão e correta escolha das tecnologias. Segundo Lilian Sarrouf, coordenadora técnica do Comitê de Meio Ambiente do Sinduscon-SP (Comasp) e gestora do CB-002 – Construção Civil da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o ano de 2019 deixou saldo positivo no aumento da eficiência no uso da água no Brasil. Foram publicadas a ABNT NBR 16782:2019 - Conservação de água em edificações - Requisitos, procedimentos e diretrizes e a ABNT NBR 16783:2019 - Uso de fontes alternativas de água não potável em Edificações. Além disso, foi revisada a ABNT NBR 15527:2019 - Água de chuva: aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis - Requisitos. O mercado entrou em 2020 já com essa nova regulamentação técnica e da revisão da norma de água de chuva. Normas existentes relacionadas a sistemas prediais e que passam por revisão estão se alinhando aos conceitos das normatizações de 2019. “Para empreendedores e projetistas, que já trabalham com edifícios sustentáveis, a regulamentação permitirá potencializar os resultados pela melhor gestão e correta escolha das tecnologias, encerra Lilian”.
  • 52. GBC BRASIL - ANUÁRIO 2020 52 O LEED HealthCare ajuda a tornar as edificações hospitalares mais seguras e eficientes e contribui para que os ambientes sejam muito mais saudáveis “As certificações são a confirmação das práticas sustentáveis e ainda tèm muito para se desenvolver no país”, afirma Eleonora Zioni, diretora-executiva da Asclépio Consultoria e arquiteta especializada em arquitetura para saúde. Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, existem hoje no Brasil cerca de 280 mil estabelecimentos de saúde públicos ou privados. Desse total, 6.500 são hospitais, a grande maioria com até 100 leitos e que trabalham em regimes ambulatoriais ou de internação em diversas especialidades e complexidades. Os demais estabelecimentos, a grande maioria, são clínicas, consultórios médicos e odontológicos, postos de saúde, enfermarias e laboratórios. Segundo Eleonora, esse mercado é um importante ator econômico, responsável por uma movimentação de aproximadamente 580 bilhões de reais por ano e faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e da rede suplementar. “O LEED é a única certificação que tem uma modalidade específica para a saúde, a LEED HealthCare, com normas e padrões de desempenho com a finalidade de certificar o empreendimento e sua operação. Ela se aplica a todos esses 280 mil estabelecimentos de saúde”, destaca. LEED Healthcare é o protocolo de certificação LEED mais exigente e adequado para estabelecimentos de saúde, pois contém itens específicos para incentivar a saúde de todos os usuários. “Ela exige a integração do projetos de arquitetura e engenharias desde o início do processo, requer condições rigorosas de acesso à luz natural para o bem-estar dos usuários, assim como restrições aos contaminantes nos materiais, tintas, mobiliários e equipamentos médicos são pré-requisitos para a certificação que não existem em outra modalidades”, completa Eleonora. A arquiteta lembra que existem também ações de sustentabilidade como a Rede Global de Hospitais Verdes e Saudáveis e o Projeto Hospitais Saudáveis, do qual Espaços de bem-estar SETOR HOSPITALAR Eleonora Zioni, arquiteta especializada em arquitetura para saúde e diretora executiva da Asclépio Consultoria, de São Paulo. O Hospital Israelita Brasileiro Albert Einstein obteve certificação LEED Healthcare em 2009.
  • 53. 53 participam mais de 200 hospitais brasileiros. “Portanto temos ainda 6.300 potenciais hospitais no Brasil para adotarem a LEED Healthcare em seus projetos, reformas, operação e manutenção”, contabiliza. Hospitais sustentáveis A infraestrutura hospitalar no Brasil precisa ser ampliada e adequada às novas tecnologias. A complexidade dos projetos para construção, reforma, ampliação ou constantes adequações dos estabelecimentos para a saúde constitui um grande desafio para os profissionais envolvidos. Entender a saúde e a vida humana como foco do negócio, compreender como funciona o hospital, quais são suas demandas, como mitigar os riscos constantes de contaminação, a necessidade de atualizações tecnológicas contínuas e a importância de oferecer espaços que proporcionem bem-estar e autonomia ao paciente são parte essencial do processo, que também deve incorporar as técnicas da arquitetura hospitalar sustentável. “Um hospital sustentável é um equipamento social que consegue ter ambientes saudáveis, prestar serviços assistenciais aos pacientes e fazer bem para a saúde das pessoas que trabalham ali e dos visitantes, ao mesmo tempo em que consegue trazer redução de custos fixos com água, energia, resíduos e ainda cuidar das mudanças climáticas globais, minimizando as emissões de carbono, por exemplo”, define Eleonora. Conforme ela define, o hospital é o edifício mais complexo que existe, pois funciona como seis em um. “Sempre comento que o hospital é a união de edifício de escritórios shopping-center, hotel, indústria e escola. Tudo isso exige também muito treinamento e conscientização dos profissionais da equipe multiprofissional de saúde para conseguir atingir todas as metas sustentáveis acordadas”, explica. A arquiteta destaca que um hospital funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano, e que apesar de precisar se manter sempre atualizado, não pode parar. As técnicas da arquitetura hospitalar sustentável tornam a execução das obras mais segura e eficiente quando comparada aos métodos tradicionais brasileiros. Também as equipes de operação e manutenção precisam atuar tendo em mente que o objetivo de um hospital é cuidar da saúde e da vida humana. A operação hospitalar sustentável se preocupa com a qualidade ambiental interna como um todo, desde os produtos de limpeza até a ventilação e renovação do ar para que não prejudique a saúde de todos, inclusive dos profissionais que estão trabalhando. “As pessoas que frequentam o hospital não serão incomodadas com uma obra de manutenção ou ampliação que se preocupa com vários componentes, como o cheiro de tinta que faz mal para a saúde ao liberar compostos orgânicos voláteis (COV)”, exemplifica. Eleonora atuou no processo de certificação LEED Healthcare do Hospital Israelita Brasileiro Albert Einstein, em 2009. “Participei do projeto, construção e certificação, tendo sido o maior hospital certificado LEED nível Gold em 2009 com 70 mil m2 . Na época eu trabalhava em uma empresa multinacional, a Kahn, e fui a sétima profissional certificada LEED no Brasil”, conta. Além da LEED e da Hospitais Saudáveis, o Einstein possui certificações como ISO 14001 e a ISO 50.001, na área ambiental, e outras específicas de serviços de saúde, como o Selo do Idoso; a JCI de qualidade e segurança para paciente, colaborador e ambiente; a Planetree para cuidados centrados na pessoa; e certificações da Associação Internacional de Pesquisa Clínica e a Magnet, acreditação de Enfermagem de Excelência. Cobertura do bloco E do Hospital Israelita Albert Einstein, onde foi criada uma área externa de convívio. Imagens: Divulgação.