A nova edição do Anuário de Certificações GBC Brasil, desenvolvido ao longo desse difícil e sinuoso ano pelo qual estamos atravessando, mostra que, aos poucos sua ideia e seu potencial vão se consolidando como uma grande ferramenta de difusão das melhores práticas e dos principais projetos certificados LEED no país.
Contando com a presença de vários projetos, com novas em- presas apoiadoras e uma quantidade de dados e informações das mais relevantes para o segmento, esta edição traz ainda mais números e dados para entender esse mercado. Em especial, trazemos várias pesquisas para dimensionar e comparar os investimentos, custos, e retornos economico-financeiros dos edifícios certificados LEED em comparação a seus similares nos dois maiores mercados corporativos do país. Os resultados você vê somente aqui, e tira suas conclusões sobre o potencial desse mercado.
Anuário GBC 2016 destaca benefícios econômicos de edifícios sustentáveis
1. 2 16ANUÁRIO
CERTIFICAÇÕES
GBCBRASIL
C O N S T R U I N D O U M F U T U R O S U S T E N T Á V E L ANO3 / Nº9 / 2016
REVISTA
VIBEDITORA
ESPECIAL
G R E E N B U I L D I N G C O U N C I L
9772446970049
00916
ISSN2446-970X
EXEMPLARAVULSO:R$35,90
Investimento em projetos LEED e
Análise Econômica dos Edifícios
LEED x Edifícios Convencionais
Expansão do LEED no Brasil
alcança todas as regiões
ENTREVISTA ESPECIAL:
Rick Fedrizzi, CEO do USGBC
3. revistagbcbrasil.com.br 3jul/16
anuário GBC 2016
C.COM.BR/EZTOWERS
ficação e seus benefícios no site
NO VÉRTICE FINANCEIRO
DA CIDADE SURGE UM ÍCONE
DE RECONHECIMENTO
MUNDIAL, CONSOLIDANDO
OS 37 ANOS DA EZTEC.
Uma escultura corporativa emblemática,
com alto padrão técnico, estético
e sustentável, que representa toda
a grandiosidade de São Paulo junto
às principais capitais cosmopolitas.
CERTIFICAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE
LEED®
GOLD.
6. 6 jul/16 rev/gbc/br
índice
EDITORIAL...................................................... > 4
COLUNA GBC................................................. > 8
GREEN PAGES
RICK FEDRIZZI....................................>12
SUSTENTABILIDADE NO VAREJO.............. > 20
CASE LOJA "QUEM DISSE BERENICE?".... > 24
O MERCADO RUMO AO EPD...................... > 30
ESPECIAL ECONOMIA LEED....................... > 38
O GRESB, QUANTO CUSTA A PRODUÇÃO, OPERAÇÃO,
ANÁLISE COMPARATIVA DE VALORES DE MERCADO
PROJETO INTERNACIONAL ECOARK...........................>68
VISÃO DA AMÉRICA: COLOMBIA............... > 74
OLIMPÍADAS E LEED ND............................. > 78
REFERENCIAL GBC BRASIL CASA............... > 96
ESPECIAL
ANUÁRIO DE CERTIFICAÇÕES.......>108
EMPRESAS EM DESTAQUE ...........................................> 110
REGIONALIZAÇÃO DO LEED ........................................> 142
CASES ATUAIS 2015............................. > 148
CASES HISTÓRICOS........................................................> 204
GUIA DE SOLUÇÕES.................................. > 217
GBCBRASIL
C O N S T R U I N D O U M F U T U R O S U S T E N T Á V E L ANO3 / Nº9 / 2016
REVISTA
G R E E N B U I L D I N G C O U N C I L
7. A Racional Engenharia foi uma das empresas pioneiras
no desenvolvimento de construções sustentáveis no Brasil.
Obtivemos a certificação LEED para projetos
emblemáticos, como o primeiro edifício comercial
certificado no País, o Edifício Cidade Nova, e também
o primeiro datacenter da América Latina a receber esta
certificação, o Datacenter Telefônica Vivo.
Hoje, temos experiência e a confiança dos nossos clientes
para garantir projetos com a chancela LEED em diversos
segmentos, como datacenters, centros de inovação,
hospitais, hotéis, parques logísticos, plantas industriais
e shopping centers.
Exemplos concretos são o Hospital Alemão Oswaldo
Cruz,o Datacenter BM&FBovespa, o edifício Torre Z,
o Tietê Plaza Shopping,
Cada uma dessas realizações representa nosso
compromisso com nossos clientes, com o futuro
e com o meio ambiente.
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
(LEED Gold)
Datacenter BM&FBovespa (LEED Certified)
Torre Z
(LEED Gold)
Tietê Plaza Shopping
(LEED Silver)
SUSTENTABILIDADE
SE CONSTRÓI
COM EXPERIÊNCIA
E COMPROMISSO.
8. 8 jul/16 rev/gbc/br
Editorial
C
om muito orgulho estamos lançando nossa 2º edi-
ção do Anuário das edificações certificadas LEED
e Referencial GBC Brasil Casa. Trata-se de mais
um canal de comunicação desenvolvido pelo Gre-
en Building Council Brasil e seus Membros com o
objetivo de disseminar as melhores práticas, novas tecnologias,
casos de sucesso, estudos e pesquisas.
O Anuário GBC Brasil é um documento rico em informa-
ções, possui a participação de inúmeras empresas e profissio-
nais e classificamos este documento como um importante guia
para aqueles que possuem interesse em aprofundar conheci-
mento e pesquisar sobre a indústria nacional da construção
sustentável.
Em termos de distribuição, dentre as parcerias, vale des-
tacar o acordo com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da
Construção), que engloba o envio do Anuário a todas Diretorias
de seus Associados, dentre elas, as regionais do SINDUSCON,
ADEMI e SECOVI.
Entendemos que a distribuição deste conteúdo, desen-
volvido pelas forças de mercado, auxilia nosso movimento na
condução da transformação da indústria da construção civil e
cultura da sociedade em direção a sustentabilidade.
Fato é que todos buscam um protagonismo maior em
matéria de desenvolvimento da chamada economia verde e
aguardam por uma grande ideia. A Revista e Anuário GBC Brasil
abordam muitas ideias ou modelos de negócios diferenciados.
E, é sabido que toda grande ideia ou modelo de negócio prós-
pero quando comprovado através de casos de sucesso, e di-
vulgados, multiplicam-se e passam a penetrar setores diversos.
Isto é exatamente o que está acontecendo no Brasil.
Em meio a desafios políticos e econômicos, o desempenho
de novos projetos registrados buscando a certificação no ano de
2016 está sendo ótimo, destaque ao primeiro quadrimestre quan-
do recebemos o maior número de novos projetos desde 2012.
Isto ocorrendo neste ano de desafios, onde não há lança-
mentos de novos prédios corporativos de alto padrão, setor este
percursor, onde temos fortes raízes. Este cenário comprova os
benefícios econômicos considerados pelos fundos de investi-
mentos internacionais. Estes investidores falam que os prédios
verdes oferecem maior valor, maior velocidade de ocupação,
maior retenção, maior liquidez, ou seja, diminuem os riscos do
investimento, como também os riscos da obsolescência, que
pode ser ainda mais destrutiva e tirar empresas do mercado.
Isto comprova que modelos de negócios bem planejados
dentro da visão sistémica, e, considerando custos dentro do ci-
clo de vida de uma edificação oferece retorno financeiro para
todos.
E o desempenho de 2016 é justificado pela penetração do
green building nas plantas industriais, hoje (jun/16) são 77 regis-
tradas, centro de distribuição e logística que somam 162, e lojas
de varejo são 42. Agora hospitais, data center, hotéis, interiores
de escritórios, supermercados... Obras públicas como escola,
creche, estádio, museu, sede de Prefeitura...
O Green Building Council Brasil e seus Membros também
ingressam no setor residencial de casas, prédios residenciais e
loteamentos.
Este cenário evidencia nossa característica como Orga-
nização e movimento sendo multidisciplinar e multisetorial, e o
continuo suporte de diversas lideranças, reforça nosso otimis-
mo nos avanços da construção sustentável e a certeza de que
estamos construindo nosso caminho em direção a um futuro
próspero, saudável e igualitário.
A multiplicação é o
resultado da promoção
de exemplos de sucesso.
FELIPE FARIA,
CEO - Green Building Council Brasil
Presidente do Comitê da América do World Green Building Council
10. 10 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
O ESCRITÓRIO
DE ARQUITETURA
COM MAIS SELOS
LEED NO BRASIL
52
16 09 22 05
Há mais de 20 anos, a Athié Wohnrath carrega
em seu DNA o cuidado com o meio ambiente.
A excelência em projetar e implantar espaços
corporativos passa, obrigatoriamente, pela
sustentabilidade. Como consequência desse
investimento em melhores práticas sustentáveis,
temos orgulho hoje de ocupar a posição de escritório
de arquitetura com mais selos LEED no Brasil.
12. 12 dez/14 rev/gbc/br
inovação
GREEN PAGES
12 jul/16 rev/gbc/br
Rick FedrizziChief Executive Officer, USGBC
ENTREVISTA
Rick Fedrizzi é o CEO e fundador presidente do U.S.
Green Building Council (USGBC), uma organização
sem fins lucrativos que promove a sustentabilidade
na forma como os edifícios e as comunidades são
concebidos, construídos e operados. Seu compromisso
com programas e iniciativas para mudar o jogo do
USGBC catalisou um movimento de construção
verde global e definiu um padrão de mercado para a
realização de sustentabilidade. Através de sua corajosa
e colaborativa liderança no USGBC, Rick levou a
transformação da arquitetura, do mercado imobiliário
e de prática comercial, criou novos mercados e provocou
a inovação, levando a mudanças fundamentais nos
recursos poupados, toxinas eliminadas, gases de efeito
estufa evitados e a saúde humana melhorada.
O programa de certificação LEED do USGBC, a pedra
angular dos esforços de Rick, conta hoje com mais de
75.000 projetos comerciais registrados e certificados,
abrangendo cerca de 1.4 bilhão de metros quadrados
e mais de 200.000 unidades residenciais em todo o
mundo que participam do LEED, com 180 mil metros
quadrados de área construída a receber a certificação
LEED todos os dias. Mais de 200.000 detentores de
credenciais profissionais LEED estão empenhados
em fazer avançar este movimento global. O USGBC
também organiza sua conferência anual Greenbuild
Internacional e Expo, a maior conferência e exposição
dedicada à construção verde do mundo, que será
realizada este ano em Los Angeles entre 5 e 7 de outubro.
Rick foi um dos co-fundadores do USGBC em 1993
enquanto era diretor de marketing ambiental na United
Technologies Corporation. Natural de Syracuse (NY), ele
é formado pela Univeridade de Le Moyne e possui MBA
pela Universidade de Syracuse, em 1987. Participa em
vários conselhos de empresas com e sem fins lucrativos
e comitês consultivos, incluindo Global Green e do
Centro de Saúde e Meio Ambiente Global da Harvard
T. H. Chan School de Saúde Pública, Clinton Climate
Initiative, Watsco, View, e Energy Focus.
GREEN PAGES
13. revistagbcbrasil.com.br 13dez/14
inovação
revistagbcbrasil.com.br 13jul/16
Em seu livro Greenthink, você explica
como o lucro pode salvar o planeta e
apontar a sustentabilidade como a maior
oportunidade de negócios do século 21.
Conte-nos um pouco sobre a ideia de
como o lucro pode nos levar a um cami-
nho para salvar o mundo, aproximando a
comunidade ambiental do setor privado
que foram inimigos durante décadas?
Rick Fedrizzi. Nos últimos 20 anos, eu tenho
trabalhado duro para reunir uma comunidade
de profissionais com a mesma opinião, que
têm as habilidades necessárias para trans-
formar o sonho de um futuro sustentável em
uma realidade rentável. As empresas membro
do USGBC vão desde empresas da Fortune
500 até pequenas lojas familiares. Nossos pro-
fissionais LEED em todo o mundo, incluindo
desde empreiteiros a executivos de start-ups.
Mas não importa onde estejam ou o que eles
fazem, os nossos membros compartilham
uma crença incondicional que a sustentabili-
dade é um ganha-ganha para a economia e
para o ambiente.
Fora da comunidade da construção verde, no
entanto, expor esse ponto de vista é, muitas
vezes, encontrar um olhar perdido, ou um feroz
desacordo. Afinal, todo mundo sabe que o setor
privado e o movimento ambientalista são inimi-
gos mortais, certo? Lemos sobre as empresas
que lutam contra regulamentação ambiental,
pois ameaçam os seus lucros, ou manifestantes
ambientais que se colocam entre as compa-
nhias de petróleo gananciosas e seus equipa-
mentos de perfuração em águas profundas.
É uma narrativa fácil de fazer sua cabeça girar.
Todo mundo tem um objetivo claro, simples:
fazer dinheiro pilhando a Terra, ou acabar com
empregos para salvar alguma flora e fauna. É
um cenário de "ou isso/ ou aquilo" para a maio-
ria de nós. A ideia de que ele poderia ser "am-
bos / e" é, para a grande maioria, insondável.
E isso não é surpresa. Afinal, é assim que vimos
o mundo durante os últimos cinquenta anos.
Ambientalistas e líderes empresariais sabem
quem são seus amigos e inimigos. É claro que
eles precisam "derrotar" para "vencer".
Claro, ambos os lados têm vindo a cooperar
um pouco, antes tarde do que nunca. Grupos
ambientalistas monitoram e verificam as emis-
sões de carbono do setor privado e outros
impactos ambientais, por exemplo. E quase
todas as empresas tem o objetivo de serem
percebidas como verdes.
Mas para a maior parte, ativistas ambientais e
da comunidade empresarial continuam a travar
a mesma batalha que tenho lutado por déca-
das. Aqui temos essa visão de mundo contradi-
tório: por um longo tempo, ele descreveu com
bastante precisão os fatos na vida real.
O movimento ambientalista estava absoluta-
mente certo de que a única maneira de obter
negócios com menores impactos sobre o
meio ambiente era através do método,
já testado pelo tempo, da agitação, da
legislação e da regulamentação. Sem
a força da lei, nenhuma quantidade
de solicitações poderia fazer o setor
privado limpar seus atos. A indústria
não tinha incentivo - e nenhum desejo
- para desistir do lucro e crescimento por
uma causa que não era a sua própria.
Enquanto isso, a comunidade empresarial es-
tava certa, também.
O que os ambientalistas estavam exigindo era,
essencialmente, uma mudança de prioridades
afastando do lucro e do crescimento, e para a
gestão ambiental extrema. E para as empre-
sas, essas mudanças pareciam tão desneces-
sárias quanto caras.
O paradigma básico, como a maioria via, era
que cada unidade de poluição mantidos fora
do ar, água e terra significava uma unidade do
lucro que saia do bolso de alguém.
E tendo em mente, esses bolsos não perten-
ciam apenas aos CEOs. Elas pertenciam a
todos, dos gestores financeiros aos trabalha-
dores do escritório, dos acionistas individuais
aos fundos de pensões, das universidades
aos sindicatos - qualquer um ligado de algu-
ma forma na grande rede da economia global.
Em outras palavras, os comprometimentos
não eram imaginários, eles eram reais.
O que prevalece no quadro - Economia vs.
Ambientalismo - representa algumas esco-
lhas muito difíceis. Não é nenhuma surpresa
que os decisores políticos tenham encontrado
muita dificuldade para equilibrar essas priori-
dades concorrentes ao longo dos anos. Hoje,
isso não mudou muito: o ambientalismo e da
indústria ainda estão uns contra os outros,
vítimas de meio século de “pensamento de
grupo”.
Em qualquer medida determinada, um lado
defende automaticamente que fazer X vai
matar a economia, enquanto o outro lado
argumenta que não fazer X vai matar o meio
ambiente. Estamos todos familiarizados com
esta metáfora assassina. Às vezes, é mais do
que apenas retórica. O Senador dos EUA, Joe
Manchin, disse em um famoso anúncio de
campanha que iria “acertar em cheio no pro-
jeto de lei” - e, em seguida, ele literalmente
disparou uma bala através dele. Esta narrativa
está ao nosso redor, praticamente em todos
os lugares que você olhar. Às vezes você ouve
diferentes versões.
Na MSNBC, o movimento ambiental é o herói
da história. Na Fox News, o CEO é o herói.
E enquanto os protagonistas e antagonistas
são diferentes, as tramas são fundamental-
mente as mesmas. Ambos são apaixonados,
partidários, polarizando defesas de visões de
mundo profundamente enraizadas. Ambos
14. 14 dez/14 rev/gbc/br
inovação
GREEN PAGES
14 jul/16 rev/gbc/br
assumem reflexivamente que o capitalismo e
o ambientalismo estarão para sempre em de-
sacordo. Ambos lançaram a luta em termos de
bem e mal. E sabe o que mais? Ambos estão
errados.
Na velha narrativa, o que é mau para o am-
biente é bom para a economia, e vice-versa.
Mas olhe em volta! Desastres ambientais es-
tão afetando severamente o setor privado. Só
em 2014, oito desastres climáticos ocorreram
nos Estados Unidos e custaram mais de US$
1 bilhão cada.
Se você está vivendo na costa, trabalhando
com seguros, ou apenas pensando como um
cidadão preocupado, esse número é bastante
assustador. Mesmo se você amortizar o im-
pacto cada vez maior do clima severo como
uma espécie de golpe de sorte meteorológica,
o impacto da poluição é impossível de negar.
Na verdade, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) coloca a poluição do ar como o "único
e maior risco para a saúde ambiental do mun-
do." O que a OMS não diz é que a poluição do
ar é também um risco para a saúde econômi-
ca. Considere como todas as economias es-
tão silenciosamente sofrendo os efeitos desse
arrasto ambiental.
Por exemplo, a China tem visto um crescimen-
to econômico incrível ao longo dos últimos
anos, mas e se eu lhe dissesse que o cresci-
mento poderia ser ainda maior? O Banco Mun-
dial estima que o custo da degradação am-
biental e esgotamento de recursos na China
foi de quase 10% do seu PIB em 2008. Se na
China é uma indicação - e você pode apostar
que é – imagine só o impacto econômico da
poluição em todo o planeta.
É dolorosamente claro para mim que nós esta-
mos no meio de uma depressão ambiental glo-
bal. Tragicamente, poucas pessoas entendem
isso, pois eles acreditam que o setor privado
e da comunidade ambiental são atores inde-
pendentes em um jogo de soma zero. Esta
visão de mundo contraditório antiquada não é
apenas burra; é devastadora para a economia
e para o ambiente. E, no entanto, os ambienta-
listas continuam a antagonizar a indústria, em
vez de tentar uma parceria com ele. Como re-
sultado, os interesses das empresas afundam
em seus calcanhares e impedem acordos que
poderiam impedir uma mudança climática ca-
tastrófica. Enquanto isso, o setor privado está
deixando trilhões em cima da mesa e conde-
nando a humanidade e o nosso planeta a um
terrível futuro, ao não abraçar amplamente o
poder extraordinário de sustentabilidade para
impulsionar o crescimento econômico.
Há duas maneiras principais que todas as em-
presas têm de ganhar ao ser ambientalmen-
te consciente. Em primeiro lugar, eliminando
desperdício e fazendo as coisas de forma mais
eficiente, as empresas economizam dinheiro.
Em segundo lugar, usando sustentabilidade
para impulsionar a inovação, novos produtos
tornam-se mais eficazes, mais desejáveis para
os clientes e, portanto, mais rentáveis. Deixe-
-me repetir: Mais poupança. Mais inovação.
Mais clientes. Mais dinheiro. O que há para
não gostar nisso?
Infelizmente, o cansaço, o discurso antigo
através do qual a maioria das pessoas en-
tendem o mundo... E o pensamento de grupo
dentro dos círculos empresariais e ambientais
que o sustenta... estão impedindo que muito
dinheiro possa ser feito e muito do planeta
possa ser salvo.
Mas um novo discurso está emergindo, - uma
nova maneira de pensar, mesmo -, está en-
raizada na realidade, não distorcida pela his-
tória. Enquanto a velho discurso afirma que o
ambiente é o inimigo do crescimento, a novo
discurso sustenta que o meio ambiente e a
economia estão profundamente, fundamen-
talmente ligados. Eles compartilham inimigos
comuns: desperdício, ineficiência, poluição,
mudanças climáticas, escassez de recursos e
degradação ambiental. Eles também compar-
tilham um aliado comum: a sustentabilidade.
E em vez de pensar isoladamente, eles com-
partilham uma visão comum: Greenthink
(pensar verde). Greenthink ocorre quando as
empresas, organizações sem fins lucrativos,
governos e indivíduos ligam-se com princípios
ambientais e econômicos para os benefícios
que eles podem receber de ambos. Em toda
a economia global, um número seleto de em-
presas esclarecidas já estão envolvidas em
greenthink, aproveitando o poder da susten-
tabilidade para impulsionar os lucros. Estas
empresas não estão usando menos energia
e menos recursos em nome da autonegação
nem têm bondade no coração; elas estão con-
sumindo menos, a fim de ganhar mais. Na ver-
dade, a proeminente empresa de consultoria
McKinsey & Company diz, e eu estou citando
aqui - que "a escolha para as empresas de
hoje não é se, mas como eles devem geren-
ciar suas atividades de sustentabilidade." A
sabedoria convencional nos diz que a sus-
tentabilidade é proibitivamente caro; ... Que a
indústria é, por definição, destrutiva; ... E que
o ambientalismo e o capitalismo são diame-
tralmente opostos. Mas é hora de atirar aquela
velha forma de pensar pela janela de eficiên-
cia energética de vidro triplo, pois mesmo que
o setor privado e o movimento ambientalista
por muito tempo têm pensado em si mesmos
como adversários, a verdade é que eles irão
compartilhar o mesmo destino.
O futuro do planeta está em jogo, e assim é o fu-
turo da economia global. A degradação ambien-
tal e as alterações climáticas estão começando
a gerar um enorme custo econômico que vai
crescer por ordens de magnitude nos próximos
anos. Enquanto isso, as práticas de negócios
ambientalmente amigáveis estão criando uma
colheita econômica para aqueles inteligentes o
suficiente para abraçá-los.
Esta é a nova realidade e nossa oportunidade
histórica. Estratégias orientadas para o lucro
podem trazer-nos juntos e nos ajudar a reduzir
drasticamente a nossa pegada de carbono, eli-
minar a poluição prejudicial e construir um mun-
do melhor, mais verde. Em outras palavras, o
lucro pode salvar o planeta. Talvez isso pareça
bom demais para ser verdade. Afinal, se a sus-
tentabilidade é tão rentável que pode salvar o
planeta, por que não temos isso? Por que ainda
vemos poluição galopante e maquiagem verde
cínica da grande maioria do setor privado? A
resposta é simples: a maioria das empresas ain-
da não está fazendo um balanço do impacto do
ambiente sobre a sua linha a fundo.
Mas eu sei que isso vai mudar, porque eu vi isso
acontecer com uma das maiores e mais poluido-
ras indústrias do mundo: o imobiliário. Em pouco
mais de uma década, através do revolucionário,
16. 16 dez/14 rev/gbc/br
inovação
GREEN PAGES
16 jul/16 rev/gbc/br
voluntário programa de certificação LEED, o
USGBC e o setor privado têm canalizado ta-
lento ... compartilhando inovações ... e trans-
formado o mercado imobiliário e da constru-
ção - dois dos maiores setores da economia.
Até esta data, certificou-se LEED mais de
370 milhões de metros quadrados em imó-
veis sustentáveis em todo o mundo. Outros
930 milhões de metros quadrados estão em
processo de certificação. Isso é muito metro
quadrado! Mas como isso se traduz em dó-
lares? De acordo com a Booz Allen Hamilton
(BAH), o setor de construção verde contribuiu
com US$ 167,4 bilhões para o PIB dos EUA
entre 2011 e 2014. Em 2018, esse número vai
quase dobrar, para US$ 303,5 bilhões. Claro,
os benefícios ambientais da construção verde
são tão significativos quanto os econômicos.
Paul Hawken, o ambientalista lendário, uma
vez escreveu: "O USGBC pode ter tido um
impacto maior do que qualquer outra organi-
zação no mundo em materiais poupados, to-
xinas eliminadas, gases de efeito estufa evita-
dos e a saúde humana melhorada." Nada mau
para uma pequena organização ambiental
sem fins lucrativos.
O sucesso do movimento de construção verde
ensinou-me duas coisas: Em primeiro lugar, há
apenas uma força suficientemente poderosa
e capaz de trabalhar com rapidez suficiente,
para reverter as tendências que estão corro-
endo a segurança ambiental do nosso planeta
e o futuro da humanidade: o capitalismo. Em
segundo lugar, o greenthink é, simplesmente,
a maior e mais incrível oportunidade de negó-
cio do século XXI.
É por isso que eu escrevi este livro e é por isso
que estou tão animado para compartilhar com
você. Se você é um ambientalista, é hora de en-
frentar as limitações do movimento do meio am-
biente e começar a aproveitar as forças do setor
privado para impulsionar a mudança. E se você
é um líder de negócio, é hora de transformar de
forma sustentável a sua empresa antes que fa-
tores ambientais - ou seus concorrentes mais
sustentáveis – o coloquem para fora do negócio.
Acredito firmemente que o lucro pode salvar o
planeta, e salvar o planeta será grande para o
negócio.
O que vem a seguir, tanto para os empre-
sários e ambientalistas se não enfrentar a
mudança climática agora?
RF. No ano passado, Mark Carney, presidente
do Banco da Inglaterra, fez um discurso extraor-
dinário no Lloyds de Londres, declarando que o
nosso aquecimento climático apresenta riscos
importantes para a economia e estabilidade fi-
nanceira global, e que as empresas e os regula-
dores têm de se mover mais rapidamente para
tentar conter o potencial prejuízo econômico,
mesmo que possa parecer incerto e longínquo.
"Nós não precisamos de um exército de estatís-
ticos", disse ele, "para nos dizer que os impac-
tos catastróficos das mudanças climáticas será
sentido para além dos horizontes tradicionais
da maioria dos players - impondo um custo
para as gerações futuras que a geração atual
não tem incentivo direto para corrigir.”
O negócio global está finalmente acordan-
do para a ideia de que o lucro pode salvar o
planeta. Que a sustentabilidade pode ser um
motor de abundância em vez de escassez, da
inovação que muda as ações para melhorar os
"O 'greenthink'
é, simplesmente,
a maior e mais
incrível oportuni-
dade de negócio
do século XXI."
18. 18 dez/14 rev/gbc/br
inovação
GREEN PAGES
18 jul/16 rev/gbc/br
resultados enquanto, ao mesmo tempo, atua
fortemente na melhoria da qualidade de vida.
As 172 principais empresas, estados, regiões
e cidades ao redor do mundo que se compro-
meteram a reduzir suas emissões de gás de
efeito estufa em 80 a 100%, ou produzir 100%
de sua energia a partir de fontes renováveis
são cruciais para o nosso futuro. No ano pas-
sado, dezenas de empresas anunciaram no-
vas ações climáticas, com compromissos que
totalizam US$ 140 bilhões em novos investi-
mentos de baixo carbono.
Eu não acho que precisamos de mais evidên-
cias de que ela é a perspectiva de lucro que
vai salvar o planeta através de profunda inova-
ção e alcançar resultados extraordinários em
algumas áreas-chave.
A primeira é a eficiência. Claro, cada empre-
sa quer ser eficiente, mas comprometendo-se
a reduzir as emissões para perto de zero dá
a essa intenção uma direção - exigindo mais
produtividade com menos desperdício. Muitas
empresas começaram com as suas cartei-
ras de imóveis e, em seguida, expandiram-se
para outros aspectos de seus negócios. Ago-
ra, grandes empresas como Walmart estão
comprometendo-se a eliminar 2 milhões de
toneladas de emissões de gases de efeito es-
tufa, forçando suas práticas profundamente em
suas cadeias de fornecimento.
A segunda é a competitividade. Investimentos
com baixo carbono resultante hoje melhoram a
vantagem competitiva no futuro. O Estado da
Califórnia apostou cedo e frequentemente na
tecnologia limpa, e, como resultado das suas
políticas climáticas ambiciosas, o estado é o
lar de mais de 40.000 negócios avançados de
energia que empregam cerca de 500.000 cida-
dãos - mais ainda do que a indústria do cinema!
Da mesma forma o estado da Renânia do
Norte - Westphalia, na Alemanha, tornou-se o
maior fornecedor de produtos e serviços de bai-
xo carbono na Alemanha, com uma quota de
mercado global de 2% e empregando cerca de
320.000 trabalhadores.
E, finalmente, a terceira razão é Valores. Pode
ser um desafio quando valores fundamentais
conflitam com a busca pelo crescimento. Mas
as inovações financeiras estão fazendo o possí-
vel para colher ganhos de eficiência energética,
com pouco ou nenhum custo inicial. Tecnologia
e avanços de mercado já estão fazendo a ener-
gia renovável competir com os combustíveis
fósseis em muitas partes do mundo, com maior
acesso à informação, grandes ferramentas de
dados para analisá-la para as melhores deci-
sões e estão obtendo resultados para empre-
sas grandes e pequenas.
Alguns momentos no tempo tornam-se notá-
veis quando vistos através das lentes da histó-
ria e os Acordos de Paris foi um desses mo-
mentos. O trabalho que está sendo feito pela
comunidade empresarial global, por estados
e municípios, deram aos governos nacionais o
apoio que era preciso para agir com ousadia
na COP recente. E nós sabemos - na verdade
o IPCC descobriu - que mais edifícios verdes
de alto desempenho oferecem os maiores po-
tenciais e menores custos como um meio para
combater as mudanças do clima, e devem ser
um elemento fundamental de qualquer acordo.
Muitos dos que estão preocupados com o pla-
neta estão esperançosos de que os acordos
que saíram das conversações de Paris vão ter
sucesso e acelerem nossas ações coletivas
sobre o clima. Pessoalmente, eu não sou um
otimista ou um pessimista sobre o que será o
resultado, mas eu sou um ativista na crença de
que temos de continuar a fazer tudo o que po-
demos ... para mover-nos para a frente sobre
esta questão crítica.
Agora é o momento para ações corajosas e
estratégias destinadas a implementar o tipo
de cultura de cuidado para o nosso planeta
que o Papa Francisco clamou na Laudato Si
(Nota do editor: encíclica na qual o papa critica
o consumismo e desenvolvimento irresponsá-
vel e faz um apelo à mudança e à unificação
global das ações para combater a degrada-
ção ambiental e as alterações climáticas). Nós
sabemos o que fazer - agora precisamos de
vontade política para agir.
Como desenvolver um plano de negócios
bem sucedido com base no tripé da sus-
tentabilidade?
RF. Um relatório recente da Deloitte observa
que o mercado hoje está passando por uma
mudança significativa, com empresas cada
vez mais abordando os aspectos ambientais,
sociais e de governança (ESG) diretamente
reafirmando que sua atuação reflete conside-
rações nas pessoas, na sustentabilidade e cla-
ro, na rentabilidade. Ao mesmo tempo, muitos
estão reconhecendo tanto o valor tangível e
intangível de integrar essas questões em ativi-
dades principais.
Nesta pesquisa da Deloitte com 250 execu-
tivos de empresas, foram identificadas três
condutores de imperativos ESG: a necessi-
dade de reforçar a reputação corporativa e de
marca, mais exames regulatórios, e as mais
altas expectativas dos consumidores e a co-
munidade em geral. A maioria dos executivos
entrevistados esperam que as questões de
ESG a ter um impacto crescente sobre as suas
estratégias, produtos e serviços e operações
ao longo dos próximos dois anos.
O foco crescente nas questões de ESG é uma
tendência de longo prazo, impulsionado pelo
aumento da consciência pública e da necessi-
dade de se adaptar às mudanças globais ma-
cro, incluindo a disparidade de renda, deman-
das por maior qualidade de vida e degradação
ambiental. As empresas que estão mais dedi-
cadas ao longo da jornada rumo a integração
de medidas eficazes de ESG nas abordagens
de gestão de risco, operações de negócios
e estratégia, provavelmente estarão em uma
posição mais forte para competir no futuro.
Empresas responsáveis têm a vantagem de
serem capazes de tomar uma abordagem es-
tratégica e calculada ao responder a pressões
das partes interessadas e a crises ambientais.
Mais e mais empresas hoje estão realizando
esforços ambientais e sociais para comple-
mentar atividades de negócios tradicionais,
usando esses esforços como catalisadores
para melhorar tudo o que fazem a partir da
inovação e da relação com clientes para cons-
trução da marca e além. Isso pode resultar em
maiores lucros, redução de custos e riscos,
aumentar o valor para o acionista e criar uma
vantagem competitiva, para não mencionar
atrair talentos. Incorporando este tipo de gre-
enthink na estratégia base e na prática de ne-
gócios é apenas uma ação inteligente.
19. revistagbcbrasil.com.br 19dez/14
inovação
revistagbcbrasil.com.br 19jul/16
Quais são os principais benefícios eco-
nômicos de construção verde e como
medi-los?
RF. A resposta a essa pergunta está no gráfi-
co abaixo, da pesquisa “World Green Building
Trends 2016 - Mercados em Desenvolvimen-
to Aceleram o Crescimento Global da Cons-
trução Verde”, produzida em parceria entre a
United Technologies Corporation e o World
GBC.
Como a certificação LEED pode ajudar
os investidores e incorporadores a tomar
as melhores decisões de negócios para
maximizar a rentabilidade da carteira de
suas novas ou existentes construções?
RF. Certificar cada edifício e sítio para o LEED
é crítica, mas isso é apenas o começo da his-
tória. Em 2009, o economista Nils Kok e uma
pequena equipe de colegas lançou o Índice de
Referência Global de Sustentabilidade Imobiliá-
ria (Global Real Estate Sustainability Benchmark
- GRESB), que compila dados para ajudar os
investidores institucionais a promover edifícios
sustentáveis não apenas um de cada vez, mas
em toda as carteiras imobiliárias globais.
Deixe-me lhe dar uma ideia de quão grande
essas carteiras são: levantamento do GRESB
2015 incluiu 707 participantes, com US$ 2,3 tri-
lhões em valor do ativo bruto e 61.000 ativos
cobertos. Não é de se admirar que o GRESB
foi adquirido pela GBCI em 2014. Ao combinar
GRESB com as informações específicas do edi-
fício encontrado no Portal de Informação Green
Building do USGBC (GBIG), temos desenvolvi-
do, pela primeira vez, uma completa solução de
medida de sustentabilidade ativo-para-portfólio
para a maior classe de ativos do mundo. Não
só isso, mas dado o tamanho destas carteiras,
agora temos as ferramentas para criar um im-
pacto ainda maior sobre a sustentabilidade do
nosso ambiente construído.
Dito isto, o desempenho da construção não
se limita ao uso de energia ou de materiais ou
mesmo a construção física. Mais e mais, esta-
mos focando as pessoas no interior dos edifí-
cios para certificar-se de que os edifícios es-
tão trabalhando não só para o ambiente, mas
também para os seus ocupantes. Para as em-
presas, os funcionários são responsáveis por
cerca de 93% dos seus custos totais. Reduzir
contas de serviços públicos é importante, mas
a melhoria da produtividade é fundamental
que uma organização que quer avançar sua
rentabilidade.
Uma organização chamada DELOS foi pionei-
ra em um novo padrão para edifícios: o WELL
Building Standard. O WELL é o primeiro pro-
tocolo de seu tipo que foca especificamente
sobre bem-estar do ser humano dentro do
ambiente construído. Ele prescreve uma série
de melhorias tecnológicas e medidas basea-
das no desempenho em sete categorias: ar,
água, alimento, luz, fitness, conforto e mente.
Você deve ter notado que algumas destas ca-
tegorias são as mesmas que se concentram
no LEED. Na verdade, o WELL baseia-se nos
indicadores de saúde no LEED e eleva-os para
o próximo nível. Em 2014, o WELL tornou-se o
primeiro cliente da GBCI, depois do LEED, e
juntos já estamos fazendo um mundo de di-
ferença.
Redução dos custos
de operação
após 1 ano
Redução dos custos
de operação
após 5 anos
Aumento do valor
do Edifício verde
versus um projeto
não verde
Aumento do valor
patrimonial do Edifí-
cio verde versus um
projeto não verde
Payback para inves-
timentos verdes
Construção
Nova
Retrofit
Benefícios de negócios esperados do investimento
em edifícios verdes
(Valores médios reportados em 2012 e 2015)
2015
2012
8% 9%
15% 14%
7% 8%
5% 7%
8 anos 8 anos
9% 9%
13% 13%
5% 7%
4% 7%
7 anos 7 anos
Benefícios
"Na MSNBC, o movimen-
to ambiental é o herói da
história. Na Fox News, o
CEO é o herói. E enquanto
os protagonistas e anta-
gonistas são diferentes, as
tramas são fundamental-
mente as mesmas. Ambos
são apaixonados, partidá-
rios, polarizando defesas
de visões de mundo pro-
fundamente enraizadas.
Ambos assumem reflexi-
vamente que o capitalismo
e o ambientalismo estarão
para sempre em desacordo.
Ambos lançaram a luta
em termos de bem e mal.
E sabe o que mais? Ambos
estão errados."
20. 20 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
Ir
às compras é, na maioria das
vezes, necessidades básicas
na vida das pessoas, como
comer, comprar roupas, pagar
contas, ou seja, elementos bá-
sicos para o dia-a-dia. Porém,
entrar em um estabelecimento
para fazer compras é algo que pode ser nada
agradável para as algumas pessoas pelos
motivos mais óbvios, o ar-condicionado ligado
nas alturas, ambientes barulhentos e apertado
sem opção de mobilidade, iluminação pesada
que cause cansaço e sono. Em contrapartida,
nada é mais satisfatório do que estar em um
local e se sentir confortável, pois a tempera-
tura está agradável, a iluminação que as dei-
xem confortáveis para permanecer o tempo
necessário. Isso se chama sustentabilidade
no varejo.
No relatório de Saúde, Bem-Estar e Produti-
vidade no Varejo lançado pelo WGBC (World
Green Building Council), em fevereiro de 2016,
mostra que a sustentabilidade é um dos moto-
res mais significativos para setor do varejo, e
comprova que, quanto maior a preocupação
com o consumidor através de ações que ofere-
cem conforto e bem-estar, maior os resultados
positivos, inclusive, financeiro. Além disso, o
estudo visa uma estrutura que dê suporte aos
varejistas, vinculando estas ações ambientais
com o desempenho financeiro das lojas.
Em linhas gerais, pode-se dizer que cliente fe-
liz e confortável é uma importante solução para
garantir sucesso financeiro para a empresa. A
pesquisa relaciona, neste sentido, dois pontos
fundamentais para o avanço econômico nas
empresas de varejo, a satisfação e o prazer do
cliente com o aumento de receita.
no varejoSustentabilidadeA satisfação do
cliente e adoção
de estratégias
sustentáveis como
impulso para
o crescimento
econômico no
varejo
Imagem:DivulgaçãoCCP
21. revistagbcbrasil.com.br 21jul/16
anuário GBC 2016
Assim como proporcionar um ambiente sau-
dável e conforto ao cliente, as empresas de
varejo que investem em estratégias susten-
táveis também possuem um retorno positivo
com relação à produtividade de seu colabo-
rador, com base no estudo do WGBC boa luz
natural e vista para natureza, por exemplo,
são fatores que ajudam os funcionários a tra-
balhar, vender e viver melhor. Neste sentido,
quebram-se barreiras, aproximando ainda
mais o conceito de sustentabilidade com ob-
jetivos rentáveis das empresas.
De acordo com Eduardo Trajano, Presiden-
te do Comitê de Varejo ABIESV (Associação
Brasileira da Indústria de Equipamentos e
Serviços para o Varejo) o documento mos-
tra de forma objetiva como uma abordagem
ampla de sustentabilidade pode contribuir de
forma positiva com o desempenho do Vare-
jista. “Desde que devidamente divulgado nos
canais apropriados e assimilado pelas lide-
ranças do Varejo, o conteúdo deste relatório
poderá dar um impulso ao Varejista no campo
da Sustentabilidade”, afirma.
O relatório contou com estudos de casos inte-
ressantes que comprovam que um ambiente
construído de forma sustentável garante me-
lhor satisfação dos clientes, como por exem-
plo, a varejista Marks & Spencer, em Sheffield,
Inglaterra que utilizou em uma loja uma série
de estratégias sustentáveis como, luz natural
e lâmpadas Led, coleta de água da chuva,
pontos de carga para veículos elétricos, infor-
mações em tempo real sobre transporte públi-
co. Além de um feedback positivo dos clientes
e colaboradores, a loja reduziu 20% no con-
sumo de energia com iluminação e 30% no
consumo de água.
Da mesma forma, um estudo realizado em
2012, avaliando a relação em ambientes sus-
tentáveis e maior rentabilidade nos negócios,
comparou a performance de 494 agências
bancárias do grupo PNC Financial Services,
sendo que, 52 agências com certificação
LEED e 442 agências não certificadas. Os
resultados mostraram que as agências com
certificação abriram 458 mais contas e tiveram
mais de $3 milhões de dólares em depósitos
por ano se comparado às agências sem a cer-
tificação. Além disso, contas de serviços públi-
cos (como água e luz) por funcionário foram
em média US$675 mais baixas nas agências
certificadas quando comparadas às não cer-
tificadas.
LEED para Varejo no Brasil
O Green Building Council trabalha fortemente
para fomentar e disseminar este conceito no
mundo através de certificação LEED (Leader-
ship in Energy and Enviromental Design). No
Brasil, o GBC (Green Building Council) vem
fazendo um trabalho excelente neste sentido
por entender que é possível garantir conforto,
bem-estar e saúde para as pessoas, maior
produtividade no ambiente de trabalho, con-
tribuir para preservação dos recursos naturais
do planeta, além de promover a construção de
um negócio mais rentável.
No tocante à certificação, a organização con-
cede o selo ambiental LEED Retail, específicos
para lojas de Varejo, que reconhece as diferen-
tes necessidades e características de um es-
tabelecimento do setor, quando comparada a
uma edificação comercial, além de auxiliar di-
retrizes para redução da pegada ecológica na
edificação. Esta tipologia aborda duas opções
de certificação, LEED for Retail NC (Novas
Construções ou Grandes Reformas) e LEED
for Retail CI (Interiores Comerciais, quando a
loja está localizada dentro do edifício).
Para Glauco Humai, presidente da ABRASCE
(Associação Brasileira de Shopping Centers),
os centros de compra desempenham um im-
portante papel na sociedade. “Sua transfor-
mação em equipamentos sustentáveis con-
tribui para incentivar melhores práticas dos
empreendedores, colaboradores, lojistas e
frequentadores. A implementação de iniciati-
vas conscientes e a preferência por operações
verdes já fazem parte da política de grandes
grupos do setor, que priorizam parcerias com
fornecedores comprometidos com a sustenta-
bilidade”, afirma.
Para o presidente da ABRASCE, destacam-se,
entre as práticas já adotadas por diversos cen-
tros de compras em todo o país, o investimen-
to em designs que favoreçam a luz natural, a
implantação de sistemas inteligentes de ilumi-
nação e ar condicionado, o reaproveitamento
de recursos utilizados, a criação de infraestru-
tura para ciclistas, entre outras iniciativas que
visam conscientizar, sociabilizar e reduzir o im-
pacto no meio ambiente. “Ações como essas
fazem parte da realidade do setor, que com-
pleta 50 anos de história em 2016 e já acumu-
lam inúmeros cases de sucesso com foco em
sustentabilidade”.
Os edifícios desenvolvidos de acordo com cri-
térios sustentáveis se diferenciam dos estabe-
lecimentos convencionais em vários aspectos.
Inicialmente pode-se considerar o estabeleci-
mento sustentável e um ambiente físico com
características superiores seja na iluminação,
conforto térmico e acústico, qualidade do ar
interior e mesmo o layout. Estas característi-
cas garantem uma experiência e percepção
positiva seja dos colaboradores da empresa
e de seus clientes, que contribuirão com uma
performance acima da média, seja na produ-
tividade relacionada aos funcionários (absen-
teísmo, retenção equipe, custos médicos, re-
clamações), fidelidade do cliente, aumento de
venda e valor de marca.
No entanto, Eduardo Trajano assegura que
ainda existe um longo caminho pela frente,
22. 22 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
pois além de haver uma parcela pequena de varejistas que tem bus-
cado o caminho da sustentabilidade, o ritmo de conscientização deste
caminho ainda se mostra tímido conforme gráfico dos registros LEED
abaixo mostrado. “Entendo que uma abordagem de Sustentabilidade
para o Varejo deverá ter seus benefícios melhor explorados através de
maior divulgação seja nas mídias, na organização de eventos e mesmo
através do estreitamento com as entidades mais influentes junto aos
varejistas como ABIESV, IDV, etc”, defende.
Apesar de existir um interesse cada vez maior do varejo se inserir dentro
de um ambiente de prática da sustentabilidade, ainda existe um vasto
campo para se avançar. Trajano aponta que as certificações LEED no
Varejo representam pouco mais de 2% dos registros no Brasil - se for-
mos considerar o segmento de shoppings, esta fatia sobe para 4,2%,
ao passo que o segmento corporativo (edifícios de escritório) chega a
quase metade dos registros. No período de um ano houve um arre-
fecimento do ritmo de crescimento dos projetos LEED no varejo, com
apenas quatro projetos em 2015 e 2 projetos no primeiro semestre de
2016, conforme gráfico abaixo. De acordo com ele, este cenário tem,
possivelmente, uma forte influência da deterioração do cenário político
e econômico do país.
Mesmo assim, o presidente do comite da ABIESV afirma que o traba-
lho que o GBC Brasil vem desenvolvendo nos últimos anos é funda-
mental para a disseminação da construção sustentável, bem como o
aquecimento da sustentabilidade no varejo. “Sem dúvida o GBC tem
um papel importante deste processo, pois o trabalho do GBC orienta
de forma estruturada como o Varejista pode desenvolver um projeto de
loja sustentável”, afirma. “Entendo que a certificação LEED é um ca-
minho importante para o varejista na busca da Sustentabilidade, seja
pela motivação de ganhos Financeiro, de responsabilidade Social e
respeito pelo Meio Ambiente, dentro dos 3 Ps (Profits, People e Planet)
que norteiam a eficiente Gestão de Sustentabilidade”, complementa.
26. 26 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
Obra:
Loja quem disse, berenice?
Cliente:
Grupo O Boticário
Localização:
Av. Paulista, 1230, loja 2113 -
Shopping Cidade São Paulo
Área construída:
48 m²
Certificação:
29/01/2016
Sistema e Nível da Certificação:
LEED CI Retail nível Platinum
Arquitetura:
Panorama arquitetura e design
Construção:
J V Construções e Empreendimentos
Engenharia e Gerenciamento:
Kemp Projetos e Gerenciamento de
Obras
Consultoria LEED e Comissiona-
mento:
Petinelli
Automação:
Steel Engenharia
Em 2012, a revisão feita na estratégia
de sustentabilidade priorizou cinco fo-
cos de atuação, um deles voltado es-
pecificamente para Pontos de Venda,
por ser o principal ponto de interação
com os consumidores das marcas.
Desde então, a realização de estudos
e diagnósticos permitiu implementar
ações que contribuem para o avanço
da sustentabilidade nestes espaços.
“Trabalhamos em parceria com os
franqueados e suas equipes, compar-
tilhando as diretrizes e iniciativas do
Grupo, além dos aprendizados adqui-
ridos por meio dos estudos, para que
possam ser replicados em seus negó-
cios”, afirma Malu.
Atualmente o Grupo Boticário possui
aproximadamente 4 mil lojas, soman-
do todas as unidades de negócio (O
boticário, quem disse, berenice?,
Eudora e The Beauty Box), sendo que
100% das lojas adotam pelo menos
uma prática de sustentabilidade de
acordo com suas características, o
que mantém o Grupo na vanguarda
do varejo brasileiro.
A certificação para a loja quem disse,
berenice? é resultado de um trabalho
de equipe muito bem estruturado do
Grupo Boticário, que envolve a colabo-
ração de todos os níveis da empresa,
tais como gerência, áreas técnicas, di-
retoria, bem como a validação do CEO.
Através do engajamento de todas as
áreas, permitiu-se a criação de um pla-
no muito sólido de sustentabilidade.
O desenvolvimento do projeto e a
construção da unidade quem disse,
berenice? contou com o acompa-
nhamento das empresas Kemp Pro-
jetos de Gerenciamento de Obras,
JV Construções e Empreendimentos,
Steel Engenharia. O projeto de arqui-
tetura foi assinado pela Panorama
Arquitetura e Design. Além disso, tam-
bém contou com a empresa de con-
sultoria em sustentabilidade Petinelli,
que garantiu a adequada implementa-
ção das estratégias sustentáveis para
a obtenção da certificação LEED.
Energia
Um dos focos de ecoeficiência im-
plementado na unidade da quem
disse, berenice? é a eficiência
energética. Um dos diferenciais
quanto à iluminação foi a instalação
de lâmpadas LED atendendo as nor-
mas da ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas). De acordo
com Malu Nunes, a iluminação ade-
quada para cada atividade é muito
importante. Tratando-se de uma loja
de maquiagem é necessário que a
cor da luz e a temperatura tenham
características adequadas. Além da
correta dinâmica da iluminação, a
loja possui sensores de presença o
que também contribuiu para uma re-
dução de 27% no consumo anual de
energia da loja.
Ar condicionado
Ainda nas estratégias adotadas para
a eficiência energética do espaço fo-
ram instalados equipamentos de ar
condicionado eficientes e automati-
zados, com sistema de Volume de Ar
Variável (VAV) que permite a equali-
zação da temperatura de acordo com
a necessidade de cada ambiente.
Esta medida prevê uma redução de
42% no consumo de energia, além
de garantir qualidade de conforto no
ambiente para os colaboradores e
clientes.
Qualidade do ar
Visando a qualidade do ar interno
bem com a preservação da saúde
dos usuários, o local conta sensores
de CO2
que, de acordo com a ocu-
pação, podem reduzir a vazão de ar
ou acionar o sistema de renovação,
gerando economia em refrigeração.
Também foi priorizado a utilização de
produtos com baixos níveis de Com-
postos Orgânicos Voláteis (COV), tais
como: adesivos, selantes, tintas e re-
vestimentos, o que reduz a contami-
nação do ar, bem como o prejuízo à
saúde humana.
“É POSSÍVEL SERMOS
PROFISSIONAIS
COMPLETOS,
TRATANDO A
SUSTENTABILIDADE
COMO ALGO
INTEGRADO E NÃO
DESCOLADO. É
NESSE SENTIDO QUE
TRABALHAMOS. É UM
CRESCIMENTO E UMA
EVOLUÇÃO ORGÂNICA,
E ISSO PERMEIA
BEM EM TODOS OS
PROCESSOS DA
EMPRESA”
Malu Nunes
29. revistagbcbrasil.com.br 29jul/16
anuário GBC 2016
Shopping Cidade São Paulo
Certificado LEED CS nível Gold
A escolha da localização da loja
quem disse, berenice? não foi
aleatória. O Shopping Cidade São
Paulo que também obteve a certifi-
cação LEED CS nível Gold em feve-
reiro de 2016, influenciou e definiu o
local de construção da loja, além de
contribuir de forma significativa para
a conquista do nível Platinum da cer-
tificação. O empreendimento possui
medidas de redução do consumo de
água potável, redução do efeito ilha
de calor e alta permeabilidade das
áreas externas de jardim, o que evita
o escoamento de grandes volumes
de água da chuva. O shopping pos-
sui ainda um bicicletário e vestiários
para funcionários e clientes, estimu-
lando o uso de bicicletas como meio
de transporte.
O Shopping Cidade São Paulo
comprova ainda eficiência no uso
da água, com a utilização de vasos,
mictórios e torneiras eficientes e de
baixa vazão. Com essas medidas,
a redução de consumo de água po-
tável nas instalações do shopping
chega a 47%. “Foi uma oportunidade
totalmente aderente com os nossos
interesses. O fato de o shopping estar
buscando a certificação facilita muito,
pois tem critérios que complementam
as exigências feitas para a certifica-
ção da loja, tais como, proximidade e
acessibilidade ao transporte público,
bicicletário, medidas para redução no
consumo de água potável, entre ou-
tras”, pontua Malu Nunes.
Grupo Boticário e projetos LEED
Além de quem disse, berenice?, o
Grupo Boticário conta com mais três
unidades de negócio: O Boticário,
Eudora e The Beaty Box, espalhadas
pelo Brasil. Atualmente, o Grupo pos-
sui três empreendimentos com certifi-
cação LEED, a fábrica recentemente
construída na Bahia, certificada LEED
NC nível Certified em Maio 2016, o
Centro de Distribuição, certificado
LEED NC nível Certified em novem-
bro de 2015, e a loja quem disse,
berenice?.
Reforçando a veia sustentável, o
Grupo conta com uma equipe de
14 profissionais especializados em
sustentabilidade que interagem es-
pecificamente as interfaces por todo
o país e englobam os setores, além
da integração com os franqueados.
Neste sentido, de acordo com Malu
Nunes, é possível passar a mensa-
gem de que a sustentabilidade não
é algo paralelo, mas sim integrada
a todas as camadas. “Acredito que
este é um diferencial que é reco-
nhecido. A mensagem que passa-
mos com esta integração entre os
setores é de que é possível sermos
profissionais completos, tratando a
sustentabilidade como algo integra-
do e não descolado. É nesse sentido
que trabalhamos. É um crescimento
e uma evolução orgânica, e isso per-
meia bem em todos os processos da
empresa”, finaliza.
Greenbuilding Brasil 2016
Visitas técnicas
TANTO A LOJA QUEM DISSE
BERENICE? COMO O SHOP-
PING CIDADE SÃO PAULO,
FARÃO PARTE DAS VISITAS
TÉCNICAS A SEREM REALIZA-
DAS NO DIA 12 DE AGOSTO
DURANTE A GREENBUILDING
BRASIL CONFERÊNCIA INTER-
NACIONAL E EXPO.
30. 30 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
Análise do ciclo de vida dos produtos e co-
municação transparente são pilares fun-
damentais para maior ecoeficiência dos
produtos, evolução da cadeia produtiva e
fomento da construção sustentável
EPD: Um caminho sem volta a
favor da construção sustentável
É
fato que a sustentabi-
lidade está cada vez
mais em evidência na
agenda das empresas
do setor da constru-
ção civil. E esta de-
manda cresce a cada ano, haja vista o
engajamento das organizações com a
implantação dos conceitos de susten-
tabilidade durante e após o processo
de produção dos empreendimentos.
Aliado ao setor da construção civil, as
empresas da cadeia produtiva tam-
bém começam a se movimentar em
relação a esses conceitos sustentá-
veis de forma integrada visando trazer
mais ecoeficiência aos seus produtos
através de processos de avaliação de
ciclo de vida.
Neste sentido, vê-se uma forte deman-
da pela utilização de EPDs (do inglês
Environmemtal Product Declaration -
Declaração Ambiental de Produto) nos
produtos fornecidos pela cadeia de
suprimentos. O EPD trata-se de um re-
latório com informações quantitativas
de impactos ambientais associados a
um determinado produto ou processo
e visa transmitir de forma transparente
as informações globais dos produtos.
Para isso o mercado se movimenta no
sentido de aprofundar e aplicar essas
questões, onde se avalia sistematica-
mente os aspectos ambientais de um
sistema de produto ou serviço através
de todas as fases do seu ciclo de vida,
desde a extração da matéria-prima,
fabricação, transporte, distribuição,
uso até a disposição final, nas quais
se consideram valores de energia, uso
de material, descargas de resíduos,
distância de fornecedores, entre ou-
tros dados.
Um dos segmentos da construção
que vem se organizando de maneira
integrada para esta evolução é o setor
de cimento. Entendendo a sustentabi-
lidade como um processo integrado
e global a Votorantim Cimentos foi
uma das fundadoras da CSI (Cement
Sustainability Initiative) iniciativa de
sustentabilidade do cimento, lançada
em 1999, da qual fazem parte as prin-
cipais cimenteiras do mundo. Visando
um trabalho consistente em relação à
análise do ciclo de vida de produto,
esta iniciativa contou com o apoio de
universidades, clientes, produtores,
bem como todo o setor deste seg-
mento para definição das regras de
categoria de produtos (PCR - Product
Category Rules – em inglês). “Foram
realizadas pesquisas dentre as quais
eram as principais preocupações em
termos de sustentabilidade da indús-
tria de cimentos. Em relação à pesqui-
sa de materialidade, uma das ques-
tões principais era questão da análise
do ciclo de vida, transparência das
informações dos produtos”, salienta
Patrícia Montenegro, Gerente Global
de Relações Institucionais Ambientais
da Votorantim Cimentos.
Em sinergia com esta iniciativa, a em-
presa lançou em 2014 os compromis-
sos sustentáveis para 2020, sendo
eles segurança, ética e conformidade,
ecoeficiência e inovação e engaja-
31. revistagbcbrasil.com.br 31jul/16
anuário GBC 2016
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A Daikin
Presente com sua linha de produtos há mais
de 10 anos no Brasil, passou, a partir de 2011,
a atuar com equipe própria em nosso país.
Somos uma empresa de origem japonesa
que preza por credibilidade e excelência
absoluta e que tem por vocação, trazer a
você, o que há de melhor na tecnologia em
ar condicionado.
Uma linha
ArCondicionado
Você
completa
de
para
Sempre um passo
à frente.
que não degradam a
Camada de Ozônio
Fluídos Refrigerantes Omotor do compressor
Neodymium é 20% mais
eficiente que os motores dos
inverters convencionais.
Neodymium
32. 32 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
mento comunitário. Neste contexto, a
empresa prima pela qualidade na co-
municação e a transparência das in-
formações, peças fundamentais para
o avanço da construção sustentável.
Além disso, lançou em 2015 sua políti-
ca ambiental da empresa que consis-
te em 10 regras verdes, cujo objetivo
é a avaliação, controle e redução dos
impactos ambientais, com foco em
melhoria contínua e melhores práticas
da indústria, além de investir em ino-
vação ambiental nos processos, pro-
dutos e serviços durante todo o ciclo
de vida, bem como o fornecimento
de produtos ecoeficientes para seus
clientes. “A definição de sustentabili-
dade para a Votorantim Cimentos pas-
sa por fornecer produtos ecoeficientes
para os nossos clientes, ter um bom
relacionamento com as comunidades
na qual estamos inseridos, além de
criar ambientes seguros em termos
de segurança e saúde para os nossos
funcionários, sempre nos baseando
nas leis e regulamentações”, destaca
Patricia Monteiro.
Ferramenta EPD
A Votorantim Cimentos, em parceria
com a CSI, desenvolveu uma ferra-
menta com o objetivo de otimizar a
certificação dos produtos com o intui-
to de obter a certificação EPD em seus
produtos.“Essa discussão vem desde
2010 dentro do setor de cimento, que
foi o primeiro a aderir as Regras de
Categoria de Produtos (PCR), além
de desenvolver uma ferramenta para
que pudessem ser feitas as declara-
ção ambientais de produtos. Isso vai
de encontro às perspectivas do con-
sumidor, neste caso as construtoras
, nossos principais clientes, que tem
essa necessidade devido às certifica-
ções de construção sustentável, não
só pelo LEED, mas pelo Aqua e outras
certificações sustentáveis”, afirma Pa-
tricia Montenegro.
Em parceria com a Quantis, a Votoran-
tim Cimentos desenvolveu, em 2016,
declarações ambientais para cinco
produtos de seu portfólio, onde foi
necessária a utilização metodológica
de avaliação de ciclo de vida (ACV)
para analisar os impactos ambientais
envolvidos em todo o processo de
produção. A ferramenta utilizada para
realização dos cálculos de análise do
ciclo de vida dos produtos (WBCSD-
-CSI tool for EPDs of concret and ce-
ment), foi reconhecida pelo Sistema
EPD Internacional e desenvolvida de
acordo com as Regras de Categorias
de Produtos (PCR). A ferramenta, em
sua abrangência global, calcula o im-
pacto de 24 categorias que abordam
os impactos ambientais, uso de recur-
sos, resíduos e fluxo de saída.
São dez as categorias relacionadas
aos impactos ambientais: Potencial
de aquecimento global (GWP); Poten-
cial de destruição da camada de ozô-
nio estratosférico (ODP); Potencial de
acidificação do solo e da água (AP);
Potencial de eutrofização (EP); Poten-
cial de formação de ozônio troposfé-
rico (POCP); Potencial de depleção
abiótica de recursos não fósseis (ADP
– combustíveis fósseis); Potencial de
toxicidade humana (HTP); Potencial
de ecotoxicidade em água doce (FA-
ETP); Potencial de ecotoxicidade ma-
rinha (MAETP); Potencial de ecotoxici-
dade terrestre (TETP).
A utilização da ferramenta traz bene-
fícios importantes, além da fomentar
a prática da análise do ciclo de vida,
não somente no setor de cimentos,
mas para toda a cadeia de fabrican-
tes e fornecedores da construção civil.
Um dos principais são a padronização
e confiabilidade nos processos de
geração da declaração ambiental de
produtos. Neste sentido, como explica
Patricia Montenegro, o cliente poderá
realizar comparações entre as empre-
sas e produtos que se adéquam mais
ao seu negócio. “Trata-se de uma se-
gurança para o cliente, pois ele está
utilizando informações confiáveis e
que tiveram uma auditoria de terceira
parte. É fundamental que ele possa
fazer essas comparações de forma
confiável em relação à transparência
dos produtos”, destaca.
Outros benefícios atrelados à utiliza-
ção desta ferramenta é a redução de
recursos financeiros, uma vez que a
tecnologia permite calcular dados
como energia, modelamento de aná-
lise do ciclo de vida, preparação dos
resultados de acordo com parâmetro
do EPD e preparação do relatório sem
a necessidade de contratação de ter-
ceiros. De acordo com Patrícia, foi
possível constatar em estudos uma
redução de $ 27 a $ 39 mil dólares
com a utilização da ferramenta. “Esta
é uma ferramenta muito interessante
em relação à redução de custos, fa-
miliaridade com o operador do pro-
grama, processo simplificado, além
de já dispor de uma pré-verificação,
além de validada no âmbito interna-
cional e já utilizada em todo setor de
cimento do Brasil e do mundo”, pon-
tua Patricia Montenegro.
Atualmente não existem legislações
que obriguem a utilização de certifi-
cados de declaração ambiental dos
produtos, porém é algo que vai se
inserir nos processos das empresas.
Patricia acredita que este é o início
de uma jornada que permitirá mais
transparência e fomento para produ-
tos mais ecoeficientes. O crescimento
da construção sustentável é como um
driver de todo o processo envolvido,
inclusive, na cadeia de suprimentos.
A expectativa é que, em curto prazo
e médio prazo, as empresas de fabri-
cação e fornecimentos de produtos
entenderão a real importância desta
demanda de produtos e processos
como um pré-requisito e não somente
com um diferencial. “Atualmente não
é algo obrigatório, mas estas ques-
tões de análise do ciclo de vida dos
produtos e das declarações ambien-
tais dos produtos serão pré-requisitos
para as empresas continuarem no
jogo. Hoje é um diferencial competi-
tivo, mas acredito que nos próximos
anos isso se torne um pré-requisito
inerente às empresas, é um caminho
sem volta”.
“A DEFINIÇÃO DE
SUSTENTABILIDADE
PARA A VOTORANTIM
CIMENTOS PASSA POR
FORNECER PRODUTOS
ECOEFICIENTES
PARA OS NOSSOS
CLIENTES, TER UM
BOM RELACIONAMENTO
COM AS COMUNIDADES
NA QUAL ESTAMOS
INSERIDOS,
ALÉM DE CRIAR
AMBIENTES SEGUROS
EM TERMOS DE
SEGURANÇA E SAÚDE
PARA OS NOSSOS
FUNCIONÁRIOS,
SEMPRE NOS
BASEANDO NAS LEIS E
REGULAMENTAÇÕES”
Patrícia Montenegro
33. revistagbcbrasil.com.br 33jul/16
anuário GBC 2016
Projeto EPD – Votorantim Ci-
mentos em concordância com o
LEED v.4
A iniciativa da Votorantim Cimentos com
o desenvolvimento do Projeto EPD con-
tribui de forma substancial para o aper-
feiçoamento da construção sustentável,
que visa à transparência e comunicação
dos impactos ambientais dos produtos,
além de benefícios às empresas e van-
tagens competitivas no mercado da
construção. Exemplo importante desta
sinergia é a recente versão do LEED,
a v.4, obrigatória para todas as certifi-
cações a partir de outubro deste ano,
onde foram incluídos pré-requisitos de
análise do ciclo de vida em toda a ca-
deia de fabricação dos produtos imple-
mentados em obras.
O LEED (Leadership in Energy and En-
vironmental Design), concedido pelo
GBCI, já está em sua quarta versão
comprovando que a evolução das tec-
nologias e processos é algo inerente
do setor da construção sustentável.
No Brasil, este trabalho vem sendo
desenvolvido de forma muito significa-
tiva pelo GBC (Green Building Council)
Brasil, que se engaja junto às empre-
sas e organizações do setor para o fo-
mento da sustentabilidade do mercado
e garantia desta evolução no país.
Além do LEED, esta iniciativa vai de
encontro com o processo de certi-
ficação AQUA para as construções
sustentáveis, que incorporam créditos
de recursos e materiais premiando os
projetos que incorporem produtos de
acordo com as normas ISO 14044 e
14020, relacionadas à análise do ciclo
de vida e declarações ambientais dos
produtos.
Evolução da EPD no setor de ci-
mento
O mercado de cimento tornou-se um
dos setores mais organizados na bus-
ca por certificação de terceira parte
para seus processos e produtos. O
início desta demanda veio com a pu-
blicação da ISO 14205, em julho de
2006, que define os princípios e espe-
cifica os procedimentos de programas
do tipo III para declarações ambien-
tais de produtos. Ele estabelece espe-
cificamente o uso da série ISO 14040
de normas (Avaliação de ciclo de vida)
no desenvolvimento das declarações
ambientais de produto.
Com esta demanda, iniciou-se, em
2012, discussões para criação de uma
PCR, bem como da ferramenta de cál-
culo do ciclo de vida envolvendo pro-
cessos e produtos do setor, o que cor-
roborou para a publicação das PCRs
para concreto, definidas pelo WBCSD
(World Business Council for Sustaina-
ble Development) e CSI, pelo Sistema
Internacional EPD, no início de 2013.
O ano de 2014 foi um dos mais pro-
missores em relação à evolução das
EPDs. Isso se deve à continuidade
da implantação de PCRs para outro
produto do setor, o cimento, também
publicadas pelo Sistema Internacional
EPD®. Além da validação do progra-
ma International EPD System em rela-
ção à ferramenta desenvolvida pelo
CSI. Acompanhando esta evolução do
setor, a Votorantim Cimentos fechou o
ano com chave de ouro através do iní-
cio do Projeto EPD de seus produtos.
A consolidação deste projeto veio nos
dois anos seguintes, com a definição
dos produtos a serem registrados,
sempre visando às demandas e ne-
cessidade de seus clientes, além de
promover capacitação de funcionários
e envolvidos para utilização da ferra-
menta do CSI para o cálculo do ciclo
de vida dos seus produtos. Todo o
engajamento, bem como sua evolu-
ção em relação às EPDs, a Votorantim
Cimentos iniciou 2016 com um resul-
tado importante, o registro dos EPDs
de seus produtos no programa Inter-
nacional EPD System, que se concre-
tizou em maio deste ano.
Votorantim Cimentos na vanguar-
da das ações de fomento às EPDs
A Votorantim Cimentos vem promo-
vendo esta ideia com objetivo de en-
gajar as empresas, tanto do setor de
cimentos quanto de outros setores da
construção civil. A empresa se des-
taca como pioneira na incorporação
de EPDs, sendo a única da América
do Sul a registrar seus produtos até
o momento. Este engajamento se ini-
ciou de dentro para fora, através do
envolvimento de diversos setores da
empresa para um melhor entendimen-
to o aperfeiçoamento dos processos
inerentes às declarações ambientais
de produtos, e avaliação do ciclo de
vida de produtos.
Outra importante iniciativa da empre-
sa foi a publicação do artigo científi-
co ‘PROJETO EPD – VOTORANTIM
CIMENTOS’, um avanço importante
que agregará consistência à literatura
disponível neste sentido. O projeto foi
apresentado na ABCP (Associação
Brasileira de Cimento Portland), em
março deste ano, tendo como princi-
pal motivo o fomento disseminação
desta ideia no mercado. Além disso, a
empresa participa, em 2016, de outros
dois eventos de grande relevância no
setor de cimento, o 7° Congresso Bra-
sileiro de Cimento, em junho de 2016
e no congresso do IBRACON (Institu-
to Brasileiro de Concreto) que acon-
tecerá em agosto do mesmo ano.
“Nosso principal objetivo é promover
a conscientização e o engajamento
da cadeia produtiva. Acredito ser um
grande desafio”, finaliza.
Cimentos
CP II E 40 - Santa Helena/SP
CP III 40 RS - Cubatão/SP
CP V ARI - Santa Helena/SP
Concreto
FCK 30 - Jaguaré/SP
Argamassa
2202 Revestimento Fachada
- Cajamar/SP
Produtos certificados
Votorantim Cimentos
34. 34 jul/16 rev/gbc/br
opinião
O
s empreendedores da construção civil atuam em
dois universos distintos: o universo dos edifícios
reais já construídos e ocupados e o universo dos
edifícios que ainda serão construídos e que se en-
contram no processo projetual ou fazem parte de
ações planejadas para o futuro. Certamente que
para a maior parte destes empreendedores, os edifícios virtuais são
oportunidades muito mais interessantes e em muitos aspectos, pois,
por serem novos, poderão representar a sua criatividade mais recente
ou a aplicação de uma tecnologia que nunca antes fora utilizada ou
até mesmo um novo desafio de origem técnica ou estética. Porem,
apesar disto tudo e apesar de que estas considerações são de fato
verdadeiras e ocorrem no mundo da construção civil, a massa edifi-
cada real brasileira e internacional é muito maior do que a massa edi-
ficada virtual e que se tornará real nos próximos vinte ou trinta anos,
ou mesmo nos próximos cinquenta anos.
As estatísticas internacionais apontam para um valor hoje de cer-
ca de 150 bilhões de metros quadrados2
já construídos em todos
os locais do planeta e em todos os tempos, mas a questão que se
coloca é: quanto mais ainda construiremos no nosso planeta nas
próximas décadas ou até o final deste século. Alguns estudos su-
gerem um acréscimo adicional de 73 bilhões de metros quadrados
até 2030. Outros sugerem um acréscimo de 100 bilhões de metros
quadrados ou seja, até 2025, 70% a mais do que possuímos hoje.
Por outro lado, parece pouco provável que a atividade da constru-
ção civil ou a atividade humana no planeta construa no intervalo en-
tre 10 e 15 anos aquilo que levamos alguns milhares de anos para
edificar. Entretanto, quer tenhamos uma posição mais otimista, ou
seja, construiremos um pouco menos, ou quer tenhamos uma po-
sição mais pessimista, ou seja, construiremos de fato 70% a mais
até 2025, não podemos negar que são os edifícios reais e não os
virtuais, os causadores dos impactos ambientais globais hoje. Os
edifícios são hoje os responsáveis por cerca de 40% de emissões
globais de CO2
anualmente e são eles os responsáveis por 34% de
toda a demanda global de energia3
. Não é difícil perceber que estes
números estão bem próximos da realidade pois um pouco mais do
que 50% de toda a população mundial vive em cidades e as cidades
são por excelência, grandes concentrações de edifícios. Diante de
uma conjuntura como esta, as questões que surgem são: o que fa-
zer com esta enorme massa edificada? O que fazer com os bilhões
de metros quadrados que entram em obsolescência a cada ano,
ou que necessitam de manutenção e atualização tecnológica para
a sua sobrevivência? Como resolver a equação econômica destas
intervenções onde os investimentos são financeiramente factíveis?
Não podemos simplesmente deixa-los envelhecer pois os custos de
reabilitação não seguem exatamente uma curva linear e a falta de
manutenção em um dado sistema do edifício acaba por afetar um
outro sistema e assim sucessivamente. Em alguns casos a taxa de
obsolescência é tão elevada que a reabilitação arquitetônica torna-
-se economicamente inviável.
Um primeiro aspecto que vem atenuar este cenário ou seja, a via-
bilização da reabilitação e da atualização tecnológica desta enor-
me massa edificada é o constante avanço dos custos da energia
em todo o mundo para além das taxas de inflação, com ênfase nas
fontes de energia não renováveis. Em conjunturas como estas, os
investimentos em atualizações tecnológicas nos edifícios quando di-
vididos pelas economias de energia quantificadas financeiramente,
geram períodos de retorno do capital investido mais atrativos tanto
Os edifícios reais e
os edifícios virtuais
Marcelo de Andrade Roméro1
35. revistagbcbrasil.com.br 35jul/16
opinião
para os empresários como para os tomadores de decisão. Realida-
des como estas têm viabilizado ações de retroffiting, ou atualizações
tecnológicas em todo o mundo e inclusive no Brasil. Um segundo as-
pecto que veio atenuar este cenário de obsolescência dos edifícios
foi o desenvolvimento dos contratos de performance que garantem
aportes de recursos financeiros somente quando as economias de
energia forem efetivamente comprovadas. Tais contratos são assi-
nados entre os clientes e as chamadas ESCOs4
(Energy Save Com-
pany), que são empresas especializadas em retroffiting por meio de
contratos de performance. Via de regra, as ESCOs se especializaram
neste tipo de contrato. Do ponto de vista dos clientes os contratos
de performance evitam aportes iniciais de capital nas ações de retro-
ffiting e do ponto de vista das ESCOs só há interesse na viabilização
de um dado negocio quando os ganhos financeiros são efetivamente
comprovados e quando os valões alcançados são superiores aos
valores pagos pelo mercado financeiro. Com o crescimento da de-
manda por contratos como estes tanto no Brasil como no mundo, as
ESCOs acabaram por associarem-se a investidores independentes
ou grupos econômicos para financiarem as suas ações e o potencial
de oportunidades não somente aumentou como ainda pode alcan-
çar novos mercados. As ESCOs por sua vez mantiveram-se atentas
as oportunidades e ampliaram o seu escopo de atividades. Quan-
do do seu surgimento no Brasil, a ênfase principal era na questão
da eficiência energética e da atualização tecnológica visando redu-
ções do consumo de insumos energéticos. Com o desenvolvimento
sistemático das ESCOs nao foi difícil para elas perceberem outras
oportunidades de ganhos associados a atualizações tecnológicas e
passaram a oferecer ações de retroffiting envolvendo reduções de
consumo de agua inclusive. Hoje as ESCOs atuam em qualquer se-
tor da economia5
e em oportunidades que envolvam algum tipo de
ganho ou beneficio para o cliente, associado a um ganho financeiro
para a ESCO e para os investidores.
Estas ações abriam grandes perspectivas para o mercado dos edi-
fícios reais, evitando inclusive a construção de novas unidades do
mercado virtual. Milhares de edifícios comerciais com elevado aporte
tecnológico, que estão operando hoje em todo o mundo, operam
em antigos edifícios outrora comerciais ou até mesmo em edifícios
outrora residenciais ou industriais que sofreram processos de adap-
tação. Em muitos dos casos houve inclusive adaptações de uso. Do
ponto de vista da sustentabilidade há um ganho inegável em todo
este processo devido ao aproveitamento de estruturas de concreto
ou de aço, de fundações, de vedações, de coberturas ou até mes-
mo de caixilharias ou de alguns elementos internos. As certificações
ambientais que surgiram no inicio da década de 90 no século XX e
se espalharam e popularizaram em todo o mundo, também são mais
favoráveis a adaptações em edifícios reais do que novos investimen-
tos em edifícios virtuais.
Do ponto de vista do patrimônio cultural e arquitetônico das cidades
e das nações, a preservação de edifícios reais com as devidas atu-
alizações tecnológicas trouxeram alguns benefícios adicionais como
por exemplo a preservação de técnicas e tecnologias mais antigas
que tradicionalmente desapareceriam e foram mantidas e a manu-
tenção do patrimônio arquitetônico e até mesmo do desenho urbano
das nossa cidades. No fundo, o conceito da reabilitação arquitetôni-
ca com ações de retrofitting na massa edificada real, concentra em si
mesmo conceitos de eficiência energética, conceitos de otimização
de recursos naturais, conceitos de patrimônio histórico, conceitos de
sustentabilidade, conceitos de otimização de recursos financeiros e
sobretudo conceitos de preservação da cultura de uma cidade, de
um povo e de uma nação.
1
Marcelo de Andrade Romero é Professor Titular da Faculdade de Arquitetura e Urba-
nismo da Universidade de São Paulo, Superintendente de Gestão Ambiental e Pró-Reitor
de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo.
2
www.pikeresearch.com/research/global-building-stock-database
3
Fonte: www.scpclearinghouse.org (2012)
4
No Brasil foi criada em 1997 a ABESCO – Associação Brasileira de Empresas de Ser-
viço de Conservação de Energia cujo objetivo é o “oferecer às empresas e à sociedade
em geral, um serviço especializado em projetos de eficiência, minimizando custos e ma-
ximizando os resultados nos lucros.” Fonte: http://www.abesco.com.br/pt/quem-somos/
(acesso em 11/06/2016).
5
Setor Industrial, Comercial (Comercio e Serviços) e Residencial.
38. 38 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
GO
GRESB - Global Real Es-
tate Sustainability Bench-
mark (Benchmark Global
de Sustentabilidade Imo-
biliária, em português) é
uma iniciativa que avalia o
desempenho ambiental e social dos investi-
mentos imobiliários públicos e privados.
Há fortes evidências de que os edifícios cui-
dadosamente concebidos e operados podem
fornecer soluções práticas para as questões
mais difíceis, criando valor para os acionistas.
Por outro lado, também há indícios de que
abordagens mais tradicionais e convencio-
nais para o desenvolvimento da propriedade,
muitas vezes têm o efeito oposto.
Esta distinção motiva o GRESB no sentido de
proporcionar aos investidores institucionais
informações claras sobre os aspectos am-
bientais, sociais e de governança (em inglês,
ESG - environmental, social and governance)
e o entendimento dos impactos positivos e
negativos de seus investimentos, reconhe-
cimento da liderança, e engajamento efetivo
com empresas, gestores de fundos e parcei-
ros operacionais.
GRESB
Benchmark Global de Sustentabilidade
Imobiliária
Globalmente diversificado
Membros Investidores Capital Institucional Participantes do GRESB
Valor da carteira
Ativos cobertos
Novas construções e grandes
ativos de renovação
Membros gestores de
empresas e fundos
Membros associados
Parceiros
US$ 2.3 trilhões
61.000*
4.127
87
28
13
US$ 6.1 trilhões
US$ 5.5 trilhões 70751
46
637
US$2.1trilhões
56.000
3.329
56
21
12
*Exceto ativos residenciais unifamiliares
20152014
Fonte: GRESB
39. revistagbcbrasil.com.br 39jul/16
anuário GBC 2016
EGREm 2015, o GRESB introduziu uma ruptura
em pontuações separadas para os quesitos
ESG (Ambiental, Social e Governança). Es-
sas pontuações são calculadas com base
na alocação de perguntas individuais para
E, S, ou G. Os resultados mostram que os
participantes GRESB tiveram uma pontuação
relativamente elevada.
sugere que não deve haver mais separação
entre o dever fiduciário e a gestão robusta do
ESG, mas sim, podem acontecer em parale-
lo”, ressalta.
O Relatório GRESB de 2015 concluiu:
• Uma melhoria de 19% no desempenho ge-
ral ESG das empresas participantes.
• Mais empresas imobiliárias e fundos in-
formaram sobre sustentabilidade: 707 em-
presas e fundos, que representam USD 2,3
trilhões e 61.000 ativos - um aumento de res-
posta de 11% em relação a 2014.
• Melhor desempenho ambiental: em média,
o setor conseguiu uma redução de 3,04%
nas emissões de gases de efeito estufa, re-
dução de 2,87% no consumo de energia, e
uma redução de 1,65% no uso de água.
• absorção significativa em energias renová-
veis: a geração de energia renovável in loco
chegou a 445 GWh em 2015 (0,5% do con-
sumo total de energia) partindo de 296 GWh
em 2014.
• Austrália e Nova Zelândia continuam a su-
perar significativamente outras regiões com
uma pontuação média GRESB de 69 – em
comparação com uma média global de 56.
Crescimento
A participação na pesquisa GRESB 2015
reflete algumas dinâmicas da indústria mais
amplas - o valor agregado das empresas
de propriedade e fundos subordinados a
GRESB agora é USD 2.3 trilhões (USD 2,1 tri-
lhões em 2014 e USD 1.6 trilhões em 2013),
o que representa cerca de 61.000 ativos
(56.000 em 2014). O número total de empre-
sas participantes e fundos aumentou para
707, um aumento líquido de 11%.
Durante o período 2009-2015, o banco de
dados GRESB abrange um total de 971 em-
presas imobiliárias e fundos, dos quais 166
participaram durante pelo menos cinco anos
consecutivos.
Gestão
No geral, os dados do Relatório GRESB 2015
mostram o progresso de toda a indústria na
gestão de políticas relacionadas com a ESG,
juntamente com variação regional significati-
va. A designação de uma ou mais pessoas
responsáveis pela implementação dos obje-
tivos de sustentabilidade é onipresente: 96%
dos participantes designaram um recurso
interno ou externo para a sustentabilidade.
Além disso, um grupo de trabalho em sus-
tentabilidade ou um comitê organizacional
também é uma prática comum em 91% dos
participantes GRESB.
Mais de 94% dos participantes GRESB tem
um decisor sênior dedicado à sustentabilida-
de, mais comumente um membro da equipe
de administração sênior (49% em 2015 con-
tra 42% em 2014). Globalmente, 91% dos
participantes têm um processo formal para
informar esse tomador de decisões sobre
o desempenho de sustentabilidade da enti-
dade. Além disso, os participantes GRESB
estão incorporando cada vez mais a susten-
tabilidade em suas organizações, incluindo
fatores em metas anuais de desempenho
(78% em 2015, 75% em 2014).
Certificações
As certificações são outro fator de transpa-
rência e responsabilidade na informação dos
investidores e ocupantes. Em 2015, os parti-
cipantes GRESB relataram o uso de mais de
200 diferentes sistemas de certificação dos
edifícios. Estes sistemas variam muito no
âmbito dos temas que são avaliados, o rigor
da avaliação e o grau em que os regimes exi-
gem a verificação de terceiros.
A indústria continua a fazer uso extensivo de
um conjunto de sistemas de classificação de
ativos globais, principalmente o LEED entre
outros. Estes sistemas mais robustos com-
partilham muitos atributos comuns, incluindo
Ao participar na avaliação anual da GRESB,
empresas imobiliárias, gestores de fundos e
incorporadores são capazes, por exemplo,
de identificar as áreas em que o desempe-
nho de sustentabilidade pode ser melhorado,
tanto em termos absolutos como em relação
aos concorrentes. Segundo Nils Kok, CEO
do GRESB, a participação também permite a
comunicação consistente de compromissos
com a sustentabilidade e investimento res-
ponsável entre os investidores existentes e
potenciais. Isto tem sido cada vez mais visto
como uma informação concerta sobre o qual
os investidores baseiam suas decisões de
investimento. “A avaliação comparativa do
desempenho de sustentabilidade das em-
presas imobiliárias e de fundos é uma forma
de medir e compreender as questões am-
bientais, sociais e de governança, que são
tão importantes para o setor imobiliário. Mais
e mais estudos estão ligando as considera-
ções ESG aos retornos financeiros - o que
Ambiental
Social
Governança
Fonte: GRESB
40. 40 jul/16 rev/gbc/br
anuário GBC 2016
BSinformações amplamente disponíveis sobre
os requisitos do sistema de avaliação, for-
mação profissional, avaliação de terceiros, e
listas de projetos publicamente disponíveis.
Outros dados relevantes sobre os participan-
tes do GRESB:
• Certificado de construção verde para o
projeto e construção obtida por 51% dos
participantes
• Certificado de construção verde para ope-
rações e manutenção obtida por 40% dos
participantes
• Avaliação da energia obtida por 71% dos
participantes
Estas prioridades de gestão são refletidas
nas avaliações de risco à sustentabilidade,
agora realizadas por 84% dos participantes.
A energia é uma consideração importante
para avaliações de risco tanto para as novas
aquisições como para investimentos.
Políticas energéticas
Os resultados de 2015 mostram que o setor
imobiliário aumentou seu foco sobre o de-
sempenho de sustentabilidade em geral, e
especificamente sobre o consumo de ener-
gia. Participantes do GRESB têm uma abor-
dagem mais estruturada e orientada para
as políticas de energia que incluem planeja-
mento, implementação e monitoramento de
gestão de energia. As realizações notáveis
incluem:
• Os participantes com as políticas am-
bientais: 91% de 87%
• Políticas ambientais, incluindo o con-
sumo de energia/gestão: 100% de 97%
• Políticas ambientais, incluindo emis-
sões de gases de efeito estufa/gestão:
86% de 83%
Avaliações de técnicos do edifício:
83% de 61%
Avaliações externas: 80% de 75%
Avaliações internas: 51% de 74%
Essas avaliações resultaram na implantação
de várias medidas de eficiência energética
em 85% dos participantes, um aumento sig-
nificativo de 78% em 2014, em que a maio-
ria dos participantes estavam centrados na
implementação de melhorias de iluminação
e substituições e upgrades de aquecimen-
to, ventilação e ar condicionado. Melhorias
constatadas:
• Equipamentos de alta eficiência e
aparelhos: 57%
• Construção de sistemas de gestão
de energia: 36%
• Comissionamento de sistemas ou
retro-comissionamento: 35%
Para o futuro
De acordo com o Relatório de Avaliação Glo-
bal da UNISDR de 2015, é esperada uma
perda global anual causada pelas mudanças
climáticas perpetradas por desastres natu-
rais da ordem de US$ 314 bilhões somente
no ambiente construído. De acordo com Nils
Kok, todos os indicadores sugerem que a
frequência e intensidade dos desastres vai
aumentar, o que significa que este custo vai
subir. “Não importa se é a seca ou de o re-
gime de chuvas estendido, os efeitos da mu-
dança das condições climáticas são visíveis
à nossa volta”, garante.
Nesta nova realidade, as organizações que
são capazes de gerir o risco estarão me-
lhor preparadas para resistir a interrupções
e para aproveitar as oportunidades que
possam surgir. Os proprietários de edifícios
estão bem posicionados para assumir um
papel de liderança e beneficiarem-se, indo
além da preparação para a resiliência.
Oportunidades
Em 2015, os participantes GRESB relataram
um aumento significativo na prevalência de
avaliações técnicas de construção e mudan-
ças nas práticas de implementação de opor-
tunidades de eficiência energética. Concen-
traram-se na realização de:
Certificações mais utilizadas
Pos. 2015 Certificação Percentual
Fonte: GRESB
41. revistagbcbrasil.com.br 41jul/16
anuário GBC 2016
PERMITA O PROGRESSO,
TODOS OS DIAS.
A gestão sustentável de
recursos econômicos,
ambientais e sociais
é o que fortalece a B.
Braun e encoraja o nosso
crescimento. Através
do diálogo construtivo,
a empresa desenvolve
soluções eficazes para
proteger e melhorar a
saúde das pessoas.
Centro de Distribuição B. Braun em Guaxindiba | RJ.
LEED Gold
Prêmio Firjan de Ação Ambiental 2016 – Eficiência
Energética e Gestão de Gases de Efeito Estufa
B. Braun Brasil | www.bbraun.com.br